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UNIVERSIDADE POLITÉCNICA

A POLITÉCNICA
Instituto Superior de Estudos Universitários de Nampula – ISEUNA

IMPACTO DAS VARIAÇÕES ECONÔMICAS NO MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NA PROVÍNCIA DE NAMPULA

Osvaldo Juvêncio Mário

Nampula, 2023
Osvaldo Juvêncio Mário

IMPACTO DAS VARIAÇÕES ECONÔMICAS NO MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NA PROVÍNCIA DE NAMPULA

Monografia apresentada à Universidade A


politécnica, (Instituto Superior de Estudos
Universitários de Nampula – ISEUNA),
como requisito parcial para obtenção do
grau de licenciatura em Engenharia Civil.

Supervisor: Marisa Sande

Nampula, 2023
Agradecimentos

Em primeiro lugar queria agradecer a Deus por ter me dado forças de chegar até aqui, mesmo
diante de várias dificuldades.

Em segundo lugar queria agradecer aos meus pais, por sempre terem dado suporte aos meus
estudos. Serei eternamente grato por isso.

Agradeço também a minha família por ter me dado suporte directa ou indirectamente. Aos
amigos e colegas que conheci perante o curso que certamente levarei para toda vida.

E por último, um agradecimento especial a minha supervisora por ter me orientado e por ter me
dado forças de ir até ao fim com o tema.

iii
Parecer do Supervisor

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______________________________________________________________________________

Declaração de Autoria

Eu, Osvaldo Juvêncio Mário, declaro que esta monografia científica é o resultado da minha
pesquisa juntamente com ajuda da minha supervisora. Seu conteúdo é original e todas as fontes
estão mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro igualmente que esta
monografia nunca foi apresentada em nenhuma instituição de ensino para obtenção de qualquer
grau académico.

Nampula, 20 de Fevereiro de 2023

Autor

______________________________________

Osvaldo Juvêncio Mário

Supervisora

_______________________________________

Marisa Sande
iv
Resumo

A Economia Moçambicana possui diversos agentes que contribuem para seu desenvolvimento,
como os sectores de indústria e comércio. Muito se discute sobre quais são os sectores mais
importantes na propulsão econômica de uma região. Este trabalho teve como objetivo verificar a
contribuição de um sector específico, a indústria da construção civil.

A construção civil pode contribuir significativamente para o desenvolvimento econômico e social


de uma nação. A relevância do sector de construção civil é o tema deste trabalho.

Este trabalho apresenta de forma sistemática informações relativas ao desempenho do sector da


construção na economia nacional, notadamente os indicadores ligados ao investimento nacional.
Primeiramente, buscou-se caracterizar o sector de construção mencionando a sua origem, seus
aspectos económicos mais relevantes, as peculiaridades do seu produto, a organização de sua
produção e a estrutura social. Em seguida, foi feito uma análise em território nacional e
provincial, mais especificamente em Moçambique e na província de Nampula. A verificação se
deu a partir dos anos 2014 até 2020, analisando como a construção civil contribuiu para a
economia nesse período, bem como esse sector se saiu em meio as variações econômicas, ou seja,
períodos de crescimento e períodos de recessão econômica.

Para fundamentar esse estudo, foram obtidos os dados do Produto Interno Bruto da construção
civil em Moçambique e Nampula, bem como o PIB total de ambas as regiões no período
estudado. Com os dados em mãos, foi feita uma análise comparativa para verificar o desempenho
dessas duas variáveis durante o período de estudo. Em seguida, foi feita em conjunto uma nova
coleta de dados e também cálculos de percentagem com ferramentas do software Microsoft Excel
para obter a participação do PIB de Moçambique e Nampula e a participação da indústria de
construção civil. Após isso, foi utilizado o método da correlação de Pearson para verificar se
existia uma similitude entre a economia e a construção civil, onde foi constatado que existe uma
forte correlação.

Palavras-chave: Indústria; Construção; Economia e Produto Interno Bruto.

v
Abstract

The Mozambican economy has several agents that contribute to its development, such as the
industry and commerce sectors. Much is discussed about which are the most important sectors in
the economic propulsion of a region. This work aimed to verify the contribution of a specific
sector, the civil construction industry. Civil construction can significantly contribute to the
economic and social development of a nation. The relevance of the civil construction sector is the
subject of this work. This work systematically presents information on the performance of the
construction sector in the national economy, notably the indicators linked to national investment.
First, an attempt was made to characterize the construction sector, mentioning its origin, its most
relevant economic aspects, the peculiarities of its product, the organization of its production and
the social structure. Then, an analysis was carried out in national and provincial territory, more
specifically in Mozambique and in the province of Nampula. The verification took place from the
years 2014 to 2020, analyzing how civil construction contributed to the economy in this period,
as well as how this sector did in the midst of economic variations, that is, periods of growth and
periods of economic recession. To support this study, data on the Gross Domestic Product (GDP)
of civil construction in Mozambique and Nampula were obtained, as well as the total GDP of
both regions in the period studied. With the data in hand, a comparative analysis was performed
to verify the performance of these two variables during the study period. Then, a new data
collection was carried out together, as well as percentage calculations with Microsoft Excel
software tools to obtain the GDP share of Mozambique and Nampula and the share of the civil
construction industry. After that, Pearson's correlation method was used to verify if there was a
similarity between the economy and civil construction, where it was found that there is a strong
correlation.

Keywords: Industry; Construction; Economy and Gross Domestic Product.

vi
Lista de Figuras

Figura 1 - Gráfico de Contributos sectoriais do Indicador de Perspectivas de Emprego

vii
Lista de tabelas

Tabela 1 – Exemplo numérico do PIB nominal do ano “X”;

Tabela 2 – Exemplo numérico de PIB real do ano “Y”;

Tabela 3 – Evolução do PIB de Moçambique;

Tabela 4 – Evolução do IPC em Moçambique;

Tabela 5 – Taxa de juros média anual em Moçambique;

Tabela 6 – Taxa de desemprego em Moçambique;

Tabela 7 – Comparação do crescimento de construção civil com outros sectores;

Tabela 8 – PIB de construção civil em Moçambique;

Tabela 9 – PIB de Moçambique X Nampula (Milhões);

Tabela 10 – Comparação entre o PIB de Moçambique e da construção civil;

Tabela 11 – Participação da indústria de construção no PIB;

Tabela 12 – Desempenho da construção civil na província de Nampula;

Tabela 13 – Participação percentual de Nampula no PIB de Moçambique;

Tabela 14 – Correlação e Determinação entre o PIB total e o de construção civil em


Moçambique;

Tabela 15 - Correlação e Determinação entre o PIB total e o de construção civil em Nampula;

Tabela 16 – Grau de Correlação.

viii
Lista de gráficos

Gráfico 1 – Gráfico de Evolução do PIB de Moçambique;

Gráfico 2 – Gráfico de evolução do IPC em Moçambique;

Gráfico 3 – Gráfico da Variação da Taxa de juros;

Gráfico 4 – Gráfico da Taxa de desemprego;

Gráfico 5 – Gráfico de custos de construção civil;

Gráfico 6 – Gráfico da evolução do PIB da construção civil em percentagem;

Gráfico 7 – Variação do PIB de Moçambique e do PIB de Nampula em percentagem;

Gráfico 8 – Variação Percentual do PIB de Moçambique e da Construção Civil;

Gráfico 9 – Participação Percentual da Indústria da Construção Civil no PIB de Moçambique;

Gráfico 10 – Variação Percentual da Participação do VAB na província de Nampula;

Gráfico 11 – Participação percentual de Nampula no PIB de Moçambique;

Gráfico 12 – Diagrama de Dispersão do PIB Total (eixo X) e Construção Civil (eixo Y) em


Moçambique;

Gráfico 13 - Diagrama de Dispersão do PIB Total (eixo X) e Construção Civil (eixo Y) em


Nampula.

ix
Lista de siglas

INE Instituto Nacional de Estatística

PIB Produto Interno Bruto

IPC Índice de Preços ao Consumidor

BM Banco de Moçambique

MMI Mercado Monetário Internacional

VAB Valor Agregado Bruto

MOPHRH Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos

x
Índice

Agradecimentos .............................................................................................................................. iii


Parecer do Supervisor ..................................................................................................................... iv
Declaração de Autoria .................................................................................................................... iv
Resumo ............................................................................................................................................ v
Abstract ........................................................................................................................................... vi
Lista de Figuras ............................................................................................................................. vii
Lista de tabelas ............................................................................................................................. viii
Lista de gráficos.............................................................................................................................. ix
Lista de siglas .................................................................................................................................. x
Capítulo I: INTRODUÇÃO........................................................................................................... 13
1.1. Introdução ....................................................................................................................... 13
1.2. Objectivos ....................................................................................................................... 14
1.2.1. Objectivo geral .....................................................................................................................14
1.2.2. Objectivos específicos ..........................................................................................................14
1.3. Justificativa ..................................................................................................................... 14
1.4. Problematização .............................................................................................................. 15
1.5. Delimitação ..................................................................................................................... 15
1.6. Estrutura do trabalho ....................................................................................................... 16
Capítulo II: REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 17
2.1. Contexto histórico da indústria de construção civil em Moçambique ................................ 17
2.2. Macroeconomia e Economia Moçambicana ....................................................................... 19
2.2.1. Indicadores Macroeconómicos ..................................................................................................25
2.3. Características do sector de construção civil ...................................................................... 35
2.4. Organização do sector de construção civil ......................................................................... 38
2.4.1. Características do subsector de Edificações com base nos seus aspectos ................................38
2.4.2. Características do subsector de Construção Pesada com base nos seus aspectos....................39
2.4.3. Características do subsector de Montagem Industrial com base nos seus aspectos ................40
2.5. Importância da Indústria da Construção Civil para a economia ......................................... 42
2.5.1. Participação da construção civil nas variáveis económicas .......................................................42
2.5.2. Perspectiva Macroeconômica da Construção Civil ....................................................................44
Capítulo III: METODOLOGIA DE PESQUISA .......................................................................... 50
xi
3.1. Tipo de Pesquisa ................................................................................................................. 50
3.2. Finalidade de Pesquisa ........................................................................................................ 51
3.4. Campo de Estudo ................................................................................................................ 51
3.5. Método de abordagem ........................................................................................................ 52
3.6. Procedimento Técnico e Coleta de Dados .......................................................................... 52
3.7. Selecção do Universo e Amostra ........................................................................................ 53
3.8. Análises Estatísticas ............................................................................................................ 53
Capítulo IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ...................................................... 55
4.1. Qual é a relação entre o PIB de Moçambique e Nampula .................................................. 55
4.2. Como tem sido o desempenho da Construção Civil em Moçambique ............................... 58
4.3. Como tem sido a participação da construção civil no PIB de Moçambique ...................... 61
4.4. Como tem sido desempenho da Construção Civil em Nampula ........................................ 62
4.5. Como tem sido a participação do PIB de Nampula no PIB de Moçambique ..................... 64
4.6. Qual é a correlação entre a Construção Civil e o Produto Interno Bruto (PIB).................. 67
Capítulo V: CONCLUSÕES E SUGESTÕES .............................................................................. 71
Conclusão................................................................................................................................... 71
Sugestões ................................................................................................................................... 72
Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 73
ANEXOS ....................................................................................................................................... 76

xii
Capítulo I: INTRODUÇÃO

1.1. Introdução

Cada país tem uma divisão própria das suas actividades económicas. Tradicionalmente, existem
três sectores de actividades: Primário, Secundário e Terciário. O sector de construção civil insere-
se no sector secundário, característico de países em desenvolvimento e países desenvolvidos. À
medida que um país se vai desenvolvendo, a tendência é para que as pessoas sejam transferidas
do sector primário para o secundário e terciário, como se verifica em outros sectores da economia
e é o sector que mais emprego cria, dado o elevado número de empresas de construção existentes
e a dinâmica própria da actividade constructiva que gera actividade noutros sectores da
economia.

A Construção civil é um dos principais sectores da economia em Moçambique que tem uma
contribuição notável para o Produto Interno Bruto (Mophrh 2019:13).

A Economia Moçambicana vem sofrendo uma alta volatilidade ao longo dos últimos anos,
alternando com períodos de crescimento seguidos por períodos de crise. As variações econômicas
são fenômenos que impactam diretamente na indústria de construção civil, tendo em vista que a
queda do Produto Interno Bruto é factor determinante para o enfraquecimento do mercado
imobiliário, a indústria da construção pesada, saneamento e o sector de estradas e transportes.

Entender a importância da Construção Civil para a economia de qualquer país é fundamental para
compreender como funciona todo o fluxo de impostos, renda, geração de empregos e tudo que
move a economia e permite a valorização, não só da moeda, mas da qualidade de vida no país.
Algumas de suas particularidades, como a forte dispersão geográfica, a singularidade de seu
produto, seu ciclo longo de produção, o potencial da sua demanda por mão de obra, ou ainda, a
heterogeneidade de sua produção, alavancada com baixo aporte de capital, entre outras,
contribuem para que seja atribuído à construção o papel de multiplicador e distribuidor de renda.

Portanto, o presente trabalho tem particular enfoque analisar o comportamento do mercado de


construção civil na economia moçambicana se baseando principalmente com o indicador
macroeconómico PIB.

13
1.2. Objectivos

Segundo Gil (1991:10), objectivo é a parte que esclarece o que é pretendido com a pesquisa e
indica as metas que almejamos alcançar no final da investigação.

1.2.1. Objectivo geral

O objectivo geral é a dimensão mais ampla pretendida com a pesquisa (Gil 1991:10).

O objetivo geral desse trabalho é analisar como as variações econômicas influenciam o mercado
da construção civil na província de Nampula, possuindo como alicerce os indicadores
macroeconômicos, em especial o Produto Interno Bruto.

1.2.2. Objectivos específicos


De acordo com Gil (1991:10), os objectivos específicos definem metas especificas da pesquisa
que sucessivamente complementam e viabilizam o alcance do objectivo geral. Sendo assim, os
objectivos específicos são:

• Descrever a situação macroeconômica de Moçambique entre 2014 a 2020;


• Comparar o desempenho da economia de Moçambique em geral com o da Província
Nampula entre 2014 a 2020.;
• Avaliar a importância do mercado da construção civil na economia de Nampula entre
2014 a 2020.

1.3. Justificativa

O sector da construção civil como um todo é de elevada importância na geração de emprego e


renda nacional, reflete no desenvolvimento de um grande número de outros pequenos e grandes
negócios, gera um alto efeito multiplicador na economia além de gerar importantes
externalidades importando e refletindo em diversos sectores. Cabe destacar a enorme relevância
do sector na geração de empregos tanto em níveis de elevada qualificação e experiências
anteriores quanto nos menores, onde a qualificação e o nível cultural é baixíssimo, típico de pais
subdesenvolvido ou de terceiro mundo, e onde estão alocados o maior número de desempregados.

Originado do interesse pessoal de analisar economicamente o sector de Construção Civil, o


presente trabalho, ao longo do seu desenvolvimento, demonstra a importância deste macrossector
14
para o desenvolvimento econômico nacional, ressaltando-o como um sector-chave e que deve ter
um tratamento prioritário nos investimentos do Governo.

Sendo assim, o principal motivo para realização desse trabalho é a escassez de estudos mais
específicos que analisam a província de Nampula sobre a óptica do mercado de construção civil.

1.4. Problematização
Martins (1997:107), afirma que problema consiste em dizer de maneira bem clara, compreensível
e operacional, qual é a dificuldade com a qual nos defrontamos e o que pretendemos resolver.

De acordo com Teixeira e Carvalho (2005:75), a indústria de construção civil é considerada o


termômetro da economia, sendo classificada como um sector-chave. Portanto, o caminhar da
construção civil é factor determinante para impactar de forma positiva ou negativa na economia.
Sendo assim, podemos observar que a Província de Nampula não é diferente do resto do país,
tendo a construção civil uma grande força no PIB e na geração de empregos e renda.

Segundo o INE (2021:77), Nampula é a província de maior população no país, portanto, boa
parte de contribuição no PIB vem da província. Partindo do pressuposto que a economia é factor
determinante para o desenvolvimento do ramo de construção civil, o tamanho da população
também é crucial, pois será exigido uma maior demanda ao mercado imobiliário. Portanto, diante
destes factos a questão que se coloca é:

Quais são os impactos da volatilidade econômica no ramo de construção civil, avaliando aspectos
locais e nacionais que impactaram directa ou indirectamente no fortalecimento ou
enfraquecimento do sector de construção civil ao longo dos anos?

1.5. Delimitação

Sobre a abrangência de tempo (delimitação), um estudo pode ser dividido. em estudos


transversais e longitudinais. Farias Filho e Arruda Filho (2015:18) citam que o estudo transversal
se trata de um determinado momento, com especificidade o momento de realização da pesquisa e

15
o estudo longitudinal, trata-se de uma análise do fenômeno em um maior período de tempo,
buscando entender a evolução no período delimitado.

O presente trabalho se delimita na análise da relação entre o nível de actividade da construção


civil com o comportamento do PIB de Moçambique e de Nampula entre os períodos de 2014 e
2020.

1.6. Estrutura do trabalho

Em termos de estrutura, este trabalho encontrasse dividido em cinco capítulos. O primeiro


capítulo aborda aspectos relacionados com a introdução, objectivos gerais e específicos, a
justificativa, o problema, a delimitação e estrutura do trabalho. O segundo capítulo, versa sobre a
revisão da literatura dos conteúdos arrolados durante o estudo. O terceiro capítulo incide sobre a
metodologia de pesquisa utilizada, no quarto capítulo é feito a interpretação e analise dos
resultados obtidos e no quinto e último capítulo é apresentado a conclusão e as sugestões.

16
Capítulo II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Contexto histórico da indústria de construção civil em Moçambique

O termo engenharia deriva do latim ingenius, (in, “dentro”; genius, “divindade que preside a cada
um”). O sentido implícito indica algo como “talento natural, capacidade inata”. Posteriormente, a
palavra assumiu o significado de “aparelho, equipamento bem planejado”, e mais adiante, passou
a definir-se “aparelho mecânico” (Origem da palavra, 2012:25). Assim, o indivíduo que lidava
com máquinas era o engenheiro, mais os termos construção civil ou engenharia, especificamente
a civil, de acordo com a citação acima, são termos que surgiram a partir de 1768, com o inglês
John Smeaton, que pretendia fazer referência, em oposição, à engenharia militar, cujo
conhecimento era destinado apenas aos militares, enquanto à civil, englobava, anteriormente,
todas as áreas, subdividindo-se, com o decorrer do tempo, em engenharia elétrica, engenharia
mecânica, engenharia naval, engenharia química, engenharia aeroespacial, entre outras.
Actualmente esse sector abarca atividades de edificações, construção e manutenção de estradas,
ditas obras viárias, construções pesadas de obras especiais como pontes, represas, entre outras,
contando ainda com a participação de segmentos de fornecimento de matérias primas e
maquinários.

Dada a sua capacidade de absorção de grande contingente de mão de obra com pouca ou sem
nenhuma formação, a construção civil ajuda a diminuir significativamente as taxas de
desemprego em momentos de crises econômicas, tornando-se um sector com grande capacidade
de desenvolvimento na economia.

A origem da indústria de construção em Moçambique pode ser datada da década de 1930, quando
foram estabelecidas as primeiras pequenas empresas produtoras de cimento e tijolos no país. A
estratégia económica portuguesa dos anos 30 reservou um papel especial para as colónias
africanas, incluindo Moçambique, como uma reserva de mão-de-obra barata, um fornecedor de
matérias-primas, um mercado para bens industriais, e uma importante base de investimento e
emprego para os portugueses. As autoridades portuguesas adoptaram medidas deliberadas para o
estabelecimento da primeira geração de empresas comerciais e industriais em Moçambique.
Tanto que de acordo com Tyler (1999:41), em 1975, Moçambique já era considerada a oitava
potência industrial em África com uma base industrial relativamente diversificada.

17
A independência de Moçambique em 1975 e a adopção de uma economia de planificação central
levou a uma sistemática intervenção estatal em assuntos económicos. Os incentivos para o
investimento do sector privado foram suprimidos, causando um êxodo em grande escala de
capital humano e físico, com consequências devastadoras a longo-prazo para as capacidades
industriais do país. Nessa altura, o Governo reforçou a centralização, criou empresas estatais e
fortaleceu os mecanismos de controlo de preços de modo a controlar a alocação de recursos
escassos na economia. O Governo nacionalizou as indústrias do cimento, ferro e aço. Também
criou empresas regionais estatais de construção civil sob a tutela do Ministério das Obras
Públicas. Em 1977, o Governo anunciou a nacionalização do mercado imobiliário. Para resolver
o problema da escassez de mão-de-obra qualificada, o Governo aumentou as despesas no sector
da educação, e estabeleceu esquemas de estágios em parceira com a Rússia e Cuba.

Apesar das reformas económicas terem conseguido aumentar o produto nacional bruto e o nível
de emprego até 1981, em 1983 tornou-se claro que as mudanças políticas implementadas eram
insustentáveis, levando a dispendiosas distorções na alocação de recursos e especialmente à
ruptura da produção na cadeia de valor da indústria de construção. Além disso, as reformas
económicas não cumpriram o seu declarado objectivo de reverter os efeitos de longo prazo da
proibição colonial no desenvolvimento dos negócios domésticos, não tendo conseguido criar um
sistema de aprendizagem e capacitação de trabalhadores e gestores orientados por competências.

A produção rural sofreu drasticamente durante este período, reduzindo o fornecimento de


matérias-primas para a indústria de construção, bem como, a procura pela produção industrial. A
produção de chá, caju, algodão e açúcar, as principais exportações do país na altura da
independência, caíram drasticamente. O efeito combinado da redução da oferta de matérias-
primas produzidas localmente, do acesso limitado a reservas internacionais associado ao declínio
das exportações e da queda da procura por habitação e infra-estruturas, levou a indústria de
construção à beira do colapso.

Em 1987, a indústria do cimento, apesar de pequena, estava a trabalhar a menos de 50% da sua
capacidade. Os sectores da construção civil e pesada estavam estagnados, sobrevivendo de
subsídios estatais e concursos públicos, apesar de ainda empregarem uma proporção significativa
de mão-de-obra redundante. Além disso, a guerra, juntamente com desastres naturais, destruíram
as poucas infra-estruturas que restavam e interromperam a estrutura rodoviária existente. A
18
logística, experiência acumulada, e conhecimento de mercado da era colonial nos sectores de
construção civil e pesada tinham, de facto, sofrido um segundo choque adverso, seguido do já
mencionado êxodo massivo de mão-de-obra qualificada. Para além disto, a nacionalização do
mercado imobiliário em 1977 bloqueou um canal potencial para o desenvolvimento das
competências empresariais nacionais, assim como uma importante fonte de capital e crescimento
económico.

Moçambique aderiu ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional em 1984. Seguiu-se a


introdução de um Programa de Reabilitação Económica (SAPs) em 1987, e a criação de uma
Constituição virada para o mercado, em 1990. Para a indústria de construção, a privatização e
liberalização do Programa de Reabilitação Económica implicou não só mudanças em termos de
posse de activos, mas também de maior exposição à competição global, emergência de um
mercado imobiliário competitivo e novas oportunidades para parcerias com capital privado
estrangeiro.

2.2. Macroeconomia e Economia Moçambicana

A economia é uma ciência que estuda a maneira com que as pessoas administram seus recursos,
que podem ser dos mais variados tipos, como, por exemplo, os recursos financeiros e os recursos
naturais. A administração desses recursos, sobretudo os recursos escassos, é essencial para a
sobrevivência humana, logo se vê sua importância.

Sobre a economia: “Etimologicamente, a palavra ‘economia’ vem dos termos gregos oikós (casa)
e nomos (norma, lei). Pode ser compreendida como ‘administração da casa’, algo bastante
comum na vida das pessoas.” (Mendes et al., 2015:16).

O estudo em economia tem como enfoque a organização de políticas que visam administrar a
produção e distribuição de bens e serviços, otimizando-os para se obter o máximo de
aproveitamento dos recursos e reduzir eventuais prejuízos (Rodrigues, 2012:32).

Para Barbosa (2017:8), a abordagem da economia trata-se de uma análise baseada em dados e
estatísticas que analisam e quantificam os indicadores macroeconômicos.

19
Vasconcellos e Garcia (2014:29) manifestam que a economia se define como uma ciência social
que estuda o emprego de recursos escassos para a execução de bens e serviços, com o objetivo de
atender as demandas e as necessidades da população.

Mankiw (2019:63) reforça a ideia de que economia é o gerenciamento de recursos escassos e que
esses recursos não possuem um enfoque em um planejador central, mas sim em todas as famílias
e empresas que compõem a sociedade.

Do ponto de vista teórico, a economia é separada por quatro áreas de estudo, que são economia
internacional, desenvolvimento econômico, a macroeconomia e a microeconomia.

Enquanto a Macroeconomia possui uma abrangência maior, tratando dos grandes agregados
como, por exemplo, o PIB e a renda nacional, a Microeconomia trata-se de questões locais. Essas
questões locais envolvem a formação dos preços que dependem da oferta e da demanda.

De acordo com Vasconcellos e Garcia (2014:29), enquanto a macroeconomia possui um aspecto


de curto prazo e visa o estudo dos grandes agregados nacionais, a microeconomia possui uma
abordagem mais específica de um determinado mercado, com a interação entre os consumidores,
o mercado e os preços.

Barbosa (2010:10), define a macroeconomia como sendo uma aplicação de teoria económica ao
estudo do crescimento, do ciclo e da determinação do nível de preços da economia. Ainda, afirma
que, a macroeconomia procura levar em conta os fatos estilizados observados no mundo real e
construir arcabouços teóricos que sejam capazes de explicá-los. Nestes arcabouços existem, em
geral, dois tipos de mecanismos: impulso e propagação. Os mecanismos de impulso são as causas
das mudanças nas variáveis do modelo. Os mecanismos de propagação, como o próprio nome
indica, transmitem os impulsos, ao longo do tempo, e são responsáveis pela dinâmica do modelo.

Barbosa (2017:16) ainda colabora na compreensão da importância da dualidade entre o jogo


político e econômico realizado pelos governantes para balancear a economia em momentos de
crise e de crescimento.

Cada escola de pensamento econômico possui diferentes visões e estudos sobre a economia e a
política, e esses pontos de vista são cruciais para o debate na busca de equilibrar o dinâmico
cenário econômico mundial. Entender como funciona o multiplicador Keynes é indispensável

20
para a construção civil e exige uma menção a períodos do pensamento económico, que são estes,
a escola clássica e a escola keynesiana.

Na concepção da Escola Clássica, Adam Smith defendeu que a expansão dos lucros geraria mais
oportunidades de trabalho para a população de uma nação, incrementando riqueza e gerando no
longo prazo, uma distribuição de renda entre capital e trabalho (Matos, 2010:18).

A escola clássica do pensamento econômico tem como base de surgimento a obra “Riqueza das
Nações” do autor Adam Smith publicada, em 1776. Esta fundamentou, o que seria,
posteriormente, as bases do pensamento econômico clássico. O pensamento clássico busca
“estabelecer as leis naturais explicativas dos fenômenos econômicos e suas relações” (Hugon,
1980:74). Ainda, segundo Hugon (1980:74), este ponto de vista de Adam Smith surge
inicialmente nas primeiras páginas de “Riqueza das Nações”, assim aponta Smith:

O trabalho anual de uma nação é o mundo primitivo que a abastece de todas


as coisas necessárias e confortáveis da vida, por ela anualmente consumidas,
as quais consistem, sempre, em produtos imediatos do trabalho ou no que é
adquirido às outras nações com esses produtos (Smith,1776 apud
Hugon,1980:103).

Smith, ainda relacionou a riqueza, o trabalho e o aumento da produtividade de forma a explicar as


diferenças entre as nações ricas e as de condições inferiores economicamente:

Não se vêm, porventura – escreve ele – povos pobres em terras vastíssimas,


potencialmente férteis, em climas dos mais benéficos? E inversamente, não
se encontra, por vezes, uma população numerosa vivendo na abundância em
um território exíguo, até algumas vezes em terras penosamente conquistadas
ao oceano, ou em territórios que não são favorecidos por dons naturais? Ora,
se essa é a realidade, é por existir umas causas sem a qual os recursos
naturais, por preciosos que sejam, nada são, por assim dizer; uma causa que,
ao atuar, pode suprir a ausência ou insuficiência de recursos naturais. Em
outros termos, uma causa geral e comum de riqueza, causa que, atuando de
modo desigual e vário entre os diferentes povos, explica as desigualdades de
riquezas de cada um deles; essa causa dominante é o trabalho (Smith,1776
apud Hugon,1980:103).

Segundo Hugon (1980:75), para Smith, a proporção em que o produto do trabalho se divide em
uma quantidade maior ou menor de consumidores, é a razão pela qual uma nação torna-se mais
ou menos rica:
21
Segundo seja maior ou menor a proporção entre o produto do trabalho – ou
aquilo que no estrangeiro se adquire em troca do produto – e o número de
consumidores, encontrar-se-á a nação mais ou menos abastecida de todas as
espécies de coisas necessárias ou cômodas de que necessita (Smith apud
Hugon,1980:103).

Para Smith, essa proporção entre o trabalho e o consumo é dada por um elemento quantitativo do
trabalho, definido pela relação existente entre os volumes, da população ativa e inativa e,
principalmente pelo elemento eficácia do trabalho, alcançado através da divisão do trabalho.
Segundo Hugon (1980:77), Smith observou exemplos reais, como por exemplo em uma de
fábrica de alfinetes, cuja produção, em todo o seu processo, estava à cargo de um único operário
e, após o aumento da quantidade e da divisão de tarefas entre os operários, em diferentes etapas
do processo, teve sua produção surpreendentemente aumentada.

Em resumo, Adam Smith diz que a origem da riqueza das nações está no aumento da
produtividade da mão de obra do trabalho do homem, que por sua vez está fundamentada na
divisão do trabalho, que será tanto maior quanto for a expansão dos mercados, e que estes eram
auto-equilibrantes e autorregulados. A partir da década de 1920 surge nos países desenvolvidos,
pós Primeira Guerra Mundial, um panorama de desemprego sem precedentes, de graves
consequências econômicas e sociais, situação que não era prevista na teoria clássica, que baseava
o processo de formação de preços dos bens e serviços e todo o equilíbrio econômico no pleno
emprego.

Esta situação descrita anteriormente colocou em cheque um dos pilares do pensamento


hegemônico (autorregulação dos mercados), antes da publicação, em 1936, da obra mais
importante de John Maynard Keynes, “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, em que o
autor faz críticas contundentes aos postulados da Escola Clássica, particularmente à sua visão
microeconômica, limitada a relações entre produtores e consumidores, ou seja,

(...) trata-se, para Keynes, de combater e ultrapassar esse ponto de vista


microeconômico, para considerar o problema em termos mais gerais de
‘rendimentos globais’, ‘procura global’, ‘emprego global’, ou seja, raciocinar
com base em dados de conjunto (GENNARI e OLIVEIRA, 2009:245).

Keynes supôs o consumo como o agente motor de todo o sistema econômico, contrariando a
teoria clássica da lei das saídas, que creditava à produção o papel de impulsionador da economia,

22
para Keynes, “o emprego varia no mesmo sentido que o rendimento global (gerador da procura
global)” (Hugon, 1980:83). Conforme a Teoria Geral o rendimento global é influenciado por três
elementos, são eles, a preferência pela liquidez, o estímulo ao investimento e a propensão ao
consumo.

A preferência pela liquidez refere-se à predileção por dinheiro na forma líquida, para o
investimento ou entesouramento, com este elemento Keynes “introduz na teoria econômica a
noção de tempo e moeda” (Hugon, 1980:86).

Segundo Hugon (1980:88), o estímulo para investir corresponde à procura de uma aplicação
produtiva para os rendimentos, procura que depende do capital e do custo de reposição deste. A
propensão ao consumo consiste na tendência manifestada de reservação do rendimento à compra
imediata de bens de consumo, ou seja, o conceito de propensão a consumir é “a relação entre a
renda de uma comunidade e o que se pode esperar que ela gaste em consumo” (Gennari e
Oliveira, 2009:43).

O investimento dependerá, segundo Keynes, da taxa de juros e da eficiência marginal do capital,


que é o lucro. Assim pode-se afirmar que os investimentos aumentarão quando a eficiência
marginal do capital for maior que a taxa de juros, e que o oposto também ocorre, quando a
eficiência marginal do capital for menor que a taxa de juros, os investimentos diminuirão.

Em resumo, temos os níveis de renda e emprego dependentes do investimento, que por sua vez
depende da relação entre a taxa de juros e a eficiência marginal do capital. Os juros são
determinados pela oferta e demanda de moeda e pela preferência pela liquidez, a eficiência
marginal do capital, por sua vez é dada pela relação entre a expectativa de lucros e o custo de
reposição do capital. Há ainda, para Keynes, fatores psicológicos, que geram incertezas, que
propiciam o aumento do entesouramento e diminuição dos investimentos, e que geram variações
de demanda e níveis de emprego, em seu trabalho demonstrou que os mecanismos
autorreguladores creditados por economistas clássicos, não eram plenamente eficientes, que
poderiam falhar, e que os desequilíbrios ocorridos a partir disto, não seriam corrigidos
imediatamente, podendo prolongar-se, sem que houvesse reabsorção. Keynes acreditava que
nesse contexto de incertezas e flutuações, o Estado deveria atuar como agente intervencionista e
regulador da economia e levá-la ao pleno emprego.

23
A partir desse ideal intervencionista surge o questionamento de que forma e com que intensidade
deveria se dar a política de gastos (investimento) do governo e de que forma a economia
responderia, quantitativamente, em forma de emprego e renda, Richard Kahn, membro de um
grupo de alunos excepcionais de Keynes, tinha uma abordagem bastante simples para esse
questionamento; de acordo com Araújo (1988:24) supõe-se que o governo contrate trabalhadores
para construir estradas, salário recebido por esses trabalhadores se destinará à compra de bens de
consumo, ampliando, dessa forma, o mercado de produção desses bens, que por sua vez
necessitará de contratação de mais pessoas para a fabricação desses bens de consumo, esses
processos gerará novos mercados que absorverão cada vez mais mão de obra, eliminando o
desemprego através do aumento demanda.

Segundo Araújo (1988:25) para Kahn, não era necessário que o governo contratasse todos os
trabalhadores, pois apenas uma pequena parcela destes poderia multiplicar o número de empregos
na economia, pois ao gastar seu salário, cada empregado geraria novos fluxos de renda e
emprego. Keynes aproveitou a ideia e ampliou-a a qualquer tipo de gasto, criando assim o
multiplicador de gastos ou investimento. Araújo (1988:31) expôs como seria esse multiplicador:

Imaginemos uma situação hipotética inicial em que a renda “X” seja igual à soma do
investimento “I” e o consumo “bX”. Onde o b seria a propensão marginal a consumir. Então,
determinar-se-ia a renda da seguinte forma:

Dados hipotéticos: I = 2000 e b = 0,8:

X = I + bX

X = 2000 + 0,8X

X . (1 - 0,8) = 2000

X = 10000

Através do exemplo mostrado acima, verificou-se que um investimento de 2000 unidades


monetárias resulta em uma renda de 10000 unidades monetárias. Mas vamos supor que houve um
aumento exógeno do investimento de 100 unidades monetárias, então, teríamos:

24
X = I + bX

X = (2000 + 100) + 0,8X

X . (1 - 0,8) = 2100

X = 10500

Então, verifica-se que um aumento de investimento em 100 unidades monetárias gera um


aumento de 500 unidades monetárias e não de 100, como poderia se supor, evidenciando dessa
forma, um efeito multiplicador no investimento ou gastos públicos sobre a renda. Considerando a
equação abaixo o comportamento da variação ∆ (delta):

∆X = ∆I + b∆X

∆X - b∆X = ∆I

∆X.(1-b) = ∆I

∆𝑋 1
=
∆𝐼 (1 − 𝑏)

1
O termo , segundo Araújo (1988:35), foi definido como multiplicador de investimento e
(1−𝑏)

determina quantas vezes a renda irá variar em relação à variação do investimento. No exemplo
acima, percebe-se um aumento de 5 unidades monetárias na renda para cada aumento de unidade
monetária no investimento.

Com isso, o motivo do entendimento da macroeconomia ser essencial, é que os indicadores


macroeconômicos são os principais dados a serem analisados na busca de resultados sobre como
as flutuações econômicas impactam os diversos sectores da economia de um país e do mundo.

2.2.1. Indicadores Macroeconómicos

Os indicadores macroeconômicos têm como principal função, a consolidação dos estudos em


economia, com foco no aprofundamento na economia (Almeida, 2020:29). Entre os indicadores
macroeconômicos relevantes para o estudo, são eles: PIB, Inflação, Taxa de Juros e Desemprego.

25
• Produto Interno Bruto (PIB)

Segundo Krugman e Wells (2007:157), o Produto Interno Bruto, ou simplesmente PIB, é um


agregado económico dado pelo valor de todos os bens e serviços finais produzidos na economia
durante um dado período de tempo, funcionando como um termômetro da actividade econômica,
sendo considerado um excelente indicador para a construção civil.

Segundo Passos e Nogami (2006:107), esse conceito independe da nacionalidade dos


proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços, exclui as transações intermediárias,
isto é, ele é medido a preços de mercado.

Assim, os dados se referem à soma dos valores monetários de bens e serviços finais produzidos a
partir de factores de produção que estão no interior das fronteiras geográficas do país. O fluxo de
produção de um país, em um dado período, geralmente trimestral ou anual, é composto de uma
gama extensa de bens e serviços, geralmente divididos em bens de consumo e bens de produção,
sendo os bens de consumo produtos e serviços para uso imediato, ou seja, directamente utilizados
para a satisfação das necessidades humanas.

Os bens de consumo são divididos em bens duráveis e não duráveis. Os bens duráveis são aqueles
que têm maior durabilidade como móveis e eletrodomésticos. Já os não duráveis são aqueles que
desaparecem logo após o seu uso, como alimentos.

Segundo Passos e Nogami (2006:182), os bens de produção são aqueles que permitem produzir
outros bens. Em geral podem ser instalações, edifícios e maquinários, ou seja, a infraestrutura
necessária ao processo produtivo.

Segundo Krugman e Wells (2007:159), em um sistema econômico com alguma presença estatal
há duas maneiras de medir o PIB:

• Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm), correspondente a soma dos valores
monetários dos bens e serviços produzidos, computando os impostos indirectos e
subtraindo os subsídios;
• Produto Interno Bruto a custo dos factores (PIBcf), dado pela soma dos valores monetários
dos bens e serviços produzidos, subtraindo os impostos indiretos e somando os subsídios.

26
O PIB apresenta-se de duas formas, o PIB nominal e o PIB real. O PIB nominal produz
resultados irreais de produção pois sofre efeito inflacionário. Já o PIB real, com o propósito de
eliminar a influência da inflação, utiliza preços de um ano-base.

Sendo assim, suponhamos que uma economia simples de apenas arroz e farinha, seja vendido
apenas a consumidores finais, com preços e quantidades definidos no quadro a seguir:

Tabela 1 – Exemplo numérico do PIB nominal do ano “X” (PIB do ano X medidos a preços do
ano X)

Item Preço Quantidade Produto

Arroz 1200 MT 50 60000 MT

Farinha 1000 MT 50 50000 MT

Total 110000 MT

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Passos e Nogami (2006:27)

O PIB nominal dessa economia será dado pela seguinte forma:

𝑃𝐼𝐵 = (𝑃arroz𝑄arroz) + (𝑃farinha𝑄farinha)

PIB = (1200 x 50) + (1000 x 50)

PIB = 110000 MT

Utilizando um ano-base para fixação de preços, é possível o cálculo do PIB real, de forma a
evitar aumento percentuais ilusórios decorrentes do processo inflacionário, a fim de analisar o
aumento do valor dos bens e serviços, decorrente apenas do aumento de produção. Então para o
ano “Y”, utilizando os preços do ano “X” teríamos:

27
Tabela 2 – Exemplo numérico de PIB real do ano “Y” (PIB do ano “Y”, com base nos preços do
ano “X”)

Item Preço Quantidade Produto

Arroz 1200 MT 60 72000 MT

Farinha 1000 MT 120 120000 MT

Total 192000 MT

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Passos e Nogami (2006:27)

Assim para o ano “Y”, teríamos um PIB de:

𝑃𝐼𝐵 = (𝑃arroz𝑄arroz) + (𝑃farinha𝑄farinha)

PIB = (1200 x 60) + (1000 x 120)

PIB = 192000 MT

Podemos notar, que entre os anos “X” e “Y”, houve um aumento de 74,55% no PIB,
considerando apenas o aumento de produção.

Mankiw (2019:58) cita que este indicador é considerado o melhor parâmetro para mensurar o
desempenho econômico de um país, sintetizando todos os dados de riqueza gerada em um único
número.

Na tabela abaixo será mostrado o valor do PIB de Moçambique anual entre 2014 a 2020 seguido
de um gráfico:

28
Tabela 3 – Evolução do PIB de Moçambique (2014-2020)

Ano Valores a preços correntes (10⁶MT) Variação (%)


2014 555 447 7,4
2015 637 760 6,7
2016 752 702 3,8
2017 840 526 3,7
2018 895 567 3,4
2019 962 621 2,3
2020 974 511 -1,2
Fonte: Adaptado do INE (2020:12)

Gráfico 1 – Gráfico de Evolução do PIB de Moçambique (2014-2020)

8
7
6
5
4
3
2
1
0
-1
-2
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020:12)

É importante destacar que o percentual da variação do PIB é levado em conta a inflação daquele
ano, podendo ou não desvalorizar as riquezas geradas.

29
• Inflação

Existem várias definições a respeito da inflação, mas a mais simples e clara define-a como a
elevação contínua do nível de preços, isto é, uma taxa contínua de crescimento dos preços num
período determinado (Moran e Witte, 2003:42).

Deve ficar com isto claro que um aumento de preços, por uma única vez, não pode ser
considerado inflação. Precisa-se de um aumento contínuo, mesmo que este não seja de igual
magnitude ao longo do tempo.

A inflação é uma medida do equilíbrio macroeconómico geral entre a procura e a oferta e uma
baixa taxa de inflação é considerada benéfica, visto que evita distorções na distribuição das
receitas (Coscione, 2007). Assim, a taxa de inflação mede a variação do nível geral de preços na
economia. Mudanças na taxa de inflação no modelo têm dois efeitos que se contrapõem.

Por um lado, uma elevação da taxa de inflação aumenta o serviço da dívida, na medida em que se
propaga á correcção monetária, contribuindo para uma redução dos gastos do governo e da renda
em termos reais para uma dada meta da proporção entre o deficit público e o PIB. Por outro lado,
o valor real do stock da dívida pública acumulada no final do período anterior, sobre a qual incide
o serviço se reduz, contribuindo para uma expansão dos gastos do governo e renda.

A inflação é medida pela variação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que é uma medida
do preço médio necessário para comprar bens de consumo e serviços.

O índice, calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e também pelo Banco de
Moçambique, é usado para observar tendências de inflação.

A seguir, será mostrado a tabela de variação do IPC anual entre 2014 a 2020 seguido de um
gráfico:

30
Tabela 4 – Evolução do IPC em Moçambique (2014-2020)

Ano Variação do IPC (%)


2014 2,56
2015 3,55
2016 17,42
2017 15,11
2018 3,91
2019 2,78
2020 3,14
Fonte: Adaptado do INE (2020)

Gráfico 2 – Gráfico de evolução do IPC em Moçambique (2014-2020)

20

18

16

14

12

10

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020)

31
• Taxa de Juros

Outro ponto importante a ser abordado é a taxa de juros, que tem impacto direto sobre o mercado
consumidor e o mercado empreendedor, com diversos vínculos.

Uma taxa de juros baixa facilita e barateia o acesso ao crédito por empresas ou por pessoas físicas
dispostas a comprar um bem, por outro lado, a elevação da taxa de juros dificulta o
empreendedorismo.

A taxa de juros pode ser definida como uma variável que influencia tanto a demanda por moeda
quanto o investimento, quer seja o angulo produtivo ou especulativo.

As taxas de juro praticadas pelos bancos aos seus clientes foram liberalizadas em Junho de 1994,
o que significa que cada banco fixa as suas taxas de acordo com as suas pretensões empresariais e
comportamento do mercado. O Banco de Moçambique (BM) compila mensalmente as taxas de
juro de depósito e crédito desagregadas em moeda nacional e estrangeira e por maturidade. A
taxa directora do Mercado Monetário Interbancário (MMI) é a Maputo Interbank Offered Rate
(MAIBOR).

A seguir será mostrado a tabela da evolução média anual da taxa de juros em Moçambique
(2014-2020) seguido de um gráfico

Tabela 5 – Taxa de juros média anual em Moçambique (2014-2020)

Ano Variação (%)


2014 13,42
2015 6,77
2016 6,60
2017 18,78
2018 19,40
2019 13,23
2020 14,22
Fonte: Adaptado de TheGlobalEconomy.com (2020:35)

32
Gráfico 3 – Gráfico da Variação da Taxa de juros (2014-2020)

25

20

15

10

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado de TheGlobalEconomy.com (2020:35)

• Desemprego

O desemprego é outro importante indicador macroeconômico na economia. Mankiw (2018:53)


reforça que taxa de desemprego corresponde às pessoas economicamente ativas que desejam
trabalhar, porém não conseguem adquirir trabalho.

A existência de desemprego significa que os recursos produtivos da economia não são


plenamente aproveitados. Produzem-se menos bens e serviços do que aqueles que seria possível
produzir, dados os recursos e a tecnologia existentes. Isto reflecte-se no bem-estar das gerações
presentes e futuras.

A taxa de emprego é a percentagem da população em idade activa que está empregada. Para este
indicador, o Banco Mundial fornece dados para Moçambique desde 1991.

Na tabela abaixo, será mostrado a taxa média anual de desemprego de 2014 a 2020 seguido de
um gráfico.

33
Tabela 6 – Taxa de desemprego em Moçambique (2014-2020)

Ano Variação
2014 3,38
2015 3,43
2016 3,45
2017 3,45
2018 3,46
2019 3,47
2020 3,81
Fonte: Adaptado de TheGlobalEconomy.com (2020:42)

Gráfico 4 – Gráfico da Taxa de desemprego (2014-2020)

3,9

3,8

3,7

3,6

3,5

3,4

3,3

3,2

3,1
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado de TheGlobalEconomy.com (2020:42)

34
2.3. Características do sector de construção civil

A Indústria da construção é composta pela execução de obras diversas, envolvendo a construção


de prédios, casas, plantas industriais e infraestrutura urbana e rural. É uma actividade econômica
muito antiga, mas ao longo do tempo ela foi se desenvolvendo e se transformando,
acompanhando o desenvolvimento da sociedade, as mudanças no modo de vida e a chegada de
novas tecnologias.

A indústria da construção se distingue da indústria de transformação tradicional por uma série de


peculiaridades, sejam elas relativas a organização da produção, sejam elas pelas características de
seu produto. Todas as características relacionadas têm, de alguma forma, consequências
económicas importantes que devem ser consideradas na medida em que o sector é tido como de
relevante interesse social e económicos. Muitas destas características são determinantes na
separação da construção civil em diversos subsectores organizados em sindicatos e associações
pelo país.

O produto da construção pode ser traduzido como o resultado do esforço do conjunto da


economia em criar estruturas capazes de suportar o desenvolvimento material da sociedade,
criando a infraestrutura necessária. Transporte e circulação, geração e transmissão de energia,
habitação, saneamento, estrutura de produção industrial são alguns dos campos de atuação do
sector. Entre as características do produto de construção destacam-se as relativas a sua forma,
como a singularidade, a imobilidade e a heterogeneidade. Essas características são detalhadas a
seguir.

• Singularidade

Cada obra é única e ainda que possa ser reproduzida, geralmente suas características atendem a
condições locais que não permitem sua repetição em escala industrial. A construção trabalha por
encomenda, respondendo ao anseio de um cliente singular. Segundo Pinheiro (1984:44), o sector
de construção destaca-se por ter um produto não homogêneo, não seriado, dependendo de
encomendas que implicam na produção de um produto singular, não reprodutível.

35
• Imobilidade

O produto de construção civil constitui um bem imóvel, que não pode ser transportado, estando
localizado no espaço e identificado com este. Por essa razão a sua produção também está
rigidamente atrelada ás condições locais, ainda que, em muitos casos componentes consideráveis
das estruturas possam ser produzidas fora do ambiente da obra. Todavia, a montagem das partes
é, invariavelmente, um processo restrito ao local da instalação. Segundo Mascaró (1981:83), a
produção arquitectónica está fortemente ligada com as condições do local, da região e do tempo.

• Heterogeneidade

As obras são produtos extremamente diversificados que atendem às mais variáveis funções e
objectivos. Cabe à indústria da construção a produção de edifícios residenciais, comerciais e
industriais, rodovias, ferrovias, aeroportos, pontes, viadutos, estações adutoras de água, estações
de tratamento de esgoto, barragens, entre outros. Embora, aparentemente nenhuma relação possa
ser evidente na constituição dessas estruturas, os processos produtivos muitas vezes se
aproximam, sendo eles os principais determinantes do ramo de atuação de determinada empresa.
As empresas, portanto, se organizam em torno de certas práticas construtivas semelhantes que
envolvem, muitas vezes, pessoal especializado e equipamentos específicos.

Quanto a organização o sector da construção apresenta características ligadas ao tamanho,


número e forma como são gerenciadas as empresas. Ou ainda, elementos de base tecnológica,
relativos a materiais, equipamentos e mão de obra, de forte influência espacial e cultural,
contemplando a enorme diversidade de um País de extinções continentais. Desta forma, as
características da organização da produção são descritas abaixo.

• Forte dispersão geográficas

A indústria da construção, por sua natureza, encontra-se distribuída em todo território nacional.
Esta particularidade tem consequências económicas determinantes no porte das empresas e na
forma como se organiza o sector.

• Longo ciclo de produção

Geralmente uma obra tem um ciclo produtivo em um período que perpassa mais de uma estação
do ano, ou seja, uma escala temporal de fração de ano, ou alguns anos. Isto significa que uma
36
obra está sujeita a sazonalidade e alterações climáticas. O longo ciclo de produção permite
intervenções, alterações de projecto e está sujeito a alterações no cronograma de execução e
orçamentos governamentais.

• Demanda significativa de mão de obra

O sector é caracterizado por ser grande absorvedor de mão de obra. O enorme poder mobilizador
de mão de obra tem feito da construção um sector estratégico, principalmente por demanda de
operários de baixa qualificação profissional, servindo de suporte a muitos planos e ações de
governo por suas características intrínsecas. Segundo Maricato (1984:62), uma grande parte da
literatura que trata da indústria da construção, toma forma de uma eloquente defesa do sector
pelas suas actividades de grande absorvedora de mão de obra desqualificada, pelo seu poder anti
cíclico na recuperação das crises económicas, pela baixa relação capital-produto, pelo seu baixo
peso na balança de pagamentos, já que depende pouco de insumos importados, e predominância
do capital nacional.

• Diversidade Tecnológica

Nos processos produtivos da construção é comum o emprego de técnicas altamente sofisticadas


associadas a técnicas extremamente rudimentares e artesanais. Segundo Mascaró (1981:89), uma
das características principais é a existência de uma série de tecnologias alternativas, fato que não
ocorre nos outros sectores produtivos.

• Baixa concentração de capital

O sector da construção é composto por um número significativo de micro e pequenas empresas


prestadoras de serviço e fornecedoras de materiais e mão de obra que podem ser alavancadas com
baixo aporte capital. A dispersão geográfica da demanda e a imobilidade do produto, associado
ao emprego de baixo nível tecnológico. Segundo Mascaró (1981:90), o sector de construção é um
dos ramos industriais de menor concentração de capital, sua actividade consiste na união de uma
grande quantidade de materiais e componentes de destintas origens exigindo a utilização
intensiva de mão de obra, gerando grande número de ofícios de baixo nível tecnológico se
comparados às operações de montagem da indústria manufatureira.

37
• Multiplicidade de fornecedores e materiais

O macrosector da construção envolve uma complexa rede de empresas fornecedoras de material


dos mais diversos segmentos industriais. A análise sectorial passa por uma cadeia produtiva
altamente diversificada em que interagem empresas especializadas com grande concentração de
mercado (aço; cimento) com empresas artesanais, com baixíssimo grau de qualificação.

2.4. Organização do sector de construção civil

A indústria da construção civil normalmente divide-se em subsectores que se distinguem pelo


produto da suas actividades. Sendo assim, podemos considerar que é divido principalmente por 3
subsectores, nomeadamente:

• Edificações;
• Construção Pesada;
• Montagem Industrial.

É importante notar que cada subsector apresenta suas diversas características que são
apresentadas a seguir.

2.4.1. Características do subsector de Edificações com base nos seus aspectos

• Quanto as actividades principais:

Construção de edifícios residenciais, comerciais, de serviços e institucionais; construção de


conjuntos habitacionais, loteamentos, etc.

• Quanto a organização interna:

Subsector mais heterogéneo, com grande número de empresas e forte presença de pequenas e
médias empresas.

38
• Quanto a especialização interna:

A especialização segue uma orientação segundo o porte da obra; não se percebe uma
segmentação bem definida; as empresas têm condições de executar qualquer tipo de obra.

• Quanto a atuação em outros subsectores:

Não pode ser tomada como uma característica deste subsector.

• Quanto a demanda típica e principais clientes:

A demanda privada constitui o mercado típico desse subsector, embora o Estado atue como
organizador, em última instância, de importante parcela dessa demanda; o sector público, embora
atue também como demandante, é um segmento bem menos expressivo; os clientes típicos desse
subsector são pessoas físicas ou empresas.

• Quanto as formas de contratos e comercialização:

As empresas do subsector de edificações apresentam diferenciadas formas de contrato (obras por


administração, empreitada, subempreitada para tarefas específicas) dependendo do porte da obra,
tipo do cliente ou mesmo do porte da empresa. Dado as características do seu produto é bastante
comum a construção por iniciativa própria para venda posterior a terceiros.

2.4.2. Características do subsector de Construção Pesada com base nos seus aspectos

• Quanto as actividades principais:

Construção de infraestrutura viária, urbana e industrial (terraplanagens, drenagens e obras ligadas


à construção de rodovias, infra-estrutura ferroviária, aeroportos, vias urbanas, etc.); construção de
obras estruturais e de arte (pontes, elevadores, contenção de encostas, túneis, etc.); construção de
obras de saneamento (captação, adução, reservação, tratamento e distribuição de água, redes
coletoras de esgotos, emissários, canalizações diversas); construção de barragens hidrelétricas,
etc.

39
• Quanto a organização interna:

Subsector com maior grau de concentração e presença significativa de empresas de porte


excepcional.

• Quanto a especialização interna:

A especialização não segue um critério definido, as grandes empresas podem atuar em qualquer
tipo de actividade, apenas as obras de maior complexidade tecnológica estão reservadas a um tipo
especial de empresa.

• Quanto a atuação em outros subsectores:

Subsector com forte processo de diversificação, principalmente por questões de mercado.

• Quanto a demanda típica e principais clientes:

A demanda pública constitui por excelência um mercado único para construção pesada, uma vez
que montagem da infraestrutura básica (a cargo do Estado) é o seu campo de atuação; o cliente
típico das empresas de construção pesada é assim, o Estado, em todas as suas instâncias (federal,
estadual e municipal). A demanda externa pode ser considerada como parcela importante do
mercado para algumas empresas.

• Quanto as formas de contratos e comercialização:

Esse subsector apresenta como forma de administração de contratos a empreitada e a


subempreitada para tarefas especificas ou partes da obra. Não se observa evidentemente (pelas
características básicas do produto e da demanda), a construção por iniciativa própria para a
posterior comercialização.

2.4.3. Características do subsector de Montagem Industrial com base nos seus aspectos

• Quanto as actividades principais:

Montagem de estruturas mecânicas, eléctricas, electromecânicas, hidromecânicas para a


instalação de indústrias; montagem de sistemas de geração, transmissão e de distribuição de
energia eléctrica; montagem de sistemas de telecomunicações; montagem de estruturas metálicas,
etc.

40
• Quanto a organização interna:

Subsector mais homogéneo, presença de empresas de grande e médio porte e número reduzido de
empresas.

• Quanto a especialização interna:

As empresas de menor porte dedicam-se às obras de menor complexidade, as maiores empresas


estão aptas a realizar qualquer tipo de actividade.

• Quanto a atuação em outros subsectores:

Atuação nos outros subsectores também pode ser observada entre as empresas de montagem
industrial.

• Quanto a demanda típica e principais clientes:

A demanda para as empresas de montagem industrial pode ser dividida entre pública e privada,
uma vez que atuam na montagem de estruturas diversas para fins industriais tanto o capital
privado (nacional e estrangeiro), quanto o estatal.

• Quanto as formas de contratos e comercialização:

Esse subsector apresenta como forma usual da contratação a empreitada e a subempreitada para
partes da obra ou tarefas. A exemplo da construção pesada, as empresas desse subsector não
atuam na forma de iniciativa própria para vendas a terceiros.

É importante notar que não só pela actividades principais de cada subsector é possível distingui-
los. Através do aspecto da demanda típica e principais clientes pode se destacar comportamentos
notadamente diferentes em cada subsector. Enquanto o subsector edificação dedica-se
praticamente a atender a demanda do sector privado, a construção pesada serve integralmente ao
sector público.

A montagem industrial atende de forma semelhante os sectores públicos e sectores privados. Esse
aspecto da demanda, todavia, está intimamente relacionado com a forma como atuam os

41
governos e como se encontra organizado o estado para promover a actividade económica.
Questões estratégicas importantes decorrem destas características.

Podemos observar ainda que as empresas de construção se organizam em torno do seu cliente e
toda actividade produtiva é consequência da demanda, que nitidamente destaca dois subsectores
com características muito distintas. A construção pesada, organizada por atender o sector público,
o subsector edificação organizado para atender o sector privado. Desse modo, o porte das
empresas, as principais actividades, a organização e a especialização interna, a forma de contrato
e comercialização são consequências directas da demanda, ou cliente, que determinada empresa
procura atender.

2.5. Importância da Indústria da Construção Civil para a economia

A indústria da construção civil desempenha papel primordial no desenvolvimento da economia. É


inegável o papel de protagonismo que desempenha frente ao desenvolvimento do país.
Rasmussen (1956:42) apud Teixeira e Carvalho (2005:112) manifesta a expressão key sector com
o objetivo de indicar quais áreas e actividades econômicas possuem maior importância no
desenvolvimento de uma determinada economia. As autoras expõem a indústria construção civil
como um desses sectores, devido seu papel e peso no desenvolvimento econômico de uma nação.

Tortato (2006:21) expõe a força da indústria da construção civil, que opera com um conjunto
heterogêneo de atividades exercidas, como pôr exemplo a construção de edifícios, atividades de
prestação de serviços (reformas e inspeções), compra e venda de imóveis (corretagem).

O autor ainda expõe que a indústria da construção também possui as incorporadoras, empresas
que trabalham quase como financeiras, ou seja, terceirizam outras atividades enquanto ingressam
apenas com o dinheiro.

2.5.1. Participação da construção civil nas variáveis económicas

Apesar dos altos e baixos da economia, o impacto da construção civil tanto no PIB quanto na
geração de empregos é muito grande. Por este motivo a construção civil, tem um importante
papel no desenvolvimento do País.

42
Na economia, existem alguns factores que interferem directamente na construção civil como taxa
de juros, estabilidade econômica, investimentos públicos em infraestrutura, investimentos de
estrangeiros, investimentos e incentivos públicos para moradia.

• Taxa de Juros

A taxa de juros impacta diretamente no sector da construção civil pois quanto maior os juros
pagos pelo capital, menor o interesse em investir em construções. Apesar de ser algo com lastro
físico, a construção ainda representa um investimento com um certo risco devido a liquidez
menor e a necessidade de manutenção, dentre outros fatores.

• Estabilidade Econômica

A estabilidade da economia exerce um papel fundamental para a confiança dos investidores. No


entanto uma economia incerta, também pode fazer com que investidores busquem investimentos
menos voláteis, que é o caso dos imóveis. Isso pode aquecer de certa forma o setor imobiliário da
construção civil.

• Investimentos Estrangeiros

Outro fator importante para o qual a estabilidade econômica contribui é o de investimentos de


estrangeiros. Em um contexto político-económico estável, a nossa grande economia e população
numerosa são bons atrativos para investimentos internacionais. Quanto menor for o nosso índice
risco-país mais atrairemos estes investimentos.

• Investimentos Públicos em Infraestrutura

Os nossos governos, como praticamente todos os governos no mundo, são responsáveis por gerir
direta ou indiretamente boa parte da infraestrutura pública. Isso inclui rodovias, ferrovias, portos
e aeroportos, sistemas de energia etc. Através de concessões, privatizações e parcerias público-
privadas, esta gestão tem se tornado mais eficiente.

No entanto, as iniciativas para grandes investimentos em infraestrutura geralmente partem de


políticas públicas que incentivam tais investimentos. Neste contexto, me refiro a obras de grande
porte que são capazes de gerar muitos empregos e com isso aquecer a economia.

43
Quando bem geridos, tais investimentos têm um impacto muito positivo no país não só através da
geração de empregos. Com uma melhor infraestrutura, conseguimos reduzir os custos de
transporte e energia, por exemplo, e aumentar a produtividade do país como um todo.

• Investimentos Públicos em Moradia

Outra relação que o governo tem com a construção civil é por meio de investimentos e incentivos
às moradias. Existem linhas de crédito onde o governo utiliza dinheiro público para subsidiar e
com isso disponibilizar à população condições melhores para adquirir um imóvel.

Por um lado, estes incentivos aumentam a oferta de imóveis para moradia a curto prazo. No
entanto, a médio e longo prazo o resultado destes incentivos gera uma menor inovação na busca
de tecnologias mais eficientes para se construir. Isso pode ser um dos fatores que a nossa
construção tem feito poucas grandes invasões.

É um equilíbrio complexo de se atingir quando se busca resolver o problema de moradias. Nós


como engenheiros e gestores de construtoras temos um papel protagonista na utilização e no
desenvolvimento de novas tecnologias que tornem o nosso setor mais eficiente. Contar com
incentivos governamentais nem sempre é sustentável.

Além destes fatores, a construção civil industrial também exerce um importante fator no
crescimento da economia. Investimentos nesta área são indicadores de uma economia crescente,
mais geração de empregos fixos e projeção de aumento de demanda no mercado interno ou
externo.

2.5.2. Perspectiva Macroeconômica da Construção Civil

Como termômetro da economia, os efeitos das crises econômicas no mercado imobiliário e na


construção civil são quase que imediatos, visto que uma das hipóteses levantadas é a correlação
entre a economia e a indústria da construção civil como um todo.

O mercado da construção civil, de acordo com o INE (2020:5), costuma tendo uma média de pelo
menos 10% em seu PIB, mas teve uma queda de 7% em 2019. Essa queda foi reflexo do PIB
nacional. Isso porque o país até hoje enfrenta um período difícil e a inflação desestimulou a
construção civil em virtude do aumento do preço de matéria prima.

44
Em relação a indústria de construção civil em períodos difíceis Plefh (2019, p. 8) afirma que, a
construção civil é classificada como um macrossector de economia de qualquer país, então
comparando o desenvolvimento histórico de um sector com o da economia nacional é possível
verificar que em diversos momentos, ambos apresentam períodos de ascensão e declínio
simultâneos.

Para Teixeira e Carvalho (2005:115), o impacto significativo do sector da construção civil na


economia é o que explica o protagonismo dessa modalidade setorial no país. Para as autoras, o
cenário econômico da construção civil é decisivo na geração do capital fixo de um país.

Sendo assim, o desenvolvimento da indústria da construção civil tem impacto directo na


economia do país considerando ser responsável por boa parte do capital fixo, ou seja, aquele que
não é inteiramente consumido e se perpetua na economia, como os edifícios, por exemplo.
Ressaltando que o sector somente se desenvolve se houver demanda que vem do crescimento do
PIB em geral.

Na tabela abaixo temos uma comparação do crescimento da construção civil em Moçambique em


relação a outros sectores.

Tabela 7 – Comparação do crescimento de construção civil com outros sectores

Ano Construção civil Transporte e Agricultura e Manufacturas


(%) comunicações Agropecuária (%)
(%) (%)
2014 15,15 13,7 3,7 4,6
2015 9,25 1,5 3,0 7,6
2016 2,62 1,3 4,2 3,6
2017 -3,19 4,6 4,0 2,6
2018 -0,45 4,8 3,4 1,8
2019 2,3 4,0 1,3 1,4
2020 -0,90 -2,3 3,1 -1,5
Fonte: Adaptado de Knoema.com (2020:64)

45
Podemos perceber a partir da tabela acima que o sector de construção civil cresceu bem melhor
nos anos de 2014 e 2015 comparando aos outros sectores, mas teve uma queda brusca a partir de
2016 devido a crise que o país vem enfrentando desde o ano.

É importante avaliar os impactos macroeconômicos do sector da construção civil no país,


considerando que não existe fonte de recursos inesgotável capaz de financiar projetos de
investimentos. Mesmo que haja crescimento econômico de emprego e renda nos últimos anos em
resposta ao desenvolvimento do sector, não há como fugir da análise dos impactos
macroeconômicos. Para isso, deve haver um estudo conjunto do PIB, investimentos locais e
externos e a oferta de emprego, que são fatores variáveis determinantes no desenvolvimento da
construção civil no país, bem como a taxa de juros.

A elevação da taxa de juros entre 2017 e 2018 também está entre um dos principais fatores que
fizeram que os investimentos nacionais e internacionais na construção civil fossem bastante
comprometidos.

Isso deve-se pelo fato de os investidores preferirem aplicar os seus recursos em renda fixa
relacionada aos juros do que outros investimentos que não possuem um retorno garantido, como é
o caso do mercado da construção civil e o mercado de ações.

Sobre os investimentos na construção civil, Farah (1996:49) reforçou essa ideia ao elencar que a
junção de tecnologia e incentivos financeiros gerados pelo desenvolvimento industrial pós-
segunda guerra acabou por impulsionar a criação de novas rodovias e ferrovias, na construção de
grandes polos industriais bem como no desenvolvimento da indústria da construção civil como
um todo. Ressalta-se que o motor desse desenvolvimento foi em decorrência dos investimentos
das indústrias no geral.

Segundo dados do INE (2020:7), os custos da construção civil tiveram variáveis relevantes entre
os anos de 2014 a 2020 e podem ser analisados conforme o gráfico abaixo:

46
Gráfico 5 – Gráfico de custos de construção civil

12

10

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020:18)

Sobre as oscilações nos custos durante esse período, seria inconcebível rejeitar a existência de
factores que implicam nessa problemática e que a alarmante crise política e a insegurança jurídica
em Moçambique, acentuou as incertezas econômicas a longo prazo, resultando em um gráfico
instável e cheio de variações.

Esse cenário alarmante ocasionou reflexos directos na construção civil, sobretudo nos primeiros
meses da queda da actividade econômica, com a diminuição da demanda do mercado imobiliário.
Com isso, consequentemente acabou havendo um decréscimo na procura por profissionais do
ramo, resultado em forte desemprego na área e engessamento da economia.

Na tabela abaixo é apresentado o PIB da construção civil e suas variações aos longos dos anos:

47
Tabela 8 – PIB de construção civil em Moçambique (2014-2020)

Ano Valor Bruto (10⁶ MT) Variação (%)


2014 31,675,49 15,15
2015 26,095,11 9,25
2016 8,947,42 2,62
2017 5,601,16 -3,19
2018 7,636,39 -0,45
2019 8,249,79 2,30
2020 7,583,10 -0,90
Fonte: Adaptado do INE (2020:21)

Gráfico 6 – Gráfico da evolução do PIB da construção civil em % (2014-2020)

20

15

10

-5
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020:21)

48
Com tudo, vale destacar que a confiança do sector de construção para geração do emprego tem se
fortalecido, tanto que de acordo com INE (2020:6), os níveis de confiança do sector de
construção foram altos e até melhores que outros sectores como alojamento e restauração.

Figura 1 - Gráfico de Contributos sectoriais do Indicador de Perspectivas de Emprego

Fonte: INE (2020:72)

49
Capítulo III: METODOLOGIA DE PESQUISA

Perante as várias classificações de pesquisa científica, são propostos dois critérios básicos para a
escolha de métodos a serem utilizados, assim como para classificar a pesquisa. Esses critérios são
relacionados aos fins e aos meios da pesquisa (Vergara, 2016:51).

Para o tema proposto na pesquisa, a correlação entre a economia e a construção civil é o principal
parâmetro utilizado para se atingir o objetivo geral e os objetivos específicos, logo, o método a
ser determinado terá como princípio interligar esses dois fatores.

Tem-se fundamentalmente para os meios da pesquisa, dados da economia e estatísticas


relacionadas ao tema proposto. Para os fins, tem-se a ótica da construção civil nas análises desses
dados, bem como a relação com o nível de desenvolvimento da economia.

Na abordagem econômica, será considerado o enfoque macroeconômico, pois o objetivo da


pesquisa se resume em abordar o desenvolvimento de sectores econômicos tendo como
parâmetro os grandes agregados nacionais, que são decisivos para o aquecimento da indústria da
construção civil. Esses agregados serão tanto no âmbito provincial quanto no âmbito nacional,
como, por exemplo, o PIB.

3.1. Tipo de Pesquisa

As possíveis abordagens de uma pesquisa (Fins) são divididas em 6 tipos, entre elas: Pesquisa
Exploratória, Descritiva, Explicativa, Metodológica, Aplicada e Intervencionista (Vergara,
2016:52).

Quanto a abordagem, o método de pesquisa é explicativo, onde Farias Filho e Arruda Filho
(2015:47) citam que esse método tem como objectivo descrever as características que contribuem
para um fenômeno, correlacionando suas variáveis, ou seja, procurando saber o motivo de uma
variável produzir mudança na outra.

Vergara (2016:69), ressalta que primeiramente necessita-se de uma abordagem descritiva para se
obter as informações que servirão como base para a abordagem explicativa, já que o método
descritivo tem como objetivo descrever as características de determinado fenômeno, ou
estabelecer uma ligação entre as variáveis envolvidas no estudo (Farias Filho; Arruda Filho,
2015:49).
50
No trabalho proposto, a hipótese de que a economia e a indústria da construção civil estão
directamente correlacionadas é o fenômeno a ser compreendido por essa pesquisa, utilizando o
método explicativo para se chegar aos resultados.

3.2. Finalidade de Pesquisa

A finalidade da pesquisa pode ser dividida em dois tipos: Pesquisa Básica e Pesquisa Aplicada,
onde a básica se trata em abastecer as inovações da ciência aplicada e atribuindo valor ao
fenômeno de estudo como parâmetros estabelecidos para realizar comparação ou referência
(Tumelero, 2019:58).

A Pesquisa Aplicada tem como objetivos gerar dados para aplicação prática, em curto ou médio
prazo, como por exemplo a criação de patentes (Tumelero, 2019:61). A pesquisa prática pode ter
sido iniciada de maneira básica em um primeiro momento, dando suporte teórico para sua
aplicação futura (Farias e Arruda, 2015:66).

O presente estudo é realizado através de pesquisa básica, visto que se utiliza dados já
estabelecidos para em seguida serem objectos de comparação e interligação. Os resultados serão
obtidos a partir da análise de ligação entre os dados propostos no estudo. Os dados já
estabelecidos serão os indicadores macroeconômicos para se atingir os objetivos propostos.

3.4. Campo de Estudo

Marconi e Lakatos (2017:14) separam o conhecimento em quatro áreas: Conhecimento


Científico, Filosófico, Religioso e Popular. Porém, os autores evidenciam o Conhecimento
Científico e Popular, possuindo diferenças principalmente no método, ou seja, na forma como é
obtido.

O proposto trabalho terá como fundamento, o conhecimento científico, abrangendo-se em duas


áreas acadêmicas, a economia e a engenharia civil. Diante disso, o trabalho proposto trata-se de
uma pesquisa interdisciplinar, ou seja, abrangendo duas áreas acadêmicas.

Farias Filho e Arruda Filho (2015:69) citam que o estudo interdisciplinar se trata da incorporação
entre duas áreas acadêmicas para descrever o fenômeno proposto no estudo e para dar suporte

51
teórico e metodológico para o tema, visto que a integração de mais de uma área do conhecimento
é que une as ciências.

3.5. Método de abordagem

A pesquisa pode ser dividida em dois grupos de abordagens, qualitativa e quantitativa. Na


abordagem quantitativa, Farias Filho & Arruda Filho (2015:72) citam que quantificar um estudo
significa converter determinada informação em números, opiniões ou informações para se chegar
no objetivo proposto.

Os autores também falam da abordagem qualitativa, onde trata-se de um panorama de relação


entre o que é objetivo e a subjetividade de quem está como observador, bem como informações
que não podem ser traduzidas em números (Farias & Arruda 2015:75).

Proetti (2018:18) reforça que os métodos qualitativos e quantitativos podem ser utilizados em
conjunto, ou seja, não se anulam. Enquanto a abordagem qualitativa serve para fazer um
direcionamento teórico da pesquisa, a abordagem quantitativa serve para quantificar e mensurar
os aspectos lógicos do fenômeno.

Esse trabalho possui as duas abordagens, por ter como base a pesquisa qualitativa para se
entender teoricamente o fenômeno estudado, que são os impactos das flutuações econômicas no
mercado da construção civil. Em seguida, utiliza-se da abordagem quantitativa para compreender
numericamente o fenômeno.

3.6. Procedimento Técnico e Coleta de Dados

Como procedimento técnico, o proposto trabalho utilizou a pesquisa bibliográfica e a pesquisa


documental. Primeiramente, para dar fundamentação e embasamento teórico para a pesquisa, foi
feito a utilização de artigos acadêmicos relacionados ao tema, livros de metodologias, bem como
os livros de teoria econômica e macroeconômica. Vergara (2016:15) afirma que o material
utilizado pode ser de fonte primária ou secundária, e que esse tipo de procedimento é
instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, também com a possibilidade de
esgotar-se a si mesmo.

Em seguida, foi utilizada a pesquisa documental, utilizando-se de dados e estatísticas para em


seguida, poder realizar o entendimento do fenômeno e chegar nos objetivos propostos
52
inicialmente. Para a pesquisa documental, Farias Filho & Arruda Filho (2015:80) definem como
um material que ainda não recebeu uma análise adequada, ou seja, são dados brutos.

Os dados de pesquisa documental foram obtidos das mais diversas fontes, como por exemplo:
INE, Knoema, TheGlobalEconomy, etc... Os dados primários serão o PIB do país e da província
e o PIB da construção civil em Moçambique e Nampula. Após a obtenção desses dados, é feita a
análise e relação dos mesmos, como premissa para se chegar aos objetivos inicialmente
propostos.

3.7. Selecção do Universo e Amostra

O universo, ou população, é o conjunto de elementos que possuem as características que serão


objeto do estudo, e a amostra, ou população amostral, é uma parte do universo escolhido
selecionada a partir de um critério de representatividade (Vergara, 1997:10).

O universo do estudo desta pesquisa é a análise dos indicadores macroeconómicos na construção


civil em Moçambique. E a amostra é a analise dos indicadores na província de Nampula.

A amostra selecionada pode ser classificada como não probabilística, sendo que a seleção foi
feita por acessibilidade e tipicidade, onde os elementos pesquisados são considerados
representativos da população-alvo (Vergara, 1997:15).

3.8. Análises Estatísticas

Para analisar estatisticamente as variáveis desse estudo, ocorrerá primeiramente a comparação


entre os dados, a análise de correlação e determinação. Essa ferramenta estatística tem como
premissa atingir os objetivos para em seguida realizar a conclusão do trabalho.

Como principal ferramenta a ser utilizada, a correlação pode ser definida como a relação entre
duas variáveis X e Y. Utiliza-se primeiramente o conceito de variância para obter o desvio
padrão. Em seguida utiliza-se a correlação, que pode também ser chamada de covariância. A
covariância é uma estatística através da qual se consegue o coeficiente de correlação. Coeficiente
esse que mede o grau de associação “linear” entre duas variáveis aleatórias X e Y. (Guimarães,
2017:37).

53
As variáveis que serão correlacionadas neste estudo são o PIB da construção civil e o PIB total
em ambas as regiões estudadas durante o período de delimitação, ou seja, serão feitas duas
análises de correlação, uma na província de Nampula e outra em Moçambique. Ressalta-se que
no método de correlação, serão utilizadas ferramentas do software Excel e a base de dados serão
os dados brutos de cada ano, ou seja, sem levar em conta variações percentuais que tem forte
influência da inflação nesse mesmo ano.

A fórmula utilizada para o cálculo do coeficiente de correlação de Pearson é a seguinte:

𝑛. ∑ 𝑥𝑦 − ∑ 𝑥. ∑ 𝑦
𝑟=
√𝑛(∑ 𝑥 2 ) − (∑ 𝑥)2 . √𝑛(∑ 𝑦 2 ) − (∑ 𝑦)2

Após a obtenção do coeficiente de correlação de Pearson, é realizada a verificação do grau de


correlação entre as variáveis. Na interpretação do valor, se o valor do coeficiente de Pearson for
de 0 a 0,35 significa que a correlação é insignificante ou nula. Se for 0,35 a 0,65 significa que a
correlação é moderada. Se for de 0,65 a 0,9 a correlação é forte. Já se o valor for de 0,9 a 0,99 as
variáveis possuem uma correlação muito forte. Por último, se o valor for de 1 a correlação é
considerada perfeita. (Mukaka,2012:21)

Depois da verificação do grau de correlação entre as variáveis de estudo, convém calcular o


coeficiente de determinação. Esse coeficiente é obtido ao elevar o coeficiente de correlação de
Pearson ao quadrado e multiplicá-lo por 100. Em seguida, obtém-se o valor em pontos
percentuais. Para a interpretação do coeficiente de determinação, significa o quanto uma variável
influencia na outra em pontos percentuais.

Reforçando que o valor do coeficiente de correlação de Pearson é em números decimais entre 0 e


1 e possui uma tabela para verificar seu grau de correlação. Já o coeficiente de determinação é em
pontos percentuais e não possui uma tabela de comparação, sendo apenas a influência de uma
variável em outra em pontos percentuais, entre 0 a 100%. Se menor do que 100%, a diferença é
causada pela influência de outras variáveis que não foram analisadas, podendo ser só uma ou
mais de uma.

54
Capítulo IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Segundo INE (2017:11), a província de Nampula teve uma população de 5.758.920 habitantes, o
que a semelhança dos censos anteriores continua tornando Nampula a província mais populosa do
país. Com uma área de 79.010 km², a densidade populacional ronda os 78,89 habitantes por km²,
um incremento de mais 28.44 hab/ km². Este factor é muito importante para o sector de
construção civil, pois, quanto mais é a população maior é a demanda para o sector. Sendo assim,
se torna interessante fazer um estudo da província comparando directamente com o país, se
baseando principalmente com o PIB.

4.1. Qual é a relação entre o PIB de Moçambique e Nampula?

Geralmente, para avaliar a riqueza de um país é utilizado o Produto Interno Bruto, por ser o
melhor indicador e medidor da riqueza de um país bem como o melhor avaliador do desempenho
dos sectores da economia. Este trabalho tem como um dos objectivos específicos, a contribuição
da província de Nampula no Produto Interno Bruto de Moçambique e na indústria de construção
civil.

Com base nos dados obtidos pelo Instituto Nacional de Estatísticas e pelos sites de estatísticas
mundial como Knoema e TheGlobalEconomy, foi construído uma tabela com os valores do PIB
de Moçambique e de Nampula em milhões de meticais, ou seja, o valor bruto é o número da
tabela multiplicado por 1.000.000. Pelas mesmas fontes, foi obtido também a variação do mesmo.

A variação do PIB é expressa em percentagem e pode ser negativa ou positiva. Ressalta-se que a
referência da variação de crescimento de cada ano é o ano anterior.

Na tabela a seguir, é feito a comparação entre o PIB de Moçambique e de Nampula fornecidos


pelo Instituto Nacional de Estatísticas:

55
Tabela 9 – PIB de Moçambique X Nampula (Milhões)

Ano Moçambique Variação (%) Nampula Variação (%)


2014 555 447 7,4 82 265 6,3
2015 637 760 6,7 93 024 6,0
2016 752 702 3,8 105 158 2,4
2017 840 526 3,7 113 964 2,8
2018 895 567 3,4 122 145 3,3
2019 962 621 2,3 132 973 2,0
2020 974 511 -1,2 138 105 -1,7
Fonte: Adaptado do INE (2020)

A seguir, o gráfico comparando a variação do PIB de Moçambique e Nampula:

Gráfico 7 – Variação do PIB de Moçambique e de Nampula em percentagem

-2

-4
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Variação de Moçambique Variação de Nampula

Fonte: Adaptado do INE (2020)

56
Nos anos de 2014 e 2015, tanto em Moçambique assim como Nampula, obtiveram uma
semelhança nos resultados do PIB, mantendo um razoável crescimento com pequenas variações
entre os dados.

Nesses anos, Moçambique e Nampula obtiveram sua maior variação de crescimento durante o
período estudado, onde Moçambique obteve desempenho um pouco melhor que o de Nampula.

Os resultados se deram pelo facto do país não ter entrado nas chamadas “crises económicas”,
crises estas que começaram a se manifestar nitidamente a partir de 2016.

Nos anos de 2016 a 2018, Moçambique e Nampula até continuaram com um bom crescimento
porem menor do que a dos anos anteriores, e ainda com o país tendo o desempenho melhor que a
província. Apesar do bom crescimento, houve uma leve desaceleração comparado aos anos
anteriores. Isso se deve a crise que o país começou a enfrentar, originando a redução do
investimento estrangeiro no país, consequentemente desvalorizando o câmbio e a oferta de
crédito.

No ano de 2019, Moçambique e Nampula tiveram um desenvolvimento ainda pior em relação aos
últimos porem, ainda assim positivos. No entanto vale ressaltar que o consumo de famílias
continuou crescendo, esse factor foi determinante para o crescimento do PIB.

Finalmente, no ano de 2020, tanto Moçambique e Nampula tiveram um crescimento negativo, o


que já era esperado, sendo reflexo da crise económica que se deu início supostamente em 2016. A
crise teve como consequências o aumento expressivo da inflação no ano de 2016 e 2017. A
inflação alta nesse período de recessão foi puxada sobretudo pelo câmbio, ocasionando um
aumento em cadeia nos preços das importações e também dos preços do mercado interno. Com
objetivo de conter a inflação, a taxa de juros também aumentou consideravelmente.

57
4.2. Como tem sido o desempenho da Construção Civil em Moçambique?

Na tabela abaixo, é mostrado a comparação entre o PIB de Moçambique e da construção civil,


assim como as suas variações seguidas de um gráfico:

Tabela 10 – Comparação entre o PIB de Moçambique e da construção civil

Ano PIB de Variação (%) PIB da Variação (%)


Moçambique Construção em
(10⁶ MT) Moçambique
(10⁶ MT)
2014 555 447 7,4 31,675,49 15,15
2015 637 760 6,7 26,095,11 9,25
2016 752 702 3,8 8,947,42 2,62
2017 840 526 3,7 5,601,16 -3,19
2018 895 567 3,4 7,636,39 -0,45
2019 962 621 2,3 8,249,79 2,30
2020 974 511 -1,2 7,583,10 -0,90
Fonte: Adaptado do INE (2020)

Gráfico 8 – Variação Percentual do PIB de Moçambique e da Construção Civil

20

15

10

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

-5

Variação do PIB de Moçambique Variação do PIB da Construção Civil

Fonte: Adaptado do INE (2020)


58
Em 2014, o PIB da construção civil obteve um resultado bem superior ao do PIB de Moçambique
com um crescimento de 15,15%, tendo uma queda expressiva no ano seguinte passando para
9,25% ainda assim superior a variação do PIB de Moçambique que foi de 6,7%.

Porem, depois da crise de 2016 o sector de construção civil foi um dos sectores mais afectados.
Essa queda prosseguiu nos anos seguintes tanto é que o PIB do sector de construção teve um
desempenho negativo no ano seguinte e segue tendo um fraco desempenho até nos dias atuais.

O futuro da indústria de construção moçambicana depende, do estabelecimento, por parte do


Governo, de um ambiente favorável no âmbito das políticas públicas e de um conjunto de
estratégias que permitam o sector de construção ultrapassar as suas desvantagens competitivas.

O governo, no ano de 2014, antes do surgimento da crise, elaborou um plano estratégico de


desenvolvimento nacional, onde para o sector de construção civil dividiu a estratégia em quatro
pilares, nomeadamente: Governação, Qualidade, Sinergias Nacionais e Financiamento.

No pilar de Governação, o sector de construção foi caracterizado por fracas ligações e


coordenação entre os vários intervenientes, tanto entre o Governo e o Sector Privado, como entre
empresas e consórcios diferentes dentro do sector privado. Para assegurar um sector com
governação efectiva, a estratégia definiu os seguintes objectivos:

• Melhorar a governação da Indústria de Construção por meio do reforço do nível de


coordenação e do fluxo de informação dentro do governo, e entre o governo e o sector
privado;
• Aumentar o nível de confiança dentro da indústria reduzindo os custos de procura e
triagem por meio da promoção de uma maior cooperação horizontal e vertical no sector
da construção;
• Promover a transformação estrutural da indústria de construção – no que diz respeito a
serviços e materiais - por meio do fortalecimento da presença formal de empresas
Moçambicanas no mercado.

No pilar da Qualidade, o sector foi caracterizado por baixa qualidade dos serviços e produtos
fornecidos por empresas no sector de construção, em combinação com a falta de um sistema
abrangente de certificações, resulta na desconfiança entre os vários intervenientes, o que

59
historicamente impediu o desenvolvimento de um sector de construção eficiente e integrado com
fortes ligações intra-empresariais. O pilar possui os seguintes objectivos:

• Aumento do nível geral de qualidade do produto e da produtividade da indústria, por meio


da promoção de melhores práticas de gestão e melhorias tecnológicas;
• Melhorar a capacitação da força de trabalho da indústria de construção;
• Elevação progressiva das empresas Moçambicanas aos padrões internacionais.

No pilar de Sinergias Nacionais, o sector foi caracterizado pela falta de aproveitamento dos
recursos naturais para a produção de materiais de construção. Pois, grande parte dos materiais são
importados. Para resolução deste problema foi proposto a exploração dos recursos naturais para o
aproveitamento absoluto no país não só no sector de construção como também em vários outros.

No pilar de Financiamento, a grande maioria da população não está em condições de comprar


uma moradia, o que pode limitar projectos de habitação de grande escala. Por outro lado, por se
tratar muitas vezes de projectos de grande escala e de longa duração, as próprias empresas de
construção precisam ter um acesso flexível a financiamento para poder operar efectivamente.
Desta forma, os objectivos deste pilar são:

• Oferecer habitação a preços acessíveis à população, protegendo os segmentos urbanos e


rurais mais pobres da apropriação de terras;
• Melhorar o acesso ao crédito para empresas das indústrias de construção e materiais de
construção.

Infelizmente, o plano estratégico não está sendo completamente implementada, devido as crises
que o país ainda enfrenta, porem tentar implementar por completo o plano pode vir a dar
resultados bastante positivos no desempenho de construção civil no país.

60
4.3. Como tem sido a participação da construção civil no PIB de Moçambique?

A seguir, é mostrada a tabela com a participação percentual da construção civil no PIB de


Moçambique:

Tabela 11 – Participação da indústria de construção no PIB (%)

Ano PIB de Moçambique PIB da Construção em Participação da Construção no


(10⁶ MT) Moçambique (10⁶ MT) PIB de Moçambique (%)
2014 555 447 31,675,49 2,55
2015 637 760 26,095,11 2,48
2016 752 702 8,947,42 -0,89
2017 840 526 5,601,16 -0,78
2018 895 567 7,636,39 -0,93
2019 962 621 8,249,79 1,35
2020 974 511 7,583,10 1,23
Fonte: Adaptado do INE (2020)

A seguir, é mostrado o gráfico da participação percentual da indústria de construção civil no PIB


de Moçambique:

Gráfico 9 – Participação Percentual da Indústria da Construção Civil no PIB de Moçambique

2,5

1,5

0,5

-0,5

-1

-1,5
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020)


61
Nos anos de 2014 e 2015, a construção civil obteve uma participação acima de 2% no PIB de
Moçambique. Valor esse menor do que a participação da construção civil no PIB de Nampula
que foi acima de 4%.

Entre os anos de 2016 a 2018, houve um crescimento negativo na participação da construção civil
no PIB de Moçambique conforme o gráfico mostra acima. Porem, nos anos de 2019 e 2020 a
participação da construção civil voltou a ter um crescimento positivo porem abaixo de 2%.

Segundo Lowe (2003:36), contribuição do sector da construção para o PIB em países em


desenvolvimento varia entre 3 a 6%. Moçambique situava-se exactamente na parte inferior, com
uma participação estimada em 2.5% até em 2015. Devido as crises surgidas no ano de 2016, a
participação passou a ser negativa, isso, devido a falta dos investimentos em infraestruturas
sociais e económicas.

Um dos principais motivos que torna a participação do sector de construção bastante baixa no
PIB nacional é que a maioria das empresas são micro, pequenas ou médias, o que, juntamente
com a sua falta de experiência faz com que seja muito difícil para elas competirem com sucesso
com as suas concorrentes.

E, também, há uma grande concentração geográfica de empresas do sector de construção


principalmente nas províncias de Maputo, Sofala e Nampula. No entanto, fora dessas três
províncias, existem relativamente poucas empresas, pelo menos no sector formal. Um corolário
importante: à medida que a procura descentralizada por habitação aumentar, a indústria de
construção deverá expandir-se para outras províncias, e espera-se que assim aumente também o
grau de formalização.

4.4. Como tem sido desempenho da Construção Civil em Nampula?

O Valor Agregado Bruto corresponde o valor gerado por um sector na riqueza de uma região, ou
seja, no PIB daquela região. O VAB da construção civil na província de Nampula também pode
ser chamado de PIB da construção civil em Nampula.

Na tabela abaixo é mostrado o desempenho da construção civil na província de Nampula,


considerando seu valor agregado bruto:

62
Tabela 12 – Desempenho da construção civil na província de Nampula

Ano PIB de Nampula (10⁶ Construção VAB Participação Percentual da


MT) (10⁶ MT) Construção Civil no PIB (%)
2014 82 265 4,691,14 5,70
2015 93 024 3,807,28 4,09
2016 105 158 1,249,95 1,19
2017 113 964 759,52 0,67
2018 122 145 1,041,60 0,85
2019 132 973 1,139,30 0,86
2020 138 105 1,074,53 0,78
Fonte: Adaptado do INE (2020)

Gráfico 10 – Variação Percentual da Participação do VAB (%) na província de Nampula

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020)

63
A indústria de construção civil em Nampula obteve uma boa participação no valor gerado do PIB
de Nampula nos dois primeiros anos do período estudado, com participações acima de 4%.
Ressaltando que o restante do PIB possui seu valor gerado pelos outros sectores.

A variação da participação da construção no PIB de Nampula passou por diversas oscilações


desde 2016, com os valores mais baixos em relação aos anteriores, tanto que desde 2017 a sua
participação no PIB tem sido abaixo de 1% o que torna muito preocupante, visto que o sector de
construção civil tem o poder de influência enorme na economia de qualquer país.

A justificativa para essa queda, é devido ao surgimento da crise em 2016, tanto é que os outros
sectores da indústria sentiram primeiro o efeito da crise antes do sector de construção civil isso
porque a construção civil tinha um forte investimento do governo por meio de programas de
habitações que teve início muito antes do surgimento das crises.

Porem, com a redução dos investimentos públicos, o sector da construção passou a sentir o peso
da crise mais fortemente a partir do ano de 2016, onde em 2017 atingiu seu pior valor da
participação do PIB.

4.5. Como tem sido a participação do PIB de Nampula no PIB de Moçambique?

Conforme a composição macroeconómica das riquezas nacionais, cada província possui uma
participação no PIB do país, já que a composição desse indicador em território nacional é o
somatório de todos os valores das províncias,

Na tabela abaixo, é mostrado a participação da Província de Nampula no PIB de Moçambique


seguido de um gráfico:

64
Tabela 13 – Participação percentual de Nampula no PIB de Moçambique

Ano PIB de Moçambique PIB de Nampula Participação


percentual de
Nampula no PIB de
Moçambique
2014 555 447 82 265 14,81
2015 637 760 93 024 14,59
2016 752 702 105 158 13,97
2017 840 526 113 964 13,56
2018 895 567 122 145 13,64
2019 962 621 132 973 13,81
2020 974 511 138 105 14,17
Fonte: Adaptado do INE (2020)

Gráfico 11 – Participação percentual de Nampula no PIB de Moçambique

15

14,8

14,6

14,4

14,2

14

13,8

13,6

13,4

13,2

13

12,8
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Adaptado do INE (2020)

65
A província de Nampula teve uma participação no PIB de Moçambique bem semelhantes nos
períodos estudados, com valores apresentando uma média de 14% fazendo de Nampula uma das
províncias que mais participa no PIB de Moçambique, possuindo uma contribuição bastante
significativa.

No ano de 2014 e 2015, Nampula viria tendo uma participação no PIB do país acima de 14%,
tendo alterado a sua participação para um valor abaixo de 14% desde 2016.

No ano de 2017, Nampula obteve a participação mais baixa comparando ao restante dos períodos
estudados, mas com o desenvolvimento de alguns sectores como a indústria, a participação voltou
aumentando nos restantes dos anos, tanto é que em 2020, voltou a ter uma participação acima de
14%.

Para que o contributo da província de Nampula para o PIB nacional, que é em media 14%, se
torne ao menos proporcional ao peso da população de Nampula na população nacional que é
acima de 20%, seria necessário que a economia da província cresça significamente mais depressa,
pelo menos 50% mais rápido do que a economia nacional durante os anos seguintes.

É possível fazer com que a economia cresça mais depressa numa região através da exploração
dos seus recursos. A província de Nampula tem uma variedade de oportunidades, desafios e um
potencial mais diversificado, não dependendo apenas de um recurso. Por um lado, pode
aproveitar recursos minerais com potencial de grande impacto económico e social (fosfatos,
areias pesadas e outros), mas também tem um enorme potencial de produção alimentar (agrícola,
pecuária, pesqueira e águas minerais) e de desenvolvimento de uma base de produção industrial,
diversificada e articulada.

Sendo assim, Nampula deve ambicionar atingir uma importância no PIB nacional que ultrapasse
significamente o peso da sua população na população nacional, tendo como finalidade participar
pelo menos 20% no PIB nacional.

66
4.6. Qual é a correlação entre a Construção Civil e o Produto Interno Bruto (PIB)?

Para avaliar a correlação entre a construção civil e o Produto Interno Bruto (PIB), utilizou-se as
técnicas estatísticas de correlação e determinação.

Primeiramente tem-se o diagrama de dispersão das variáveis analisadas, onde sua premissa é
verificar uma relação de causa e efeito entre as variáveis, traçando uma linha de tendência para
uma melhor análise.

Foram feitos dois diagramas de dispersão, demonstrando a relação entre as variáveis do PIB de
Moçambique e de Nampula, bem como do PIB da construção civil de Moçambique e da
província de Nampula.

Os dados utilizados para a elaboração do diagrama dispersão foram os valores brutos das tabelas
11 e 12, sem considerar suas variações percentuais. Os valores brutos não consideram a variação
de preços, ou seja, os índices de inflação de cada período.

A seguir, serão mostrados os diagramas de dispersão onde o eixo vertical representa o PIB de
construção civil e o eixo horizontal representa o PIB total:

Gráfico 12 – Diagrama de Dispersão do PIB Total (eixo X) e Construção Civil (eixo Y) em


Moçambique

35000

30000

25000

20000

15000

10000

5000

0
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000

Fonte: Adaptado do INE (2020:16)


67
Gráfico 13 - Diagrama de Dispersão do PIB Total (eixo X) e Construção Civil (eixo Y) em
Nampula

5000

4500

4000

3500

3000

2500

2000

1500

1000

500

0
0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000 160000

Fonte: Adaptado do INE (2020:16)

68
Nas tabelas abaixo será mostrado os coeficientes de correlação e determinação calculados, onde o
valor de correlação de Pearson é em números decimais e o de determinação é em percentagem:

Tabela 14 – Correlação e Determinação entre o PIB de Moçambique e o PIB de construção civil


em Moçambique

Ano PIB de Moçambique PIB de Construção Correlação de Coeficiente de


(10⁶ MT) Civil (10⁶ MT) Paerson Determinação
2014 555 447 31,675,49
2015 637 760 26,095,11
2016 752 702 8,947,42
2017 840 526 5,601,16 r= -0,89694 D=80,45%
2018 895 567 7,636,39
2019 962 621 8,249,79
2020 974 511 7,583,10
Fonte: Adaptado do INE (2020)

Tabela 15 - Correlação e Determinação entre o PIB de Nampula e o PIB de construção civil em


Nampula

Ano PIB de Nampula Construção VAB Correlação de Coeficiente de


(10⁶ MT) (10⁶ MT) Paerson Determinação
2014 82 265 4,691,14
2015 93 024 3,807,28
2016 105 158 1,249,95
2017 113 964 759,52 r= -0,83779 D=70,19%
2018 122 145 1,041,60
2019 132 973 1,139,30
2020 138 105 1,074,53
Fonte: Adaptado do INE (2020)

69
Tendo obtido os valores de correlação, se observa na tabela abaixo para fazer a identificação do
grau de correlação entre as variáveis estudadas. Essa tabela faz parte da definição matemática de
correlação, onde é consultada após realizar o cálculo do coeficiente em números decimais.

Tabela 16 – Graus de Correlação

r Correlação
Entre 0 a 0,35 Nula
Entre 0,35 a 0,65 Média
Entre 0,65 a 0,90 Forte
Entre 0,90 a 0,99 Muito forte
1 Perfeita
Fonte: Adaptado de Mukaka (2012)

A partir desses valores, verifica-se que os coeficientes de correlação e determinação entre a


construção civil e o PIB estão muito próximos, tanto em Moçambique como também em
Nampula, com 0,89694 e 0,83779 respectivamente.

Com base na tabela de Grau de correlação, podemos observar por meio dos valores obtidos uma
forte correlação entre as variáveis, ou seja, como o coeficiente obtido em ambos os casos está
entre 0,65 a 0,90, observa-se que o PIB de construção civil e o total estão correlacionados em alto
grau.

Por último, após saber que ambas as variáveis possuem uma forte correlação, vem o coeficiente
de determinação. A definição desse coeficiente é o quanto uma variável influencia outra variável.
Seu cálculo é feito elevando o coeficiente de Pearson ao quadrado e multiplicando por 100,
obtendo um valor em pontos percentuais.

Em Moçambique, o coeficiente de determinação apresentou um número próximo de 80% sendo


esse o valor da influência entre uma variável e outra, ou seja, entre o PIB de Moçambique e o de
construção civil em Moçambique.

Em Nampula, o coeficiente de determinação apresentou um número próximo de 70%, apontando


que esse é o valor da influência entre o PIB de Nampula e o de Construção Civil em Nampula.

70
Capítulo V: CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Conclusão

O presente trabalho foi desenvolvido com o objectivo geral de analisar as variáveis


macroeconómicas da construção civil em Nampula e Moçambique, se baseando mais no Produto
Interno Bruto para descrever a situação e comparar o desempenho macroeconómico das duas
áreas nos anos de 2014 a 2020.

Inicialmente foram comparados os desempenhos do PIB de Moçambique e o da província de


Nampula, onde foi possível observar que houve uma tendência de acompanhamento tanto na
queda como na alta na maioria dos anos no período estudado com Moçambique tendo uma
variação um pouco melhor que a variação da província de Nampula, mas com números bem
próximos. Tanto o PIB de Moçambique assim como o de Nampula, durante o período estudado,
ambos tiveram suas melhores variações nos primeiros dois anos, sendo eles 2014 e 2015. A partir
de 2016 ambas as áreas tiveram uma queda bastante expressiva tanto é que tiveram uma variação
negativa no ano de 2020.

Depois de ter sido feita a comparação directa do desempenho entre o PIB de Moçambique e de
Nampula, foi feita a análise da participação de Nampula no PIB de Moçambique, participação
essa que teve uma percentagem bastante expressiva com números aproximados a 14%, fazendo
com que Nampula seja uma das províncias com maior participação no PIB de Moçambique.

No entanto, a participação da construção civil no PIB de Nampula, é bastante preocupante pois só


apresentou uma percentagem boa nos primeiros dois anos do período estudado, tento uma queda
bastante expressiva nos anos seguintes, tanto é que desde 2017 a 2020 tem tido uma participação
abaixo de 1%. É justo afirmar que a participação da construção civil no PIB de Moçambique
possui percentagens quase semelhantes a da construção em Nampula, podendo ser até mais baixa
em alguns anos, porém nos últimos anos do período estudado ao menos teve uma participação
com percentagem acima de 1%.

Depois de ter sido feita a comparação dos dados, foi feita as análises dos mesmos, onde concluiu-
se que as flutuações económicas impactam directamente o mercado de construção civil tanto de
maneira positiva quanto negativa.

71
O valor do coeficiente de correlação de Pearson em ambos os casos foi acima de 0,80 tanto em
Nampula como em Moçambique, existindo assim uma forte relação entre as duas variáveis com
uma tendência negativa. Depois de ter sido obtido o resultado, se obteve o coeficiente de
determinação para verificar os pontos percentuais a relação de influência entre as duas variáveis.
Esse coeficiente foi de aproximadamente 70% e 80%, para Nampula e Moçambique
respectivamente.

Sendo assim, pela análise dos dados, a falta de um plano sólido governamental de incentivo ao
desenvolvimento económico influenciam directamente no macrossector de construção civil,
fazendo com que este seja muito mal aproveitado afectando directamente a Província de Nampula
e do País em geral.

Sugestões

Da análise resultante desta pesquisa, com as conclusões descritas, importa sugerir o seguinte:

• Dada a baixa participação da Construção Civil em Moçambique, é conveniente voltar a


considerar um forte investimento no sector de construção civil.
• Para a província de Nampula uma das mais populosas do país, o sector de Construção
Civil não tem se saído bem, principalmente no investimento público, então acaba sendo
necessário um forte investimento na área pública, pois é uma área que mais afecta o sector
de Construção.
• Por ser um tema relevante mais pouco abordado de modo geral, é importante sugerir a
direcção da Universidade para que nos trabalhos futuros incentivem a abordagem de mais
temas dessa semelhança, como por exemplo, o impacto da inflação e influência da taxa de
juros no mercado de construção civil no país de Moçambique em geral.

72
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ANEXOS

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