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FICHA DE TRABALHO

Fernando Pessoa
Prof. Dra. Irma González
Literatura 4 – Modernismo

Fernando Pessoa é um dos maiores nomes da literatura portuguesa. A heteronímia é um dos


grandes marcos de sua obra.

O perfil heteronímico de Fernando Pessoa não se trata apenas de meros pseudônimos, mas
sim do fenómeno relacionado com os vários desdobramentos do “eu” poético,
transformando-se noutros “eus”, todos dotados de biografia, produção e visão ideológica
própria.

Por se tratar de uma tendência marcante e inovadora, o poeta fez questão de tornar
públicos os motivos pelos quais adotou tal personalidade, como bem revelam os trechos
transcritos na carta dirigida ao seu amigo e crítico literário Adolfo Casais Monteiro, datada de
13 de janeiro de 1935, na qual destaca:

"Passo agora a responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos. Vou ver se
consigo responder-lhe completamente. Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus
heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente
histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda
hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não
enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos
está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação.
[...]"

Heterónimos de Fernando Pessoa

Os heterônimos criados pelo autor são: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo
Reis e Bernardo Soares.

Estudos apontam que o contexto histórico de Portugal, caracterizado pela instabilidade


interna devida a sucessivas greves associadas à eclosão da Primeira Guerra Mundial e à
necessidade de defender as colónias ultramarinas, o povo português manifestou o seu
profundo sentimentalismo, marcado pelo saudosismo decorrente da lembrança das antigas
glórias marítimas e o desconcerto que dominou o país após o desaparecimento de D.
Sebastião.

Esses fatores contribuíram para a manifestação da pluralidade existente na personalidade de


Fernando Pessoa ao revelar os múltiplos aspetos dos quais se perfaz o mundo moderno. Ao
partirmos desse pressuposto, entendemos que os heterónimos se afiguravam como
verdadeiras “máscaras” – subsídios utilizados pelo poeta com o objetivo de se esconder para
só assim se revelar, numa tentativa de investigar a realidade misteriosa e a consequente
relação com o indivíduo que a insere.
Os heterónimos de Fernando Pessoa são muitos, mas os mais conhecidos e as suas características
particulares:

1. Alberto Caeiro: adepto do paganismo e do sensacionismo e faz uma valorização das


sensações;

2. Álvaro de Campos: modernista e futurista;

3. Ricardo Reis: autor neoclássico, que utiliza o verso regular;

4. Bernardo Soares (autor do Livro do desassossego). (Considerado semi-heterónimo)

HETERÓNIMO CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS


Bucolismo, sensacionismo (valorização das sensações),
Alberto Caeiro
paganismo, versos livres, linguagem simples, locus amoenus (“lugar ameno”).
Sensacionismo, futurismo, modernismo,
Álvaro de Campos
versos regulares e livres.
Concisão, versos regulares, perspetiva neoclássica,
Ricardo Reis carpe diem (“aproveitar o momento”),
referências greco-romanas, idealização amorosa.
Multiplicidade de estilos, fragmentação,
Bernardo Soares caráter intimista e confessional, modernismo,
sutileza, reflexão, traços niilistas.

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