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2023)
Profa. Dra. Annie Gisele Fernandes
Seguem quatro propostas: 1) sobre Cantiga de Amor; 2) sobre Cantiga de Amigo; 3) sobre
Novela de Cavalaria; 4) sobre Os Lusíadas. Você poderá considerá-las a partir de duas
perspectivas: a) escolher 1 e desenvolver um ensaio OU b) escolher 3 propostas e respondê-
las, objetivamente. Em ambas as possibilidades o limite máximo são cinco páginas.
Vimos que uma das principais características da Cantiga de Amor é a coita amorosa.
a) Explique-a na cantiga que segue, apontando também outras características daquele tipo de
composição nela presentes;
b) indique as relações que se pode notar entre ela e o poema “Letra Para Uma Valsa
Romântica”, de Manuel Bandeira.
Considere, em sua análise, o Tratado do Amor Cortês, de André Capelão, e/ou a “Introdução”
(em A Lírica Trovadoresca), de Segismundo Spina.
Leia a cantiga que segue e o fragmento de texto crítico transcrito abaixo e considere as
questões:
“As formas tradicionais compreendem todos os cantares d’amigo que refletem a fragância
virginal do campo, das serras e da praia [...]. Como se sabe, os cantares dessa inspiração,
sobretudo aqueles que refletem a vida simples do campo, estão intimamente associados à
música e à dança, motivo por que o conteúdo poético da canção desce algumas vezes para
um plano secundário. [...]” (Segismundo Spina. Introdução. A Lírica Trovadoresca. São
Paulo: Edusp, 1996, p. 50).
“– Deus! – disse ele consigo mesmo. – Que vejo aqui? Será preciso que os mate? Há tanto
tempo vivem nesta floresta; se eles se amassem com amor louco, teriam colocado esta
espada entre eles? E não se sabe que uma lâmina nua que separa dois corpos é garantia e
guarda de castidade? Se eles se amassem com amor louco, repousariam com tanta pureza?
Não, não os matarei. Seria grande pecado feri-los. E, se eu acordasse este dorminhoco e
um de nós dois fosse morto, disso falariam por muito tempo, para vergonha nossa. Mas
farei com que, ao despertarem, saibam que os encontrei dormindo e que não quis a sua
morte, e que Deus teve compaixão deles.
O sol, atravessando a cabana, queimava a face branca de Isolda. O rei pegou suas luvas
ornadas de arminho: “Foi ela”, pensou ele, “que, recentemente, trouxe-mas da Irlanda!…”
Colocou-as na folhagem para fechar o buraco por onde descia o raio de sol; em seguida,
retirou de leve o anel de pedras de esmeralda que ele tinha dado à rainha. Naquela época,
fora preciso forçar um pouco para fazê-lo passar pelo dedo. Agora seus dedos estavam
tão magros, que o anel saiu sem esforço. Em seu lugar, o rei pôs o anel que Isolda lhe
presenteara. Em seguida retirou a espada que separava os amantes, aquela mesma –
reconheceu ele – que se tinha avariado no crânio do Morholt, colocou a sua em seu lugar,
saiu da choça, saltou para a sela, e disse ao monteiro:
– Agora foge e salva o teu corpo se puderes!
Ora, Isolda teve uma visão em seu sono: estava ela debaixo de uma rica tenda, no meio
de uma grande mata. Dois leões lançavam-se sobre ela e lutavam para possuí-la… Ela
soltou um grito e despertou: as luvas ornadas de arminho branco caíram sobre o seu seio.
Com o grito, Tristão ficou de pé, quis apanhar sua espada e reconheceu, pelo punho de
ouro, a espada do rei. E a rainha viu em seu dedo o anel de Marc. Ela gritou:
– Sire, que desgraça para nós! O rei surpreendeu-nos.
– Sim – disse Tristão –, ele levou minha espada; estava só, ficou com medo, foi procurar
reforço. Voltará, mandará lançarem-nos na fogueira diante de todo o povo. Vamos
fugir!…
E, em grandes jornadas, acompanhados de Gorvenal, eles fugiram para a terra de Gales,
até os confins da floresta do Morois. Quantas torturas causadas por amor!” (final do
Capítulo IX / BÉDIER, Joseph. O Romance de Tristão e Isolda. Trad.: Luís Cláudio de
Castro e Costa. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1988, pp. 68-69).
Explique essas passagens relacionando uma a outra bem como aos versos que seguem:
[...]
Já neste tempo o lúcido planeta
Que as horas vai do dia distinguindo
Chegava à desejada e lenta meta,
A luz celeste às gentes encobrindo,
E da casa marítima secreta
Lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo,
Quando as infidas gentes se chegaram
Às naus, que pouco havia que ancoraram. (Os Lusíadas, Canto II, est. 1).
b) Em seguida, diga de que modo o conteúdo delas se opõe a este trecho da “fala” do
Velho do Restelo:
Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama! (Fama: personificação de vaidade)
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!” (Canto IV, est. 95).