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IGOR PIRES

O que é skiplagging e por que a


prática é 'odiada' pelas companhias
aéreas?
Escrito por Igor Pires, igor.aer.ita@gmail.com 07:00 / 23 de Dezembro
de 2022. Atualizado às 10:13 / 24 de Dezembro de 2022

Legenda: Skiplagging, no mercado de aviação comercial, consiste em


comprar um voo para um destino e desembarcar em uma escala
Foto: Shutterstock

Segundo um inglês, conhecido das andanças pela França,


skiplagged não tem tradução fácil, mas skip pode
significar “pular algo, livra-se de algo” como “to skip
school”, livrar-se da escola.

P UB L I C I DA D E

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Skiplagging, no mercado de aviação comercial, consiste


em comprar um voo que realiza pelo menos uma escala
ou uma conexão, porém, ao invés do passageiro voar até o
destino final que consta no bilhete comprado, desembarca
no meio do caminho.

P UB L I C I DA D E

Digamos que compremos um bilhete de Guarulhos para


São Luís no Maranhão, com conexão em Fortaleza. O
passageiro que realiza skiplagging desembarca em
Fortaleza.

Na verdade, então, o passageiro não desejava chegar a São


Luís, mas tinha Fortaleza em mente.

Um dos pontos que você deve estar pensando é que se


esse passageiro despachou malas e que elas irão até São
Luís.

Exatamente. Aí um ponto central da estratégia: despachar


malas, nem pensar. O viajante deve se valer de volumes
pequenos, de até 10kg, que possam ser acomodados no
compartimento interno de bagagens.

P UB L I C I DA D E

Agora que você já sabe o que é skiplagging, por que


pessoas buscam esses itinerários não ortodoxos?

Porque algumas vezes, o preço final é relevantemente


menor.

VEJA SIMULAÇÕES DE PREÇOS

Por exemplo, simulamos alguns voos pelo Brasil para


demonstrar o efeito da estratégia.

1) Fortaleza-Guarulhos, dia 03/janeiro: em plataformas de


busca, o preço mais em conta para o trecho numa das três
maiores companhias do Brasil é de R$ 1.313 em voo direto.

P UB L I C I DA D E

Quanto seria um voo Fortaleza-Curitiba (cidade pertinho


de São Paulo) com parada em Guarulhos na mesma
companhia?

Na mesma plataforma de busca, o voo com parada em


Guarulhos custa R$ 820 reais, valor quase 40% mais
barato. Lembre-se de que os preços são dinâmicos e
variam de um dia para outro.

Em São Paulo, o viajante deve desembarcar com sua


bagagem de mão junto, não tendo qualquer
constrangimento para tal, já que a parada em São Paulo se
trata de uma conexão, ou seja, ninguém permanece no
avião.

P UB L I C I DA D E

2) Guarulhos-Recife, dia 03/janeiro: das 3 maiores


companhias, o trecho mais barato em voo direto foi de R$
1.457, segunda mais barata R$ 1.642 e, por fim, R$ 1.807.

Selecionando o trecho Guarulhos-Fortaleza (03/01) com


conexão em Recife, os melhores preços foram:
R$ 631 na companhia que cobrava R$ 1.807
R$ 1.129 na companhia que cobrava R$ 1.457
R$ 1.166 na companhia que cobrava R$ 1.642

Sistematicamente, o voo com skiplagging, nesse caso,


resultou valores até 66% mais baratos. O desembarque
final em Recife teria sido bastante positivo para o viajante.

O skiplagging funciona sempre?

P UB L I C I DA D E

Não.

QUAL O GRANDE EFEITO COLATERAL DO SKIPLAGGING? 

Voos muito mais longos, estratégia muito sensível a


mudanças de logística da companhia aérea. E se a conexão
no destino que você deseja descer for trocada por um voo
direto ou por conexão em outra cidade?

Qual a lógica da estratégia?

Vamos contextualizar com a situação do Brasil. As três


grandes companhias aéreas do país operam numa
sistemática de hubs nacionais, concentradores de voos. Já
falamos um pouco sobre os hubs.

P UB L I C I DA D E

Já que os hubs são grandes concentradores de voos,


operações entre hubs têm grande demanda de
passageiros, estão entre os 10 aeroportos mais
movimentados do país e, naturalmente, o preço de
passagens é alto, mais pela grande procura, do que por
critérios de custo de operação. O que vale não é a
distância, mas a demanda.

Assim, quando procuramos voos entre Guarulhos e


Salvador ou Guarulhos e Brasília, o preço de voos,
sobretudo diretos, é bastante elevado, já que as taxas de
ocupação desses trechos frequentemente ultrapassam os
90%.

Então, entre grandes aeroportos, a tarifação das


companhias tende a ser sempre alta, são aeroportos que
dão bons retornos econômicos às aéreas, em regra.

P UB L I C I DA D E

Entre aeroportos menos movimentados ou até entre um


hub e um aeroporto médio/pequeno, a demanda tende a
ser menor. É muito comum vermos ocupações que variam
de 60% a 80% entre rotas médias e pequenas, ou seja, há
sempre quantidade de assentos vazios.

Assim, uma tarifação elevada certamente “mataria” a rota.


Logo, a forma que as companhias tendem a manter rotas
menos demandadas são pelo menos duas:

1. Ligar cidades médias aos hubs;


2. Tarifas médias ou baixas;

E é nos dois quesitos acima que a estratégia skiplagging


deve se basear em sua maioria. O viajante deverá buscar
por passagens entre destinos menos badalados, torcendo
que haja paradas no destino onde deseja ir: menor
demanda, menor preço.

P UB L I C I DA D E

PLATAFORMAS ESPECIALIZADAS EM SKIPLAGGING

No Google, há muitas páginas sobre skiplagging, milhares


de menções. Desde informações sobre, até plataformas
buscadoras de passagens que usem a estratégia como a
americana Skiplagged.

A página é icônica porque foi organizada por um


americano de 22 anos e que foi processado por grande
companhia dos Estados Unidos, que buscava mitigar a
ocorrência de skiplagging.

Na página da plataforma, a capa diz: “nossos voos são tão


baratos, que a UNITED nos processou... mas nós
vencemos”.

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Nós inclusive comparamos os preços de viagens diretas


no skiplagged.com e em buscadores nacionais para
validá-la e os preços eram, de fato, praticamente idênticos
às ferramentas nacionais.

A plataforma funciona nos termos de vários outros


buscadores, em que o viajante informa origem e destino,
põe data de ida e volta. Porém, noutra tela, o viajante pode
selecionar a cidade onde realmente deseja desembarcar:
“layover cities” ou cidades-escala. Posso escolher voar
entre hubs grandes, mas desembarcar numa cidade
menor: tudo pensado para dar bom retorno financeiro às
buscas.

Nos resultados, o usuário informa se quer buscar voos de


maneira convencional, destino final onde realmente
deseja ir, ou através da chamada (cidade-escondida)
“hidden-city”, que é o skiplagging.

P UB L I C I DA D E

Interessante notar que no caso acima, a estratégia não


funciona na data mencionada: um voo entre Guarulhos e
Fortaleza (03/01) está mais barato em voo direto (R$
681,00).

Porém, entre Guarulhos e Recife, mesmo dia, skyplagging


dá leve vantagem financeira e ainda mais com voo direto.

A plataforma consegue ainda otimizar o tempo de voos


para a chegada no destino realmente buscado.

Assim, como vemos, skyplagging é uma ferramenta (ainda


que seja controversa) que consegue auxiliar algumas
vezes a busca por melhores preços de passagem.

P UB L I C I DA D E

Como vimos, há alguns efeitos colaterais para a estratégia


como voos demasiadamente longos, tempo bem superior
ao convencional entre ou a não possibilidade de se
despachar malas ou os avisos legais de que as companhias
aéreas “não curtem que você perca voos para economizar
dinheiro”, conforme aviso da plataforma.

Há reportes do exterior de companhias aéreas


processando passageiros a fim de apresentar punições
exemplares e evitar novos casos.

DEMAIS ESTRATÉGIAS QUE BUSCAM BARATEAR PASSAGENS

A aquisição de passagens através da combinação entre


milhas aéreas e pagamento em dinheiro (dinheiro, cartão,
débito) pode ser uma opção para um viajante que e/ou
não deseja pagar o valor cheio do trecho ou que não
possua a total quantidade de milhas requerida.

P UB L I C I DA D E

Assim, nos sites das grandes companhias aéreas sempre


há a chance de busca de passagem com milhas ou
milhas+dinheiro, que pode ser uma boa alternativa ao
viajante, sobretudo se você tem bastante milhas advindas
de gastos com cartões de crédito, por exemplo.

Vi algumas menções a buscar passagens com abas


anônimas de navegadores, mas não consegui verificar
diferença de preço. Teoricamente, com aba anônima, o
site não conheceria minha tolerância a preço, podendo
propor preços mais baixos.

PREJUÍZO PARA AS COMPANHIAS AÉREAS

Em todos os textos que li sobre skiplagging sempre se


chama atenção sobre como as companhias aéreas buscam
evitar a artimanha.

P UB L I C I DA D E

A prática resulta em prejuízo direto para as empresas


quando vemos que, saltando antes do fim do voo, paga-se
mais barato e o viajante não dá tempo para que a aérea
recomercialize seu assento nos trechos em que deveria
estar a bordo. No Brasil, não é uma prática ilegal, mas
pode ser taxada de antiética.

Esse prejuízo acontece de fato em um ramo da economia


que é extremamente frágil a ondas de baixa demanda,
combustíveis, etc. A aviação comercial é negócio de risco
e o retorno médio das mais bem geridas companhias
aéreas do mundo não chega a dois dígitos. Brinca-se que a
forma mais fácil de se fazer um milionário é um bilionário
comprar uma empresa aérea.

P UB L I C I DA D E

Por outro lado, muitos textos que li consideram que


skiplagging é consequência de uma precificação de
oportunidade, não embasada em reais custos para se voar,
mas em custo especulativo sobre demanda.

Esse custo especulativo certamente pode chegar a ser


ruim para a própria companhia aérea, que comercializa
menos assentos. Na pandemia, vi vários relatos de
viajantes que pagavam mais de R$ 2000 para voar num
trecho de 1h e mostravam o avião com baixíssima
ocupação.

Qualquer estudante secundarista sabe que o máximo


faturamento de vários empreendimentos não se dá com a
máxima ocupação, porém a estratégia de preços,
cancelamento de passagens, remarcação, por exemplo, é
muito nociva ao passageiro também.

P UB L I C I DA D E

Nesse meio, certamente, há muito espaço para discussão.


O QUE DIZEM AS EMPRESAS AÉREAS

A Latam Brasil informou que a prática não é permitida no


contrato de prestação de serviço da companhia. "Caso o
passageiro, por iniciativa própria, decida interromper a
viagem no destino de escala, nenhum reembolso será feito
pela companhia".

A Azul foi procurada pela coluna para comentar o tema,


mas informou que não ia se manifestar.

Já a Gol não retornou até a publicação deste texto.

P UB L I C I DA D E

Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema


de sua preferência, comentando ou enviando mensagem
para o meu instagram: @igorpires.aviacao

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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