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Muitos de nós, quando ouvimos a palavra "criatividade", logo a associamos com as artes ou com a
educação artística. Lembramos, quem sabe, de desenhos ou de pinturas de vasos. Talvez, para quem tenha esse
conceito de criatividade, seja difícil tratar desse tema sem entendê-lo sob o enfoque artístico. Isso nos leva a
perguntar:
A pergunta está assim formulada por que, nos cursos sobre criatividade, em geral, nos é exigido que
desenvolvamos nossa capacidade criativa, através de dinâmicas e exercícios. Portanto, pratica-se a criatividade.
Mas, o que é criatividade? Se soubermos o que ela é, talvez possamos investigar pessoalmente o assunto e
sermos criativos em qualquer área.
Para começar, complete a frase a seguir, conforme a ideia que lhe venha:
Essa afirmação será o ponto de partida para abrir o nosso entendimento sobre o assunto. Esconder as
fontes? "Mas, como!?" dirão alguns. O que isso quer dizer?
Certamente, este conceito de criatividade carrega um pouco de ironia, pois pode ser entendido como um
incentivo à imitação ou ao plágio. Mais adiante aprofundaremos essa interpretação. Por enquanto, fiquemos
com o que ela pode conter de verdadeiro, ou seja, a ideia de que "nada se faz sem fontes".
Parece-nos que a primeira pergunta que surge naquele que está acompanhando esse raciocínio, é a
respeito da criação: As pessoas, então, não criam nada?
Sobre isso, há pensadores que defendem que ao homem é impossível criar, pois ele não pode fazer algo
do nada. Tudo o que se faz tem uma fonte: mineral, vegetal ou animal. Nesse sentido, somente um ser perfeito
poderia criar, ou seja, somente à ideia que nós temos de Deus poderia ser dada essa possibilidade1. O que o
homem pode fazer é desenvolver o que já está criado. No português antigo, inclusive, Deus era denominado
"Creador" e não "Criador". Se ainda fizéssemos essa distinção, o correto seria afirmar que os homens criam
gado, plantas ou crianças e que Deus "creou", do nada, o universo e toda a natureza nele contida2.
A questão da autoria
Continuando fazendo essa distinção entre crear e criar, podemos dizer que o que é possível ao ser
humano fazer é ser "autor". A palavra "autor" vem do latim augere, e quer dizer "aquele que se aumenta".
Podemos encontrar, então, autores de jogadas esportivas, de livros ou de obras de arte, mas não podemos
esquecer que todos os que são autores, partiram de coisas já existentes.
O que faz um autor, afinal?
O autor apenas e somente recombina as possibilidades, colocando, porém, naquilo que faz, algo de si,
como se a resposta que desse a um problema fosse a "sua" marca. Da mesma forma que o bolo que a filha
aprende a fazer com a mãe sai diferente porque, na sua elaboração, a filha coloca algo dela, do seu jeito, do seu
estilo de cozinhar, apesar de usar basicamente os mesmos ingredientes. Nesse caso, como em qualquer caso de
autoria, há originalidade, mas não criação. É conveniente lembrar que da palavra "autor" surge a palavra
"autoridade".
Curiosamente, os autores de obras originais, quando questionados sobre a fonte de seu poder criativo,
dizem, algumas vezes, que se sentem instrumentos e que essa força vem de dentro deles. Não sabem explicar.
Podemos nos perguntar se esse poder é uma "habilidade", um "dom" ou uma "aptidão". Dependendo da resposta
que dermos, estaremos aceitando uma interpretação específica (religiosa, psicologista, biologista etc), que
carrega toda uma visão de mundo espiritualista ou materialista. Isso, por que essas palavra têm origem
determinada.
Qual a fonte de uma boa aula? Qual a fonte de um bom escrito?
Seria ingenuidade pensarmos boas aulas ou bons escritos não tenham surgido a partir das experiências
e das leituras daqueles que os transmitem. Os grandes autores, porém, aqueles que ficaram na história, são
indicadores, por si sós, de centenas de outros que não se perpetuaram. Exemplos? Basta pensarmos na
quantidade de professores que havia, por exemplo, na época do filósofo alemão Emanuel Kant (1724-1804).
Nunca ouvimos falar deles. Basta pensarmos na enormidade de livros que hoje preenchem as prateleiras das
livrarias e que, contudo, não serão citados no futuro. Isso nos leva a concluir que ser autor é algo que traz
grandes méritos para alguém. Por isso, a autoria deve ser tida na devida conta
Enfim, no mundo das letras, das artes e da lógica, seria melhor dizermos que existem pessoas que são
"autoras" de algo, em vez de "criadoras".
1
Nota do Autor: É bom esclarecer que aqui não falamos necessariamente de um Deus revelado, mas da idéia de Deus e das
exigências dessa idéia. A idéia que podemos ter de Deus é a de um Ser Perfeito. E um Ser Perfeito poderia tirar as coisas do nada.
2
Nota do Autor: A palavra criança deriva, justamente, do termo criação.
entendida como uma recombinação: as coisas já existentes, que estão combinadas de uma determinada maneira,
através da modificação criativa de alguém, passam a ser recombinadas.
Por séculos, as pessoas se guiaram por padrões artísticos únicos. Atualmente, os padrões de referência
são inúmeros. E se tornam cada vez mais numerosos, o que provoca maior liberdade no fazer. Podemos dizer
que, hoje, a recombinação é livre.
Em alguns setores, como na vestimenta, as referências-padrão são trocadas por referências quase que
pessoais. Não podemos nos esquecer, contudo, que essa mudança, no mundo das artes, teve sua origem em
grandes nomes, como Pablo Picasso, o pintor revolucionário da deformação, que defendeu que "o feio é belo".
Talvez não tenham sido muitos com uma proposta tão provocativa assim, mas, passando pelo rock, pela
arquitetura e pela moda, podemos perceber que a ideia que hoje rege o processo da produção formal e informal
da arte é a recombinação.
Assim, fica claro que a pessoa "realmente criativa" é aquela que também é criativa na administração de
suas habilidades.
Segundo a concepção moderna de criatividade, se crê que cada pessoa essa capacidade. O que ocorre é
que cada pessoa tem uma maneira diferente de expressar sua criatividade. A convicção atual é a de que a
realização do potencial criativo depende dos seguintes elementos3:
- Motivo, que é o desejo de ser criativo e a crença de que podemos ser criativos;
- Meios, que é o ter as habilidades necessárias e os conhecimentos apropriados;
- Oportunidade, que é a consciência das oportunidades em geral, o criá-las e o lidar com pressões
contra a criatividade.
3
Adaptado do livro: Criatividade: Descobrindo e Encorajando. Wechsler, Solange Múglia. Editorial Psy, Campinas, SP, 1993, pág.
43.
EXERCITANDO A MENTE