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Disposições

constitucionais dos
regimes jurídicos de
servidores públicos
Ribeiro, Karla
SST Disposições constitucionais dos regimes jurídicos de
servidores públicos / Karla Ribeiro
Ano: 2020
nº de p.: 11

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Disposições constitucionais
dos regimes jurídicos de
servidores públicos

APRESENTAÇÃO
Nesta unidade, perceberemos que servidor público é a pessoa que presta serviços
à Administração Pública, direta ou indireta, por meio de vínculos empregatícios e
mediante remuneração custeada pelos cofres públicos. Diante da importância de
tais agentes para a consecução da coisa pública, a Constituição Federal de 1988
destacou um conjunto de direitos específicos para esses sujeitos. Nesse sentido,
compreenderemos os elementos específicos que compõem o regime jurídico desses
agentes, a partir da interpretação do Texto Constitucional.

Regimes jurídicos dos servidores


públicos
A Constituição Federal da República Brasileira de 1988 (CFRB/88) estabeleceu um rol
de princípios destinados à Administração Pública e, por consequência, ao servidor
público (brasil, 1988). Dentre esses, a figura a seguir destaca as chamadas “pedras
de toques” da Administração Pública.

Pedras de Toques da Administração Pública

Princípios
Constitucionais
Legalidade
Impessoalidade
Moralidade
Publicidade
Eficiênciar

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

A CFRB/88 estabelece os princípios e preceitos nos quais os servidores devem se


pautar no âmbito de seu serviço estatal. Para facilitar, o legislador constitucional,
compila-os num capítulo único sobre as normativas relativas ao servidor público:
Título III, Capítulo VII da Constituição (BRASIL, 1988).

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Saiba mais
Os Estados e municípios podem promulgar seus próprios
estatutos, porém devem ser observados os princípios e preceitos
constitucionais.

Observa-se que os preceitos e princípios destinados aos servidores públicos estão


estabelecidos na Constituição, com a intenção de fortalecer as garantias do servidor
público, bem como manter um equilíbrio entre a Administração Pública e os seus
servidores, a fim de os que laboram para o Estado não sejam, arbitrariamente,
cassados e destituídos pelo gestor público. Em suma, a Constituição fortalece o
vínculo jurídico entre o Estado e o servidor, diminuindo a vulnerabilidade do agente
público que labora para o ente ou órgão público (BRASIL, 1988).

Existem várias garantias importantes pertinentes ao servidor público, como a


remuneração, a estabilidade, o direito à livre associação, entre outros. Todavia, em
contrapartida, o servidor público deve realizar os serviços estatais com moralidade.
Segundo Rawls (2008), quem estabelecerá quais serão as diretrizes a serem
aplicadas nessa ideia de moral será o próprio grupo, visto que a moralidade se
distingue de comunidade para comunidade.

O acesso aos cargos públicos é para todos os brasileiros, conforme o art. 37 da


Constituição Federal, que prevê: “I – os cargos, empregos e funções públicas são
acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
como aos estrangeiros, na forma da lei” (BRASIL, 1988).

Saindo do dispositivo legal, verifica-se que o legislador constitucional traz também


o estrangeiro como apto para realizar o ingresso originário ao serviço público.
Entretanto, existem algumas exceções, na própria legislação constitucional, devido
à natureza do cargo e à nacionalidade. O art. 12, § 3º estabelece que os cargos
de Presidente da República, Presidente da Câmara dos Deputados, Presidente do
Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e Ministro de Estado,
além dos integrantes da carreira diplomática, e militares das Forças Armadas, são
reservados para os brasileiros natos. Assim, os estrangeiros não terão acesso aos
cargos expressamente estabeleci dos neste artigo (BRASIL, 1988).

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REMUNERAÇÃO E SUBSÍDIOS DOS
SERVIDORES PÚBLICOS
Remuneração e subsídio não são sinônimos, conforme a Constituição estabelece
nos artigos 37, X, XI e 39, § 6, visto que a remuneração se refere ao valor recebido
em dinheiro, de forma geral, pelo trabalho exercido pelo servidor (BRASIL, 1988).

Saiba mais
Apesar de no cotidiano usarmos salário e remuneração como sinônimos,
eles não se confundem, pois a remuneração equivale a todos os
ganhos recebidos pelo trabalhador, enquanto os salários representam a
contraprestação paga em dinheiro ou utilidade diretamente.

Entretanto, o subsídio refere-se a uma remuneração específica de alguns agentes


públicos indicados nos artigos 39, § 4º;128, § 5º, I, c, e 135, direito que pode
ser estendido a qualquer servidor, desde que previsto em legislação específica
(BRASIL, 1988).

As remunerações dos ocupantes de cargos, funções e empregos estatais, conforme


a legislação constitucional, terão um limite máximo a ser verificado. Assim, por
exemplo, o ganho dos chefes dos poderes dos estados e Distrito Federal será
pautado pela remuneração dos ministros do STF. Em contrapartida, no caso dos
deputados estaduais, o indicador será a remuneração dos deputados federais.

O quadro a seguir traz o teto da remuneração dos servidores públicos.

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Teto de remuneração dos servidores públicos

DISPOSITIVO
SERVIDOR PÚBLICO LIMITE
CONSTITUCIONAL
Para todas as unidades Ministros do Supremo
art. 37, XI.
autônomas da Federação. Tribunal Federal.

Cargos do poder legislativo e


Poder executivo. art. 37, XII.
do poder judiciário.

Deputados estaduais Deputados federais art. 27, § 2º.

Deputados estaduais; porém,


Vereadores deve ser verificada a receita art. 29, VI e VII.
do respectivo munícipio

Ministros do Supremo
Tribunal Federal, dos
Magistrados Tribunais Superiores e art. 93, V.
das demais categorias da
estrutura judiciária nacional.

Dirigentes e empregados
das empresas públicas, das
sociedades de economia
Ministros do Supremo
mista e de suas subsidiárias art. 37, § 9º.
Tribunal Federal.
quando receberem recursos da
União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

É oportuno observar que esses parâmetros constitucionais entraram em vigor


pela Emenda Constitucional nº 19/98 e, nesse contexto, servidores públicos que
recebiam, anteriormente a essa emenda, remuneração maior que a prevista na
legislação não tiveram alteração de valores, devido à aplicação do instituto do direito
adquirido (CFRB/88, art. 60, § 4.º, IV, c/c art. 5º, XXXVI).

A Constituição também estabeleceu que os servidores públicos não podem


acumular remunerações, ou seja, não podem exercer mais de duas funções. Todavia,
a legislação constitucional estabelece exceções que estão previstas no art. 37, XVI,
a, b, c (BRASIL, 1988), que são:

• dois cargos de professor;


• um cargo de professor com outro técnico ou científico;
• dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas.

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Diferentemente da remuneração, o subsídio é uma parcela única que pode ser paga a
qualquer ocupante de cargo público.

Saiba mais
O STF vem enfrentando a matéria de possibilidade de ganhos de
servidores públicos para além do teto constitucional.

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=ZxCoZfZ51jw.

Direitos e garantias dos servidores


públicos
Assim como os demais trabalhadores, os servidores públicos possuem direitos e
garantias que lhes são próprias. Ademais, para além das garantais estabelecidas no
Texto Constitucional, o legislador infraconstitucional estipula outras regras.

Saiba mais
Documentário: Os grandes julgamentos.

Sinopse: o STF julga a matéria que estabelece as garantias mínimas


ao servidor público.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ccBJkqtz6n0.

As férias, conforme afirma Moreira Neto (2008), são um direito social trazido pela
Constituição. Todavia, existem outros direitos previstos para os servidores públicos,
bem como os ocupantes de cargo público, inclusive os de cargo em comissão, que
estão elencados no art. 39, § 3º dessa lei constitucional, que são:

• salário mínimo;
• garantia de salário nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remune-
ração variável;

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• décimo terceiro salário;
• remuneração do trabalho noturno superior ao diurno;
• salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda,
nos termos da lei;
• duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e
quatro semanais;
• repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
• remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, a 50% à do normal;
• gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais que o
salário normal;
• licença à gestante;
• licença paternidade, nos termos fixados em lei;
• proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especiais,
nos termos da lei;
• redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene
e segurança;
• proibição de diferença de salários, de exercícios de funções e de critérios de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (BRASIL, 1988).

O direito de greve é mais uma garantia trazida pela Constituição de 1988, ou seja,
o ocupante de cargo ou função pública tem direito de paralisação, no intuito de
solicitar suas reivindicações.

Outra garantia constitucional, em conformidade com Silva (2017), é a estabilidade


que o servidor público adquire após três anos de permanência (período de
estágio probatório) no serviço público, resultante do concurso público que lhe deu
investidura. Após esse período, e obtendo a estabilidade, o servidor só pode ser
exonerado em três situações:

Casos de exoneração do servidor público

DISPOSTIVO
TIPO DE EXONERAÇÃO
CONSTITUCIONAL
Demissão por falta disciplinar art. 41, § 1º, II.

Exoneração por insuficiência de


art. 41, § 1º, III.
desempenho.

Exoneração para cumprir limites


art. 169, caput, e seu § 4.
de despesa com pessoal.

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

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A livre associação sindical, na visão de Mendes e Branco (2017), é uma garantia
constitucional do servidor público, que permite que ele se associe aos sindicatos
que desejar, sem qualquer restrição, conforme prevê a Constituição, no art. 37, VI,
compatibilizado com o artigo 8º.

Sobre o período de estágio probatório, Braz (1998) estabelece que se refere a um prazo
temporal em que o servidor público deve exercer seu cargo, que corresponde ao início
de sua jornada estatal, ou seja, começa com a posse e termina após três anos, em que o
Estado deve observar e apurar o comportamento funcional do servidor.

Autores como Alonso, López e Castrucci (2012) destacam que, além de os profissionais
estarem sujeitos às sanções dispostas no código de ética, em alguns casos eles podem
responder por processos administrativos e criminais. Caso a infração ocorra no período
do estágio probatório, pode ocorrer a perda do cargo estatal.

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Fechamento
Nesta unidade, compreendemos que o legislador constitucional atribuiu um conjunto
de princípios que são próprios aos servidores públicos e que as chamadas “pedras
de toque” da Administração Pública devem ser observadas por todos aqueles que
executam ações estatais.

Verificamos que o servidor público é aquele que está submetido a um regime jurídico
diferenciado, uma vez que, na prática, esse que faz as vezes da atividade estatal.
Ademais, percebemos que tamanho é o disciplinamento das ações dos servidores
estatais que a Constituição trouxe, em seu texto originário, tais regras.

Por fim, verificamos que, assim como aos demais trabalhadores, aos servidores
públicos é destinado um rol de direitos e garantias. Todavia, a fim de manter o
equilíbrio das contas públicas, o constituinte limitou o teto salarial desses sujeitos
ao dos Ministros do Superior Tribunal Federal.

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Referências
ALONSO, F. R.; LÓPEZ, F. G.; CASTRUCCI, P. de L. Curso de ética em administração:
empresarial e pública. São Paulo: Atlas, 2012.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. In: VADE Mecum. São Paulo: Saraiva, 2020.

BRAZ, P. O servidor público na reforma administrativa. Leme: Ed. de Direito, 1998.

MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de direito constitucional. 12. ed., rev. atual.
São Paulo: Saraiva, 2017.

MOREIRA NETO, D. de F. Curso de direito administrativo: parte introdutória. 15. ed.


rev., refund. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

RAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 40. ed. São Paulo:
Malheiros, 2017.

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