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Joana Maria de Sousa Teles, nº2021131295

Filosofia da Música - Fundamentos


Exercício 2

“Genius are born, not created” - sentença citada pelos youtubers Brett Yang e Eddy Chen, do
canal Two Set Violin, no vídeo «New “Fastest violinist in the world” is even faster (and more
sacrilegious)». A respeito do vídeo enunciado, a apresentadora do programa australiano em questão
refere que os génios musicais nascem e não são criados. Até que ponto? Neste ensaio, serão
debatidos três assuntos relacionados a esta proposição e duas visões cada uma associada a cada
assunto.
Deste modo, parte-se para a primeira discussão, onde se põe em causa o posicionamento de
duas vertentes artísticas sobre a problemática “nature vs nurture”. De forma sintética e imediatista,
coloca-se a questão: como é que a tese inicial se correlaciona com as artes plásticas/visuais? No
ensino obrigatório português, desde cedo, o desenvolvimento de capacidades artísticas (mais
propriamente, as que dizem respeito às artes plásticas) na criança é introduzido, essencialmente
através do ensino da variedade cromática, da limpeza dos borrões, da regra que instrui a não pintar
fora das linhas delimitadas. Mas mesmo que as lições artísticas não estejam associadas ao rigor
introduzido por construtos sobre a “idealização da perfeição”, ainda assim, é possível demonstrar a
um outro indivíduo o que um primeiro realizou sob uma tela, referindo por ordem cronológica
cada traço que tingiu ou delineou. Da mesma forma, a outrora “nova” composição de um artista
musical pode ser “desenformada”, expondo os segredos composicionais que a tornaram uma
composição genial. Poderá, então, ser o que imitou a obra genial um génio, tanto quanto o que a
concebeu?
Reflitamos, por ora, acerca do segundo tópico. Para tal, consideremos a premissa de que um
compositor pode ser considerado um génio, independentemente se pode ser imitado ou não, pois,
seguindo a lógica introduzida por Immanuel Kant, “é um génio por possuir um talento natural e
inato, através do qual a natureza dá regra à arte”. Tal se pode argumentar sobre um compositor. Mas
poder-se-á referir o mesmo sobre um músico-intérprete? Se se assumir que um intérprete musical
até possa possuir esse talento, menosprezar-se-á o trabalho que depositou para aperfeiçoar a técnica
instrumental? Se assim for, o que referir sobre os intérpretes que não demonstraram inicialmente
qualquer facilidade de “foro talentoso”, adquirindo capacidades apenas e exclusivamente através da
prática? Será que possuem, de igual forma, algum tipo de “genialidade musical”? Introduzindo
todas estas questões e ainda refletindo sobre outras, poder-se-á propor uma hipótese que refira, da
mesma forma, a possibilidade de coexistir compositores naturalmente talentosos e compositores que
alcançam uma composição genial através da prática e da exercitação? Se não, como explicar a criação
de escolas composicionais, se não para o mero ensino histórico da composição e dos compositores
associados a períodos anteriores e a discussão de ideias preconcebidas por outros artistas?
Por fim, mas nem por isso menos merecedor de especial atenção, será introduzido o último
assunto referente a esta problemática. A propósito do desafio lançado pelo docente da cadeira onde
este ensaio se insere e seguindo o pensamento lógico das questões anteriores, refletir-se-á sobre a
problemática “nature vs nurture”, colocando em confronto o ser Humano e a máquina. “Em
Setembro de 2021, anunciava-se que graças aos contributos da Inteligência Artificial, no contexto
de uma colaboração entre musicólogos, compositores e cientistas de computação, seria finalmente
possível ouvir a “Décima Sinfonia” de Beethoven (...)”. O acontecimento é relatado no site Classic
FM, onde descreve o desenvolvimento implícito na elaboração deste projeto: “a equipa ‘teve de usar
notas e obras completas do corpus beethoveniano – a par com os esboços disponíveis da Décima
Sinfonia – para criar algo que o próprio Beethoven pudesse ter escrito’.”; “(...) Tivemos de ensinar a
máquina a pegar numa pequena frase, ou mesmo apenas num motivo, e a usá-lo para desenvolver
uma estrutura musical mais longa e mais complicada, tal como Beethoven teria feito.’”.
Algo que não passa despercebido, após toda a cogitação preliminar deste ensaio, é a pergunta
que “grita” no pensamento do leitor, ao se debruçar nas citações escritas no parágrafo anterior: pode
ser considerada uma obra genial uma obra como a conclusão da 10ª Sinfonia de Beethoven, por
parte da tecnologia de Inteligência Artificial? Assim como refletido em primeira instância, não
poderá esta obra ser um exemplo de exercitação do uso de ‘regras’ ou ‘meios composicionais’ que
permitem escrever de forma idêntica a um compositor, mesmo se tratando de uma máquina e não
de um humano? Se primeiramente não foi considerado ser-se genial ao imitar um conjunto de regras
preexistentes para criar uma obra, poderá atribuir tal qualidade a este exemplo? Porém, se, ao
contrário, tiver em consideração a premissa que refere que aprender técnicas de forma exímia é
considerada uma característica de um indivíduo com um talento inato e natural, poder-se-á afirmar
que esta obra é uma obra genial, mesmo que não tenha sido desenvolvida pela capacidade inata e
natural de um ser Humano? Ou será considerada uma capacidade inata e natural a de conceber um
dispositivo capaz de realizar o sucedido?
Qualquer hipótese que responda a alguma das questões propostas neste ensaio, por mais bem
argumentada que esteja, terá sempre por base a concepção que o escritor tiver sobre o conceito de
‘génio’. E, por sua vez, esta será validada ou refutada pelo leitor, segundo a visão que este tiver do
conceito de ‘génio’. Porque, afinal, o que é considerado ‘genial’? Génio é aquele que morre
incompreendido ou aquele que, pelos seus méritos, alcança a popularidade em vida? Génio é aquele
que faz algo que nunca ninguém concebeu ou aquele que executa de forma exemplar e sem erro
aquilo que já foi feito? Um indivíduo é considerado génio, porque realiza/executa obras
consideradas geniais pela maioria? E se compuser algo que já não é considerado genial? É a obra
considerada genial ou o conceito é um adjetivo relacionado às capacidades humanas? O conceito de
‘génio’ é associado ao que é belo (conceito baseado na visão kantiana), não sendo necessariamente
famoso, ou é necessário alcançar uma certa popularidade, como demonstração da sua genialidade e
concordância maioritária dessa premissa? Ou será que conceito de génio é uma definição
"romantizada" do fenómeno de facilidade de aprendizagem, de execução ou de concepção de novas
ideias? Será que o conceito de ‘génio’ alberga uma definição sintética? Ou passou a ser um conceito
abstrato?

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