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… Esta é uma transmissão de um futuro que não acontecerá. De um povo que não
existe ...
Repensando o Apocalipse: Um Manifesto Anti-Futurista Indígena
É essa mesma “cultura” que deve sempre ter um Outro Inimigo, para culpar,
reivindicar, afrontar, escravizar e assassinar.
Um inimigo sub-humano em que toda e qualquer forma de violência extrema não é
apenas permitida, mas também esperada. Se ele não tem um Outro imediato, ele
cria meticulosamente um. Este Outro não é feito do medo, mas sua destruição é
forçada por ele. Este Outro é constituído por axiomas apocalípticos e miséria
permanente. Esse Outro, esta doença weitko1, talvez seja melhor sintomizado em
sua estratagema mais simples, na de nosso remanejamento silenciado:
Eles são sujos, são inadequados para a vida, são incapazes, são incapazes, são
descartáveis, são não-crentes, são indignos, são feitos para nos beneficiar, eles
odeiam a nossa liberdade, são indocumentados, são esquisitas, são negras, são
indígenas, são menos que, são contra nós, até que finalmente, não são mais.
Nesse constante mantra de violência reformulado, é você ou eles.
É o Outro que é sacrificado por uma continuidade imortal e cancerosa. É o Outro que
é envenenado, que é bombardeado, que é deixado em silêncio debaixo dos
escombros.
Esse modo de ser, que infectou todos os aspectos de nossas vidas, é responsável
pela aniquilação de espécies inteiras, pela toxificação dos oceanos, pelo ar e pela
terra, pelo desmatamento e queima de florestas inteiras, pelo encarceramento em
massa, pela possibilidade tecnológica de guerra mundial que termina e elevando as
temperaturas em escala global, essa é a política mortal do capitalismo, é uma
pandemia.
1
Palavra nativo-americana que significa vírus da mente. Pode ser entendido como trauma para os
modernos freudianos.
Figura 2Querido Colonizador, seu futuro acabou- um ancestral
2
Rede de mercados norte-americana, principalmente na parte sul do país
Esses são os dons de infestar destinos manifestos; é o imaginário futuro que nossos
captores nos fazem perpetuar e fazer parte. A imposição impiedosa deste mundo
morto foi impulsionada por uma utopia idealizada como Charnel House, foi "para
nosso próprio bem" um ato de "civilização".
Matar o "índio"; matando o nosso passado e com ele o nosso futuro. "Salvando o
homem"; impondo outro passado e com ele outro futuro.
3
Interessante para pensarmos o que deu errado na Modernidade. Por que ela produziu um
caleidoscópio, mas o deixou rachar?
4
http://www.imagick.org.br/pagmag/xamanismo/BufaloBranco.html - Importante e raro animal no
Xamanismo
memórias, dobradas gentilmente por nossos ancestrais. É o nosso tempo de sonhar
coletivo e agora. Então. Amanhã. Ontem.5
A imaginação anti-colonial não é uma reação subjetiva aos futurismos coloniais, é
um futuro anti-colonizador. Nossos ciclos de vida não são lineares, nosso futuro
existe sem tempo. É um sonho, não colonizado.
Não estamos preocupados com como nossos inimigos nomeiam seu mundo morto
ou como eles nos reconhecem ou nos reconhecem ou a essas terras. Não estamos
preocupados em refazer suas maneiras de gerenciar o controle ou honrar seus
acordos ou tratados mortos. Eles não serão compelidos a acabar com a destruição
5
O tempo sem tempo
em que se baseia o mundo. Não pedimos a eles que acabem com o aquecimento
global, pois é a conclusão de seu imperativo apocalíptico e sua vida é construída com
a morte da Mãe Terra. Enterramos a asa direita e a asa esquerda juntas na terra,
que têm tanta fome de consumir. A conclusão da guerra ideológica da política colonial
é que os povos indígenas sempre perdem, a menos que nos percam. Capitalistas e
colonizadores não nos levarão para fora de seus futuros mortos.
A idealização apocalíptica é uma profecia auto-realizável6. É o mundo linear que
termina por dentro. A lógica apocalíptica existe dentro de uma zona morta espiritual,
mental e emocional que também se canibaliza. São os mortos ressuscitados 7 para
consumir toda a vida.
6
Interessante conceito a se trabalhar a partir do prisma capitalista e economicista da sociedade
Moderna e Pós-Moderna
7
Nesse sentido, somos os zumbis de Romero (A noite dos Mortos Vivos)
8
Em oposição aos zumbis que continuam a ser corpos, ainda que mortos.