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Renato Perissinotto
Adriano Codato (orgs.)
Como estudar elites
Reitor
Zaki Akel Sobrinho
Vice Reitor
Rogério Andrade Mulinari
Conselho Editorial
Cleverson Ribas Carneiro
Cristina Gonçalves Mendonça
Edson Luiz Almeida Tizzot
Emerson Joucoski
Everton Passos
Ida Chapaval Pimentel
Jane Mendes Ferreira
José Carlos Cifuentes Vasquez
José Eduardo Padilha de Souza
Marcia Santos de Menezes
Como estudar elites
Renato Perissinotto
Adriano Codato (orgs.)
® Renato Perissinotto e Adriano Codato (orgs.)
Coordenação Editorial
Lucas Massimo
Revisão
Lucas Massimo e Fernando Leite
Capa
Indústria Inc.
Foto de capa
Renato Perissinotto
ISBN 978-85-8480-038-4
Inclui referências ao inal de cada capítulo
Vários autores
CDD 305.5
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Como estudar elites
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Introdução
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Como estudar elites
Renato Perissinotto
Adriano Codato
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9. A prosopograia explicada
para cientistas políticos
Flávio Heinz
Adriano Codato
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1
Sobre esse ponto especíico ver Love & Barickman (1986) onde se discute a separação
entre Rulers e Owners.
2
Para uma discussão sobre os múltiplos sentidos do termo “prosopograia” e suas nuan-
ças, ver Bulst (2005). Uma obra em português que traz textos úteis para se entender essa
técnica de pesquisa com elites é a organizada por Heinz (2006b).
3
Sobre isso, ver Offerlé (1999) e Charle (2006b), para a França, e Keats-Rohan para o
Reino Unido (2007).
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A propósito dos limites e vantagens do uso do survey no estudo do recrutamento polí-
tico, ver o capítulo 2 deste livro (p.33).
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Ver, por exemplo, Abreu (2014), Abreu et al. (2001) e Monteiro (1994).
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sobre membros de grupos dirigentes, mas precisam ser analisados à luz das
circunstâncias específicas de sua produção, do formato escolhido para a
apresentação dos dados, da participação do biografado na sua exposição,
enfim, das intencionalidades editoriais presentes em cada um deles, come-
çando da lista de quem merece ser biografado (HEINZ, 2011). Normalmen-
te, a consulta a esses dicionários exige cautela e determinação em depurar
as informações úteis em meio ao emaranhado discursivo que a reveste,
operação semelhante àquela exigida no tratamento de outra fonte de pre-
dileção de prosopógrafos: os necrológios.
Assim, a prosopografia não se resume à produção de tabelas de frequ-
ência com informações sócio-profissionais e de carreira sobre agentes po-
líticos do passado, a partir de dados pré-construídos, mas à produção de
uma base de dados que, em boa medida, reúna um conjunto de evidências
fabricadas pelo pesquisador, isto é, informações que reconheçam o aspecto
lacunar do perfil produzido como estruturado socialmente. E que busque
superar esse aspecto com pesquisa documental minuciosa.
2. Monograias exemplares
Alguns dos melhores resultados obtidos pela aplicação do método proso-
pográfico no Brasil estão na análise de grupos dirigentes. Referimo-nos, por
exemplo, aos trabalhos de Barman & Barman (1978) ou o estudo de José Murilo
de Carvalho (1996) sobre a elite política do Império e à vasta pesquisa compa-
rativa empreendida por Joseph Love (1982), John Wirth (1982) e Robert Levine
(1980) sobre as elites regionais de três estados da federação brasileira, cobrin-
do o período que vai do início da Primeira República, em fins do século XIX, ao
golpe do Estado Novo6. Estas três pesquisas tiveram seus resultados reexami-
nados e submetidos a novo processamento computacional uma década mais
tarde, resultando em um trabalho que, pelo volume e pela riqueza dos dados
ali reunidos, constitui ótimo exemplo das imensas possibilidades da aborda-
gem prosopográfica em estudos de elites (LOVE; BARICKMAN, 1991).
Embora a prosopografia de tradição francesa tenha se imposto paulati-
namente entre os historiadores brasileiros nas últimas duas décadas, nota-
damente através da divulgação dos trabalhos de Christophe Charle, as mais
importantes contribuições para a história dos grupos dirigentes brasileiros
6
Exemplos mais recentes de retomada de uma perspectiva prosopográica exitosa no
trato da política brasileira do século XIX são (MARTINS, 2007; VARGAS, 2010).
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A observação é de Schwartzman, (1983, p. 367–368). Para uma explicação do argumen-
to, ver Schwartzman (1982, p. 26; 36–37).
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Conforme a observação clássica de Wright Mills, “o poder não pertence a um homem.
A riqueza não se centraliza na pessoa do rico. A celebridade não é inerente a qualquer
personalidade. Ser célebre, ser rico, ter poder, exige o acesso às principais instituições,
pois as posições institucionais determinam em grande parte as oportunidades de ter e
conservar essas experiências a que se atribui tanto valor” (MILLS, 1981, p. 19, grifos meus).
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Sobre o método posicional, veja o capítulo 1 deste livro (p.20).
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Para maiores detalhes do signiicado e funcionamento do DAESP, ver Codato (2011; 2014).
11
Havia sete secretarias no estado de São Paulo: Justiça, Fazenda e Tesouro, Viação e
Obras Públicas, Educação e Saúde, Agricultura, Indústria e Comércio, Segurança Pública
e a Secretaria de Governo
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São Paulo, ou seja, as relações de suas elites políticas com a ditadura do Estado Novo se
tornaram, assim, um “exemplo dramático” e não um “exemplo paradigmático”, isto é, um
caso único, extraordinário e decisivo para a explicação do problema considerado. Sobre
essa diferença ver Eckstein (1975, p. 79–137).
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A icha prosopográica depende do nível de profundidade e do grau de detalhe sobre
as biograias coletivas que o estudo espera alcançar, além, é claro, das características que
se quer relevar do grupo estudado. Aqui não há muitas receitas e os dados podem ser
sistematizados num software mais simples (Excel, por exemplo) ou mais complexo, com
mais recursos e projetado para esse im (File Maker, por exemplo). Ou serem registrados
em papel e datilografados, se você preferir. Uma sugestão simples e especialmente boa de
Ferrari é elaborar, para aqueles indivíduos mais representativos do grupo em questão, para
os quais se achou muito mais dados ou para aqueles que pretendemos construir um peril
individual, uma icha em separado (FERRARI, 2010, p. 543). Discuti as formas concretas do
adesismo da classe política de São Paulo ao Estado Novo e as sucessivas reconversões
ideológicas de três membros do DAESP – Marcondes Filho, Miguel Reale e Marrey Júnior
– num artigo em que a existência de ichas individuais foi muito útil. Ver Codato (2013).
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Sobre a lógica de construção do DHBB, veja o capítulo 3 deste livro (ver p.78).
15
Essas “Biograias políticas dos membros do Departamento Administrativo do estado de
São Paulo durante o Estado Novo” estão disponíveis no site Research Gate: <http://bit.
ly/1JNqUl9>. Acesso em: 7 set. 2015.
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acaso para topar com os dados que mais se precisará, mas alguma imaginação
para cavar evidências onde for possível. Como a grande maioria deles virou
nome de rua, consultei com grande proveito um livro chamado História das
Ruas de São Paulo. No Banco de Dados Folha (da Folha de S. Paulo) consegui
ler alguns necrológios em jornais velhos. Quando um desses atores havia
sido (felizmente, para a pesquisa), secretário de estado, algumas secretárias,
mas não todas, traziam uma curtíssima biografia que, às vezes, continha
uma informação inédita. Refazer o cursus honorum, a sequência de posições
políticas, foi, ao lado do perfil ideológico, uma das tarefas mais complicadas.
Como, nesses casos de poucas pessoas, tudo é muito importante, ou ao
menos nós temos a ilusão de que tudo deve afinal significar algo, foi preciso
começar a estudá-los pelos Annaes da Câmara Municipal de São Paulo, uma
publicação dificílima de se acessar, mas não tanto como o raríssimo livro
manuscrito de assentamentos do Instituto Histórico e Geográfico de São
Paulo, Propostas para admissão de sócios: 1933-1938.
O trabalho de Sérgio Braga, Quem foi quem na Assembleia Constituinte de
1946 (BRAGA, 1998), resolveu muitos problemas, mas apenas para aqueles
integrantes do Departamento que, depois do Estado Novo, tiveram uma
carreira nacional. Alguma coisa eu pude encontrar em O legislativo paulista
(NOUH; CARNEIRO, 1983). Esse é um daqueles títulos que existem somen-
te na Biblioteca da Divisão do Arquivo Histórico da Assembleia Legislativa
do estado de São Paulo, e ele está acessível desde que se saiba da existên-
cia dessa repartição. As relações de conflito entre a elite nacional e a elite
estadual são daqueles quebra-cabeças que exigem juntar muitos e muitos
papéis antes de se tentar dar qualquer ordem a eles. Esses papéis, eu acabei
encontrando-os em dois grandes Arquivos. Mas só se deve visitá-los depois
que se souber muito bem o que irá procurar lá dentro: o Arquivo Getúlio Var-
gas, no Museu da República (isto é, no Palácio do Catete); e os documentos
do Gabinete Civil da Presidência da República (Série: Governos Estaduais)
guardados nas latas do Arquivo Nacional16. Igual lição eu aprendi depois de
ler a primeira vez os dois abundantes volumes dos Diários de Vargas. Desco-
bertos apenas nos anos 1990, eles cobrem o interessantíssimo quotidiano da
Presidência e do presidente entre outubro de 1930 e 1942, quando sua reda-
ção é interrompida (VARGAS, 1995). Embora haja um bom aparato crítico, os
16
Resumi uma parte dos resultados em Codato (2010).
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Ver O Sr. Laffer e sua nomeação para o Departamento Administrativo. Correio da Ma-
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nhã, 24 jun. 1939, p. 14. Jornal lido no Arquivo Edgard Leuenroth, em Campinas (SP).
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São eles: (1922) 18 do Forte; (1924-1927) Coluna Prestes; (1930) Revolução; (1931)
Clube Três de Outubro; (1932) Levante Constitucionalista; (1932) Lado governista; (1935)
Intentona Comunista; (1937) Golpe que instaura o Estado Novo; (1938) Revolta Integra-
lista; (1932) Ação Integralista Brasileira; (1945) Golpe que põe im ao Estado Novo.
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O propósito geral da pesquisa era lançar luz sobre as conexões entre pro-
priedade da terra, representação associativa e carreira política num período
de profundas transformações do quadro legal das relações de trabalho e do
direito fundiário no Brasil, período esse com crescente incorporação dos
temas do universo rural à agenda política e parlamentar do País.
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Conclusões
A importância analítica dada ao estudo das propriedades e das trajetórias
coletivas de um conjunto de agentes pressupõe um esquema interpretativo
do mundo social. Esse esquema deriva, por sua vez, de dois princípios sub-
jacentes: em primeiro lugar, o foco em agregados concretos de indivíduos,
historicamente situados, é central para se entender o funcionamento do
mundo social (no lugar de grandes abstrações teóricas como “classes so-
ciais”, por exemplo); em segundo lugar, seus atributos, enquanto grupo,
são relevantes para explicar tanto seus comportamentos efetivos (opções,
decisões concretas, disposições subjetivas), como a configuração assumida
pelas instituições (“Estado”, “regime político”, etc.).
Dito isso, recordemos então os elementos chave da definição de Stone
(2011), citada no início deste capítulo. A prosopografia é, ao lado de outros
artifícios também estudados nesse livro, uma técnica de pesquisa. Ela está
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Esse aspecto também foi discutido no capítulo 3 deste livro. Ver em particular o subi-
tem sobre a seleção das variáveis, na p.68.
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Referências
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Apêndices
Apêndice 3 – Como produzir uma ficha prosopográfica1
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1
Ficha biográica a partir dos dados prosopográicos mencionada no capítulo 9 “A proso-
pograia explicada para cientistas políticos”.
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2
Cf. notas explicativas a Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães et alli (1982, p. 393)
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Referências
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Sobre os autores
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