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DERMATOLOGIA E PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS

EDIÇÃO 1

Organizadores

Guilherme Barroso Langoni de Freitas


Hanan Khaled Sleiman

2022
2022 by Editora Pasteur
Copyright © Editora Pasteur

Editor Chefe:

Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas

Corpo Editorial:
Dr. Alaercio Aparecido de Oliveira (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR)
(Faculdade INSPIRAR, UNINTER, CEPROMEC Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas
e Força Aérea Brasileira) (Universidade Federal do Piauí - PI)
Dra. Aldenora Maria Ximenes Rodrigues Dra. Hanan Khaled Sleiman
MSc. Aline de Oliveira Brandão (Faculdade Guairacá - PR)
(Universidade Federal de Minas Gerais - MG) MSc. Juliane Cristina de Almeida Paganini
MSc. Bárbara Mendes Paz (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR)
(Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dra. Kátia da Conceição Machado
Dr. Daniel Brustolin Ludwig (Universidade Federal do Piauí - PI)
(Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr. Lucas Villas Boas Hoelz
Dr. Durinézio José de Almeida (FIOCRUZ - RJ)
(Universidade Estadual de Maringá - PR) MSc. Lyslian Joelma Alves Moreira
Dr. Everton Dias D’Andréa (Faculdade Inspirar - PR)
(University of Arizona/USA) Dra. Márcia Astrês Fernandes
Dr. Fábio Solon Tajra (Universidade Federal do Piauí - PI)
(Universidade Federal do Piauí - PI) Dr. Otávio Luiz Gusso Maioli
Francisco Tiago dos Santos Silva Júnior (Instituto Federal do Espírito Santo - ES)
(Universidade Federal do Piauí - PI) Dr. Paulo Alex Bezerra Sales
Dra. Gabriela Dantas Carvalho MSc. Raul Sousa Andreza
Dr. Geison Eduardo Cambri MSc. Renan Monteiro do Nascimento
MSc. Guilherme Augusto G. Martins Dra. Teresa Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Editora Pasteur, PR, Brasil)

F866 FREITAS, GUILHERME BARROSO LANGONI DE


Dermatologia e Procedimentos Estéticos
FREITAS, G.B.L. de & SLEIMAN, H.K. - Irati: Pasteur, 2022.
1 livro digital; 188 p.; ed. I; il.

Modo de acesso: Internet


ISBN 978-65-815-4923-7
https://doi.org/10.29327/563005
1. Medicina 2. Dermatologia 3. Ciências da Saúde
I. Título.

CDD 610
CDU 61
Procedimentos diagnósticos, corretivos, preventivos e terapêuticos compõem o que
conhecemos atualmente como dermatologia e procedimentos estéticos. Com certeza foi
uma das áreas das Ciências da Saúde que mais evoluíram e se tornaram multidisciplinar
nos últimos anos. Atualmente profissionais de Medicina, Farmácia, Biomedicina,
Fisioterapia, Odontologia e Nutrição são atores ativos desse campo de conhecimento. O
avanço tecnológico e maior conhecimento sobre princípios ativos dermatológicos
impulsionaram grandemente as técnicas empregadas por estes profissionais. Por ser um
campo multidisciplinar e de rápidos avanços se torna necessária a constante atualização
profissional. Portanto, a Editora Pasteur organizou esse livro composto por trabalhos de
qualidade produzidos por profissionais e estudantes da área da saúde com objetivo de
enaltecer os resultados e pesquisas além de possibilitar uma leitura agradável a todos os
eternos estudantes da área.

Dr. Guilherme Barroso L De Freitas


Prof. Adjunto Universidade Federal do Piauí
Editor Chefe – Editora Pasteur
Capítulo
[Capture 1 - APLICAÇÃO
a atenção do leitor com uma DA
ótimaTOXINA BOTULÍNICA
citação do documento ou use este NA espaçoREDU-
ÇÃO
para DA HIPERIDROSE
enfatizar um ponto-chave. ParaAXILAR ....................................................
colocar essa caixa de texto em qualquer lugar na 1
página, basta arrastá-la.]

Capítulo 2 – MOLUSCO CONTAGIOSO: ACOMETIMENTO NO


ADULTO E NA CRIANÇA, SEUS PRINCIPAIS TRATAMENTOS E
COMPLICAÇÕES .............................................................................. 7

Capítulo 3 - TOXINA BOTULÍNICA NO TRATAMENTO DA HIPE-


RIDROSE .......................................................................................... 13

Capítulo 4 - DERMATITE ATÓPICA: A RELEVÂNCIA DOS FATO-


RES ASSOCIADOS NO DESENVOLVIMENTO E FISIOPATOGE-
NIA DA DOENÇA ............................................................................ 19

Capítulo 5 - LÍQUEN ESTRIADO NO PACIENTE ADULTO: RE-


LATO DE CASO ............................................................................... 28

Capítulo 6 - LÍQUEN ESTRIADO NO PACIENTE ADULTO: RE-


LATO DE CASO ............................................................................... 35

Capítulo 7 – DEZEMBRO LARANJA NA SALA DE ESPERA DE


UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: RELATO DE
EXPERIÊNCIA ................................................................................ 44
Capítulo 8 – ATUALIZAÇÕES NA ABORDAGEM TERAPÊUTICA
DA DERMATITE ATÓPICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
.............................................................................................................50

Capítulo 9 – A IMPORTÂNCIA DO MANEJO CLÍNICO INDIVIDU-


ALIZADO DA ERISIPELA E DA CELULITE INFECCIOSA PARA
A EFICIÊNCIA DA TERAPÊUTICA E REDUÇÃO DE DANOS AO
PACIENTE ........................................................................................ 59

Capítulo 10 – O USO DA TOXINA BOTULÍNICA NO TRATA-


MENTO DE HIPERIDROSE ............................................................ 66

Capítulo 11 – DERMATITE ATÓPICA NA INFÂNCIA .................. 73

Capítulo 12 – TÉCNICAS EM MAMOPLASTIA DE AUMENTO .. 85

Capítulo 13 – O USO DO ÁCIDO HIALURÔNICO PARA PREEN-


CHIMENTO DA REGIÃO MALAR ................................................. 98

Capítulo 14 – COMPLICAÇÕES DA LIPOASPIRAÇÃO: EMBOLIA


GORDUROSA ................................................................................ 107

Capítulo 15 – IMPORTÂNCIA DO DERMATOLOGISTA NO USO


DA TOXINA BOTULÍNICA NA ESTÉTICA FACIAL: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 113
Capítulo 16 – PRINCIPAIS PREENCHEDORES BIOESTIMULADO-
RES DE COLÁGENO UTILIZADOS NA HARMONIZAÇÃO ORO-
FACIAL ........................................................................................... 122

Capítulo 17 – ALOPECIA AREATA: RELAÇÃO COM ESTRESSE E


TRATAMENTO .............................................................................. 131

Capítulo 18 – IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DO CÂNCER


DE PELE .......................................................................................... 136

Capítulo 19 – RISCOS E IMPACTOS PSICOLÓGICOS DA HARMO-


NIZAÇÃO FACIAL ........................................................................ 142

Capítulo 20 – PEELING QUÍMICO COMO TRATAMENTO FISITE-


RAPEUTICO NO MELASMA: REVISÃO DE LITERATURA
.......................................................................................................... 149

Capítulo 21 – USO DA LASERTERAPIA PARA REDUÇÃO DE CI-


CATRIZ HIPERTRÓFICA .............................................................. 154

Capítulo 22 – EFLÚVIO TELÓGENO PÓS-COVID: REVISÃO BI-


BLIOGRÁFICA .............................................................................. 164

Capítulo 23 – BIOESTIMULADORES DE COLÁGENO UTILIZA-


DOS NO GERENCIAMENTO DO ENVELHECIMENTO: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 170
Caítulo 24 – O USO DA TOXINA BOTULÍNICA NO TRATA-
MENTO DA HIPERIDROSE E OUTRAS TERAPÊUTICAS: REVI-
BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 176
CAPÍTULO 1

APLICAÇÃO DA TOXINA
BOTULÍNICA NA REDUÇÃO DA
HIPERIDROSE AXILAR
THAYANE FOGAÇA DE MEDEIROS¹
VINICIUS MORAIS DE SOUSA¹
MARIANA PALMEIRA DIAS DE SOUZA¹
EDUARDA DIAS DA SILVA¹
IRIS TARGINO GARCIA FERNANDES¹
RAFAELA MACHADO DE SOUZA¹
ISABELA MACHADO DE SOUZA¹
SABRYNNY LEITE WANDERLEY FIDÉLIO¹
CRISTIANE MARTINS FERREIRA¹
ANA LAURA GOMES PEREIRA CARDOSO DA SILVA¹
FERNANDO LOYOLA MACHADO LEÃO¹
MARIANA AKEMY LOPES IUASSE¹
SÉRGIO GABRIELL DE OLIVEIRA MOURA²
FÁBIO MARQUES DE ALMEIDA³
REGINA GRACE NUNES RODRIGUES³

1
Discente – Graduação em Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser - UNIFAN, Aparecida de Goiânia (GO)
2
Discente – Graduação em Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC, Goiânia (GO)
3
Docente – Centro Universitário Alfredo Nasser - UNIFAN, Aparecida de Goiânia (GO)

Palavras-chave: Hiperidrose; Toxina botulínica.

1
INTRODUÇÃO quer causa, com pelo menos mais dois critérios:
idade de início inferior a 25 anos, cessação da
É relativo à hiperidrose o processo no qual sudorese durante o sono, padrão bilateral e re-
tem-se a hiperatividade da glândula écrina res- lativamente simétrico de sudorese com pelo
ponsável pela produção de suor, processo que menos um episódio por semana ou histórico fa-
ocorre uma produção excessiva dessas glându- miliar positivo. A Escala de Gravidade da Do-
las além do necessário para manuntenção da ença por Hiperidrose (HDSS) ajuda a avaliar o
termoregulação. Esse processo pode atingir impacto do distúrbio na vida do paciente, pla-
apenas uma parte do corpo (focal), como mãos, nejar a modalidade de tratamento e avaliar a
axilas, superfícies plantares e palmares, ou pode resposta ao tratamento e obter compensação por
ser generalizada e atingir várias regiões corpo- incapacidade (ARORA et al., 2021).
rais. A hiperidrose axilar (HA) é um tipo focal A fisiopatologia não é bem compreendida e
e pode ser classicada em primária ou secundária as diretrizes de tratamento não estão bem esta-
de acordo com sua origem. A primária é idiopá- belecidas. Com relação ao tratamento é possível
tica e corresponde a 90% dos casos, já a secun- estabelecer vários métodos tanto não cirúrgicos
dária é subjacente a uma situação clínica defi- (antitranspirantes, iontoforese, anticolinérgi-
nida ou a algum uso de medicação. Nesse con- cos, terapia a laser ou ultrassonografia, termó-
texto, é essencial conhecer as causas, os meca- lise por micro-ondas, fracionado radiofrequên-
nismos de produção e os efeitos dessa condição cia microagulha, etc), quanto cirúrgica (excisão
para poder gerenciá-la de forma eficaz (RO- de tecido subcutâneo, lipoaspiração, curetagem
SEN, 2018). subcutânea, simpatectomia endoscópicade). No
As taxas de prevalência da hiperhidrose entanto, o tratamento de primeira linha é o he-
apresentam muita discrepância ao longo do xahidrato de cloreto de alumínio, que se trata de
globo terrestre variando de menos de 21% em uma abordagem fácil e de baixo custo, mas o
Israel a 12,3% a 38% em outros países como a efeito é principalmente temporário e variável
Índia, já no Brasil, os índices chegam a 20,6% (LEE et al, 2022).
(NAWROCKI, 2019). Em contrapartida, o uso da toxina botulínica
O processo fisiológico da produção do suor (botox) injetada na axila proporciona alívio sin-
é extemamente necessário para além da termor- tomático imediato que dura aproximadamente 6
regulação, sendo uma ferramenta fundamental meses, obejtivando um efeito a longo prazo.
tanto de excreção quanto de defesa microbiana. Oferecer aos pacientes esta terapêutica de se-
Todavia, na presença da desregulação da hi- gunda linha para HA pode melhorar acentuada-
drose há consequências fisiológicas e socias, de mente a qualidade de vida e diminuição dos
forma que ocorre aumento dos índices de doen- efeitos colaterais (BAGHCHECHI et al.,
ças de pele, mas também se observa um cons- 2021).
trangimento devido a manchas de roupas ou, às
vezes, mau cheiro, resultando em muitos casos MÉTODO
em depressão e ansiedade social com significa-
tiva redução da qualidade de vida (ARORA et Trata-se de uma revisão narrativa realizada
al., 2021). no período de fevereiro a março de 2022 por
Os sintomas incluem sudorese excessiva meio de pesquisas nas bases de dados: Pubmed,
com duração de pelo menos 6 meses sem qual- SciELO, BVS, Lilacs e Google Acadêmico. Fo-

2
ram utilizados os descritores: toxina botulínica piração excessiva em repouso ou sono (HAGE-
e hiperidrose axilar. Desta busca foram encon- MANN & SINIGAGLIA, 2019).
trados 60 artigos, posteriormente submetidos A hiperidrose é uma condição crônica e com
aos critérios de seleção. diversos picos de recorrência ao longo da vida.
Os critérios de inclusão foram: artigos nos No geral afeta 17,9% da população e de forma
idiomas inglês e português; publicados no perí- referida, 10,9%. A HA é conhecida como um
odo de 2011 a 2022 e que abordavam as temá- dos subtipos da hiperidrose focal e está forte-
ticas propostas para esta pesquisa, estudos do mente relacionada a fatores hereditários. Cerca
tipo revisão, disponibilizados na íntegra. de 31,5% a 65% dos pacientes possuem algum
Os critérios de exclusão foram: artigos du- outro caso na família (SHOME & GOLD,
plicados, disponibilizados na forma de resumo, 2021).
que não abordavam diretamente a proposta es- Clinicamente, esta condição possui impacto
tudada e que não atendiam aos demais critérios significativo no âmbito social e fisiológico. Os
de inclusão. fatores sociais influenciam diretamente na au-
Após os critérios de seleção, restaram 20 ar- toestima, convívio profissional e psíquico dos
tigos que foram submetidos à leitura minuciosa indivíduos acometidos, ocasionando efeitos ne-
para a coleta de dados. Os resultados foram gativos diários. E fisiologicamente, a transpira-
apresentados a seguir de forma descritiva e em ção excessiva ocorre mais comumente em regi-
tabela. ões do corpo em que há maior quantidade de
glândulas sudoríparas, principalmente na região
RESULTADOS E DISCUSSÃO axilar, palmar e plantar (WESTPHAL et al.,
2011).
A hiperidrose axilar (HA) é uma condição A importância da sobrecarga psicológica
na qual ocorre a produção excessiva de suor. por uma pessoa portadora de HA dentro de uma
Dessa forma, ela é um fator decorrente do au- população se dá devido à perda de autoconfi-
mento de estímulo do sistema nervoso autô- ança e fraqueza, o que sugere cargas emocio-
nomo simpático, resultando na hiperatividade nais significativas. Além disso, uma pesquisa
das glândulas sudoríparas écrinas. Pode ser pri- de Work Productivity and Activity Impairment
mária, quando há uma relação genética, ou se- (WPAI) com pacientes com hiperidrose que vi-
cundária, desenvolvida por alguma enfermi- sitaram um hospital universitário demonstrou
dade (HAGEMANN & SINIGAGLIA, 2019). que o presenteísmo dos pacientes com hiperi-
A primária é evidenciada clinicamente drose é de 47,14%, sugerindo os efeitos impor-
desde o início da vida e normalmente ocorre nas tantes da hiperidrose no desempenho do traba-
axilas, mãos e pés. Em oposição a primária, a lho. A perda de produtividade associada à hipe-
hiperidrose secundária ocorre em todas as regi- ridrose no Japão em 2009 foi estimada em ¥ 197
ões do corpo, tendo como etiologia algumas pa- bilhões/mês (MUROTA et al., 2021).
tologias (hipertireoidismo, alterações hormo- O diagnóstico clinico é feito por meio da
nais, obesidade, diabetes mellitus) ou pelo anamnese do paciente, em que irá descrever to-
efeito colateral de uma medicação. Normal- dos os sinais da produção excessiva de suor.
mente, esta surge na fase adulta e ocorre a trans- Além disso, há também o Teste de Minor, ou

3
teste do amido-iodo, que é um teste qualitativo dos meses, há uma nova conexão do canal entre
onde aplica-se uma solução de iodo em áreas a terminação nervosa e a glândula, tornando ne-
suspeitas e, depois de seco, o amido é polvi- cessária uma reaplicação do botox para controle
lhado na região, o suor é estimulado e a reação da hiperidrose (DUTRA & CHARELLO,
química induz uma mudança de cor, tornado o 2019).
teste positivo (SANTO & ROVER, 2019). Nesse contexto, foi realizado um estudo
Com relação ao tratamento, essa condição acompanhando, por um período de cinco anos,
ainda não possui cura, porém existem algumas 75 pacientes (sendo 83% do sexo feminino),
alternativas terapêuticas invasivas e não invasi- utilizando o instrumento de avaliação Dermato-
vas que podem amenizar os sintomas. Os tipos logy Life Quality Index (DLQI). Através de um
de terapias são divididos em 5 grupos: questionário, ele mensura o quanto os proble-
• Tópicos; mas dermatológicos afetam a vida semanal-
• Sistêmicos; mente, obtendo uma pontuação (máximo 30 e
• Injetáveis; mínimo 0) a partir das respostas dos indivíduos,
• Dispositivos; tendo em vista que quanto maior o resultado,
• Cirúrgicos. pior será a qualidade de vida. Escores DLQI 2-
Entre os citados acima, há uma divergência 5 é igual a um pequeno efeito na vida do paci-
no que se refere ao tempo de efeito e duração. ente (GQ = 1, n = 611); DLQI 6-10 indica efeito
Dentro do grupo sistêmico, ressalta-se que a to- moderado na vida do paciente (GQ = 2, n =
xina botulínica (botox) é uma das opções mais 327); pontuações DLQI 11-20 gera um efeito
procurada e inovadora, tanto por sua duração, muito grande na vida do paciente (GQ = 3, n =
quanto por seu custo benefício (SHOME & 242) e escores DLQI 21-30 evidencia um efeito
GOLD, 2021). extremamente grande na vida do paciente (GQ
É importante lembrar que o tratamento com = 4, n = 59). A administração de toxina botulí-
botox, embora seja uma das terapias mais efica- nica tipo A (Botox) por via intradérmica de-
zes para transpiração excessiva, é utilizado am- monstrou resultados bastante positivos, tendo
plamente como uma opção de segunda linha, em vista que a pontuação média geral do DLQI
uma vez que as demais estratégias do uso tópico pós tratamento e acompanhamento foi de 1,6 (±
evidenciaram falhas (NAWROCKI & CHA, 2,01), evidenciando um benefício sustentado ao
2020). decorrer do tempo (VITIELLO et al., 2020).
O principal mecanismo da toxina compre- Segundo a Tabela 1.1, após estudo rando-
ende em realizar um bloqueio na liberação dos mizado de grupo paralelo controlado por pla-
neurotransmissores acetilcolina (ACh), suspen- cebo com toxina botulínica A com 320 pacien-
dendo temporariamente a transmissão sináptica tes, 94% alcançaram uma redução da sudores
das glândulas sudoríparas, ligadas às termina- axilar maior ou igual a 50% desde o início,
ções nervosas e, como resultado ocorre a inter- sendo que 82% desses pacientess conseguiram
rupção do suor excessivo. Porém, não se trata manter resultados satisfatórios até a décima
de um tratamento definitivo, pois com o passar sexta semana após a aplicação (SHOME &
GOLD, 2021).

4
Tabela 1.1 Eficácia da toxina botulínica CONCLUSÃO
Número de
Pacientes com re-
Número de pacientes
sultados satisfató- Portanto, pode-se concluir a importância da
pacientes to- com redução
rios até a 16ª se- toxina botulínica (tipo A) a fim de evitar que as
tal da sudorese
mana
>50% glândulas sudoríparas produzam o suor exces-
320 300 246 sivo referente a hiperidrose axilar. Essa patolo-
gia, apesar de não apresentar graves riscos aos
Através de estudos, alguns pesquisado- indivíduos que há possui, está estreitamente re-
res questionaram se a remoção de um distúrbio lacionada as condições psíquicas e sociais dos
para criar outro seria racional, pois o tratamento pacientes, dificultando suas relações de vida so-
cirúrgico da hiperidrose (simpatectomia video- cial e profissional.
assistida), embora definitivo, seguro e eficaz, O tratamento com a toxina, interrompe tem-
causa aumento da sudorese de forma compen- porariamente a transmissão sináptica das glân-
satória em outras partes do corpo em 67% a dulas sudoríparas ligadas as terminações nervo-
85% dos pacientes. Portanto, é possível con- sas e posteriormente, impedindo o suor exces-
cluir que a toxina botulínica apresenta mais be- sivo. Apesar do alto custo e consequente ina-
nefício para o paciente com HA do que prejuí- cessibilidade a todas as classes, os efeitos ad-
zos BOSCARDIM et al., 2011). versos dessa toxina são incomuns, resultando
em um tratamento preciso, pouco invasivo e se-
guro, contribuindo para melhora da qualidade
de vida dos pacientes que realizam tal aplica-
ção.

5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARORA, G. et al. Treatment of axillary hyperhidro- MUROTA, H. et al. Cost‐of‐illness study for axillary hy-
sis. Journal of Cosmetic Dermatology, v. 21, n. 1, p. 62- perhidrosis in Japan. The Journal of Dermatology, v. 48,
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BAGHCHECHI, M. et al. Art of prevention: The im- NAWROCKI, S. & CHA, J. Botulinum toxin: Pharma-
portance of tackling the nail biting habit. International cology and injectable administration for the treatment of
Journal of Women's Dermatology, v. 7, n. 3, p. 309-313, primary hyperhidrosis. Journal of the American Acad-
2021. emy of Dermatology, v. 82, n. 4, p. 969-979, 2020.

BOSCARDIM, P.C.B. et al. Simpatectomia torácica ao ROSEN, R. & STEWART, T. Results of a 10‐year fol-
nível de 4ª e 5ª costelas para o tratamento de hiper-hi- low‐up study of botulinum toxin A therapy for primary
drose axilar. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 37, n. axillary hyperhidrosis in Australia. Internal Medicine
1, p. 6-12, 2011. Journal, v. 48, n. 3, p. 343-347, 2018.

CHARELLO, D.S. & DUTRA, R. O uso da toxina botu- SANTO, E.D. & ROVER, P.A. Tratamento das hiperi-
línica no tratamento de hiperidrose palmar e axilar. Re- droses com a toxina botulínica tipo A. BWS Journal, [S.
vista Eletrônica Biociências, Biotecnologia e Saúde, n. l.], p. 1-13, 2019.
20, 2018. SHOME, D. & GOLD, M.H. JCD—Editorial Commen-
tary, May, 2021. Journal of Cosmetic Dermatology, v.
HAGEMANN, A.D. & SINIGAGLIA, G. Hiperidrose e 20, n. 5, p. 1359-1360, 2021.
o uso da toxina botulínica como tratamento: Revisão bi-
bliográfica. Revista Destaques Acadêmicos, Lajeado, v. VITIELLO, A. et al. Remdesivir and Covid-19 infection,
11, p. 94, 2019. therapeutic benefits or unnecessary risks? Irish Journal of
Medical Science (1971-), v. 190, n. 4, p. 1637-1638,
LEE, D.G. et al. A phase 3, randomized, multi-center 2021.
clinical trial to evaluate the efficacy and safety of Neu-
BoNT/a in treatment of primary axillary hyperhidro- WESTPHAL, F.L et al. Prevalência de hiperidrose entre
sis. Aesthetic Plastic Surgery, p. 1-7, 2022. estudantes de medicina. Revista do Colégio Brasileiro de
Cirurgiões, v. 38, p. 392-397, 2011.

6
CAPÍTULO 2

MOLUSCO CONTAGIOSO:
ACOMETIMENTO NO ADULTO E NA
CRIANÇA, SEUS PRINCIPAIS
TRATAMENTOS E COMPLICAÇÕES

ISABELLA BREVES AMARAL E SILVA1


ISABELLA PINHEIRO VIANA 1

1
Discente – Medicina Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais

Palavras-Chave: Molusco contagioso; Terapêutica; Complicações.

7
INTRODUÇÃO Figura 2.1 Lesão causada por molusco contagioso

O molusco contagioso (MC) é uma derma-


tose benigna causada pelo vírus Molluscum
contagiosum, do gênero Molluscipox, descrito
pela primeira vez no ano de 1817 por Bateman,
um médico inglês. A incidência da doença na
população geral varia de 2 a 10% (MONTEA-
GUDO, 2009), sendo um dos problemas derma-
tológicos mais prevalentes na faixa etária pedi-
átrica, mas que também pode acometer adultos.
A transmissão deste vírus acontece a partir do
Fonte: Inhaez et al., 2011.
contato direto com pessoas infectadas, auto ino-
culação ou fômites contaminados. O MC cursa Em pacientes imunodeprimidos como os
com lesões dermatológicas autolimitadas e be- que apresentam HIV positivo, lúpus eritema-
nignas, que se apresentam em forma de pápulas toso, neoplasia em tratamentos de quimiotera-
normocrômicas de 2 mm a 6 mm, com umbili- pia ou com imunossupressores, a incidência do
cação central e podem acometer qualquer parte MC salta para 3% a 18% e aumenta concomi-
do corpo (SEIZE, 2011), sendo majoritaria- tantemente ao grau de imunossupressão (MON-
mente assintomáticas, exemplificadas na Fi- TEAGUDO, 2009). Nesses pacientes é obser-
gura 2.1. Entretanto, podem ser acompanhadas vado lesões mais disseminadas que tendem a
de prurido, eczema e/ou de alguma infecção as- confluir formando placas, dificultando o diag-
sociada. No adulto sexualmente ativo, as lesões nóstico. As lesões também costumam ser mais
acometem principalmente a região do pubis, ab- difíceis de ser tratadas e apresentam maior grau
dômen inferior, nádegas, genital, mucosa oral e de complicação, principalmente reações ecze-
perianal como consequência da transmissão du- matosas e inflamatórias que podem evoluir para
rante as relações sexuais (MONTEAGUDO, infecções.
2009). Em grande parte dos casos é comum en- Muitos autores mostram-se contrários à in-
contrar pessoas de uma mesma família com a tervenção terapêutica nessa doença na maioria
doença, já que a proximidade e o compartilha- dos casos, já que esta é uma doença normal-
mento de toalhas, roupas e banheiras são facili- mente autolimitada. Entretanto, ela se mostra
tadores para a transmissão deste vírus. necessária para controlar a disseminação das le-
O diagnóstico se dá a partir da apresentação sões, evitar aparecimento de cicatrizes ou infec-
clínica das lesões, devido ao seu aspecto típico ções bacterianas secundárias e também por mo-
e muito específico. Em casos onde há incertezas tivos estéticos e psicossociais. No caso de paci-
no diagnóstico, são realizadas biópsias para entes imunossuprimidos ou que desenvolveram
análise histológica (MONTEAGUDO, 2009; as lesões na região genital, a necessidade de tra-
MACHADO et al., 2010).

8
tar se torna indispensável para reduzir compli- RESULTADOS E DISCUSSÃO
cações ou transmissão sexual para outras pes-
soas (MACHADO et al., 2010; FRAUCHES et Tratamento
al., 2017). Existem várias opções de tratamentos dis-
O objetivo deste capítulo é comparar os poníveis para o MC. Podemos dividir esses tra-
principais tratamentos e citar possíveis compli- tamentos em 3 grupos principais sendo eles o
cações que um paciente com molusco contagi- tratamento tópico, sistêmico e destrutivo físico
oso pode apresentar. (GASPAR et al., 2012). O tratamento do MC
deverá ser considerado para pacientes imu-
MÉTODO nocomprometidos ou com lesões genitais. Nos
demais casos a intervenção terapêutica é opcio-
Trata-se de uma revisão integrativa reali- nal, uma vez que esta é uma doença autolimi-
zada no período de janeiro a março do ano de tada, mas de recidiva comum (FRAUCHES et
2022, por meio de pesquisas nas bases de da- al., 2017). Entretanto, há vantagens no trata-
dos: Pubmed, SciELO, UpToDate e Lilacs. Fo- mento do MC, tais como a limitação da disse-
ram utilizados os descritores: Molusco Conta- minação e transmissão do vírus, tratamento sin-
gioso; Molusco Contagioso no Adulto; Tera- tomático e prevenção de infecções bacterianas
pêutica; Complicações. Desta busca foram en- secundárias e cicatrizes permanentes (MA-
contrados 15 artigos, posteriormente submeti- CHADO et al., 2010).
dos aos critérios de seleção. Alguns pontos devem ser observados para a
Os critérios de inclusão foram: artigos nos escolha do tratamento em um paciente, como
idiomas português, inglês e espanhol; publica- sua comprovação científica de efetividade, a to-
dos no período de 2009 a 2022 (últimos treze lerância à dor do paciente, a disponibilidade dos
anos) e que abordavam as temáticas propostas materiais e medicamentos, escolhendo assim o
para esta pesquisa, estudos do tipo revisão, dis- tratamento com melhor custo benefício. Não há
ponibilizados na íntegra. Os critérios de exclu- consenso sobre o melhor método terapêutico de
são foram: artigos duplicados, disponibilizados escolha, mas a literatura aponta a curetagem
na forma de resumo, que não abordavam dire- como técnica padrão-ouro, uma vez que oferece
tamente a proposta estudada e que não atendiam menor risco de recidiva e maior efetividade,
aos demais critérios de inclusão. com rápida resolução e poucos efeitos adversos.
Após os critérios de seleção, restaram 11 ar- Outras opções estão disponíveis, tais como a te-
tigos que foram submetidos à leitura minuciosa rapia com laser, o uso tópico de substâncias, a
para a coleta de dados. Os resultados foram crioterapia, o uso de imunomoduladores e anti-
apresentados em de forma descritiva, divididos virais (MACHADO et al., 2010; FRAUCHES
em categorias temáticas abordando o trata- et al., 2017).
mento e as possíveis complicações decorrentes Os tratamentos destrutivos são os mais uti-
do MC.

9
lizados e envolvem a curetagem, o uso de tópi- e simples, com poucos efeitos colaterais
cos e a aplicação de nitrogênio líquido, sendo (FRAUCHES et al., 2017) sendo uma boa op-
todos com eficácia semelhante, ainda que a pri- ção de tratamento.
meira técnica seja a mais descrita na literatura Dentre os tratamentos citados nos artigos a
(OLIVEIRA et al., 2017). Quando comparado expressão mecânica e o imiquimode, foram os
o tempo de evolução entre os tratamentos com que mostraram menos benefícios de uso. A ex-
creme dermatológico e a curetagem, observa-se pressão mecânica pode ser realizada com a mão
que os tópicos apresentaram evolução mais ou com uma pinça, com ou sem tintura de iodo
lenta (MACHADO et al., 2010). ou fenol. Essa técnica apresenta alta chance de
A crioterapia, conhecida pela aplicação de recidiva das lesões e de inflamação local, não
nitrogênio líquido, é bastante utilizada e mos- sendo recomendada (TRAVASSOS et al.,
tra-se muito efetiva. Como efeitos colaterais, 2010). Já o imiquimode (creme imunomodula-
essa técnica pode causar alteração de pigmenta- dor da família das imidazoquinolinas) não se
ção ou atrofia locais, bem como cicatrizes mostrou significamente superior ao placebo, e
(FRAUCHES et al., 2017). portanto, não é recomendado expor os pacientes
Já a curetagem, por sua vez, é um procedi- aos efeitos colaterais de seu uso (PINTO et al.,
mento realizado em consultório, em apenas um 2018; FRAUCHES et al.,2017).
dia, com anestésico aplicado localmente e conta
com efeito colateral de dor e incômodo (FRAU- Complicações
CHES et al., 2017). As complicações decorrentes da infecção
Dois tipos de tratamento tópico são bastante pelo vírus do MC não são comuns. As mais des-
descritos, ainda que outras opções estejam dis- critas na literatura são a inflamação local, o pru-
poníveis. São eles: a solução de KOH e a asso- rido, o aparecimento de eczemas e a maior
ciação de ácido salicílico e lático, onde ambos chance de infecção bacteriana secundária, além
são custo-efetivos, mas demandam tratamento das cicatrizes permanentes (FRAUCHES et al.,
mais longo (mais de 6 semanas segundo Köse 2017). Os pacientes imunocomprometidos
et al. (apud FRAUCHES et al., 2017). Como apresentam mais chance de complicação que os
efeitos colaterais, o hidróxido de potássio apre- imunocompetentes. Por isso a necessidade de
senta inflamação, hipopigmentação e ardência intervenção terapêutica rápida e eficaz nesses
local, enquanto a combinação de ácido salicí- pacientes, escolhendo aqueles métodos com
lico e lático pode apresentar eritema, descama- menos chance de infecções associadas (PINTO,
ção e ulceração (FRAUCHES et al., 2017). 2018).
Além desses, podemos citar o ácido triclo- As complicações psicológicas causadas
roacético (TCA) 20% ou 35%, medicamento pelo aparecimento das lesões envolvem princi-
que é comumente utilizado no tratamento de palmente o transtorno depressivo/ansioso e aco-
condilomas. O TCA pode ser utilizado na face mete principalmente as crianças (PINTO, 2018)
e região anogenital, o que traz vantagem à sua e os pacientes adultos que desenvolvem a lesão
aplicação quando comparada à cantaridina. Sua em região íntima, sendo associado ao contato
aplicação gera erosão cutânea, uma vez que é sexual e a uma IST.
uma substância cáustica. Os estudos concluí- Como exemplos de complicações raras, há
ram que o tratamento com o fármaco é efetivo a conjuntivite por MC quando existe lesão em

10
borda palpebral, lesões exuberantes e confluen- CONCLUSÃO
tes em pacientes imunossuprimidos, como os
pacientes soropositivos, ou até mesmo o apare- Concluímos que apesar do molusco conta-
cimento de abscessos por Staphylococcus lu- gioso ser uma condição benigna, o tratamento
gdunensis em locais com lesões típicas de MC se mostra obrigatório em pacientes imunodepri-
(DEPARTAMENTO DE DST E AIDS, 2005; midos, para evitar possíveis complicações ou
LACOUR, 2015). outras infecções oportunistas. Também deve-se
É importante que os pacientes com a doença tratar adultos sexualmente ativos com lesões na
não esperem, coçam ou apertem as lesões. Es- região do púbis, abdômen inferior, nádegas, ge-
ses atos favorecem a auto inoculação dos fômi- nital, mucosa oral e perianal já que estão asso-
tes e consequentemente o aparecimento de mais ciadas a transmissão sexual.
lesões subjacentes. Ademais, a ferida aberta, Em outros casos o tratamento deve ser ava-
sem tratamento adequado, irá propiciar um am- liado relacionando a vontade do paciente, a
biente inflamatório e infeccioso que pode vir a chance de complicações e o custo benefício. A
causar complicações secundárias. escolha do tratamento deverá ser feita por um
médico que escolherá para cada paciente a me-
lhor opção disponível no mercado levando em
conta suas individualidades.

11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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2010.

12
CAPÍTULO 3

TOXINA BOTULÍNICA NO
TRATAMENTO DA
HIPERIDROSE

ALANA ALVES OLIVEIRA¹


ISADORA CANEDO DE OLIVEIRA PROTASIO¹
JORDANA MESSIAS BARBALHO1
MILENA LORRAINE COUTO FRANCO1
MUNIR TAYFOUR OLIVEIRA1
NATÁLIA ASSIS LABRE1
NAJWA MUNIR TAYFOUR2

1
Discente - Medicina da Universidade de Rio Verde. Aparecida de Goiânia, Goiás
2
Discente - Medicina da Universidade de Rio Verde. Rio Verde, Goiás

Palavras-chave: Hiperidrose; Toxina botulínica; Tratamento.

13
INTRODUÇÃO cerca de 10 artigos que corresponderam ao ob-
jetivo da pesquisa e utilizados como base para
A hiperidrose (HI) é uma desordem comum a pesquisa.
que afeta significativamente a qualidade de vida Os critérios de inclusão foram: artigos em
de muitas pessoas. Trata-se de uma sudorese português e em inglês e que obtivessem bons
excessiva, principalmente nas axilas, palmas resultados acerca do uso da toxina botulínica
das mãos, plantas dos pés ou região craniofa- nos casos de hiperidrose, através de estudos de
cial, causada pelo aumento da atividade colinér- meta-análise, capazes de indicar a eficiência
gica das glândulas sudoríparas. É classificada desse tratamento. Os critérios de exclusão fo-
em HI primária (idiopática) - alguns estudos re- ram: artigos que não estivessem em português
centes vêm tentando demonstrar uma provável ou em inglês, que não abordaram a pesquisa de
ligação genética, ou secundária a outras doen- forma aprofundada e sistematizada, bem como
ças - como infecções, transtornos neurológicos aqueles que não apresentaram um resultado
ou metabólicos, neoplasias, lesões da medula bem definido.
espinhal, ansiedade e estresse (HASHIMOTO Após todos os critérios utilizados, 7 artigos
et al., 2018). Os dados disponíveis na literatura foram selecionados para a coleta de dados. Os
médica referentes a HI na população mundial resultados foram organizados de forma descri-
são escassos, variando de 0,072% a 9%. Os tra- tiva.
tamentos convencionais como o uso de antiper-
spirantes, iontoforese ou a simpatectomia não RESULTADOS E DISCUSSÃO
são eficazes em casos mais severos, ou então
são muito arriscados. O tratamento da HI com A hiperidrose é uma doença com baixa
toxina botulínica tipo A não é considerado de ocorrência, sem causar risco grave aos pacien-
primeira linha, mas apresenta resultados signi- tes, no entanto, causa um grande incômodo por
ficativos na redução da sudorese, através do conta da transpiração excessiva. O tratamento
bloqueio da liberação da acetilcolina nas mem- de hiperidrose com toxina botulínica, atual-
branas pré-sináptica, sem apresentar riscos e mente, tem um papel fundamental na melhora
efeitos colaterais pouco relevantes, sendo dis- da qualidade de vida dos portadores dessa pato-
pensável a internação e proporcionando ao pa- logia (HAGEMANN et al., 2019).
ciente retornar às suas atividades no mesmo dia. Na hiperidrose as glândulas sudoríparas
O objetivo deste capítulo foi analisar as re- écrinas estão hipertrofiadas e hipersecretoras, o
percussões clínicas e a anatomofisiológicas do uso da toxina botulínica consegue bloquear a
uso de toxina botulínica no tratamento da hipe- transmissão sináptica das glândulas, interrom-
ridrose primária. pendo os sintomas da hiperidrose. Com a apli-
cação da toxina botulínica, provavelmente, esse
MÉTODO bloqueio causará atrofia e involução das glân-
dulas sudoríparas écrinas (REIS et al., 2011).
Revisão sistemática realizada no período de A hiperidrose atinge cerca de 1% da popu-
janeiro a março de 2022, através de pesquisas lação, prejudicando seu desempenho profissio-
de dados em artigos científicos do Google Aca- nal e suas relações de ordem social. Acomete
dêmico, SciELO e Pubmed. Foram encontrados principalmente adultos jovens, e a história fa-

14
miliar está presente em 30% a 65% dos pacien- nificativa na produção de suor, de aproximada-
tes. A presença de hiperidrose ao longo dos mente 120,1 mg/min. Em 9 dos 10 pacientes os
anos gera uma descarga emocional, desencade- efeitos perduraram por 5 meses. Nas reações
ando processos repetitivos que levam ao agra- adversas, foram relatadas ardência durante a
vamento dos sintomas, tornando cada vez mais aplicação da injeção e extensão dos músculos
difícil suportar e conviver com a doença (REIS da testa.
et al., 2011). Alves et al., (2013) realizaram um estudo
Os resultados apresentados pelos artigos in- em pacientes do sexo masculino de 20 anos. Foi
dicam um desenvolvimento satisfatório da to- constatado uma diminuição da hiperidrose pal-
xina botulínica tipo A na diminuição da sudo- mar, axilar e plantar já na primeira semana após
rese. Tais estudos apontam que a toxina do tipo o tratamento, que foi mantido por 26 semanas
A possui efeitos colaterais pouco relevantes e ao todo. Foram apontados como desvantagens a
passageiros, não implicando, assim, na restri- baixa duração da toxina botulínica e o alto custo
ção do seu uso, além de não apresentar riscos, dessa.
pois não há a necessidade de anestesia de De acordo com um trabalho feito por Reis et
grande porte e internamento. Entretanto, um al., (2011) a apresentação clínica mais comum
ponto que limita o uso dessa toxina é seu alto da hiperidrose é a axilar-palmar, seguida pela
custo (FILHO et al., 2018). palmar-plantar, pela axilar isolada e pela pal-
Ademais, comprovou-se que o fator gênero mar isolada (Figura 3.1). Foi observado o iní-
não interfere significativamente nos resultados cio do efeito terapêutico a partir do terceiro dia,
do tratamento com esse anticolinérgico. Em com diminuição dos sintomas na primeira se-
contrapartida, existe uma relação positiva entre mana de tratamento e de mais de 90% na se-
os fatores como sobrepeso, obesidade e o es- gunda semana de tratamento. A pesquisa cons-
tresse com a incidência da hiperidrose. tatou que apenas 2 pacientes precisaram de do-
Nos estudos de Heckmann et al., (2001) 145 ses de reforço intradérmicas para tratar áreas re-
voluntários utilizaram injeções da toxina - as siduais de sudorese excessiva, sendo aplicadas
dosagens não foram reveladas. Os voluntários 2 meses após a primeira aplicação. O tempo de
produziam cerca de 980 g de suor nas axilas duração dos sintomas diminuídos variou entre 4
(490 g em cada). Duas semanas após o uso da e 12 meses, sendo a duração média de 7 meses.
toxina, houve uma redução de aproximada- Quanto à satisfação dos pacientes, 95,3% decla-
mente 86,3% na produção de suor nas axilas, raram estarem satisfeitos com os resultados,
saindo de 490 g cada, para 67 g. Além do nítido apesar do tratamento ser temporário.
resultado positivo do uso da toxina botulínica, Os estudos em geral, apontam inicialmente
os voluntários não apresentaram efeitos colate- a importância de entender o paciente ao todo
rais. antes de aplicar um tratamento. Também apon-
Já nos estudos de Kinkelin et al., (2001) tam que o uso dessa toxina tem mostrado resul-
teve a presença de efeitos colaterais. Foram uti- tados promissores no tratamento de várias pato-
lizados no estudo 10 homens com hiperidrose logias, dentre elas a hiperidrose, na qual vem se
frontal, esses foram tratados com doses de 86 sobressaindo. Nesse contexto, observou-se
UM da toxina. Após quatro semanas de uso, os também melhorias nos sintomas e na qualidade
voluntários apresentaram uma diminuição sig- de vida dos pacientes, através da redução da

15
pontuação de gravidade da doença da hiperi- pós tratamento, respectivamente (REIS et al.,
drose, bem como na ausência de casos de hipe- 2011).
ridrose compensatória. Com isso, confirma-se a
eficácia do tratamento com o uso da toxina bo- Figura 3.2 Teste de Minor, pré-tratamento
tulínica (REIS et al., 2011).

Figura 3.1 Áreas comprometidas pela hiperidrose primá-


ria nos 39 pacientes do estudo número de pacientes

Fonte: REIS et al., 2011.


Fonte: TAMURA et al.,2011.
A Tabela 3.1 mostra os quadros comparati-
Figura 3.3 Teste de Minor, pós tratamento
vos dos estudos citados que corroboram com a
eficácia do uso da toxina no tratamento da hi-
peridrose.
O diagnóstico da hiperidrose é majoritaria-
mente clínico, considerando a história e os si-
nais da produção excessiva de suor, os quais
normalmente têm início na adolescência. O
teste de Minor baseia-se no uso de uma reação
pelo iodo e o amido. Quando o suor é secretado
na pele, as duas substâncias se misturam visua-
lizando, assim, a mudança de coloração. As Fi-
guras 3.2 e 3.3 mostram o teste de Minor pré e
Fonte: TAMURA et al., 2011.

Tabela 3.1 Número de pacientes tratados


Autor/ano Número Local Quantidade Dose Redução em Duração Quantidade de
de pacien- de suor por duas média de suor por axila
tes axila em semanas de anidrose em gramas
gramas tratamento após tra-
tamento
Heckmann 145 Axila 980g Não 86,3% 6 meses 67 g
et al., 2001 relatada
Kinkelin et 10 Fronte Não relatada 86 MU 69,1% 5 meses Não relatado
al., 2000
Fonte: Adaptada de Dias et al., 2001.

16
CONCLUSÃO drose. No que tange os efeitos colaterais ob-
serva-se complicações não graves, temporárias
A hiperidrose primária possui uma boa res- e que não afetam diretamente o bem-estar dos
posta ao tratamento com a injeção intradérmica usuários. Esses efeitos quando comparados
de toxina botulínica do tipo A, uma opção não com os benefícios causados pela toxina se tor-
invasiva, com poucos efeitos colaterais e eficaz nam diminutos já que, com a ausência do suor
para o excesso de sudorese. É um tratamento rá- em excesso, os pacientes encontram grande me-
pido, de fácil manuseio e que permite melhorar lhora psicossocial, pessoal e funcional.
a qualidade de vida dos pacientes com hiperi-

17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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18
CAPÍTULO 4

DERMATITE ATÓPICA: A
RELEVÂNCIA DOS FATORES
ASSOCIADOS NO DESENVOLVIMENTO
E FISIOPATOGENIA DA DOENÇA

THATIANY PASLAR LEAL¹


BRUNA CREMONEZI LAMMOGLIA¹
GABRIELA HASSELMANN¹
BIANCA SADI KALOUSSIE¹
CAROLINA SOARES BULCÃO¹
ISABELA VALENTIM BORGES¹
TERESA NOCITO SALAMONE¹

1
Discente - Graduação de Medicina da Universidade Santo Amaro, São Paulo

Palavras-chave: Dermatite; Dermatite atópica; Lesões eczematosas.

19
INTRODUÇÃO a resposta Th2, e, cronicamente IL-5, IL-12,
IFN-gama e fator de colônias granulocíticas e
A Dermatite Atópica (DA), também cha- macrofágicas (GM-CSF), associadas a resposta
mada de Eczema Atópico, é uma doença cutâ- Th1. Portanto, a inflamação cutânea na DA
nea inflamatória de características pruriginosa, apresenta um padrão bifásico de ativação das
crônica e recidivante, que acomete com maior células T (FESTA et al., 2019).
frequência na faixa etária pediátrica, porém, Atualmente já se sabe que a doença não é
nada impede que a doença se manifeste em contagiosa, sendo comum a associação com
adultos. Sua prevalência vem apresentando um história familiar e/ou pessoal de atopia, que é
crescente aumento nas últimas décadas nos pa- um grupo de condições que englobam eczema,
íses industrializados. Embora possa se manifes- asma e rinite alérgica, ou seja, a chamada “trí-
tar em qualquer faixa etária, 60% dos casos de ade alérgica”. Alguns artigos destacam que uma
DA ocorrem no primeiro ano de vida e costuma criança que tem um dos pais com uma condição
assumir forma leve em 80% das crianças aco- atópica tem aproximadamente 25% de chance
metidas (FESTA et al., 2019; LEITE et al., de também apresentar alguma forma de doença
2017; BOTELHO, 2010). atópica (ANTUNES et al., 2021; SBD, 2021a).
Há uma estimativa de que 10 a 20% das cri- O quadro clínico clássico é representado por
anças nos Estados Unidos, Europa, Japão e lesões eczematosas, um tipo de dermatose ca-
Austrália sejam acometidas pela doença. Nos racterizada por vários tipos de lesões. Pode ser
adultos a prevalência varia de 1 a 3%. Compa- agudo, onde começam com marcas avermelha-
rativamente, a prevalência é maior e está se das com bolhas de água na superfície que, ao se
agravando nos países mais industrializados, romperem, eliminam um líquido claro, o que
isso sugere que fatores ambientais estão relaci- caracteriza a fase subaguda do eczema. Já na
onados e desempenham um papel importante fase crônica, a secreção começa a secar, le-
no desenvolvimento da doença. Outros fatores vando à formação de crostas. Nessa etapa, se
alarmantes e agravantes estão relacionados a observa também o aumento da espessura da
mudanças no estilo de vida, no padrão alimen- pele (CARVALHO et al., 2017; CAMPOS
tar e no aumento da exposição aos alérgenos in- 2021; SBD, 2021b).
tradomiciliares. As lesões características da doença podem
Sua etiologia é dita como multifatorial, apresentar localizações variadas de acordo com
apresentando uma complexa interação de fato- a idade do paciente. Normalmente as lesões
res genéticos, imunológicos e ambientais. Os aparecem após o segundo mês de vida do lac-
indivíduos com DA, normalmente apresentam tente, acometendo face e poupando maciço cen-
predisposição genética para desenvolver res- tral, inicialmente. Na infância, as lesões de pele
posta de hipersensibilidade imediata, mediada são mais avermelhadas, podendo até eliminar
por anticorpos da classe IgE (FESTA et al., água, e localizam-se na face, tronco e superfí-
2019; SBD, 2021a; CAMPOS, 2021; WOLFF cies externas dos membros; já as lesões em cri-
et al., 2008, BOTELHO, 2010). anças maiores e adultos localizam-se nas fossas
A resposta imune nos pacientes com altos cubitais, poplíteas, face e pescoço, sendo mais
níveis de IgE, apresenta na fase aguda, aumento secas, escuras e espessas. Em casos mais gra-
de interleucinas do tipo 4 e 13, sendo associada ves, a doença pode acometer boa parte do corpo

20
(FESTA et al., 2019; CAMPOS, 2021; SBD, pic dermatitis”, “Lesious eczematous” “Der-
2021a). matitis”.
A DA normalmente, se associa ao prurido,
que é uma manifestação clínica sempre presente RESULTADOS E DISCUSSÃO
e sendo caracterizado como “incontrolável e
constante” por alguns pacientes. Por isso sendo, A etiologia da dermatite atópica (DA) é de-
um dos fatores responsáveis pela diminuição da sencadeada por múltiplos fatores e vem sendo
qualidade de vida dos pacientes e de seus fami- bastante discutida nos últimos anos. Dentre as
liares, observando-se várias dificuldades psi- principais causas, são amplamente atribuídas a
cossociais como adaptação na escola e/ou tra- esta doença: as alterações da barreira cutânea,
balho, distúrbios de sono e de comportamento. podendo estar associadas ou não a infecções por
O ato de coçar-se, associado a pele seca, é res- microrganismos, sendo o principal o Staphylo-
ponsável por gerar ferimentos, o que facilita a coccus aureus; fatores genéticos; imunológicos
contaminação das feridas por bactérias. Entre- e ambientais (ANTUNES et al., 2017).
tanto, não é raro associar DA com infecção pelo A barreira cutânea, quando íntegra, é res-
vírus da Herpes, causando um quadro denomi- ponsável pela proteção da entrada de microrga-
nado erupção variceliforme de Kaposi. Além, nismos ou substâncias alérgenas. As principais
das infecções fúngicas, que também podem consequências fisiológicas da DA são proveni-
ocorrer na pele do portador de dermatite atópica entes do estrato córneo, esta camada foi descrita
(SBD, 2021a; CAMPOS 2021). como “tijolos e cimento”, sendo que os tijolos
Neste contexto, a presença de eczemas em são representados pelos corneócitos, e, o ci-
topografia característica, o prurido, a história mento, pelos lipídios. Os corneócitos são for-
pessoal ou familiar de asma, rinite alérgica e mados por proteínas, como a filagrina; já o
conjuntivite, e/ou DA e o caráter recidivante manto lipídico é composto por ceramidas, co-
das lesões durante a infância são os critérios lesterol e ácidos graxos livres (CARDILI et al.,
maiores para o diagnóstico de DA que é clínico 2013).
e baseado na história clínica do paciente (CAM- A filagrina presente nos corneócitos tem
POS, 2021; CARVALHO et al., 2017). um papel fundamental na função e manutenção
O objetivo deste capítulo foi avaliar os cri- da barreira da pele. Ela é formada através do
térios clínicos, laboratoriais e fatores associa- aumento da permeabilidade dos íons cálcio na
dos à fisiopatogenia e desenvolvimento da Der- membrana dos queratinócitos, que irão ativar as
matite Atópica (DA). enzimas do tipo peptidases e converter a profi-
lagrina em filagrina, que por sua vez, será de-
MÉTODO gradada em aminoácidos livres, desencadeando
o papel de retenção de água no estrato e con-
Trata-se de uma revisão narrativa, integra- servação do pH ácido da pele, para que, consiga
tiva, de artigos da base de dados Pubmed, Lilacs impedir a proliferação de microrganismos pela
e Medline, publicados em inglês e português, barreira cutânea. Recentemente, algumas
nos últimos cinco anos. Foram escolhidas as re- mutações genéticas evidenciaram que até 50%
visões sistemáticas, incluindo metanálise, e nar- dos pacientes com DA possuem acometimento
rativas. Os descritores utilizados foram: “Ato- do gene da filagrina, desencadeando uma dimi-

21
nuição das ceramidas, perda de água e aumento fragrâncias ou corantes adicionados a loções e
de enzimas proteolíticas que facilitam a coloni- sabonetes; detergentes e produtos de limpeza
zação de bactérias (RIVITTI, 2014; CARDILI em geral; roupas de lã e de tecido sintético (au-
et al., 2013; ADDOR & AOKI, 2010). mentam o prurido); baixa umidade do ar (au-
Com a perda da integridade da barreira cu- menta o ressecamento da pele); frio intenso, ca-
tânea há uma maior susceptibilidade de infec- lor e transpiração (ambiente quente, variações
ção pelo Staphylococcus aureus. A fragilidade repentinas de temperatura e roupas quentes); in-
da matriz lipídica faz com que haja uma dimi- fecções, estresse emocional (aumentam o pru-
nuição do limiar do prurido, e, este leva conse- rido) e certos alimentos (CDD, 2021; SBD,
quentemente ao trauma de pele, desencadeando 2021; AVENA-WOODS; 2017; RIVITTI,
uma exposição de proteínas (laminina e fibro- 2014).
nectina) que se ligam com muita facilidade nas A gravidade da doença e seu estabeleci-
adesinas presentes na parede celular do S. au- mento, pode determinar o quadro clínico, que
reus facilitando sua penetração (ADDOR & pode ser localizado ou disseminado. As princi-
AOKI, 2010). pais apresentações clínicas são lesões eczema-
A imunopatogenia na DA está associada, tosas, mal demarcadas, com prurido e que po-
principalmente, a alterações de genes que codi- dem resultar em uma pele seca, podendo causar
ficam a filagrina e desintegram a barreira cutâ- ferimentos e na progressão da doença, esses fe-
nea. Essa disfunção faz com que haja uma ati- rimentos podem facilitar a invasão de bactérias
vação do sistema inato da pele e aumente a dis- como Staphylococcus aureus, podendo gerar
ponibilidade de citocinas inflamatórias princi- uma infecção secundária. As lesões podem ser
palmente por via TH1 e TH2. Na via TH1 os crônicas ou recidivantes, com distribuição e
IL-12 e interferons suprimem a produção de morfologia variável a depender da idade. A ex-
IgE e a via TH2 (IL-5, IL- 13, IL-31) desenca- pressão do fenótipo da dermatite atópica, pode
deiam um aumento na formação de IgE, que na variar também conforme a raça, sendo que em
DA está aumentado. Através dos estímulos am- crianças afro-americanas, normalmente há pre-
bientais ocorre uma ativação pelos antígenos dominância de lesões com característica mais
das células de Langerhans que estimula os lin- papular ou folicular. Em pacientes de pele mais
fócitos TH2 a produzirem interleucinas (IL-4, escura, também pode-se observar maior hipo-
IL-5, IL-13, IL-31) e ativam os linfócitos B a pigmentação e hiperpigmentação, principal-
produzirem cada vez mais IgE desencadeando mente nas áreas de lesões liquenificadas ou que
a degranulação dos mastócitos que liberam his- estão em remissão (WALDMAN, 2018; WEI-
tamina, que é responsável por promover o qua- DINGER & NOVAK, 2016; SBD, 2021;
dro clínico da DA (ANTUNES et al., 2017; AVENA-WOODS; 2017).
WALDMAN et al., 2018). Segundo o Guia Prático de Atualização em
A DA, também apresenta alguns fatores que Dermatite Atópica (2021), os principais acha-
podem predispor o estabelecimento da doença, dos clínicos das lesões da DA são: eritema, pá-
bem como ao desenvolvimento da doença de pula, seropápula, vesículas, escamas, crostas e
forma grave. Podemos incluir alergia a pólen, liquenificação, além de achados histológicos
ao mofo, a pelos de animais; contato com mate- inespecíficos, como espongiose, acantose, para-
riais ásperos; exposição a irritantes ambientais; queratose, infiltrado linfocitário e exocitose. As

22
lesões podem se apresentar em três fases prin- Figura 4.1 Dermatite atópica em fase infantil
cipais: aguda, subaguda e crônica. As lesões
agudas são eritematosas, com pápulas edemato-
sas e placas com secreção e crosta; já as lesões
subagudas se desenvolvem com manchas erite-
matosas ou placas mal definidas com escama-
ções antes de se tornarem placas escamosas li-
quenificadas. As lesões crônicas são prurigino- Fonte: Adaptada de WEIDINGER & NOVAK, 2016.
sas, mal definidas e acompanhadas de escoria-
ções, a pele não afetada pode apresentar prurido Figura 4.2 Dermatite atópica em fase pré-puberal
e xerose (SBD, 2021).
O quadro clínico varia conforme a faixa etá-
ria do paciente, podendo ser dividido em: fase
infantil, fase pré-puberal e fase adulta. A fase
infantil, como demonstra a Figura 4.1, ocorre
dos 3 meses aos 2 anos de idade, é caracterizada
por um prurido intenso e lesões com eritema, Fonte: Adaptada de WEIDINGER & NOVAK, 2016.

pápulas, vesículas e formação de crostas, ou


seja, geralmente agudas, que ocorrem principal- A fase adulta, Figura 4.3, ocorre acima dos
mente na face e nas superfícies extensoras dos 12 anos e se assemelha a fase pré-puberal. En-
membros. Os eczemas podem ser desencadea- tretanto, as lesões são mais liquenificadas e es-
dos por uma por infecções respiratórias, altera- coriadas que na fase anterior. Acometem prin-
ções climáticas, fatores emocionais ou alimen- cipalmente flexuras, tornozelos, face, mãos e
tos (ANTUNES, 2017; WEIDINGER & NO- punhos. Podem também acometer o pescoço, a
VAK, 2016). nuca e o tronco superior. Quando em adultos, o
A fase pré-puberal, Figura 4.2, ocorre a eczema pode ser crônico e acometer apenas
partir dos 2 anos de idade até a puberdade. As mãos e se apresentar com lesões semelhantes as
lesões ocorrem geralmente nas flexuras dos jo- pruriginosas (ANTUNES, 2017; WEIDIN-
elhos, cotovelos, pescoço, pulso e tornozelos. GER, 2016).
As lesões eritematosas e vesiculares da fase Após a identificação das lesões caracterís-
aguda dão espaço para lesões com liquenifica- ticas, podemos considerar o diagnóstico da der-
ção, com espessamento, endurecimento e acen- matite atópica como clínico. Feito por meio de
tuação dos sulcos da pele. Nessa fase da doença, uma extensa e completa anamnese, associada
cerca de 60% dos pacientes apresentam me- ao exame físico e história familiar. Quando
lhora e/ou desaparecimento das lesões (ANTU- houver histórico de atopia, eosinofilia e au-
NES, 2017; WEIDINGER & NOVAK, 2016). mento de IgE circulante, o diagnóstico é refor-

23
çado e a suspeita aumenta. A confirmação diag- nea antes dos 2 anos, envolvimento flexural,
nóstica é feita por meio dos critérios apresenta- história de atopia respiratória e xerodermia
dos na classificação de Hanifin e Rajka, sendo (AZULAY et al., 2017; FLEMING et al., 2020;
necessário associação de no mínimo 3 critérios SALVADOR et al., 2017).
maiores (Quadro 4.1) a 3 critérios menores Para avaliação da gravidade da dermatite
(Quadro 4.2) (AZULAY et al., 2017). atópica são utilizados 2 scores, o EASI e SCO-
RAD, ambos avaliam área de pele acometida e
Figura 4.3 Dermatite atópica em fase adulta gravidade de uma determinada lesão que é men-
surada por eritema, edema, presença de crosta,
sinais de escoriações e liquenificação (AZU-
LAY et al., 2017; CARTLEDGE & CHAN,
2017).
Em 2007, o National Institute for Health
and Care Excellence propôs um sistema de
Fonte: Adaptada de WEIDINGER & NOVAK, 2016.
pontuação de gravidade simplificado em que o
impacto na qualidade de vida dos pacientes é
Os critérios U.K foram propostos por Wil-
um importante fator na decisão do tratamento
liam et al., (1994) e são simplificados e incluem
apropriado (MOUNKEY & AGIUS, 2017,
os componentes prurido cutâneo e envolvi-
SALVADOR et al., 2017).
mento de 3 ou mais dos achados: erupção cutâ-

Quadro 4.1 Critérios maiores para o diagnóstico de dermatite atópica

CRITÉRIOS MAIORES

Prurido

Morfologia e distribuições típicas

Liquenificação flexural em adultos

Envolvimento facial e extensor em lactentes e crianças

Dermatite – crônica ou cronicamente recorrente

História pessoal ou familiar de atopia (asma, rinite alérgica, dermatite atópica)


Fonte: AZULAY et al., 2017.

Quadro 4.2 Critérios menores para o diagnóstico de dermatite atópica

CRITÉRIOS MENORES

Catarata (anterior subcapsular) Ceratocone

Ceratose pilar Conjuntivite recorrente

Dermatite nas mãos não alérgica irritativa Dermatite nos mamilos

24
Dermografismo branco Eczema acentuado perifolicular

Escurecimento periorbital Hiperlinearidade palmar

Ictiose IgE elevada

Infecções cutâneas (Staphylococcus aureus, herpes Prega infraorbital (linhas de Dennie-Morgan


simples)

Intolerância a lã Pitiríase alba

Intolerância alimentar Queilite

Palidez facial/eritema facial Reatividade cutânea imediata tipo 1

Prurido ao transpirar Xerose


Fonte: AZULAY et al., 2017.

Para evitar a doença ou sua piora deve-se to- onde está localizada e da idade do paciente.
mar cuidado na hora do banho, devendo ser rá- Além disso, deve-se orientar o paciente a evitar
pido e com água morna (água quente leva ao banhos quentes e prolongados por conta da su-
ressecamento da pele), evitar o uso excessivo de dorese excessiva. É relevante também que o pa-
sabonetes e buchas, aplicar hidratante neutro ciente evite utilizar roupas de material sintético
nos três minutos logo após o banho, evitando ou de lã (WESTON & HOWE, 2019; GUIL-
que a água que está na pele evapore, ingestão de LEN, 2021; RIVITTI, 2014).
água auxilia na hidratação da pele, procurar evi- Pode-se receitar o uso de anti-histamínicos
tar substâncias alérgicas como: ácaros, fungos, para controle do prurido. Os corticoides tópicos
pelos de animais e observar alimentos que pos- têm efetividade no tratamento. Ademais, inibi-
sam piorar a condição, evitar substâncias irri- dores de calcineurina são imunomoduladores
tantes como: produtos químicos em geral, rou- de utilização recente no tratamento de dermatite
pas de lã ou de fibras sintéticas, poeira e fumaça atópica, com ação semelhante aos corticosteroi-
de cigarro, optar por roupas de algodão, manter des, sendo anti-inflamatórios e inibindo a libe-
os cômodos da casa bem arejados, com poucos ração de interleucinas. Nos casos de lesões com
móveis, livre de cortinas, carpetes e bichos de infecções secundárias é necessário o uso de an-
pelúcia.Controle do prurido e orientação mé- tibióticos efetivos contra S. aureus para me-
dica adequada, são medidas fundamentais para lhora do quadro (WESTON & HOWE, 2019).
evitar o agravamento da doença (CDD, 2021;
SBD, 2021). CONCLUSÃO
O tratamento para dermatite atópica se ba-
seia em orientar o paciente e a família sobre al- A dermatite atópica é uma condição infla-
guns cuidados, entre eles está incluída a hidra- matória crônica cutânea, que pode apresentar
tação da pele, com hidratantes ou alfa-hidroxi- inúmeros fatores de risco, tanto intrínsecos (ou
ácidos, podendo ou não estar associada a cre- genéticos) como extrínsecos (ou alérgicos), que
mes de corticosteróide de potência variável de- se associam ao desenvolvimento e prognóstico
pendendo do tipo de lesão a ser tratada, da área da doença, e, estes normalmente podem ser evi-

25
tados, a fim de tentar reduzir o estabelecimento alérgica precoce e/ou recorrente. Juntamente
dos sintomas clínicos e auxiliar na prevenção de com sibilos no último ano e ter histórico de ri-
exacerbações clínicas que podem ocorrer. nite alérgica.
Os fatores genéticos, apesar de importantes, Outro fator determinante para o agrava-
uma vez que determinam uma predisposição mento e/ou persistência da doença é grau de es-
hereditária para o desenvolvimento de uma res- colaridade materna, uma vez que, quando cri-
posta de hipersensibilidade imediata mediada ança e durante o seu crescimento até fase
por anticorpos do tipo IgE, não justificam as di- adulta, o paciente depende da educação dos pais
ferenças de prevalência e incidência populacio- quanto aos riscos desencadeantes, ao uso cor-
nal. Bem como, não explicam o aumento da reto de medicação anti-inflamatória e aos hábi-
prevalência, nas últimas décadas. Em algumas tos protetores, como manter uma adequada hi-
regiões, a interação entre os fatores genéticos dratação da pele.
predisponentes à dermatite atópica e fatores Para evitarmos a DA, ou, seu agravamento,
ambientais, ditos extrínsecos, tais como irritan- deve haver a abordagem e a adesão ao trata-
tes de contato com a pele, o clima, poluentes, mento de maneira efetiva e completa, devido à
fumaça de tabaco, vida urbana e dieta têm sido natureza multifatorial de sua fisiopatologia,
apontados como determinantes desse aumento. uma série de medidas devem ser tomadas,
No presente estudo foi demonstrado que a como: controle do prurido e orientações médi-
persistência da DA na idade adulta está relacio- cas adequadas, em relação a higiene e segu-
nada ao aparecimento precoce do início dos sin- rança de fatores ambientais, que são fundamen-
tomas, formas graves de apresentação, história tais, apesar de outros fatores intrínsecos esta-
familiar positiva, e, sensibilização ou exposição rem envolvidos na patogênese.

26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GUILLEN, J.S.Q. Abordagens no tratamento da dermatite
atópica. Disponível em: https://bwsjour-
27
CAPÍTULO 5

LÍQUEN ESTRIADO NO
PACIENTE ADULTO:
RELATO DE CASO

RENATA DUARTE FERREIRA1


AYLA JAQUELINE PEREIRA CARVALHO1
IARA ALMEIDA ADORNO1
THAIS MOREIRA LARA1
OLÍVIA PEREIRA E PASSOS1
BEATRIZ PEREIRA OLIVEIRA1
JÉSSICA CIPRIANO GONÇALVES2
MARIA OLÍVIA DE LIMA BEZERRA3

1
Discente – Medicina da Universidade de Vassouras
2
Graduado – Medicina da Universidade de Vassouras
3
Docente – Departamento de Dermatologia da Universidade de Vassouras

Palavras-chave: Erupções liquenóides; Dermatopatias; Dermoscopia.

28
INTRODUÇÃO Ainda há grande falta de informações a res-
peito dessa dermatose na Atenção Básica, visto
O líquen estriado é um tipo de dermatose que se trata de uma entidade incomum, porém
com baixa prevalência, ocorrendo mais comu- que pode levar a tratamentos, exames adicio-
mente em crianças e adolescentes na faixa etá- nais e gastos desnecessários (AGUIRRE et al.,
ria de 2 a 15 anos, principalmente no sexo fe- 2019). Com o objetivo de aprimorar o conheci-
minino, sendo incomum o seu relato em adultos mento dessa patologia entre os profissionais de
(CASTRO et al., 2016; RAMOS et al., 2012). saúde, relatamos um caso atípico de líquen es-
Trata-se de uma doença inflamatória adquirida, triado, com surgimento na faixa etária adulta,
de etiologia ainda não conhecida, sendo infec- cuja evolução se apresentou de forma persis-
ções, traumas, vacinas, estresse, gravidez, dro- tente. Discutimos sobre os aspectos fisiopatoló-
gas e atopia considerados possíveis fatores pre- gicos e morfológicos dessa condição dermato-
cipitantes dessa dermatopatia (CASTRO et al., lógica incomum, disponibilizando informações
2016; AGUIRRE et al., 2019). e conhecimento que possibilitem o reconheci-
Clinicamente, é caracterizado pela erupção mento clínico, na Atenção Básica, desse diag-
súbita de pequenas pápulas eritematosas coales- nóstico diferencial para outras dermatoses que
centes. Na maior parte dos casos, o quadro é acompanham as linhas de Blaschko.
composto por lesões únicas e unilaterais que
acometem principalmente as extremidades e ti- MÉTODO
picamente formam faixas, em disposição linear
seguindo as linhas de Blaschko, as quais repre- O presente capítulo consiste em uma revisão
sentam linhas imaginárias que, na pele, sepa- de literatura com relato de caso. As informações
ram os territórios enervados por diferentes raí- relacionadas ao caso clínico apresentado foram
zes nervosas (IRIZAR et al., 2018; HERRERA obtidas por meio de anamneses e exames físico
et al., 2013). No geral, consiste em uma condi- realizados de forma seriada com o paciente,
ção assintomática, não estando associada à pru- além do registro fotográfico das fases evoluti-
rido ou ardor na maioria das vezes (RAMOS et vas, antes e pós tratamento, da dermatopatia
al., 2012; IRIZAR et al., 2018). descrita. O local da pesquisa envolveu um am-
O diagnóstico é eminentemente feito de bulatório especializado em dermatologia locali-
forma clínica e não requer testes adicionais para zado na região Sul-Fluminense da cidade do
a sua investigação (AGUIRRE et al., 2019; IRI- Rio de Janeiro.
ZAR et al., 2018). Tratamento específico não se Tratando-se de um estudo que envolve a
faz necessário na maioria dos casos, visto que participação e colaboração de um paciente, o
consiste em uma condição com evolução habi- capítulo apresentado atendeu aos critérios de
tualmente autolimitada, apresentando regressão pesquisa envolvendo seres humanos estabeleci-
espontânea em meses. Em certas ocasiões, há a dos na Resolução 466/2012 do Conselho Naci-
possibilidade de apenas uma hipopigmentação onal de Saúde/Ministério da Saúde (BRASIL,
residual permanecer como seqüela, principal- 2012), tendo aprovação do Comitê de Ética em
mente nos indivíduos que apresentam fototipo Pesquisa sob o parecer de número 4.339.954.
alto (AGUIRRE et al., 2019; IRIZAR et al., Além disso, obtida a assinatura do Termo de
2018; FOGAGNOLO et al., 2011). Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foi

29
documentado o consentimento do paciente a auto-imune por mãe portadora de esclerose
respeito da realização do relato de caso. múltipla. Relata apresentar a condição derma-
A busca por referencial teórico ocorreu nas tológica conhecida como queratose pilar e estar
plataformas digitais: SciELO, Pubmed e Goo- em investigação diagnóstica de asma brôn-
gle Acadêmico, bem como em livros científicos quica.
da área relativa ao tema. Foram utilizados os
descritores: líquen estriado no adulto; trata- Figura 5.1 Imagem obtida antes do tratamento. Pápulas
mento do líquen estriado; líquen estriado em eritemato-escamosas não pruriginosas em região de ante-
braço esquerdo
sua forma clássica. Desta busca foram encon-
trados 23 artigos, posteriormente submetidos
aos critérios de seleção.
Os critérios de inclusão foram: artigos nos
idiomas português, espanhol ou inglês, e que
abordavam as temáticas propostas para esta
pesquisa por meio de estudos do tipo revisão de
literatura ou relato de caso disponibilizados na
íntegra. Os critérios de exclusão foram: artigos
disponibilizados na forma de resumo, que não
abordavam diretamente a proposta estudada e
que não atendiam aos demais critérios de inclu-
são.
Após os critérios de seleção restaram 15 ar- Fonte: Arquivo pessoal.

tigos que foram submetidos à leitura minuciosa


para a coleta de dados. Os resultados foram Ao exame dermatológico, foram observadas
apresentados de forma descritiva, associado a pápulas eritematosas pequenas de 2 mm de diâ-
figuras referentes ao registro fotográfico do re- metro, discretamente ceratóticas, coalescentes e
ferido caso. em disposição linear, localizadas ao longo do
antebraço esquerdo seguindo as linhas de Blas-
RELATO DE CASO chko (Figura 5.2). Não foram encontrados aco-
metimento mucoso ou ungueal.
Paciente A.J.P.C, sexo feminino, 26 anos de Na dermatoscopia foi observado um padrão
idade, há aproximadamente 12 meses apresen- que muito se assemelhou à descrição dermatos-
tou um aparecimento súbito de pápulas erite- cópica clássica do líquen estriado, com ‘’pontos
mato-escamosas não pruriginosas dispostas de violáceos entremeados por áreas esbranquiça-
forma linear em região de antebraço esquerdo das’’ (CASTRO et al., 2016).
(Figura 5.1), com posterior aumento progres- Diante do caráter persistente da lesão, a con-
sivo da lesão. Nega trauma recente na região duta expectante, nesse caso, não foi conside-
afetada e vacinação nos últimos meses. Nega ter rada. O tratamento prescrito foi o uso tópico de
feito o uso de medicações previamente ao início corticosteróide, com aplicação da pomada der-
do quadro. Nega história de líquen estriado na matológica valerato de betametasona 1 mg/g, 2
família, mas afirma história familiar de doença vezes por dia, pela manhã e pela noite.

30
Figura 5.2 Imagem obtida antes do tratamento. Lesões DISCUSSÃO
pápulo eritematosas ceratóticas, coalescentes e em dispo-
sição linear, localizadas em antebraço esquerdo
O líquen estriado, também conhecido como
dermatose linear liquenóide, é uma condição in-
flamatória adquirida incomum e habitualmente
auto-limitada, acometendo principalmente cri-
anças (AGUIRRE et al., 2019; FOGAGNOLO
et al., 2011; TAVARES et al., 2013). Sua etio-
logia ainda não foi esclarecida, sendo, no en-
tanto, considerado por inúmeros autores como
uma forma de manifestação em mosaicismo dos
queratinócitos, caracterizada pela presença de
Fonte: Arquivo pessoal.
clones de células epiteliais geneticamente anor-
mais (CASTRO et al., 2016; FOGAGNOLO et
Na consulta de retorno foi orientada para um al., 2011; TAVARES et al., 2013; GALLEGOS
mês após início do tratamento de escolha, et al., 2012). Embora os genes envolvidos ainda
quando a paciente relatou ter observado redu- não tenham sido descobertos, a expressão clí-
ção progressiva da lesão com apenas duas se- nica desse mosaicismo ocorre quando um deter-
manas de uso da pomada a base de corticoste- minado fator desencadeante induz a expressão
róide. À avaliação dermatológica constatou-se de antígenos de superfície no clone celular
eficácia da terapêutica implementada, com anormal, resultando em uma perda de tolerância
acentuada regressão das pápulas liquenóides imunológica e, assim, fazendo com que estas
(Figura 5.3). Nova consulta de retorno foi sejam reconhecidas pelo sistema imunológico,
agendada para seguimento do caso. o que induziria a pele afetada a produzir uma
resposta inflamatória mediada por células T em
Figura 5.3 Regressão das pápulas liquenóides evidenci- apresentação linear (CASTRO et al., 2016; IRI-
ada em consulta de retorno um mês após a introdução do ZAR et al., 2018; FOGAGNOLO et al., 2011;
tratamento tópico TAVARES et al., 2013). Seguindo essa teoria,
acredita-se que estresse, infecções (especial-
mente virais), traumas (radiação ultravioleta),
vacinas (BCG e hepatite B), gravidez, drogas
(adalimumab e metronidazol), atopia (asma, ri-
nite alérgica ou dermatite atópica) e fatores am-
bientais são considerados possíveis precipitante
dessa dermatose, com a maior parte dos casos
ocorrendo durante o verão e a primavera (CAS-
TRO et al., 2016; AGUIRRE et al., 2019; FO-
GAGNOLO et al., 2011; TAVARES et al.,
Fonte: Arquivo pessoal. 2013).

31
A lesão típica dessa dermatose consiste no FOGAGNOLO et al., 2011; TAVARES et al.,
surgimento súbito de pápulas pequenas, de 2 a 2013).
4 mm de diâmetro, com superfície lisa ou com Aqui, relatamos o caso de uma paciente do
discreta descamação, podendo variar sua colo- sexo feminino, que desenvolveu uma derma-
ração entre o eritemato-violáceo ao hipocrô- tose com as características morfológicas típicas
mico (CASTRO et al., 2016; FOGAGNOLO et do líquen estriado, sendo este, no entanto, con-
al., 2011; TAVARES et al., 2013; AGUILAR siderado um quadro atípico devido ao fato de
et al., 2019). No geral, coalescem em disposi- tratar-se de uma paciente na faixa etária adulta
ção linear, assumindo a forma de uma faixa que e da sua lesão ter se prolongado por mais tempo
pode ser contínua ou não, seguindo as linhas de que o habitual para a resolução espontânea, sem
Blaschko (FOGAGNOLO et al., 2011; TAVA- indícios de qualquer princípio de regressão, ad-
RES et al., 2013). Usualmente é uma condição mitindo, assim, um caráter persistente. Medi-
assintomática, não sendo caracterizada como ante a não evolução auto-limitada esperada para
pruriginosa, embora possa apresentar prurido essa condição, não se optou por uma conduta
leve em até um terço dos casos (RAMOS et al., expectante como de costume, sendo iniciado o
2012; IRIZAR et al., 2018). É tipicamente uni- tratamento tópico da lesão com corticosteróide
lateral, acometendo mais comumente extremi- como o preconizado para esses casos.
dades, sendo incomum a sua ocorrência na face Embora na maioria dos casos, o gatilho não
ou no tronco e o acometimento ungueal (FO- possa ser identificado, tendo como base os pos-
GAGNOLO et al., 2011; TAVARES et al., síveis fatores considerados precipitantes já
2013; FERNANDEZ, 2007; CASTRO & GAR- mencionados, perguntas foram feitas na avalia-
CÍA, 2011; VÁZQUEZ, 2013). O seu início é ção clínica com esse intuito. A paciente negou
súbito, porém apresenta evolução favorável, o uso de medicações além de anticoncepcional
com a resolução espontânea do quadro em uma nos meses prévios ao aparecimento da lesão,
média de 9 meses, possivelmente persistindo negou ter sofrido algum tipo de trauma na área
manchas hipocrômicas pós-inflamatória residu- afetada ou ter recebido alguma vacinação nos
ais como seqüela, que, todavia, podem vir a de- meses anteriores, mas afirmou ter história de
saparecer com o passar do tempo (AGUIRRE et doença autoimune na família e ter em sua HPP
al., 2019; IRIZAR et al., 2018). Nos poucos ca- histórico sugestivo de atopia, o que chamou
sos nos quais é requerido iniciar uma terapêu- nossa atenção, considerando que múltiplos es-
tica pela falta de remissão espontânea, esta se tudos relatam a associação do líquen estriado
faz de forma tópica, baseando-se no uso de cor- com atopia, chegando a cerca de até 40% dos
ticosteróides como tratamento de primeira linha casos (CASTRO et al., 2016). A relação entre
(CASTRO et al., 2016; FOGAGNOLO et al., essa dermatose e atopia não se encontra clara-
2011; TAVARES et al., 2013). Mais recente- mente estabelecida, mas é um fator que se faz
mente, foram apresentados relatos de interven- presente em muitas das descrições, o que possi-
ções bem sucedidos realizadas por meio do uso velmente seria explicado pela desregulação da
de inibidores de calcineurina tópicos (tacroli- imunidade destes pacientes (CASTRO et al.,
mus e pimecrolimus), representando uma alter- 2016; IRIZAR et al., 2018).
nativa aos primeiros (CASTRO et al., 2016; Diante deste tipo de lesão, uma avaliação

32
clínica deve ser feita levando-se em considera- 2012). Como no caso apresentado a morfologia
ção outras patologias que também se caracteri- da lesão se apresentou de forma muito típica, a
zam por seguir as linhas de Blaschko, como lí- realização de biópsia ou de qualquer outro
quen plano linear, herpes zoster, poroceratose exame complementar não se fez necessária e
linear, psoríase linear, vitiligo linear na fase hi- não foi requerida, sendo seu diagnóstico feito
popigmentada, nevos epidérmicos verrucosos de forma clínica como indicado pela literatura.
inflamatórios lineares, lúpus eritematoso e fito-
fotodermatite, sendo o líquen plano linear o seu CONCLUSÃO
diagnóstico diferencial principal (AGUIRRE et
al., 2019; IRIZAR et al., 2018; FOGAGNOLO Em resumo, este se trata de um quadro atí-
et al., 2011; TAVARES et al., 2013; FERNAN- pico de líquen estriado, porém com característi-
DEZ, 2007). cas morfológicas muito sugestivas da doença, o
Ao contrário do líquen estriado, o líquen que torna possível a realização do seu diagnós-
plano linear é uma forma de dermatose inflama- tico de forma clínica na Atenção Básica, sem a
tória crônica, que possivelmente acomete pele, necessidade de gastos adicionais por exames
mucosas, as unhas e o couro cabeludo, atin- complementares e procedimentos desnecessá-
gindo adultos de meia idade mais comumente. rios. Dessa forma, ter o conhecimento desse di-
Essa lesão se diferencia do estriado por ser tipi- agnóstico diferencial para as dermatoses que
camente muito pruriginosa e classicamente ser acompanham as linhas de Blaschko, além de
caracterizada pelo aparecimento de pápulas de evitar o uso desnecessário de recursos do sis-
forma simétrica nas superfícies flexoras das ex- tema de saúde público, não resulta em espera
tremidades, com a presença das estrias de Wic- por resultados para elucidação diagnóstica, um
kham (FOGAGNOLO et al., 2011; ORNELAS momento que muitas vezes gera angústia e ten-
& RODRIGUES, 2020; GOROUHI et al., são nos pacientes e em seus familiares.
2014). Nessa condição, é sempre importante tran-
Em caso de dúvida diagnóstica, pode ser ne- quilizar os pacientes e suas famílias, enfati-
cessária a realização de biópsia excisional da le- zando a natureza benigna e, no geral, autolimi-
são, sendo identificado na histopatologia do lí- tada dessa dermatose, que, mesmo nos poucos
quen estriado a presença de infiltrado linfo-his- casos nos quais o tratamento se faz necessário,
tiocitário liquenóide e focal, espongiose e infla- não requer ação complexa por parte dos profis-
mação perianexial profunda e superficial (CAS- sionais de saúde e mantém seu bom prognóstico
TRO et al., 2016; FOGAGNOLO et al., 2011; preservado.
TAVARES et al., 2013; GALLEGOS et al.,

33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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34
CAPÍTULO 6
ABORDAGEM CLÍNICA DO
CARCINOMA BASOCELULAR
AVANÇADO E A TERAPÊUTICA
ENVOLVENDO INIBIDORES DA VIA
DE HEDGEHOG

JÚLIA MAGALHÃES MONTEIRO1


ANA LUIZA PAZINATTO VAGO2
MARCELLA SEGURO GAZZINELLI2
VICTÓRIA MAIA COSTA VAREJÃO ANDRADE2
MAITÊ PERINI MAMERI PEREIRA1
GABRIELA SEGURO GAZZINELLI1
PEDRO HENRIQUE PAIVA FARIA FALEIRO1
MARIA CLARA TAVARES DAS NEVES2
SOFIA BIANCARDI CAMPOS1
LUÍSA RIBEIRO CASSUNDÉ2
BEATRIZ CASTRO TORRES1
HENRIQUE PESSOTI MENELLI3
BRENDA COSTA BUZATTO4

1
Discente – Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM)
2
Discente – Medicina da Faculdade Brasileira do Espírito Santo (MULTIVIX)
3
Discente – Medicina do Centro Universitário do Esprito Santo (UNESC)
4
Discente – Residente em Dermatologia da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Palavras-chave: Carcinoma basocelular; Inibidores da Via Hedgehog; Terapêutica.

35
INTRODUÇÃO propiciar o surgimento do CBC (DANHOF et
al., 2018).
Dentre os tipos celulares de cânceres de Na maioria dos casos, o CBC é diagnosti-
pele, diferenciam-se dois tipos principais: os cado e efetivamente tratado na fase inicial do
cânceres de pele tipo melanoma e os cânceres de desenvolvimento. Ele comumente ocorre de
pele não-melanoma, o último representando forma localizada e, por isso, frequentemente é
cerca de 94% dos casos. Na classe dos cânceres possível realizar abordagens terapêuticas con-
não-melanoma, o Carcinoma Basocelular vencionais, o que proporciona uma taxa de cura
(CBC) é o mais comum, ocorrendo em cerca de de pelo menos 95% (DANHOF et al., 2018;
80% dos casos (DANHOF, 2018; GUTZMER BOSSI et al., 2020). Os CBCs avançados se di-
& SOLOMON, 2019). videm em duas categorias: CBC localmente
A partir de estudos sobre a genética da Sín- avançado (CBCla) e CBC metastático (CBCm).
drome do Carcinoma Basocelular Nevóide CBCla inclui tumores primários que invadem as
(NBCC) ou Síndrome de Gorlin-Goltz, foi pos- estruturas circundantes, como cartilagem, osso,
sível determinar os mecanismos patológicos músculo ou linfonodos locais. Em casos de
moleculares do CBC. Sabe-se que a condução CBCla a cirurgia pode ter alto risco de recorrên-
da tumorigênesis ocorre especialmente devido a cia ou resultar em morbidade significativa por
sinalização anormal em uma via de sinalização comprometimento funcional ou estético. Além
evolutiva crucial para a proliferação celular, di- disso, a radioterapia é muitas vezes limitada
ferenciação, vascularização e padronização de pelo alto risco de recorrência, sensibilidade ou
tecidos durante o desenvolvimento embrionário, acesso limitado ao tratamento (GUTZMER &
mas quiescente em tecidos adultos: a chamada SOLOMON, 2019).
via Hedgehog (GUTZMER & SOLOMON, O CBC metastático (CBCm), por outro lado,
2019; SUN et al., 2020; BOSSI et al., 2020). é marcado pela disseminação do tumor à distân-
A via Hedgehog (Hh) tem sua ação, princi- cia, especialmente em linfonodos, pulmões e os-
palmente, devido a proteínas codificadas pelo sos. Seu prognóstico é ruim, com sobrevida de
glioblastoma, família de genes com aumento re- aproximadamente 8 meses quando os sinais de
sultante na proliferação e inibição da apoptose, metástases nodais estão presentes.
e por ligantes Hh. Em tecidos adultos normais, Até então, haviam poucas opções de trata-
a via Hedgehog é quiescente devido a supressão mento para pacientes com CBCla e CBCm, en-
do receptor transmembrana “seven-pass” SMO tretanto, os inibidores da via Hedgehog surgem
por uma proteína transmembrana PTCH1 na su- como uma boa opção terapêutica nesses casos
perfície das células. O SMO é uma proteína aco- após tratamento cirúrgico ou quando estão con-
plada à proteína G, que desencadeia uma cascata traindicadas cirurgia e radioterapia. O Vismode-
de ativação de fatores de transcrição, como o gib, principal medicamento desta classe, é um
GLI e o SUFU, que modulam a expressão de on- derivado de ciclopamina de segunda geração,
cogenes (GUTZMER & SOLOMON, 2019; administrado por via oral, que atua ligando-se
FRAMPTON & BASSET-SÉGUIN 2018; diretamente ao SMO, inibindo sua ação na via
CHEN et al., 2018; SUN et al., 2020). Hh. Tal medicação demonstrou eficácia signifi-
Na vigência de mutações, como no gene cativa no tratamento do CBC avançado, revolu-
PTCH1, o mais frequentemente envolvido, pode cionando o manejo desses pacientes, com sua
se intensificar a atividade desta via e, assim, utilização evoluindo, em muitos casos, com su-

36
cesso terapêutico (FRAMPTON & BASSET- ências de Saúde/Medical Subject Headings
SÉGUIN, 2018; AWAD et al., 2018; GUTZ- (DECS/MeSH). Assim, a combinação dos ter-
MER & SOLOMON, 2019). mos utilizados para busca foi: Therapeutics
Ainda que haja resposta clínica significativa AND "Carcinoma Basal Cell" AND "Antineo-
de muitos CBCs avançados aos inibidores de plastic Agents". Após a busca, foram incluídos
SMO, aproximadamente 5-10% dos pacientes artigos completos, nos idiomas inglês, portu-
demonstram resistência primária com progres- gues e espanhol, publicados entre 2017 e 2022,
são e não tem resposta, o que sugere o envolvi- que compreendessem a temática que abordasse
mento de outra via na patogênese da doença a abordagem clínica do CBC e a terapêutica en-
(SUN et al., 2020). Espasmos musculares, alo- volvendo medicamentos inibidores da via Hh.
pecia, disgeusia, diminuição do peso, diminui- Artigos incompletos, repetidos e que não esti-
ção do apetite, astenia e náuseas são descritos vessem contendo tal temática como assunto
como efeitos adversos do tratamento, (FRAMP- principal foram excluídos. Foram encontrados
TON & BASSET-SÉGUIN, 2018), o que pode 226 artigos diante da estratégia de busca, sendo
prejudicar a adesão do paciente. Dessa forma, 153 excluídos pela leitura do título, e 48 pela
fica evidente a dificuldade, na prática clínica, do leitura do resumo ou discussão. Por fim, 25 ar-
tratamento do CBC com o Vismodegib. Devido tigos foram incluídos para análise e composição
a isso, o presente capítulo busca descrever os da revisão integrativa.
tratamentos disponíveis para CBCs avançados e
metastáticos, com destaque para as novas op- RESULTADOS
ções terapêuticas disponíveis, como os inibido-
res de SMO. O Carcinoma Basocelular e suas diferentes
apresentações: O Carcinoma Basocelular
METODOLOGIA (CBC) é o câncer de pele mais frequente e a ma-
lignidade humana mais comum (WORK
A pesquisa foi realizada em janeiro de 2022, GROUP et al., 2018). A exposição à radiação
pautando-se na compreensão da abordagem clí- ultravioleta é o principal fator de risco ambien-
nica do paciente portador do CBC avançado, seu tal relacionado à gênese do CBC, estando rela-
devido manejo terapêutico. Trata-se de uma re- cionada ao aumento contínuo das taxas de inci-
visão integrativa, constituída pela síntese da te- dência. Portanto, descrevem-se outros elemen-
mática em questão, definição dos critérios de in- tos de risco: sexo masculino, idade, pele, olhos
clusão e exclusão, seleção de artigos, categori- e cabelos claros (HERMS & BASSET-SE-
zação e análise dos estudos, interpretação dos GUIN, 2021). A ocorrência de múltiplos CBCs
resultados e síntese da revisão. Selecionou-se os pode estar associado a síndromes hereditárias
artigos para análise por meio da plataforma Na- raras, como a Síndrome do Nevo Basocelular
tional Library Of Medicine (Pubmed). Para (SNBC), também conhecida como Síndrome de
compor a estratégia de busca aplicada nas bases Gorlin-Goltz, o xeroderma pigmentoso e a Sín-
de dados, foram articulados os descritores em drome de Bazex (BÁNVOLGYI et al., 2020).
inglês: “Therapeutics” (Terapêutica), "Carci- Devido ao aumento das taxas de acometi-
noma Basal Cell" (Carcinoma Basocelular) e mento populacional, o tratamento do CBC tem
“Antineoplastic Agents” (Agentes Antineoplási- ocupado de forma considerável a prática clínica
cos), todos verificados nos Descritores em Ci- dos dermatologistas (WORK GROUP et al.,

37
2018). Uma subdivisão em categorias foi deter- mento celular, padronização e desenvolvi-
minada para classificar os CBCs, sendo eles: mento. A proteína transmembrana patched
CBC nodular (CBC), o mais frequente; CBC su- (PTC) atua como receptor de ligantes Hedgehog
perficial (CBCs), e o CBC morfológico e também como um inibidor da proteína Smoo-
(CBCmo) (HERMS & BASSET-SEGUIN, thened (SMO), outro receptor transmembrana,
2021). Constata-se que CBCs podem se tornar que pode atuar como oncogene na patogênese
localmente avançados (CBCla), tumores com- do Carcinoma Basocelular. Na presença de li-
plexos e heterogêneos para os quais os trata- gantes Hedgehog, a supressão de PTC em SMO
mentos convencionais (cirurgia, fototerapia, ra- deixa de ocorrer, o que ativa a transdução de si-
dioterapia) podem ser contra-indicados ou ina- nal. Na SNBC, a mutação em PTCH1 geral-
propriados (HERMS et al., 2019). Outro caso mente resulta na produção de uma proteína trun-
em que o tratamento foge do padrão são os car- cada que não pode inibir SMO, o que leva a uma
cinomas basocelulares metastáticos (CBCm), ativação constante da via e transcrição desregu-
estes ocorrem raramente, com incidência esti- lada de genes alvo (BÁNVOLGYI et al., 2020).
mada de 0,0028–0,55% e, em caso de metástase
à distância, a sobrevivência média estimada é de Inibição da Via de sinalização Hedgehog
24 meses, diferente dos CBCs comuns que apre- no tratamento do CBC
sentam baixa mortalidade, porém, a qualidade O manejo terapêutico do CBC baseia-se em
de vida do paciente pode ser afetada (HERMS três objetivos: eficácia oncológica, resultados
& BASSET-SEGUIN, 2021). estéticos aceitáveis e preservação funcional dos
órgãos (HERMS & BASSET-SEGUIN, 2021).
Correlação entre a Via de Sinalização He- Enquanto a maioria dos CBC podem ser trata-
dgehog e o Carcinoma Basocelular dos e efetivamente curados com excisão cirúr-
Pesquisas acerca da genética da Síndrome gica padrão, radioterapia, cirurgia micrográfica
do Nevo Basocelular (SNBC), condição autos- de Mohs, curetagem e eletrodissecação e/ou ou-
sômica rara na qual o paciente possui uma pro- tras terapias de âmbito superficial, para um pe-
pensão significativa para neoplasias, desenvol- queno grupo de pacientes com CBC de difícil
vendo numerosos Carcinomas Basocelulares, tratamento como os localmente avançados, me-
forneceram informações sobre a patogênese do tastáticos e nos pacientes portadores da Sín-
Carcinoma Basocelular e possibilitaram a com- drome do Nevo Basocelular, outras opções pre-
provação da correlação entre a Via da Sinaliza- cisam ser avaliadas (MIGDEN et al., 2018).
ção Hedgehog (HH) e a tumorigênese (LEA- Nesse contexto, o estudo acerca da relação
VITT et al., 2019). entre o CBC e a via HH foi essencial para o de-
A via possui três genes Hedgehog identifica- senvolvimento das chamadas terapias direcio-
dos (Sonic Hedgehog (SHH), Desert Hedgehog nadas, composta por fármacos que atuam como
(DHH) e Indian Hedgehog (IHH)) e dois genes Inibidores da Via de Sinalização de Hedgehog,
Patched (PTCH1 e PTCH2) (LEAVITT et al., uma opção de tratamento potencial onde anteri-
2019)). Sabe-se que as mutações relacionadas à ormente não havia terapia padrão. Os dois gran-
via Sonic Hedgehog (SHH), são a causa gené- des representantes do grupo são o Vismodegib e
tica mais comum da formação do CBC. O pro- o Sonidegib, ambos compartilham do mesmo
duto do gene PTCH1 atua como um supressor mecanismo de ação, o qual está sendo demons-
tumoral e tem um papel no controle do cresci- trado na Figura 6.1 (DANHOF et al., 2018).

38
Figura 6.1 Mecanismo de ação do Vismodegib e Sonide- que destes, 33 apresentavam Carcinoma Baso-
gib
celular avançado (CBCa). Dentre os 33 pacien-
tes com CBCa, 18 apresentavam Carcinoma Ba-
socelular Metastático (CBCm) e 15 Carcinoma
Basocelular Localmente Avançado (CBCla). A
resposta foi classificada como completa ou par-
cial (redução de 50% no tumor palpável ou visí-
vel). Entre os pacientes com CBCla, a taxa de
resposta foi de 60% e, para aqueles com CBCm,
a taxa de resposta geral foi de 50% (DANHOF
et al., 2018).
Uma pesquisa de relevância realizada a par-
Legenda: A proteína PTCH é um receptor transmem- tir do Vismodegib com linhagens celulares de
brana que normalmente liga-se e inibe outro receptor
CBC e de Carcinoma de células escamosas de
transmembrana, Smoothened (SMO). Quando a proteína
Sonic Hedgehog (SHH) se liga ao seu receptor PTCH, a cabeça e pescoço (HNSCC) forneceu evidências
inibição do SMO é retirada. Com SMO sem inibição, o pré-clínicas de que a inibição da Via de Sinali-
fator de transcrição Gli é capaz sinalizar para o núcleo, zação HH pelo fármaco pode aumentar a potên-
resultando na transcrição de genes-alvo HH. O Vismode- cia terapêutica se combinado a radiação ioni-
gib e o Sonidegib ligam-se e inibem o SMO, bloqueando
zante tanto para tratamento do CBC quanto para
esse processo.
HNSCC, por aumentar a sensibilização à radia-
Vismodegib foi o primeiro inibidor da via ção. Esse achado ainda demanda mais estudos,
HH a ser aprovado pela Food and Drug Admi- investigação da tolerabilidade e eficácia clínica
nistration (FDA) em 2012 para o tratamento do desta combinação de terapias (HEHLGANS et
CBCs avançados e que a cirurgia ou a radiotera- al., 2018).
pia não são boas opções terapêuticas Desde a aprovação do Vismodegib, outros
(NAYYAR et al., 2019). Trata-se de um deri- inibidores de SMO entraram em desenvolvi-
vado de ciclopamina de segunda geração, admi- mento. Em 2015, o Sonidegib foi aprovado pelo
nistrado por via oral, que atua ligando-se direta- FDA para pacientes com 18 anos ou mais que
mente a SMO e inibindo sua função na transdu- apresentam CBCla com recorrência após cirur-
ção de sinal, como pode ser observado na Fi- gia ou radioterapia, ou para aqueles que não são
gura 6.1. Em ensaios pré-clínicos, demonstrou candidatos a outras terapias (VILLANI et al.,
2021). Ainda faltam ensaios clínicos randomi-
excelente potência, solubilidade e estabilidade
metabólica quando comparado com os compos- zados e controlados comparando Vismodegib
tos estudados anteriormente (DANHOF et al., com Sonidegib. Entretanto, o Vismodegib apa-
2018). renta ser o tratamento de escolha para CBCm,
Um estudo de fase I com Vismodegib em pa- pois tem aprovação explícita do FDA para esta
cientes com Carcinoma Basocelular avançado indicação e, com base na comparação indireta
analisou a segurança, farmacocinética e resposta das taxas de resposta, apresenta eficácia supe-
à medicação. Neste estudo foram incluídos 68 rior ao Sonidegib para o CBCm (LEAVITT et
pacientes com malignidades avançadas, sendo al., 2019).

39
Empecilhos para o sucesso terapêutico mente ativa folículos pilosos e papilas gustati-
dos inibidores da SMO: Efeitos colaterais e vas (LEAVITT et al., 2019).
resistência medicamentosa Uma proposta desenvolvida para que os pa-
Embora a eficácia dessas terapias seja inte- cientes consigam ter um maior controle dos
ressante, a adesão dos pacientes é muitas vezes efeitos colaterais desses fármacos é denominada
precária devido a alta frequência de eventos ad- “Drug Holiday”, ou seja, o uso intermitente dos
versos (EAs), o que, em uma grande porcenta- mesmos. O estudo MIKIE mostrou que um re-
gem de pacientes, leva à interrupção do trata- gime intermitente de Vismodegib não diminuiu
mento (FARGNOLI et al., 2021). No estudo a eficácia (HERMS & BASSET-SEGUIN,
STEVIE, 36% dos pacientes descontinuaram o 2021). Uma segunda possibilidade visando ate-
Vismodegib devido a eventos adversos nuação dos eventos adversos foi avaliada por
(HERMS & BASSET-SEGUIN, 2021); no es- meio de um estudo retrospectivo com pacientes
tudo BOLT, analisando pacientes em uso de apresentando CBCla tratados com Sonidegib na
Sonidegib, mesmo com o uso de 200 mg da me- unidade de câncer de pele não melanoma da
dicação, a dose eficaz mais baixa, 22% dos pa- Universidade de Nápoles de janeiro de 2020 a
cientes descontinuaram devido eventos adver- outubro de 2020. A ideia do estudo foi propor o
sos, porém, em proporção consideravelmente regime de ajuste de dose como um método efi-
menor em comparação aos pacientes que fize- caz para reduzir a gravidade dos eventos adver-
ram uso da dose de 800 mg. No entanto, é es- sos e evitar a interrupção do tratamento com ini-
sencial que os médicos sejam capazes de mane- bidores da via Hedgehog (VILLANI et al.,
jar adequadamente os efeitos colaterais dos ini- 2021). Ademais, o estudo BOLT também de-
bidores de SMO para que o tratamento não in- monstrou essa redução das taxas de abandono
terfira tanto na qualidade de vida (DANHOF et ao tratamento e de efeitos colaterais graves a
al., 2018). partir do ajuste para uma dose inferior (200 mg)
O estudo STEVIE avaliou a segurança do (CHEN et al., 2018).
Vismodegib e relatou que 98,1% dos 1215 paci- Além disso, sabe-se que outros eventos ad-
entes apresentaram pelo menos 1 efeito colateral versos foram observados a partir de estudos em
(FRAMPTON & BASSET-SÉGUIN, 2018). Já animais com Vismodegib em doses mais baixas
no estudo ERIVANCE, todos os pacientes rela- do que a dose humana aprovada de 150 mg por
taram um evento adverso relacionado ao trata- dia, evidenciando a ocorrência de malformações
mento (LEAVITT et al., 2019). Os efeitos cola- fetais graves e mortes. Assim, todas as mulheres
terais são semelhantes para ambas as moléculas. em idade fértil devem utilizar duas formas de
Os mais frequentes de acordo com o estudo contracepção durante a terapia e por 24 meses
ERIVANCE são: espasmos musculares (68%), após a dose final. Como a medicação é secretada
alopecia (63%), disgeusia (51%), perda de peso no sêmen, os pacientes do sexo masculino de-
(46%), fadiga (36%), náusea (29%), anorexia vem usar proteção durante a terapia e por 3 me-
(23%) e diarreia (22%). Creatinina quinase ses após a dose final. O Vismodegib também
(CK) elevada e rabdomiólise foram os EAs gra- pode causar amenorreia e infertilidade; assim,
ves mais comuns, com incidências de 2,6% as estratégias de preservação da fertilidade de-
cada. Vale ressaltar que as taxas elevadas de alo- vem ser discutidas com pacientes do sexo mas-
pecia e disgeusia estão relacionadas ao efeito di- culino e feminino antes do início do tratamento
reto de inibição da sinalização SHH que normal- (LEAVITT et al., 2019).

40
Outra grande pauta de estudos e uma das das células para se assemelharem a células-
principais preocupações desde que o Vismode- tronco do istmo, dentre outros (LEAVITT et al.,
gib entrou em ensaios clínicos para o tratamento 2019). É importante ressaltar que a recorrência
do CBCa, é a resistência medicamentosa (LEA- do tumor após a descontinuação do inibidor da
VITT et al., 2019). A resistência pode ocorrer via Hedgehog não consiste em resistência se-
de duas formas; primária, ou seja, aqueles que cundária, esta seria considerada apenas se o
nunca respondem ao tratamento com inibidores crescimento tumoral ocorresse durante o trata-
de SMO, ou secundária, quando o paciente ini- mento e após ocorrer resposta inicial (DESSI-
cialmente apresenta melhora com inibidores NIOTI et al., 2019). Um estudo recente relatou
SMO, mas, o tumor volta a crescer no decorrer que mais de 60% dos pacientes que estavam em
do tratamento (FRAMPTON & BASSET-SÉ- remissão completa do CBC com Vismodegib
GUIN, 2018). No entanto, é essencial investigar apresentaram recorrência dentro de 36 meses
o subtipo histológico dos CBCs de um paciente após interrupção do tratamento. Além disso, nos
e realizar uma análise genética antes de iniciar a pacientes com SNBC, o CBC sempre recidiva
terapia com Vismodegib. A possibilidade de re- após a descontinuação dos inibidores de SHH,
sistência medicamentosa primária existe e deve sendo necessário tratamentos de longo prazo e
ser avaliada antes de expor o paciente a uma me- uma análise cautelosa dos possíveis efeitos co-
dição com possibilidade de múltiplos eventos laterais, para não interferirem na qualidade de
adversos (SUN et al., 2020). vida do paciente (HERMS & BASSET-SE-
O primeiro relato de pacientes com CBC GUIN, 2021).
avançado desenvolvendo resistência secundária
ao Vismodegib veio de uma revisão de gráficos CONCLUSÃO
retrospectiva publicada em 2012. Em uma aná-
lise de 28 prontuários de pacientes com CBCa Visto que o carcinoma basocelular (CBC)
que receberam Vismodegib como parte de um apresenta maior frequência entre os cânceres de
ensaio clínico, os autores descobriram que 21% pele nos seres humanos, é de suma importância
(6 pacientes) desenvolveram pelo menos um tu- o conhecimento pela população e pelos profissi-
mor rebote durante o tratamento. Todos ocorre- onais de saúde sobre os principais quesitos rela-
ram em pacientes com CBCla. Também foi ava- cionados à patogenia da doença. Entre eles, está
liado um caso de resistência secundária em uma o entendimento sobre os fatores de risco, já que
mulher que apresentou regressão completa ini- o carcinoma basocelular, além das questões ge-
cial de sua CBCla com 16 semanas de Vismo- néticas, apresenta elementos de risco que tam-
degib e, posteriormente, a análise mutacional bém podem ser evitados, prevenindo o acometi-
detectou duas novas mutações missense no tu- mento do CBC principalmente nas populações
mor que não estavam presentes inicialmente mais expostas. Nos casos de confirmação da do-
(DANHOF et al., 2018). ença, é imprescindível o acompanhamento deta-
Vários possíveis mecanismos de resistência lhado do paciente com exame histopatológico e
foram propostos e estudados em modelos de ca- investigação genética, em busca da escolha do
mundongos. Esses mecanismos incluem muta- melhor tratamento e orientação de uma terapia
ções pontuais em SMO, amplificação de genes mais eficaz.
GLI permitindo que a SMO dos tumores con- Os inibidores da via de sinalização de Hed-
siga escapar da inibição, mudança de identidade gehog foram os primeiros medicamentos apro-

41
vados pela FDA para o tratamento de CBC me- Como forma de alcançar melhores resulta-
tastáticos e CBC avançados na qual a terapia ci- dos em relação a redução da frequência dos ca-
rúrgica e radioterapia não são uma opção tera- sos de carcinoma basocelular, o investimento
pêutica. Nos estudos de fase 1 o Vismodegib em medidas sanitárias na atenção primária é
apresentou uma resposta completa ou parcial e fundamental, como a melhora e intensificação
após ótimos resultados outras opções dentro da das campanhas de conscientização e detecção da
classe tiveram a aprovação da FDA, como o doença. Além disso, é indispensável o apoio das
Sonidegib. Ainda que se tenha alcançado resul- escolas para a disseminação do conhecimento
tados satisfatórios, o Vismodegib pode evoluir em relação ao câncer de pele para promoção da
para resistência medicamentosa, apresentada mudança dos hábitos de vida dos jovens e seus
pelas variantes do CBC. Ademais, a escolha do familiares. Diante das mudanças sugeridas, es-
tratamento ideal deve ser obtida visando tam- pera-se reduzir os gastos de saúde com a doença
bém a redução dos efeitos colaterais, como por e principalmente obter uma diminuição da mor-
exemplo o Drug Holiday que consiste no uso in- bidade na população mundial.
termitente dos fármacos e o ajuste de dose.

42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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43
CAPÍTULO 7

DEZEMBRO LARANJA NA SALA


DE ESPERA DE UM SERVIÇO DE
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:
RELATO DE EXPERIÊNCIA

LÍVIA MORENO DE MENEZES


ANA CAROLINA CAVALCANTE MENDONÇA¹
CYNTHIA VON PAUMGARTTEN RIBEIRO ALMEIDA¹
DAVI WEYNE LINHARES¹
ESTER SARAIVA CARVALHO FEITOSA¹
FRANCISCO TABAJARA E SILVA NETO¹
GABRIELA SÃO BERNARDO FERREIRA DE MELO¹
MARINA PINTO ROCHA¹
MATEUS MACEDO FEITOSA¹
VITÓRIA LOTIF SANTIAGO¹

1
Discente – Medicina da Universidade de Fortaleza, Ceará

Palavras-chave: Câncer de pele; Sala de espera; Dezembro laranja.

44
INTRODUÇÃO pondo ao aparecimento do câncer de pele
(SANTOS et al., 2018). Diante disso, diversas
A campanha Dezembro Laranja, criada são as medidas disponíveis para evitar essa
pela Sociedade Brasileira de Dermatologia em exposição ao sol, principalmente das 10:00 às
2014, faz parte da Campanha Nacional de Pre- 16:00, entre as quais destaca-se a utilização de
venção do Câncer de Pele. Essa data comemo- protetor solar, bonés, blusas de manga com-
rativa tem como objetivo conscientizar acerca prida, óculos de sol, entre outras medidas re-
da importância da prevenção do câncer de comendadas pelo Consenso Brasileiro de Fo-
pele, que é o tumor de mais incidente no Bra- toproteção (SCHALKA et al., 2014).
sil, bem como desmistificar e esclarecer dúvi- O método ABCDE, é um dos mais tradici-
das sobre a temática. Além disso, o slogan onais para a detecção precoce do câncer. Essa
“Adicione mais proteção ao seu verão” veio ferramenta se baseia em cinco características,
reforçar a importância da prevenção contra o avaliadas em cada letra do mnemônico: A =
câncer de pele, utilizando filtros solares, mas lesão assimétrica, B = bordas irregulares, C =
sem deixar de seguir as medidas de proteção mudança de cor, D = diâmetro maior que 6
contra a Covid-19, mesmo diante da diminui- mm, E = evolução ou variabilidade no padrão.
ção dos casos (SBD, 2021). Porém, diante da suspeita de melanoma, é be-
A respeito do câncer de pele, o mesmo néfico a avaliação apenas dos critérios A e C,
pode ser dividido em melanoma e não mela- visto que, nessa suspeita, a avaliação do crité-
noma, sendo o não melanoma subdividido em rio D pode permitir que lesões menores que 6
carcinoma basocelular e espinocelular mm sejam despercebidas, além do critério de
(ROSSI et al., 2018). Sendo o do tipo mela- mudança no padrão ser pouco específico para
noma o mais grave, devido a sua alta probabi- o melanoma. Além do método ABCDE exis-
lidade de provocar metástase (INCA, 2021). tem outros mecanismos para a detecção pre-
Em relação ao melanoma, ele é o tipo mais coce do câncer de pele como a dermatoscopia
grave de câncer de pele, configurando, em e fotografia corporal total. Apesar da existên-
2019, um total de 1.978 mortes no Brasil, cia desses métodos, é necessário o incentivo
sendo 1.159 homens e 819 mulheres (2019 - recorrente à realização do autoexame com o
Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM). No objetivo de diagnóstico precoce (ROSSI et al.,
Brasil, o câncer de pele não melanoma é um 2018).
dos tumores malignos mais registrados no O presente relato tem como objetivo prin-
país, tendo, em 2020, uma estimativa de novos cipal a transmissão de conhecimentos adquiri-
casos de 176.930, sendo 83.770 homens e dos durante a realização de uma ação de pro-
93.160 mulheres (INCA, 2020). moção à saúde acerca do tema supracitado. No
Diante disso, vale ressaltar que há uma mesmo, estudantes de medicina da Universi-
forte relação do seu aparecimento com a ex- dade de Fortaleza foram capazes de experien-
posição frequente e exacerbada à radiação io- ciar a troca de conhecimentos, orientações e
nizante, proveniente dos raios solares, os cuidados, bem como de experiências de vida
quais podem ser nocivos à pele, causando e dúvidas acerca do câncer de pele, entre eles
desde um fotoenvelhecimento até alterações e os pacientes que aguardavam atendimento
nas fibras de elastina e de colágeno, predis- médico.

45
MÉTODO Figura 7.1 Imagem do banner utilizado na sala de es-
pera

Trata-se de um relato de experiência de


uma atividade de extensão realizada por aca-
dêmicos de Medicina da Liga de Dermatolo-
gia, Alergologia e Reumatologia (LIDAR) e
da Liga de Oncologia e Paliativismo (LIONP)
da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) em
alusão à Campanha do Dezembro Laranja, a
qual faz parte da Campanha Nacional de Pre-
venção do Câncer de Pele.
A atividade foi realizada no período de 24
a 26 de novembro de 2021, em formato de sala
de espera, nas recepções dos ambulatórios do
Núcleo de Atenção Médica Integrada
(NAMI). Esse projeto foi realizado em três
etapas. A primeira etapa foi a confecção de
banner com informações e imagens referentes
à temática para tornar a abordagem do tema
mais didática, Figura 7.1.
Fonte: LIDAR & LIONP adaptado do INCA 2019.
A segunda etapa foi a realização de uma
explanação sobre câncer de pele, abordando
No âmbito do câncer de pele, foco princi-
aspectos relevantes como características das
pal dessa atuação, o qual, conforme o Instituto
lesões, meios de exposição e de prevenção e
Nacional de Câncer (INCA), apresenta mais
quando buscar atendimento médico. A última
de 175 mil casos por ano (BRASIL, 2010) ,
etapa foi um momento de interação e trocas de
ficou claro que grande parte dos beneficiados
experiências e saberes, onde os pacientes pu-
possuíam alguns dos conhecimentos básicos
deram tirar suas dúvidas e receber esclareci-
sobre esta condição e sabiam de algumas ori-
mentos acerca da temática em questão.
entações simples para evitar o diagnóstico.
No entanto, estes ainda se mostravam in-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
suficientes para garantir uma segura proteção,
visto que a grande maioria desconhecia algu-
Ao realizarmos essa ação, voltada princi-
mas das medidas básicas de proteção, como: o
palmente para pacientes em acompanhamento
uso de filtro solar com fator de proteção 30,
ambulatorial no Núcleo de Atenção Médica
no mínimo, diariamente, principalmente em
Integrada, situado em Fortaleza-CE, observa-
áreas de maior exposição solar como rostos e
mos a importância de atuações educativas
braços, evitar exposição direta ao sol, especi-
para a população, visto que uma parcela sig-
almente entre os horários de 10 às 16 horas,
nificativa não tem acesso a informações bási-
usar vestimentas, de preferência que possuem
cas acerca das mais diversas condições de sa-
proteção UV, chapéus, óculos escuros e
úde.

46
guarda-sol, além do autoexame para procura CONCLUSÃO
de novas lesões potencialmente cancerígenas.
Ademais, outro ponto relevante que foi ob- A ação prestada na sala de espera do
servado a partir dessa atuação prática foi o en- NAMI, mostrou-se eficaz no esclarecimento e
tusiasmo e busca por conhecimento que na troca de conhecimento entre o saber teórico
grande parte dos ouvintes apresentou, facili- e o saber da população no tema “Dezembro
tando a comunicação, o que foi representado, Laranja”, ressaltando como uma ferramenta
em diversos momentos, por perguntas feitas potencialmente replicável em um contexto de
aos apresentadores, relatos pessoais de casos atenção primária.
na família e por feedbacks positivos dos paci- Além disso, o projeto desenvolvido pro-
entes, os quais relataram estarem ansiosos porcionou um momento lúdico, de entusi-
para compartilhar tais aprendizados com ou- asmo, expressividade, troca de experiências,
tras pessoas. na qual os pacientes sanaram suas dúvidas e
Diante disso, ficou explícito a importância exibiram suas dificuldades segundo os temas
de ações fornecedoras de informações básicas abordados. Pode-se reconhecer a adesão de
acerca da prevenção de doenças prevalentes vários pacientes e que, em sua maioria, reve-
no nosso Estado para a população com menor laram terem sido esclarecidos quanto à temá-
acesso à informação, como é realizado através tica apresentada.
da ação “Dezembro Laranja”, mês voltado A execução desta atividade proporcionou
para a conscientização de cuidados para evitar aos pacientes e aos estudantes, uma maior afi-
o câncer de pele, que preza pelo diagnóstico nidade e uma abordagem didática. Com a rea-
precoce, também definido como prevenção lização da ação educativa na sala de espera,
secundária (COSTA, 2012), e que objetiva re- notabilizou-se a ampliação do vínculo entre os
duzir o número de acometidos na população estudantes e os pacientes. Ademais, a ati-
geral; pensamento já exemplificado na litera- vidade proporcionou aos seus organizadores
tura: A educação e a saúde são áreas de pro- um aprofundamento e domínio sobre o tema e
dução e aplicação de saberes destinado ao de- o desenvolvimento de habilidades de comuni-
senvolvimento humano (PEREIRA, 2003). cação e de trabalho em equipe.
Sob esse viés, é fundamental pontuar os Ao final dessa sala de espera foi possível
baixos custos dessas atuações tão relevantes compreender a importância das ações de edu-
para a sociedade, o que demonstra a viabili- cação em saúde para a população no sentido
dade de realização de ações similares para de prevenir as possíveis consequências.
uma maior gama de populares, com o fito de A população mostrou-se receptiva e parti-
atenuar os efeitos de tal condição de saúde na cipativa durante as atividades além de avaliá-
sociedade, o que pode ser avaliado, principal- las como positivas. A experiência evidenciou
mente, a partir da redução da incidência e o a importância do contato direto com os paci-
aumento dos casos de diagnóstico precoce, entes e da abordagem holística, simples e ob-
que está diretamente relacionado a um melhor jetiva para o esclarecimento eficaz das infor-
prognóstico dessa patologia. mações, favorecendo o entendimento da po-

47
pulação. que a orientação e distribuição de informa-
Concomitantemente, foi possível realizar ções, bem como conhecimentos, não deve li-
o exercício da promoção da saúde por inter- mitar-se apenas em consultórios, e sim onde
médio da educação, possibilitando o desen- for possível, tornando o ambiente de espera
volvimento de estratégias de conscientização em um lugar de aquisição do conhecimento.
sobre a relevância do tema. Ressalta-se ainda

48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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08 mar. 2022.

49
CAPÍTULO 8

ATUALIZAÇÕES NA
ABORDAGEM TERAPÊUTICA DA
DERMATITE ATÓPICA: UMA
REVISÃO DE LITERATURA

HELOISE BUCHAIM ANTUNES¹


RAFAELA DOS SANTOS PINHEIRO¹
CAROLINE AYUMI WARICODA HORAGUTI¹
MARIANA DA SILVA FERRARI¹

Discente – Medicina da Universidade Cesumar (UniCesumar), Maringá – PR


1

Palavras-chave: Dermatite atópica; Tratamento; Terapias alternativas.

50
INTRODUÇÃO foi realizada com os descritores em saúde “der-
matite atópica”; “tratamento”; “terapias alter-
nativas”, buscando revisões, artigos originais e
A dermatite atópica (DA) ou eczema ató-
publicações presentes nos bancos de dados ele-
pico é uma dermatose eczematosa de caráter in-
trônicos Lilacs, Pubmed, BVS (Biblioteca Vir-
flamatório e crônico. Essa doença alterna entre
tual em Saúde) e SciELO. Neles, foram encon-
períodos de surto e remissão e tende ocorrer em
trados, 22, 26, 21 e 5 artigos, respectivamente,
associação a demais doenças alérgicas do tipo
posteriormente submetidos aos critérios de se-
Th2 e que cursam com elevação de IgE, como
leção.
asma e rinite alérgica (ANTUNES et al., 2017).
Os critérios de inclusão foram artigos nos
A DA pode ocorrer em qualquer faixa etária,
idiomas português, espanhol e inglês; publica-
mas, em geral, os sintomas surgem em crianças
dos a partir de 2017, disponibilizados na ínte-
de até 5 anos, podendo remitir, persistir ou re-
gra, de livre acesso e congruentes com a pes-
cidivar na vida adulta. Em geral, o curso crô-
quisa. Os critérios de exclusão, por sua vez, fo-
nico da doença se relaciona ao declínio impor-
ram artigos anteriores a 2017, disponibilizados
tante da qualidade de vida, principalmente de-
na forma de resumo e sem conformidade com a
vido à xerodermia recorrente e ao prurido in-
proposta de estudo. Após a aplicação dos crité-
tenso (ANTUNES et al., 2017). Dessa forma, é
rios de seleção, os 8 artigos e 2 livros compatí-
elementar que haja alternativas terapêuticas sa-
veis foram designados à leitura completa para
tisfatórias para os casos leves, moderados, gra-
coleta de dados.
ves e/ou refratários.
Em suma, a base do tratamento é a hidrata-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ção, que pode se seguir do controle da inflama-
ção e do prurido por via tópica, principalmente,
A dermatite atópica
ou por via oral. Para além dessas opções, tera-
O eczema atópico é uma dermatose inflama-
pias alternativas têm ganhado espaço, como fo-
tória de curso crônico com períodos de crise e
toterapia, imunobiológicos e banhos de imer-
acalmia, de caráter eczematoso, acompanhada
são.
de xerose cutânea e prurido, que pode ser in-
O objetivo deste capítulo é reunir as pesqui-
tenso. A depender do estágio da doença, o as-
sas mais recentes sobre os tratamentos para DA
pecto elementar das lesões pode variar. Na fase
disponíveis no Brasil, esclarecendo seus meca-
aguda, o eczema tem predominância de edema,
nismos e papel no controle dos sintomas da der-
eritema irregular e presença de pápulas ou vesí-
matite atópica.
culas, com ou sem exsudação. Já no estágio crô-
nico, a placa eritematosa é mais definida, com
MÉTODO
maior grau de descamação e possível liquenifi-
cação em decorrência da fricção pelo prurido,
Este capítulo trata-se de uma revisão inte-
especialmente em áreas de dobra (ANTUNES
grativa realizada no período de dezembro de
et al., 2017).
2021 a fevereiro de 2022, que objetiva rever os
A DA pode iniciar-se em qualquer faixa etá-
esquemas terapêuticos para dermatite atópica,
ria, até mesmo na vida adulta, mas geralmente
analisando a ação dos tratamentos já consolida-
se manifesta em crianças até os 5 anos, em es-
dos e dos novos agentes disponíveis. A pesquisa
51
pecial no primeiro ano de vida, a partir do 3º bacteriana residente, composta predominante-
mês. Sua prevalência na população brasileira mente por Gram-positivas (Figura 8.1). O es-
varia de 5 a 13%. Na evolução da doença, de trato córneo é constituído de corneócitos, for-
acordo com Sampaio & Rivitti (2018), cerca de mados por proteínas como a filagrina e a locri-
70% dos casos remitem na adolescência, en- nina, e lipídeos intercelulares, compostos por
quanto o restante persiste ou recidiva na vida ceramidas e colesterol. Essa barreira atua tanto
adulta. na proteção contra alérgenos quanto no controle
de perda excessiva de água transepidérmica
Patogênese (TEWL - Transepidermal Water Loss).
Em relação à patogenia, a dermatite atópica A filagrina presente no estrato córneo, passa
se associa a altos níveis de IgE e predomínio da por uma cadeia de reações químicas e proteólise
via de sinalização Th2, com liberação de citoci- e, por fim, libera o ácido piroglutâmico e outros
nas como IL-4, IL-5 e IL-13. Isso se traduz pela metabólitos, que atuam na umectação da pele ao
frequente associação a patologias atópicas, formar o Fator de Hidratação Natural (FHN)
como asma e rinite alérgica, que possuem as (SAMPAIO & RIVITTI, 2018). No estrato gra-
mesmas alterações imunitárias (ANTUNES et nuloso, por sua vez, a FLG atua no alinhamento
al., 2017). A presença delas, seja na história fa- da queratina, enquanto na superfície cutânea
miliar ou pessoal do paciente, expressa impor- gera aminoácidos que ajudam a regular o pH da
tante fator de risco para desenvolvimento da pele. Logo, sua deficiência presente na DA tem
DA. Em soma, a mutação no gene da filagrina consequências importantes, como elevação do
(FLG) é elementar na patogênese da doença, pH, aumento da atividade inflamatória de pro-
uma vez que essa alteração leva ao desequilí- teases e do FHN, gerando a xerose cutânea tí-
brio da barreira de proteção cutânea, perpetu- pica da DA (GOLEVA et al., 2019).
ando o estado inflamatório da pele atópica. Essa
desordem pode, ainda, ser afetada negativa- Tratamento
mente por fatores ambientais, como danos me- A literatura traz diversos conceitos acerca
cânicos, uso de substâncias alcalinas, água em da abordagem terapêutica da dermatite atópica.
temperaturas elevadas e fricção excessiva. Devido à fisiopatologia da doença, o tratamento
de primeira linha ainda é constituído pelo uso
A barreira cutânea e a filagrina de medidas não medicamentosas, como banhos
Conforme Goleva et al. (2019), a barreira em temperatura morna e evitar a exposição a
cutânea conta com 4 sistemas de proteção: a alérgenos em geral, e hidratantes emolientes.
barreira mecânica celular, estrato córneo; Entretanto, ao falar da terapêutica medicamen-
manto lipídico, produzido pelos corpos lamela- tosa, há novas práticas propostas e novos mane-
res; o manto ácido do pH entre 4,5 e 5,5 e a flora jos.

52
Figura 8.1 Imagem esquematizada da epiderme normal

Legenda: A epiderme humana é composta por diferentes camadas: o estrato córneo (EC) na porção apical, o estrato
granuloso (ES), que forma os corpos lamelares e envelopes cornificados, o estrato espinhoso (EE) em seguida e o estrato
basal (EB), de onde os demais estratos celulares se originam. Na camada córnea, os corneócitos e lipídios intercelulares
têm o arranjo de “tijolo e argamassa” (modelo brick and mortar), por serem dispostos de forma intercalada, favorecendo
a umectação da pele. Por fim, a camada superficial do estrato córneo é eliminada pela degradação de desmossomas por
ação proteases. Fonte: Adaptado de Goleva et al., 2019.

a) Medidas não farmacológicas bico sobre a epiderme (AZULAY & AZULAY,


O eixo dessas medidas engloba evitar a xe- 2021). Dentre os veículos, podem ser em lo-
rodermia, a coçadura e afastar possíveis agra- ções, com maior nível de água, ou em creme,
vantes do quadro, como estresse psicológico, com mais gordura.
sabões, alérgenos ambientais, roupas sintéticas Os hidratantes específicos para a DA devem
e banhos quentes e longos. Para isso, é elemen- contar com os componentes em deficiência na
tar orientar sobre a necessidade de corte fre- pele atópica, como glicerina, ceramida e ácidos
quente de unhas, higiene constante dos ambien- graxos (SAMPAIO & RIVITTI, 2018). Já es-
tes e banhos mornos, não ultrapassando 10 mi- sências e parabenos devem ser evitados na es-
nutos (AZULAY & AZULAY, 2021). colha do creme. Em suma, a hidratação da pele
Em associação, deve estar presente a hidra- é indispensável no tratamento da DA e deve ser
tação da pele com hidratantes emolientes duas feita de forma continuada em associação aos
vezes ao dia após o banho, com a pele ainda demais tratamentos, uma vez que restaura
úmida, o que favorece a umectação e evita a grande parte do papel protetor da barreira cutâ-
perda maior de água pelo estrato córneo por nea perdida pelo paciente atópico, ao melhorar
preencher o espaço entre os corneócitos. Além e estabilizar as manifestações clínicas e, conse-
disso, os hidratantes são compostos de substân- quentemente, tornar a pele menos suscetível a
cias oclusivas que formam um filme hidrofó- infecções.

53
b) Medidas farmacológicas roides tópicos, com exceção de uso em lesões
b.1) Corticosteroides tópicos nas pálpebras (ANTUNES et al., 2017).
De acordo com o Guia Prático de Atualiza- Para uso tópico no Brasil, há o Pimecrolimo
ção em dermatite atópica (ANTUNES et al., e o Tacrolimo, que são indicados a partir dos
2017), os corticosteroides tópicos são utilizados três meses no formato de creme na concentra-
na fase ativa da lesão para o controle da infla- ção de 1% e dois anos de idade no formato de
mação, diminuindo a gravidade da doença. Os pomada na concentração 0,03% (uso pediátrico
corticoides podem ser utilizados na forma de e face em adultos) e 0,1% (maiores de 16 anos
compressas úmidas ou como emolientes sobre e corpo), respectivamente e devem ser aplica-
as lesões, para diminuir os sintomas típicos da dos juntamente com protetor solar (ANTUNES
DA (RIOS et al., 2021). et al., 2017).
Estudos mais antigos recomendavam o uso Como efeitos colaterais, os imunomodula-
do medicamento na forma de duas aplicações dores podem apresentar ardência e prurido nos
diárias, entretanto, recentemente, foi compro- primeiros dias de aplicação, que se reduzem
vado que o uso de uma aplicação ao dia de de- progressivamente (ANTUNES et al., 2017).
terminados compostos tem a mesma eficácia, Além disso, foi possível observar que os
sendo recomendado, inclusive, na bula das no- imunomoduladores são mais seguros que os
vas formulações de corticosteroides tópicos corticosteroides de baixa potência e o Tacro-
(ANTUNES et al., 2017). limo apresenta maior efetividade (ANTUNES
Atualizações trazem que a quantidade apli- et al., 2017).
cada deve ser cerca de 0,5 g para uma superfície
equivalente à duas palmas da mão de um adulto. b.3) Medicamentos para controle do pru-
Já em relação a ordem de uso dos produtos, a rido
atualização traz que não há interferência em re- O prurido é um dos principais sintomas da
lação a qual produto é aplicado primeiro, po- dermatite atópica, sendo considerado, inclu-
dendo utilizar o hidratante antes ou após o uso sive, um critério diagnóstico para a doença.
do corticosteroide (ANTUNES et al., 2017). Sendo assim, torna-se necessário o uso de me-
Como efeitos colaterais ao uso inadequado, dicações e terapias para seu controle.
podem apresentar atrofia cutânea, estrias, pig- A primeira linha de tratamento se resume na
mentação da pele e fragilidade capilar, que leva hidratação da pele e o uso de corticosteroides e
à acne e telangiectasias. Também pode levar à imunomoduladores tópicos a fim de recuperar a
supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, barreira cutânea debilitada pela dermatite ató-
mas é raro (ANTUNES et al., 2017). pica, como dito anteriormente (ANTUNES et
al.,2017).
b.2) Imunomoduladores tópicos (inibido- Para o tratamento medicamentoso, os anti-
res da calcineurina) histamínicos são utilizados mais pela sua carac-
Os imunomoduladores tópicos também são terística sedativa do que pela sua característica
utilizados no tratamento da fase ativa da lesão, antipruriginosa. Sendo assim, dá-se preferência
controlando a inflamação, entretanto não são a anti-histamínicos de primeira geração (AN-
opções de primeira linha, como os corticoste- TUNES et al.,2017).

54
Hoje em dia, é possível lançar mão de diver- sivos para tratamento de questões neurológicas
sas terapias alternativas para controle do pru- e psiquiátricas que intensificam o prurido da
rido. A capsaicina, presente em pimentas, é ca- dermatite atópica (ANTUNES et al., 2017).
paz de liberar neurotransmissores, que, após di-
versas aplicações, consegue aliviar o sintoma, b.4) Imunobiológicos
entretanto é indicado interromper seu uso em As outras terapias supracitadas são capazes
caso de recorrência. Outra terapia, seria o uso de controlar os sinais e sintomas da dermatite
de agonistas dos receptores canabinoides atra- atópica, mas não atuam no sistema imunológico
vés de N-palmitoiletanolamina presente em hi- do indivíduo, tendo um efeito limitado. Para
dratantes. Além disso, pode-se usar antagonis- modulação da resposta imunológica (Figura
tas dos receptores opioides, uma vez que seus 8.2), os imunobiológicos são uma opção para o
agonistas endógenos são capazes de aumentar o tratamento da doença (REIS & AARESTRUP,
prurido. Por último, é possível utilizar a gaba- 2019).
pentina e pregabalina, assim como antidepres-

Figura 8.2 Interação dos alvos imunobiológicos

Legenda: Esses alvos estão presentes na membrana das células apresentadoras de antígenos, possibilitando a ligação
de cada medicamento à sua célula alvo. α4 = integrinas a4; α4β7 = integrinas α4β7; αlβ2 = integrinas αlβ2; APC =
células apresentadoras de antígenos; BAFF = fator ativador de célula B; BCMA = antígeno maturador de célula B;
ICAM-1 = molécula de adesão intercelular; IL-2R = receptor IL-2; MAdCAM-1 = molécula de adesão celular de mu-
cosa vascular 1; TACI = ativador transmembrânico e interador CAML; VCAM-1 = molécula de adesão vascular celular
1. Fonte: Adaptado de Reis & Aarestrup, 2019.

55
O imunobiológico mais utilizado hoje em teroides e imunomoduladores (DE ABREU &
dia é o Dupilumabe (anti IL-4 e IL-13), sendo o BRANDÃO, 2021).
primeiro agente aprovado para tratamento da
DA no Brasil (GIAVINA-BIANCHI et al., b.5) Alternativas aos corticosteroides
2019). Esse agente é liberado para crianças a Através de uma revisão de literatura docu-
partir dos 12 anos de idade e utilizado para pa- mentada no artigo Tratamentos Alternativos ao
cientes com DA moderada e grave (DE Uso de Corticoide na Dermatite Atópica (VI-
ABREU & BRANDÃO, 2021). Entretanto, no- EIRA & DE OLIVEIRA, 2020), foram docu-
vas substâncias estão em fase II e III, principal- mentadas uma série de tratamentos experimen-
mente os voltados para IL-13, IL-31 e IL-22 tais feitos em camundongos com diversos com-
(REIS & AARESTRUP, 2019). postos, como inibidor de proteassoma MG132,
Ao falar de inibidores da IL-13, além do Du- aspartame, filagrina, proteína antimicrobiana
pilumabe, é possível citar o Tralokinumabe, S100A12 e Dupilumabe.
que, em um estudo duplo-cego e placebo con- O Dupilumabe foi o único capaz de substi-
trolado com 204 participantes, se mostrou efi- tuir o corticoide através de injeções a cada 15
caz na dosagem de 300 mg a cada 2 semanas. dias e sem possuir reações adversas graves. O
Além dele, há o Lebrikizumabe, que, em estudo inibidor de proteassoma MG132 e o aspartame
duplo-cego e placebo controlado com 209 par- se mostraram ineficazes como substitutivos do
ticipantes, se mostrou eficaz na dosagem de 125 corticoide. Já a proteína antimicrobiana
mg em dose única. Quanto aos inibidores do re- S100A12 e a filagrina tiveram testes insuficien-
ceptor de IL-31, há o Nemolizumabe, que, em tes para uma conclusão adequada, mas, a prin-
um estudo duplo-cego e placebo controlado, cípio, também se mostraram ineficazes (VI-
obteve melhores resultados na dosagem de 2,0 EIRA & DE OLIVEIRA, 2020).
mg/kg. Já em relação aos inibidores da IL-22,
há o Fezakinumabe, que, em um estudo duplo- b.6) Plantas medicinais
cego e placebo controlado com 50 participantes A fitoterapia vem sendo cada vez mais uti-
(40 usando Fezakinumabe e 10 usando pla- lizada no tratamento da DA, principalmente nas
cebo), mostrou o índice SCORAD maior no formulações de cremes e pomadas hidratantes,
grudpo em uso de Fezaknumabe e com efeitos tendo um bom resultado no tratamento das le-
colaterais ao grupo tratado com placebo (REIS sões, principalmente as agudas.
& AARESTRUP, 2019). Atualmente, é possível encontrar no mer-
Além disso, estão em estudo novas terapias cado diversos produtos à base de plantas, que
com o uso de anticorpos monoclonais, como an- auxiliam no controle da doença e, muitas vezes,
tagonistas dos receptores de histamina H4r, evitam a utilização de corticosteroides tópicos.
com ação semelhante à do corticosteroide tó- Os principais produtos disponíveis são à base
pico, e Crisaborole, que é um inibidor da PDE4 de aveia e Aloe vera, que servem para diminuir
(ANTUNES et al., 2017). a irritação cutânea (TEIXEIRA, 2020).
Os tratamentos imunobiológicos tratam a Mesmo sendo uma área com resultados
dermatite atópica através da resposta imune, en- muito promissores, ainda não há evidências ci-
tretanto, não é indicado que o paciente inter- entíficas suficientes sobre seus ativos e meca-
rompa a hidratação da pele e o uso de corticos- nismo de ação (TEIXEIRA, 2020).

56
b.7) Óleo da microalga Chlorella minutis- bactéria S. aureus (DA ROCHA SIMÕES et
sima al.,2019).
A pele da DA possui uma barreira mais fra-
gilizada, como dito anteriormente. Devido a CONCLUSÃO
isso, é uma pele mais suscetível à infecções, De acordo com a revisão de literatura feita,
principalmente pelo Staphylococcus aureus. O é possível perceber que a terapêutica para a der-
tratamento antimicrobiano contra esse agente é matite atópica vem sofrendo inovações, tanto
feito através de antibióticos tópicos, como a em posologia utilizada quanto em novos trata-
mupirocina, e corticosteroides para as lesões. mentos.
Entretanto, algumas bactérias Gram-Positivas Por conseguinte, é necessário pleno enten-
estão desenvolvendo uma alta resistência anti- dimento da fisiopatologia da doença, principal-
biótica, sendo necessário outros métodos para o mente em relação à proteína filagrina, para po-
controle das infecções (DA ROCHA SIMÕES der relacionar com os novos métodos de com-
et al., 2019). bate aos sintomas apresentados pelos indiví-
Dessa maneira, foi feito estudos utilizando duos.
o óleo da microalga Chlorella minutissima para Sendo assim, a utilização correta de novas
avaliar sua atividade antimicrobiana. Como re- táticas tem consequências positivas para os por-
sultado, foi demonstrado que a microalga deve tadores da doença, uma vez que acarreta em um
ser cultivada por 15 dias para obter tal ativi- melhor prognóstico e qualidade de vida, princi-
dade, a qual mostrou inibição do crescimento da palmente por se tratar de uma doença crônica na
maioria dos casos.

57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Brasileira de Ciências Biomédicas, v. 1, n. 1, p. 24-24,
pressão sistêmica: Relato de caso. Einstein (São Paulo),
2020.
v. 17, 2019.

58
CAPÍTULO 9
A IMPORTÂNCIA DO MANEJO
CLÍNICO INDIVIDUALIZADO DA
ERISIPELA E DA CELULITE
INFECCIOSA PARA A EFICIÊNCIA DA
TERAPÊUTICA E REDUÇÃO DE DANOS
AO PACIENTE

ARIANY SCOPARO MURATORI¹


JOYCE COZER DE MELO1
LETÍCIA PAULO DE SOUZA CRUZ1
SARA DE OLIVEIRA BELMIRO1

1
Discente - Medicina do Centro Universitário de Caratinga, Minas Gerais

Palavras-chave: Erisipela; Celulite infecciosa; Infecções dermatológicas.

59
INTRODUÇÃO et al., 2020; OLIVEIRA et al., 2018; SOARES
et al., 2020).
A pele é representada como o maior órgão Já a celulite infecciosa, caracteriza-se por
do corpo humano, a qual tem a atribuição de ser uma infecção que atinge a derme profunda,
proteger contra possíveis infecções, traumas e a epiderme e o tecido subcutâneo. As bactérias
lesões, ela é responsável pela termorregulação mais envolvidas nesse processo são o
e também por exercer o papel sensorial. Ela é Staphylococcus aureus e os estreptococos β-
constituída por três estratos, sendo elas a hemolíticos, os quais se espalham rapidamente
epiderme, a derme e a hipoderme (SILVA et al., por uma grande área, bloqueando os tecidos e
2021; ANDRADE et al., 2018). limitando o grau de infecção atingindo mais os
As infecções bacterianas da pele são membros inferiores, porém também podem se
consequências de uma série de fatores, dentre manifestar com muita frequência em outras
eles os fatores ambientais e pessoais, como falta áreas (ARAÚJO et al., 2021; SILVA et al.,
de higiene, baixa resistência imunológica, 2021; ANDRADE et al., 2018).
diabetes, predisposição genética (SILVA et al., Tais infecções recebem algumas classifica-
2021; MENEZES et al., 2021; LABRADA, ções, no caso da erisipela pode ser eritematosa,
2018). As infecções de tecidos moles são possuindo edema e congestão, pode ser bo-
ocasionados pela invasão bacteriana além da lhosa, com presença de vesículas grandes, e não
barreira cutânea, causando diferentes danos e purulentas, pode ser hemorrágica, levando a
desenvolvimento de doenças à epiderme e sangramento na pele afetada e, ainda, pode ser
derme. Duas dessas infecções, e muito uma linfadenopatia, apresentando ulceração su-
frequentes no contexto hospitalar, é a erisipela perficial no local acometido. Já a celulite, em-
e a celulite infecciosa (ARAÚJO et al., 2021; bora possam aparecer vesículas e lesões necró-
ARAÚJO, 2020; MENEZES et al., 2021). ticas, é classificada como não purulenta ou pu-
A erisipela é caracterizada por atingir a rulenta, quando há presença de pus, normal-
camada superficial da pele e causar um mente associado à presença de Staphylococcus
processo inflamatório agudo importante nos aureus (ARAÚJO et al., 2021).
vasos linfáticos. Ela é de origem bacteriana e Derivadas de um processo infeccioso da
tem como principal causador o Streptococcus β pele, acarretado por uma bactéria que se espalha
hemolítico, do grupo A de Lancefield, pelos vasos linfáticos, essas doenças podem ser
comumente o Streptococcus pyogenes. manifestadas em pessoas de todas as idades,
Ademais, tal processo pode ser originado por aparecendo com mais frequência em pacientes
algumas espécies de estreptococos (grupos B, C com tabagismo, sedentarismo, má alimentação
ou G) ou Staphylococcus aureus. Não é uma e ingestão de bebidas alcoólicas, uma vez que
doença contagiosa e pode ser desencadeada por são fatores que predispõe o aparecimento de co-
qualquer ferida que serve como porta de entrada morbidades como diabetes, obesidade, hiper-
para essas bactérias, as quais geram no tensão e circulação prejudicada nos membros
indivíduo acometido dor, inchaço e inferiores, elementos que são agravantes para o
vermelhidão, afetando em sua maior parte os surgimento de feridas (OLIVEIRA et al., 2018;
membros inferiores (ARAÚJO et al., 2021; MELO et al., 2020; SILVA et al., 2021; LA-
MELO et al., 2020; ARAÚJO, 2020; GOZZO BRADA, 2018). Quando os pacientes possuem

60
tais comorbidades, a atenção com eles se torna de periódicos científicos e monografias em ba-
um desafio, uma vez que a maior parte faz uso ses de dados como: SciELO, Pubmed e Google
de vários fármacos que, quando associados ao Acadêmico. Sendo englobados como critérios
surgimento das lesões ulcerativas da erisipela e de seleção artigos em português, espanhol e in-
da celulite, dificultam ainda mais o autocuidado glês publicados, preferencialmente, entre 2018
(ARAÚJO, 2020; LABRADA, 2018). e 2020 com a temática referente a abordagem
A erisipela é uma doença muito frequente na dermatológica e sistêmica dessas doenças in-
clínica médica, com uma incidência próxima de fecciosas.
10 a 100 casos por 100.000 habitantes/ano. Ainda, a pesquisa utilizou 17 artigos com as
Como já dito anteriormente, é uma patologia seguintes descrições: erisipela, celulite infecci-
que atinge pessoas de todas as idades, porém osa, infecção de pele e infecções dermatológi-
possui uma maior prevalência em indivíduos cas. Em vista disso, foram excluídos artigos que
com idades entre 60 e 80 anos e do sexo femi- não abordaram explicitamente o tema sugerido,
nino (MELO et al., 2020; SILVA et al., 2021; assim como artigos com datas além do prazo
ARAÚJO, 2020). Supõe-se que a infecção evo- previsto (com duração máxima de cinco anos) e
lui em 80 a 90,6% dos casos, e que a mortali- artigos que não atenderam aos demais critérios
dade pode variar de 0,5 a 20% dos casos, con- de inclusão.
forme o tipo de antibioticoterapia utilizada na
terapêutica e das comorbidades do paciente en- RESULTADOS E DISCUSSÃO
volvido (ARAÚJO et al., 2021; ARAÚJO,
2020). Além disso, a taxa de recidiva gira em O quadro clínico dos dois tipos de infecções
torno de 23 a 29% dos casos tratados (SILVA, são muito parecidos, por isso muitas vezes são
2019). confundidos na prática clínica. A erisipela
O objetivo desse capítulo é produzir uma re- provoca erupção cutânea, com eritema elevado,
visão bibliográfica informando os aspectos per- firme e claro, além de aumento local da
tinentes a respeito do manejo preciso dos indi- temperatura e dor ao tocar na lesão. Quando
víduos acometidos pela erisipela e pela celulite esses sinais atingem a orelha, é denominado
infecciosa. Ademais, se faz preciso, ainda, cap- sinal de Milian, uma vez que é característico da
tar a valia da terapêutica individualizada e sis- erisipela, pois ali não há derme profunda. Em
têmica eficaz para a cura das infecções, visando contrapartida, a celulite causa uma erupção
promover uma qualidade de vida melhor para rósea, indistinta, quente e sensível, e às vezes
os pacientes lesionados. pode ter um aspecto parecido com casca de
laranja, com danos linfáticos permanentes,
MÉTODO sendo que a menor parte dos pacientes
desenvolve sepse grave, necrose local ou
Este capítulo é uma revisão vasta da litera- fasceíte necrosante (ARAÚJO et al., 2021;
tura que retrata a importância clínica da erisi- ANDRADE et al., 2018).
pela e da celulite infecciosa, abrangendo de Ademais, as duas patologias compartilham
forma ampla a sua etiologia associada a sinais e de algumas manifestações clínicas em comum,
sintomas, fisiopatologia, diagnóstico e trata- como febre, calafrios, mal-estar, cefaleia,
mento. A análise bibliográfica incluiu artigos astenia, náuseas, vômitos, edema, dor,

61
hiperemia e aumento da temperatura no local humanizada e de qualidade aos pacientes
lesionado. Ainda, é possível o aparecimento de acometidos por esses processos infecciosos
bolhas e áreas de necrose em ampliadas áreas (ARAÚJO, 2020).
de descolamento epidérmico (MELO et al., Objetivando eliminar o microrganismo
2020; OLIVEIRA et al., 2018; SILVA et al., causador das infecções, a terapêutica é
2020; SILVA et al., 2021; CALDEIRA et al., realizada por meio de antibioticoterapia
2019). específicos e limpeza própria do local afetado
De acordo com esse contexto, embora as juntamente com a realização de curativos, para
duas afecções sejam conceituadas de forma que haja a recuperação tecidual (MENEZES et
diferentes, os profissionais da área da saúde al., 2019). O cuidado com as feridas exige
ainda possuem muita dificuldade de distingui- muita competência, humanização e
las, principalmente de acordo com as áreas do conhecimento para fundamentar a prática, com
corpo acometidas, a profundidade das lesões e o intuito de deixar o paciente tranquilo, bem
as complicações. Essas repercussões que acolhido e ser resolutivo quanto ao problema
podem ser geradas a partir da erisipela e da que o mesmo enfrenta (MELO et al., 2020).
celulite são trombose venosa profunda (TVP), Na contemporaneidade, há inúmeros
áreas necrosadas, abscessos, gangrena, fasciíte produtos que foram desenvolvidos e
necrotizante, tromboflebite, glomerulonefrite comercializados com o objetivo de auxiliar no
aguda, septicemia, artrite séptica, endocardite tratamento de feridas na pele, bem como
além de poder ainda levar à morte (ARAÚJO et materiais para desinfecção, limpeza e proteção
al., 2021; ARAÚJO, 2020; LABRADA, 2018). de feridas, os quais vem auxiliando cada vez
O diagnóstico das duas patologias é clínico, mais no sucesso de curativos em feridas
podendo o médico usar ou não exames primárias ou secundárias e materiais para
laboratoriais como hemograma, velocidade de tratamento dessas lesões cutâneas (MELO et
hemossedimentação, títulos de al., 2020). Nesse sentido, os curativos são
antiestreptolisina para auxiliar na conduta realizados para de proteger a ferida contra
médica. Ademais, pode ser realizado também o lesão, infecção e remover o excesso de
aspirado da lesão, para haver a identificação do secreções, buscando diminuir o risco de
patógeno associado, e a hemocultura, que complicações durante o processo de
apresenta baixa positividade em períodos cicatrização e aumentar o conforto do paciente
iniciais, sendo mais significante na presença de (MENEZES et al., 2019).
toxemia, por isso deve ser usada apenas em Em casos de feridas crônicas ou processos
casos mais graves (SILVA et al., 2021; MELO de cicatrização mais complexos, necessitam de
et al., 2020; SILVA et al., 2021; CALDEIRA cuidados diários pela equipe de enfermagem,
et al., 2019). além de um plano de tratamento que
Nesse contexto, é importante que os proporcione resultados positivos ao término do
profissionais das unidades de saúde tenham um atendimento (SILVA et al., 2020).
bom conhecimento a respeito da diferenciação, O tratamento farmacológico da erisipela e
características técnicas e manejo da erisipela e da celulite vai depender do estágio e
da celulite infecciosa, bem como a forma acometimento da doença. Normalmente, os
adequada de prestar assistência segura, antibióticos orais são os mais escolhidos para a

62
terapêutica dessas infecções em casos mais cicatrização e recuperação do indivíduo
leves, quando o paciente apresenta uma febre (SILVA et al., 2020). Desse modo, a resposta
mais baixa e com a presença de marcadores terapêutica precisa ser aferida em torno de três
bioquímicos mais reduzidos. O tempo de vezes ao dia, verificando se os marcadores
duração, gira em torno de 07 à 14 dias, mas inflamatórios e descartando a presença de
sempre deve haver a avaliação clínica para complicações das lesões, porém os casos
analisar o seguimento ou não do tratamento começam a ter resolução a partir do segundo dia
(ARAÚJO et al., 2021; VILLAGRAN et al., de tratamento com antimicrobianos (ARAÚJO
2018). et al., 2021; ALEJANDRO & GILBERTO,
Nesses casos, os fármacos selecionados 2021).
pelo clínico, os quais são citados por artigos Além da conduta de prescrição de
científicos, são os derivados da penicilina, uma antibioticoterapia, é de suma importância o
vez que, pois o maior agente causador da cuidado com a pele, adotando medidas como,
erisipela e da é o S. pyogenes, que é sensível a informar aos familiares a importância dos
esse antimicrobiano. Essas drogas possuem cuidados com as lesões, elevar os MMII,
ação direta na última etapa da síntese da parede principalmente no inicio do tratamento,
bacteriana, proporcionando ao microrganismo preservar a pele hidratada, cuidar das feridas e
uma membrana instável, favorecendo a lise pela manter o órgão sempre limpo (ARAÚJO et al.,
pressão osmótica ou pela ativação de 2021; ALEJANDRO & GILBERTO, 2021).
autolisinas (MELO et al., 2020; ARAÚJO et
al., 2021). A medicação de escolha pra o CONCLUSÃO
tratamento da celulite e da erisipela em adultos
é a Oxacilina, a qual deve ser ministrada com Diante do contexto apresentado, o manejo
posologia de 8 a 10 mg/Kg/dia, entre quatro a integral da erisipela e da celulite é de grande
seis vezes ao dia. Em seguida, como droga de importância clínica, uma vez que são condições
segunda escolha, tem-se a cefalotina, usada distintas que geram muita dor e sofrimento aos
com a posologia de 12 g/dia, dividida em 6 pacientes acometidos. À vista disso, se torna in-
doses. Em casos de alérgicos à penicilina e a dispensável destacar a etiologia, fatores de
cefalosporina, uma terceira alternativa é a risco, fisiopatologia, diagnóstico e o tratamento
clindamicina, vancomicina ou teicoplanina. Já farmacológico e não farmacológico. Essas in-
em situações mais agravantes, onde a infecção fecções dermatológicas, as quais são muito fre-
é ocasionada por S. aureus resistentes a quentes dentro do contexto hospitalar, ocorrem
Oxacilina adquiridos na comunidade, é devido uma invasão bacteriana além da barreira
indicado a prescrição de cutânea, acarretando inúmeros danos e desen-
sulfametoxazoltrimetoprim (CALDEIRA et al., volvimento de doenças à epiderme e a derme.
2019; VILLAGRAN et al., 2018; Evidencia-se também o quão necessário é o
ALEJANDRO & GILBERTO, 2021). conhecimento dos profissionais das unidades de
Sendo assim, é importante avaliar o saúde sobre a diferenciação, características téc-
paciente como um todo, considerando desde as nicas e manejo da erisipela e da celulite infec-
áreas de lesões até os sintomas sistêmicos, que ciosa, com o objetivo de prestar assistência se-
podem também influenciar no processo de gura, humanizada e de qualidade aos indivíduos

63
infectados. Isso contribui diretamente com a De acordo com esse cenário, é notório a ca-
eliminação do agente causador de doença, uma rência de estudos e pesquisas referentes a dis-
vez que assim a terapêutica se faz efetiva por cussões sobre a temática em questão, uma vez
meio da melhor escolha de antimicrobianos, por que são eles que esclarecem as dúvidas sobre o
meio da limpeza adequada do local e também assunto, que são frequentes no ambiente hospi-
com o bom manejo do curativo. talar, com o intuito de proporcionar aos pacien-
tes uma melhor qualidade de vida.

64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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65
CAPÍTULO 10

O USO DA TOXINA BOTULÍNICA


PARA O TRATAMENTO DA
HIPERIDROSE

ALLINI BIZERRA AMARAL1


ANA JULIA LEHMKUHL1
AMANDA LETÍCIA RODRIGUES GOMES1
FABIULA PEREIRA DE ANDRADE1
GIULIA CAROLINA PRETTO CARVALHO1
LAURA MAGALHÃES JUNQUEIRA1
MARINA SESSO GRANATO1
OLÍVIA GABRIELA DE JESUS DOMINGOS1
VICTORIA HAMAOKA DE OLIVEIRA1

1
Discente - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso - MT

Palavras-chave: Hiperidrose; Toxina botulínica; Tratamento.

66
INTRODUÇÃO O objetivo do capítulo é analisar a toxina
botulínica como uma forma de tratamento para
A hiperidrose é a sudorese excessiva mesmo
a hiperidrose, pontuando seus benefícios, male-
em repouso, pode ser classificada em localizada
fícios e possibilidade de uso.
ou generalizada, e apesar de possuir etiologia
desconhecida, está diretamente relacionada
MÉTODO
com fatores emocionais (AZULAY, 2017;
REIS et al., 2011). As áreas mais comuns de se-
Foi realizada uma revisão de literatura utili-
rem acometidas são: testa, mãos, planta dos pés,
zando-se livros e artigos científicos, com os
axilas, virilha e couro cabeludo (HAGEMANN
descritores “hiperidrose”, “sudorese”, “toxina
& SINIGAGLIA, 2019). Outra classificação é
botulínica” e “tratamento”. Foram utilizadas as
em hiperidrose primária ou secundária. A hipe-
bases de dados SciELO e Pubmed para a capta-
ridrose primária é perceptível desde a infância
ção de artigos, respeitando a janela temporal de
ou adolescência, podendo ter mais indivíduos
2010 a 2022. Os critérios de inclusão foram: ar-
acometidos dentro de uma mesma família em
tigos nas línguas portuguesa e inglesa que abor-
30% a 50% dos casos. Acomete principalmente
davam o tema da pesquisa e foram disponibili-
as mãos, pés e axilas, porém nesses casos a su-
zados na íntegra. Como critério de exclusão fo-
dorese não ocorre durante o período de sono.
ram: artigos duplicados, não disponibilizados
Em contrapartida, a hiperidrose secundária aco-
integralmente, fora da janela temporal e que não
mete todas as principais regiões do corpo, sendo
abordavam ou tangenciavam o tema proposto.
observada na fase adulta e desencadeada por al-
Livros didáticos com o tema Dermatologia fo-
guma condição de base como um hipertireoi-
ram incluídos nas pesquisas. A seleção final
dismo, menopausa ou obesidade. Nesse caso, o
contou com 5 artigos e 3 livros didáticos. Os re-
suor excessivo acontece também nos períodos
sultados foram apresentados de forma descri-
de sono (REIS et al., 2011; HAGEMANN &
tiva e divididos por subtópicos dentro do tema
SINIGAGLIA, 2019). A toxina botulínica é um
proposto.
dos tratamentos utilizados para esta condição
devido a sua capacidade de bloquear a inerva-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ção simpática das glândulas sudoríparas, cli-
vando a proteína SNAP-25, que é fundamental
Introdução à hiperidrose
para a liberação de acetilcolina, promovendo
A sudorese é um importante mecanismo
assim a desnervação química das células. O po-
corpóreo para a regulação da temperatura in-
pular "botox" possui 8 subtipos de neurotoxinas
terna. Contudo essa sudorese pode tornar-se ex-
sendo elas: A, B, Cl, C2, D, E, F e G, seu me-
cessiva (mesmo em repouso), em um quadro
canismo de ação leva a uma paralisia flácida,
denominado como hiperidrose, a qual pode ser
que pode se estender até um raio de 1,5 cm do
classificada como localizada, quando acomete
ponto da aplicação, com duração média de 4 a
áreas específicas do corpo, ou generalizada,
6 meses. Nos dias atuais, o subtipo A e B são os
quando engloba todo o corpo (AZULAY, 2017;
mais utilizados (AZULAY, 2017; DIAS et al.,
REIS et al., 2011; HAGEMANN & SINIGA-
2001; BOLOGNIA et al., 2015).

67
GLIA, 2019). As áreas mais comuns de serem em tratamentos com resultados altamente grati-
acometidas são: testa, mãos, planta dos pés, axi- ficantes nos diversos campos de aplicação. Essa
las, virilha e couro cabeludo. Outra classifica- toxina pode ser usada isoladamente ou ainda em
ção existente é em hiperidrose primária ou se- associação com outros métodos. Nesse sentido,
cundária (HAGEMANN & SINIGAGLIA, além de fazer tratamento estéticos, seu efeito
2019). anticolinérgico tem potencial satisfatório no
A hiperidrose primária é perceptível desde a tratamento das chamadas hiperidroses (AZU-
infância ou adolescência, podendo ter mais in- LAY, 2017).
divíduos acometidos dentro de uma mesma fa- A toxina, que ficou conhecida por causa do
mília em 30% a 50% dos casos. Acomete prin- chamado Botulismo, é classificada como uma
cipalmente as mãos, pés e axilas, porém nesses exotoxina produzida pela bactéria anaeróbia
casos a sudorese não ocorre durante o período gram-positiva Clostridium botulinum, que é
de sono. Em contrapartida, a hiperidrose secun- frequentemente encontrada no solo, verduras,
dária acomete todas as principais regiões do legumes, frutas e também nas fezes humanas. O
corpo, sendo observada na fase adulta e desen- popular "botox" possui 8 subtipos de neurotoxi-
cadeada por alguma condição de base como um nas sendo elas: A, B, Cl, C2, D, E, F e G. Nos
hipertireoidismo, menopausa ou obesidade. dias atuais, o subtipo A e B são os mais utiliza-
Nesse caso, o suor excessivo acontece também dos por médicos e demais profissionais habili-
nos períodos de sono (REIS et al., 2011; HA- tados. O mecanismo de ação age na terminação
GEMANN & SINIGAGLIA, 2019). Alguns motora colinérgica, que inibe a liberação de
outros tipos de hiperidrose incluem a hiperi- acetilcolina na pré-sinapse da junção neuro-
drose assimétrica, ocasionada por distúrbios muscular, que provoca a diminuição da contra-
neurológicos e a hiperidrose gustativa, locali- ção muscular e, consequentemente, leva a uma
zada principalmente na região de lábios, nariz e paralisia flácida. Essa paralisia pode se estender
testa, sendo desencadeada pela ingestão de ali- até um raio de 1,5 cm do ponto da aplicação e
mentos picantes por algumas pessoas (AZU- tem início de ação após 48 horas, alcançando
LAY, 2017). efeito máximo de 1 a 2 semanas após. No en-
As etiologias da hiperidrose ainda não estão tanto, essa é uma situação temporária e tem du-
bem definidas, porém é incontestável a influên- ração média de 4 a 6 meses. Posteriormente e
cia do fator emocional. Muitas vezes essa sudo- de forma gradual, ocorre o restabelecimento
rese excessiva causa gotejamento e odor fétido funcional motor da região alvo, uma vez que a
causado pela decomposição de restos celulares denervação química da junção neuromuscular é
(bromidrose), o que leva ao desconforto social um processo reversível e possibilitado pelo
e afeta ainda mais o psicológico do paciente, crescimento de axônios colaterais (AZULAY,
podendo agravar os sintomas em um ciclo vici- 2017; DIAS et al., 2001; BOLOGNIA et al.,
oso de estímulo emocional e piora do quadro 2015).
(AZULAY, 2017; REIS et al., 2011). Na hiperidrose axilar, palmar e digital
busca-se bloquear de maneira dose-dependente
Introdução à toxina botulínica a inervação simpática das glândulas sudoríparas
Atualmente, a toxina botulínica é reconhe- écrinas. Para realizar esse procedimento é ne-
cida por sua versatilidade, segurança e eficácia cessário que os pontos de aplicação sejam dire-

68
cionados de acordo com o Teste de Minor, com Fisiopatologia da hiperidrose
iodo e amido, que possibilita a identificação das A sudorese é produzida a partir das glându-
áreas de sudorese excessiva. Tanto nas axilas, las sudoríparas que recebem fibras colinérgicas
como nas regiões palmar e digital deve-se pre- de inervação simpática que enviam estímulos,
ferir as injeções mais superficiais (intradérmi- durante situações de estresse psicológico ou fí-
cas ou subepidérmicas), pois apesar da dor in- sico, como uma resposta fisiológica de controle
tensa que exige bloqueio anestésico dos nervos, da temperatura corporal, mediado pelo centro
aplicações mais profundas (subcutânea) correm termorregulador do hipotálamo. Dessa forma, a
risco de injeção na rede vascular e de que haja hiperidrose corresponde a um aumento da ativi-
fraqueza de pequenos músculos. Apesar disso, dade do sistema nervoso simpático, causando
o tratamento tem sido considerado seguro, efe- maior liberação de acetilcolina nas terminações
tivo, minimamente invasivo com duração de nervosas e estimulação dos receptores muscarí-
efeito de 4 a 12 meses, dependendo da dose nicos, que acarretam em maior quantidade de
aplicada (AZULAY, 2017; DIAS et al., 2001). suor (BRACKENRICH & FAGG, 2021).
Embora seja um material bastante seguro A hiperatividade do sistema nervoso simpá-
para utilização, é necessário pontuar que em al- tico, pode decorrer do prejuízo do feedback ne-
gumas poucas situações pode ser contraindi- gativo do hipotálamo, promovendo sudorese
cado o uso, como em: pacientes com expectati- maior que a necessária para diminuir a tempe-
vas irreais, infecções no local da aplicação, do- ratura corporal. Esse distúrbio pode ser desen-
enças psiquiátricas, lactação, hipersensibilidade cadeado por alterações sistêmicas, que aumen-
a componentes da formulação (toxina botulí- tam a resposta simpática, ou medicamentos que
nica, albumina humana ou solução salina), imu- aumentam a liberação de acetilcolina no neurô-
nossupressão, certos tratamento concomitantes, nio (BRACKENRICH & FAGG, 2021).
distúrbios da coagulação, doenças neuromuscu- Histologicamente, as glândulas sudoríparas
lares, como miastenia gravis ou paralisia de apresentam-se em tamanho e número normais
Bell, e indivíduos com instabilidade psíquica na hiperidrose. Contudo, os gânglios simpáticos
(medo de toxicidade ao perceber o efeito do estão de tamanho aumentado nesses pacientes
procedimento). Além disso, é importante sali- (BRACKENRICH & FAGG, 2021).
entar que apesar de reduzidos pelo uso da téc-
nica adequada de aplicação e do conhecimento Ação da toxina botulínica na hiperidrose
anatômico dos músculos tratados, há chance de A toxina botulínica é uma opção terapêutica
que efeitos colaterais, adversos e complicações para a hiperidrose, considerando que age cli-
ocorram. No caso, por exemplo da hiperidrose vando a proteína SNAP-25 e inibe a liberação
axilar, em geral, são observados casos de equi- de acetilcolina. A toxina concentra-se em termi-
moses e hematomas; já na hiperidrose na região nações nervosas de fibras simpáticas pós-gan-
palmar, digital e plantar, muitas das vezes ocor- glionares. Sofre internalização por meio de en-
rem dor, hematomas e ainda fraqueza muscular docitose, sendo liberada no citoplasma do axô-
(DIAS et al., 2001; BOLOGNIA et al., 2015). nio, onde irá clivar a proteína celular de mem-

69
brana SNAP-25, que é fundamental para a libe- e regridem sem deixar sequelas, não afetando a
ração de acetilcolina, impedindo a liberação de satisfação dos pacientes diante do tratamento
tal neurotransmissor (BRACKENRICH & (DIAS et al., 2001).
FAGG, 2021; DIAS et al., 2001). Dessa ma- Mesmo a toxina botulínica tipo A não apre-
neira, produzindo desnervação química da sentando riscos à saúde, deve-se realizar a
glândula sudorípara e inibição temporária da anamnese de todos os pacientes, para evitar
sudorese excessiva (REIS et al., 2011). complicações, aumentar a eficácia do procedi-
mento e avaliar as contraindicações ao seu uso,
Resultados clínicos da toxina botulínica e as quais são: doenças no sistema nervoso peri-
suas desvantagens férico, como Miastenia Gravis e paralisia de
O BOTOX® é uma forma segura, pouco in- Bell; gravidez; lactação; sensibilidade a toxina
vasiva e eficaz para o tratamento de hiperi- botulínica ou a algum dos componen-
drose. Apresenta bons resultados, com alto tes; drogas (aminoglicosídeos, penicilamina,
grau de satisfação e melhora da qualidade de bloqueadores do canal de cálcio e quinina) e
vida do paciente. Os efeitos são positivos após condições inflamatórias cutâneas no local das
7 a 10 dias da sua aplicação, com redução da injeções (DIAS et al., 2001; GADELHA &
produção do suor em aproximadamente 75% e COSTA, 2016; SANTOS, 2017).
com duração em torno de 6 a 12 meses (SAN-
TOS, 2017). Outros tratamentos para hiperidrose
Alguns estudos publicados avaliaram a to- Com o desenvolvimento de mais alternati-
xina botulínica tipo A no tratamento da hiperi- vas ao tratamento da hiperidrose, este torna- se
drose, vale destacar a pesquisa de Reis et al., menos oneroso, e, portanto, mais acessível
(2011). Esse artigo analisou retrospectiva- (BRACKENRICH & FAGG, 2021). Os trata-
mente por 10 anos, os estudos de pacientes com mentos podem ser divididos em duradouros ou
hiperidrose, tratados com toxina botulínica por paliativos, cada um com suas particularidades
12 meses, em 39 pacientes (36% do sexo mas- (DIAS et al., 2001). O uso de antiperspirantes
culino e 64% do sexo feminino). Os resultados (com cloreto de sódio a 20% ou a 6,25%) é a
obtidos foram o efeito terapêutico com início primeira linha em casos de hiperidrose focal, e
após 3 dias da aplicação da toxina botulínica serve para amenizar a transpiração e odor pro-
tipo A, a redução da sudorese em 50% na pri- veniente do suor. Entretanto, se mostra ineficaz
meira semana é de até 94% após a segunda se- e pouco duradouro em casos de hiperidrose,
mana de tratamento com duração em torno de 7 com média de 7 dias de efeito, além disso, pode
meses. Não houve mortalidades e nem casos de causar dermatite de contato irritativa e tolerân-
hiperidrose compensatória. cia (HAGEMANN & SINIGAGLIA, 2019;
A administração do BOTOX® pode apre- DIAS et al., 2001; BOLOGNIA et al., 2015).
sentar alguns efeitos adversos, sendo as mais A iontoforese é uma técnica que consiste na
comuns: equimoses na região axilar, dor à inje- liberação de uma corrente elétrica de baixa in-
ção, hematoma, fraqueza do polegar e de outros tensidade que age bloqueando os ductos sudo-
músculos na região palmar e digital (GADE- ríparos temporariamente, sendo mais eficaz em
LHA & COSTA, 2016). No entanto, esses efei- casos de hiperidrose palmar ou plantar. Esse
tos colaterais são transitórios, pouco frequentes tipo de tratamento é de longo prazo, possui pou-

70
cos efeitos colaterais, porém tem eficácia limi- ternativas cirúrgicas, pode produzir efeitos co-
tada e baixa adesão (HAGEMANN & SINIGA- laterais como: sudorese de compensação, sín-
GLIA, 2019; BRACKENRICH & FAGG, drome de Horner, risco de pneumotórax e he-
2021; BOLOGNIA et al., 2015). motórax. As outras medidas cirúrgicas incluem
As drogas de uso oral são indicadas para ca- lipoaspiração subcutânea (remoção de gordura
sos refratários ao tratamento tópico e para con- e glândulas sudoríparas localizadas na derme),
trole de sintomas generalizados. Os anticolinér- excisão local (remoção focal de glândulas sudo-
gicos de escolha são a oxibutinina e o glicopir- ríparas) e radiofrequência (HAGEMANN & SI-
rolato, que diminuem a ação das glândulas su- NIGAGLIA, 2019; BRACKENRICH &
doríparas. Deve-se atentar para as doses mais FAGG, 2021; BOLOGNIA et al., 2015).
elevadas que podem ocasionar efeitos colate-
rais, como xerostomia, xeroftalmia, sedação e CONCLUSÃO
outros (BRACKENRICH & FAGG, 2021; BO-
LOGNIA et al., 2015). Os medicamentos sinto- A hiperidrose ainda possui uma etiologia
máticos incluem benzodiazepínicos ou betablo- desconhecida, mas sabe-se que tem influência
queadores para redução da hiperidrose por es- de fatores emocionais. Esse quadro acarreta di-
tresse e ansiedade. Estes, são pouco utilizados versos transtornos ao paciente, como ansiedade
devido aos seus efeitos colaterais, que podem e constrangimento, tendo um impacto negativo
incluir hipotensão, sedação, hipertensão de re- em sua vida. Atualmente, existem várias opções
bote e fraqueza (HAGEMANN & SINIGA- de tratamento para a hiperidrose, que são de
GLIA, 2019; BOLOGNIA et al., 2015). baixo custo e mais acessíveis. Entre as opções
A terceira linha terapêutica apresenta inter- disponíveis, os tratamentos com toxina botulí-
venções cirúrgicas como soluções definitivas e nica têm se mostrado eficazes e apresentam re-
de última escolha. A simpatectomia é um pro- sultados satisfatórios, em que há a cessação de
cedimento de ressecção de gânglios, cada um sintomas e melhora na qualidade de vida do pa-
com um ponto focal correspondente (Gânglios ciente. Além disso, embora temporário, é um
T1: sudorese facial; Gânglios T2 e T3: sudorese procedimento seguro e a incidência de efeitos
palmar; Gânglios T4: sudorese axilar). Apesar adversos é relativamente baixa.
de ser considerado a melhor opção dentre as al-

71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GADELHA, A.R. & COSTA, I.M.C. Cirurgia Dermato-
lógica em Consultório. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2016.

72
CAPÍTULO 11

DERMATITE ATÓPICA
NA INFÂNCIA

MARIA PAULA DUTRA CIOCCARI1


LUANA VILAGRAN LACERDA SILVA 1
MAYARA MARCELA NASCIMENTO1
CAMILA PEDROSO FIALHO 2
CRISTIANO DO AMARAL DE LEON3

1
Graduanda da Faculdade de Medicina da Universidade Luterana do Brasil - Campus Canoas - Rio Grande do Sul
2
Médica Residente em Pediatria da Universidade Luterana do Brasil - Campus Canoas - Rio Grande do Sul
3
Professor Adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Luterana do Brasil - Campus Canoas -
Rio Grande do Sul

Palavras-chave: Dermatite; Atópica; Pediatria.

73
INTRODUÇÃO Foram utilizados os descritores: “Dermatite
atópica”, “Criança”, “Revisão” nos últimos 5
A dermatite atópica (DA), também conhe- anos entre os anos 2016-2021, para artigos de
cida como eczema atópico, é a dermatose infla- revisão, posteriormente submetidos aos crité-
matória crônica mais comum nos países desen- rios de seleção. Os critérios de inclusão foram:
volvidos, com prevalência entre 15% e 20% na artigos no idioma inglês e que abordavam as te-
infância e 1% a 3% na população adulta. De- máticas propostas para esta pesquisa, estudos
senvolve-se, na maioria dos pacientes, antes do tipo revisão, disponibilizados na íntegra de
dos 5 anos de idade, desaparecendo na adoles- forma gratuita ou paga. Os critérios de exclusão
cência, mas em alguns casos, persistindo até a foram: trabalhos de conclusão de curso, artigos
vida adulta. É frequentemente associada a ou- duplicados, disponibilizados na forma de re-
tras manifestações alérgicas atópicas, como sumo, que não abordavam diretamente a pro-
bronquite, asma e rinite, e se expressa sob a posta estudada e que não atendiam aos demais
forma de eczema. Esta é caracterizada como critérios de inclusão. Após os critérios de sele-
eritema mal definido, apresentando vesículas e ção, avaliou-se sete artigos para realização
edema em sua fase aguda e com aparecimento deste capítulo.
de placas eritematosas bem definidas, com li- Após os critérios de seleção, os artigos sele-
quenificação e descamação em sua forma crô- cionados foram submetidos à leitura minuciosa
nica (PETERS & PETERS, 2019). para a coleta de dados. Os resultados foram
A partir do exposto, somado ao aumento da apresentados em tabelas e de forma descritiva,
prevalência da DA nas últimas décadas, novos divididos em categorias temáticas.
estudos e tecnologias foram desenvolvidos para
se obter uma melhor compreensão dessa doença RELATO DE CASO
e ampliar o conhecimento da sua patogênese,
epidemiologia e ampliação do arsenal de trata- R.Y, 3 anos, masculino, natural e proce-
mento com novos agentes tópicos e sistêmicos dente de Canoas/RS, apresentou-se na emer-
(WEIDINGER et al., 2018). gência pediátrica do Hospital Universitário de
O objetivo deste capítulo foi aprofundar os Canoas/RS no dia 05/07/2021, acompanhado
conhecimentos através de revisão bibliográfica da genitora com quadro clínico de lesões impe-
ampla acerca da dermatite atópica, sua fisiopa- tiginizadas e pruriginosas em face, lóbulo da
tologia, fatores de risco, tratamento e desafios orelha, região cervical, tórax, áreas flexoras em
baseado em relato de caso acompanhado em en- cotovelos, joelhos e tornozelos (Figura 11.1),
fermaria pediátrica. com piora há um dia e febre de 38 °C. Internado
com diagnóstico de dermatite atópica e sobrein-
MÉTODO fecção bacteriana. A mãe relatou ter procurado
atendimento na semana anterior à internação,
Trata-se de uma revisão integrativa reali- sendo orientada fazer uso de cefalexina, além
zada no período de janeiro a março de 2022, por de dexclorfeniramina e aplicação de hidratante.
meio de pesquisas nas bases de dados: SciELO, Internações recentes em junho e março de 2021
Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). por quadro clínico semelhante. Irmão apresenta
lesões semelhantes e história familiar de asma.

74
Figuras 11.1 Lesões impetiginizadas e pruriginosas em -Antecedentes Gineco-obstétricos: Idade gesta-
face, lóbulo da orelha, região cervical e joelho cional 39 + 3 semanas, peso de nascimento:
3.670 Kg, Apgar 8/9;
-Comorbidades: Internação por bronquiolite vi-
ral aguda aos 6 meses, asma (crises menos de
1x ao mês), dermatite atópica de difícil con-
trole;
História Familiar: Irmão com dermatite ató-
pica. Genitora com asma.
Ao exame: Lesões impetiginizadas em face,
lóbulo da orelha, região cervical, tórax, áreas
flexoras em cotovelos, joelhos e tornozelos,
com melhora progressiva do padrão das lesões.
Exames complementares:
-05/07/2021: Leucócitos totais 22.300 (basto-
nados 6%, segmentados 71%; linfócitos 13%)
hemoglobina 9,9; hematócrito 30,7%/ Proteína
C Reativa: 136 mg/dL;
-06/07/2021: Pesquisa Staphylococcus aureus
meticilino-resistente (MRSA) em mucosa na-
sal: negativo;
-Hemocultura 05/07/2021: negativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fisiopatologia
A fisiopatologia da dermatite atópica en-
volve um conjunto de fatores associados a uma
barreira epidérmica disfuncional ao microbi-
oma da pele alterado e a desregulação imune as-
sociada predominantemente ao mecanismo in-
flamatório do tipo 2 (hipersensibilidade do tipo
2). A associação desses diversos mecanismos
fisiopatológicos nos permite afirmar que a do-
ença dermatite atópica é uma afecção sistêmica
(KATOH et al., 2020).
Fonte: Acervo pessoal (2021). A barreira epidérmica disfuncional está as-
sociada à perda transepidermal elevada de água,
História Médica Pregressa: permeabilidade aumentada associada a redução
-Imunizações: Carteira de vacinação atualizada. da retenção de água (pele ressecada), ao au-
Cicatriz de BCG presente; mento do pH, a composição alterada de lipídios,

75
a diminuição de filagrinas, ceramidas e os pep- também pela histamina e pelos nervos sensiti-
tídeos antimicrobianos. Associado a isso há o vos da pele. O prurido tem como fatores associ-
aumento dos níveis séricos das IgE pela sensi- ados ao aumento da sua intensidade, o desba-
bilização aos alérgenos. Essas alterações na lanço entre o sistema nervoso simpático e pa-
barreira epidérmica fazem com que a pele perca rassimpático, assim como pelos fatores emoci-
as suas três principais funções que são a perda onais e psicogênicos (LANGAN et al., 2020).
limitada de água corporal, a restrição da absor- A cada fase da vida da criança com derma-
ção de fatores ambientais e químicos e a pre- tite atópica, observamos determinadas caracte-
venção de infecções microbianas (Figura 11.2) rísticas das lesões eczematosas. Essas lesões
(LANGAN et al., 2020). são decorrentes do processo inflamatório, do
A alteração da microbiota favorece ainda prurido excessivo e dos processos infecciosos
mais os danos na barreira epidérmica, que so- associados (LANGAN et al., 2020).
mado à disbiose associada a colonização bacte- Nos pacientes com menos de dois anos de
riana, principalmente por Staphylococcus au- idade, as erupções se desenvolvem principal-
reus e Malassezia sp., promovem efeitos pró- mente nas bochechas, nuca e cabeça e se apre-
inflamatórios diretos (LANGAN et al., 2020). sentam como um ressecamento da pele seguido
Na pele afetada com deficiência da barreira de pápulas. Após, é possível o aparecimento de
epidérmica e desordem na microbiota, as célu- sintomas faciais, eritema em zonas intertrigino-
las inflamatórias presentes, tais como as células sas como as dobras cutâneas em fossa cubital,
de Langerhans, os linfócitos T CD4 e as células fossa poplítea e também no tronco e extremida-
inflamatórias dendríticas epidérmicas, carre- des (WEIDINGER et al., 2018).
gam IgE específica até as células dendríticas Na idade escolar, entre dois e 12 anos, as
dérmicas que absorvem alérgenos e antígenos. erupções faciais são mais proeminentes associ-
Existe também o aumento da infiltração de ci- adas a lesões no pescoço, axila, as áreas inter-
tocinas e interleucinas inflamatórias e tipos es- triginosas, punhos e calcanhares. Com a evolu-
pecíficos dessas citocinas (tipo 2) que ativam os ção das lesões nos casos mais severos, as ero-
nervos sensitivos promovendo prurido (WEI- sões causadas pelo prurido e escoriações for-
DINGER et al., 2018). mam crostas, principalmente sanguinolentas.
Com a cronicidade da doença, existe au- Além disso, a pele ressecada permanece como
mento dos queratinócitos e citocinas derivadas característica, principalmente em troncos e ex-
dos linfócitos T auxiliares. O prurido tende a tremidades (KATOH et al., 2020).
aumentar e é induzido cada vez mais por outros Por fim, na adolescência, a partir dos 13
mecanismos além dos citados anteriormente, anos, as erupções são predominantes na parte
como pela ação dos mediadores moleculares superior do corpo, como face, pescoço, peito e
produzidos pelos mastócitos e basófilos, como costas (KATOH et al., 2020).

76
Figura 11.2 Imagem representativa das anormalidades na barreira cutânea e a disfunção imunológica apresentada na
dermatite atópica.

Fonte: Yang et al., 2020.

Microbioma em pacientes com DA Entende-se que isso se deve não apenas à


A microbiota cutânea abriga a maior diver- imaturidade do sistema imunológico, mas
sidade de comunidades comensais no corpo também à presença de mecanismos reguladores
com mais de 1000 diferentes espécies de bacté- exclusivos dessa janela inicial. Em bebês, a
rias e, naturalmente, é colonizada por patógenos ativação dos receptores Toll-like (TLRs),
como o Staphylococcus aureus que tem função sensores chave no sistema imunológico, resulta
importante na barreira epidérmica. Cada parte em níveis mais altos de produção de IL-6 e IL-
da superfície cutânea apresenta diferentes com- 23 e níveis mais baixos de TNF- e IL-1. A
posições dessa microbiota. Alguns estudos composição e função do sistema adaptativo
como em Paller et al., 2019, demonstraram que sistema imunológico evolui em sincronia, com
os microbiomas vão apresentando diferenças ao células T-reguladoras (Treg) encontradas em
longo da vida e cada pessoa apresenta a sua pró- maior abundância durante a vida fetal e infantil.
pria composição microbiótica. A microbiota Embora essas alterações aumentem o risco de
cutânea na infância pode ser influenciada por infecção disseminada em neonatos, elas
fatores externos como a via de parto e a influên- também melhoram a tolerância imunológica a
cia cutânea materna. O entendimento da com- autoantígenos e antígenos estranhos, evitando
posição, evolução e funcionamento dessa mi- inflamação prejudicial ao desenvolvimento
crobiota é fundamental nas doenças como a DA tecidual (PALLER et al., 2019).
(PALLER et al., 2019). Acredita-se que é a compreensão desses me-
Quando comparadas às respostas imunes de canismos que poderá ajudar no futuro a preve-
adultos, as respostas imunes neonatais têm uma nir doenças inflamatórias da pele favorecendo
menor propensão para ativação ou inflamação. uma resposta imunológica que permita uma

77
simbiose saudável entre as bactérias e o hospe- aureus, favorecem ainda mais o componente in-
deiro (PALLER et al., 2019). flamatório da doença (PALLER et al., 2019).
A presença ou ausência de certas bactérias Atualmente, os estudos estão direcionados à
intestinais foi associada ao aumento do metabo- hipótese de que há algumas bactérias comensais
lismo pró-inflamatório e consequente aumento presentes no microbioma cutâneo que seriam
do risco de doenças atópicas como a asma. Al- capazes de lutar contra patógenos. Acredita-se
guns estudos recentes demonstraram que paci- que em pacientes com dermatite atópica crônica
entes com maior risco de dermatite atópica, já há uma deficiência exacerbada nessa defesa an-
haviam alterações na flora intestinal antes timicrobiana inata, o que facilita a colonização
mesmo da doença (LANGAN et al., 2020). e infecção da pele pelo S. aureus. Já existem es-
Nos pacientes com dermatite atópica já es- tudos utilizando a aplicação tópica de bactérias
tabelecida, há uma diminuição da diversidade comensais antimicrobianas em camundongos e
do microbioma natural da pele acometida e isso a resposta foi positiva para redução da coloni-
pode estar correlacionado com a severidade e zação da pele pelo S. aureus (YANG et al.,
com o aumento da colonização por bactérias pa- 2020).
togênicas como o Staphylococcus aureus Definir os agentes microbianos que contri-
(LANGAN et al., 2020). buem para a aptidão imunológica provavel-
O aumento da resposta inflamatória pode mente permitirá o uso de intervenções microbi-
ser uma causa ou uma consequência desses pro- anas para manipular as respostas imunes e res-
cessos. As células imunes e as comensais têm taurar a saúde através de intervenções correti-
uma relação perturbada quando há uma barreira vas para tratar uma doença de pele estabelecida
cutânea comprometida como na DA e isso tam- quanto às medidas preventivas que serviriam
bém pode ocorrer em outras doenças infeccio- para reduzir o risco de aparecimento da doença.
sas. Os fatores que favorecem o desenvolvi- Esses estudos recentes, embora favoreçam a hi-
mento da doença estão associados tanto no am- pótese desse uso terapêutico, também carecem
biente que o hospedeiro apresenta como na falta de mais entendimento dos mecanismos de ação,
das propriedades químicas, físicas e antimicro- patogênese da dermatite atópica e suas aplica-
bianas como peptídeos e defensinas que a pele bilidades, assim como estudos com vacina con-
saudável deveria apresentar e que estão reduzi- tra S. aureus (YANG et al., 2020).
dos na dermatite atópica, como também em re-
lação aos fatores do patógeno como: maior ade- Fatores de risco e comorbidades associa-
são e maior crescimento da bactéria S. aureus das
em condições de maior pH cutâneo observados O fator de risco mais conhecido para DA é
na reação inflamatória da dermatite, invasão da uma história familiar de doenças atópicas, em
epiderme através de uma citotoxina específica particular, a própria DA. Estima-se que a pre-
e também a liberação de proteases que facilitam sença de qualquer doença atópica em um dos
essa destruição da barreira cutânea e também pais aumenta 3 vezes o risco de uma criança de-
tornam a pele mais suscetível à infecções virais senvolver DA e 5 vezes se ambos os pais apre-
(PALLER et al., 2019). sentarem a doença. Outros fatores mais bem es-
Além disso, os fatores imunológicos induzi- tabelecidos também podem ser citados, como
dos por diversas substâncias liberadas pelo S. viver em ambiente urbano e em regiões com

78
baixa exposição à luz ultravioleta ou condições posteriores da gestação (18-34 semanas de ges-
climáticas secas, consumir dieta rica em açúca- tação) pelas mães teria um efeito mais profundo
res e ácidos graxos poliinsaturados, exposições no aumento das chances de a criança desenvol-
repetidas de antibióticos antes dos 5 anos de ver eczema, particularmente quando esta atinge
idade, tamanho familiar pequeno e alto nível de a adolescência (CHAN et al., 2018).
educação familiar (LANGAN et al., 2020). No entanto, outros estudos relataram um
As principais comorbidades da DA são ri- risco reduzido de eczema infantil entre crianças
nite alérgica e asma, que ocorrem concomitan- com mães que sofrem de depressão e ansiedade
temente em parte dos pacientes. Muitos desses, durante a gravidez. Outros fatores de estresse
mostram sensibilização mediada por IgE a alér- investigados incluem sofrimento psicológico,
genos comuns, uma vez que são inalados prin- sofrimento pré-natal e tensão no trabalho du-
cipalmente após a infância e podem causar cri- rante a gravidez. Todos os três fatores demons-
ses de DA após a exposição. Soma-se a isso a traram uma correlação significativamente posi-
alergia alimentar (MAYBA et al., 2016). Ou- tiva com o risco de eczema na infância (CHAN
tras doenças também podem estar associadas a et al., 2018).
um risco aumentado de DA como artrite e do-
ença intestinal materna. Esses pacientes estão Diagnóstico
em maior risco de desenvolver distúrbios neu- O diagnóstico de DA é feito basicamente
rológicos, em particular o déficit de aten- pela história clínica e pelo exame físico. Os
ção/hiper-transtorno de atividade, depressão, achados da anamnese e do exame clínico são:
ansiedade, transtorno de conduta e autismo pele seca, prurido, presença de áreas de derma-
(CHAN et al., 2018). tite eczematosa crônica que apresentam padrão
Os processos familiares também influen- de distribuição conforme a idade do paciente,
ciam, pois o estresse, a depressão e a ansiedade história de outras atopias (asma, rinite, alergias
dos pais podem estar relacionadas à parentali- alimentares, por exemplo), contato com alérge-
dade ineficaz e hiperativa, resultando em au- nos. Para o diagnóstico definitivo é necessária
mento dos problemas de comportamento da cri- a presença dos três componentes principais da
ança. Por sua vez, os pais de crianças com pro- doença: prurido, morfologia e distribuição típi-
blemas de comportamento apresentam mais di- cas das lesões e cronicidade da doença (PE-
ficuldades na realização de tarefas necessárias TERS & PETERS, 2019).
ao manejo da DA de seu filho, levando a uma Nas crianças, as lesões costumam surgir por
piora da DA e/ou persistência da doença grave volta dos 2 a 6 meses de vida. As lesões na fase
(DEBATRI et al., 2021). de exacerbação da doença se apresentam erite-
Resultados bastante consistentes foram ob- matosas com edema, vesículas, escoriações e
tidos em estudos que examinaram a associação exsudato seroso. Já na fase crônica as lesões se
entre estresse materno e risco de eczema em apresentam com eritema infiltrado, liquenifica-
seus filhos. Estas séries demonstraram que ção, prurido e crostas. Contudo, há diversos pa-
mães que experimentam estresse durante a gra- drões de lesão e de distribuição das mesmas,
videz teriam aumentado significativamente as com diferentes endotipos (mecanismos molecu-
chances de ter um filho sofrendo de dermatite lares subjacentes às características visíveis da
atópica aos 2 anos. Além disso, demonstra-se doença) (WALDMAN et al., 2018; CZARNO-
que a experiência desses eventos em estágios WICKI et al., 2019).

79
O exame mais comum para complementar a idade eles podem estar alterados (KATOH et
investigação é a biópsia da pele do paciente. O al., 2020).
anatomopatológico pode evidenciar espongiose
(edema intracelular da camada epidérmica) e Tratamento
infiltrado perivascular de monócitos, linfócitos O manejo da DA é baseado na educação do
e, raramente, eosinófilos. A biópsia se faz bas- paciente e sua conscientização sobre a doença,
tante útil para o diagnóstico diferencial entre restauração da barreira epidérmica com o uso
DA e outras doenças de pele como psoríase e de hidratantes, redução do prurido com o uso de
linfoma de células T (WALDMAN et al., anti-histamínicos e uso de corticosteróides, se-
2018). jam eles tópicos ou sistêmicos. Evitar contato
A dosagem de biomarcadores para o diag- com agentes alérgenos e observar o cuidado
nóstico tem se mostrado como uma promessa com a escolha e o trato das roupas também é de
de novos caminhos para a complementação do fundamental importância além do tratamento
diagnóstico e para o seguimento dos pacientes farmacológico (LANGAN et al., 2020).
portadores de DA. São eles: As exacerbações podem ser tratadas com
-IgE sérico: dosagens de valor maior ou igual a corticosteróides tópicos associados aos emoli-
500 UI/mL são comumente encontradas em pa- entes, além dos anti-histamínicos para o con-
cientes com DA; no entanto, os níveis séricos trole do prurido e a intensificação das medidas
de IgE podem surgir em casos graves e ser uti- não farmacológicas. Anti-inflamatórios tópicos
lizado para acompanhamento do paciente por também podem ser utilizados nas crises, bem
apresentar decréscimo após vários meses de tra- como antimicrobianos em casos de infecção se-
tamento. cundária.
-Eosinófilos periféricos: a contagem de eosinó- Corticosteróides tópicos são a primeira li-
filos é maior em pacientes com DA do que em nha farmacológica para o tratamento da DA.
outros pacientes atópicos sendo, então, um bom Eles podem ser classificados pela potência da
marcador para acompanhar a progressão da do- droga (baixa a alta) e, comumente, são reco-
ença. mendadas duas aplicações diárias nas áreas afe-
-Lactato desidrogenase (LDH): os níveis séri- tadas. O uso indiscriminado pode acarretar efei-
cos de LDH podem estar aumentados na DA, tos adversos locais tais como atrofia, púrpura,
porém, isoladamente, não fazem diagnóstico da estrias, telangiectasias, despigmentação e de-
doença, pois outras patologias que acarretam formidades acneiformes na pele. Já os efeitos
dano tecidual significativo podem apresentar sistêmicos são raros - supressão hipotálamo-hi-
aumento de LDH. pófise-adrenal e retardo de crescimento, por
-Timo e quimiocina regulada por ativação exemplo. A escolha do tipo de corticoide tópico
(TARC): é um ligante do receptor CCR4 de qui- a ser utilizado depende da atividade da doença,
miocinas e induz a migração das células Th2. da faixa etária do paciente e da localização das
Nos pacientes com DA, a TARC está mais rela- lesões (MAYBA et al., 2017; KATOH et al.,
cionada com a progressão da doença do que os 2020). Novas modalidades de tratamento foram
demais biomarcadores. No entanto, os valores desenvolvidas nas últimas décadas, destacando-
de TARC devem ser analisados com parcimô- se os inibidores da calcitonina (tacrolimus e
nia, pois em crianças menores de 2 anos de pimecrolimus) e os inibidores da enzima fosfo-

80
diesterase-4-intracelular (crisaborole) sendo o Saúde comportamental no manejo da
último aprovado pela FDA para uso em dermatite atópica pediátrica
crianças com 2 anos ou mais. Formulações Ciclo “coceira-coçar”:
tópicas de inibidores da JAK-STAT e tirosino- O prurido é uma característica marcante na
quinase esplênica estão em fase de pesquisa patologia, podendo ser moderado a grave, e
para uso em pacientes com DA (LANGAN et com tendência a persistir ou piorar a intensi-
al., 2020; KATOH et al., 2020). dade, caso não seja devidamente tratado. Isso
Em casos refratários ao tratamento tópico ocorre devido ao estímulo quase inconsciente
(após 4-8 semanas de uso), a fototerapia pode de arranhar-se, principalmente em pacientes pe-
ser considerada. No entanto, se a terapia tópica diátricos (HACHEM et al., 2020). A pele com
e o uso de luz ultravioleta falharem, o trata- dermatite acaba sendo lesada, comprometendo
mento com corticoides sistêmicos deve ser con- ainda mais a barreira cutânea e aumentando a
siderado. Os fármacos mais utilizados no trata- inflamação, colocando o paciente num ciclo
mento sistêmico da DA, à exceção dos corticos- ainda maior de coceira e piorando cada vez
teróides, são as ciclosporinas, o metotrexato, a mais as lesões secundárias (Figura 11.3). Por
azatioprina e o mofetil micofenolato. Contudo,
isso, é importante que os pacientes e a família
esses fármacos, com exceção da ciclosporina,
estejam bem orientados a evitar este comporta-
somente podem ser utilizados em pacientes
mento, buscando tratar este sintoma adequada-
maiores de 16 anos. Em geral, o tratamento se
mente conforme orientado pela equipe assis-
estende por 6-8 semanas, sempre observando
tente e colocando em práticas algumas estraté-
que o período não pode ultrapassar de 1 a 2 anos
gias comportamentais para: tomar consciência
(LANGAN et al., 2020).
do gatilho e da sensação da coceira; desenvol-
Para casos moderados-graves que não res-
ver mecanismos de alívio - diferentes de arra-
pondem a nenhuma das propostas de tratamento
nhar a pele - quando o prurido surgir; e ter um
citadas anteriormente, tem-se utilizado a terapia
plano para tirar a atenção da pele e focar em ou-
com imunobiológicos. O dupilumabe é um an-
tra atividade (KATOH et al., 2020).
ticorpo monoclonal contra a IL-4Rα que inibe a
IL-4 e a IL-3 concomitantemente e já foi apro-
vado para uso em pacientes com 6 anos ou mais Modelo biopsicossocial de intervenção
nos Estados Unidos. Estudos vêm mostrando em saúde comportamental
sua segurança e sua eficácia no tratamento de O modelo biopsicossocial de cuidado mé-
pacientes com DA refratária (LANGAN et al., dico tem, cada vez mais, ocupado espaço no tra-
2020). tamento de doenças crônicas não transmissí-
veis. O entendimento que o tratamento precisa
ser voltado para a pessoa, e não para a patolo-
gia, traz muitos benefícios e nos possibilita uma
abordagem mais abrangente de cada caso espe-
cífico (KLINNERT et al., 2018).

81
Figura 11.3 Imagem representativa do efeito do prurido lesando a barreira cutânea e a continuidade do ciclo.

Legenda: FLG, filaggrin; IgE, immunoglobulin E; IL, interleukin; ILC, innate lymphoid cells; MDC, macrophage-
derived chemokine; TAR,C1, thymus and activation-regulated chemokine; Th, T helper; TSLP, thymic stromal lym-
phopoietin.
Fonte: Katoh et al., (2020).

As principais estratégias da saúde compor- exacerbações, no planejamento de estratégias


tamental, baseando-se no modelo biopsicosso- para quando essas ocorrerem, e na diminuição
cial de intervenção, possuem como objetivo: da ansiedade dos pais e responsáveis na aborda-
orientação familiar sobre as adaptações neces- gem da doença (KLINNERT et al., 2018).
sárias para a convivência com a doença; promo-
ver intervenções capazes de melhorar o bem es- Medidas Preventivas
tar emocional durante as adaptações; e manter a As medidas não farmacológicas na preven-
motivação na aderência ao tratamento, focando ção de recidiva da dermatite e do prurido são
no controle dos sintomas e nos ajustes psicoló- tão importantes quanto o tratamento medica-
gicos necessários para uma melhor qualidade de mentoso, principalmente nas formas graves da
vida (KLINNERT et al., 2018). doença. É necessário que se estabeleça uma
forma de monitorização periódica da aderência
Cuidados integrados dos pacientes ao tratamento e que se reforce as
É importante que se coordene o cuidado mé- medidas de prevenção, sendo elas baseadas em
dico tradicional com o cuidado comportamen- uma série de cuidados com a pele e no distanci-
tal, definindo metas terapêuticas em conjunto e amento de fatores ambientais desencadeantes -
trazendo contribuições multidisciplinares. A in- que podem variar individualmente (KATOH et
tegração das medidas comportamentais au- al., 2020).
menta a adesão global ao tratamento médico, Para que se evite a entrada de agentes alér-
principalmente no que tange à prevenção das genos, é essencial que se auxilie a manter a bar-

82
reira cutânea íntegra, utilizando diariamente curso é recorrente e o sintoma chave é o pru-
agentes hidratantes, em toda a extensão da pele, rido.
preferencialmente após o banho, pois - além de O profissional médico deve ter pleno conhe-
reforçar a capacidade de umectação, que está cimento da fisiopatologia para compreender
prejudicada na doença - evita que a água eva- melhor a forma de apresentação clínica da DA,
pore completamente e desidrate a superfície cu- como também os pontos chaves para o sucesso
tânea. Quando utilizados no período neonatal, terapêutico.
há evidência sugestiva de que o uso regular de A apresentação clínica varia desde formas
agentes hidratantes está associado a um menor localizadas até as disseminadas. São caracterís-
risco do desencadeamento de dermatite atópica ticas clínicas: o prurido, as lesões crônicas ou
(KATOH et al., 2020). recidivantes, com distribuição e morfologia va-
Na prevenção de recidivas, o banho pode ser riável conforme a idade. A lesão clássica é o ec-
aliado, pois manter a pele limpa é uma forma de zema e as características clínicas variam de
mantê-la saudável para a realização das suas acordo com a faixa etária do paciente.
funções fisiológicas, no entanto, banhos acima O tratamento tem-se modificado nos últi-
de 42ºC estão associados a um maior estímulo mos anos, com a adição à terapia farmacológica
pruriginoso, devendo a temperatura ideal está dos imunomoduladores. Porém, tanto a terapia
entre 36ºC e 40ºC para uma melhor recuperação não farmacológica que engloba desde a educa-
e manutenção das funções epidérmicas. Além ção dos pais e do paciente, como o conheci-
disso, o uso de sabonetes deve ser feito com mento dos desencadeantes ambientais e a hidra-
cautela, para que não haja exacerbação do res- tação da pele xerótica (seca), como a terapia
secamento cutâneo e para que se minimize o es- farmacológica de primeira linha para controle
tímulo atópico, principalmente em se tratando do prurido e da inflamação são extremamente
de sabonetes perfumados e coloridos artificial- importantes para a prevenção de recidivas.
mente (KATOH et al., 2020). É importante garantir ao paciente uma vida
mais próxima do normal. Avaliar sempre os
CONCLUSÃO efeitos colaterais do tratamento empregado e re-
lembrar a cada consulta as medidas mais sim-
A dermatite atópica (DA) é uma das derma- ples, mas não menos importantes. Dessa forma
toses mais comuns, quase sempre tendo início estaremos colaborando para que esses pacientes
na infância. Existe uma predisposição genética possam ter junto às suas famílias, uma boa qua-
ao lado de influências do meio ambiente. Seu lidade de vida.

83
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84
CAPÍTULO 12

TÉCNICAS EM MAMOPLASTIA
DE AUMENTO

JOÃO VITOR DAL PONTE ZATT¹


LUIZA AGUIRRE SUSIN²
DANIEL TRAHTAMN DE BOER¹
GUSTAVO MATAS KERN¹
MANOELA SAUER FACCIOLI¹
RENÉ OCHAGAVIA CHAGAS DE OLIVEIRA¹
IGNÁCIO SALONIA GOLDAMNN¹
PEDRO HENRIQUE ANDREOLIO TANNHAUSER¹
ALANA ZANELLA¹
RAFAEL KORNALEWSKI DE OLIVEIRA¹
EDUARDA RODRIGUES BONAMIGO¹
VICTÓRIA SCHACKER¹
GIOVANNI REVEILLEAU DALLAPICOLA ¹
BERNARDO RIVERA FERNANDES SEVERO¹

Discente – Estudante de Medicina da Universidade Luterana do Brasil – Rio Grande do Sul


1

Discente – Estudante de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul


2

Palavras-chave: Mamoplastia; Técnica cirúrgica; Cirurgia plástica.

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INTRODUÇÃO Ao longo da evolução dos implantes, os fa-
bricantes procuram cada vez mais inovar com
Caracterizado por um dos procedimentos diversos formatos dos mesmos, o que gera di-
estéticos mais realizados no mundo, a mamo- vergências de opiniões entre os cirurgiões plás-
plastia de aumento teve um crescimento gradual ticos. O tópico mais discutido é a dúvida entre
de 64% desde o ano 2000. No Brasil, foi o se- os redondos e anatômicos (formato “Natural Si-
gundo procedimento estético mais realizado em limed®” - base redonda e frente anatômica) vi-
2014, com 185.042 cirurgias (MAXIMILIANO sando o mais próximo à mama natural (ALVES
et al., 2017). et al., 2018).
Algumas condições são fundamentais na ci- Nos dias atuais, há uma discordância entre
rurgia com implante mamário: seleção de paci- os cirurgiões plásticos sobre o resultado que se
entes, planejamento para a localização do im- alcançaria com implantes anatômicos, se entre-
plante, local que vai ser realizada a incisão, de- gam ou não resultados mais naturais ou se, em
terminação do tipo de implante, técnica cirúr- contrapartida, os implantes redondos proporci-
gica e orientação dos cuidados pós-operatórios. onam a mama com formato de “bola” (ALVES
A inabilidade de alguma das etapas citadas et al., 2018).
pode resultar em complicações e reintervenções O objetivo do capítulo foi realizar uma revi-
cirúrgicas. A avaliação correta das particulari- são sobre as técnicas mais utilizadas para ma-
dades físicas de cada paciente, principalmente moplastia de aumento.
o tamanho do tórax e suas possíveis assimetrias
em conjunto com o desejo do paciente são pon- MÉTODOS
tos indispensáveis na escolha de volume da pró-
tese (MAXIMILIANO et al., 2017). Trata-se de uma revisão narrativa realizada
A introdução de novas técnicas assépticas no período de dezembro de 2021 a fevereiro de
no momento da colocação do implante de 2022, por meio de pesquisas nas bases de da-
mama é o resultado de procedimentos mais se- dos: Pubmed, SciELO e análise de livros sobre
guros e com alta taxa de eficiência, diminuindo a temática de mamoplastia de aumento. Foram
a exigência de futuras cirurgias e complicações utilizados os descritores: augmentation mam-
(MAXIMILIANO et al., 2017). moplasty; surgical technique in mammoplasty;
Em relação aos tipos de técnicas operatórias breast implant; breast prosthesis.
para mamoplastias de aumento existem três es- Os critérios de inclusão foram: artigos nos
colhas de suma importância: a via de acesso, o idiomas português e inglês; publicados no perí-
plano anatômico e o tipo de implante utilizado. odo de 2000 a 2020 e que abordavam as temá-
Sabe-se que as vias de acesso mais renomadas ticas propostas para esta pesquisa, estudos do
são as incisões inframamárias, periareolares, tipo revisão e metanálise disponibilizados na
axilares e mastopexias associadas à inclusão de íntegra. Os critérios de exclusão foram: artigos
prótese. No que diz respeito ao plano selecio- duplicados, disponibilizados na forma de re-
nado, as opções aceitas na atualidade são sub- sumo, que não abordavam diretamente a pro-
glandular, subfascial, submuscular e duplo posta estudada e que não atendiam aos demais
plano (MAXIMILIANO et al., 2017). critérios de inclusão.

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Os resultados foram apresentados de forma mente a pele, que possui folículos pilosos, glân-
descritiva, divididos em categorias temáticas dulas sebáceas e sudoríparas. Logo após, apre-
abordando: anatomia da mama, técnicas cirúr- senta-se o tecido celular subcutâneo, como de-
gicas, tipos de próteses, complicações e inter- monstrado na Figura 12.1. O parênquima desse
venções adicionais (lipoenxertia). tecido é a parte funcional, com 15 a 20 lobos,
que estão dispostos radialmente, sendo mais es-
RESULTADOS E DISCUSSÃO pessos na região superficial. Os lobos têm
forma piramidal, seu ápice é voltado para a su-
Anatomia da mama perfície e a base voltada para o interior. Apre-
As mamas são estruturas superficiais, situa- sentam um conduto excretor, o ducto lactífero,
das na parede anterior do tórax. São formadas que se dilata ao se aproximar do mamilo, for-
por tecido glandular e tecido fibroso de susten- mando o seio ou a ampola lactífera, que arma-
tação integrados a uma matriz adiposa, junto zena leite, se estreitando antes de atingir o ma-
com vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos milo (MOORE et al., 2014). Já o estroma do te-
(MOORE et al., 2014). Até a puberdade é se- cido celular subcutâneo constitui-se de tecido
melhante entre homens e mulheres, mas passa a adiposo e tecido fibroso. O tecido fibroso se es-
crescer nelas devido a influência de hormônios tende desde a derme até a fáscia profunda, na
(CHAGPAR & CHEN, 2021). parte superior mais resistente, formando os li-
Os limites externos da mama são o 2° ou 3° gamentos suspensores da mama (Cooper)
arco costal superiormente, sulco submamário (MOORE et al., 2014).
inferiormente, margem lateral do esterno medi-
almente e a linha axilar anterior. A mama está Figura 12.1 A. Vista anterior de uma mama parcialmente
situada internamente sob os músculos peitoral dissecada. B. Corte sagital de uma mama

maior, serrátil anterior e oblíquo externo do ab-


dome, separada destes por uma fáscia profunda
(CHAGPAR & CHEN,2021).
O mamilo ou papila é uma estrutura ele-
vada, mais escurecida, com grande inervação,
apresentando células mioepiteliais, que com a
sucção se contraem, provocando a ereção do
mamilo (COLLIN & COX, 2017). Já a aréola é Fonte: Adaptado de MARIEB et al., 2014.
a área esférica rosácea, em torno do mamilo, ela
apresenta elevações, os tubérculos de Montgo- A mama pode ser dividida em 4 quadrantes,
mery (ou também chamadas Morgagni), que se importantes para serem relacionados a drena-
desenvolvem durante a gravidez (CHAGPAR gem linfática: súpero-lateral, súpero-medial, in-
& CHEN, 2021). fero-lateral e infero-medial, como observa-se
Nos planos da mama, observa-se inicial- na Figura 12.2 (CHAGPAR & CHEN, 2021).

87
Figura 12.2 Representação dos quadrantes mamários tade assumia a forma de uma mama (JONES,
2019). A partir disso, desenvolveu-se a pri-
meira prótese mamária de gel de silicone. No
início, as opções para a seleção de implantes
mamários eram limitadas a um espectro variado
apenas por um aumento paralelo no volume e
no diâmetro da base, produzindo assim uma
aparência muito ampla, especialmente em paci-
entes com implantes maiores (NELIGAN,
2015).

Fonte: Adaptado de FERNANDES, 2018. Figura 12.3 Drenagem linfática da mama. As setas ver-
melhas indicam o fluxo linfático proveniente da mama
A vascularização arterial, dá-se pelas arté- direita
rias torácica lateral e toracoacromial (ramos da
axilar), ramos mamários mediais de ramos per-
furantes e ramos intercostais anteriores da arté-
ria torácica interna (ramo da subclávia) e inter-
costais posteriores (ramos da parte torácica da
aorta no segundo, terceiro e quarto espaço in-
tercostal). A drenagem venosa desemboca na
veia axilar (COLLIN & COX, 2017).
Já a drenagem linfática ocorre a partir da pa-
pila, da aréola e dos lóbulos da glândula mamá-
ria para o plexo linfático subareolar. Desse
plexo, a maior parte da linfa, principalmente
dos quadrantes laterais, drena para os linfono- Fonte: Adaptado de MOORE et al., 2014.
dos axilares. A linfa remanescente dos quadran-
tes mediais drena para os linfonodos paraster- Desde então, diversas tecnologias foram de-
nais ou para a mama oposta e a linfa dos qua- senvolvidas, abrindo uma ampla gama de op-
drantes inferiores drena para os linfonodos ab- ções de implantes. As principais variáveis apre-
dominais, como se visualiza na Figura 12.3. A sentadas pelas próteses são referentes ao tipo de
inervação mamária deriva dos ramos cutâneos cobertura, ao seu conteúdo e sua forma (JO-
anteriores e laterais do quarto, quinto e sexto NES, 2019). Cabe ao cirurgião compreender
nervos intercostais, que atravessam a fáscia pei- como essas três variáveis se misturam em or-
toral para chegar à tela subcutânea superpostas dem de produzir o tamanho e a forma de mama
e à pele da mama (MOORE et al., 2014). desejado por cada paciente.

Próteses mamárias Formato do implante


A ideia da criação dos implantes mamários Nas primeiras três décadas de uso dos im-
foi inspirada pela observação de que a solução plantes, a forma predominantemente utilizada
salina em uma bolsa intravenosa cheia até a me- foi a classificada como “redonda” - com a ca-
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racterística de ter dimensões horizontal e verti- do dispositivo aumenta gradualmente do ápice
cal simétricas; e com assimetria no plano sagi- do implante até o terço inferior, com a inclina-
tal, com projeção menor que a largura ou altura ção do pólo superior angulada em vez de arre-
(JONES, 2019). dondada. Juntos, esses elementos possibilitam
Existem variações dentro dos implantes re- um protótipo anatômico do implante, que tem
dondos, as quais diferem na projeção do dispo- uma forma de lágrima projetada para imitar a
sitivo. A maioria dos fabricantes oferece im- forma de uma mama normal e estética na posi-
plantes redondos com projeções diferentes para ção vertical. Esse formato geralmente é o de es-
um determinado volume, denominados como colha para pacientes com tórax estreito e pouca
tendo uma projeção ou perfil baixo, médio, alto projeção no polo inferior (MÉLEGA et al.,
ou extra-alto - o que permite atender às neces- 2011).
sidades de pacientes individuais (Figura 12.4).
Por exemplo: pacientes com um envelope de Figura 12.5 A. Vista anteroposterior das versões mode-
rada clássica, moderada plus e alto perfil de um implante
pele apertado e hipomastia grave não tolerariam
preenchido de 325cc (Mentor Corporation). B. Vista la-
um implante de alta projeção ou perfil alto sem teral das versões clássica moderada, moderada plus e per-
criar tensão no ápice do dispositivo, sendo os fil alto de um implante preenchido de 325cc (Mentor
implantes de projeções baixas ou médias me- Corporation)
lhores opções. Por outro lado, em uma paciente
com um envelope de pele muito frouxo, um im-
plante de baixo perfil não preencheria adequa-
damente o ápice da mama - nesses casos, um
implante de alto perfil seria a melhor escolha
(Figura 12.5) (JONES, 2019).

Figura 12.4 A. Vista anteroposterior dos implantes re-


dondos. B. Vista lateral dos implantes redondos

Fonte: Adaptado de JONES, 2019.

De acordo com um estudo realizado em ma-


mas com tecido mamário reduzido (inferior

Fonte: Adaptado de JONES, 2019. a 200 mL), implantes com base redonda e frente
anatômica possibilitaram um aspecto mais na-
Em seguida, surgiu o conceito de um im- tural, evitando a marcação do polo superior do
plante de formato anatômico, no qual as dimen- implante. Já para pacientes com tecido mamário
sões do implante são projetadas assimetrica- prévio superior a 200 mL, o formato do im-
mente nas dimensões horizontal, vertical e sa- plante não demonstrou mudança significativa
gital (projeção) (Figura 12.6). A vista lateral no resultado final, pois o tecido glandular da pa-
desses implantes mostra que o ponto de proje- ciente encobrindo o implante redondo mimetiza
ção máxima é movido inferiormente para longe um implante anatômico, evitando assim um
do ponto médio do implante. Assim, a altura é polo superior marcado pelo contorno do im-
tipicamente maior do que a largura, e a projeção plante redondo (ALVES et al., 2018).
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Figura 12.6 A. Vista anteroposterior de um implante de Conteúdo do implante
formato anatômico, observa-se a assimetria com a altura As características do material usado para
sendo menor que a largura. B. Vista lateral de um im-
preencher o implante terão um efeito direto na
plante anatômico, o ponto de máxima projeção é movido
inferiormente para longe do ponto médio do implante forma, enrugamento e sensação do mesmo. Os
Fonte: Adaptado de JONES, 2019. dois materiais usados hoje são a solução salina
e o gel de silicone (ALVES et al., 2018).
A solução salina tem a vantagem de ser in-
teiramente fisiológica e inerte, permitindo que
caso o implante se rompa, o conteúdo seja sim-
plesmente absorvido e excretado sem sequelas.
Além disso, o cirurgião pode encher o aparelho
no momento da cirurgia; assim, pode-se geren-
Cobertura do implante
ciar assimetrias de maneira muito controlada.
Os implantes de gel de silicone original-
Entretanto, especialmente em pacientes muito
mente eram construídos com uma superfície
magras, a sensação e a aparência causada por
lisa. No entanto, descobriu-se que o revesti-
esses implantes pode ser insatisfatória por conta
mento de um implante com uma camada de es-
da baixa coesividade do material (JONES,
puma de poliuretano resultava em uma aparente
2019).
redução na taxa de contratura capsular. Com
Em contrapartida, o gel de silicone tem alta
base nessa descoberta, foram desenvolvidos os
coesividade, produzindo um toque mais suave e
implantes com coberturas texturizadas - as
natural ao implante. No entanto, como esses im-
quais podem ser classificadas como macrotex-
plantes vêm pré-preenchidos, os volumes são li-
turizadas, microtexturizadas e nanotexturizadas
mitados. Já no caso de rompimento do im-
de acordo com a agressividade da mesma (JO-
plante, ao contrário dos implantes preenchidos
NES, 2019).
com solução salina, um procedimento cirúrgico
As texturas mais agressivas interagem favo-
deve ser realizado para a remoção. No Brasil, a
ravelmente com a cápsula que se desenvolve ao
maior preferência é pelos implantes preenchi-
redor do implante, fazendo com que as fibrilas
dos por conteúdo de gel de silicone (MÉLEGA
de colágeno da cápsula fiquem entrelaçadas
et al., 2011).
com a textura da casca. Esse fato permite que o
dispositivo torne-se imóvel - particularmente
Tipos de incisão mamária
útil ao se usar dispositivos de formato anatô-
Existem diferentes técnicas para inclusão do
mico que devem manter a orientação adequada.
implante, cada uma apresentando vantagens e
Ademais, muitos cirurgiões acreditam que a su-
desvantagens. No geral, pode-se citar a via in-
perfície texturizada oferece uma taxa reduzida
framamária, a periareolar e a axilar (Figura
de contratura capsular - embora esse achado
12.7) (GEMPERLI et al., 2016.)
ainda seja um tanto controverso. No entanto,
No Brasil, a via inframamária é a mais utili-
cabe ressaltar que estudos recentes sugerem que
zada, representando aproximadamente 65% da
os implantes de macrotextura são mais propen-
preferência dos cirurgiões. É indicada em paci-
sos à colonização bacteriana crônica (JONES,
entes com hipomastia sem ptose mamária e com
2019).
90
boa definição do sulco mamário. As vantagens nho/estilo, assimetria ou ptose. Nenhuma asso-
de sua utilização são a facilidade técnica da vi- ciação estatisticamente significativa foi obser-
sualização do plano de inclusão e não necessi- vada entre o local da incisão e complicações es-
dade do uso de materiais especiais. A necessi- pecíficas, como contratura capsular, ondulação,
dade de cicatriz na região na região mamária, ruptura do implante, hematoma ou infecção
além de ser um pouco negativo, pode ser limi- (STUTMAN et al., 2012).
tante ao depender do volume do implante a ser
utilizado (GEMPERLI et al., 2016). Figura 12.7 Referências de incisão mamária
A via periareolar é a segunda opção técnica
mais utilizada, em cerca de 20% dos casos. Sua
indicação está atrelada à aréolas maiores, colo-
ração mais escura, assimetria de diâmetro e po-
sição, e maior flacidez cutânea. Permite a pos-
sibilidade de camuflagem da cicatriz e correção
de aréolas assimétricas. Como pontos negati-
vos, pode-se citar a maior manipulação do pa-
rênquima mamário e a possibilidade de altera-
ções sensitivas na região (GEMPERLI et al.,
2016).
A via axilar é considerada a técnica menos
prevalente em nosso meio, sendo sua indicação
relacionada à hipomastia sem ptose mamária e Fonte: Adaptado de GEMPERLI et al., 2016.
ausência de definição do sulco mamário. Nesta
via de inclusão do implante, há o benefício de Planos de inclusão
completa ausência de cicatriz mamária e a pos- A inclusão de implantes mamários para
sibilidade de correções de assimetria de posição mamoplastia de aumento está bem consolidada.
do sulco mamário. No entanto, necessita treina- Esse procedimento já é realizado há pelo menos
mento mais complexo e o uso de instrumentos 50 anos (JINDE et al., 2006). Assim como ci-
especiais para a execução da técnica. (GEM- tado anteriormente, as principais variáveis que
PERLI et al., 2016). devem ser consideradas ao realizar uma mamo-
O estudo de Stutman et al. (2012) comparou plastia de aumento são: boa cobertura tecidual,
incisões de aumento de mama e complicações local da loja do implante, volume, tipo, tama-
comuns. Mostrou que há associação estatistica- nho, dimensões do implante, boa localização do
mente significativa entre reoperação total e lo- sulco inframamário e a localização da incisão
cal da incisão (p = 0,0054), evidenciando uma (FREITAS NETO et al., 2018). Também, deve-
maior taxa de reoperação total quando foi utili- se considerar o plano de inserção do implante,
zado uma incisão inframamária em comparação visto que altera a abordagem e os resultados
com a transaxilar ou periareolar. Essa relação (HIDALGO & SPECTOR, 2014).
com a reoperação total não foi atribuída às Na escolha da melhor técnica cirúrgica, que
cinco complicações analisadas no estudo, mas deve ser individualizada, o cirurgião deve bus-
sim ao desejo do paciente de mudança de tama- car proporcionar resultados mais naturais e du-
radouros (DAHER et al., 2012).
91
Anteriormente à marcação cirúrgica, é ne- que o implante fica menos perceptível (ELLIS,
cessário realizar a inspeção da mama, tórax an- 2013).
terior e coluna vertebral, a fim de identificar as- Os critérios de indicação de colocação dos
simetrias, diferentes alturas do sulco mamário e implantes no plano submuscular são: pele fina
costelas sobressaltadas, para que, se possível, e presença de muitas estrias, pacientes após ci-
tais alterações consigam ser corrigidas ou mini- rurgia bariátrica, glândula mamária e coxim
mizadas no momento cirúrgico (DAHER et al., adiposo escassos, contraturas capsulares ou re-
2012). sultados limitados com a técnica subglandular,
O plano cirúrgico para a colocação do im- e solicitação das pacientes (DAHER et al.,
plante está relacionado com a proximidade do 2012).
parênquima mamário. Desta forma, existem ba- O implante submuscular pode ser alocado
sicamente dois planos principais para a locali- em três tipos de bolsão: submuscular total, que
zação do implante mamário: submuscular e inclui os músculos peitoral maior, oblíquo ex-
subglandular (Figura 12.8). A utilização do es- terno, serrátil anterior e reto abdominal; subpei-
paço submuscular foi descrita pela primeira toral total, em que o implante fica sob o mús-
vez, em 1967 (GRIFFITHS, 1967). Por último, culo peitoral e coberto pela fáscia peitoral ou
foi relatada a utilização do plano subfascial, em pelo coxim gorduroso no segmento inferior; e
1999, por Graf et al. na Revista da Sociedade subpeitoral parcial, em que parte do músculo
Brasileira de Cirurgia Plástica e depois em ou- servirá de cobertura no polo superior da mama
tras revistas internacionais (GRAF et al., 1999). (HENDRICKS, 2007; TEBBETTS, 2006)
Os pontos-chave dessa técnica são secção
Figura 12.8 Planos principais para a localização do im- completa da inserção medial do músculo peito-
plante mamário ral na borda esternal até o 4º espaço intercostal
e preservação do prolongamento fas-
cial/adiposo que fará a conexão entre os múscu-
los dissecados e a caixa torácica. Com essas
manobras evita-se a mobilização do implante
com a ação do músculo peitoral e possível des-
locamento no sentido superior, além de permitir
boa cobertura do implante no polo inferior, já
que o conjunto de músculos não perde a cone-
Fonte: Adaptado de GEMPERLI et al., 2016. xão com as costelas e o esterno (DAHER et al.,
2012).
Plano submuscular
Esta técnica é indicada em pacientes com Plano subglandular
baixo índice de massa corpórea e com volume A via subglandular apresenta indicação nas
mamário inadequado para a cobertura apropri- pacientes com adequada espessura de parên-
ada do implante de silicone. Habitualmente, a quima mamário, como citado anteriormente. De
espessura detectada no paquímetro tem menos maneira prática, por meio de paquímetro, há a
de 2 a 3 cm. Nesta situação, o tecido muscular mensuração do quadrante medial da mama, e,
fornece uma cobertura maior para o implante e na identificação de distância acima de 2 a 3 cm,
desta forma com resultado mais natural, visto
92
há a possibilidade de indicar a posição subglan- plicações em um período médio de 6 anos de
dular (GEMPERLI et al., 2016). seguimento após a cirurgia. Em sua maioria, es-
O plano subglandular é definido quando in- tão representados por quadros de infecção
serimos a prótese mamária entre a fáscia peito- (0,5%), hematoma (1,6%), ruptura do implante
ral superficial e a glândula mamária; entre essas (10,1%), e contratura capsular (19%) (GEM-
estruturas encontra-se uma fina camada de te- PERLI et al., 2016).
cido gorduroso areolar frouxo. Anteriormente, Ao estudar a anatomia da região retropeito-
essa camada está fixada ao subcutâneo do tórax ral e a vascularização da mama, pode-se cons-
anterior por meio do ligamento de “Giraldés” tatar que o plano submuscular é menos agres-
ou “Suspensor” da mama (tecido fibroso com- sivo, por promover menor desvascularização da
pacto), que se dobra sobre si mesmo, e posteri- glândula mamária, pois os vasos perfurantes
ormente sobre o espaço retromamário ou lâ- são preservados quando se faz o descolamento
mina de Chassaignac (BONO, 2008; ELLIS, sob o músculo grande peitoral, diminuindo as-
2013). sim a atrofia que ocorre no parênquima
Para criar o espaço ou bolsa subglandular, mamário com o passar do tempo. No plano sub-
local onde a prótese é inserida, realiza-se uma glandular, existe ainda a compressão direta que
dissecção abaixo do parênquima mamário. Essa o implante exerce sob a mama, que, somado ao
dissecção é superficial à fáscia e ao músculo efeito da desvascularização, contribui ainda
peitoral, a qual está localizada na região do es- mais para essa atrofia (HIDALGO & SPEC-
paço retromamário. O tamanho do espaço dis- TOR, 2014).
secado depende do formato e do volume do im- Em um estudo prospectivo realizado em
plante selecionado para a cirurgia (NELIGAN, 2004, com 37 pacientes submetidas a aumento
2015). submuscular, analisou-se a sensibilidade da
mama, a força de contração do músculo grande
Comparação e complicações das técnicas peitoral e a autoestima no pós-operatório de 3
cirúrgicas meses e de 6 meses. Verificou-se que a sensibi-
A execução da técnica cirúrgica adequada lidade alterou-se nos primeiros 3 meses e nor-
visa minimizar as possíveis complicações e ne- malizou após 6 meses de pós operatório. Não
cessidade de reintervenção em mamoplastia. foi detectada alteração na flexão, extensão, ab-
Complicações como contratura capsular, posi- dução do músculo grande peitoral, assim como
cionamento inadequado e extrusão da prótese na comparação das pacientes submetidas à co-
estão intimamente relacionados com a precisão locação de prótese > 325 mL e < 325 mL (BAN-
técnica em que o procedimento primário é rea- BURY et al., 2004).
lizado (MAXIMILIANO et al., 2017). Outro ponto importante que se relaciona di-
Apesar do aumento notório nas últimas dé- retamente com a anatomia da mama e que tem
cadas para realização da mamoplastia, a cirur- forte suporte da literatura médica é a questão do
gia não é isenta de complicações e resultados rastreamento para detecção do câncer de mama.
insatisfatórios. Apesar dos estudos mostrarem Em diversos estudos verificou-se que a colo-
que a incidência de complicações é baixa, a cação do implante sob o músculo grande peito-
maioria das clínicas especializadas nessa cirur- ral permite melhor visualização e maior quanti-
gia relata entre 0,5 e 19% de ocorrência de com- dade de parênquima mamário examinado,

93
quando comparado à localização sob a dorizada e ressonância magnética em casos de
glândula, independentemente do tamanho da melhor elucidação e em casos de dúvidas no di-
mama e do tipo de implante. Portanto, em paci- agnóstico definitivo (SANTOS et al., 2010).
entes com forte histórico familiar para câncer Atualmente, a contratura capsular responde por
de mama, é prudente evitar o plano subglandu- quase 40% dos casos de troca de implante (ma-
lar (DEAPEN et al., 2007; JAKUBIETZ et al., moplastia secundária) e 70% dos casos de reti-
2004; MCCARTHY et al., 2007). rada definitiva do implante (GEMPERLI et al.,
É interessante observar que os implantes de 2016).
posicionamento subglandular ficam mais esté- Pacientes com contratura capsular, implan-
ticos nas primeiras semanas de pós-operatório, tes visíveis e palpáveis ou parênquima mamário
justamente em decorrência da presença do fino tornam-se verdadeiros desafios para repa-
edema cirúrgico. Quando o edema se resolve e ração. Nesses casos, a mastoplastia secundária
o parênquima mamário sofre redução do vo- com troca do plano subglandular para o sub-
lume, problemas como rippling e deformidades muscular, associada a capsulotomia, é talvez a
da mama podem aparecer no pós-operatório tar- única alternativa (HANDEL, 2006).
dio. Essas complicações são mais frequentes Em casos que combinam hipomastia, ptose
quanto maior for o volume do implante utili- moderada e hipertrofia do músculo grande pei-
zado e quanto mais acentuada for a hipomastia. toral, a escolha da localização do implante
Entretanto, no posicionamento submuscular, o torna-se um verdadeiro desafio ao cirurgião
resultado torna-se cada vez mais satisfatório e plástico. Esse tipo de mama é comum em paci-
natural com o passar do tempo, sendo esse entes com vigorexia e que usam anabolizantes,
efeito mais bem visualizado no terceiro mês de explicando a atrofia da mama e a hipertrofia do
pós-operatório, quando o edema muscular pós- músculo. Caso o cirurgião opte pelo plano sub-
operatório diminuiu ou regrediu (ZEITOUNE muscular, poderá obter um resultado insatisfa-
et al., 2012). tório, com duplo contorno da mama, fortemente
Outro ponto positivo do plano submuscular marcada pela borda do músculo grande peitoral
é a menor incidência de contratura capsular hipertrofiado (DE CHARDON et al., 2010) .
(HIDALGO & SPECTOR, 2014). A contratura Por outro lado, caso o plano subglandular seja
capsular é definida como uma cicatrização es- o escolhido, obter-se-ia um resultado favorável
férica secundária a alterações celulares e mor- nos primeiros meses e um grande problema
fológicas da cápsula que envolve a prótese ma- para administrar posteriormente, com possibili-
mária, evidenciando nessa complicação uma dade de contratura capsular e deformidade das
mama endurecida, distorcida e, em alguns ca- mamas em decorrência do implante grande para
sos, dolorosa. A literatura mostra que há inúme- correção da ptose associado a uma cobertura
ros fatores envolvidos na sua origem, como, por mamária muito fina, (TEBBETTS, 2006) des-
exemplo, uma resposta inflamatória exacerbada creve um artifício para esses casos, que chamou
e/ou prolongada, trauma, hematoma, infecção, de dual plane.
vazamento de silicone da prótese. O diagnós- Esse “plano duplo” tem como particulari-
tico de contratura capsular é eminentemente clí- dade um pequeno descolamento da parte infe-
nico, embora possa ser utilizado exame comple- rior da mama sobre o músculo, fazendo com
mentar, como ultrassom, tomografia computa- que este se retraia um pouco mais superior-

94
mente, deixando o implante mais coberto pela mamoplastia de aumento de maneira comple-
mama, para preencher o polo inferior e, assim, mentar para alcançar uma mama mais natural.
tratar melhor a ptose. Não surge aí uma nova Assim, utiliza-se a gordura para melhorar a si-
localização para o implante, mas, sim, uma ma- lhueta da mama. A grande maioria das assime-
nobra para melhor adaptar o implante ao plano trias hoje é tratado apenas com lipomodelagem
submuscular clássico, que também não deixa de de maneira exclusiva (MAXIMILIANO et al.,
ser um plano duplo, pois com a miotomia do 2017).
grande peitoral o implante não é coberto total- Há um consenso geral de que o enxerto de
mente pelo músculo (TEBBETTS, 2006; TE- pequeno volume definido como < 100 mL é
BBETTS & ADAMS, 2006). mais seguro, já a lipoenxertia de grande volume
O plano submuscular total, em que se des- (> 100 mL) é menos previsível e não é tão co-
cola inclusive o músculo serrátil para que o im- mumente realizada. O enxerto é preferencial-
plante fique totalmente coberto pela muscula- mente retirado da região infraumbilical, flan-
tura, tem seu emprego restrito à reconstrução cos, culote e porção interna da coxa utilizando-
pós-mastectomia. O uso desse plano em hipo- se uma solução de 1:300.000 associada a anes-
mastias é antianatômico e produz resultados de- tésicos locais na proporção de 1:1 (MAXIMI-
sastrosos, com o deslocamento superior do im- LIANO et al., 2017).
plante (ZEITOUNE et al., 2012). Lipoaspiração a 300 mmHg com cânula de
2 mm com 12 furos de 2 mm. No preparo uti-
Intervenções adicionais - Lipoenxertia liza-se o sistema puregraft ou um sistema fe-
A lipoenxertia popularizou-se nos últimos chado com centrifugação manual durante 5 mi-
anos como uma técnica alternativa para repara- nutos. A enxertia deve seguir as técnicas dos es-
ção de defeitos mamários e também como uma tudos de Rubin em que o maior diâmetro de câ-
alternativa para mulheres que buscam um dis- nula para enxertia com baixo risco de necrose
creto aumento em procedimentos estéticos. central é 1,6 mm (JAMES et al., 2018).
Hoje já encontramos diversos estudos que pro-
vam a eficácia e segurança dessa téc- CONCLUSÕES
nica. A taxa de revisão em implantes mamários
permanece alta, 24% em 4 anos e 36% em 10 Conforme descrito acima, o cirurgião
anos (MAXIMILIANO et al., 2019). A maioria plástico, ao escolher a localização do implante,
das revisões é devido a problemas na cobertura deve levar em conta critérios técnicos compro-
do implante. Ao contrário do que se acreditava vados pela literatura médica e buscar associá-
anteriormente, a lipoenxertia não aumenta a los com o perfil da paciente. É importante ter
chance de malignização dos tecidos adjacentes domínio da colocação dos implantes pelos dois
(NAHABEDIAN, 2021). planos mais utilizados, para que se tenha arse-
Hoje, o uso de tal técnica tem sido usado nal cirúrgico completo para tratar otimamente
para assimetrias e malformações mamárias. Há todos os casos.
também um aumento no uso da lipoenxertia na

95
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97
CAPÍTULO 13

O USO DO ÁCIDO HIALURÔNICO


PARA PREENCHIMENTO DA
REGIÃO MALAR

AMANDA TEIXEIRA DUQUE DE OLIVEIRA¹


ANNA LUÍSA NEVES MAIA¹
MARIA CAROLINA TRANCOSO SOUZA2

Discente - Medicina do Centro Universitário UniFipMoc – Minas Gerais


1

Discente – Medicina do Centro Universitário Funorte – Minas Gerais


2

Palavras-chave: Ácido hialurônico; Preenchedores dérmicos; Região zigomática.

98
INTRODUÇÃO mico em flacidez de região malar, além de des-
crever a técnica e as complicações associadas
Ao longo do tempo a pele sofre processos ao procedimento.
degenerativos associados ao seu envelheci-
mento natural, com forte influência de fatores MÉTODO
intrínsecos e extrínsecos que se relacionam, res-
pectivamente, a processos fisiológicos e ambi- Trata-se de um estudo transversal, qualita-
entais (SBD, 2014; ALESSANDRINI et al., tivo de revisão integrativa da literatura, reali-
2015; FABI et al., 2017; PEREIRA et al., zada no período de janeiro a março de 2022. Re-
2021). Entre essas mudanças, destacam-se a de- alizou-se pesquisa bibliográfica acerca do ácido
generação das camadas cutâneas, reabsorção e hialurônico e seu uso para preenchimento da re-
remodelação óssea, atenuação ligamentar e gião malar na literatura especializada. Utilizou-
perda da qualidade da gordura profunda, de se os descritores “hyaluronic acid”, “dermal fil-
forma que impactam diretamente na região ma- lers”, “zygoma”, “ácido hialurônico” e “trata-
lar, com alteração do volume facial, perda da mento” nas bases de dados Pubmed, Scholar
elasticidade, flacidez, acentuação de sulcos e Google e SciELO. Desta busca foram encontra-
marcas de expressões. (HADDAD et al., 2017; dos 42 artigos, posteriormente submetidos aos
SILVIA & ANDREATA, 2017; LUZIVITO & critérios de seleção.
QUEIROZ, 2019; PARK, 2015). Os critérios de inclusão foram artigos nos
O uso do ácido hialurônico para tratamento idiomas português, inglês e espanhol; publica-
da flacidez em região malar e, consequente- dos no período de 2014 a 2021, que apresenta-
mente, alcançar o rejuvenescimento facial ga- vam contextualização sobre o tema e estavam
nhou força nos últimos anos. Atualmente, é um disponíveis na íntegra, sendo estudos do tipo re-
dos principais métodos utilizados em todo o visão, meta-análise, teses, relatos de caso. Por
mundo, sobretudo por ser de fácil aplicação, outro lado, os critérios de exclusão foram a in-
boa durabilidade e baixo índice de reações imu- disponibilidade do texto na íntegra, obras cujas
nológicas (MURTHY et al., 2019). temáticas se distanciavam dos objetivos do tra-
Considerando que o ácido hialurônico é um balho e que não atendiam aos demais critérios
biopolímero de extrema importância para o pre- de inclusão.
enchimento de espaços intracelulares e conse- Após os critérios de seleção restaram 30 ar-
quentemente funciona como substância que tigos que foram submetidos à leitura minuciosa
confere sustentação, nota-se sua aplicabilidade para a coleta de dados. Os resultados foram
em diversos sistemas do organismo humano, apresentados de forma descritiva, em categorias
seja para fins preventivos, curativos ou estéti- temáticas abordando os diversos aspectos rela-
cos. Cabe o destaque para o tecido tegumentar tivos à utilização do ácido hialurônico na Der-
no qual seu uso é amplamente difundido, além matologia, com enfoque para sua aplicação em
de ser um sítio em que se encontra largamente região malar. Dividiu-se em: envelhecimento
biodisponível. (BERNARDES et al., 2018). cutâneo e flacidez; ácido hialurônico: aplicabi-
O objetivo deste capítulo foi avaliar as cau- lidade geral; tratamento: técnica e complica-
sas do envelhecimento cutâneo e do uso do ções.
ácido hialurônico para o preenchimento dér-

99
RESULTADOS E DISCUSSÃO tituída principalmente por tecido adiposo
(SOUZA, 2021).
Envelhecimento cutâneo e flacidez As mudanças biológicas e estruturais das
Ao longo dos anos, a pele sofre processos camadas cutâneas afetam, principalmente, a
degenerativos associados ao seu envelheci- face. Ocorre também atrofia, deslocamentos e
mento natural. Trata-se de um desenvolvimento reabsorções que acometem tecidos moles e du-
biológico, constante, multifatorial, tridimensio- ros (HADDAD et al., 2017; ALMEIDA &
nal, lento e irreversível, influenciado por fato- SAMPAIO, 2015). A face é composta de dife-
res intrínsecos (genético, hormonal e estresse rentes unidades ou compartimentos regionais.
oxidativo) e extrínsecos que se relacionam, res- Portanto, o processo de envelhecimento facial é
pectivamente, a um processo fisiológico e à ex- um conjunto de acontecimentos espacialmente
posição a fatores ambientais (SBD, 2014; isolados que estão proporcionalmente relacio-
ALESSANDRINI et al., 2015; FABI et al., nados uns aos outros (COIMBRA et al., 2014).
2017; PEREIRA et al., 2021). Quando se tor- A degeneração cutânea é resultado do enve-
nam clinicamente visíveis na superfície da pele, lhecimento intrínseco, à exemplo da redução da
significa que já estão ocorrendo em um nível síntese e aumento de degradação do colágeno
anatômico abaixo da pele há algum tempo devido a elevados níveis de colagenase, de
(SATTLER & GOUT, 2017). forma que impacta na desorganização, frag-
A pele é constituída por três camadas sobre- mentação e compactação das fibras de colá-
postas: a epiderme, derme e hipoderme. Estas geno. Como consequência, ocorre alteração do
são responsáveis – entre outras funções – por volume facial, perda de elasticidade, surgi-
atuarem como barreira física, controle de tem- mento de sulcos e marcas de expressões. Ainda,
peratura e sensorial, síntese de vitamina D e ab- a região malar se torna flácida e com aspectos
sorção e eliminação de substâncias. Alterações cavados (HADDAD et al., 2017; SILVA &
estruturais dessas camadas, estão altamente in- ANDREATA, 2017).
terligadas ao envelhecimento e flacidez Além disso, são os ossos que suportam to-
(THOME et al., 2020; SOUZA, 2021). dos os tecidos moles da face e, com o passar dos
A epiderme - camada mais superficial – pro- anos, ocorre uma reabsorção e remodelação ós-
move a síntese da proteína de queratina que atua sea, com implicação em determinadas áreas fa-
na formação de barreira hídrica (LUVIZUTO & ciais. Na região malar, ocorre acentuação do
QUEIROZ, 2019). A camada intermediária, de- sulco nasogeniano, em consequência da perda
nominada derme, é altamente vascularizada. óssea maxilar. A perda óssea mandibular tam-
Nela encontram-se estruturas nervosas, glându- bém afeta o osso zigomático, de forma que a
las, folículos pilosos e é onde há presença de face perde o aspecto convexo presente em faces
ácido hialurônico e fibroblastos, produtores do mais jovens, ficando com formato mais pro-
colágeno e elastina, que oferecem resistência às fundo (LUZIVITO & QUEIROZ, 2019).
forças externas que causam deformação nos Em adição, sabe-se que o tecido adiposo
contornos cutâneos (MONTANARI, 2016; atua como volumizador da face, fornece supri-
BRITO & FERREIRA, 2018; SOUZA, 2021). mento sanguíneo e equilíbrio de líquidos, e
A hipoderme é a camada mais profunda, cons- quando há perda da qualidade da gordura pro-
funda há indícios claros do processo de enve-

100
lhecimento. Isso se deve devido a atrofia e mi- nismo humano, composta pelo ácido glucurô-
gração de coxins de gordura do local de tecido nico e a N-acetilglicosamina, formando um bi-
mole, que se alojam em locais indesejados. A opolímero. Sua função essencial é a de preen-
região malar pode ser afetada pela perda de vo- chimento de espaços intracelulares, sendo ca-
lume da gordura bucal que está localizada entre paz de reter em torno de mil vezes o seu peso
o músculo masseter anteriormente e o músculo em água (BERNARDES et al., 2018).
bucinador posteriormente (SATTLER & De tal forma, o ácido hialurônico pode ser
GOUT, 2017). encontrado em todas as estruturas corpóreas hu-
Outra alteração diz respeito aos ligamentos manas em variáveis proporções, sendo respon-
faciais, que se distribuem verticalmente ao sável pela manutenção do desempenho de lí-
longo de todas as camadas da face. Estes de- quido sinovial em articulações, olhos e cartila-
sempenham o importante papel de apoiar o te- gens. Destaca-se o tecido tegumentar como
cido mole e criar limites entre pontos de fixa- principal sítio de concentração hialurônica,
ção, e com o passar dos anos a atenuação liga- contendo cerca de 50% de sua biodisponibili-
mentar é inevitável. Como consequência, os li- dade (BERNARDES et al., 2018).
gamentos perdem sua força e há abaulamento Por se tratar de um mucopolissacarídeo fa-
dos tecidos moles em pontos de fixação conti- cilmente mimetizado em laboratório e compor-
nua, à exemplo da região malar (PARK, 2015). tar como uma substância não imunogênica ao
Quanto ao envelhecimento facial promo- organismo humano, o ácido hialurônico torna-
vido por fatores extrínsecos, destacam-se radi- se cada vez mais um recurso promissor no ma-
ações UV, tabaco, álcool, alimentação e outros nejo de situações clínicas variáveis. A exemplo,
desencadeadores ambientais. Estes fatores va- a viscossuplementação com ácido hialurônico
riam de indivíduo para indivíduo, pelo tipo e na articulação temporomandibular (ATM), des-
tempo de exposição de cada um, podendo ace- taca-se como procedimento minimamente inva-
lerar certos processos degenerativos fisiológi- sivo usado para melhora de sintomas dolorosos
cos da pele. Os raios UV atingem os fibroblas- e reestabelecimento de função do aparelho mas-
tos causando alterações na elasticidade da pele tigatório em pacientes portadores de desordens
(CARVALHO et al., 2016). O tabaco acelera o temporomandibulares. Pode ainda ser usado
processo de degeneração, uma vez que interfe- após procedimentos mais invasivos como ar-
rem na produção de colágeno e gera flacidez troscopia de ATM (OLIVEIRA et al., 2019).
(SBD, 2014). Já o alcoolismo acelera o enve- Demonstrou-se ainda boa utilização do
lhecimento assim como o cigarro, uma vez que ácido hialurônico no processo de cicatrização
diminui a quantidade de antioxidantes e conse- de feridas em variáveis partes do corpo, visto
quentemente diminui também a defesa do orga- que essa soma a uma melhor revitalização da
nismo contra os radicais livres, além de ser pre- lesão, com melhor suprimento sanguíneo, redu-
judicial à oxigenação e nutrição celular (BAR- ção de exsudação e purulência no local da fe-
BON et al., 2016). rida, bem como preenchimento local com gra-
nulação cutânea viável (ARAÚJO et al., 2021).
Ácido hialurônico: Aplicabilidade geral Destaque para a utilização do ácido hialurô-
O ácido hialurônico é uma substância mole- nico na cicatrização de feridas de pé diabético
cular, fisiologicamente constituída no orga- em pacientes portadores de doença diabética de

101
longa data. Sabe-se que, nesses pacientes o pro- ais de aplicação, a região malar apresenta bons
cesso de cicatrização é dificultado pelo dano resultados de uso e alto grau de satisfação dos
vascular e inflamatório promovido pela doença, pacientes submetidos à terapia, com durabili-
sendo o ácido hialurônico um aliado que pro- dade média de 12 meses (DANTAS et al.,
move melhora da angiogênese, do aspecto cica- 2019).
tricial, fibrose tecidual e ainda possui proprie- Vale destacar que a aplicação na região ma-
dades anti-inflamatórias. Contribui ainda para a lar é feita no plano supraperiosteal (MAIA &
diminuição do uso de antibióticos nesses paci- SALVI, 2018) e pode cursar com edema pós
entes que conforme progressão do quadro ten- procedimento, que normalmente se mantém por
dem a tornar-se frequentemente expostos a po- alguns dias. Dessa forma, obtém-se o resultado
lifarmácia para manejo de complicações clí- final com cerca de quatro semanas (COIMBRA
nico-cutâneas do diabetes (PÁDUA, 2020). et al., 2015).
Nota-se ainda o uso do ácido para fins cor-
retivos em pacientes com deformidades em face Tratamento: Técnica e complicações
decorrentes de lesões traumáticas, bem como O tratamento da flacidez em região malar
para melhora de aspecto de cicatrizes pós-ope- com ácido hialurônico surgiu como um preen-
ratórias que cursem com hipertrofia, limitação chedor bem tolerado e uma alternativa para os
de movimentos orofaciais, lipotrofia facial ou procedimentos cirúrgicos, além de trazer resul-
assimetria morfológica (BARBOSA, 2020). tados rápidos e, em grande parte, satisfatórios
Quanto ao uso do ácido hialurônico na Der- (MURTHY et al., 2019).
matologia, ganha-se notável espaço a realiza- Inicialmente, o médico deve coletar a histó-
ção de procedimentos de ordem estética por se ria clínica completa do paciente, realizar o
tratar de um produto capaz de preencher o es- exame físico e inteirar-se quanto aos procedi-
paço intradérmico e conferir novo contorno mentos estéticos previamente realizados, além
com recuperação de volume em áreas de perdas de entender as motivações que levaram o paci-
teciduais, atribuindo aspecto de rejuvenesci- ente a realizar tal procedimento estético. É de
mento nas áreas tratadas (COSTA et al., 2016). suma importância que o profissional avalie seu
Além disso, é vantagem de seu uso possuir cliente de maneira holística, de forma a identi-
um resultado imediato após aplicação, ser de fá- ficar possíveis transtornos dismórficos e de au-
cil manuseio e permitir novas aplicações subse- toestima. É preciso compreender e diferenciar
quentes caso seja necessário ou se torne uma os desejos e as necessidades trazidas pelo paci-
demanda do paciente (COIMBRA et al., 2015; ente e, caso necessário, encaminhá-lo para
BARBOSA, 2020). apoio psicológico e terapêutico (MURTHY et
A aplicação do ácido hialurônico para fins al., 2019).
de harmonização facial e rejuvenescimento Ademais, o profissional deve gerir as expec-
mostra-se eficaz em várias áreas da face, por tativas trazidas pelo paciente, explicando-o so-
possuir natureza viscoelástica, melhorar hidra- bre o procedimento, técnica, resultados espera-
tação da pele, atribuir melhor turgor, elastici- dos e possíveis complicações. Obtendo, ao fi-
dade e volume, o que consequentemente leva à nal, seu consentimento para decisão de sua con-
melhora de depressões, rugas e sulcos (MAIA duta (MURTHY et al., 2019).
& SALVI, 2018). Dentre as várias regiões faci-

102
Inicialmente, deve-se proceder à assepsia ri- ser evitados para que efeitos colaterais potenci-
gorosa da região facial a ser manipulada. Pode- almente graves não ocorram (WOLLINA &
se utilizar gluconato de clorexidina a 2% em ál- GOLDMAN, 2020).
cool isopropílico a 70% ou iodopovidona a 10% Na região malar, os principais pontos anatô-
(MURTHY et al., 2019) micos a serem observados são os trajetos reali-
O aumento em volume da região malar deve zados pela artéria maxilar, artéria infraorbitária
visar uma convexidade suave entre a pálpebra e seus ramos. O uso de preenchedores dérmicos
inferior e a face inferior, configurando aspecto injetáveis, nestas regiões, quando realizados de
rejuvenescido da área, focando no preenchi- maneira superficial, podem causar redução de
mento da região malar medial e lateral profun- volume nas bochechas e deformidade da face
dos. As injeções, portanto, devem ser aplicadas em V (WOLLINA & GOLDMAN, 2020).
acima do periósteo e deve ser realizada de ma- Prevenção é a palavra-chave para evitar o
neira retrógrada e anterógrada, lentamente, para surgimento de complicações, sejam agudas ou
evitar formação de granulomas (ROHRICH et tardias. As principais causas para o início de
al., 2019). consequências negativas após a realização do
O tratamento deve ser iniciado por dois pon- procedimento são a má higienização do local,
tos de sustentação do terço médio da face: o levando a infecções que podem evoluir de
arco zigomático e a proeminência zigomática. forma grave e ainda, o uso de técnica inade-
Logo, as aplicações devem visar a volumização quada, gerando irregularidades no contorno e
da área das bochechas (LIPKO-GODLEWSKA resultados diferentes do esperado. Dessa forma,
et al., 2021). E, principalmente, nas bochechas é necessário que os profissionais compreendam
anterior, medial e lateral (ROHRICH et al., claramente o uso dos preenchedores dérmicos
2019). com ácido hialurônico, suas indicações e cuida-
O profissional deve sempre estar ciente da dos (ROHRICH et al., 2019).
posição da agulha para evitar injeções de pro- O profissional deve instruir o paciente
duto em locais inadequados, como na circula- quanto aos possíveis sinais de complicações
ção sanguínea. E, ainda, evitar zonas anatômi- que podem surgir após a aplicação do produto
cas de perigo para garantir a segurança do paci- e, ainda, saber reconhecê-los de maneira pre-
ente e entregar o resultado dentro do plano es- coce. Para edema e eritema, podem-se utilizar
perado (ROHRICH et al., 2019). Os pacientes compressas frias para minimizar os sintomas
devem, também, serem instruídos a evitar exer- locais. Caso haja o início de nódulos associados
cícios físicos dentre 24-48h após a realização à má colocação do preenchedor dérmico, sua-
do procedimento, para evitar o surgimento de ves massagens devem ser realizadas no local
efeitos colaterais (WOLLINA & GOLDMAN, (WOLLINA & GOLDMAN, 2020).
2020).
Possíveis eventos adversos ao uso de preen- CONCLUSÃO
chedores dérmicos injetáveis, tal qual o ácido
hialurônico, podem incluir: edema, infecções, O envelhecimento e mudança estética facial
granulomas, entre outros. Mesmo que o uso de – com ênfase na região malar – são processos
tais substâncias possua alto nível de segurança, inerente ao ser humano. Dessa forma, esse es-
existem pontos anatômicos faciais que devem tudo destaca o ácido hialurônico como escolha

103
eficaz para o tratamento de rejuvenescimento e palmente por serem quase que imediatos. É im-
flacidez malar, com bastante adesão a nível portante ressaltar que o procedimento deve ser
mundial nos últimos anos. O produto ganha es- feito por profissional qualificado, seguindo as
paço por garantir a recuperação do volume em técnicas descritas na literatura. Desse modo, é
perdas teciduais, melhorar a hidratação, elasti- possível reduzir, de maneira considerável, os
cidade, depressões, rugas e sulcos da pele, com riscos de complicações e resultados inesperados
resultados que, apesar de possíveis efeitos cola- ao término do tratamento e garantir bom resul-
terais, notam-se bastante satisfatórios, princi- tado e satisfação do paciente.

104
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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106
CAPÍTULO 14

COMPLICAÇÕES DA
LIPOASPIRAÇÃO:
EMBOLIA GORDUROSA

VICTÓRIA SCHACKER¹
RAFAEL KORNALEWSKI DE OLIVEIRA1
ALANA ZANELLA1
GIOVANNI REVEILLEAU DALLAPICOLA 1
EDUARDA RODRIGUES BONAMIGO1
BERNARDO RIVERA FERNANDES SEVERO1
PEDRO HENRIQUE ANDREOLIO TANNHAUSER¹
IGNÁCIO SALONIA GOLDAMNN¹
RENÉ OCHAGAVIA CHAGAS DE OLIVEIRA¹
MANOELA SAUER FACCIOLI¹
GUSTAVO MATAS KERN¹
DANIEL TRAHTAMN DE BOER¹
JOÃO VITOR DAL PONTE ZATT¹
LUIZA AGUIRRE SUSIN²

1
Discente – Estudante de Medicina da Universidade Luterana do Brasil - RS
2
Discente – Estudante de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Do Sul - RS

Palavras-chave: Lipoaspiração; Complicações; Embolia gordurosa.

107
INTRODUÇÃO (SOUZA et al., 2016). A embolia gordurosa
consiste em uma patologia causada por
É sabido que a Cirurgia Plástica fragmentos de gordura (tecido adiposo) na
compreende um conjunto de procedimentos circulação sanguínea, causando obstrução que
clínicos e cirúrgicos utilizados pelo profissional leva à apresentação de alguns sintomas que
médico para reparar e reconstruir partes do caracterizam a Síndrome da Embolia
revestimento externo do corpo. A Cirurgia Gordurosa (SEG). A tríade sintomática clássica
Plástica visa melhorar a aparência de pacientes da SEG é composta de insuficiência respiratória
que geralmente não apresentam problemas de aguda, trombocitopenia e disfunção
origem patológica ou deformidades. E, um neurológica. As causas mais comuns de EG são
desses procedimentos é a lipoaspiração, as fraturas de ossos longos. Contudo, há relatos
introduzida no mundo em 1979 por Illouz, de sua ocorrência após procedimentos estéticos.
médico cirurgião que desenvolveu a técnica de Diante disso, a prevenção de embolia gordurosa
aspiração de lipídios e utilizou esse nas cirurgias de lipoaspiração deve ser ainda
procedimento no tratamento de gordura mais recomendada, evitando-se cirurgias
localizada. A sua função é remodelar e demasiadamente longas e com grandes volumes
melhorar o contorno corporal, reduzindo o de aspirado (ALVES et al., 2009).
acúmulo de gordura localizada decorrentes de O objetivo desse capítulo é realizar uma
causas genéticas e adquiridas, como obesidade, revisão de literatura acerca de embolia
perda de peso, gravidez, flacidez cutânea, gordurosa, uma das complicações
diástase de músculos reto abdominais. desencadeadas pela lipoaspiração.
Conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica (SBCP), que está entre as maiores MÉTODO
entidades de cirurgia plástica do mundo,
juntamente com o Instituto Datafolha, relatam Trata-se de uma revisão bibliográfica reali-
que cerca de 629 mil cirurgias plásticas são zada no período de fevereiro de 2022, por meio
realizadas por ano no Brasil, sendo destas 73% de pesquisa na base de dados: SciELO. Foram
estéticas e 27% reparadoras e, dentre esses utilizados os descritores: Lipoaspiração e Em-
procedimentos, 20% correspondem à bolia gordurosa. Desta busca foram encontra-
lipoaspiração. Nas últimas três décadas, a dos 06 artigos, posteriormente submetidos aos
lipoaspiração vem sendo aperfeiçoada; porém critérios de seleção.
como qualquer outro procedimento não é isenta Os critérios de inclusão foram: artigos nos
de complicações (FRANCO et al., 2011). idiomas português e inglês; publicados no perí-
Trata-se de um procedimento seguro, apesar de, odo de 1999 a 2017 e que abordavam as temá-
como todas as intervenções cirúrgicas, não ticas propostas para esta pesquisa, estudos do
serem isentas de riscos e complicações. Dentre tipo revisão e relato de caso, disponibilizados
as complicações mais comuns tem-se na íntegra. Os critérios de exclusão foram: arti-
hematoma, seroma, necrose na pele, gos duplicados, disponibilizados na forma de
hiperpigmentação, sepse, trombose venosa resumo, que não abordavam diretamente a pro-
profunda, tromboembolismo pulmonar, choque posta estudada e que não atendiam aos demais
hipovolêmico e embolia gordurosa (EG) critérios de inclusão.

108
Após os critérios de seleção todos os artigos Durante a lipoaspiração ocorre ruptura de
encontrados foram submetidos à leitura minuci- pequenos vasos sanguíneos e danos aos
osa para a coleta de dados. Os resultados foram adipócitos, produzindo microfragmentos
apresentados de forma descritiva, abordando lipídicos que atingem a circulação venosa. Os
sobre a lipoaspiração e uma de suas complica- êmbolos gordurosos podem atingir a circulação
ções, a embolia gordurosa. sistêmica “devido à permeabilidade do forame
oral no septo interatrial, à existência de
RESULTADOS E DISCUSSÃO microfístulas arteriovenosas pulmonares e à
deformação dos microglóbulos gordurosos que
Encontram-se na literatura várias complica- atravessam os capilares pulmonares” (COSTA
ções em cirurgias de lipoaspiração. Pode-se ob- et al., 2008). Quando o êmbolo alcança os
servar que as complicações em lipoaspiração pulmões pode gerar edema e quando acomete o
representam cerca de 5 a 10% dos casos, cons- cérebro, as complicações mais comuns são
tituindo-se principalmente por anestesia, se- edema cerebral, hemorragia e micro infartos
roma, edema, pigmentação, dor e hematoma. (JATENE et al., 2005).
Complicações pulmonares após lipoaspiração A partir da circulação, com a evolução da
incluem redução da capacidade pulmonar total, patologia, os êmbolos de gordura podem alcan-
capacidade vital e capacidade residual funcio- çar os pulmões, rins e cérebro (GOMES, 2003),
nal, hipoxemia leve e atelectasia parcial. Trom- refletindo em sintomas sistêmicos que quando
boembolismo pulmonar é raro, mas pode ocor- atingem estes órgãos repercutem na SEG. A trí-
rer após esse procedimento (FOLADOR et al., ade sintomática clássica da SEG é composta de
1999). A lipoenxertia é potencialmente peri- insuficiência respiratória aguda, trombocitope-
gosa por aumentar o risco de SEG, devido à in- nia e disfunção neurológica. As causas mais co-
jeção intravascular acidental de êmbolos de muns de EG e SEG são as fraturas de ossos lon-
gordura (SALDANHA et al., 2011). A EG as- gos. Entretanto, há relatos de sua ocorrência
sim como a SEG pode ocorrer em pacientes após procedimentos estéticos (ALVES et al.,
candidatos a cirurgias estéticas de lipoaspira- 2009).
ção, fato que deve alertar o anestesiologista A EG após a lipoaspiração, muitas vezes,
para a realização de diagnóstico e tratamento pode não ser diagnosticada, pois a apresentação
precoces, assim como para as condições míni- clínica pode ser muito variável podendo causar
mas de trabalho necessárias para o provimento quadros de hipoxemia e hipotensão grave em
da segurança. consequência de isquemia cerebral grave com
Dessa forma, a EG consiste em uma difícil quadro de reversão. Ao depender do
patologia causada por fragmentos de gordura curso da embolização maciça, pode ocasionar
(tecido adiposo) na circulação sanguínea, falência do ventrículo direito e colapso cardíaco
causando obstrução. A presença de lipídios nos ainda no intraoperatório, até em casos de grave
vasos pode causar obstrução capilar por insuficiência respiratória, levando ao óbito
gotículas de gordura, liberação de ácidos graxos (FELZEMBURGH et al., 2012).
com consequente lesão do endotélio e aumento O pulmão é o órgão mais atingido pelo êm-
da permeabilidade vascular e coagulação bolo gorduroso. Os alvéolos pulmonares vão
sanguínea (BRASILEIRO FILHO, 2013). enchendo de sangue ou que sofrem expansão al-

109
veolar por causa de obstrução, gerando hipóxia,
que inicia o quadro clínico com taquipneia, dis-
Glóbulos de gordura na
pneia e pode vir a óbito em decorrência da cia- Petéquias
urina ou escarro
nose (FILOMENO et al., 2005). O segundo ór-
gão mais atingido pela EG é o cérebro, resul-
tando em alterações neurológicas: irritabili- Embolia para retina

dade, ansiedade, agitação, confusão, delírio,


Anemia não explicada
convulsões, coma e hipertonia. Isso ocorre pe-
Fonte: MARTINS et al., 2017.
las obstruções dos capilares causadas pelos êm-
bolos de gordura. As petéquias cutâneas são o
A síndrome da embolia gordurosa
terceiro sinal importante para o diagnóstico (FI-
A síndrome da embolia gordurosa (SEG) é
LOMENO et al., 2005).
uma complicação multissistêmica advinda da
Os principais sinais e sintomas da EG de-
mobilização da gordura na corrente sanguínea
corrente de complicações da lipoaspiração es-
(ALVES 2009), que se caracteriza durante as 48
tão sintetizados na Tabela 14.1. Os critérios
horas após procedimento cirúrgico de lipoaspi-
clássicos de Gurd são usados para diagnosticar
ração pela presença de sinais clínicos caracte-
a embolia gordurosa, sendo necessário pelo me-
rísticos, como petéquias da pele, alterações pul-
nos um critério maior e três menores ou dois
monares e respiratórias e déficit mental (FREI-
critérios maiores e dois menores (ALVES et al.,
TAS et al., 2016). Esses sinais facilitam o diag-
2009).
nóstico, que normalmente é dificultado pela au-
Não existe um tratamento específico para a
sência de exames laboratoriais e de imagem que
embolia gordurosa. Sendo assim, são indicadas
auxiliem na constatação de EG e, sendo assim,
medidas de suporte, como ventilação mecânica,
o diagnóstico normalmente é feito pelo quadro
oxigenoterapia e hemodinâmico (COSTA et al.,
clínico do paciente (COSTA et al., 2008).
2008).
Assim, o padrão clínico da SEG envolve
Uma forma de prevenção da embolia gordu-
uma distribuição bimodal. É incomum o curso
rosa citada previamente em artigos foi o uso de
fulminante, que leva a falência de múltiplos ór-
corticosteroides na indução da anestesia. Em al-
gãos, no qual os primeiros sintomas surgem
guns casos são propostos o controle da tempe-
cerca de 12 horas após a lesão, apresentando
ratura corporal ao longo da cirurgia e o uso in-
maior mortalidade pelo envolvimento neuroló-
travenoso de metilpredinisolona 500 mg (GO-
gico proeminente, que leva ao coma e emboli-
MES, 2003).
zação maciça, com falência de ventrículo di-
Tabela 14.1 Tabela critérios clássicos de Gurd reito e colapso cardíaco. A maioria dos pacien-
Maiores Menores tes apresenta um curso mais progressivo, com
Hipóxia ((PaO2 sintomas em 24 a 72 horas após lesão, cuja gra-
Taquicardia (FC <
< 60 mmHg e FiO2 vidade é variável, desde casos leves com hipó-
120bpm)
> 0,4) xia transitória e confusão, até síndrome de insu-
ficiência respiratória e coma. Diagnóstico da
Depressão do Trombocitopenia (Pla- SEG é um diagnóstico de exclusão, baseado no
Sistema Nervoso quetas < 150x109L) quadro clínico. Os sintomas iniciais são fre-
Central
quentemente inespecíficos, como hipertermia
110
leve e taquicardia. A insuficiência respiratória tica, que interfere na avaliação da verdadeira in-
leva a hipoxemia em 30% dos pacientes. Sinto- cidência desta entidade clínica (GOMES,
mas neurológicos ocorrem em 60-70% dos ca- 2003). A baixa especificidade e sensibilidade
sos e tendem a seguir as alterações pulmonares, dos testes laboratoriais e exame físico torna a
manifestando-se através de desorientação, con- SEG uma patologia clinicamente subdiagnosti-
fusão, estupor ou coma. Petéquias aparecem em cada (FREITAS et al., 2016).
40-50% dos pacientes, são frequentes no pes-
coço, axila, tronco e conjuntiva e podem ser CONCLUSÃO
evanescentes. A biópsia de pele nas lesões pe-
tequiais, pode revelar gordura intravascular em O pós-operatório de lipoaspiração é um pro-
90% dos casos. Fundoscopia revela microinfar- cedimento eficaz quando bem indicado e feito
tos em retina (FOLADOR et al., 1999). com precisão, porém ela causa uma reação in-
Na SEG há presença de gotículas de gordura flamatória de fase aguda, e pelo volume de gor-
no lavado pulmonar e na urina, podendo gerar dura aspirado a resposta metabólica por causar
febre, hipóxia, taquipneia, dentre outras com- complicações, como a embolia gordurosa.
plicações (FREITAS et al., 2016). As compli- Como técnica menos invasiva e traumática,
cações decorrentes da lipoaspiração dependem tem-se a lipoenxertia com menos tempo cirúr-
do número e tamanho dos glóbulos lipídicos. gico, sendo essa protetora de eventos embóli-
Dentre elas, trombocitopenia, petéquias na pele cos.
ou conjuntiva, dispneia, insuficiência respirató- Logo, ainda não existem estudos que quan-
ria são as mais comuns, podendo evoluir para tifiquem o risco real de EG após procedimento
coma e morte (BRASILEIRO FILHO, 2013). A de lipoaspiração devido ao seu difícil diagnós-
SEG não ocorre exclusivamente em pacientes tico, mas sabendo de suas possíveis complica-
doentes vítimas de traumas longos ou múlti- ções e da ausência de tratamentos, conclui-se
plos, mas também em candidatos à lipoaspira- que o melhor tratamento é a prevenção. Con-
ção. Essa constatação deve alertar os médicos clui-se que há necessidade de mais estudos ba-
ao diagnóstico e tratamento precoces (FREI- seados em evidências para esclarecer e definir
TAS et al., 2016). A SEG pode ser estatistica- os melhores métodos para prevenção e trata-
mente incomum devido à dificuldade diagnós- mento de EG após cirurgias de lipoaspiração.

111
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112
CAPÍTULO 15

IMPORTÂNCIA DO
DERMATOLOGISTA NO USO DA
TOXINA BOTULÍNICA NA
ESTÉTICA FACIAL:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

GABRIELA BALVEDI ZANCAN¹


NICOLE OSTERNACH1
HELOISA MARTINS VITORASSI1
MARIA LUÍSA DE BORTOLI ALVES1
MONICE STIELER1
CRISTINA ARSEGO LEVIS1
EMANUELLA ROQUE IENERICH1

1
Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Pato Branco (PR)- UNIDEP

Palavras-chave: Toxina Botulínica; Estética; Dermatologia.

113
INTRODUÇÃO sam levar a possíveis efeitos adversos e compli-
cações atreladas a aplicação da toxina (SAN-
Nos últimos anos, procedimentos estéticos TOS et al., 2017).
faciais vêm ganhando maior popularidade na A partir dessa necessidade de diligência, o
sociedade com a finalidade de alcançar um pa- CFM (Conselho Federal de Medicina) afirma a
drão de beleza e com o objetivo de rejuvenesci- necessidade de que somente médicos com espe-
mento. Um dos procedimentos mais procurado cialização em dermatologia ou cirurgia plástica
pelos pacientes é a aplicação da toxina botulí- são profissionais aptos a realizarem o procedi-
nica na harmonização facial (LYON & SILVA, mento, por se tratar de um procedimento inva-
2015). sivo (CFM, 2019).
A toxina botulínica (TB) é responsável pelo Entretanto, mesmo com a recomendação do
botulismo, doença causada pela bactéria Clos- CFM, o Conselho Federal De Odontologia de-
tridium botulinum, a qual atua no bloqueio da senvolveu uma ação civil com o objetivo de va-
liberação de acetilcolina. A toxina foi usada lidar a aplicação da toxina botulínica para fins
pela primeira vez em 1978 por um oftalmolo- estéticos, também como especialização do ci-
gista com a finalidade no tratamento do estra- rurgião dentista. Essa determinação gera um
bismo (PINTO, 2014). conflito de interesses, visto que o CFM, como
A partir disso, segundo Lyon & Silva órgão de autarquia na fiscalização e normatiza-
(2015), as indicações terapêuticas dessa subs- ção da prática médica, considera que apenas o
tância foram alcançando fins estéticos, como a dermatologista e o cirurgião plástico são profis-
atenuação de rugas dinâmicas da face em regi- sionais com a aptidão suficiente para contrain-
ões perioculares, periorais e frontais, na eleva- dicar a aplicação devido ao diagnóstico prévio
ção da sobrancelha ou da ponta do nariz e na de doença impeditiva, além de tratar as
diminuição de cicatrizes e queloides. A TB pos- possíveis complicações relacionadas a
sui sete sorotipos diferenciados em A, B, C, D, aplicação da toxina (SBD, 2019).
E, F e G, porém os únicos disponíveis comerci- O presente capítulo teve como objetivo
almente são as toxinas tipo A e tipo B, sendo o abordar o uso da toxina botulínica na prática
tipo A a mais utilizada esteticamente (GOU- médica como medida terapêutica e estética,
VEIA et al., 2020). destacando a jurisdição e importância do profis-
O mecanismo de ação da TB envolve o blo- sional dermatologista na aplicação da TB, como
queio na liberação da acetilcolina nas sinapses especialista.
pela interferência no metabolismo do cálcio, Ademais, o trabalho tem a intenção de en-
provocando uma paralisia muscular localizada tender as principais indicações do uso da TB,
e transitória no local injetado, sem provocar al- principalmente quando relacionada a fins esté-
terações estruturais nos tecidos adjacentes ticos, bem como alertar às possíveis complica-
(SANTOS, 2017). ções vinculadas ao seu uso, afirmando a neces-
Apesar de seu uso benéfico para fins estéti- sidade do conhecimento anatômico, método de
cos, o uso da toxina botulínica requer cautela, aplicação, estocagem e armazenamento do pro-
visto suas contraindicações clássicas, principal- duto para resguardar a segurança do paciente.
mente quando comorbidades do paciente pos-

114
MÉTODO Lembrando que, a toxina botulínica não al-
tera a produção de acetilcolina ou de qualquer
Para produção do capítulo, foi realizada outro neurotransmissor, nem mesmo se liga às
uma revisão de literatura, utilizando as bases de fibras nervosas, ela apenas atua na estrutura que
dados Lilacs, SciELO, Pubmed/Medline, Sco- conduz o impulso nervoso na junção neuromus-
pus e Google acadêmico, utilizando os termos: cular (SPOSITO, 2004).
‘Toxina botulínica; Dermatologia; Estética fa-
cial; Complicações e consequências’. Ao total, Indicações
foram encontrados 52 artigos, posteriormente As principais indicações de seu uso, são na
submetidos aos critérios de seleção. redução do tônus muscular consequentemente
Além das bases de dados, foram utilizadas evitando o envelhecimento, tratamento de ru-
fontes oficiais, como a Sociedade Brasileira de gas, correção de assimetrias faciais e redução da
Dermatologia, International Association for secreção de glândulas sudoríparas, para hiperi-
Physicians in Asthetic Medicine e o Conselho droses (LYON & SILVA 2015).
Federal de Medicina. Como já ressaltado, a TB normalmente é
Incluiu-se artigos publicados nacional e in- utilizada para fins estéticos, no entanto, na der-
ternacionalmente, em língua inglesa ou portu- matologia, tem sido observado seu uso para tra-
guesa, sendo estes publicados no período de tamentos de doenças, como Doença de Hailey-
2004 a 2022 e que abordavam as temáticas pro- Hailey, fenômeno de Raynaud, Neuralgia pós
postas. Sendo selecionados 25 artigos para lei- herpética, Rosácea, entre outras doenças rele-
tura minuciosa e coleta de dados. vantes e comuns na especialidade médica
(CARDOSO DE MENDONÇA et al., 2014;
RESULTADOS E DISCUSSÃO ANTONIO et al., 2014).
É indicado evitar medicamentos que interfi-
Toxina botulínica (TB) ram na coagulação, como vitamina E, aspirina
A toxina botulínica (TB), é uma neurotoxina e anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs)
produzida através da Clostridium botulinum, por um período de 10-14 dias antes do procedi-
uma bactéria anaeróbica e gram-positiva, usada mento (SHETTY et al., 2008).
para fins terapêuticos. Existem sete sorotipos
distintos dessa neurotoxina, diferenciados entre Contraindicações para o uso da toxina
A, B, C, D, E, F e G (LYON & SILVA 2015; Algumas das contraindicações de seu uso
MADY et al., 2021). são: gravidez e lactação (sendo essa uma con-
Sendo, a toxina do tipo A, é a mais eficaz traindicação relativa), infecção no local de apli-
para a paralisação neuromuscular. Ela age blo- cação, pacientes que possuam alguns distúrbios
queando a liberação de acetilcolina, um neuro- neuromusculares e neurológicos, pacientes com
transmissor que conduz impulsos nervosos de sensibilidade para qualquer dos componentes
uma célula à outra. Segundo Fujita & Hurtado, da formulação da TB ou a albumina humana,
(2021), a paralisação da contração muscular é pacientes que fazem uso de antibióticos amino-
gerada por denervação química temporária e glicosídeos, entre outras patologias que tenham
inibição competitiva de forma dose-dependente manifestação de sinais e sintomas não esclare-
(FUJITA & HURTADO 2021).

115
cidos ou controlados (FUJITA & HURTADO apenas um rash cutâneo. O tratamento emer-
2021). gencial em casos de alergia envolve condutas
Cerca de 10% dos pacientes podem desen- como manter as vias aéreas pérvias, avaliar os
volver anticorpos a toxina, causadas normal- sinais vitais, considerar a necessidade de oxigê-
mente por altas doses da TB, sendo essa uma nio para o paciente e administrar adrenalina (na
complicação e uma contraindicação para o uso concentração 1/1000) na dose de 0,2 a 0,5 mL
(FUJITA & HURTADO 2021). por via intramuscular (SILVA, 2012; JUHÁSZ
Também é importante destacar que existe et al., 2021; SANDOVAL, 2006).
uma dose máxima para aplicação. Essa dose é c) Dor à aplicação: A intensidade da dor va-
quantificada em unidades biológicos (U), que é ria em cada paciente, podendo ser exacerbada
definida através da mediana da dose letal (DL). dependendo da técnica utilizada. Há recomen-
A DL para humanos corresponde à 40 U/Kg, ou dação de aplicação com agulhas de calibre fino
seja, uma dose máxima de até 3.000 U para um e injetar o produto de forma lenta (LYON &
paciente com 70 kg (SPOSITO, 2004; LYON & SILVA, 2015).
SILVA, 2015). d) Hematoma: É habitual e decorrente de le-
sões em vasos sanguíneos durante a aplicação
Complicações e tratamentos do produto. No caso de lesão vascular, é indi-
Mesmo sendo um procedimento minima- cado compressão do local, na tentativa de me-
mente invasivo e com alta margem de segu- lhorar a hemostasia e reduzir o hematoma.
rança, conta com efeitos adversos que podem Também é recomendado cessar o uso de medi-
desencadear algumas complicações, decorren- camentos que alterem a coagulação (p.ex. ácido
tes da injeção em si, do organismo do paciente, acetilsalicílico) (FUJITA & HURTADO 2021;
da aplicação ou efeitos do próprio produto LYON & SILVA, 2015).
(SANTOS et al., 2017). e) Cefaleia e náuseas: São relatadas algumas
a) Eritema e edema: O eritema acontece de- horas após o procedimento, geralmente, são de
vido a dilatação de vasos, decorrentes do caráter leve e possuem regressão espontânea.
trauma e do volume injetados. Normalmente Em casos raros, podem ser intensas e perdurar
desaparecendo em 24 horas. Em caso de persis- por dias, necessitando de atendimento médico
tência do quadro, ou associação com outros sin- (SANTOS et al., 2017).
tomas, deverá ser procurado atendimento mé- f) Ptose palpebral: É o efeito adverso mais
dico. Um dos medicamentos que podem ser comum. Decorrente da paralisia do músculo le-
prescritos são os anti-histamínico (FUJITA & vantador da pálpebra superior. Os sintomas cos-
HURTADO 2021). tumam aparecer após 1 semana da aplicação da
b) Alergia a TB: Em caso de piora do qua- toxina. Geralmente tem regressão espontânea
dro e sinais de anafilaxia, torna-se uma emer- em 2 a 4 semanas. Caso não sofra regressão es-
gência médica, necessitando de tratamento com pontânea, é recomendado o uso de colírios ago-
adrenalina. A reação alérgica à toxina é rara, nistas alfa-adrenérgicos, como apraclonidina,
bem como as formações de anticorpos. Não há como opção de tratamento, no entanto, essa me-
muitas evidências se a alergia seria por conta da dicação não mais é vendida no Brasil, dermato-
aplicação da toxina do tipo A ou pelos seus re- logistas fazem uso de brimonidina para obter o
constituintes, levando à anafilaxia grave ou mesmo efeito (FERREIRA, 2004).

116
g) Elevação excessiva da cauda do supercí- em caso de persistência deve ser procurado
lio: Proveniente do relaxamento muscular e da atendimento médico (WERTHEIMER, 2021).
porção lateral da musculatura frontal. É mais l) Diplopia: É proveniente disseminação da
frequente em indivíduos com a musculatura toxina botulínica para o interior da órbita e por
frontal mais forte e supercílios prontamente ele- paralisação dos músculos retos laterais. Essa al-
vados. Essa complicação pode ser dificultada teração é rara, assim como a alergia à toxina.
com a administração de 1 a 2 U da neurotoxina Caso ocorra, deve ser orientado a procura de um
nas regiões dos filmes frontais mais laterais em oftalmologista para acompanhamento do qua-
pacientes com o supercílio mais elevado dro (LYON & SILVA, 2015; RIBEIRO, 2021).
(LYON & SILVA, 2015; MADY et al., 2021). m) Complicação relacionada a anticorpos:
h) Assimetrias: é um efeito colateral bas- Segundo estudos realizados com o método
tante comum, que pode ocorrer devido aplica- ELISA (enzyme-linked immunoabsorbent as-
ção de quantidades distintas, pela diluição in- say) ou RIA (radioimmunoassay), há uma pre-
correta e da aplicação em áreas já assimétricas. ocupação crescente relacionada a formação de
A mais comum é a diferença de altura de so- anticorpos. Sua presença na corrente sanguínea
brancelhas. Caso o paciente já possua uma as- tem ajudado no desenvolvimento de anticorpos
simetria relevante, o uso da TB pode piorar e neutralizantes. Quando anticorpos contra a
evidenciar ainda mais o quadro. Para corrigir a BoNT são formados, a duração máxima e a
assimetria pode ser feita a aplicação em múscu- ação dos efeitos terapêuticos são reduzidas
los antagonistas dos músculos afetados, po- constituindo a falha terapêutica parcial (RO-
dendo também ser feito retoque depois de 30 DRIGUES & FRANCO, 2020). O resultado
dias do procedimento (WERTHEIMER, 2021; desse efeito está relacionado à imunogenici-
FUJITA & HURTADO 2021. dade, que ocorre quando o paciente responde o
i) Ptose do lábio superior: Proveniente da tratamento de maneira inicial, no entanto perde
paralização dos músculos levantador do lábio a capacidade de resposta ao longo dos procedi-
superior, e zigomático maior, sendo causada mentos realizados (RODRIGUES & FRANCO,
pela alta quantidade de toxina injetada, levando 2020)
a assimetria do sorriso (FUJITA & HURTADO
2021). A TB e a importância do dermatologista
j) Ectrópio e lagoftalmo: Complicação rela- Atualmente nos Estados Unidos, a maioria
cionada a falta de lubrificação necessária, de- dos estados (exceto Texas e Flórida), permite a
sencadeada pela incapacidade da pálpebra se fe- aplicação da toxina botulínica por cirurgiões
char corretamente. Para o tratamento pode ser plásticos certificados e dermatologistas treina-
usado lubrificação tópica. Uma consulta oftal- dos nesta área. Na maioria dos casos em que
mológica é indicada em caso de persistência não médicos fazem o procedimento de aplica-
(WERTHEIMER, 2021). ção da TB, é recomendado pela Physicians Aes-
k) Xeroftalmia: Ocorre devido falta de se- thetic Coalition (PAC) que as injeções sejam
creção das glândulas lacrimais, em decorrência realizadas na presença de um médico treinado
da aplicação profunda da TB na área periorbital. (BRUCE et al., 2013).
Podendo ser tratada com lubrificação tópica e Em 2016, no Brasil, um conflito de interes-

117
ses foi gerado na área da saúde, após o Conse- uma avaliação diferenciada ou até mesmo que a
lho Federal de Odontologia criar uma resolu- aplicação não seja de imediato (SILVA, 2012).
ção, autorizando cirurgiões dentistas a aplica- É importante destacar que o médico derma-
rem a TB, a decisão levou o Conselho Federal tologista estuda 6 anos na faculdade de medi-
de Medicina a entrar com uma ação civil para cina e mais três anos de formação em residência
impedir a atuação. Porém, em 2019, foi publi- médica para se tornar dermatologista. Além da
cado um documento reconhecendo a aplicação aprovação no Exame de Título de Especialista
de botox e de preenchimentos para fins estéti- da Associação Médica Brasileira (AMB) com a
cos, também como especialidade de cirurgiões Sociedade Brasileira de Dermatologia. Leva
dentistas (SBD, 2019; CFM, 2019). consigo o conhecimento necessário para identi-
O CFM, afirma que somente o médico com ficar possíveis patologias subclínicas que pos-
especialização em cirurgia plástica ou dermato- sam ser contraindicações formais ao trata-
logia é o profissional apto a realizar o procedi- mento, evitar possíveis complicações e realizar
mento, alegando que tal prática rompe as bar- manejo adequado em caso de intercorrência
reiras naturais do corpo, necessitando de instru- (SBD, 2018; CFM, 2019).
mentos cirúrgicos e aplicação de anestésicos, Pode-se observar que existem complicações
sendo considerado um procedimento invasivo. que ocorrem de maneira constante. A escolha
Segundo o conselho, apenas esses profissionais do profissional que irá realizar o procedimento
têm conhecimento suficiente para diagnóstico influencia custosamente na frequência dessas
prévio de doença impeditiva ou de terapêutica complicações.
adequada, além de estarem aptos a tratar as Além disso, o profissional adequado pode
complicações (SBD, 2019; CFM, 2019). auxiliar ficando atento às contraindicações da
Para realizar a aplicação da toxina botulí- aplicação da toxina botulínica, garantindo uma
nica do tipo A, é indispensável que o profissio- boa anamnese para evitar a aplicação em casos
nal esteja apto, cauteloso e que tenha conheci- de gestação, lactantes, pacientes com doenças
mento anatômico, muscular, nervoso e subcutâ- neuromusculares e pacientes fazendo uso de
neo da face. Além disso, também é de extrema aminoglicosídeos, anti-inflamatórios ou antico-
importância que a qualidade do produto seja agulantes. Dessa forma pode-se garantir uma
evidente por meio de condições adequadas de aplicação segura, com menores chances de
estocagem e armazenamento, sendo aplicado complicações (Quadro 15.1) e efeitos colate-
em dosagens corretas e com técnicas apuradas, rais (NETO, 2016).
que garantam a segurança do paciente (FREI- Tais porcentagens apresentadas (Tabela
TAS & OLIVEIRA, 2021). 15.1), mostram o efeito adverso mais comum
Outro pré-requisito é conhecer o histórico entre os pacientes expostos à toxina botulínica.
do paciente obtendo informações importantes Uma vez que os efeitos podem ter origens
tais como: se ele faz ou não uso de relacionadas à técnica de aplicação por algum
medicamentos (uso de antibióticos tipo de erro do profissional, faz-se necessário
concomitantemente), gestantes ou lactantes e se que essas complicações sejam consideradas
possui desordens no sistema nervoso periférico pelos mesmos, que fazem o uso da toxina. Entre
ou neuromuscular, pois esses, necessitam de os pacientes, a elevação excessiva do supercílio

118
é a queixa mais relatada, podendo trazer CONCLUSÃO
aspectos afeminados à expressão de pacientes
homens. Essa elevação ocorre por conta de uma Conclui-se que a aplicação de toxina botulí-
paralisia na glabela e da região da testa, fazendo nica permite resultados estéticos satisfatórios,
com que o músculo frontal tente compensar deixando a pele com aspecto mais jovem e sau-
essa assimetria (ZAGUI et al., 2008). dável, minimizando e prevenindo as linhas de
expressão. Ressalta-se que apesar de ser consi-
Quadro 15.1 Frequência das complicações causadas derado um procedimento seguro, segundo o
pelo uso incorreto da BoNT CFM, rompe as barreiras naturais da pele ne-
Complicações Complicações
Complicações cessitando de instrumentos cirúrgicos e aplica-
frequentes frequentes
raras quanto ção de anestésicos, sendo considerado um pro-
quanto a inje- quanto ao
ao produto
ção produto cedimento invasivo. Devido a este fato, é neces-
Dor local Ptose palpebral Alergia sário que o profissional tenha conhecimentos
Elevação ex- que vão além dos anatômicos, mas englobam
Edema e eri- Relacionadas a
cessiva da cuidados que evitem intercorrências. Deve-se
tema anticorpos
cauda do cílio
orientar para os pacientes sobre o tempo de
Hematoma Assimetrias
reaplicação, as possíveis complicações e os
Ptose do lábio
demais cuidados básicos, para evitar
superior
Fonte: Adaptado de Santos et al., (2017). intercorrências. Além disso, são obrigação do
profissional saber as técnicas adequadas de
Tabela 15.1 Tabela das complicações mais relatadas na aplicação e de armazenamento dessa
literatura substância, respeitando a vontade e os limites
Efeito adverso Porcentagem individuais de cada paciente, garantindo assim
Elevação excessiva do segurança e a satisfação do procedimento. Di-
33%
supercilio ante desse quadro, apesar de ser considerado
Edema e eritema 15%
um procedimento seguro, conta com margem
Ptose palpebral 13,4% para efeitos adversos, o que revela a importân-
Ptose de lábio superior 9% cia do conhecimento médico para evitar e tratar
Reações alérgicas 0,29% as intercorrências existentes.
Fonte: Adaptado de Rodrigues & Franco (2020).

119
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logia, v. 71, n. 6, p. 894–901, dez. 2008.

121
CAPÍTULO 16

PRINCIPAIS PREENCHEDORES
BIOESTIMULADORES DE
COLÁGENO UTILIZADOS NA
HARMONIZAÇÃO OROFACIAL

MARINA THOMPSON DOS SANTOS NUNAN¹


ANA ELISA CHOUCAIR HOSKEN ARÃO2
ANNA CARLINDA ARANTES DE ALMEIDA BRAGA2
IGOR YURY SILVA2

Docente – Medicina do Centro Universitário de Belo Horizonte, Minas Gerais


1

Discente – Medicina do Centro Universitário de Belo Horizonte, Minas Gerais


2

Palavras-chave: Colágeno; Envelhecimentos da pele; Estética.

122
INTRODUÇÃO A partir disso, o presente capítulo tem o ob-
jetivo de revisar a literatura disponível acerca
Os preenchimentos cutâneos são considera- do uso correto, das vantagens e dos efeitos ad-
dos procedimentos minimamente invasivos e versos (EA) dos bioestimuladores de colágeno.
são, cada vez mais, utilizados pelos profissio-
nais da saúde, como estratégia para corrigir as MÉTODO
linhas finas, as rugas, a reabsorção óssea e a
perda de volume facial, decorrentes do processo Trata-se de uma revisão integrativa reali-
de envelhecimento. Eles são divididos em três zada no período de fevereiro a março de 2022
grupos principais: os derivados do ácido hialu- por meio de pesquisas nas bases de dados Pub-
rônico, os sintéticos e os autólogos (ATTE- med, Science Direct e Biblioteca Virtual em Sa-
NELLO & MAAS, 2015). úde (BVS). Foram utilizados termos da Medical
Dentre esses, a categoria dos produtos sin- Subject Headings em inglês: “facial rejuvena-
téticos envolve os bioestimuladores de colá- tion”, “colagen”, “poly-L-lactic acid”, “cal-
geno capazes de promover uma nova matriz cium hydroxyapatite,” “polycaprolactone”,
dérmica pela neocolagênese. São exemplos, o “polymethyl methacrylate”, “Sculptra”, “Radi-
ácido poli-L-láctico (PLLA), o polimetilmeta- esse” e “Ellansé”. Desta busca foram encontra-
crilato (PMMA), a hidroxiapatita de cálcio dos 385 artigos que foram submetidos aos cri-
(CaHA) e a policaprolactona (PCL) (DE LIMA térios de seleção. Os critérios de inclusão fo-
& DE LIMA SOARES, 2020; RONAN et al., ram: revisões da literatura dos últimos 10 anos
2019). Esses são mais utilizados nos procedi- que envolvessem estudos em humanos nos idi-
mentos faciais, por ser considerada a face, a re- omas inglês, espanhol e português disponibili-
gião do corpo mais reveladora da idade do pa- zados na íntegra. Os critérios de exclusão fo-
ciente. As aplicações também têm destaque nas ram: artigos duplicados, disponibilizados na
mãos, no pescoço e nos glúteos (MCGUIRE et forma de resumo, que não abordavam direta-
al., 2021). mente a proposta estudada no resumo e que não
Com o avançar da idade, a pele sofre trans- atendiam aos demais critérios de inclusão. Após
formações intrínsecas, relacionadas ao processo os critérios de seleção, restaram 24 artigos que
fisiológico do envelhecimento; e extrínsecas foram submetidos à leitura íntegra. Destes, 8 fo-
pelas interferências dos hábitos de vida, como a ram selecionados para a coleta de dados. Os re-
exposição solar e o tabagismo. As intrínsecas sultados foram apresentados em forma descri-
envolvem o afinamento da pele, aumento da tiva, divididos em categorias temáticas abor-
fragilidade, perda de gordura cutânea, reabsor- dando: PCL, CaHA, PLLA e PMMA.
ção óssea, desidratação e uma cicatrização mais
lenta. Além disso, ocorre a sobreposição do co- RESULTADOS
lágeno do tipo III sobre o colágeno do tipo I,
alvo da ação dos bioestimuladores, que agem na Dos 385 artigos identificados, 188 perten-
neocolagênese deste tipo de colágeno, a fim de ciam à base de dados Pubmed, 54 à Science Di-
promover uma pele mais jovem (SHAH & rect e 143 à BVS. Foram encontradas 22
KENNEDY, 2018). duplicatas, restando 363 trabalhos. Após aplica-

123
ção dos critérios de seleção, 24 artigos foram sem especificar os produtos. Com isso, 8 artigos
lidos na íntegra. Desses, 6 foram excluídos por foram selecionados para análise qualitativa (Fi-
abordar apenas as técnicas de aplicação, 5 por gura 16.1). Nas pesquisas selecionadas, o
terem como foco principal os aspectos de PLLA, o PMMA, a CaHA e a PCL foram des-
regulamentação de uso dos produtos e 5 por dis- tacadas por serem preenchedores com capaci-
cutir o uso dos preenchedores de forma global dade de neocolagênese.

Figura 16.1 Fluxograma de seleção e eliminação dos artigos

Fonte: Autores, 2022.

Os bioestimuladores são classificados dor classificado como não biodegradável, que


quanto à durabilidade e a absorção pelo orga- não é fagocitado e permanece indefinidamente
nismo, existindo os biodegradáveis, que tem sua no organismo. Nessa categoria está o PMMA
absorção pelo próprio organismo, através de (ATTENELLO & MAAS, 2015; BREI-
mecanismos fagocitários naturais e os semi per- THAUPT & FITZGERALD, 2015). Na Tabela
manentes, que possuem duração entre 18 meses 16.1, encontram-se as principais caracteristicas
e 5 anos. Nesta categoria estão o PLLA, a desses preenchedores:
CaHA, e a PCL. Também existe o bioestimula-

124
Tabela 16.1 Principais bioestimuladores e suas propriedades
Principais
Contra-
Bioestimulador Classificação Durabilidade Indicações efeitos
indicações
adversos
Região
Semi- Pregas nasolabi- periorbital,
Policaprolactona 1-4 anos
permanente ais, testa e mãos glabela e re-
gião perilabial
Regiões maxilar,
malar, mentual,
Hidroxiapatita de Semi- Glabela, área Hematoma,
1-2 anos do dorso das
periorbicular e dor, edema,
Cálcio permanente mãos; e correção
lábios equimose e
de cicatrizes de
Nódulos não
acne
inflamatórios
Aplicação
panfacial em Evitar
Ácido Poli-L- Semi- pacientes que aplicação no
2 anos
Láctico permanente optam por dorso da mão e
resultados mais no pescoço
sutis
Hematoma,
Área das dobras dor, edema,
nasolabiais e pe- equimoses e
riocular lateral, nódulos não
testa, nariz, inflamatórios.
Não- Região dos lá-
Polimetilmetacrilato Definitivo mãos pálpebras Como com-
bios e área dos
biodegradável inferiores e cor- plicações tar-
olhos
reção de cicatri- dias: exacer-
zes de acne bação de in-
flamações
crônicas pré-
existentes.
Fonte: Adaptado de De Lima & De Lima Soares, 2020.

Policaprolactona mente eliminadas pelo organismo, através da


A PCL, comercializada como Ellansé®, um urina e fezes (DE MELO et al., 2017).
preenchedor injetável, tem como função o pre- As versões disponíveis no mercado estético
enchimento de tecidos moles e a produção de são comercializadas em seringas estéreis de 1,0
colágeno. Esse preenchedor é composto por mL prontas para uso. Visando diminuir o des-
30% de microesferas sintéticas de PCL suspen- conforto durante o tratamento, alguns autores
sas em meio aquoso de gel transportador de car- recomendam a mistura da lidocaína a 2% ao pre-
boximetilcelulose (CMC) a 70%. As microesfe- enchedor à base de PCL, evitando-se a necessi-
ras de PCL possuem diâmetro entre 25-50 μm, dade de realizar bloqueios nervosos ou infiltra-
são totalmente esféricas e lisas, com tamanho ção local, reduzindo assim o tempo de trata-
uniforme (DE MELO et al., 2020). É classifi- mento e evitando a distorção do tecido que pode
cada como um produto seguro pelo órgão ame- ser causada pela injeção de anestésicos locais.
ricano Food and Drug Administration (FDA). Os planos de aplicação do produto são subcutâ-
Isso, principalmente por apresentar moléculas neos, ou mais profundos, no plano supraperios-
biocompatíveis e bioabsorvíveis, que são total- teal (TRINH & GUPTA, 2021; DE MELO et

125
al., 2017). pele, e posteriormente uma biópsia incisional, a
Embora a PCL seja uma opção de tratamento qual foi submetida a análise imunohistoquímica,
seguro para várias áreas da face, existem algu- apresentando como diagnóstico histopatológico
mas regiões que são contra indicadas, como na granuloma de corpo estranho.
região periorbital (pálpebras, olheiras, “pés de
galinha”), glabela, devido risco de eventos is- Hidroxiapatita de cálcio
quêmicos oculares que podem levar à perda da A hidroxiapatita de cálcio é um bioestimula-
visão, e região perilabial (BREITHAUPT & dor de colágeno injetável sintético, conhecido
FITZGERALD, 2015). no Brasil pelos nomes comerciais Radiesse® e
Desde que recebeu a licença de comerciali- Rennova® Diamond Lido ambos aprovados
zação, um sistema de farmacovigilância foi cri- pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ado para registrar efeitos EA em todo o mundo. (Anvisa). Em relação à sua composição quí-
Mais de 490.000 seringas foram utilizadas mica, é composto principalmente pela CaHA,
desde o lançamento em 2009 até dezembro de tendo 30% de microesferas sintéticas de hidro-
2016, e a taxa de EA é baixa, em 0,049% (um xiapatita de cálcio, uniformes, variando entre 25
evento por 2.055 seringas), indicando que o es- e 45 μm de diâmetro, e 70% de um gel transpor-
timulador à base de PCL é bem tolerado. Em tador aquoso, composto por carboximetilcelu-
seus estudos acerca de eventos adversos, De lose de sódio, água estéril e glicerina (EVIA-
Melo e colaboradores (2017), relataram que os TAR et al., 2015).
mais comuns são leves, e estão relacionados ao A CaHA é classificada como um preenche-
próprio procedimento de injeção, como edema e dor semipermanente, com duração média de 12
equimose que desaparecem de forma espontâ- a 18 meses, podendo ser observado até 24 meses
nea após alguns dias, não tendo nenhum dos au- em alguns pacientes. É biodegradável, sendo de-
tores relatado eventos adversos graves, sendo gradada por macrófagos, por meio da fagoci-
estes geralmente relacionados a erros técnicos, tose, e, por ser produzida naturalmente no corpo
como injeção superficial ou injeção em bolus, humano, sendo encontrada nos dentes e ossos, é
ou seja, diretamente na circulação sistêmica do considerado um produto biocompatível, com
paciente. alto grau de segurança (EVIATAR et al., 2015).
No entanto, em 2018, Skrzypek e colabora- Suas principais indicações são criar volumes
dores relataram o primeiro caso de granuloma e preencher locais que necessitam de reparo,
como complicação da injeção cutânea dérmica como a região maxilar, malar, mentual, dorso
com o preenchedor à base de policaprolactona. das mãos, além da correção de cicatrizes de acne
O caso relatado aconteceu em uma mulher de 68 (BREITHAUPT & FITZGERALD, 2015). Em
anos de idade, que foi injetada com PCL na re- relação ao plano de aplicação, a CaHA, ela deve
gião das dobras nasolabiais, após um ano da ser injetada na derme média ou profunda, para
aplicação a paciente observou pequenos nódu- que o estímulo do colágeno seja eficiente, sendo
los com descoloração azulada da pele adjacente, assim injeções dérmicas, intradérmicas ou su-
presentes bilateralmente nos locais da injeção. perficiais não são recomendadas, devido grande
Inicialmente foi feito um exame clínico, em se- risco de causarem nódulos visíveis na derme su-
guida uma ultrassonografia de alta frequência da perficial. Embora a CaHA seja ideal para várias

126
áreas da face, existem algumas regiões que são seo, e subdérmico em casos de frouxidão da pele
contraindicadas, como a glabela, área periorbi- (DE MELO et al., 2020; RAY & TA, 2020; RO-
cular e lábios (LEE & LORENC, 2016). NAN et al., 2019).
Os eventos adversos mais comuns são leves, O PLLA apresenta resultados bastante satis-
hematomas, edema, eritema e dor, os quais são fatórios com a aplicação panfacial. É conside-
resolvidos espontaneamente em 1 a 5 dias. rado uma ótima alternativa para o tratamento de
Mesmo apresentando maior risco de EA quando pacientes que precisam de uma bioestimulação
comparado a PCL, esses eventos graves (infla- tridimensional e que buscam resultados sutis,
matórios e vasculares) ocorrem em baixa inci- com aspecto natural, e na correção das cicatrizes
dência (BREITHAUPT & FITZGERALD, de acne. As regiões mais tratadas são temporal
2015). e zigomática, sendo também relatados casos de
uso no contorno facial, sulcos nasolabiais, ân-
Ácido poli-L-láctico gulo mandibular, linha do queixo, correção de
O PLLA (Sculptra®) é um polímero bio- linhas de marionetes (DE MELO et al., 2020;
compatível injetável, totalmente sintético, com- RAY & TA, 2020). Breithaupt & Fitzgerald
posto por micropartículas que medem entre 40- (2015) estudaram que seu uso no dorso da mão
63 μm de diâmetro, sendo o ingrediente ativo do e no pescoço deve ser evitado, já que nessas re-
produto; e por carboximetilcelulose de sódio, giões há uma maior taxa de formação de pápulas
que age como um emulsificante para melhorar a e nódulos.
reidratação e o manitol não pirogênico, que O PLLA é bem tolerado, sendo comum após
ajuda na liofilização das partículas. É classifi- sua aplicação o desconforto, hematomas, eri-
cado como um preenchedor semi permanente, tema ou edema no local da injeção, os quais ge-
com resultados que perduram por cerca de 24 ralmente são leves, transitórios e se resolvem es-
meses. É um produto biodegradável, sendo sua pontaneamente. Eventos adversos como os nó-
degradação por meio de hidrólise não enzimá- dulos não inflamatórios, pápulas, granulomas e
tica, na qual os polímeros poliláticos são trans- eventos vasculares, são mencionados na litera-
formados em monômeros de ácido lático, que tura, no entanto, complicações sistêmicas poten-
são metabolizados em dióxido de carbono (CO2) cialmente mais sérias são muito raras (LO-
e água (H2O), sendo eliminado totalmente do RENC, 2012).
corpo através da urina, fezes e sistema respira-
tório (RONAN et al., 2019). Polimetilmetacrilato
O plano de aplicação deve ser selecionado O polimetilmetacrilato é um polímero, que
corretamente, pois se trata de um fator crítico envolve a suspensão de colágeno bovino, per-
para o sucesso do tratamento. O material pode manente e não biodegradável, em razão do ta-
ser aplicado em três planos distintos – suprape- manho, lisura de superfície e uniformidade das
riosteal, subdérmico e subcutâneo –, a escolha microesferas que impedem sua fagocitose pelos
em qual será o plano de aplicação do PLLA de- macrófagos. Atualmente, o PMMA é comercia-
pende da condição do paciente. É aplicado no lizado em sua terceira geração, visto que as an-
plano supraperiosteal em áreas com suporte ós- teriores foram retiradas do mercado devido à al-
seo, no subcutâneo onde não houver alicerce ós- tíssima taxa de formação de granuloma (LEE &

127
LORENC, 2016). a formação de um novo colágeno através de pro-
Assim como o ácido poli-L-láctico, a hidro- cesso inflamatório local, com efeito alcançado
xiapatita de cálcio e a policaprolactona que esti- de forma progressiva e gradual (ATTENELLO
mulam a neocolagênese, o polimetilmetacrilato & MAAS, 2015).
também possui essa capacidade de formar novo Há uma grande diferença entre os produtos
colágeno, através de processo inflamatório e com relação à longevidade dos efeitos. A hidro-
deve ser aplicado nos planos profundos, na jun- xiapatita de cálcio, policaprolactona e o ácido
ção dérmico-subcutânea (DE LIMA & DE poli-L-láctico são considerados biodegradáveis
LIMA SOARES, 2020). e semipermanentes, tendo a CaHA o menor
Embora existam relatos do uso do PMMA na tempo de duração quando comparada ao PLLA
região dos lábios e área dos olhos, muitos auto- e PCL, em média de 12 a 18 meses, podendo
res não recomendam sua injeção nesses locais, chegar até 24 meses (BREITHAUPT &
devido ao grande risco de formação de nódulos, FITZGERALD, 2015; RAY & TA, 2020). Já o
possivelmente devido à ação do músculo orbi- ácido poli-L-láctico apresenta efeitos mais du-
cular da boca que pode mover o material (LEE ráveis, de até 4 anos sem necessidade de reto-
& LORENC, 2016). ques. No entanto, a duração dos efeitos pode va-
É esperada uma resposta inflamatória dis- riar devido a fatores específicos de cada paci-
creta após o uso de preenchedores, tendo como ente como idade, movimento dinâmico da área
efeitos colaterais mais comuns, sangramento, injetada e metabolismo do paciente (DE MELO
hematomas, eritema e edema. No entanto, exis- et al., 2020).
tem alguns relatos de complicações tardias mais A principal indicação de todos os produtos é
graves relacionadas ao tratamento com o melhorar o aspecto geral da pele, agindo nas ca-
PMMA, em razão dos resultados duradouros, madas mais profundas, além de devolver os vo-
havendo uma chance maior de exacerbação de lumes e contornos faciais perdidos com o
uma inflamação crônica pré-existente (BREI- avanço cronológico, de forma sutil e com as-
THAUPT & FITZGERALD, 2015; DE MELO pecto natural, através da bioestimulação de um
et al., 2017). novo colágeno (BREITHAUPT & FITZGE-
Lee & Lorenc (2016), mostram que o melhor RALD, 2015; LEE & LORENC, 2016).
uso do PMMA é no tratamento de cicatrizes dis- Alguns pontos foram apontados como sendo
tensíveis geradas pela acne. Entretanto, apre- muito importantes para alcançar o sucesso do
senta desvantagens: sua difícil remoção, caso tratamento. A maioria dos produtos é comercia-
desejo do paciente, e necessidade do teste de hi- lizada em seringas prontas para uso, sendo ne-
persensibilidade ao colágeno bovino quatro se- cessário apenas fazer uma correta homogeneiza-
manas antes da aplicação (TRINH & GUPTA, ção, mas é comum a mistura do produto com
2021). anestésicos locais, a fim de diminuir o descon-
forto do paciente e distorções locais provocadas
DISCUSSÃO pela aplicação prévia do anestésico. Outro ponto
crítico é a aplicação no plano correto (DE
Os bioestimuladores de colágeno são uma MELO et al., 2017; LORENC, 2012).
ótima opção no tratamento para o rejuvenesci- Além disso, não é recomendada a combina-
mento facial, visto sua capacidade de estimular ção de bioestimuladores permanentes (PMMA)

128
ou silicone com qualquer outro bioestimulador, na prevenção ou no tratamento do envelheci-
por haver grande risco de formação de granulo- mento facial. Eles possuem benefícios para a
mas (RONAN et al., 2019). qualidade da pele ao garantirem a neocolagê-
Todos os produtos bioestimuladores de co- nese e a restauração do volume. No entanto,
lágenos aqui citados são bem tolerados, no en- conclui-se que não existe um preenche-
tanto, é comum, após a aplicação, leve descon- dor/bioestimulador de colágeno perfeito, de-
forto, hematomas, eritema ou edemas locais, le- vendo a escolha de o produto ser feita de modo
ves e transitórios, com resolução espontânea. As individual, de acordo com as características do
complicações sistêmicas são bem mais raras. No paciente. A PCL e o PMMA apresentam resul-
entanto, o PMMA é o produto que apresenta tados mais imediatos que o PLLA e o CaHA,
mais relatos de complicações tardias graves re- entretanto as desvantagens do PMMA podem
lacionadas ao tratamento (TRINH & GUPTA, ser um fator impeditivo para o paciente. Res-
2021; LEE & LORENC, 2016). salta-se que os bioestimuladores devem ser uti-
lizados por médicos capacitados e experientes,
CONCLUSÃO a fim de evitar resultados indesejáveis e EA gra-
ves.
Os bioestimuladores de colágeno são consi-
derados excelentes produtos a serem utilizados

129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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497-503, 2016.

130
CAPÍTULO 17

ALOPECIA AREATA:
RELAÇÃO COM ESTRESSE E
TRATAMENTO

ADRIANGELA LOHANNY SILVA AQUINO¹


ALÉXYA EDUARDA ANDRADE¹
AMANDA KELY DA SILVA¹
ANA CAROLYNA FARIA¹
DÉBORA ROSA FERREIRA PACHECO ¹
GABRIELLA BRAZ FACUNDO¹
GEOVANA GOMIDE PITALUGA FELIPE¹
GEOVANNA MIRANDA TAVARES¹
ISABELA DE ALMEIDA MIRANDA¹
JHEMILY LOPES LIMA VILAÇA¹
SALUANNA MOTA ALMEIDA¹
VITÓRIA ISABELA VARGAS SANTOS¹

¹Discente da faculdade de Medicina da Universidade de Rio Verde, Goianésia, Goiás, Brasil

Palavras-chave: Alopecia; Alopecia areata; Estresse.

131
INTRODUÇÃO of Medicine), SciELO (Scientific Electronic Li-
brary Online) e BVS (Biblioteca Virtual em
Alopecia areata é uma doença inflamatória Saúde). Foram utilizados os descritores: alope-
que provoca a queda dos fios de cabelo. Há inú- cia areata e stress. Desta busca foram encontra-
meros fatores envolvidos em seu desenvolvi- dos 58 artigos, posteriormente submetidos aos
mento, como a genética e o fator autoimune (RI- critérios de seleção.
VITTI, 2005). Os critérios de inclusão foram: artigos nos
Os fios começam a cair, o que frequente- idiomas inglês e português; publicados no pe-
mente começa a resultar em falhas circulares, ríodo de 2012 a 2022 e que abordavam as te-
sem pelos ou cabelos. A extensão dessa perda máticas propostas para esta pesquisa, estudos
varia, tendo casos onde a perda pode ser pe- do tipo revisão, disponibilizados na íntegra. Os
quena, e em outros ela pode ser considerável. Há critérios de exclusão foram: artigos duplicados,
casos raros de alopecia areata total, onde o paci- disponibilizados na forma de resumo, que não
ente perde todo o cabelo da cabeça. Rara tam- abordavam diretamente a proposta estudada e
bém, é a alopecia areata universal, na qual caem que não atendiam aos demais critérios de inclu-
os pelos de todo o corpo. Ademais, alguns estu- são.
dos sugerem que cerca de 5% dos pacientes per- Após os critérios de seleção restaram 20 ar-
dem todos os pelos do corpo (RIVITTI, 2005). tigos que foram submetidos à leitura minuciosa
A alopecia areata não é uma doença contagi- para a coleta de dados. Os resultados foram
osa, e ultimamente tem-se notado principal- apresentados de forma descritiva.
mente a influência de fatores psicológicos e
emocionais, mas também fatores como traumas RESULTADOS E DISCUSSÃO
físicos e quadros infecciosos, que podem desen-
cadear ou agravar o quadro (RIVITTI, 2005). A alopecia areata é uma doença dermatoló-
A evolução da doença é imprevisível. O ca- gica que se manifesta com a perda total ou par-
belo sempre pode crescer novamente, mesmo cial de pêlos e cabelos, sem uma etiologia co-
que haja perda total. Isso porque a doença não nhecida, mas que está ligada a fatores genéticos
destrói os folículos pilosos, apenas os mantêm e autoimunes. Diversas pesquisas demonstram
inativos pela inflamação. Entretanto, como uma haver uma relação entre a alopecia e situações
doença imprevisível, novos surtos podem ocor- que podem desencadear o estresse emocional,
rer e cada caso é único (RIVITTI, 2005). como a perda de um ente querido, o divórcio ou
O objetivo deste estudo foi avaliar o trata- a perda do emprego (PERINI et al., 1984;
mento da alopecia areata e entender a relação BACKER, 1987; INVERNIZZI et al., 1987;
com o estresse, suas consequências para os indi- COLÓN et al., 1991). De acordo com o
víduos, levando em consideração as suas causas, Ludwig et al., (2006), alguns participantes do
sendo utilizadas bases de dados para estudo. estudo apresentaram níveis baixos de ansie-
dade e depressão e pouco prejuízo na qualidade
MÉTODO de vida, mas que a maioria (60,3%) dos envol-
Trata-se de uma revisão integrativa realizada vidos, apresentaram diagnóstico positivo para
no período de março, por meio de pesquisas nas o estresse.
bases de dados: Pubmed (U.S. National Library

132
A alopecia areata é uma doença autoimune de cabelos, sendo classificada como Alopecia
que não é cicatricial e têm preservação do folí- areata em placa única ou unifocal, Alopecia
culo piloso. As biópsias de pele da pele afetada areata em placas múltiplas ou Alopecia areata
mostram um infiltrado linfocitário dentro e ao multifocal, Alopecia areata ofiásica, Alopecia
redor do bulbo ou na parte inferior do folículo areata total e Alopecia areata universal. Além
piloso na fase anágena (crescimento do cabelo), desses padrões considerados clássicos, ocorre
o que confirma ainda mais a relação com o sis- também apresentações atípicas desta patologia
tema imune e suas células linfocitárias. A alo- (RIVITTI, 2005)
pecia areata geralmente é diagnosticada com Em relação a parte emocional, alguns estu-
base nas manifestações clínicas como a queda dos demonstram que, ainda, não se pode con-
de cabelo e placas, mas a dermatoscopia (instru- cluir se existe ou não uma relação entre o es-
mento muito usado na dermatologia para facili- tresse emocional na gênese da alopecia areata.
tar a visualização) e a histopatologia podem ser Com isso, pesquisadores relatam que a possível
úteis (PRATT et al.,2017). explicação para essa condição estaria relacio-
Com relação aos aspectos clínicos, é rela- nada com a produção de neuromediadores ca-
tado pelos pacientes a presença de área ou áreas pazes de interferir na imunidade do paciente
alopécicas e perda de cabelo. Essa lesão tem (RIVITTI, 2003).
como característica uma placa alopécica lisa, Segundo uma pesquisa realizada por Cama-
sendo a coloração da pele normal atingindo o lionte et al. (2021), muitos pacientes associa-
couro cabeludo ou qualquer área pilosa do ram o início da alopecia areata com os sintomas
corpo. Nessa perspectiva, as lesões podem se de ansiedade, além de relatarem como a doença
apresentar de forma eritematosas e edemato- está relacionada com vários sentimentos como
sasna periferia das placas os pêlos peládicos ou baixa autoestima, insegurança e vergonha.
pêlos em ponto de exclamação, os quais apre- Essa impressão de não estar normal pode
sentam afilados e menos pigmentados no ponto estar relacionada com a ansiedade gerada pela
de emergência do couro cabeludo e com espes- doença pois de acordo com Tohid et al., (2019),
sura maior na extremidade distal (RIVITTI, a ansiedade pode prejudicar a camada externa
2005). protetora da pele, fazendo com que ela fique
A característica inicial da lesão da alopecia mais sensível e facilmente penetrável, além de
areata é geralmente notada por parentes, amigos poder fazer com que um problema de pele já
ou cabeleireiros. Em um pouco mais de 50% dos existente piore, tornando visível a percepção de
casos, o couro cabeludo é a primeira área afe- deformação descrita pelo paciente.
tada; em outros que se a queda de pêlos pode se O surgimento, evolução e tratamento dessa
dar nas sobrancelhas, nos cílios ou em outras enfermidade está associada à percepções psico-
áreas do corpo, inclusive as genitais, sendo ne- lógicas. Sendo a pele o maior órgão no corpo
cessário uma investigação em todas as regiões humano, ela tem uma comunicação e percep-
do corpo que contém pelos (GODINHO et al., ção muito visível da doença. Por essa razão, a
2009). pele é bastante expressiva do que acontece no
Os tipos de Alopecia Areata podem ser defi- meio interno. Dessa maneira, as doenças der-
nidos com base na extensão do acometimento, matológicas são afetadas por sintomas como
no número de lesões, e na topografia das perdas depressão, ansiedade e estresse (MÜLLER et

133
al., 2004; HOFFMANN et al., 2005; LUDWIG tos de vergonha, inaceitabilidade e comprome-
et al., 2008). timento da vida social (VÉLEZ-MUÑIZ,
Alguns trabalhos citam que os pacientes alo- 2019). Assim, é necessário que os dermatolo-
pécicos são identificados ora como neuróticos, gistas trabalhem de perto com os psiquiatras
ora como borderlines, ora como psicóticos, para o manejo adequado da alopecia areata. A
sendo que a alopecia areata está entre as doenças educação do paciente e da família, bem como o
dermatológicas crônicas que acometem a ima- aconselhamento, podem ajudar a lidar com o
gem corporal, podendo levar o paciente a pen- estresse relacionado à doença (RAMOS, 2020).
samentos suicidas (TORALES et al., 2021), se
fazendo evidente a alta influência psicológica CONCLUSÃO
que tal patologia exerce.
A eficácia isolada de técnicas de relaxa- Baseado no exposto, sabe-se que a alopecia
mento, antidepressivos, psicoterapia e terapia areata se trata de uma doença inflamatória au-
no tratamento da alopecia areata são inconsis- toimune e não contagiosa, que se apresenta
tentes. Todavia a hipnoterapia, um tipo de psi- com uma queda dos fios do cabelo nas sobran-
coterapia, demonstrou melhora no crescimento celhas, nos cílios ou em outras áreas do corpo.
capilar e no índice de qualidade de vida em der- É altamente prevalente no Brasil. O surgi-
matologia, com respostas variadas e alta recor- mento, evolução e tratamento dessa enfermi-
rência (RAMOS, 2020). Ademais, grupos de dade está associada à percepções psicológicas.
apoio podem desempenhar um papel essencial Sendo assim apresenta diferentes fatores
no enfrentamento, pois o ato de comparti- que contribuam para esta doença, são eles: fa-
lhar experiências com outras pessoas com a tor autoimune, fatores psicológicos e emocio-
mesma doença pode ser um elo fundamental nais, traumas físicos e quadros infeccioso. No
para aliviar as alterações psíquicas. entanto, observa-se que o fator emocional, es-
Um estudo qualitativo de experiências de teve significativamente ligado à evolução da
pacientes que apresentam alopecia areata de- alopecia areata, apesar de não se apresentar
monstrou diferenças de gênero na experiência como um causador direto da doença. Desse
subjetiva de perda percebida de si mesmo. As modo, o tratamento qualitativo e educação do
mulheres relataram perda de traços em torno de paciente é essencial para alopécia.
sua própria humanidade e, portanto, sentimen-

134
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quality of life of patients with alopecia areata. Skin Ap-
estresse e qualidade de vida. Revista de Psicologia da Ve-
pendage Disorders, v. 5, p. 293–298, 2019
tor Editora, v. 7, p. 69-76, 2006.

135
CAPÍTULO 18

IDENTIFICAÇÃO E
TRATAMENTO DO
CÂNCER DE PELE

ANA CAROLYNA FARIA¹


CARLA AZEVEDO ZAIBAK¹
ESTER ALCÂNTARA MACHADO¹
FABIANA RODRIGUES DA FONSECA¹
HEVELLYN RIBEIRO SILVA¹
JHEMILY LOPES LIMA VILAÇA¹
KAMILLA EDUARDA FERREIRA E SILVA¹
LEANDRO VENÂNCIO VILELA¹
MARIANA SALES QUEIROZ¹
MONIELLY TAWINY MONTEIRO MOURA MENDES¹
PAULA MENDES PEIXOTO¹
TÂMARA PRISCILA ARAÚJO REIS¹
VITÓRIA ISABELA VARGAS SANTOS¹

¹Discente – UNIRV- Universidade de Rio Verde – Goiás.

Palavras-chave: Câncer de pele; Diagnóstico; Tratamento.

136
INTRODUÇÃO identificável, explanar acerca do tratamento e
citar a importância dos testes de prevenção no
O câncer se designa por divisões celulares combate ao câncer de pele.
de forma desordenada, podendo ocorrer de
forma agressiva aos tecidos, deste modo le- MÉTODO
vando ao aumento do número de células de
forma desequilibrada podendo ser causado por Trata-se de uma revisão integrativa reali-
estímulos patológicos ou fisiológicos. Tal pro- zada durante o mês de março de 2022, por meio
cesso anormal, quando ocorre na pele, causa o de pesquisas nas bases de dados Pubmed, Sci-
câncer de pele, doença curável se descoberta ELO e Lilacs. Foram utilizados os descritores:
nos estágios iniciais (FRIGHETTO et al., “neoplasias cutâneas”, “carcinoma basocelu-
2019). lar” e “câncer”. Desta busca foram encontrados
O câncer de pele é o mais predominante no 599 artigos, posteriormente submetidos aos cri-
Brasil, representando cerca de 30% dos tumores térios de seleção.
malignos. Podendo haver fatores externos que Os critérios de inclusão foram: artigos nos
contribuem para esta doença, tais como: expo- idiomas inglês e português; publicados no perí-
sição solar sem devida proteção, lesões crônicas odo de 2012 a 2022 e que abordavam as temá-
na pele, exposição a certos tipos de elementos ticas propostas para esta pesquisa, estudos do
químicos (MOURA et al., 2016). tipo revisão, disponibilizados na íntegra. Os cri-
Em razão de sua elevada incidência, faz-se térios de exclusão foram: artigos duplicados,
necessário o rápido diagnóstico e imediata ini- disponibilizados na forma de resumo, que não
cialização de tratamento adequado, uma vez abordavam diretamente a proposta estudada e
que “o diagnóstico precoce é uma estratégia que não atendiam aos demais critérios de inclu-
que possibilita terapias mais simples e efetivas” são.
(BRASIL, 2010), pois evita “o processo de me- Após os critérios de seleção restaram 17 ar-
dicalização intenso [...] que pode gerar inter- tigos que foram submetidos à leitura minuciosa
venções diagnósticas e terapêuticas excessivas para a coleta de dados. Os resultados foram
e, por vezes, danosas” (BRASIL, 2010 apud apresentados de forma descritiva.
TESSER, 2006 a,b).
Diante disso, faz-se pertinente o reconheci- RESULTADOS E DISCUSSÃO
mento, por meio de exames de prevenção pro-
movidos pelos profissionais de saúde, dos prin- O câncer de pele nada mais é do que um
cipais sinais e sintomas do câncer de pele, os tumor maligno que atinge a pele. É resultado de
quais permitem detectar tanto lesões não pato- divisões celulares que se tornam agressivas
lógicas, mas que no futuro poderiam se tornar para o tecido, pois se diferenciam demais das
patológicas, bem como promovem a identifica- células normais e saudáveis. Esses tumores
ção de lesões patológicas em estado primário, podem ter um aumento controlado ou não,
que com tratamento adequado podem ser cura- sendo que o crescimento controlado é
das e não gerar danos maiores. localizado e o número de células é autolimitado,
Dessa forma, o objetivo deste capítulo é podendo ser causado por estímulos patológicos
propor os fatores que tornam o câncer de pele ou fisiológicos, com poucas alterações em seu

137
DNA, voltando à normalidade assim que Durante o exame físico, o médico deve estar
cessam os estímulos. Os não controlados, em alerta para lesões com características malig-
embora os estímulos cessem, as células nas. Geralmente, as lesões malignas são irregu-
continuam se multiplicando de forma autônoma lares, vascularizadas, com múltiplas cores, lo-
e descontrolada originando uma massa anormal calizadas em áreas de fotodano. A lesão pero-
no tecido denominada câncer in situ e/ou lada e as telangiectasias são as mais típicas do
invasivo (FRIGHETTO et al., 2019). carcinoma basocelular, já as lesões do carci-
De acordo com a exposição aos fatores de noma espinocelular possuem aspectos diversos.
risco pode ser classificado de duas formas: (1) Em casos de suspeita de melanoma utiliza-se a
câncer melanoma, tem origem nos melanócitos regra do A (assimetria da lesão), B (bordas mal
e é mais comum em adultos brancos, pode delimitadas e irregulares), C (cores múltiplas),
aparecer em qualquer parte do corpo e D (diâmetro) e E (evolução) (BRASIL, 2016).
representa apenas 3% das neoplasias malignas Na maioria das vezes o diagnóstico é feito
da pele; (2) câncer não melanoma, é o mais pelo dermatologista, através do exame físico.
frequente no Brasil e de menor mortalidade, é Entretanto, em algumas situações pode ser ne-
mais comum em pessoas com mais de 40 anos cessário a dermatoscopia, exame não invasivo
e apresenta tumores de diferentes tipos, sendo que possibilita a visualização de camadas da
os mais comuns o carcinoma basocelular e o pele que não são vistas a olho nu, assim, auxilia
carcinoma epidermóide (BRASIL, 2020). na avaliação das lesões pigmentadas da pele,
Apesar de ser um dos cânceres com maior garantindo um aumento de precisão no diagnós-
incidência no Brasil e no mundo, o câncer de tico de lesões de pele suspeitas (BRASIL,
pele ainda é uma patologia negligenciada pela 2020).
população leiga. Embora na maioria das vezes Após a identificação, se necessário, deverá
seja um câncer menos agressivo, se não for di- ser realizada a biópsia para confirmação diag-
agnosticado precocemente pode levar à morte. nóstica do câncer de pele (BRASIL, 2020). A
Dessa forma, para a detecção precoce do câncer biópsia é um exame invasivo, normalmente
de pele existem estratégias de diagnóstico e ras- feito sob efeito de anestésico local, que consiste
treamento (INCA, 2016). na retirada de uma pequena área de tecido pre-
Qualquer pessoa pode desenvolver câncer servando a lesão inteira, sendo esta enviada
de pele, entretanto pessoas com fatores de risco para exame anatomopatológico. A escolha do
relacionados com a suscetibilidade pessoal, método da biópsia dependerá do tamanho da
como pele e olhos claros; história pessoal e/ou área afetada e da sua localização no corpo (CE-
familiar de câncer da pele; presença de úlcera ZAR-VAZ et al., 2015).
crônica, queimaduras ou áreas tratadas por ra- Portanto, se sabe que a principal causa do
dioterapia e imunossuprimidos, além de expo- desenvolvimento do câncer de pele é devido à
sição prolongada e repetitiva ao sol são mais alta e prolongada exposição aos raios ultravio-
sensíveis ao carcinoma. Nessa população, é re- letas (UV), além de outras questões que vão in-
comendável a realização do exame físico de fluenciar, por exemplo: cor da pessoa e histó-
pele completo ao menos uma vez por ano rico pessoal ou familiar de câncer de pele, idade
(BRASIL, 2016). avançada. Desse modo, entende-se que a me-

138
lhor forma de prevenção é evitar a longa expo- formas, onde, estas vão depender de vários fa-
sição UV, e mesmo assim há uma grande difi- tores que vão do seu tipo e forma, até localiza-
culdade por parte da população em conseguir ção, diâmetro e invasão de outras estruturas por
aderir às formas de autocuidado (COSTA, exemplo. Entretanto, o padrão ouro de trata-
2012). mento são cirurgias para a retirada do carci-
Atividade como bronzeamento, que leva a noma, porém, como já foi citado, antes da pres-
uma alta exposição de raios UV, é aceita como crição do tratamento, pode ser feita biópsia para
algo benéfico e chamativo pela população femi- análise e confirmação da neoplasia e também a
nina. Apesar disso, é um grupo que se cuida própria avaliação dos fatores da lesão, como:
mais que a masculina na vida diária, isso por- diâmetro maior que 20 mm no tronco ou em ex-
que, culturalmente, o autocuidado ainda é visto tremidades; diâmetro maior que 10 mm e ca-
como uma prática feminina por alguns homens beça ou pescoço; diâmetro maior que 6 mm em
(ROSSI et al., 2018). genitália, mãos ou pés; reincidência; imunossu-
Dito isso, temos a Prevenção Primária e Se- pressão; tipo histológico; e acometimento peri-
cundária, onde, na Primária, orienta-se que se neural (CARMINATE et al., 2021).
faça o uso diariamente de protetor solar, uso de Outras formas de tratamentos, as não cirúr-
chapéus ou bonés para evitar a exposição direta gicas também foram relatadas: Quimioterapia,
da cabeça aos raios solares, uso de roupas com radioterapia, que poderão ser utilizadas depen-
mangas longas ou de guarda-sol e evitar ativi- dendo da etapa em que a enfermidade se encon-
dades ao ar livre entre 10 horas e 16 horas. Ou- tra. Temos também a Crioterapia, técnica em
tro meio importante e eficaz no combate do cân- que será utilizado Nitrogênio líquido o qual será
cer de pele e na conscientização dos autocuida- aplicado diretamente na neoplasia para conge-
dos, são as campanhas, que além de levar infor- lamento e destruição das células anormais
mações sobre o carcinoma, estimulará as pes- (CARMINATE et al., 2021).
soas a se cuidarem diariamente e mudar o es- Junto a Crioterapia, temos também a Tera-
tigma de que a prevenção é algo que deve ser pia Fotodinâmica, modelo terapêutico que foi
feito somente por mulheres (COSTA, 2012). empregado na área dermatológica para o trata-
Já a Prevenção Secundária está relacionada mento de lesões cutâneas, principalmente que-
ao rastreio e diagnóstico precoce da doença, que ratoses actínicas, carcinomas basocelulares su-
vão propiciar num melhor prognóstico para perficiais ou nodulares, onde utiliza-se um
cura além de propiciar muitas das vezes meno- creme sobre a neoplasia, que será ativado por
res problemas estéticos, onde as campanhas fei- uma luz específica causando destruição das cé-
tas vão ser de enorme importância, pois, como lulas indesejadas (CARMINATE et al., 2021).
já falado, elas levarão informações que podem Desse modo, quando a cirurgia não é indi-
ser cruciais na busca precoce da enfermidade cada primariamente, como em idosos ou casos
por exemplo. Esse diagnóstico irá favorecer que não se tem necessidade do procedimento,
num melhor prognóstico, colaborando na con- tais tratamentos são altamente aplicados. Além
tenção do tumor (COSTA, 2012). disso, o paciente será medicado a fim de tratar,
Logo após a identificação do carcinoma, a controlar ou prevenir o avanço da doença
escolha do tratamento poderá ser feita de várias (CARMINATE et al., 2021).

139
CONCLUSÃO soal ou familiar de parentes que já tiveram cân-
cer da pele, exposição ao sol e aos raios ultravi-
Baseado no exposto, sabe-se que o câncer se oleta, além da exposição a bronzeamento artifi-
origina através de divisões celulares de forma cial.
desordenada e quando ocorre nas camadas da Desse modo, é de suma importância a cons-
pele surge o câncer de pele a partir dos melanó- tatação precoce do diagnóstico e inicialização
citos. Esse câncer é altamente prevalente no de tratamento adequado, visto que o diagnós-
Brasil, porém na maioria dos casos não menos tico precoce é uma estratégia que possibilita te-
agressivo, mas se não diagnosticado precoce- rapias mais simples e efetivas.
mente pode acarretar consequências à saúde do Sugere-se a realização de estudos e desen-
indivíduo como a morte. volvimento de programas que visem a melhoria
Todo indivíduo pode desenvolver esse tipo da detecção precoce dos principais sinais e sin-
de câncer, porém existem alguns fatores que tomas, como também a promoção de exames de
predispõe o seu surgimento, sendo que os prin- rastreamento para prevenção do câncer de pele
cipais são pele e os olhos claros, história pes- no Brasil.

140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CARMINATE, C.B. et al. Detecção precoce do câncer


de pele na atenção básica. Revista Eletrônica Acervo Sa-
úde, v. 13, n. 9, p. e8762-e8762, 2021.

141
CAPÍTULO 19

RISCOS E IMPACTOS
PSICOLÓGICOS DA
HARMONIZAÇÃO FACIAL

GABRIELA RIBEIRO DE SOUZA¹


VITOR MARTINS VIEIRA¹

¹Acadêmicos de Medicina da Universidade de Santo Amaro, São Paulo

Palavras-chave: Harmonização facial; Padrão de beleza; Rejuvenescimento facial.

142
INTRODUÇÃO retando muitas vezes em alterações físicas ne-
gativas como a deformação, a assimetria ou o
A procura intensa por procedimentos estéti- enfraquecimento muscular local que pode gerar
cos é um reflexo dos padrões de beleza impos- uma flacidez da pele (VERÍSSIMO et al.,
tos pela sociedade e normalizados pela mídia ou 2012).
da busca pelo rejuvenescimento (COELHO et O objetivo deste estudo é analisar os
al., 2017). Visto isso, houve um considerável principais motivos pela crescente procura pela
crescimento no número de técnicas disponíveis harmonização facial e suas principais
e um aumento significativo na demanda de in- consequências na autoestima dos pacientes.
tervenções estéticas que sejam eficazes, rápidas
e que apresentem resultados praticamente ime- MÉTODO
diatos.
Um dos procedimentos mais procurados Trata-se de uma revisão narrativa de litera-
atualmente é a harmonização facial, que con- tura com buscas realizadas nas bases de dados
siste em um conjunto de técnicas visando uma Pubmed e SciELO no período de 10 anos. Fo-
maior simetria entre os elementos do rosto, ram utilizados os descritores: "Facial Harmo-
sendo possível realçar alguns traços e melhorar nization", "Beauty Standards", "Facial Rejuve-
aspectos de expressões desequilibradas inclu- nation" e "Aesthetic self-esteem" em buscas in-
indo marcas de envelhecimento (SOUSA, dependentes e combinadas.
2007). Os critérios de inclusão foram: artigos nos
A facilidade para encontrar profissionais idiomas português e inglês; publicados no perí-
que façam tal procedimento é imensa, desper- odo de 2012 a 2022 e que abordavam as temá-
tando o interesse em um maior número de pes- ticas propostas para esta pesquisa, estudos do
soas e refletindo muitas vezes, quando reali- tipo (revisão, meta-análise), disponibilizados
zado com um profissional capacitado, em um na íntegra. Os critérios de exclusão foram: arti-
impacto positivo, pois pode gerar uma melhora gos duplicados, disponibilizados na forma de
na autoestima do paciente acompanhada de uma resumo, que não abordavam diretamente a pro-
supervalorização de sua aparência e de uma me- posta estudada e que não atendiam aos demais
lhora na autoimagem (FERRAZ & SER- critérios de inclusão.
RALTA 2007). Após os critérios de seleção restaram 14 ar-
Entretanto, se o procedimento for realizado tigos que foram submetidos à leitura minuciosa
com um profissional descapacitado, desrespei- para a coleta de dados. Os resultados foram
tando os limites harmônicos da anatomia do pa- apresentados em (tabelas, gráficos, quadros)
ciente ou até mesmo com erros na técnica, o re- ou, de forma descritiva, divididos em categorias
sultado pode ser diferente do esperado e gerar temáticas abordando: padrão de beleza, cultura
consequências psicológicas extremamente ne- e imagem corporal, cirurgia plástica na autoes-
gativas, como um distúrbio de imagem acom- tima, o consumo de cirurgia estética, autoes-
panhado de uma dificuldade na autoaceitação. tima e autoimagem, a influência dos padrões de
Além disso, a maioria das técnicas não é dura- beleza na autoestima de jovens, transtorno dis-
doura, podendo causar um vício danoso ao pa- mórfico corporal.
ciente que sempre repete o procedimento, acar-

143
RESULTADOS E DISCUSSÃO público, de forma que o obtenha a felicidade
(CASTRO, 2007).
Atualmente, verifica-se uma busca inces- Os procedimentos estéticos e a indústria de
sante por um padrão de beleza que foram cria- cosméticos também surgem como uma alterna-
dos de acordo com a época, mídia, cultura e a tiva em relação ao rejuvenescimento, torna-se
sociedade, causando nas pessoas uma preocu- uma estratégia para manter a aparência física
pação excessiva com o corpo e refletindo na jovem, retardando o envelhecimento, processo
construção da autoimagem de cada um. As mu- intrínseco ao ser humano (COELHO et al.,
danças e interações sociais gera uma reavalia- 2017). O aumento da longevidade, consequen-
ção corporal e insatisfação com a própria apa- temente implicou as alterações do envelheci-
rência. Dessa forma, o investimento no corpo é mento trazendo com isso medidas importantes
uma tentativa de alcançar o corpo ideal, corri- relativas à prevenção das diversas dessas trans-
gindo o imperfeito e modificando a aparência formações, isso implica na busca dessas alter-
(COUTO, 2005). nativas de tratamento, evidenciando a área da
A baixa autoestima tem relação com a ima- estética, garante a aparência cada vez mais jo-
gem corporal, bem como, com a relação à atra- vem, com mais qualidade de vida e auto estima
ção física e expectativas culturais com o corpo, (YAMASAKI et al., 2013).
relacionando os comportamentos com a insatis- As mulheres têm-se mostrado mais propen-
fação, levando a ter efeitos devastadores na sa- sas do que os homens a considerar a cirurgia es-
úde psicológica e física do indivíduo, por trás tética, isso é explicado pela maior pressão soci-
disso tem as angústias, rejeições e transtornos ocultural a que as mulheres estão sujeitas para
psicológicos devido às pressões sociais para al- atingir os ideais de atratividade física e sexual
cance desse padrão. Por esse fator, a demanda (CASOTTI et al., 2008).
por procedimentos estéticos cresce desenfrea- O bem-estar é essencial para a felicidade do
damente, na tentativa de se adequar aos padrões ser humano, quando o indivíduo se torna plena-
midiáticos e sociais (ALVES et al., 2009). mente realizado com relação a sua boa autoes-
As mídias disseminam a ideia do corpo per- tima, ele se torna alguém capaz de atingir metas
feito padronizado incentivando a busca por mé- refletindo em todos os âmbitos da sua vida
todos que tragam a satisfação pessoal através (EGITO, 2010). Por isso, a estética contribui
destes ideais estéticos (ARAÚJO et al., 2020). muito para que as pessoas se sintam mais con-
O sucesso das redes sociais no século 21 reflete fiantes, socializáveis, equilibradas e aumenta o
em um novo veículo de informações em massa, amor próprio, pois isso se diz respeito ao bem-
com grande potencial para ser o principal mé- estar físico, psíquico e emocional do paciente
todo de propagação da busca pela beleza e per- (FERRAZ & SERRALTA, 2007).
feição, divulgação de procedimentos e cirurgias A problemática do procedimento estético
estéticas, cosméticos que prometem a transfor- está na busca desenfreada pela sociedade, que é
mação corporal desejada. Os conhecidos influ- reflexo de uma grande influência midiática em
encers são os maiores disseminadores dessas que as pessoas se tornarem inseguras sobre os
novas técnicas para atingir os padrões ideais, próprios corpos, se submetendo a procedimen-
como solução para as insatisfações pessoais do tos invasivos sem ser pela própria vontade, mas

144
sim para entrar em padrões da sociedade. Por- na maioria dos casos é o período pós procedi-
tanto, torna-se essencial uma postura responsá- mento, pois não é nada grave e o máximo que
vel e ética de todos os profissionais do campo pode acontecer em casos realizados por profis-
de estética, visando o esclarecimento sobre as sionais qualificados é o surgimento de alguns
possíveis consequências do excesso nessa hematomas e o inchaço das regiões nas quais o
busca para que não cause prejuízos ao bem-es- procedimento foi feito, algo extremamente nor-
tar dos pacientes (SOUSA, 2007). mal e que desaparece ao longo do tempo.
O transtorno dimórfico corporal (TDC) é A harmonização tende a ser um procedi-
uma condição psicodermatológica observada mento multiprofissional e orientado por uma
em clínicas de dermatologia, estética e cirurgia equipe de diversos profissionais, como derma-
estética, por isso os profissionais que realizam tologista, cirurgião plástico, dentista, fisiotera-
procedimentos estéticos devem estar familiari- peuta dermatofuncional, dentre outros.
zados com os traços comuns da TDC já que Algumas das técnicas mais utilizadas para
pode afetar significativamente o curso e o prog- uma harmonização facial são:
nóstico dos tratamentos estéticos e desenvolver 1. Preenchimento do rosto: Normalmente
um vínculo terapêutico entre profissional e pa- é realizado com ácido hialurônico e possui o ob-
ciente (VERÍSSIMO et al., 2012). Trata-se de jetivo de aumentar o volume de algumas regi-
um distúrbio mental caracterizado pela preocu- ões, melhorar contornos e reestruturar a face. É
pação com um defeito imaginado, que não são muito utilizado em locais como as maçãs do
perceptíveis para outras pessoas (ou mínimos), rosto, o queixo e os lábios e também pode ser
no entanto associa-se a vergonha, depressão e usado para nivelar certas regiões com sulcos,
má qualidade de vida (MORIYAMA, 2003). rugas e para preencher uma olheira profunda. O
A harmonização facial é um conjunto de di- procedimento na maioria das vezes é feito com
ferentes procedimentos estéticos e é indicado uma agulha sem ponta chamada de microcânula
para aqueles que desejam melhorar a aparência que implanta o produto por uma abertura late-
do rosto, pois tem como objetivo proporcionar ral, fornecendo um resultado mais uniforme e
um maior equilíbrio entre determinadas regiões natural e possui uma duração de até 20 meses
da face, como o queixo, nariz, boca, região ma- sendo necessárias algumas sessões de manuten-
lar, entre outras. Além disso, o procedimento ção
promove um maior alinhamento entre os dentes 2. Aplicação de toxina botulínica: Esse
e as características da pele, oferecendo uma procedimento é realizado para corrigir ou le-
maior harmonia ao rosto do paciente junta- vantar o ângulo das sobrancelhas ou para suavi-
mente a um realce das características já existen- zar rugas e marcas de expressão. A toxina botu-
tes (AMERICAN SOCIETY OF PLASTIC línica é utilizada para fazer o “botox” (nome
SURGEONS, 2015). pelo qual é popularmente reconhecido) pois é
É importante mencionar que algo muito uma toxina que provoca o relaxamento muscu-
atrativo no procedimento citado é a velocidade lar da região e acaba prevenindo a formação de
na qual os resultados aparecem, pois, muitas rugas.
técnicas oferecem mudanças imediatas e o re- 3. Lifting facial: o lifting facial para paci-
sultado final do conjunto ocorre em cerca de 15 entes em busca de harmonização facial é nor-
a 30 dias. Além disso, uma coisa muito positiva malmente realizado de forma não cirúrgica jus-

145
tamente para proporcionar um resultado mais tros), substâncias abrasivas (dermoabrasão, pe-
rápido. Existem algumas técnicas para realizar eling de cristal, entre outras) ou laser. O princi-
esse procedimento dessa forma, mas uma das pal objetivo do procedimento é causar uma des-
mais recentes e uma das mais utilizadas atual- camação leve da camada mais externa da pele,
mente ocorre por meio de um ultrassom micro- estimulando uma renovação celular e conse-
focado que é aplicado no rosto gerando impul- quentemente suavizando linhas de expressão e
sos curtos que aquecem desde camadas superfi- uniformizando a pele.
ciais até as camadas mais profundas da pele Existe a evidência por estudos da área de
promovendo uma maior produção de colágeno psicologia de fatores intrapessoais que predi-
e elastina e fornecendo um resultado parecido zem a aceitação e interesse em cirurgia estética
com o da cirurgia plástica tradicional, mas sem como baixa autoestima, busca por aceitação so-
a necessidade de cortes. Outra técnica muito cial e correção/eliminação dos aspectos negati-
utilizada ocorre por meio da inserção de um fio vos da imagem corporal. A imagem corporal e
chamado de Silhouette composto por ácido po- a autoestima estão muito relacionadas com as
lilático que promove a sustentação da face. Esse cirurgias estéticas, pois são os fatores essenciais
fio é aplicado na pele conectado a alguns cones para sua procura. As percepções, pensamentos
responsáveis por tracionar a derme e proporci- e sentimentos de cada indivíduo em relação ao
onar o tão desejado efeito lifting, elevando as seu próprio corpo se desenvolvem de acordo
sobrancelhas e definindo melhor o contorno e com suas experiências pessoais ao longo da
as áreas atingidas por flacidez. Além de auxiliar vida através da sua autoavaliação da sua apa-
no aumento do volume da face, os fios ajudam rência, forma e peso que pode gerar uma insa-
na produção de novas fibras de colágeno, man- tisfação corporal (FERRAZ & SERRALTA,
tendo a pele mais firme e com uma aparência 2007).
mais jovial sem a necessidade de uma cirurgia É de extrema importância a intervenção psi-
e em uma única sessão que tende a durar 24 me- cológica na cirurgia estética visto que essa ex-
ses. A técnica pode ser feita em regiões como periência confere uma expectativa psicológica
malar, pescoço, sobrancelha e bochechas. e psicossocial positiva, porém quando não ex-
4. Microagulhamento: A técnica de micro- perienciam resultados positivos gera frustração
agulhamento ou indução percutânea de colá- e manifestação de perturbações, como por
geno por agulhas (ICA) consiste em promover exemplo, depressão clínica, perturbação dis-
microlesões na pele que aumentam a vasodila- mórfica corporal, baixa autoestima, ansiedade,
tação e estimulam a produção de colágeno além que pode contribuir negativamente para a saúde
de reduzir a pigmentação de manchas, melhorar emocional do paciente. Por isso, constata-se a
o aspecto de rugas, linhas de expressão e cica- importância e a necessidade da realização de
trizes de acne e auxilia no rejuvenescimento fa- uma avaliação psicológica prévia à cirurgia, re-
cial acompanhado do clareamento da pele. alizada num primeiro momento pelo cirurgião e
5. Peeling: O peeling consiste em uma posteriormente por um psicólogo, para que haja
descamação provocada da pele que pode ser a garantia de que o paciente não apresenta uma
feita por meio de um ácido (ácido acetil salicí- contraindicação cirúrgica (MENINGAUD et
lico, ácido mandélico, ácido retinóico, entre ou- al., 2003).

146
CONCLUSÃO brio nas regiões do rosto, que devem ser reali-
zadas com profissionalismo. A estética contri-
Levando em consideração os aspectos apre- bui para que as pessoas se sintam mais confian-
sentados, conclui-se que a busca desenfreada tes, sociáveis e aumenta o amor próprio, por
por procedimentos estéticos atualmente se deve isso se diz respeito ao bem-estar. A problemá-
à tentativa de se adequar aos padrões midiáticos tica dessa pauta está em se submeter a procedi-
e sociais de padrão de beleza que causa preocu- mentos invasivos apenas para entrar em pa-
pação com a autoimagem e influência na auto- drões de beleza da sociedade, por isso é de ex-
estima. Além disso, é uma alternativa em rela- trema importância a responsabilidade e ética
ção ao rejuvenescimento, uma estratégia para dos profissionais para que não haja prejuízos no
manter a aparência física jovem. A harmoniza- bem-estar dos pacientes, visto que pode gerar
ção facial é um dos procedimentos estéticos in- como por exemplo o transtorno dismórfico cor-
dicados para a melhora da aparência do rosto, poral, ansiedade, baixa autoestima e depressão
que é um procedimento multiprofissional com clínica.
suas técnicas que proporcionam maior equilí-

147
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, D. et al. Cultura e imagem corporal. Motrici- EGITO, J.E. Auto-estima e auto-imagem, 2010.
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ção das mulheres. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. Gestão em Sistemas de Saúde, v. 2, n. 2, p. 30-52, 2013.

148
CAPÍTULO 20

PEELING QUÍMICO COMO


TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO
NO MELASMA:
REVISÃO DE LITERATURA

MATHEUS MOREIRA BRAÚNA¹


ANNA SOFIA MIRANDA LOIOLA ARAÚJO¹
CAMILA RIBEIRO DANIEL²

Discente – Fisioterapia da Universidade Federal Delta do Parnaíba - Piauí


1

Docente – Fisioterapia da Universidade Federal Delta do Parnaíba - Piauí


2

Palavras-chave: Melasma; Peeling químico; Hiperpigmentação.

149
INTRODUÇÃO do agente despigmentante. Como resultado, ob-
serva-se descamação da pele, renovação celu-
O melasma é uma hiperpigmentação de cor lar, melhora na textura cutânea, com efetividade
amarronzada, simétrica, com contornos irregu- e ausência de citotoxicidade (MASCAGNA et
lares e com demarcação dos seus limites bem al., 2015). O tratamento citado é o que oferece
nítidos que ocorrem em áreas expostas ao sol melhores resultados dentre os apresentados no
(MONTEIRO, 2012) e em regiões centrais da mercado, por conseguir suavizar a textura cutâ-
face como testa, bochechas, lábios superiores, nea e remover as estruturas exteriores danifica-
nariz e mandíbula. Afeta principalmente mu- das (CHAVES & PEREIRA, 2018).
lheres grávidas por causa do desequilíbrio hor- O objetivo deste estudo foi analisar o
monal decorrente do período puerperal, pode tratamento fisioterapêutico do melasma por
ser gerado por uma exposição excessiva à radi- intermédio de peelings químicos.
ação UV, fatores genéticos, uso de contracepti-
vos orais e terapias de reposição hormonal (ER- MÉTODO
BIL et al., 2007). Além disso, as formas de tra-
tamento encontrados na literatura são o laser, Trata-se de uma revisão de literatura reali-
peelings químicos com o uso de ácidos em mo- zada no período de janeiro a março de 2020, por
noterapia ou a combinação de algum deles, uso meio de pesquisas nas bases de dados: Pubmed,
da luz intensa pulsada, e é sugerido ainda o uso Lilacs, Cochrane, Web of science, SciELO e
de cremes tópicos (KANG & ORTONNE, Science direct. Foram utilizados os descritores:
2010). Melasma; Hyperpigmentation; Chemexfolia-
O peeling químico surge como indicação tion; Glycolic Acid; Trichloroacetic Acid.
para fins estéticos, como o tratamento de man- Desta busca foram encontrados 58 artigos, pos-
chas, rugas finas, cicatrizes dentre outros (YO- teriormente submetidos aos critérios de seleção.
KOMIZO et al., 2013). O peeling tem como Os critérios de inclusão foram: artigos nos
função principal promover uma renovação ce- idiomas inglês, português e espanhol, publica-
lular por meio da natureza ácida dos seus com- dos no período de 2016 a 2020 e que abordavam
postos, que resulta em uma descamação da pele as temáticas propostas para esta pesquisa, estu-
e estimula uma nova modelagem aos tecidos dos clínicos randomizados e/ou relatos de ca-
epidérmicos, aumento da deposição de colá- sos, que utilizassem apenas ácidos superficiais,
geno e um acréscimo no volume da pele (BA- disponibilizados na íntegra. Os critérios de ex-
GATIN et al., 2009). clusão foram: artigos duplicados, disponibiliza-
Dentre as terapias oferecidas pela fisiotera- dos na forma de resumo, artigos que utilizavam
pia dermatofuncional para o tratamento do me- hidroquinona como método terapêutico, que as-
lasma, está o peeling químico que corresponde sociavam a utilização de recursos termofotoelé-
a uma aplicação tópica de um agente dermoa- tricos e que não abordavam diretamente a pro-
brasivo que culmina em lesão dérmica ou epi- posta estudada e que não atendiam aos demais
dérmica, dependendo do tipo e da intensidade critérios de inclusão.
do agente químico utilizado, sendo que quanto Após os critérios de seleção restaram apenas
maior a concentração do ácido e menor seu pH, 3 artigos que foram submetidos à leitura minu-
mais rápida e profunda será a permeabilidade ciosa para a coleta de dados. Os resultados fo-

150
ram apresentados em tabela e de forma descri- A análise entre os três artigos selecionados
tiva. permitiu resultados proficientes acerca da eficá-
cia de diferentes modalidades presentes no tra-
RESULTADOS E DISCUSSÃO tamento do melasma por intermédio do peeling
químico. Conforme exposto na Tabela 20.1.

Tabela 20.1 Síntese dos resultados obtidos

Autor/Ano País Intervenção Repercussões clínicas


Ácido tricloroacético O uso do ácido tricloroacético em con-
20% + Ascorbil de junto com o ascorbil fosfato de magné-
Murtaza et al., (2016). Paquistão magnésio versus Ácido sio se mostrou mais eficaz do que o
tricloroacético isolado ácido tricloroacético como tratamento
único do melasma
A combinação do peeling de ácido gli-
Ácido azelaico em
cólico com o uso contínuo do ácido
creme 20% (2x/dia)
azeláico em creme demonstrou um de-
Dayal et al., (2016). Índia versus Ácido glicólico
sempenho melhor em comparação ao
+ ácido azeláico 20%
grupo que usou apenas o ácido aze-
em creme
láico.
Ácido glicólico 30% + O estudo revelou que a associação da
Vitamina C (mesotera- vitamina C com o uso do ácido glicó-
Balevi et al., (2017). Turquia
pia) versus Ácido gli- lico mostrou uma melhor coloração da
cólico 30% região hiperpigmentada.

Como resultado da nossa pesquisa, identifi- epidérmicos e dérmicos e de não causar toxici-
camos estudos que compararam o efeito do pe- dade independentemente da cor da pele, sendo
eling químico combinado a outros ácidos com a assim, de valor significativo para o tratamento
utilização de ácidos isolados no tratamento fisi- de hiperpigmentações, agindo da camada mais
oterapêutico do melasma. A partir dos resulta- superficial à mais extensiva para o enfrenta-
dos obtidos, observou-se que o uso de peelings mento do melasma (CUNHA et al., 2020; FLO-
associados a outros componentes químicos de- RENTIN et al., 2020; FREITAS et al., 2020).
monstraram efeitos melhores do que os pee- De acordo com Cunha et al., (2020), o ácido
lings químicos com os ácidos isolados. Esses glicólico é usualmente utilizado a 10%, porém,
componentes podem ser ascorbil fosfato de essa porcentagem pode ser alterada de acordo
magnésio (MURTAZA et al; 2015), como com a sensibilidade da pele de cada paciente,
ácido azeláico (DAYAL et al., 2016) e vitamina sendo assim, o estudo de Balevi et al., (2017),
C (BALEVI et al., 2017). utilizou o ácido glicólico a 30%, essa porcenta-
O ácido glicólico, utilizado nos estudos de gem caracteriza o peeling como muito superfi-
Balevi et al., (2017), é um agente clareador hi- cial, segundo Yokomizo e colaboradores
drofílico, além de agente esfoliante, que propor- (2013). E, ainda, Cunha et al., (2020), indicam
ciona vários benefícios a pele, como o aumento a utilização de vitamina C para potencializar a
da hidratação, da elasticidade, da maciez, da sua ação, o que corrobora com os resultados do
uniformidade, além da regeneração de tecidos estudo de Balevi et al., (2017).
151
Outra importante substância utilizada no rotineiramente já são utilizadas na terapia dessa
tratamento dos melasmas é o ácido kójico, enfermidade podem ter seus efeitos potenciali-
alcançado após a fermentação de carboidratos zados, o que consequentemente trará mais qua-
como a glicose. Estudos de Cunha & Silva lidade de vida aos pacientes.
(2020) destacam sua eficácia na inibição da No entanto, a quantidade de artigos encon-
melanina e na quebra de íons de cobre, trados torna nossa pesquisa deficitária, sendo
bloqueando assim a ação da tirosinase e importante esclarecer que muitos artigos foram
consequentemente eliminando as manchas excluídos por abordarem o uso de peeling pro-
além de não causar irritações e fundo, enquanto a fisioterapia apenas atua com
fotossensibilização. Seu uso pode ser peeling superficial. Além disso, outro ponto
combinado a outros ácidos, mas nunca a que pode esclarecer os poucos resultados obti-
despigmentantes. dos é a escolha da nossa metodologia. Dessa
Além desses achados, no estudo de Murtaza forma, é necessário que mais pesquisas sejam
et al. (2015) foi orientado aos participantes que realizadas acerca deste tema, afim de garantir
fizessem uso de protetor solar com FPS 60, maiores evidências científicas no que concerne
importante auxiliador na prevenção e proteção a utilização do peeling químico superficial as-
cutânea contra os raios solares UVA e UVB. Os sociado a ácidos no tratamento fisioterapêutico
filtros solares achados em maior evidência no do melasma, bem como os protocolos a serem
mercado são do tipo orgânico e agem de forma aplicados, para proporcionar um tratamento
a transformar a energia luminosa em térmica efetivo e, consequentemente, maior qualidade
por meio do contato com os raios ultravioletas de vida, aos pacientes.
(UV) (LUPI et al., 2009). Dessa forma atesta- Desta forma, infere-se que o peeling quí-
se a impôrtancia da associação desses produtos mico sendo feito de forma superficial é um
logo após o tratamento de dermoabrasão, visto ótimo tratamento abrangido pela fisioterapia
que esse procedimento remove a camada dermatofuncional. Nos achados da literatura
superficial cutânea expondo a pele verificou-se que a monoterapia não é tão efici-
sensibilizada. ente quanto o uso de ácidos combinados. Por-
tanto, sugere-se que as futuras pesquisas acerca
CONCLUSÃO do tema abordado sejam voltadas para estudo
clínico randomizado usando o peeling químico
Estes achados contribuem de forma pontual como intervenção e podendo associá-lo a outros
para a importância do uso de substâncias auxi- recursos da fisioterapia dermatofuncional.
liares no aumento da taxa de êxito dos tratamen- Além disso, sugere-se pesquisas voltadas ao
tos do melasma por intermédio do peeling quí- custo benefício dessa e de outras técnicas para
mico, demonstrando que substâncias as quais o tratamento dessa discromia.

152
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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peeling de diamante nas manchas senis na região dos bra-

153
CAPÍTULO 21

USO DA LASERTERAPIA PARA


REDUÇÃO DE CICATRIZ
HIPERTRÓFICA

MARIA EDUARDA GUELFI PINTO ¹


CAMILA MELO DE FREITAS2
EMILY SANTOS DA SILVEIRA3
LETÍCIA JACON VICENTE2

1
Discente -Medicina na Universidade de Marília - São Paulo
2
Discente – Medicina na Faculdade Pitágoras de Medicina Eunápolis - Bahia
3
Discente –Medicina na Universidade Anhembi Morumbi - São Paulo

Palavras-chave: Cicatriz hipertróficas; Laser; Dermatologia.

154
INTRODUÇÃO na medicina humana. Nesta última, o rato tem
sido utilizado para estudar diferentes aspectos
A cicatriza- envolvidos no processo de cicatrização cutânea,
ção de feridas ocorre em três eta-pas: a pri- sendo de grande eleição como modelo experi-
meira, inflamação; a segunda, formação de te- mental pela facilidade de manejo (ANDRADE
cido de granulação; a terceira, remodela- et al., 2014).
ção. Assim qualquer alteração em uma das fa- A laserterapia no espectro infravermelho
ses pode resultar em cicatriz patológica, como gera fototermólise, causando indução enzimá-
cicatriz hipertrófica e queloide. Na verdade, a tica, onda de pressão e onda térmica (SOUSA
remodelação e a degradação da matriz extrace- et al., 2021). Ela contribui para o tratamento da
lular estão ligadas às enzimas denominadas de cicatriz hipertrófica pois aumenta a absorção de
metaloproteinases (MMP). O desbalanço da ex- metabólitos pela alteração na permeabilidade
pressão das MMP está vinculado a cicatri- na membrana plasmática das células. Além
zes patológicas. As citocinas e fato- disso, o laser ocasiona a degradação do colá-
res de crescimento têm papel na regulação da geno e apoptose dos fibroblastos provocando a
expressão das MMP em fibroblastos (KAREN redução da espessura cicatricial, a partir da des-
& BRANDÃO, 2020). truição do colágeno excessivo (BATISTA et
As cicatrizes hipertróficas muitas vezes são al., 2019). Neste capítulo propõe-se como obje-
confundidas com queloides, mas elas são con- tivo principal revisar a literatura científica
ceituadas como desor- acerca da melhora dos aspectos gerais da cica-
dens fibroproliferativas em que há deposição triz hipertrófica com a utilização de laser.
excessiva de proteínas da matriz extracelular Como objetivo específico, o artigo visa analisar
(BATISTA et al., 2019). Pode-se dizer que são qual é a principal causa de cicatriz hipertrófica
cicatrizes elevadas, já que possuem um cresci- e se há alguma terapia associada ao laser e se
mento acima da superfície da epiderme, sempre essa melhora a cicatriz hipertrófica, desta forma
respeitando os limites da ferida original. Elas resumir os avanços de tecnologias para inter-
costumam se apresentar com caráter eritema- venção em cicatrizes traumáticas.
toso, pruriginoso, com flexibilidade diminuída
(endurecida) e sensibilidade elevada (dolorosa) MÉTODO
(MONTEIRO & SILVA, 2021).
É importante frisar, que a cicatriz queloide O presente capítulo trata-se de uma revisão
é uma condição caracterizada pela deposição sistemática da literatura, dando prioridade às
excessiva de colágeno na derme e no tecido publicações no período de 2012 a 2021, acessa-
subcutâneo. As formações densas de colágeno das no final de janeiro e início de fevereiro de
podem ser denominadas como "light amplifica- 2022. As buscas das fontes bibliográficas foram
tion by stimulated emission of radiation". A pa- realizadas por meio da base de dados Pub-
lavra laser é consagrada pelo uso e define fonte med, utilizando como descritores: “Cicatriz hi-
de luz monocromática, intensa, coerente e coli- pertrófica” AND “Laser” a partir dos Descrito-
mada, cuja emissão de radiação se faz pelo es- res em Ciências da Saúde (DeCS). Como crité-
tímulo de campo externo, com aplicações vari- rio de inclusão foi definido: a inclusão de en-
adas e crescentes na indústria, na engenharia e saios clínicos randomizados e meta-análise,

155
com os textos científicos em inglês, espanhol e por meio da leitura do título foram excluídos 25
português e os critérios de exclusão foram: textos, pelo resumo excluiu-se 10 artigos e 5
aqueles artigos que falavam sobre cicatriz do textos científicos foram excluídos pela leitura
tipo queloide. do artigo completo.
Este capítulo foi guiado pela pergunta de Desse modo, foram selecionados 9 artigos
pesquisa elaborada a partir da estratégia PICO, para serem adicionados ao quadro e classificou
julgando por “P” (paciente) como pacientes que eles de acordo com ano de publicação, resul-
possuem cicatriz hipertrófica, “I” (intervenção) tado, conclusão, o que causou a cicatriz e se o
a utilização de laser no tratamento da cicatriz, laser foi associado a alguma terapia.
“C” (controle) não se aplica e “O” (resultado)
eficácia do laser na melhora do aspecto da ci- RESULTADOS
catriz. Sendo assim, a pergunta norteadora deste
trabalho será: “A utilização do laser gerou uma No Quadro 21.1 abaixo estão colocadas as
melhora nos aspectos gerais da cicatriz?” informações referentes aos 9 artigos
Após a busca na plataforma Pubmed e a selecionados com as seguintes informações:
aplicação dos critérios de inclusão totalizou 49 ano de publicação, resultados, o que causou a
artigos para serem revisados, em seguida a clas- cicatriz e se o laser foi associado a alguma
sificação dos artigos aconteceu em três etapas: terapia e conclusão.

Quadro 21.1 Tabela com a seleção dos artigos


Autores/Ano Resultados Cicatriz Associado a al- Conclusão
proveniente de guma outra
qual lesão terapia ou trata-
mento
WAIBEL, J.S. et Segundo o escore de Cicatrizes hi- Administração A terapia combinada na
al., 2013 quartil de Manchester pertróficas de- logo após o laser mesma sessão com a
para avaliar melhorias correntes de de corticoide, entrega assistida por laser
na discromia, hipertro- queimaduras, sendo ele o aceto- fracionado ablativo de
fia, textura e melhora cirurgias ou le- nido de triancino- acetonido de triancinolona
geral. A textura recebeu sões lona na oferece potencialmente
a maior pontuação traumáticas concentração de uma terapia combinada
sendo que de 15 10 ou 20 mg/mL. eficiente, segura e eficaz
pacientes 12 deles para cicatrizes cutâneas
receberam pontuação 3 hipertróficas e restritivas
de melhoria. desafiadoras.
Um paciente ganhou
pontuação entre 0,50 e
0,99. Um ganhou uma
pontuação entre
1,00 e 1,49, seis entre
2,00 e 2,49 e sete
sujeitos obtiveram a
pontuação mais alta de
3,00.

156
HULTMAN, Durante 2011, tratamos Queimaduras O laser de co- As terapias a laser
C.S. et al., 2013 147 pacientes (idade rante pulsado foi melhoram sig-
média, 26,9 anos; usado para nificativamente tanto os
média de TBSA, prurido e eritema, sinais quanto os sintomas
16,1%) em 415 sessões enquanto o laser de cicatrizes hipertróficas
(2,8 sessões/paciente), fracionado de de queimaduras, medidos
incluindo laser de CO2 foi usado por instrumentos objetivos
corante pulsado (n = para rigidez e e subjetivos.
327) e CO2 (n = 139), textura anormal.
média superfície de 83 Só foi utilizado
cm. Os tratamentos laser porém dois
ocorreram 16 meses tipos.
(mediana) e 48 meses
(média) após a queima-
dura. A Escala de Cica-
trizes de Vancouver di-
minuiu de 10,4 (DP,
2,4) para 5,2 (1,9) (P <
0,0001). UNC Scar
Scale diminuiu de 5,4
(2,5) para 2,1 (1,7) (P
<0,0001). O tempo mé-
dio de seguimento foi
de 4,7 meses.
VERHAEGHE, O PhGA não encontrou Não especifi- Não associava a Neste estudo, o PhGA
E. et al., 2020 diferença estatistica- cava a causa da nenhuma terapia. cego não pôde confirmar a
mente significativa lesão eficácia clínica do laser
entre o lado controle fracionado não ablativo de
tratado e não tratado de 1540 nm no tratamento de
18 pacientes, embora cicatrizes hipertróficas,
tenha havido diferença mas o tratamento é seguro,
significativa no PGA 1 e os pacientes julgaram
(p = 0,006) e 3 (p = que a parte tratada
0,02) meses após o apresentou melhor
último tratamento aparência global.
(Wilcoxon assinado
teste de classifica-
ção). Os pacientes
experimentaram dor
moderada durante o
tratamento e eventos
adversos leves.
OUYANG, H.W. O escore VSS total, as- Queimaduras Grupo controle O PDL de largura de pulso
et al., 2018 sim como o escore de por incêndio e tratado com PDL ajustável de 595 nm
melanina, altura, vascu- líquidos quen- e o grupo trata- combinado com o laser
larização, flexibilidade tes, arranhões e mento foi tratado fracionado de CO2 fracio-
em ambos os grupos, contusões e com laser de CO2 nado parece ter um efeito
apresentaram uma procedimento e logo após clínico benéfico em
diminuição óbvia após cirúrgico ambos cicatrizes hipertróficas
os tratamentos. Houve tratamentos foi vermelhas frescas, sem
157
diferenças aplicado a reações adversas graves
estatisticamente pomada observadas.
significativas entre MEBT/MEBO
antes do tratamento e (Shangtou MEBO
após o tratamento (P Pharmaceutical
<0,05); no entanto, o Ltd, Co.
escore total do VSS e o Shangtou,
escore da melanina, Guangdong,
altura, vascularização e China) foi
flexibilidade no grupo aplicada ao
controle diminuíram área de
mais do que no grupo tratamento em
de tratamento, e houve filme de 1 mm
uma diferença es- sem curativos
tatisticamente significa- oclusivos.
tiva (P < 0,05).
Três sessões de aceto- Cicatriz hiper- Corticoide e de 5- Como o 5-fluorouracil foi
WAIBEL, J.S. et nido de triancinolona trófica fluorouracil. associado a menos eventos
al., 2020 assistido por laser e en- homogênea adversos, esses achados
trega de 5-fluorouracil resultante de apoiam o uso de um
produziram reduções na queimaduras, agente não esteroidal no
área total da cica- cirurgias ou ou- tratamento de cicatrizes
triz. Quando compara- tras lesões. traumáticas por terapia
dos entre si, não houve assistida por laser.
diferenças estatistica-
mente significativas na
redução da área entre as
2 modalidades (p =
0,603). No entanto,
cicatrizes tratadas com
5-fluorouracil não
foram associadas a
efeitos colaterais
observados com a
terapia com corticoste-
roides, como atrofia
dérmica ou formação de
telangiectasia.
KHEDR, M.M. et Melhorias significativas Queimaduras e Vinte e cinco pa- Ambas as modalidades
al., 2020. nos escores totais da es- trauma cientes foram tra- foram bem sucedidas no
cala de cicatrizes de tados com laser tratamento de cicatrizes
Vancouver antes e após Nd:YAG e 25 pa- hipertróficas; no entanto,
o tratamento em ambos cientes com com- uma melhora significativa
os grupos (P < binação de luz in- nos achados clínicos e
0,001); porém, houve tensa pulsada e histopatológicos foi de-
diferença significativa radiofrequência tectada com o método E-
entre os dois grupos (P (E-light) light.
< 0,001), em relação ao
E-light, que apresentou
melhor resposta que o
158
laser Nd:YAG. A colo-
ração com hematoxilina
e eosina e tricrômio de
Masson mostrou
arranjo e afinamento
dos feixes de colágeno
e redução na densidade
de colágeno em ambos
os grupos, mas o
afinamento e o
paralelismo dos feixes
de colágeno foram mais
evidentes no grupo E-
light. Diminuição signi-
ficativa na
concentração de
colágeno I, colágeno III
e TGF-β1 no grupo E-
light em comparação
com o grupo laser (P =
0,005, P = 0,003 e P
<0,001, respectiva-
mente).
TAWFIC, S. et Os parâmetros de alta Cicatriz prove- Não citava outra O tratamento com laser de
al., 2020 densidade mostraram nientes de quei- terapia associada. CO2 fracionado de alta
melhora significativa- maduras. densidade proporciona
mente maior nos maior melhora nas cica-
escores de avaliação trizes de queimaduras
VSS e POSAS (p-valor tanto clínica quanto
< 0,001). Flexibilidade histopatologicamente.
e relevo são os
parâmetros mais
melhorados. A ava-
liação histopatológica
revelou uma queda sig-
nificativa na porcenta-
gem média da área de
colágeno nos 3 parâme-
tros utilizados, com
maior melhora com o
tratamento com laser de
alta densidade (p-valor
< 0,001).
MANUSKIATTI, Neste estudo randomi- Não relatava. Laser terapia ver- Em conclusão, a
W. et al., 2021 zado, comparativo, de sos laser terapia e monoterapia com laser
cicatriz dividida de 19 aplicação de fracionado é um
indivíduos, uma corticoide. tratamento eficaz para
redução significativa cicatrizes hipertróficas, e a
limítrofe na espessura aplicação de
da cicatriz foi corticosteroide tópico não
159
observada em 3 meses oferece efeito sinérgico a
de acompanhamento no longo prazo à monoterapia
grupo laser + esteróide com laser fracionado.
em comparação com la-
ser + petrolato (p =
0,049). No entanto, ne-
nhuma diferença
significativa a longo
prazo no achatamento
da cicatriz foi
observada entre os 2
grupos. As pontuações
da Escala de Avaliação
de Cicatrizes do Paci-
ente e do Observador
mostraram melhora sig-
nificativa na aparência
da cicatriz desde a linha
de base, sem diferenças
significativas entre os
grupos de tratamento.
YANG, L. et al., Os escores VSS dos pa- Queimadura. Não era O tratamento do PDL pode
2021 cientes no grupo de 1 associado a reduzir o escore VSS e o
semana, grupo de 2 nenhum tipo de volume de perfusão
semanas, grupo de 3 terapia. sanguínea da cicatriz. Um
semanas e grupo de 4 tratamento a cada duas
semanas em três meses semanas ou três semanas
após o primeiro melhora o volume de
tratamento foram perfusão sanguínea da
significativamente cicatriz de forma mais
menores do que aqueles significativa, podendo ser
antes do primeiro trata- recomendado como
mento (Z = -3,74; -3,47; intervalo de tratamento
- 2,69; -3,25, P < adequado do ligamento
0,01). Não houve dife- periodontal para cicatriz
renças estatisticamente hipertrófica após
significativas nos valo- queimadura.
res diminuídos dos
escores VSS em três
meses após o primeiro
tratamento entre os
pacientes em 4 grupos
(H = 2,35; P >
0,05). Três meses após
o primeiro tratamento,
os volumes de perfusão
sanguínea dos pacientes
no grupo de 2 semanas
e no grupo de 3
semanas foram sig-
160
nificativamente
menores do que aqueles
antes do primeiro
tratamento (Z = -2,95; -
2,50; P < 0,05 ou P <
0,01). As proporções de
alterações no volume de
perfusão sanguínea dos
pacientes no grupo de 1
semana, grupo de 2
semanas, grupo de 3
semanas e grupo de 4
semanas foram
respectivamente -0,02
(-1,05, 0,69), -0,29 (-
0,75, 0,18), -0,11 ( -
0,55, 0,23), 0,05 (-0,61,
0,75). Houve diferenças
estatisticamente signifi-
cativas entre os 4
grupos ( H = 9,39; P <
0,05). As proporções de
alterações no volume de
perfusão sanguínea dos
pacientes no grupo de 2
semanas foi
estatisticamente maior
do que no grupo de 1
semana (Z = 2,76; P <
0,01).

DISCUSSÃO o que o uso trazia benefícios, os demais não re-


lataram benefício com o uso.
Dentre os estudos, foi possível notar que a Os lasers estão sendo usados com sucesso
maior parte dos artigos revisados colocavam para melhorar vários tipos de cicatrizes e es-
como a principal causa de cicatrizes hipertrófi- trias, desta forma não é apenas necessário ob-
cas as queimaduras. Desse modo, 85,71% dos servar os tipos de cicatrizes e estrias presentes,
artigos consideraram que o laser melhora clini- mas determinar qual tipo de laser pode melhor
camente as cicatrizes e 14,2% dos artigos con- tratá-las. Um laser de corante pulsado bombe-
sideram que outro método era melhor, sendo ele ado com lâmpada de flash de 585 nm é o prefe-
a combinação de luz intensa pulsada e radiofre- rido para o tratamento de cicatrizes hipertrófi-
quência (E-light). Em sequência, realizou-se cas, queloides e estrias de distensão. Por isso,
uma outra análise sobre os benefícios do uso de quando usados adequadamente, a terapia a laser
corticoides nas cicatrizes hipertróficas, do total pode produzir as melhores respostas clínicas
apenas 33,3% dos artigos citaram a utilização em cicatrizes hipertróficas e queloides já obser-
de corticoides e desses somente um descreveu vadas. Futuros avanços tecnológicos do laser,

161
como por exemplo a adição de lasers concomi- excisão cirúrgica, também apresenta bons re-
tantes na indústria da medicina, ou outros trata- sultados, como melhora na aparência e textura.
mentos podem obviamente melhorar os resulta- Importante ressaltar, que elevado tempo de ex-
dos clínicos. Ao promover a remodelação da ci- posição ao laser e grandes doses energéticas de-
catrização de feridas, cicatrizes anormais po- vem ser evitados (PINTO et al., 2009). O uso
dem ser prevenidas ou melhoradas. A cirurgia a do laser para prevenção da formação de queloi-
laser tem melhor execução, desencadeando a des deve ser realizado com intervalo de 48 ho-
regressão dos vasos sanguíneos e, portanto, dos ras na primeira semana após a lesão e nas sema-
fibroblastos dentro da cicatriz. Fazendo com nas subsequentes, apenas uma única sessão por
que a deposição adicional de tecido conjuntivo semana até a cicatrização completa da lesão.
seja interrompida.
Além disso, sabe-se que recentemente o la- CONCLUSÃO
ser fracionado está sendo cada vez mais utili-
zado no tratamento de cicatrizes e seu meca- O presente estudo permitiu observar a
nismo tem passado por diversas análises clíni- grande eficácia da laserterapia sob cicatrizes hi-
cas. Estudos mostraram que o laser fracionado pertróficas. Nota-se que a principal caracterís-
pode produzir múltiplas zonas microtérmicas tica alterada na cicatriz foi a textura e colora-
na pele alvo, induzir respostas de reparo de fe- ção, e que, em sua maioria, eram originadas por
ridas, afetar a função das células epidérmicas e queimaduras. Dessa forma, é essencial que cui-
dérmicas, induzir alterações nos vasos sanguí- dados com a pele sejam implementados, assim
neos, gerar modificação no colágeno, alterar a como uma devida orientação sobre os procedi-
expressão de proteínas de choque térmico, mo- mentos.
dificar o microRNA, facilitar a entrega de dro- Como as cicatrizes traumáticas são difíceis
gas nas cicatrizes etc. de tratar com alta taxa de recorrência, sua pre-
Foi possível analisar através de estudos re- venção e tratamento são muito desafiadores
centes da literatura médica, que a aplicação pre- para cirurgiões plásticos e dermatologistas. Nos
coce do laser terapêutico, sobre lesões cutâ- últimos anos, com o rápido desenvolvimento
neas, mostrou-se eficaz no sentido de acelerar o das tecnologias de laser, luz, radiofrequência e
fechamento das feridas, provocando efeitos na ultrassom, os clínicos observaram melhorias es-
fase inflamatória e proliferativa, estimulando téticas, sintomáticas e funcionais para o trata-
um processo cicatricial mais organizado e har- mento de cicatrizes hipertróficas. Acredita-se
mônico, melhorando posteriormente o aspecto que essas novas tecnologias tenham as vanta-
estético das cicatrizes (ANDRADE et al., gens de invasão mínima, recuperação rápida e
2014). baixo risco para terapia cicatricial.
O laser, quando aplicado diretamente sobre
o queloide, sem que tenha sido realizada uma

162
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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163
CAPÍTULO 22

EFLÚVIO TELÓGENO
PÓS-COVID:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

ALINE SLONIKARZ FERREIRA¹


GABRIELA BALVEDI ZANCAN¹

¹Discente do Curso Medicina do Centro Universitário de Pato Branco – UNIDEP - PR

Palavras-chave: Eflúvio telógeno; Queda de cabelo; Covid- 19.

164
INTRODUÇÃO difusa, que foram comprovados através de pes-
quisas e dados coletados no mundo todo. De-
O crescimento capilar ocorre de maneira cí- vido ao surgimento recente do vírus, os meca-
clica. O folículo capilar tem sua origem por in- nismos fisiopatológicos que explicam a associ-
vaginação do cabelo na epiderme e posterior ação da infecção com essa complicação, ainda
implantação na derme. O crescimento do folí- não foram bem elucidados, no entanto, alguns
culo capilar ocorre pela aposição de queratina estudos mostraram forte relação com fatores,
na base do folículo, a qual apresenta um cresci- como a liberação de citocinas pró-inflamató-
mento aparente e não se modifica em sua exten- rias, as medicações utilizadas no tratamento da
são. Sendo assim, o ciclo biológico do cabelo infecção, indução na mudança da fase anágena
apresenta três fases, a anágena (crescimento); dos folículos capilares para a fase catágena,
catágena (repouso) e telógena (queda) (MI- desregulando o ciclo, além de causar alteração
RANDA, 2018). nos mecanismos de anticoagulação do corpo,
A fase anágena consiste no período em que podendo induzir a formação de micro trombos
a matriz se mantém em atividade mitótica e o que causam obstrução do suprimento sanguíneo
fio é produzido de maneira contínua, tendo per- do folículo piloso (SEQUE et al., 2021; GRESS
manência no couro cabeludo de três a sete anos et al., 2022).
e a duração de crescimento varia de acordo de O diagnóstico do eflúvio telógeno pós infec-
acordo com cada indivíduo. Já na fase catágena, ção Covid-19, é feito de forma clínica, tendo
ocorre a transição e a divisão celular, em que há sido comprovado infecção recente pelo vírus,
uma involução do fio capilar na base da super- excluindo diagnósticos diferenciais, a fim de
fície e apresenta duração de três a quatro sema- descartar qualquer outro fator causal para essa
nas, sendo mais lenta e fazendo o fio parar de condição, para isso é indicada a realização de
crescer. Por fim, a fase telógena, consiste na exames, tais como: hemograma, TSH, VDRL,
fase final do período de vida do fio, em que zinco e ferro, além disso, podem ser usados re-
ocorre o desprendimento do mesmo do couro cursos complementares como o tricograma e fo-
cabeludo, e após a queda há o aparecimento de totricograma (DE MACEDO CASTOR et al.,
um novo fio capilar; essa fase tem duração má- 2022).
xima de três a quatro meses (MIRANDA, O quadro clínico observado é a descamação,
2018). sinais de inflamação, alterações nas caracterís-
Visto isso, o eflúvio telógeno é uma condi- ticas da haste capilar, ou distribuição desigual e
ção que consiste em queda de cabelo difusa, alterada do cabelo. O tratamento para o eflúvio
onde os fios entram na fase telógena, após telógeno relacionado a Covid-19 ainda está em
evento desencadeante, podendo ocorrer de ma- discussão, as literaturas relatam o uso de mino-
neira aguda com duração de 2 a 3 meses, ou crô- xidil (DE OLIVEIRA IZUMI & BRANDÃO,
nica, ultrapassando 6 meses. O eflúvio telógeno 2021; DE MACEDO CASTOR et al., 2022).
pode ser desencadeado por muitos fatores, O objetivo principal desse capítulo é
sendo um deles as infecções virais. Durante a descrever a relação entre o eflúvio telógeno e a
pandemia de Covid-19 surgiram relatos associ- infecção pela Covid-19.
ando a infecção a condição de queda de cabelo

165
MÉTODO 60 anos; já o crônico secundário, normalmente
associa-se a doença crônica (AZULAY et al.,
Trata-se de uma revisão bibliográfica reali- 2017).
zada, por meio de pesquisas nas bases de dados: Existem cinco mecanismos observados no
Pubmed, Google acadêmico, Lilacs e SciELO. eflúvio telógeno: liberação anágena imediada;
Foram utilizados os descritores: “Covid-19”, liberação anágena tardia; síndrome do anágeno
“Eflúvio telógeno”, “Fases do crescimento ca- curto; liberação telógena imediata e liberação
pilar” e “Queda de cabelo”. Desta busca foram telógena tardia (AZULAY et al., 2017).
encontrados 22 artigos, posteriormente subme- O mecanismo de liberação anágena imedi-
tidos aos critérios de seleção. ada é um evento considerado agudo, o qual gera
Os critérios de inclusão foram: artigos nos a conversão antecipada do anágeno em teló-
idiomas português e inglês; publicados no perí- geno. Esse evento ocorre após doença con-
odo de 2019 a 2022 e que abordavam as temá- sumptiva, doenças tireoidianas, anemias, após
ticas propostas para esta pesquisa. infecções ou em doenças sistêmicas considera-
Após os critérios de seleção restaram 8 arti- das grave. O uso de alguns fármacos como he-
gos, que posteriormente foram submetidos à parina, estatinas, lítio, betabloqueadores, con-
leitura minuciosa para produção deste trabalho. traceptivos orais (no início ou término do uso),
Os resultados foram evidenciados de forma clofibrato, entre outros. Já o mecanismo de li-
descritiva, divididos em categorias temáticas beração anágena tardia, ocorre geralmente pós
abordando: Eflúvio telógeno, histórico da Co- parto, por conta do prolongamento da fase aná-
vid-19 e os principais pontos sobre a relação da gena durante a gestação, e isso contribui para a
Covid-19 e o desenvolvimento do eflúvio teló- conversão à fase telógena, gerando queda dos
geno como uma de suas complicações. fios de 2 a 3 meses pós parto (AZULAY et al.,
2017).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Visto isso, o mecanismo da síndrome do
anágeno curto é por conta do encurtamento da
Eflúvio telógeno fase anágena de forma idiopática. O mecanismo
O eflúvio telógeno caracteriza-se pelo au- da liberação telógena imediata é observado ge-
mento acentuado de queda de cabelos, podendo ralmente no início com o tratamento com mino-
chegar a um número de quedas diárias de 120 a xidil, em que ocorre o encurtamento da fase te-
400 fios. O eflúvio telógeno é considerado lógena, gerando expulsão dos fios e conversão
agudo quando a queda dos fios persiste por para a fase anágena. Por fim, o mecanismo de
tempo inferior a 6 meses, esse quadro tente a liberação telógena tardia, ocorre pelo prolonga-
apresentar prognóstico bom e na maioria dos mento e pela sincronização de fios em grande
casos apresenta recuperação espontânea em até quantidade na fase telógena e queda na transi-
1 ano. No eflúvio telógeno crônico, a queda dos ção à fase anágena (AZULAY et al., 2017).
fios é superior a 6 meses podendo ser de forma
contínua ou em ciclos, e pode ser dividido em Covid-19
primário e secundário. O eflúvio telógeno crô- Os coronavírus são vírus RNAs, conhecidos
nico primário é considerado idiopático, geral- por causar infecções respiratórias, descobertos
mente acomete mulheres com idade entre 30 e inicialmente em 1937, posteriormente tendo fi-

166
cado conhecido por causar uma síndrome respi- trir o folículo capilar (GRESS et al., 2022; SE-
ratória aguda grave no ser humano, denominada QUE et al., 2021).
SARS. A Covid-19 é uma doença causada pelo Os estudos revelam que o aumento das cito-
coronavírus, porém surgiu como uma nova cinas inflamatórias (interleucina-1, interleu-
cepa, nomeada SARS-CoV-2, descoberta, se- cina-6) bem como, o envolvimento do fator de
gundo a Organização Mundial da Saúde, em 31 necrose tumoral alfa, são capazes de desenvol-
de dezembro de 2019, em Wuhan, na China (PI- ver lesões nas células que se responsabilizam
RES BRITO et al., 2020). pelo crescimento capilar. Além disso, a infec-
A pandemia pelo novo vírus tornou-se um ção por SARS-CoV-2 pode induzir a conversão
grande desafio para a área da saúde, tendo cau- imediata da fase anágena à catágena, ocasio-
sado impacto no mundo todo. Por se tratar de nando a morte do folículo e posterior queda ca-
uma infecção de via aérea, a transmissão ocorre pilar. Sabe-se também que a febre e alterações
devido a gotículas e secreções respiratórias, psicossocias como o estresse, bem como, al-
com um período de incubação média de 7 dias, guns medicamentos utilizados no tratamento da
com relatos de até 21 dias. A infecção pela nova Covid-19 são contribuintes e fatores potenciali-
cepa, causou crise em todo planeta principal- zadores ao eflúvio telógeno (NATÁRIO et al.,
mente por causar além de sintomas respirató- 2022; GRESS et al., 2022).
rios, sintomas relacionados a processos infla-
matórios graves, desencadeando no paciente Diagnóstico e tratamento
manifestações sistêmicas diversas e de varie- O eflúvio telógeno decorrente da infecção
dade intensidade. Devido a estas manifestações por Covid-19 é diagnosticado de forma clínica.
e as disfunções funcionais que a Covid-19 pode Para esta complicação ser identificada, deve-se
causar no ser humano, é notado uma alta taxa se questionar o paciente sobre quando foi infec-
sequelas tardias a infecção, que podem durar de tado e quais as características clínicas o paci-
dias a meses (PIRES BRITO et al., 2020). ente vem apresentando. Lembrando que a ocor-
rência do quadro geralmente se inicia após 2
Relação entre Covid-19 e efluvio telógeno meses da infecção (DE MACEDO CASTOR et
Sabe-se que o eflúvio telógeno pode ser de- al., 2022).
sencadeado por alterações metabólicas, bem Na anamnese os pacientes relatam queda de
como por infecções. A Covid-19 tem-se mos- cabelo ou diminuição no volume capilar. No
trado como fator desencadeante desse quadro exame físico, deve ser feita a avaliação usando
em pacientes diagnosticados com Covid-19, o dermatoscópio, observação do couro cabe-
sendo notado em aproximadamente um terço ludo, e teste de tração. Geralmente serão obser-
dos pacientes. O SARS-CoV-2, atua como fator vadas perda difusa de volume capilar, sem pla-
estimulante de vias autoimunes, gerando um lo- cas de alopecia definidas e com teste de tração
cal inflamatório, permitindo a ativação não es- positivo (DE MACEDO CASTOR et al., 2022).
pecífica do sistema imune ou reação cruzada Podem ser solicitados exames que descar-
entre antígenos e anticorpos. Além disso, pode tem diagnósticos diferenciais antes de concluir
ocorrer também eventos micro trombóticos a investigação, sendo eles: hemograma com-
dentro da vasculatura do folículo piloso, cau- pleto, cinética do ferro, TSH e VDRL Em caso
sando oclusão da circulação que é capaz de nu- de suspeita de alopecia androgenética deverá

167
ser solicitado testosterona total e/ou testoste- CONCLUSÃO
rona livre, sulfato de dihidroepiandrosterona,
17- hidroxiprogesterona e prolactina (BREN- A partir da presente revisão, averiguou-se
NER et al., 2012). que os estudos demonstraram a existência da
O tratamento do eflúvio telógeno consiste correlação entre Covid-19 e o eflúvio telógeno.
na correção do fator desencadeante, alimenta- O mecanismo exato dessa relação ainda não se
ção adequada, suplementação de vitaminas e apresentou de maneira certa, porém sabe-se que
sais minerais, podendo ser incluído a associa- os processos inflamatórios gerados pela infec-
ção com tratamentos tópicos, exemplo minoxi- ção por SARS-CoV-2, estão diretamente liga-
dil a 2% ou 5%. O tratamento específico dessa dos ao acometimento e agravamento do quadro.
condição relacionada a Covid-19, ainda está O diagnóstico é clínico e o tratamento ainda
sendo bastante discutido, visto o surgimento re- está em discussão e análises, visto o recente sur-
cente de estudos sobre o assunto, porém já tem gimento do quadro.
sido relatado na literatura, benefícios do uso de Mostra-se imprescindível, portanto, a ne-
minoxidil 5% na terapêutica. Sendo importante cessidade de mais estudos e pesquisas, que re-
a tranquilização do paciente em relação ao caso, velem dados e informações sobre esta compli-
visto a associação do estresse na patogênese do cação pós-infecciosa, tão prevalente no cenário
quadro (DE OLIVEIRA IZUMI & BRAN- atual.
DÃO, 2021; DE MACEDO CASTOR et al.,
2022).

168
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Health Review, v. 5, n. 2, p. 4692-4701, 2022. p. 75-88, 2021

169
CAPÍTULO 23

BIOESTIMULADORES DE
COLÁGENO UTILIZADOS NO
GERENCIAMENTO DO
ENVELHECIMENTO:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

ALINE SLONIKARZ FERREIRA¹

¹ Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário de Pato Branco – UNIDEP - PR

Palavras-chave: Bioestimuladores de colágeno; Envelhecimento facial; Colágeno facial.

170
INTRODUÇÃO geno como gerenciadores do envelhecimento
cutâneo, bem como, apresentar seus tipos e be-
O envelhecimento é um processo natural e nefícios.
traz consigo várias mudanças no organismo.
Inicia-se um processo degenerativo de forma MÉTODO
progressiva, causando diminuições funcionais
com o tempo, ocasionando mudanças na derme Trata-se de uma revisão bibliográfica, por
e epiderme, com consequente aumento das ru- meio de pesquisas nas bases de dados eletrôni-
gas e linhas de expressão (MIYASHIRO et al., cas: Google Acadêmico, SciELO e Lilacs. Fo-
2022). ram utilizados os descritores: “Bioestimulado-
Esse processo inicia-se lentamente em torno res de colágeno”; “Envelhecimento facial”;
dos 20 anos, período em que a taxa de renova- “Colágeno facial”. A partir desta busca foram
ção da célula começa a se tornar mais lenta, po- encontrados 16 artigos, posteriormente subme-
rém os sinais cutâneos como depressão de teci- tidos aos critérios de seleção.
dos moles, perda de tecido muscular, perda de Os artigos selecionados foram publicados
tecido celular subcutâneo, perda de tecido ósseo no período de 2010 a 2022, os quais foram pes-
e atrofia da pele, demoram anos a serem perce- quisados na íntegra e abordavam as temáticas:
bidos (MACHADO FILHO et al., 2013). processo de envelhecimento cutâneo, bem
Sabe-se que o colágeno é uma proteína im- como a utilização de bioestimuladores de colá-
portante produzida pelo organismo, sendo a fi- geno para o gerenciamento processo, seus tipos
brilar o mais abundante e é responsável pela e benefícios.
formação da estrutura, morfologia e proprieda- Após o levantamento bibliográfico restaram
des mecânicas da pele (FERREIRA et al., 11 artigos que foram selecionados, estudados e
2020). posteriormente discutidos. Os resultados foram
A fim de amenizar essas alterações que o apresentados de forma descritiva, os quais fo-
envelhecimento cutâneo traz consigo, existem ram divididos em categorias temáticas: pro-
terapêuticas que atuam no rejuvenescimento fa- cesso de envelhecimento facial; estímulo de co-
cial e atenuam os sinais do envelhecimento lágeno no gerenciamento do envelhecimento;
(CAMPOS et al., 2017). A utilização do colá- bioestimuladores de colágeno.
geno injetável a fim de retardar os sinais do en-
velhecimento é uma alternativa terapêutica com RESULTADOS E DISCUSSÃO
o objetivo de melhorar a estrutura da derme,
bem como, a espessura, elasticidade e hidrata- Processo de envelhecimento facial
ção da pele (FRANZEN et al., 2013; FER- O envelhecimento é uma consequência de
REIRA et al., 2020). Dentre os bioestimulado- fatores extrínsecos e intrínsecos que interagem
res de colágeno, os mais utilizados são ácido entre si contribuindo de forma considerável nas
poli-L-láctico (PLLA) – Sculptra®, a polica- alterações cutâneas que o processo gera (MON-
prolactona (PLC) - Ellansé®, e a Hidroxiapatita TEIRO, 2010). Os fatores extrínsecos estão re-
de cálcio - Radiesse®. lacionados com a capacidade que a radiação
O objetivo do presente capítulo, é apresen- UV tem de expressar rugas mais grosseiras, fla-
tar a utilização dos bioestimuladores de colá- cidez e despigmentação cutânea. Já os fatores

171
intrínsecos estão relacionados a genética e de- tro fator importante é a degeneração das fibras
sequilíbrio hormonal (MAIA et al., 2018; elásticas; essas fibras são responsáveis pela
CAMPOS et al., 2017). elasticidade fisiológica e resiliência da pele, as
Sabe-se que com o avanço da idade a derme quais juntamente com o colágeno são degene-
e a epiderme tendem a reduzir progressiva- radas com o envelhecimento, contribuindo as-
mente, - em quantidade e qualidade - a ativi- sim, para a formação de rugas (ORTOLAN et
dade mitocondrial, bem como diminuição e de- al., 2013).
gradação do colágeno (MAIA et al., 2018). Es- Estudos apontam que a exposição solar é cu-
sas alterações cutâneas, são advindas da perda mulativa, e que quanto maior o tempo de expo-
de capacidade dos fibroblastos produzirem sição à raios UV, maiores serão os danos ao co-
componente da matriz extracelular, como o co- lágeno, gerando alterações acentuadas as pro-
lágeno (MIYASHIRO et al., 2022). A perda de priedades mecânicas da pele. Os fatores como
colágeno pode ter início do intervalo entre 18 e idade, hábitos de vida, genética e influências
29 anos, e após os 40 anos sua perda se acentua ambientais também influenciam no envelheci-
ainda mais, podendo chegar a perda de 1% ao mento (ORTOLAN et al., 2013). Além disso,
ano e aos 80 anos aproximadamente, a produ- alguns fatores como tabagismo, consumo ex-
ção de colágeno já se reduziu em 75% se com- cessivo de bebidas alcoólicas, estresse, má ali-
parada a um adulto jovem (FERREIRA et al., mentação e falta de atividade física, podem ace-
2020). lerar o processo de envelhecimento (FRAN-
Com o decorrer dos anos, o colágeno torna- ZEN et al., 2013).
se mais rígido, havendo perda de moléculas de
água, fazendo com que haja dificuldade na di- Estímulo de colágeno no gerenciamento
fusão dos nutrientes e capacidade de os tecidos do envelhecimento
se regenerarem (MAIA et al., 2018). Nos dias atuais, existem recursos terapêuti-
Visto isso, o aspecto considerado mais im- cos que atuam a fim de amenizar alterações que
portante do envelhecimento intrínseco é o acha- o envelhecimento cutâneo traz consigo (CAM-
tamento da junção dermoepidérmica, a qual POS et al., 2017). Um desses recursos é a utili-
causa diminuição da superfície entre a epiderme zação do colágeno injetável a fim de retardar os
e a derme, porém, a espessura da derme diminui sinais do envelhecimento (FRANZEN et al.,
a partir da oitava década de vida e a espessura 2013). O objetivo dessa terapêutica é melhorar
da epiderme se mantém constante no decorrer a estrutura da derme, bem como, a espessura,
dos anos (ORTOLAN et al., 2013). elasticidade e hidratação da pele (FERREIRA
Além desses fatores, outro importante me- et al., 2020).
canismo responsável pelo envelhecimento é a Sabe-se que a molécula de colágeno possui
diminuição de proteossomas. Essas enzimas ca- constituição de sequências repetidas de três
talíticas são responsáveis pela degradação de aminoácidos. E esses aminoácidos se organi-
proteínas deformadas e oxidadas, as quais inter- zam cerca de 30% em glicina, 12% prolina,
ferem na atividade dos fibroblastos, acarre- 11% alanina, 10% de hidroxiprolina e 1% de hi-
tando na diminuição da síntese de proteínas e droxilisina (FERREIRA et al., 2020).
aumento da quebra das ligações proteicas. Ou-

172
Bioestimuladores de colágeno incorporados em glicose; esses resíduos são
O bioestimulador de colágeno consiste em completamente eliminados do corpo através da
uma substância injetada na derme profunda, na via respiratória, pela urina e pelas fezes.
camada subdérmica e supraperiosteal, a qual, O PLLA, é um tratamento eficiente, porém
quando injetada estimulará a produção do seu não apresenta resposta imediata e os resultados
próprio colágeno. É considerado um procedi- são graduais e naturais, com efeitos de aproxi-
mento minimamente invasivo, tendo efeito gra- madamente dois anos ou mais, ou seja, longa
dual e resultados visíveis geralmente após me- duração. Apresentam baixa probabilidade de
ses do tratamento inicial (SANTOS, 2021). O reações adversas, se caso aplicado de maneira
bioestimulador, portanto, substituirá gradual- correta e com os cuidados pós procedimentos
mente o suporte estrutural que foi perdido du- corretos pelo paciente. As complicações, de
rante o envelhecimento e se torna uma alterna- maneira geral, são raras e caso tenham efeitos
tiva no rejuvenescimento facial (SANTOS, adversos, eles são considerados leves e tempo-
2021; BESSA, 2022). rários, alguns desses efeitos adversos são:
Um dos agentes bioestimulantes de colá- edema, eritema e nódulos. Nas primeiras 24 ho-
geno injetáveis conhecidos é o ácido poli-L-lác- ras do procedimento, recomenda-se ao paciente
tico (PLLA), o qual na Europa ficou conhecido que realize compressas frias na área da face que
pelo nome comercial New-Fill® e nos Estados foi tratada a fim de evitar edema ou hematomas.
Unidos como Sculptra®, esse ácido promove Além disso, recomenda-se também que realize
uma resposta bioestimuladora para síntese do massagens de cinco minutos, cinco vezes por
colágeno tendo efeitos terapêuticos que duram dia, durante cinco dias (regra dos cinco), essa
cerca de dois anos. O PLLA é um preenchedor recomendação sugere a distribuição uniforme
sintético injetável em diferentes planos tecidu- de cristais de ácido polilático para evitar a con-
ais, subcutâneos, subdérmico ou supraperios- densação e formação de pequenos grumos. Por
teal, a fim de corrigir hipotonia cutânea que fim, recomenda-se que ao paciente fotoprote-
ocorre com o envelhecimento, além de correção ção (BESSA, 2022).
de volume de áreas da pele em depressão. Esse Visto isso, outro bioestimulador de colágeno
produto age melhorando os tecidos da pele e usado na terapêutica para o gerenciamento do
corrigindo o volume do contorno facial. As mi- envelheciemnto é a policaprolactona (PLC), o
cropartículas de PLLA agem induzindo uma qual apresenta nome comercial Ellansé®. O
resposta inflamatória subclínica de corpo estra- PLC é um polímero que pertence aos poliéste-
nho, e posteriormente os fibroblastos fazem a res alifáticos, biodegradável e bioabsorvível,
fibroplasia; e o colágeno da região vai aumen- apresenta degradação mais lenta se comparado
tando de forma gradual após um mês até 12 me- com o ácido polilático (PLLA), citado anterior-
ses da sua aplicação. O PLLA é biodegradável, mente.
anfifílico e biocompatível; suas partículas após O Ellansé® é um gel, em geral, à base de
o período se tornam porosas e são circundadas água/carboximetilcelulose, com as microesfe-
por macrófagos, esse processo ocorre por meio ras de PLC; tendo função de preencher rugas e
da hidrólise não enzimática em monômeros de sulcos, redefinir contornos faciais, além de bio-
ácido lático, e esses monômeros são metaboli- estimular o colágeno local. Assim como o
zados em dióxido de carbono e água ou eles são PLLA, o PLC é capaz de agir de forma estimu-

173
latória na produção de fibroblastos e, conse- importância que o profissional esteja capaci-
quentemente estímulo de colágeno, principal- tado para reconhecer e tratar os efeitos adversos
mente colágeno do tipo I (MENDONÇA, que possam surgir pós-procedimento. Os cuida-
2021). Como foi dito, esse produto tem a capa- dos que o paciente precisa ter após a realização
cidade de estimular a produção de colágeno do tratamento é colocar gelo nas áreas injetadas,
através da graduada reabsorção pelos macrófa- a fim de reduzir os hematomas e edema; realizar
gos em 6 a 8 semanas das microesferas de PLC massagem na área tratada; não fazer uso de ma-
que estimulam a neocolagênese (FREITAS, quiagens e realizar fotoproteção (SANTOS,
2021). No pós-procedimento recomenda-se uti- 2021).
lizar compressas frias nas áreas de aplicação a
fim de reduzir as chances de causar hematoma; CONCLUSÃO
recomenda-se fotoproteção e não é recomen-
dada massagens nas áreas de aplicação (SAN- O envelhecimento é um processo natural do
TOS, 2021). ser humano, que traz consigo mudanças faciais
Por fim, a hidroxiapatita de cálcio também as quais podem ser gerenciadas através de tera-
é um bioestimulador de colágeno injetável sin- pêuticas como os bioestimuladores de colá-
tético, comercialmente conhecido como Radi- geno.
esse®. A duração do produto depende da idade, Os principais bioestimuladores de colágeno
movimento dinâmico da área injetada e do me- utilizados são: o ácido poli-L-láctico (Scul-
tabolismo do paciente, em média a duração é de ptra®), policaprolactona (Ellansé®) e a Hidro-
12 a 18 meses. Esse produto é um preenchedor xiapatita de cálcio (Radiesse®). Esses produtos
semi-sólido composto por 30% de hidroxiapa- são biodegradáveis, bioabsorvíveis e proporci-
tita de cálcio e 70% de gel carreador; a ação onam rejuvenescimento facial de maneira se-
como bioestimulador de colágeno ocorre pela gura e eficaz sendo realizados através de proce-
produção endógena dessa proteína de forma dimentos minimante invasivos e com duração
gradual, através de microesferas que induzem a elevada.
resposta fibroblástica (FREITAS, 2021). Den- Os resultados com os bioestimuladores
tre as reações adversas mais comuns relatadas apresentam efeitos a longo prazo agradáveis e
com o uso do produto são hematomas, verme- satisfatórios quando usados de forma apropri-
lhidão, inchaço, dor e coceira; sendo de suma ada.

174
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Faculdade Sete Lagoas, Santos, 2021

175
CAPÍTULO 24

O USO DA TOXINA BOTULÍNICA


NO TRATAMENTO DA
HIPERIDROSE E OUTRAS
TERAPÊUTICAS: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA

ALINE SLONIKARZ FERREIRA¹

¹Discente do Curso Medicina do Centro Universitário de Pato Branco – UNIDEP - PR

Palavras-chave: Toxina botulínica; Hiperidrose; Tratamento.

176
INTRODUÇÃO lcolinesterase está normalmente envolvida
tanto em quantidade quanto em função (FI-
A hiperidrose trata-se de uma condição em GUEIREDO et al., 2015).
que ocorre produção excessiva de suor pelas O diagnóstico é essencialmente clínico,
glândulas sudoríparas écrinas, essa produção é considerando os sinais, sintomas, e história da
desproporcional ao que se considera fisiológico produção excessiva de suor. Para fins comple-
no corpo para compensar condições de termor- mentares de diagnóstico utiliza-se o teste de
regulação (AZULAY et al., 2017; METELO, iodo-amido - Teste de Minor (FIGUEIREDO et
2014). Pode ser considerada primária (idiopá- al., 2015).
tica/essencial), ou secundária; e topografica- O objetivo deste estudo foi compreender
mente por ser generalizada ou focal (AZULAY através de uma revisão bibliográfica a utiliza-
et al., 2017). Quando generalizada, acomete ção da toxina botulínica no tratamento da hipe-
todo o corpo e pode estar associada a uma afec- ridrose.
ção preexistente; quando a hiperidrose é focal
acomete uma ou mais áreas do corpo (SANTO, MÉTODO
2019; METELO, 2014).
Visto isso, essa condição patológica ocorre Trata-se de uma revisão bibliográfica, por
através de um distúrbio do sistema nervoso sim- meio de pesquisas nas bases de dados eletrôni-
pático, que se encontra estimulado de maneira cas: SciELO e Google Acadêmico. Foram utili-
excessiva por conta da ausência de controle do zados os seguintes descritores: “Toxina botulí-
hipotálamo, por conta de um defeito na área an- nica”; “Hiperidrose”; “Tratamento”. Mediante
terior e pré-ótica, onde são encontrados neurô- busca realizada, encontraram-se 18 artigos,
nios termossensíveis, que promovem ausência posteriormente submetidos aos critérios de se-
de feedback para a regulagem de termorecepto- leção.
res periféricos. Pelo fato de apenas as glândulas Os artigos selecionados foram publicados
écrinas estarem envolvidas nesse processo, a no período de 2011 a 2021, foram pesquisados
maioria dos casos de hiperidrose envolve áreas na íntegra e que abordavam as características da
do corpo com maior densidade écrina, como por hiperidrose, bem como a utilização da toxina
exemplo, axila, palma das mãos, planta dos pés, botulínica no tratamento.
e de maneira menos comum, a região craniofa- Após o levantamento bibliográfico restaram
cial. Dentre as variantes clínicas citadas, a hipe- 14 artigos que foram selecionados, organizados
ridrose axilar ocorre na metade dos casos, en- e posteriormente discutidos. Os resultados fo-
quanto a palmoplantar é a segunda mais comum ram apresentados de forma descritiva, divididos
(FIGUEIREDO et al., 2015). em categorias temáticas abordando: Incidência,
Histologicamente, as glândulas envolvidas diagnóstico da hiperidrose, locais mais comu-
nessa patologia se mantem morfologicamente e mente acometidos, formas de hiperidrose, trata-
funcionalmente normais (em tamanho, localiza- mento da hiperidrose com a toxina botulínica e
ção e densidade por exemplo). A enzima aceti- outras terapêuticas.

177
RESULTADOS E DISCUSSÃO perda de peso, febre, anorexia, dor abdominal,
palpitações, vômitos, cefaleia e ingestão de me-
Incidência dicamentos (antidepressivos, agonistas colinér-
A hiperidrose é considerada uma patologia gicos, agentes simpaticomiméticos, opioides);
considerada comum, pois afeta até 3% da popu- havendo presença de algum desses sintomas as-
lação mundial, podendo desencadear problemas sociados com a sudorese, precisa proceder com
psicológicos e sociais (ANTONIO et al., 2014). investigação aprofundada, sendo necessário
Normalmente surge entre os 14 e os 25 anos de exames complementares (FIGUEIREDO et al.,
idade e raramente é encontrada em idosos, essa 2015).
condição sugere, portanto, uma regressão es-
pontânea com o tempo (FIGUEIREDO et al., Locais comumente acometidos
2015). A região axilar-palmar é a mais acometida,
a qual representa 35,9%, seguido pela região
Diagnóstico da hiperidrose palmar-plantar (28,2%), axilar isolada (15,3%)
O diagnóstico é essencialmente clínico, e por fim a região palmar isolada (10,3%)
sendo de suma importância interrogar o paci- (SANTO et al., 2019).
ente quando à idade do início dos sintomas, fre-
quência, padrão, áreas envolvidas, simetria, pa- Formas de hiperidrose
drão noturno, fatores desencadeantes e quando A hiperidrose pode acometer mais de uma
essa condição compromete o paciente em duas área e pode ter formas peculiares de apresenta-
atividades cotidianas diárias. Segundo o Multi- ção como: Hiperidrose facial, hiperidrose in-
Specialty Working Group on the Recognition, guinal e hiperidrose perianal (SANTO et al.,
Diagnosis, and Treatment of Primary Focal 2019).
Hyperidrosis, sugeriu que a hiperidrose focal A hiperidrose focal crânio facial trata-se de
fosse diagnosticada mediante sudorese exces- uma condição social debilitante, podendo ter
siva durante ao menos 6 meses sem causa apa- impacto na qualidade de vida dos pacientes. É
rente associado a: Distribuição dessa sudorese mais comum em homens e apesar de ser essen-
bilateralmente e de maneira simétrica relativa- cialmente primária e idiopática, já houve estu-
mente; Atividades diárias afetadas; Frequência dos em que foi descrita após o uso de antide-
de pelo menos um episódio de sudorese por se- pressivos inibidores da recaptação da seroto-
mana; Início do sintoma antes dos 25 anos de nina, como a paroxetina e fluoxetina. A aplica-
idade; Histórico familiar; Sudorese excessiva ção da toxina botulínica do tipo A apresentou-
ausente durante o sono (FIGUEIREDO et al., se como tratamento seguro na hiperidrose facial
2015). (SANTO et al., 2019).
Além disso, a hiperidrose generalizada A hiperidrose inguinal trata-se de uma
(mais rara), ela sugere mais uma causa secun- forma primária e focal, tendo relação com his-
dária, sendo que essa sudorese excessiva ocorre tórico familiar e acometendo ambos os sexos e
durante a noite de sono também, e é importante comumente ocorre antes dos 25 anos. Apre-
questionar o paciente durante a anamnese sobre senta resultado satisfatório no tratamento com a
presença de determinada patologia associada a utilização da toxina botulínica tipo A (SANTO
essa condição de sudorese excessiva como et al., 2019).

178
A hiperidrose perianal é considerada locali- 2 a 8 graus por até 5 dias (HAGEMANN et al.,
zada e focal, sendo uma manifestação rara, a 2019; PINTO, 2015).
qual acomete mais homens, e está relacionada a
complicações como eczema e infecções fúngi- Figura 24.1 Imagem ilustrativa de áreas de aplicação da
cas. O tratamento dessa região com a toxina toxina botulínica

mostrou resultado também satisfatório


(SANTO et al., 2019).

Tratamento da hiperidrose com a toxina


botulínica e outras terapêuticas
As neurotoxinas botulínicas são produzidas
pela bactéria anaeróbia Clostridium botulinum
e são consideradas as toxinas mais potentes co-
Legenda: Padrão em grade para injeção da Toxina
nhecidas. A toxina botulínica apresenta como
Botulínica. Fonte: METELO, 2014.
mecanismo de ação a inibição exocitótica da
acetilcolina nos terminais nervosos motores, a Além da toxina botulínica, existem outras
qual leva a diminuição da contratilidade mus- estratégias terapêuticas para o tratamento da hi-
cular (SPOSITO et al., 2019; FUJITA et al., peridrose. Os antiperspirantes, atuam através da
2019). Existem 7 sorotipos diferentes (A-G), inibição ou diminuição da transpiração e do
sendo a toxina botulínica tipo A a mais utilizada odor do suor; alguns medicamentos também
na prática clínica. A utilização da toxina botulí- atuam impedindo a hiper estimulação das glân-
nica do tipo A é mais comumente em casos de dulas sudoríparas, como drogas anticolinérgi-
hiperidrose axilar (METELO et al., 2014). cas; outros medicamentos como betabloquea-
Como opção terapêutica da hiperidrose, na dores ou benzodiazepínicos podem auxiliar na
última década, a toxina botulínica tem-se mos- redução da transpiração excessiva relacionada
trado eficaz, por ser considerada segura e de fá- ao estresse; a iontoforese utiliza a eletricidade
cil realização (VIEIRA et al., 2021; DUARTE leve a fim de desativar de forma temporária a
et al., 2021). O medicamento pode ser injetado glândula sudorípara. Visto isso, existe alterna-
nas axilas, nos pés e nas mãos a fim de bloquear tiva mais invasivas no tratamento da hiperi-
de forma temporária a sudorese excessiva (Fi- drose como a simpatectomia torácica, a qual é
gura 24.1). O procedimento é realizado com usada em casos mais graves da patologia, bem
uma agulha extremamente fina em intervalo de como quando os pacientes não respondem aos
1,5 cm a 2,0 cm entre elas e pode utilizar tratamentos clínicos ou anteriores (HAGE-
bloqueio anestésico; a dose média de aplicação MANN et al., 2019).
é de 75 U a 150 U por região, devem ser
diluídas em soro fisiológico 0,9% e aplicadas CONCLUSÃO
em intervalos de aproximadamente 7 a 16
meses. O armazenamento deve ocorrer em A hiperidrose acomete cerca de 3% da po-
congelador de -5 graus até que ocorra a diluição pulação mundial e tem impacto direto no coti
em soro fisiológico, e após em refrigeração de

179
diano do paciente. apenas temporário da paralização muscular
Dentre as terapêuticas existentes para a hi- causado pela toxina, associado ao custo elevado
peridrose, a toxina botulínica tem-se mostrado a longo prazo das administrações, os benefícios
eficiente e segura no controle e tratamento da mostram-se superiores por ser um método com
patologia em questão. caráter menos invasivo, se comparado com ou-
Embora a utilização da toxina botulínica tras terapêuticas, como também, é considerado
apresente algumas desvantagens como o efeito um tratamento seguro e eficaz ao paciente.

180
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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botulínica como tratamento: Revisão bibliográfi-

181
ÍNDICE REMISSIVO

Ácido hialurônico 99 Dermoscopia 28 Lipoaspiração 108

Alopecia 131 Dezembro laranja 44 Mamoplastia 85

Alopecia areata 131 Diagnóstico 136 Melasma 149

Atópica 73 Eflúvio telógeno 164 Molusco contagioso 7

Bioestimuladores de Embolia gordurosa 108 Padrão de beleza 142


colágeno 170
Envelhecimento facial Pediatria 73
Câncer de pele 44, 136 170
Peeling químico 149
Carcinoma basocelular Envelhecimentos da pele
Preenchedores dérmicos
35 122
99
Celulite infecciosa 59 Erisipela 59
Queda de cabelo 164
Cicatriz hipertróficas 154 Erupções liquenóides 28
Região zigomática 99
Cirurgia plástica 85 Estética 115, 122
Rejuvenescimento facial
Colágeno 122 Estresse 131 142

Colágeno facial 170 Harmonização facial 142 Sala de espera 44

Complicações 7, 108 Hiperidrose 1, 13, 66,176 Técnica cirúrgica 85

Covid- 19 164 Hiperpigmentação 149 Terapêutica 7, 35

Dermatite 19, 73 Infecções dermatológicas Terapias alternativas 50


59
Dermatite 73 Toxina botulínica 1, 13,
Inibidores da Via 66, 115, 176
Dermatite atópica 19, 50
Hedgehog 35
Tratamento 13, 50, 66,
Dermatologia 115, 154
Laser 154 136, 176
Dermatopatias 28
Lesões eczematosas 19

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