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Este caderno condensa num só documento as dez aulas do Curso “A Alquimia na Maçonaria”, ministrado pelo Professor
André Muniz, no período de dezembro/2021 até maio/2022, para uma turma fechada de 36 alunos, além das conversas
interativas realizadas através do whatsapp.
É um material de estudo, - feito por aluno da ETP - não tendo a pretensão de ser só um livro sobre Alquimia, mas de
reunir as informações e conhecimentos ensinados magistralmente pelo Venerável Mestre, que demonstrou total
segurança e domínio do assunto, esclarecendo todas as dúvidas suscitadas. Com certeza são provenientes (os assuntos)
de centenas de livros cujos conhecimentos foram apreendidos por longo período de tempo, agora colocados à disposição
da turma; então temos numa só encadernação o conteúdo de vários livros, cujos assuntos foram dissecados e resumidos
por ordem de importância, para a nossa comodidade, além de servir para usuais consultas para a posteridade.
Não há como precificar tal conhecimento.
Este material é de uso pessoal do aluno da ETP que concluiu o Curso.
FIETP - Maio/2022
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A ALQUIMIA NA MAÇONARIA | André Otávio Assis Muniz
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Dados principais:
❖ - Natural de São Paulo, Capital (29/02/1980);
❖ - Bacharel em Direito;
❖ - Monge budista, fundador do Templo do Veículo Uno (Ekayana Vihara)
e da Ordem Tiantai Lótus Restaurada, ambos destinados à prática
tradicional do Budismo Mahayana como proposta pela escola
exegética chinesa Tiantai, voltada para brasileiros (em língua
portuguesa);
❖ - Tradutor de sânscrito clássico, chinês clássico, grego antigo, hebraico
bíblico, latim, francês, inglês, espanhol e italiano;
❖ - Idealizador do Canal “Transcendência” no Youtube, onde são
tratados assuntos maçônicos, esotéricos, filosóficos, tradicionais e
religiosos;
❖ - Fundador, juntamente com Luiz Muller, da “Escola da Tradição
Primordial”, onde são estudadas as Religiões, as Tradições Iniciáticas
e as Ciências Tradicionais;
Na Maçonaria Simbólica é:
❖ - Mestre Instalado desde 2008 (GOB/GOB-SP);
❖ - Companheiro do Arco Real Inglês desde 2007 (Capítulo União Justa e Fraterna n.01 – GLESP);
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❖ - Membro ativo da Augusta, Respeitável, Benemérita, Grande Benfeitora e Centenária Loja Simbólica “14 de julho” nº 0457 do Rito Moderno, GOB-
GOSP, fundada em 1894, onde foi Venerável Mestre por quatro mandatos e Orador por cinco mandatos;
❖ - Membro fundador da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Modernista” nº 4494;
❖ - Membro honorário da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Jean Baptiste Willermoz” nº 626, Grande Loja do Estado de São Paulo (GLESP);
❖ - Membro honorário do Grande Oriente do Brasil - Ceará;
❖ - Membro honorário da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Verdade e Justiça” nº 1136 - GOB-CE;
❖ - Membro honorário da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Santíssima Trindade – Espírito Santo” nº 4255 – GOB -ES;
❖ - Membro honorário da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Cavaleiros da Arte e da Ciência” nº 4459 – GOB- PR;
❖ - Membro da Grande Loja Unida da Inglaterra pela “Internet Lodge nº 9659” – Manchester (E. Lancs.);
❖ - Portador da Medalha de “Honra ao Mérito” do Grande Oriente do Brasil - Paraná (2ª maior honraria maçônica do Estado do PR);
❖ - Portador de “Diploma por Relevantes Serviços Prestados à Maçonaria Acreana e Universal” do Grande Oriente do Brasil – Acre;
❖ - Portador da Medalha “Ordem e Progresso”, conferida pelo Instituto Cultural Ordem e Progresso, oficializado pelo Ato n.054/86 do Grande Oriente
de São Paulo.
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❖ - Membro honorário do Grande Conselho Kadosh Filosófico do Rito Moderno do Brasil – Acre;
❖ - Membro do Consistório de Príncipes do Real Segredo “Cavaleiros da Liberdade IV”, REAA – Alfenas – MG;
❖ - Portador da Comenda “Honoris Labor” do Grande Conselho Kadosh Filosófico do Rito Moderno do Brasil – Acre;
❖ - Palestrante convidado por diversos Corpos Filosóficos e Simbólicos de diversos Ritos (Moderno, Adonhiramita, Escocês Antigo e Aceito, Norte-
Americano e Brasileiro).
Fonte: Amazon.com.br
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Sumário
Aula 01 – Introdução Geral à Alquimia 1 ..................................................................................................................10
1. Origem do nome ................................................................................................................................................10
2. História ...............................................................................................................................................................10
3. Equívocos comuns em relação ao seu estudo ..................................................................................................15
4. Seu papel dentro do Hermetismo .....................................................................................................................15
CONVERSAS NO WHATSAPP SOBRE A AULA 01....................................................................................................17
Aula 02 – Introdução Geral à Alquimia 2 ..................................................................................................................21
1. A Linguagem Alquímica .....................................................................................................................................21
2. A Escrita Simbólica da Alquimia ........................................................................................................................22
3. O Simbolismo Básico das Operações Alquímicas..............................................................................................23
CONVERSAS NO WHATSAPP SOBRE A AULA 02....................................................................................................25
Aula 03 – Introdução Geral à Alquimia 3 ..................................................................................................................31
1. As Diferentes Escolas Alquímicas ......................................................................................................................31
a. A Alquimia Islâmica ........................................................................................................................................31
a.1. O Corpus Jabírico ....................................................................................................................................31
a.2. Ar-Rāzī .....................................................................................................................................................32
a.3. Outros Mestres .......................................................................................................................................33
a.4. Oposição à Arte .......................................................................................................................................33
a.5. Influência no Ocidente ............................................................................................................................34
b. A Alquimia Chinesa ........................................................................................................................................34
b.1. Waidanshu e Neidanshu .........................................................................................................................35
c. A Alquimia Hindu............................................................................................................................................36
c.1. Alquimia e Iniciação na Índia ..................................................................................................................36
d. A Alquimia Europeia ......................................................................................................................................37
d.1. A Idade Média .........................................................................................................................................38
2. A Transmutação dos Metais ..............................................................................................................................40
3. Baixa Alquimia e Alta Alquimia .........................................................................................................................40
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1. Origem do nome
Alguns opinam que a palavra "alquimia" vem da expressão árabe al-Khen ( الكيمياءou )الخيمياء, que significa
"A Química". Outros acham que está relacionada com o vocábulo grego chymba, que se relaciona com a
fundição de mercúrio.
A palavra ‘alquimia’ tem origens complexas. A palavra latina ‘alchemia’ deriva do árabe ‘al-kimiyya’, e
esta, por sua vez, vem de uma palavra grega que é grafada de duas maneiras diferentes – chymia ou
chemeia. Chymia significa “fundição” e “moldagem”, e relaciona-se com ‘chyma’, “fluído”. ‘Chemeia’, por
outro lado, provavelmente deriva da antiga palavra egípcia ‘Khem’, a “Terra Negra”, o nome que os
egípcios davam ao seu próprio país nos tempos faraônicos; logo, ‘chemeia’ significa algo como “a arte
egípcia”. Embora alguns estudiosos acreditem que só uma versão seria a “real”, a literatura alquímica
tradicional está repleta de jogos de palavras e trocadilhos desta natureza.
2. História
As origens históricas da Alquimia podem ser encontradas na fusão entre o pensamento grego e os antigos
legados culturais do Egito e da Mesopotâmia. Por todo o mundo antigo, o ofício do metalúrgico esteve
intimamente ligado à magia, às tradições iniciáticas e à religião. No Egito Antigo, o deus Ptah era o mestre
ourives do Céu, e os principais sacerdotes de seu templo central em Mênfis tinham títulos como ‘Grande
Portador do Martelo’ e ‘Aquele que Conhece o Segredo do Ourives’.
Ptah
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Na Mesopotâmia, os segredos da metalurgia eram mistérios sagrados guardados por uma linguagem
cifrada: o cobre era chamado de “a águia”, o minério bruto de enxofre era referido como “margem do
rio” e assim por diante. A essa fusão entre conceitos sagrados e práticos, o pensamento grego acrescentou
a constante busca por unidades fundamentais. Os gregos buscavam insistentemente uma substância ou
um processo que pudesse explicar o mundo natural. Na época que a Alquimia emergiu, a mais importante
escola de pensamento no mundo grego era o estoicismo, que falava em um “pneuma”, ou “sopro”,
semimaterial que moldava todas as coisas. Esse conceito da “Coisa Única” que produzia todas as coisas
ficou profundamente arraigado no pensamento alquímico.
A tradição alquímica atribui a Bolos (Paulo) de Mendès, que teria sido um egípcio grecófono, a síntese
dessas diversas correntes em uma ciência única. É provável que este personagem seja, em grande parte,
simbólico, baseado em um sábio que viveu no século II a.E.C. Teria estudado com o mago persa Ostanes,
sobre o qual nada se sabe. Após sua época, talvez no século I, são conhecidas duas alquimistas, Maria e
Cleópatra, respectivamente judia e egípcia, que foram confundidas por autores posteriores com Míriam,
irmã de Moisés, e com Cleópatra, a rainha do Egito. Maria foi particularmente influente como teórica,
bem como inventora de diversos itens importantes de equipamento alquímico.
Maria, a judia.
No início do século III da E.C., Zózimo de Panópolis escreveu diversos textos alquímicos importantes,
codificando o trabalho de vários alquimistas anônimos que o precederam. Entre outros alquimistas gregos
tardios, temos Olimpiodoro de Tebas, que viveu no início do século V da E.C. e escreveu um importante
comentário, e Estéfano de Alexandria, um dos primeiros alquimistas cristãos, que viveu no início do século
VIII da E.C.
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Zózimo de Panópolis
Nessa época, pouco antes das grandes conquistas árabes, a alquimia já fazia sua transição da cultura
grega para o Oriente Médio como um todo. Foi fundada uma importante escola alquímica em Haran, na
estrada que levava à leste através da costa mediterrânea e ia até a Índia, em algum momento do período
romano tardio. Os alquimistas de Haran foram pioneiros no uso do cobre como ingrediente do processo
alquímico, e deixaram alguns livros importantes.
Em meados do século V da E.C., não cristãos e cristãos heréticos começaram a fugir do Império Romano
em grande número a fim de evitar as perseguições religiosas; muitos deles foram para a Pérsia, onde
ensinaram filosofia grega e alquimia, juntamente com outras coisas, para seus anfitriões. Quando os
árabes conquistaram o Império Persa, no século VIII, os exilados e seus descendentes começaram a
transmitir as mesmas tradições a seus novos senhores muçulmanos, dando início à longa e criativa
tradição da alquimia árabe. Alquimistas árabes como Jabir ibn Hayyan (Geber) e Abu Bakr Muhamad ibn-
Zakariya al-Razi (Rhazes) aprimoraram muito a teoria e a prática alquímica.
Jabir
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Jabir, um dos mais influentes alquimistas de todos os tempos, escreveu uma obra crucial sobre fornos,
proporcionando informações detalhadas sobre a maioria dos tipos de fornos que seriam usados até o final
do Renascimento, e foi o primeiro autor a descrever a preparação do ácido nítrico. Suas contribuições
para a teoria também foram substanciais; ele introduziu a teoria do enxofre-mercúrio sobre metais,
afirmando que todos os metais eram formados pela fusão do enxofre, o princípio seco e inflamável, e do
mercúrio, o princípio úmido e volátil.
por Paracelso (1493-1541), que acrescentou o sal como um terceiro princípio. Outra abordagem
importante foi a teoria do Nitro Central, de Miguel Sendivogius (1566-1636), que postulava uma única
substância associada com a energia vital e que criava
todas as coisas através de suas transformações.
Nos últimos séculos de sua presença no Ocidente, a
alquimia se espalhou por muitos campos do
conhecimento, e durante algum tempo teve-se a
impressão de que ela se tornaria a base de uma ciência
universal, abrangendo todos os campos possíveis do
conhecimento. Eram normais abordagens alquímicas da
economia, e foram criadas vertentes que seriam
seguidas por vários séculos: na Alemanha, o alquimista
Johann Joachim Becher (1632-1682) defendeu uma visão
alquímica do comércio que precedeu a teoria econômica
mercantilista e a moderna ideologia do “Livre Comércio”,
e na Inglaterra o teórico radical Gerrard Winstanley
(1609-1676) propôs uma forma de comunismo alquímico
que incluía uma teoria trabalhista da mais-valia, muito
semelhante à de Karl Marx.
Eram comuns interpretações alquímicas da agricultura e da biologia, dando origem a uma vasta gama de
remédios alquímicos. Nem a Teologia ficou imune – havia teologias cristãs completamente baseadas na
Alquimia, dentre os quais os trabalhos de Jacob Böehme foram os mais importantes.
Jacob Boëhme
O surgimento de ideologias científicas que predominaram no cenário do século XVII e início do XVIII
forçaram a Alquimia a se ocultar. Ela sobreviveu por trás dos bastidores nas áreas teutófonas da Europa
Central.
O romantismo alemão, valeu-se bastante das ideias alquímicas, e figuras da estatura de Goethe flertaram
com a Alquimia.
A Alquimia também sobreviveu por algum tempo nas colônias americanas, com seus fortes laços culturais
com a Alemanha. A Alquimia chegou à América nos seus primórdios – John Winthrop Jr. (1606-1676),
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governador da colônia de Massachusetts Bay, era um ardoroso hermetista e estudante de Alquimia que
conseguiu formar uma impressionante coleção de textos alquímicos – por volta do século XVIII, surgiu um
movimento alquímico que combinava estudos herméticos e alquímicos com ramos místicos do
Cristianismo e tentativas de se localizar tesouros enterrados por meios mágicos. Esse movimento acabou
dando origem à Igreja Mórmon, entre outros movimentos norte-americanos.
O interesse pela Alquimia também foi fomentado por Ordens e movimentos pseudo iniciáticos e
modernos. No século XX, a psicologia de Carl Jung e seus seguidores, interpretou a Alquimia como uma
antiga arte de transformação psicológica disfarçada na linguagem da metalurgia. Essa visão tornou-se
extremamente popular no século XX, em parte porque permite que a Alquimia seja reinterpretada de um
modo que não conflita com os conceitos da moderna ciência materialista. Em virtude das teorias de Jung,
as ideias e as imagens alquímicas foram tomadas de empréstimo por diversos projetos psicológicos,
muitos dos quais nada têm a ver com a Alquimia, pelos menos não do modo como os antigos alquimistas
a entendiam.
A Alquimia e a Astrologia, ocupam um papel central dentro do Hermetismo. Para conhecer o Hermetismo,
é indispensável conhecer essas duas ciências tradicionais.
Fim da Aula 01
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Nunca imaginaria que movimentos norte-americanos como a Igreja Mórmon teria surgido por
influência alquímica.
Os mórmons são os que fazem parte da Church of Jesus Christ of Latter-Day Saints?
Aliás, vi aqui que são sim.
Já li que Isaac Newton havia escrito sobre alquimia, mas acredito, posso estar equivocado, que
ele não foi mencionado nesse primeiro texto , que aliás é muito bom e sucinto .
Isaac Newton escreveu mais sobre Alquimia do que sobre Física moderna. Descartes também tinha
interesse na Alquimia. Se fôssemos mencionar todos os pensadores famosos com interesse alquímico, a
lista seria longa...
https://www.newtonproject.ox.ac.uk/texts/newtons-works/alchemical
Seguem pontos após a leitura do material.
No início da primeira aula temos a exposição de uma alquimia que nos indica ser mais material,
como na alquimia árabe, por exemplo. Pelo menos não ficou claro algo diferente para mim. Na
parte final, texto de Guénon, ele refere-se a alquimia como algo de princípio mais espiritual. A
partir disto tenho três perguntas:
1. Em que momento nasceu a alquimia que permite uma transposição no domínio espiritual?
2. Por que, no princípio, temos a alquimia árabe bastante material já que ela estava mais
próxima da fonte tradicional da sua real significação?
3. Teria a alquimia, ganhado mais força no sentido de “reintegração do ser” com Jacob
Boëhme?
O fato de haver experiências operativas, utilizando instrumentos e substâncias, não quer dizer que o
objetivo, em si, é material. Na Maçonaria usamos ferramentas e não temos nenhuma construção física a
realizar.
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1. No momento em que nasceu a Alquimia. Os objetivos materiais são parte da decadência alquímica,
não sua origem.
2. Como já comentamos, o uso de objetos e substâncias não implica na busca de objetivos materiais.
Podemos, por exemplo, estudar o tratado de Al Ghazalli "Kimya' al-Sa'ada" (A Alquimia da
Felicidade) e veremos que os objetivos não eram materiais;
3. Boëhme usa uma linguagem alquímica para apresentar sua Teosofia Cristã, mas não muda os
objetivos gerais da Alquimia e nem dá mais força ao aspecto da reintegração, apenas o expressa
em termos cristãos.
Que material bom Prof. André, parabéns pela pesquisa e clareza. Achei muito interessante a
relação da economia com a alquimia e a preocupação em justificar a busca pela unidade,
justificado pela herança grega.
Poderíamos dizer, então, que tradicionalmente, ou seja, em sua origem essência, o que se
buscava era a pedra filosofal? ou o mecanismo, sob o qual se poderia chegar a pedra
polida?
Outro questionamento...há alguma suposição sobre como este conhecimento nasceu?
seria uma transmissão vertical?
Sim. Sem dúvida.
Toda ciência tradicional se origina em uma fonte supra-humana. Sua condição de tradicional implica,
necessariamente, uma ligação com o Princípio Superior. Em algum momento, sem dúvida, houve uma
transmissão vertical
Excelente o material da aula. A Alquimia então teria o propósito de estudar os princípios universais
implícitos nas operações/experimentos com minerais? Eu tinha uma impressão errada do tema
antes, como se fosse algo puramente especulativo; mas a experimentação e pesquisa parecem
fazer parte crucial do processo, correto?
Sim. A ideia é que, através da observação dos compostos do mundo manifesto, poderiam se extrair
princípios das leis do cosmos. Assim como é em cima, também é embaixo.
Trata-se de uma ciência cosmológica, cujos princípios demonstram, através das correspondências, a
mente humana e suas interações com o mundo em que vive.
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Entendi. Estava pesquisando agora e li que o termo "terra negra" tem relação com os férteis solos
negros do Egito, diferentemente de "terra vermelha" que representava o deserto. Essa é a
interpretação correta?
Lembro de ter ouvido muitos grupos afro diaspóricos usarem o termo Kemet. Provavelmente
estavam fazendo a interpretação incorreta e relacionando com a cor dos antigos Egípcios né?
Sim, é isso mesmo.
Está relacionado a um tipo de lama negra, que se estaciona nas margens do Nilo.
O Nilo é povoado de crocodilos que ficam semiocultos nessa lama e cuja cor da pele se confunde com o
solo. Daí o hieróglifo kemet (kmt) ser a pele do crocodilo.
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1. A Linguagem Alquímica
Para compreendermos a linguagem alquímica, é preciso compreender alguns conceitos sobre a linguagem
em geral.
Nós nos expressamos através de fonemas que, por sua vez, formam palavras. Estas palavras são símbolos,
ou seja, elas representam objetos, ideias, sentimentos etc. Quando escrevemos, usamos formas gráficas
para representar os fonemas e as palavras. Conforme variam as línguas, mudam os fonemas e os símbolos
gráficos que os representam. Em chinês e, parcialmente, em japonês, os símbolos utilizados na língua
escrita representam não só os sons dos fonemas, mas também as ideias por trás deles e por isso são
denominados de ‘ideogramas’.
A Alquimia, assim como todas as tradições esotéricas, utiliza um vasto conjunto de palavras que não
significam, precisamente, as mesmas coisas que significam na linguagem comum. Além disso, a linguagem
alquímica é composta por emblemas, atributos, alegorias, metáforas, analogias, sintomas, parábolas,
apólogos e símbolos, o que torna a compreensão de seus textos particularmente difícil.
Vamos compreender as diversas classes terminológicas que citamos aqui.
a. O emblema é uma figura visível, adotada convencionalmente para representar uma ideia. Exemplo
de emblema são as bandeiras nacionais.
b. O atributo corresponde a uma realidade ou imagem, que serve de signo distintivo a um
personagem, uma coletividade etc. Exemplo de atributo seriam as asas de uma companhia aérea,
a balança de um escritório de advocacia etc.
c. A alegoria é uma figuração que toma com maior frequência a forma humana, mas que pode
também tomar a forma de um animal ou vegetal, ou de um feito histórico. Exemplo de alegoria
seria a mulher alada, Niké, representando a vitória ou a cornucópia representando a abundância.
d. A metáfora desenvolve a comparação entre dois seres ou duas situações, como quando dizemos
“dilúvio verbal”, “chuva de problemas”, “mar de significados” etc.
e. A analogia é uma relação entre seres ou noções, diferentes em essência, mas semelhantes sob
certo ângulo.
f. O sintoma é uma modificação nas aparências ou no funcionamento habitual de algo, que pode
revelar uma certa perturbação e um conflito. A síndrome é o conjunto de sintomas que
caracterizam uma situação evolutiva e pressagia um futuro mais ou menos determinado.
g. A parábola é um relato que possui sentido próprio, destinado, porém, a sugerir, além desse
sentido imediato, uma lição moral.
h. O apólogo é uma fábula didática, uma ficção destinada, por meio de uma situação imaginária, a
transmitir certo ensinamento.
Todas essas formas de expressão que contêm imagens possuem em comum o fato de serem signos e de
não ultrapassarem o nível da significação. São meios de comunicação, no plano do conhecimento
imaginativo que desempenham o papel de espelho, mas que não saem dos limites da representação.
O símbolo diferencia-se essencialmente do signo por ser, este último, uma convenção arbitrária que
deixa alheios um ao outro o significante e o significado (objeto ou sujeito), ao passo que o símbolo
pressupõe homogeneidade do significante e do significado no sentido de um dinamismo organizador.
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Na Alquimia, vamos observar diversas camadas de linguagem, muitas delas sobrepostas como véus a
esconder dos olhos profanos o seu verdadeiro sentido. Há livros alquímicos compostos exclusivamente
de figuras, chamados de “Livros Mudos”.
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ideias e purificá-las de imperfeições através da meditação e da busca pela Sabedoria Divina, mas
sem excessos, de modo a não se perder de vista o equilíbrio e as necessidades humanas, embora,
por outra parte, quanto maior a Sabedoria e a Purificação Interior, melhor. Continuo desse modo
meditando e discernindo, até que as ideias se tornem claras; logo as purifico e afasto facilmente
os equívocos e recolhendo a união entre espiritual e material para a vida; então separo com mais
cuidados os instintos inferiores e os pensamentos impuros, volto a meditar e pedir pela Sabedoria
Purificadora, discernindo novamente, repetindo isto até a desaparição completa das impurezas.
Fim da Aula 02
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André, por favor, pode falar mais sobre o conceito de meditação do texto?
Claro...
A meditação, em si mesma, é uma contemplação direta das verdades metafísicas ou espirituais. Há
algumas fases distintas na meditação. Em um primeiro momento, há um esforço para a fixação do
pensamento, é a chamada "concentração". Depois de obtida tal concentração, passa-se ao exame das
verdades, ou seja, a reflexão. Depois disso, chegamos ao nível da contemplação, ou seja, de observar de
modo direto, em nossa mente, as verdades superiores.
O alquimista, em seu laboratório, observa as diversas operações e reflete sobre elas. Tal reflexão lhe leva
a conclusões inspiradas. Ele então contempla as verdades que aprendeu...
O maçom deveria fazer o mesmo em sua Loja...
Que aula fantástica, deixou muito claro o propósito das operações alquímicas...
André, poderia citar exemplos de paralelo alquímico em uma loja Maçônica ou durante a
ritualística?
Obrigado pelo segundo material. Seguem pontos para um maior aprofundamento:
(1) Parágrafo 6 – há uma imagem atributo para a alquimia do ponto de vista tradicional?
(2) Parágrafo 19 – Poderia falar um pouco mais sobre a origem do termo “pedra filosofal”?
(3) Quais seria, em outras culturas tradicionais, termos equivalentes a “pedra filosofal”?
Pensemos, por exemplo, na Abertura da Loja...O maçom deveria se concentrar nas palavras ditas ali.
Deveria perceber as verdades expressas nessas palavras e refletir sobre elas. Depois, como o alquimista
em seu laboratório, deveria contemplar tais verdades e tentar interiorizá-las, no mesmo processo usado
pelos alquimistas...
O caduceu de Hermes seria um atributo da Alquimia Tradicional. O ovo hermético também. A palavra
"filósofo", em seu significado original, é aquele que "ama a Sabedoria". Muito mais recentemente o termo
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"filósofo" foi dado a quem estuda a Filosofia como matéria universitária. Sendo assim, "Pedra Filosofal"
significa a "Pedra dos que amam a Sabedoria"
O Lápis Philosophorum, na China, por exemplo, é o chamado "elixir da imortalidade".
Nos textos alquímicos chineses encontramos termos como 仙丹 xiāndān, 靈丹妙藥 língdānmiàoyào,仙
方 xiānfāng e outros para descrever a mesma ideia da Pedra Filosofal.
https://www.myindiamyglory.com/2019/12/18/nagarjuna-wizard-in-alchemy-metallurgy-introduced-
gold-shine-mechanism/
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Caduceu de Hermes.
Que citei como um possível atributo da Alquimia.
O ovo hermético.
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Não é bem uma dúvida, mas mais uma curiosidade, professor: os símbolos mostrados na página
02 tem alguma origem específica, ou foi algo modificado ao longo do tempo, como um alfabeto?
São ideias que foram se transformando em sinais, muito parecido com o processo dos ideogramas
chineses...
Pegue o exemplo da água...As nuvens se condensam no céu e formam um tipo de bloco horizontal...Então
a água se precipita para baixo...
Interessante.
Realmente traz essa ideia.
Temos então um triângulo com um dos ângulos congruentes para baixo, para indicar a precipitação...
Tem algum lugar que fale dessa tabela de forma detalhada? Eu entendi que algumas coisas não
precisam de explicações... mas outras...
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a. A Alquimia Islâmica
No contexto islâmico, al-kīmiyāʾ se refere à "arte" de transmutar substâncias, tanto materiais quanto
espirituais, em sua forma mais elevada de perfeição. A palavra kīmiyāʾ também se refere ao agente ou
catalisador que efetua a transmutação e, portanto, é usada como sinônimo de al-iksīr ("elixir") e ḥajar al-
falāsifah ("pedra filosofal").
Em outro nível, a teoria da alquimia foi usada para conceituar a purificação espiritual. A terminologia e
os procedimentos da alquimia foram alegorizados e aplicados à transformação espiritual, de seu estado
básico, terreno e impuro, à perfeição pura. Postulações psicológicas elementares foram alegorizadas
como propriedades químicas. Para os iniciados, o iksīr serviu como um símbolo da verdade divina que
transformava um incrédulo em um crente. Na literatura Ṣūfī, o mestre espiritual purifica a alma do adepto
por meio de vários processos de alquimia espiritual. Este uso de princípios alquímicos no reino espiritual
reflete a visão de mundo dos antigos, incluindo aqueles do Islã medieval, segundo o qual o ser humano
era considerado um microcosmo das forças e princípios contidos no macrocosmo do universo.
Na tradição muçulmana, a Alquimia tem raízes antigas. O cultivo da Alquimia remonta a Adão, seguido
pela maioria dos principais profetas e sábios. Essa cadeia de transmissão é então conectada aos "mestres"
do mundo antigo, incluindo Aristóteles, Galeno, Sócrates, Platão e outros. Os muçulmanos são
considerados como tendo recebido a arte desses mestres. Nos tempos islâmicos, diz-se que o profeta
Muhammad (falecido em 632 d.E.C.) endossou a arte, emprestando-lhe graça e poder; seu primo e genro,
ʿAlī ibn Abī Ṭālib (falecido em 661), é considerado seu patrono. O descendente de ʿAlī, Jaʿfar al-Ṣādiq
(falecido em 765), é retratado como o próximo grande transmissor. O príncipe omíada1 Khālid ibn Yazīd
(660–704) é descrito como um praticante e um patrono da Alquimia que encorajou a tradução de textos
gregos e siríacos relevantes para o árabe. Contos lendários indicam que ele aprendeu a arte com um
monge sírio chamado Marianos, a quem procurava em longas viagens por terras estranhas. Jābir ibn
Ḥayyān (morto em c. 815), que é considerado discípulo de Jaʿfar al-Ṣādiq, é creditado com mais de
trezentos tratados sobre Alquimia; consequentemente, o nome dessa figura quase histórica passou a
significar a autoridade e o professor por excelência.
1
Dinastia
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a.2. Ar-Rāzī
O médico e filósofo Muḥammad ibn Zakariyāʾ ar-Rāzī (falecido em 925 da E.C.) é o próximo
alquimista muçulmano que causou um grande impacto na arte. À teoria do enxofre mercúrio da
constituição dos metais, ele acrescentou o atributo da salinidade. A concepção popular da
alquimia com três elementos - enxofre, mercúrio e sal - reapareceu na Europa e desempenhou
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um papel importante na alquimia ocidental. De acordo com ar-Rāzī, os corpos eram compostos
de elementos invisíveis (átomos) e de espaço vazio que ficava entre eles. Esses átomos eram
eternos e possuíam um certo tamanho. Essa concepção parece próxima da explicação da estrutura
da matéria na física moderna. Os livros de ar-Rāzī, Sirr al-asrār (O segredo dos segredos) e Madkhal
al-taʿlīmī (introdução instrutiva [ou prática]), são fontes importantes para a compreensão dos
princípios e técnicas da alquimia praticadas no mundo muçulmano do século X, especificamente
no Irã. Neles, ele fornece uma classificação sistemática de fatos cuidadosamente observados e
verificados a respeito de substâncias químicas, reações e aparatos, descritos em uma linguagem
livre de ambiguidade. Dos volumosos escritos jabirianos, apenas o Livro da Misericórdia é
mencionado por ar-Rāzī, talvez porque as outras obras foram compostas depois de sua vida.
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puro. Por sua vez, Ibn Khaldūn rejeitou as afirmações dos alquimistas de que suas transmutações
visavam aperfeiçoar o trabalho da natureza por meio de procedimentos mecânicos e técnicos. Ele
também criticou a autenticidade das obras atribuídas a Khālid ibn Yazīd e argumentou que as
elaboradas ciências e artes do Islã não haviam sido desenvolvidas naquela época.
b. A Alquimia Chinesa
A Alquimia chinesa tem uma história de mais de dois mil anos. É dividida em dois ramos principais,
conhecidos como Waidan 外 丹, ou Alquimia Externa, e Neidan 內丹, ou Alquimia Interna.
Waidan (literalmente, “elixir externo”) surgiu no século 2 a.E.C e baseia-se na composição de
elixires por meio da manipulação de substâncias naturais - principalmente minerais e metais - que
liberam suas essências ao serem submetidas à ação do fogo.
Neidan (literalmente, "elixir interno"), cujos documentos mais antigos aparecem a partir do século
8 E.C, visa, em vez disso, produzir o elixir dentro da própria pessoa, de acordo com dois modelos
principais de doutrina e prática: causando os componentes primários do cosmos e do ser humano
—Essência (jing 精), energia vital (qi 氣) e espírito (shen 神) —para reverter aos seus estados
originais; ou purificando a mente de impurezas e paixões, a fim de "ver a Natureza" (jianxing 見
性).
Cabe frisar que a Alquimia Interna não é mais recente que a Alquimia Externa, mas se começou a tratar
dela por escrito muito tempo depois, uma vez que tais instruções eram, originalmente, orais.
Nem a Alquimia como um todo, nem Waidan ou Neidan individualmente, constituem “escolas” do Daojia,
com um corpus canônico definido e uma única linha de transmissão. Ao contrário, as respectivas fontes
apresentam grandes diferenças tanto nas doutrinas quanto nas práticas. No entanto, se alguém tentar
formular uma declaração ampla que englobe pelo menos uma grande parte de suas diferentes formas, a
alquimia chinesa é caracterizada por um fundamento em princípios doutrinários relativos à relação entre
o Dao 道 (Caminho) e o mundo. O cosmos como o conhecemos é considerado o último estágio em uma
sequência de "transformações" que vão do Não-Ser (wu 無) à Unidade (yi 一), dualidade (Yin e Yang 陰
陽) e, finalmente, multiplicidade (wanwu 萬物, “Dez mil coisas”). Os alquimistas pretendem rastrear essa
sequência ao contrário e retornar ao seu início. Tanto em Waidan quanto em Neidan, é dito que a prática
concede transcendência (um estado descrito por expressões como "unindo-se ao Dao", hedao 合 道),
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"imortalidade" (principalmente significada como uma condição espiritual), longevidade, cura (seja em um
sentido amplo ou com relação a doenças específicas), e - especialmente em Waidan - comunicação com
as divindades do panteão celestial e proteção contra espíritos, demônios e outras entidades malévolas.
Antigos documentos chineses citam a "Ilha dos Bem-Aventurados", a morada dos imortais, onde cresciam
ervas que produziriam o elixir da longa vida.
Segundo a alquimia chinesa, o ouro era inalterável e, portanto, imortal. Acreditava-se que aquele
fabricasse o "ouro potável" a partir do cinábrio e do mercúrio adquiriria a imortalidade, também segundo
Ge Hong, a imortalidade seria alcançada se ingerissem alimentos em pratos feitos com esse ouro.
O ouro fabricado possui muito mais importância por concentrar nele a sabedoria de sua produção,
enquanto o ouro natural é considerado apenas matéria bruta, embora a mais perfeita da natureza. A
ideia de que havia uma relação entre o ouro e a imortalidade foi passado para filosofia védica da Índia.
O mais antigo alquimista chinês que se tornou razoavelmente conhecido foi Ge Hong (viveu em torno
de 283-343 da E.C.), que escreveu mais de cem livros sobre alquimia, cuja maioria se perdeu. Uma de
suas obras mais famosas, o Baopuzi, possui dois capítulos sobre os elixires da longa vida, baseados em
arsênico e mercúrio e também fala da transmutação dos metais.
A Alquimia chinesa diz que a metalurgia devia ser realizada por homens que conhecessem o
funcionamento do universo segundo o Dao; Lao Zi diz que as propriedades do cinábrio ou do ouro são
interpretadas através dos opostos Yin e Yang conduzidos à união, por meio da conduta do alquimista no
Dao, que sofreria uma transformação espiritual denominada de Novo Nascimento. A partir daí, o
alquimista não é mais apenas um mágico ou um artesão, ele é, também, um sábio.
A pólvora foi primeiramente descoberta por acidente por alquimistas chineses no século IX que
procuravam pelo elixir da longa vida. O livro O Parentesco dos Três de Wei Boyang (魏伯陽 ou 魏伯陽),
datado do século II da E.C., explicava como fabricar a pólvora. Existem outros textos alquímicos que
também fazem referências à pólvora, avisando para não se misturarem certos materiais uns com os
outros. Existem relatos de alquimistas que explodiram suas casas ao elaborar tal mistura.
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c. A Alquimia Hindu
Os mais antigos escritos indianos, os Vedas, contêm os mesmos indícios de alquimia encontrados em
evidências na China antiga, a saber, referências vagas a uma conexão entre ouro e vida longa. O mercúrio,
que era tão vital para a alquimia em todos os lugares, é mencionado pela primeira vez no Artha-śāstra
dos séculos 4 a 3 a.E. C, mais ou menos na mesma época em que é encontrado na China e no Ocidente.
A evidência da ideia de transmutar metais básicos em ouro aparece nos textos budistas dos séculos 2 a 5
da E.C., quase na mesma época que no Ocidente. Como Alexandre o Grande invadiu a Índia em 325 a.E.C,
deixando um estado grego (Gandhāra) que perdurou por muito tempo, existe a possibilidade de os
indianos terem adquirido a ideia dos gregos, mas pode ter sido o contrário. Também é possível que a
alquimia da medicina e da imortalidade tenha vindo da China para a Índia, ou vice-versa; em qualquer
caso, a fabricação de ouro físico parece ter sido uma preocupação menor, e a medicina, a maior
preocupação de ambas as culturas. Mas o elixir da imortalidade físico teve pouca importância na Índia
(que tinha outros caminhos para a imortalidade). Os elixires indianos eram remédios minerais para
doenças específicas ou, no máximo, para promover uma vida longa.
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minerais e vegetais passaram a ser cada vez mais aplicadas a vários tipos de terapias médicas,
muitas das quais complementavam os tratamentos rasāyana ayurvédicos mais antigos. No
entanto, uma nova terminologia foi introduzida: rogavāda (alquimia médica), rasacikitsā
(medicina mercurial) ou, na maioria das vezes, rasaśāstra (alquimia aplicada). Outro ramo da
alquimia tântrica foi a alquimia siddha. Em uma série de trabalhos alquímicos, figuras lendárias
chamadas Rasa-Siddhas foram evocadas como os fundadores das tradições e linhagens
alquímicas. Eles faziam parte de uma corrente medieval mais ampla, que viu o surgimento de
vários grupos que se auto identificavam como siddhas, seres aperfeiçoados possuidores de
siddhis. Uma rica mitologia dos siddhas emergiu neste período, que retratou esses lendários
super-homens combinando a alquimia com a prática de ioga e técnicas tântricas. Esses grupos
foram responsáveis por internalizar grande parte da alquimia de laboratório na prática iogue.
d. A Alquimia Europeia
A Alquimia ocidental pode remontar ao início do período helenístico (c. 300 a.E.C-c. 300 da E.C.), embora
o primeiro alquimista que as autoridades consideraram autêntico seja Zósimo de Panópolis (Egito), que
viveu perto do final do período. Ele é um dos cerca de 40 autores representados em um compêndio de
escritos alquímicos que provavelmente foi reunido em Bizâncio (Constantinopla) no século 7 ou 8 da E.C
e que existe em manuscritos em Veneza e Paris. Sinésio, o último autor representado, viveu em Bizâncio
no século IV. O mais antigo é o autor designado por Demócrito, mas identificado pelos estudiosos com
Bolos de Mendes, um egípcio helenizado que viveu no Delta do Nilo por volta de 200 a. E.C. Ele é
representado por um tratado denominado “Physica et mystica” (“Coisas Naturais e Místicas”), uma
espécie de livro de receitas para tingir e colorir, mas principalmente para fazer ouro e prata. As receitas
são apresentadas de forma obscura e são justificadas com referências à teoria grega dos elementos e à
teoria astrológica. A maioria termina com a frase “Uma natureza se regozija em outra natureza; uma
natureza triunfa sobre outra natureza; uma natureza domina outra natureza”, que as autoridades
atribuem de várias maneiras aos magos (sacerdotes zoroastrianos), ao panteísmo estóico (uma escola
sapiencial grega) ou ao filósofo grego do século 4 a. E.C Aristóteles. Foi o primeiro de uma série de
aforismos sobre os quais os alquimistas especulariam por muitos séculos.
Em 1828, um grupo de antigos manuscritos em papiro escritos em grego foi comprado em Tebas (Egito)
e, cerca de meio século depois, notou-se que entre eles, dividido entre bibliotecas em Leyden (Holanda)
e Estocolmo, havia um tratado muito semelhante a “Physica et mystica”. Ele diferia, no entanto, por não
ter os enfeites teóricos do primeiro e declarar em algumas receitas que apenas a imitação fraudulenta de
ouro e prata era pretendida. Os estudiosos acreditam que esse tipo de trabalho foi o ancestral tanto da
Physica et mystica quanto do livro de receitas do artista comum. As técnicas eram antigas. A arqueologia
revelou objetos de metal incrustados com cores obtidas pela trituração de metais com enxofre, e a
descrição de Homero (século 8 a.E.C) do escudo de Aquiles dá a impressão de que o artista em sua época
era virtualmente capaz de pintar em metal.
Demócrito é elogiado pela maioria dos outros autores do manuscrito de Veneza-Paris e é muito
comentado. Mas apenas Zósimo mostra o que havia acontecido com a Alquimia após Bolos de Mendes.
Sua teoria é exuberante em imagens, começando com uma discussão sobre “a composição das águas,
movimento, crescimento, encarnação e desencarnação, extraindo os espíritos dos corpos e prendendo
os espíritos dentro dos corpos” e continuando na mesma linha. Os metais "básicos" devem ser
"enobrecidos" (em ouro) matando-os e ressuscitando-os, mas sua prática é cheia de destilação e
sublimação, e ele é obcecado por "espíritos". Teoria e prática estão unidas no conceito de que o sucesso
depende da produção de uma série de cores, geralmente preto, branco, amarelo e roxo, e que as cores
devem ser obtidas através do Theion hydōr (água divina ou sulfurosa - pode significar qualquer).
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Zósimo credita essas inovações principalmente a Maria (às vezes chamada de “a judia”), que inventou o
aparelho, e a Agathodaimon, provavelmente um pseudônimo. Nenhum dos dois está representado (além
das referências de Zósimo) no manuscrito de Veneza-Paris, mas um tratado atribuído a Agathodaimon,
publicado em 1953, mostra que ele está preocupado com a sequência de cores e complicando-a com o
uso de arsênico em vez de enxofre. Assim, as potencialidades da química para a produção de cores eram
consideráveis na época de Zósimo.
Zósimo também mostra que a teoria alquímica passou a se concentrar na ideia de que existe uma
substância que pode realizar a transformação desejada instantaneamente, magicamente ou, como um
químico moderno poderia dizer, cataliticamente. Ele a chamou de “a tintura” e tinha várias. Às vezes
também era chamado de "o pó" (xērion), que passaria do árabe para o latim como elixir e, finalmente
(significando sua natureza inorgânica) como a "pedra filosofal", "uma pedra que não é uma pedra", como
os alquimistas costumavam dizer. Às vezes era chamado de medicamento para retificar metais “básicos”
ou “doentes” e, a partir disso, foi um pequeno passo para vê-lo como um medicamento para retificar
doenças humanas. Zósimo nota a possibilidade, de passagem. Quando o objetivo da alquimia se tornou
a salvação humana, a constituição material do elixir tornou-se menos importante do que os
encantamentos que acompanhavam sua produção. Sinésio, o último autor do manuscrito Veneza-Paris,
já definia a alquimia como uma operação mental, independente da ciência da matéria.
Assim, a alquimia grega passou a se assemelhar, tanto na teoria quanto na prática, à da China e da Índia.
Europa, The Sum of Perfection, foi uma composição europeia original. Mais ou menos nessa
época, reminiscências pessoais de alquimistas começaram a aparecer. O mais famoso foi o notário
de Paris Nicolas Flamel (1330–1418), que afirmou ter sonhado com um livro de ocultismo,
posteriormente o encontrou e conseguiu decifrá-lo com a ajuda de um estudioso judeu estudado
nos escritos hebraicos místicos conhecidos como a Cabala. Em 1382, Flamel afirmou ter tido
sucesso na “Grande Obra” (fabricação de ouro); certamente ele ficou rico e fez doações para
igrejas.
Por volta de 1300, os alquimistas começaram a descoberta dos ácidos minerais, uma descoberta
que ocupou cerca de três séculos entre a primeira evidência da nova água forte (aqua fortis - isto
é, ácido nítrico) e a clara diferenciação dos ácidos em três tipos: nítrico, clorídrico e sulfúrico. Esses
três séculos testemunharam esforços prodigiosos na alquimia europeia, pois essas substâncias
espontaneamente reativas e altamente corrosivas abriram um novo mundo de pesquisa. E, no
entanto, foi de pouco lucro para a química, pois os experimentos foram inibidos pelos antigos
objetivos de separar os metais básicos em seus “elementos”, preparar elixires e outros
procedimentos tradicionais.
A “água da vida” (aqua vitae; ou seja, álcool) foi provavelmente descoberta um pouco antes do
ácido nítrico, e alguns médicos e alguns alquimistas se voltaram para o elixir da vida como um
objetivo. João de Rupescissa, um monge catalão que escreveu c. 1350, prescreveu virtualmente
os mesmos elixires para enobrecimento de metal e para a preservação da saúde. Seus sucessores
multiplicaram elixires, que perderam sua singularidade e finalmente se tornaram simplesmente
novos medicamentos, muitas vezes para doenças específicas. A química médica pode ter sido
concebida sob o Islã, mas nasceu na Europa. Só aguardava o batismo de seu grande publicitário,
Paracelso (1493–1541), que era o inimigo declarado das más práticas da medicina do século 16 e
um vigoroso defensor dos remédios “populares” e “químicos”. No final do século 16, a medicina
foi dividida em campos hostis de paracelianos e anti-paracelianos, e os alquimistas começaram a
se mover em massa para a farmácia.
A farmácia de Paracelso levaria, por um caminho tortuoso, à química moderna, mas a fabricação
de ouro ainda persistia, embora os métodos às vezes fossem diferentes. Salomon Trismosin,
suposto autor de Splendor solis, ou "Splendor of the Sun" (publicado em 1598), fez extensas visitas
a adeptos da alquimia (uma prática comum) e reivindicou sucesso por meio de "livros cabalísticos
e mágicos na língua egípcia". A impressão que se tem é que muitos tinham o segredo da fabricação
de ouro, mas a maioria o havia adquirido de outra pessoa e não por meio de experimentação
pessoal. Ilustrações, muitas vezes fortemente simbólicas, tornaram-se particularmente
importantes, as de “Splendor solis” sendo muito mais complexas do que o texto, mas claramente
exercendo um apelo maior, mesmo para os estudantes modernos.
A possibilidade de fabricação química de ouro não foi contestada de forma conclusiva por
evidências científicas até o século XIX. Um cientista tão racional quanto Sir Isaac Newton (1643-
1727) achou que valia a pena fazer experiências com ele. A atitude oficial em relação à alquimia
no século 16 ao 18 era ambivalente. Por um lado, a arte representava uma ameaça ao controle
do metal precioso e era frequentemente proibida; por outro lado, havia vantagens óbvias para
qualquer soberano que pudesse controlar a produção de ouro. Na “metrópole da alquimia”,
Praga, os imperadores do Sacro Império Romano Maximiliano II (reinou de 1564 a 1576) e Rodolfo
II (reinou de 1576 a 1612) provaram ser patrocinadores esperançosos e divertiram a maioria dos
principais alquimistas da Europa. Isso não era totalmente vantajoso para o alquimista. Em 1595
Edward Kelley, um alquimista inglês e companheiro do famoso astrólogo, alquimista e
matemático John Dee, perdeu a vida na tentativa de escapar após a prisão de Rodolfo II e, em
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1603, o eleitor da Saxônia, Cristão II, preso e torturado. O escocês Alexander Seton, estava
viajando pela Europa realizando transmutações bem divulgadas. A situação era complicada pelo
fato de que alguns alquimistas estavam passando da fabricação de ouro não para a medicina, mas
para uma alquimia quase religiosa que lembra o Sinésio, grego. Rudolf II fez do alquimista alemão
Michael Maier um conde e seu secretário particular, embora os escritos místicos e alegóricos de
Maier fossem, nas palavras de uma autoridade moderna, "distinguidos pela extraordinária
obscuridade de seu estilo" e não reivindicassem a fabricação de ouro. Nem o alquimista alemão
Heinrich Khunrath (c. 1560–1601), cujas obras foram há muito estimadas por suas ilustrações, fez
tal afirmação.
As tentativas convencionais de fazer ouro não estavam mortas, mas no século 18 a alquimia havia
se voltado definitivamente para objetivos religiosos. O surgimento da química moderna gerou não
apenas ceticismo geral quanto à possibilidade de fazer ouro, mas também uma ampla insatisfação
com os objetivos da ciência moderna, que eram vistos como muito limitados. Ao contrário dos
cientistas da Idade Média e do Renascimento, os sucessores de Newton e do grande químico
francês do século 18, Antoine-Laurent Lavoisier, limitaram seus objetivos de uma forma que
representou uma renúncia ao que muitos consideravam a questão mais importante da ciência, a
relação do homem com o cosmos. Aqueles que persistiram em fazer essas perguntas passaram a
sentir afinidade com os alquimistas e buscaram suas respostas nos textos da alquimia esotérica
ou espiritual (diferente da alquimia "exotérica" dos fabricantes de ouro), com suas raízes em
Synesius e outros alquimistas gregos tardios do manuscrito de Veneza-Paris.
Essa alquimia espiritual, ou hermetismo, como seus praticantes costumam preferir chamá-la, era
popularmente associada aos Rosacruzes, cujos chamados Manifestos (autor desconhecido;
popularmente atribuído ao teólogo alemão Johann Valentin Andrea) apareceram na Alemanha no
início do século 17 e atraiu a atenção favorável não apenas de alquimistas reformadores como
Michael Maier, mas também de muitos filósofos proeminentes que estavam inquietos com o
caráter mecanicista da nova ciência. Nos tempos modernos, a Alquimia se tornou um ponto focal
para vários tipos de estudos esotéricos. A antiga literatura alquímica continua a ser examinada
em busca de evidências, porque se afirmar que a doutrina alquímica em mais de uma ocasião
chegou às mãos do homem, mas sempre se perdeu novamente.
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Poderíamos dizer que a “Baixa Alquimia” é aquela em que os seus operadores buscavam sucesso e poder
material. Grande parte dos que se dedicaram às experimentações alquímicas o fizeram com objetivos
mundanos, materiais e entendiam os textos e as indicações alquímicas como segredos que poderiam
conduzi-los a ter influência, riqueza e prestígio na sociedade. Eles eram chamados pelos praticantes da
Alta Alquimia de “assopradores”, “queimadores de carvão” etc.
A Alta Alquimia, como se deduz facilmente, era aquela que cumpria seus objetivos espirituais, ou seja,
aquela que conduzia seu praticante à contemplação da Verdade e à Sabedoria através da observação e
da transposição das operações alquímicas externas para o seu mundo espiritual interno.
4. Alquimia Interior
É muito difícil para alguém, sem a orientação correta, compreender os segredos da Alquimia interior ou
da Alta Alquimia. A compreensão de seus símbolos extremamente complexos e das operações, não é um
trabalho para amadores. Talvez, por isso, muitas pessoas acabam desistindo de estudar sobre a Alquimia
ou têm imensa dificuldade em compreender seus objetivos.
É comum que, nas escolas, ouçamos falar da Alquimia como um tipo de química primitiva, uma
pseudociência de uma época sem conhecimentos técnicos etc., o que, por sua vez, revela uma
mentalidade profana e sem a compreensão correta dessa Ciência Tradicional.
A Alquimia é a exteriorização das correspondências internas, das interações intelectuais/espirituais com
a nossa composição psicofísica no estado humano. Tal conhecimento é muito difícil de se obter no mundo
de hoje.
Fim da Aula 03
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A Alquimia na Maçonaria - Aula 3.pdf • 12 páginas <anexado: 00000076-A Alquimia na Maçonaria - Aula
3.pdf>.
Desculpem a extensão da aula. Tentei resumir ao máximo.
André, em seu livro sobre as ordens sapienciais é falado sobre um elemento chamado cinábrio,
não estou com o livro aqui mas acredito que era essencial para confecção da pedra filosofal, pelo
menos foi isso que entendi, poderia falar mais sobre?
Talvez seja mais pra frente.
No texto acima esse elemento é citado também.
Há outra citação sobre feitiçaria através do tantrismo, seria como as pseudo esotéricas tem
colocado a respeito da " magia sexual"?
Uau. Que aula! 👏🏻👏🏻👏🏻
Muito interessante ver que tem todo um desenvolvimento paralelo da Alquimia também
no Oriente.
Excelente essa aula... Muito interessante os conceitos de "Baixa Alquimia" e "Alta Alquimia"...
É correto afirmar que praticar Neidan, a Alquimia Interna, é o mesmo que praticar a "Alta
Alquimia"? Nesse sentido, Waidan, poderia se relacionar com a "Baixa Alquimia" ou não
necessariamente?
O que muda entre Waidan e Baixa Alquimia é o objetivo...Exemplo: Alguém pode praticar waidan como
exercício de contemplação prévio para neidan.
Aí não seria "baixa alquimia".
Trabalho de fôlego, parabéns pelo recorte histórico, ficou bem didático!
No entanto, se alguém prática waidan com objetivos mundanos, aí teremos sim a baixa alquimia.
Muitos foram os praticantes da baixa alquimia.
Pensem que na Maçonaria teríamos conceitos semelhantes.
Quem é maçom em busca da realização dos Mistérios Menores e quem é maçom em busca de status
social...
Influência, negócios etc.
Existe algum termo Maçônico para aqueles que buscam apenas isso ? Como os "assopradores" e
"queimadores de carvão"
Talvez "profanos de avental"
André, seguem algumas questões para evoluirmos nas análises do 3 material. Sobre o Texto 3 do
curso - A Alquimia na Maçonaria.
1) Alquimia Islâmica:
1.1 - Quais seria os exemplos de agentes ou catalizadores da transmutação espiritual?
R.: Sabedoria, ações meritórias, estudo, contemplação...
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1.2 - O que seria o estado de perfeição pura na transformação espiritual? no estado em que
estamos, seria a obtenção das nossas potencialidades do ser?
R.: Estado primordial ou do "Homem verdadeiro". R.: A realização das potencialidades do ser.
1.3 - A literatura Sufi fala em Macrocosmo e Microcosmo com relação universo e o homem. Trata-
se de alguma influência Helenística no esoterismo Sufi?
R.: Sim.
a.1. O corpus Jabírico
a.1.1 - O que seria a harmonia musical que governa os céus?
R.: É uma analogia pitagórica. Os pitagóricos falavam na música das esferas. A harmonia matemática da
música é comparada à harmonia do Universo.
a.1.2 - O elixir que destila os materiais é um símbolo para o que se aplicaria ao homem e sua
transformação, correto? Que tipo de elixir é esse?
R.: Correto. R.: Basicamente, trata-se da Sabedoria Transcendente.
a.2. Ar-Rāzī
a.2.1 - Ar-Rāzī foi o primeiro a acrescentar o Sal?
[Sem resposta]
a.4. Oposição à Arte
a.4.1 - Como correlacionar este trecho seguir com um elixir possível de ser correlacionado com
algo que nos ajude a buscar a pedra filosofal. " Os elementos usados para o elixir incluíam lixo
animal, urina, esterco, ossos, penas, sangue, cabelo, ovos e unhas, bem como minerais. "
R.: Símbolos...Note que a linguagem alquímica é toda cifrada. Muitos se equivocaram ao tomar isso
literalmente.
b. A Alquimia Chinesa
b.1 - Poderia citar exemplos de práticas Neidan 內丹 que possam contribuir em nossa alquimia
interior? Fora magnífico Elixir do Retorno (Huan dan).
R.: A transformação das emoções, por exemplo. Transformar a ira em determinação.
C. A Alquimia Hindu
c.a - O que veio antes, a alquimia Hindu ou a Chinesa? Temos como dizer qual é a Alquimia mais
antiga registrada?
R.:Não se sabe. R.: Não se sabe.
c.b - Alexandre deixou um estado grego na Índia (Gandhāra). Ele teve contato com alguma região
chinesa ou com influência Helênica?
R.: Os chineses é que tiveram contato com regiões helenizadas. Parte dos relatos de viagem de Xuanzang
falam do que ele viu lá.
c.1. Alquimia e Iniciação na Índia
c.1.1 - O que seria o poder sobrenatural (siddhi) de obter um elixir espiritual.?
Material de Estudo – Uso Interno Exclusivo da ETP e Seus Alunos – Página 43 | 124
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R.: Siddhis são perfeições interiores representados por poderes simbólicos exteriores. Não há siddhi
superior ao domínio da própria mente.
c.1.2 - Zózimo comenta que à medida que: "Quando o objetivo da alquimia se tornou a salvação
humana, a constituição material do elixir tornou-se menos importante do que os encantamentos
que acompanhavam sua produção. " O que exatamente seriam esses encantamentos?
R.: Certas orações e palavras usadas durante o processo alquímico. Com o tempo, passaram a ser vistas
como mais importantes que o seu objetivo, ou seja, perdeu-se o significado e sobrou um resíduo.
d.1. - A Idade Média (Europa)
d.1.1 - Este período nos passa a impressão de uma Alquimia mais voltada as necessidades humanas
e bem alinhada ao que futuramente seria a química, correto?
R.: Sim. A química se desenvolve, em parte, à partir da baixa alquimia.
4.1.2 - Se estiver correta a percepção da pergunta 4.1, qual seria o "encadeamento" de pessoas
que mantiveram esta tradição da alquimia esotérica em seu sentido de lapidação da pedra bruta?
R.: A Alquimia se fundiu em outras tradições, como a Maçonaria, por exemplo.
2. A transmutação dos metais
2.1 - O que percebi, é uma busca - da grande maioria - em conseguir riqueza. Uma minoria, talvez,
preocupava-se com algo realmente relevante para uma transmutação interior. Qual é a sua
percepção?
R.: É isso mesmo. O ensinamento verdadeiro era reservado a uma pequena elite.
2.3 - Quanto a correlação simbólica da transmutação, acredito que possa ser um paralelo, assim
como ocorre com a Maçonaria. Contudo, a referida contemplação não me é tão óbvia quanto a
real utilidade de ficar olhando algo sublimando e condensando. Me parece um malabarismo para
"encaixar" a alquimia real dentro dos testes para fazer ouro. Poderia explorar um pouco mais o
entendimento da contemplação?
R.: Usando um exemplo bem simples: Nas Lojas maçônicas, contemplamos os instrumentos de trabalho,
a destinação dos materiais e sua aplicação na "construção". Essa contemplação é transposta para nossas
vidas. Na Alquimia acontecia o mesmo.
3. Baixa Alquimia e Alta Alquimia
Sem questões.
4. Alquimia interior
4.1 - Quais seriam os exemplos de meios de se desenvolver esta alquimia interior ou alta alquimia?
[07/01/2022 15:10:58] Augusto Zerlin ETP: Seu código de segurança com Augusto Zerlin mudou.
Toque para saber mais.
R.: Estudo, contemplação e humildade.
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1. A Academia Platônica
Marsílio Ficino nasceu nos arredores de Florença em 1433. Seu pai era um médico que tinha entre seus
pacientes o grande Cosme de Médici, governante, de fato, da república florentina. Tanto Ficino quanto
sua mãe Alessandra possuíam o dom da clarividência; ele, por exemplo, tivera visões em momentos
cruciais da vida. Do pai aprendeu a Medicina, que praticou em prol dos amigos por toda a vida; foi
também por causa do pai que ele foi notado por Cosme, capaz de reconhecer no jovem um talento para
línguas e tradução, determinando-se a fazer uso total de tais habilidades.
O grande impulso em direção à uma redescoberta da antiga sabedoria nascera graças ao Concílio de
Florença. Vamos entender este Concílio.
a. O Concílio de Florença.
O Concílio de Florença (originalmente Concílio de Basileia) foi um concílio ecumênico de bispos e outros
membros do clero da Igreja Católica Romana. Ele começou em 25 de julho de 1431 em Basileia e foi
transferido para Ferrara em 1438 por ordem do Papa Eugênio IV, movimento que fez com que ele
também ficasse conhecido como Concílio de Ferrara. O encontro foi novamente transferido para Florença
em 1439 por conta do perigo de peste em Ferrara e porque a cidade de Florença concordou, com
promessa de pagamento futuro, em financiar o concílio. A localização inicial em Basileia refletia o desejo
das partes que buscavam a reforma de se encontrar fora dos territórios em poder do Papa, do Sacro
Império Romano Germânico ou dos reis de Aragão e da França, cujas influências sobre o concílio
procuravam evitar. Ambrogio Traversari 2 esteve no concílio de Basileia como legado do Papa Eugênio.
O concílio se reuniu numa época em que o conciliarismo era forte e a autoridade papal, fraca. Sob pressão
para promover as reformas eclesiásticas, Papa Martinho V sancionou um decreto do Concílio de
Constança obrigando o papado a convocar concílios gerais periodicamente. Ao expirar o período
proposto pelo decreto, o Papa cedeu e convocou um concílio em Pávia. Por conta de uma epidemia, a
2
Ambrogio Traversari, O.S.B. Cam., também Ambrósio, dito Camaldulense (em latim: Ambrosius Traversarius; em italiano:
Ambrogio Camalduli) foi um presbítero, teólogo e humanista italiano, prior geral dos camaldulenses. Considerado santo pelos
camaldulenses. Busto de Ambrósio em Santa Maria degli Angeli, em Florença. Fonte: Wikipédia.
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localização foi transferida quase que imediatamente para Siena e cancelado - por motivos ainda não
conhecidos perfeitamente - logo que começou a discutir o assunto da reforma (1424).
O próximo concílio se deu ao terminar o prazo de sete anos, em 1431. Martinho V obedientemente o
convocou para esta data na cidade de Basileia e selecionou o cardeal Juliano Cesarini para presidi-lo, um
prelado muito respeitado. O próprio Martinho, porém, viria a morrer antes da abertura dos trabalhos.
O concílio em Basileia abriu com apenas uns poucos bispos e abades presentes, mas cresceu rapidamente
e acabou tendo uma maioria de religiosos de ordens menores sobre os bispos. A postura inicial foi
antipapal, proclamando a superioridade do concílio sobre o Papa e prescrevendo uma profissão de fé do
sumo pontífice, um juramento que deveria ser feito por todos os Papas em sua eleição. Quando o concílio
foi transferido de Basileia para Ferrara em 1438, alguns permaneceram em Basileia, ainda alegando
serem parte do "verdadeiro concílio". Eles elegeram Amadeu VIII de Saboia como o Antipapa Félix V.
Expulsos de Basileia em 1448, eles se mudaram para Lausanne, onde Félix, o único reclamante ao trono
papal a ter feito a profissão de fé proposta em Basileia, renunciou. No ano seguinte, o eles decretaram o
fechamento do que eles ainda acreditavam ser o Concílio de Basileia.
O concílio enquanto isso tinha negociado com sucesso a reunificação com diversas Igrejas Ortodoxas,
conseguindo acordos em assuntos como a primazia papal, a inclusão da cláusula Filioque 3 no credo e o
purgatório, uma novidade recente no léxico teológico latino. O item mais importante em discussão,
previsivelmente, era o poder papal, no sentido de um poder direto e que responde a ninguém, sobre
todas as Igrejas ortodoxas nacionais (sérvia, búlgara, russa, georgiana, armênia etc.) em troca de
assistência militar contra os turcos otomanos. O partido grego, sob forte pressão do imperador bizantino,
aceitou, por razões puramente políticas, as demandas do grupo papal. Apenas Marcos de Éfeso rejeitou
a união entre os ortodoxos gregos. Os russos, tendo ouvido rumores desta teologia puramente política,
rejeitaram furiosamente a união e expulsaram quaisquer prelados que fossem minimamente simpáticos
à ideia. É claro que a ajuda do ocidente ao Império Bizantino nunca se materializou e a queda de
Constantinopla ocorreu em 1453. O concílio declarou também que o grupo que estava reunido em
Basileia eram hereges e os excomungou. Finalmente, em 1441, a superioridade do Papa sobre os concílios
foi reafirmada na bula papal “Etsi non dubitemus”.
3
Filioque (em latim: "e (do) Filho") é uma frase encontrada na versão do Credo niceno-constantinopolitano em uso na Igreja
Latina...” Et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem, qui ex Patre Filioque procedit
E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai e do Filho”. Fonte: Wikipédia.
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b. Bastidores do Concílio
O próprio Cosme de Médici havia se oferecido para ser anfitrião do Concílio, com a intenção de unir a
Igreja Romana às Igrejas Ortodoxas. O imperador bizantino João VIII paleólogo [que conhece línguas
antigas] compareceu, acompanhado de um grupo de estudiosos da Grécia. Dentre estes estava Gemistos
Pléthon, personagem controverso cuja leitura de Platão fez com que se convertesse em devoto das
doutrinas pré-cristãs. Pléthon trouxe consigo textos escritos por Platão até então perdidos para o mundo
ocidental, e ensinou a sabedoria platônica a grupos de florentinos interessados no tema. Embora o
Concílio não tenha obtido sucesso, acabou cumprindo uma função valiosa: Cosme comprou uma série de
textos antigos, e colecionou outros conforme o tempo passava.
Havia, porém, um obstáculo: os textos estavam em grego, ao passo que o latim era a língua franca dos
homens letrados da época. Em 1459, um outro estudioso de Bizâncio, chamado João Argyropoulos veio
a Florença e ensinou a língua grega assim como doutrinas filosóficas e esotéricas. Foi dele que Marsílio
Ficino aprendeu grego, e, em 1462, Cosme de Médici confiou-lhe um manuscrito com a obra completa
de Platão para ser traduzido. Entretanto, antes que Ficino pudesse avançar na tradução, chegou um
monge da Macedônia trazendo uma cópia quase completa do Corpus Hermeticum. Embora trechos do
Corpus Hermeticum houvessem sobrevivido ao período medieval, nada tão completo jamais havia sido
visto no Ocidente. Cosme sentia que ali estava a verdadeira sabedoria dos antigos, um conhecimento
esotérico anterior a Platão e que se supunha vir da mais antiga das civilizações: O Egito.
Na época de tais acontecimentos, Cosme já era idoso e desejava alcançar algum grau de Iluminação antes
de morrer. Imediatamente ele ordenou a Ficino que parasse a tradução de Platão e começasse a trabalhar
nos textos herméticos e assim foi feito. Ficino traduziu também Plotino, Porfírio, Jâmblico, os Hinos
Órficos e os Fragmentos. Ficino traduzia em grande velocidade e suas traduções eram extremamente
acuradas. Isso se deve ao fato de que ele reverenciava e compreendia os autores antigos, sentindo de
forma tão profunda a presença dos sábios do passado que ressuscitou o hábito que Plotino tinha de
celebrar o aniversário de Platão com um banquete – hábito esse que, na época de Ficino, já não era
observado há 12 séculos.
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c. A Academia Florentina
A “Accademia Platonica”, também conhecida como Academia Neoplatônica Florentina foi o nome
assumido pelo grupo reunido em Florença no século XV em torno de Marsilio Ficino, e patrocinado por
Cosme de Medici. Se consideravam sucessores da Academia de Platão da Grécia Antiga. Entre seus
membros se contam Angelo Poliziano, Cristoforo Landino, Pico della Mirandola e Gentile de Becchi, que
se dedicaram à tradução e estudo de textos clássicos.
Ficino derivou de Gemistos Pléthon a ideia de uma sabedoria universal e perene, que fora transmitida
sob diversas formas através dos tempos e que ele e seu grupo a haviam herdado. Fazendo uma
retrospectiva de todos os grandes sábios, percebeu que a vida e o pensamento de cada um deles formava
uma cadeia contínua de sucessão: a aurea catena, ou corrente de ouro. Uma vez que o próprio Ficino
havia herdado esse conhecimento, sentiu a si mesmo como um elo da cadeia, ligado pela Providência
Divina para transmitir a sabedoria oculta.
Uma propriedade de Lourenço de Medici, seu retiro campestre denominado Pogio a Caiano, foi escolhida
para sediar a Academia e foi denominada de ‘Mansão dos Mistérios’.
Há uma hipótese bastante razoável de que a Franco-Maçonaria tenha se baseado na Academia
Florentina.
2. O Hermetismo no Renascimento
Ainda que o Renascimento tenha significado a perda de muitos elementos importantes da Idade Média
e, portanto, nesse sentido, seja uma época de decadência espiritual generalizada, foi nele que certos
conhecimentos perdidos para o Ocidente se recuperaram.
Ainda durante a Idade Média, houve a destruição da Ordem do Templo e a ruptura do Cristianismo
Ocidental com sua dimensão Esotérica, uma vez que foram rompidos os laços que o Templo mantinha
com o Oriente e a visão esotérica do Cristianismo. Essa ruptura marcou uma decadência generalizada
para o Ocidente que culmina no ‘Humanismo’ renascentista. No entanto, homens qualificados daquele
período refazem parcialmente os contatos rompidos e reintroduzem no Ocidente a Antiga Sabedoria.
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Como vimos, através de Marsílio Ficino e Cosme de Medici, graças a Gemisthos Pléthon e a João
Argyropoulos, os textos platônicos e herméticos, bem como a língua grega, voltam ao Ocidente latino e
reestabelecem os vínculos rompidos.
Os ensinamentos herméticos, através do Corpus Hermeticum traduzido por Ficino, trarão novas bases e
uma renovação àquilo que já havia sido conservado, especialmente entre os Alquimistas que estavam
ligados aos conhecimentos preservados no mundo islâmico.
3. Hermetismo Cristão
Obviamente que, com o aprofundamento do conhecimento doutrinário, começam a surgir as pontes com
os símbolos cristãos e a própria doutrina cristã.
Na época de Giordano Bruno (1548-1600), uma interpretação hermética do Cristianismo já está bastante
amadurecida e a visão das correspondências entre os elementos exteriores ou exotéricos da religião e os
ensinamentos esotéricos e metafísicos é bastante notável entre os membros da elite. Notável é a obra
de Agostinho Steuco (1497-1548) sobre o tema.
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Página 50
4. Hermetismo e Ciência
É interessante notar que uma visão mais ampla e mais profunda do simbolismo cristão e as suas relações
com o simbolismo universal, proporcionaram também um maior avanço nos conhecimentos
cosmológicos e científicos do período. A observação dos astros, das leis da natureza etc., além do seu
objetivo principal, que é o de proporcionar ao homem, através das correspondências entre o macro e o
microcosmo, a contemplação das verdades espirituais, também teve como subproduto uma maior
compreensão do mundo manifesto.
O que deve ficar claro aqui é que os benefícios materiais são somente secundários, não o objetivo
supremo. É justamente essa confusão, ou seja, tomar-se o secundário e colateral como principal, é que
criou uma oposição, oposição esta que é falsa, entre as ciências práticas e o conhecimento sagrado.
Fim da Aula 04
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A Alquimia na Maçonaria Aula 4.pdf • 4 páginas <anexado: 00000145-A Alquimia na Maçonaria Aula
4.pdf>
Meus prezados alunos, apesar de uma parte ainda não ter concluído a Aula 3, estou enviando a Aula 4,
para não atrasarmos em demasia o andamento do curso
Excelente aula. Diversas referências interessantíssimas.
Materia excelente!! Curso tem superado minha expectativa.
Gostaria de saber de vcs, com sinceridade, o q estão achando do curso...
Estamos chegando na metade já...
Pra mim os aprofundamentos históricos são essenciais a um entendimento e assimilação mais
profundos. Esse liame histórico está sendo imprescindível pra mim, na medida em que introduz o
contexto na certa medida e apresenta referências/fontes/pessoas fidedignas, poupando muito
tempo na filtragem para futuras complementações dos estudos.
Tenho gostado muito, bem sucinto, claro e sem devaneios.
Tenho gostado bastante, tem expandido meus horizontes e eu tenho aprendido muito
Sim, o contexto histórico e semântico é fundamental para a correta compreensão.
Excelente
lido!! a contextualização é perfeita!
Essa é a “Mansão dos Mistérios” ou “Villa Medicea” na comuna italiana de Poggio a Caiano.
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Página 52
A simetria é magnífica.
Apesar de um pouco atrasado na aula, estou achando sensacional. Material excelente e
passado de maneira muito objetiva e didática.
Que lugar maravilhoso...
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Página 53
Muito bom professor. Estou gostando muito de conhecer a origem e história, certamente fica mais
fácil o entendimento e o motivo da Maçonaria buscar influência alquímica em seu simbolismo.
Eu creio que haja um elo muito forte de ligação entre esse momento da história, envolvendo Marsílio
Ficino, Pico della Mirandola, os Medici, o retorno das traduções gregas e a Maçonaria...
Na verdade, a restauração da tradição esotérica no Ocidente se dá em fases...
Essa fase da "Academia" estaria na base do que viria a se tornar o pensamento Rosacruz no século XVII...
Esse, por sua vez, procuraria o estabelecimento de uma "forma", algo concreto através do qual pudesse
basear sua doutrina...
A base disso se encontraria no ofício de "medir o templo"...
Ou seja, usariam formas operativas para dar corpo e constituir grupos qualificados onde se conservasse
esse repositório iniciático.
Essa seria a chave para se compreender as múltiplas influências na Maçonaria.
Pq tanto hermetismo em volta de um eixo operativo.
"Naometria" ("medição do templo") é um livro de profecias atribuído a Simon Studion e publicado em
1604. Suas duas mil páginas cobrem previsões baseadas em numerologia que incluem a destruição do
papado. Foi dedicado a Frederico I, Duque de Württemberg.
Página do título
Sua aparição em Tübingen atraiu interesse suficiente para que uma "Sociedade Naometrica" fosse
formada, que incluía o estudioso da Bíblia e da cabala Tobias Hess e o teólogo luterano Johann Valentin
Andreä. AMBOS ENVOLVIDOS NOS MANIFESTOS ROSACRUZES...
Teria a " medição do templo " algo haver com aquele trabalho passado em loja sobre dimensões
do templo, ou com o passar do tempo alguma derivação?
De uma forma muito longínqua...
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Página 55
Há também um outro livro citado na aula 4, item 3. Hermetismo Cristão: Augustini Steuchi
Eugubini_De Perenni Philosophia. Entendi como sendo este.
Sim. É ele mesmo. Mas esse, só em latim.
Prof. quando na aula 4 se toca no assunto do Hermetismo Cristão, esse tema desembocaria nos
estudos a respeito da Cabalá?
Pergunto isso porque tenho na memória que, uma certa vez na ETP, foi discutido que a Cabalá é
uma ciência sagrada tardia.
Outra pergunta: Fui reler a aula 04 pra ver se tinha uma dúvida, e me ficou na cabeça a dúvida de
se, então, foi a Cisão da Cristandade de 1054 em si que deu seguimento aos fatos, ou foi só a
coincidência do imperador bizantino ter trazido estudiosos gregos com os textos escritos com
Platão.
Depende de q Cabalá vc está falando. Foi nesse período que se formou uma versão cristã da Cabalá. Então,
temos aí uma forte síntese entre Cabalá, Hermetismo e Cristianismo.
Ah pronto, tinha dúvida a respeito disso. Obrigado.
A cisão se deu em 1054. No Concílio de Florença, houve uma tentativa de reunificação. Essa tentativa
tinha como "estímulo extra" a ameaça que Bizâncio estava sofrendo de cair nas mãos dos turcos...
O Imperador Bizantino levou os estudiosos gregos para sustentar as teses da Igreja Bizantina.
Mas, o Império estava muito mais preocupado com a obtenção de apoio militar para lutar contra os turcos
que, propriamente, discutir teologia e filosofia...
Tanto é que, os bizantinos estavam tendendo, sob pressão do Império, a aceitar as condições da Igreja de
Roma.
Houve apenas uma voz dissidente: São Marcos de Éfeso.
Marcos de Éfeso demonstrou as falhas teológicas nas alegações da Igreja de Roma. Por isso, é chamado
de "Campeão da Ortodoxia".
Notem que uso o termo "Papa de Roma" pq esse título "Papa", não é exclusivo de Roma. O Patriarca de
Alexandria tb tem o direito tradicional do uso do título de "Papa".
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Atualmente, há três Papas na Cristandade: O Papa de Roma, o Papa bizantino de Alexandria e o Papa
Copta de Alexandria.
Qual foi a tese principal que a Igreja Copta não aceitou no concílio e a fez estar " separada"?
A Igreja Copta, a Igreja Siríaca e a Igreja Armênia não quiseram se submeter ao domínio do Império
Romano do Oriente. Então, não participaram do Concílio de Calcedônia. Como não aceitaram
formalmente as definições cristológicas de calcedônia, foram acusados de diversas heresias como
monofisitismo, monotelismo etc. No entanto, essas acusações eram falsas...
As Igrejas Pré-Calcedonianas têm a mesma doutrina das demais Igrejas Ortodoxas. Isso já ficou claro aos
teólogos menos sectários. O que há é divergência terminológica, uma vez que as Igrejas Bizantinas têm
como língua oficial o grego, enquanto a Igreja Copta usa o copta, a Armênia usa o Armênio Eclesiástico e
a Sirian usa o Aramaico.
Hoje, há, por exemplo, um grande reconhecimento à preservação das mais antigas tradições cristãs nessas
Igrejas.
Do ponto de vista tradicional, teologicamente a Igreja Ortodoxa seria a " correta"?
Naquilo que a metafisica pode ser expresso teologicamente.
Tanto a Igreja Romana, quanto as Igrejas Ortodoxas são corretas. O que há são diferenças de formulação
e de costume. A Igreja Romana se preservou menos, uma vez que introduziu inovações e rompeu com a
dimensão esotérica.
A Igreja Romana, na intenção de "normatizar" tudo e "aristotelizar" sua doutrina, perdeu muito...
E continua perdendo.
Os líderes perderam a consciência do sentido profundo de sua doutrina.
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Hoje há a famigerada "intenção pastoral"...Ou seja, para chamar fiéis e não perder os que já tem,
introduzem as coisas mais mundanas na Igreja...
Isso explica a destruição moral interna, os escândalos etc.
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Corria o ano de 1614 quando Wilhelm Wessel, na cidade alemã de Cassel, publica um folheto intitulado
“Reforma universal e geral de todo o vasto mundo; juntamente com a Fama Fraternitatis da louvável
fraternidade da Rosa-Cruz, escrito para todos os sábios e governantes da Europa; além disso, breve
resposta enviada por Herr Haselmayer, pela qual ele foi preso pelos jesuítas e condenado às galés; agora
publicado e transmitido a todos os corações sinceros.”
O título, incrivelmente longo, na verdade trazia um folheto em três partes.
1. A primeira, à qual chamaremos apenas de “Reforma universal e geral”, é uma tradução para o alemão
de um capítulo da obra de Traiano Boccalini, “Ragguagli di Parnaso” (1612). A obra de Boccalini é
uma sátira aos pretensos sábios do mundo. Nela, o deus Apolo, desejando reformar o mundo e
terminar com suas mazelas, resolve consultar os sábios humanos e, cansado de ouvir tantas e tão
tremendas baboseiras, limita sua reforma a editar leis novas para regular o preço das verduras. O
recado é claro: Os pretensos sábios de então, cegos de orgulho e carregados de títulos tão vazios
quanto inúteis, dizem enormes besteiras em tom de grande sabedoria.
2. A segunda parte do panfleto, “Fama Fraternitatis” (em port. “Divulgação da Fraternidade”), é a
revelação da existência de uma fraternidade secreta denominada de “RosaCruz”. O texto descreve a
vida daquele que teria sido o fundador, Christian Rosenkreuz, um sábio que viajara para o Oriente em
busca de conhecimento, travando contato com sábios árabes e judeus em Damasco, viajando ao Egito
e depois retornando para a Alemanha, carregado de conhecimentos esotéricos perdidos que ele
transmitiria aos seus discípulos. O texto segue falando do túmulo onde Christian Rosenkreuz foi
enterrado junto com diversos segredos da Fraternidade Rosa-Cruz e de sua descoberta, convidando
as pessoas com ideias semelhantes a entrar em “contato” com a Fraternidade para compartilhar sua
sabedoria e a riqueza alquímica.
3. A terceira e última parte, a carta de Herr Haselmayer, é uma tentativa de fazer contato com a
misteriosa Fraternidade. Aos nossos olhos, uma publicação desse tipo pode não representar nada
muito empolgante, mas, na época, causou um extraordinário furor.
Para os conservadores foi um motivo de temor conspiratório e uma chuva de denúncias se seguiu. Alguns
se perguntavam onde estariam reunidos os misteriosos adeptos rosa-cruzes e, na ausência de respostas,
julgavam que tudo não passava de um golpe. Intelectuais com tendências herméticas à defenderam e
muitas foram as tentativas para entrar em contato e se associar a ela.
Outras obras foram publicadas rapidamente, tentando explicar, contestar ou revelar mais informações
sobre quem eram os rosa-cruzes e quais seriam seus segredos.
Passado apenas um ano, um segundo panfleto saiu da mesma gráfica em Cassel. Desta vez intitulado
“Uma breve consideração da mais secreta filosofia, escrita por Philip a Gabella, estudante de filosofia,
agora publicado pela primeira vez junto com a Confissão da Fraternidade R.C.”
Esse panfleto era divido em dois textos. O primeiro, a “breve consideração” era um ensaio sobre filosofia
hermética e magia baseado na obra de John Dee, A Mônada Hieroglífica. O segundo texto, a “Confessio”
(Confissão) era uma ampliação do material do “Fama”, com um enfoque mais doutrinário.
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O furor inicial apenas aumentou com a publicação desse segundo texto. As ideias nele contidas eram
discutidas, interpretadas e, por todo o canto, não faltavam acusadores, entusiastas e também charlatões
vendendo pretensos “segredos rosa-cruzes”.
Em 1616, um terceiro panfleto vem à tona, denominado de “As núpcias alquímicas”.
Este texto relatava uma complexa aventura em diversas fases, distribuídas por sete dias, em que Christian
Rosenkreuz se aventurava para alcançar uma grande e nobre festa de casamento. O símbolo da “Mônada
Hieroglífica” de John Dee aparece já no começo do texto.
A mensagem dos panfletos caiu como uma bomba sobre a Europa. Em uma manhã de 1623, em Paris,
cartazes anunciavam que os Rosa-Cruzes estavam já entre os franceses. Um deles dizia:
“Nós, representantes da principal sociedade dos Irmãos da Rosa-Cruz, permanecemos visível e
invisivelmente na cidade pela graça do Altíssimo, para o qual o coração do justo se volta. Mostramos e
ensinamos sem livros e máscaras como falar a língua de todos os países em que quisermos ficar, para
tirar nossos irmãos humanos do erro da morte.”
Estes fatos, que acabamos de narrar, foram o início histórico, o marco inicial do que denominamos de
“Movimento Rosa-Cruz”.
O conteúdo dos documentos estava intimamente ligado ao pensamento cujos representantes principais
elencamos anteriormente. Tal conteúdo era, na verdade, o fruto de muitas contribuições intelectuais
que foram amadurecendo com o passar das décadas e cuja origem estava naquele interesse na antiga
sabedoria que dera à luz à Renascença.
A busca frenética pelo lugar onde se reuniam os misteriosos Rosa-Cruzes, a ânsia por tornar-se parte
daquela misteriosa Ordem e a atenção suscitada por todos aqueles que se diziam representantes ou
membros daquela fraternidade, foram habilmente exploradas na época e continuam a ser ainda hoje.
Para decepção dos mais crédulos, todos os estudos sérios sobre o tema apontam que nunca houve uma
“Ordem” Rosa-Cruz real ou uma fraternidade organizada com estatutos, locais de reunião, rituais,
hierarquia etc.
Fulcanelli (1839-1923), autor de O Mistério das Catedrais (em 1926) e de As Mansões Filosofais (em
1930), duas famosas obras de alquimia, escreveu com acerto:
"A pretensa fraternidade da Rosa Cruz jamais teve existência social. Os adeptos que portam este título só
são Irmãos pelo conhecimento e pelo êxito de seus trabalhos. Nenhum juramento os liga, nenhum
estatuto os vincula entre si e nenhuma regra influi sobre seu livre arbítrio. Os rosa-cruzes não se
conhecem. Não tinham lugar de reunião, nem sede social, nem templo, nem ritual, nem marca exterior
de reconhecimento. Foram e ainda são trabalhadores solitários dispersos pelo mundo. Como os adeptos,
não reconhecem nenhuma ordem hierárquica”.
René Guénon, na Revista “O véu de Ísis” (hebdomadário do grupo Independente de Estudos Esotéricos,
que circulou de 1890 a 1935) em 1930, escreveu:
“Os verdadeiros Rosa-Cruzes jamais se constituíram como uma sociedade, na acepção moderna e profana
da palavra: os que estão além de qualquer forma não podem se conter nas formas de uma organização
com estatutos e regulamentos escritos, locais de reunião determinados, sinais exteriores de
reconhecimento, coisas das quais eles não têm qualquer necessidade. Sem dúvida eles podem, assim
como ainda se vê no Oriente, inspirar mais ou menos diretamente e, de certa maneira, invisivelmente,
tendo um propósito especial e definido; mas eles mesmos não se vinculam a essas organizações e, com
exceção de casos totalmente excepcionais, não possuem nenhum papel aparente.
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O que se denominou Rosa-Cruz desde o início do século XVI e que recebeu outras denominações em outros
tempos e em outros lugares, pois o nome tem aqui apenas um valor meramente simbólico e deve adaptar-
se às circunstâncias, não é uma associação qualquer, mas sim a coletividade dos seres que chegaram a
um mesmo grau de iniciação e que é suficiente para se reconhecerem entre si. É por isso que eles têm
apenas o ‘Templo do Espírito Santo’ como lugar de reunião, e este está por toda parte; e é por isso que
permanecem ignorados pelos profanos entre os quais vivem, especificamente porque seus únicos sinais
distintivos são meramente interiores e não podem ser percebidos por ninguém, exceto por aqueles que
atingiram o mesmo desenvolvimento espiritual, de modo que sua influência seja exercida por caminhos
que são incompreensíveis ao comum dos homens...”
Em outras palavras, o Movimento Rosa-Cruz é um movimento de ideias, seus manifestos visam chamar
atenção daqueles que constituem a coletividade dos verdadeiros Iniciados, ou seja, aqueles que
atingiram uma mudança ontológica de estado existencial e estão abertos às influências metafísicas
superiores, às quais colocarão em movimento no mundo das formas. Não tem qualquer relação real com
organizações que se pretendem místicas e que misturam um grande número de elementos sem relação
entre si fazendo um imenso “balaio” ao gosto do freguês.
Ainda hoje temos um grande sortimento de ordens, organizações, organismos, igrejas gnósticas,
fraternidades etc., que se dizem “rosa-cruzes” e alegam (sem quaisquer provas documentais) uma
pretensa descendência dos rosa-cruzes “originais”. Tudo isso, sem dúvida nenhuma, é bastante lucrativo
e explora a mesma curiosidade (e ingenuidade) que foi suscitada na época do lançamento dos Manifestos
originais.
Há grandes grupos alegando uma “Rosa-Cruz” egípcia, de grande antiguidade. Outros misturam ideias da
chamada “Nova Era” eivadas de todo tipo de superstição com o nome “RosaCruz”. Nesse verdadeiro
“balaio” entram exercícios de autoajuda, técnicas de hipnose, crendices, pseudociência, grande número
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Johann Andreae (1554-1601), pai de Johann Valentin Andreae, além de destacado teólogo luterano, era
um entusiasmado estudioso de alquimia e hermetismo. Graças a seus conhecimentos nesta área,
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recebeu muitos favores do Duque de Württemberg, Frederico, que era um patrono de estudos
alquímicos.
Johann Valentin Andreae cresceu em um ambiente carregado de teologia luterana e alquimia hermética
e essa influência seria determinante para sua vida intelectual futura.
Em 1602 foi admitido à Universidade de Tübingen onde recebeu os títulos de bacharel em 1603 e de
mestre em Artes em 1605.
Enquanto estava cursando o doutorado em Teologia, foi envolvido em uma confusão estudantil e, em
1607, acabou expulso da universidade. Em 1611 retornou, mas não passou nos exames finais do ano
seguinte só conseguindo fazê-lo posteriormente, vindo a se tornar pastor luterano em 1614.
Sua vida, ao menos em aparência, após o período universitário transcorreu de maneira sóbria e dentro
dos limites da ortodoxia luterana.
Na universidade, esteve envolvido com o círculo de estudantes hermetistas formados em torno de
Tobias Hess (1568-1614). Foi exatamente esse círculo que produziu dois dos manifestos, o Fama-
Fraternitatis e o Confessio Fraternitatis.
O terceiro documento, Núpcias Alquímicas, foi escrita individualmente por Andreae em 1605 e foi
publicado, sem o seu consentimento e lhe causando extremo desconforto, em 1616, em pleno auge do
furor Rosa-Cruz.
Apesar da tentativa de Andreae de desvincular sua figura da dos manifestos, ao longo de sua vida esteve
envolvido com diversos projetos para a constituição de sociedades secretas compostas de eruditos
luteranos com princípios e objetivos idênticos aos da fraternidade descrita nos manifestos.
Outra obra notável de Andreae foi “Cristianópolis”, onde é descrita uma utópica cidade ideal, em
moldes interessantemente próximos da “Nova Atlântida” de Francis Bacon.
Existem algumas teorias sobre a motivação central dos manifestos. Vamos analisar as duas principais.
a. A Teoria de Frederico V
Frederico V (1596 –1632) foi eleitor palatino, ou seja, membro do colégio eleitoral do Sacro Império
Romano-Germânico, colégio este que tinha desde o século XIII, a função de eleger o Rei dos Romanos,
ou, a partir de meados do século XVI em diante, diretamente o Imperador do Sacro Império Romano
Germânico. A dignidade do eleitor trazia um grande prestígio e ficava atrás apenas do rei ou imperador.
Variando em número entre 6 e 10 desde o século XIII até ao fim do império em 1806, os eleitores foram
escolhidos de entre os mais importantes donos das terras do império.
Frederico V sucedeu seu pai como Eleitor do Palatinato no Sacro Império Romano Germânico em 1610.
Em 1619, os estados protestantes da Boêmia se rebelaram contra o imperador Fernando II, o católico, e
ofereceram a coroa da Boêmia a Frederico V, por ele ser um membro influente da União Protestante,
uma organização fundada por seu pai para a proteção do protestantismo no império.
Frederico logo aceitou a coroa, mas seus aliados da União Protestante fracassaram em ajudá-lo
militarmente. Seu breve reinado como Rei da Boêmia terminou com sua derrota na Batalha da Montanha
Branca em 8 de novembro de 1620, um ano e quatro dias após sua coroação. Isto lhe rendeu o apelido
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Frederico V
de o Rei de Inverno. Após esta batalha, as forças imperiais invadiram as terras do Palatinado de Frederico
e ele teve que se refugiar na Holanda. Uma ordem imperial formalmente o retirou do Palatinado em
1623. Ele viveu o restante de sua vida em exílio com sua esposa e família, a maior parte do tempo em
Haia, antes de sua morte em Mogúncia em 1632.
Frederico V casou-se em 1613 com Elisabeth Stuart, filha mais velha de Jaime VI da Escócia e I da
Inglaterra.
Elisabeth Stuart
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Ainda que o Palatinado fosse um Estado calvinista, o pensamento reinante na corte teve bem pouco, ou
nada, a ver com a teologia calvinista. Ali a influência do hermetismo, do platonismo, da alquimia e do
pensamento renascentista, de maneira geral, era dominante.
Segundo a historiadora britânica Frances Yates, diversos movimentos políticos e cavalheirescos
britânicos, promovidos pelo polímata John Dee, durante as décadas de 1580 e 1590, levaram ao
casamento de Frederico V com Elisabeth Stuart.
De acordo com essa teoria, os documentos fundacionais do Movimento Rosa-Cruz, ou seja, “Fama
Fraternitatis”, “Confessio Fraternitatis” e as “Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreuz” estavam ligados
à ideia da formação de uma união de pessoas, uma Liga, que, de alguma maneira, simpatizassem com o
protestantismo e se coligassem para resistir à Liga Católica.
O nome “Rosa-Cruz” estaria ligado à rosa heráldica inglesa, dos Tudor, que romperam com Roma. De
fato, o pai de Elisabeth, Jaime VI da Escócia e I da Inglaterra, usava a rosa dos Tudor combinado com o
cardo da Escócia.
Outra hipótese é que seria uma explícita referência ao selo pessoal de Martim Lutero, uma rosa tendo
ao centro um coração e uma cruz:
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A Liga Católica, também chamada de Santa Liga, foi criada por Henrique I de Guise em 1576, durante as
guerras francesas entre católicos e protestantes. A liga era antiprotestante e tinha como objetivo extirpar
a “heresia” protestante de uma vez por todas.
A Liga Protestante, segundo Simon Studion, autor da “Naometria”, fora constituída em 17 de julho de
1586 em Lunenburg, em uma reunião de “alguns príncipes e eleitores evangélicos” com os representantes
dos reis de Navarra e Dinamarca e da rainha da Inglaterra. A liga seria chamada de “Confoederatio Militiae
Evangelica”.
A resistência à Liga Católica visava não só proteger a liberdade dos Estados Protestantes e a expansão
das igrejas reformadas como, também, a liberdade dos pensadores herméticos. Nesse sentido, o
envolvimento de homens como John Dee, Simon Studion, Elias Ashmole e Henrique Khunrath,
preparando todo um pano de fundo que culminaria com o casamento de Frederico V e Elisabeth Stuart,
na esperança de que, com essa união, as profecias de queda do papado e do Islam se cumprissem.
De fato, Simon Studion dá muita ênfase às profecias de queda do papado e do Islam no ano de 1620 e
não é impossível que tais profecias tenham convencido Frederico V a aceitar a coroa da Boêmia.
A Gnose, ou “conhecimento”, não é uma questão de aprendizado comum, mas uma experiência pessoal
da verdade espiritual. O gnóstico não tem interesse em acreditar em algo, ele quer saber, de maneira
direta e pessoal, as realidades espirituais.
René Guénon, em seu texto “A Metafísica Oriental”, dá uma excelente definição daquilo que poderíamos
chamar de Gnose ou de Conhecimento Metafísico Superior:
“A ciência é o conhecimento racional, discursivo, sempre indireto, um conhecimento por reflexo; a
metafísica é o conhecimento supra-racional, intuitivo e imediato. Esta intuição intelectual pura, sem a
qual não existe metafísica verdadeira, não deve, aliás, de maneira alguma, ser assimilada à intuição de
que falam certos filósofos contemporâneos, pois esta é, ao contrário, infra-racional. Existe uma intuição
intelectual e uma intuição sensível; uma está além da razão, mas a outra está aquém; esta última não
pode apreender senão o mundo da mudança e do devir, isto é, a natureza, ou antes, uma ínfima parte da
natureza. O domínio da intuição intelectual, ao contrário, é o domínio dos princípios eternos e imutáveis;
é o domínio metafísico.
O intelecto transcendente, para apreender diretamente os princípios universais, deve ser ele mesmo de
ordem universal: já não é mais uma faculdade individual, e considerá-lo como tal seria contraditório, pois
não pode estar nas possibilidades do indivíduo o ultrapassar seus próprios limites, sair das condições que
o definem enquanto indivíduo. (...) não é enquanto homem que o homem pode chegar a ele; mas sim, na
medida em que esse ser, que é humano em um de seus estados, é ao mesmo tempo outra coisa e mais
que ser humano.”
Hess via no conhecimento teórico uma preparação indispensável para o verdadeiro conhecimento, pois
sabia que aquele não passava de um conhecimento indireto e, de certo modo, simbólico.
Os estudos médicos de Hess foram motivados pelo desejo de minimizar os sofrimentos do próximo.
Custeou seus próprios estudos e, guiado pelo pensamento de Paracelso, cria que a única verdadeira
autoridade a ser obedecida na prática médica era o bem-estar do paciente. Hess atendia gratuitamente
seus pacientes e suas ideias paracelsianas atraíram as críticas e as calúnias do corpo docente de medicina,
maciçamente galenista.
As duras críticas sofridas por Hess o tornaram ainda mais convicto de suas ideias. Seu envolvimento com
a obra de Simon Studion e com a “Sociedade Naométrica”, criaram-lhe embaraços consideráveis,
acusações e interrogatórios.
Apesar de todos os esforços para o desacreditar, Hess reuniu em torno de si um círculo de discípulos. Um
dos seus discípulos era Johann Valentin Andreae, cujo pai era amigo de Hess e partilhava com ele suas
experiências alquímicas.
Os discípulos de Hess partilhavam com ele o espírito crítico contra o mundo acadêmico de então. Johann
Valentin Andreae expôs este pensamento crítico em sua obra satírica “Menippus”, onde atacava a
vaidade e a ignorância do sistema universitário.
A profunda impressão de virtude e de sabedoria causada por Hess em seus discípulos teriam inspirado a
figura mítica de Christian Rosenkreuz, saída da pena de Johann Valentin Andreae e, possivelmente, de
outros membros do círculo íntimo de Hess.
Andreae e Hess já haviam discutido, inúmeras vezes, sobre a necessidade de uma reforma ampla do
mundo, especialmente porque criam que certos sinais astrológicos (particularmente o surgimento de
uma estrela em 1604), coincidiriam com grandes mudanças mundiais.
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3. Rosacrucanismo e Maçonaria
O Movimento Rosa-Cruz teve impacto inegável na absorção de tradições plurais dentro da Maçonaria.
Em um período de transição de paradigmas, ou seja, do paradigma hermético renascentista para o
paradigma do método científico, a Maçonaria surge com a evidente absorção de muitos elementos de
ambos.
A Sociedade Naométrica de Simon Studion com seu simbolismo geométrico e a influência dos chamados
contidos nos Manifestos Rosa-Cruz, para que os homens sábios e governantes da Europa se unissem para
a construção de uma nova sociedade, não podem ser desprezados no contexto do processo de formação
do que seria a Maçonaria.
A esquematização simbólica dos elementos dessas diversas influências herméticas, alquímicas,
pitagóricas, platônicas, neoplatônicas, órficas, mitraicas etc. em conjunto com a valorização científica do
pensamento racional e do combate ao fanatismo e à superstição, começaria cedo. Logo após 1725 (com
o surgimento do 3º Grau), uma grande quantidade de Altos Graus começa a emergir e, dentre eles, e
sempre com um papel altamente destacado, estão os Graus de temática Rosa-Cruz.
Tanto o Grau Rosa-Cruz do Rito Escocês Antigo e Aceito (Cavaleiro Rosa-Cruz), 18º na hierarquia, quanto
a 4ª Ordem Superior ou Sapiencial do Rito Francês (Soberano Príncipe RosaCruz) e o 12º Grau do Rito
Adonhiramita (Cavaleiro Rosa-Cruz), ocupam um papel de destaque na hierarquia iniciática dos ritos.
Em certo sentido, toda a Maçonaria, desde seu primeiro Grau, está envolvida com a ideologia proposta
pelo Movimento Rosa-Cruz tendo em vista que nasce, precisamente, no período em que essas ideias
estavam em seu ápice de desenvolvimento e influência.
Cabe notar que uma das teorias de origem histórica da Maçonaria seria a de uma origem Rosa-Cruz, ou
seja, a de que a Maçonaria teve início como a resposta organizada ao chamamento contido nos
Manifestos do século XVII. Um grupo de intelectuais teria iniciado uma sociedade de pensamento cuja
forma estaria baseada na construção de uma nova sociedade, arquetipicamente representada na
perfeição do Templo de Salomão. A adoção dos instrumentos de construção com uma significação moral
e esotérica teriam por base justamente uma ampla reforma interior e exterior cujos artífices seriam os
membros do “Colégio da Fraternidade”. Essas ideias originais teriam sido lentamente “adormecidas”
enquanto se dava uma maior ênfase ao simbolismo meramente moral dos elementos operativos.
Um dos mais intrigantes elementos dessa teoria é a de que a “cripta secreta”, que aparece em diversos
Graus e ritos maçônicos, desde o Arco-Real inglês, passando pelo Real Arco e os Graus Crípticos norte-
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americanos, os Graus 13 e 14 do REAA e a 2ª Ordem do Rito Francês, cripta esta que é, nas lendas,
localizada abaixo do Santo dos Santos do Templo de Jerusalém, mas que nunca é citada em nenhuma
passagem bíblica sobre o Templo, seria, nada mais nada menos, que a representação modificada do
túmulo de Christian Rosenkreuz onde se encontrariam os segredos dos Rosa-Cruzes e muitas maravilhas.
A cripta subterrânea do Arco Real e o túmulo de Christian Rosenkreuz teriam uma semelhança
tão próxima apenas por uma feliz coincidência?
O primeiro Grau Rosa-Cruz de que se tem notícia aparece ainda antes de 1760. Já em 1761, aparece o
primeiro registro documental de um Capítulo Rosa-Cruz, instalado em Lyon por Jean Baptiste Willermoz.
O Grau era chamado de “Cavaleiro da Águia e do Pelicano, Soberano Príncipe da Rosa-Cruz e de
Heredom”.
Outros Graus Rosa-Cruzes, usando ou não o título ‘Rosa-Cruz’, e de temática muito semelhante, surgiriam
na sequência. Dentre eles, os de “Mestre Escocês de Santo André”, “Cavaleiro Rosa-Cruz”, “Cavaleiro da
Águia Rosa-Cruz e Perfeito Mestre em Arquitetura”, “Grande Pontífice ou Sublime Maçom”, “Grande
Mestre dos Mestres ou Mestre ad vitam”, “Cavaleiro da Águia Negra Rosa-Cruz” etc.
É muito comum ouvir dizer que os Graus Rosa-Cruzes são “cristãos”, ou que sua temática estaria
embebida na mensagem dos Evangelhos canônicos e representariam um tipo de transição do Antigo para
o Novo Testamento. De fato, as aparências apontam nesse sentido e, a tal ponto que, alguns ingleses e
norte-americanos querem exigir quase um “atestado paroquial” de confissão cristã trinitária para o
ingresso dos Irmãos em seus Graus Rosa-Cruzes. Nós, no entanto, devemos ter mais cuidado em nossas
afirmações e com quaisquer intrujices beatas de cristãos devotos em assuntos maçônicos... Como vimos
ao longo deste estudo, o cristianismo serviu dentro do Movimento Rosa-Cruz para “enluvar” as doutrinas
herméticas, platônicas, pitagóricas, gnósticas e dos Mistérios da Antiguidade. Por isso, é prudente um
exame mais cauteloso da temática antes de afirmarmos a sua natureza cristã.
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Se analisarmos os ensinamentos contidos nos Graus Rosa-Cruzes, de maneira geral, o foco temático é o
reestabelecimento de um estado existencial que, anteriormente, tinha sido perdido.
Nos Graus ou Ordens anteriores, a ênfase se encontra em eventos mítico-históricos que são revividos,
atualizados, sentidos e reencenados pelos recipiendários durante a execução do ritual. No caso dos Graus
Rosa-Cruzes não há, propriamente, uma lenda ou um cenário específico do passado. Há, em vez disso,
uma situação interior, um impasse existencial...Os templos de pedra não mais se reerguerão, os
instrumentos de trabalho estão quebrados, as trevas reinam, os falsos maçons e pretensos filósofos
modernos, que abandonaram a verdadeira Sabedoria dos antigos, dominam o cenário. O que fazer? É
possível fazer algo?
Qualquer pessoa com alguma intimidade com os ensinamentos gnósticos percebe rapidamente as
semelhanças: Barbeló, a primeira emanação divina (do Uno, chamado de Bythos ou Mônada), a “Mãe”,
concebe um ser que tem o poder de criar, Sofia, análoga à alma racional de Platão. Sofia é a detentora
da Sabedoria, parte da totalidade emanada pelo Uno (Bythos), chamada de Pleroma. Mas, Sofia, é
vencida pelo desejo de também criar e romper a unidade do Pleroma...Isso faz com que ela caia e, como
um dos resultados da queda, é criado o Demiurgo, Yaldabaoth (também chamado de Saklas e Samael), o
“Filho do Caos”.
Yaldabaoth dá origem à criação material e é escondido por Sofia na escuridão da matéria. Yaldabaoth
estabelece um sistema de governo do mundo material através dos “arcontes”.
Os arcontes são as forças que governam a ignorância e o materialismo, se opondo aos Éons, poderes
governantes do mundo espiritual ou superior.
A imensa maioria da humanidade adora a Yaldabaoth como o seu criador. Mas, há uma raça diferente,
os “alógenos”, que descobriram a verdadeira natureza do Mundo Material e Espiritual e, portanto,
combatem as forças dos arcontes e estão ligados ao Pleroma. O Pleroma celeste é a totalidade de tudo
o que é considerado pela nossa compreensão como "divino". O Pleroma é muitas vezes referido como
sendo a luz que existe "acima" do nosso mundo, ocupado por seres espirituais que se emanaram do
Pleroma. Estes seres são descritos como Éons.
Está claro que o Rosa-Cruz é, precisamente, o alógeno, aquele que combate as forças malignas dos
arcontes que dominam o mundo. A “ampla reforma” é a destruição dos poderes malignos dos arcontes
e do culto errôneo de Yaldabaoth, representado pelo poder papal e pela estrutura materialista das
igrejas...
Diante disso, ficam muito claros os motivos da perseguição movida, tanto pela Igreja Romana quanto
pelas igrejas protestantes, contra o Movimento Rosa-Cruz e contra o pensamento de seus
representantes...Quem lê e entende as obras de Jacob Boëhme, por exemplo, apesar de todo o linguajar
de aparência cristã luterana, vê claramente que a doutrina de Boehme não tem nada a ver com a doutrina
da Igreja Reformada de seu tempo...E os seus perseguidores, teólogos luteranos, sabiam muito bem
disso...O mesmo caso é o de Valentin Andreae, Hess etc...
Jesus é visto pelos gnósticos como um éon intermediário que foi enviado, juntamente com a sua
contraparte Sophia, do Pleroma. Com a ajuda deles, a humanidade seria capaz de recuperar o
conhecimento perdido de suas origens divinas e assim recuperar a unidade com o Pleroma.
O Cristo gnóstico é um Princípio Superior, não importando tanto a questão da pessoa ou de sua existência
histórica ou não. O princípio é o do reestabelecimento da ordem e a libertação da prisão material imposta
pelo sistema maléfico governado pelos arcontes.
O reaparecimento da Estrela Flamejante e a recomposição das ferramentas quebradas, em uma grande
explosão no centro da qual encontra-se a letra G (de GNOSE, nesse caso), é exatamente a figuração da
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Iluminação interior através da aquisição dessa Sabedoria Superior com o poder de Libertação e
Salvação...
O discurso dos Graus Rosa-Cruzes e a citação exaustiva dos hierofantes, filósofos, sacerdotes,
hermetistas etc., como detentores dos verdadeiros segredos por trás da condição de Rosa-Cruz, deixa
muito claro qual é o tipo de doutrina desses Graus.
A imensa quantidade de símbolos alquímicos e herméticos contidos, por exemplo, na 4ª Ordem do Rito
Moderno e no Grau 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito, não deixam dúvidas em relação ao seu teor
doutrinário. Por isso, a nós soa como um tipo de “atestado de incompreensão”, bastante ridículo por
sinal, a exigência de que se tenha “confissão cristã trinitária” para o ingresso em Graus Rosa-Cruzes...A
pretensão de entender aquilo que não se entende de fato, leva a esses equívocos lamentáveis.
Fim da Aula 05
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Esta realmente não era a ideia/objetivo criados dos manifestos naquela época ou algo impossibilitou essa
organização?
Guénon entendia que os Iniciados que se "ocultavam" no meio do povo, não se diferenciado dele
era um dos preceitos rosacrucianos.
Prof., o senhor poderia explicar o que era o Estado Calvinista? Sou ignorante a respeito do calvinismo.
Explicar todo o Calvinismo e as bases do Estado Calvinista exigiria um curso à parte. Basicamente, o Calvinismo é
um subproduto da Reforma Protestante.
Há pontos de discordância teológica com o Luteranismo.
Vc acha alguns resumos muito úteis na internet.
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1. Fontes Múltiplas
Tendo em visto tudo o que foi explanado até o momento, o prezado leitor já deve ter percebido que a
Franco-Maçonaria é uma síntese de fontes doutrinárias diferentes.
Tais fontes foram sintetizadas ao longo de um relativamente extenso período, de modo a formar um todo
coerente, tanto de um ponto de vista de doutrina quanto de um ponto de vista simbólico e ritualístico.
É preciso que estudemos as teorias históricas sobre a origem da Franco-Maçonaria para que seja possível
tentar compreender os modos possíveis de formação do ritual maçônico.
Há algumas teorias sobre a origem da Franco-Maçonaria que podem ser encontradas nos livros que
tratam do tema. Até hoje, não há consenso sobre as origens históricas da instituição, o que leva os
pesquisadores a formularem hipóteses diversas sobre o seu surgimento.
a. A Primeira Teoria
A primeira teoria é a de uma origem antiga, ou seja, a de que a Franco-Maçonaria atual seria a
continuidade de antigos grupamentos profissionais ligados ao ofício da construção, como os “Collegia
Fabrorum” romanos. Segundo alguns defensores dessa teoria, as origens poderiam ser ainda mais
remotas, no Egito Antigo ou em outras civilizações do Oriente. Segue-se daí uma verdadeira enxurrada de
ideias desencontradas e fantasiosas com faraós maçons, Jesus Cristo maçom, essênios maçons etc.
A Franco-Maçonaria seria, então, uma mistura de conceitos “operativos” e ideias surgidas no seio de
sociedades secretas iniciático-religiosas daquele tempo. Essa ideia é cara àqueles que adoram mistificar
ou sacralizar a Franco-Maçonaria.
Essa teoria é desprovida de bases documentais sólidas e apresenta problemas sérios quanto à sua
fiabilidade. A Franco-Maçonaria não reproduz em seu meio os chamados “mistérios” da Antiguidade. Não
são os franco-maçons os “órficos”, os “pitagóricos”, os “mitraicos”, os “isíacos” ou “eleusínos” do mundo
contemporâneo, e nem são as lojas os “Telestérion” de Elêusis da modernidade. Basta estudar sobre essas
antigas tradições e se verá que há um mundo de distância entre elas e a Franco-Maçonaria. Um ou outro
elemento similar não justifica essa aproximação forçada e artificial de “continuidade histórica”.
A Franco-Maçonaria atual não tem qualquer relação com técnicas do ofício do construtor, utilizando, tão
somente, a simbologia de alguns poucos elementos desse ofício e em um sentido completamente alheio
a qualquer tipo de utilização profissional dos mesmos. Veremos também, nas próximas teorias de origem,
que a documentação histórica disponível desmente essa ideia.
b. A Segunda Teoria
Uma segunda teoria seria a de uma “origem medieval” e de uma “transição”. Com efeito, na Idade Média,
havia grupamentos profissionais de “pedreiros livres” (freemasons ou francomaçons) que se agrupavam
em guildas profissionais, que se reuniam nos canteiros das obras, dirigidos por um mestre do ofício. Sendo
assim, aos poucos, essas guildas teriam aberto as portas a indivíduos não diretamente ligados ao ofício
da construção e, lentamente, as guildas teriam se tornado as Lojas Especulativas da Franco-Maçonaria
atual.
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c. A Terceira Teoria
A terceira teoria é a mais comumente aceita hoje em dia pelos estudiosos e foi chamada de ‘Teoria do
Nascimento Original’. Segundo ela, a Franco-Maçonaria atual é algo nascido no século XVII, como uma
ideia nova surgida na Inglaterra que, posteriormente, lançou sua influência para outros locais como a
Escócia (que teria um desenvolvimento histórico maçônico diferente) e, posteriormente, a França. A ideia
seria a criação de uma sociedade de pensamento, que cultuaria uma moralidade expressa pelo
simbolismo da arte da construção, altamente influenciada pelo clima de mistério e simbolismo da
Renascença e traria em seu bojo doutrinas neoplatônicas, herméticas etc.
Essa teoria encontra apoio em documentos originais sobre a aceitação de maçons da “Companhia de
Maçons de Londres” (uma associação estritamente profissional, ou seja, operativa) em lojas
“especulativas”. Ora, se o processo fosse de “continuidade”, por qual razão se “re-iniciaria” um maçom
operativo em uma loja especulativa?
A criação da Franco-Maçonaria teria tido início com um indivíduo (William Schaw?) ou um grupo que, a
princípio, com ligações com a Maçonaria profissional (operativa) teria tido a intenção de normatizar a
“arte do maçom”. A organização teria se estruturado em células (lojas) e buscava a difusão de ideias de
política de classe, reivindicando benefícios reais para os pedreiros (um tipo de sindicato). Com o decorrer
do tempo, os objetivos iniciais teriam se diluído e o contato com indivíduos interessados em simbologia,
hermetismo, filosofia e política (que, a princípio, foram recrutados como homens cultos para ajudar os
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primeiros objetivos do “sindicato”), fariam com que houvesse uma radical mudança de rumos na
organização.
O clima de mistério e a fama que daí se seguiu começou a interessar a indivíduos de todas as classes, que
nada tinham a ver com a profissão de pedreiro e, dessa maneira, as lojas começaram a crescer e se
expandir pelo território europeu.
d. A Quarta Teoria
A quarta teoria é denominada de “Teoria da Irmandade para Conspiração”, ou seja, a de que alguns
personagens históricos, entre eles Elias Ashmole e Randle Holme III, para escapar da vigilância
governamental, teriam se organizado para formar uma elite que conseguiria maior influência política,
maior liberdade e uma extensa rede de informantes através das Lojas, com sinais secretos de
reconhecimento e o objetivo de restaurar a monarquia. Depois da “Restauração”, teriam mudado de
objetivo e proibido as discussões de cunho religioso e político, transformando a Franco-Maçonaria em um
lugar de boa convivência e lições de moral. Essa teoria pode ser encaixada à Teoria do Nascimento
Original.
e. A Quinta Teoria
A quinta teoria é chamada de “Teoria da Base Religiosa”. Segundo ela, a Franco Maçonaria teria nascido
como um tipo de refúgio das contendas religiosas, na época do reinado de Elisabeth (1560-1580).
Essa teoria é sustentada pelo tipo de moral encontrada nos documentos maçônicos mais antigos, ou seja,
um apelo constante à tolerância entre os cristãos com invocações à Trindade e outros elementos comuns
às diversas denominações religiosas em choque naquele período.
f. A Sexta Teoria
A sexta teoria é chamada de “Teoria Templária”. Segundo ela, cavaleiros templários em fuga da
perseguição religiosa que se desenvolvia contra eles em diversos países católicos, teriam chegado à
Escócia através de uma rota marítima segura e lá, em relativa segurança, teriam reconstruído suas vidas
e constituído comunidades onde as doutrinas da Ordem do Templo poderiam ser transmitidas sem
maiores problemas. Essas comunidades teriam se utilizado das lojas operativas (de pedreiros
profissionais) para difundir suas doutrinas de maneira segura, graças à tradição de sigilo em relação aos
segredos profissionais que era conservada pelos maçons operativos. Isso explicaria uma série de
elementos cavalheirescos e cristãos (um tanto heterodoxos) no seio da Franco-Maçonaria.
Há interessantes elementos para embasar essa teoria, entre eles algumas constatações arqueológicas em
Argyll, onde se encontram símbolos templários misturados a símbolos maçônicos. Esses vestígios
materiais são datados de um período anterior à expansão da Franco Maçonaria e dos primeiros registros
de lojas especulativas propriamente ditas. Alguns desses vestígios trazem também uma simbologia
cifrada, com detalhes que só seriam conhecidos por membros da Ordem do Templo.
Outro elemento bastante instigante é o fato de que, já no século XVIII, entre 1742 e 1750, o Barão Karl
Gottlieb Von Hund introduziu uma vertente maçônica denominada de “Estrita Observância Templária”.
Muitos historiadores sérios, até pouco tempo atrás, acreditavam que as supostas “origens templárias”
alegadas por Von Hund eram invenção do próprio que teria imaginado as tais origens para atrair pessoas
fascinadas pelas lendas de Cavalaria e sobre os Templários para sua recém criada “Estrita Observância”.
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No entanto, pesquisas mais recentes mostraram que o Barão Von Hund tinha muito mais que simples
imaginação...Von Hund nunca pode provar suas alegações em vida, especialmente as que sustentavam
que ele teria sido iniciado por “superiores desconhecidos”. Até seus últimos dias de vida ele afirmou sua
integridade e a verdade do que sustentara.
Depois de três séculos descobriu-se que várias das alegações de Von Hund não podiam ter sido inventadas
por ele, pois eram, de fato, informações internas da Ordem do Templo que, até então, eram
desconhecidas aos pesquisadores e ao público externo. Como Von Hund teria tido acesso a essas
informações desconhecidas até aos pesquisadores modernos, que só as obtiveram depois da completa
abertura do processo movido contra os templários? A resposta mais óbvia a essa pergunta seria: Tendo
acesso às informações internas da Ordem do Templo.
g. A Sétima Teoria
A sétima teoria é denominada de “Teoria Rosacruz” e para compreendê-la é necessário compreender um
período específico da história da Europa, da qual já tratamos, mas vamos reforçar mais uma vez.
No século XVII, na Alemanha, foram publicados e notabilizados três documentos que fariam um grande
estardalhaço por toda a Europa. São os chamados “manifestos rosacruzes”.
O primeiro, chamado “Fama Fraternitatis”, veio a lume em 1614, apresentando um personagem
mitológico chamado Christian Rosenkreutz (cristão rosacruz) que personificava um tipo protestante que,
ao mesmo tempo, era um sábio alquimista e filósofo. Esse sábio, através de uma linguagem bastante
carregada de simbolismo hermético, emite duras críticas contra o papado, a Igreja de Roma e a
mentalidade não científica de seu tempo.
O segundo, chamado “Confessio Fraternitatis”, é uma continuação do anterior e, em termos bastante
misteriosos, defende a existência de uma fraternidade oculta de sábios, ao gosto de Francis Bacon em sua
“Nova Atlântida”.
O terceiro documento, “Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz” é um relato alegórico sobre as
virtudes dos sábios rosacruzes, apresentando uma aventura fantástica cheia de símbolos e alegorias
dirigidas a um público bastante intelectualizado e familiarizado com os temas alquímicos e herméticos.
A autoria desses documentos ainda causa alguma divergência, mas de forma geral, é aceito que eles
tenham sido compostos por Johann Valentin Andrea, pastor protestante e estudioso alemão. Interessante
notar que o próprio nome “rosacruz” tem sua origem, provavelmente, no selo pessoal de Martinho
Lutero.
As ideias contidas nesses manifestos são a expressão viva do pensamento dos meios protestantes
intelectualizados da época. A “Fraternidade Rosacruz”, na verdade, seria uma corrente de ideias e de
sábios que, trabalhando de maneira isolada e com pouca visibilidade social (daí a ideia de “irmãos
invisíveis”), conseguiriam diminuir as influências do papado e das crenças católicas, expandindo um tipo
de Iluminismo Hermético que traria o saber científico e espiritual redescobrindo a antiguidade clássica e
unindo-a a um cristianismo reformado, sofisticado, pretensamente puro e altamente subjetivo, purificado
de toda superstição e obscurantismo.
Para se compreender todo o pano de fundo político desse pensamento, recomendo vivamente o erudito
estudo da professora da Universidade de Londres, Frances Yates, chamado “O Iluminismo Rosacruz”.
Nunca é demasiado frisar que não houve nenhuma fraternidade organizada que estaria por trás dos
manifestos. A fraternidade que é citada neles, da qual participariam “os invisíveis”, é justamente essa
corrente de ideias e de pessoas dedicadas a esse ideal de esclarecimento e não algo organizado. É
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justamente aí que entra a “Teoria Rosacruz” de origem da Maçonaria. Segundo tal teoria, a Franco-
Maçonaria seria justamente a tentativa de transformar a fraternidade invisível dos rosacruzes em algo
real, organizado, tangível. Sendo assim, diversos pensadores teriam se agrupado e, aproveitando-se do
sigilo tradicional existente entre as fraternidades de ofício, apropriando-se de seu “modus operandi” e se
confundido, deliberadamente, com elas a fim de não chamar a atenção.
h. A Oitava Teoria
A oitava teoria é chamada de “Teoria da Royal Society”. A “Royal Society of London for the Improvement
of the Natural Knowledge” é uma instituição destinada à promoção do conhecimento científico. Foi
fundada em 28 de novembro de 1660. Entre os seus fundadores encontra-se sir Christopher Wren, famoso
arquiteto da Catedral de São Paulo em Londres e outros cientistas famosos como Robert Boyle, Robert
Hooke etc. As origens mais remotas da Royal Society se encontram no Greesham College.
Se buscarmos as origens dessas agremiações científicas, vamos nos encontrar, sem dúvida nenhuma, com
o grupo de sir Francis Bacon que, além de seu enorme interesse científico, também nutria pretensões
políticas e ideias herméticas. A “Nova Atlântida” de sua autoria revela seu ideal platônico de um Estado
governado por sábios e é eivada de simbolismo hermético.
A Franco-Maçonaria seria, de acordo com essa teoria, uma sociedade de pensamento interna desses
grupos, onde se desenvolveriam temas que não poderiam ser tratados abertamente nos grupos de estudo
comuns.
O simbolismo do ofício do pedreiro teria aí uma dupla função. A mais elementar seria se utilizar da
tradição de segredo das guildas profissionais e, com isso, afastar desconfianças e olhares menos discretos.
Por outro lado, atribuindo-se significado simbólico e alegórico aos elementos do ofício, constituir ia-se
um sistema de moralidade interno, velado por símbolos e transmitido por alegorias.
Essa teoria desenvolve-se de maneira bastante complexa e sofisticada, e para compreenda-la mais
profundamente recomendamos o excelente estudo de Christopher Hill, “Origens Intelectuais da
Revolução Inglesa”.
Não vamos estender mais ainda essa aula. Sugerimos aos leitores que busquem as fontes indicadas e
também as seguintes referências: Harry Car (Teoria da Transição), Eric Ward (Teoria do Nascimento
Original), Frederick E. Seal-Coon (Teoria da Fraternidade para a Conspiração), Collin Dyer (Teoria da Base
Religiosa), A. Cosby F. Jackson (Teoria da Origem Rosacruz), A. Geoffrey Markham (Teoria Associada), Cyril
N. Batham (Teoria das Origens Monásticas), Michael Spurr (Teoria da Era das Luzes), Michael Baigent
(Teoria da Royal Society), Michael Baigent e Richard Leigh (Teoria da Origem Templária).
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A Franco-Maçonaria é uma instituição que se serve abundantemente da liturgia. Todas as reuniões oficiais
em Loja seguem um determinado protocolo litúrgico em que os membros do quadro designados
cumprem papéis preestabelecidos em um ritual ou livro litúrgico próprio.
A palavra liturgia vem do grego leitourgia, que por sua vez é composta das palavras leitos (popular, povo)
e ergon (ação, obra, trabalho). Como fica explícito, referia-se, já desde o seu uso grego, a uma ação, um
trabalho ou ofício que não visava à utilidade particular, privada, mas à comunidade, ao povo, tanto no
sentido social como religioso.
A tradução grega da Bíblia, no Antigo Testamento, aplica o termo para designar o serviço cultual do
Templo de Jerusalém. No Novo Testamento, fala-se da liturgia judaica do Templo, mas quando se aplica
às próprias realidades cristãs, chama-se “liturgo” a Cristo, Sumo Sacerdote e também à “liturgia da vida”,
como o ministério de um apóstolo.
No mundo ocidental, a palavra ‘liturgia’ voltará a aparecer, porém não no uso propriamente litúrgico; a
partir do século XVI da Era Comum ele só reaparece no plano científico, em que passa a indicar ou os livros
rituais antigos (“Liturgica”: Cassander, 1558; Pamelius, 1571) ou em geral tudo o que diz respeito ao culto
da igreja, e isto até o presente (cf. Cardeal Bona, Rerum liturgicarum libri duo, 1671). Neste sentido, com
Mabillon se começa a falar de ‘liturgia’ como de um complexo ritual determinado (De liturgia gallicana
libri tres, 1685), a que fará eco L.A. Muratori com a sua Liturgia Romana vetus (1748), em que publicava
em coletânea os antigos ‘sacramentários’ romanos até então descobertos.
No sentido aplicado por esses autores supracitados, fala-se em rituais maçônicos, ou seja, nos livros que
contêm a ordem dos serviços para o povo maçônico (ou ainda, propriamente, sua liturgia - serviço
comunitário).
Se nos utilizarmos do seu sentido lato, ou seja, o de serviço público, podemos dizer que a liturgia é todo
conjunto de atos organizados para o desempenho de uma função ou ato público.
Há uma liturgia que se desenvolve em uma cerimônia de inauguração, em uma formatura, em uma festa
de aniversário (soprar as velas, cortar o bolo, distribuir seus pedaços), em uma sessão do Poder Judiciário,
Legislativo ou Executivo, em uma recepção formal, em um jantar solene etc.
A finalidade desse conjunto de atos pré-determinados é a de estabelecer uma ordem no que se realiza,
de maneira que os atos tenham uma coerência interna, que conduza a assistência a perceber a finalidade
a que se propõe um determinado evento.
O conjunto dos atos deve conduzir a assistência à percepção de algo. No caso de um aniversário, à
percepção da passagem do tempo para o aniversariante e a alegria que ele expressa por ter atingido mais
um ano de vida. No caso de uma inauguração, à percepção do sucesso atingido pelos atos preparatórios
para a consecução de uma empreitada que está se inaugurando e da alegria que tal sucesso produz, assim
como os votos de que tal sucesso se estenda ao funcionamento daquilo que se inaugura. No caso da
liturgia do Poder Judiciário, o objetivo é, além de impor uma ordem necessária para uma maior eficácia
dos juízos e debates, demonstrar à assistência a seriedade, a lisura e a objetividade racional dos juízos e
debates, baseados em uma interpretação coerente das leis.
A liturgia religiosa não se afasta desse mesmo objetivo. Uma missa católica romana deseja produzir em
seus fiéis a percepção dos pontos essenciais de seu conjunto de crenças, ou seja, da encarnação, morte e
ressurreição de Jesus Cristo e dos meios de salvação por ele deixados aos que nele crerem e, com isso,
incrementar sua fé e sua prática religiosa. Um culto budista deseja produzir na audiência a percepção dos
ensinamentos fundamentais de Buda ou do fundador de uma Ordem Budista específica e, dessa forma,
orientar a vida dos indivíduos de acordo com esses ensinamentos. Um culto judaico deseja produzir na
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audiência a memória e a busca dos significados da revelação de seu deus aos profetas hebreus e o que
eles revelaram ao povo judeu como vontade desse deus. E assim por diante.
É importante notar aqui que há uma diferença entre a liturgia voltada para os atos cerimoniais e a liturgia
voltada para o rito. O que chamamos aqui de cerimônia, do latim caerimonia ou caeremonia, é o nome
dado às formas exteriores de aformoseamento ou solenização de um ato. A cerimônia é distinta do rito.
O rito comporta uma mensagem simbólica e atos que estão relacionados com um mito ou com um
comportamento simbólico (em que os atos repetem um arquétipo heróico e/ou sagrado). A cerimônia
não.
Para exemplificar as afirmações acima, podemos dizer, tomando um exemplo bastante comum que, em
uma missa, os atos relacionados à essência sagrada do ato, ou seja, a repetição do sacrifício eucarístico (a
consagração e todos os atos que fundamentalmente preparam para ela) são atos rituais. Já as partes
referentes a elementos como os cantos usados, o modo de entrada do sacerdote, se há ou não flores no
altar, se os castiçais são longos ou curtos, se há acólitos ou não, se o sacerdote usa fórmulas mais longas
ou curtas, se é mais informal ou formal em sua gesticulação etc., são partes cerimoniais.
Nas sessões da Franco-Maçonaria há muitos que confundem grandemente esses dois elementos. A
liturgia do rito é aquela que organiza e estabelece as formas através das quais os ensinamentos essenciais
da moralidade e do simbolismo maçônico são transmitidos. Estão relacionados com o simbolismo
operativo e sua conseqüente interiorização. Também estão ligados com as alegorias e os mitos de morte
e ressurreição das lendas maçônicas. Já a liturgia do cerimonial é aquela que organiza e estabelece as
formas de embelezamento e melhor disposição das sessões, podendo variar sem maiores prejuízos das
partes essenciais.
Dito isso, é fácil perceber que em diferentes locais e em diferentes períodos de tempo, formaram-se
distintos Ritos (enquanto conjunto de regras litúrgicas e costumes) que deram mais ou menos enfoque a
tais ou quais doutrinas.
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Com o desenvolvimento descontrolado de diversos sistemas maçônicos, que chegariam a compor 70 ritos
diferentes, a situação se torna bastante complicada. Cada Rito instala sua própria instituição e advoga
exclusividade e superioridade sobre os demais. Na prática, são várias maçonarias particulares e sem nexo
necessário entre si. Desse período podemos lembrar a Ordem dos Sacerdotes Eleitos do Universo (Elus
Cohen), da Estrita Observância Templária e do descendente direto desses dois sistemas, ou seja, o Regime
Escocês Retificado, entre muitos outros.
Em 1758, é criado o Rito de Perfeição ou de Heredom, com 25 Graus, que constitui o sistema mais longo
e bem estruturado de Graus do período.
Os Graus eram praticados nas Lojas sem quaisquer divisões administrativas entre Graus Simbólicos e
Graus Filosóficos.
Ao estudarmos essa fase da formação dos ritos, veremos que, de fato, os ritos eram criados por estudiosos
e estes autorizavam, de maneira pessoal, a outros Irmãos para que propagassem seu sistema ritualístico
e fundassem corpos que o praticassem e difundissem. Isso era feito via “patente”.
Uma patente, em sua definição original, é uma concessão pública, conferida por um Estado a um titular
que garante a este a exclusividade para explorar comercialmente a sua criação.
As primeiras patentes das quais se têm notícias são de 1421 em Florença, na Itália. Felippo Brunelleschi
inventara um dispositivo para o transporte de mármore e o patenteou. Na Inglaterra, em 1449, John de
Utynam recebeu, através de uma patente, o monopólio de 20 anos sobre um processo que inventou para
a produção de vitrais.
A primeira lei de regulamentação de patentes tem a data de 1474 em Veneza, surgida pela necessidade
de proteger com exclusividade o invento e o inventor, concedendo licença para a exploração,
reconhecendo direitos autorais e sugerindo regras para a aplicação no âmbito da produção.
Com base nessa ideia, ou seja, nas PATENTES COMERCIAIS E INDUSTRIAIS, surgiram as primeiras “patentes
maçônicas”, que tinham por objetivo proteger a invenção dos criadores dos ritos e dos sistemas.
As patentes eram pessoais e, algumas, eram até hereditariamente herdadas, como um título transmissível
para os herdeiros.
Os critérios para a concessão de uma patente referente a um rito ou a um sistema particular de Maçonaria
eram dados pelos criadores. As patentes eram cartas de autorização que traziam expressas os poderes
dados aos seus portadores.
Os poderes dos criadores, após a morte deles ou quando se formasse um corpo suficientemente grande
de praticantes do sistema, eram transferidos a um chefe nomeado sucessor.
Só muito tempo depois haveria uma harmonização e uniformização dos Ritos sob a égide de Potências
Simbólicas e “Filosóficas” com a sua consequente divisão.
Fim da Aula 06
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A Alquimia na Maçonaria - Aula 6.pdf • 11 páginas <anexado: 00000393-A Alquimia na Maçonaria - Aula
6.pdf>
Caro mestre, seria correto dizer que os graus superiores aos graus simbólicos são seus
comentários, de acordo com o criador do rito?
Eu diria que são desdobramentos, com ênfases diferentes em cada Rito...
O curso está simplesmente fantástico, não tenho palavras para descrever o quanto está sendo
enriquecedor para mim, tanto em termos de cultura geral quanto para a minha trajetória
maçônica, Até ao ponto de estar sendo convidado a preencher o tempo de estudos em lojas de
aprendiz e companheiro.
Gratidão imensa ao mestre André e a todos os colegas.
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A Câmara de Reflexão é um elemento presente em quase todos os Ritos Maçônicos. Trata-se de uma
saleta sem janelas, que pode ser revestida de preto ou de pedras nuas, na qual o candidato à Iniciação é
encerrado logo ao ser introduzido no local onde ocorrerá o rito.
Na Câmara de Reflexão, o candidato é introduzido vendado, sendo lhe retirada a venda tão logo esteja
em seu interior. Há algumas variações em sua decoração, mas, de um modo geral, sempre há: um crânio,
uma fraca luminosidade, a divisa “V.I.T.R.I.O.L.”, a divisa “Vigilância e Perseverança”, a representação de
um galo, enxofre e mercúrio, pão, água, uma ampulheta, uma mesa onde está seu “testamento filosófico”,
material de escrita e algumas frases escritas nas paredes.
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Se nos aprofundarmos no sentido simbólico ali presente, encontraremos diversas camadas de significados
que, na maioria das vezes, permanecem ocultas até ao Mestre Maçom não muito afeito aos estudos...
Na Índia, o negro é, em geral, cor da Substância universal (Prakriti), da prima matéria, da indiferenciação
primordial, do caos original, das águas inferiores, do Norte, da morte: uma associação de ideias que se
mantém do NIGREDO HERMÉTICO...
O negro é também, como já citamos, a terra fértil, receptáculo da semente, da terra que contém os
túmulos, tornando-se assim a morada dos mortos e preparando seu renascimento.
Na Alquimia, o Nigredo é a negrura perfeita que se estabelece durante a dissolução da matéria. Seu nome
é PUTREFAÇÃO e seu símbolo é SATURNO.
O profano é enterrado, é devolvido às profundezas indiferenciadas, é encerrado em um local de MORTE,
onde ocorrerá a dissolução, a putrefação e onde deverá ocorrer a verdadeira mutação das naturezas.
“Essa massa negra é a chave, o começo, o sinal de uma perfeita maneira de operar o segundo regime de
nossa Pedra preciosa. Assim Hermes disse, vendo este enegrecimento: ‘Crede que vós haveis operado pela
boa via. (...) Cuidai, portanto, docemente, a fim de que ele, cuidado, fique primeiramente Negro, depois
Branco, em seguida Cítrico e Vermelho e, finalmente, Púrpura’” (Le texte d’Alchimie).
1.b. Mercúrio
O mercúrio é um símbolo alquímico universal e geralmente do princípio passivo e úmido. O retorno ao mercúrio é,
alquimicamente, a solução, a regressão ao estado indiferenciado. O mercúrio é servidor do enxofre, do qual
falaremos mais adiante.
No simbolismo astrológico, mercúrio vem imediatamente após o Sol, astro da vida, e da Lua, astro da geração, isto
é, da manifestação da vida no nosso mundo transitório. Se o Sol é o Pai Celeste, e a Lua, a Mãe Universal, Mercúrio
se apresenta como o filho deles, o Mediador.
Vizinho mais próximo do Sol, Mercúrio é o planeta mais rápido, de movimentos incessantes. Mercúrio, o deus da
mitologia, diligente e provido de asas nos pés, tinha o ofício de mensageiro do Olimpo. Mercúrio é essencialmente
um princípio de ligação, de intercâmbios e de adaptação.
Se nos recordarmos que o atributo de Mercúrio é o Caduceu, veremos que esse símbolo representa uma natureza
dualista, na qual se confrontam os princípios contrários e complementares: trevas-luz, baixo-alto, esquerda-direita,
feminino-masculino. Essa circulação interna constitui a condição inicial do desenvolvimento da inteligência:
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separar as coisas para não mais se confundir com elas e tomar distâncias em relação a si mesmo. Esse jogo contribui
para guiar o instinto, reprimir a vida sensível, afirmar o mundo da razão.
Na Câmara de Reflexão, o Mercúrio é, sobretudo, representado pelo galo. A ave aparece ao lado de Mercúrio, em
algumas representações.
O galo é, universalmente, um símbolo solar, porque seu canto anuncia o nascimento do Sol. Por anunciar o Sol ele
tem poderes contra as influências maléficas da noite.
No livro de Jó, o galo é símbolo da inteligência recebida de Deus. Como o Messias, o galo anuncia o dia que sucede
a noite. No mais alto das flechas das igrejas e das torres das catedrais, figura o galo, evocando a supremacia do
espiritual na vida humana, a origem celeste da iluminação salvífica, a vigilância da alma atenta para perceber, nas
trevas da noite que morre, os primeiros clarões do espírito que se levanta.
O galo dos campanários proviria da conformidade do galo que anuncia o dia com o Sol no pensamento Mazdeísta.
O Talmud mostra o galo como um mestre de polidez, sem dúvida porque ele apresenta seu senhor, o Sol,
anunciando-o com seu canto.
Como símbolo maçônico, o galo é, ao mesmo tempo, símbolo da vigilância e do advento da luz iniciática,
correspondendo ao mercúrio alquímico.
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Na Alquimia, o mercúrio é um elemento específico, comum a todos os metais, como se fosse o elemento comum,
a semente primeira da qual se originam as várias espécies de minérios. Por isso, nos escritos alquímicos, é comum
o uso de expressões como “mercúrio do cobre, “mercúrio do ferro”, “mercúrio da prata” etc.
O mercúrio alquímico contém a semente da Pedra Filosofal.
Lamentavelmente, a imensa maioria daqueles que foram iniciados na Maçonaria não recebem qualquer instrução
sobre o simbolismo contido na Câmara de Reflexão. Quando muito, umas poucas noções superficiais apenas
relativas ao caráter funerário e relativo à vaidade.
1.c. Sal
Os vários aspectos simbólicos do sal resultam do fato de que ele é extraído da água do mar através de um processo
de evaporação. É, dessa maneira, considerado como um “fogo” liberto das águas, ao mesmo tempo quintessência
e oposição.
É com a ajuda do sal extraído das águas primordiais remexidas pela lança de Izanagi, na mitologia japonesa, que é
constituída a primeira ilha. O grão de sal misturado e derretido na água é um símbolo tântrico da reabsorção do Eu
no Absoluto.
O sal é o conservador de alimentos e o destruidor da corrosão. Por isso, seu símbolo se aplica à lei das
transmutações físicas e à lei das transmutações morais e espirituais.
O condimento essencial e fisiologicamente necessário é evocado na liturgia batismal: é o sal da sabedoria, símbolo
do alimento espiritual. O sal era, para os hebreus, um elemento importante de ritual: toda vítima tinha de ser
consagrada pelo sal. O consumo do sal em comum toma, às vezes, o valor de uma comunhão, de um laço de
fraternidade. Compartilha-se o sal como o pão.
O sal, combinação e neutralização de duas substâncias complementares, além de seu produto final, é formado de
cristais cúbicos: é a origem do simbolismo hermético. O sal é a resultante e o equilíbrio das propriedades de seus
componentes.
O sal simboliza também a incorruptibilidade. É por isso que a aliança do sal designa uma aliança que Deus não pode
romper (Nm. 18, 11; Cr. 13,5). Em Levítico (2,3) há alusão ao sal que deve acompanhar as oblações; enquanto sal
da aliança, sua presença é obrigatória em todo sacrifício. Consumir pão e sal com alguém, para os povos semitas,
significa uma amizade indestrutível. Encontra-se um sentido idêntico em Fílon, quando este descreve o alimento
dos Terapeutas no Shabat: pão, sal de hissope e água doce. Os pães da proposição eram acompanhados de sal.
Devido ao seu caráter ritual, o uso do sal será adotado pelos cristãos nos jejuns, no batismo etc.
O sal também pode ter todo um outro sentido simbólico e opor-se à fertilidade. Nesse caso, a terra salgada significa
terra árida, endurecida. Os romanos jogavam sal nas terras das cidades que destruíam para tornar o solo para
sempre estéril. Os místicos às vezes comparam a alma a uma terra salgada ou, ao contrário, a uma terra fertilizada
pelo orvalho da graça.
Para os gregos, assim como para os hebreus e árabes, o sal é o símbolo da amizade, da hospitalidade, porque é
compartilhado, e da palavra dada, porque seu sabor é indestrutível. Homero afirma seu caráter divino e ele é
empregado nos sacrifícios.
O sal é um dos mais importantes componentes da trindade alquímica presente na Câmara de Reflexão (mercúrio,
sal e enxofre).
Na obra alquímica “Rosarium Philosophorum” se lê:
“Quem conhece o sal e sua solução, conhece o segredo oculto pelos antigos Sábios. Portanto, orienta teu espírito
para o sal, pois só nele está escondida a ciência e o segredo mais oculto de todos os antigos filósofos”
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“O sal é aquele corpo seco e salino que protege as mesclas da putrefação, e possui maravilhosos poderes para
dissolver, aglutinar, limpar, evacuar, dar solidez, consistência e gosto(...) Parece terra, não como uma substância
fria e seca, senão como uma firme e fixa.”
O sal não é um princípio, mas uma consequência de união entre o enxofre e o mercúrio.
Na Câmara de Reflexão ele indica a purificação de tudo aquilo que é profano e, ao mesmo tempo, a conservação
dos elementos que não devem ser atingidos pelo processo de putrefação, ou seja, a Natureza Real do Ser.
1.d. Enxofre
O enxofre é o princípio ativo da alquimia, aquele que age sobre o mercúrio inerte e o fecunda, ou o mata. O enxofre
corresponde ao fogo, como o mercúrio corresponde à água. É o princípio gerador masculino, cuja ação sobre o
mercúrio produz os metais subterraneamente. Manifesta a vontade celeste (à qual, inclusive, a chuva de enxofre
sobre Sodoma corresponde) e a atividade do Espírito. O Enxofre vermelho do esoterismo islâmico designa o Homem
Universal – também representado pela fênix – portanto, o produto da obra vermelha hermética.
A ação do enxofre sobre o mercúrio o mata e, ao transmutá-lo, produz o cinabre que é uma droga da imortalidade.
A constante relação do enxofre com o fogo por vezes também o associa ao simbolismo infernal. No livro de Jó
(18,15), o enxofre aparece como um símbolo de esterilidade, à maneira de um desinfetante. Espalha-se na morado
do Rei dos terrores. É o aspecto infernal e destruidor do símbolo.
Segundo outra tradição, o enxofre simboliza o sopro ígneo e designa o esperma mineral. É, portanto, igualmente
associado ao princípio ativo. Produz a luz ou a cor.
Segundo o simbolismo alquímico muçulmano, a alma que se encontra cristalizada numa dureza estéril deve ser
liquefeita e depois congelada, operações seguidas da fusão e da cristalização. As forças da alma são comparadas às
forças da natureza: calor, frio, umidade, secura. Na alma, as forças correspondentes têm relação com dois princípios
complementares, análogos ao enxofre e ao mercúrio na alquimia.
Para os alquimistas, o enxofre estava para o corpo como o sol está para o universo. O ouro, a luz, a cor amarela,
interpretadas no sentido infernal de seu símbolo, denotam o egoísmo orgulhoso que só busca a sabedoria em si
mesmo, que se torna a sua própria divindade, seu princípio e seu fim. É este lado nefasto do simbolismo do sol e
da cor amarela que o enxofre satânico representa na tradição cristã, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Sodoma é consumida por uma chuva de enxofre e a punição prometida aos maus, no livro de Jó usa essa mesma
imagem.
A chama amarela esfumaçada com enxofre é, para a Bíblia, essa antiluz atribuída ao orgulho de Lúcifer: a luz
transformada em trevas.
É um símbolo de culpa e punição, razão pela qual era empregado em certas tradições pré-cristãs para a purificação
dos culpados.
O enxofre contém três princípios úmidos: O primeiro desses princípios é, sobretudo, aéreo e ígneo; encontra-se nas
partes externas do enxofre, por causa da mesma grande volatilidade dos seus elementos que facilmente se
evaporam e consomem os corpos com os quais se põe em contato. O segundo princípio é fleumático, também
chamado aquoso; encontra-se colocado imediatamente sobre o precedente. O terceiro é radical, fixo, aderente às
partes internas só.
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Sabedoria ele estará colocado como pontífice, uma ponte entre Céu (Enxofre) e Terra (Mercúrio). Será também,
como o sol que é anunciado pelo Galo Mercurial, “LUZ DO MUNDO”.
Tais elementos também fazem a advertência de que, caso o maçom não esteja adequadamente motivado e
preparado, o enxofre se transformará em seu simbolismo nefasto, tornando-se símbolo de influências
subterrâneas, transmutando-se em uma explosão de orgulho e sensualidade, a luz transformada em trevas.
Fim da Aula 07
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AULA 07 – Parte 1
A Alquimia na Maçonaria Aula 7 - Parte 1.pdf • 3 páginas <anexado: 00000441-A Alquimia na Maçonaria
Aula 7 - Parte 1.pdf>
Meus prezados, tendo em vista que as aulas completas estão levando muito tempo para serem lidas, vou
enviar por partes.
Assim, quem sabe, conseguimos dinamizar um pouco.
Amados colegas e professor, meus compromissos impedem realizar as leituras de forma regular e
participativa, mas gostaria de pedir, que o curso tivesse sua continuidade, os PDFs das aulas são
preciosos, e serão para sempre materiais de leitura e consulta. Grato.
Essa "fase" poderia ser comparada à descida de Cristo aos infernos antes da Ascenção aos
céus? (O mesmo com Dante na divina comédia).
Exato. É a representação disso mesmo.
A ascensão aos céus passa pela descida aos infernos.
Top a aula. Já li duas vezes… ir absorvendo e aprofundando o ensinamento .
Caro, onde fica localizado o mercúrio na gravura?
Ainda não falamos sobre o mercúrio..., mas há ali duas representações mercuriais.
O sal e o enxofre estão representados sobre as taças
Ao centro, está o símbolo da terra.
O GALO é o símbolo mercurial maior.
A caveira tb se relaciona com mercúrio, uma vez que está ligada à ideia de rápida transformação.
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AULA 07 – Parte 2
A Alquimia na Maçonaria Aula 7 parte 2.pdf • 3 páginas <anexado: 00000485-A Alquimia na Maçonaria
Aula 7 parte 2.pdf>
Segunda parte da nossa aula 7
Aprendendo muito com essas aulas… ainda que o tema não me seja desconhecido, pouco
entendia. Vou confessar estar esperando muito essas parte
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Prof. André, depois que li a 2ª parte da aula, sobre o mercúrio, acho que comecei a
entender melhor o enfoque de Hermes no Egito helenista. Thot teria então esse mesmo
papel mediador entre Sol e Lua?
AULA 07 – Parte 3
A Alquimia na Maçonaria Aula 7 parte 3.pdf • 2 páginas <anexado: 00000495-A Alquimia na Maçonaria
Aula 7 parte 3.pdf>
Terceira parte da aula 7
Muito interessante essa questão do sal. Como um fogo sólido.
O material é excelente
Mas fiquei com uma dúvida na parte:
“O sal não é um princípio, mas uma consequência de união entre o enxofre e o mercúrio.”
Como é essa relação entre enxofre e mercúrio resultando o sal?
Vamos falar disso após falarmos do enxofre...
A trindade alquímica: Mercúrio, Sal e Enxofre...
Depois de estudarmos cada um separadamente, vamos ver as interações.
Eu coloquei o sal antes do enxofre, justamente para poder indicar essa interação...
Para não dar a impressão que são coisas que podem ser vistas sem relação uma com as outras
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AULA 07 – Parte 4
A Alquimia na Maçonaria Aula 7 parte 4.pdf • 2 páginas <anexado: 00000519-A Alquimia na Maçonaria
Aula 7 parte 4.pdf>
Eis aí solucionada a dúvida sobre a conjunção entre o mercúrio e o enxofre.
Aula sobre o enxofre.
Prezados alunos, bom dia.
Por favor, me deem algum retorno sobre as aulas.
Vcs estão silentes e não sei como estão indo.
As aulas 7 estão sendo de grande importância pra mim... está me tirando diversas dúvidas...
Perdão a falta de retorno, professor.
Achei interessante que na aula 4, a dualidade dos símbolos fica mais evidente. O
simbolismo do enxofre deixa bem claro o perigo de uma caminhada desmotivada e
despreparada.
Agora, o enxofre tem essa relação com o fogo, mas também o sal, pois não? O fogo está
presente sempre nessa tríade?
Compartilho do mesmo sentimento... As aulas estão sendo muito didáticas para um tema tão difícil
e profundo...
Gostei também do modelo que divide a aula em partes... Para mim está funcionando muito bem...
Ainda não terminei a aula 7 mestre
Bom dia, professor. Estava um pouco atrasado, mas já consegui acompanhar agora todas as aulas.
Sem dúvidas, o conteúdo está muito bem explicado.
O fogo é o veículo transformador nas operações alquímicas...Igne Natura Renovatur Integra (INRI), "O
Fogo Renova Completamente a Natureza"
Ele está presente na Câmara de Reflexão com a vela.
Neste caso, poderíamos entender o fogo tanto como sabedoria, quanto como ascese?
O fogo é símbolo do espírito, essência de todo o manifesto e também do potencial
Exatamente. Tapas, em sânscrito, quer dizer "aquecer", "esquentar"
É sinônimo de ascese
तपस्विन् tapasvin, é o asceta.
A Sabedoria é simbolizada como um fogo que destrói os apegos, a ignorância e as ilusões.
O entendimento da alquimia ajuda muito a compreender esse poder transformador. Da pra ver
porque era uma arte tão valorizada nos tempos antigos.
Pode-se dizer que esse fogo é a essência de Kether?
Kether é a essência do fogo.
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O fogo manifesta-se como luz e calor. O aspecto superior do fogo é a Luz, atributo de Kether.
Mas a Luz de Kether é imanifesta. Por isso disse que ela é a essência do fogo, e não o fogo a sua essência.
Seria correto dizer que a luz imanifesta de Kether são as possibilidades de manifestação e o calor
simboliza a manifestação?
Sim.
Como poderia ser simbolizado na luz da Câmara de Reflexão, o Não-ser?
Seria a cor negra dela?
Nossa, então é esse o significado de INRI. Obrigado.
Sim. O imanifesto, o dissolvido, o indiferenciado...
As águas primordiais e sua escuridão indivisa.
https://artsandculture.google.com/story/VwVBVNsqojSbJQ?hl=pt-PT
Achei muito bacana essa página do google.
Idem.
AULA 07 – Parte 5
Meus prezados, tendo em vista que o formato atual de aula está tendo uma baixa interatividade, e que o
grupo está um pouco frio, vou continuar a aula 7 por aqui e vamos trocando ideia em tempo real...
Vamos falar um pouco sobre o simbolismo do crânio na câmara de reflexão...
O crânio simboliza, em primeira mão, a morte, a transitoriedade, o fato de que todos nós, mais dia menos
dia, vamos morrer.
Memento mori
Essa expressão é latina mestre?
Sim. "Lembra-te da morte". Dentro de uma perspectiva alquímica, o crânio atua como lembrete de
TRANSFORMAÇÃO.
Na Câmara de Reflexão, ele lembra a "putrefactio" concluída, de onde surge algo "seco" e "branco"
O crânio, seco, lembra uma abóboda.
É a abóboda do corpo, o "céu" do microcosmo.
O crânio indica a transformação, a finalização da obra em negro, o início da "alvedo"
Por isso a ideia de seco e branco...
Sim...
Ossos secos.
Os ossos são a conclusão do processo de putrefação.
Como os ossos se livram da carne preta e podre...
Ao mesmo tempo, eles revelam algo oculto...
Uma vez que eles permanecem escondidos no ser humano vivo.
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Não. A Câmara de Reflexão nós encerramos com o crânio. A espada é utilizada, na maioria dos ritos para
sagrar o novo maçom.
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1. A Calcinato
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Boa tarde, Professor. Conseguirei ler e meditar adequadamente a respeito das postagens de
ontem e hj no período noturno. Mas adianto que estou admirado do poder de síntese da essência
desses ensinamentos.
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2. A Estrela Flamejante
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Nós já vimos o simbolismo desses instrumentos no curso aberto sobre a Maçonaria Simbólica na ETP.
Então, vamos abordar agora as relações entre o número 5 e o processo de calcinação.
O 5 é o número do homem.
O pentagrama representa o homem de braços e pernas abertos.
E é também o número dos elementos alquímicos: Terra, Água,
Fogo, Ar e Quintessência ou Éter.
O homem-pentagrama, então, é símbolo do microcosmo e das
correspondências entre macro e microcosmo.
Assim como a Estrela Flamejante, símbolo da calcinação, é um
pentagrama, também o homem iniciado deve tomar consciência
de que é também ele um pentagrama, um microcosmo que, em
acordo com a lei das correspondências, deve estar em harmonia
com o macrocosmo.
É essa relação que é explorada durante as viagens e culmina com a contemplação da Estrela Flamejante...
A mensagem oculta aí é: Trabalhe os cinco sentidos, domine-os, purifique-os, domine a matéria e calcine
as impurezas. No centro de si mesmo encontrarás a GNOSE...
A letra G no centro da estrela flamejante? 👏🏻👏🏻👏🏻 A radiância do princípio superior.
Exato.
5 viagens, até que seja possível contemplar o fogo purificador que revela a GNOSE e a verdadeira
GEOMETRIA.
Mestre e as cinco ordens de arquitetura representadas pelas cinco colunas: jônica, dórica, coríntia,
toscana e composita?
No ritual de elevação ao grau de companheiro, as viagens são feitas tendo elas como referência, o
que devemos absorver dessa experiência?
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Exato.
O Companheiro deve conhecer BEM as "Ordens de Arquitetura"...
A mente-individualidade é a nossa personalidade?
Deve executá-las na pedra...
A ideia de que somos alguém em separado do todo?
Não. Personalidade é o Eu Verdadeiro. O termo vem de "persona", uma máscara que faz ressoar a voz.
Nós fazemos ressoar o Absoluto, como as ondas são a "voz" do oceano. A individualidade é nossa
realidade temporal, provisória.
Entendi mestre. Para tanto deve usar a pedra cúbica? Para afiar os instrumentos necessários para
a execução da pedra?
Ele deve ser capaz de executar o trabalho de união...Pirâmide e Cubo...Matéria e Espírito. Só assim será
capaz de executar os detalhes dos capitéis...
Mestre a personalidade entendida como o Eu Verdadeiro tem individualidade também? Ou seja,
depois da minha morte o que permanece de mim terá consciência de que um dia se manifestou
nessa forma que tenho atualmente?
Não. Isso é uma ilusão. Forma é insubstancial. Anātman...
Diluímos no todo?
Qual a diferença entre as ondas e o oceano?
Nenhuma. As ondas fazem parte do oceano.
Nós somos as ondas...
Deixo aberto o espaço para as perguntas.
E assim, encerramos a aula 8
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E o que sobra?
Ouro puro
Lembre-se do vitriolo, o leão verde... É um ácido que corrói tudo, menos o ouro.
Entendi mestre, muito obrigado por me ajudar a dissipar um pouco da minha ignorância.
Mestre teremos mais duas aulas, não é isso? Desculpa a ansiedade, mas o senhor já tem previsão
de quando inicia o próximo curso sobre maçonaria?
Mais aprendizado.
Teve alguns temas anteriores sugeridos, bem interessantes.
Exato, mais duas aulas.
Tão logo acabemos esse curso, vou propor o tema dos próximos.
Maravilha.
André, boa noite. Em função do trabalho, tenho dificuldade para acompanhar pelo
WhatsApp. Vamos ter um pdf dessa parte? Me viro se não tiver.
Olá, não teremos, a não ser que algum aluno se disponha a reunir as falas em um pdf. O formato de pdf
tem a vantagem para os alunos consultarem o material, mas, às vezes, estimula um pouca a postura de
"não preciso ver isso agora, está tudo no pdf mesmo". Isso acaba engessando um pouco a dinâmica e a
participação. Este curso, por exemplo, está demorando muito mais do que devia. O estilo pdf faz com que
o pessoal demore muito para responder, ler e participar.
Para o ministrante, é muito complicado, uma vez que há pouco ou nenhum retorno sobre o que foi escrito.
A minha preocupação é que os alunos entendam, de fato, o material que foi passado. Que haja interação
e instrução.
Respeito a decisão do prof. Eu realmente gostaria de poder guardar todas as aulas em pdf, talvez
até imprimir e guardar o livro para consultas futuras.... mas se o prof. acha melhor assim...
Eu imprimi todas as aulas que o professor preparou e nos deu o pdf.
Já encadernei e será a minha fonte de consultas sobre o tema alquimia.
Pois é, essa era minha ideia após as 10 aulas ...
Mas acredito que algum aluno, deve nos fazer a grande gentileza de transformar a aula 8
em PDF.
Professor, Um esclarecimento: Quando o senhor diz executar os detalhes nos capitéis, tá querendo
dizer de refinamento dos sentidos/artes representados pelas ordens de Arquitetura?
Exatamente isso. A purificação dos sentidos.
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A está altura em que o sangue do leão verde agiu até mesmo sobre a matéria perfeitamente
lapidada (a pedra cúbica), se pode entender que a calcinação neste grau é de alguém que em
condição humana realizou todas as suas potencialidades e agora alcançou o patamar de adepto
maior? Ou ele continua nos mistérios menores?
Digo isso pq calcinar nesse ponto parece dar o entender que se completou toda a via unitiva. Quase
que uma natureza búdica se assim se pode considerar.
É isso mesmo? Estou aprendendo ainda, possivelmente estou até mesmo fazendo confusão de
termos. Mas estou bem-disposto a aprender.
A Maçonaria só trata de Mistérios Menores. Realização de Potencialidades Humanas.
Entendi
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O senhor tem notícias se no ritual de emulação tbm já constou a pedra cúbica nesses moldes? Em
uma publicação da Lewis aparentemente o painel mostra a pedra cúbica na forma mais tosca. Sabe
se ela tbm sofreu essa alteração nesse ritual tbm?
Fim da Aula 08
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1. Putrefatio e Renascimento
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Tudo sim.
Ok professor.
Vamos passar então a falar um pouco sobre a figura do "orvalho".
Como já havíamos citado, o orvalho é símbolo da influência celeste.
O orvalho faz com que as sementes depositadas na terra floresçam.
O orvalho aparece no Grau de Mestre em forma de lágrimas.
A Câmara do Meio, onde se reúnem os Mestres, é forrada de negro
e salpicada de lágrimas.
A influência celeste deve permear a purificação dos materiais, ou
tudo será em vão...
Nesse sentido, se os obreiros não exercerem o "magnetismo"
adequado, não virá o orvalho...
O orvalho sobre a terra negra é sinal de concepção. O rocio é o
veículo por onde circula o "sal imantado" com as virtudes do céu.
Ele encerra o Espírito Universal.
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Página 110
Ao simbolismo dos planetas, eu acrescentaria também que há um simbolismo negativo, que é explorado
no Grau 1, quando o candidato é desprovido dos metais.
Simbolismo
Planeta Elemento Direção Pulsões Anjo Cabalístico
Negativo
SOL Ouro Zênite Vontade Miguel -> Iluminar o Mundo Orgulho
LUA Prata Nadir Imaginação Gabriel -> Dar Força da Esperança Preguiça
MERCÚRIO Mercúrio Centro Movimento e Intuição Rafael -> Civilizar Inveja
VÊNUS Cobre Oeste Amor e Relações Amael -> Amar Luxúria
MARTE Ferro Sul Ação e Destruição Samael -> Destruir Cólera
JÚPITER Estanho Leste Julgamento e Direção Zacariel -> Organizar Gula
SATURNO Chumbo Norte Paciência e Perseverança Orifiel -> Fiscalizar Avareza
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Página 111
Nesta morte, só as raízes que compõem a essência do "misto" ou seu "magnetismo" específico, e que
contém sua virtude vegetativa e gerativa, permanecem sem lesão alguma.
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Com isso, finalizamos a Aula 9 e abrimos espaço para perguntas, comentários etc.
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Fim da Aula 09
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1. A Imortalidade
2. A Pedra Filosofal
Em relação à Pedra Filosofal como aquela que concede a imortalidade, devemos considerar que a pedra,
de modo geral, é símbolo do polo, do centro, da montanha sagrada e também do umbigo do Mundo.
A Pedra Filosofal é o agente transmutador, a Quintessência, a condensação dos opostos. É a chave dos
conhecimentos. Em outras palavras, é a realização do Adeptado Menor.
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Lembremos que o Caduceu é atributo de Hermes ou Mercúrio, um bastão em torno do qual se enrolam
duas serpentes que representam o antagonismo e o equilíbrio das correntes cósmicas...Macho e fêmea,
Yang e Yin, Matéria e Espírito, Enxofre e Mercúrio, úmido e seco, quente e frio, água e fogo. É a conjunção
harmônica de opostos. No Caduceu estão simbolizadas as Três Obras: Enxofre e Mercúrio, suas
sublimações, e a Pedra Filosofal...
A Pedra Filosofal permite que todo "metal vulgar" seja transformado em ouro.
4. Conclusão do Curso
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Perfeita a exposição, Mestre André. Eu que agradeço tanto conhecimento ter sido fornecido pelo
sr. a um valor tão acessível, que não paga nem de perto os anos de estudo necessários para
compilar e sintetizar todos estes temas. Foi um curso muito proveitoso e aprendi muito com as
aulas. Estarei presente nos próximos.
Em que se diferem a imortalidade obtida pela religião da imortalidade obtida pela
alquimia?
Uma é obtida nessa vida presente, a outra, só pós-morte, num período que pode se estender
indefinidamente.
Qual seria a " vantagem" de uma sobre a outra?
Em uma há garantia, na outra, nenhuma. Em uma, vc pode ascender a graus ainda maiores de realização,
na outra, isso pode acontecer ou não...
Então, não estão no mesmo " status" ontológico?
Não. A via iniciática é superior à via religiosa.
Fantástico esse curso mestre André, com toda a certeza estarei presente em todas as futuras
turmas, muito obrigado por compartilhar conosco tanto conhecimento
Obrigado!! Aproveito para agradecer ao Mestre pela generosidade em nos oferecer seu
conhecimento e transformar num material ímpar.
Professor, Um curso sem precedentes em relação a uma temática maçônica tão pouco explorada
com essa profundidade. Certamente as aulas serão revisitadas infindáveis vezes. Faço votos de
que um dia essas lições sejam estruturadas em mais uma obra de sua autoria. A matéria é secular,
sabemos disso, mas seriam inacessíveis sem as suas profundas reflexões, horas de estudo e
didática impecável na transmissão. O esforço na transmissão fidedigna revela o seu amor pela
Tradição. Um mestre. Um verdadeiro professor. Que tenha saúde e vida longa pra nos agraciar
com mais conhecimentos como esse.
Muito obrigado pelo curso e pela paciência em tirar nossas duvidas e se colocar a nossa
disposição para nos ajudar.
Professor, Sem dúvida alguma a ETP e agora esse formato de cursos fechados, que pelo seu
conteúdo profundo e didática impecável são oferecidos por um valor acessível, que nem de longe
fariam jus a tamanho conhecimento, tem sido um divisor de águas na minha vida e na busca por
conhecimento, e por consequência tem havido reflexos notáveis em minha trajetória nesta vida.
Sou imensamente grato a ETP e aos professores. Grande abraço!
Professor, Muito obrigado pelo curso. O trabalho executado para compilar e transmitir
todo este conhecimento é admirável.
Fim da Aula 10
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EMENTA DO CURSO
- História;
- Alquimia interior.
- O Hermetismo no Renascimento;
- Hermetismo Cristão;
- Hermetismo e Ciência.
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- Rosacrucianismo e Maçonaria.
- A Estrela Flamejante;
- Pedra Filosofal;
- O Caduceu de Hermes;
- Conclusão do curso.
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ENCARTES
1. a Quadratura do Círculo
Irm.˙. André Otávio Assis Muniz, Grande Secretário de Educação e Cultura do S.˙.C.˙. F.˙.R.˙.M.˙.B.˙. e Grande
Secretário de Educação e Cultura Adjunto do E.˙.C.˙.M.˙.A.˙.B.˙.
Diversos rituais maçônicos dos Altos Graus fazem referências à “quadratura do círculo”, expressão que soa
misteriosa e paradoxal a muitos Irmãos.
Tentarei explicar, de maneira simples, do que se trata e quais as relações com a Doutrina Maçônica.
I. O problema na Antiguidade.
A quadratura do círculo foi proposta como um problema geométrico pelos antigos gregos.
Os geômetras desejavam saber se é possível construir um quadrado com a mesma área de um círculo qualquer se
servindo de uma régua e de um compasso, usando um número determinado de etapas.
O problema era considerado muito difícil, mas não impossível.
Anaxágoras, segundo o relato de Plutarco, relata que aquele se dedicou a tentar resolver o problema enquanto
esteve preso.
Vários métodos foram propostos para se tentar solucionar o problema, como método de Dinostrato (350 a.E.C.) e
a quadratriz de Hipias (c. 420 a.E.C.).
Em 1882, com a prova relativa ao π (pi), como número transcendente (número real ou complexo que não é raiz
de nenhuma equação polinomial a coeficientes racionais), Ferdinand Lindemann estabeleceu a impossibilidade de
se resolver a quadratura do círculo, ou seja, é impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um
quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de um determinado círculo.
O círculo é um ponto estendido, ou seja, ponto e círculo possuem propriedades simbólicas comuns: perfeição,
homogeneidade, ausência de distinção ou de divisão. O círculo pode também simbolizar não apenas as perfeições
ocultas do ponto primordial, mas os efeitos criados.
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O círculo simboliza o céu cósmico, particularmente em suas relações com a terra. O círculo, nesse contexto,
simboliza a atividade celeste, sua inserção dinâmica no cosmo, sua causalidade, sua exemplaridade, seu papel
providente. É nessa linha que vai se juntar aos símbolos da divindade voltada para a criação, cuja vida ela produz,
regula e ordena.
Segundo os textos de filósofos e de teólogos, o círculo pode simbolizar a divindade considerada não apenas em sua
imutabilidade, mas também em sua bondade difundida como origem, substância e consumação de todas as coisas.
O círculo é o signo da Unidade de princípio, e também o do Céu: indica a atividade e os movimentos cíclicos. Sendo
assim, figura os ciclos celestiais, as revoluções planetárias, o ciclo anual representado pelo zodíaco.
A idéia de “unidade de princípio” evoca a idéia de harmonia e isso explica a razão pela qual as normas
arquitetônicas se baseiem, frequentemente na divisão do círculo.
O círculo é também símbolo do tempo. Os babilônios utilizaram-no para medir o tempo: dividiram-no em 360 graus,
decomposto em seis segmentos de 60 graus. A palavra babilônica para círculo, shar, é a mesma para o universo, o
cosmo.
A religião babilônica retirou dessa idéia a noção de tempo infinito, cíclico, universal, que foi transmitida para a
Antiguidade através da imagem da serpente que morde a própria cauda.
Na cultura celta o círculo tem função e valor mágicos. Simboliza um limite mágico intransponível. É, ao mesmo
tempo, mágico e celeste.
O quadrado é uma das figuras geométricas que mais frequentemente são empregadas na linguagem simbólica. É,
junto com o centro, o círculo e a cruz, um dos quatro símbolos fundamentais.
Simboliza a terra, em oposição ao céu, é também, em outro nível de interpretação, símbolo do universo criado,
antítese do incriado e transcendente.
O quadrado é figura antidinâmica, representa a interrupção, o instante retido, estagnação, solidificação. Nesse
sentido, quando empregado em um uso simbólico sagrado, representa a estabilização da perfeição.
Altares, templos e espaços sagrados quadrados dão a idéia do mundo material perfectível, que se inscreve no
tempo e no espaço, buscando o pela comunhão com o círculo e seu dinamismo, homogeneidade e perfeição.
O cubo, ainda mais que o quadrado, simboliza a solidificação, a estabilidade, a parada do desenvolvimento cíclico,
pois determina e fixa o espaço em suas três dimensões. Corresponde ao elemento mineral, ao pólo substancial da
manifestação.
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Podemos interpretá-las em dois níveis: Em um nível moral, contingente, e em um nível superior, puramente
metafísico.
Em um nível moral, a relação da quadratura do círculo está intimamente ligada ao simbolismo do esquadro e do
compasso, símbolos universais da Maçonaria.
O quadrado é a reta ação, relacionado ao esquadro e à régua. A ação regulada pela moral maçônica, pelo bom
senso, pela prudência e por todas as virtudes, o “quadrado” da retidão, deve buscar a perfeição possível e bem
calculada dentro dos limites possíveis à angulação das pernas do compasso, que simboliza o espírito, o raciocínio,
a abertura a uma moral cuja raiz é transcendente, o “círculo”.
Dessa forma, o “quadrado” está limitado pelo “círculo” se busca a ação correta, a “quadratura”, em acordo com
um raciocínio superior, uma abertura ao transcendente, ou seja, o “círculo”.
Num nível superior, metafísico, a quadratura do círculo está ligada ao processo de divinização do iniciado. Buscar
a identificação e a fusão, a mesma medida, daquilo que é meramente humano, a quadratura, no transcendente e
metafísico, o
Absoluto, o Ser, o círculo.
A identidade entre a Verdadeira Natureza Transcendente e a natureza humana, limitada, até que ambas formem
uma só e mesma figura, a quadratura do círculo...
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Endereços
https://www.newtonproject.ox.ac.uk/texts/newtons-works/alchemical;
https://en.wikipedia.org/wiki/Planet_symbols. Esse artigo está bem escrito. Vale a pena ler.
https://www.myindiamyglory.com/2019/12/18/nagarjuna-wizard-in-alchemy-metallurgy-introduced-
gold-shine-mechanism/
https://artsandculture.google.com/story/VwVBVNsqojSbJQ?hl=pt-PT.
Livros
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