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Nota

Godsend é o primeiro romance da série Hell Yeah! Heritage. Se você já se


perguntou de onde esses homens McCoy vieram… esses romances históricos levarão
vocês ao início deles. Histórias profundas de romance e aventura, elas vão capturar sua
imaginação e coração.
Vale a pena repetir a história.
Sinopse

Expulso de casa, Austin McCoy viajou para oeste para construir uma nova vida
no Texas selvagem. A civilização ainda não chegou à região selvagem onde ele se
instalou e seu vizinho mais próximo está a uma jornada de dois dias de distância pelas
terras dos índios, cheias de ursos, pumas e lobos. Apesar de difícil, viver no meio
desses perigos não é o que pesa em seu coração. Com nada nem ninguém para com
partilhar os dias, Austin está perdido. A resposta para suas preces vem de uma fonte
inesperada…
Jolie Dumas também foi tirada do único lar que conheceu. A filha amada do
dono de uma plantação e sua amante negra, ela está tão aterrorizada por ser vendida
como escrava depois da morte de seus pais. Comprada e vendida, ela é acorrentada e
levada a caminhar de Nova Orleans até o Texas. Antes de ser entregue ao seu novo
mestre, mas o comerciante de escravos foi morto e Jolie conseguiu escapar. Só e
vulnerável, ela procura por um lugar seguro para se esconder, sem saber que o
santuário no qual entrará poderá ser o local ao qual ela realmente pertence.
Quando Austin abre seu coração para a bela mulher, ele não faz ideia do seu
passado ou do futuro que ela enfrenta. Sabendo o que acontecerá com ela se alguém
descobrir a verdade, Jolie esconde sua identidade dele. Por ser traída antes por aqueles
em quem confiava, ela não faz ideia de que aos olhos de Austin Jolie não poderia ser
mais perfeita.
Ela é sua dádiva de Deus.
Prólogo 1
O Sótão de Tebow Ranch, Kerrville, Texas - Dias Atuais

— Um dia desses, precisamos vir aqui e dar a esse lugar uma limpeza completa. —
Libby McCoy, que estava de joelhos, se levantou e tirou a poeira das mãos esfregando-as nas
laterais da calça jeans. — Eu pensei que com certeza veria um baú aqui cheio de roupas velhas.
Cady vagarosamente observou o grande cômodo retangular com seu teto de
madeira e papel de parede verde desbotado. A iluminação não era a melhor do mundo,
uma única janela de frente para o norte provia a única iluminação natural enquanto
uma única lâmpada nua pendia no centro do quarto.
— Concordo com a limpeza. Se organizássemos isso aqui, imagine os tesouros
que encontraríamos.
Conforme seu olhar movia-se de um lado ao outro, estava ciente dos fantasmas
contornando o passado, pairando sobre seus tesouros pessoais. Cenas e lembranças de
dias passados passaram pela mente de Cady. Ela respirou profundamente, permitindo
que as imagens viessem, mas ainda fazendo o melhor para se focar no assunto mais
importante.
— Vamos olhar mais perto da janela.
— Ok — Libby concordou. — Desejei em meu coração com algo tipo uma saia
longa, mangas bufantes e muita renda. Preferencialmente cor de rosa, para combinar
com as minhas botas e chapéu novos.
Cady riu, imaginando sua bela companheira enrolada em algo de época.
— Achei que você fosse mais do estilo saloon.
— Tentando ser boa esse ano — Libby confidenciou em um sussurro. — Essa
celebração do Founder's Day é importante para o Aron. Eles dedicarão à estátua que
ele fez do Charles Goodnight, aquela que ele esculpiu para ficar em frente ao tribunal
do condado de Kerr,
— Eu sei. — Cady olhou para ela. — Joseph está trabalhando em uma surpresa
para o Aron. — Ao ver o olhar inquisitivo de Libby, ela rapidamente cedeu, ansiosa
para com partilhar as notícias. — Willia e Waylon vão cantar e o Governador
Chancellor fará a apresentação.
— Oh, ótimo! Aron amará, ele finge ser durão, mas é um ursinho de pelúcia, na
verdade.
Cady escondeu um sorriso ao ouvir a descrição de Libby do irmão McCoy mais
velho, enquanto cruzou o sótão. Para não alarmar Libby, que não gostava de pensar em
nada sobrenatural, ela não descreveu o que estava vendo. Imagens embaçadas de
pessoas há muito tempo mortas a fascinavam. A mãe de Joseph, Sue McCoy, parou em
uma cômoda com a mão pousando na superfície de madeira, encarando a fotografia de
seus filhos. Outra senhora estava sentada em uma antiga cadeira de balanço,
segurando um bebê em seus braços. Até mesmo enquanto Libby e Cady caminhavam
em direção a ele, um homem idoso com barba e um rifle na mão encarava a janela. Ele
não reagiu à aproximação delas, simplesmente continuou olhando para um mundo que
não existia mais.
Cady não sentiu medo. Essas aparições não eram fantasmas. Elas não estavam
lá de verdade. As aparições assombrando o sótão de Tebow se manifestavam somente
à Cady, que sentia as memórias presas aos seus preciosos pertences.
— Aqui está! Ok, veremos o que temos. — Libby se ajoelhou perto do grande
baú de madeira, erguendo a tampa pesada.
— Deixe-me ajudar. — Cady ficou de joelhos para ajudá-la a empurrar, antes
que caísse em cima dos dedos de sua cunhada. Assim que os conteúdos
cuidadosamente empacotados foram expostos à luz, as duas mulheres os encararam
maravilhadas.
— Olhe, Cady! — Libby puxou xale de renda e uma bolsa coberta de pérolas. —
Não é lindo?
— Sim, é. — Cady tocou os itens com reverência, ciente da visão cintilante de
uma mulher de cabelo ruivo próxima a eles, murmurando uma melodia suave. Ela
ajudou Libby a tirar as coisas para fora, uma a uma, maravilhada com os pequenos
botões, os pontos de costura minúsculos, era um milagre completo daquelas coisas
sobreviverem a tanto tempo, depois de seus donos terem falecido. — Eu gosto desse.
— Em pé, ela segurou um vestido cor de creme bordado e com pérolas.
— Isso é um vestido de noiva?
— Não, acho que não. — Ela olhou para ele. — Acho que é só um de festa… —
Ela parou de falar quando uma pequena pintura a óleo caiu no chão de madeira com
uma pancada forte. — O quê? — Cady se inclinou para pegar a pintura, e quanto a
tocou, uma onda elétrica invadiu seu braço. Uma nuvem surreal de conhecimento
invadiu o seu cérebro. Com curiosidade, levou a pintura até seus olhos. A imagem
estava quase desaparecendo, mas se via duas pessoas. Um homem de cabelo claro,
sentado num tronco, vestindo uma jaqueta de franjas. Atrás dele, com os braços em
volta de seu pescoço, e sua cabeça inclinada contra a dele, havia uma mulher de
cabelos negros, longos e ondulados. Apesar de suas feições estarem borradas, a
profundidade de seu amor era óbvia.
— Olhe para isso. — Com a mão tremula, Cady segurou a fotografia para que
Libby a examinasse.
— Minha nossa, que lindo. Quem são esses?
Cady virou o retrato e achou uma escritura do lado de trás. Chegando mais
perto da janela, sendo cuidadosa para evitar o cavalheiro que estava a postos, ergueu
sua mão próxima ao vidro.
"Austin e Jolie McCoy. Nacogdoches, 1827".
— Nacogdoches, isso é o Oeste do Texas, não é? — Libby se inclinou para ver
melhor.
— Sim, a cidade mais antiga do Texas, pelo que ouvi falar.
— Não me lembro de ninguém mencionar esses dois. — Libby sorriu,
colocando a ponta do dedo nas duas figuras, o momento de devoção deles capturado
para sempre naquele retrato. — Você não adoraria saber quem são? Saber como fora a
vida deles? Eu terei que perguntar ao Aron se ele sabe algo sobre Austin e Jolie. Adoro
esse nome ―Jolie ‖. — Ela deixou o simples, porém elegante, nome sair desenrolando
por sua língua.
— Jolie — Cady sussurrou, balançando a cabeça, encantada pelo que estava
vendo, sentindo… duas crianças pequenas estavam correndo e brincando, a
gargalhada deles vindo aos seus ouvidos com uma lacuna de tempo e espaço…
— Jolie, espere por mim!
Prólogo 2
No Coração do Pântano de Louisiana, Fora River Road - 1816

— Jolie, espere por mim! — Abraham correu atrás de sua prima, a risada
infantil deles ressoando pelo pântano.
— Corre, Abraham, os piratas estão vindo! — Ela pulou de um lado do
pequeno córrego para o outro, seu pé escorregando na lama. — Precisamos encontrar o
tesouro antes deles!
— Deixe-me pegar minha espada. — Abraham parou para pegar um galho de
um pessegueiro, empunhando-o como uma espada. — Defenderei você, Jolie! Não
tema!
Eles correram pelo pântano, desviando de fios de musgo cinzento, enquanto
riam e brincavam.
— Crianças! Jantar!
O grito de Grandmere fez Jolie se mover até parar.
— Frango frito, Abraham. Vamos. — Ela agarrou a mão de seu acompanhante
menor. — Está com fome?
— Morrendo, minha barriga acha que minha garganta está sendo cortada. —
Ele fez um movimento como dedo em torno da garganta. — Você acha que a sua mãe
cozinhou algo doce?
— Bolo de abacaxi — ela sussurrou com prazer — Coberto com coco.
— Isso parece delicioso. — Abraham esfregou o estômago. — A comida na sua
casa é tão boa.
— O papai cuida de nós. Ele traz coisas maravilhosas para mim e mamãe. —
Jolie deu um grande sorriso a Abraham. — Ele nos ama muito.
— Você é sortuda. — Abraham balançou seus braços para frente e para trás.
Conforme caminhavam, a escuridão parecia vir rápido. O sol desapareceu atrás das
árvores e o pântano foi coberto com sombras. — Vamos rápido.
— Está tudo bem, nada aqui pode nos machucar — Jolie garantiu a ele. — Olhe
para os vagalumes. — Na frente deles, vários pontinhos de luz dançavam na escuridão.
— Grandmere diz que eles são espíritos amigáveis.
Os olhos de Abraham ficaram tão arregalados que Jolie riu.
— Não gosto de pensar em espíritos, — ele disse em uma voz trêmula. — O
desconhecido me assusta.
— Não se preocupe, estou aqui. Eu não tenho medo deles. — Jolie apertou sua
mão.
— Sobre o que vocês estão cochichando? — Jean Marie Dumas colocou as mãos
no quadril. — Quando digo para se apressarem, não digo isso só para que ouçam o
som da minha voz.
A bronca da avó de Jolie a fez rir.
— Desculpe, Grandmere. Nós estávamos brincando de piratas. Jean Lafitte
enterrou ouro aqui por perto, o papai disse.
— Seu pai não sabe de tudo — Jean Marie resmungou. Conforme as crianças
entraram, ela pegou sua longa saia rodada e os seguiu em direção ao bangalô. — Jolie,
estudaremos hoje à noite, então nem pense em escapar.
— Não vou, estou ansiosa para os meus estudos.
— Abraham, você deveria ficar. Sua querida mãe, que Deus a tenha, gostaria
que eu ensinasse a você também. Aquele seu pai…
Sem querer que sua Grandmere começasse a falar sobre o pai e a madrasta de
Abraham, Jolie falou por si mesma, apertando a mão dele.
— Ensinarei Abraham a ler.
— Ler? Eu? — A voz de Abraham hesitou. — Não tenho livros. Eu não preciso
aprender a ler. Eu amo desenhar.
— Você desenha muito bem, mas precisa aprender a ler. — Jean Marie retrucou
o protesto de seu neto.
— Você pode pegar meus livros emprestados, Abraham — Jolie ofereceu. — Lá
em Oak Hill, papai tem uma sala enorme cheia de livros.
Caminharam o suficiente para entrar na clareira. À frente deles estava o
bangalô colorido que John Belmont construíra para sua bela Louisa e a filha deles,
Juliette Jolie. Na luz do dia, as paredes em tom pastel rivalizaram com as flores
florescendo nos canteiros bem cuidados. A madrasta de Abraham, Eula, ajudava
Louisa a manter a casa e os jardins. A filha mais velha de Jean Marie, Estelle, morrera
quando Abraham nasceu. Jean Marie não aprovava o pai de Abraham, e o culpou por
não a ter chamado quando o bebê nasceu. Estelle sobreviveria se eu estivesse lá para ajudar,
era o mantra da velha mulher. Então, dias assim eram o único momento que a
Grandmere passava como menino.
— Por que seu pai não mora com você? — Abraham perguntou inocentemente.
Jolie olhou para seu primo pequeno, sua pele morena o tornava quase invisível
na escuridão. Ela buscou uma explicação que sua mente de oito anos de idade
conseguiria colocar em palavras.
— Porque ele é branco e elas não são. — Jean Marie disse.
Jolie não disse nada, mas Abraham não deixaria assim. Conforme subia as
escadas até a varanda, disse em confusão.
— Jolie parece branca para mim, Grandmere.
— Bem, ela não é. Ela é morena. Olhe para mim, Abraham. Eu sou sua avó, de
que cor eu sou? — Jean Marie encarou a criança, que só estava protegido da amargura
da escravidão pela distância e boa sorte.
Abraham encarou a velha senhora.
— Não tenho certeza. — Assim que entraram nas portas do cômodo
aconchegante iluminado por velhas e lamparinas de querosene, ele encarou ela
novamente. A pele de Jean Marie não era preta, mas também não era branca. — Você é
algo no meio?
Jean Marie balançou a cabeça.
— Não existe algo no meio. Uma gota de sangue define tudo. A cor não é
definida somente pela aparência.
— Shh, mamãe, o que está dizendo às crianças? — Louisa entrou na sala. — O
jantar está servido. Vão se lavar para que possamos comer juntos. Abraham, sua
madrasta disse que deve ir para casa assim que terminarmos de comer.
— Sim, tia.
Jolie e Abraham saíram, e Louisa encarou os olhos de sua mãe.
— Não quero que Jolie se preocupe com quem ou que é.
Jean Marie balançou o braço.
— Acha que pode protegê-la para sempre? Você acha que essa casa que
Belmont construiu para você é mágica, que pode escapar da realidade por que vive em
uma cortina de fantasia? Além das fronteiras desse pântano está o resto do mundo,
onde pessoas como vocês são escravizadas, trabalham em plantações de algodão e são
açoitadas se ousam desmaiar por causa do calor. A única coisa entre você e os escravos
é um homem.
Louisa Dumas ergueu a cabeça com orgulho.
— Sim, um homem. Um homem que me ama. Um homem que ama nossa filha.
— Você não é a esposa dele, Louisa. Você é a amante. Você tem um casamento
não oficial. Não vale pela lei.
Louisa baixou a cabeça.
— Eu não posso evitar ser quem sou ou quem você é, mas posso fazer minha
filha se sentir segura e amada. Ela não é uma escrava. Ela é a filha de um dos homens
mais ricos e poderosos do sul. Jolie tem um futuro maravilhoso e iluminado. O pai dela
cuidará dela.
— Quando papai vem, mamãe? — Jolie perguntou da porta.
Louisa sorriu.
— Amanhã, ele nos visitará, amanhã.
***
Depois do jantar, Abraham foi para casa, deixando três gerações de mulheres
Dumas sentadas em volta da mesa. Louisa costurou sob a luz da lâmpada enquanto
Jean Marie se sentou ao lado de Jolie para vê-la terminar suas lições.
— Conte-me sobre sua casa na Martinica. — Jolie pediu à Grandmere. — Eu
não quero me esquecer de nada.
O rosto de Jean Marie transmitiu felicidade, quando começou a falar.
— Minha casa é uma joia, uma esmeralda magnífica em um mar azul.
Montanhas altas se erguem em meio à selva e nuvens brancas como pérolas formam
uma cortina protetora feita pelos deuses.
— E você fazia mágica na Martinica? — Os olhos de Jolie fixaram-se nos de Jean
Marie, implorando para saber mais.
— Você não precisa saber nada sobre mágica, — Louisa comentou.
Jean Marie deu um tapa na mesa.
— Juliette Jolie merece saber mais sobre as origens dela. O que eu posso ensinar
a ela poderia salvar sua vida e a de outros, algum dia. Sua filha tem o dom da cura. Eu
já vi evidência disso.
Louisa torceu o nariz.
— Não estou falando sobre ervas e poções, mãe.
Jolie prestou atenção na conversa entre sua mãe e sua avó.
— Eu conheço muitas plantas e suas utilidades. Grandmere já me ensinou essas
coisas. — Ela colocou a mão sobre a de Jean Marie. — Eu quero aprender mais.
Para o desgosto de Louisa, sua mãe começou a transmitir o conhecimento que
amava, mostrando à Jolie que havia mais no mundo do que seus olhos podiam ver ou
suas mãos podiam tocar.
A manhã seguinte trouxe o som de um cavalo e uma carruagem ecoando pela
janela aberta. Ouvindo os sons bem-vindos, Jolie pulou da cama, jogando os lençóis
para trás.
— Papai! — Ela não se importou de mudar de roupas. Com alegria, correu pelo
corredor e desceu as escadas, com sua camisola comprida arrastando pelo chão aonde
ia. — Papai! — Quando chegou à sala, encontrou seu pai abraçando sua mãe. Jolie
esperou impacientemente até que eles terminassem, então se jogou contra o homem
alto e forte, abraçando-o com força. — Oh, papai. Meu papai. Eu amo tanto você!
— Eu amo você minha linda menina. Como você está? — Ele perguntou,
pegando-a no colo e girando em um círculo. — Eu senti tanto a sua falta.
— Oh, eu também senti sua falta. — Ela beijou sua bochecha. — Eu estou bem.
Estamos todos bem agora que você está aqui. — Muitas noites ela ficou triste,
perguntando-se por que ela e sua mãe não podiam morar na mesma casa que seu pai.
Quando perguntava, as explicações que recebia não faziam o menor sentido. Mas
quando ele vinha vê-las, a alegria a fazia esquecer de toda dor.
— Eu comprei uma surpresa para você, Jolie, — ele informou, colocando-a
novamente no chão.
— É mesmo? O quê?
Ele foi até a porta e pegou um pacote.
— Veio direto de Paris.
Louisa assistiu à cena com amor em seus olhos.
— Você a mima, John.
— Eu tenho a intenção de mimar as duas. — Ele levou a mão ao bolso e tirou
uma pequena caixa. — Para a mulher mais linda do mundo.
Tanto Jolie quanto Louisa abriram seus pacotes com deleite.
— Oh, John! — Lousa exclamou ao ver um bracelete de ouro cheio de
diamantes. — É lindo!
— Não tão lindo quanto o que papai me deu! Olhe, mamãe! — Jolie ergueu a
boneca de porcelana com um longo cabelo escuro e um vestido de seda cor de rosa. —
Ela não é maravilhosa?
Jean Marie ficou atrás, vigiando sua família. Ela balançou a cabeça, tentando
afastar a nuvem negra que dominava sua mente. Dias ruins estavam se aproximando e
não sabia como afastá-los.
Como em todas as visitas que John Belmont passava tempo com sua família,
havia muita risada. Eles passeavam, com iam juntos, e quando Jolie dormia seus pais se
retiravam para o quarto.
Depois, quando a noite se aproximou, John pegou as mãos de Louisa.
— Eu tenho outra surpresa para você. Eu quero que venha a Nova Orleans
comigo para ir ao baile.
— Nova Orleans? — Louisa não conseguiu disfarçar o contentamento em seu
rosto. — Faz tanto tempo que estive em qualquer outro lugar.
— Bem, já está na hora. Vai ser a mulher mais linda lá.
— E é um dos poucos lugares ao qual poderiam ir juntos sem que as pessoas a
olhem torto. — Jean Marie disse do outro lado da sala. Ela se sentou em uma cadeira
de balançar próxima à janela, mexendo na fronha da cama de Jolie.
— Não estrague as coisas, mãe. — Louisa disse em voz alta. — John e eu
precisamos desse tempo juntos.
— E quanto a mim, papai? — Jolie perguntou. — Eu irei com vocês?
Ele balançou a cabeça.
— Não, essa viagem é apenas para mim e sua mãe. Vamos levar você em outra
viagem quando for mais velha. Talvez à Paris. Gostaria disso?
Apertando sua boneca contra o peito, Jolie tentou imaginar como era Paris. Ela
ouviu histórias sobre lindas ruas, lojas elegantes e o pitoresco Rio Sena. Mas desde que
seu mundo era simplesmente o pântano, era uma imagem difícil de conceber.
— Eu adoraria ir a qualquer lugar com você, papai, — ela disse a ele com um
sorriso.
— Nós iremos de barco a Nova Orleans? — Louisa perguntou, retornando a
conversa para uma preocupação mais próxima.
— Sim, eu tenho as passagens. Iremos pelo rio em um barco chamado Bayou
Queen, e ficaremos no meu apartamento no French Quarter. Felix, meu irmão, está lá
agora, mas ele viajará para o Oeste logo. Teremos o lugar só para nós dois.
Planejaremos em ficar por uma semana.
— Tem certeza de que pode ficar longe de Oak Hill por tanto tempo? — Louisa
perguntou com afeição.
— Sim, eu posso. As plantações estão bem e eu tenho algum tempo sobrando
para ficar com a minha garota.
— Oh, John. — Louisa passou os braços em torno do pescoço de seu amante. —
Você me deixou tão feliz. Você nos deixou felizes.
— Ótimo. — John Belmont pressionou Louisa contra seu coração, conforme sua
filha os olhava com afeição.
Jolie sentia como se nada no mundo pudesse separá-los.
Ela estava errada.
***
— O que foi? O que foi? — Jolie gritou. Sua Grandmere estava no meio do
patim, com os braços abertos em direção ao céu. Lamentando.
Os barulhos que vinham de Jean Marie eram terríveis. Longos, altos,
agonizantes gritos que saíam de sua garganta.
— Eles estão mortos! Eles estão mortos!
— Quem está morto? — Jolie perguntou, alarmada.
Abraham e sua madrasta vieram correndo em direção ao pátio para ver o que
era aquela gritaria.
— O que aconteceu? — Eula gritou, pegando Jolie em seus braços. — Você está
matando essa criança de susto. Teve uma visão?
— Sim! — Jean Marie se inclinou, colocando as mãos no chão. — O barco
explodiu. Eu consigo ouvir o barulho. Eu sinto o calor, o fogo, a fúria da água no rio.
Eu vejo pó, nuvens de pó no ar.
— O quê? Eu não entendo. — Jolie soluçou. As palavras de sua Grandmere não
eram claras. — Quem está morto e por que tem pó?
— Shh, — Eula tentou acalmar a menina. — Não sabemos de nada, ainda. Não
sabemos se tem alguém morto. Sua avó está tendo um pesadelo, só isso.
Mas Jolie sabia no fundo de seu coração a verdade. As visões e sonhos da
Grandmere se tornavam realidade. Alguns diziam que ela era uma profeta.
— Seus pais estão mortos, criança. Queimados e afogados.
Jolie pressionou seu rosto contra o pescoço de Eula, chorando inconsolável.
Dois dias se passaram até a visão de Jean Marie se confirmar. O irmão de seu
pai, Felix, venho dar a eles a trágica notícia. Assim como a visão revelou, o barco
explodiu na curva do rio, ao Sul de Baton Rouge. Escravos de uma plantação próxima,
Rosemont, ouviram o barulho e vieram correndo. A visão que tiveram era horrível. O
barco estava em chamas e afundando. As pessoas estavam na água, segurando-se em
destroços, algum as com as roupas em chamas. Os escravos de Rosemont ajudaram as
vítimas a chegarem à margem, colocando-os sobre lençóis cobertos com farinha para
aliviar a queimadura. Muitos morreram.
Entre os mortos estavam Louisa Dumas e John Belmont.
Jolie era uma órfã.
***
Louisiana – 1819

Jolie sempre sonhou em visitar Oak Hill. Sempre imaginou segurar a mão de
seu pai quando o fizesse.
Esse sonho jamais se realizaria.
Três anos haviam se passado desde que perdera seus pais e agora sua avó
também havia partido.
Jolie estava sozinha.
A família de Abraham estava cuidando dela, vendo-a diariamente, até seu tio
Felix aparecer e dizer a ela que iria com ele para a casa de sua família. Em um torpor
triste, empacotou suas coisas e deixou seu amado bangalô para viajar alguns
quilômetros. A distância podia ser pequena, mas as outras diferenças fizeram parecer
que ela tinha viajado para outro continente. Quando a carruagem parou na casa que
parecia um castelo, Jolie não conseguiu acreditar no que via. A casa era enorme, com
três andares. Enormes pilares brancos flanqueavam a varanda.
— Era aqui que meu papai morava?
— Sim. — Felix respondeu bruscamente enquanto olhava pela janela os campos
de algodão. Jolie seguiu o olhar dele. Sabia sobre as pessoas trabalhando nos campos.
O pai de Abraham colhia algodão. Nunca tinha visto um campo tão grande ou tantas
pessoas em um único lugar. Deveria haver duzentos homens, mulheres e crianças
trabalhando sob o sol quente. — Foi aqui que a família Belmont fez fortuna… nas
costas dos… — Ficou em silêncio. — Quantos anos você tem, Juliette Jolie?
— Onze.
— Sabe ler?
— Sim. — Ela estava tão nervosa. Jolie apertou sua bolsa em sua direção. — Eu
morarei aqui com você?
Felix assentiu.
— Sim, com minha mãe, minha esposa e minha filha.
Os olhos de Jolie se arregalaram como pensamento de conhecer tantas pessoas.
— Quantos anos tem sua filha?
— Também tem onze. — Ele deu um breve sorriso. — O nome dela é Charlotte.
Jolie não conseguiu perguntar mais nada, porque a carruagem parou. Seu tio
não se mexeu até um homem preto em um terno abrir a porta. Quando chegou a hora
de Jolie desembarcar, o homem idoso lhe ofereceu a mão para ajudá-la a descer o
degrau.
— Bem-vinda, senhorita Jolie.
— Obrigada, senhor — ela murmurou, seus olhos erguendo-se para observar as
três pessoas esperando sua chegada no topo das escadas. Uma era uma pessoa sisuda,
uma mulher de idade em um vestido cinza com um xale branco nos ombros. A outra
tinha lábios finos e longo cabelo loiro claro. Jolie pensou que ela era linda, ou seria se
não houvesse tanta raiva em seus olhos. Mas a terceira pessoa… a terceira pessoa no
topo dos degraus fez Jolie sorrir. — Charlotte, — ela sussurrou.
Quando seus olhos se cruzaram, nenhuma delas conseguiu esconder o sorriso
do rosto. Em um instante, o mundo de Jolie mudou. A travessura brilhando nos olhos
de sua prima espelhava a sua própria.
Tudo ficaria bem, Jolie tinha encontrado uma amiga.
— Felix, não tem outra maneira? — a mais velha perguntou, virando as costas
para Jolie para encarar seu filho. — O que as pessoas vão dizer?
— Eu não me importo como que vão dizer, mãe. Ela é a filha do John. O que
queria que eu fizesse? Colocasse ela a leilão?
Ele dispensou a mão com um balançar de mãos.
— Lisette, como está, minha querida? — Ele cumprimentou a esposa com um
beijo na mão dela.
— Tolerável, o calor é infernal. Charlotte não quer fazer as lições e Cook
queimou o jantar. Quando podemos ir à Paris? Estou cansada do Sul.
Jolie observou sua tia. Ela parecia tão infeliz.
— Psst. Psst.
Jolie virou sua cabeça para ver Charlotte tentar chamar atenção.
— O quê?
— Eu como insetos.
Jolie riu.
— Come?
— Silêncio! — Lisette repreendeu as duas. — Vamos levar… a menina lá para
dentro e fazer o melhor desta situação.
Jolie se sentiu mal. Não era burra. Ninguém precisava dizer que ela não era
bem-vinda, ela ouviu nas vozes e viu no rosto de todos.
Exceto Charlotte.
Ela franziu o nariz cheio de sardas para Jolie, e mostrou-lhe a língua.
— Eu mostrarei minhas bonecas para você. Podemos brincar de hospital.
Josephine tem uma perna quebrada.
Balançando a cabeça, Jolie concordou.
— Eu sou uma boa doutora. Tenho ervas.
— Você não trará nenhuma medicina pagã de escravos para minha casa. —
Lisette disse a ela. — Felix, você inspecionou a sacola dela? Eu ouvi sobre a avó dela,
era uma feiticeira.
Jolie franziu a testa e parou de andar, mas seu tio a puxou pelo braço e a fez
subir com ele.
— Chega, Lisette. Vamos entrar e ajeitar tudo conforme o tempo for passando.
Antes que Jolie soubesse, estava dentro de uma casa tão grande e boa que não
conseguia fechar seus olhos e boca. O aviso de sua avó para que não tocasse em nada
não passou despercebido. Jolie abraçou sua sacola em frente a si, com ambos os braços,
para que ela ficasse menor e não batesse em nenhum dos vasos grandes que pareciam
estar em todos os lugares.
— Qual quarto? — Tio Felix perguntou. — O do lado de Charlotte?
— Não! — Lisette ladrou. — Aquele na cozinha.
— O quarto dos serviçais? — Ele perguntou lentamente.
— Sim, é um quarto perfeitamente bom.
— Eu não me importo. — Jolie disse, sem querer causar problemas. Seu quarto
em casa não era muito grande. — Eu não preciso de muito espaço.
— Muito bem. — Felix a guiou à direita.
— Charlotte, vá para seu quarto. — Lisette ordenou à filha.
— Eu quero brincar com a Jolie, — choramingou.
Jolie não ouviu mais nada porque foi guiada por uma série de cômodos até os
fundos da casa onde diversas mulheres estavam em frente a um forno à lenha.
— Por aqui. — Ele apontou. Eles passaram pela cozinha por um corredor
estreito onde Felix abriu uma porta. — Aqui está. Acho que você ficará confortável
aqui.
— Eu vou. — Jolie olhou em volta, era um quarto muito pequeno com uma
janela, uma cama estreita e um baú com três gavetas.
— Eu não vejo um penico. — Ele agiu como se não soubesse o que fazer. — Tem
uma latrina não muito longe da porta dos fundos. A que os… escravos usam.
Jolie sentiu o desconforto do tio. Ela não entendia, mas tentou deixá-lo
tranquilo.
— Tudo bem, tio Felix. Vai ficar tudo bem. Obrigada por me deixar vir. Eu não
sabia o que faria. Eu sinto falta da minha família. Eu amava meu papai.
Felix esfregou a mão na testa. Jolie notou que ele se parecia um pouco com seu
pai, mas tinha menos cabelo. O casaco que ele usava parecia novo, mas o colarinho
parecia apertar seu pescoço. Ele não parecia nem um pouco feliz.
— Eu sei que sim, Jolie. Eu sei que sim. Eu nem sempre concordava com as
escolhas de John, mas ele definitivamente era um bom homem.
— Sim, ele era, — Jolie concordou, mas ele não a escutou. Com uma leve
curvatura, seu tio a deixou sozinha. Sem saber o que mais fazer, Jolie se sentou na
cama e esperou alguém vir lhe dizer o que deveria fazer a seguir.
***
Plantação Oak Hill, 1819

— Eu não entendo. — Jolie ergueu seu braço próximo ao de Charlotte. Elas se


sentaram no chão do sótão sob a luz de um raio de sol. — Minha pele não é mais
escura do que a sua.
Elas com pararam seus pequenos braços. Elas pareciam iguais – pequenas,
ainda com um pouco de gordura infantil. A única diferença que se via eram as
sardinhas vermelhas que Charlotte tinha onde Jolie tinha duas sardinhas escuras.
— Mamãe chamava de sardinhas, mas a Grandmere chamava de verruga. —
Ela franziu o nariz e deixou o dedo traçar sua pele. — Eu não sei por que, verrugas são
maiores. — Ela virou a palma da mão para cima. — Eu tenho uma marca de nascença,
viu?
Charlotte se aproximou, encarando a marca negra no dedo médio de Jolie.
— Parece um coração. Que bonita.
— Eu acho estranha.
— Adultos são estranhos. Você parece normal para mim. Eu não sei por que a
mãe diz que você é diferente. Mas é, eu acho. — Ela se apoiou nos cotovelos. — Você se
sente diferente?
Jolie se virou de costas.
— Não, eu me sinto como eu. Abraham era mais escuro, a pele dele parecia a
cinza escura que a Grandmere usava para proteção. Ela dizia que vinha de um vulcão
que ficava bem atrás da casa dela na Martinica. — Ela ergueu o braço para estudar a
cor de novo. — Quando eu e Abraham corríamos pelo pântano e nos arranhávamos, a
cor de nosso sangue era igual. — Jolie rolou para encarar Charlotte. — O que isso
significa? Como podemos ser diferentes se somos iguais por dentro?
Charlotte suspirou.
— Eu não sei, Jolie. Eu não entendo muitas coisas. Como cálculo, eu odeio
números. E eu não quero aprender a falar francês. — Um sorriso repentino iluminou
seu rosto. — Sua avó era uma bruxa?
— Não! — Jolie fez uma careta. — Ela tinha uma vassoura, mas não voava nela.
Ela só a usava para varrer ou me cutucar quando eu fazia algo errado.
Charlotte riu.
— Eu queria que você viesse à festa de aniversário de Sophia comigo. — Ela
segurou a mão da prima com a sua.
— Eu também. — Jolie encarou o teto. — A vó Dora diz que eu sou uma
vergonha e uma desgraça. Eu tentei ser melhor. Eu fico com a postura ereta e não
respondo. Não brinquei na terra a semana inteira.
Charlotte se sentou, colocando as mãos nos joelhos.
— Quando crescermos, Jolie, vamos a festas o tempo inteiro. Vamos fazer festas
aqui em Oak Hill — Ela abriu os braços. — Grandes festas e vestiremos belos vestidos e
belos cavalheiros vão vir falar conosco.
Jolie riu.
— Acha que nos casaremos?
— Ah, sim. — Charlotte colocou a mão sob o queixo e piscou.
— Meu pai e minha mãe não eram casados. Mas ele a amava. — Jolie tinha
certeza disso. Apesar disso, o pensamento não a incomodava.
— Charlotte! Charlotte! Desça agora mesmo, é hora de se arrumar!
Charlotte e Jolie ficaram em pé espanando seus vestidos. Elas ouviram Lisette
subindo a estreita escada.
— Jolie, você está aqui?
— Sim, senhora.
— Quero que desça e fique na cozinha. Ajude Cook a fazer o jantar e não venha
para o salão sob nenhuma circunstância. Entendeu? — No momento em que terminou
seu discurso, Lisette estava no topo da escada encarando Jolie com severidade. —
Charlotte, terminou suas lições?
— Sim, senhora. Sr. Criyer disse que eu fiz um bom trabalho. Por que a Jolie
não precisa fazer lições?
— Jolie não precisa de lições. Por que gastaríamos dinheiro?
Jolie baixou a cabeça. Não gostava de ser o assunto das conversas.
— Eu não me importo. Eu já completei o nível que Charlotte está aprendendo.
Aquele pouco de informação não pareceu deixar Lisette feliz.
— Você não precisa de educação.
Jolie não discutiu, não sabia se sua tia falava a verdade ou não. Tudo o que
sabia é que sentia falta de sua família. Sua família de verdade. Conforme descia
lentamente as escadas, ficando fora do caminho de Lisette, perguntou-se se algum dia
se sentiria em casa novamente.
Capítulo Um
Oak Hill - 1826

Quando alguém se encontra em circunstâncias difíceis, é preciso se conformar.


A vida de Jolie dera uma volta completa depois da morte de seus pais. Ela foi
morar com parentes, a família de seu pai. Sua presença era meramente tolerada por sua
avó e tia. Seu tio a protegia, apesar de algum às vezes não ter vontade. Ele claramente a
via como uma obrigação. Somente sua prima a fazia se sentir bem-vinda e amada.
Hoje, porém, ela sentiu as mudanças no vento.
Mais uma vez, vestia preto em frente ao caixão de um familiar.
Tio Felix estava morto, assassinado em um duelo com um vizinho. Havia
murmúrio sobre o motivo do duelo. Alguns diziam que era por causa de um cavalo,
outros diziam que era por causa de uma mulher, e outros ainda diziam que o duelo foi
por causa de Jolie. A ideia de que seu tio fora morto por defender sua honra era
intolerável para ela.
Enquanto o padre prosseguia com a missa, seus olhos passearam por entre os
presentes no funeral. Muitos tinham os olhos sobre ela ao invés de prestar atenção no
homem de Deus.
Será que o rumor era verdade?
Depois da cerimônia, depois de todo mundo ter ido embora e elas voltarem à
mansão, seus maiores medos se tornaram realidade.
— Jolie, não mais toleraremos sua presença em Oak Hill.
Ela fora chamada na sala de sua avó, onde Dora e Lisette a esperavam com
expressões de pedra em seus rostos. Os olhos de Jolie passearam em torno do quarto.
Mesmo estando em Oak Hill por vários anos, sentia falta do pequeno bangalô onde as
cores eram brilhantes e o amor tomava conta.
— O que quer dizer?
Sua mente escutara as palavras de sua avó Dora, mas estava dificuldades em
processá-la.
— Você não é mais bem-vinda aqui.
Seu coração começou a bater contra seu peito.
— Para onde eu vou? — Era para simplesmente ir embora? O que faria?
— Fizemos alguns arranjos. Nossa família gastou muito dinheiro para mantê-la
aqui, encontramos uma maneira de sermos ressarcidos por alguns desses custos.
Jolie não entendeu.
— Onde está Charlotte? — Charlotte a ajudaria. Charlotte a defenderia.
— Charlotte ficará fora alguns dias. Nós a enviamos para visitar minha irmã em
Nova Orleans. — Lisette explicou em um tom impaciente.
— Eu estou com medo. Vocês estão me assustando. — Jolie chorou, não vendo
empatia algum a no rosto da avó e da tia.
Uma batida na porta à fez virar.
— Entre, — Dora ordenou.
Alguém entrou no quarto, um homem que Jolie não reconhecia. Um homem
mal arrumado com longos bigodes cinza.
— Essa é a escrava? — Um sorriso doentio formou-se em seu rosto.
— Ah, Sr. Coffi. Que bom que veio. Sim, essa é a Jolie.
— Eu não sou uma escrava. — Jolie declarou o que pensou ser óbvio. — Eu sou
livre — Sempre foi livre. — Meu pai era John Belmont.
Coffi andou até a escarradeira e cuspiu.
— Não importa quem era seu pai. Se não é branca, não é nada.
O restante do que aconteceu era um borrão. A mente de Jolie simplesmente se
desligou.
Foi retirada da segurança de Oak Hill e colocada em correntes.
Correntes.
A ideia era impensável para ela.
Nenhuma quantidade de lágrimas ou súplicas fizeram diferença. Ninguém veio
lhe socorrer. Ninguém a ajudou. Conforme era levada para longe da plantação, e
caminhava atrás do homem que a comprara, forçada a correr atrás do cavalo que ele
montava, Jolie esperava acordar daquele pesadelo.
— Espere. Por favor! — implorou conforme passavam pelos campos de
algodão. Escravos, homens e mulheres olhavam estupefatos enquanto ela era puxada
pelo cavalo. Ninguém falou nada para impedir. Ninguém protestou. Um chicote ecoou
e todos voltaram a colher algodão.
— Está indo rápido de mais. — Ela não conseguia acompanhá-lo. Jolie
continuava caindo com as correntes em seus punhos e tornozelos, levantando-se com
dificuldade. Sua pele e vestido estavam esfoladas por ser arrastada pelo cavalo pelo
solo.
— Por favor. Pare!
— Você pode calar a boca, vadia! Não pararemos até chegarmos à Nova
Orleans.
***
Leste do Texas Selvagem - 1826

— Caminhe! — O chicote bateu nos ombros de Jolie, a ponta atingindo seus


olhos como o ferrão de uma vespa. Ela gemeu de dor, mas não disse nada. Uma listra
fina de sangue escorreu por sua bochecha, misturando-se com as lágrimas sempre
presentes.
Cada passada era uma agonia. Sem sapatos, as solas de seus pés rasgavam-se
como fitas. Ela não tinha como saber quanto mais andariam. As algemas em seus
tornozelos esfolavam sua pele, enquanto as correntes que a prendiam à mulher que
estava à frente e à outra que estava atrás, impediam que fizesse qualquer coisa mais do
que dar um passo preciso. Quando uma caía, era como um dominó, cada uma era
puxada para a sujeira e lamaçal do pântano.
— Por favor, Mestre, deixe a gente descansar, — Sally implorou em uma voz de
dar pena, quase chorando. — Eu não consigo mais.
— Cale essa boca imunda, vadia! — Uma corda grossa amarrada à cintura de
Sally deu a ela o que pediu, apesar de não da maneira que ela esperava. Ela foi puxada
ao chão com força, sua cabeça batendo em uma pedra no meio da terra vermelha.
— Você está bem? — Margarete sussurrou, caindo em seus joelhos próxima à
Sally, que tinha a pele mais escura.
— Mestre, podemos beber água? — Jolie implorou, tanto para si quanto para as
outras. Raimond Coffi bebeu um gole de rum, e Jolie tinha esperança de que ele ficasse
bêbado para que pudessem parar à noite.
— Eu preciso mijar. — Ele desceu de seu cavalo, puxando o cantil da bolsa e
jogando para Jolie. — Encha de novo, se quiser beber depois. — Coffi apontou para um
riacho estreito que corria próximo ao caminho. Ele amarrou sua montaria em um galho
baixo de um sicômoro robusto.
Jolie mediu a distância que a corrente levaria para alcançar o riacho do ponto
onde a sela estava amarrada. Certamente teria que se esticar, mas talvez conseguisse.
Olhou para as duas mulheres amontoadas, tentando recuperar o fôlego. O
comerciante de escravos vinha as arrastando sem escrúpulos por dias. Desde que sua
avó a vendera, sua vida se tornou um pesadelo. Jolie percebia agora quão ingênua e
isolada fora. Mesmo cercada pela realidade dura da escravidão, fora ignorante quanto
ao que realmente significava. Igualmente, nunca se questionou por que o sol nascia no
Leste e não no Oeste ou como o musgo espanhol crescia nas árvores, e ainda assim não
tinha raízes. Aquelas coisas simplesmente eram assim. Como a escravidão, tinha
conhecimento dela, ainda assim sua existência não tinha importância em seu dia a dia.
Até agora.
Como fora tão insensível? Tão sem coração?
Jolie tinha vivido entre os escravos de casa que cuidavam Oak Hill, ela até
passeara pela plantação de algodão, onde havia trabalho braçal. Como tinha visto a
realidade, e ainda assim não vira o obvio? Aquelas pessoas eram tratadas como
animais, algum as abusadas, outras mortas. Não tinham direitos, não tinham opinião
sobre a própria vida. Sally foi tirada de sua família, abandonando um bebê que
provavelmente nunca mais veria. Margarete fora aleijada, sua orelha cortada porque
tinham a flagrado escutando a conversa do Mestre.
Agora, Jolie não só entendia, como também vivia aquele terror.
— Consegue alcançar a água, Senhorita Jolie? — Sally perguntou.
— Só Jolie, Sally. — As duas mulheres continuavam lhe atribuindo um título de
respeito. — Eu sou como vocês. — Ela sabia que era porque sua pele era mais clara e o
rumor em volta de seu nascimento tinha se espalhado. Se os eventos dos últimos meses
não tivessem lhe ensinado nada, ela sabia agora que o tom de sua pele não mudava a
verdade sobre sua raça. Ela era negra. Era estranho aquilo nunca ter importado para
ela quando estava crescendo. Em sua inocência, pessoas eram pessoas, sem variar seu
nível de humanidade por causa de seu tom.
— Acho que alcanço, Sally. — Ela rastejou para chegar mais perto, deixando o
braço preso pela corrente se estender o máximo possível. — Talvez tenha que chegar
mais perto. — Ela puxou o cavalo, querendo que ele desse um passo para dar a ela
mais alguns centímetros de proximidade. Ao seu com ando, Sally e Margarete
engatinharam para mais perto. Ela odiou ter que pedir a elas que se movessem, elas
estavam exaustas. Coffi lhe dava pouco de comer. — Mais um passo, — ela murmurou,
então foram de joelhos, inclinando-se para colocar o cantil de couro na água rasa.
— Cuidado! — Sally gritou, apontando.
Jolie virou para trás, derramando um pouco da água preciosa, quando uma
cobra da água se aproximou. — Ah, meu… — ela fechou o cantil, então foi para trás.
Jolie normalmente não tinha medo de cobras, mas aquela era perigosa. Vira aquelas
serpentes matarem um touro enorme com uma mordida.
— Conseguiu pegar um pouco? — Margarete perguntou, estendendo a mão.
— Sim, consegui. Aqui, beba um pouco e eu pegarei mais.
Um barulho deixou-as saber que seu captor estava voltando. Ele não ficaria
surpreso em descobrir que elas ainda estavam ali. Apenas uma vez elas tentaram fugir.
Jolie quem tinha instigado à fuga, mas todas elas sofreram. Coffi fora até a floresta se
aliviar, e Jolie subiu no cavalo rapidamente, dizendo às outras para lhe seguirem. Ela
tinha certeza de que ele guardara a chave das correntes na cela. Na sua cabeça, se
conseguissem fugir ao menos alguns metros, ela poderia achar a chave, libertá-las,
então poderiam escapar para a segurança. Não foram muito longe, fizeram muito
barulho e ele as encontrou facilmente. Quando as achou, pegou o chicote de nove
caudas, amarrou-as em uma árvore e as açoitou. Bateu nelas até que sangraram.
— Yanke e-doodle foi à cidade, em um pônei… — Coffi cantou, bebendo um
gole de um cantil em sua mão. — Acho que deveríamos ficar aqui esta noite. O sol vai
se por logo. O que me dizem? — Ele as olhou maliciosamente. — Eu acho que estou
precisando de uma amostra de vocês.
— Não! — Jolie gritou, movendo-se para ficar entre Coffi e as duas outras
mulheres. Ele já tinha feito aquilo uma vez, abusando de Sally na frente delas enquanto
ela gritava em resistência. — Não irá fazer isso. Não pertencemos a você.
Sim, elas já foram compradas. Coffi tinha explicado com prazer seu ganho por
elas. Um homem rico chamado Garrett Thomas tinha as com prado e elas estavam
sendo levadas para à plantação dele perto de Neches Salines, no Norte do Texas
Selvagem.
Coffi balançou o punho à Jolie.
— Cale sua boca, garota. Eu pegarei quem eu quiser. O único motivo pelo qual
não pegarei você, é porque ele me pagou o dobro por você ser intocada. Depois de
descrevê-la, ele a quer só para ele. — Fungou. — Por enquanto, está a salvo. Até ele te
usar. Da próxima vez que eu te ver, ele provavelmente me deixará ter um gostinho –
por um preço.
Quando ele deu um passo em direção à Sally e Margarete, que estavam de
joelhos se abraçando uma à outra, Jolie agarrou seu braço.
— Pare.
— Saia da minha frente! — Ele lhe deu um tapa como dorso da mão, que
derrubou Jolie no chão. — Acha que é especial, não é? Criada em uma casa chique. Não
percebe que sua pele clara selará seu destino.
Jolie olhou para o chão, vendo pequenas formigas escalarem a palha. Que arma
ela tinha? Seu destino era simplesmente aceitar? Levantando-se, ela se encolheu ao ver
Coffi em cima de Sally. A mulher frágil lutava em vão, tentando empurrar o homem
maior de cima dela. Gritos de dor vinham de seus lábios quando foi violada. Margarete
olhou para o outro lado, encontrando os olhos de Jolie. Jolie não disse nada, apenas
apontou para Coffi. A outra mulher ergueu uma sobrancelha e balançou a cabeça.
— Temos que tentar, — ela sibilou as palavras.
Sem perder tempo, Jolie foi para trás de Coffi e levantou a corrente que prendia
seus punhos. O cavalo, sentindo o caos, puxou a corda que lhe amarrava. Tentando se
comunicar com Margarete sem palavras, Jolie respirou fundo, e largou a corrente em
volta do pescoço de Coffi. Grunhindo e se mexendo entre as coxas de Sally, ele não
percebeu nada até Jolie puxar a corrente. Quando ela o fez, ele gritou, caindo para trás.
— Pegue a arma dele, Margarete.
Lutando por sua vida, Coffi se arremessou para trás, esmagando Jolie com seu
peso. Ela chorou de dor, mas aguentou firme para salvar sua vida. Ele estava se
remexendo, segurando a saia de Margarete. Sally se arrastou, tentando superar o que
havia acabado de passar, incapaz de ajudar de qualquer forma.
Rolando de um lado para o outro, Coffi lutou contra a corrente em seu pescoço.
Enterrou os dedos entre a corrente e a pele, arrancando sangue com seus esforços.
— Vá se foder, seu pedaço de lixo. — Ele gritou.
Margarete puxou a pistola da bolsa da cela.
— Eu não sei usar. — Ela apontou para Coffi, enquanto Jolie batalhava para
manter o homem no chão. Infelizmente, Coffi tirou uma das mãos do pescoço e
agarrou o cano da arma.
— Atire, Margarete! — Jolie estava desesperada. Ela puxou mais forte, tentando
cortar o oxigênio dele, mas não ia conseguir segurá-lo para sempre.
— Eu não consigo! — A mulher trêmula gritou. Quando ela hesitou, Coffi
arrancou a arma da mão dela, e a usou para bater em Jolie, rachando seu crânio.
Com um grito fraco, Jolie o soltou. Derrotada.
Coffi estava furioso. Ele se levantou e encarou as três mulheres.
— Vocês vão pagar muito caro por isso.
Com veneno em seus olhos, ele cambaleou até o pobre cavalo e tirou o chicote
do lugar, batendo-o ameaçadoramente. Imediatamente, Sally e Margarete se
encolheram e começaram a chorar, rezando ao Deus que havia lhes abandonado.
Em fúria, Coffi começou a bater o chicote no ar, batendo em uma mulher e,
então, em outra.
Para a direita. Pop!
Para a esquerda. Pop!
Girando o chicote para trás para acertar Jolie nos ombros.
De novo e de novo, ele deixou a cobra de couro dançar pelo ar, acertando seus
rostos, costas e braços. Acorrentadas juntas, estavam presas, incapazes de fugir para
longe do limite da corrente que as atava. O cavalo relinchava e gritava, indo para mais
longe possível. Quando a ponta do chicote acertou seu flanco, ele se soltou, correndo,
arrastando as mulheres atrás dele.
Tudo que Jolie conseguia pensar era em chorar por ajuda.
— Papai! — gritou, sabendo em coração que não teria resposta. Estava prestes a
morrer e não teria ninguém que se importasse. Charlotte sim, mas sua prima jamais
saberia o que tinha acontecido.
Uma batida!
Seu corpo bateu em uma árvore e Jolie gritou em agonia. Conseguia ouvir as
outras duas mulheres chorando e gritando. Acima de tudo, porém, conseguia ouvir
Coffi rindo. Não tinha medo de perder sua propriedade, o cavalo não iria muito longe,
não com três escravas ainda presas a ele, seus corpos se prendendo em cada arbusto e
árvore.
Com os dedos agarrando o chão, Jolie tentou se prender em algo, tentando
impedir o animal de continuar correndo. Sua pele estava cortada pelas pedras, suas
roupas estavam quase sendo arrancadas de seu corpo. De repente, pararam
abruptamente, a sela se soltou do cavalo frenético que saltou sobre uma pequena
ravina para escapar.
Jolie ergueu a cabeça, olhando para Sally e Margarete. Sally estava de joelhos,
tentando recuperar o fôlego. Mas Margarete não se movia. Engatinhando até ela, Jolie
sussurrou entre as lágrimas.
— Você está bem? Margarete? — Ela não precisava chegar mais perto para
perceber que o pescoço da mulher estava quebrado, sua cabeça estava em um ângulo
impossível. — Oh, Margarete. Sally, ela se foi.
Antes que Sally pudesse responder, um grito horrível quebrou o silêncio. Não
só um grito, mas que fazia a espinha tremer, as entranhas se dobrarem, cheio de terror
e gutural.
— Coffi.
— O que está acontecendo, Senhorita Jolie? — Sally sussurrou.
— Eu não sei. — Jolie não tinha ideia do que Coffi tinha encontrado. Seja
homem ou besta, soava como se algo estivesse o partindo ao meio. Lutando para ficar
em pé, ela foi até a sela. — A chave, precisamos achar a chave.
A luz estava sumindo e o coração de Jolie estava batendo rápido, ela estava com
medo que fosse escapar de seu peito. Com as mãos tremendo, ela sentiu o conteúdo da
bolsa, jogando para o lado o tabaco, alguns papéis, uma sacola de moedas e uns óculos.
— Finalmente. — Ela sentiu que suas mãos estavam em torno da chave. — Eu
achei, Sally.
Jolie foi até Sally e se ajoelhou, seu corpo inteiro tremia enquanto tentava
colocar a chave na fechadura do cadeado. Enquanto trabalhava, os barulhos vindos da
clareira onde Coffi lutava por sua vida ficavam mais altos e horrendos. Rosnados e
rugidos se juntaram aos gritos de lamento de Coffi. Assim que Jolie se soltou das
correntes, ela deu alguns passos para o inimigo que teria que enfrentar logo.
Fazendo menos barulho o possível, Jolie se moveu alguns metros até conseguir
ver e o que viu jamais deixaria sua mente enquanto vivesse. O que restou do
comerciante de escravos estava espalhado por todo o chão, enquanto um urso enorme
arrancava a pele do torso de Coffi, arrancando camadas de carne de seus ossos e
devorando. Percebendo que o vento poderia mudar a qualquer momento e revelar sua
presença, ela foi até onde Sally estava deitada no chão.
— Temos que sair daqui.
— O que é?
— Um urso. Coffi está morto. — Jolie tentou pensar. Ela viu os papéis da venda
dela no chão e os pegou, colocando as evidências de sua profunda vergonha no fundo
de seu vestido esfarrapado. A arma não estava à vista, mas tinha algum às peças de
roupa de Coffi. — Aqui, pegue isto. — Jolie dividiu as roupas com a amiga, colocando
uma jaqueta em volta de seus ombros e um chapéu sobre sua cabeça.
— Aonde vamos? — Sally perguntou.
Jolie deu de ombros.
— Eu não sei, mas precisamos ir.
— Eu vou de volta para o rio. Eu quero ir para casa. — Sally já estava em pé e se
movendo. — Se eu seguir o riacho, chegarei à Sabine e do outro lado fica Louisiana.
Não havia nada para Jolie em Louisiana.
— Acho que vou para o Oeste.
— Acha que alguém virá atrás de nós?
Jolie passou uma das mãos preocupada sobre seus olhos.
— Sim, acho que nosso comprador irá. Ele pagou um bom dinheiro por nós. A
notícia uma hora chegará a ele. Precisamos nos manter desapercebidas ou nos
misturarmos.
Sally jogou seus braços em torno do pescoço de Jolie.
— Tenha cuidado. Eu não quero voltar para a plantação, mas eu quero ver meu
bebê.
— Eu sei e eu entendo. Eu desejo uma boa vida para você, Sally. — Jolie
correspondeu o abraço. — Espere. — Ela correu até as coisas de Coffi, pegando o saco
de moedas. — Pegue isso. Vai conseguir comprar uma passagem na balsa. Aqueles
homens não recusar dinheiro. Só não deixe com que vejam quanto você tem.
— Obrigada. — Ela colocou as moedas entre os seios. — Eu desejo uma boa
vida pra você também , Senhorita Jolie.
Sally hesitou, mas Jolie a empurrou para ir.
— Precisamos ir, antes que o urso sinta o nosso cheiro — Com um último
adeus, as duas mulheres se separaram.
Conforme o sol desaparecia pela densa floresta de pinho, Sally seguiu para o
Leste em direção à sua casa, e Jolie seguiu para o Oeste em direção a um futuro incerto.
Capítulo Dois

— Vem, Sandy. Hora de trancar a porta e dar a noite por encerrada. — Austin
McCoy chamou o cachorro para entrar. — Tivemos um dia pesado. Hora de descansar.
O grande cachorro pisou na soleira, indo até a pedra em frente à lareira e se
deitando em seu lugar de costume.
— Fizemos um bom progresso hoje. Acho que limpamos outro acre, logo
teremos espaço o suficiente para mais gado.
A única resposta de Sandy foi se virar e colocar a língua para fora da boca.
— Está com fome? Eu pendurarei esse caldeirão sobre o fogo para aquecê-lo.
Amanhã, acho que colocaremos alguns sabugos de milho nos carvões para tostá-los.
A voz de Austin ecoou no espaço vazio.
Tirando seu chapéu, ele o jogou sobre a mesa. Sim, estava ficando louco. A
única criatura viva que tinha para conversar era seu cachorro, e Sandy não era bom de
conversa. Ele se sentou em uma cadeira de couro preto com um fundo de couro de
vaca, e deixou seu olhar passear pela pequena cabana que construíra com as próprias
mãos.
— Lar, doce lar. — A cabana de um cômodo foi feita com pinhos que ele cortara
e tirara a casca. Depois de descascar e lixar, ele entalhou os cantos, então os colocou
juntos, tapando os cantos com uma mistura de argila vermelha e palha. Essa humilde
morada não nem de longe tão chique quando a casa que tinha deixado no Tennesse e,
mas Austin não era mais bem-vindo na casa de sua família.
Depois de sua mãe morrer, seu pai tinha se casado novamente. Quando os
olhos de sua jovem esposa repousaram sobre Austin, seu pai rapidamente decidiu que
era hora de seu único filho se aventurar no Oeste e fazer sua própria fortuna. Stephen
McCoy deu a Austin sua herança cedo, desejando a ele boa sorte antes de mandá-lo
seguir seu próprio caminho.
A sedução da aventura foi grande e a expectativa de sua própria terra no rico
território do Texas serviu como consolação para ir embora e abandonar tudo o que
conhecia e considerava familiar. Agora, vinte seis meses depois, ele tinha se
acomodado seis milhas ao Sul do lugar que os índios chamavam de Red Mound, e
estava começando a arrepender-se de sua decisão.
O trabalho árduo e os perigos que encontrava diariamente não eram a causa da
depressão profunda de Austin. Não, era o isolamento. A solidão. O vazio completo e
total que parecia cercá-lo, fazendo Austin querer jogar seus punhos para no ar e gritar
para o céu. O que não daria por alguém com quem conversar, alguém para abraçar à
noite.
Alguém para amar.
Austin desejava uma esposa.
Quantas noites tinha se deitado só em sua cama e sofrido por libertação? Não
tinha estado com muitas mulheres, mas desde que começou não tinha ficado tanto
tempo sem sentir o doce alívio que uma mulher poderia lhe dar. Era o que o assustava
mais que tudo, é que não havia jeito de terminar aquele exílio. Meses e anos de solidão
estavam a sua frente. Como aguentaria? Onde encontraria uma esposa naquela terra
selvagem? Fez toda a jornada até Nacogdoches, apenas para descobrir que mulheres
eram tão raras quando seda. E se tinha uma para ser encontrada, ele não era prêmio
algum. Não vivia na cidade e poucas mulheres queriam viver em condições tão
isoladas.
Sua mente voltou para sua casa no Tennesse e, as mulheres que cortejara, os
planos que tinha feito. Tudo aquilo já era. O que ele tinha para oferecer a uma dama?
Só amor, só o desejo de ser amado.
Passando uma das mãos frustrada por seu longo cabelo, ele se levantou com
revolta.
— Não adianta desejar por algo que não se pode ter, adianta, garoto? —
Normalmente, pensava alto, pois era melhor do que o barulho ensurdecedor do
silêncio.
Sentindo-se descansado o bastante para aliviar sua fome, Austin pendurou o
pote de ferro no gancho sobre as chamas. Enquanto estava lá, mexeu no fogo e colocou
outra lenha. Sandy se levantou e ar que o u as orelhas.
— Ouviu algum a coisa lá fora? — Austin ficou quieto para escutar também.
Ouviu um uivo muito distante, mas fora do com um. — Só aquele velho lobo e sua
matilha, nada fora do com um. — Sandy ergueu o focinho para farejar, dando um
longo olhar a Austin através de seus olhos castanhos.
— Quer ir lá fora ver?
Só a pergunta deu a ambos um solavanco de energia. O homem e o cachorro
foram até a porta. Austin pegou sua espingarda, só por garantia.
— Vamos ver o que encontramos.
… No pequeno galpão mofado, cheio de ferramentas, Jolie se acomodou sobre
as palhas. Estava assustada e com fome, mas pelo menos tinha algum tipo de abrigo, o
suficiente para lhe dar algum às horas de descanso. Os arranhões e hematomas em seu
corpo a faziam se sentir dolorida, tornando quase impossível dormir.
Fechando os olhos, ela tentou apagar a sua mente. A dor em seu coração não
tinha limites. Sem comida, dinheiro ou algum lugar para ir, Jolie não sabia se
sobreviveria ou não. Tentou encontrar algum as frutas para comer, sem sorte. A única
coisa que tinha para comer era o nabo cru que segurava em suas mãos. Ela o encontrou
próximo ao que achava ser uma adega de raízes. A ideia de ver quais outros tipos de
comida encontrariam passou por sua mente, mas odiava a ideia de roubar algo a mais
da pessoa que vivia naquela pequena cabana.
Jolie não planejava bater na porta e pedir ajuda. A coisa mais segura a fazer era
continuar se movimentando até estar fora daquela área. Olhando para o nabo, ela
decidiu que tentaria comê-lo assim que tivesse energias o suficiente.
Quando deitou sua cabeça na madeira dura, Jolie tentou pensar no que tinha
acontecido. O que tinha feito para merecer aquilo? Ela era menos do que sua tia Lisette
ou avó Dora? Ela não era um ser humano como elas?
Jolie abraçou o próprio corpo e tentou analisar o mistério da escravidão. Tudo o
que sua Grandmere e mãe tinham lhe dito, os sussurros que ouvira de seu pai, tudo o
que tinha visto em Oak Hill voltaram à mente. As pequenas cabanas onde viviam os
trabalhadores, a maneira como se enfileiravam para receber água e comida para ser
repartida entre eles como animais os homens que ficavam os vigiando em cavalos com
cachorros ao lado – todas as coisas que tinha decidido ignorar e não ver. Em sua mente
infantil, presumiu que se não reconhecesse a injustiça, não seria real. Fechando os olhos
cansados, ela sabia que não tinha mais como evitar a farsa. O pesadelo tinha se tornado
sua realidade.
Do lado de fora… Sandy foi na frente, seu nariz farejando o chão. Austin o
seguiu de perto, sua espingarda carregada e pronta. Não muitos dias atrás, viu uma
pantera. Não tinha vontade de matar o enorme gato preto, mas aquilo conseguiria
acabar com um de seus bois, e com um homem adulto. Austin apontou seu ouvido em
direção à área onde as poucas cabeças de gado estavam cercadas. Não havia agitação
entre os animais, então não achava que havia um predador por perto.
Quando estavam perto do galpão, Sandy desviou para farejar em volta. Quanto
mais perto chegava, mais rápido caminhava, com a cauda no ar.
— O que é, garoto? — Austin perguntou. — Algo aí? — Ele imaginou que fosse
um tatu ou gambá, com sorte, um que não fosse fedorento. Da última vez que Sandy
encontrado um gambá, Austin teve que colocá-lo na água quatro vezes, esfregando-o
com sabão até que ambos conseguissem tolerar o cheiro.
Com apenas a luz da lua para guiá-lo, Austin se aproximou do galpão enquanto
Sandy usava o focinho para entrar pela porta. Ouvindo o barulho do cachorro, sua
curiosidade aumentou. O cachorro não estava reagindo da maneira que ele esperava
caso fosse uma presa ou algum tipo de ameaça. Não, Austin estava confuso por ver a
cauda de Sandy balançando.
— O que você achou?
Aproximando-se, ele escancarou a porta para que a luz da lua pudesse entrar e
iluminar a escuridão.
— Mas que diabos? — Ele sussurrou. A princípio, achou que o intruso fosse um
homem. O chapéu sobre a cabeça e a jaqueta tinham obscurecido sua vista, mas o
cabelo longo e as pernas finas debaixo do que parecia ser um vestido o convenceram
do contrário. Ele piscou uma, duas vezes. Seus olhos estavam o enganando? Talvez
fosse uma piada cruel que sua mente estivesse lhe aplicando.
Não. Era uma mulher.
Ficando de joelhos, ele se aproximou da intrusa.
— Senhora, você está bem? — Ele sacudiu seu ombro gentilmente.
O toque fez Jolie acordar. Tudo o que ela conseguia pensar era que Coffi ou o
urso a tinham encontrado. Um grito saiu de seus lábios antes que seus olhos
conseguissem focar no rosto em frente a ela.
O barulho inesperado fez Sandy latir. Austin voltou a ficar em pé, dando a
garota um pouco de espaço.
— Está tudo bem, eu não a machucarei.
Antes, Jolie jamais tinham pensado em lutar para se defender. Mas depois do
que tinha passado, defender-se tinha se tornado parte de sua natureza. Sem uma arma
ou luz o suficiente para ver o entorno, tudo o que conseguia pensar era em atacar e
correr. Pulando para ficar em pé, Jolie o empurrou, suas mãos em seus ombros largos.
Para o seu desespero, ele só se moveu alguns centímetros.
— Por favor, deixe-me ir. — Ela esperou que ele a atacasse de volta, mas ele não
o fez. Ainda assim, ela precisava ir. Indo para o outro lado, tentou pensar em uma
maneira de passar pelo grande homem que estava bloqueando a passagem. — Eu não
peguei nada além de um nabo e eu não o com i. Eu só queria descansar um pouco. Eu
juro. Eu vou embora.
Ir embora? Ele observou suas roupas rasgadas e seus pés descalços. Ela era tão
pequena.
— Não precisa ir embora. Venha até a cabana onde é seguro. Você não está com
fome?
O nabo que tinha pego do jardim dele ainda estava aos seus pés.
— Sim, — ela respondeu hesitante. Um grande barulho em seu estômago
confirmou o fato. Ela poderia arriscar? Havia a possibilidade de que aquele homem
poderoso pudesse machucá-la, e não haveria nada que pudesse fazer para evitar. Mas
que escolha tinha? Estava morrendo de fome. — Se me deixar descansar um pouco, eu
vou embora logo.
Austin não sabia o que pensar.
— Está sozinha? De onde você veio? — Essa pergunta e outras estavam
invadindo sua mente. Ele ofereceu a ela sua mão. — O chão é pedregoso. Quer que eu
a carregue?
— Sim, eu estou sozinha. — Jolie teria rido se estivesse se sentindo confiante. —
Não, eu não preciso ser carregada. Eu caminhei por um longo tempo.
Ele não conseguia entender o que ela dizia. Sabendo que se encontrava fora de
sua pequena propriedade, Austin estava espantado por encontrar essa pequena fêmea
sozinha no mundo.
— Por favor, venha. Deixe-me lhe dar algo para comer. Sandy e eu estávamos
prestes a jantar. De algum a forma, ele sabia que você estava aqui.
— Ele sabia? — Jolie colocou sua mão na cabeça do grande cão. — Ele é macio.
— A memória dos cachorros ferozes usados na plantação para manter os escravos em
ordem à fez recolher sua mão. — Ele não me morderá?
— Não, ele não te morderá. — Austin estava ansioso para que sua convidada
entrasse. — Estamos felizes em ter um pouco de companhia. Não é, Sandy?
Seu cachorro respondeu com um latido, que fez Jolie sorrir.
— Por pouco tempo. Obrigada.
Conforme Austin guiava sua convidada para dentro da cabana, tentou fazê-la
se sentir mais confortável.
— Meu nome é Austin McCoy. Qual é o seu?
— Jolie. — Ela respondeu automaticamente, arrependendo-se em seguida.
Quanto menos dissesse, melhor.
— Jolie. — Austin repetiu, saboreando a maneira como o nome dela soava em
seus lábios. — É um lindo nome. Onde estão seus pais? Vocês foram atacados pelos
índios? — O pensamento dela mal ter conseguido escapar com vida fez seu sangue
gelar.
— Fomos atacados. Meus pais estão mortos. — Ambas as coisas eram
verdadeiras, apesar de não estarem relacionadas.
— Eu sinto muito — ele murmurou sinceramente.
Quando abriu a porta da cabine, o cheiro da comida fez Jolie se desequilibrar.
Não tinha notado quão fraca estava.
Austin estendeu a mão para segurá-la.
— Quando tempo faz que não com e?
— Alguns dias, talvez uma semana. — Tentou se lembrar. Coffi não se
importava se elas tinham ou não com ido.
Assim que colocou Jolie para dentro, Austin começou a fazer de tudo para que
ela se sentisse bem-vinda.
— Sente-se aqui. — Deu a ela a cadeira mais confortável, uma de balanço perto
da lareira. — E água, deixe-me pegar um pouco de água. — Movendo-se até o balde de
água que mantinha na cabana na parte que era para ser a cozinha, Austin encheu um
copo e levou até ela.
Aceitando o que ele oferecia, pegou a bebida com gratidão.
— Obrigada. — A água tinha um gosto tão bom, que bebeu de uma única vez.
— Eu pegarei mais. — Ele rapidamente encheu o copo, depois achou uma tigela
para colocar um pouco do ensopado. — É coelho, mas coloquei batatas e cebolas que
cultivei no jardin. Acho que está comestível.
— Você é muito gentil. — Jolie colocou o copo no chão e ergueu as mãos para
pegar a tigela de argila e a colher de estanho.
— É um prazer, — Austin disse, seus olhos nunca se desviando se sua forma
fina. Mesmo à luz da lâmpada de querosene, não conseguia identificar suas feições. O
chapéu fazia uma sombra em seu rosto, mas pelo que conseguia ver de seus braços e
pescoço, eles estavam cobertos de lama e arranhões. — Eu acho que tenho um com
posto de erva que fará esses arranhões no seu rosto e braços melhorarem.
Jolie o escutou, mas não conseguia parar de comer para responder.
Criada como uma dama, ela conseguiu não enfiar a comida em sua boca toda
de uma única vez.
Fazia bem ao coração de Austin observá-la comer, mas não conseguia parar de
pensar no que aconteceria a ela caso partisse novamente.
— Aonde você vai? Você tem parentes?
Engolindo o último delicioso pedaço, ela lambeu os lábios, depois balançou a
cabeça.
— Não tenho certeza do que farei. — Só o pensamento de tentar encontrar um
lugar para morar, um jeito de sobreviver, era mais do que compreendia.
Austin queria oferecer ajuda. Queria fazer algo. Notando mais uma vez suas
roupas rasgadas, disse rapidamente.
— Você tem outras roupas? — Ele não tinha visto nenhum tipo de bagagem,
mas ela poderia ter deixado no galpão.
Jolie olhou para os trapos que vestia.
— Não, eu devo estar uma bagunça. — O que poderia fazer? — Eu corri para
escapar. Não tive chance de trazer nada comigo.
Ele assentiu, imaginando pelo que ela tinha passado.
— Tenho certeza de que estava assustada. Gostaria de se lavar e trocar de
roupa? Eu posso preparar um pouco de água para você.
— Sim, por favor. — Tirar a sujeira e a lama de seu corpo parecia maravilhoso.
— Mas eu não tenho mais nada para vestir.
— Tenho certeza de que posso encontrar algo. — Ele se apressou para encontrar
algum a coisa sua que desse para ela vestir. — Uma camisa, eu acharei uma camisa
para você. Pequena como é, o cumprimento ficará quase como uma camisola.
Enquanto Jolie se sentava perto do fogo, com a barriga cheia e um cachorro aos
seus pés, ela se sentia petrificada pelo grande homem com longo cabelo cor de mel
andando de um lado para o outro no cômodo. Ele fazia seu melhor para que ela se
sentisse confortável. Mesmo que estivesse tendo sucesso, ela tremia. O choque residual
do que tinha enfrentado ainda corria pelo seu corpo.
— Jolie, pode vir se lavar. Sandy, levante-se. — Ele estralou os dedos para o
cachorro. — Nós esperaremos lá fora. Quando terminar, chame e voltaremos.
Ele lhe ofereceu um sorriso gentil, e deixou ela sozinha. Assim que ele saiu, ela
olhou em volta. Comparada a Oak Hill e ao bangalô, sua casa era simples e enfadonha.
Mas pela primeira vez em semanas, Jolie se sentia segura. Pegando o pano que ele
tinha dado para ela usar. Jolie o mergulhou na água quente e usou para limpar a
sujeira e o sangue de sua pele.
Do lado de fora, Austin se inclinou na cabana, confuso com tudo que acabara de
acontecer. Quão diferente daquilo que imaginou foi àquela noite. Por um tempo, ele
não estava mais sozinho. Quando um sorriso surgiu em seus lábios, seus sentimentos
egoístas o envergonharam. Como podia sentir prazer quando aquela mulher tinha
perdido tanto?
Em pé na escuridão, manteve um olho em Sandy que explorava a alguns metros
de distância.
— Não vá muito longe, garoto. — Austin estava ciente dos perigos que
espreitavam a escuridão. O pensamento de que Jolie estivera exposta àqueles perigos e
logo estaria de novo fez um tremor percorrer sua espinha. Como poderia deixar que
ela retornasse àquele mundo selvagem? A simples ideia era intolerável. Tinha que
acompanhá-la até que estivesse a salvo, tinha que entregá-la em segurança, mas a
quem? Sua mente clamava por uma resposta. Talvez, a missão em Nacogdoches
poderia oferecer a ela um lugar no santuário, mas não tinha certeza daquilo. Da última
vez que ouvira, não tinha nenhum padre nomeado à missão. A área toda estava uma
loucura, desentendimentos e brigas entre os moradores e os emissários do governo
mexicano que tentavam controlar o território colonial de milhares de quilômetros de
distância.
— Sr. McCoy? Austin? Pode voltar agora. — As roupas que ela tinha tirado não
serviam para mais nada além de trapos agora. Ela tinha as deixado na porta de trás
para lidar com elas depois. Os papéis que tinha tirado de Coffi estavam enfiados
embaixo do chão do Sr. McCoy para ficarem guardados em segurança, até que
estivesse pronta para partir. Por mais gentil que estivesse sendo com ela, Jolie não
podia arriscar que ele encontrasse aqueles papéis.
A voz suave dela interrompeu seus pensamentos.
— Muito bem. Sandy! — Ele chamou seu companheiro e eles entraram na
cabana. Ciente de que ela tinha colocado suas roupas, ele cautelosamente deixou seus
olhos se moverem pelo corpo dela, encarando seus pequenos pés, que agora estavam
limpos da lama que tinha lhes coberto, mas ainda precisavam de atenção. No momento
em que seus olhos subiram até o rosto dela, Austin estava sem palavras. Nunca tinha
visto uma mulher tão bonita. Sua pele tinha a cor das gardênias, seus olhos eram de
um tom azul violeta, lembrando-lhe de uma flor que tinha plantado no jardim de sua
mãe. O chapéu não estava mais lá e agora conseguia ver que seus cabelos eram escuros
e caíam até a metade de suas costas, em cachos soltos… e seus lábios, seus lábios eram
da cor da romã. A beleza de Jolie quase o deixou de joelhos.
— Obrigada por sua hospitalidade. — Ela disse, juntando as mãos, sentindo-se
exposta. O vestido que tinha tirado estava um trapo, mas a camisa que vestia agora era
muito mais curta do que qualquer coisa que já tinha vestido antes.
Mas pedintes não tinham o direito de escolha.
Cruzando os braços em volta do peito, Jolie admitiu que o fato de estar em
roupas que pertencia àquele homem a faziam sentir-se vulnerável. Seu pai e tio eram
os únicos homens brancos de quem já tinha se aproximado e mesmo que Austin
McCoy fosse um completo cavalheiro e nada além de gentil, ele ainda a fazia se sentir
nervosa.
— Não tem de quê. — Sabia que não era educado, mas Austin não conseguia
parar de encarar — Sinto muito, você terá que me dar licença, mas faz muito tempo
que desde que estive na presença de uma dama.
Jolie não sabia para onde olhar. Se encontrasse seu olhar, aquele homem
poderia ver a confusão e desesperança em seus olhos. Ela era uma dama? Sua mãe e
seu pai a criaram para que fosse, mas a maneira como fora tratada, as palavras feias
que foram ditas a ela, chamando Jolie de imprestável, pedaço de propriedade, um item
– era difícil se livrar da vergonha encravada em sua cabeça e coração.
— Obrigada, Sr. McCoy.
— Oh, chame-me de Austin, por favor — Ele se virou, indo em direção à
cadeira próxima ao fogo. — Sente-se, por favor, fique à vontade — Quando ela hesitou,
ele se esforçou para fazer tudo perfeito para ela. — Eu tenho um travesseiro para
tornar a cadeira mais macia e posso fazer café, se quiser.
Jolie balançou a cabeça.
— Eu preciso ir… lá fora.
— O quê? — Ele perguntou, inclinando-se para mais perto. Quando Austin
percebeu o que ela estava pedindo, ele precisou virar para o outro lado, ele era um
homem crescido que estava vermelho com a ideia de uma mulher precisar ir até a
moita. — Ah, claro. Deixe-me pegar minha arma. Não queremos dar de cara com uma
pantera enquanto estamos desarmados.
— Não. — Jolie pensou no urso. — Não, não queremos encontrar uma pantera.
— Ela puxou as laterais da camiseta, tentando torná-la mais longa possível. Jolie se
pegou sentindo vontade de contar a ele tudo o que tinha acontecido. Ele realmente
tinha o rosto mais gentil que já tinha visto. Lindo. Forte. Seus olhos a encaravam como
que parecia ser carinho, um olhar que não tinha visto de ninguém a não ser Charlotte
há muito, muito tempo. Pensar em Charlotte a fez sentir algo parecido com saudade de
casa. Mas ela segurou sua língua, sabendo que apesar de contar sua história parecesse
ser um alívio, também poderia ser sua ruína.
Apesar do interior da cabana estar escuro, a escuridão do lado de fora era um
pecado. Havia a lua, mas estava escondida atrás de uma nuvem densa por todo lado,
formando uma cortina impenetrável. Jolie se pegou querendo segurar a mão de Austin,
e apertá-la fortemente. Ela certamente se sentia mais segura com ele do que quando
estava andando por aí sozinha. Qual outra mulher poderia estar histérica por se achar
sozinha com um homem grande – mas por algum a razão, confiava nele. Simples
assim.
Austin estava ciente da bela mulher próxima a ele. Não estavam se tocando,
mas ele conseguia sentir o calor dele em sua pele como uma chama de fogo.
— Eu quero lhe dizer que sinto muito por sua perda. Eu não acredito que você
passou por tudo isso. De onde você é?
Jolie pesou suas palavras, cuidando para ser vaga.
— Não muito longe de Nova Orleans.
— É difícil acreditar que você veio de tão longe.
Jolie estava prestes a falar mais quando tropeçou sobre uma pedra pontuda que
a vez cair e gritar.
— Oh!
Austin nem pensou duas vezes. Levantou-a em seus braços.
— Sem sapatos! Seus pobres pés. Eu deveria ter pensado nisso. Sinto muito. —
Diabos, ela não estava entendendo nada, mas como era bonita e como estava feliz por
tê-la por perto.
Ela suspirou, mas apertou seus ombros com força.
— Eu não tinha nenhum sapato para começo de conversa. Eu perdi tudo. —
Nada mais verdadeiro do que aquilo foi dito.
— Vamos cuidar dos cortes e arranhões assim que voltarmos à cabana. Frost
Thorn tem um posto de trocas em Nacogdoches. Ele tem sapatos. — Austin tentava
pensar de forma coerente, enquanto tudo o que realmente queria era enterrar sua
cabeça no pescoço dela e beijar a pele macia que encontraria ali.
— Eu não tenho dinheiro — admitiu em uma voz baixa.
— Não se preocupe com isso no momento. Eu pegarei sapatos para você e
qualquer outra coisa da qual precise. — Austin disse, sem um momento de hesitação.
— Eu preciso mesmo ir lá buscar mantimentos antes do inverno, essa é uma razão
perfeita para ir logo.
Jolie sentiu lágrimas começarem a escorrer.
— Não posso deixar você fazer isso; eu não tenho como pagar você. — Sua
mente começou a girar assim que seu coração começou a bater. Ele a levaria até a
colônia e a deixaria lá? Como ela sobreviveria? O que aconteceria com ela? Alguém
estaria procurando-a?
— Eu não estou pedindo nenhum pagamento. — Aproximando-se da latrina,
Austin colocou Jolie no chão gentilmente. — Aqui está. Tem uma pilha de folhas
macias no assento.
Deixando seus pensamentos perturbantes de lado, focou-se no momento de
agora. Tinha usado latrinas o suficiente para sentir vergonha daquilo. Oak Hill tinha
um banheiro para a família, mas ela não tinha permissão para ir até lá. No bangalô, eles
tinham um banheiro do lado de fora que sua avó tinha pintado em belas cores com
uma lua crescente decorando a porta e, no inverno, eles usavam um penico.
— Obrigada. Serei rápida.
— Não se apresse. Sandy e eu esperaremos aqui. — Austin sorriu, então se
moveu a alguns metros da moita para cuidar da própria vida e dar a ela um pouco de
privacidade, ainda assim, estava perto o suficiente caso ela precisasse dele. Um calor
percorria suas veias. Havia tanto que queria dizer a ela, perguntar-lhe. Tinha se
passado tanto tempo desde que falara com outra pessoa além de seu cachorro. Ele não
conseguia visitar seu amigo, Chireno, vezes o suficiente. Jolie provavelmente dormiria
quando retornassem à cabana, mas talvez conseguissem conversar pela manhã.
Enquanto Austin processava aquele pensamento, outra coisa chamou a atenção
dele. Dormir! Onde eles iriam dormir? Todas as expectativas da sociedade sobre
propriedade e damas de companhia tomaram conta de sua mente, mas ele também
sabia que aquelas coisas não se aplicavam a ele naquele momento. Aquela jovem
mulher precisava de sua proteção, seu santuário, e ele daria a ela.
Austin dormiria no chão e daria sua cama à Jolie.
Sua cama.
Ele fechou os olhos e buscou calma. Seu desejo por companhia, por uma mulher
em sua cama, deixou seu corpo todo em chamas.
— Terminei, Austin. — Sua voz interrompeu seus pensamentos.
— Claro. Vamos voltar. — Ele tinha se virado para ela, quando ela o tocou,
colando as mãos em seu peito. Austin segurou a respiração, mas então percebeu que
Jolie queria que ele a erguesse. Sua fé nele fez Austin fraquejar. — Vamos lá.
Jolie sentiu-se surpresa – não por ele lhe erguer em seus braços, mas por sua
resposta a essa ação. Ela se sentiu… em casa. Que tipo de feitiçaria era aquela? Como
podia se sentir tanta confiança em um homem que nem conhecia? Palavras sussurradas
por sua Grandmere vieram à sua mente. Sempre confie em seu coração, Juliette Jolie, você
foi abençoada com a visão. Enquanto era verdade que ela tivera algum as premonições.
Jolie nem sempre soube o que fazer com os pensamentos que tinha ou como interpretá-
los. Os sonhos que tivera antes de Coffi buscá-la não tinham lhe ajudado, porque ela
não sabia o que eles significavam. E agora, agora ela sentia que Austin McCoy era a
reposta para algum as de suas perguntas, algum a revelação apenas esperando que lhe
alcançasse. Não sabia o que fazer com esses pensamentos também.
Jolie limpou sua garganta, tentando achar algo para fazer com suas mãos.
— Como você veio parar nesse território selvagem do Texas?
Segurá-la mais perto fez Austin se sentir tonto. Nada em sua vida jamais tinha
parecido tão correto. Seu cheiro doce e natural penetrava seu nariz e fazia sentir uma
coceira no interior de suas calças. Estar tão perto dela era uma doce tortura. Ele andou
com cuidado, devagar, ciente de que tinha uma carga preciosa nos braços. Limpando
sua garganta, ele se preparou para responder à pergunta de Jolie com a mente mais
limpa.
— Meu pai se casou novamente e eu decidi me mudar para o Oeste para
encontrar meu destino e minha fortuna. — Sua explicação não parecia exatamente à
história completa, mas o ressentimento que ele sentia ao ser mandado embora ficou
claro quando seu peito bateu com força contra o corpo de Jolie.
— Você é solitário? — Quando seus braços apertaram Jolie abruptamente, Jolie
suspirou. Será que sua pergunta era inadequada? — Esse mundo é muito diferente do
meu. — Mesmo dizendo aquelas palavras, ela sofreu. Seu mundo tinha se virado
contra ela. Jolie não pertencia a lugar nenhum.
Austin limpou sua garganta, confessando a verdade que nunca estivera tão
evidente.
— Sim. — Ele ergueu a cabeça, escutando os sons do território vasto e selvagem
– o vento nas arvores, o uivo distante de um coiote, e o coro dos grilos e sapos. —
Muito solitário. Eu tenho amigos e vizinhos, mas nenhum deles perto o suficiente para
visitar regularmente. Às vezes, se passa um mês ou mais sem que eu tenha a chance de
falar com outro ser humano. — Ele fechou os olhos, saboreando o presente da presença
dela. — Porém não estou solitário hoje à noite. Eu tenho você.
Jolie tremeu. Possibilidades impossíveis começaram a invadir sua mente. Quão
louco era se sentir tão segura nos braços de um estranho como não se sentira desde a
perda de seus pais?
— Eu fico feliz que não considere meu aparecimento em sua vida como uma
imposição.
— Não, você não é nenhum tipo de imposição. Você é mais do que bem-vinda.
— Aproximando-se da porta da cabana, ele ergueu uma perna para ajudar a segura o
peso de Jolie enquanto tentava abrir a porta da frente. O piso da cabana era feito de
tábuas e terminado com alisamento plano. O piso não era tão sofisticado quanto aquele
em sua casa, mas não tinham farpas. Relutante, ele colocou sua convidada no chão, e
ela tentou esconder um bocejo. — Tudo bem, minha senhora, você está cansada. Deixe-
me ver esses pés, então, é hora de ir para cama.
Enquanto ele pegava água, trapos e um pouco de sálvia, ela olhou para o chão,
vendo que Sandy se deitava no tapete próximo ao fogo. A visão a fez sorrir.
— Eu terei um companheiro para com partilhar o tapete comigo.
Austin queria ser o companheiro.
— Sente aqui. — Ele a direcionou. — Não. Você dormirá na minha cama. Eu
dormirei no chão. — Ele torceu para que seu tom não fosse brusco de mais, mas ele não
aceitaria argumentação.
Quando se ajoelhou, ele pegou um de seus pequenos pés nas mãos, e ela ergueu
aqueles grandes olhos até os dele, e Austin sentiu seu coração parar.
— Eu não posso tirá-lo da sua cama. Deixe-me dormir no chão.
O que ele viu tornou mais fácil de ignorar a oferta dela.
— Oh, meu Deus, garota! Seus pés estão em frangalhos. — Cuidadosamente, ele
os lavou, seus próprios nervos tremendo quando ela se contraia de dor. — Por que não
me disse que estavam tão ruins assim? — Não conseguia imaginar o que ela tinha feito
ou por que tipo de solo tinha passado para danificá-los daquele jeito. — Você correu
sobre pedras pontudas? Espinhos? O quê?
— Eu não sei. — Sussurrou. — Eu caminhei e corri sobre o que quer que
estivesse na minha frente.
Conforme Austin limpava e tratava de seus pés, ele tinha que se segurar para
não os levar até seus lábios. Mais do que tudo, queria beijar seus machucados. Depois
de assoprá-los e colocar um emplasto de sálvia neles, ele os secou com delicadeza.
— Acho que servirá.
— Já parecem melhor — ela disse, totalmente encantada como cuidado que ele
lhe dispensava. Quando ele foi em direção à cama, puxando os lençóis, ela novamente
insistiu. — Eu prometo que ficarei bem no chão.
— De forma algum a. — Austin balançou a cabeça, sem considerar sua proposta
por nem um minuto. — Que tipo de cavalheiro eu seria se permitisse que uma dama
dormisse no chão?
Jolie torceu o tecido da camisa que vestia entre seus dedos. Ela não pensava que
era uma dama.
— Não tenho certeza.
— Bem, eu tenho. — Ele fez um gesto galante para que ela subisse até a cama
que ele construíra com as próprias mãos, o colchão preenchido com grama macia, os
travesseiros preenchidos com penas de ganso. No último ano, Austin fora até Frost
Thorn e outros vizinhos distantes, trocando mel e pele por mercadorias. Sua casa não
era grande, mas pelo menos ele poderia oferecer aquele anjo vagante uma noite de
sono confortável. — Ter você aqui significa muito para mim. Eu não me importo. —
Ele pegou o travesseiro extra e o jogou ao lado de Sandy.
Relutante, Jolie sentou-se na cama, engatinhando embaixo dos lençóis, seus
olhos nunca deixando Austin McCoy.
— Você é um homem bom — ela admitiu sem hesitação. — Não sei o que teria
feito sem você.
Austin franziu o cenho. Ele também não sabia o que ela teria feito. Só a ideia de
aquela mulher delicada e indefesa estando à mercê daquele território selvagem era
desconcertante.
— Não se preocupe com isso, eu fico feliz em ajudá-la. — Sem se permitir
pensar no que o futuro traria, ele decidiu aproveitar o presente. — Apenas feche seus
olhos e durma. Descanse. Sandy e eu estamos por perto.
Depois de cuidar de algum as coisas da casa que não tinha feito, Austin apagou
a lamparina. A única iluminação vinha do fogo e da luz da lua entrando pelas janelas.
Um dia, Austin pretendia ter vidro nas janelas, como em sua antiga casa. Ele sorriu.
Uma mulher quereria janelas de vidro para que pudesse ver as flores crescendo nos
campos próximos a casa. Com esse pensamento, ele desviou os olhos para Jolie. Sua
forma fina deitada em sua grande cama, grande o suficiente para dois. Ele conseguia
vê-la respirando, seu cabelo comprido atrás de sua cabeça, cobrindo o travesseiro.
Parado, ele deixou seus olhos se fixarem no rosto dela, nos seus lábios levemente
partidos. Austin se perguntou se seriam tão doces quanto pareciam.
Com um suspiro pesado, ele se virou, movendo-se para as sombras, para poder
tirar suas roupas. Molhou um pequeno pano para se limpar e tirar o suor do dia.
Normalmente, dormia nu, mas vestiria uma camiseta naquela noite em respeito à sua
hóspede.
Do outro lado do quarto, Jolie não dormia. Tinha fechado os olhos em exaustão,
mas saber que Austin McCoy estava próximo tornava difícil de relaxar. Abriu uma
pequena fresta em seus olhos, e olhou para ele no quarto escuro. Ele não sabia que ela
o observava, mas Jolie não conseguia tirar os olhos dele. A luz do fogo, junto com a luz
da lua entrando nas frestas da janela, deu-lhe iluminação suficiente para ver.
E não conseguia virar para o ouro lado.
Nunca tinha conhecido um homem bonito, mas aquele era de tirar o fôlego. Ele
parecia as estatuas dos deuses gregos que decoravam os jardins de Oak Hill. Ela o
encarava, fascinada, enquanto a luz do fogo iluminava seus músculos e a parte de trás
de seus ombros. Seus olhos escorregavam para a forma dele, e os fechou
imediatamente quando viu a curva em suas costas. Jolie segurou a respiração, abriu
um, então o outro, e deixou um suspiro sair de seus lábios enquanto olhava as coxas e
as pernas poderosas dele. Nunca tinha visto um corpo daqueles em um homem antes.
Seu coração disparou no peito, e ela se moveu debaixo dos lençóis, fazendo ele virar a
cabeça para trás.
Jolie ficou imóvel, fechando seus olhos, com medo que ele soubesse que estava
o observando com fascinação. Um desejo de estar perto dele a invadiu, quase
intolerável de tão intenso. Ela apertou o tecido do travesseiro em um esforço de se
prender na cama.
Austin rapidamente colocou a camisa, o tecido longo lhe dando privacidade. A
ideia de Jolie ver o efeito que tinha sobre seu corpo o fez ficar vermelho.
— Fique calmo, McCoy. Aja como a idade que tem, não como um garoto do
colegial. — Disse a si mesmo em um sussurro baixo.
— Você disse algo?
— Não! — Ele quase gritou, então percebeu e baixou seu tom de voz. — Sinto
muito. Não. Eu estava murmurando para mim mesmo. Eu te acordei? — Rapidamente,
ele colocou de volta suas calças de pele de corça.
— Não, eu estava só descansando meus olhos. Acho que aconteceu tanta coisa
que não consigo dormir.
Austin se moveu para um pouco mais perto dela, deixando sua camisa para
fora da calça, esperando que a escuridão disfarçasse seu desejo.
— Quer conversar? Eu posso te fazer companhia. — Jolie se sentou na cama, e
ele se sentou no tapete olhando para ela, amando a maneira como as sombras
brincavam com seu lindo rosto.
— Por favor. Eu estou nervosa. — Ela confessou.
Sua confissão apertou seu coração.
— Por quê? Está com medo de mim?
— Não. — Ela balançou a cabeça, torcendo o tecido entre seus dedos. — Eu não
sei. — Ela suspirou. — Eu confio em você.
— Por que está nervosa? — Perguntou gentilmente.
Ela respirou fundo, olhando para baixo.
— Eu não sei o que acontecerá comigo.
Austin hesitou, não querendo entrar em um assunto que a chatearia ainda mais.
— O que você quer que aconteça? Quer ir para casa? — Emoções invadiram seu
peito – a com paixão e o desejo de ajudá-la batalhavam contra o desejo egoísta de
envolvê-la em seus braços e apertá-la forte. Esperando sua resposta, ele balançou a
cabeça suavemente. De onde vinham aqueles pensamentos? Ele não conhecia aquela
mulher o suficiente para sentir o que estava sentindo.
Jolie não olhou para ele com receio de que ele perceberia a vergonha em seu
rosto diante às perguntas que não podia responder.
— Eu não acho que posso voltar.
Quando não se explicou mais, Austin aceitou o risco.
— Conte-me sobre sua casa. — Ele queria saber, e pensou que ela precisava
falar sobre aquilo.
Jolie sentiu um aperto no peito. Antes que percebesse, as palavras começaram a
sair. Ela não falou sobre Oak Hill, aquela não era sua casa de verdade. Ao invés disso,
ela falou do colorido bangalô, cercado de flores onde sua Grandmere cuidava dela e de
Abraham enquanto brincavam.
— Eu adorava correr às margens do pântano. Brincávamos de piratas, sempre
cavando por tesouros enterrados. Procurávamos por fadas na lama e peixes no riacho.
Jolie sorriu e Austin sentiu seu coração contrair como se estivesse sendo
esmagado por um punho.
— Eu aposto que era uma linda menininha.
— Eu era um terror. Eu preferia ir pescar a aprender a cozinhar.
— Oh, você não sabe cozinhar? — Austin riu.
— Eu aprendi a fazer tortas de lama.
— Ah, eu amo doces. Eu espero que você cozinhasse algo para mim. — Ele
pareceu triste.
— Oh, eu vou. Eu posso. — Jolie o assegurou, depois ficou ruborizada por sua
explosão. — Eu quero.
— Eu não sei… não gosto muito de tortas de lama. — Austin provocou.
— Eu finalmente aprendi. Eu sei fazer um ótimo bolo. — Jolie insistiu,
apertando os lábios.
Sandy latiu por causa do barulho que estavam fazendo, o que fez com que Jolie
risse.
Austin não conseguiu não sorrir. Não tinha se divertido tanto há muito tempo.
— Conte-me mais — ele insistiu.
Jolie deitou a cabeça no travesseiro e começou a contar sobre suas aventuras na
infância. Falou de sua Grandmere, sua mãe, e até seu pai em termos que não revelavam
sua vergonha.
— Grandmere me ensinou tudo sobre ervas. Eu posso ir à floresta e trazer de
volta o suficiente para fazer uma salada verde. E sei com qual delas fazer remédio.
Austin ouviu tudo.
— E quanto a dores de cabeça? Eu tenho sentido. Você consegue me ajudar com
isso?
Jolie assentiu e deitou a cabeça no travesseiro.
— Eu vou atrás de casca de salgueiro amanhã, e moerei para você.
Impressionado, Austin prestou atenção em cada palavra sua, fazendo mais
perguntas, faminto para que ela lhe contasse tudo. Ela lhe contou sobre os jogos que
jogava como pai, um gato que amava, as lições que com partilhava com Abraham na
mesa de sua avó. Falaram sobre os livros que lera, de músicas que conheciam,
encontrando mais em com um do que tinham esperado. Conforme a conversa se
estendia, Austin se aproximou dela até estar a poucos centímetros da cama, perto o
suficiente para ver as expressões de seu rosto. Escutou até suas palavras ficarem mais
divagares, então pararem de vez quando ela fechou os olhos e dormiu. Ainda assim,
Austin não se moveu, feliz em observá-la dormir.
Capítulo Três

Quando Austin abriu os olhos, viu Jolie andando por sua casa. Um cheiro
maravilhoso preencheu o ar.
— Você fez biscoitos? — Ele perguntou maravilhado.
— Fiz, e espero que não se importe. — Ela se ajoelhou em frente à lareira, vendo
o pote de ferro, sobre as brasas esbranquiçadas. Assar coisas desse jeito era novidade
para ela, mas achava que conseguiria lidar com aquilo. — Eu acordei cedo e lembrei o
que você disse sobre a comida. Achei um pouco de mel. Você tem manteiga?
— Sim. O recipiente está pendurado no poço, onde a tempera é razoável e
constante. — Austin ficou em pé. — Deixe que eu pego. — Deu a ela um grande
sorriso, assoviando para Sandy. — Venha, garoto. Aposto que precisa caminhar.
Assim que Jolie ficou só, ela correu para pegar um espelho que tinha visto sobre
um pequeno guarda-roupa. Como estava? Esfregou abaixo dos olhos e beliscou as
bochechas, tentando endireitar seu cabelo. Nunca se sentiu daquela maneira… nunca.
Quando Charlotte ia entreter seus pretendentes, Jolie ficava fora de vista, para que as
conversas sobre ela ser membro da família Belmont não se tornassem combustível para
fofoca. Corriqueiramente, imaginava como seria se um homem viesse até ela, trouxesse
flores, levasse-a para caminhar pelo jardim. Depois endireitar seu cabelo, o melhor que
podia, Jolie deixou suas mãos caírem.
O que fazia?
Àquelas horas com Austin não eram nada daquilo, ele não era um pretendente
e ela não era uma debutante procurando por um bom partido.
Ela era… uma escrava.
O rosto de Jolie e seu coração de partiram.
O que estava pensando? Precisa ir embora antes que seu coração se enganasse e
acreditasse que tinha encontrado um lar. Esse homem era gentil, mas não devia nada a
ela. E se alguém viesse lhe procurar? Ela foi comprada e seu dono procuraria por sua
propriedade. Bile invadiu sua garganta e o gosto amargo à fez fazer careta.
Ela era uma propriedade.
Toda sua cabeça mudou nos últimos anos. Indo de uma menina mimada e
amada por seus pais que a amavam a algo que era considerado menos que um humano
era quase impossível de processar. Jolie percebeu que fora protegida da dura verdade
da vida, enrolada em algodão. Somente agora conseguia ver como tinha pairado à
beira de uma realidade que escolheu não reconhecer. Sussurros, vagas referencias,
explicações sem senso para coisas que tinham lhe deixado horrorizada – pessoa em
correntes, pessoas sendo chicoteadas, pessoas sendo mortas por ousar se defenderem.
Sim, ela fora uma criança, mas escolheu não conectar os pontos e admitir o horror ao
seu redor era parte de sua existência por escolha própria.
— Estamos de volta.
A chegada de Austin a fez dar um pulo e ficar ciente do cheiro.
— Oh, eu espero que os biscoitos não tenham queimado. Eu estava juntando lã,
— ofereceu uma explicação enquanto corria para a lareira. Salvou os biscoitos usando
uma luva para remover o pote das brasas, e sentiu os olhos de Austin sobre si. Não
podia dizer o que ele pensava, mas sabia que a observava de perto. Será que ele
suspeitava da verdade? Às vezes, sentia que tinha uma marca invisível, a marca de
Caim, declarando um julgamento que a cor de sua pele por si só não o fazia.
— Eles me parecem ótimos — o estômago de Austin roncou tão alto que Jolie
ouviu.
— Agi como se estivesse em casa. Percebi que não tem muita farinha no barril.
— Ela colocou o pote de ferro no local da mesa que ele indicou, deixando-o esfriar em
um fino pedaço de madeira. Ela notou o recipiente que ele trouxera, cheio de manteiga.
— Eu poderia fritar um pouco de bacon, se você tiver.
— Eu tenho, no defumadouro, mas isso está um paraíso. Eu não quero esperar.
Vamos comer. — Ele deu a ela um olhar de gratidão. — Minhas tentativas de cozinhar
foram sempre fracassadas, meus biscoitos são tão duros quanto pedras. — Ele
examinou com os dedos, mostrando quão pouco tinham queimado. — Por favor, sente-
se. — Austin puxou a cadeira de couro preto para ela. Naquele momento, estava grato
pelos esforços que fizera para trazer alguns móveis decentes do Tennesse e. Na época,
tinha amaldiçoado a dificuldade que foi conduzir o vagão, atravessando o rio em
balsas, e tomar cuidado para as rodas não atolarem na lama. Mas agora, vendo Jolie se
sentindo confortável naqueles móveis – sua cama, sua cadeira – estava orgulho de tê-
los para oferecer a ela. Ela era tão linda, merecia coisas boas.
Jolie se sentou na cadeira, desacostumada com alguém sendo tão gentil para
ela.
— Obrigada. — Ela puxou a bainha da camisa, desejando ter mais tecido para
cobrir as pernas. — Eu me sinto um pouco nua, — admitiu. — Eu preciso ver se
consigo consertar a roupa que usava quando cheguei.
Austin abriu o pote de mel e entregou a ela.
— Eu temo que a roupa não esteja em condições de reparo. Vamos arrumar
outra coisa para você vestir.
Ele parou de falar para pegar quatro biscoitos, então passou manteiga neles,
com a língua para o lado da boca enquanto trabalhava. Jolie não conseguia desviar o
olhar. Ele era tão lindo.
— Espero que você os ache bons.
Austin derramou mel sobre eles, levando-os lentamente até a boca, o calor
subindo do pão escamoso em um fio de vapor pouco visível. Quando colocou na boca,
mordendo-os, ela prendeu a respiração esperando pelo veredito.
— Deus tenha piedade, — murmurou. — É uma delícia.
Jolie deixou escapar um suspiro de alívio.
— Bom, estou feliz que tenha gostado. Se me mostrar que outros ingredientes
posso usar, eu adoraria pagar sua hospitalidade preparando mais pratos para você. —
Notando que ele não tinha nada para beber, correu para lhe servir um pouco de água.
Austin saboreou a companhia dela.
— Eu preciso viajar para Nacogdoches para comprar mais mantimentos e,
enquanto estiver lá, pegarei algum as roupas para você.
Tudo o que Jolie ouviu é que ele viajaria, a ideia a fez perder o controle sobre a
peça de cerâmica que segurava, derrubando-a quando a moveu entre seus dedos.
Quando atingiu o chão, rachou, espalhando pedaços afiados por todo o chão.
— Ah, não. Eu sinto muito! — Imediatamente, ela ficou de joelhos, juntando os
pedaços, quase em um ataque de pânico. — Eu quebrei. Sinto muito.
Quase instantaneamente, Austin estava em pé e do outro lado da mesa.
— Pare! Você acabará se cortando. — Ele se abaixou ao lado dela, prendendo
suas mãos nas dele. — Por favor, Jolie. Pare.
Ela não conseguia ver. Lágrimas embaçavam sua visão.
— O que há de errado? — A voz de Austin era preocupada. — Você se cortou?
— Você tem que viajar logo? Não podemos esperar? — Ela não deu a ele tempo
para responder. Sabendo que não tinha outro lugar para ir a deixava morta de medo.
— Você me mandará embora?
— Do que você está falando? — Quando se deu conta de que ela falava de sua
viajem a Nacogdoches, sentiu seu corpo todo reagir a sua súplica. Seu coração se
encheu de ternura. — Não, Jolie, eu não mandarei você embora. — Austin respondeu.
— Eu vou e volto o mais rápido possível. Vou ficar fora por cinco dias, no máximo.
— Eu posso ficar aqui? — Ela perguntou trêmula. — Quero dizer, eu posso ficar
você enquanto estiver viajando?
— Claro, — ele respondeu com ênfase. — Eu quero que fique aqui, onde está
segura.
Estranhamente, Jolie ficou em pé, sentindo-se envergonhada por sua crise.
— Eu sinto muito por ter quebrado sua caneca. Eu não queria derrubar e a
quebrar.
— Não se preocupe com isso. Eu nunca gostei dessa caneca mesmo, — brincou,
perguntando por que ela reagira daquela forma a algo tão insignificante.
Ela secou as lágrimas dos olhos.
— Eu tomarei mais cuidado da próxima vez. Prometo.
— Não precisa ter mais cuidado, — ele tentou acalmar seus sentimentos,
insistindo que ela se sentasse e com esse. — Descanse. Relaxe. Isso foi só um acidente.
Ambos pareciam querer dizer mais, mas nenhum o fez. Depois de alguns
minutos, Jolie se sentou e com eu. Um toque gelado e molhado em sua perna a fez
perceber que mais alguém estava com forme. Com um olhar de soslaio para Austin, ela
levou parte de sua comida até abaixo da mesa, segurando para Sandy comer. Quando
ele pegou de sua mão, ela deixou uma risada escapar de seus lábios.
— O que está fazendo? — Austin perguntou com debochada severidade. —
Está dando nossa comida a esse animal?
— Sim — Ela riu de novo. A maneira como ele tinha lidado como acidente da
caneca deu a ela certeza de que ele era alguém com quem podia brincar. — Ele está
com fome… e é bonitinho.
— Você é bonitinha — ele murmurou. — Deixe dois biscoitos para mim.
Jolie tomou cuidado para fazer o que ele pediu, mas insistiu em dividir sua
porção como grande cachorro que a olhou com seus olhos adoráveis.
— Bom? — Ela passou a mão em sua cabeça. — Depois que eu limpar, nós
daremos uma volta e tentar achar uma casca de salgueiro como eu falei ontem à noite.
— Vocês dois não vão sozinhos. Acompanharei você. — Depois de colocar o
último pedaço na boca, Austin pegou as migalhas e com eu elas também. — Se eu vou
para a cidade amanhã, eu preciso fazer uma lista do que precisamos. — Seu rosto
assumiu uma expressão pensativa. — Eu me pergunto… — Ele se levantou e andou até
um baú no canto.
Jolie o observou se agachar, ciente de suas costas largas. O cabelo longo caindo
por seus ombros, fez com que ela tivesse vontade de tocá-los para sentir a textura.
— O que está fazendo?
— Isso. — Ele se levantou como que parecia ser peças de couro macio e tiras de
pele de gamo. — Acho que posso fazer uns mocassins para você, pelo menos protegerá
seus pés enquanto caminhar por aí.
Virando-se na cadeira para o encarar, Jolie estava petrificada quando ele se
ajoelhou em frente a ela, pegou seus pés em suas mãos e começou a envolvê-los como
couro, mexendo no material com experiência e o transformando em uma camada
protetora.
— Obrigada, — foi tudo o que ela conseguiu murmurar. Ela fechou os olhos,
impressionada com a proximidade e o toque quente das mãos dele em sua pele.
As mãos de Austin tremeram quando tocaram a pele sedosa de Jolie. Ela era tão
pequena, tão delicada. Tão feminina. Já que estava aos seus pés, encontrou-se com
vontade de ficar de joelhos, adorando-a. Tocá-la era o paraíso. Lutando para manter a
com postura, falou baixo: — Desse jeito, não cortará seus pés ou machucar seus dedos.
— Sua voz se interrompeu quando os dedos dela se apertaram no couro. — Quero que
sempre tome cuidado com as cobras também. Há umas cobras d'água tão grandes
quanto você. Elas já devem ter partido por causa do inverno, mas temos alguns dias
mais quentes e não quero que você corra riscos.
— Não tenho medo de cobras, — Jolie disse, tentando manter seus pensamentos
em ordem enquanto processava a maravilha que era ter suas mãos em seu corpo.
Cócegas de aviso subiam por sobre suas pernas até seu interior.
Austin sabia que estava a tocando em excesso, aproveitou o momento. Mas, por
Deus, ter suas mãos dela era um sonho realizado. O peso imenso dos dias de solidão
era como uma montanha de desespero. Sua imaginação estava a solto, o único que o
havia tocado em anos era ele mesmo. A ideia daquele anjo se sentir em casa como seu
corpo era de tirar o fôlego.
— Aqui — Ele se permitiu tocá-la uma última vez, deixando sua mão correr
pelo pé e pela perna dela, alguns centímetros sobre o couro. — Acho que isso ajudará.
Fique em pé e veremos como fica.
Jolie se levantou, aceitando a mão dele para ficar em pé.
— Ah, sim. Vai ser maravilhoso. Eu… eu perdi meus sapatos no caminho.
De novo, Austin queria lhe perguntar mais coisas, mas a sombra passando pelo
rosto dela o preveniu para não o fazer.
— Pronta para caminhar? — Ele imaginou que ela talvez precisasse usar o
banheiro.
— Deixe me ajeitar as coisas aqui, e estarei. — Feliz, Jolie foi trabalhar,
limpando o pote ao esfregá-lo com um pano, sabendo que precisava preservar o ferro.
Austin não ficou parado, ele a ajudou a colocar as coisas no lugar, todo o tempo
pensando em como seria maravilhoso com partilhar sua com vida com alguém… como
ela.
Exatamente como ela.
Ela.
Jolie.
— Jolie — sussurrou seu nome.
— O quê? — Ela se virou para ele, sorrindo.
— Ah… — ele gaguejou, vendo-a andar por sua casa como se pertencesse
aquele lugar. — Eu estava prestes a dizer que podíamos checar as linhas de trote no
riacho e ver se tem algum caqui maduro na árvore dos fundos.
O rosto de Jolie se iluminou.
— Sim, parece divertido!
Ele esperou enquanto ela limpava a mesa, dando a Sandy uma última mordida
do que tinha sobrado de sua refeição.
— Isso é animador. Minha vida não tem sido muito feliz ultimamente, — ela
admitiu, sabendo que seu comentário deixaria Austin curioso. Antes dele perguntar,
ela olhou para o seu rosto. — Eu lhe contarei a verdade… antes de eu ir embora. — Ela
não achava realmente que Austin a trairia, ele era um homem bom de mais.
Jolie esperava não estar errada.
— Tudo bem. Quando estiver pronta. — Os olhos de Austin a seguiram
conforme ela caminhava em direção a ele. Sua alma cantou quando Jolie levantou a
mão para que ele a pegasse. Honestamente, ele esperava que ela nunca lhe contasse a
verdade – porque não queria jamais que Jolie fosse embora.
Devagar, ele pegou sua mão na dela. No momento em que suas peles se
tocaram, ele sentiu o contato por todo o seu corpo. Trazendo a mão ela até seus lábios,
ele a beijou. Virando-a, ele beijou a palma.
— Você tem uma marca de nascença. Um coração. É linda. — Ele beijou a
marca, encarando seu rosto, tentando determinar se ela estava sentindo a mesma coisa
que ele, ou se era apenas um produto de sua própria solidão e desejo.
Jolie tentou não reagir, mas a energia que sentiu de seu toque era a coisa mais
maravilhosa que já tinha sentido. Como seria beijá-lo na boca? Ela o olhou como canto
dos olhos, apenas para flagrá-lo lhe olhando. Deu a ele um pequeno sorriso.
— Meu pai chamava de a marca de beleza.
— Ele estava certo.
Aquele momento começou a ficar pesado. Sem saber o que fazer ou dizer, ela
mudou o assunto.
— Havia bastante orvalho no chão quando saí nesta manhã.
Austin não gostou do que ouviu.
— Você saiu sozinha? Por que não me acordou? — Todas as coisas que
poderiam tê-la ferido bombardearam sua mente. Lobo. Urso. Pantera. Índios.
— Eu tive que ir. — Ela olhou para ele. — Eu não queria incomodá-lo.
— Da próxima vez, acorde-me, — ele disse. — Não quero que nada aconteça
com você. — Antes de saírem pela porta, ele colocou sua espingarda no ombro.
A resposta dele, apesar de sóbria, aqueceu seu coração.
— Tudo bem. Vou acordar você da próxima vez.
Caminhando nos sapatos macios de pele de veado que ele fizera era muito mais
confortável do que caminhar descalça. Jolie deu alguns saltos, rindo.
— Eu os amei; são tão confortáveis.
Austin jurou conseguir algo muito melhor para ela usar.
— Fico feliz.
Foram à latrina primeiro, então foram em direção ao Oeste, algum as jardas de
onde Austin tinha arado mais alguns acres e terras para criação de gado e plantações.
Enquanto caminhavam, Jolie olhou para o topo dos pinheiros com longas folhas.
— As árvores são tão altas aqui. Não parece com Louisiana.
— Não, eu concordo. — Austin assentiu. — O Texas é vasto, inexperiente e
deserto. Eu não vi todo ele, mas ouvi falar que vai dessa floresta pantanosa até
montanhas desertas, de planícies largas até o oceano. Antes de deixar o Tennesse e, eu
comprei essa terra de um homem chamado Nathan Davis. Toda essa área é parte de
um antigo subsídio de terras espanholas. Em Nacogdoches, tem uma missão, um forte
e alguns colonos. Também tem essa loja de trocas sobre a qual eu estava lhe falando.
Tenho certeza de que eles estabeleceram outros negócios nesse meio tempo. O
assentamento está crescendo. Tem até uma parada lá onde as diligências param entre
cá e lá. Um monte de progresso foi feito desde que me mudei do Tennesse e.
Querendo contribuir com a conversa, Jolie cuidadosamente revelou.
— Eu passei a maior parte de minha infância na ribeira, mas estive algum às
vezes em Nova Orleans. — Ele não precisava saber que ela estava presa a correntes. —
Meu pai disse que a cidade era muito europeia. Eu vi muitas coisas belas lá. Também
visitei algum as plantações. — Uma deveria ter pertencido a ela, caso as coisas tivessem
sido diferentes. — Apesar das coisas modernas, eu prefiro sua casa.
— Por quê? — Austin estava surpreso e curioso. Eles se aproximaram do
jardim, ele se apressando em segurá-la quando o solo começou a ficar desnivelado.
— Eu me sinto segura aqui. — A verdade escapou antes que ela pudesse voltar
atrás.
— Você está segura e é muito bem-vinda. — Austin sentiu seu coração aquecer.
Ele fez um movimento para mostrar a área que fora esculpida em linhas retas por sua
antiga mula, Sara. — Acho que poderíamos pegar um pouco de verduras para o jantar.
O inverno sempre chega tarde nesse mundo, mas o Natal está quase chegando. O gelo
matará a vegetação logo, logo.
— E eu posso fazer pão de milho, — ela ofereceu, recusando-se a pensar no
Natal. Provavelmente, já estaria muito longe quando chegasse.
— Esse é o fumeiro. — Ele apontou para uma construção pequena. — Deixe-me
mostrar. — Abrindo a porta, ele a deixou entrar primeiro. — Cuidado com a cabeça.
Jolie apertou os olhos para enxergar o interior escuro. Ele deixou a porta
entreaberta para que tivessem algum a luz.
— Tem porco aqui e carne de veado. Pode usar o quanto quiser. — Limpando a
garganta, acrescentou. — Não que eu espero que trabalhe ou cozinhe para mim.
Ela tocou o braço dele
— Eu quero. Ajudá-lo me deixa feliz. — Ele esperou enquanto ela inspecionava
a carne que ele preparara para usar depois.
— Tudo bem. — Ele sorriu, pegando um balde de lata. — Vamos pegar algum
as verduras, então, avançaremos um pouco no nosso tour.
Eles riram e conversaram enquanto pegavam couve e mostarda. Sandy correu
entre as fileiras, perseguindo um pequeno coelho que saiu correndo para fora de seu
alcance. Austin estava encantado como tempo que tinham passado juntos.
Conversaram sobre coisas como política e ervilhas.
— Há rumores sobre problemas, ouvi dizer que alguns dos colonos estão
querendo se separar do México.
Jolie franziu o cenho.
— Espero que não usem armas uns contra os outros. — Tinha passado por
muitas situações violentas; outra coisa completamente indesejada em sua mente.
— Tenho certeza de que vão resolver as coisas. Texas é grande o suficiente para
todo mundo, é o que me parece.
Depois de encherem o balde, Austin o colocou na porta do poço. Ele largou seu
rifle perto de uma árvore, pegou outro balde, e eles foram em direção à sua casa.
— Há muitas árvores frutíferas aqui.
— Queria que tivéssemos algum as para fazer uma torta.
A menção de algo doce fez a boca de Austin salivar.
— Eu também.
Não tinha nem cáqui. Jolie conseguia ver o desapontamento de Austin.
— Eu poderia fazer uma torta xadreza, não precisa de frutas.
— Parece incrível, — ele concordou.
Enquanto passeavam, ele gostava de observar Jolie e Sandy brincar com as
folhas. Cruzando os braços sobre o peito, inclinou-se em uma arvore, totalmente
encantado por sua graça e gargalhada doce.
Crack! Snap!
Imediatamente, ficou reto. O que tinha escutado? Pegando sua espingarda, ele
se lembrou que a tinha deixado perto do poço. Droga! Provavelmente, não era nada,
mas era melhor prevenir do que remediar.
— Jolie, eu já volto, deixei minha arma perto do poço.
— Vamos estar aqui! — Ela exclamou, jogando um pedaço de trupa para Sandy.
Sentia seu coração mais leve do que já sentira em dias. Sandy correu atrás de uma pera,
ele estava gostando do jogo. Jolie tirou o cabelo do pescoço, e encarou o sol, amando o
calor dos raios em sua pele.
Um guincho!
Um barulho como qual Jolie não estava familiarizada acabou como silencio e
Sandy saiu dos arbustos, gritando com todo o fôlego de seus pulmões. Vindo atrás
dele, estava um animal enorme, um grande porco preto, com as presas brilhando. Não
havia dúvida na mente de Jolie que se o javali pegasse Sandy, ele não sobreviveria.
— Não! Para trás! — Sem se importar com sua própria segurança, Jolie se
aproximou do animal, abanando os braços e gritando a plenos pulmões. O porco
parou, parecendo surpreso com seu novo inimigo. Sandy latiu furiosamente,
permitindo que a mulher ficasse entre ele e o perigo. — Vá embora.
A algum as jardas de distância, Austin estava como coração na boca. Ele
conseguia ouvir o barulho e não precisava ver para saber exatamente o que acontecia.
Um porco selvagem estava ameaçando seu cachorro e uma mulher que estava quase
considerando sua. Já tinha visto o tipo de estrago extremo que um animal daqueles
podia fazer em um cachorro, estripando-os com um único golpe de suas presas afiadas.
— Jolie — ele gritou, correndo em direção ao pequeno pomar. — Querida, não
se coloque em perigo!
Latidos e gritos disseram a ele que ambos ainda estavam inteiros. Suas pernas
se impulsionaram furiosamente enquanto cobria a distância. Quando os avistou,
Austin quase morreu. Jolie, doce e delicada, tentava afastar o animal perverso que
poderia matá-la em um segundo. A cacofonia do latido do cachorro, o grito dela, e o
barulho do porco invadiram seu cérebro. Carregando e engatilhando sua espingarda,
ele disse a Jolie : — Dê dois passos para a esquerda, querida, — ele disse, pois
precisava dar um tiro.
Querida? Jolie ouviu sua voz e, automaticamente, confiando nele, obedeceu.
Austin mirou e atirou.
Jolie deu um pulo por causa da explosão da arma, e suspirou quando o javali
caiu no chão.
— O que pensou que estava fazendo? — Ele perguntou rudemente, morrendo
de medo.
Virando-se para ele, Jolie rapidamente percebeu que ele não estava bravo com
ela, estava com medo por ela. Correndo até Austin, jogou os braços e ele a pegou,
trazendo-a para perto.
— Nunca, jamais, se coloque em perigo desse jeito. Você me fez morrer de
medo — sussurrou.
— Eu não podia deixar Sandy. Eu o amo — murmurou contra o calor do
pescoço dele.
— E se… — ele começou, mas parou, incapaz de continuar.
— Pelo menos, teremos mais bacon, — Jolie disse em uma voz baixa.
Austin riu, abraçando-a forte.
— Eu acho que nunca mais deixarei você ir.
Jolie não disse nada, mas o que ele tinha dito soava tão bem para ela. Ela não
queria que ele a deixasse ir.
Ela estava feliz.
Eles ficaram lá por mais alguns minutos, até Sandy se colocar entre eles, ciente
de que estava envolvido em um acontecimento caótico.
— Vem, — Ele pegou a mão dela. — Eu preciso caminhar. Ainda estou
tremendo como aquele salgueiro que precisamos encontrar. Depois de pegarmos a
casca, eu voltarei e pegarei o javali, tirarei a pele e colocarei a carne no fumeiro.
Quando começaram a caminhar, ele ofereceu seu braço e ela aceitou, sentindo-
se como uma lady mais do que nunca.
— Eu agradeço por fazer um remédio para mim. A falta de médicos é uma das
coisas que me preocupa. Lá no Tennesse e, tínhamos fácil acesso à ajuda médica. Aqui,
não tem nada. Tem um médico em Nacogdoches, mas se algo acontecer, ele está a dois
dias de distância. — Por um segundo, ele se deixou imaginar Jolie grávida de uma
criança e ele preocupado se ela daria à luz um bebê saudável.
— Eu sei um pouco. Minha Grandmere me ensinou bem.
Ele ainda não estava respirando muito bem.
— Você, Senhorita Jolie, é um troféu.
Ela se aqueceu com suas palavras e olhou aos arredores. A floresta era rica e
exuberante. Pinheiros altos e retos pareciam tocar as nuvens. O solo era escuro e
alaranjado, uma com binação de palha de pinheiro e da terra vermelha abaixo.
Primeiro, pensou que o solo era de barro vermelho, mas não. O céspede, a areia em si
eram ricos, escura, cor de Borgonha. Ela ouviu Coffi dizer algo sobre cruzar terras
vermelhas, e agora ela sabia o que ele queria dizer.
— Escute. — Austin sussurrou. — Você ouviu?
Eles pararam e Jolie inclinou a cabeça.
— Eu ouço pássaros. E o vento. — Ela escutou mais. — Água. Eu ouço a água
correr.
— Sim, Palo Gaucho Bayou, ou, como os locais dizem, Polly Gotch. Ela corre do
Norte daqui até Sabine.
— Eu cruzei o rio Sabine em uma balsa.
— Provavelmente a Gainess Ferry perto de Red Mound. A estrada que leva à
balsa é chamada de El Camino Real, ou o Rodovia do Rei, e não é muito longe daqui.
— Uma rodovia? — Ela perguntou, confusa.
Austin riu.
— É só uma carroça, mas uma que é usada por viajantes e pioneiros que
querem ir ao Oeste. A diligência passa por lá também.
— Você me leva para ver lá um dia?
A ideia de que ela ficaria, o suficiente para com partilhar momentos com ele, era
inebriante.
— Sim. Provavelmente, não verá ninguém, às vezes se passa dias até que
alguém passe por lá, mas nós certamente vamos lá para você ver, se quiser.
Eles foram pelo riacho.
— Aqui é diferente da ribeira da Louisiana, — ela disse — Menor, pedregoso.
— Ela estava encantada com a maneira rápida como a água corria pelas pedras fazendo
um barulho de cantoria. Eles chegaram às linhas de trote, somente para achá-las vazias.
Austin achou aquilo estranho. Havia muitos peixes naquelas águas.
Com certeza, também acharam o salgueiro chorão, suas folhas finas e caídas
eram familiares à Jolie.
— Você tem uma faca?
— Tenho.
Na sua direção, Austin tirou a cascado salgueiro.
— Não tire muito. Não queremos machucar a árvore. — Antes que ela pudesse
dizer outra palavra, algo assoviou no vento e uma flecha atingiu o tronco na altura dos
olhos de Jolie.
— Droga! — Austin se virou para ela e a puxou para ficar atrás de si.
Jolie estava com medo, ela tremendo tanto que mal podia ficar em pé.
— Estamos sendo atacados?
Austin se escondeu nas sombras.
— Não, acho que não. — Ele pegou a flecha da árvore. — É Cherokee. Eu estou
em paz com os Cherokee. Quem quer que tenha atirado essa flecha sabia exatamente o
que fazia. Eles poderiam ter nos atingido se quisessem. — Sabendo que quem quer que
tenha atirado à flecha estava do outro lado do rio, seu objetivo era levar Jolie para o
mais longe possível. Puxando-a para ele, sussurrou — Vá, pegue Sandy e corre para
casa. Tranque-se. Eu vou logo em seguida.
Jolie não queria deixá-lo, mas precisava confiar nele.
— Volte para mim, Austin McCoy. — Sem muito, ela ficou na ponta dos pés e o
beijou na bochecha, então saiu correndo para a segurança das quatro paredes.
Uma vez que Jolie estava longe e segura, Austin colocou sua espingarda do
lado da árvore. Não tinha certeza da identidade de seus visitantes como tinha feito
Jolie acreditar, porém, acreditava em buscar a paz com as tribos de índios nativas. Seu
objetivo era acalmá-la e deixá-la segura. Deixando as mãos ao lado do corpo, mostrou
que estava desarmado. Usando as poucas palavras Cherokee que conhecia, disse: —
Meu nome é Austin McCoy. Essa é minha casa.
Em alguns minutos, dois cavaleiros saíram de trás das árvores. Os cavalos
relinchavam conforme eles se aproximavam. Austin tomou cuidado, não tinha desejo
nenhum em morrer e certamente não queria deixar Jolie desprotegida.
De volta à cabana, Jolie se adiantou em chamar Sandy para se juntar a ela.
— Rápido! — Ela fechou a porta atrás dele, fechando-a e colocando a trava no
lugar. Tremendo, ela procurou por uma arma. Indo até a lareira, pegou o atiçador de
ferro. Só o fato de o segurar já a fez se sentir melhor.
Mas e quanto a Austin?
Incapaz de resistir, ela voltou à janela. A persiana estava fechada, mas ela a
abriu o suficiente para conseguir ver atrás dela. Jolie sabia que Austin desaprovaria,
mas estava morrendo de preocupação com ele. Havia acabado de encontrá-lo; não
estava preparada para perdê-lo para a flecha de um índio. Não enxergando ninguém,
ficou mais corajosa e subiu em um banquinho para poder ver melhor. À distância, Jolie
conseguiu identificá-lo, em frente a dois homens montados em cavalos, usando penas
nos cabelos. Ela soltou um suspiro de alívio. Ele estava vivo. Prendendo a respiração,
ela viu vários indivíduos se aproximarem e o cercarem. Não conseguia nem mais vê-lo,
pois os cavalos estavam em volta.
Enquanto isso… Austin falou com seus visitantes inesperados. Enquanto
pensava em como se comunicar com eles, ficou surpreso quando começaram a falar em
inglês fluente.
— Sr. McCoy. Meu nome é Robert Fields. Eu sou o líder da minha tribo.
Austin franziu o cenho.
— Você não parece um índio. — Sua pele era quase tão clara quanto à de
Austin. Somente suas maçãs do rosto proeminentes e longo cabelo negro entregavam
quem eram seus ancestrais.
— Eu sou um oitavo Cherokee. Sangue branco é fraco. Uma gota de qualquer
outro sangue muda a cor dos olhos de um homem branco.
Austin não discordava.
— Onde é o seu acampamento ou está apenas passando por aqui? — Agora que
tinha a oportunidade, sentia-se inclinado a fazer perguntas. Ele manteve seus olhos
alertas, Fields estava acompanhado pelo que parecia ser um pequeno exército.
— Nosso acampamento fica a um dia e meio de jornada, ao Norte. Eu vim
recentemente ao Texas. Antes eu fui ao Tennesse e. Eu liderei um grupo do meu povo
para Andrew Jackson, na Guerra de 1812.
— Eu também sou do Tennesse e. — Ele virou os olhos para a cabana, dando a
si mesmo segurança de que ninguém estava se aproximando do local onde Jolie o
esperava.
Fields assentiu, suas mãos segurando as rédeas do cavalo sem força.
— Mantivemos a paz patrulhando o Sabine contra incursões e contrabandos.
Em troca, meu povo tem permissão para ficar nessa terra.
— Quando eu atravessei o Sabine, fui recebido por uma gangue de vagabundos.
Fields assentiu.
— Há muita agitação. Muitos brancos, como você, virão. Acabamos de voltar de
um encontro com homens chamados Edwards e Parmer. É nosso objetivo garantir terra
permanente para nosso povo e eles concordaram em nos ajudar.
Austin não tinha problemas com aquelas pessoas ou seus planos. Francamente,
estava impressionado por ser confrontado por um selvagem com um vocabulário tão
bom, que precisou de um para descobrir que eles vieram para negociar. Ele tinha gado,
eles queriam carne.
Abater um de seus gados não era algo que estava planejando, mas dessa vez os
índios tinham uma oferta que ele estava disposto a aceitar. Quando tudo estivesse
terminado, ele ficou com um braço cheio de itens e um barril de milho moído. Agora,
não tinha tanta pressa em viajar para Nacogdoches. Jolie ficaria tão feliz quanto ele. Ele
ficou e observou seus visitantes partirem, imaginando o resultado de toda aquela
agitação pela posse de uma terra.
Quando Jolie viu os cavalos partirem, ela se sentiu aliviada. Ver Austin fazer o
caminho de volta a ela, a fez correr até a porta. Destrancou-a, e saiu correndo com
Sandy, em volta da casa e direto ao encontro de Austin.
— Você não está machucado? — Perguntou.
— Não estou. — Deu um sorriso a ela. — Estava preocupada comigo?
— Estava. Muito. — Ela correu até ele, agarrando seu braço e pousando a
bochecha no tecido macio de seu casado.
Austin sabia que o relacionamento deles tinha mudado. Ele não se incomodava
em analisar o que tinha acontecido ou o momento em que ocorreu, o catalisador não
era importante. Não importava a razão, ele estava feliz como resultado. Como
procederiam, ele não sabia, mas o processo o animava.
— Eu tenho algo para você.
— Tem? O que eles queriam? Eram amigáveis? — Sabia que suas perguntas
eram rápidas de mais ; não dava a ele uma chance de responder. — Eu estava tão
nervosa por sua causa. Eu estou feliz que eles foram embora.
— Eu também — assegurou, inclinando sua cabeça para descansar sobre a dela.
— Eles eram amigáveis. O nome do chefe da tribo era Richard Fields. Eles queriam
trocar algum às coisas por carne. — Ele mostrou os pacotes. — Vamos entrar, e depois
cuidarei dos vegetais e do javali. Eu não tenho todos os vegetais que colhemos, eles
pegaram um pouco.
— Tínhamos muito. — Ela estava tão feliz que ele estava bem. Jolie o seguiu,
impressionada como que tinha ouvido. — Por que o chefe tinha um nome tão normal?
Austin deu de ombros.
— Ele era parte branco, a pele dele era só um pouco mais escura que a minha.
— Às vezes é difícil dizer quem é branco e quem não é, — ela sussurrou,
sentindo-se agitada. Jolie olhou para as coisas que Austin tinha nos braços, para evitar
olhar em seus olhos. — Então, mesmo sendo só parte índio, ele se considera índio?
— Sim, acho que sim. Acho que se você é uma parte de uma raça, você recebe o
nome daquela raça.
— Não importa o quão pouco seja? — Jolie não sabia por que continuava
insistindo.
— É, tem uma conversa no Norte sobre uma regra de uma gota. Uma gota de
qualquer outra raça, e é assim que você é identificado. — Austin deu de ombros. —
Não digo que é certo, mas acho que é assim que as coisas são. — Riu. — Se você tem
muita mistura, eu não tenho certeza do que você faz. Eu sou escocês, com pouco de
irlandês e inglês. Não tenho certeza do que sou. Talvez, simplesmente diga que sou
texano.
— Eu gosto disso. — Ela não sabia o que mais dizer.
— Mas isso não nos afeta, não é? Olhe só o que tenho para você. Isso é um
vestido macio para você vestir, dois deles. Ambos são feitos de camurça, um é branco e
outro é marrom.
Ela tocou os vestidos, pequenos furinhos eram feitos no couro.
— São lindos.
— Você ficará linda neles. — Não foi possível não dizer. — E olhe, — ele
alcançou outra coisa para ela, — Sapatos com cadarços propícios.
— Obrigada — Seus olhos brilharam quando olhou para ele. — Eu amei.
— E temos milho moído. Eu não precisarei viajar tão cedo para pegar
mantimentos.
Aquela era a melhor das notícias.
Enquanto ele ia em buscada comida que tinha ficado lá fora, Jolie guardou seus
tesouros, decidindo se precisava se preocupar com a regra da uma gota. Enquanto
conseguisse guardar seu segredo, tudo ficaria bem.
Incapaz de esperar, Jolie colocou um dos vestidos, ajeitou seu cabelo e mordeu
suavemente os seus lábios para que ficassem rosados. Então, antes de Austin retornar,
correu à cozinha e começou a preparar o jantar. Sabia que descarnar o javali demoraria
um pouco, então planejava fazer um bom uso daquele tempo.
Jolie estava mais feliz do que nunca.
***
— Parece que teremos chuva mais tarde, — Austin anunciou enquanto entrava
com os braços cheios.
Jolie correu para ajudá-lo.
— Que bom, você trouxe o salgueiro. — Ela pegou dele e colocou com cuidado
em um lugar para prepará-lo mais tarde.
Austin colocou os vegetais próximo ao barril de água.
— Eu trouxe presunto fresco também. Podemos colocá-lo para cozinhar para
amanhã. — Quando se virou para ver Jolie, congelou. Ela estava linda! O vestido ia
somente até os joelhos, mostrando suas lindas pernas e o vestido modelara seus seios e
quadris, revelando sua forma incrível, Austin não pôde evitar em encarar.
Jolie percebeu os olhos dele nela. Não conseguia ler sua expressão. — Você
gostou? Não é o que esperava?
— Não. Não é o que eu esperava. — Ele respirou fundo. — Você se parece com
uma princesa.
Corando, Jolie murmurou obrigada e voltou a preparar a comida. Ela estava
feliz por ter o que fazer. Enquanto trabalhava, contemplou a situação. Jolie sabia que
estava em uma posição precária. Sobreviver naquela terra selvagem seria impossível se
estivesse sozinha. Se a verdade fosse descoberta, ela seria envidada ao homem que a
comprou.
Em Louisiana, não era in com um que um solteirão tivesse uma governante,
normalmente uma mulher de cor. Bem, ela se encaixava na descrição, mesmo que
Austin não percebesse. A possibilidade a atormentava. Ousava perguntar a ele se
poderia ficar? Poderia se tornar indispensável a ele? Poderia se provar merecedora de
sua proteção?
Conforme o vento batia à porta, Austin trabalhava em frente à lareira,
esculpindo um cabo de machado. Periodicamente, Jolie o olhava. Os legumes estavam
fervendo e ela desenrolou uma crosta para a torta xadrez. Estava um pouco em dúvida
sobre o tempero que usara, pegando uma pequena prova como dedo.
— Hmmm. — Talvez não estivesse tão forte.
Esperando para fazer mais, para mostrar a ele o quão útil era, Jolie achou algum
as meias de Austin que precisavam de reparo. Depois de procurar mais um pouco,
achou uma linha e uma agulha. Sentando-se perto dele, perto o bastante da lâmpada,
ela começou a costurar.
— O que está fazendo? — Austin perguntou, assim que se levantou.
— Consertando suas meias, — Jolie disse suavemente. — Você não se importa,
não é? Eu não gosto de ficar sem fazer nada.
— Não. Eu certamente não me importo. Eu aprecio isso, muito obrigado. — Ele
se ajoelhou perto dela, observando suas delicadas mãos se moverem. — Posso
perguntar uma coisa?
— Sim, claro — Talvez. Sua proximidade a fez se encolher na cadeira. Ela olhou
para seu lindo rosto. Ele não tinha feito à barba naquela manhã e suas bochechas
pareciam atrair os dedos dela.
— Para onde iam quando seus pais foram mortos?
Ah, não. O que ela diria? Verdade parcial, era tudo o que podia usar.
— Viajavam em direção ao Nordeste, a uma área próxima de Neches Saline.
Austin assentiu.
— Eu já ouvi falar da grande planície salina, como colonos e índios tiram água
dos poços rasos e permitem que ela evapore, deixando o sal. — Ele odiava perguntar
aquilo, mas se sentiu compelido. — Quer que eu a leve até lá? Sua família é dona de
uma terra por lá? Tem amigos naquela área?
A garganta de Jolie se apertou. Ele tentava encontrar uma maneira de se livrar
dela? Ela parou de costurar, pousando sua mão sobre o colo.
— A resposta para todas as perguntas é não. — Uma lágrima escapou de seus
olhos, rolando por sua bochecha. — Eu posso trabalhar, Austin. Não precisa me pagar.
Os olhos de Austin se estreitaram, ouvindo. Sua boca se abriu para formar
palavras, mas ele não conseguiu falar antes dela.
— Eu não tenho nenhum lugar para ir. Eu não tenho ninguém para quem
voltar. — Ela inclinou a cabeça. — Por favor, deixe-me ficar com você. Eu cuidarei de
tudo para você.
Petrificado, Austin voltou a ficar em pé.
— Você quer viver comigo?
Jolie não sabia como responder aquela pergunta.
— Não quero ser um estorvo. — Ela cobriu o rosto com as mãos. — Você tem
sido tão gentil. Estou desesperada. Não sei o que fazer.
Austin começou a caminhar. Jolie não sabia disso, mas estava oferecendo a ele
exatamente o que desejara.
Ela.
Ela era exatamente o que ele queria.
Mas o que ela queria? Ele sabia que ela precisava de sua proteção. Mas Jolie
queria o seu amor? Honestamente – Austin estava com medo de perguntar. Por agora,
daria a ela exatamente o que tinha pedido, e esperar que quisesse mais.
Ele demorou tanto para falar, que Jolie sentiu o coração acelerar.
— Eu sinto muito. Eu não deveria ter pedido. — Ela se levantou. — Eu
provavelmente deveria ir…
— Não. — Austin a fez parar, alcançando sua mão. — Eu não quero que você
vá. Eu quero que fique. Eu estive só e desesperado e você é um sopro de ar fresco no
meu mundo. Por favor, não vá.
Jolie exalou. Estava aliviada. Ela queria se virar de encontro ao corpo quente
dele. Queria achar seu santuário nos braços dele. Mas não era aquilo que ele estava
oferecendo. Então, Jolie tentou mostrar a ele sua gratidão da única forma que sabia.
Caiu de joelhos, e inclinou a cabeça.
— Obrigada, — disse, lágrimas caindo. Jolie não percebeu como estava tensa,
como estava preocupada como que o amanhã lhe traria. Mas ouvir a oferta dele, uma
oportunidade de sobreviver – ela estava absolutamente grata.
Ver Jolie de joelhos desfez Austin. Ele a levantou, querendo-a espremer em seus
braços.
— Você é muito bem-vinda. Eu é que deveria estar agradecendo, não você. —
Ele se impediu de abraçá-la, não querendo lhe dar a ideia de que esperava dela algo
que não estivesse pronta para dar.
— Não se arrependerá. Eu prometo — Jolie secou as lágrimas, dando a ele um
sorriso trêmulo.
Austin não tinha dúvida algum a.
Pelo resto do dia, Jolie tentou mostrar a ele que tinha feito à decisão correta. Ele
até tentou fazer com que ela descansasse um pouco, mas Jolie insistiu em continuar
trabalhando fervorosamente. Depois de pendurar os tapetes em uma árvore, ela os
bateu até que estivessem livres de poeira. Jolie lavou as roupas dele, tirou a poeira de
cada pequeno canto da cabana e varreu o chão. E quando o jantar ficou pronto, ela
serviu ele, não se sentando até que Austin insistisse que ela descansasse.
— Por favor, Jolie, sente comigo. Eu desejo sua companhia mais do que uma
casa limpa.
Jolie cedeu, sentando-se em uma cadeira e se servindo de comida.
Austin percebeu que ela mal podia manter os olhos abertos. Depois que
terminaram, ele a acompanhou até a cama.
— Sente. Descanse.
— Não. Eu preciso limpar.
— Eu faço isso. — Ele não aceitaria não como resposta. Quando foi para a
cozinha, ele se virou e ficou satisfeito em ver que ela estava deitada. Austin trabalhou
rápido, ansioso, só para estar perto dela novamente. Seu coração estava cheio de
emoções que ele nunca sentiu. Que diferença um dia poderia fazer na vida de uma
pessoa. Já tinha dificuldades em como seria imaginar sua vida sem ela.
Assim que terminou, ele cuidou do cachorro e do fogo. Austin sabia que ela
precisava ir até o lado de fora, antes que pudesse dormir. Pegando-a em seus braços,
ele a segurou com uma das mãos, abriu a porta e agarrou sua espingarda. Cuidando de
sua carga preciosa, ele saiu de casa com ela.
— Jolie.
Ela se aninhou dele, esfregando o rosto em seu peito.
— Hmmm?
Austin respirou fundo.
— Você quer usar o banheiro?
Ela levantou a cabeça, percebendo onde estavam.
— Ah, sim — Ela se sacudiu, e ele a colocou no chão. — Eu não acredito que me
trouxe no colo.
— Foi um prazer. — Austin sorriu, segurando a porta para ela. — Você estava
dormindo tão profundo. Eu não queria incomodar. — Ele esperou ela terminar. Assim
que Jolie se juntou a ele, Austin colocou a mão nas costas dela e caminharam.
— Tivemos um grande dia.
— Sim, tivemos. — Ela cruzou os braços em volta do peito, tentando manter a
respiração. Aquele homem era tão magnético, que estava com medo de hiperventilar.
Erguendo a cabeça, ela olhou para o céu noturno. O céu inteiro estava cheio de estrelas.
— Esse lugar é realmente lindo, Austin. Obrigada por permitir que eu fique por um
tempo.
— Você foi à resposta das minhas preces, Jolie.
Jolie sentiu seu coração se contrair de emoção. Como seria fácil se apaixonar por
esse homem. Ele poderia amá-la? Talvez. Um enjoo a atingiu no meio de seu estômago.
Se ele descobrisse a verdade, o que ele faria? Jolie fechou seus olhos pensando.
— Aqui estamos! — Ele abriu a porta, permitindo que ela entrasse.
— Hoje, eu dormirei no chão, — ela anunciou. — Eu me recuso a roubar a cama
de você novamente.
Austin deu um passo para trás.
— Absolutamente não. Eu me recuso a dormir na cama enquanto você dorme
no chão duro.
— Bem, acho que ambos dormiremos no chão então. — Ela estava determinada
a ser cabeça dura com aquela questão. Jolie não queria dar a ele razão algum à para
voltar atrás em sua decisão.
Austin colocou o cérebro para funcionar. Sabia que ela seria teimosa quanto
àquilo. Ele olhou para a cama, pensando em como fantasiara sobre a dividir com ela.
Talvez…
— Eu tinha esse amigo Amish no Tennesse e. Ele me contou sobre um costume
que tinham. É um costume que usam durante o namoro, mas acho que podemos usar
na nossa situação.
— O que quer dizer com isso? — Jolie estava confusa. — Costume de namoro?
— Ela não sabia muito sobre Amish.
Austin andou em direção à cama, tentando descobrir o que usaria para dividi-
la.
— É um costume estranho, mas eles permitem que um casal com partilhe a
cama. É uma maneira de se tornarem mais próximos, mas ainda assim manter algum
decoro. Uma divisa normalmente é colocada entre eles, para separar o lado de cada
um.
— Eles sempre ficam no lugar?
Austin precisou sorrir.
— Bem, eu não tenho certeza. — Com medo que ela entenderia sua resposta
como uma ameaça, adicionou rapidamente. — Mas eu prometo que ficarei no meu
lugar. — A menos que ela o convidasse para fazer o contrário.
Jolie ficou um pouco desapontada.
— Então, dormiremos na mesma cama?
— Sim — Austin andou em volta do quarto, pegando almofadas e travesseiros
que ele comprara de Frost Thorn. — Vamos colocar entre nós. Desse jeito, ambos
poderemos desfrutar de um colchão macio e preservar sua… — Ele perdeu as palavras.
— Eu entendo e obrigada. — Ela admirou seu instinto cavalheiresco, mas não
conseguia negar que queria mais. Jolie franziu a testa. O que estava errado? Ela sentia
essas coisas por que não era uma dama? — Isso será estranho, — ela admitiu.
— Eu concordo. — Austin arrumou a barreira entre os dois. — Mas teremos que
fazer funcionar até quando eu for à cidade e puder comprar outro colchão.
Enquanto ele arrumava a cama, Jolie se esconder em um canto escuro para se
limpar. Não tinha muita privacidade naquela pequena cabana. Quando se sentiu
pronta, juntou-se a ele.
— Se estiver pronta, eu apagarei a luz. Que lado você prefere, Jolie?
— O lado da parede, se você não se importar. — Ela colocou as mãos ao lado do
corpo. Querendo preservar seu vestido, ela o trocou pela camisa que ele tinha lhe
emprestado na noite anterior. — A menos que você o prefira.
— Eu não tenho um lado preferido — ele admitiu. — Normalmente eu me
esparramo pela cama inteira.
Sim, ele era um homem grande.
— Você provavelmente ficará apertado.
— Eu ficarei bem — Permitindo que ela engatinhasse até o lado da cama, ele foi
apagar a lâmpada.
Quando Austin voltou, encontrou-a na cama tão rígida quanto um tronco.
— Não fique com medo, Jolie. Eu nunca a machucaria.
— Eu sei — Ela se permitiu olhá-lo nos olhos. Ele não estava nítido a ela, mas
Jolie conseguia ver suas feições. — Eu não estou com medo. Isso é só… estranho.
— Vamos nos acostumar. — Ele estava disposto a fazer qualquer coisa para
mantê-la lá. Tirando a maioria de suas roupas, ele levantou as cobertas e se moveu
para baixo delas.
Jolie se deitou lá, sentindo a maciez do colchão, ouvindo a respiração dele –
sentindo o cheiro dele. Seu coração disparou contra o peito. Era a primeira vez que
dividia a cama com um homem. Sim, não era ortodoxo e não haveria contato. Ainda
assim, era memorável.
— Você salvou minha vida, Austin McCoy. Eu não sei como começar a lhe
agradecer.
Austin fechou os olhos e relaxou o corpo para se acalmar. Seu coração estava
batendo forte e sua masculinidade estava ficando mais rígida do que ele queria. Não
estava a tocando, mas estar ciente dela como uma mulher do que qualquer outra com
quem tinha se deitado no Tennesse e.
— Não precisa me agradecer. — Deus, ele conseguia pensar em muitas
maneiras… — Vamos cuidar um do outro.
— Sim. — Jolie suspirou e fechou os olhos. Seu futuro não parecia mais sem
esperanças. — Vamos cuidar um do outro.
Capítulo Quatro

Durante a semana, Austin e Jolie estabeleceram um ritmo para seus dias.


Ambos se mantinham ocupados. Austin estava preso a um dilema, ele valorizava o
tempo que passava com sua hóspede, mas os momentos que com partilhava com ela só
faziam se sentir mais desconfortável. Viver com ela sem aproveitar as delícias que seu
corpo tinha a oferecer era mais agonizante do que cair sobre um formigueiro. Para
manter sua libido sob controle, Austin trabalhava do amanhecer ao anoitecer, fazendo
tarefas que há muito vinha adiando, qualquer coisa para exaurir a energia que crescia e
que queria gastar entre as coxas dela. Cortava lenha, cuidava do fogo no fumeiro,
ariava solo e limpava as ervas daninhas. Fazia todas essas coisas com a esperança de
que quando caísse na cama, estaria tão cansado que conseguiria lutar contra a urgência
de tê-la em seus braços e fazê-la sua com todos os sentidos da palavra.
Jolie não estava muito diferente. Mantinha-se ocupada, fazendo qualquer coisa
possível para mostrar a Austin que ele não tinha errado ao mantê-la sob seus cuidados.
Ela colhia nozes, plantou uma colheita tardia de batatas doce e cebolas para estocar
para o inverno, lavava suas roupas e esfregava à cabana do chão ao teto. Havia vezes
em que conseguia sentir os olhos dele sobre si, mas não ousava presumir o que ele
pensava. Ela rezava para que ele não estivesse se arrependendo de sua decisão, seu
maior medo era que Austin acordaria em uma manhã e a mandaria embora.
Em seus momentos de fraqueza, Jolie não conseguia evitar esperar que Austin
estivesse começando a sentir algum afeto por ela, pois não havia como negar que ela
estava começando a amá-lo. Cada hora que passava com ele a convencia que era o
melhor homem entre todos. Havia horas em que considerava dizer-lhe a verdade,
revelando seu passado, tirando o peso do segredo que guardava. Não sabia se deveria
se envergonhar ou não, tudo no que sempre tinha acreditado fora arrancando pelas
pessoas que a chamavam de propriedade, animal, diferente de pessoas como Austin.
Enquanto fazia as tarefas diárias que tinha designado para si, Jolie debatia essas
coisas em sua mente. Como qualquer mulher, não conseguia evitar de sonhar sobre o
futuro. E à noite… à noite, ela deitava-se perto dele, imaginando como seria estar com
ele.
Enquanto ela pendurava as roupas no varal que Austin colocou entre duas
árvores, Jolie deixou sua mente imaginar o gosto dos lábios dele, como se sentiria
quando fosse reclamada por ele. A relação entre homem e mulher não era
desconhecida para ela, não só tinha visto animais acasalarem, como uma vez flagrara
um casal fazendo amor. A fome, os movimentos urgentes do homem que faziam com
que a mulher quisesse abraçá-lo, entrelaçar as pernas em volta de sua cintura – a
imagem jamais saíra completamente de sua memória.
Sim, ela queria que Austin a apresentasse ao amor. Queria ele mais do que
qualquer coisa.
Enquanto o sol se movia pelo céu, Jolie voltou à cozinha e Austin parou de
trabalhar para saborear a refeição que ela cozinhara. Ele jurara nunca ter com ido tão
bem. Os dotes culinários de Jolie ultrapassavam os da cozinheira de seu pai. E a visão
do outro lado da mesa de jantar era perfeita. Às vezes, quase errava sua boca enquanto
seus olhos miravam Jolie.
Uma vontade, uma coceira, uma urgência caminhava por seu peito.
— Inferno!
Jolie pulou.
— O que foi? Você achou uma espinha? — Jolie tinha fritado peixe. Austin o
tinha pescado no Palo Gaucho.
— Não. — Ele balançou a cabeça, sem saber como explicar. — Eu só estava
pensando.
Seu descontentamento obvio alarmou Jolie.
— Eu fiz algo errado?
Austin levantou e levou seu prato até a pia, onde eles lavavam as louças.
— Sim.
Jolie segurou sua respiração, querendo saber o que tinha o irritado. — Eu posso
arrumar, Austin. O que eu fiz?
Ele pousou as mãos no balcão, cada músculo de seu corpo tensionado.
— Não, não pode. — Ele virou para vê-la, seu olhar era estoico. — Não pode
evitar ser linda como é. Não pode fazer parar… — Austin parou de falar, deu a ela um
olhar de dor, e saiu da cabana, voltando para o trabalho.
Jolie continuou sentada onde ele a tinha deixado, encarando o ponto onde
Austin estava um momento antes. Cruzando os braços sobre o peito, contemplou a
situação. Uma coisa era óbvia, Austin sentia algo por ela. Mas era um cavalheiro. Um
pensamento lhe ocorreu, um que não tinha considerado. E se Austin lhe pedisse para
casar-se com ele? A ideia fez com que um calafrio percorresse sua pele. Sabia que era
contra a lei que eles se casassem.
Mas se ele não soubesse quem era ela…
A gravidade da situação a fez limpar a mesa e lavar os pratos.
Eles tinham que se casar para ficarem juntos?
Quem saberia?
Não era como se estivessem cercados por vizinhos.
Eles não mereciam simplesmente serem felizes? Não estariam fazendo mal a
ninguém.
Pelas próximas horas, Jolie discutiu consigo mesma sobre todas as
possibilidades. No momento em que a noite caiu e Austin entrou para jantar, ela não
estava nem perto de achar uma solução.
— Tem um temporal se aproximando, a tempestade chegará antes que
amanheça. — Austin proclamou enquanto atravessava a porta, tirando seu casado e o
pendurando no gancho atrás da porta. — Algo está cheirando bem.
— Frango e torta, receita da Grandmere. — Ela colocou uma tigela fumegante
de guisado sobre a mesa. — Eu também fiz uns biscoitos de melado.
Austin se sentou, seus olhos observando o banquete que ela fizera.
— Jolie, isso está incrível — ele a parabenizou antes de começar a se servir.
Jolie se serviu, grata por ele gostar da comida. Ela deu algum às mordidas,
então perguntou algo a ele que estava na sua mente. — Aqui tem neve?
Austin tomou um gole de água.
— Um pouco. Não tanto quanto tinha no Tennesse e. No inverno passado
tivemos três tempestades de neve, que cobria até meus joelhos, mas não durou muito
tempo.
Assentindo, Jolie sorriu.
— Eu mal posso esperar para ver.
Austin sorriu.
— Não neva muito na Louisiana, eu suponho.
— Não. — Ela moveu a comida no prato com a colher. — Eu vi umas abelhas
hoje. Tem uma árvore de mel por aqui?
— Sim. — Ele apontou para o jarro. — Provavelmente, precisamos pegar um
pouco. A árvore fica meia milha daqui, perto da lagoa.
Jolie o encarou.
— Tem uma lagoa. Podemos nadar?
A imagem de Jolie molhada, mexendo-se na água fez seu órgão masculino
acordar e prestar atenção. Claro, perto dela, não precisava de muito para acontecer.
Para conseguir sua atenção, tudo que ela precisa era respirar.
— Sim, quando esquentar, na primavera, eu levo você.
— O que eu vestiria? — Ela perguntou inocentemente e Austin encheu a boca
para ela não perceber que estava babando com a ideia dela nadar sem roupas.
— Vamos achar algo — ele respondeu assim que mastigou e engoliu. Naquele
momento, o barulho do trovão fez a cabana tremer e se iluminar como raio que brilhou
através do céu aberto.
Jolie pulou e fechou a janela antes que a chuva entrasse.
Austin correu para fechar a janela da outra parede.
Sandy se levantou e uivou.
Ao ver o olhar de questionamento de Jolie, Austin explicou
— Ele não gosta de tempestade; o trovão machuca os ouvidos dele. — Ambos
sorriram quando o cachorro se escondeu embaixo da mesa. — Acho que é melhor
fazermos nossa caminhada até o banheiro antes que piore.
Assim que terminaram, Austin se apoiou na cadeira e observou Jolie guardar a
louça e as sobras do jantar. Seus olhos passearam pelas curvas reveladas pelo vestido
enquanto ela ficava na ponta dos pés para alcançar a prateleira mais alta do armário
que ele construíra no último outono. Ela se movia com graça, balançando o cabelo
sobre os ombros enquanto se movimentava.
— Inferno! — Ele murmurou, ficando em pé e indo em direção à lareira. Por
mais grato que estivesse por sua companhia, Austin não sabia por mais quanto tempo
aguentaria o tormento de estar perto dela sem ter o privilégio de tocá-la. Colocou sua
mão sobre o console e encarou o fogo, muito ciente de cada movimento dela, atrás de
si. Virando a cabeça para relaxar os músculos do pescoço, o olhar de Austin pairou em
seu tabuleiro de xadrez. A visão o fez sorrir. Ele jogava sozinho, fazendo qualquer
coisa para preencher as horas solitárias.
— Jolie, você por acaso sabe jogar xadrez?
— Não, — ela respondeu, dobrando a roupa seca e a colocando sobre a mesa. —
Eu aprendo rápido. Pode ser meu professor.
Ele deixou o ar escapar. Havia muitas coisas que amaria ensinar a ela, e xadrez
não estava nem entre as dez primeiras. Mesmo assim…
— Eu adoraria. Venha aqui e eu arrumarei o tabuleiro.
Pelas próximas horas, Jolie nunca riu tanto em sua vida.
Austin a encarou com os olhos em fenda.
— Você mentiu para mim.
— Eu menti. — Ela moveu sua rainha para perto do rei dele. — Xeque mate.
— Quem ensinou você a jogar? — Ele estava hipnotizado pela beleza vibrante
dela. Mesmo no meio da tempestade, quando ela sorria, os pássaros cantavam.
— Meu pai. — Seu olhar ficou sério. — Ele era muito inteligente. O nome dele
era John Belmont.
Um pequeno pensamento passou pela mente dele. O nome parecia familiar. Ele
estava prestes a perguntar mais quando um raio caiu tão forte do lado de fora da
cabana que ela pulou sobre a cama. Austin riu.
— Está segura. Sandy e eu estamos aqui.
— Eu sei. Só que isso me deixa nervosa.
— Acho que é hora de ir para cama.
Enquanto ele arrumava as coisas, ela se apressou e se aprontou para dormir.
Voltando à cama, ela rastejou na cama até estar embaixo dos lençóis, cuidando para
manter a integridade do alinhamento dos travesseiros entre o seu lado e o lado da
cama dele. Quando terminou de se arrumar, Jolie percebeu que Austin não tinha
apagado a luz e estava se despindo. Descaradamente fascinada, observou os músculos
dele. Austin era inteiramente dourado – cabelo longo e dourado, pele suavemente
dourada, até seus olhos tinham pequenos pontos dourados. Jolie lambeu os lábios, uma
fome que nada tinha a ver com comida cresceu dentro dela.
Apagando a lâmpada até a chama desaparecer, ele se virou para se juntar à
Jolie. Com seus olhos desacostumados à escuridão repentina, ele mal conseguia
distinguir a forma dela do outro lado da cama. Austin suspirou. Estava cansado, mas
não o suficiente para ignorar o que sentia por ela.
— Boa noite, — ele disse quando se deitou, tirando a camisa que havia deitado
para preservar a modéstia dele. Tentara dormir com roupas, mas ficava com muito
calor durante a noite.
Jolie colocou os braços do lado do corpo, lutando para relaxar.
— Boa noite, Austin.
Ela fechou os olhos, tentando contar carneirinhos. O som da respiração dele
parecia lhe cercar. Tudo o que conseguia pensar era no homem deitado ao seu lado.
Jolie mordeu a língua, impedindo-se de chorar. Seus pensamentos estavam em um
torvelinho, até considerou fazer o feitiço com mel que Grandmere tinha lhe ensinado,
aquele para que um homem ficasse mais doce em relação a ela. Quando mais tentava,
mais impossível ficava livrar-se do desejo que sentia por ele. Jolie começou a tremer,
seu corpo inteiro doía com a necessidade de ser abraçada, beijada e amada.
— Qual é o problema? — Austin perguntou, ciente de que havia algo errado.
Sua respiração estava agitada, e o colchão continuava tremendo com as ondulações de
seu pequeno corpo.
Jolie deixou a respiração escapar.
— Machuca.
Imediatamente, Austin se sentou, encarando seu rosto.
— O que há de errado? Onde está machucada?
— Todo lugar. — Foi apenas um sussurro de seus lábios.
— Meu Deus, querida. — Austin começou a levantar. Ele acenderia a lâmpada e
veria se conseguiria ajudá-la.
— Não. — Ela agarrou seu braço. — Não vá.
— O que eu posso fazer? — Ele perguntou, alongando-se para conseguir vê-la.
— Abrace-me, por favor, Austin. Eu me sinto vazia. Meu corpo todo dói… por
você.
Austin levou um segundo para compreender, mas quando o fez, os travesseiros
que os separavam voaram longe.
— Jolie, o que está dizendo?
— Ah, sim, por favor. Eu não aguento mais ficar longe de você.
Quando o último travesseiro caiu no chão, Austin a trouxe para junto dele. O
toque de seu pequeno corpo aninhado contra o dele era o sentimento mais completo do
mundo.
— Deus, eu queria tanto isso, — ele confessou.
— Eu também. — Ela levantou o rosto para beijá-lo no pescoço, sua mão
pousando em seu peito nu. — Você tirou suas roupas.
— Sim. Quer que as coloque de volta?
— Não. — Ela colocou os lábios em sua pele, e os esfregou nos pelos macios de
seu peito. — Eu quero…
— Eu sei do que precisa, — ele sussurrou, tocando seu rosto como dedo,
deixando-o abaixo de seu queixo. — Eu esperei tanto tempo para beijar você. Às vezes
eu não consigo trabalhar pensando em como isso seria.
— Não espere mais, — ela disse suavemente. — Beije-me, Austin McCoy.
— Obrigado, — ele murmurou, recusando-se a se apressar. Pousou um beijo
suave em seu rosto, em seus cílios, no canto de seus lábios, parecendo saborear a
antecipação.
Jolie adorou o que ele fazia, mas se não sentisse logos os lábios dele nos seus,
morreria. Segurando seu rosto, ela o manteve parado e tocou seus lábios.
— Muito devagar, — ela murmurou contra seus lábios.
Com o coração cheio de felicidade, ele sentiu que poderia explodir. Ele sorriu,
aproveitando a sensação de seus lábios macios.
— Impaciente. — Ele esperou tanto por aquele momento, ele queria saborear
cada segundo. Dando a ela o que ambos desejavam, Austin pressionou os lábios contra
a boca dela com carinho.
A cabeça de Jolie estava girando. Por mais que ela quisesse que ele a devorasse,
o homem estava determinado a provocá-la sem misericórdia. Austin passou sua boca
pela dela, parecendo se deleitar com a textura dos lábios dela. Deu beijos gentis nos
cantos, então a provocou com sua língua. E quando o fez, ela abriu a boca o convidou.
Com um gemido, Austin aceitou o convite, afundando-se, bebendo, mexendo
sua língua com a dela. Seu corpo inteiro estava em êxtase, sua respiração estava forte e
ansiosa. Entre as pernas, sua masculinidade estava tão dura, que estava com medo de
envergonhar a si mesmo e gozar como um garoto.
Há quanto tempo precisava disso? Dela?
Uma vida inteira. Austin estava tão grato por aquele momento, ele agradeceu a
Deus pela resposta às suas orações.
Coberta de êxtase, Jolie não conseguia processar a maravilha daquele momento.
Era o seu primeiro beijo, mas muito mais que isso. Era aceitação, validação, era assim
que se sentia quando era amada. Ela o beijou de volta dando o melhor de si, esperando
que ele não se importasse com suas maneiras desajeitadas de seduzir.
Austin estava encantado, totalmente imerso no êxtase de seu beijo. Sim, ela era
inocente. Estava ciente. Não esperava nada menos. O privilégio de ensiná-la na arte do
sexo seria o paraíso. Trazendo-a para mais perto, ele continuou a beijá-la, sabendo que
poderia fazer aquilo por horas, aproveitando a alegria ao sentir o gosto dela, a luxuria
de seus lábios aveludados.
— Eu nunca terei o suficiente, — ele sussurrou e deixou sua boca se mover para
sua bochecha para que pudessem respirar.
— Eu quero mais, — ela sussurrou, movendo seu corpo em direção a ele.
— Oh, baby, — ele murmurou. — Meu doce. — Com reverencia, ele deixou sua
mão percorrer por sua lateral, memorizando cada curva perfeita de sua cintura, a curva
feminina de seu quadril. Chegando ao final da sua camisa que ela vestia, ele a ergueu
até que conseguisse colocar a mão para dentro. Austin sabia que ela não vestia nada
por baixo porque não tinha dado nada para ela vestir. Agora, apreciava sua a falta de
roupas, mas um dia pretendia enchê-la de todas as coisas femininas que Jolie desejasse.
Jolie começou a tremer. Ela escondeu o rosto em seu pescoço.
— O que está fazendo?
— Vou fazer você se sentir bem. Vou dar a você o que precisa.
Jolie pensou que desmaiaria. As pontas dos dedos dele em sua coxa causavam
arrepios de excitamento. Instintivamente, ela desdobrou uma perna, abrindo suas
coxas, esperando…
— Oh, Austin, — ela gemeu.
Quando levantou a cabeça e a deitou de volta no travesseiro, ele colocou a sua
ao lado da dela, pressionando a testa na dela.
— Oh, você é tão doce. — Suas palavras foram ditas contra os lábios dela. —
Tão macia. Tão molhada por mim.
Cada célula do corpo de Jolie vibrou como toque dele. Ele estava acariciando
seu local secreto, seus dedos gentis, esfregando de cima para baixo, fazendo-a apertar
seu braço, segurar na única âncora que precisava.
— Austin! — Ela gemeu e ele adorou o ar da respiração dela em sua pele,
movendo a ponta de seus dedos sobre seda cremosa. Seu objetivo era dar prazer a ela,
aos poucos, dar-lhe pistas das alegrias de gozar. Apesar de adorar cada momento,
aquilo não era sobre ele – era para ela.
— Sente-se bem? — Ele esfregou para cima e para baixo, provocando-a,
aproximando-se, mas não chegando a tocar a pequena pérola de sua feminilidade.
Austin sentia sua resposta, a maneira como ela se aninhava contra ele, a evidência de
sua excitação.
— Muito bem. — Ela suspirou contra ele, seus lábios tocando os dele. Ele
precisou sorrir quando ela enganchou um pé atrás de seus joelhos, puxando sua mão.
— Mais forte.
Dando a ela o que pediu, ele massageou sua maciez, seu alcance ficando mais
fundo, mais perto…
— Oh, Austin! — Jolie gemeu quando ele finalmente tocou sua parte inchada, o
centro de sua sensibilidade. Ela jogou a cabeça para trás e ele deu suaves beijos em seu
pescoço quando seus quadris dançavam a velha dança do desejo.
— Aproveite, pegue o que precisa, meu amor. — Ele disse enquanto ela
aproveitava seu carinho com luxuria, seus dedos se movimentavam enquanto dava
prazer à mulher que roubara seu coração em tão pouco tempo. Quando ela tencionou,
manteve o dedão no local que Jolie gostava, enquanto introduzia um dedo dentro dela.
Quando o fez, ela congelou, respirou fundo e então se aninhou contra ele, sua
feminilidade tremendo ao redor de seu dedo.
Austin fechou os olhos, impressionado com a resposta dela. Seu coração batia
tão forte contra o dele, sua respiração vinha em pequenos pedaços. Ele a beijou na
cabeça, sorrindo por causa da transpiração que havia lá, evidência do quanto ela estava
se movimentando.
— Minha doce Jolie — ele sussurrou.
Jolie foi em direção a ele, tentando ficar o mais próximo possível.
— Como sabia? Como sabia do que eu precisava?
Austin balançou a cabeça.
— Mulheres são a maior criação de Deus, e você é uma joia da coroa, linda.
Você é maravilhosa. Eu mal posso esperar com partilhar essas coisas com você. — Ele
não diria a ela como aprendera as maneiras de dar prazer a uma mulher com a dona de
um bordel que tinha muito prazer em ensiná-lo coisas com as quais só sonhara. Agora,
usaria os ensinamentos dela para criar um laço entre ele e a mulher de seus sonhos.
Ele a abraçou até que ela se acalmasse, então beijou sua testa e pediu licença,
caminhando até o lado de fora. Inclinando-se do lado da cabana, Austin segurou seu
órgão na mão e trabalhou nele, aliviando-se da maravilha de tocá-la, de fazê-la tremer
em seus braços. Ele movimentou seu punho para cima e para baixo, imaginando o
rosto dela, lembrando da textura da pele dela – o milagre de parar o coração quando
ela se rendeu. Enquanto repassava o encontro na cabeça, seu corpo inteiro
convulsionou, e gotas brancas de sua semente entraram em erupção e caíram no chão.
Ele ficou lá um pouco mais, recuperando o fôlego, antes de limpar as mãos nas
folhas, depois entrou na casa para encontrar Jolie esperando por ele na cama. Jolie
reacendera a lâmpada e Austin conseguia ver seu rosto – incerto e corado.
— Onde foi?
Austin não sabia o que dizer. Vendo seu olhar baixo, ele sabia que não podia
deixá-la pensar que havia algo errado, então falou a verdade.
— Eu fui me aliviar. Meu excitamento em tocar você foi de mais.
Jolie entendeu. Ela tinha visto um dos escravos se tocar.
— Por que não fez isso comigo?
Seu apelo inocente fez seus joelhos fraquejarem. Ela era tão linda. Indo até ela,
ele ajoelhou em frente à casa.
— Eu quero fazer do jeito certo, Jolie Belmont. Quero levar as coisas com calma.
Cortejar você. Quero dar a você tudo que um homem pode dar a uma mulher.
Jolie o alcançou.
— Mas eu só quero você.
Austin sorriu.
— Ah, você me terá, doce garota. Mas quero tratá-la com todo o amor e respeito
que você merece. — Ele pegou os travesseiros e os colocou na cadeira. — Não
precisaremos mais disso. Eu pretendo passar o resto das minhas noites com você nos
meus braços.
***
Jolie cantarolou enquanto trabalhava, um sorriso brincando em seus lábios. A
noite passada foi o ponto mais alto de sua vida. Ela corou, lembrando como tinha se
sentindo quando ele a tocara. Ele sabia exatamente do que precisava, o que fazer para
Jolie se sentir completa e satisfeita. Ah, e tinha mais, Jolie tinha certeza disso. Mas
agora, ela se deixaria aos cuidados de Austin, deixaria seu julgamento reinar.
Confiava nele.
Naquele momento de epifania, Jolie soube que precisava encontrar uma
maneira de contar a ele quem era de verdade, contar toda a verdade.
Com muito cuidado, ela foi em direção a casa, tocando cada coisa com cuidado.
Agora essa era a casa dela também. Noite passada, o discurso dele trouxera muitas
perguntas a sua mente, nenhuma das quais ela tinha respostas. Não importava, aquele
dia tinha amanhecido com a promessa de que ela seria feliz.
— Jolie! — A voz de Austin soou do lado de fora da porta. — Temos
companhia!
Companhia?
Colocou uma das mãos sobre o coração, sem ter ideia do que esperar. Ela não
tinha mais que imaginar. Austin abriu a porta, e sua entrada foi precedida por um
homem de barba vermelha e uma loira alta. O homem a encarou abertamente, fazendo
Jolie olhar para baixo. Austin moveu-se para colocar os braços em torno dos ombros
dela. Ele lhe de um aperto.
— Jolie, esse é Armand Pierce e a esposa dele, Celeste. Eles são nossos vizinhos.
— Olá. — Jolie estava ciente do vestido perfeito da mulher – seu chapéu, seu
avental, seus sapatos. E lá estava ela com seu cabelo bagunçado, pés descalços, vestida
como índia pele-vermelha. — Prazer em conhecê-los.
Armand se aproximou e deu um tapa no braço de Austin.
— Eu não sabia que tinha se amarrado.
Jolie corou novamente.
— Vamos nos casar assim que conseguir levá-la a um padre.
Aquilo era novidade para Jolie.
Uma notícia maravilhosa e inacreditável.
Celeste fez uma careta, como se tivesse provado e não gostado.
— Não são casados?
Austin se eriçou.
— Jolie é pura. É uma dama.
A mulher torceu o nariz, mas seu marido olhou para Jolie com admiração e
cobiça.
— Não tenho certeza quando teremos um padre disponível. Eu sei que Jose
Antonio Spulveda, o rancheiro mexicano rico, fez uma petição para o Padre Jose
Antonio Diaz de Leon ser o nosso padre. Ofereceram a ele três igrejas, aquela em
Liberty, a de San Augustine e a de Nacogdoches.
— Você acha que ele aceitará? — Austin perguntou, tentando se planejar.
— Não faço a menor ideia, — Pierce tirou seu casaco pesado.
Lembrando-se das boas maneiras, Jolie deu um passo para o lado.
— Por favor, sente-se e permita que eu lhe faça um pouco de café. — Sabia que
tinham o suficiente para mais algum as xícaras. — Também tenho uns biscoitos.
Austin puxou as cadeiras e Jolie os serviu. Celeste balançou a cabeça em
agradecimento, mas os homens dominaram a conversa.
— Estávamos passando por aqui, viajando para ver nossa filha. Ela se casou
com um homem que tem uma fazendo em Sabine. — Armand bebeu um gole do café e
deu uma mordida no biscoito, deixando migalhas caírem em sua barba. — Passamos a
noite em uma casa no caminho.
Celeste olhou para os biscoitos que Jolie colocara no prato em frente a ela.
— Que legal. Austin me falou sobre a casa. Ele me prometeu me levar para ver
El Camino Real — ela sabia que estava apenas jogando conversa fora. Quando Celeste
não fez comentário algum, ela pendeu a cabeça. Austin colocou a mão nas costas dela e
Jolie respirou com um pouco mais de facilidade.
— Você ouviu falar da confusão? — Armand perguntou com a boca cheia.
— Que confusão? — Austin pareceu preocupado.
Austin balançou a mão, limpando a boca com as costas dela.
— Agitação. Haden Edwards está agitando as coisas. Ele está furioso porque as
terras que o México cedeu a ele como empresário já estão habitadas. Ele está colocando
cartazes para obrigar as pessoas a virem até ele e mostrar seus comprovantes de que
realmente são donos das suas terras. Se não conseguirem provar, ele está amealhando
revender as terras e expulsar os moradores. Claro que a maioria deles são mexicanos e
ele quer trazer mais ingleses. Se me perguntar, ele quer cortar relações como México e
ficar rico no processo.
Jolie observou o rosto de Austin de perto.
— Bem, é melhor eu viajar a San Augustine e falar como Alcalde lá. Eu comprei
essa terra dele.
— Nathan Davis? — Armand assentiu. — Se eu fosse você, viajaria até
Nacogdoches, veria o que está acontecendo. É isso o que farei. Alguns dos colonos
originais estão naquelas terras por setenta ou mais anos. Muitos deles não têm
documentos. Luis Procela, o Alcalde anterior, e Sepúlveda, que agia como clérigo lá,
tentaram validar o antigo acordo de terras Espanhol e Mexicano. Quando Edwards
descobriu, ele acusou os dois de forjar débitos. Está uma bagunça. Espero que não
acabe perdendo sua terra.
— Não vou. — Austin disse enfático. — Não tenho medo de uma briga.
Jolie tremeu. Não queria que nada acontecesse com Austin.
— Falando em luta, você ouviu sobre o ataque de urso?
Ao ouvir isso, Jolie ficou rígida, arregalando os olhos.
— Não. — Austin se levantou para servir mais café. — A única companhia que
tivemos foi o Chefe Richard Fields. Ele parou para fazer algum às trocas. Ele não disse
nada sobre um urso.
— Bem, é melhor ficar de olho. O urso adquiriu um gosto por carne humana. —
Armand sorriu para a esposa que fez uma careta. — Eu ouvi dizer que ele com eu um
comerciante de escravos a algum as milhas daqui. Acharam os restos dele e de uma
mulher, mas as outras duas escaparam ou o urso as com eu também.
Jolie não ousou respirar. Ela não olhou para a esquerda e nem para a direita.
Será que eles perceberiam a culpa se olhassem para o rosto dela?
— Isso é novidade para mim. — Austin continuou bebendo seu café. — Vi
alguns ursos por essas partes, mas nunca fizeram nada agressivo.
— Bem, isso é algo e tanto. — Armand disse, dando outra mordida no biscoito.
— Ow! — Ele segurou o queixo.
Celeste balançou a cabeça.
— Meu marido tem um dente estragado e não me deixa arrancá-lo.
— Não dói o tempo inteiro. — Armand franziu o cenho. — E eu o uso, sabe?
— Jolie preparou uma casca de salgueiro para as minhas dores de cabeça. —
Austin virou-se para ela. — Tem algo que possa ajudar o Sr. Pierce?
Hesitando, Jolie considerou o que responder.
— Vai sentir alívio se misturar partes iguais de sal com pimenta preta,
adicionando alho esmagado. Espalhe a mistura em seu dente e na gengiva. Em dez
minutos, deve se sentir melhor. — Ela também poderia ter dito a ele que segurasse um
osso sobre o dente ou respirasse a fumaça feita de um sapato velho queimando, mas
por algum a razão não achou que seria sábio.
Ela estava certa.
Celeste a encarou com suspeita.
— Parece bruxaria para mim, eu preferia que Armando fosse a um dentista.
— Bem, o dentista mais perto está em New Orleans, — Armand murmurou. —
E eu não viajarei até lá por causa de um dente. — Ele sorriu para Jolie. — Vou ficar
feliz em tentar o seu remédio.
— Precisamos ir, marido, — Celeste sussurrou, alto o bastante para que Austin
e Jolie escutassem.
— Sim, suponho que sim. — Ele passou a mão no queixo. — Talvez possa pegar
esses ingredientes que você mencionou em Louisiana, na casa da minha filha.
— Espero que sim. — Jolie se levantou, junto a Austin, movendo-se até a porta
para ver os visitantes partirem.
Enquanto se despediam, Jolie tentou processar tudo o que tinha acontecido.
Primeiro, Austin tinha feito alusão ao fato de que iriam se casar. Ele falava
sério? Ou disse aquilo apenas para evitar fofoca? Ela não sabia e estava com muito
medo de perguntar.
Segundo, Armand Pierce ao falar sobre as notícias do ataque do urso que matou
e com eu o comerciante de escravos fez seu coração bater de terror. Austin ligaria o dia
de sua chegada ao incidente?
E terceiro, ela não sabia como Austin se sentiria ao com pará-la com Celeste
Pierce? A mulher certamente era uma dama. Jolie sentiu-se um lixo perto da mulher.
Assim que Austin fechou a porta, ela procurou o rosto dele, tentando ler seu
humor.
Não precisou esperar muito.
Puxando-a para sim, apertou-a.
— Estou feliz que foram embora. — Ele inclinou a cabeça para tocar seus lábios
aos dela. Austin a beijou. — Você é muito mais bonita e doce do que Celeste. Eu
imagino que beijá-la seja como beijar um picles.
Seu comentário fez Jolie rir. Pelo menos, Austin não estava estranho.
— Ela pareceu um pouco rígida.
— Sim, aposto que ela tem uma espiga de milho enfiada…
— Shhh — Jolie o calou ficando na ponta dos pés e o beijando novamente.
Austin acariciou sua nuca.
— Você se importou por eu ter dito que estamos planejando nos casar? Eu sabia
que precisava dizer algo para proteger sua reputação.
Sua explicação fez seu coração murchar.
— Não, não me importei. — Sua explicação não dizia na verdade se ele falava
sério, mas deixou claro que ele tinha muita afeição, suficiente para protegê-la. Ela
esperou, segurando a respiração, para ver o que Austin diria em seguira.
— Eu falei sério, Jolie. Nada me faria mais feliz do que você ser minha esposa.
Jolie afundou-se nele. Não havia declaração de amor, mas o amor chegaria.
Tinha certeza.
— Eu quero fazer você feliz.
Ela não queria pensar nas razões pelas quais não poderia ou deveria casar-se
com ele, só queria pensar em como seria maravilhoso pertencer a ele.
Dando a ele um sorriso, Austin tracejou a linha de sua bochecha.
— Você não tem ideia do quão feliz me fez. Você vir até mim me deu uma razão
para levantar toda a manhã. — Ele se inclinou para cheirar o pescoço dela. — Você me
deu uma razão para viver. — Beijando a pele macia que achou na base do pescoço dele,
Austin murmurou, — Mal posso esperar para voltar para a cama com você hoje à noite.
Jolie estremeceu com suas palavras.
— Eu também , — ela admitiu. Seu coração se encheu de alegria. Apesar da
visita inesperada de Pierce e as más notícias que ele tinha, Jolie estava nos braços do
homem que a fazia sentir como se pertencesse ao mundo dele.
— Acho que é melhor eu voltar para o trabalho. — Austin a segurou um pouco
mais, quase como se não suportasse perdê-la.
— O almoço atrasará um pouco, — ela disse contra o tecido de seu casaco.
— Não importa. Só me chame quando estiver pronto. — Com um último beijo
na bochecha, ele deu a ela uma piscadela e retornou às suas tarefas.
Duas horas depois, Jolie parou em frente da casa e gritou pelo seu nome.
— Austin! Venha comer! A comida está pronta. — Depois de anunciar, ela
voltou para a cabana e serviu um prato de comida para ele, uma grande tigela de porco
e batatas doces. Ela inalou o cheiro da comida, e estava delicioso.
Um movimento na porta a fez se virar.
— E para você.
Jolie suspirou com a visão. O grande e poderoso Austin McCoy estava em
frente à porta com uma das mãos cheia de flores. Lindas e amarelas, algum as com
pintas pretas e outras rosas brancas. Todas com uma única linha de pétalas e centro
branco.
— Oh, Austin, obrigada! — Ela aceitou o buquê e os segurou-os perto para
conseguir cheirá-los.
— Essas rosas crescem perto da ribeira, pensei que gostaria delas. As mulheres
Cherokee as usam nos cabelos.
— Elas são adoráveis. — Ela se aproximou e colocou uma das mãos em sua
bochecha, amando a maneira como sentia a barba dele na palma da mão.
— Não tão adoráveis quanto você.
Jolie colocou-as em um copo e preencheu com água, colocando o buquê no
meio da mesa deles.
— Agora você está me mimando.
— Eu planejo fazer a minha missão nessa vida mimar você, — ele disse
enquanto se sentava, vendo a comida que ela tinha preparado.
Jolie se sentou em frente a ele, colocando comida em sua tigela enquanto ele
começava a comer o que tinha preparado.
— Você está preocupado com sua propriedade das terras aqui?
Austin deu uma grande mordida, sentindo o sabor.
— Isso está bom. — Ele demorou um tempo para aproveitar a comida. Vendo a
preocupação dela, ele ergueu a mão. — Não, não estou preocupado. Eu comprei essa
terra de boa-fé por oito águias de ouro. Eu tenho a escritura.
— Bom. — Ela se confortou com a confiança dele.
Capítulo Cinco

Conforme anoitecia, ambos queriam que as horas passassem, ansiosos para que
a noite chegasse para que pudessem ir juntos para a cama.
Jolie estava tão excitada que mal podia aguentar. Depois do jantar e da
caminhada noturna, ela tentou sentar-se em frente ao fogo com ele e costurar alguns
botões em sua camisa. Acabou derrubando as coisas e se espetando com a agulha
várias vezes.
Austin tentou se manter ocupado, escrevendo em seu diário. Desde que viera
para o Texas, mantinha um diário com um relato de todas suas atividades para que
avaliasse o que funcionava, sobre colheita, e o que não estava. Também listara projetos
futuros e observações sobre o local e as pessoas. Era mais um diário do que qualquer
outra coisa, algo para ajudá-lo a passar o tempo. Listou os rendimentos da colheita de
cana de açúcar, e olhou algum as anotações anteriores. O que viu chamou sua atenção.
Seu tema mais recorrente era sua solidão. Seu isolamento. Seu desespero, sua loucura
de noite após noite de solidão abjeta. Escreveu até mesmo sobre o relógio, como
escutava o som de sua solidão sem fim – tick-tock, tick-tock – marcando as horas e
minutos de sua vida – só.
Mas não estava mais sozinho.
Olhando para cima, espiou Jolie e foi atingido pela benção era ela, enviada a ele
por Deus. Quando estava em seu pior, ela entrou em sua vida como um presente do
paraíso.
Um sorriso surgiu em seu rosto.
Não dormiria aquela noite.
— Droga! — Ela xingou.
— O que foi?
— Eu me espetei de novo. — Ela dobrou a camisa em seu colo. — Não consigo
me concentrar.
— Por que não?
Ela franziu os lábios, sem saber o que dizer. Mas… honestidade entre duas
pessoas era importante. Só porque não poderia ser honesta em relação a algum as
coisas, não significa que não poderia ser em relação a outras.
— Eu quero ir para cama.
O coração de Austin acelerou.
— Mesmo? Está cansada?
Ela sentiu suas bochechas corarem.
— Não — ela sussurrou.
Austin se levantou, apagando a lâmpada.
— Eu preciso me esticar. Por que você não vai indo para a cama?
A velocidade com a qual se prepararam para a cama deve ter quebrado um
novo recorde.
Dessa vez, não teve hesitação, não teve perda de tempo nem travesseiros.
Austin usava shorts longos, mas estava sem camisa. Jolie usava a camisa que ele lhe
emprestara mais uma vez, e nada além disso. Assim que foram à cama, juntaram-se
como duas metades do mesmo todo.
Assim que seus lábios se tocaram, ambos deixaram escapar um suspiro de
alívio. Eles se beijaram e beijaram. Beijos longos e profundos. Beijaram-se com todo o
coração. Deitaram-se olhando um para o outro, pressionando um ao outro o máximo
possível. Uma das coxas estava de Austin estava entre as pernas de Jolie. Suas mãos
nunca ficavam paradas. Ela se pressionou contra a perna dele, e suas mãos passeavam
livremente sob a camisa dela, acariciando suas cotas, aprendendo sua forma –
adorando cada centímetro dela que tocava.
— Eu não me canso de você, Jolie Belmont — ele sussurrou entre os beijos. —
Você é mais doce que mel, mais linda que o alvorecer, mais preciosa que ouro para
mim, — Austin disse as palavras como uma oração.
— Ensine-me mais — ela implorou.
Querendo dar prazer a ela e, consequentemente, sentir prazer, Austin a
empurrou de costas contra a cama, e subiu em cima dela. Com um toque aventureiro,
começou a aprender a forma de seus seios, modelando-os e apertando-os pelo tecido
da camiseta que ela usava. Não tinha jeito nenhum de manter suas mãos longe dela.
Estava obcecado. Entusiasmado. Arrebatado.
Jolie se contorcia com os cuidados dele, seu interior pegando fogo,
desesperadamente ansiando por Austin apagar as chamas. Nunca conheceu tal prazer.
As mãos dele em sua carne fizeram com que seu corpo cantasse. E quando ele baixou
os lábios e começou a sugar seu seio, ela achou que desmaiaria.
— Austin — murmurou. Apesar do algodão, conseguia sentir os lábios e a
língua dele – empurrando, sugando, lambendo. A umidade se sua boca encharcou sua
pele e ela sentiu um arrepio enorme entre as pernas – um desenho, um anseio, uma
garra de desespero para que ele a tocasse lá.
Ele se posicionou sobre ela, colocando seu joelho mais uma vez entre as pernas
dela, seus lábios ainda se banqueteando com sua carne. Jolie estava louca com as
sensações que inundavam seus sentidos. Em um êxtase desatento, ela apertou seu
braço, passando seus dedos por sobre o ombro dele, abandonando a marca de sua
possessão. Arqueando as costas, ela pressionou contra a coxa dele, esfregando a maciez
de sua feminilidade contra o músculo forte dele – de novo e de novo.
Austin estava perdido em Jolie. Banqueteando-se com seus seios, mesmo com a
barreira de roupa a cobrindo, era um contentamento hedonista puro. Nunca se cansaria
daquilo, nunca teria o suficiente. E a maneira como ela montava a perna dele, seu
líquido feminino encharcando sua coxa – ele achou que morreria do êxtase completo
quando deitar-se com aquela mulher. Se apenas brincar daquela maneira era tão
prazeroso, quão prazeroso seria quando se juntassem de fato?
Para cima e para baixo, de novo e de novo, Jolie movimentava seu corpo contra
a perna de Austin. Uma tensão crescente, um calor maravilhoso se instalou em seu
lugar privado. As pontas de seus seios latejaram, engolidas pela boca dele,
despontando tão duras que pareciam procurar os lábios dele.
— Austin, oh, Austin — ela lamentou quando ele a mordiscou com os dentes. A
maneira como ele pressionava sua perna para cima e flexionada o músculo estava a
deixando louca de prazer.
Austin sabia que não aguentaria daquela vez, e não queria. Não havia vergonha
algum a naquilo. Preservaria a inocência dela até que encontrasse alguém que pudesse
casá-los, mas relegar sua paixão à própria mão era desnecessário quando podia
encontrar prazer.
Aqui. Com ela.
Quando sentiu ela se afastar de seus braços, os movimentos espasmódicos do
corpo dela contra o dele, o choro do nome dele nos lábios dela – perdeu o controle. Seu
próprio gozo esguichou de seu corpo, sua própria rendição ao milagre de sua união.
— Jolie, meu Deus, você é meu anjo — ele suspirou contra a carne dela.
Ninguém conseguiu ficar parado. Mesmo quando seus corpos tremiam de
prazer, suas mãos e lábios moviam-se, ainda dando um ao outro a expressão de sua
completa devoção.
— Austin, eu te amo — não conseguia se impedir de admitir a grande verdade
que conhecia.
Austin pensou que seu coração pararia em seu peito.
— Eu também amo você, querida. Completamente. Totalmente. — Ele a beijou
mais uma vez. — Sempre. — Levantando-se da cama, ele foi até bacia com água.
— O que está fazendo?
— Limpando. — Ela não entendeu até ele voltar para a cama com um pano e
gentilmente limpar as pernas dela.
Primeiro, Jolie se sentiu envergonhada, mas ao seu toque insistente, ela abriu as
pernas e o deixou cuidar dela. Emoção cresceu nela como uma onda crescente. Esse
homem era diferente de todos que conhecera.
— Obrigada. — Ela não conseguia vê-lo muito bem, somente o contorno de sua
forma.
— O prazer é meu. — Austin terminou, então, limpou a si mesmo. — Eu
sempre cuido do que é meu.
***
— Por que não viaja comigo quando eu for? — Austin perguntou enquanto
tomavam o café da manhã.
Jolie quase derrubou o prato que estava secando. Oh, ela queria ir. Mas e se
alguém estivesse procurando com ela?
— Eu prefiro ficar aqui e esperar por você, caso não se importe. Dessa forma,
posso continuar alimentando os animais, colhendo os ovos… — Sua voz parou.
Austin raspou seu prato, pegando o resto dos ovos mexidos que ela preparara
com perfeição.
— É uma viagem longa e cansativa. — Ele pareceu contemplar algo. — Se ficar,
quero que fique preparada.
— Como assim?
— Você sabe usar uma arma?
— Não, e você precisa levar a arma com você.
— Eu tenho duas. Eu tenho uma pistola que você precisa aprender como usar.
Conforme o dia passava, Austin começou a preparar Jolie para o tempo em que
ficaria fora.
— Eu ficarei fora por cinco dias. Dois dias de viagem de ida, dois de volta e um
para cuidar dos negócios. Enquanto estiver lá, comprarei algum às coisas, então faça
uma lista com qualquer coisa que queira ou precise. — Ele também tinha a intenção de
falar com alguém para que os casasse. As maneiras nessa nova terra em que vivia eram
diferentes na terra que abandonará. Aqui, nenhum casamento era reconhecido a não
ser que feito por um padre. Porque havia tão poucos e estavam muito longe, México
tinha dado a permissão para o Alcalde registrar contratos de casamento até que um
padre fosse nomeado ou o casal pudesse ir a outro lugar. Austin não sabia dos
detalhes, mas tinha toda a intenção de descobri-los quando chegasse a Nacogdoches.
— Tudo bem. Eu ajudarei você com a lista. Enquanto você estiver fora, pegarei
ervas e raízes para temperos e remédios. Tenho certeza de que há muitas na floresta
aos arredores que eu posso usar.
Sua ideia não se casava com a de Austin.
— Eu não quero você andando muito longe da casa. Na verdade, eu preferia
que você não saísse para lugar nenhum. Vou encontrar algo para você usar como
penico e aí pode ficar aqui dentro.
Jolie riu.
— Não quero ficar presa, Austin. — Desde que estivera acorrentada, o
pensamento de qualquer tipo de restrição a fazia tremer. — Eu serei cuidadosa.
— É melhor. — Ele a puxou para perto para lhe dar um beijo. — Eu não
aguentaria se algum a coisa acontecesse com você.
Mais tarde naquele dia, Austin a ensinou como carregar o cartucho da pistola e
mostrou a ela como atirar.
— Meu Deus, Austin, como alguém consegue usar uma coisa dessas em tão
pouco tempo? — Ela lutava para seguir as instruções.
— Você consegue. — Ele disse pacientemente. — Vamos tentar de novo.
Depois de mais duas horas, ela finalmente conseguiu atirar com a arma para a
satisfação dele. Jolie não sabia se conseguiria atingir o lado largo do celeiro, mas sabia
como tentar se fosse ameaçada.
Conforme o dia passava, ele juntou suprimentos para ela ter na casa.
— Dessa forma, você não precisar ficar andando muito por aí.
Jolie jogou seus braços no pescoço dele.
— Pare de se preocupar. Eu posso me cuidar sozinha. Prometo que estarei aqui
quando você voltar.
Austin a apertou em seus braços e trouxe para perto de si. Ele vivera lá por
algum tempo e nunca tinha encarado uma ameaça viável.
— Mas você é tão pequena. — Ele a beijou gentilmente. — E é tão preciosa para
mim.
— Mostre. — Ela começou a desabotoar sua camisa. — Mostre o que eu
significo para você. — Jolie sentiu-se gananciosa. Todo o dia, tinha o seguido com seus
olhos, lembrando o aquele homem podia fazer com seu corpo – e querendo mais.
— Você me tenta mais do que posso aguentar, — ele murmurou, suas mãos
espelhando as dela, puxando para cima vestido para conseguir puxá-lo pela sua
cabeça. Jolie suspirou com a intenção dele, mas não resistiu. Parou sua tarefa de tirar as
roupas dele e ergueu os braços para cima da cabeça.
A mente de Austin discutia com seu corpo. Não era seu plano. Mas ele tinha a
intenção de casar-se com essa mulher o mais rápido possível, fazer dela sua agora não
mudaria nada. E não, não pensava direito. Conforme sua masculinidade crescia com
impaciência, sua mente trabalhava com menos clareza.
Levantando a roupa dela do corpo, ele a jogou no final da cama.
— Eu sou mais rico do que os meus sonhos mais selvagens. — Austin olhou a
mulher diante de si e ficou de joelhos. Com admiração em seus olhos e coração, ele
moveu suas mãos trêmulas pelo corpo feminino mais lindo que sua mente conseguia
imaginar. — Você é perfeita. — Ele não conseguia mensurar o privilégio que tinha, o
esplendor de tocar, beijar e adorá-la quando quisesse.
— Não, não sou. — Jolie envolveu sua cabeça quando ele a descansou contra
seu abdômen, seus lábios pressionando-lhe a pele. Ela era falha, mais falha do que
poderia admitir. — Eu sou simplesmente Jolie.
Austin se levantou, erguendo-a em seus braços.
— Você é minha Jolie e isso é tudo o que importa. — Ele a deitou na cama. —
Eu deixarei a luz acesa. Quero ver tudo. — Ele tirou suas roupas, nunca tinha sentido
tanto desejo de livrar-se delas. — Eu não quero perder nada.
Jolie colocou os braços para cima. Não tinha vergonha de sua nudez, nem do
fato de não ser casada com aquele homem. Ela pertencia a ele. Isso era certo. Nem
votos, nem um pedaço de papel, nem uma oração saindo dos lábios de um homem
poderiam tornar aquilo mais sagrado.
— Faça-me sua, Austin McCoy.
Austin não queria nada mais.
Indo até ela, puxou-a contra si, moldando seu corpo ao dela. Parecia que não
conseguia encher seus pulmões com ar o suficiente. Todo lugar que tocavam queimava
como fogo mais doce. Segurando a cabeça dela, ele juntou seus lábios, com endo sua
boca, enrolando suas línguas, querendo fundi-la nele para que nunca se separassem.
Depois de alguns minutos de beijos, ele foi um pouco para trás e suspirou.
— Eu não sei o que fazer primeiro. — Sua mão veio em encontro ao seu seio. —
Deixe-me ver.
Jolie o observou com indulgencia enquanto ele examinava seus seios. Ele os
acariciou, moveu o dedão sobre seus mamilos, seus olhos estavam intensos, seu toque
era gentil. Sua pele era de uma cor dourada clara, mas seus mamilos eram negros.
— Eu agrado você? — Ela sabia que não era tão grande quanto certas mulheres.
Austin se inclinou para plantar um beijo no vale entre seus seios, então moveu a
boca até a inclinação do seio, passando os lábios delicadamente sobre eles.
— Você me agrada muito. — Seu eixo estava prestes a explodir. Esta noite, ele
encontraria um lugar entre as pernas dela, mas adiaria aquele prazer o quanto
conseguisse.
Jolie arranhou suas cotas, impressionada por sentir os tremores do corpo
daquele grande homem.
— Beije-me, Austin. — Ela sabia que queria algo, mas não sabia o quê.
— Com prazer. — Ao invés de erguer para clamar sua boca, ele abriu a boca e
abocanhou a ponta de seu seio.
A ação surpreendeu Jolie, mas um momento ou dois depois, ela entendeu
completamente.
— Ah, meu, — ela sussurrou, fechando os olhos em êxtase.
Aquilo, aquilo era maravilhoso.
Conforme seus lábios continuavam a fazer coisas maravilhosas, ela segurou a
cabeça dele, passando os dedos pelo seu cabelo. Jolie conseguia sentir cada puxão de
seus lábios no lugar entre suas coxas. Conforme ele chupava, seu quadril começou a se
mover – ritmicamente – procurando.
Austin estava hipnotizado, estava tão concentrado em amar Jolie que o céu
poderia ter caído e ele não saberia. Estar com uma mulher era uma das maravilhas da
criação, mas com aquela era a epítome de qualquer coisa que ele pudesse desejar ou
querer. Conforme se concentrava em chupar um seio, ele massageava o outro.
Movendo-se de um para o outro, como se pensasse que um pudesse se sentir
negligenciado.
— Santos sejam louvados, — ele sussurrou. Ele não tinha a intenção de
negligenciar nenhum ponto daquele corpo.
Jolie moveu-se incansavelmente debaixo dele, seu corpo demandava algo que
não conseguia definir.
— Austin, — ela implorou para que ele a socorresse.
— Eu estou aqui, eu estou aqui. — Bem onde ele queria ficar. Enquanto se
alimentava de sua fome interminável pela doçura dela, se perguntava como seria capaz
de deixá-la agora.
— Por favor, — ela implorou, abrindo suas pernas instintivamente.
Sabendo que ele precisava prepará-la, Austin pretendia usar toda a informação
que tinha aprendido com a mulher que o ensinara. Ele fez uma trilha de beijos quentes
pelos seus seios, sobre a pele, lambendo para cima e para baixo de seu delicado tesouro
feminino.
— O que está fazendo? — Jolie perguntou, sua cabeça em pé, seus olhos
arregalados.
— Admirando o que pertence a mim, — Austin disse, conforme se ajoelhava,
suas mãos separando suas coxas. — Oh, querida, ele murmurou, — olhe para você.
Jolie olhou, mas tudo que seus olhos enxergavam era ele. Mas quando ele se
ajoelhou e colocou seus lábios nela…
— Austin! — Ela quase levitou da cama.
— Shhh, calma, amor. — Ele pegou os quadris dela e os ajeitou para satisfazer
seu próprio prazer. Austin gemeu de gratidão, usando seus lábios e língua para
satisfazer sua fome e satisfazer a necessidade dela por ele em níveis indizíveis.
Jolie estava com a mente vazia de prazer, ela manteve suas pernas afastadas
como asas de borboletas, suas mãos nos cabelos dele, seus quadris se movendo –
gemidos de êxtase preenchendo o ar.
A maneira como ela respondia a ele, só fez Austin querer lhe dar mais. Ele usou
sua língua para dar prazer a ela. Sua própria masculinidade estava mortalmente com
inveja, lembrando e demandando fazer parte. Sabendo que estava perdendo o controle,
seus lábios encontraram o pequeno botão, o lugar que lhe ensinaram que fariam uma
mulher louca de desejo.
Balançando a cabeça para frente e para trás do travesseiro, Jolie pensou que seu
corpo voaria. Austin fazia coisas maravilhosamente indizíveis nela. Ela não conseguia
ficar quieta, não conseguia ficar parada – tudo que podia fazer era aceitar e gritar.
— Austin!
Escutando o apelo crescente dela, Austin ergueu-se sobre ela.
— Eu farei você minha agora, Jolie.
Ela já era dele, ninguém mais serviria. Ainda tremendo do maravilhoso prazer
que ele tinha lhe dado, Jolie o recebeu.
Ele se deitou em cima dela, alçando o lugar entre eles para colocar sua
masculinidade na entrada dela. Com muito cuidado, ele empurrou para dentro. Só um
pouco.
Jolie enterrou o rosto no pescoço dele. Tinha escutado mulheres falando, sabia
que aquilo poderia causar dor na mulher.
— Tome, Austin. Eu estou pronta. — Ele ser o um único era muito mais
importante do que qualquer desconforto. Quando ele seguiu a palavra dela, e moveu-
se mais um pouco, ela ficou impressionada como quão grande Austin era.
Perguntando-se se o seu corpo conseguiria acomodá-lo, Jolie se preparou para dar uma
leve mordida no pescoço dele.
Sentindo paixão de Jolie, Austin preparou-se para dar a ela o que ambos
desejavam. Indo para trás, ele meteu para frente, seus olhos rolando para trás de sua
cabeça enquanto assimilava a perfeição de ser contido dentro do corpo dela.
Envelopado. Encapado. Cercado por um veludo quente e molhado.
— Jolie, eu estou desfeito! — Ele parou, tremendo com emoção. Anos de
abstinência, meses de solidão, a sentença de uma existência solitária estava apagada
por um único momento de perfeição.
Jolie enrijeceu. O choque de sua invasão a fez segurá-lo ainda mais apertado.
Ela fechou os olhos com força, tentando absorver a realidade de tê-lo dentro dela. Uma
queimação, uma sensação que a fazia querer chorar, mas recusou. Aquele era Austin.
Aquilo era o que ela desejava há tempos – não sabia que seria daquela forma, mas
aquilo era de pouca significância. Tê-lo em seus braços, sabendo que ele encontrara
prazer, sabendo que aquilo era o que uma mulher fazia por seu marido, era a principal
razão para o casamento – Jolie queria ser o que Austin precisava. Enterrando o rosto no
pescoço dele, ela aceitou sua possessão.
A necessidade de se mexer invadiu Austin. Flexionando seus quadris, ele se
retirou lentamente. Quando a respiração de Jolie ficou presa, ele se inclinou para beijá-
la. O que encontrou no rosto dela o fez congelar.
— O que foi? Eu machuquei você? — Ele se virou para conseguir segurar o
rosto dela entre as mãos, olhando em seus olhos. — Baby? — Seu coração disparou. Ele
não tinha experiência com virgens, aquele assunto não fora coberto em seus estudos. —
Jolie? — Erguendo-se, ele se preparou para sair completamente dela, ir para o lado. Sua
intenção nunca foi machucá-la. Pânico invadiu seu coração. — Eu sinto muito.
Percebendo o que ele estava prestes a fazer, Jolie o agarrou, parando seus
movimentos.
— Não, não me deixe. Fique bem onde você está.
Austin estava espantado com suas ações. Ele deveria ter tomado mais cuidado.
E ele estava espantado com seu membro teimoso que ainda estava duro e coçando para
continuar.
— Não, eu não serei a causa da sua dor.
Para a surpresa de Jolie, o desconforto estava desaparecendo. Ser preenchida
por ele ainda era esmagador, mas não parecia como se estivesse sendo partida em
pedaços.
— Não dói tanto assim. Por favor. Eu quero tanto. — Ela ergueu o rosto para
beijar o peito dele. — Eu quero você. Não pare.
Apoiando-se nos cotovelos, Austin procurou o rosto dela.
— Avise se quiser que eu pare. — Endurecendo sua determinação, ele se forçou
a mover-se devagar. Flexionando seus quadris, ele tentou ser gentil, usando seu corpo
para acariciar o dela, para transmitir o profundo sentimento que aquecia seu coração.
Queria que ela gostasse tanto quanto ele, estava desesperado para fazer qualquer coisa
que a fizesse querê-lo.
Jolie aguentou firme, senti-lo dentro de si era estranho. Ela focou no olhar dele,
seu braço segurando o pescoço dele, seus dedos no longo cabelo dele. Austin era um
homem tão lindo. Dando a ele um sorriso trêmulo, ela estava determinada a gostar
daquilo, ou pelo menos passar-lhe a impressão de que gostava. Para mostrar a Austin
que o queria, Jolie moveu seu quadril para encontrar o dele, seus músculos interiores
se contraindo em um instinto para responder a possessão dele. E quando o fez… ela
sentiu algo que a fez suspirar.
Ouvindo os sons dela, Austin parou mais uma vez.
— Não, não pare. — Desta vez, não era para satisfazer a ele, mas a ela. — Não
dói mais tanto… eu sinto…
Incapaz de negar a urgência arrebatadora de seu corpo, Austin continuou a
meter dentro dela.
— O que você sente? — Ele rezou para que ela quisesse aquilo.
Jolie ar que o u as costas, o cabelo no peito dele roçava em seus mamilos. Cada
vez que ele movia, cada vez que ela movia, ela sentia um delicioso puxão.
— Boom, — ela respirou, um pouco impressionada com a veracidade de sua
declaração. — Não pare.
Seu pedido era diferente, suas palavras tinham uma falta de fôlego que não
tinham antes.
— Tem certeza, Jolie?
— Por favor. — Algo acontecia, algo bom. Aquilo era diferente do que sentira
antes com ele… aquilo era maior.
Uma sensação imensa de alívio tomou conta dele, e Austin deu o impulso que
desejava. Segurando-se, ele começou a mover-se cauteloso. Ele cavalgou alto no corpo
dela, encorajado pelo seu olhar, a maneira como ela erguia as pernas para agarrar a
cintura dele, a maneira como suas unhas fincavam sua pele.
— Eu não sabia. — Ela sussurrou. Ao invés de dor, agora cada metida dele lhe
dava prazer. Uma necessidade crescente e sem nome, uma questão sem resposta
parecia crescer em ondas dentro dela. Ela estava completa agora, a fome estava
aplacada. Mas agora… agora, Jolie buscou a completeza, um apetite doloroso
crescendo por um prazer indefinido. Passando os braços nos ombros dele, Jolie cruzou
os pés atrás dos quadris dele e levantou o corpo, dando-se completamente a ele.
Alegria preencheu Austin. Vendo e sentindo a aceitação dela, ele deixou
escapar um gemido que tinha controlado até então. De novo e de novo, ele meteu
dentro dela, pulsando seus quadris, sua mandíbula tensa. Sua necessidade crescente de
alívio estava apenas se mantendo pelo seu desejo de dar prazer a ela.
— Você está perto?
Jolie tentou formar palavras, ela sentia como se estivesse tentando segurar as
cordas de uma pipa que tinha visto Charlotte empinar uma vez em Oak Hill. O belo
objeto tinha se perdido no vento, ameaçando erguer a pequena menina do chão. Jolie
sentia-se como o vento flutuante puxando e cutucando, uma energia crescente fazia
com que sentisse sua ferida tão apertada quando um torniquete.
— Perto do quê? — Deu um jeito de falar, querendo apenas continuar sua busca
por um prêmio dourado que não sabia o que era.
Mesmo no meio de sua ruptura, Austin precisou sorrir. Sua querida inocente,
aceitando sua fome masculina, ainda sim intocável – exceto por ele. De agora em
diante, somente por ele.
— Você sabe, isso é como antes. — Ele sussurrou. — Como eu amo você, — ele
espaçou suas palavras, pontuadas por seu afundamento na maciez dela, — Você
sentirá uma vontade desesperada de se atirar no topo do mundo. — Ele sentia seu
próprio orgasmo se aproximando. — E quanto o fizer, não lute, se abra e voe.
Jolie não compreendeu exatamente o que ele dizia, mas suas palavras
descreveram com precisão a onda crescendo dentro dela. Uma urgência vital cresceu
nela, dando combustível a contorção frenética enquanto ela clamara…
— Austin! — Ela gritou enquanto a onda quebrava e batia nela, mandando-a
para o espaço. O enrolamento estalou, liberando uma explosão brilhante, de cores
quentes atrás de seus olhos. Jolie sentiu como se estivesse flutuando, subindo até as
nuvens do paraíso. — Tão bom, — ela sussurrou. Ela amou o que tinham feito antes na
cama, mas desta vez ele estava dentro dela e aquilo fez toda a diferença.
Pela primeira vez, Austin entendeu o que significava com partilhar o prazer um
do outro. Alcançar seu próprio objetivo era crítico, mas sentir o êxtase de Jolie era
outro mundo. Quando ela atingiu seu pináculo, quando ela derreteu sob ele, não
conseguiria ter segurado nem que quisesse. Ele deu uma última metida e então se
libertou, sua semente esguichando em pulsos poderosos.
— Jolie, minha Jolie — ele gritou, cada músculo congelado, seus olhos fechados
em êxtase absoluto.
Encontrando sua própria calma, Jolie observou o rosto de Austin. Ver aquele
homem poderoso tomado por algo que ela tinha dado era inacreditável. Jolie correu
suas mãos para cima e para baixo dos braços dele, querendo e precisando da conexão
com ele. Ela ecoou a pergunta dele.
— Foi bom?
Austin colapsou, com a mente tão vazia que poderia ter esmagado ela.
Jolie gostou do peso pressionando-a contra o colchão.
— Paraíso. — Austin sussurrou. — Você me levou aos portões do paraíso.
Depois de fazerem amor, Austin mais uma vez a limpou com carinho, desta vez
encontrando sangue no pano. A visão fez se sentir territorial.
— Você é minha agora — sussurrou. — Eu reclamei você. Nenhum padre ouviu
nossos votos, mas somos um só agora. Nossa união foi consumada. — Ele retornou
para a cama, puxando-a para seus braços.
Jolie suspirou.
— Eu não tentarei fugir. Não tem nenhum outro lugar onde eu queira estar. —
Que ela não tinha outro lugar para ir era irrelevante, mesmo que tivesse, era lá que ela
pertencia.
Durante a noite, ele veio novamente até ela. Sua fome por ela parecia insaciável,
e cada vez Jolie o recebia com igual deleite.
A felicidade de Austin não tinha limites.
***
No dia seguinte, eles se demoraram na cama mais que o normal, sem vontade
de se separarem do abraço um do outro. Quando finalmente se levantaram, Jolie se
ocupou preparando a comida para o café da manhã. Austin começou a recolher suas
roupas e itens que precisaria para sua jornada.
Sandy parecia entender que ele partiria logo, seguindo-o e reclamando sua
preocupação.
— Você ficará aqui, — Austin informou o cachorro. — Você tem que cuidar da
nossa Jolie.
Jolie sorriu. Em pensar que poderia ter perdido aquilo, corrido em outra
direção, passando por lá sem saber que aquele homem sequer existia. Um tremor
percorreu seu corpo. Impensável. Ela não conseguia imaginar não o conhecer, não estar
ali.
— O que foi? — Ele perguntou, notando a expressão dela. Vindo atrás dela, ela
a puxou, beijando-a na lateral do rosto.
— Nada. — Ela sorriu. — Eu só estou grata por estar aqui com você. Eu só
pensava em como seria triste se não tivesse te encontrado.
Austin fechou os olhos se permitindo pensar naquela possibilidade.
— Eu teria morrido sem você. Deus mandou você para mim, meu amor. Ele
respondeu minhas orações e trouxe você para mim. Você é minha salvação. É minha
dádiva de Deus.
As palavras dele alimentaram sua alma. Jolie se aqueceu com a adoração dele.
— Agora, me deixe terminar de fazer a mala e comeremos juntos.
Ela o observou enquanto trabalhava, ficando na lareira, fazendo bolos na chapa
plana que encontrara no fundo do armário. Jolie cantarolou uma música que escutara
Grandmere cantar para ela. Mesmo Austin partindo na manhã seguinte para uma curta
viagem, Jolie sentia como se tudo estivesse bem no mundo…
… Até que viu Austin levantar o colchão.
Enquanto levantava o último bolo para colocar no chapa, ela congelou –
horrorizada. Derrubando o utensílio, ela correu.
— O que está fazendo? — Chorou.
Austin parou, virando-se para ver o que havia de errado com ela.
— A escritura da minha terra está aqui. Levarei comigo.
Jolie entrou em pânico. Quando escondeu os papéis que pegara de Coffi
debaixo do colchão, ela não tinha percebido que tinha mais coisas lá. Mas com certeza,
havia dois itens. Austin também viu os dois. Segurando o colchão para cima com uma
das mãos, ele pegou os dois documentos.
Toda a força de Jolie se esvaiu de seu corpo.
— Não olhe. Por favor, Austin. — Ela segurou a mão dele. — Entregue para
mim.
Tarde de mais, os olhos de Austin já estavam inspecionando o documento. O
que ele viu, o confundiu.
— Esse é o recibo de uma venda. De escravos. — O estômago dele se contraiu
enquanto lia a descrição, igual a uma pessoa teria feito caso estivesse descrevendo o
gato. Ele leu os dois primeiros, mas quando seus olhos atingiram o terceiro, ele se
sentiu enjoado. Lendo alto, sua voz era tensa. — Fêmea de pele cara, dezoito anos de
idade, olhos violeta, 1, 63 de altura, 46 quilos. Juliette Dumas. — Vagarosamente, ele
virou, seus olhos encontrando os dela. Ele não precisava perguntar, mas perguntou. —
O que está fazendo com isso, Jolie? Quem é Juliette Dumas?
Jolie foi para trás. Seu mundo estava se despedaçando aos seus pés.
Ela conseguia ler a confusão no rosto de Austin. Rejeição seria a próxima.
Balançando a cabeça, ela sabia que não conseguiria encarar. Jolie não conseguiria
testemunhar o amor que ele sentia por ela morrer nos olhos dele.
— Eu preciso ir. — Ficar não era uma opção. Ela não poderia voltar para as
correntes, ela preferia morrer a voltar.
Dando a volta, ela abriu a porta e saiu. Para onde correria não importava, a
única coisa que queria era ir embora. Jolie não queria que Austin a visse nunca mais.
Tentando compreender o que tinha acontecido, Austin se sentiu paralisado. O
que aquilo significava? Jolie e Juliette eram a mesma pessoa? Ela tinha mentido para
ele? As ramificações daquela revelação balançaram Austin até o âmago de sua alma.
De novo, ele encarou o papel. Uma escrava? Ele balançou a cabeça, tentando pensar.
Mas o próximo pensamento não era sobre o significado do documento em sua
mão, o que o invadiu sua mente foi que Jolie tinha acabado de fugir dele.
E se ela não voltasse?
Jogando para longe o desprezado recibo de venda, ele correu porta agora e
parou, seus olhos rolando desesperadamente da direita para a esquerda.
— Jolie! — Ele não podia deixar que ela fosse para muito longe. Milhas de terras
selvagens se espalhavam em todas as direções. O vizinho mais próximo estava a horas
de distância. A percepção dos perigos que ela poderia encontrar o atingiram bem no
meio dos olhos. Porque diabos tinha a deixado partir. Por que não tinha a impedido?
Choque. Foi o choque.
Agora, não tinha tempo para processar o que tinha acabado de descobrir.
Depois de encontrá-la e trazê-la para casa, lidaria como que tinha descoberto.
Voltando para dentro da cabana mais uma vez, ele pegou sua espingarda.
— Sandy, vamos.
Uma vez do lado de fora, Austin procurou pelo chão, tentando determinar que
caminho ela tinha escolhido. Vendo a depressão de uma pequena pegada, ele foi para
aquela mesma direção.
— Jolie!
Em frente… Jolie chorava tanto que não conseguia enxergar. Repetidamente, ela
tropeçava e caia, indo para nenhuma direção em particular, somente querendo correr
longe o suficiente para não ver a rejeição nos olhos de Austin.
Não tivera tempo para pensar no que faria ou em como sobreviveria. Naquele
momento, só queria fugir. Sobreviver, encarar o amanhã não era importante. Os únicos
pensamentos que conseguia processar era os pensamentos do que estava perdendo.
Conforme corria, com cada passo, seu coração se partia um pouco mais.
Limpando desesperadamente seus olhos, ela se esforçou para ver o caminho adiante.
Ela viera até Palo Gaucho, agora tinha que encontrar um caminho que pudesse
atravessá-lo. Não vendo nenhuma outra opção, entrou na água e começou a nadar.
Não muito longe, Austin corria. Ela era rápida, uma frota de pés. Mas por mais
rápido que corresse, ela não tinha nenhuma defesa contra o ataque de animais, índios
ou qualquer um que quisesse encontrar e machucá-la. Deus o ajudasse, ele rezou, Jolie
era tão pequena, tão delicada. O que ela faria se ele não a encontrasse? Por que ela
tinha fugido? Como aquele pesadelo tinha se tornado realidade?
— Jolie, por favor pare!
Do outro lado do riacho, Jolie o escutou. Ela parou. Congelada. A água estava
fria e o ar mais frio ainda. Sua respiração estava difícil. Parte dela queria correr de volta
para os braços dele, mas uma parte mais lógica a lembrou que de jeito nenhum Austin
ficaria com ela, ele não poderia deixá-la ficar.
Austin McCoy era um homem que seguia a lei. Ele consideraria seu dever levá-
la até a colônia, para entregá-la, devolvendo-a aos seus proprietários.
Proprietários.
O fato de que era a propriedade de outro ser humano era tão insondável para
ela. E o que era pior? Ela era culpada. Ela era culpada de fingir não ver, de aceitar o
impensável como normal, de caminhar por entre outras pessoas que estavam
amarradas a correntes e considerar aquilo aceitável.
E agora estava condenada ao mesmo destino.
O barulho dos passos de Austin soou pelos arbustos. Ele estava mais perto. Um
terror invadiu seu peito, dando a ela a força para continuar, para correr mais longe.
Conforme Jolie colocava um pé na frente do outro, esquivando-se dos troncos,
quebrando o mato, ela sabia que não tinha esperança. Não estava correndo em direção
a nada; estava correndo dos seus sonhos despedaçados. Não tinha mais ninguém a
quem procurar. Nenhum lugar seguro para ficar. A noite cairia e ela estaria sozinha.
Em algum momento, em algum lugar, ela sucumbiria a algo que lhe tiraria a vida.
Não importava. Morrer era melhor do que o homem que ela amava entregá-la a
um destino que não suportaria.
Algum as jardas de distância, Austin avistou Jolie. Ela era ágil como um
pequeno veado, mas não estava mostrando discrição algum à em seu caminho. Se ele
não parasse ela, ela ia acabar parando em uma encosta íngreme, uma que sairia do
nada e, se pisasse em falso… seu corpo pequeno seria jogado penhasco abaixo.
— Jolie! Pare! Pare!
Espinheiros cortavam seus braços, galhos chicoteavam seu rosto, troncos de
árvores caídas com tocos afiados rasgaram a pele de suas pernas. Jolie não estava
ciente da dor, tudo o que conseguia processar era seu coração partido por causa do
futuro que tinha visto e que se tornara cinzas.
Austin não parou, ele estava quase chegando a ela. A maneira impensável com
a qual ela corria sem cuidado algum onde colocava os pés estava assustando-o. Ela
poderia pisar em um tronco podre, em um ninho de cobras, cair em uma vara afiada…
qualquer coisa.
— Jolie! Querida, espere! — Ele gritou, assim que conseguiu alcançá-la,
agarrando-a e trazendo-a para perto de seu coração.
— Não! — Jolie lutou para escapar. — Deixe-me ir! — Ela não olharia, não
viraria a cabeça, não encontraria o olhar dele. — Eu não posso ficar. Por favor, deixe-
me ir! Não me entregue, por favor!
Austin sentiu como se seu coração fosse pisado por alguém com botas de salto.
— Eu não entregarei você. Vamos voltar. Precisamos conversar.
Matou sua alma admitir isso, mas ela não acreditava nele. Como acreditaria?
Não tinha jeito dele fazer vista grossa para o seu crime.
— Por favor, se você algum dia gostou de mim, deixe-me ir. — Suas forças
estavam acabando e os braços dele eram como aço.
Austin não sabia o que fazer além de mantê-la mais perto de caminhar. Soluços
torturavam o corpo dela. Ela nem reagiu quando ele a pegou no colo enquanto
cruzavam o Polly Gotch.
— Aonde você ia? — Ele perguntou em um tom imparcial que desmentiu a
batida de seu coração.
Jolie soluçou novamente.
— Embora. A lugar nenhum.
Austin a sentiu mancar em seus braços. Era como se toda a vida tivesse se
esvaído dela.
— Eu não tenho nenhum lugar para ir.
Austin discordava.
— Sim. Você tem.
Ela não tinha ideia do que ele queria dizer, mas não tinha força para
argumentar.
Pelo resto da jornada, ela não lutou.
Desistira.
Sandy uivada, como se estivesse na trilha de algo. Jolie fechou os olhos. Ela
conhecia aquele barulho. Se partisse de novo, ela logo escutaria quando os cães
viessem atrás dela. Seu dono, Garrett Thomas, seria notificado e viria atrás dela.
Sua vida estava acabada.
Capítulo Seis

Alcançando à cabana, Austin a trocou de braço para que tivesse uma das mãos
livre para abrir a porta. Uma vez do lado de dentro, ele a levou até o fogo, despiu-a
com calma e a secou. Sem dizer palavra, ele a enrolou em cobertor e se sentou na cama
com ela em seus braços. Os lençóis ainda estavam bagunçados por ele ter levantado o
colchão para pegar a escritura. Os dois documentos estavam espalhados pelo chão.
O tempo inteiro, Jolie não disse nada.
— Você tentará fugir de novo? — Ele perguntou.
— Não. — Não agora. Depois… ela não faria promessas. Por que ele queria
saber? — Você me amarrará?
Austin sentiu como se alguém tivesse cravado uma estaca em seu peito.
— Não, eu não amarrarei você.
Para a surpresa de Jolie, ele a ergueu de seu colo e a colocou sobre a cama.
Levantando-se, ele andou até o barril e encheu uma caneca, trazendo-a para ela.
— Beba. Você deve estar exausta.
— Obrigada. — Ela aceitou a água e bebeu avidamente.
Austin colocou suas mãos nos quadris e observou ela. Ele ainda tentava
entender o que tinha acontecido.
— Seu nome é Juliette Dumas?
Segurando a caneca, seus ombros caíram. Ela olhou para os sapatos de Austin,
ainda com lamas por ter cruzado a ribeira. Vencida, ela começou a falar.
— Meu nome é Juliette Jolie Dumas. Minha mãe e meu pai, John Belmont, não
eram casados legalmente. Ela era amante dele, não sua esposa. Minha mãe era um
mulata.
Austin era familiar como termo. Ele tinha viajado para Nova Orleans quando
ainda morava no luxo em Tennesse e. Tinha visto belas mulatas que tinham muito
valor para seus benfeitores brancos. Tinha ido a um dos bailes dos mulatos aonde ricos
homens Creole vinham, em sua essência, comprar mulheres para ter aquilo que
desejavam além de suas esposas. Também sabia que algum as almas gêmeas tinham
nascido dessas uniões. Alguns homens cuidavam de suas famílias e outros nunca se
casavam com ninguém, preferindo construir uma vida com uma mulher de cor que
capturara sua atenção, e muitas vezes seus corações.
Não era alheio a essas coisas.
Ele não era tão mente fechada para que essas coisas o ofendessem.
Mas ali não era Nova Orleans.
As coisas eram diferentes ali, o resto do país não era tão mente aberta ou com
pensamentos tão modernos. Seu pai tinha dito que Nova Orleans era uma cidade que
deveria pertencer à Europa, não à América.
E mesmo em Nova Orleans, não havia muitas pessoas que tinham a proteção de
um benfeitor. Muitos eram escravizados, vivendo uma vida de servidão.
Quando Austin não disse nada, Jolie ergueu o rosto e viu quão encrencado ele
parecia, como estava em conflito.
— Eu não tenho desejo de lhe causar preocupações. — Ficou em pé. — Se me
deixar ir, eu vou embora. Por favor, não me prenda.
Para seu choque, diante de seus olhos, ele franziu o cenho. Ele ficou de joelhos
em frente a ela, deitou a cabeça em seu colo, e colocou os braços em volta de sua
cintura.
— Eu não entregarei você. Como poderia? Minha vida e meu coração
pertencem a você, eu não sobreviveria se você fosse embora.
Alívio preencheu Jolie, seus próprios joelhos começaram a tremer. Na próxima
batida de coração, Austin a pegou, levantou-a, e a abraçou forte.
— Eu sinto muito — ela sussurrou. — Eu sinto muito por ter mentido. Eu sinto
muito por eu não ser quem você pensava. Eu tentei não mentir, tentei dizer o máximo
da verdade que podia. — Ela enterrou seu rosto no pescoço dele. — Eu nunca quis
machucar você, eu só queria viver.
Precisando beijar tanto quando precisava respirar, Austin cobriu a boca dela
com a dele. Não foi um beijo apaixonado nem casto. Era um beijo de promessa, para
selar uma devoção. Ele colocou cada batida de seu coração no ato, precisando
transmitir o que sentia.
Quando os seus lábios finalmente deixaram os dela, ele pressionou sua testa no
rosto dela.
— Eu preciso entender tudo. Quero saber cada detalhe. Mas antes de
começarmos, saiba disso. — Ele a olhou nos olhos. — Nada do que diga, nada do que
revele fará diferença algum à para mim. Eu te amo, Jolie Belmont.
Ela deu a ele um sorriso tímido.
— Não é Belmont, apesar de meu pai me amar, eu ainda sou uma bastarda.
Austin a calou com outro beijo.
— Não diga isso. Você é preciosa para mim. Eu não me importo com detalhes
do seu nascimento, eles não me interessam nem um pouco.
Jolie passou os braços em volta do pescoço dele, maravilhada com sua sorte. Ela
achou o homem entre os homens. Um herói.
— Eu te amo tanto, Austin.
— Bom. — Ele andou até a mesa com ela nos braços, colocando-a gentilmente
na cadeira. Ele preparou para ambos um prato com bacon e os bolos que ela tinha
cozinhado antes. — Está frio, mas comeremos enquanto conversamos.
Jolie se sentou, sabendo que os próximos minutos seriam difíceis. Austin
merecia saber a verdade e ela contaria e ele. Quando ele colocou a comida em frente a
ela, Jolie deu-lhe um sorriso de agradecimento, então deu algum às mordidas.
— Por onde quer que eu comece?
Austin a observou com seus olhos. Ele nunca mais queria voltar aos dias em
que não tinha ninguém a sua frente a não ser sombras.
— Do começo, por onde mais?
Depois de dar uma mordida no bolo e tomar um gole de água, ela começou: —
Minha avó materna veio para esse país em um navio escravo da Martinica. Ela trouxe
consigo todas suas crenças e costumes, muitos dos quais ela passou para mim. Um
homem livre de cor, parte branco, se apaixonou por ela e eles se casaram. Depois de o
marido dela salvar a vida do homem a quem a vovó pertencia, ela ganhou sua alforria.
Minha mãe nasceu dessa união e cresceu como eu – protegida, mimada, atrás de um
escudo contra a dura realidade da vida. Ela conheceu John Belmont um dia quando ele
veio até a carroça dela, que tinha perdido uma roda. Ele parou para ajudá-la e eles
disseram que foi amor à primeira vista. Eles eram… — ela tossiu, consciente, —
ajuntados, mas nunca disseram os votos em frente a um padre, claro. — Ela olhou para
Austin. — Meu pai me amava, nunca duvidei disso nem por um momento.
— Eu também não duvido, minha querida. É fácil amar você.
Suas palavras gentis deram a ela força para continuar.
— Meu pai nos deu um bangalô perto da casa da Vovó. Um primo meu,
Abraham, também se criou ali por perto. Minha infância era idílica. — Ela sorriu,
lembrando. — As histórias que lhe contei antes eram todas verdadeiras. Eu corria livre
pelo pântano, brincando e caçando vagalumes, cercada por um paraíso luxuoso repleto
de flores e vida selvagem. Eu não tinha preocupações, ou qualquer coisa. Minha mãe e
minha vovó me educaram, meu pai dava livros e me ensinava ele mesmo algum às
vezes. Eu aprendi coisas sobre o mundo, literatura e história. Nada era escondido de
mim. Eu até aprendi a ser uma curandeira como minha avó. Ela me ensinou tantas
coisas, ela era muito poderosa.
— Eu posso imaginar você na minha mente, rindo e brincando. Eu tenho
ciúmes daqueles que te conheceram naquela época.
O rosto de Jolie de entristeceu.
— Eles estão todos mortos. Todos menos Abraham e eu nunca mais o vi.
— Seu primo?
— Sim.
— Conte o que aconteceu. — Ele alcançou a mão dela do outro lado da mesa.
— Um dia meu pai veio nos ver. Ele vinha frequentemente, ou ele passava o dia
com a gente ou nos levava para passear. Às vezes, viajávamos juntos. — Ela pegou sua
colher, esfregando o dedão pelo cabo distraidamente. — Eu me perguntava com
frequência por que não podíamos viver com meu pai em Oak Hill. Outras crianças
moravam com seus pais, como Abraham. — Ela deu de ombros. — Mas não me
mantinha muito pensando sobre isso. Eu estava feliz. Mas um dia… um dia ele veio e
disse a minha mãe que a levaria para viajar em um barco para Nova Orleans. Eu queria
ir, mas ele disse que era uma viagem apenas para os dois. — Seu rosto ficou triste. —
Eles foram, deixando-me com a Vovó. Eu estava brincando do lado de fora quando
ouvi Vovó gritar. Eu corri até ela e a vi no jardim, ela tinha visto um barco explodindo,
queimando, e que minha família estava morta.
— Uma visão? — Austin franziu o cenho, ouvindo.
— Sim, ela… sabia coisas. Coisas do passado e coisas do futuro. Ela tinha a
visão.
Pausando por um momento, Jolie pareceu lembrar de algum as coisas. Austin
esperou pacientemente.
— Ela disse que eu tinha também , que eu ia ficar mais forte quando me
tornasse mulher. — Ela apertou a colher com força, segurando-a para cima. — Eu não
acho que tenho, só algum as pontadas de conhecimento, nada que me ajudaria ou não
estaria na condição em que estou.
— Tem certeza? Você está aqui comigo. O lugar mais seguro do mundo onde
poderia estar. Tem certeza que a visão não a trouxe até aqui?
Jolie olhou para ele, seu rosto assumindo um sorriso.
— Talvez. Eu gostaria de pensar assim.
— O que aconteceu em seguida? A visão da sua avó estava certa? — Ela
suspirou. — Sim. Meus pais morreram quando a caldeira explodiu, o barco pegou
fogo. Alguns morreram queimados e outros se afogaram. O corpo deles foi recuperado,
mas eu nunca os vi. Meu tio Felix, irmão do meu pai, foi clamar os corpos. Meu pai foi
enterrado em Oak Hill e o corpo da minha mãe foi trazido até nossa casa e enterrado
embaixo de um grande carvalho onde eu costumava balançar e ser feliz. Depois
disso…
— Vá em frente, querida, conte tudo. — Ele odiou o quão infeliz ela parecia.
Quanto mais rápido ela expurgasse a dor, mais rápido ele poderia garantir que
moveria céu e terra para que ela nunca mais sofresse de novo.
— Eu morei com a Vovó por alguns meses. Eu sentia falta dos meus pais, mas
ela era tão boa para mim. Abraham e eu nos tornamos inesperáveis, mais do que antes.
Eu estava só. Tínhamos tantos planos. — Ela olhou melancólica. — Íamos para Paris
algum dia, onde buscaríamos uma carreira nos palcos. Abraham ama cantar. — Sua
face ficou enevoada. — Mas Vovó morreu. O irmão do meu pai ouviu sobre minha
situação e se sentiu obrigado a vir até mim. — Jolie olhou para baixo. — Eu me mudei
para a casa da minha família, a plantação Oak Hill – e tudo mudou.
— Como? — Ele podia imaginar, mas precisava ouvir as palavras dos lábios
dela.
— Em todos os sentidos. Eu vi coisas que não entendia. Pessoas estavam em
correntes, ou trabalhando nos campos sob a vigília de capatazes com chicotes e
cachorros. Eram tratados como gado, viviam onde mandavam que vivessem, com iam
o que lhes era dado. Não tinham liberdade. Incapazes de tomar decisões por si
próprios. As famílias deles poderiam ser separadas sem aviso prévio. — Sua voz
desapareceu. — E eu?
Austin parou de comer, encarando a mulher enquanto observava a miríade de
emoções em seu rosto.
— Eu conheci a família que nunca tinha conhecido. A mãe do meu pai, a
mulher do meu tio e a filha dele. Charlotte. — Ela sorriu, seu rosto de iluminou pela
primeira vez. — Eu amava Charlotte e ela me amava. Ela me via como igual.
Austin odiou o que estava prestes a ouvir.
— Minha avó e tia sentiam diferente. Pela primeira vez na vida fui tratada como
inferior. Eu era diferente. Mesmo que fossemos parecidas aos olhos, eu não era como
elas. Era muito claro para elas meu status. Não era permitido que eu fosse parte da
família, nem fora relegada ao papel de servente. Meu quarto era na cozinha. Eu nunca
fazia as refeições com a família. — Ela começou a partir o resto de seu bolo em pedaços
pequenos. — Charlotte e eu brincávamos juntas, muitas vezes discutindo as razões por
trás do meu lugar na vida. O tio Felix não permitia que eu fosse maltratada quando
estava por perto, mas… ele não estava sempre por perto. Quando a família tinha
companhia, eu ficava escondida. Quando os rumores surgiram entre os amigos deles
que eu estava lá, trouxe vergonha à família. Charlotte queria que eu participasse das
coisas, mas ela não tinha permissão. Pretendentes vinham até a casa, mas eu não tinha
nenhum.
— Graças a Deus, — Austin disse, fazendo Jolie rir e ele se explicar. — Eu não
estava agradecendo o seu tratamento, só que você não era cortejada por um palhaço.
— Não, eu não era cortejada. — Ela deu a ele um sorriso, que não durou muito
conforme seus pensamentos voltavam a Oak Hill. — Meu tio foi morto durante um
duelo. Minha avó e minha tia me disseram que o duelo foi por minha causa,
defendendo a honra da família. Eles disseram que não valia a pena me defender e que
elas me odiavam por ter causado a morte dele.
Austin percebeu que estava fechando os punhos, com a raiva contra aquelas
pessoas a maltrataram uma Jolie inocente crescendo.
— Um dia elas me chamaram até o salão. Um homem que eu nunca tinha visto
antes estava lá. Eles me disseram que eu tinha que partir com ele. — Ela parou de falar,
encarando a mesa. — Elas disseram que tinham me vendido. Meu preço ajudaria a
família a sobreviver depois da perda do meu tio. — Ela franziu o cenho. — Eu fui de
ser a filha do meu pai até ser uma escrava. Eu me tornei como aquelas pessoas nos
campos. — Jolie olhou para Austin, uma vermelhidão subindo por seu rosto. — Minha
vida mudou drasticamente. Eu fui tirada de Nova Orleans e acorrentada. Eu fui posta a
leilão nua e comprada pelo representante de um homem chamado Thomas Garrett. Ele
estava a caminho de Atlanta, então um homem chamado Coffi, que me comprou
primeiro concordou em me trazer até o Texas por um preço. Eu fui arrebanhada,
obrigada a caminhar, e presa em correntes através de cidades e campos. Por semanas.
Até, finalmente…
— Você veio para mim.
Ela enxugou uma lágrima da bochecha.
— Eu não estava só. Tinha outras duas mulheres, Sally e Margarete. Coffi nos
tratava tão mal, ele as estuprava. — Naquele momento, Austin cerrou os dentes, ela
continuou. — O único motivo pelo qual eu escapei foi por causa da promessa que ele
fez ao meu comprador . Meu preço fora mais alto por eu ser virgem.
— E linda.
A observação de Austin não fez ela se sentir melhor.
— Ele nos tratava como cachorros. Tínhamos que implorar por comida e água.
Minhas roupas estavam em frangalhos, como você bem lembra.
Ele lembrou quando a viu pela primeira vez.
— Como você escapou?
— Nós paramos para que ele usasse o banheiro. Eu vi a oportunidade e tentei
pegar a chave do alforje. Ele voltou e começou a nos bater com chicote. Ele
acidentalmente bateu no cavalo, e quando o fez, o cavalo começou a correr, arrastando-
nos. Margarete morreu, o pescoço dela quebrou quando bateu em uma árvore. — Ela
conseguia perceber que aquilo incomodava Austin. A preocupação dele tocou seu
coração.
— O que aconteceu então, como se livrou?
— O cavalo nos arrastou por uma boa distância. Antes que Coffi nos alcançasse,
um urso o encontrou. — Jolie tremeu. — Ele era mal, mas ninguém merecia uma morte
daquelas. Enquanto… o urso estava ocupado, eu consegui pegas as chaves do alforje.
Não estávamos muito longe do rio. Sally decidiu tentar voltar para casa, ela ainda tinha
família lá. — Jolie mordeu o lábio para não chorar. — Eu não tinha ninguém além de
Abraham e Charlotte e eu sabia que eles não poderiam me ajudar. Eu não sabia o que
fazer. Eu só esperava encontrar ajuda.
— E me encontrou.
— Sim. Eu encontrei você.
Por alguns momentos, eles ficaram sentados enquanto ele absorvia tudo o que
ela tinha contado. Finalmente, ele começou a falar.
— O que você passou… — Ele parou, incapaz de prosseguir.
— Como você disse, tudo isso me trouxe a você. — Ela esperou que ele visse a
chegada dela como uma benção.
— Se pudesse voltar no tempo, impedir todos esses momentos que partiram seu
coração, eu voltaria.
Jolie se levantou e foi até ele, subindo em seu colo.
— Eu não teria escolhido esse caminho, mas teria escolhido esse destino. — Ela
deitou a cabeça no peito dele. — Estar aqui com você… é aqui que pertenço.
Austin a apertou em seus braços.
— Eu não quero ir para a cidade agora.
Ela ergueu o rosto para vê-lo.
— Por quê?
— Eu estou com medo de que me deixará novamente.
Ela sentiu as lágrimas novamente.
— Eu não. Eu não te deixarei até que me peça para fazê-lo.
— Então, ficará para sempre.
Eles se abraçaram por um longo tempo, até ele se sentir capaz de continuar as
preparações para sua viagem. O que ele aprendera murada tudo. Agora, seu maior
medo não era perder sua terra, mas era perdê-la. Enquanto estivesse em Nacogdoches,
tentaria descobrir se alguém estava procurando por Jolie.
Sabendo que ele partiria pela manhã, Jolie preparou um jantar especial. Bife e
batatas, e ela também tentara fazer um bolo na panela de ferro fundido. Ela nem
mesmo passava perto do fogo, com medo que o bolo caísse. Algo estava incomodando-
a, porém…
— Austin, sua família tinha escravos?
O coração de Austin parou. Ele tinha acabado de voltar do lado de fora, tinha
trazido um pequeno baú do celeiro e o colocado no sótão. Estava no processo de passar
uma camisa extra e calças quando ela fez a pergunta. Seus movimentos desaceleraram,
mas ele respondeu.
— Sim.
Jolie franziu o cenho, não porque tinha pensado naquilo.
— E se tivéssemos nos encontrado lá, enquanto eu fosse uma escrava.
Austin largou o que fazia e foi até ela, segurando sua mão.
— Eu teria clamado por você. Minha alma teria reconhecido você.
E conforme ele a segurava, Jolie rezou que ele sempre se sentisse daquela
forma.
Quando a comida ficou pronta, o dia já estava terminando. Austin ficou na
porta, olhando para o céu.
— Ainda temos uma ou duas horas de luz, quer fazer um piquenique?
Jolie olhou para a comida.
— Eu não tenho certeza se o que fiz dará para embalar. — Mas a ideia de um
piquenique a apetecia. — Podemos dar uma caminhada e comer quando voltarmos?
— Perfeito. — Ele agarrou o braço dela, e a puxou para o seu lado. Sandy foi na
frente, latindo e correndo, feliz com a perspectiva de um passeio em família.
De mãos dadas, caminhando, a cabeça dela encostou no ombro dela. Ele disse a
ela sobre seus planos para aquele lugar.
— Eu quero aumentar a casa, mais do que o dobro. — Roubando um beijo na
bochecha dela, ele respirou fundo. — Precisamos de mais quartos para quando
tivermos bebês.
— Bebês? — Austin! — O rosto dela se esquentou como pensamento.
Austin parou, puxando-a para seus braços.
— Você não pensou sobre isso? Eu não tenho como proteger você.
— Tem ervas que eu poderia usar. — Sua vovó tinha ensinado ela. Ela colocou
uma das mãos na bochecha dele.
— Mas eu quero bebês. Eu quero muito.
Com alegria em seus corações, Austin e Jolie foram até o Palo Gaucho e se
sentaram em um pouco de musgo grosso sob uma árvore. Ele deitou a cabeça no colo
dela, e ela sentiu prazer ao brincar com os longos cabelos dourados dele.
— Quantos filhos você quer?
Austin apertou a mão que ela tinha sobre seu peito, beijando.
— Uma dúzia.
— Uma dúzia? — Jolie riu. — Precisaríamos de três cabanas. — Para sua
alegria, Austin riu. Ela estava completamente com penetrada em observá-lo, até
cutucar as costelas dele lhe divertiam.
— Cuidado, garota! — Ele segurou as mãos dela e a puxou. Quando o fez, ficou
evidente que os seios dela pressionavam através do couro e seu comportamento
mudou. — Permita-me, — ele sussurrou, puxando o vestido de seus ombros.
Jolie olhou em volta.
— E se alguém ver?
— Quem? Não há ninguém em milhas. — Quando ele revelou os belos seios
dela, sua respiração ficou presa na garganta. — Eu não acredito em você. — Ele
acariciou a carne, traçando círculos nos mamilos, balançando-os em suas mãos,
pressionando-os juntos. — Eu poderia brincar com você por horas.
Jolie fechou os olhos em êxtase. Ela amava o que ele fazia tanto quando amava
fazer.
— Coloque-me na sua boca, Austin.
Austin sorriu. Sua garota estava aprendendo rápido.
— Talvez eu consiga fazer isso.
Quando seus lábios se fecharam no mamilo dela, Jolie soltou o ar. Ela balançou
a cabeça enquanto ele se banqueteava, sugando um seio enquanto apertava outro
mamilo entre os dedos. O prazer que ela tinha era apenas menor do que a felicidade de
assisti-lo. Amor por ele cresceu dentro dela como uma tempestade de primavera.
Inclinando-se para beijar o rosto dele, ela sussurrou: — Vamos voltar. Estou
faminta.
Austin a afastou, um mamilo rosado soltando de seus lábios. Ele a olhou com
desapontamento.
— Está?
— Por você.
Eles correram de volta para a cabana.
Austin ganhou. Em mais sentidos do que apenas um.
***
— Eu voltarei o mais rápido que puder. Prometo. — Ele olhou nos olhos dela,
correndo as palmas pelo braço dela. Era como se não pudesse para de tocar nela.
— Eu esperarei. E tomarei cuidado. Prometo.
— É bom mesmo, você pertence a mim e eu não quero nem pensar em viver
sem você. — Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. — Sandy ficará
com você. Mantenha-o perto. E use o penico que eu coloquei perto da cama. Não tente
usar a latrina à noite.
Ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo.
— Pare de se preocupar. Eu estarei esperando por você quando voltar. Tudo
ficará bem. Prometo.
Promessas.
O coração de Austin estava cheio de promessas. Enquanto ele subia na carroça e
começava a partir, ele ergueu a mão para abanar. Sandy latiu e Jolie abanou, mantendo
os olhos nele até que estivesse fora de vista.
… Na estrada, Austin manteve seu cavalo em um passo constante. Pretendia
viajar o mais longe possível o mais rápido possível. Ele fez um atalho pelo Norte até
chegar a uma estrada conhecida como King's Highway. Seu rifle estava ao lado dele, e
ele percorreu os olhos pela densa floresta nos dois lados dele. O urso que matara o
mercador de escravos de Jolie ainda estava lá em algum lugar, mas Austin não tinha
desejo algum de encontrá-lo. Até onde sabia, Austin tinha uma dívida para com aquele
urso.
Normalmente, ele teria ficado ansioso e feliz com aquela viagem. A perspectiva
de ver outros seres humanos, falar com conhecidos e amigos, só de estar perto de
outras pessoas por um tempo fazia com que ficasse ansioso para chegar lá. Agora,
estava ansioso apenas para terminar a viagem e voltar para Jolie. Como suportaria esse
tempo longe dela? Seu corpo já doía para voltar aos braços dela.
Um barulho nos arbustos a sua direita fez Austin parar o cavalo, parando para
escutá-lo. Ele espiou pelo labirinto de madeiras densas, sendo mais fácil ver a extensão
agora que as folhas tinham caído das árvores. A essa hora do dia, o barulho
provavelmente seria um veado. Ele tinha visto alguns veados com chifres que valeriam
uma fortuna. Enormes. A probabilidade de seu visitante ser um urso ou um lobo era
pequena. Ele daria uma moeda apenas para vislumbrar uma das panteras negras que
assombravam o rio. Uma vez tinha visto uma em uma árvore, seus olhos dourados
parecendo conter a sabedoria de anos. Austin se recusava a atirar em qualquer uma
daquelas majestosas criaturas a não ser que elas o ameaçassem diretamente.
De repente, os arbustos pareceram explodir e Austin agarrou seu rifle, mas ele
logo riu e relaxou quando o motivo do barulho mostrou ser perus selvagens.
— Com o Natal chegando logo, se eu estivesse a caminho de casa, um de vocês
estaria ferrado. — Ao pensar no feriado, fez o voto de comprar presentes para Jolie e
colocá-los embaixo da árvore.
Relaxando, ele pegou as rédeas do cavalo e continuou guiando-o ao Oeste, sua
mente estava ocupada, fazendo planos para achar uma árvore e decorar para ela.
… Em casa, Jolie não tinha uma manhã pacífica.
— Eu disse pra você deixar aquele gambá em paz, Sandy. — Ela se sentou na
beira do rio, segurando o cachorro pela pele do pescoço enquanto o esfregava com
sabão. — Eca, você fede! Nós dois acabaremos morrendo nessa água gelada. — Os
olhos de Sandy estavam tristes e suas orelhas estavam baixas enquanto aguentava o
banho.
— Quando terminarmos aqui, quero ir até a floresta pegar um pouco de casca
de cornizo, febre-da-febre e outras. Nunca se sabe quando se precisará de algum a. —
Ela tremeu. A ideia de Austin ficar doente a assustou. Ela faria qualquer coisa para
prevenir que ele ficasse doente e sofresse. Austin não mostrou nenhum sinal de
problemas de saúde, mas algo a fazia querer se preparar. — Oh, Vovó, eu preciso de
você. Eu não entendo o que está acontecendo.
Assim que ficou satisfeita por ter feito tudo o que podia para ajudar o cachorro
fedorento, ela o libertou e eles correram rindo enquanto Sandy se chacoalhava tão forte
que suas orelhas faziam barulho.
Secando as mãos na saia, ela estudou as nuvens.
— Eu queria que nevasse. — A perspectiva de celebrar o natal com Austin a fez
sorrir. Não tinha aproveitado o natal desde que seus pais morreram. — O que eu darei
de presente para ele? — A mente dela vagou, tentando pensar em algo que poderia
fazer. Franzido o cenho, se deu conta que não tinha nada de valor para oferecer a ele.
— Eu terei que pensar em algo, — concluiu. E o aniversário dele? — Eu nem sei
quando é o aniversário dele.
Jolie ficou abismada com quão pouco sabia sobre o homem que possuía seu
coração. Não tinha por que reclamar, porém, já que escondera muito dele – por
vergonha e medo. Ela ainda estava impressionada por ele aceitar seu segredo.
Cruzando os braços em volta do corpo, Jolie olhou para sua pele, lembrando do dia
que ela e Charlotte deitaram uma ao lado da outra, com parando a cor de suas peles,
perguntando-se como as pessoas definiram quem era bom e quem era ruim – que tinha
valor e quem não tinha. Charlotte disse que tinha sorte por parecer branca. Jolie não
sabia se aquilo era verdade ou não. De onde uma pessoa vinha, o fato de sua pele ser
clara ou negra, não tinha nada com que tipo de pessoa alguém era por dentro. Bom e
mal, burro ou esperto, gentil ou cruel – nada desses atributos eram pertencentes a uma
raça, crença ou sexo em particular.
— Ai!
Jolie viu um mosquito. Ela percebeu que tinha muito deles, especialmente para
aquela época do ano. Provavelmente por causa da umidade e não do verão que a
região tivera. Austin disse que tinha chovido tanto que a ribeira transbordou quase até
o jardim.
Bem. Ela sabia uma receita que ajudava com a coceira. Procuraria por algum as
plantas. Esmagaria as folhas e usaria o líquido para evitar que as mordidas dos
mosquitos coçassem. Apressando-se em direção à caba, ela entrou para achar uma
cesta perfeita para colocar os tesouros que logo encontraria.
… Várias milhas de distância, Austin manteve o passo constante. Jolie tinha
empacotado para ele carne de veado, bacon frito, biscoitos que tinha feito naquela
manhã. Ele não tinha parado, e com eu enquanto cavalgada, empurrando o biscoito
agora frio com a água do cantil.
Manter a carroça na trilha não exigiu muito esforço, então enquanto Austin
viajava, sua menta vagava. Não conseguia parar de pensar no fato de Jolie ser uma
escrava fugitiva. Oh, ele sabia que as circunstâncias eram especiais. Ela estava presa
entre dois mundos, provavelmente sentindo como se não pertencesse a nenhum. Não
tinha problema, o único mundo ao qual ela precisava pertencer era ao dele e ele tinha
intenção de criar um mundo onde ela se sentisse em casa.
O barulho dos passos de seu cavalo se misturou ao som das rodas da carroça
fizeram com que Austin caísse em um transe. Não conseguia parar de contemplar em
quão rápido a vida tinha mudado. Um dia ele estava só, no outro recebeu um presente
do céu, alguém para amar.
Seu coração doía por causa de tudo aquilo pelo Jolie passara. Austin considerou
como se sentia sobre a escravidão. Tinha sido criado no meio dela. Seu pai tinha uma
plantação de algodão e centenas de escravos. Entre seus amigos, Robert McCoy tinha
uma reputação de ser justo. Dava aos seus escravos condições de vida aceitáveis e não
separava famílias. Não era como os donos de plantações que tratavam suas escravas
como membros de um harém, estuprando-as quando desse vontade.
Se era honesto consigo mesmo, Austin tinha que admitir que nunca pensou
sobre o assunto da escravidão. Ele amava a babá que o criou depois que sua mãe
morreu. As escravas da casa estavam sempre presentes, eram parte de sua vida e ele
mal as notava. Capatazes tomavam conta dos escravos do campo, então Austin e sua
família estavam em uma posição invejável de se beneficiar da escravidão sem ter que
se envolver com a parte feia dela.
Balançando a cabeça, Austin admitiu que seus pensamentos eram
perturbadores. Como a visão sobre algo podia mudar tão rápido. Antes, escravos e
escravidão não eram coisas que ele via com objetividade. Desde que Jolie entrara em
sua vida, tudo parecia diferente. Amá-la mudou tudo.
***
No dia seguinte, enquanto Austin se aproximava de Nacogdoches, ele fez uma
lista mental de todas as coisas que precisava fazer. Ele queria viajar até o escritório
para falar como Alcalde. Aquele era o mesmo escritório de registro do censo. Ao
chegar aos estados de Coahuila Y Texas, ele precisou entregar uma identificação e
provas de sua religião e caráter. Um bilhete do padre de um novo alojamento de
Memphis serviu como referência. Para se tornar um cidadão, ele tinha que ir até as
autoridades e prometer obedecer às leis e praticar a religião católica. Ele tinha
registrado seu nome, sua terra, seu status civil e o lugar de onde tinha vindo. Agora,
ele se perguntou se Jolie tinha que fazer o mesmo ou se ao se casar com ela, ela ficaria
livre daquelas questões. Ele esperava que fosse o segundo.
Seu maior objetivo nessa viagem, porém, era garantir que sua posse sobre a
terra não fosse questionada. Depois de resolver esse assunto, ele poderia cumprir
tarefas mais agradáveis: comprar suprimento e arranjar as coisas para se casar com a
mulher que amava.
Quando mais perto chegava de Nacogdoches, mais pessoas encontrava. Havia
muitos Anglos no alojamento, mas também muitos mexicanos vivendo na área.
Quando ele acampou próximo à casa de passagem na noite anterior, ele encontrou um
homem que estava viajando para o Oeste. Austin tinha o convidado para com partilhar
a fogueira e um copo de café.
Eles não tinham com partilhado muito antes de se tornar óbvio que o homem
não estava no melhor dos humores.
— De onde você é? — Ele perguntou um tanto mal-humorado a Austin.
— Minha casa é ao Sul de Red Mound, umas 10 milhas ao Oeste de Sabine. Bem perto
da ribeira do Palo Gaucho. — Austin explicou pacientemente. — Meu nome é Austin McCoy. E
quanto a você?
— Sou original de Bean Town, Tennesse e. — Ele estendeu a mão. — Meu nome é Ellis
P. Bean.
Austin reconheceu o nome.
— Você é um agente de índios.
Bean soltou um longo suspiro.
— Sim, eu sou. Trabalho ingrato.
— Eu posso imaginar. — Ele não podia, mas queria saber mais. — É sempre difícil
deixar todo mundo a sua volta feliz.
— Diabos, é verdade! — Ele bebeu o café e encarou o fogo. — Eu trabalho para os
mexicanos, mas preciso me dar bem com os índios e os Anglos também. Nenhum deles confia
um no outro e isso me deixa bem no meio.
— Eu ouvi que tem um pouco de tensão no ar. Você ouviu algum a coisa sobre isso? —
Sim, Austin estava pescando, não um peixe, mas informação.
— Ah, sim. Haden Edwards, é ele quem está no topo de tudo. O homem vai até uma
cidade e acha que pode tomar conta dela.
— Eu conheci o Sr. Edwards antes. Ele parece um homem muito ambicioso.
— Agressivo, com um temperado de porto. — Bean secou seu copo e o estendeu pedindo
mais. — Se ele não tomar cuidado, os homens vão começar uma guerra. Quando os mexicanos
deram a ele a terra e disseram que ele podia trazer 800 famílias, o contrato que deram a ele
requeria que Edwards reconhecesse os títulos mexicanos e espanhóis que já existiam na área, e
permitir que o comissário do Estado mexicano certificasse todas as escrituras que ele entregasse.
Ele não está fazendo isso. Está transformando essa terra em uma apropriação de terras,
querendo escolher quem é que fica com a terra, expulsando quem ele não quer. — Bean se
inclinou para frente. — Apesar das minhas afiliações pessoais, se pudéssemos sairíamos do
México, mas passar a perna nas pessoas e começar uma guerra desnecessária não é o jeito certo
de fazer isso.
— Não, não é. — Austin franziu o cenho, as notícias que ouvia não eram nada boas. —
O que as pessoas estão fazendo sobre isso?
Bean riu.
— Bem, até agora só conversando. Aqui não são os Estados Unidos da América, não há
organização por aqui.
— E nossas alianças estão divididas. Você é do Tennesse e, trabalhando para o México,
advogando pelos índios e vivendo em um território que está espalhando um espírito
independente. — Austin sorriu, encarando o fogo. — Eu consigo ver porque se sente desse jeito.
— Não é como se eu corresse do problema. Diabos, tudo o que eu tive foram problemas.
Eu vim para o Texas através da prisão espanhola. Eu estava caçando cavalos com Philip Nolan,
cuidando da minha própria vida, quando as tropas espanholas nos cercaram, mataram Nolan e
me prenderam por quase uma década. Eu não saí até 1810 quando os insurgentes me tiraram da
cadeia em Acapulco. Era para eu lutar com eles, mas eu decidi jogar do lado dos revolucionários
liderados por um padre, Morelos Y Pavon — Bean virou sua cabeça e cuspiu na escuridão. —
Eu fiquei com eles e ganhei a patente de coronel do exército mexicano.
— Por que saiu do México?
— Morelos me mandou procurar por ajuda dos estados. Eu falhei, mas me juntei a
Andy Jackson e lutei na batalha de Nova Orleans. Em 1815, eu fui até o México e descobri que
Morelos estava morto, ele foi executado pelos que são a favor da realeza. Eu quase não escapei
com vida. — Ele riu. — Mas eu achei uma mulher em Vera Cruz… — Ele suspirou. — A bela
Magdalena Falfan de los Godos.
— Então, você é casado? — Austin não conseguiu evitar pensar em seus próprios
planos de casamento.
O homem grisalho se inclinou para frente como se estivesse prestes a contar um grande
segredo: — Eu tenho duas esposas. Quando sai do México, precisei deixar Magdalena para trás.
Mas um homem precisa de uma mulher, então eu conheci e me casei com a bela Candace
Metcalf. — Bean olhou para longe. — Um dia, eu voltarei para Magdalena. — Ele piscou para
Austin. — Mas não conte a Candace, ela acha que é a única.
— Eu não vou. — Austin estava impressionado, perguntando o que duas mulheres
tinham visto naquele homem. — Você se saiu bem passando por tudo o que passou.
Bean deu de ombros.
— Ajuda quando você fala a língua e sabe onde os esqueletos estão enterrados. Os
líderes revolucionários no poder são homens com quem lutei. Claro, eles sabem onde meus
esqueletos estão enterrados também. Por causa de Magdalena, eu não consigo pegar uma
concessão de empresário, mas eles me deixaram ficar com os índios. — Ele riu. — Acho que
peguei a parte ruim do acordo.
— Eu conheci o Chefe Edward Fields, ele disse que lutou com Jack também. Você o
conheceu?
Bean assentiu.
— Sim, é um cara decente. Não tem um pingo de paciência. Pensando assim, ele é tão
mal quando Edwards e o irmão dele.
Querendo voltar ao assunto da disputa de terra, Austin perguntou. — Quantas
concessões Edward fez?
— Trinta e duas até onde eu sei. Até agora, ele só vendeu a terra de um homem para
outro. Mas quem sabe o que acontecerá. As tramoias de Edwards estão colocando os velhos
habitantes contra os novos. — Ele balançou a mão. — Vivemos em uma parte do país volátil. Ao
Leste, depois do rio, está a Terra Neutra. Ao Norte, é o país dos índios, ao Sul é a colônia de F.
Austin e Nacogdoches é cheio de gente leal aos mexicanos. É pólvora no canhão, eu lhe digo.
— Eu estou preocupado. Eu comprei minha terra no sistema antigo.
— Entendo. — Bean assentiu. — Quase um ano atrás, teve uma confusão quando
Samuel Norris e Chichester Chaplin disputaram para Alcalde. Norris tinha ficado no cardo
muito tempo, mas Edwards queria que seu genro, Chaplin, assumisse. Eles fizeram uma votação
e Chaplin ganhou, mas Edwards foi acusado de falsificar os votos. Os mexicanos reverteram à
eleição e colocaram Norris de volta no poder, mas isso não terminou, escute o que lhe digo. O
México declarou que concessão de terra de Edwards é nula e inválida, mas ele está agindo como
se isso nunca tivesse acontecido e o povo está do lado dele.
Austin pegou um graveto e o colocou no fogo.
— Eu me sinto em conflito. Minha aliança não é como México, mas não quero perder
minha terra porque não era parte da concessão de Edwards. Se ele ganhar a disputa, eu talvez
tenha que entregar minha escritura.
— Se for como eu, eles podem tentar, mas morrerei lutando. — Bean grunhiu e Austin
precisou rir. O velho ainda tinha muito força para lutar.
Os dois se deitaram durante o resto da noite e quando Austin se levantou, Bean já tinha
ido.
Com mais informação sobre o problema, Austin desmontou o acampamento e continuou
sua viagem.
Capítulo Sete

De volta à cabana, Jolie acordou cedo. Ela teve problemas para dormir. Por um
lado, ela sentia muita saudade de Austin. A cama parecia enorme e ela se virou na
cama por horas. Finalmente, chamou Sandy e pediu-lhe para subir na cama. Ele tinha
tomado à ideia com alegria, empurrando a cabeça sob o travesseiro e rolando em suas
costas. Jolie riu, sabendo que Sandy provavelmente saltaria para a cama quando Austin
retornasse.
— Nós dois estaremos em apuros, rapaz. Seu pai não aprovará você dormindo
em sua cama. — Não importa, por agora o cão tornou mais fácil para Jolie. Ela o
abraçou e logo caiu no sono.
Seu sono foi logo perturbado.
Um alto grito de gelar o sangue dilacerou o ar.
Jolie saltou e Sandy começou a latir ferozmente. Ela se agarrou ao cão e se
sentou.
— O que foi isso?
Outro grito rasgou a noite. Jolie se levantou e foi até a lareira, tentando reviver
as brasas. Austin normalmente acordaria a noite para manter um pouco de fogo, mas
ela o deixou morrer. Uma vez que tinha uma chama, Jolie se levantou e foi até a janela,
certificando-se de que o obturador foi fechado firmemente. Enquanto ela estava
espiando pela fresta estreita, mais um grito soou –desta vez mais perto.
Mesmo que o ruído a fizesse lembrar-se de uma mulher ou como uma banshe e
poderia parecer, ela sabia que era uma pantera. Uma grande pelo som dela.
— Sandy, temo que estamos em apuros. — Ela sabia que não haveria mais sono
naquela noite, então ela e o cão se amontoaram em frente ao fogo até de manhã.
Quando amanheceu, Jolie não estava em estado de espírito para se aventurar para a
casinha. Em vez disso, ela prontamente utilizou o penico que Austin tinha encontrado
para ela e quando Sandy teve que ir, ela andou com ele e agarrou sua pele, incitando-o
a fazer o seu negócio não muito longe da porta da frente. — Nós faremos como Austin
pediu e ficar perto até que o sol esteja alto no céu. Durante o dia, eu atenderei a
pecuária.
A pantera a deixou nervosa, mas ela estava ainda mais nervosa sobre o que
Austin poderia encontrar em Nacogdoches. Ele seria capaz de assegurar-se de que o
seu pedido não seria desafiado? Seria algum a vez seguro para ela ir para lá? Ela
cruzou os braços em seus seios. Nunca seria capaz de revelar seu passado para mais
ninguém. Esconder sua verdadeira identidade era a única maneira que seria capaz de
preservar sua liberdade. Mesmo que não fosse enviada para Garrett Thomas, na
medida em que o estado de Louisiana estava interessado, ela era uma criminosa, uma
escrava fugitiva. Se as autoridades do Texas descobrissem a verdade, ela seria enviada
de volta? A ideia de ser arrancada dos braços de Austin assustava até a morte. Jolie
estremeceu.
— Depressa para casa, Austin, — ela sussurrou. — Eu preciso de você.
***
Entrando em Nacogdoches, Austin observou a paisagem. Travando seu cavalo
no topo de uma alta colina a leste da cidade, ele inspecionou a área. Era difícil acreditar
que esta pequena com unidade movimentada estava apenas a dois dias de sua cabana
isolada. Houve um forte aqui, até mesmo uma faculdade. A sujeira nas ruas foi
embalada apertada e suavemente. Na frente de algum as lojas, calçamento feito de
madeira Osage foi disposto de modo que as poucas senhoras não iriam arrastar suas
saias na poeira ou na lama. Ele urgiu sua montaria para frente, passando por vagões
puxados por equipes de mulas, e até mesmo o treinador de palco indo para o leste em
direção a Louisiana.
Conforme cruzou La Nana Creek, Austin foi lembrado da lenda de Pai Margil,
uma das primeiras coisas que ele aprendeu depois de se mudar para a área. Desde que
ele veio para o Texas, o tempo úmido havia prevalecido, mas um século atrás, este não
foi o caso.
Uma seca severa tinha atingido a área e culturas estavam morrendo, os índios estavam
deixando a missão e colonos estavam repensando sua decisão de se mudar para o deserto do
Texas. Uma noite, depois de intensa oração sobre a situação, Pai Margil teve uma visão.
Pegando seu cajado, ele andou pelo leito do riacho seco de La Nana até chegar a uma ribanceira
íngreme. Vendo um afloramento de rocha e terra, ele bateu nela com seu cajado como o patriarca
Moisés, e um fluxo vital de água derramou, salvando a aldeia e escrevendo o nome do Pai
Margil nos anais da história.
Tanto quanto Austin sabia, a água da fonte ainda fluía.
Enquanto guiava o cavalo e a carroça descendo a colina e para a cidade, o
cheiro da comida fez seu estômago roncar. Precisando de alimentação, ele parou em
uma pequena loja que vendia tortas de carne. Entrando no estabelecimento, ele foi
saudado por um homem que estava junto à lareira de pedra, deliciosos bolos,
semelhante a empanadas.
— Com fome, estranho?
— Sim, eu gostaria de dois desses, por favor. — Ele estendeu uma moeda em
pagamento. — Eu sou Austin McCoy. Onde você aprendeu a fazer esses?
— Frank Click. — Ele apertou a mão de Austin. — Eu aprendi esta receita com
uma velha em Natchitoches, Louisiana. Já esteve lá?
— Eu passei por ela vindo aqui do Tennesse e.
Quando Austin deu sua primeira mordida, ele levou um momento para
apreciá-la.
— Eu achei estranho como o nome daquela cidade é tão próximo desta,
Natchitoches e Nacogdoches.
— Você sabe por que, não sabe? — Perguntou o homem.
— Não.
— Eu não posso jurar que seja verdade, mas me disseram que um velho chefe
indiano Caddo que viveu ao lado do rio Sabine tinha dois filhos. Um foi nomeado
Nacogdoches e um foi chamado Natchitoches. Ele governou este território todo,
incluindo ambos os lados do rio. Quando seus filhos se tornaram homens, ele queria
dar-lhes um território próprio. Ele deixou instruções que na data da sua morte, seus
dois filhos eram para ser levados para o rio e enviados em direções opostas. Após três
dias de viagem, eles deviam parar e construir uma vila. Os dois territórios seriam longe
o suficiente para terem seus próprios locais de caça, mas perto o suficiente para se unir
contra qualquer inimigo com um.
— Essa é uma história interessante, — Austin concordou. — Ouviu mais algum
conto? — Ele brincou.
O homem apontou para um pedaço de papel pregado na parede.
— Eu acho que você ouviu falar sobre o comedor de homem que temos
vagando pelas florestas.
Austin seguiu o olhar do outro homem. Embora o proprietário estivesse falando
do urso, o sinal era sobre outra coisa. Com o coração na garganta, ele se aproximou. O
documento era um cartaz de procurado, uma re com pensa para a captura de
mulheres. Os nomes eram familiares. Sally, Margarete e Juliette Dumas. Havia um
esboço e uma descrição de cada uma. Vendo o nome de sua Jolie e uma representação
grosseira de seu belo rosto fez bile subir em sua garganta. Seus olhos percorreram as
palavras: Dumas é uma mulata clara com cabelo escuro fino e olhos claros. Marcas de
identificação: uma marca de nascença escura sobre a palma da sua mão direita. Re com
pensa: $50 para o retorno de Sally e Margarete, $150 para retorno de Dumas.
Contate o Nacogdoches Alcalde.
Austin engoliu nervosamente. Garrett queria Jolie de volta e ele pagar caro para
recuperá-la. Ele entendeu. Austin pagaria caro para mantê-la. Passando uma das mãos
preocupada sobre os olhos, ele percebeu que as pessoas procurariam por ela, e se a
encontrassem e identificassem como Juliette Dumas, seria devolvida ao seu legítimo
proprietário.
Legítimo proprietário.
A ideia de alguém possuir a mulher que amava virou seu estômago.
A única pessoa que ela pertencia era ele.
— Essas mulheres escaparam quando o urso com eu o comerciante de escravos,
Coffi. Ele esteve por aqui antes. Um sujeito desagradável, — Frank murmurou.
— Teve notícias sobre qualquer uma destas mulheres? — Ele pensou em
Armand Pierce e sua esposa. O que eles pensariam de Jolie se vissem esse pôster de
procurado?
— Não. Embora eu ouvisse que eles encontraram os restos de uma mulher, o
médico acha que pode ser uma daquelas escravas.
Margarete, pensou, lembrando-se que Jolie disse a ele.
— Tenho certeza que elas estão muito longe agora, eu estaria — ele fingiu
indiferença quando terminou sua refeição. Ele estava prestes a sair quando notou outro
sinal. Indo para lá, ele descobriu que Pierce tinha razão. Haden Edwards estava
chamando cada colono para mostrar sua escritura e apresentá-la no escritório do
Alcalde.
Com uma sensação de mal-estar, Austin disse ao lojista adeus. Desatando seu
cavalo da grade da loja, ele subiu na carroça e estalou a língua, incitando o cavalo pela
rua e virando na esquina para o escritório do Alcalde. Cada assentamento de qualquer
consequência tinha um indivíduo nomeado pelo Governo mexicano para ser seu
contato na com unidade, um juiz, um magistrado, um que lidava com todas as disputas
-sobre terra ou outra coisa. O Alcalde para Nacogdoches era Samuel Norris. Austin não
tinha ideia de quem encontraria atrás da mesa.
Depois de prender o seu cavalo, Austin subiu na calçada de madeira e bateu na
portado Alcalde. Depois de ouvir uma chamada brusca para entrar, ele empurrou a
porta um pouco rangente e entrou para encontrar um homem atormentado olhando
para uma infinidade de papéis espalhados sobre uma mesa.
— Sim, em que posso ajudá-lo?
Austin tirou o chapéu e ficou ali, esperando o homem levantar a cabeça e
encará-lo. Quando o fez, Austin falou.
— Sr. Norris, meu nome é Austin McCoy. Eu vim aqui para ver se pode me dar
qualquer garantia de que a posse da minha terra não será contestada. Eu tenho aqui —
ele removeu a escritura do bolso, — Uma escritura legal mostrando minha com pra do
terreno de um homem chamado Nathan Davis, o Alcalde na com unidade San
Augustine. Eu sei que existe um pouco de controvérsia, e que tenho uma chance de que
a minha propriedade possa estar em risco.
O homem descansou as mãos em cima dos papéis, respirou fundo e respondeu.
— Bem, eu não sou Samuel Norris. Sou Adolphus Simpson, apenas segurando
o forte até que alguém decida que eles sabem o que diabos está acontecendo. Eu
gostaria de poder dizer-lhe que você não tem nada para se preocupar, mas eu não
posso. — Ele ergueu as mãos em desgosto. — Não conte para ninguém, ou eu serei
dispensado, mas esse Haden Edwards é um homem com intenção de arrancar dinheiro
a sua maneira. Ele está falando as coisas certas, querendo independência, mas o que ele
realmente quer é dinheiro e poder.
Austin apertou os lábios. Droga!
— O que posso fazer para me proteger?
Simpson estendeu a mão.
— Deixe-me ver esta escritura.
Austin a entregou, e o cavalheiro mais velho ajeitou seus óculos para que ele
pudesse ler a escrita mais facilmente.
— Parece estar em ordem para mim. Eu farei uma nota dele nos registros.
Embora, um homem já foi expulso da sua terra. Um mexicano, claro. Você tem sorte de
ser branco. — Ele devolveu a escritura. — Norris conseguiu devolver ao homem a sua
terra, mas você vê onde esse ato levou Norris. Ele não está mais aqui.
Mr. Simpson se levantou e foi até um armário, tirando uma pena e inserido as
informações de Austin no livro de registros.
— Você não me disse que posso fazer para garantir que a mesma coisa não
aconteça comigo.
O velho deu de ombros.
— Droga, eu não sei. Essa coisa toda saiu do controle. — Adolphus apontou
para uma cadeira. — Descanse um pouco.
Austin puxou a cadeira da ponta da mesa e sentou-se.
— Como tudo isso começou?
Voltando ao seu lugar, o Sr. Simpson sentou-se e apoiou os pés em uma gaveta
aberta.
— Bem, perto dessa época no ano passado, Edwards recrutou cerca de
cinquenta famílias para emigrar dos estados. Quando os mexicanos lhe deram o seu
contrato de empresariado, ele foi obrigado a organizar uma milícia com posta pelos
residentes. Quando terminou, os membros de sua pequena força elegeram Sepúlveda
como seu líder. Isto irritou Edwards e ele descartou a eleição e colocou-se no lugar de
Sepúlveda. Então Edwards enlouqueceu, pedindo novas eleições. Norris foi nomeado
para Alcalde pelos habitantes da cidade e Edwards nomeou seu genro, Chichester
Chaplin, supostamente para representar os novos imigrantes.
— Eu não preciso adivinhar quem ganhou.
— Não. Chaplin ganhou e as pessoas queixaram-se ao chefe político em Bexar.
Disseram à Bexar que havia algo suspeito sobre a eleição. Bexar anulou a eleição e
colocou Norris de volta ao trabalho, mas Edwards recusou-se a trabalhar com ele.
— O que Edwards fez?
Simpson riu.
— Ele saiu do Texas. Eu não sei se ele estava com medo de repercussões ou se
simplesmente foi recrutar mais colonos dos estados. Ele deixou seu irmão mais novo,
Benjamin, no com ando. Mas o menino não pode abotoar suas próprias calças. Na
época em que Haden retornou, o México revogou sua concessão de terras e disse aos
irmãos Edwards para sair da colônia.
— Quanto dinheiro tem Haden investido em tudo isso? — Quanto mais Austin
ouvia, mais ele percebia o quão sério isto tudo poderia ser.
— Cinquenta mil dólares. Ele está de volta agora, fingindo que nada aconteceu
como México.
— Bem, está tudo muito tranquilo agora? — Ele afagou sua escritura. — Como
você pode ver, eu vivo muito longe para acompanhar os acontecimentos diários.
— A resposta à sua pergunta é sim e não. Aqui na cidade, está tudo bem. Mas
existem alguns rumores. Outro novo colonizador se recusou a comprar uma licença de
comerciante quando ele queria fazer algum à negociação com os índios. Bean, o agente
indiano, entrou e informou-o e o imigrante foi preso. E pouco antes do dia de Ação de
Graças, Martin Parmer e trinta e nove dos novos colonos chegaram à cidade e
prenderam Norris, Sepúlveda e Edwards.
— Edwards? — Austin ficou chocado.
— Todos eles foram acusados de opressão e corrupção. Edwards estava em
liberdade condicional, é claro. Se você me perguntar, eu acho que essa coisa toda foi
ideia dele. Os outros foram considerados culpados em um tribunal ilegal, expulsos de
suas posições e proibidos de concorrer para outro cargo público. E é por isso que estou
aqui, servindo como Alcalde temporário.
— O que eles esperavam ganhar com tudo isso? — Austin estava confuso.
Inclinando-se para frente, Simpson sussurrou:— Parmer matou um homem
algum as semanas antes. Norris estava prestes a puni-lo. Com Norris fora, não haverá
acusações de assassinato.
— A menos que você o puna, em vez disso.
Simpson levantou as mãos.
— Eu não. Posso estar velho, mas eu não sou um velho tolo. Esses encargos
podem esperar até que haja algum a estabilidade. Nos últimos meses, Edwards está
falando sobre uma revolta. Ele está trazendo os índios para o lado dele.
— Sim, eu soube disso. Chefe Campos apareceu para me ver no outro dia,
querendo trocar um pouco de carne.
— Bem, este é um grande comércio. Edwards ofereceu-lhes um título claro para
o resto do Texas ao norte de Nacogdoches em troca de apoio armado pelos seus
esforços.
— Droga. Ellis Bean me disse que estamos sentados em um barril de pólvora;
eu acho que ele está certo.
— O barril está ficando mais perto de explodir do que você imagina. — Pelo
olhar inquisitivo de Austin, Simpson explicou. — Cerca de cinco dias atrás, os irmãos
Edwards invadiram Nacogdoches com trinta colonos e tomaram o velho Forte de
Pedra.
— Então, isso é guerra? — Austin não podia acreditar no que ouvia. Ele tinha
parado neste escritório para obter informações e descobriu muito mais do que queria
saber. — Por que ninguém na cidade está falando sobre isso? — Ele pensou no homem
na loja de tortas.
Simpson parecia triste.
— Eles vão continuar com suas vidas. Se este assunto não está acontecendo na
frente de seus olhos, para eles isso não está acontecendo. Ninguém está sendo morto,
não há luta real, e as pessoas aqui na cidade não são grandes proprietários de terra.
Suas casas não estão em perigo. Edwards faz negócios com eles e eles realmente não
veem o que ele está fazendo com as pessoas no campo. Além disso, ele é uma figura
extravagante. Ele é rico e ele é alto. Você já ouviu falar que ele está tentando renomear
esta parte do Texas? Ele está chamando de Fredonia, República Fredonia. — Simpson
riu novamente. — O inferno, se não fosse tão sério, seria engraçado. Se você tiver uma
chance, passeie pelo Forte, ele colocou uma nova bandeira, com uma listra branca e
uma vermelha, e ele está se gabando sobre como tem todos os índios do seu lado, vinte
e três tribos. Ouvi dizer que enviou um emissário para a Louisiana para conseguir
ajuda dos estados e um para o sul para pedir ajuda da colônia de Stephen F. Austin.
— Você acha que ele conseguirá? — Austin tentava digerir tudo o que ele tinha
ouvido. — Isso soa como se pudesse acabar em um banho de sangue para mim, se
todas essas forças convergirem para lutar.
— Espero que não, mas estou de olho nas coisas. — Ele esfregou sua barriga
bastante côncava. — Bem, está chegando perto do meu horário de almoçar. Há mais
algum a coisa que eu possa ajudá-lo?
Austin começou a dizer que não, foi fácil conversar com Adolphus Simpson.
Com todas essas notícias, alguns diriam que este não era o momento de se preocupar
com casamento, mas para Austin, uma vida com Jolie era mais importante do que sua
terra ou que bandeira estava voando sobre a cidade.
— Sim, eu preciso de mais um pouco de informação. Eu estou querendo me
casar. Temos um homem de Deus na missão que poderia realizar a cerimônia?
— Casar? — Ele riu. — Não diga! Bem, parabéns. — Ele sorriu, então franziu a
testa. — Bem, desejo-lhe bem. Casar-se com minha esposa não foi a melhor decisão que
eu já tomei. Ela é a mulher mais irritante que eu já vi.
— Sobre o padre…?
Simpson acenou com a mão.
— Eu não sei. De Leon deveria vir e verificar o local, para ver se ele queria nos
assumir. Ele ainda pode estar aqui ou não pode, os Padres não informam o seu
paradeiro comigo.
Austin estava prestes a sair.
— Mas… se você quiser, você pode se registrar e lhe concederei um contrato de
casamento. — Ele deu a Austin uma piscadela. — Dessa forma, você pode começar a
lua de mel e apenas deixar o Frade fazer os movimentos em cima de você. — Ele fez
uma flexão de joelhos no ar.
Apesar da crueza do homem, Austin podia ver a sabedoria.
— Ela não precisa estar aqui?
— Não. O marido é o chefe da família. Certo? Basta assinar ambos os seus
nomes neste livro. — Ele voltou para o armário e pegou outro livro de couro
encadernado de tamanho grande. — Coloque o nome completo da pequena dama e de
onde ela vem. Da próxima vez que eu passar pelas suas terras, pararei para conhecê-la.
E então pegaremos a assinatura dela. — Ele bateu nas costas de Austin. — Se eu ainda
for Alcalde, nunca se sabe hoje em dia.
Austin estava prestes a fazer o que ele disse quando seus olhos se fixaram em
outro dos cartazes de "Procurado" pregados a uma parede adjacente. Um calafrio
percorreu sua espinha. Ele não podia fazê-lo. Era muito arriscado.
— Bem, ela deseja de coração se casar na igreja. — Ele recuou. — Suponho que
seja melhor eu esperar.
Simpson riu.
— Bem, eu vejo quem poderia estar vestindo as calças em sua família.
Austin não riu. A piada não o incomodava, mas todo o resto junto azedou seu
estômago.
— Tudo bem, Sr. McCoy. — Simpson pegou o chapéu. — Eu acho que a minha
última palavra de conselho para você seria a de manter a sua arma carregada e estar
pronto para lutar pelo que é seu. Vá até as pessoas que você confia mais e fale com elas,
tenha um plano para contatar uns aos outros em caso de necessidade. Os ventos da
guerra estão soprando; um espírito de revolução está em ascensão. Eu tenho muito
medo que pessoas inocentes sejam pegas nisso, sejam forçadas a tomar partido apenas
para proteger o que eles consideram deles.
Proteger o que eles consideram deles.
Austin ouviu suas palavras e pensou na situação de Jolie, ele sabia que existia
uma chance de alguém descobrir a verdade e querer machucá-la. Ele jurou naquele
momento protegê-la de qualquer maneira necessária.
Não ficou satisfeito com as informações que recebeu, ele saiu. Antes de partir
para casa, seguiria o conselho de Adolphus Simpson e falaria como homem em quem
mais confiava.
***
Jolie estava deitada de costas na grama, fazendo cócegas em seu próprio nariz
com um dente-de-leão. Sandy estava roncando ao lado dela. Ela já estava cansada e o
dia estava apenas pela metade. Alimentar o gado foi divertido, mas ela caiu duas vezes
tentando arrastar os grandes pacotes de capim seco para as canetas. Para complicar as
coisas, quando ela abriu o portão para alimentar os porcos, um dos menores escapou.
— Volte aqui, seu patife escorregadio!
Ela tinha partido atrás do pequeno animal como uma louca, agitando os braços
e gritando. O porco pensou que o diabo estava atrás dele e correu desenfreado em
direção ao riacho gritando no topo de seus pulmões. Ela o perseguiu até a água, tentou
agarrar o leitão rosa aterrorizado e perdeu. Quando desviou para a direita, ela não fez.
Em vez disso, ela mergulhou de cabeça na água. Ao sair das águas frias, ofegante, ela
teve que rir em voz alta para ver que o porco tinha parado e a olhava com a boca
aberta. Jolie sabia que provavelmente estava ofegando para respirar, mas para ela
parecia como se estivesse rindo de sua situação.
Quando estava de volta à terra firme, não demorou muito até que ela
percebesse que um ataque em grande escala não funcionaria, então decidiu dar uma
espiada nele. Fingindo ignorar o porco, ela se moveu em ângulo –sem olhar para ele –e
assobiando uma musiquinha. Para seu alívio, o amiguinho parou para procurar uma
semente… e quando o fez – ela atacou!
Squee! Squee!
— Peguei você! — Segurando-o com ambos os braços apertados ao redor de sua
forma ondulada, ela andou de volta para o chiqueiro. — Você me levou em uma
perseguição alegre, Mr. Pig. — No momento em que ela colocou o pequeno filhote de
volta à segurança, ela tinha mais lama em si mesma do que qualquer um dos porcos
assistindo o espetáculo.
Soltando um suspiro, ela caiu no chão.
E agora, ela estava quase meio adormecida, secando no calor do sol de inverno.
Woof!
Com um sobressalto, Jolie abriu os olhos para ver o que tinha perturbado
Sandy. Um barulho à sua direita fez com que ela sacudisse a cabeça nessa direção. Para
sua surpresa, ela viu dois pés cobertos de mocassim parados bem na frente do seu
nariz. Pulando para cima, ela cobriu a boca para não gritar. Uma mulher indígena
estava ao lado dela, seu rosto uma máscara solene.
— Olá. — Jolie perguntou em voz trêmula. — O que você quer? — Sandy latiu e
rosnou. Jolie falou com ele gentil e reconfortante. — Está tudo bem, garoto. — Ela não
queria que machucassem o cão por tentar protegê-la.
A mulher régia, vestida de modo muito parecido com Jolie, acenou para ela.
— Eu sou Ama. Minha aldeia é um dia e meio de viagem. Somos Cherokee. —
Ela apontou para o norte. — Viemos para a água para recolher folhas e gramíneas.
Uma doença chegou a minha aldeia, uma grande febre. As pessoas estão morrendo.
Nós vimos você cavar raízes e escolher plantas que nós não compreendemos. — Ela
apontou para a floresta e Jolie viu duas ou três outras mulheres ali de pé. Um homem
as acompanhava, ela podia ver que ele tinha um arco.
— Você não está sozinha. — Jolie não podia deixar de tremer, sabendo que ela
estava severamente em desvantagem.
— Não, uma daquelas comigo é a nossa curandeira. Ela não fala a sua língua,
mas ela sonhou com você ontem à noite. Inola disse que você é uma mulher poderosa
em medicina também. Ela diz que você pode nos ajudar.
— Eu não sou poderosa. — Jolie sentiu-se fraca de medo.
— Inola diz que você é. Por favor, ajude. Estamos morrendo. — Ela encontrou o
olhar de Jolie com os olhos tristes. — Meu irmão está doente. Eu imploro que nos
ajude.
A tristeza e medo na voz da mulher tocou o coração de Jolie. Como ela ficaria
arrasada se Austin estivesse doente.
— Eu a ajudarei se eu puder. Posso reunir minhas coisas e segui-la para a sua
aldeia. Eu tenho que estar de volta em breve, no entanto. Meu… homem… ele se
preocupará.
Ama sacudiu a cabeça.
— Não há necessidade. Desde que deixamos a nossa aldeia, Tsula — ela
apontou para os outros de novo. — Apequena, ela ficou doente. Se você pudesse olhá-
la, tratá-la, ver se o seu medicamento ajudaria. Poderíamos reunir mais raízes e folhas
para tratar todos os outros, se o que você fizer ajudá-la.
Jolie não sabia o que eles fariam, se o que ela fizesse pela menina não ajudasse.
Mas que escolha tinha?
Jolie não sabia se Austin aprovaria ou não, ela sentiu que ele provavelmente o
faria. De qualquer maneira, ela não podia dizer não.
— Traga-a para mim. — Ela estendeu a mão. — Vamos entrar para a cabana
onde minhas raízes e ervas estão localizadas.
Elas esperaram até que os outros as alcançassem. Quando as mulheres e o
guerreiro se aproximaram, Jolie viu que o mais jovem parecia doente. Seus olhos
estavam afundados e sua pele estava pálida, com um tom ictérico.
— Oh, não — Jolie sussurrou. Ela esperava que ela estivesse errada, mas temia
que isso fosse uma doença da qual sua avó a alertara.
Febre amarela.
Eles se apressaram para a cabana e Jolie pediu a menina para deitar-sena cama.
Ela sentiu a pele dela e estava, de fato, muito quente. Ela olhou nos olhos de Tsula e
viu os brancos não eram mais brancos, eram amarelos.
— Ela tem vomitado?
— Sim, mas não há mais nada em seu estômago.
Jolie falou com Tsula.
— Sua cabeça dói?
A menina olhou para Ama em confusão. Ama falou com ela em Cherokee.
Tsula respondeu com uma voz fraca baixa.
— Sim, ela diz que muitos búfalos estão trovejando em sua cabeça.
Jolie sorriu tristemente.
— Eu sinto muito.
Ela foi para um armário alto, onde Austin mantinha suas roupas e tirou uma
caixa de madeira. Por dentro, ela tirou algum as ervas e folhas: feverwort, dogwood, casca
de salgueiro e as sementes das flores amarelas com centros pretos que cresciam
profusamente nos bosques circundantes. Indo para o barril de água, encheu uma
caneca e voltou a Ama.
— Consiga que ela beba isso enquanto eu aqueço um pouco de água para fazer
um chá.
Ama fez o que ela pediu, os outros ficaram parados, imóveis e focados em cada
movimento dela. Quando a água estava quente, Jolie polvilhou algum as das ervas na
água, misturando-as até que a cor mudou de clara para amarelo pálido. Caminhando,
ela ofereceu à garota para beber. Dirigindo-se a Ama e Inola, ela falou. — Vou enviar
mais dessas ervas com vocês.
Depois de explicar a Ama quais ervas eram, ela apresentou a caixa para Inola.
— Você terá que recolher mais. Quem você tratar, faça beber uma grande
quantidade de água antes e depois. Vou fazer a minha parte aqui, acenderei uma vela
para ela e os outros, orando aos meus deuses pela cura. Você reza para o seu. Isso é
febre amarela e é uma doença difícil de com bater.
Ama virou-se e falou com os outros em sua própria língua, em seguida,
enfrentou Jolie.
— Veremos você rezar.
Jolie não sabia o que fazer, esta era uma das coisas que a avó tinha avisado.
Nossos caminhos não são compreendidos. Guarde cuidadosamente nossos segredos.
Um gemido de Tsula a fez decidir.
— Muito bem.
Ela acendeu uma vela, em seguida, levou-a ao lado da cama. Puxando uma
cadeira para perto de Tsula, Jolie colocou uma das mãos em seu pequeno corpo e
começou a rezar. Tal como os outros que praticavam sua religião, eles tinham
aprendido a mascarar seus deuses misturando suas identidades com os santos
católicos. Com a mão livre, ela passou a vela acesa em padrões sobre o corpo de Tsula.
Os olhos ictéricos da menina se arregalaram de medo. Jolie deu um sorriso
tranquilizador.
— Dê-me mais água, por favor. E um pano.
Ama encheu a caneca e trouxe um pano para Jolie. Ela derramou uma oferta no
chão, uma oferenda a Legba ou São Pedro, como era chamado. Em seguida, ela pingou
algum as gotas de água na testa de Tsula, o peito e, em seguida, seus pés. Colocado a
caneca chão, pegou a vela e abanou a chama, fazendo-a brilhar. Com movimentos
lentos, ela moveu a vela em todo o corpo da menina, deixando a cera pingar em sua
pele. A menina vaiou, nervosa, mas ilesa. Continuando sua oração, ela teceu as
escrituras cristãs com apelos para os seus deuses, pedindo que a febre se dissipasse,
para que a cura viesse.
Jolie continuou repetindo o processo, depois, pegando o pano e encharcando o
resto de água. Gentilmente, ela deu um banho no rosto de Tsula, concentrando toda a
intenção que conseguiu reunir em uma demanda aos deuses que a menina fosse
curada.
Todo o tempo, os outros índios permaneciam solenemente e observavam. O
guerreiro ficou ao lado da porta, como se guardando o processo. Inola observava tudo
com cuidado, como se estivesse absorvendo o conhecimento para uso posterior.
Finalmente, a vela queimou e Jolie tinha feito tudo o que podia.
— Leve-a para casa. Dê-lhe mais água e ervas em poucas horas, continue
banhando-a com água e ore a seus deuses.
— Obrigada… — Ela fez uma pausa, sem saber como chamar Jolie.
— Jolie, meu nome é Jolie.
— Obrigada, Jolie. — Ama lhe deu uma pequena reverência. — Você é nossa
amiga. — Ela apontou para o homem. Avançando, ele pegou a menina pequena e todas
as mulheres saíram atrás dele, levando a caixa de medicamentos que Jolie tinha
reunido.
Quando foram embora, ela caiu no chão perto da porta. Sandy veio sentar-se ao
lado dela. Colocando o braço em volta dele, ela puxou o cão perto.
— Espero ter ajudado a menina. — Ela não tinha ideia se seus remédios e
orações iriam funcionar, ela esperava que sim. Esta foi à primeira oportunidade que ela
teve de colocar os ensinamentos da Avó em prática.
Olhando pela fresta da janela, ela viu que o sol estava se pondo.
— É melhor nos levantarmos e terminar nossas tarefas, a noite cairá em breve.
Sua mente voou para Austin. Ela esperava que ele estivesse bem.
— Ele estará em casa logo, só temos de ser pacientes — disse ao cão que olhava
para ela, tentando entender o que ela dizia. — Eu sinto muita falta dele. —
Pensamentos sobre ele levaram as preocupações decorrentes sobre a sua situação. Ter
que confessar a verdade para Austin fora difícil. Seu apoio fora uma bênção incrível,
mas ela se preocupava que o tempo e a distância trariam segundos pensamentos para
sua mente. Será que ele se arrependeria de amá-la? E se alguém viesse atrás dela?
Colocar Austin em perigo era algo que ela se recusava a fazer.
Capítulo Oito

— Vou levar três metros daquele tecido de algodão verde que eu vi ali. —
Austin sorriu, pensando o quão bonita Jolie ficaria em um vestido feito com aquele
tecido. Ele não tinha dúvidas de que ela soubesse costurar, ela parecia adepta a tudo o
que uma jovem deve saber fazer.
— Tudo bem, Sr. McCoy. O que mais posso fazer por você? — Perguntou Frost
Thorn, anotando os preços num bloco para serem adicionados ao total da encomenda.
— Você tem algum couro ou mel para mim?
Austin verificou todos os artigos que ele tinha pedido. Ele também tinha
escolhido um vestido já feito, que parecia ser grande de mais para Jolie, mas que ela
seria capaz de alterar. Já fora feita uma encomenda com mais alguns artigos, mas como
eles teriam que ser enviados do leste, demorariam um mês ou mais antes de eles serem
entregues.
— Não, mas eu tenho dinheiro. — Estalando os dedos, ele fez outro pedido. —
Sapatos. Eu gostaria de dois pares de sapatos. — Como ele poderia esquecer? Ele
separa as palmas de suas mãos por alguns centímetros para demonstrar. — O pé dela é
mais ou menos desse tamanho. Eu preciso de botas quentes e algo mais… feminino.
— Tudo bem. Parece ser um tamanho trinta e quatro. — Frost pôs um par de
botas sobre o balcão. — Nós teremos que pedir os outros.
— Oh, e fita. Eu preciso de fita, perfume e…
Thorn levantou a mão.
— Eu tenho selas, pólvora, e uísque. Nenhuma fita, e nenhum perfume.
Austin pareceu ficar desapontado e Thorn riu.
— Austin, a curiosidade pode matar o gato, mas para quem você está
comprando todos esses artigos femininos?
— Sim, Sr. McCoy, diga-nos. — A nova mulher de Thorn, Susan, apareceu se
movendo ao lado deles.
Austin pensou no que dizer. Obviamente, ele teria que dizer alguma coisa.
Esses artigos de vestuário feminino certamente não eram para ele.
— Eu tenho uma noiva, senhora Frost. Vamos nos casar.
— Parabéns! — Susan exclamou, batendo palmas. — Estamos tão felizes por
você.
Outramulherseaproximou, umaque ele não reconheceu. Ela também
pareciacuriosa, ouvindocadapalavraqueAustin dizia.
— Estamosfelizes. Estoupensandoemaumentaracabana, ter mais espaço.
— Bem, nósteremosqueirláparaconhecê-la. NãoachaMartha? — Elavirou-separa
aoutramulher, queconcordouprontamente.
Austin não sabia com oissofuncionaria, masosThorneramricos. Frosteradonoda
suaprópriacarruagem. Elespossivelmentefaziamviagensdeida evoltapara oleste com
bastantefrequência. Viajarpara o seuremotolugarnobosquedeviaserfácilpara eles.
Embora eletivessedinheiro, desperdiçá-loem umaviagemdediligênciapareciaidiota.
— Vocêseriamuitobem-vinda, SraThorn. — Eleincluiuaoutrasenhora com
umacenodecabeça.
Assimque ele pagouascoisas, Austin reuniuassuas com prasearrumou-
asnacarroça. EletevequefazerduasviagenseThornajudou-o com
osgrandessacosdefarinha, açúcar, cereaisecafé. Austin estavasatisfeito com
osmantimentos;ele não teriaque sereabastecerporalgum tempo. Depoisque ele
tinhatudocarregado, elesubiunoassentoetomouasrédeas. Umacoisasedestacouem
suamente. Frost não tinhaditoumapalavrasobreEdwardsouarebelião,
oquefoiumpoucoestranho, consideran do que a sua esposa erafilhadeEdwards. Talvez,
como ele eraumhomemdenegócios, não tinha
aintençãodeofenderqualquerumdoslados.
— Oh, bem, eutenho outropeixepara apanhar. — Sacudindoasrédeas,
eledisseaseucavalo — Maisrápido.
Com mais duasparadaspara fazer, Austin estava ansiosopara começara
suaviagemparacasa. Enquantosedirigiaparaforadacidadepara olocalda
antigamissãoespanhola, eletevequepassarporStoneFort. Chamaraconstruçãodeumforte
eraumequívoco, elaforaoriginalmentearesidênciaprivadadeAntonioGilY'barbo,
umdoshomensquefundouacolónia. Construídadepedranativademinériodeferro,
oedifícioserviudetudo, desdeumaprisãoimprovisada
atéaoescritóriodoprimeirojornalnoTexas, GacetadeTejas. Para não haverdúvidas, com
oSimpsonhaviadito, umabandeiravermelha ebrancavoavanummastrodepinho,
descascado. AspalavrasIndependência, Liberdade
eJustiçaforamimpressasemletrasgrandes. Chegando mais perto,
elepodiaverasassinaturasescritasporbaixodaspalavras, assinaturasdepessoas com
oHadenEdwards, MartinParmereChiefRichardKulaFields.
— Vocêtemnegóciosaqui, senhor?
Avoz, vindadecimadele, assustouAustin umpouco. Elelevantoua
cabeçaparaverumsentinela armadodepénosegundoandardoedifício.
— Sópassando, indopara amissão — elelevantouamãoecontinuou.
Aúltimacoisaque ele queriafazerera antagonizarumhomem com uma arma quando ele
não tinharazãoparaisso.
A distânciapara amissão não eramuitogrande, mas ele
tevequepassarporumaparteondeafloresta era mais densa. Aluzsolarquesefiltrava
atravésdasárvoresofezlembrardoúltimovislumbrequetiveradeJolie, depénavaranda,
parecendoumanjopara ele. Aoaproximar-sedo seudestino, eleseperguntouoque
encontraria. Sabiaquehaveria pessoaslá, tanto oshomensdoclero, com
oaquelesquevinham, querparaservirosoutrosoupara ajudara elesmesmos. Amissão não
sóofereciainstruçãoeliderançareligiosa, ela também ofereciaum lugar ondese ensinava
artesanatoeo comérciopara osíndiosepara osoutros. Ossacerdotes também
cultivavamalimentosnosjardinsepomaresparaquemprecisavadeumadasmãosamiga.
PeloqueAustin haviaouvidofalar, ascoisasnamissão não estavamtãoativas com
onopassado, equeissoeradevidoàausênciadeumlíder. SeodeLeonaceitasseaposição,
ascircunstanciaspoderiammudar.
Mesmoantes deavistarosmurosquecercavamamissão, Austin ouviuvozes.
Vozesaltas. Asvozesdascriançaserisosinfantis.
— Jogueacorda mais alto, PadreMiguel!
Ele não podiaimaginaroqueacontecia. AssimqueAustin viroua esquina,
eleviudoismongesfranciscanosem
suaslongasvestescercadosporumameiadúziadecriancas.
Umoudoisdosjovenserambrancos, orestoeramíndios,
todoselestinhamenormessorrisosem seusrostosenquantoeles observavam os
doispadresdecorarem umaárvore com cerca de2metrosdealtura com
fiosdepipocasepequenasfigurasdemadeira.
Austin não poderiadeixardesorrir, "uma árvore de Natal" ele sussurrou.
Assimquechegasse emcasa, elepretendiacortarumaparaJolie. Uma das coisasque ele
tinhatrazidodoTennesse efoiumacaixade enfeitesquea suamãetinha com pradopara
elequandoainda eraummenino.
— Padre? — Ele chamou eosdoishomensseviraramparavê-lo.
Ohomem mais velholevantouamãoemsaudação.
— Bem-vindo! — Eledissealgopara ascriançasepara o outropadre,
quepassouosenfeitesaumpequenorapazquetomouo seulugaraoredordaárvore.
Austin desceuda suacarroçaparairencontrá-los.
— EusouAustin McCoy. EuvenhodepertodeRedMound.
— Ah, pertodeMissionDolores. Euireiparaláembreve. — Opadre estendeuamão.
— EusouoPadreJosée esteéoPadreMiguel — eindicouohomem mais jovem com
cabelopretobrilhante eolhosnegros com ocarvão.
— Prazeremconhecê-los. — Austin balançouambasasmãos. —
Vocêsvãosemudarpara aquipermanentemente?
PadredeLeonbalançoua cabeça.
— Nãotãocedo. Meutrabalho não acabouemRefugio. Noentanto,
estareisupervisionando oPadreMiguel, queveiopara ajudaressaspessoas. —
Eleabriuasmãoseindicouosantuárioeasoutrasconstruções.
— Ébomsaber, Padre. — Eletirouo chapéueosegurouem suas mãos. —
Eupossoimaginarquehámuitotrabalhoaserfeitoaqui.
— Caminhe com agente. — PadredeLeonjuntouasmãosatrásdascostase
começouacaminhar. Austin eoPadreMigueloseguiram. —
Aeradosfranciscanosestáchegandoaofim. AlgunsnoMéxicoestãodefenden do que
devemosentregara suamanutençãopara oshabitantes. — Eleriu com ironia
esorriutristementepara austin. — Odinheiroésempreumfator.
Asmissõessãoumpesonabolsadogoverno. Nósfomosnoinícioencarregadosdepacificar,
bem com odeconverterosíndios. Oquenósidealizávamoserachegarem um lugar ,
reunirosnativosreceptivosemtornodamissãoe ensinar-lhesafécristãeumaprofissão.
— Eutenhocertezaqueaspessoas não queremqueissomude. — Austin
poderiadizer que o Frade mais velhotinha arrependimentos.
— Parecequeaspessoas não precisamdeDeustantoquantoantes —
elemurmuroutristemente. Eleacenou com amãonoar. — Como você podever,
temosacapela, ahabitaçãopara ossacerdoteseparaquemprecisarestaraqui, lojas e salas de
aula. Eparamantertudo, énecessáriomuitotrabalho. — Ele começoua
apontaredifíciosespecíficos. — Aliéalojadoferreiro, aliéofornoeatrásde você
háumceleiro. Foradopequenomuroháumcemitério, umjardimeumpomar.
Amaioriadasmissõestêmumamuralha eumfortepara a suaproteção. Nestemomento,
oforteabaixoda estrada estásendomalutilizado.
Austin levantouassobrancelhas. Aparentemente, opadre não
tinhaintençãodepermanecerneutrono seudesacordo.
— Hoje euouvimuitosobreoproblema.
Comumgrandesuspiro, PadredeLeonbalançoua cabeça.
— Nósesperávamos que o síndiosfossemconvertidos, treinados,
esetornariamprodutivoscidadãosespanhóis. Seissotivesseacontecido,
asmissõespoderiamsersecularizadaseapoiadaspela com unidade. Missionários, com
oeueMiguel, poderíamospassarpara outrodesafio.
PadreMiguelencontrouo olhardeAustin edeu-lheum olhar com
ummeiosorrisoeumasobrancelhalevantada. Austin escondeu umsorriso. Opadre mais
jovemjátinhaouvidoessediscursoantes. Elemanteve-se emsilêncio, esperan do que
PadredeLeonacabasse com assuasreflexões. Finalmente, elelevantoua cabeça esoltou
umsuspiroprofundo.
— Bem, oquepodemosfazer por você, meu filho?
Austin pediuaDeusque estivessefazendoacoisacerta.
— Euprecisofalar com vocêsobreumassuntoparticular, umemque eu preciso
teracertezadeseusigilo.
— Claro. Deseja que o Miguelsaia?
OPadreMiguelparou, esperandoparaverse ele eradispensado.
— Não — Austin encontrouo olhardopadreMiguel. —
SeforopadreMiguelquemficará aqui. Elepodeseroúnicoameajudar.
Caminharam mais entreospinheiros.
— Tudo oque você nosdigapermaneceráemsegredo.
Austin acenou com a cabeça.
— Euconheciumamulher.
Orostoenrugadodopadreseabriunumsorriso.
— Maravilhoso!
— Ésim.
— Conte-nossobre essa mulher. — Padre de Leon pediu.
Baixandoavoz, ele começou a falar.
— Apoucassemanasatrás, euouvialgodoladodeforada minhacasa. Quandoeufui
investigar, descobriumabelamulherescondidanobarracãodasferramentas. Ela estava
com fome, fraca eindefesa. Eualeveiparadentroecuideidela. — Eleparoudefalar,
esepôsdecócoras, pegando um pedaço de palha depinhoparasegurarentreos dedos. —
Elaébonita. Edoce. Nãodemoreimuitotempoparaficar completamenteapaixonado.
Agora, os meus dias não são mais solitários, elesestãocheiosderiso.
— Parece que ela foiumpresentedeDeus. — PadreMigueldissesuavemente.
— Sim, Padre, ela é. — Elelimpouagarganta. — Há apenas umproblema.
Ambosesperaramemsilêncioque ele continuasse.
— Ela não mecontouimediatamente. — Austin jogouapalhanochão. —
Elaprovavelmente não teria admitidoqualquercoisase eu não tivesse encontrado
osseuspapéis.
— Quepapéis? — PerguntouoPadreMiguel.
— Ela estava com medo — Austin disseàguisade explicação.
— Medodequê? — OPadre mais velhopressionou.
Asuarespostapareceuficarpresa em suagarganta. Austin fechouosolhos,
conscientedamordida afiadadoventonortenorosto.
— Algum de vocês ouviufalarsobreo comerciante de escravos, Coffi,
quefoiatacadoporumursoenquantoviajavapertodaqui?
— Sim, osescravosfugiram. — PadredeLeonconfirmouo seuconhecimento.
— Sim. — Austin selevantou, tirando o seu chapéu da cabeça ebatendo-ocontra
a suaperna. — Eucresci com a escravidão. Quanto mais velhofico, mais eusinto com
oéerrado.
— Aescravidãoéerrada. — PadreMigueldisse, semhesitação. — Deusamatoda a
sua criação.
Baixandoavozparaumsussurroaflito, eleconfiouemambos.
— Jolie foiumadaquelesescravos. — Austin explicouopassadodeJolie,
contandoaosPadres com oelatinhaperdidosuafamília eacabouna escravidão. —
Anotadevenda que ela tinha em suapossediz que ela épropriedadedeThomasGarrett,
pertodoNechesSaline.
PadredeLeoncruzouosbraçossobreopeitoeinclinoua cabeça.
— E você pretendemanterJolie efazê-la sua esposa.
— Isso,
— Achoissomuitoadmirável, mas você estátrilhandoumalinhafina eperigosa.
Vocêestará abrigandoumafugitiva. — AvozdoPadreficouafiada.
— Eu sei e não meimporto. Eua amo. —
EleolhoudiretamentenosolhosdePadredeLeon. — Euaprotegerei com
omeuúltimosuspiro. Nãoestoubuscandoa sua permissão para fazerisso, sinto que o
Senhorfaria amesmacoisa. Nãoabandonaria aquelacoisinhafrágilàescravidão também.
— Apesarde não pretenderconheceramentedoSenhor, meufilho, achoque você
estácerto. — PadredeLeonbateuAustin no ombro. — Nãoachoque você
veioaquiparapedira minhapermissãoparasalvaravidadestamulher. Entãoporque,
exatamente, você veio?
— Nósqueremosnoscasar.
Ovelhofradedeixouescaparumlongosuspiro.
— Lamentodesapontá-lo, mas não possorealizaracerimônia.
Emborahajamuitoaserditosobrea escravidãonossalõesgovernamentaisdoMéxico,
hádiscordância aqui com StephenF. Austin eoutrosEmpresarios. Houveumtempoem
que o sescravoseramlibertados, se elesprocurassemrefúgionoTexas,
masagoraosdonosde escravospodemviraquipararecapturara sua propriedade.
Comotudoissoacabará, eu não sei. Oque eu sei éque eu não possocasar você. Aigreja
não permitiráisso;aunião não serialegaloureconhecidapelaigrejaoupelogoverno.
Austin ofitou com espanto.
— Aqui não éosEstadosUnidos, aqui não éLouisiana, esteéodesertodoTexas.
— Asleisdaigreja não reconhecemfronteiras. Eusintomuitíssimo. Isto não
érealmentesobrea escravidão, Sr. McCoy. Aquestãoéacorda suapele.
Depois que o PadredeLeonterminoudefalar, Austin sesentiuderrotado.
Eleseviroue começouacaminhardevoltapara a sua carroça.
— Sr. McCoy. Sr. McCoy. — PadreMiguelveiocorrendoem suadireção.
Austin paroue esperou que o homemdepele mais escuraoalcançasse.
— Oquefoi, PadreMiguel?
— Eu não seioque você pretendefazer, mas eugostariade encorajá-loaseguiro
seucoração.
— Oque você querdizer? — Austin estavaconfuso.
— Deus não vêcor.
Adeclaração ousadadopadrepegouAustin desurpresa.
— Oque você estádizendo, padre?
— Aspessoassecasavamedavam-se emcasamentodesdea antiguidade.
Hámuitasmaneirasemquepodemosmostraranossadevoçãoe com promissopara como
outro. — Pareciaque ele queriadizer mais, masachegadalentadePadredeLeonimpediu-
odecontinuar. — Desejo-lheumaviagemsegura.
Austin deixouamissão, inquietoeinfeliz. Problemaseconfusãoparecia
estaremtodasasmãos. Oúnicopontobrilhante emseumundoeraJolie,
easleiseospreconceitosdohomempareciamterintençãodemantê-losseparados. Virando
ocavaloem umanovadireção, eledeixoua sua última parada para procuraro seuamigo,
JoséAntoniodeChireno, umhomemque tinhasalvoa sua vidanoprimeirodia emque ele
cruzouoriodoTexas.
Quantomaioradistânciaque ele colocava entre ele eNacogdoches, melhorAustin
sesentia. Cercadoportodasessaspessoas, Austin sesentia encurralado.
Expostoaosseusproblemaseconflitos, perdeuanoção do que erarealmenteimportante.
EnquantotivesseJolie ea sua terra, orestodomundopoderiafazeroquequisesse.
Enquantoelemantinha asrodasdacarroçanasfendasna estrada,
elesedeixouembalarpelossonsdospássarosnasárvoreseofarfalharocasionaldeumpequen
oanimalouaquedadeumabolotaoudeumapinhanochãodafloresta.
VisitarAntonioeraopontoaltodetodasasvezesque ele fazia estaviagem.
Seuamigotinhabatizadoapequena com unidadeondevivia como seuapelido-
Chireno, oque não surpreendeuAustin nem umpouco.
AntoniodeChirenoeraumhomemúnicoesingular. Gregário, confiante, esua casa
estavalocalizadamuitopertodeHalfwayHouseStagecoachInn. Austin poderiaterficado
com elenaprimeiranoite, quando ele estava acaminhodeNacogdoches. Noentanto, este
não eraohábitodeAustin. Elefoifielà sua tradição,
deixandoumagarrafadeuísquenaportadeChireno, então o seuvelhoamigosaberiaque ele
estariapassandoporládepoisdeumcurto período de tempoepreven do que ele ovisitaria.
Antoniotinha a companhiaocasionaldeumaíndiaCherokeee com
ovelhoshábitoscustamamorrernoTennesse e, Austin nunca
gostoudeapareceremqualquerlugarsem umavisoprévio.
Claramente elerecordouodia emqueseconheceram.
Austin tinha acabadodecruzarorioemGainesFerry,
agradecidoporestaremTerritórioneutroe mais pertodeseudestino. Dirigindoa sua carroça,
cheiodebenseobjetosque ele tinhatrazidodecasa, ele estava escolhendo o
seucaminhocuidadosamentepelaterravermelha, semperceberqueaconsistência não eraterra,
massolofértil.
— Vamos, rapaz— elefaloupara o seucavalo, quando, derepente, como
oburroquefalouaBalaãonasEscrituras, o seucavaloempacoueserecusouairumpasso mais longe.
Austin pegousua arma, osseusolhosesquadrinhandoasárvoresemambososladosdele. No
começo, ele não tinhavistonada, não atéoscavalos começaremasemoverparaforadassombras,
osseuscavaleirosusandolençosamarradossobreaparteinferiordeseusrostos.
— Largueisso, ou você estámorto — umdoshomensmascaradosrosnou.
— Eu não pensoassim. — Austin não lidavabem com ameaças. Seupaitinhaquestionado
o seubomsenso quando ele decidiusemudarpara o oeste eeleseria amaldiçoado se ele fosse roubado
ouabatidopelaprimeiraserpentequesaiudatoca.
— Ponhanochão! — Outrogritou, acenando com orifle.
Ven do que haviaquatrodelese ele erasóum, Austin não achouque tinhamuita escolha.
Lentamente, elesaiudacarroça, tentandodesesperadamentepensaremalgum
amaneiradesairdessabagunça.
— Eu não tenhonadadevalorquevalha apenaroubar, apenas algunsmóveis. — Ele não
mencionouosacodemoedasdeouroepratanobaú.
— Suba, Charlie, vamoslevá-la. Euestoumesmoprecisandodealgunsmóveischiques —
disseoprimeirohomem, apontando com a extremidadedapontadeseurifle.
— Eufico com ocavalo — umcara mais jovemfalou, aquelecujamáscarafoisemovendo
osuficientepararevelarumbigode.
— Você não fica com nadase não mantivera sua boca fechada, HenryMullins. —
Oquartoatiradorfalou.
— Desdeque você entregou umdosnossosnomes, idiota, nóstemosquematá-loagora.
Ele estavaprestesadiscutir com oquartetodesalteadores, quando omundodesabou.
Umtiroeco ou, entãoumgritoselvagemdeumloucoso ou. Umaflechapassouzunindopeloaretirouo
chapéudeHenryMullins'. Seguindodepertoaprimeiraflecha, veioumasegunda eumaterceira.
Ospistoleiros começarama atirarcontrao seusalvadorsolitário. Assimqueasarmas não
estavamposicionadossobre ele, Austin pegouna sua arma edisparoucontraoquepareciaserolíder,
voandosobre ele. Ohomemgritoueoutrocaiudocavalo com umaflecha emseuombro.
— Vamossairdaqui — Henrygritoueorestopareceuconcordar.
Austin estava aliviado. Ele não morreriahoje, graçasaohomemqueagora
estavasentadoemseucavalo, examinando-o. Eleusavaumsombreropretodeabaslargas,
umcoletepretoadornado com conchosprata eumsorrisolargo.
— Bem-vindoaoTexas, Amigo!
— Muito obrigado, senhor. Embora, eu não possadizerque euaprecie esse com
itêderecepção.
— Essesratosdoriovêemassaltandoaspessoasaquipormeses.
MeunomeéAntoniodeChireno.
— EusouAustin McCoye estoumuitofelizque você apareceunestemomento. — Austin
andoualgunsmetrosdedistância, para a entradadaflorestaondeosseuscavalostinhamfugido,
assustadospelobarulhoepelostiros. Levando-osdevoltapara o seusalvadormexicano,
elereparounograndegaranhãonegro que o homemmontava. — Vocêtem umbeloespécimedecavalo.
— Gracias, pretendofazercriaçãodele eencheressesbosques com belosanimais.
— Aonde você vai, ou você viveporaqui? — Subindodevoltapara sua carroça, Austin
olhouparatrásparaverificarassuascoisas, certificando-se que o baú não fora empurradoparaforado
seulugar.
— Eutenhoumranchoacerca deumdiadeviagemdaqui, umpequenopovoa do que eubatizei
com umnomemaravilhoso.
— Equalé?
— Chireno! — Gritouele com umsorriso. — Qualoutroseria?
Austin riu.
— Euachoquegostareide você, Antonio.
NomomentoemqueAustin sedirigiaparaChireno,
eletinhachegadoaumaconclusão. Eleseria amaldiçoadosedeixasseo que o
PadredeLeondisseimpedir-lhedefazerJolie sua esposa. Usandoaspalavrasdopadre mais
jovem com oinspiração, Austin decidiuquepularia avassouratal como ospaisdeJolie
haviamfeito. Assimque essabagunça com HadenEdwardsacalmasse
eapossíveldisputasobreaposse de suapropriedadefosseresolvida,
talvezelespudessemviajarpara algum lugarparaterumacerimôniacivil-em um lugar
onde não haviajamais apossibilidadedealguémsaberaverdadeiraidentidadedeJolie.
QuandoelechegouaopátiodeAntonio, e encontrou umlocal com sombrapara
osseuscavalosaoladodeumacalhadeágua, Austin estavadesesperadoporumabebida.
— Gringo, você parecequeveioamarradonorabodeumamula.
Austin estavajuntoàcalha, mergulhandoamãonaágua edespejando
olíquidodeboas-vindasemseurosto.
— Eusintoisso também , Antonio. Como você está? — Elecolocouo
chapéudevoltana cabeça efoicumprimentarseuamigo.
— Euestoubem. — Antoniodeudeombros, levantando-
sedacadeiradebalançoque ele estavasentadona amplavarandadafrente. —
Venhaparadentrodacasa, deixe-meoferecer-lheumabebida.
Austin subiuosdegraus, felizporestarnacasadealguémemquempodiaconfiar.
Antonio não eraumrecém-chegado, a sua família estavanestaterrahá anos, o
seupaiJoseAntonio,
haviachegadoàregiãovindodaEspanhadepoisdereceberumasubvençãoparanoveléguas,
mais dequatromilacres. Pelospadrõesdetodos, Antonioeraumhomemrico.
— Obrigado, eu não possoficarmuitotempo, mas eu preciso falar com você.
Ao ouvirapreocupaçãonavozdeseuamigo, Antonio ofereceu um lugar para ele
em suamesa.
— Qualéoproblema, oueudevoadivinhar?
Austin deu-lheum olharperplexo.
— VocêjáouviufalarsobreEdwards?
Comumarisadairônica eumaceno de suamão.
— EusouonúmeroumeEdwardsvemdepois.
Elequerreivindicaraterraquelegitimamentepertenceàminhafamília. Mesmo
ogovernomexicanoconcorda comigo. Eujátivedeafastarumgrupo com uma arma.
— Oquenósfaremos?
— Você, meuamigo, não teráproblemas. Acor de suapelelhegaranteisso.
Austin sesentiamalsódepensarsobreacordapele.
SeucoraçãoestavasofrendoporJolie eo que ela suportoueaindapodiaterque enfrentar.
— Se você tem umproblema, eutenhoumproblema. Acordapelequesedane.
Antoniosorriuelevantou umagarrafa.
— Uísque?
Austin sacudiua cabeça.
— Euprecisoficaralerta. Temalgum acoisaumpou com enosforte?
Eletrouxeumjarrodecidra.
— Feito com asminhasprópriasmaçãs. — Servindoumacanecacheiapara austin,
ele também lheofereceualimentos.
Com fome, Austin aceitou, dando algum as mordidasnopãoenacarneantes
defalarnovamente.
— Eu não querolutar, mas eu não
ficareidebraçoscruzadosenquantoessehomeminvadeonossoespaçoe com eça
ajogaraspessoasparafora de suaspropriedades. Se você tiverqualquerproblema, envia-
meumamensageme euestareiaquiparaficardo seulado.
— Obrigado, meuamigo. — Antonioassentiu. — Essasituaçãoé com plicada.
Egoseambiçõesturvamaságuas. Edwardsviajoupara oMéxico com StephenF. Austin
paraganharoempresario, mas ele achaque não ganhaosuficiente com oacordo. Ele está
com invejadeStephenedo seupoder. NafrentedeStephen, Edwardséumamigo,
maspelascostas, eleconspiraparaseuprópriobenefício. OMéxicointervirá,
masadistânciafaz com quequalquerrespostasejalenta.
— Aspessoasvãoacabarsendomortasporcausadisso — Austin pensou,
limpandoaboca com ascostasdamão. — Eusó não queroissopara mimepara você.
— Euconcordo, Amigo, euconcordo. — Antoniolevantouabebida emsaudação.
— O que mais estáem suamente? Osolhossão oespelhodanossa alma eo
seuolharestámuitotriste.
Austin sorriu.
— Não, euestoumuitofeliz. Sóestoupreocupado. — Eleseinclinouparatrásem
suacadeirapara examinaro seuanfitriãocorretamente. — Euestouapaixonado.
— Excelente! — Antoniosorriu. — Queméasortudasenhorita?
Austin começouacontar-lhetudo, desabafando osseusmedos.
— Quandoeudescobri que ela erauma escrava, euqueriagritarainjustiçapara
oscéus. Eu não sei com odizeraJolie que o
padreJoséAntoniodeLeonserecusouanoscasar.
— Aescravidãonunca éjusta. OdestinotrouxeJolie para você. Você não
devedesesperar. Dizerosseusvotosnafrentedeumpadre não irá aumentarumagrama a
sua devoçãoporela. — Elelevantouagarrafanovamente. — Sejafelizeorestoquesedane!
— Eu não sei, àsvezeseutenhomedodeteresperançasnafelicidade. —
Eleselembroude como seupaiotratava, como ele escolheua sua nova esposasobreo
seuúnicofilho. — Virpara estaterraselvagemtemsidoumaprovação, mas euconheci você
e eutenhoJolie agora. Naverdade, — eleselevantou —
Euprecisoseguirocaminhoparacasa. Estouansiosoparavoltarpara ela.
— Euentendo. — Antonio começouarecolheralimentospara o seuamigolevar. —
Para aviagem — elesorriuquandolhedeu umatrouxapara aviagem.
— Eusóqueriapararedesabafarosmeusproblemas, e também oferecera minha
arma emcasodenecessidade. Vocêlevantou-separa mimumavez, e eusemprelutareipor
você.
— Obrigado, Austin McCoy.
Antonioseguiuparafora, vendotodososmantimentosque ele
compraranalojadeThornFrost.
— Frostéumoutrohomemparatercuidado, ele estáemsociedade com Edwards,
vocêsabe.
— Eu sei que ele está. — Austin colocoua
comidanovagãoedesamarrouoscavalos. — Eu não mepossodaraoluxodecortarrelações
com ele. Eleénossaúnica fontedemantimentos. Ele está comprandopeles com osíndios,
negociandoterras, vendendouísque,
ohomemacabaráporseroprimeiromilionárionoterritóriodoTexas.
— Concordo. Estaéaterradaoportunidade. Vocêe eufaremosanossamarca
também. UmdiaChirenoseráumacidademovimentada eonomedeMcCoyserábem-
conhecidoerespeitado.
Austin segurouasrédeas.
— Esperoque você estejacerto, meuamigo, realmente espero.
***
Antes que o sol com eçasseadescer, Jolie colheu mais ervas, parasereabastecer,
nocasodosíndiosvoltaremou… seumdosdoisficassedoente. Jolie
selembroudequandoperguntouà sua avódeondeadoençavinha. Elatinha apontadopara
opântano. Afebrevem com aschuvas, opântanotransborda, apestilênciasemultiplica.
Aexplicação não foraclara, masascondiçõesque enfrentavamagorase encaixavam com
adescriçãodavelhamulher.
Desde que o síndiostinhampartido, Jolie tomou precauções e esfregou o lugar
de cima abaixo, mudando a roupa de cama e
aquecendoáguaparaferverascanecasetodososoutrosobjetosque tinhamtocadonamenina.
Ela não sabia com oaquilotinhase espalhado, masJolie não queriacorrernenhumrisco
com asaúdedeAustin. Sua avólhedissera que o seupovoestavaprotegidocontra adoença,
poralgum motivo, osseuscorpos não eramtãosuscetíveis. Eladissequeafebreamarela era
adoençadohomembranco. Masosíndios não erambrancose elesestavamdoentes.
Toda esseconceitodecorpareciadefiniromundoao seuredor.
Comoumadoençapodiadiscerniracordapeledeuma pessoa?
Deixandoescaparumsuspirocansado, eladescansoua cabeça entreasmãos,
perguntandoseTsula estavamelhor, rezandopara que o remédio que ela
enviouativesseajudado.
Agora, Jolie estavasentadanavarandadacabana, olhandopara a escuridão.
Sandysesentouao seulado, perto da porta, buscando com
ambososolhosporumafigurafamiliarnassombras, procurandoemvãonadireçãoque ele
stinhamvistoAustin irpelaúltimavez. Elasabiaque eramuitocedopara esperarque ele
voltasse, ele estariaforapor mais umdia, pelomenos. Ainda assim, o
seucoraçãoansiavaporele, orandoporsuasegurança. Tantossonhos com
ofuturotinhampre enchidoa sua cabeça. Imagensdeumacabanadedoisandares,
visõesdecriançaspequenaserechonchudas-um como seucabelo mais escuro, um com
mechasdouradas como o seupai. Jolie não sabiase eleseramreflexosdeseudomouapenas
osdesejosdeseucoração.
Ela esperavaquefossemosdois.
— Volteaqui — elaordenouaocãoque tinhaidopara abeiradacasa e com
eçadoalatir. — Oqueháde errado com você? — nesseúltimodia emeio,
cadachancequeSandytinha, ele começava alatir com
osealgotivesserastejandoparadebaixodacasa. — Seriamelhor você tercuidado, você
irritaráoutrogambá— ela advertiuele.
Comalgum apersuasão, ocãovoltoupara o seulado. Elasoltou
umsuspirolongoecansado.
— Vocêestá com fome? — Jolie perguntouaocão, quelhedeu umgemido com
oresposta.
— Vamos, euoalimentarei.
Levantaram-se eentraram, fechandoetrancandoaporta.
Obrilhodalâmpadapareciafracocontra a escuridão invasora. Ela tentou não
pensarsobreisso, masJolie temiapelanoiteque estava achegar. Ogritodapanteraque
tinhaouvidonanoiteanterioraindasoava em seusouvidos. QuandoAustin estava aqui,
não haviamedoemseucoração. Massozinha, a sua imaginaçãocorria asolta e
elaimaginavacriaturaspredadorassaindofurtivamenteforadasmadeirasgrossas, tudo
com aintençãodedevorá-lainteira.
— Nósficaremosbem. — Elatentoutranquilizar-seaoacalmarocão. —
Talvezsenósconstruirmoso… Oh, não! — ExclamouJolie. — Eu não trouxelenha! —
Coma emoçãododia, estatarefa essencialtinha escapadoà sua atenção. Apilhadelenha
estava aumaboadistânciadacasa. Bem, ela não tinha escolha. Ofogomorreria embreve.
Indopara ocanto, elapegou umamachadinha. Enquantoestivesselá, Jolie
poderiamuitobemter mais algunsgravetos. — Vocêfica aqui — disseparaSandy. —
Eujávolto. — Aúltimacoisa que ela precisava era que o cão com eçasseacorrerpara
afloresta atrásdeumgambá.
Jolie tinha
acabadodecolocaramãonamaçanetadaportaquandoumgritodearrepiarencheuoar. Ela
engasgou, cobrindoaboca.
— Apanteravoltou! — Por que ela estava andandoporaí? Jolie não entendia.
Nãohavia escassezdecaçanafloresta. Talvezosanimais encurraladostivessem
umamaneira mais fácildeobterumarefeição, talvez ela fosse velha e desdentada. Este
pensamento fez Jolie sorrir fracamente. — Sim, éumgatinhovelhoedecrépito. —
Asuavoz não soavaconvincente, especialmenteparasimesma. Elainclinou-secontra
aporta, tentandoponderarse eraumaboaideiasairparabuscarlenhaouse
eramelhorficarnacabanasemnenhumfogonestanoitedeinvernofrio.
Outrogritoensurdecedorfezeladecidir.
Jolie seabraçou.
— Parecia mais pertodestavez, não acha? —
Sandychoramingouerastejouparadebaixodacama. — Masqueajuda você é— elaorepre
endeu.
Acasa estavabemconstruída, asfendasentreostroncosdemadeiraforamisolados
com argila emusgo,
somentepequenosorifíciosforamdeixadosabertosparafinsdeventilaçãoerefrigeração.
Andandopelasala, elaverificouseasportadasestavamseguras. Apósumavolta completa,
Jolie voltouesentou-senacadeira, decostasretas, olhandopara ojogodexadrez.
QuandoAustin voltasse, elaficariatãofelizemvê-lo, quepoderia atémesmodeixá-
lovencer. Umsorrisobrincouem seuslábios.
Incapazdeficarparada, elaselevantouefoiatéoarmáriobuscarumlivro que ela
tinhavistoantes. FrankensteindeMaryShelly. Tomando olivroem suas mãos,
elaprocuroualuz. Jolie sentou-seàmesa, abriuovolume encadernadodecouroe
começoualer. Elatinhalido não mais do que duas ou três páginas antes que o
sseusolhossearregalassemefechasseolivro. Essa não
eraotipodehistóriaquesedeverialerquandoestavasozinho.
Mantendo-semuitoquieta, ela esperou. Comsorte,
ograndefelinotinharetornadopara ondequerque ele tenhavindo.
Mas não -elasentiuosanguegelarquandoumgritorasgouoar… apenas do
outroladodaparede. Levantandoem umsalto, ela começoua andar.
— Váembora! — Elagritou.
Umgrunhidoguturaldegelarosossosso ounaporta.
Correndopara aporta, elaconfirmoutrêsvezesdeque estavasegura.
— Saiadaqui! Nãotenhonadapara você! — Elagritou, batendo opunhocontra
amadeira. Quase com ose elapudesseveratravésdaparedesólida, Jolie
estavacientedosmovimentosdogato. Seussentidospareciamestarhiperatentos, elapodia
atéimaginarouvirospassossuavesdaspatasalmofadadasdapanteranochão.
Comoumsóelasemovimentava com abesta enquanto ofelinoandava emtornodacabana.
Jolie podiaouvirosseusrugidos, osseusrosnadosocasionais. O que ela faria?
Raspar! Raspar!
Elasaltouparatrás. Oenormeanimalestava arranhandoaparededefora. Porquê?
Commedo, elaolhouaoredor, o fogo tinha morrido completamente. Ela estava com
medoderespirar. Permanecendomuitoquieta, elatentououvir. Então, Jolie
ouviualgoestranho-ummiadosuave. Jolie fezumacareta. Oqueéquefoi isso? Derepente,
elasabiaoque era… umfilhotedepantera!
Medovoltounovamente.
Ogatograndepensou que o seufilhote estavanacabana.
— Nãoestá aquidentro, estáembaixo! — Elagritou. Embaixodacama,
Sandyraspava eumrosnadorespondiado outroladodaparede.
Apantera estavasemovendo, embuscadeuma aberturapara entrar. Jolie sabiaque
não havia espaçograndeosuficiente, nenhuma aberturanaparede.
Asportadasestavamseguras, ela esperava, elacorreupara asjanelasparasecertificar.
Quando ofez, Jolie ouviuoutrobarulho. Umacolisão.
— Oquefoi isso? — Elaolhoudescontroladamenteaoredor. OcoraçãodeJolie
estavacorrendo, elamesmasesentia com oumanimalem umajaula. Seusolhosforampara
aparededetrás, ondeouviraobarulho, efoi quando ela viu. Osdedoseasgarrasdapantera
apareciamatravésdafenda entreostroncosdemadeira. Para sua surpresa,
elesdesapareceramereapareceramumpouco mais alto. Apantera estava
escalandoaparede!
AmentedeJolie congelou, não conseguiapensar com clareza.
SeucoraçãogritouporAustin, ela não sabia o que fazer. Debaixodochão,
ofilhotegritoueapanterarespondeu, rosnandoumavisoquefezJolie tremer. Embreve,
apantera estarianotelhado. Eentão… averdadeatingiu-a com oummartelo.
Oanimaliadescerpelachaminé.
Freneticamente, elapesava assuasopções-poderiacorrerpara anoite, não tendo
mais para ondeir-ouelapoderiapararogatogrande. Olhandoloucamentea sua volta,
elaviu umacadeira. Correndopara ela, Jolie começouaparti-la, tentandocortá-la
empedaçospequenososuficienteparacolocarnofogo.
Outrorugidofezo seusanguegelar.
Nãohaviatempo!
Desesperada, Jolie se levantou e foi para a parede. Vendo as garras longas e
afiadas da pantera furando através da fenda, ela olhou e derrubou o machado para
baixo sobre as garras. Um uivo eclodiu e as garras afiadas desapareceram. Jolie saltou
para trás, as lágrimas fluindo por suas bochechas.
Ela foi embora?
Ouvindo outrogemidodofilhotesobreochão, elacorreupara obarulhoeajoelhou-
se, batendonochão com a extremidadedopunho, tentandofazer com que o
pequenoanimalfosse embora, quesaíssedojeitoque entrou.
Elasaltouquandoapanterarugiunovamente. Destavezpareciaque
estavaumpouco mais longe.
Inclinando a cabeça, Jolie começou a rezar para que amanhã chegasse em breve.
Capítulo Nove

À medida que o sol nascia, e os primeiros raios penetravam através das árvores,
Austin se esforçou para ver a trilha. Ele tinha viajado a noite toda, como objetivo de
chegar em casa o mais rápido possível. Com cada movimento das rodas da carroça, os
pensamentos tomavam conta de sua mente. Jolie estava bem? E se algum a coisa
tivesse acontecido com ela? Ela estaria esperando por ele? Dúvidas e medos o
atormentavam. Ele estava tentado a saltar da carroça e correr através da floresta
frondosa, diminuindo um pouco da distância que ainda tinha que percorrer. Mas
deixar o seu cavalo e pertences para trás não seria inteligente. Austin soltou um
suspiro áspero. Ele estava exagerando.
Nacabana, Jolie acordouquandoSandylambeuo seupescoço.
Elafinalmentehaviacaídonosonoduranteanoite, sentadanochãoaoladodacama.
Levantando-se, esticouarigidezdeseusmembrosefoiatéaporta. Fechando osolhospara
arranjarforças, ela abriu umafrestadaporta eolhouparafora. Osanimais
precisavamseralimentados, astarefastinhamdeserfeitas. Ela não podiase
esconderdentrodecasadurantetodo odia.
Respirandofundo, elasaiu.
— Vem, Sandy!
Ocãosaltouatrásdela. Eladeixouosolhosobservarosarredores, oquintal,
eosbosquespróximos. Nadapareciaforadeordem. Pisandocautelosamente, ela foi
atéacasinha. Quandoterminou, dirigiu-seatéoscurraispara
começardistribuirocafédamanhã. Depoisdisso,
elalevariaoscavaloseasvacasparaforaparaque ele spudessempastarecaminhar.
Aumacurtadistância, Austin levantoua cabeça. FoiavozdeJolie que ele
tinhaouvido? Eletentououvir, desesperadoporqualquerindício de suapresença.
Elebateuasrédeas, pedindoaocavaloparair mais rápido. Inferno,
poderiaserumpássaroaolonge. Austin manteveosolhosfocadosemfrente, saben do que
aclareiraon de suacabana estavaficavalogoemfrente.
Jolie trabalhousemparar, com a sua mentevoltandopara anoiteanterior. Rezava
aoscéusparaqueapantera eseufilhote estivessemlonge, muitolonge.
Latido! Latido!
Virando-separa ocão, Jolie oviuolhandopara afloresta.
— Oquefoi, rapaz? Vocêouviualgum acoisa?
Elaparou também , esforçando-separa ouvir.
Quandoelaouviuorelinchodistantedeumcavalo, Jolie congelou.
— Austin? — QuandoelaviuacaudadeSandyabanare ele começouacorrer,
elaseguiuatrásdele, emdireçãoàclareira.
OrostodeAustin eclodiuem umsorriso. Eleaviuchegando.
— Jolie! — Elegritou. Quandoparou, Austin saltoudacarroça ecorreuao
seuencontro. Quandoelesestavama apenas algunsmetrosafastados, elaselançouem
seusbraçoseAustin apegoujuntoa ele. — Deus, euestoutãofelizporver você, baby.
— Oh, Austin, Austin. — Elacolocouosbraçosaoredordeseupescoçoe
começouabeijá-loemqualquerlugar que ela pudessealcançar. Eleriu,
finalmentecapturando osseuslábios, beijando-a com ose não houvesseamanhã.
Levantando-a, elegirouem umcírculo, balançando-a aoredor, o seucoraçãoascendia
emalegriaporestar com ela mais umavez.
Umavezquesuasboca ssesepararampararespirar, ele sussurrou:—
Eusentitantosuafalta. Comoestá, meuamor?
— Melhoragoraque você está aqui. — Elaseagarroua ele, segurando-operto.
Jolie quisrastejarparadentro de suapele. — Eu também sentitantoa sua falta.
Austin manteve-sedandobeijoscarinhososemseurosto. Quando ofazia,
elesetornoucientedequeassuasbochechasestavamúmidas.
— Vocêestáchorando?
— Não! — Elasoluçava, eumsoluçoescapoudeseuslábios. — Estoubem. Euestava
com medopor você ;Euestava com me do que eununca mais fosseve-lonovamente.
Eutequerotanto. — Elebeijouaslágrimas. — Eentãohouveoporco, osíndios, eapantera.
— Doque você estáfalando? — Eleabraçou-a, conscientede que ela
estavatremendo.
— Euqueroteabraçar — foitudo oqueconseguiudizer.
Austin não querianada mais.
— Deixe-meverocavaloedescarregarosmantimentos. Então,
euteabraçareienquanto você mequiser. — Eleagarrouasrédeasdocavaloe começoua
andar, com umbraçosegurando ocorpodelacontraodele. — Eutenhoalgum
assurpresaspara você. PresentesdeNatal.
— Natal? — Elaseiluminou. — Eumalpossoesperar,
eutenhocertezaqueamareioque você escolherpara mim. — Ela
enterrouorostoemseuombro. — Principalmente, porque eusóquero você.
Austin sentiuo seucoraçãoapertar.
— Euamo você, Jolie.
— Eu também teamo, Austin McCoy.
Elanunca deixouo seuladoenquantoeledescarregava acarroça, emseguida,
cuidavado seucavalo. Umavezquetudoestavafeito, ele envolveu-a em seusbraços.
— Euquerosabertudo oqueaconteceu com você, equerolhedizertudo
oqueaconteceu comigo. Masprimeiro… há algomuito mais
importantequeprecisamosfazer.
— O quê? — Elaperguntousemfôlego.
— Adivinha. — Assimque ele sestavamládentro, ele começouadespi-la,
puxando ovestidopela sua cabeça. Ela também tentoutirara sua roupa.
Osseusdedosseatrapalharam, assuasvozesbaixas, íntimas. Omundoláforapodia
estarcheiodeincertezaseameaças, masaqui–este erao seulugar, o seumomento.
— Eu não possoacreditarque você está aqui comigo. — Austin
sussurrouaspalavras com oumaoração. — Comopossoquerer mais quandotenho você?
Jolie se entregoua ele, buscando osseusbeijos, tocando o seucorpoquase com
reverência.
— Mostre-me com oagradá-lo.
— Oh, você meagradamuito — respondeuele, pegando-a com oumanoiva
elevando-apara acama. Quandoele estavaprestesadeitá-la,
notouSandyjáemcimadascobertas. — Agora, quemdisseque você poderiaficarnacama?
Jolie riu.
— Eutenhomesentidosó.
— Parabaixo. Desça! — Austin enxotou-opara ochão. — Você não estásozinha
agora, euestouaqui.
Elenunca faloupalavras mais verdadeiras. Ela abriuosbraçospara
elequefoiatéela, cobrindo o seucorpo com caloredesejo.
Osseuslábiosemãosacariciandoapeledela, beijando o seupescoço, esfregando
osseusseios, re encontrado-se com a alegria do que eraseuparasertomado.
Jolie mostravao seu amor, como seu corposecontorcendosobreo seu toque.
Quandoa sua boca sefechousobreo seu mamiloe começouasugar,
oamorbrotoudentrodela com oumanascente.
Assuaspernasseabriramporvontadeprópria, o seu desejoporele eratãointenso que ela
não conseguiasegurar.
— Euprecisode você, Austin McCoy. Euprecisode você
emtodosossentidosqueumamulherpodequerer. — Elalevantouosquadris.
Ele não precisoude mais nenhumconvite. Estarlongedela apenas aguçouo seu
desejo. Asuamasculinidadedoíaparaserenvolvidapelo seu corpo.
— Vocêestáprontapara mim? — Eledeixoua sua mãosemoverentre eles,
testandoa sua excitação. Quandoelea encontroucremosa emolhada, Austin gemeu. —
Depoisdisso, euamareicadacentímetrode você. Agora… Eu não posso mais esperar. —
Mantendo-sefirme, guiou-separadentrodela, osseusolhossefecharamemêxtase quando
ele sentiuasparedesquesefechavamemtornodele-acolhedoras, apertando-o. — Agora,
que eutenho você, provei isso… — Eletrouxea sua boca para a dela,
bebendoprofundamente. — Nunca mais mepeçaparaviversemisto. Eu não suportaria.
— Nunca — elachoramingou, osseusbraçosse envolveramemtornodele,
osseusquadrissemovendo, encontrando-se emcada estocada.
Elaosegurouenquantoelealevou, batendoduro, a sua respiraçãodura, o seu
rostocontorcidodeêxtase. Jolie assistiu com espanto, vendotudo-a emoção de suaposse,
amaravilhado seu amoreabênçãoporelasera escolhidaporestehomem.
Quandoelesubiuemcimadela, suacolunasecontorceu, aintençãodetodo o seu
corpoeraterprazer, darprazer, Jolie sentiaocalorcrescerentreassuaspernas. Umaurgência
começouaseconstruir, essesentimentoperfeitodoclímaxquesóelepoderiadara ela.
— Maisforte, Austin, euquero… — Avozdelaquebroue elelhedeuo que ela
pediu-estocando, empurrando, emergulhandodentrodelauma eoutravez-
tãofortequefaziaosseusseiossaltareo seu corposemoverparacimanacama.
Umaluzbranca ebrilhantedeêxtasecaiusobre ela ealibertoudoslaçosdaterra evo
ouatravésdasnuvens, aúnica correntequeaprendiaàrealidade era
estehomemnosseusbraços.
Incrédulo, Austin viuo seu rosto, sentiuo seu corpoapertaretremercontra ele.
Asuapróprialibertaçãocrescendo, oamorque ele sentiaporela entrandoemebulição,
prontopara derramardassuasentranhas. Querendoprolongaroprazer,
tantoquantopudesse, Austin tentousesegurar, eletentousemanterestocando,
querendolevá-la aolimitenovamente.
Jolie podiavera sua determinação. Elapodiavera sua força, o seu poder-
todoselesfocadosemfaze-lasesentiramada.
— Solte. Estaésóumavez. Podemosfazerissotantasvezesquantasnós… — Ela
enterrouorostoemseupescoço. — Eeuquero você otempotodo.
Assuaspalavras, o seu corpo, amaneira com oelasemovia…
tudoissojuntocriouatempestadeperfeita. Ofegante, elebombeouentreassuascoxas.
— Jolie! — Elegritou, derramando-sedentrodela com oumsacrifícioaosdeuses.
Jolie enredouos dedosemseulongocabelo, acariciando o seu rosto com
osseusdedos. Osuordo seu esforçocobriao seu rosto. Ela
enrolouaspernasemtornodeseusquadris, tentandomantê-loperto.
— Vocêémeu, Austin McCoy.
— Sim, eusou — eleconcordou quando ele caiuparaumlado, puxando-a com ele,
osseuscorposaindaunidos. — Euqueroum com promisso com você. — Suamentefoipara
ofatodeque ele não poderiaoferecerumcasamentodamaneiratradicional. —
Dequalquermaneiraque eupossa. Até que possamosfazer mais, você pulará avassoura
comigonodiadeNatal?
— Sim! — Elarespondeu, alegremente. — Eusereia sua esposa, o seu lar, a sua
amante… Seutudo, dequalquermaneirapossível. Desdeque euseja sua , nada mais
importa.
Austin apertou-acontrasi, condenandoaspessoas,
asleiseopreconceitoqueseatreviamemmantê-losseparados.
— Vocêéminha. Vocêjáéminha. Equeninguémtentelevá-laparalongedemim.
***
Austin segurou a cabeça dela entre as mãos, a ideia do que ela tinha passado
enquanto ele estavafora eraumpoucodifícilde compreender.
— Eununca tedeixareisozinhanovamente. Apartirdeagora, seremos com
oNaomieRuth, para onde você foreuirei, evice-versa.
Elessesentaramnabeiradacama, elainclinando-sesobre ele.
— Oh, não foitãoruimassim. — Agora, que ele estava emcasa,
nadapareciainsuperável.
Apertando seu braçoemvoltadela, eletentoumanteracalma.
— Vamosfalarsobretudoisso com umpouco mais decalma. Vocêrecebeu
umgrupodeíndios, aqui, nanossacasa. Eusemprefuiamigável com eles,
atémesmojáfizemosnegóciosentrenós,
masaidéiadeumbandodeselvagensvindoatéaquimeassusta.
Ela esfregouamãosobrea sua coxa, pegandoumamechadefranjada suajaqueta.
— Nãofoibemassim;elesestavamprocurandominha ajuda.
Austin sentiuomedopercorrero seu corpo.
— Quetipodeajuda?
— Elesmeviramcolhendoervas.
Ela ainda não tinha acabadodefalar quando ele lhedisse:—
Eulhedisseparaficarporpertoetercuidado!
Ela acalmou-o com umadasmãosnopeito.
— Eles não queriam fazer mal. Haviatrêsmulhereseumhomem.
Umadeleseraumacurandeira. Adoençachegouà sua aldeia e elesestavam com oeu,
recolhendofolhas, cascaseraízes. Acurandeirasonhouque eu, era com oela… — Jolie
hesitou, olhandoparabaixo, semsaber com oAustin sesentiriasobreo que ela tinhafeito.
Mas ela já tinha dito a ele o pior, certamente esta nova revelação não faria qualquer
diferença. — Ela podia sentir que eu era poderosa e perguntou se eu poderia ajudá-los.
Aidéiade que ela seconsiderassepoderosaofezquerersorrir.
MaseleprecisavaqueJolie percebesse o quão sérioistoera, oquantoeleseimportava.
— Oque você poderiafazer? Nãoé com ose você pudesseirpara a sua aldeia
ecuidardeles.
— Eumeofereci. — Aovero olharchocadoemseurosto, elatentouacalmá-lo. —
Mas eu não fui, éclaro.
Elefalousuavemente.
— Vocêsabeoquemeaconteceria, se euvoltasseparacasa e não a encontrasse?
Mesmose você tivessedeixadoumbilhete, euenlouqueceria.
— Eununca deixarei você — elaprometeu. — Umadasmulheres mais jovensque
estava com elesestavadoente. AsenhoraquefalavaInglês, Ama, contou-me como o seu
povoestavasofrendo. Aminha avómefalousobreafebreamarela. Ameninaque estava
com eles, ela estava ardendoemfebre, a sua pele
eobrancodosseusolhosestavamamarelados.
AvozdeAustin ainda eraquaseumsussurro.
— Oque você fez?
— Euatrouxe etrateidela. Eudei-lhesaservasque eutinha
apanhadoelhesdisseondeconseguir mais. — Quandoeleolhouemvolta, elaotranquilizou.
— Eu sei que nós não sabemos como se transmite a doença, mas eu limpei tudo depois
que eles foram embora. E…
— E? — AcabeçadeAustin estavagirando. Asuapreocupação não era que ela
tivesseajudado osíndios, o que o horrorizava eraoquepoderiateracontecido com ela. Ela
estavademasiadamenteconfiante.
— Eurealizeiumacerimôniaquea minha avóme ensinou.
ElapareciatãomiseráveleAustin não poderiasuportarisso.
Comumdedosobreoqueixo, elelevantouo seu rostoelhedeu umbeijo.
— Quetipodecerimônia?
Jolie balançoua cabeça, com osetemesseoquedizia.
— Eu não sei com ochamá-la. Éumamisturadecrençasemqueminha
avóacreditava equetrouxedeMartinica, e também oqueaprendemosnaigrejacristã.
Majoritariamente, sãoapenas oraçõeseboasintenções.
Austin apertou-a com força.
— Nadaque você fizerpareceráerradoaosmeusolhos. — Elesabia que o
utraspessoaspoderiaminterpretarmalerotularJolie deumaformaquepodia aprejudicar.
— Eu sei que o síndiostêmsuasprópriasideiasecrenças, tenhocertezaque
elesaviramapenas como outramaneiradepedirajudadesejaqualforopoderquepode
estarolhandoparanós. — Austin, elemesmo, não afirmavasabertudosobrereligião. Ele
tinha visto tanta maldade em seu tempo, masagoraseguravao seu
própriomilagrepessoalem seusbraços.
— Eu acho que sim. — Elasoltou umsuspiroagradecido. — Eusóesperoque
eutenha ajudado.
— Tenhocertezaque você ajudou. Agora, oqueaconteceu com oporcoeapantera?
— Bem, o porco se soltou. — Ela descreveu a sua experiência difícil e adorava
ouvir o som de sua risada.
— Eugostariadepoderteverperseguindoaqueleporco. Vocêviuapanteraou
vocêsóaouviu?
— Euaouvi. Eelatentouentrarnacasa.
— O quê? — Ele levantou-se da cama e olhou emvolta com osepudesse
encontraroanimalescondidoemalgum lugarnasala. — Oquequerdizer com
elatentouentrarnacasa?
Jolie juntouasmãos.
— Sandyficoulatindopara algodebaixodacasa, mas com onoinícioelejáentrara
emconfronto com umgambá, eupensei queprovavelmentefosseisso. Ou umtatu. Então,
eu não penseimuitosobreisso. — Elafranziuatesta. — Eu também
deixeiofogomorrerequandomepreparavaparasairparairbuscar mais lenha,
euouviogritodapantera.
Austin resmungoualgunspalavrões.
— Apanterapensou que o seu filhote estava aquie começoua escalarasparedes.
Euestava com medo que ela fossedescerpelachaminé.
— Oque você fez? — Asuavozestavatensa. Não, elenunca deixaria a sua
casanovamente.
— Eupodiaversuasgarrasnasfendasentreasmadeiras. —
Elaselevantouepegoualgodomanto. — Corteio seu dedodopé.
Austin olhoupara apequenasaliênciasangrentapresa com oumanavalhaàgarra
afiada com centímetrosde com primento. — Bem, eusereiamaldiçoado.
Depoisdisso, elelevou umtempoparaseacalmar. Sabendotudo
oqueaconteceuenquantoele estavafora, tudo oquepoderiateracontecido, levoualgum
tempoatébatimentocardíacodeAustin baixarparaumritmonormal.
— Comparado com a sua experiência, a minhaviagemfoiumpiquenique.
— Conte-metudo.
— Nóspodemosteralgunsproblemasemnossasmãos. Pierce
estavacertosobreHadenEdwardsincitandoapolémica. Euleveia minha escritura
aoAlcalde, masmesmoele estavacéticode como oprocessoseriatratado. Fala-
sedeumarebeliãoetemo que o objetivo não seja aliberdade, massimodinheiro.
— Tudosempregira emtornododinheiro, não é? Dinheiro, podereorgulho. —
Elasegurouamãodele, observando com oela eragrande eforte, traçando com os
dedosasveiasazuisquemapeavama sua pele. — Eu não quero você lutandoem
umaguerra.
Eleaproximoua sua cabeçadadela ebrincandobateudeleveumanaoutra.
— Eu não queriatãopoucoque você fizessedeanfitriãpara osíndios.
Àsvezesnósfazemosoquetemosquefazer. Meuamigo, AntoniodeChireno,
temsidoameaçado. Elesalvoua minhavida, e eutereiqueassumira sua
causacasosejanecessário. — Vendo o seu rostopreocupado,
elerapidamentemudoudeassunto. — Eudissequelhe compreialgum assurpresas. Deixe-
meirbuscar.
Jolie não podiadeixardesorrir. Ela adoravasurpresas.
— Eupensei que eleserampara oNatal.
— Eu não tedareitudo, apenas umapequenasurpresaparatefazersentirmelhor.
— QuandoéoNatal? — Elatinhaperdidototalmenteanoçãodotempo.
— Daquiatrêsdias. — Eleseguroualgoportrásdascostas. —
NósapanharemosumaárvoreparadecorarnavésperadeNatal. Issofaria você feliz?
— Sim! — Elabateupalmas. — Nóstemosalgoparausar com odecoração?
— Eutenho. Eutemostrareioquetenhoamanhã. Porenquanto, vejaisto. —
Eletrouxea sua prendanafrentedeleparamostrara ela.
— Vocême comprousapatos? — Ela exclamou com alegria.
Lembrou-sedodia emque eletinhaprometidodar-lhesapatos.
— Sim. Vamosexperimentá-los. — Levando-apelamão,
eleseajoelhouaoladodela, removendo osmocassinsesubstituindo-ospormeiasdelãebotas.
— Agora você podeandarpelaflorestasemsepreocuparporonde estapisando.
Jolie sejuntoua elenochão, tocandonosseusombros.
— Euestoutãofeliz. Vocêmedeutanto. — Elaolhouprofundamente em seusolhos.
— Vocêtemcertezasobretudoisso?
— Certezasobreo quê?
— Sobremim. — Ela encolheuosombros. — Eusoudiferente.
— GraçasaDeus. — eleriu. — Como osfrancesesdizem, viveladifférence.
— Ouça-me, Austin. — Elainsistiu. — Eusinto omesmoque você — eladeu-lhe
um olhar sério quando ele a quis provocar de novo — mas eu não sou. Eu não entendo
oporquê, mastodosvãojulgá-loporcausademim.
AexpressãodeAustin endureceu.
— Eu não trocaria você pelo resto do mundo nem se ele fosse oferecido para
mim em uma bandeja de prata.
Jolie seaconchegouem seusbraços, com a sua menteaindaperturbada. Ela
esperavaquenadapudessemudaraforma como elesesentia.
***
Aolongodospróximosdias, elesse envolveramem umarotina.
Trabalhandojuntos. Rindojuntos. Amandojuntos. ONatalchegoue eles com
emoraramjuntos. Jolie assou
umgrandepeitodeperuacompanhadoporbatatasdocenasbrasasdafogueira.
Depoisque comeram, sentaram-sedebaixodaárvoreque
tinhamcortadoedecorado com fiosdepipocas, bagasdeazevinho,
eospequenosornamentosdemadeirapintadaque eletinhadadoaJolie com ouma de
suassurpresas.
Quandochegouahoradeabrirospresentes, Jolie estava emocionada com
ascoisasqueAustin tinha com pradopara ela. Ele estendeu
umavariedadedeprendaspara ela.
— Eulhepediváriascoisas também. ElasserãoenviadasdeBoston.
— Boston? — Elaficoutãoemocionadaque eletinhafeitoissoporela.
Comreverência, elalevouotecidodealgodãoverdepara orostodela, esfregando-ocontra a
sua pele. — Euposso fazerumvestido com isso?
— Sim, foiporissoque euo comprei. — Austin tocouovesti do que escolhera e
compraranalojadeThorn. — Talvez você possa ajustarestevestido, eu não
tenhocertezasecaberá.
— Se não couber, tenhocertezaque possoarrumá-lo.
Quandochegouahoradedar-lhealgum acoisa, ela estava envergonhadapor que o
que tinhaparadareratãopouco.
— Nãotenhonadaparadar — ela começou.
Austin não adeixariacontinuarfalando.
— Pare. Nãoháprenda mais preciosa do que aque você jámedeu.
Jolie fezumapausa, com
asmãossegurandoumpedaçodepapeldepergaminhocontrao seu peito.
— Doque você estáfalando?
Elebalançoua cabeça, espantado que ela não viaoque eleviu.
— Vocêfezda minhacasaumlar- como seu sorriso, como seu riso, com a sua
comida… — Ele sorriu para ela. — Mas mais do que isso, você veio para mim quando
eu estava perdido e me salvou. — Ele emoldurouo seu rosto com asmãosebeijou-
lheoslábios. — Você, minhaJolie, medeuesperança, você
tornouosmeussonhosrealidade.
Jolie estava encantada.
— Eulhedaria aluase eupudessechegarnela com asminhasmãos. —
Elalevantouopapel. — Masjáque eu não posso, eulhe escreviumacarta.
Austin pegou, segurando opedaçodepapel com
oseossegredosdouniversoláestivessemescritos.
Reverentemente, elea abriue começoualeremvozalta.
Meu querido Austin,
Naoutramanhãquando você ainda não tinhavoltadoda suaviagem,
euabriosmeusolhoselembreide você. Poralgunsmomentosterríveis, euestava com me do que
eutivessesonhadotudoisso.
Sonhado com você.
Há apenas algum assemanasatrás, eu não tinhanada. Eu não eraninguém. Eufuivendida
com oescrava, semesperançadeserresgatada. Odestinometrouxepara você, e
emvezdememandardevolta, você meacolheu. Vocêmedeudignidade. Vocêmefezsentirquerida
enecessária, e não hámelhorsensaçãonomundo.
Por causa de você, encontreiforça. Se euprecisasse, poderia
andarpormimmesmanovamente. Masisso não é o que euquero, queroestar com você parasempre.
Vocêéomeulugar, omeusantuário. Eu não possoacreditar com oestoufelizporterencontrado você.
Como você medisseumavez, a minhavinda aquifoiummilagre. Euprecisavade você e você
estavalá. Eununca deixarei você, mesmose elesmearrancarememlágrimasdosseusbraços,
omeucoraçãoficará com você.
Quandoeuestavaperdida, você medeu umacasa. Quandoeu não tinha esperança, você
medeuoamanhã. Vocêdeu umsentidopara a minhavida. Então, o que eupossotedar? NesteNatal,
eugostariadecobri-lo com presentes, mas não tenhonadaparadar, somenteisto…
Dou-lheorestodos meus dias.
Voudar-lhebebêsdomeucoração.
Voutesegurarquandoestiverfrioeandar com vocêsobreasestrelasquandoestiverquente.
Eusousua, incondicionalmente.
Eudarei-lhetodo oamor que o meucoraçãopodesuportar.
Euvou-lhedaramim.
JulietteJolie Dumas
QuandoAustin leuaúltimapalavra, ficousemvoz.
QuandoeleolhouparaJolie, osseusolhosestavamcheiosdelágrimas. Ele
estendeuosbraçoseJolie entrouneles.
— Vocêéoúnicopresentequevouquerer. — Envolvendo-a mais perto, Austin
puxou-acontrao seu coração. — Euteamomuito.
— FelizNatal, meuAustin.
— FelizNatal, minhaJolie. Eutenho mais umacoisaparalhedar. — Elelhedeu
umbeijocarinhosonoslábios.
Maiscedo, eletinhaprocuradonovelhobaúcheio com assuaslembranças mais
preciosas, asque eletinhatrazido de sua casanoTennesse e. Dentrodele, eletirouoanel de
suamãe. Escondidodentrodeseubolso, elesentiuapequenabandadeouro, esperan do que
não fossegrandede mais para odedodeJolie.
— Oqueháde errado? — Elaperguntou, vendo como eleaolhava com arsolene.
— Nãoénada errado, amenos que você mediga não.
— Eu não possoimaginarisso, amenos que você
mepeçaparaperseguiroporconovamente. — Elalevantouamãopara acariciar o seu rosto,
amandoaforma com oa asperezada suabarba arranhava a sua mão.
Nãoimportavaquantasvezeseleafizesse, empoucashoras, ela
eracapazdesentiraspontassurgindo. Umruborsubiuemseurostoenquandoselembravad o
quão bomerasentiroroçard o seu roston o seu corpo.
— Semporcoshoje. — Elepressionou o seu rostonapalmadamãodela. — Eu sei
que você concordouemfugir comigo, mas euquerotorná-lo oficial. — Segurando oanel,
ele encontrouseuolhar. — JulietteJolie Dumas, você medará ahonradesetornarminha
esposa?
Uma enormeondadeamorroubouarespiraçãodeJolie. Ela estendeusuamão.
— Oh, sim. Porfavor. Nadamefaria mais feliz. Euquerosersua atéaodiaque
eumorrer.
Austin cobriusuaboca com adele eselousuapromessa com umbeijo.
— Euvoulembrá-lasempredisso, meuamor. — Eleselevantouefoiatrásdaporta,
trazendoumanovavassouraque tinhafeito com palhafresca. Asrosasbrancasselvagens,
aindaflorescendonosprimeirosdiasdegeada, estavamentrelaçadasemtornodocabo. —
Vamostornarisso oficial.
— AtépodermosestardiantedeDeus, issoservirá— elaconcordou com umsorriso.
Austin seguroualíngua. Sefosseporele, elanunca saberia o que
oPadredeLeondissesobre elescasarem. Anotíciapodia não vir com oumasurpresapara
ela, mas ele serecusoudarimportância a o que disserepetindoaspalavrasofensivas.
— Oamoremnossoscoraçõesé o que nosune, não
háqualquercoisaqueumhomempossafazeroudizer.
Colocouavassouranochãonafrentedalareira, e estendeuamão.
Comabsolutadevoção, elacolocouamãona sua ejuntoselespularamavassoura.
Ocãopensouque eraumjogo, latindoepulandoatrásdeles.
— Agora, vemamelhorparte. — Eleatomouem seusbraçosesedirigiupara acama.
— Aluademel.
AssimquecolocouJolie nacama, ele começouadespi-la, sendocuidadoso com
assuasnovasvestes, e elalheperguntoutimidamente:— Vocêprometeu me ensinar com
oagradá-lo. Lembra-se?
Ocalorsubiuemseucorpo.
— Jolie, querida, hácoisas… — Suavozsumiu.
— Quetipodecoisas. — Elasesentounacama, semvergonha de suanudez.
Eleficoutãoencantado com avisãodeseusseiosnusquemalpodiafazeruso de
sualíngua. Oque ele estavaprestesasugerirpoderia enoja-la.
— Vocêsabe o que eufaço com você, quandoeutebeijoentreaspernas?
Jolie corouficandovermelha.
— Oh, sim. — Seusolhosforamdiretopara a sua masculinidade. Longoegrosso.
Aosseusolhos, ele eraperfeito. Elasentiuassuasprópriaspartesfemininasreagira o seu
chamadosedutor. — Euquerofazerisso com você — disseJolie semhesitar.
Asuarápida aceitação ofezpulsaremantecipação. Isso não era alg o que eletinha
experimentado, masdepois, eletinhaimaginadoJolie fazendoissonelemilvezes.
Jogandoascobertas, Jolie deuespaçopara ele. Assimque ele
estavadeitadodecostas, elasesentiufeliz, tocandoebeijando o seu corpo,
passandoasmãossobrea sua carnemacia, deixando osseuslábiosbrincaremna sua pele.
Austin não conseguiatirarosolhosdela. Nãohaviadúvidan o seu prazer, naforma
com oela estava apreciandoetendoprazeremseucorpo. Ele estavatãonervoso,
cadamúsculoestavatenso com a antecipação, tremoresquaseimperceptíveisagitavam o
seu corpo.
— Jolie, querida — elegemeu. — Porfavor.
Jolie sorriu, amesma
expressãodesatisfaçãonorostoigualàqueapareceupelaprimeiraveznorostodeEvanoÉden.
Ela estavanocontrole.
— Eutevi, euosentidentrodemim, mas eu não tiveachancedebrincar com você.
Austin estavapresoemcadapalavradela, hipnotizadoenquantoa sua
mãosemovian o que parecia emcâmeralenta emdireçãoà sua masculinidade.
— Porfavor. Faça o que você quiser. — Eleprendeuarespiração, e emseguida,
soprouem umsilvoquando osseusdedosfinalmente entraramemcontato com a sua
carne. — Oh, Deus — elegemeu, com me do que fosse explodirederramara sua semente
com apenas o seu to que.
— Vocêteráquemedizer o que fazer — Jolie murmurouenquanto oacariciava.
Ela estavafascinada. — Vocêestátãoduro, masainda suave. — Baixandoa cabeça,
elacorreuoslábiosdelicadamente emseueixo.
Austin saltoue ela ergueua cabeça, olhandopara ele.
— Nãopare. Deus, porfavor, não pare.
Comumsorrisotranquiloefelinoelavoltoupara a sua tarefa,
envolvendoamãoemvoltadomembro, testando o seu peso, passando o seu
polegarsobreaponta. Elejogoua cabeçaparatrás, contraotravesseiro.
— Éissoaí, querida, mova a sua mãoparacima eparabaixoemmim.
Jolie obedeceu, segurandotantodelequantopôde emseupequenopunho. Bl o que
and o seu olhar com odele, ela não conseguia evitar,
desesentiremocionadadaformahonestaque
elereagiuàssuastentativasdesajeitadasdeagradá-lo.
— Maisrápido, baby.
Ela aumentouavelocidadequandoAustin levantouosquadris, oferecendo-separa
ela. Intensa em suavulnerabilidade.
Austin queriaperguntar, eleprecisava de suaboca, mas ele não sabiase
elaquereria…
— Possobeijar você?
— Euficariamuitohonrado — murmurouentreosdentes, totalmente
encantadoaovê-la. Mas quando ela seinclinoupara ele eAustin sentiuoprimeirot o que
da suapequenalíngua, e emseguidaocéudosseuslábios quando ele ssemoveramn o seu
membro-Austin ar que o uascostas, levantouosquadrisejogoua cabeçanotravesseiro.
Excitadaporele, Jolie mergulhou, amandoAustin. Oatodedete-loem suaboca era
estranho, mas ela gostou. Jolie segurouaponta em suaboca,
usandoalínguaparagirarelamber com movimentosdelicados, sugandoumpouco.
Usandoa sua mão, elaoseguroufirme, o seu polegaresfregandoemcírculossuaves. Jolie
podiasentir o seu batimentocardíacosobosseuslábios, batendotãofortequanto odela. E
quando ela olevou mais fundo, a sua mãosubiupara agarrarseucabelo. Noinício,
pensouque eletentavapuxá-ladevolta, entãoela começoualevantar.
— Não! — Elegritou, segurando-afirmepela cabeça. Jolie teriasorrido, masa sua
boca eosseuslábiosestavamocupados.
Austin estavanoparaíso. O que ela fazia com eleiatãoalém do que
pensavaquejátinha com partilhado com alguémque estava
esperandodespertaraqualquermomento. Istoeratãobom. Ele não iadurarmuito mais
tempo.
— Se você querque eufaça amor com você, você precisará…
Jolie não queriaparar. Elacolocouamãon o seu estômago, em
umaordemsilenciosapara eleficarquieto. Este era o seu momento, a sua
formademostrar o que Austin significavapara ela.
NãotendoqualquerformadesaberseJolie estavaou não fazendoacoisacerta, Jolie apenas
fez o que pôde, esbanjando-o com amorusando osseuslábios, língua emãos.
Austin entregou-sea ela, rendendo-seà sua vontade. Impotente,
osseusquadrisempurraram, o seu coraçãobatendo mais fortequando o seu desejosubiu
mais altoe mais altoatéque elegritou o seu nome.
— Jolie!
Quando ele derramou em sua boca, Jolie o aceitou. Nada dele poderia ser
desagradável para ela. Ela continuou segurando-o, acalmando-o, só o removendo de
sua boca quando ele começou a relaxar. Então ela cobriu de beijos as suas coxas, o seu
eixo gasto, mostrando-lhe o quanto ela amou com partilhar isso com ele.
Austin apuxouparacimad o seu corpoatéque elepudessealcançarosseuslábios.
— Obrigado, minha esposa. — Embalando-aperto, ele sussurrou — Dê-
meumminutoparamerecuperare eufareidissoumaluademelquenunca iráesquecer.
Elaseaconchegoucontra ele, satisfeita.
Esquecê-lo ouestediamaravilhoso não erasequerumapossibilidade.
Capítulo Dez

Quando você está feliz, o tempo parece desacelerar até que flui como uma
corrente suave. Cada momento é precioso. Cada palavra é significativa. Jolie nunca
tinha estado tão satisfeita. Ela e Austin fizeram planos: o que iriam plantar, onde iriam
construir a casa.
— Eu tenho dinheiro suficiente para construirmos um futuro, Jolie. Eu posso
cuidar de você.
— Eu confio em você completamente, Austin. Eu não preciso de um monte de
coisas para ser feliz.
Hoje, ele estava abrindo mais espaço, cortando árvores e queimando vegetação
rasteira. Jolie estava dentro da cabana, cortando retalhos de tecido que sobraram de seu
vestido novo e de uma camisa de Austin que tinha visto melhores dias. Cada pedaço
de material foi guardado. Mesmo a roupa que usou em sua fuga como escrava não
tinha ido para o lixo. Ela cortou o vestido esfarrapado em retalhos para o seu período
menstrual. Com esse pensamento, sua tesoura congelou no ar.
— Oh, meu Deus. — Jolie tentou pensar. Quando foi a última vez que ela
menstruou? Usando seus dedos, ela contava os dias, uma realização cresceu em seu
coração. Estava grávida? Abraçou-se, entesourando o pensamento. A possibilidade era
irresistível. Ela diria Austin logo que ela tivesse certeza. Com um sorriso secreto,
imaginou o quão animado ele ficaria.
— Jolie! — Ela ouviu Austin gritar. Indo até a porta, ela olhou para fora para
ver qual era o problema. — Alguém está vindo!
— Companhia? — Suas mãos foram para seu cabelo, em seguida, alisou a saia.
Pisando no limiar, ela não podia imaginar quem viria para vê-los.
Vendo-a na porta, Austin advertiu.
— Fique lá dentro! — Ele não contou a ela sobre os cartazes de — Procurada —
Pegando seu rifle, ele considerava o que faria se isso fosse sobre Jolie. Eles não a
levariam, não sem luta. Desse fato, ele estava certo.
Obedecendo, sem hesitar, Jolie fechou a porta e esperou.
Austin estava de pé, observando, até que ele pudesse ver quem estava vindo.
Ele reconheceu Armand Pierce e Frost Thorn. Havia também um homem com uma
longa barba grisalha com eles, um homem que ele não conhecia. Sabendo que não
estavam aqui para uma visita casual, ele gritou.
— Como posso ajudar, senhores?
Nenhum deles falou até que eles estavam reunidos em linha reta na frente dele.
Uma sensação desconfortável apertou o estômago de Austin. Se isso fosse sobre Jolie…
— Austin, nós viemos pela garota que vive com você, de quem você falou na
minha loja. — Esta declaração de abertura foi de Thorn.
Austin levantou a arma, não a apontando para eles, mas perto o suficiente para
que eles soubessem que ele falava sério.
— O que tem ela, Frost?
— Agora, espere, amigo — Armand ergueu as mãos.
— Não queremos fazer mal. Viemos pedir sua ajuda.
Austin ainda não estava convencido. Se eles pensaram que ele entregaria Jolie
para eles, ajudar a prejudicá-la;bem, estavam prestes a ter uma surpresa.
— Que tipo de ajuda você está falando?
O estranho falou, sentando-se reto em seu cavalo.
— Sou Bertrand McNulty, recém-chegado à área. Minha esposa, Martha, ficou
doente. Muitas pessoas estão doentes.
Armand acenou com a cabeça.
— Celeste está doente, Austin. O doutor também está doente. Eles levaram
quase todo mundo para a missão para colocá-los em quarentena lá.
— Sim. — Thorn falou.
— Estamos fazendo o melhor que podemos, mas as pessoas estão morrendo.
Um dos índios na missão nos disse que a febre atingiu sua tribo semanas atrás, mas
eles receberam ajuda de uma fonte improvável.
Quando ele parou, Austin engoliu nervosamente.
— O que isso tem a ver conosco?
Armand continuou.
— Fomos informados de que a sua Jolie tem um medicamento que ajudará.
— Alguns dizem que ela é uma bruxa, mas todos nós concordamos que não
temos muita escolha. — Os olhos de Bertrand eram duros.
Austin não gostou disso; ele não gostava nada disso.
— Eu não sei.
— Nós poderíamos te obrigar.
Bertrand sacou a arma, mas Thorn empurrou o cano para baixo.
— Não, não forçaremos eles, McNulty. Sr. McCoy fará a coisa certa.
— Por favor, Sr. McCoy. Nós estamos implorando. — Pierce acrescentou o seu
apelo.
Atrás dele, uma voz suave falou.
— Eu vou, Austin. Você pode ficar aqui e cuidar das coisas. Eu voltarei quando
acabar.
Ele foi até ela, virando as costas para os homens.
— Eu odeio isso. Colocando você em perigo, e os insultos.
— Nós não temos uma escolha. Eles precisam de mim. — Ela olhou para o rosto
dele, adorando tanto que doía o coração.
— Se precisávamos de algo, iríamos querer que eles nos ajudassem.
Sentindo sua resolução, ele abaixou a cabeça, concordando.
— Eu não quero que você vá. — Ele soltou uma respiração.
— Mas suponho que não seria certo ignorar sua situação. Eu não ficarei para
trás. Como eu disse não muito tempo atrás, aonde você for, eu vou.
— Obrigada, Austin. — Ela deitou a cabeça no peito dele, levando um momento
para apreciar o conforto de seu constante e forte batimento cardíaco.
Com um forte abraço, a soltou, em seguida, virou-se para dar aos homens uma
resposta.
— Vamos acompanhar vocês de volta ao povoado. Vamos precisar de um
pouco de tempo para nos preparar.
Os três homens esperaram, não estando dispostos a arriscar que eles mudassem
de ideia. Não sabendo mais o que fazer, Austin libertou seu gado. Quando Jolie
protestou, ele tentou aliviar seus medos.
— Dessa forma, eles podem pastar a grama e chegar à água. Eu não posso
deixá-los presos para morrerem de fome.
— E se algo acontecer com eles? O que faremos? — Perguntou ela com
trepidação em seus olhos.
— Nós começaremos de novo. — Ele a beijou suavemente. — Contanto que não
te perca, todo o resto é substituível.
Enquanto Austin arrumava a carroça, seu saco de moedas e cachorro incluídos,
Jolie reuniu suas ervas, usando cada momento livre para coletar mais. Os homens
ajudaram como podiam, querendo manter um olho em Jolie. Isso desagradou muito
Austin. Uma vez que eles estavam prontos para ir, ele deu uma última olhada na sua
casa, sem saber quando a veria de novo.
A viagem para a Missão levou dois dias inteiros. No caminho, Bertrand
McNulty ficou doente e Jolie cuidou dele. Eles o colocaram na parte de trás da carroça
e ela ficou ao seu lado, banhando o rosto com água e fazendo ele beber água reforçada
com ervas. Como todos os olhos estavam sobre ela, quando chegou na parte de seu
ritual onde ela diria as orações, Jolie fez sussurrando.
Antes de saírem de casa, Austin tinha sussurrado para ela ter cuidado.
Enquanto eles precisavam de sua ajuda, as pessoas da cidade suspeitariam de seus
métodos. Jolie esperava por isso e prometeu que teria cuidado. No momento em que
chegaram em Nacogdoches, ela estava tremendo de nervoso. Jolie era inteligente o
suficiente para perceber que isso poderia acabar mal para ela e Austin.
Vendo o povoado, pela primeira vez, com todas as pessoas circulando, fez ela
perceber quão isolada tinha estado da civilização. Jolie não se arrependia, não queria
estar com ninguém mais além de Austin. No entanto, ela sentia falta de companhia
feminina. Seus olhos observavam tudo, especialmente a forma como as pessoas os
olhavam conforme sua carroça passava pela cidade, encaminhando para a Missão.
Aparentemente, a sua vinda não era nenhum segredo. Pessoas apontavam. Pessoas
sussurravam. Eles eram esperados.
— Você está bem? — Austin perguntou por cima do ombro, sentindo que Jolie
estava desconfortável com tantos olhos sobre ela. Ele esperava que aqueles cartazes de
"Procurada" tenham apodrecido nas paredes e caído no chão.
— Sim, eu estou bem. — As palavras eram visíveis, seu hálito quente fazendo
vapor quando saía no ar mais frio. Jolie se segurava no lado da carroça, resistindo ao
trepidar causado pelas rodas que percorriam um terreno irregular.
— Estamos perto?
— Sim, a Missão é logo ali do outro lado do velho Forte Stone.
— Não vejo a hora disso tudo terminar — ela murmurou.
— Eu sei — Austin disse como coração pesado. Ao passarem pelo forte, Austin
se perguntava o que acontecia com Edwards, Parmer, e o resto. Agora, eles tinham
preocupações mais urgentes. Ele só esperava que a paz e a razão fossem prevalecer.
Ao chegar na Missão, eles foram recebidos por pessoas frenéticas para obter
ajuda.
— Você é a médica? — Perguntou uma mulher, correndo ao lado da carroça.
— Eu vim para ajudar — Jolie assegurou, chegando a tocar sua mão.
Austin estava contente de ver o Padre Miguel vindo na direção deles. Ele não
tinha nenhum desejo de ver Padre De Leon tão cedo.
— Obrigado por terem vindo — disse ele.
— Quando eu percebi que a mulher que os índios tinham descrito para mim era
aquela, sobre a qual você tinha falado para nós no outro dia, eu podia ver a mão de
Deus em tudo isso.
— Eu espero que sim, Padre, — Austin murmurou quando ele levava a carroça
até uma área onde ele poderia montar acampamento.
— Mais morreram. Estamos prontos para fazer tudo o que esta mulher graciosa
nos disser para fazer. — Padre Miguel ajudou Jolie a descer da carroça, enviando
homens para levar McNulty para dentro para ser colocado numa maca.
Austin ajudou, em seguida, voltou para o lado de Jolie.
— Ela fará o que puder, Padre. Por favor, não coloque todas as suas esperanças
sobre ela, esta doença é uma praga que parece ir e vir à vontade.
— Estamos rezando a Deus para que Jolie possa ajudar. Na minha aldeia, no
México, minha mãe costumava usar ervas. Mesmo o médico falou sobre isso, ele estava
disposto a tentar qualquer coisa. — Padre Miguel encheu seus braços com suprimentos
de Jolie, levando-os pelo pátio da Missão em direção à capela.
— Eu pensei que tudo o que esse médico fazia era sangrar pessoas. — Austin
respondeu.
— O que ele pensa de tudo isso? Ele já está recuperado e bem?
Padre Miguel balançou a cabeça tristemente.
— Ele morreu ontem.
A notícia dada pelo padre estabeleceu um tom solene. Jolie não hesitou. Dirigiu
Austin e os outros que trouxessem abundância de água fresca. A febre despojava
líquidos do corpo, e enquanto alguns achavam difícil manter qualquer coisa no
estomago, ela fora ensinada por sua avó quão importante era que o paciente tomasse o
máximo de água possível.
Os bancos na capela foram empurrados contra a parede e fileira após fileira de
macas foram dispostas no chão. Os membros da família pairavam perto de alguns dos
pacientes, sem vontade de deixar seus entes queridos apesar do perigo. Jolie
compreendia.
— Olá— ela falou com alguns deles.
— Estou pronta para começar a distribuir medicamentos. — Vários se
levantaram para ajudar. Eles não pararam para trocar gentilezas ou aprender os nomes
um do outro. Essas coisas viriam mais tarde.
Enquanto trabalhava, Jolie estava consciente dos sussurros ao seu redor. Um
rubor floresceu em suas bochechas. Ela ignorou isso e eles. De um paciente para outro,
ela passou, banhando seus rostos, dando ervas misturadas com água, dizendo suas
preces e implorando aos deuses para a cura.
— Eu nunca vi nada parecido com isso — Austin sussurrou, entrincheirando-se
ao lado dela enquanto ela atendia uma pequena criança que estava queimando em
febre.
— Nem eu — Jolie concordou.
— Eu me sentiria melhor se você mantivesse distância. Preocupo-me com você.
— E você acha que não me preocuparei com você? — Austin argumentou.
— Se fosse do meu jeito, outra pessoa faria o que você está fazendo e eu a teria
em casa sã e salva.
Ela sorriu tristemente.
— Não há mais ninguém para ajudar.
Austin sabia que ela estava certa, mas não mudava a forma como se sentia.
***
Poucos dias depois, eles tinham se estabelecido no que parecia uma rotina.
Austin estava do lado de fora, fazendo um intervalo dos cortes de madeira para o fogo
na eterna necessidade de aquecer a água e proporcionar alimentos. Ele olhou em volta,
espantado com a variedade de pessoas que se reuniram em um só lugar -alguns
doentes, alguns ajudando, alguns de luto. Havia mexicanos, espanhóis, Anglos e
índios. A com unidade estava mobilizada. Aqueles que não foram expostos, ficaram a
algum a distância, mas eles ainda vinham, trazendo suprimentos ou aqueles que
tinham recém contraído a febre.
— McCoy!
Uma voz familiar o fez olhar ao redor.
— Antonio!
Vendo seu amigo montado em seu garanhão negro favorito o fez sorrir.
— Fiquei sabendo que você e sua senhora estão brincando de anjos de
misericórdia aos mortos e oprimidos.
— Sim, felizmente ou infelizmente, no entanto você tem que manter a mente
aberta para isso. — Austin não poderia deixar de notar que Antonio não estava
sozinho. Sentado atrás dele na sela estava uma mulher índia muito formosa.
— Você está bem? — Ele perguntou com preocupação.
— Sim. — Ele virou e ajudou a menina a descer.
— Meu amigo, Austin McCoy, este é Ama. Ela me disse que conhece a sua Jolie.
Austin quase perguntou com o, quando ele se lembrou que ela era uma das
pessoas que viera ajudar Jolie no começo.
— Madame — ele tirou o chapéu e acenou com a cabeça.
— É um prazer conhecer você. Minha esposa fala bem de você.
— Sr. McCoy. — Ela lhe deu um sorriso recatado.
— A notícia do dom de Jolie já se espalhou.
— Sim, muito mais rápido do que eu teria imaginado ser possível.
Ele levou Antonio para onde sua própria carroça e cavalo estavam.
— Eu ficarei feliz em lhe oferecer café ou um pouco de água depois da sua
viagem.
— Gracias — O mexicano tirou o chapéu preto, as moedas de prata que
decoravam a sua cabeça brilharam no sol de inverno. — Estou cansado. Você já ouviu o
que estão dizendo?
Austin sacudiu a cabeça. Antes que ele pudesse responder, Ama sussurrou para
Antonio e ele acenou com a cabeça, apontando para a Missão.
— Vá em frente. Eu estarei aqui. — A donzela índia correu.
— Ela quer ver Jolie.
— Você a encontrará dentro da capela. — Ele indicou a Ama à direção certa.
— Antonio, a conversa por aqui é principalmente sobre esta praga maldita. O
que quer dizer? — Ele serviu dois copos de estanho de café e entregou um a seu amigo.
— Eu ouvi quando Stephen F. Austin foi chamado para ajudar por Edwards e
Palmer, suas palavras foram:
"Vocês estão se enganando e essa ilusão arruinará você".
— Essa é uma resposta muito direta.
— Eu também ouvi que Ellis ainda está negociando como Chefe Fields. Eles
estão prometendo aos índios uma doação de terras se seguirem os procedimentos
adequados.
— Eu espero que estejam dizendo a verdade. — Austin manteve seu olho na
porta da capela. Cada vez que uma nova pessoa chegava, ele prendia a respiração no
caso de a pessoa ter vindo para levá-la para longe dele.
— O que mais você ouviu?
— Ouvi dizer que os mexicanos estão se preparando para retaliar.
Austin fez um gesto em direção ao Fort Stone.
— Não há qualquer coisa acontecendo. Eu odiaria ver uma guerra estourando
agora.
— Eu acho que eles estão tentando impedir que algo aconteça. Minhas fontes
dizem que o tenente coronel Mateo Ahumada está marchando até aqui com mais de
uma centena soldados de infantaria. Um amigo estava na presença do Sr. Stephen
Austin quando Ahumada parou para avaliar a lealdade de seus colonizadores.
Disseram que Stephen anunciou a seus seguidores que "um louco apaixonado em
Nacogdoches declarou independência". Muitos de sua colônia se juntaram a Ahumada,
voluntariando-se a ajudar a acabar com essa rebelião.
— Então, quantos estão chegando e quando eles vão chegar aqui? — Austin
tinha intenção de tirar Jolie com segurança de Nacogdoches se estivesse em seu poder
para fazê-lo.
— Mais duzentos e cinquenta se juntaram os mexicanos.
— Droga. Isso não é bom. — Austin se preocupou, limpando o suor da testa,
apesar de que um vento gelado soprava. — Nós só podemos lutar uma batalha de cada
vez e a praga tem que ser prioridade.
— Eu concordo. — Antonio esvaziou o copo e o estendeu para uma recarga.
— Você lutará?
— Sim, lutarei contra os Fredonians. Eu tenho muito a perder. Devo viajar para
casa, para levar Ama à sua tribo, mas voltarei.
Austin compreendeu. Ele tinha muito a perder também –e o que ele valorizava
não tinha nada a ver com a terra.
No interior da capela, Jolie organizava lençóis no chão para mais um paciente.
Ela tinha acabado de ser informada que uma mulher e seus dois filhos estavam sendo
trazidos.
— Jolie!
Jolie instantaneamente reconheceu a voz. De pé, ela examinou a multidão.
— Ama! — Ela correu para cumprimentar sua mais recente amiga. — Você está
bem!
— Eu estou. — Elas se abraçaram.
— Tsula sobreviveu também. Perdemos vários, mas o remédio que você me deu
e as orações que fizemos evitou muitas mortes.
— O que você está fazendo aqui? — Ela olhou ao redor.
— Você trouxe alguém que precisa de ajuda?
— Não. Eu estou aqui com um amigo do seu marido. Antonio de Chireno. Ele é
meu amigo também.
Jolie não questionou as implicações; ela estava muito feliz em saber da sorte da
tribo.
— Os nossos esforços chegaram aos ouvidos do Padre. É por isso que eu estou
aqui.
— Inola falou de você para quem quisesse ouvir, por isso não estou surpresa.
Mesmo os mais velhos sabem de você. Inola quer saber mais de você.
— Eu adoraria — Jolie suspirou.
— Eu estou tão preocupada — ela confidenciou a Ama.
— Austin está aqui comigo e nós deixamos nossa fazenda sem vigilância. Os
animais estão soltos e eu tenho medo que ele não terá casa para qual voltar.
Ama ouviu.
— Vou dizer a Antonio.
Jolie negou com a cabeça.
— Não, eu não estou pedindo ajuda — ela suspirou.
— Estou apenas preocupada. — Espalhando suas mãos, ela indicou todos
aqueles ao redor dela.
— Há muito a fazer. Sinto-me perdida, às vezes.
— Bem, eu estou aqui agora. Até a hora que tiver que ir, deixe-me ajudar.
***
Apesar dos esforços de Jolie, alguns morreram. Eles estavam em estado muito
avançado quando ela chegou para que seus esforços tivessem qualquer efeito. Austin
odiava quando Jolie era responsabilizada. As pessoas estavam se agarrando a qualquer
esperança que pudessem encontrar e a maioria tinha depositado as suas esperanças
nela. Falar de quem ela era ou poderia ser, de onde viera e quaisquer poderes que
poderia possuir serpenteou por entre a multidão como uma cobra rastejante.
Austin temia por ela. As pessoas eram conhecidas por atacar o que eles não
entendiam.
Mas nenhum recusou seu auxílio. O desespero acabou com a hesitação.
Uma semana virou duas. Padre Miguel realizava missas para oração. O clima
era sombrio, mas ninguém queria ignorar a oportunidade de apelar para o seu Deus.
Todo o tempo, Austin estava nas proximidades. Observando. Aguardando.
Pronto para intervir se necessário. Quando ele ia descansar, Austin tinha sono agitado.
Como ele poderia dormir pacificamente quando a mulher que amava não dormia
nada? Ele pediu a ela para parar e dormir, permitir que ele cuidasse dela, mas Jolie se
recusou a deixar seus pacientes, prosseguindo apesar de seu cansaço. Reservas de força
cresciam nela; de onde, Austin não sabia. Ele a amava antes, mas agora aquele amor foi
reforçado por admiração à sua força e com paixão. Jolie tinha deixado à escravidão
para trás, mas aqui ela estava servindo aos outros sem hesitação ou escrúpulos.
Provavelmente era errado ser egoísta em momentos como este, mas ele estava muito
mais preocupado com Jolie do que com as pessoas para quem ela trabalhava tão duro
para salvar. Se algum a coisa acontecesse com ela, ele não teria nenhuma razão para
continuar vivendo.
À medida que as horas passavam, felizmente, alguns dos doentes pareciam
melhorar. Esta bênção alterou não só a atmosfera do quarto, mas a atitude de todos os
envolvidos. Sua tênue compreensão na esperança mudou tudo.
Dentro do santuário da Missão, Jolie segurou uma tigela de caldo na boca de
Celeste Pierce.
— Só mais um gole, senhora Pierce. Você está muito melhor.
A mulher obedeceu.
— Obrigada, Jolie. Você viu meu marido?
Jolie sorriu, agradecida de que a mulher sobreviveria.
— Sim, ele está lá fora. Você gostaria que eu o buscasse para você?
Ela assentiu com a cabeça.
— Sim, eu estou preocupada como meu gato. Eu quero que ele vá ver como ele
está.
— Irei buscá-lo — disse ela com um sorriso. Para alguns, o pior já tinha
passado. Infelizmente, mais pessoas doentes chegavam todos os dias.
— Você é um anjo. — Padre Miguel falou atrás dela enquanto ela estava na
porta, procurando pelo Sr. Pierce.
— Estou verdadeiramente grato a Deus que ele a trouxe para nós.
Jolie sorriu fracamente.
— Não tem de quê. — Vendo o Sr. Pierce, ela transmitiu a mensagem de sua
esposa. Tirando um momento, estendeu a mão para os olhos, olhando ao longe,
tentando pegar um vislumbre de Austin.
Jolie estava esgotada. Além disso, suas suspeitas foram confirmadas. Ela estava
grávida. Medo por seu bebê tinha diminuído sua alegria. Ela estava grata pela melhora
que via, mas a preocupação de contrair a doença e o custo dos dias de trabalho sem
descanso suficiente estava mostrando em seu corpo - este era um preço alto a pagar.
— Estou feliz por ser útil. Espero sermos capazes de ir para casa em breve.
— As pessoas estão se apaixonando por você — o sacerdote assegurou.
— Não há maior chamando do que estar disposto a dar a sua vida por seus
amigos.
Jolie sabia que tinha havido um risco para ela e seu filho. Ainda assim, ela se
segurou as palavras de sua avó com ambas as mãos, teria fé de que a doença não cairia
sobre o seu povo. Claro, ela não podia revelar isso. Para seus vizinhos, Jolie parecia ser
branca, como eles. Para a segurança de Austin, bem como a sua própria, não podia se
dar ao luxo de fazer nada que possa fazê-los pensar de outra forma.
— Eu acho que o pior já passou — disse Jolie, voltando-se para a capela.
— Nós estamos vendo menos enfermos novos e a taxa de mortalidade caiu
dramaticamente. Eu estou na esperança de que a praga esteja perdendo a força.
— Eu rezo para que você esteja certa, Senhorita. — Padre Miguel apertou seu
braço.
— Não há dúvida de uma coisa, Deus tem usado você de uma maneira
poderosa. Só lamento que disseram que você e o Sr. McCoy não poderiam se casar na
igreja. Eu me senti tão impotente quando Padre de Leon disse a ele e ainda mais agora
que eu tive a chance de conhecê-la.
A confissão do padre atordoou Jolie.
— Austin pediu ao Padre de Leon para realizar uma cerimônia de casamento?
— Sim, eu sinto muito, ele disse que não. — Padre Miguel estendeu as mãos.
— A lei e a igreja não fazem concessões para o casamento entre…
— Ei! É você?
Ambos, Jolie e o padre, se viraram para encontrar um homem acenando um
pedaço de papel.
Austin, que tinha acabado de entrar na capela para ver se ele poderia convencer
Jolie a ir comer uma sopa viu o que acontecia e quase caiu de joelhos em angústia. O
homem segurava o cartaz de "Procurada" na mão.
Jolie negou com a cabeça.
— Eu não tenho certeza do que você está dizendo.
Austin atravessou a sala em direção a eles. Ele manteve esta informação para si
mesmo, não falou nada dela para Jolie. Com a epidemia de febre amarela em fúria, ele
esperava que o falatório sobre os escravos desaparecidos morreria. O pensamento tinha
até passado pela sua cabeça em ir pela cidade e retirando os odiosos cartazes de
"Procurada". Agora, ele desejou ter feito. Ver um homem de pé na frente dela exibindo
algo que roubaria a sua paz de espírito o deixou furioso.
— Jolie! — Gritou ele, a deixando saber que ele estava vindo.
Padre Miguel tentou intervir.
— Senhor, este é um lugar de cura. Você precisa sair.
— Não! — O homem se aproximou mais de Jolie.
— Eu ouvi o falatório. Você apareceu na casa de um cidadão do Tenesse ao
mesmo tempo em que esses escravos desapareceram. Eles encontraram um deles morto
e um urso matou o negociante… mas eles nunca descobriram o que aconteceu com os
outros dois. — Ele olhou para o esboço.
— Essa poderia ser você. — Ele olhou para ela.
— Você não parece muito negra, mas ouvi dizer que Louisiana está cheio de
mestiços e mulatos. — O homem barbudo com dois dentes e fedorento sorriu
triunfante.
— Um homem que representa o Sr. Thomas Garrett está na cidade. Acho que eu
o deixarei saber onde você está e ganhar algum a re com pensa.
Jolie sentiu seu mundo desmoronar ao seu redor. Ela teria caído para trás, se
Austin não tivesse a alcançado e colocado um braço de apoio em torno de sua cintura.
— Leve seu cartaz estúpido e saia daqui! Vá embora e deixe-a em paz!
O homem levantou as mãos.
— Oh, eu não tocarei na sua escrava. Não quero sujar as mãos.
Austin largou Jolie e investiu contra o homem. Padre Miguel se colocou entre
eles.
— Esta é uma casa de Deus!
Com um sorriso de escárnio, o intruso saiu.
— Não se preocupe. Eu voltarei. E não virei sozinho.
Jolie caiu de joelhos, inclinando a cabeça.
— Acabou. Está tudo acabado. — Ela colocou os braços em torno de si,
abraçando com força. Não havia nada que alguém pudesse fazer. Não há nenhuma lei
no mundo que protegeria ela e não queria que Austin perdesse a vida por ficar entre
ela e uma força que ninguém podia resistir.
— De jeito nenhum. Isso ainda não acabou. — Indo a ela, ele a levantou.
— Você não é mulher para ficar de joelhos. Levante a cabeça, você não tem
nada para se envergonhar. — Olhando ao redor da sala para as pessoas que Jolie
tinham ajudado, Austin se sentiu desesperado. Não havia ninguém aqui para ficar ao
lado dele. — Nós fugiremos. Nós só sairemos. — Ele tomou-a pela mão, pronto para
guiá-la para fora e fugir.
— Onde é que vamos? — Jolie exigiu. — Não podemos simplesmente fugir.
Liberando sua mão, Austin andava de um lado para o outro, arrancando o
chapéu da cabeça e puxando seu próprio cabelo.
— Padre, o que podemos fazer?
Padre Miguel viu este homem e esta mulher que tinha servido fielmente seus
semelhantes.
— Nós rezamos… e defendemos o que é certo.
Austin acenou com a cabeça, puxando Jolie contra ele.
— Não se preocupe nem por um segundo. Eu não deixarei ninguém fazer mal
um fio de cabelo em sua cabeça. — Ele não tinha ideia se poderia manter sua promessa,
mas ele sabia que morreria tentando.
Na hora seguinte, Jolie tentou ignorar o que acontecia. Ela cuidava de seus
pacientes, consciente de que Austin e o Padre tinham ido na aldeia, tentando encontrar
aqueles que pudessem ajudar a defendê-la contra quem quer que viesse atrás. Para ela,
este era um ato inútil. A lei não estava do seu lado e ela nunca desejaria que alguém
morresse para salvá-la.
Quando Austin veio para ver como ela estava, Jolie estava quase envergonhada
de olhar para ele.
— Você sabia sobre os cartazes de "Procurada"? — Ela tinha levado um tempo
para se acalmar e perceber que Austin não agiu com surpresa, apenas com raiva.
— Sim. — Austin respondeu.
— Eu os vi em minha viagem até aqui.
— Por que você não me contou? — Ela engoliu um grito, lágrimas correndo de
seu rosto.
— Eu poderia ter…
— O quê? Deixado-me? — Austin agarrou seus braços para fazê-la olhar para
ele.
— Eu não queria que fosse desta forma. Eu poderia ter… — Ela balançou a
cabeça em tristeza.
— Ficado longe? Eu conheço você, Jolie Dumas. Você teria vindo ajudar essas
pessoas, não importa o custo para si mesma.
— Está tudo acabado agora, de qualquer maneira. Eles chegarão aqui em breve.
— Deixe-os vir. — Austin proclamou. — Estamos prontos para eles.
— Nós? — Jolie não entendia.
— Você lutou por essas pessoas, agora é a vez delas de lutarem por você. — Ele
a levou para a porta dupla da capela, apontando para o quintal da missão. Para o
choque de Jolie, uma fileira de homens armados estava a postos e esperando.
Para lutar por ela.
Virando-se nos braços de Austin ela se aninhou perto.
— Por favor, não. Não faça isso.
Austin estava atordoado.
— Não lutar por você?
— Não, eu não poderia suportar se alguém fosse ferido por minha causa.
Ele não tinha tempo para discutir com ela. Um tiro anunciou que tinham
companhia.
— Por favor, nenhuma violência a menos que seja absolutamente necessário, —
o Padre advertiu com as mãos levantadas.
— Não atire a menos se eu disser para você fazer — Austin gritou.
Montando pela floresta de pinheiros vinha um homem de cabelos grisalhos
vestindo um sobretudo e chapéu. Ele parecia completamente fora de lugar neste
desértico sertão. Ninguém tinha que dizer seu nome a Jolie. Ela sabia quem ele era.
— Garrett Thomas. — Este era o homem que tinha com prado ela, que tinha
pago um preço exorbitante por sua virgindade. Uma nova dor quase a fez se dobrar.
Ela não só não era mais virgem, como ela estava grávida. A notícia quase saiu de seus
lábios, mas o pensamento da tristeza de Austin multiplicado por causa do bebê era
intolerável para ela.
— Basta ficar aqui — ele disse a ela. — Não se mexa.
Jolie quase dançou no lugar, cada célula de seu corpo disse a ela para fugir. Jolie
não sabia o que era pior - correntes ou a ideia de que um desses homens poderia
morrer hoje. Uma coisa que ela não podia negar, Jolie de bom grado sacrificaria sua
vida por Austin. Terror oprimiu ela. Garrett Thomas não estava sozinho. Cinco homens
armados estavam com ele, incluindo o que tinha invadido a missão para jogar sua
acusação.
— Pare exatamente onde você está, Thomas Garrett! Não há nada aqui que
pertence a você. — Austin deu alguns passos à frente dos cidadãos de Nacogdoches
que tinham consideradas Jolie digna de ser defendida.
— Eu discordo de você, Senhor. Eu paguei um bom dinheiro para esta escrava.
Traga ela para mim!
Dois dos homens avançaram e os colonos que estavam com Austin ficaram em
fileira.
As armas foram levantadas, a atmosfera estava tensa. Uma das armas foi
apontada diretamente para o coração de Austin. Jolie sentiu como se um barril de
pólvora estivesse prestes a sair.
— Não! — Ela gritou. Avançando, Jolie correu para a briga.
— Não atire. Eu vou com você. — Quando ela avançou, o mundo desabou. A
fúria de Garrett irrompeu e ela foi recebida com a ponta do chicote, cortando através
de seu ombro e rasgando um pedaço de sua roupa. Ela segurou as mãos sobre a cabeça,
ajoelhando-se e aceitando os golpes.
— Não! — Austin gritou, ficando no caminho do chicote, agarrando o fim dele e
puxando tão forte, que ele quase tirou o velho de seu cavalo.
— Você é uma desculpa desprezível de um ser humano! Como você pode
empunhar o chicote para alguém muito menor do que você?
O ruído de várias armas engatilhando podia ser ouvido. Austin sabia que a
única coisa o impedindo de ser baleado era o fato de que havia um empate –arma a
arma, de homem a homem.
— Ela pertence a mim! — Thomas gritou.
— Errado! Ela pertence a mim! — Austin sabia que sua definição de
propriedade era completamente diferente.
— Eu tenho um certificado de venda aqui dizendo que ela pertence a mim, Sr.
McCoy. Eu também posso identificar minha propriedade por uma marca de
nascimento na palma da sua mão.
Ainda de joelhos, o sangue escorrendo pelo peito, Jolie fechou a mão com força.
A humilhação e terror do momento roubou sua capacidade de respirar.
— Sr. McCoy, a lei está do lado de Sr. Garrett.
Austin olhou nos olhos tristes de Adolphus Simpson. O xerife era um dos
homens que acompanhavam Garrett.
— Vamos matá-los, amigo? — Perguntou Antonio de Chireno, pronto para
lutar.
— Nossas chances são boas.
Com um desespero furioso em seu peito, Austin orou por uma solução… e
quando ela veio, ele sabia que era uma resposta à sua oração.
— Não há necessidade de lutar. Vou comprá-la de você, Sr. Garrett. Diga seu
preço. Eu te darei tudo o que você procura, inclusive a minha vida pela dela.
— Não! — Jolie chorou.
— Não. Não lhe dê o seu dinheiro, não morra por mim, deixe-me ir.
Thomas Garrett estudou o pioneiro que ousou ficar entre ele e o que ele tinha
por direito adquirido.
— Nunca fui de ignorar uma oportunidade de lucro. Se você quer esta moça
mulata, então me pagará o preço de todos os três escravos que perdi.
Garrett nomeou o valor que espantou a mente de Austin. Não importa.
Nenhum preço era demasiado elevado. Ele não estava comprando um escravo; ele
estava redimindo sua alma.
— Eu pagarei o valor — disse ele sem hesitação. O preço levaria tudo o que
possuía, mas ele daria de bom grado.
Jolie se engasgou.
— Austin, não! — Ela se levantou e correu para ele quando o viu indo em
direção a sua carroça.
Austin não parou. Ele escondeu o dinheiro debaixo da cama na carroça e ele
sabia que ele ainda estava lá, ele tinha verificado esta manhã.
— Eu não valho a pena! — Ela puxou seu braço.
— Não vale a pena? — Apesar de sua audiência, ele enfrentou. — Você é tudo
para mim. Que melhor uso para esse dinheiro do que comprar minha felicidade, meu
amor?
Ele se afastou dela, deixando-a chorar. Ao redor deles, as pessoas observavam,
absorvidas pelo drama acontecendo na frente de seus olhos. Por esta altura, ninguém
tinha dúvida quem Jolie era -o que ela era. Jolie inclinou a cabeça para ochão,
desejando a Deus que pudesse re escrever a história, mudar seu destino, branquear o
seu corpo e alma.
Garrett esperou enquanto Austin McCoy trouxe um saco de moedas. Passou a
um homem, que cuidadosamente verificava a contagem. Quando terminou, Garrett
contemplou o grande homem em pé diante dele que tinha acabado de negociar uma
fortuna por uma escrava.
— Eu gostei de fazer negócios com você, Sr. McCoy. Eu espero que você não se
arrependa de sua decisão imprudente.
Jolie esperou enquanto as pessoas que a tinham defendido lançaram longos
olhares, baixaram as armas e retornaram para qualquer tarefa que os aguardava. Ela
ficou congelada, uma ex escrava, enquanto o homem que tinha com prado e vendido
ela partiu e Austin McCoy veio a ela com seu chapéu em sua mão e seu coração em
seus olhos.
— Você trocou o seu futuro por mim — ela sussurrou com coração partido, e a
voz tremendo.
Austin procurou seu rosto, em seguida, segurando em suas mãos grandes.
— Não, eu assegurei que tivéssemos um futuro. Juntos.
Capítulo Onze

Após o confronto com Garrett, Jolie realmente não sabia como agir com Austin,
este homem que tinha dado de tudo para salvá-la. Ele viveria para lamentar o que
tinha feito, ela sabia que era só uma questão de tempo. Todos os seus vizinhos, todos
os seus amigos, agora sabiam quem e o que ela era.
Conforme o dia terminava, assim como a potência da febre sobre as pessoas
restantes que ficaram na capela. Padre Miguel veio até Austin e agradeceu.
— O Senhor tem abençoado os esforços de Jolie. Vocês devem voltar para sua
casa em breve. Eu sei que ela tem se preocupado.
Quando Austin ouviu a notícia, ele ficou muito feliz. Ele procurou por ela,
encontrando Jolie em um córrego perto da missão, lavando suas roupas.
— Padre Miguel me disse que podemos ir para casa! Vem comigo, amor. Vamos
celebrar. Eu preciso ficar sozinho com você.
— Estamos sozinhos. — Ela não podia deixar de rir de sua exuberância.
— Não sozinhos o suficiente para o que eu tenho em mente.
Seu sussurro contra seu pescoço despertou uma fonte de ternura que fluiu de
seu coração. Ela nunca poderia dizer não a ele.
— Deixa-me guardar estas coisas e vou com você.
— Não, deixe tudo aí. Eu senti tanto sua falta, eu não posso esperar mais.
Como crianças, eles correram de mãos dadas, rindo enquanto ele pulava sobre
troncos, em seguida, ajudava-a. O seu trabalho na missão havia deixado pouca ou
nenhuma oportunidade de intimidade. Com o apetite sexual de Austin, ela ficou
surpresa que ele não tivesse insistido antes. Quando estavam a algum a distância dos
outros, ele a apoiou contra o musgo cobrindo lado norte de uma árvore.
— Eu queria poder ser mais gentil — ele murmurou enquanto suas mãos
mergulhavam debaixo da saia dela, afastando a saia que ela usava para encontrar seu
núcleo quente.
— Não há necessidade. Eu quero você, Austin.
A permissão dela o libertou. Desabotoando a calça, tirou seu pênis duro. Com
uma das mãos segurando sua bunda a levantou e com a outra, ele embalou a parte de
trás de sua cabeça para protegê-la da casca áspera.
— Coloque suas pernas em volta da minha cintura.
Jolie fez, segurando em seus ombros largos. Enterrando o rosto em seu pescoço,
ela gritou quando ele afundou dentro dela.
— Eu senti falta disso — disse ela, incapaz de negar sua necessidade para ele.
— Eu sofria por você — ele murmurou as palavras entre beijos.
Duro e rápido ele a tomou, a abstinência acabando como seu controle. Ela se
agarrou a ele, absorvendo a sua paixão e sua libertação.
— Sinto muito — desculpou-se, sabendo que ela não tinha encontrado prazer.
— Não sinta — ela sussurrou, sua satisfação suficiente para ela.
— Eu re com pensarei você quando chegarmos em casa, farei amor com você
por horas. — Ele a segurou firme enquanto ela se equilibrava e endireitou sua roupa.
Sentindo algo não estava como deveria ser, Austin apertou o queixo, forçando Jolie a
olhar para ele.
— O que está errado? Eu machuquei você?
Sua menção de casa encheu Jolie com pesar.
— Não, claro que não.
— Então que foi? — Ele dobrou os joelhos para ser capaz de olhar diretamente
em seus olhos.
— Conta!
Ela fechou os olhos e balançou a cabeça, não querendo colocar seus sentimentos
em palavras.
— Jolie… — Seu tom de persuasão, mas ainda autoritário obrigou-a responder.
Sua voz era tão suave, ele teve de se inclinar para ouvir.
— Você perdeu tanto por causa de mim.
Austin fez uma careta.
— Eu não entendo.
— Você deu Garrett Thomas tudo o que possuía para me comprar. — Quando
ele abriu a boca para dizer algum à coisa, ela colocou dois dedos sobre os seus lábios
para fechá-los.
— E você abandonou a sua casa, afastou-se dela para me seguir. Nós não
sabemos o que encontraremos, se tiver algum à coisa, quando voltarmos. Você perdeu
tudo por causa de mim.
Austin endureceu, seus dentes cerraram.
— Você está enganada, meu amor. Se eu tiver você, eu não perdi nada. Você é
mais preciosa para mim do que ouro e prata. Você é a minha casa.
Jolie fechou os olhos para conter as lágrimas.
— Eu não consigo entender como você poderia se sentir assim. Chegará o dia
quando perceberá o que fez. Padre Miguel me explicou como Padre de Leon disse que
ele não poderia realizar a cerimônia. É por isso que você chegou em casa e nos casamos
em segredo.
— Eu sei exatamente o que eu fiz— Austin insistiu.
— Eu me uni com você – corpo, mente e alma. Ninguém pode me dizer que
Deus não abençoou nossa união. — Ele jogou o braço na direção da missão.
— Olha como você foi usada em Seu nome.
— Austin, eu te amo. Eu só não quero ser aquela a arruinar a sua vida.
Bam! Bam!
O som de tiros interrompeu a discussão.
— E agora? — Jolie chorou, sem saber quanto mais ela podia suportar.
— Eu não sei. — Ele tinha medo de que soubesse… as tropas sobre a qual
Chireno disse a ele, sem dúvida, tinha chegado.
— Vamos, eu a levarei de volta para dentro da missão. — Agarrando-a, eles
foram de uma árvore para outra, mantendo a cobertura entre eles e tudo o que
acontecia.
— Eu acharei um lugar seguro para você, então vereio que está acontecendo.
— Eu não entendo — gritou Jolie. — Pelo que eles estão realmente brigando?
— Controle. Poder. Terras. — Austin cuspiu as palavras da sua boca. — As
mesmas coisas sobre a qual toda guerra é travada.
— Não vá lá. — Ela implorou conforme a Missão veio à tona. — Vamos sair,
voltar para a sua terra. Você não tem nenhuma discussão real com eles, não é?
Austin queria nada mais, mas ele não podia.
— Não, ainda não. Mas se eu não defender o que é certo, que tipo de homem eu
seria?
Uma vez que ele a deixou dentro da porta da capela, Austin a beijou.
— Você fica aqui. Eu estarei de volta logo que puder.
Jolie assistiu impotente conforme Austin pegava sua arma e saía. Ela encontrou
Sandy e o segurou pela coleira, impedindo-o de seguir seu mestre.
Austin correu pela rua, seguindo o som dos tiros. Ele odiava tudo aquilo, a
coisa toda era uma bagunça. As pessoas estavam lutando sem uma discussão real,
estimulados pelo jogo de outro homem para o poder. Ele preferia ter escoltando sua
Jolie para casa. Tudo o que ele queria fazer era viver em paz. Por que não era possível?
Passando um homem que estava agachado atrás do canto de um edifício, ele
perguntou.
— O que está acontecendo, amigo?
— Norris está tentando retomar o Forte de Parmer!
Quando Austin se aproximava do Fort Stone, ele viu uma escaramuça -homens
disparando contra outros homens. Cavalos forçando as rédeas. Inocentes espreitando
de suas janelas. Se o que Antonio tinha dito era verdade, e o exército mexicano estava a
caminho, por que Norris não esperou? Encontrando cobertura, ele correu atrás de um
grande pinheiro. Outro homem estava perto dele, sua arma levantada no alto.
— O que você ouviu, amigo?
O homem tirou o chapéu, seu grande bigode ocultando qualquer emoção.
— Norris trouxe oitenta almas para retomar o Forte dos homens de Edwards.
Parmer está lá com cerca de vinte milicianos armados. Aquele Fort é uma fortaleza
maldita; Norris não terá qualquer sorte.
Com certeza, o homem estava certo. Antes que qualquer um deles pudesse se
juntar à luta, Parmer tinha recuado e direcionado seus atacantes. Em menos de dez
minutos, Norris e sua equipe recuaram, em busca de um lugar seguro na profundeza
da floresta circundante. Aproximando-se de Norris, Austin perguntou:
— Por que você não esperou pelos mexicanos?
— Porque eles estão demorando muito. — Apesar da temperatura fria, ele
limpou o suor da testa.
— Além disso, eu pensei que Bean estaria aqui. Foi dito por um caçador que ele
e cerca de setenta mais vinham da colônia de Stephen F. Austin. Pensei na hora que eu
marchasse até aqui, eles estariam bem atrás de mim. — Ele franziu a testa, olhando
para o Forte, mantendo as sentinelas com seus rifles prontos. — Fiquem aí, homens!
Ao ouvir sua voz, um dos sentinelas disparou um tiro de advertência.
— Eu acho que eles estão falando sério, — Austin observou secamente.
— Sim, eles estão falando sério e estão desesperados. Edwards estava
esperando que os Cherokees estariam aqui para ajudá-lo. Eu não vi nem sombra deles.
Se eles não aparecerem, nós o derrotaremos facilmente uma vez que os nossos reforços
chegarem.
— Você precisa cuidar da sua ferida. — Ele apontou para um homem que
segurava seu braço e outro que tinha tomado uma bala na perna.
— Se você for ajudá-los a não chegar até a missão, minha esposa poderá cuidar
das suas feridas.
… Na porta da missão, Jolie esperou impaciente. Raramente ela tirava os olhos
da estrada abaixo na qual ela vira Austin desaparecer. Ela sabia que o Forte Stone não
estava a mais do que uns quatrocentos metros de distância. O barulho da luta poderia
ser claramente ouvido. Cada vez que havia uma explosão de arma, ela se sentia mal.
Um pouco de sua náusea podia ser atribuído à sua condição, mas Jolie sabia que a
maior parte era apenas preocupação.
Quando ela não estava de guarda na porta, ela ajudou Padre Miguel a colocar a
igreja de volta do jeito que era antes da praga. Eles tinham empurrado e puxado em
um par de grandes bancos de madeira quando ouviu um barulho na porta da frente.
— Jolie! Padre! Estes homens precisam de sua ajuda.
— Mais febre? — O Padre perguntou antes que ele estivesse perto o suficiente
para julgar a diferença.
— Não, ferimentos de bala. Do Forte.
— Traga-os aqui — Jolie direcionou enquanto ela baixava um novo palete.
— Eu pegarei um pouco de água. Padre, nós temos algo que podemos usar para
ataduras?
Este era um cenário totalmente diferente, mas Jolie e o padre deram um jeito.
Quando se tratava de remover as balas, Austin pensou que sua esposa pararia. Mas ela
não o fez. Ela aplicou algum às folhas especiais para limpar a ferida, deu ao homem
um pouco de uísque e um pedaço de casca para morder e Jolie habilmente as extraiu.
— Eu acho que nós teremos que te enviar pro Leste para a escola médica—
observou secamente, tão orgulhoso dela que não podia ver direito.
— Eu não penso assim. — Ela lhe deu um sorriso.
— Estou prestes a ter as mãos cheias, sem me tornar uma médica.
Seu misterioso sorriso o fez parar, mas não havia nenhuma chance de
prosseguir como assunto, Jolie tinha outra pequena operação para executar.
Cerca de uma hora mais tarde, ela se juntou a Austin na porta da Missão.
— O que está acontecendo?
— Antonio estava correto. Edwards se reuniu com a oposição. Forças estão
prestes a se unir contra ele. Norris e seu pequeno exército talvez não sejam melhores,
mas o Agente Índio Bean deve chegar com um exército enviado do Sul, um leal a
Stephen F. Austin.
— O homem tem um nome legal, — ela brincou com ele, não querendo pensar
em guerra e de luta.
Austin sorriu, sabendo exatamente o que fazia.
— Meu pai conhecia o pai dele, Moses. Eles fizeram negócios juntos em
Virginia. Meu nome é em homenagem a ele.
— Tenho notado que existem muitos que se chamam Jose Antonio, eu acho que
eu contei quatro.
— As mães não souberam usar muito a imaginação, não é?
— Não. Tentarei ser melhor. — Ela sorriu misteriosamente.
— Ser melhor em quê? — Austin prendeu a respiração. — Você está…?
Jolie não poderia escondê-lo mais.
— Acho que sim.
— Glória Aleluia! — Austin a pegou, segurou sobre sua cabeça e riu triunfante.
— Eu serei pai!
— Sim, você será. — Ela o abraçou ferozmente, tentando segurá-lo tão apertado
que não a deixaria novamente.
Sua celebração foi interrompida quando mais disparos ecoaram por entre as
árvores. Agarrando seu rifle, Austin beijou na bochecha.
— Eu sinto que preciso ir. Um homem como Edwards tem que ser parado. Eu
não estou dizendo que concordo com tudo o que está acontecendo, mas até as cabeças
mais calmas prevalecerem, eu tenho que ficar com aqueles que estão dispostos a
proteger os direitos das pessoas que originalmente se instalaram aqui.
Mais uma vez, Jolie esperou enquanto Austin aventurou-se em território
perigoso.
***
Desta vez, Austin levou seu cavalo, temendo que poderia precisar dele. A cena
da batalha parecia ter se movido do Forte para as florestas mais distantes. A vegetação
densa entre os altos pinheiros forneceu ampla cobertura para os homens se
esconderem. O problema que Austin teve com toda esta situação era tentar determinar
quem era o inimigo e quem era amigo. Não era como se um lado usasse uniformes
vermelho ou eram identificados pela cor da pele. Anglos lutavam em ambos os lados,
os de ascendência mexicana e índia lutavam em ambos os lados. Só pela identidade de
seu líder Austin poderia ter certeza de que lado os homens estavam neste conflito.
— Duck, McCoy! — Ellis Bean gritou quando uma bala passou zunindo por sua
cabeça. O Agente índio tinha chegado a cavalo pelas ruas da cidade seguido por seis
dúzias homens milicianos.
— Bom te ver, Ellis. Eu acho que sua chegada foi oportuna.
Ellis saltou de seu cavalo e encontrou um lugar ao lado de um tronco caído que
ele poderia usar como cobertura e um descanso para a arma.
— Benjamin e Haden Edwards estão escondidos no Forte. Eles não estão felizes.
Minhas fontes me dizem que Richard Campos e seu Cherokee conseguiram o seu
apoio. Na verdade, eu ouvi que Campos está em apuros com seu próprio povo. Eles
não apreciaram que foram arrastados para o meio do conflito dos homens brancos.
— Você acha que os irmãos Edwards vão se render?
Bean não tem tempo para responder. Em vez disso, ele levou um tiro. O ganido
de resposta informou que ele acertou o alvo.
Ao ouvir as batidas dos cascos, Austin se levantou, tentando mirar. Antes que
ele pudesse, a explosão de um rifle soou nas proximidades e uma dor ardente do tiro
atravessou a cabeça de Austin.
Ele fora atingido. O último pensamento que teve antes da escuridão atingi-lo ele
foi… de Jolie.
… Quando Jolie viu os cavaleiros chegando, ela sabia que havia mais vítimas. O
cansaço pesou nela. Estava tão cansada. O foco da missão mudou dos doentes para os
feridos.
— Temos outro a caminho, Padre.
Ela correu para fora para ajudar e o que ela viu a deixou de joelhos.
— Não! Austin! — Ela gritou. Seu amado estava pendurado em sua própria
sela, a cabeça e cabelo dourado bonito coberto de sangue.
— Ele levou um tiro, senhora.
— Ele está morto? — Sua voz era tão suave, o homem teve que dobrar para
ouvir.
— Eu acho que sim, sim, senhora.
Jolie perdeu todo o ar em seus pulmões. Ela caiu de joelhos e começou a chorar.
Padre Miguel veio correndo e, juntos, ele e o homem que tinha trazido Austin
foram capazes de levantá-lo e levá-lo para dentro da capela.
Jolie ficou para trás, sem saber se ela sobreviveria aos próximos minutos.
— Jolie, venha! — Padre Miguel chamou. — Ele está respirando!
— O quê? Ele está? — Ela gritou, esperançosa. Apressando-se para seu lado, ela
deitou sua cabeça no peito dele e chorou de alegria quando sentiu mover sob sua
bochecha.
— Oh, obrigada, obrigada, — ela ofereceu uma oração simples para os céus.
— Ele ainda está vivo, mas devemos encontrar onde ele foi baleado. — Padre
Miguel tentou fazê-la se concentrar.
Freneticamente, Jolie limpou o ferimento, com mais medo do que nunca sentiu
pelo que encontrasse. O bom senso lhe disse que ela não tinha nenhuma esperança de
saber o que fazer se a bala tivesse entrado em seu cérebro. Sua experiência não a
preparou para feridas na cabeça. Austin certamente morreria sem ninguém para ajudá-
lo, exceto ela.
Depois de mover o cabelo emaranhado e sangrento de lado, ela quase desmaiou
de alívio quando ela não pode ver nenhuma ferida de entrada. A bala tinha apenas
raspado no lado de seu crânio com uma vala rasa.
— Oh, meu amor! — Ele tinha chegado tão perto da morte que o pensamento
era quase mais do que podia suportar.
— Ele viverá, Jolie. Esta é apenas uma ferida superficial. — Padre Miguel
assegurou.
Jolie pensou que ele estivesse certo…
Mas um dia depois, Austin ainda não tinha aberto os olhos.
Dois dias depois, ele não abriu os olhos.
Três.
Quatro.
***
— Você deve comer algum a coisa, Jolie. Você precisa manter suas forças.
Morrer de fome não trará Austin de volta.
Jolie ouviu Padre Miguel, mas ela não respondeu. Ela só ficava tentando com
que Austin tomasse um gole de água.
— Ele não vai sobreviver se ele não comer, se não beber.
Padre Miguel sentia-se impotente. Ele sabia muito pouco sobre essas coisas. Ele
tinha ouvido falar de pessoas caindo em um sono do qual não podiam acordar. Alguns
sobreviveram. Alguns finalmente acordaram. Alguns não, finalmente morrendo por
falta de nutrição.
Ele não queria isso para Austin e Jolie. Se orações pusessem salvá-lo, um
milagre aconteceria.
— Quero levá-lo para casa — Jolie sussurrou.
— Se ele vai morrer, eu quero que ele morra em casa.
— Você não está desistindo, não é? — Padre Miguel ficou surpreso.
— Eu não sei. — Ela não sabia o que mais ela poderia fazer. Se já teve qualquer
tipo de magia dentro dela, Jolie sentiu que tinha ido embora.
— Não desista da esperança, Jolie. Enquanto há vida, há esperança. — Ele a
ajudou a carregar Austin na carroça.
— Como você fará quando estiver em casa?
Jolie já tinha pensado nisso.
— Eu estou indo à casa de seu amigo em Chireno. Ele virá comigo para ajudar.
Padre Miguel assentiu. Pelo menos ela teria alguém para ajudá-la a cavar a
sepultura.
— Se você precisar de algum a coisa, por favor, volte para mim. A missão estará
sempre ao seu serviço.
Com um aceno de agradecimento, Jolie entrou na carroça e agarrou as rédeas.
Olhando por cima do seu ombro, ela viu seu amado, deitado de costas e imóvel.
— Vamos lá— disse o cavalo.
— Nós estamos indo para casa.
… Algum as horas mais tarde, Jolie ainda estava guiando para casa a carroça de
Austin. Sua arma e cão ao seu lado. Com cada passo dado do cavalo, ela reviveu
momentos de felicidade que tinha conhecido com Austin. Sua mente se recusou a
viajar para além do momento. Ela não queria pensar no amanhã, não queria pensar
sobre o que aconteceria quando o bebê nascesse, não queria pensar sobre como a vida
sem Austin seria…
Ela fechou os olhos, lágrimas fluindo em suas bochechas.
— Oh, Austin, o que farei sem você?
— Você tem que bater em cada vala e buraco, Jolie? Este passeio trepidante está
matando minhas costas.
Alguns segundos se passaram antes que a realidade do que ela acabara de ouvir
batesse nela.
— Austin! — Ela jogou as rédeas e saltou sobre o banco e para o seu lado.
— Austin!
Ele estava vivo, ele estava acordado e sorria.
— Olá, bebê. Onde estamos indo?
— Casa! — Ela o beijou.
— Nós estamos indo para casa!
— Você acha que eu poderia comer algum a coisa?
— Você com certeza pode! — Felizmente ela encontrou algum a carne seca,
água e um pedaço de bolo que Padre Miguel teve certeza de embalar para ela. Depois
de ajudá-lo a se sentar, deu a comida, seus olhos itinerantes sobre o rosto, ainda
incrédula que ele estava com ela mais uma vez.
— Você dormiu por quase cinco dias.
Austin tocou a atadura em sua cabeça levemente.
— Levei um tiro.
— Sim, mas a bala não entrou, ela passou de raspão.
— A maldita coisa deve ter batido como um soco — Austin disse entre
mordidas.
— Como está o bebê?
Jolie limpou as lágrimas de suas bochechas.
— Como você pensa? Eu pensei que eu ia perder você.
— Eu sou um cara difícil de se livrar. — Ele estendeu os braços e ela foi até lá,
derretendo contra ele e soluçando incontrolável. Austin balançou para frente e para
trás.
— Silêncio. Nós estamos indo para casa. — Ele beijou seu pescoço. — Eu sonhei
que você está grávida?
— Não. — Ela beijou sua bochecha. — Eu terei seu bebê.
Austin fechou os olhos e suspirou profundamente.
— Tudo ficará bem. Nós teremos um bebê e Garrett não é mais uma ameaça.
— Eu sei. — Ela apertou com mais força. — Eu só gostaria de poder lhe dar de
volta tudo o que você perdeu.
Austin riu, seu peito largo vibrando sob sua bochecha.
— Neste momento, eu me sinto o homem mais rico do mundo. Aqui, com a
algum a coisa comigo. Você precisa manter suas forças. — Jolie aninhou-se em seus
braços e aceitou um pedaço de carne seca.
— O que aconteceu com a rebelião? — Austin estava quase com medo de
perguntar.
Jolie suspirou e esfregou sua bochecha contra seu casaco. Isso não era tão
importante para ela como todo o resto, mas sabia que seria importante para ele.
— Nem um único Cherokee apareceu para ajudar Edwards. Quando viram que
rebelião era impossível, eles fugiram. Sr. Bean o perseguiu até o Rio Sabine, mas eles
escaparam para os Estados Unidos. Quando saímos, o padre Miguel disse que
Ahumada viera para Nacogdoches para restaurar a ordem.
— Bom. Talvez possamos colocar tudo isso no passado e viver em paz.
— Eu quero isso também. — Ela passou os dedos pelos cabelos. — Obrigada
por ter voltado para mim. — Ele beijou-a delicadamente. — Eu ia até Antonio de
Chireno para pedir que me acompanhasse até em casa para me ajudar a transportar
você para casa. Você ainda quer ir lá?
— Não — Austin sacudiu a cabeça.
— Eu acho que consigo sair da carroça. Eu só quero ir para casa.
Quando se aproximaram de sua casa, Sandy saltou e correu à frente deles, o
rabo abanando, feliz. Austin prendeu a respiração, sem saber o que esperar. Ele sabia
que tudo era possível, a casa podia estar danificada, os animais poderiam estar muito
longe, tudo o que possuía poderia ser roubado por alguém que poderia ter aparecia em
seu lugar.
— Amigo! Bem-vindo em casa!
Jolie bateu palmas.
— Olha, Austin! Antonio e Ama estão aqui!
Assim como todo o resto.
Austin reduziu a carroça até parar, desceu devagar e foi cumprimentar seus
amigos.
— O que você fez? — Perguntou ele com espanto.
— Nós viemos e reunimos o seu gado. Nós mantivemos tudo seguro para você.
Jolie os abraçou. Ela não podia acreditar na sua sorte.
— Que amigos maravilhosos vocês são!
Juntos, eles seguiram em direção a casa. Austin estava tão grato e agradecido
para encontrar sua casa em boa forma e esperando por eles.
— Eu acho que você já ouviu a boa notícia. — Antonio andou ao lado de
Austin, pronto para oferecer ajuda se ele tropeçasse.
— Sim, Jolie me disse que os tempos turbulentos parecem ter ficado no passado.
— Por enquanto. — Antonio assentiu.
— Eu ouvi que os Cherokees executaram o Chefe Fields.
Austin fez uma careta.
— Não é uma coisa boa de se ouvir.
Antonio deu de ombros.
— Foi uma jogada para pacificar o México. — Ficaram em silêncio por alguns
instantes antes de ele acrescentar.
— Acho que os Texanos vão buscar a independência.
— Quando o fizerem, estaremos em lados separados? — Perguntou Austin com
um sorriso.
— Você e eu podemos formar nossa própria aliança, gringo. Eu me identifico
com você e esta terra mais do que com uma nação que abandonei há muito tempo.
— Como posso lhe agradecer, Chireno?
Antonio colocou uma das mãos em seu ombro.
— Seja feliz, ame, e viva um longo tempo.
Conforme ele seguia sua Jolie até sua casa, ele apertou a mão seu bom amigo.
— Eu aceitarei o seu preço, se você prometer fazer o mesmo.
Naquela noite, muito depois de Antonio e Ama terem ido embora, Austin
segurou Jolie em seus braços. Ele queria fazer amor, mas ela não o deixaria se mover,
com medo que não fosse forte o suficiente.
— Bem, você faz amor comigo — ele sugeriu, provocando.
— Como? — Perguntou ela, pronta para tentar qualquer coisa.
— Você fica em cima, monte em mim.
Sua sugestão a aqueceu.
— Eu quero tentar. — Seu entusiasmo atiçou o seu próprio desejo. Suas mãos
errantes sobre seu corpo, seus lábios enchendo-o de beijos, percorrendo sobre sua pele
como asas de borboleta. Em todos os lugares que ela tocou, Austin sentiu o fogo do seu
amor crescer mais forte.
— Mais perto — insistiu ele, seus lábios com fome por ela, suas mãos ansiosas
para acariciar seus seios.
Jolie montou nele, deixando seu corpo disponível para o seu prazer. Enquanto
esfregava e acariciava, fazendo-se feliz, ela fechou os olhos em êxtase. Fazia pouco
tempo, ela pensou que isso nunca aconteceria novamente. Essa percepção única
adoçou o momento.
— Agora. Eu preciso de você agora — disse ele com entusiasmo mal contido.
— Ajude-me — ela implorou, colocando as mãos em seu ombro, quadris
levantados para que ele pudesse se guiar dentro dela. Ao primeiro toque, ela respirou
fundo.
— O que eu faço agora?
Austin riu, tão feliz que não sabia o que fazer.
— Só mergulhar, leve-me para dentro de você.
Segurando sua cabeça, os dedos entrelaçados, ela fez o que ele disse.
— Ah, sim — ela suspirou com um sorriso. — Isso é bom.
Austin concordou plenamente. Ele apenas se deitou e adorou. Jolie subiu e
mergulhou. Uma e outra vez. Cada movimento parecia o paraíso. Ele viu seu rosto, a
bênção do momento quase inacreditável.
A motivação de Jolie era agradar, mas conforme ela se movia, seu próprio
prazer começou a se formar. Logo, estava com as mãos no peito dele e estava se
movendo de forma frenética.
— Austin!
— Eu estou com você. Goze, baby. Voe para mim.
Observando o rosto dela, sentindo sua tensão, os espasmos de seu sexo
apertando em torno de sua masculinidade, todas essas coisas funcionaram para deixá-
lo no limite. E quando ela gozou, quando gritou seu nome, quando ela passou aquelas
pequenas unhas em seus ombros, Austin se esvaziou dentro dela com um grito
também.
— Jolie, minha Jolie, eu te amo!
***
Primavera surgiu em toda a sua glória. Jolie e Austin trabalharam juntos, seu
trabalho feito alegremente porque eles faziam isso lado a lado. Jolie não estava
mostrando muito, mas o conhecimento de que ela carregava seu filho deixou Austin
superprotetor. Tudo o que ela fazia, ele a observava como um falcão, pedindo a ela
para ir devagar, para ter cuidado.
— Eu posso fazer isso — insistiu ela conforme continuava a plantar os grãos de
milho.
— Eu sei, eu só acho que você precisa se sentar e descansar.
— Vou descansar quando eu terminar, querido.
— O que eu farei com você, Jolie?
— Amar-me.
Ele riu. Como podia discutir com isso?
— Jolie! Jolie!
Jolie ergueu a cabeça.
— Você ouviu isso?
Austin ouviu.
— Soa como uma mulher.
— Jolie! — O grito veio novamente.
— Eu reconheço essa voz. — Era uma voz que ela esperava nunca ouvir
novamente.
— Charlotte!
Com seu grito de alegria absoluta, Jolie começou a correr.
— Cuidado! — Austin pediu quando ela disparou, Sandy correndo atrás dela.
Do outro lado do campo, Jolie correu até que ela os viu chegando. Charlotte,
sua amada Charlotte estava correndo até ela e não estava sozinha.
— Abraham! — Jolie jogou as mãos no ar e começou a chorar. — Oh, meu
Abraham!
No momento em que Austin chegou, ele ficou surpreso ao ver as duas mulheres
e o homem negro jovem em um abraço apertado. Padre Miguel ficou de lado,
parecendo extremamente satisfeito consigo mesmo.
Ele esperou pacientemente até o trio se separar.
— Austin, estes são meus primos. Charlotte Belmont e Abraham Waters. Este é
Austin… o meu marido.
Durante a hora seguinte mais ou mesmo, ele ficou surpreso ao saber que estes
dois estavam procurando Jolie desde o dia em que ela foi arrastada da casa de
Charlotte em Oak Hill.
— Se eu estivesse lá naquele dia, Jolie, eles teriam que passar por cima do meu
cadáver. Eu não pude acreditar que essas duas harpias fizeram isso com você.
Abraham riu.
— Ela as abandonou. Senhorita Charlotte tirou dinheiro do banco e foi embora e
as abandonou.
— Você abandonou? — Jolie ficou maravilhada.
— Sim, eu nunca aprovei a forma como trataram você, mas eu era jovem e
estúpida. Quando o papai morreu, e elas te traíram, eu decidi que não queria viver
mais com elas.
— Ela veio e me encontrou. — Abraham anunciou com orgulho. — Eu cuido da
Senhorita Charlotte agora.
— Você trabalha para ela? — Ela perguntou ao seu primo.
— Ele trabalha comigo — Charlotte esclareceu.
— Abraham é um artista. Temos um estúdio em Nova Orleans agora, somos
parceiros. — Seu rosto ficou solene e triste.
— Eu nunca parei de procurar por você. Virei cada pedra para te encontrar.
Não foi até que Garrett Thomas enviou alguém para New Orleans para refazer os
movimentos de COFFI que eu descobri onde você tinha ido. Uma vez que soubemos,
Abraham e eu partimos para te achar. Os homens no Gaines Ferry lembraram de você
e os outros. A partir daí, não foi muito difícil. Acabamos em Nacogdoches onde
encontramos padre Miguel e soube que você tinha salvado toda a localidade por conta
da febre.
— Ela salvou — Austin disse com orgulho.
— Minha esposa é a mulher mais maravilhosa do mundo.
— Então, você está casada? — Perguntou Charlotte.
— E grávida. Estamos casados e ela está esperando o meu bebê — Austin
anunciou com muito orgulho.
Jolie concordou.
— Bem, nós pulamos a cerimônia. Eu não posso me casar com ele, é claro —
admitiu ela, com tristeza.
Houve um momento de silêncio. Apenas o ruído de colher de Abraham contra
o seu prato. Jolie lhes tinha alimentado suntuosamente. Ela não tinha ideia de como
eles iriam dormir, mas ela estava determinada a dar certo de algum à forma. Ter sua
família com ela valia a pena qualquer quantidade de inconveniência e não tinha dúvida
de que Austin sentia da mesma maneira.
Charlotte fez uma careta.
— Leis estúpidas. Além da camada fina de nossa pele, não há diferença. Se você
fosse examinar nosso sangue além de nossos corpos, quem poderia dizer a diferença?
Austin olhou para o fogo.
— Você está certa, Charlotte. — Ele se levantou.
— Você está absolutamente correta. Padre! Eu gostaria de falar com você lá
fora, se eu puder.
Jolie viu os dois homens sair da sala.
— O que está acontecendo?
Abraham deu de ombros.
— Eu não sei, mas eu não me preocuparia com isso se fosse você. Depois do que
eu soube sobre Austin McCoy, eu não tenho nenhuma dúvida de que ele te ama muito.
— Ele comprou você? — Charlotte sorriu.
— Gastou cada moeda que tinha. — Ela fingiu desmaio.
— Isso é tão romântico. Você encontrou um homem entre os homens, Jolie.
… Lá fora, Austin encarou o padre.
— Este mito sobre o sangue. Eles dizem que uma gota de sangue de outra raça
faz você parte dessa raça. Estou certo?
As sobrancelhas do jovem padre franziram.
— Eu ouvi isso. Chefe Campos era um oitavo índio e eles o chamavam índio. —
Ele sorriu.
— Ninguém sabe disso, mas eu sou mestiço. Raça misturada. Minha mãe é
metade Comanche. É por isso que meu coração doeu por você e Jolie.
— Se o meu sangue for misturado como de Jolie, se nós com partilhamos o
mesmo sangue, você poderia nos casar?
Padre Miguel deu Austin um ligeiro aceno.
— Eu vim para duas finalidades, para trazer a família de Jolie para ela e dizer
que eu ouvirei seus votos. O Deus que eu sirvo quereria isso. Eu mesmo registrarei seu
casamento e mantenho a minha decisão. Depois do que Jolie fez para o povo de
Nacogdoches, eu não espero uma palavra de protesto.
— Bem, vamos lá, Padre. O que estamos esperando?
Quando Austin e o sacerdote voltaram, Jolie poderia dizer que algum a coisa
estava acontecendo.
— O que foi? — Ela perguntou, tentando ler a expressão no rosto de Austin.
— Vá colocar seu lindo vestido verde para mim. Tudo bem?
Jolie se levantou.
— Vai estar um pouco apertado no meio. — Ela teve que soltar um pouco seus
vestidos. Os que ele tinha pedido de Boston eram cheios na saia e ainda se encaixam
bem.
— Você está linda.
Com uma expressão perplexa, ela puxou Charlotte com ela e elas andaram atrás
de um biombo que Austin tinha erguido para que ela pudesse ter um pouco de
privacidade.
Os três homens esperavam. Abraham parecia querer fazer perguntas, mas ele
estava disposto a esperar.
Uma vez que as mulheres voltaram, Austin veio a ela.
— Minha Jolie, eu sei o quanto você queria que nós nos casássemos na frente de
um padre.
— Por favor — Jolie abaixou a cabeça — não importa. Estou mais do que feliz.
— Assim como eu — Austin assegurou.
— Mas eu quero que tudo seja perfeito para você. — Ele estendeu a mão.
— Você confia em mim?
— Claro!
Ela colocou a mão na sua e levou o grupo para fora, encontrando um local lindo
para ficarem onde as rosas Cherokee brancas floresceram.
Quando Austin tomou a faca do bolso, os olhos de Jolie se arregalaram.
— As leis da terra e as leis do estado da igreja dizem que duas pessoas não
podem se casar a menos que elas sejam do mesmo sangue, da mesma raça. Não tenho a
pretensão de ser inteligente, mas eu sei o que eu quero. Eu imploro para ser como você,
em todos os sentidos conhecido pelo homem.
Enquanto o Padre Miguel, Charlotte e Abraham olhavam, Austin fez um
pequeno corte na palma da mão de Jolie e um semelhante na sua. Pressionando as
palmas das mãos, eles se olharam nos olhos um do outro enquanto seu sangue se
misturava.
— Padre Miguel?
Enquanto Austin e Jolie se levantavam, suas mãos ainda unidas, ele começou a
recitar as escrituras e as orações para os tornar marido e mulher, aos olhos do Senhor e
de acordo como edital da igreja. Na presença das pessoas que Jolie mais amava, ela se
tornou a Sra. Austin McCoy.
Após a cerimônia, Charlotte entrou na cozinha de Jolie e fez um bolo. Padre
Miguel brincava com Sandy, enquanto Abraham esboçou uma pintura de Jolie e Austin
enquanto ele estava sentado em um tronco e ela estava atrás dele, com os braços em
volta do pescoço, o rosto contra seu cabelo. Sua mão a alcançou para abraçar a dela,
como se ele não pudesse suportar não a tocar.
O momento era dourado como os raios do sol da tarde que brilhava através das
árvores altas.
Epílogo 1

— Eu preciso empurrar, Inola! — Jolie gritou.


Fora da porta, Austin andava de um lado para outro. Antonio de Chireno ao
lado dele. Segurando o estômago, Austin inclinou a cabeça contra a cabana.
— Eu acho que estou tendo dores de parto.
Antonio gargalhou.
— Você é um homem louco, amigo.
— Eu sou louco. — Ele bateu do lado da cabine, quando Jolie gritou novamente.
— Se algum a coisa acontecer com ela, eu nunca me perdoarei por deixá-la
grávida. — Ele olhou para o amigo.
— Eu nunca mais farei sexo de novo, não posso suportar isso.
Antonio balançou a cabeça.
— Você mudará de ideia, tenho certeza.
Waah! Waah!
O choro de um bebê forte rompeu o ar.
— Oh, meu Deus! — Austin se dobrou, apoiando as mãos nos joelhos.
— Eu sou pai.
— Sim, você é!
Ele foi para a porta, apenas para encontrar Ama.
— Dê-nos mais alguns minutos, orgulhoso papai.
— Como ela está?
— Sua esposa está bem.
— O que é?
Ama riu.
— Você tem um filho!
Um filho! Austin levantou os braços para o céu.
— Eu tenho um filho!
Em poucos minutos, as mulheres lhe permitiram entrar. Jolie sentava-se na
cama. Estava pálida, mas muito contente.
— Olha, Austin, eu tenho outro presente para você.
Austin andou até eles, seus olhos acariciando seu rosto.
— Eu te amo. Eu não quero que você tenha que passar por isso novamente.
— Olhe! — Ela levantou o bebê.
— Eu quero passar por isso pelo menos uma dúzia de vezes mais. Olhe o que
temos!
Austin finalmente se permitiu olhar nos olhos de seu filho. Seu filho lindo.
Austin McCoy se apaixonou pela segunda vez em sua vida.
— Como o chamaremos?
Jolie olhou para o marido com adoração e disse com uma cara séria.
— Jose Antonio. — José Antonio de Chireno gargalhou e Jolie começou a rir.
— Eu acho que há um número suficiente Jose Antonio no mundo. Eu quero pôr
o nome dele em homenagem a seu pai e a você. O que acha de John Austin McCoy?
— Eu amei. — Austin pegou a mão do bebê.
— Olá, John Austin. Eu sou seu pai.
Enquanto Jolie olhava para os dois homens de sua vida, ela pensou que seu
coração fosse explodir de felicidade. Ela não podia esperar para Charlotte e Abraham
os visitassem novamente. Um bebê precisava conhecer sua família.
Epílogo 2

Cady McCoy apertou a pequena pintura a óleo em seu peito. Seu coração se
sentia tão completo quanto o de Jolie. Nos últimos dias, ela tinha experimentado uma
série de sonhos e visões, todas relacionadas a este casal, cujo sangue corria em suas
veias. Com antecipação, ela correu para pegar o telefone dela, ansiosa para falar com
sua avó.
— Cady? É você?
Afundando em uma cadeira, Cady sorriu.
— Nana, sobre a árvore de família em que trabalhava…
— Sim. — Houve uma pausa. Surpreender uma pessoa psíquica era difícil.
— Você descobriu algum a coisa.
— Você sabe como encontramos as informações sobre Charlotte Belmont e
Abraham, mas nada sobre Juliette Jolie?
— O que você achou, garota?
Cady olhou para o retrato mais uma vez.
— Eu descobri que a história se repetiu. Joseph e eu não somos os únicos que
uniu as nossas duas famílias pelo casamento.
— Não? — Nana riu.
— Por que não estou surpresa?
— Sirva-sede uma xícara de café. Eu tenho uma história para contar.

Fim

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