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A CRIATIVIDADE

PROFº ABRÃO IUSKOW

Muitos de nós, quando ouvimos a palavra "criatividade", logo a associamos com as artes ou com a
educação artística. Lembramos, quem sabe, de desenhos ou de pinturas de vasos. Talvez, para quem tenha esse
conceito de criatividade, seja difícil tratar desse tema sem entendê-lo sob o enfoque artístico. Isso nos leva a
perguntar:

"É possível entender a questão da criatividade tecnicamente?"

A pergunta está assim formulada por que, nos cursos sobre criatividade, em geral, nos é exigido que
desenvolvamos nossa capacidade criativa, através de dinâmicas e exercícios. Portanto, pratica-se a criatividade.
Mas, o que é criatividade? Se soubermos o que ela é, talvez possamos investigar pessoalmente o assunto e
sermos criativos em qualquer área.
Para começar, complete a frase a seguir, conforme a ideia que lhe venha:

Criatividade é a arte de _____________________________________________ .

(Complete antes de continuarmos…).


Completou? Talvez muitos tenham a tendência de terminar a frase com "é a arte de criar". Essa
finalização é a mais esperada, apesar de não dizer muita coisa, por que faz girarmos em círculo: Se criatividade
é a arte de criar, o que é criar? É ter criatividade? …
A forma com que vamos completar a frase, agora, talvez seja inesperada, mas, certamente, é provocativa:

"Criatividade é a arte de… esconder as fontes!"

Essa afirmação será o ponto de partida para abrir o nosso entendimento sobre o assunto. Esconder as
fontes? "Mas, como!?" dirão alguns. O que isso quer dizer?
Certamente, este conceito de criatividade carrega um pouco de ironia, pois pode ser entendido como um
incentivo à imitação ou ao plágio. Mais adiante aprofundaremos essa interpretação. Por enquanto, fiquemos
com o que ela pode conter de verdadeiro, ou seja, a ideia de que "nada se faz sem fontes".

Tudo vem de uma fonte?


Se pensamos na obra dos artistas, nos damos conta de como, em seu trabalho, eles não são obrigados a
declarar as suas fontes ou onde estão baseados os seus traços. De fato, nos pareceria estranho se uma obra de
arte, um quadro, por exemplo, viesse acompanhado de uma indicação das suas fontes inspiradoras, por assim
dizer, de uma "quadrografia", assim como existem as bibliografias.
Nos trabalhos escolares começa a ser mais exigido. Nos trabalhos acadêmicos, no entanto, a exigência
de que sejam citadas as fontes se torna indiscutível. Por exemplo, nos trabalhos de final de curso universitário
(monografia, dissertação ou tese), boa parte das páginas deverá ser reservada para indicar em qual pensador e
em qual obra a proposta teve origem, para somente depois propor uma mudança de interpretação nalgum ponto.
Se for verdadeira a afirmação de que a criatividade é a arte de esconder as fontes, decididamente os
trabalhos acadêmicos não deveriam ser criativos. Talvez fosse mais apropriado dizer que esses trabalhos devam
ser críticos, pois estão fundamentados em pesquisas, em exames e em experimentações. Todos esses itens têm
endereço certo. As fontes, portanto, podem e devem ser declaradas. Não é a universidade o espaço para a
pesquisa e para o acompanhamento do processo?
Quem sabe, já nos tenha vindo à mente a famosa Lei da Conservação da Massa de Lavoisier: "Na
natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. (Antoine Laurent Lavoisier, 743-1794)
E se isso for verdadeiro também para a natureza intelectual, ou seja, para o mundo das ideias?
Se for assim, as ideias que encontramos hoje já existiam, mas, nos foram apresentadas de uma maneira
diferente, "recombinada". Isso quer dizer que as ideias estavam combinadas num determinado tipo de relações
e foram combinadas em outro tipo?
Agora, podemos entender o sentido da afirmação. Pelo fato de que tudo é uma recombinação, as teses
intelectuais que conhecemos hoje em dia não são "criação" das pessoas que as apresentam, pois elas também
se basearam em fontes não reveladas.
Assim, quando dizemos que alguém é criativo naquilo que faz, o que se esconde por trás do que vemos
e elogiamos são justamente as fontes nas quais aquelas formulações se basearam?
Criatividade é mesmo essa arte de esconder com perfeição as fontes?

Parece-nos que a primeira pergunta que surge naquele que está acompanhando esse raciocínio, é a
respeito da criação: As pessoas, então, não criam nada?
Sobre isso, há pensadores que defendem que ao homem é impossível criar, pois ele não pode fazer algo
do nada. Tudo o que se faz tem uma fonte: mineral, vegetal ou animal. Nesse sentido, somente um ser perfeito
poderia criar, ou seja, somente à ideia que nós temos de Deus poderia ser dada essa possibilidade1. O que o
homem pode fazer é desenvolver o que já está criado. No português antigo, inclusive, Deus era denominado
"Creador" e não "Criador". Se ainda fizéssemos essa distinção, o correto seria afirmar que os homens criam
gado, plantas ou crianças e que Deus "creou", do nada, o universo e toda a natureza nele contida2.

A questão da autoria
Continuando fazendo essa distinção entre crear e criar, podemos dizer que o que é possível ao ser
humano fazer é ser "autor". A palavra "autor" vem do latim augere, e quer dizer "aquele que se aumenta".
Podemos encontrar, então, autores de jogadas esportivas, de livros ou de obras de arte, mas não podemos
esquecer que todos os que são autores, partiram de coisas já existentes.
O que faz um autor, afinal?
O autor apenas e somente recombina as possibilidades, colocando, porém, naquilo que faz, algo de si,
como se a resposta que desse a um problema fosse a "sua" marca. Da mesma forma que o bolo que a filha
aprende a fazer com a mãe sai diferente porque, na sua elaboração, a filha coloca algo dela, do seu jeito, do seu
estilo de cozinhar, apesar de usar basicamente os mesmos ingredientes. Nesse caso, como em qualquer caso de
autoria, há originalidade, mas não criação. É conveniente lembrar que da palavra "autor" surge a palavra
"autoridade".
Curiosamente, os autores de obras originais, quando questionados sobre a fonte de seu poder criativo,
dizem, algumas vezes, que se sentem instrumentos e que essa força vem de dentro deles. Não sabem explicar.
Podemos nos perguntar se esse poder é uma "habilidade", um "dom" ou uma "aptidão". Dependendo da resposta
que dermos, estaremos aceitando uma interpretação específica (religiosa, psicologista, biologista etc), que
carrega toda uma visão de mundo espiritualista ou materialista. Isso, por que essas palavra têm origem
determinada.
Qual a fonte de uma boa aula? Qual a fonte de um bom escrito?
Seria ingenuidade pensarmos boas aulas ou bons escritos não tenham surgido a partir das experiências
e das leituras daqueles que os transmitem. Os grandes autores, porém, aqueles que ficaram na história, são
indicadores, por si sós, de centenas de outros que não se perpetuaram. Exemplos? Basta pensarmos na
quantidade de professores que havia, por exemplo, na época do filósofo alemão Emanuel Kant (1724-1804).
Nunca ouvimos falar deles. Basta pensarmos na enormidade de livros que hoje preenchem as prateleiras das
livrarias e que, contudo, não serão citados no futuro. Isso nos leva a concluir que ser autor é algo que traz
grandes méritos para alguém. Por isso, a autoria deve ser tida na devida conta
Enfim, no mundo das letras, das artes e da lógica, seria melhor dizermos que existem pessoas que são
"autoras" de algo, em vez de "criadoras".

No campo das artes


Essa reflexão nos leva a pensar em como foi esse processo no mundo das artes. Na história da arte, o
conceito de belo artístico variou muito. Por muitos séculos, a arte esteve vinculada às ideias de harmonia, de
simetria e de organização. Hoje, não é mais entendida assim. Também a criatividade artística passou a ser

1
Nota do Autor: É bom esclarecer que aqui não falamos necessariamente de um Deus revelado, mas da idéia de Deus e das
exigências dessa idéia. A idéia que podemos ter de Deus é a de um Ser Perfeito. E um Ser Perfeito poderia tirar as coisas do nada.
2
Nota do Autor: A palavra criança deriva, justamente, do termo criação.
entendida como uma recombinação: as coisas já existentes, que estão combinadas de uma determinada maneira,
através da modificação criativa de alguém, passam a ser recombinadas.
Por séculos, as pessoas se guiaram por padrões artísticos únicos. Atualmente, os padrões de referência
são inúmeros. E se tornam cada vez mais numerosos, o que provoca maior liberdade no fazer. Podemos dizer
que, hoje, a recombinação é livre.
Em alguns setores, como na vestimenta, as referências-padrão são trocadas por referências quase que
pessoais. Não podemos nos esquecer, contudo, que essa mudança, no mundo das artes, teve sua origem em
grandes nomes, como Pablo Picasso, o pintor revolucionário da deformação, que defendeu que "o feio é belo".
Talvez não tenham sido muitos com uma proposta tão provocativa assim, mas, passando pelo rock, pela
arquitetura e pela moda, podemos perceber que a ideia que hoje rege o processo da produção formal e informal
da arte é a recombinação.

O estudo se faz necessário


Em uma de suas obras, o filósofo Baruch Spinoza (1632-1677) escreveu: "A melhor maneira de não
repetir o passado é estudando-o". Concordando com ele, o pintor surrealista Salvador Dalí afirmou que alcançou
o que alcançou, graças ao estudo de todos os que vieram antes dele.
Isso nos leva a considerar que quem quer fazer algo novo terá que conhecer o trabalho dos que lhe
antecederam. Poderíamos até dizer que a "novidade" de uma obra pode ser medida pelo conhecimento que o
seu autor tem daquela área. Só aqueles que têm conhecimento histórico e analisaram os anteriores conseguem
fazer algo que vem somar-se ao que já existe, apresentando obras que não sejam uma ingênua repetição.

A criatividade e o cultivo pessoal


Porém, além do conhecimento específico na área, o que não podemos esquecer é que a obra de uma
pessoa, mesmo daquelas com grande potencial, será "do tamanho" da sua "cultura", ou seja, será proporcional
ao conhecimento que a pessoa tem das produções da humanidade. Sendo assim, o que podemos esperar de
alguém que acredita e luta pelo seu potencial, mas não tem leitura? O que podemos esperar de alguém, se suas
leituras são repetições pobres de repetições pobres? Se alguém só lê o que "todo mundo" lê, se só conhece o
que "todo mundo" conhece, se só assiste o que "todo mundo", se só torce para aquelas atividades que "todo
mundo" torce, o que podemos esperar de sua obra, senão que seja uma obra que "qualquer um" poderia fazer?
As pessoas que fazem sucesso com sua criatividade e talento e que perduram com sua obra, demonstram,
em suas produções, que leram os clássicos e que têm um bom "conhecimento geral".

Quem tem criatividade?


Na constatação a respeito de sua própria criatividade, pode ser que alguém diga algo parecido com:

Assim, fica claro que a pessoa "realmente criativa" é aquela que também é criativa na administração de
suas habilidades.
Segundo a concepção moderna de criatividade, se crê que cada pessoa essa capacidade. O que ocorre é
que cada pessoa tem uma maneira diferente de expressar sua criatividade. A convicção atual é a de que a
realização do potencial criativo depende dos seguintes elementos3:
- Motivo, que é o desejo de ser criativo e a crença de que podemos ser criativos;
- Meios, que é o ter as habilidades necessárias e os conhecimentos apropriados;
- Oportunidade, que é a consciência das oportunidades em geral, o criá-las e o lidar com pressões
contra a criatividade.

3
Adaptado do livro: Criatividade: Descobrindo e Encorajando. Wechsler, Solange Múglia. Editorial Psy, Campinas, SP, 1993, pág.
43.
EXERCITANDO A MENTE

1. Assinale as lacunas, conforme suas ideias a respeito de criatividade.


SIM NÃO
a. A aprendizagem é mais rápida quando existe silêncio absoluto na classe.( ) ( )
b. O estudante aprende melhor quando sentado na cadeira à mesa. ( ) ( )
c. As salas bastante iluminadas são ideais para a aprendizagem. ( ) ( )
d. A hora ideal para ensinar tópicos difíceis é pela manhã, bem cedo. ( ) ( )
e. Os alunos que ficam se movendo na sala não conseguem aprender. ( ) ( )
f. Ensinar grupos de alunos é mais eficaz. ( ) ( )
g. A temperatura ideal na sala é entre 24 e 26 graus centígrados. ( ) ( )
h. O ensino de cada tópico deve ser partido em pequenos blocos para cada aluno.( ) ( )
i. Beber, comer ou mastigar, na sala de aula, atrapalha a aprendizagem. ( ) ( )
j. O tempo ideal para cada aula é de 45 a 50 minutos. ( ) ( )
k. Os estudantes que não conseguem lembrar bem o que lhes foi
falado são menos inteligentes. ( ) ( )
l. Tarefas escritas devem ser pedidas como dever de casa, como
forma de reforçar o ensino da sala de aula. ( ) ( )
m. Qualquer material novo deve ser lido antes pelo professor. ( ) ( )
n. É bom para o aluno, quando seus pais podem corrigir o seu dever de casa( ) ( )

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