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O GRUPO ADONHIRAMITA DE ESTUDOS

apresenta

A CORDA DE 81 NÓS
NO RITO ADONHIRAMITA
Sergio Emilião
MI - F R+C
OBSERVAÇÕES
• A apresentação foi baseada no Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, Rito Adonhiramita, publicado pelo Grande
Oriente do Brasil – GOB, edição 2009
• Os comentários refletem apenas a opinião pessoal do apresentador, e não a posição oficial do Grande Oriente
do Brasil nem de qualquer Potência Simbólica ou Filosófica na qual o Rito Adonhiramita é praticado
• Todas as dúvidas podem e devem ser dirimidas de forma oficial junto à Secretaria Geral de Orientação
Ritualística do Grande Oriente do Brasil, e nos departamentos correspondentes nas demais Potências

AVISO LEGAL
O ingresso na sala virtual desta apresentação implica na tácita concordância com a íntegra do que dispõe a Lei
Geral de Proteção de Dados, Lei Federal n° 13.709, de 14.08.2018
INTRODUÇÃO

• A Corda de 81 Nós é um exemplo da evolução dos Templos e


rituais pelos quais a Maçonaria moderna passou, a partir de
1717
• É um elemento simbólico, que apesar de ter significado próprio,
teve sua posição na decoração dos Templos alterada, ao longo
dos tempos
• Não é comum a todos os Ritos
• Ritos e autores discordam sobre o simbolismo, a origem, e até
mesmo quanto ao número de nós
• Como todo símbolo, notadamente na Maçonaria, é interpretado
de maneiras diferentes
• Minha intenção é apresentar elementos que possam auxiliar na
compreensão de seu simbolismo, ressaltando que demonstrarei
apenas o meu entendimento
ESCOPO
• Introdução
• A Corda
• O Uso da Corda
• A Corda na Arquitetura
• A Corda nas Religiões
• A Corda no Chão
• A Corda no Pavimento Mosaico
• A Corda no Painel do Grau
• A Corda no Teto
• O Número de Nós
• A Inserção nos Rituais
• Alegoria
• Associação com a Egrégora e Energias
• Os Laços de Amor
• A Arquitetura Sagrada
• A Construção do Templo
• A Escala de Medição
• Conclusão
A CORDA
• A corda está associada à evolução da espécie humana, e convive com o homem
desde tempos remotos
• Originalmente era fabrica com cipós, fios de cabelo, tendões, tripas de animais,
etc. Com o passar do tempo os fios de tecido e sintéticos passaram a constituir
sua matéria prima
• A sobrevivência do homem primitivo, e a subjugação dos animais está relacionada
diretamente à corda
• O homem primitivo fabricava seus primeiros instrumentos de caça amarrando
pedras lascadas e fragmentos de osso na ponta de varas de madeira
• Talvez a evolução mais significativa tenha sido a invenção do arco e flecha
• Mas a corda não foi apenas utilizada para fabricar armas, foi amplamente usada na
construção, e ainda é até nossos dias
• Infelizmente, como tudo que o homem inventa, foi utilizada também para aprisionar
e escravizar
• Não é a corda em si que possui maldade, é o homem, com seu instinto primitivo,
que dela faz mau uso
• Também conviveu com as correntes filosóficas e as religiões, quando recebeu a
conotação alegórica e simbólica que influenciou a Maçonaria
• Veremos, portanto, que o emprego da corda para unir não é o único, e na minha
opinião, há outros sentidos mais relevantes na nossa Doutrina
O USO DA CORDA

• Ao longo da História, além de utilizada para atar pedras às lanças


primitivas, domesticar animais, ou erguer tendas, foi usada em outras
frentes
• Foi utilizada amplamente para medir terrenos, distâncias, na navegação,
e nas construções
• Mais do que o uso da própria corda, seu uso e simbolismo se
expandiram quando o homem descobriu o meio de fazer laços, ou nós
• Na verdade, no que tange à Doutrina Maçônica, os laços são mais
importantes que a corda em si
• Se através da corda o homem conseguiu modificar seu meio, com a
descoberta do nó dominou a própria corda, e a si mesmo
• A partir daí, a evolução dos conceitos e associações filosóficas,
religiosas, e simbólicas não cessou de acontecer
• Essa torrente de interpretações, inevitavelmente, contaminou as Lojas
Maçônicas modernas
A CORDA NA ARQUITETURA
• Como somos pedreiros, ainda que simbolicamente, o uso da corda nas
construções nos interessa de modo direto e particular
• A corda não foi apenas utilizada para tracionar objetos, amarrar, levantar
peso através das roldanas, ou marcar o alinhamento das paredes das
construções
• A invenção do nó transformou a corda num instrumento de medição
• Os nós, feitos em distâncias equidistantes, transformavam a corda numa
escala de medição de tamanho equivalente ao seu comprimento
• Com a corda, os construtores primitivos também eram capazes de marcar
os ângulos das construções, transformando-as em esquadro
• Também havia a possibilidade de transformá-la num compasso, capaz de
traçar círculos e arcos de grande dimensão com precisão
• Este me parece o real sentido da Corda de 81 Nós em nossos Templos,
sem prejuízo de todo o simbolismo agregado
• Aliás, foi a corda, que possibilitou aos antigos egípcios executar a
quadratura do círculo, problema matemático considerado impossível pela
aritmética, geometria e álgebra, objeto do estudo de matemáticos por
séculos, iniciado pelos filósofos gregos
O TRIÂNGULO EGÍPCIO
• Com o uso de uma corda e nós equidistantes, os antigos construtores
egípcios desenvolveram o Esquadro Egípcio, também chamado de
Esquadro Pitagórico, ou ainda 4, 5 e 6
• É o famoso triângulo das razões métricas do triângulo retângulo
• Era formado por 12 nós, na verdade 12 medidas, e acrescentando um
intervalo, obtinham o triângulo equilátero
• Eis aí um esquadro primitivo, capaz de traçar ângulos retos, de 90
graus, e também os ângulos notáveis, 30, 45 e 60 graus
• Estes, na verdade, são os primeiros passos da Geometria, umas das 7
Ciências ou Artes Liberais, objeto da Doutrina Maçônica
• Os antigos construtores egípcios utilizavam geometria empírica,
prática, e foi isso que fascinou os filósofos e matemáticos gregos,
como Pitágoras de Samos, por exemplo
• Ou seja, por mais improvável que possa parecer, vemos aí a
constatação da origem do Esquadro e do Compasso estar relacionada
à corda e seus nós
• Essa técnica de medição e marcação de terrenos resistiu até o século
XVII, quando foi inventada a Corrente de Gunter, que resumidamente
era uma versão metálica da corda convencional
• As trenas só foram inventadas em 1922, curiosamente, por um
agrimensor chamado Hiram Farrand
A CORRENTE DE GUNTER E A TRENA DE FARRAND

Corrente de Gunter Trena Rápida de Farrand


A CORDA NAS RELIGIÕES

• Quase tudo que o homem cria, de um modo ou de outro, acaba


se transformando num símbolo, numa alegoria
• Não foi diferente com a corda, e particularmente com seus nós
• As diversas civilizações do passado, que originaram as
correntes filosóficas e religiosas atuais, usaram a corda como
símbolo místico, de fé, e até mágico
• Não é uma hipótese desprezível algum destes simbolismos
filosóficos terem influenciado os ritualistas maçons
• Neste sentido, me parece razoável, para que possamos
formular nosso juízo de valor, que examinemos, ainda que
resumidamente, alguns destes antigos significados
A CORDA NO ANTIGO EGITO
• Para os antigos egípcios, fazer ou desfazer nós poderia acarretar bons ou
mau resultados. Parece que isso influenciou particularmente a tradição
judaico-cristã
• Para eles, um nó na extremidade de uma corda protegia contra energias
maléficas, no entanto, se o mal já tivesse se apossado da pessoa, ele seria
impedido de sair
• Desfazer o nó, significava eliminar o mal
• Na medicina, os antigos Terapeuti egípcios, utilizavam nós e cordões para
evitar abortos acidentais, e proporcionar uma boa gestação para as
mulheres
• Havia um nó particular, o Nó de Ísis, que segundo eles, representava a
proteção de Ísis e seu filho Hórus. O nó era geralmente representado nas
vestes das divindades egípcias, e segundo o Livro dos Mortos, quem
usasse esse nó em seu funeral, seria bem-vindo ao Tuat
• Esse conceito de “nó magico” parece ter se originado no próprio mito de
Ísis e Osíris, pois reza a lenda que a urna na qual Seth prendeu Osíris, teria
sido confeccionada com suas dimensões, após seu corpo ter sido medido
através de uma corda
• Isso provavelmente gerou o costume, ainda corrente em algumas regiões
do Brasil, de se medir com uma corda o corpo da pessoa falecida em seu
velório
A CORDA NO JUDAÍSMO

• A tradição judaica estabelece padrões rígidos no que concerne


à alimentação, o comportamento e as vestimentas
• No traje judaico encontramos o Tzitzit, que é tratado como
franja, mas na realidade é uma corda ou cordel, atado à cintura
dos rabinos, como se fosse um cinto
• Sua adoção fundamenta-se nos versículos 38 a 41 do capítulo
15 do Livro dos Números
• O Livro dos Números é um dos volumes que compõem a Torá
dos judeus, o Pentateuco dos cristãos, e sua autoria é atribuída
à Moisés, portanto, refere-se à observação da Lei Mosaica,
notadamente no que diz respeito aos Dez Mandamentos
• Vemos aí a corda como um símbolo de aliança com a divindade,
traduzida pelo respeito às Tábuas da Lei
CORDA NO CATOLICISMO

• Na corrente cristã, sem dúvida o catolicismo foi quem


estabeleceu o maior simbolismo, não apenas na liturgia, mas
igualmente na decoração das igrejas e nas vestes sacerdotais
• Neste contexto temos o cíngulo, que é um cordão amarrado na
cintura, representando a luta contra as paixões, como se
estivessem sendo amarradas, o nosso “forjar algemas ao vício”,
e também para lembrar o voto de castidade
• Mas talvez o símbolo mais eloquente seja o dos terços, que são
cordões nos quais em intervalos regulares são inseridas contas,
que servem para a contagem do número de orações
• Este é um símbolo de fé e devoção, que nos lembra, em muito, o
instrumento de medição primitivo, utilizado nas construções
A CORDA NAS RELIGIÕES

• De um modo geral, a corda nas religiões e correntes filosóficas assumem dois


conceitos básicos
• De evolução e aproximação à divindade, quando esticada
• E de ligação a poderes mágicos e ocultos quando amarrada
• Na Índia, associada ao arco, é considerada símbolo da força feminina
• Na mitologia grega estava ligada a um cordoeiro chamado Ocno,
simbolizando o trabalho
• A mitologia nórdica conta que os feiticeiros amarravam os ventos com cordas
• No xintoísmo é um objeto sagrado e de proteção contra maus espíritos
• Nas religiões tribais está ligada aos cordões que formam os colares, nos
quais são pendurados amuletos para proteção
• Ou seja, as variadas correntes religiosas e filosóficas atribuíram diferentes
finalidades e simbolismos para as cordas, da mesma forma para os nós
• É compreensível, portanto, que os autores maçônicos atribuam, por sua vez,
tantos e diferentes significados, todos com sua coerência
A CORDA NO CHÃO
• Claro que não havia Corda de 81 Nós nas primeiras Lojas do século XVIII
• Como sabemos, as Lojas se reuniam em pátios de igrejas, tavernas, e
outros espaços improvisados
• Não havia Templos físicos, decorados com o simbolismo que hoje
conhecemos
• Nesta época, no local onde as Lojas se reuniam, era traçado no chão um
retângulo com giz ou carvão, e em seu interior eram desenhados os
símbolos maçônicos referentes a cada Grau
• Para que este desenho não fosse pisoteado e danificado, era cercado com
uma corda, estendida a seu redor
• Ou seja, nos primórdios da Maçonaria Especulativa, em seu período formal,
a corda servia para limitar e demarcar o painel traçado no chão
• Era, por assim dizer, literalmente um landmark
• Com a evolução dos Templos e dos rituais, essa corda deixou de ser
necessária
• O retângulo no chão deu origem ao Pavimento Mosaico e ao Painel do Grau
• E a corda, por sua vez, deu origem primeiramente à Orla Dentada, e
posteriormente foi elevada para os tetos
A CORDA NO PAVIMENTO MOSAICO
• Curiosamente, Jean Van Win, autor maçônico belga, defende que a inserção
da corda no Pavimento Mosaico tenha se originado de um erro de tradução
• Samuel Prichard, em 1730, na “Maçonaria Dissecada”, descreve: “O
Pavimento Mosaico, que é o piso da Loja; a Estrela Flamígera, que é seu
centro, e a Orla Dentada, que é a borda em torno dela”.
• O abade Peráu, autor da obra L’Odre des Franc-Maçons Trahi, publicado na
França, em 1742, teria traduzido Pavimento Mosaico como “Palácio Mosaico”,
Estrela Flamígera como “Dossel Constelado de Estrelas”, e Orla Dentada por
“Borla Dentada”
• Teria se originado aí o padrão que atualmente utilizamos
• Van Win defendia ainda, que a adoção da corda como decoração nos Templos
maçônicos teria origem no costume das viúvas dos nobres, no século XVI,
cercarem o brasão de seus falecidos maridos como uma corda, ornada de
“laços de amor”. Faz sentido se nos considerarmos “Filhos da Viúva”
• Mas respeitosamente não concordo com Van Win
• Não acredito que Pérau tenha se equivocado na tradução do inglês para o
francês, e se alterou algo, o fez de forma proposital
• O certo é que foi a partir da França que a corda com nós passou a fazer parte
da decoração dos Templos, primeiro circundando o Pavimento Mosaico, e em
seguida, subindo para os tetos
A CORDA NO PAINEL DO GRAU

• Definitivamente, apesar de ambas serem cordas, a corda que decora


alguns Painéis, e a Orla Dentada não possuem o mesmo simbolismo
• Na minha opinião, muito mais pelo conceito do Painel do Grau, do que
pelo simbolismo próprio da corda
• Os Painéis dos Graus que conhecemos, pelo menos os que foram
adotados no Brasil, são uma interpretação dos Painéis desenhados pelo
artista inglês John Harris, para o Ritual de Emulação
• Como o Ritual de Emulação caracteriza-se pelo estreito simbolismo
atrelado à Maçonaria Operativa, todos os elementos por ele inseridos,
fazem alusão à Arte de Construir, a “Arte Real”
• Assim, a corda que vemos emoldurando os Painéis de Harris, com borlas
pendentes nas laterais, simbolizam a corda de 12 ou 13 nós dos antigos
construtores egípcios, desenhada com apenas 7 nós, ou seja, associando
a prática construtiva da corda aos princípios da Doutrina Maçônica
• Apesar disso, certamente seus desenhos inspiraram a corda de nossos
tetos, notadamente no que diz respeito às borlas pendentes, e ao nó
único, sobre o Dossel do Altar da Sabedoria
A CORDA NO TETO
• O Pavimento Mosaico tornou-se uma decoração fixa, ou pelo menos um
elemento único e diferenciado do piso da Loja, nos Ritos que usam
tapetes, e a corda assumiu o formato de Orla Dentada
• O Painel do Grau foi elevado, e exibido em cavaletes ou similares. No
caso do Rito Adonhiramita, possui todos os elementos representados, a
corda com os nós, as borlas, e a Orla Dentada
• A corda, enquanto elemento físico, ficou desprezada na decoração dos
Templos
• É de se supor, que os ritualistas tenham buscado inseri-la de alguma
maneira na decoração, notadamente pelo seu relevante significado
• A partir daí, a formatação, notadamente no que se refere ao número de
nós, passa a ser discutida e diferenciada quanto ao simbolismo por cada
Rito em particular
• De toda forma, a Corda de 81 Nós é uma característica dos Ritos de
origem francesa
• Resta examinar a razão dos 81 Nós, e o simbolismo deste elemento, que
além do significado operativo, passou a associar conceitos filosóficos, e
até metafísicos em alguns casos
O NÚMERO DE NÓS

• A corda que orna os tetos dos Templos Adonhiramitas possui 81 nós, isto é fato
• Estes nós estão divididos em dois grupos de 40, localizados nas paredes laterais, e um único nó, situado no eixo
central do Templo, no Oriente, sobre o Dossel do Altar da Sabedoria
• O ritual do Grau de Aprendiz Maçom, do Rito Adonhiramita, publicado pelo GOB, traz a seguinte descrição:

“Na altura do friso das paredes, próxima ao teto, apoiada em diversos pontos, existe uma corda com nós simbólicos,
igualmente distanciados, em número de oitenta e um, a terminar cada ponta ao lado da porta de acesso, por uma borla
pendente”.

• Como vemos, não há descrição de seu simbolismo, apenas a descrição física


• Vários autores maçônicos renomados, como Pike, Boucher, Leadbeater, Ragon, Aslan, Camino, Castelanni, etc., se
debruçaram sobre o tema, alternando hipóteses coerentes, e às vezes antagônicas
• Creio que o simbolismo da Corda de 81 Nós seja uma mistura de todas essas hipóteses, aceitas em maior ou
menor grau por cada um dos Ritos que a adotaram como decoração, com base nas suas peculiaridades
doutrinárias
• Sem prejuízo do entendimento de tão célebres maçons, e muito menos com a pretensão de confrontá-los, pretendo
demonstrar meu entendimento particular
A PRIMEIRA CORDA DE 81 NÓS
• A hipótese mais aceita não possui conotação esotérica, ou mística,
apenas simbólica.
• Presume-se que a primeira Corda de 81 Nós tenha surgido na França,
em 1773, na ocasião da transmissão da primeira Palavra Semestral,
na formação da Cadeia de União, quando tomou posse como Grão-
Mestre, Louis Philippe de Orleans, e a assembleia era composta por
81 maçons, exatamente o número de estrelas representado na
Abóbada Celeste do Templo que sediou a sessão. Era chamada de
Houpe Dentelée
• Este fato com certeza criou a associação da Corda de 81 Nós com a
Cadeia de União, ou a Corrente Fraternal
• No meu entendimento, se este fato ocorreu, a presença de 81 maçons
na assembleia certamente foi uma coincidência, e não um ato
premeditado
• O mesmo não se pode dizer do número de estrelas representado no
teto, este sim, com uma clara intenção e simbolismo
• O simbolismo e as alegorias envolvendo a Corda de 81 Nós são
variados, o que é natural, pois o símbolo possibilita distintos
entendimentos, uma vez que é decifrado de forma individual
• Na minha opinião nenhum deles deve ser desprezado, e mesmo
aqueles que nos parecem incorretos, traduzem o pensamento
maçônico através dos tempos
A INSERÇÃO NOS RITUAIS

• No que diz respeito ao Rito Adonhiramita, a Corda de 81 Nós não é


mencionada na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita
• Sua descrição só vai se dar no Ritual de Aprendiz Maçom, publicado pelo
GOB em 1963, nos seguintes termos:

“As paredes são decoradas de azul, havendo na friza um cordão que forma, de
distância em distância, nós emblemáticos, terminando em cada coluna,
colocada na porta da entrada, por uma borla pendente”.

• Como podemos ver, não há menção ao número de nós, e o adjetivo


“emblemáticos” não nos dá muita informação sobre seu formato
• Os 81 Nós aparecem no ritual de 1969, e a partir daí não deixam mais de ser
citados.
A ALEGORIA

• Como vimos, a adoção dos 81 Nós estimulou a pesquisa e a


interpretação de diversos autores, já que os ritualistas não
documentaram as razões de sua adoção
• Há interpretações ligadas apenas ao elemento corda, e outras
tantas associadas ao número de nós
• Dentre os mais variados simbolismos, pretendo apresentar
apenas aqueles que no meu entendimento possuem maior
aceitação no meio maçônico
A UNIÃO DOS MAÇONS

• Como vimos, esta interpretação é fruto da tese dos 81 nós terem


sido estabelecidos na França, na ocasião da transmissão da
primeira Palavra Semestral, em Cadeia de União
• Nesta hipótese, cada um dos nós representaria um maçom, ligado
a outro por nós que firmam seu relacionamento, mas não os sufoca
ou prende, já que os laços não são apertados
• Na minha opinião, há uma incoerência nesta tese, já que a cadeia
formada está aberta na porta do Templo, exatamente nas borlas
pendentes em cada uma das extremidades da Corda
• Os exegetas maçônicos também enxergaram isso, e sustentam que
as borlas estão na porta, e abertas, justamente porque essa
corrente de maçons é acrescida a todo tempo pelo ingresso de
novos membros na Ordem
A SUSTENTAÇÃO DA EGRÉGORA

• Alguns autores defendem que a Corda de 81 Nós está suspensa


junto ao teto para “sustentar a Egrégora da Loja”
• Não é esta minha opinião
• No meu entendimento, a Egrégora é o somatório dos sentimentos e
emoções emanados de cada um dos maçons em Loja
• É involuntária e espontânea
• É um fenômeno energético, incapaz de ser contido, sustentado ou
limitado por qualquer obstáculo material
• Ademais, a Corda de 81 Nós está permanentemente instalada em
nossos Templos, faz parte da decoração, independentemente do
espaço estar habitado ou não
• Portanto, não é razoável que tenha sido instalada como um
elemento metafísico
• Como está presente no teto, e representada no Pavimento Mosaico,
e no Painel do Grau, me parece legítimo supor que sua existência
no Templo seja simbólica em relação à Doutrina, e não com relação
à emoção dos maçons
A ABORÇÃO DE ENERGIAS INSERVÍVEIS
• Alguns autores defendem a hipótese da Corda de 81 Nós ser uma espécie de “para-raios
metafísico”, que absorve as energias destrutivas e inservíveis eventualmente em
circulação no interior do Templo, e as descarrega, aterrando-as nos solo, através das
duas borlas pendentes ao lado da porta
• Esta argumentação baseia-se no pressuposto do conceito da imantação, ou
magnetização, comum a várias correntes filosóficas e religiosas
• Mas no meu entendimento possui algumas falhas
• Em primeiro lugar, todo fenômeno relacionado ao magnetismo, pressupõe a imantação
ou atração executada através de superfícies metálicas, o que evidentemente não é o caso
de nossas Cordas de 81 Nós, que são fabricadas com fios naturais ou sintéticos, mas não
metálicos, senão seria um arame
• No esteio dessas mesmas correntes filosóficas, o máximo que esses fios poderiam fazer,
é plasmar, absorver as energias, retendo-as na matéria
• E nesse caso, nossa Corda de 81 Nós seria transformada num imenso acumulador de
energias destrutivas
• Além do mais, as borlas pendentes junto à porta não chegam ao chão, portanto, as
energias jamais seriam “aterradas”
A PURGAÇÃO, EXPIAÇÃO E PURIFICAÇÃO
• A Corda de 81 Nós em nossos Templos, supostamente está
dividida em dois conjuntos de 40 nós, nas duas paredes do
Ocidente, e um único nó, na parede de fundo do Templo, no
Oriente, acima do Trono do Venerável Mestre
• Digo supostamente, porque esta não é a configuração usual
• Normalmente vemos a Corda circundando todo o teto do Templo,
com um nó em destaque sobre o Dossel
• Aliás, se prestarmos atenção nos rituais, é exatamente isso que
está escrito. Não há menção à corda ser interrompida no Oriente,
ou espaçada para exibir apenas um nó, ao menos no Rito
Adonhiramita
• Apesar disso, vários autores defendem a associação dos 40 nós
em cada uma das paredes laterais do Templo com a quarentena,
período de purificação, expiação, ou purgação, que é citado em
vários trechos da Bíblia
• 40 dias do Dilúvio (Gênesis 7, 4); 40 dias de Moisés no Monte Sinai
(Êxodo 34, 28); 40 anos de peregrinação do povo hebreu no
deserto (Êxodo 16, 45); 40 dias de meditação e jejum de Jesus
(Mateus 4, 2); 40 dias de Jesus na Terra, após a ressurreição (Atos
1, 3), etc.
72 ANJOS E 72 NOMES DE DEUS

• Alguns autores associam os 81 nós à tradição cabalística


• Segundo a tradição, a cada 20 minutos um anjo desce à Terra,
assim, teremos 3 anjos visitando nosso Plano de Existência a
cada hora, que multiplicados pelas 24 horas do dia, totalizarão 72
desses mensageiros celestes. Cada um deles representa um
aspecto, uma manifestação, ou atributo de IAVEH, ou seja, são
“Nomes de Deus” codificados
• Os autores obtém o número 81 somando a esses 72 anjos, os 9
planetas que nos influenciam diariamente
• Sinceramente, me parece um sofisma, um raciocínio forçado que
busca justificar uma visão mística
• No século XVIII, quando a Corda de 81 Nós foi concebida, não
eram conhecidos 9 planetas
• Os nós, com certeza não simbolizam as horas do dia
• Não me parece uma hipótese plausível, ao menos utilizando essa
memória de cálculo demonstrada
OS LAÇOS DE AMOR

• Os nós da Corda de 81 Nós não são apertados, e formam o desenho do símbolo matemático do infinito, a
lemniscata de Bernoulli, o “oito deitado”, ou, em última instância, o trânsito aparente do Sol pelo firmamento, no
fenômeno chamado analema
• Apesar da associação ser inevitável, nada têm a ver com a circulação em Loja no Rito Adonhiramita, mesmo
porque, esta configuração dos nós é comum a todos os Ritos
• Como vimos anteriormente, a origem deste tipo de nó está no luto das viúvas dos nobres medievais, que
circundavam os brasões de seus falecidos maridos com uma corda contendo esse tipo de nó
• Esses nós são feitos dessa maneira para simbolizar que o amor não tem amarras, mas laços que não se apertam
• No meu entendimento, apesar da associação igualmente óbvia com o título que por vezes ostentamos, de “Filhos
da Viúva”, os ritualistas pretendiam simbolizar o amor fraterno e incondicional entre os maçons
• Por essa razão, os nós da escala dos antigos construtores de templos se transformam nos “Laços do Amor”
• É o amor que une nossas obras
• A Caridade, último degrau de nossos Templos, representa exatamente o amor fraterno e incondicional
A TETRATKIS
• Esta é a TETRATKIS Pitagórica
• Uma representação gráfica, segundo Pitágoras, da evolução
espiritual do homem, até alcançar, ou retornar, à Causa, ao
Criador. O QUATERNÁRIO, ou Plano Material, retornando ao
TERNÁRIO, o Plano Espiritual
• É a DÉCADA, os números de 1 a 4, inseridos num triângulo,
figura geométrica indiscutivelmente associada à Maçonaria
• O DEZ, segundo Pitágoras, representa exatamente o retorno à
ORIGEM, através de sua redução: 10 = 1 + 0 = 1
• O UM é a ORIGEM, e o ZERO, o abstrato, o inconcebível, a
representação matemática da transcendentalidade do Grande
Arquiteto do Universo
• Sim para nós, maçons, O Criador é um Grande Arquiteto, e por
isso “geometriza”
OS TRIÂNGULOS DA TETRAKIS

• A Tetratkis pode ser divida em triângulos, unindo três a


três, com um ponto comum, cada um dos pontos que
representam os numerais de 1 a 10
• A imagem que obteremos é essa à direita, 9 triângulos
unidos, inseridos num triângulo de maior proporção
• Alguns autores defendem ser essa a razão dos 81 nós, o
resultado da multiplicação de 9 x 9
• Nesse sentido, decompõem o 9 como sendo o quadrado
de 3, e assim, estaria relacionado à Tríplice Saudação
maçônica, a Saudação Por Três Vezes Três
A ARQUITETURA SAGRADA
• A partir daqui vou apresentar uma visão muito particular, e
evidentemente, meus argumentos
• Ela se fundamenta basicamente nos princípios arquitetônicos que
nortearam a construção das catedrais pelos pedreiros medievais
• Representa exatamente a Arquitetura Sagrada, Iniciática, originada no
antigo Egito e na Grécia, e que, infelizmente, parece ter sido esquecida
pelos arquitetos modernos
• Os espaços onde nos reunimos são Templos, locais sagrados por nós
• De acordo com os rituais, suas proporções são baseadas no Segmento
Áureo, o Número de Ouro, ou ainda, o Número de Deus
• Uma arquitetura que utilizava princípios geométricos transformados em
cânones sagrados, em cifras que desvendavam os mistérios da vastidão
do Universo segundo Pitágoras
• A linguagem de Deus
• Esta, na minha opinião, era a verdadeira Arte Real
• Este era o entendimento dos ritualistas, ao conceberem o Templo de
Jerusalém como arquétipo dos Templos maçônicos, doutrinariamente
• Na minha opinião, o real sentido da corda, com seus 81 nós, foi extraído
desse conceito místico e matemático
A CORDA EGÍPCIA
• Voltemos à corda egípcia, de 12 nós, o Triângulo Pitagórico, utilizado pelos antigos construtores
• A corda egípcia era o instrumento “retificador”, pois através dele os construtores eram capazes de produzir
ângulos retos, de 90 graus
• Associando à Tetratkis, a corda egípcia corresponde exatamente à sua metade
• Logo de plano, observamos a coincidência entre o número de nós da corda egípcia, e a quantidade de Colunas
Zodiacais, que embora não façam parte da decoração dos Templos Adonhiramitas, era comum na Maçonaria
francesa, onde a Corda de 81 Nós se originou
• Me parece ser essa a razão dos 81 Nós, matemática, geometria e aritmética simples
A CONSTRUÇÃO DAS CATEDRAIS

• Os construtores de templos utilizavam a corda egípcia para


marcar os ângulos e as medidas das construções,
lembrando que eles não possuíam réguas de grandes
dimensões, escalas ou trenas
• Mais ou menos como na imagem ao lado
• Quando observamos que em nossos rituais os Templos
maçônicos tem como parâmetro a Proporção Áurea,
comum nas catedrais medievais, fica claro que a corda
egípcia foi utilizada para o estabelecimento de suas
dimensões
• É importante reparamos que os lados dessa corda tinham
respectivamente 4, 5 e 6 nós
O TEMPLO MAÇÔNICO
• Os primeiros Templos não possuíam o desnível entre o Oriente e o Ocidente
como conhecemos atualmente
• Neste raciocínio, as Colunas Zodiacais estariam distribuídas ao longo das
paredes Norte e Sul, seis a seis, em intervalos iguais
• Temos então, 7 espaços entre as Colunas, de cada lado, para serem
preenchidas com os nós da corda, para que estes sejam visíveis
• Se os espaços do Templo foram imaginados com base na corda egípcia, com
5 medidas nas paredes laterais, os intervalos dos nós têm que ser calculados
ao menos na razão de 4, para que os 7 vãos pudessem ser preenchidos de
forma equivalente
• Neste sentido, teríamos 28 nós de cada lado do Templo, num total de 56 nós
• As paredes de fundo e de entrada do Templo, no Oriente e Ocidente,
correspondem à proporção de 4 na corda egípcia, e para acompanhar o ritmo
das Colunas Zodiacais, devem ser calculadas à razão de 6, totalizando 12 nós
• Mas um nó deve estar fora da parede de fundo, no centro do Dossel, assim,
temos 13 nós na parede do Oriente, e 12 nós na parede de entrada do
Templo, no Ocidente
• 28 + 28 + 13 + 12 = 81. Está resolvido matematicamente, sob o princípio da
simetria, a distribuição e a quantidade dos nós
AS BORLAS PENDENTES
• Seguindo o raciocínio anterior, as borlas pendentes, lado a lado da porta
do Templo, não seriam dissipadoras de energia, mas sim um
acabamento
• As borlas, ou franjas, são acabamentos utilizados em estandartes, como
o Estandarte da Loja, bandeiras, flâmulas, peças de vestuário, e,
particularmente, nas cortinas do século XVIII
• Nos caso das cortinas, as borlas são colocadas exatamente nos vãos
das janelas ou portas, para que possam ser abertas ou fechadas
• Nos caso dos Templos maçônicos, a borla está justamente no único vão
de acesso ao recinto, que é a porta, e apesar de não servir para abrir a
Corda de 81 Nós, acompanha a prática das cortinas por formalidade
estética
• Ou seja, no meu entendimento, as borlas são simples acabamentos, um
elemento de decoração, por assim dizer
A ESCALA DE MEDIÇÃO
• Qualquer instrumento que possua graduação, ou seja, marcações em
intervalos iguais, sucessivamente repetidos, é uma escala
• São exemplos disso, dentre muitos, as réguas, os termômetros, os
escalímetros dos desenhistas, e a corda de 12 nós dos egípcios
• Por conseguinte, a Corda de 81 Nós também o é
• Mas, nesse caso, o que ela mede?
• Primeiramente as dimensões do Templo, como pudemos ver
• Alegoricamente, já que está no interior do Templo, fazendo sua medição,
e já que o Templo é o microcosmo, é legítimo supor que ela meça o
próprio Universo, lembrando, como vimos, que nela estão contidos os
conceitos pitagóricos sobre a cosmogonia
• Mas também, e em particular, mede os passos dos maçons, que
transitam livremente pelo mundo
• O que ela mede, em relação a nós, são nossos passos, firmes, retos, e
orientados sob os princípios éticos e morais
• Afinal de contas, e como vimos, o esquadro que ordena a retidão de
nossos atos, originou-se da corda de 12 nós dos egípcios
CONCLUSÃO
• A exemplo de outros elementos da decoração dos Templos maçônicos, a
Corda de 81 Nós possui simbolismo próprio
• O mesmo fenômeno que afetou os demais símbolos de nossa Doutrina,
ou seja, a evolução dos Templos e a diferenciação dos rituais, também
modificou seu entendimento
• Há muitas interpretações, e de variados fundamentos, a seu respeito
• Sua importância na Doutrina parece ser ratificada pelo grande número
de autores famosos que se dedicaram à sua decifração
• No meu entendimento, todas as hipóteses e interpretações são válidas,
pois acima de tudo, se inserem no contexto dos princípios da Doutrina
Maçônica
• Na minha opinião particular, seu conceito original, e a intenção dos
primeiros ritualistas, foi associá-la aos processos construtivos dos
pedreiros livres, e os demais simbolismos foram acrescidos
posteriormente, à medida que a subjetividade e o olhar contemplativo
dos maçons possibilitou novas interpretações filosóficas
• Por tudo isto, a Corda de 81 Nós permanece como um dos elementos
mais intrigantes de nossos Templos
No dia 19 de outubro de 2020, há exatamente um ano, nosso Amado Irmão
Swami Caetano da Silva, o Irmão Gedeão, criou o Grupo Adonhiramita de
Estudos, na plataforma WhatsApp.
Com início tímido, mas ardoroso, foram aos poucos se reunindo maçons
dos quatro cantos do território brasileiro, e também de outros países, como
Portugal, EUA, e Inglaterra.
Se juntaram a nós maçons praticantes de todos os Ritos e Potências, num
convívio fraternal sem fronteiras ou barreiras, interessados e dedicados ao
estudo e desenvolvimento do Rito Adonhiramita.
Hoje, o grupo atua também na plataforma Telegram, e somados os
membros, somos nada menos que 539 maçons, que nos acompanham
diariamente nas postagens, e nas noites de segunda-feira, nas nossas lives.
O grupo tem demonstrado comportamento exemplar, tanto no que diz
respeito ao decoro e ao respeito mútuo, quanto na pesquisa e investigação
do Rito Adonhiramita, nosso objetivo exclusivo.
Como nada acontece por acaso, quis o Grande Geômetra, o Grande
Arquiteto do Universo, que a data fosse comemorada com a apresentação
de um tema que trata dos Laços de Amor. Somos uma grande família.
São eles que nos unem, o Grupo Adonhiramita de Estudos não existiria, ou
chegaria até aqui, sem a colaboração e a participação de todos.
Nossos sinceros e emocionados agradecimentos, parabéns a todos nós, e
que o Grande Arquiteto do Universo permita que muitos outros aniversários
sejam comemorados no futuro.
VIVAT! VIVAT! VIVAT!
O Grupo Adonhiramita de Estudos foi idealizado por
maçons praticantes do Rito. Agrega Irmãos de todos os
Ritos, de todos os Graus e Qualidades, membros de
Potências Simbólicas Regulares, unidos pelo propósito
de fomentar a pesquisa, a troca de conhecimento, e o
debate sobre nossa Doutrina, história, ritualística e
liturgia.
Os temas tratados se referem ao Grau de Aprendiz.

Todos são bem-vindos! Caso haja interesse em participar,


basta solicitar a inclusão no chat.
Agradecemos a todos pela participação, e contamos com a
presença em nossas próximas palestras.

Que o Grande Arquiteto do Universo nos guie e ilumine!

BOA NOITE!

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