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DE TEOLOGIA
IAENE - 1994
PROF. JOÃO ANTONIO
FILOSOFIA
ADOLF VON HARNACK escreveu uma obra teológica em que diz que
o catolicismo é o resultado da mistura do cristianismo com o
pensamento da antiguidade (clássico: Sócrates, Platão e Aristóte-
les; e pré-clássico). Acrescenta: a dogmática católica é o
Cristianismo concebido e formulado desde o ponto de vista da
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filosofia grega.
Não só Harnack e outros protestantes, mas também pensadores
católicos, como HANS KÜNG.
A igreja católica considera a filosofia de AQUINO como
INSPIRADA. O concílio Vaticano I considerou-o como Doutor
Angélico, o que significa que a base para a teologia católica de
hoje é a obra de Aquino (este é o pensamento oficial da igreja
católica). As mudanças introduzidas pelo Vaticano II foram
superficiais; os conceitos básicos são TOMISTAS-ARISTOTELIANOS.
1? Estático X Dinâmico
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Spinoza, deve ser entendida em grande parte como reação aberta ou
velada contra Heráclito. Em Parmênides se apoia a filosofia da
natureza (Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito) com sua
concepção dos elementos (átomos) imutáveis, o mesmo que a
ontologia de Platão, passando pela escola eleática e a crítica do
conhecimento por parte dos primeiros sofistas.
Dentro da linha de Parmênides, e em grande medida contra uma
radical filosofia do devir, estão construídas: não só a teoria
dualista das idéias de Platão, com seu menosprezo do mundo das
mudanças, que são puro fenômeno, se não também a filosofia
aristotélica da "energia", que tende a explicar o movimento, porém
aferrando-se ao NOUS imóvel; assim como a dinâmica filosofia da
emanação de Plotino, com sua concepção do UNO original, que não
tem vida; e por fim, em dependência de tudo isto, a metafísica
escolástica da Idade Média.
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Heráclito conceberam seu logos como uma realidade impessoal. Para
o próprio Platão que submete a duras críticas o mundo dos deuses
homéricos, cheio de contradições, o princípio originário é
absolutamente imóvel e imutável. Porém no Timeu fala de um
demiurgo que, se bem não é o criador do mundo, sem dúvida é o seu
arquiteto e enquanto tal, está subordinado à idéia, de forma que
pelo menos pode duvidar-se de que se para Platão este demiurgo é o
único Deus no mais rigoroso sentido. Em todo caso, para Platão o
princípio supremo é o sol espiritual, que ele descreve nos livros
sete e oito da Politéia. Este sol espiritual é idéia do bem, que
se acha no cume da pirâmide das idéias. Ainda quando a idéia
suprema não esteja suficientemente ressaltada sobre as demais
idéias, sem dúvida, ela é o divino que se basta a si mesmo e ocupa
o trono na hierarquia do mundo eternamente imutável das idéias. Em
todo caso, se opõe totalmente ao deus Heráclito (e também ao dos
estóicos), isto é, a um deus que devem (devir = vir a ser). De
fato, ainda que o deus Heráclito esteja descrito como uma
realidade separada do todo, sem dúvida se identifica com a série
dos elementos que se contradizem e lutam entre si, com o fogo
vivente que, como alma e razão do mundo, penetra todo o universo
fluente e as contradições dos fenômenos em sua condição enigmática
e ambígua.
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No pensamento de Platão, o que mais persistentemente se
impôs, foi o rígido korismós entre o mundo das idéias de Deus (da
idéia do bem) e o mundo fenomênico dos sentidos (que é feito da
matéria má). Essa separação confere à filosofia platônica um traço
sumamente dualista e não permite uma interna relação ôntica entre
a idéia e a coisa; daqui provém a manifesta hostilidade de Platão
frente ao mundo da matéria e dos sentidos.
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revelar-se em um homem e identificar-se com ele? O que é todo
quietude imperturbável, o que se conhece somente a si mesmo sem
experimentar movimento, como ia rebaixar-se até fazer-se homem,
até tomar a natureza humana e converter-se em "carne" e homem
desprezível?
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Em Fédon, ele examina a objeção daqueles que negam à alma o
caráter substancial, dizendo que ela nada mais é do que um
epifenômeno do corpo: a alma não seria outra coisa que uma
concordância magnífica dos elementos constitutivos do corpo.
Platão refuta esta objeção, observando que a alma, longe de estar
em harmonia com o corpo, a- cha-se praticamente em permanente
discórdia com ele. De fato, as e- xigências da alma estão em
perene contraste com as do corpo. Por e- xemplo, "o corpo sente
ardência e sede, mas a alma, ao contrário, instiga-o a não beber;
sente a fome, e a alma instiga-o a não co- mer; e assim em mil
outros casos nos quais percebemos que a alma o- põe-se às paixões
do corpo". Para Platão, portanto, não existe ne- nhuma dúvida de
que a alma é uma substância, uma substância de na-tureza
espiritual, incorruptível e imortal. Ela própria constitui a
verdadeira e autêntica natureza essencial do homem. O homem é a
alma. O corpo é a prisão em que a alma espia as suas culpas.
Após Platão, o problema da substancialidade da alma continua
levantando controvérsias muito sérias, recebendo soluções diferen-
tes e discrepantes. Alguns autores (Agostinho, Descartes, Leib-
nitz), seguindo o exemplo de Platão, afirmam que a alma é uma ver-
dadeira substância e que sua substancialidade identifica-se com a
do homem. As razões alegadas para sustentar essa tese, são, em
par- te, de ordem gnosiológica (por exemplo, a posse de verdades
absolu- tas que não parecem extraídas da experiência).
Segundo outro grupo de filósofos ( Lucrécio, Pomponazzi, Ho-
bbes, Marx, Comte, os neopositivistas, os estruturalistas e muitos
outros pensadores contemporâneos), a alma não é absolutamente uma
substância, mas simplesmente um epifenômeno da corporeidade. São
notórias as razões aduzidas para sustentar esta posição. Na
opinião deles, a única fonte de todas as coisas é a matéria. Dela
se desen- volve tudo aquilo que observamos no universo, inclusive
o homem. (Mesmo o que de mais elevado e sublime existe nele, como
a ciência, a arte e a moral, é fruto da inexaurível potência da
maté- ria). Portanto, até o conjunto daqueles aspectos superiores
do ho-mem, os quais são explicados comumente postulando-se a
existência da alma, não é fruto de "um espírito que habita a
máquina", mas sim o resul- tado mais ou menos casual de um alto
grau de evolução da matéria.
Segundo Tomás de Aquino, que sobre esse ponto julga
interpretar o pensamento autêntico de Aristóteles; conforme o
grande grupo de discípulos que teve o Aquinate durante a chamada
II Escolástica (Silvestre, Gaetano, Suárez) e durante o
renascimento neotomista (Mercier, Gilson, Maritain, Masnovo, De
Finance, etc.), a posse, por parte do homem, de uma alma
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espiritual é uma verdade indiscutível. Porém, eles não partilham
da tese de Platão segundo a qual a alma identifica-se com o homem,
pois a alma por si só não está em condições de desenvolver todas
as atividades típicas do homem, como sentir, falar, trabalhar,
jogar, etc. Entretanto, sendo a alma dotada de algumas atividades
próprias, como refletir, raciocinar, julgar, desejar livremente,
eles também afirmam que a alma possui um ato próprio de ser e que,
portanto, é uma substância completa: uma substância completa na
ordem da existência, mas não na ordem da especificação. Ela
consegue sua própria especificação na escala dos seres somente
quando se une ao corpo.
Finalmente, há um outro grupo de filósofos, encabeçados por
Hume e Kant, que por razões de ordem gnosiológica, nega que possa
ser resolvido o problema da substancialidade da alma. Este é um
problema relativo à "coisa em si", enquanto que a nossa mente é
competente somente no que diz respeito à esfera dos fenômenos.
Hoje, com a profunda crise que a metafísica vem atravessando e com
o ceticismo que está agredindo até a ciência, a posição agnóstica
de Kant e Hume encontra um número sempre maior de defensores.
Estreitamente vinculados ao problema da substancialidade da
alma, há, na antropologia três outros problemas principais: origem
da alma, relação da alma com o corpo e fim último do ser humano.
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Leibnitz, etc.).
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mais ilustres são Agostinho, Boaventura, Descartes, Malebranche e
Leibnitz. Todos esses autores consideram acidental a união entre
alma e corpo, isto é, uma união entre duas substâncias já inteira-
mente estruturadas, cada uma dotada de um ato próprio de ser, duas
substâncias absolutamente heterogêneas e, portanto, alheias a
qualquer ligação profunda e duradoura. Platão, como é notório,
compara a união da alma ao corpo àquela do timoneiro ao navio ou à
do cavaleiro ao cavalo. Malebranche fala de uma união meramente
ocasional; Leibnitz de uma harmonia preestabelecida. Descartes,
enfim, fixa uma localização exata para a ligação entre a alma e o
corpo: ela acontece na glândula pineal.
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muitos outros ainda.
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absoluta. Portanto, o homem logra a perpetuidade em seu lado
espiritual, ou seja, na alma, pela qual percebe o ser
absolutamente e conforme cada momento".
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caminho dentro da teologia cristã, onde têm criado problemas que
nunca teriam surgido se a base judaica do pensamento cristão
tivesse sido mantida em mente.
Paulo e Platonismo
by Ronald H. Nash
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Um Estudo das Alegações Maiores
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óbvio que neste verso Paulo não usa nem a palavra prisão
(phylake) nem a idéia de que o corpo é uma prisão da alma. Na
verdade, em nenhum lugar na Escritura Paulo escreve do corpo em
termos de uma prisão. Com toda probabilidade, Paulo neste verso
usou a palavra corpo metaforicamente.
O outro texto-prova de Gilbert é igualmente inútil em
estabelecer seu caso. Romanos 8:23 lê: "E não somente ela, mas
também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos
em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do
nosso corpo" (ARA). Se prova alguma coisa, este verso desaprova a
tese de Gilbert, desde que a redenção que Paulo espera é a glória
que seguirá sua ressurreição corporal, uma esperança não-
Platônica.
A próxima alegação de Gilbert é provavelmente central à
inteira questão da alegada dependência de Paulo do Platonismo.
Praticamente cada autor que alega tal dependência refere-se ao
repetido uso de Paulo da palavra "carne" em contextos associados
com mal. O que poderia ser mais natural para qualquer escritor que
aborda os escritos de Paulo já convencido de que Paulo é um
Platonista do que concluir que sua visão da carne é uma reflexão
da crença Helenística de que matéria e corpo são maus? É certo que
Paulo repetidamente descreve um conflito moral. Platão descreveu
uma luta similar entre a razão e o desejo. Os dualistas
posteriores viam a luta em termos de um conflito entre corpo e
espírito. Paulo identifica os antagonistas como carne e espírito.
O filósofo Gordon Clark adverte contra uma leitura desatenta de
Paulo que faria o termo "carne" usado por Paulo significar
"corpo". Em vez disto, diz Clark, "um pouco de atenção torna claro
que significa, não corpo, mas a natureza humana pecaminosa herdada
de Adão." O teólogo J. Gresham Machen apresenta o real significado
do uso de Paulo do termo carne.
O uso Paulino do termo "carne"... não encontra real paralelo
no uso pagão. E a divergência aparece não somente na terminologia
mas também no pensamento. À primeira vista pode parecer haver um
paralelo entre a doutrina Paulina da carne e a doutrina grega da
matéria má, que apareceu nas seitas Órficas, em Platão e seus
sucessores. Mas o paralelo não resiste a um exame mais atento.
Segundo Platão, o corpo é mau porque é material; é a prisão da
alma. Nada poderia estar mais distante do pensamento de Paulo. De
acordo com Paulo, a ligação da alma e o corpo é inteiramente
normal, e a alma à parte do corpo está em uma condição de nudez. É
verdade, o corpo será mudado na ressurreição ou na vinda de
Cristo; será feito mais adequado para o Reino de Deus. Mas em
qualquer caso, não há em Paulo qualquer doutrina da inerente
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malignidade da matéria.
A condenação de Paulo da "carne" como má não têm
absolutamente qualquer referência ao corpo humano. Não se refere
ao estofo físico do corpo mas antes a um defeito psicológico e
espiritual que leva o ser humano ou a criatura à frente do
Criador. Como Machen explica:
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pelos Órficos, os Pitagóricos e Platão). A doutrina de Paulo da
ressurreição do corpo (I Cor. 15:12-58) é claramente incompatível
com uma crença na malignidade inerente da matéria. Tentar atribuir
um dualismo matéria má-espírito bom a Paulo também tropeça no fato
de que Paulo cria na existência de espíritos maus (Efé. 6:12), uma
crença que obviamente implica que nem todo espírito é bom. O fato
adicional de que Deus pronunciou Sua criação "boa" (Gên. 1:31)
também demonstra quão longe o dualismo está do ensino do Velho e
Novo Testamentos.
É um erro igualmente sério ler um dualismo Platônico no
ensino bíblico da natureza humana. Como os clássicos britânicos
A.H. Armstrong e R. A. Markus explicam:
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classifica como a "triste visão de Paulo do corpo" ("Mas esmurro o
meu corpo, e o reduzo à escravidão, ..." I Cor. 9:27 - ARA), diz
que Paulo tem prazer em perseguições, injúrias, necessidades, pois
ele sente que tais coisas contribuem para sua força interior (II
Cor. 12:10)." A acusação de que Paulo era um asceta é falsa, um
fato claro para qualquer um familiarizado com o todo de seus
escritos. Paulo sabia como estar humilhado e como abundar (Fil.
4:12). Ele escreveu os mais fortes ataques do N.T. contra o
ascetismo (ver Col. 2:16-23).
Clark corretamente observa que o ensino de Paulo "não é
motivado por um desejo de libertar uma alma divina de uma tumba
corporal, muito menos pela idéia de que a dor é boa e o prazer é
mau. Antes, Paulo estava envolvido em uma corrida, e para vencê-la
era necessário colocar de lado todo peso bem como o pecado que o
assediava. Disposto a sofrer apedrejamentos e açoites pelo nome de
Cristo, ele nunca praticou auto-flagelação."
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Após uma intensiva investigação da visão de Paulo sobre o
sexo e o casamento, Herman Ridderbos conclui que "não há base para
a opinião de que sobre bases ascéticas-dualistas Paulo considerou
o intercurso sexual em si mesmo como pecaminoso, ou que ele julgou
o casamento sobre a base de motivos ascéticos-dualistas. O
contrário é que ocorre. Paulo valoriza o casamento como uma
instituição de Deus, protegida pelo mandamento expresso de Cristo,
para ser aceita e experimentada em liberdade cristã. Mesmo em I
Coríntios 7, ... em nossa opinião não se descobrem motivos
ascéticos-dualistas com referência ao casamento."
A HERMÉTICA
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conhecido sob os nomes Poimander e Asclépio].
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mais precoce para a literatura. Segundo o filósofo Gordon Clark,
uma autoridade em pensamento Helenístico,
O Primeiro Tratado
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Da mesma forma, sérios problemas surgem quando notamos as
significativas diferenças entre a soteriologia do Poimander e a
salvação descrita por Paulo e outros escritores do N.T..
Analisando este ponto, Gordon Clark argumenta que a salvação
oferecida pelo Poimander em seu primeiro tratado "é deificação
procurada por uma revelação cosmológica; mas para Paulo salvação
nào é deificação e a mensagem pela qual a salvação é mediada, em
vez de ser cosmológica, é um relato de fatos históricos recentes -
a morte e ressurreição de Jesus Cristo." E acrescenta: "No N.T. a
morte de Cristo salva; em Hermes o indivíduo é salvo por aprender
cosmologia." Outras significativas diferenças poderiam
semelhantemente ser notadas. Por exemplo, não há lugar no
pensamento de Paulo para o panteísmo que é tão proeminente em toda
a Hermética. Por razões como esta, portanto, as extensas
generalizações de Reitzenstein têm sido rejeitadas.
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influência cristã sobre este tratado são discutidas por William C.
Grese em um livro intitulado Corpus Hermeticum XIII and Early
Christian Literature. Enquanto a discussão de Grese deixa a
questão sem uma decisão, muitos eruditos pensam que é plausível
uma possível influência cristã sobre o Tratado 13. Finalmente,
como Machen sugere, sabemos "que os mestres pagãos do 2? século
(os Gnósticos) teriam estado prontos a adotar elementos cristãos e
ansiosos por dar a seus sistemas uma aparência cristã. Por que
deveria um procedimento similar ser negado no caso, por exemplo,
de Hermes Trimegisto? Se o paganismo do 2? séc., sem modificar seu
caráter essencial, podia algumas vezes realmente adotar o nome de
Cristo, por que seria inacreditável que o compilador da Literatura
Hermética, que não foi tão longe, teria permitido elementos
cristãos em sua obra sincrética? Por que deveria a similaridade de
linguagem entre Hermes e Paulo, supondo que exista, ser
considerada como provando a dependência de Hermes de Paulo?"
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canção
americana continha o verso, "Dois mundos diferentes - nós vivemos
em dois mundos diferentes." Se esta canção de amor estivesse
disponível no primeiro século e Paulo tivesse se referido a ela,
posso imaginar alguns sincretistas usando-a como prova do envolvi-
mento de Paulo com a crença Platônica de dois mundos. O
significado surge de todo o contexto em que as palavras são
usadas, e o contexto de Paulo torna claro a ênfase não-Gnóstica e
ocasionalmente anti-Gnóstica em seu pensamento. É interessante ver
como os proponentes de uma influência Gnóstica sobre Paulo
raramente referem-se às vezes quando ele denegriu gnosis, algo que
nenhum Gnóstico faria. Por exemplo, Paulo nota quão inútil a
gnosis seria se lhe faltasse anor (I Cor. 13:1-2). Ele fala do
tempo quando a gnosis passará (v. 8).
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anos antes, quando Jesus morreu e ressuscitou. A partir da
aceitação desta histria procede um novo conhecimento, uma gnosis.
Mas esta gnosis em Paulo não é o meio da salvação, como nas
religiões de mistério, (e Gnosticismo); é somente um dos efeitos
da salvação. Esta diferença nào é uma mero detalhe. Pelo
contrário, envolve um contraste entre dois mundos de pensamento e
vida inteiramente diferentes.
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