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Esoterismo

 Não confundir com Exoterismo.

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Esoterismo é o nome genérico que evidencia um conjunto de tradições e


interpretações filosóficas das doutrinas e religiões - ou mesmo
das Fraternidades Iniciáticas - que buscam transmitir um rol acerca de determinados
assuntos que dizem respeito a aspectos da natureza da vida que estão sutilmente ocultos.
Um sentido popular do termo é a percepção de que transmitem um
conhecimento enigmático ou incomum, sempre com vetor oculto. Segundo alguns, o
esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e conhecimentos não podem ou
não devem ser “vulgarizados”, sendo comunicados a um restrito número de partidários
adeptos.
Tais escolhas de partidários acontecem da instituição (de caráter esotérico) para indivíduo
- ao manifestar interesse - para a instituição esotérica, não havendo, a rigor, um âmbito
secreto, mas ritos tradicionais e burocracias internas que acontecem tanto de forma
discreta e privada quanto aberta, pois a filiação não está à margem de qualquer lei. No
entanto, é possível entrar em contato com o esoterismo por conta própria, isto é,
desvinculado de qualquer instituição. Encontra-se esse tipo de conhecimento em leituras;
e costumeiramente as bibliotecas e livrarias oferecem este gênero de acervo.
No tempo presente, com a despreocupação da sociedade para com arregimentação de
conceitos variados, o esoterismo, enquanto característica sobre assuntos das coisas
ocultas, tem adquirido uma deturpação na conexão com o misticismo. Não são,
naturalmente, sinônimos, uma vez que o esoterismo contém variadas correntes ocultistas,
ciências ocultas e mesmo correntes místicas dentro de seu rol. Logo, não são, a rigor, a
mesma coisa; o misticismo desce do plano do esoterismo (que é um termo genérico), e
tem a sua especificidade, onde se apresenta, costumeiramente, com práticas de
ensinamento místico que conduzem à experiência empírica e comprovações
fenomenológicas pessoais do que é estudado pelos seus adeptos. O considerado 'místico',
como se reconhece, tem um propósito a alcançar e não se limita aos estudos. Portanto,
temos que esoterismo é o termo que afunila e comporta toda e qualquer ciência oculta. [1]
Em suma, esoterismo evidencia a característica do conhecimento "das verdades e leis
últimas que regem todo o universo", porém ligando ao mesmo tempo o natural com o que
chamam de 'sobrenatural'. Há doutrinas, nomeadamente as espiritualistas, que são
também chamadas esotéricas. Há também, com o fenômeno da globalização e o
conhecimento mútuo entre as nações e suas culturas, a percepção da compatibilidade do
esoterismo com as religiões mais famosas do Oriente; a saber, o budismo, o taoismo, etc.,
uma vez que elas têm muitos pontos de afinidade conceitual e consonância na
aplicabilidade.

Etimologia
Esta seção é um excerto de Esoterismo ocidental § Etimologia.[editar]

O conceito de "esotérico" originou-se no século II[2] com a cunhagem do adjetivo grego


antigo esôterikós ("pertencer a um círculo interno"); o mais antigo exemplo conhecido da
palavra apareceu em uma sátira de autoria de Luciano de Samosata[3] (c. 125 – após 180).
O substantivo "esoterismo", em sua forma francesa "ésotérisme", apareceu pela primeira
vez em 1828[4] na obra de Jacques Matter (1791-1864), Histoire critique du gnosticisme (3
vols.).[5][6] O termo "esoterismo", portanto, passou a ser usado no despertar da Era do
Iluminismo e de sua crítica à religião institucionalizada, período durante o qual grupos
religiosos alternativos  começaram a se dissociar do cristianismo dominante na Europa
Ocidental.[7] Durante os séculos XIX e XX, o termo "esoterismo" passou a ser comumente
visto como algo que era distinto do Cristianismo, e que formou uma subcultura que estava
em desacordo com a corrente principal cristã, pelo menos desde a época da Renascença.
[7]
 O ocultista e mágico cerimonial francês Eliphas Lévi (1810-1875) popularizou o termo na
década de 1850, e o teosofista Alfred Percy Sinnett (1840-1921) o introduziu na língua
inglesa em seu livro Esoteric Buddhism (1883).[5] Lévi também introduziu o
termo l'occultisme, uma noção que ele desenvolveu contra o pano de fundo dos
discursos socialistas e católicos contemporâneos.[8] "Esoterismo" e "ocultismo" eram
frequentemente empregados como sinônimos, até que estudiosos posteriores distinguiram
os conceitos.[9] "Esoterismo ocidental" surgiu como um termo inventado no francês
(l'ésoterisme occidental) por ocultistas da década de 1880 para distinguir a sua forma de
prática ocidental da teosofia cristã daquilo que eles chamavam de "falso esoterismo
oriental" da Sociedade Teosófica. Tornou-se amplamente utilizado por Antoine Faivre para
demarcar uma categoria na historiografia do esoterismo.[10]
A "esotérica" (esōterika) passou a se referir também ao conjunto de obras e tópicos
relacionados a esses ensinos secretos.[10]

Uso filosófico
Esta seção é um excerto de Esoterismo ocidental § Uso filosófico.[editar]

No contexto da filosofia da Grécia Antiga, os termos "esotérico" e "exotérico" são utilizados


por acadêmicos contemporâneos não para denotar que havia segredo, mas para distinguir
dois procedimentos de pesquisa e educação: o primeiro reservado aos ensinos que eram
desenvolvidos "dentro das paredes" da escola filosófica, dentre um círculo de pensadores
("eso-" indicando recôndito, como nas aulas internas à instituição), em oposição daqueles
que eram divulgados ao público em discursos e obras publicadas ("exo-": fora). É implícito
o significado inicial desta última palavra quando Aristóteles cunhou o termo "falas
exotéricas" (ἐξωτερικοὶ λόγοι) para se referir àquelas que ele realizou fora de sua escola.
[11]
 Apesar disso, ele nunca empregou o termo "esotérico" e não há evidências de que fez
tratados especializados secretos; há um relato duvidoso por Aulo Gélio, segundo o qual
Aristóteles divulgava de tarde os assuntos exotéricos de política, retórica e ética ao público
em geral, enquanto reservava a parte da manhã em caminhada com seus discípulos
do Liceu para os ensinos do tipo "akroatika" (acroamáticos), referentes a filosofia
natural e lógica.[12][13] Já Platão teria transmitido oralmente ensinos intramurais a seus
discípulos, cujo suposto conteúdo "esotérico" sobre os Primeiros Princípios é
particularmente realçado pela Escola de Tübingen como distinto dos ensinos escritos
aparentes e veiculados em livros ou palestras públicas. [11][14] Mesmo Hegel posteriormente
teria comentado sobre a análise dessa distinção na hermenêutica moderna de Platão e
Aristóteles:[15]
"Para expressar um objeto externo não é necessário muito, mas para comunicar uma ideia
uma capacidade deve estar presente, e isso sempre permanece algo esotérico, de modo
que nunca houve nada puramente exotérico sobre o que os filósofos dizem".

De qualquer modo, bebendo da tradição de discursos reveladores de


uma visão do Absoluto e da verdade presentes na mitologia e nos
ritos iniciáticos das religiões de mistérios, Platão e sua filosofia foram inaugurais para a
percepção ocidental do esoterismo, a ponto de Kocku von Stuckrad afirmar: "a ontologia e
antropologia esotérica dificilmente existiriam sem a filosofia platônica".[16] Provavelmente a
partir da dicotomia "exôtikos/esôtikos", o mundo helenístico desenvolveu a distinção
clássica entre exotérico/esotérico, estimulada pelo criticismo das diversas correntes como
pela Patrística.[17] Depois, Jâmblico já apresentaria seu sentido próximo ao do moderno,
pois distinguia os pitagóricos antigos entre os matemáticos "exotéricos" e acusmáticos
"esotéricos", estes últimos que proferiam ensinamentos enigmáticos e sentidos alegóricos
ocultos.[11]

Demarcação da categoria acadêmica


Ocidental versus oriental ou não ocidental. Esoterismo global
Esta seção é um excerto de Esoterismo no Oriente § Demarcação do conceito.[editar]

Marco Pasi aponta que o conceito ocidental de esoterismo surgiu não em um contexto
acadêmico, mas devido ao religionismo no século XIX, quando foi feita pela primeira vez a
polêmica distinção entre um esoterismo oriental e ocidental. [18] Inicialmente, essa dicotomia
surgiu na década de 1880, em que, segundo Julian Strube, ocultistas franceses
reivindicaram a autenticidade do que chamaram de "l'ésotérisme occidental", enquanto
rejeitavam o "falso esoterismo oriental" da Sociedade Teosófica.[19][20] Houve também em
1890 um conflito dentro da própria Sociedade Teosófica entre William Quan Judge, que
defendia um chamado "ocultismo ocidental", e Annie Besant, que defendia a variante
"oriental".[21] Segundo Pasi: "É, portanto, principalmente como reação a uma ideia de
'esoterismo oriental' que a ideia de 'esoterismo ocidental' poderia se desenvolver". Porém,
segundo Strube, isso não basta para definir esses significantes, pois uma complexa rede
de entrecruzamentos ocorreu entre várias culturas do oriente e ocidente, e por isso
defende a conceituação de um esoterismo global. [22] Diferentes entendimentos de
esoterismo foram produzidos globalmente, principalmente através de intercâmbios ao
longo do século XIX.[21] Assim, acadêmicos da religião costumam utilizar o termo
"esotérico" para categorizar práticas que reservam "certos tipos de conhecimento salvífico
para uma elite selecionada de discípulos iniciados", segundo a descrição de Wouter
Hanegraaff.[20]
É, assim, um conceito de difícil demarcação, bem como as noções de "Oriente" e
"Ocidente", que são vagas e cujas bordas mudam historicamente, politicamente e
ideologicamente.[23][24] Dependendo das definições, a maior parte do esoterismo ocidental
poderia ser considerado oriental. [24] O chamado esoterismo ocidental foi profundamente
influenciado por tradições não ocidentais, e vice-versa, principalmente na
contemporaneidade a partir do mundo globalizado. Essa categorização em dois
hemisférios aparentemente foi de mais importância interna à retórica dos movimentos
esotéricos do que ao discurso acadêmico.[23]
Por exemplo, no neoplatonismo, e depois novamente a partir da Renascença, foi
associado um exotismo à origem dos ensinamentos maiores, como da origem da filosofia
platônica no Antigo Egito ou de antigos conhecimentos aos "mistérios caldaicos", e nisso o
místico e oculto representava a "sabedoria oriental". [25][26][23] Assim, Iâmblico, por exemplo,
fazia referência aos Oráculos Caldeus como transmitindo "doutrinas ancestrais assírias",
[27]
 e Pletão atribuiria a origem deles a Zoroastro;[28][29] tal conceito do imaginário ocidental foi
chamado por acadêmicos de "Orientalismo Platônico". [25][26][23]
A perspectiva também poderia variar conforme a agenda dos ocultistas, como em
movimentos esotéricos neopagãos italianos no século XX que, inspirados pela escola
romana tradicionalista, consideravam o cristianismo uma "degeneração" "vinda do Oriente"
que nada teria em comum com a tradição esotérica ocidental, a qual afirmavam ser
o paganismo.[30] A esotérica "retórica de uma verdade escondida" também se articulava ao
exótico, formando-se na imaginação um "Oriente místico", e quando o Egito deixou de ser
atrativo em seu exotismo, o polo do "Oriente místico" se deslocou à Índia e além, como
"verdadeira morada da sabedoria antiga". [31][24]
Academicamente, passou a se considerar em alguns estudos mais recentes do
esoterismo, como os de Gordan Djurdjevic e Henrik Bogdan, a existência de equivalentes
próximos do esoterismo ocidental em culturas asiáticas, sugerindo um "esoterismo"
indiano, chinês ou do Extremo Oriente em geral.[18] Grande parte dos estudiosos do
esoterismo defende que é preferível analisá-lo de maneira transcultural e globalizada, de
acordo com cada nacionalidade ou região cultural, enfocando-se as interações do conceito
de maneira local ou intercultural mais específica para além de "ocidental" e "oriental", [20][22][24]
[32][33]
 ou também de modo relativo e aberto. [34] Com isso, levam-se em conta as diferenças
de cada sistema, apesar de algumas semelhanças em questões do oculto e da
possibilidade de um sistema de sigilo, como em conhecimentos secretos, elitismo, teorias
sobre espírito e matéria, um suposto saber universal e ritos iniciáticos hierárquicos
de mistérios e transmissão.[20][34][35]
Alguns se utilizam do termo "esoterismo oriental" (em inglês, eastern esotericism).[36]
[23]
 Henrik Bodgan e Gordan Djurdjevic consideram o "esoterismo oriental" como estando
presente junto a elementos ocidentais do sistema de Magick de Aleister Crowley,[23] e
Djurdjevic reconhece a difusão do estudo do esoterismo oriental como um importante
legado de Crowley.[37] Jeffrey J. Kripal utiliza o termo "esoterismo asiático" em seu estudo
de Tantra[38] e Olga Saraogi defende a possibilidade de análise "asiacêntrica" do
esoterismo.[39] Georgiana Hedesan e Tim Hudbøg consideram que "ocidental" e "oriental"
podem ser utilizados como designações relativas, mas que são limitantes, sendo
preferíveis localidades específicas como europeia, indiana e africana. [32]
Já outros como Helmut Zander afirmam que não é porque existe o conceito técnico bem
definido de "esoterismo ocidental" que necessariamente deve haver um esoterismo
oriental, esoterismo do norte ou esoterismo do sul. Há propostas de uma categoria aberta
ao "esoterismo global" ou "esoterismo aberto", considerando que definições rígidas de
esoterismo não se aplicam a todas as culturas e em todos os tempos. Assim, Zander
afirma, por exemplo, como teoriza Jan Assmann, que é parte da história da religião
ocidental desde a antiguidade uma tensão que se reflete na semântica de público versus
privado, aberto versos secreto; mas propõe que definir o "secreto" como uma possibilidade
e não um requisito pode permitir a consideração de esoterismo em outras tradições não
ocidentais.[34] Não é porque um sistema se origina em contexto ocidental e assimilado por
culturas colonizadas que continua sendo ocidental, segundo estudiosos como Egil Asprem,
Julian Strube, Keith Cantú e Liana Saif, que defendem a autonomia da agência local na
criação de inovações sobre o material. [40][22][41][42]
Antoine Faivre e Wouter Hanegraaff definiram o esoterismo como um fenômeno
especificamente ocidental, com intenção de superar o paradigma religionista de um
"núcleo esotérico" comum a todas as religiões ou de uma verdade perene universalista, e
o termo "ocidental" servia para delimitar o esoterismo não como uma essência
transhistórica de toda religião, mas realçando-o como um conjunto particular a uma
corrente histórica.[20][22] Assim, nesse sentido, Asprem indica que o termo é tão oposto a
"esoterismo universal" quanto a esoterismos geograficamente localizados: "O termo se
opõe não tanto ao esoterismo “oriental” (ou “do norte” ou “do sul”) quanto ao esoterismo
universal".[20] Hanegraaff afirma que a criação de uma categoria de "esoterismo oridental"
teria de ser diferente da definição inaugural de Faivre: "Segue-se que, se alguém conceber
um “esoterismo oriental” (qualquer que seja a definição), isso seria necessariamente outra
coisa".[18] Karl Baier afirma que o atual estudo comparativo das religiões possui técnicas
mais refinadas e não necessariamente adota uma agenda religionista, e que então não é
impedido o uso da comparação da categoria "esoterismo". Segundo Baier, o paradigma
Faivre/Hanegraaff exclui qualquer agência não europeia, como se culturas não ocidentais
não pudessem contribuir ou desenvolver ativamente o esoterismo: "No entanto, a pesquisa
sobre o ioga moderno e em outros campos de interações interculturais entre as culturas do
Oriente Próximo e Médio, do Sul da Ásia e do Leste Asiático, bem como culturas africanas
e correntes esotéricas europeias ou americanas revelam desenvolvimentos globalmente
emaranhados".[20] Assim também defende Julian Strube, de que o esoterismo foi formado
de um modo globalmente entrelaçado e que a perspectiva conceitual atual de Hanegraaff
repete o religionismo e exclui contextos de desenvolvimento não ocidentais. [22]
Segundo Hanegraaff, Carl Gustav Jung foi um dos grandes contribuidores na difusão de
estudo transcultural do esoterismo em perspectiva mais global, estudando uma tradição
oculta ocidental e buscando paralelos com sistemas do Oriente. Ele interpretava que havia
duas mentalidades, uma consciente mais racional e outra inconsciente, e afirmou que no
estudo de pensamentos das culturas ocidentais e orientais encontrou um mesmo substrato
compartilhado do inconsciente coletivo, que podia ser estudado historicamente, mas que,
segundo Hanegraaff, corresponde ao reservatório de "conhecimento rejeitado"
tradicionalmente.[18]
Segundo Marco Pasi, "se o esoterismo não é um fenômeno universal, mas está
especificamente enraizado e limitado à cultura ocidental, então não deveria ser necessário
qualificá-lo como ‘ocidental’. No momento em que é rotulado como ‘ocidental’, torna-se
também possível conceber que existem outras formas ‘não-ocidentais’ de esoterismo".
[22]
 Há críticas, porém, à aplicação indevida do esoterismo a outros contextos, como a de
que foi utilizada em suposições religionistas e que transbordou a outras categorias
ocidentais generalizantes sobre culturas não ocidentais, como o xamanismo.[43] Por
exemplo, estudos como o de Marcel Griaule foram criticados por induzirem a criação de
mistificações consideradas "esotéricas" em um contexto não ocidental: o da religião
africana dos dogons,[43] no que ele chamou de "la parole claire" o nível mais profundo de
conhecimento secreto.[44] Há nuances de análise: o esotérico se relaciona a partir das
noções de segredo, embora nem toda dimensão do segredo se refira ao esotérico, como
por exemplo assuntos vergonhosos, e nem todo segredo é iniciático. [45] Apter sugere, por
sua vez, que os conhecimentos secretos não são necessariamente fixos em determinadas
culturas, como a esotérica dos iorubás e dos dogons, e talvez seja sempre fluida e mutável
de acordo com contextos.[44] Quanto ao Oriente, perspectivas europeias da religião foram
influenciadas por tendências do orientalismo, que influenciou a atribuição do esoterismo
em um "orientalismo esotérico", muitas vezes rebaixando as crenças e práticas religiosas
orientais como supersticiosas ou irracionais.[42]
O esoterismo, como termo amplo em seu perspectiva ética, aplica-se como categoria
comparativa a visões de mundo ou práticas conectadas que são difundidas em diversas
culturas ao longo da história e ao redor do mundo. Porém em um segundo significado
estrito, emicamente, origina-se a correntes históricas estritas em interação de diferentes
culturas, ou como um fenômeno euro-americano, do esoterismo ocidental propriamente
dito.[20]
Entretanto, tornou-se comum a sua atribuição a doutrinas do hinduísmo, como
nos Tantras e Ioga; a ramos do budismo encontrados na Índia, China, Japão, Tibete,
Coreia e Vietnã, chamando-se "budismo esotérico"; e a outras práticas não sectárias,
como as dos Bauls.[20] Encontra-se, por exemplo, o sistema de
pensamento analógico de correspondências externas e internas (como macrocosmo e
microcosmo) em rituais e teorias indianas comparáveis a afirmações de sistemas
esotéricos ocidentais, além de práticas de magia, alquimia e adivinhação.[46] Richard
Kaczynski, por exemplo, aponta que, apesar de não ser sua intenção "confluir Tantra
Oriental e Magia Ocidental, embora eu ache heuristicamente útil me referir a ambos como
formas de esoterismo", emprega o "termo de segunda ordem (ético) que é aplicado pelos
estudiosos ao assunto sob escrutínio muito mais consistente do que é usado como uma
designação autorreferencial (êmica)", com utilidade para comparação tal como fazia
Aleister Crowley em relação às semelhanças que via entre as tradições orientais e
ocidentais.[47]
Cantú utiliza por conveniência "ocidental" e "oriental", e afirma que é uma noção que está
implícita a partir da divisão de "ocidental", porém vaga: "Meu ponto é que postular um
esoterismo ocidental também implica a postulação de um “esoterismo oriental”, que
mesmo que não seja declarado ou não analisado, cria uma categoria que não tem
existência intrínseca à parte de vários movimentos desconexos, sejam islâmicos, hindus,
budistas, taoistas, ou não sectário (por exemplo, os faquires bāuls de Bengala ...) que
poderiam ser justificadamente ditos como participantes de um tipo de esoterismo". Ele
propõe uma abordagem mais neutra e global de esoterismo, considerando-se as
dimensões local, nativa, e translocal, em que um sistema se torna difuso e variado em
diversos lugares conforme se distancia de seu ponto de origem. Com o fluxo do translocal
ao local (chamada "localização"), pode ocorrer assimilação de conceitos ocidentais a partir
da agência interna de membros das comunidades colonizadas. Nem por isso se pode
afirmar que o sistema perde o reconhecimento de ser autêntico, ainda que tenha havido
influência em movimento de polinização de retorno da Europa à Ásia, com apropriação de
novas categorias ditas esotéricas, como no Ioga. Assim, indica a existência de duas
dimensões: de "esoterismo translocal" e "esoterismo local", [41] a partir do que se constrói
localmente a afirmação de autenticidade e inautenticidade. [40]
Em todo caso, as manifestações de esoterismo são resultantes de uma
dinâmica bricolagem de ideias, oriundas de diversos locais, fontes e culturas, [32] mas
também dentre as próprias comunidades discursivas da prática. [48] Isso torna as
categorizações pouco consistentes e os limites móveis por parte dos próprios agentes que
analisam o fenômeno.[48] Exemplos que trazem dificuldade são o uso do oculto
no Japão moderno, em novos movimentos religiosos como o Oomoto, ou a doutrina
do aiatolá Khomeini no Irã―em ambas situações sendo afirmadas inovações esotéricas
êmicas declaradamente contrapostas ao pensamento ocidental; [32][49][48] ou então o
surgimento de novas demarcações êmicas de esoterismo por acadêmicos orientais, como
por Anesaki Masaharu (1873–1949).[49][48]
Contra o paradigma historicista de considerar o esoterismo como uma estratégia
discursiva exclusiva da epistemologia do Ocidente, Egil Asprem defende em uma
abordagem tipologista a utilidade de se comparar esoterismos não ocidentais para se
verificar se o esoterismo é uma categoria transcultural que pode ter surgido
independentemente em vários locais:[50][48][49]

"Olhar além do particular para ver como semelhantes “formas de pensamento”,


organizações secretas ou reivindicações de conhecimento superior atuam em contextos
além do Ocidente (…), pode até mesmo ajudar a descobrir pressões de seleção e fatores
ambientais que podem ajudar a explicar o surgimento do esoterismo no “Ocidente” e
formular definições mais precisas e refinadas teoricamente. (…) O que a ciência cognitiva
da religião pode nos dizer sobre a geração e transmissão de “formas de pensamento” ou
“estilos cognitivos” considerados exclusivos do esoterismo ocidental? Existe uma dinâmica
de “evolução cultural convergente” que lança luz sobre a formação de grupos,
movimentos, discursos, experiências ou ideias-estruturas “de tipo esotérico”?"

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