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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ
CAMPUS BRAGANÇA
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO/2021

JOANA JAQUELINE DA SILVA E SILVA

3º TEMPO COMUNIDADE
EIXO TEMATICO: SISTEMA DE PRODUÇÃO FAMILIAR E PROCESSOS DE
TRABALHO NO CAMPO

BRAGANÇA-PA
202
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ
CAMPUS BRAGANÇA
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO/2021

JOANA JAQUELINE DA SILVA E SILVA

Trabalho de pesquisa do tempo


comunidade, apresentado no Instituto
Federal de educação, Ciência e
Tecnologia do Pará (IFPA), realizado
na comunidade de Tamatateua zona
rural de Bragança.
Professor orientador: Thiago Souza

BRAGANÇA-PA
2022
LISTA DE IMAGEM
Figura 1. Escola Em 1988..................................................................................................3
Figura 2. Escola Em 2022..................................................................................................3
Figura 3. Ação Do Paneiro Do Mangal, Reforma Da Horta Na Escola...............................7
Figura 4. Ação Dos Alunos Com A Cooperativa................................................................8
Figura 5. Ação Do Projeto Na Mangues Da Amazônia .....................................................8
Figura 6. Docentes Da Escola Em Integração Com O Projeto Mangues Da Amazônia…..8
Figura 7. Atividade Coletiva Entre Os Alunos...................................................................10
Figura 8. Desenhos Sendo Criados ................................................................................10
Figura 9. Momento De Socialização Com Os Alunos......................................................11
Figura 10. Desenho Dos Socializando.............................................................................11
Figura 11. Entrevistado....................................................................................................14
Figura 12. Valdeci E Seus Companheiros De Pesca....................................................... 18
Figura 13. Desembarcação Da Pesca............................................................................ 18
Figura 14. Captura De Pescado Arraia, Valdecir ............................................................19
Figura 15. Peixe Bagre....................................................................................................19
Figura 16. Rancho do entrevistado ....................................................................................23
Figura 17. Desenho Esquemático De Um Curral De Pesca Do Tipo Enfia-Coração........24
Figura 18. Valdeci Em Seu Curral................................................................................... 25
Figura 19. Ilustração De Um Cacuri................................................................................ 26
Figura 20. Ilustração De Dentro Do Cacuri .....................................................................26
Figura 21. Ilustração De Uma Estacada..........................................................................27
Figura 22. Raelly E Seu Pai Valdeci.................................................................................30
Figura 23. Raelly Extraindo Turu.....................................................................................30
Figura 24. Extrativista Após Atividade..............................................................................31
Figura 25. Cambada De Caranguejos..............................................................................31
Figura 26. Plantio De Maniva...........................................................................................32
Figura 27. Farinha Pronta................................................................................................32
Figura 28. Mapeamento Da Turma..................................................................................35
Figura 29. Desenvolvimento Dos Desenhos Equipe 1.....................................................35
Figura 30. Desenvolvimento Dos Desenhos Equipe 2 ....................................................35
Figura 31. A Equipes Em Atividades Coletivas................................................................35
Figura 32. Desenvolvimento Dos Desenhos Equipe 3....................................................35
Figura 33. Desenvolvimento Dos Desenhos Equipe 4.....................................................35
Figura 34. Socialização Da Equipe 1...............................................................................36
Figura 35. Socialização Da Equipe 2...............................................................................36
Figura 36. Socialização Da Equipe 3................................................................................36
Figura 37. Socialização Da Equipe 4.............................................................................. 36
Figura 38. Desenho Equipe 1..........................................................................................36
Figura 39. Desenho Equipe 2..........................................................................................36
Figura 40. Desenho Equipe 3...........................................................................................37
Figura 41. Desenho Equipe 4...........................................................................................37
LISTA DE TABELA
Tabela 1. Quantidade de funcionário.................................................................................4
Tabela 2. Estrutura Física..................................................................................................5
Tabela 3. Composição familiar.........................................................................................11
Tabela 4. Valores do pescado.........................................................................................20
Tabela 5. Gastos mensais...............................................................................................21
Tabela 6. Renda per-capta por atividade.........................................................................21
Tabela 7. Renda per capta novembro..............................................................................32

LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 1. Dados coletados.............................................................................................11


RESUMO
Esta pesquisa ocorreu na comunidade de Tamatateua, localizada a 18km da sede do
município de Bragança, cujo o objetivo desta foi realizar um mapeamento na escola
Brasiliano Felício da Silva, no qual foram identificadas informações sobre o histórico de
fundação da mesma, e principalmente fazer uma diagnose a respeito de sistemas de
produção familiares da família de seus referidos alunos, deste modo se obteve várias
atividades exercidas por moradores da comunidade como: Pesca Artesanal, Extrativismo
de caranguejos, Agricultura, Apicultura e outras atividades formais.
Entre estes aspectos citados, a pesca artesanal foi o sistema de produção escolhido para
aprofundamento teórico que teve como referência de informações a família de seu
Valdeci da Silva Ambrósio, onde este é pescador a 45 anos e através do mesmo foi
coletado dados sobre saberes tradicionais e conhecimentos empíricos.
Sobretudo, demonstrar as problemáticas de dificuldade em que o pequeno produtor
enfrenta ao exercer sua principal atividade, que é a pesca artesanal de onde tira seu
sustento e fonte de renda, dentre estas estão a falta de valorização em seus produtos, o
difícil acesso a instrumentalizações pesqueiras e escoamento de matéria prima em outras
localidades. Diante deste viés, o resultado da pesquisa é fazer uma reflexão sobre as
práticas agrícolas e pesqueiras presentes no cotidiano dos moradores da comunidade de
Tamatateua.
SUMARIO
1.INTRODUÇÃO...............................................................................................................1
2.DESCRIÇÃO SOBRE A PESQUISA REALIZADA NA ESCOLA BRASILIANO...........1
2.1 Histórico De Fundação Da Escola............................................................................2
2.2 Recursos Humanos...................................................................................................4
2.3 Oferta De Ensino E Estrutura Física Da Escola.......................................................4
2.4 Questões Sobre Associações E Cooperativas.......................................................5
2.5 A Escolha Da Turma Para Mapeamento..................................................................9
3. Descrição Sobre A Escolha Do Sistema De Produção..........................................10
3.1 O Que É Um Sistema De Produção Familiar? ......................................................11
3.2 Estudo Do Caso.......................................................................................................12
3.3 Histórico Familiar....................................................................................................13
4. A PESCA ARTESANAL............................................................................................14
4.1 sobre O Acordo De Seu Valdeci Com Relação A Pesca......................................17
4.2 Materiais Utilizados.................................................................................................17
4.3 Tipos De Peixes Capturados..................................................................................18
4.4 Ciclo Pesqueiro.......................................................................................................19
4.5 O Preço Do Pescado...............................................................................................19
4.6 Gastos E Renda Mensal..........................................................................................20
5. SABERES TRADICIONAIS........................................................................................22
5.1 Rancho De Pesca....................................................................................................23
5.2 Curral De Pesca.......................................................................................................23
5.3 Pesca De Cacuri......................................................................................................25
5.4 Pesca De Estacada .................................................................................................26
5.5 Peca Na Quebrada...................................................................................................27
5.6 Fases Lunar.............................................................................................................27
6. RELAÇAO COM A NATUREZA.................................................................................28
6.1 A Relação Do Trabalho X Natureza........................................................................28
6.2 A Relação Entre Homem X Mulher.........................................................................29
6.3 Tipos De Manejo......................................................................................................30
6.4 Consumo Familiar De Todos Os Sistemas De Produção....................................32
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................32
ANEXOS.........................................................................................................................35
APÊNDICES....................................................................................................................41
REFERENCIAS..............................................................................................................43
1

1.INTRODUÇÃO
O presente relatório da pesquisa TC referente ao 3° semestre do curso
Licenciatura em Educação do Campo, tem como eixo temático: Sistema de produção
familiar e processo de trabalho no campo, onde o objetivo desta é fazer uma reflexão
sobre as práticas agrícolas presente no campo, que a partir da realidade dos alunos
sendo sujeitos deste, é possível demonstrar os saberes culturais, as formas de produção
e de sociabilidade entre estes, ou seja, enfatizar o fortalecimento de seus traços e
identidade cultural.
Nesta perspectiva, vai ser discutido sobre os aspectos da escola Brasiliano Felício
Da Silva. Dentre estes aspectos, vale ressaltar a história de fundação da mesma,
sistemas de produções familiares, a relação com a natureza, trabalho x natureza, tipos
de manejos e entre outros. Sobretudo, vai ser apresentada uma descrição densa e
detalhada com relação a estes.
A população da região nordeste do Pará, sobretudo a microrregião bragantina,
apresenta o extrativismo como uma de suas principais fontes de renda. Nesta região a
atividade extrativista é alicerçada no uso de recursos oferecidos pelos manguezais, pelas
matas, pelos campos alagados e pelo ambiente marinho. O extrativismo pesqueiro se
destaca por se configurar como uma das atividades mais importantes da zona costeira,
sendo fonte de alimento, de trabalho e geradora de renda para parte significativa das
populações humanas do litoral (SANTOS et al, 2005).
Porém, diante desse viés o sistema de produção escolhido para aprofundamento
teórico foi: A pesca artesanal, sendo assim, teve como principais características os
participantes da família do aluno Venilson da Silva Ambrósio do qual se obteve as
informações referente a este sistema de produção.
2. DESCRIÇÃO SOBRE A PESQUISA REALIZADA NA ESCOLA BRASILIANO
No dia 01 de novembro de 2022, a dupla Joana Jaqueline e Vallene da silva,
apresentaram-se na escola Brasiliano Felício da Silva, localizada na comunidade de
Tamatateua com 18 km da sede do município de Bragança, para a realização da pesquisa
sobre sistemas de produção familiar e processo de trabalho no campo, porém vale
ressaltar que o relatório entre ambas é de forma individual. Em um primeiro momento, as
pesquisadoras conversaram com a gestora (Vânia do socorro da silva Viana), em contato
2

com a mesma foi explicado o objetivo da pesquisa e solicitada a colaboração desta para
se ter acesso ao projeto político pedagógico (PPP).
O projeto Político Pedagógico, ou PPP, é um documento que garante autonomia
para as instituições de ensino em relação à proposta de orientação de suas práticas
educacionais, estabelecendo os objetivos do ambiente educacional, podendo incluir
desde a proposta curricular até a gestão administrativa do mesmo (UNIAMÉRICA, 2021).
Demo (1988) comenta que o projeto político pedagógico é como um farol de
mudanças, pois define pontos importantes para a educação básica como” A
instrumentalização pública mais efetiva da cidadania e da mudança qualitativa na
sociedade e na economia”. Para ele, esses aspectos são primordiais no sentido de dar
oportunidades à formação do sujeito que precisa de uma educação de qualidade.
Dessa forma, com a contribuição da gestora foi possível conhecer os mais
variados espaços da escola, principalmente na leitura do PPP do qual se obteve todos
os dados necessários para o mapeamento da mesma. Além disso, foi de suma
importância a colaboração dos assistentes administrativos, pois através destes foram
repassadas informações vigentes a respeito de dados quantitativos do quadro
institucional da escola brasiliano.
Em um segundo momento, as pesquisadoras partiram em busca de identificações
a respeito de sistema de produção familiar, ou seja, para se chegar aos resultados
desejados contou-se com a compreensão e ajuda dos professores nesse processo.
Sendo assim, com o consentimento da gestora, professores e principalmente dos alunos
de imediato se começou a pensar em um dia viável para a aplicação de uma atividade
identificatória referente aos alunos, pois ambos estavam em período de provas
(simulado), mesmo assim, tanto estes como a professora foram atenciosos e
compreensíveis para o acontecimento da pesquisa.
2.1 Histórico De Fundação Da Escola
A escola municipal de ensino infantil e fundamental Brasiliano Felício Da Silva,
situada na localidade de Tamatateua, a 18 km do município de Bragança – Pará, foi
construída no ano de 1987 e foi inaugurada no dia 10 de janeiro de 1988 na gestão do
prefeito municipal, o S.r. João Alves Da Mota. A designação “ Brasiliano Felício da silva”,
dá-se em homenagem a um dos primeiros moradores da comunidade que não media
3

esforços no desenvolvimento por uma educação à população residente de Tamatateua,


como prova disto é que o S.r. Brasiliano Felício por muito tempo cedeu o espaço de sua
residência para sua filha ministrar as aulas (Orlanda Felício), além disso, o mesmo doou
o terreno no qual a escola está implantada atualmente.
A escola Brasiliano Felício Da Silva era anexa da escola municipal de ensino
fundamental prof. Jorge Daniel de Sousa Ramos, que a partir do dia 19 de março de 2002
o conselho estadual de educação autorizou com base na resolução N° 200/ 1999 o
funcionamento do ensino fundamental de 1° a 4° série para a referida escola e seus
anexos, sendo elas: Escola Municipal de ensino fundamental Catarino Sousa inaugurada
no dia 22 de outubro de 1982 e escola municipal de ensino fundamental André Valino,
inaugurada em fevereiro de 1998 ambas estão situadas na comunidade de Tamatateua.
No dia 29 de novembro de 2005 com base no decreto 212/ 2005 o S.r. prefeito de
Bragança, Celso Orlando da Silva Leite no uso de suas atribuições legais, autorizou o
desmembramento da Escola Brasiliano Felício da Silva da escola matriz prof. Jorge
Daniel de Sousa Ramos. Ademais, vale ressaltar que desde então a mesma se tornou
escola polo da comunidade, o que significa que nos dias de hoje se encontra em parceira
com outras duas escolas que atendem demandas multisseriadas do 1° ao 5° ano, ou
seja, estas estão situadas na mesma localidade em Tamatateua.
Em agosto de 2011, durante o mandato do prefeito Edson Luiz De Oliveira, a
escola Brasiliano recebeu a sua primeira reforma de ampliação baseada no padrão do
mec. Há 34 anos está serve a população que reside na comunidade, isto é, com
aproximadamente 1.620 habitantes (ACS/ 2022).

Figura 1. Escola Em 1988 Fonte: (Arquivo Pessoal) Figura 2. Escola Em 2022Fonte: (Vallene Silva, 2022)
4

2.2 Recursos Humanos


Atualmente, a escola Brasiliano conta com um quadro institucional de funcionários
que são acessíveis para seu funcionamento, ou seja, é importante frisar que ambos
também são designados na complementação de atividades nas anexas. Segue abaixo
na tabela o quantitativo de servidores

SERVIDORES QUANTIDADE

Gestora 1

Vice- gestora 1

Coordenadora 1

Professores 29

Cuidadores 6

Aux. De. Ser. Gerais 9

Porteiro 1

Administrativo 3

Vigia 3

N° TOTAL 54
Tabela 1. Quantidade de funcionário

2.3 Oferta De Ensino E Estrutura Física Da Escola.


A referida escola atende uma demanda de 461 alunos, sendo que 21 são
destinados a seus anexos. No entanto, esta oferta um ensino desde o maternal (AEE)
infantil, fundamental do 1° ao 9° ano, no período diurno e a educação de jovens e adultos
(educa pesca) no horário noturno.
Entretanto, vale ressaltar que o presente projeto tem como objetivo sinalizar a
organização didático-pedagógico na Educação de Jovens e Adultos articulada à
educação Profissional – 1º segmento, anos iniciais (1˚ ao 5˚ ano) e 2º segmento anos
finais (6˚ ao 9˚ ano) do Ensino Fundamental, na Secretaria Municipal de Educação de
Bragança – Pará, em parceria com a Secretaria Municipal de Aquicultura e Pesca
(SEMAP), com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) e
5

a Universidade Federal do Pará, tendo em vista a necessidade de escolarização dos


trabalhadores do setor pesqueiro no Município de Bragança – Pará.
Deste modo, a modalidade do educa pesca funciona desde 2021 na escola
Brasiliano e atende jovens e adultos de distintas idades, onde a maioria desse público
são os pais de alunos que residem nesta, a comunidade escolar é responsável por emitir
os certificados de conclusão de ensino do projeto educa pesca.
Por outro lado, podemos inferir que a escola Brasiliano Felício encontra- se
estruturada para receber todos os educandos da comunidade, pois a mesma nos dias de
hoje atende discentes com especialidades no qual são disponibilizados profissionais para
suprir as necessidades destes. Nessa perspectiva, salienta-se que nesta possui espaços
disponíveis em seus compartimentos físicos, de modo que estes são ambientes
diversificados para que os alunos possam trajar e brincar durante o recreio. Para melhor
compreensão de questões físicas da escola, segue o ilustrativo abaixo na tabela

Sala de aula 9

Sala de professores 1

Secretaria 1

Diretoria 1

Sala de leitura 1

Sala de informática 1

Banheiros 4

Banheiros adaptados 2 especiais e maternal

Depósito 1

Almoxarifado 1

Tabela 2. Estrutura Física

2.4 Questões Sobre Associação E Cooperativas.


Na comunidade de Tamatateua existe uma associação de moradores entre si,
porém, infelizmente esta não tem vínculo com a escola além de se encontrar em
situações de poucas atividades de funcionamento. Entretanto, na escola Brasiliano
6

Felício há presença de projetos do IFPA campus Bragança, UFPA e Cooperativa


(Coomarca) mais adiante será relatado um pouco sobre estes.
A iniciativa do projeto: Educação do Campo e Sustentabilidade- o lixo de
Tamatateua, referente a professora e moradora da comunidade Maria Elziane Ambrósio
da Silva, foi desenvolvido em 2019 com os alunos do 4° ano da escola Brasiliano Felício,
onde o objetivo geral desta era sensibilizar a instituição escolar por meio de ações
educativas para a necessidade de implementar a coleta seletiva na comunidade de
Tamatateua.
Através do referido projeto, a escola conseguiu fazer uma parceria com a
cooperativa (Coomarca) no qual a mesma é o papel principal no desenvolvimento da
cooperativa. Atualmente a Coomarca faz visitas mensais na escola, efetuando ações
para os alunos a respeito do lixo orgânico e não orgânico, além disso a mesma não só
coleta materiais recicláveis da escola como também da comunidade como um todo.
“Cooperativa é uma organização constituída por membros de determinado grupo
econômico ou social que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada
atividade” (Sebrae)
Por outro lado, o projeto Paneiro do Mangal ministrado pelas mulheres
extrativistas Marinha caeté-, cujo o objetivo é ser Socioambiental e buscar por um
fortalecimento de empreendedorismo financeiro das mulheres da comunidade de
Tamatateua, onde grande parte dos filhos das integrantes estudam na escola Brasiliano,
deste modo, estas através da proposta do referido projeto efetuam na comunidade
escolar, ações que beneficiam no desenvolvimento educacional dos educando como:
Cultivar verduras, hortaliças e sobretudo demonstrar a importância que o campo tem
como lugar de pertencimento.
Desde 2021 a escola cede o espaço e principalmente os alunos para o
funcionamento do projeto Mangues da Amazônia, onde o mesmo tem como objetivo em
ser socioambiental e trabalha na recuperação e conservação de manguezais em reservas
extrativistas. No entanto, foram desenvolvidas na comunidade escolar quatro projetos
destinados à ampliação da educação dos alunos, entre estes estão: O clube do recreio
que é oferecido a crianças de três a seis anos, cujo objetivo é trabalhar a educação
ambiental destes.
7

Para as crianças de sete e nove anos é oferecido o projeto alfa mangue, que tem
por objetivo o incentivo à leitura. Por outro lado, o clube de ciências que é destinado a
crianças de dez a doze anos tem como objetivo introduzir uma educação científica, pois
estas sabem muito sobre o mangue e através disto serão capazes de reconhecer o
mesmo com um olhar científico.
Para alunos de treze e dezenove anos, são desenvolvidos entre estes o projeto
pró mangue que tem como objetivo o desenvolvimento sustentável, direitos humanos e
liderança, para que no futuro os discentes possam ser capazes de descobrir seu espírito
de liderança na comunidade e em outros ambientes.
“Associação é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne pessoas físicas ou
outras sociedades jurídicas com objetivos comuns, visando superar dificuldades e gerar
benefícios para os associados” (Sebrae).
Entretanto, com estas ações desenvolvidas na escola Brasiliano Felício,
salientamos concluir que através dos projetos a mesma é movida a exercer uma
aprendizagem voltada para a realidade dos alunos, ou seja, em torno da comunidade é
visível as áreas de manguezais e campos naturais, tanto os educandos como os
participantes e coordenadores dos projetos adquirem conhecimentos, resultando assim
em troca de saberes e bens comuns.
A ação das coisas sobre os homens é muito diferente, pelos seus processos e
pelos seus resultados, daquela que é proveniente dos próprios homens (Durkheim,
1999).

Figura 3. Ação do Paneiro do mangal, reforma da horta na escola


Fonte: (Dany Sousa, 2021)
8

Figura 4. Ação dos alunos com a cooperativa


Fonte: Elziane Ambrósio, 2021)

Figura 5. Ação do projeto na Mangues da Amazônia


Fonte: Mangues da Amazônia, 2021)

Figura 6. Docentes da escola em integração com o projeto Mangues da Amazônia


Fonte: (Mangues da Amazônia, 2021)
9

2.5 A Escolha Da Turma Para Mapeamento


A escolha da turma se deu através de conversas com os professores da instituição
para sabermos a personalidade das turmas e o quanto estas poderiam colaborar no
andamento da pesquisa. O principal alvo deste mapeamento foram os alunos da turma
do 9° ano no período da tarde, com aproximadamente 21 discentes nesta. A participação
da professora Naura de Oliveira foi de suma importância, pois a mesma nos concedeu
alguns minutos de sua aula para dialogarmos com os alunos, no qual foi explicado o
objetivo de nossa pesquisa e assim solicitando a participação dos mesmos nesse
processo de levantamento de dados.
No dia 03 de novembro de 2022, retornamos à escola para aplicação de uma
metodologia, onde o objetivo desta era obter os resultados dos sistemas de produção
familiar da turma, pois os principais mecanismos usados nesta foram os desenhos em
cartolinas e socialização. Por conseguinte, neste dia encontravam-se apenas 18 alunos,
então a turma foi dividida em grupos de cinco e quatro sendo que duas equipes de cinco
e outras duas de quatro.
O ser humano, como ser social é constituído e constituinte do processo do trabalho
pela linguagem, pela cultura e pela educação (Durkheim, 2001)
No entanto, cada grupo compartilhou a mesma cartolina mais os desenhos seguiu
de forma individual entre si, a escolha desse método se deu por que achamos importante
trabalhar a coletividade entre os alunos. Dessa forma, ambos se ajudaram em alguma
coisa que um soubesse e o outro não, assim dando espaço para a criatividade e
desenvolvimento de práticas coletivas.
“A consciência coletiva é o conjunto de sentimentos e crenças
comuns aos membros de uma mesma sociedade, formando um
sistema determinado com vida própria, a educação é um fato social
entre os indivíduos onde a socialização é ensinar as pessoas a
serem membros da sociedade” (Durkheim, 1999 P. 50)
E assim eles começaram a desenhar, enquanto nós estávamos registrando
imagens com celular, tirando dúvidas e no final da tarde tivemos um excelente resultado,
ou seja, cada um dos objetivos com relação a coleta de dados da turma foi identificado.
As imagens a seguir são dos alunos desenhando na coletividade.
10

Figura 7. Atividade coletiva entre os alunos Figura 8. Desenhos sendo criados


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

3. DESCRIÇÃO SOBRE A ESCOLHA DO SISTEMA DE PRODUÇÃO


A escolha do sistema de produção se deu a partir dos alunos da escola Brasiliano
Felício, que através de desenhos foram destacados dos mais variados tipos de manejos,
ou seja, o passo que enfatizou a metodologia foi a socialização de apresentação dos
alunos em sala, no qual foi exposto cada detalhe referente aos desenhos. Depois de
todas as apresentações foram identificados com vigência os sistemas de produções das
famílias destes como: Agricultura (produção de farinha), Pesca artesanal, Extrativismo
(caranguejo uçá), Apicultura, auxiliar de pintura, manicure e marreteiro de caranguejos.
O ser humano é aquilo que a educação faz dele, o objetivo da educação é
desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de que ele é capaz (Kant, 2019).
Desse modo, entre estes, o sistema de produção escolhido para aprofundamento teórico
foi a pesca artesanal, que a partir do aluno Venilson da Silva Ambrósio foi possível um
primeiro contato com a família do mesmo.
Abaixo vai ter algumas imagens e um gráfico ilustrativo para demonstrar a veracidade da
coleta de dados, porém o restante desta se encontra no final nos anexos.
11

Figura 9. Momento de socialização com os alunos Figura 10. Desenho dos socializando
Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

Gráfico ilustrativo dos dados coletados

Gráfico 1. Dados coletados

Podemos concluir, que na comunidade de Tamatateua os principais sistemas de


produções presentes no cotidiano dos alunos são estes que ambos apresentaram, pois
através destes as famílias obtêm suas fontes de renda.

3.1 O Que É Um Sistema De Produção Familiar?


Com base nas aulas ministradas durante o tempo acadêmico sobre sistema de
produção familiar, entende-se que este é um grande sistema aberto que recebe
influências e influencia também, o mesmo é toda a forma de cultivo de terra e extrações
de recursos naturais que são ministrados por uma família, essa modalidade pode estar
atrelada ao sistema capitalista ou não. De um outro lado, esta não se caracteriza como
12

uma produção totalmente voltada para o mercado, isto é, em um primeiro momento a


mesma é direcionada a vivência diária, dessa forma, conforme as dificuldades de uma
sociedade de pequena produção, são atribuídas ao autoconsumo e venda, onde a
intenção desta não é encher o mercado mais sim suprir suas necessidades de comer,
vestir, e no máximo são vendidos a mais para comprar alguma coisa que beneficie sua
residência. O processo de manejo se dá na pluriatividade destes, envolvendo pequenas
propriedades e territórios, cujo objetivo é produzir alimentos para o consumo familiar ou
uma produção voltada a ir em busca de um adentramento no mercado.
Para Almeida e Souza ( 2003), a agricultura familiar representa no campo o
segmento que exerce maior multifuncionalidade, ou seja, as características próprias da
agricultura familiar exercem múltiplas funções, entre elas, a função alimentar e
econômica, pois assegura a autossuficiência dos mercados de consumo; a função social,
pois distribui renda e gera empregos; a função ambiental, pois além de diversas outras
razões, seu funcionamento econômico não se fundamenta na maximização da
rentabilidade do capital, nesse caso se orienta em satisfazer a família e a manter o
potencial produtivo do meio natural, percebido como um patrimônio familiar; a função
patrimonial, pois conserva conhecimentos e saberes e fazeres tradicionais; a função
recreativa, pois os espaços rurais tendem a ser ocupados para o lazer e o ludismo,
consideradas novas demandas da sociedade; e a função estética conservando uma
grande diversidade na paisagem.
3.2 Estudo De Caso
No dia 05 de novembro de 2022, através do aluno Venilson da Silva Ambrósio foi
possível uma primeira visita domiciliar com a família do mesmo, em que os membros
desta relataram sua história de vida e processo de trabalho no campo como: sistemas
de produções, Pesca artesanal, Extrativismo e agricultura (produção de farinha).
Após os relatos da família, foi se enfatizando como o sistema de produção da
pesca artesanal é importante para a mesma, que vai desde o consumo familiar à venda.
Sendo assim, no dia 08 de novembro de 2022 foi retomada a visita com o propósito de
aplicação de questionários para a família, e roda de conversa a respeito da pesca
artesanal.
13

No entanto, dia 12 de novembro foi elaborada uma visita ao porto do Atalaia, onde
ficam armazenadas todas as ferramentas utilizadas pela família no processo de pesca, e
socialização entre estes sobre a captura de peixes.

3.3 Histórico Familiar


A família de seu “Carrapicho” apelido referente ao Valdeci da Silva Ambrósio, cujo
o mesmo relatou que “ Carrapicho se deu ainda quando era criança e por ter medo das
pessoas só vivia em riba da saia de sua mãe, desde então começaram a chamar tu
parece um carrapicho grudado”
Quando tinha doze anos de idade seu Valdeci da Silva Ambrósio começou a se
interessar pela pesca, pois segundo ele ”nasci e me criei em Tamatateua, me lembro que
eu fugia da escola para ir a maré, nessa época eu era muito curioso e quando comecei a
aprender as manhas de se pescar, eu nunca mais parei”.
Casado com a senhora Elvina Ribeiro da Silva, que assim como este nasceu e reside em
Tamatateua, dessa união resultou em nove filhos que entre estes apenas cinco moram
com o casal. Dona Elvina, nos relatou que desde os seus treze anos de idade começou
sua lida na agricultura, e por influência de seu pai também foi extrativista de mariscos
(mexilhão).
Durante a criação de seus filhos, ambos repassaram saberes tradicionais que lhes
foram ensinados, dentre estes, a cultura da pesca, extrativismo (caranguejo – uçá) e
agricultura.
Atualmente a família exerce essas atividades de formas avariadas conforme suas
necessidades. Esses manejos são as principais fontes de renda da mesma, porém para
estes a pesca artesanal tem um significado muito grande, pois através desta seu Valdeci
conseguiu criar seus filhos e se mantém financeiramente até os dias de hoje.
14

Figura 11. Entrevistado


(Fonte: Jaqueline 2022)

COMPOSIÇÃO FAMILIAR

NOMES IDADE ESCOLARIDADE

Valdeci da silva Ambrósio 57 anos 3° série

Elvina Ribeiro da silva 57 anos Médio completo

Valdelino da silva Ambrósio 31 anos Médio completo

Venilson da silva Ambrósio 18 anos 9° ano

Jailson da silva Ambrósio 21 anos 3° ano médio

Valdeilson da silva Ambrósio 23 anos Médio completo

Elielson da Ambrósio 15 anos 8° ano

Raelly da silva Ambrósio 26 anos Médio completo


Tabela 3. Composição familiar
4. A PESCA ARTESANAL
A pesca artesanal é um tipo de manejo que se caracteriza principalmente pela mão
de obra familiar, cujo as principais características de captura se dá por pequenas
embarcações e equipamentos que variam de acordo com a espécie a se capturar (rede
branca, arrasto simples, anzol, armadilhas e etc.). Este tipo de pesca destina-se ao
consumo familiar e ao mercado local ou nacional.
No Brasil, os primeiros registros sobre a pesca artesanal referem-se à atividade
de subsistência desenvolvidas pelos povos indígenas, e com a chegada dos portugueses
e outros povos da Europa e, em seguida, dos escravos africanos, houve significativo
15

incremento da atividade pesqueira que se tornou importante fonte de alimento para os


engenhos e fazendas coloniais (SILVA, 1988).
A pesca artesanal no Brasil demorou um longo período até ser reconhecida e
conceituada. Em 1967 no decreto lei n° 221, que trata da pesca no capítulo I, não
descreve a pesca artesanal em nenhum momento (BRASIL,1976), mas só a partir da
apresentação no III Plano Nacional de Desenvolvimento da Pesca 1975/1979, em uma
abordagem sobre os “aspectos institucionais do desenvolvimento da pesca no Brasil” é
que vem analisar a pesca em duas fases: a fase pré-industrial ou artesanal e a industrial
(SILVA, 1986). Só a partir de um diagnóstico expresso pelo governo federal brasileiro no
Plano Nacional de Desenvolvimento da Pesca em 1980/1985 é que parece ter havido de
fato o reconhecimento definitivo da pesca artesanal (SILVA, 1986).
A pesca artesanal, ao longo da história no Brasil não foi alvo de praticamente
nenhuma ação por parte dos governos, com foco ora no desenvolvimento industrial do
setor, orana conservação e preservação. Desta maneira, a condição socioeconômica dos
pescadores artesanais, seu papel na economia, na produção de alimento e a sua cultura
e forma de vida estiveram sempre à margem das políticas públicas. Acrescenta-se, ainda,
as políticas desenvolvimentistas e conservacionistas, junto de políticas substantivas para
a pesca artesanal, determinaram a precariedade de vida dos pescadores artesanais e
suas comunidades (FREITAS, 2015).
Nesta perspectiva, nosso entrevistado foi seu Valdeci da Silva Ambrósio de 57
anos morador da comunidade de Tamatateua, onde este é pescador tradicional a mais
de 45 anos, entre esses aspectos o mesmo relata sua experiência com a pesca, as
ferramentas que muitas das vezes necessita criar para capturar os peixes. Segundo
Costa (p.79), em Tamatateua uma parcela significativa de indivíduos (50%) afirmou
exercer atividades agrícolas e pesqueiras para o incremento da renda familiar.
A pesca artesanal tem uma grande influência para a comunidade, por que é desse
sistema de produção que boa parte da população se alimenta e retiram recursos
econômicos e desde cedo as crianças já têm esse contato com a pesca, tendo assim um
pertencimento com o sistema de produção, mais seu Valdeci relata que muitas das vezes
sofrem discriminações à respeito do modo de sua pesca, ou seja, principalmente a falta
de valorização do seu produto ao vender.
16

Os pescadores artesanais são aqueles que exercem a atividade de pesca, sozinho


ou utilizam mão de obra familiar ou não assalariada, explorando ambientes localizados
próximos às suas residências. Já que suas embarcações e apetrechos não permitem
autonomia para longos deslocamentos (ESPÍRITO-SANTO e ISAAC, 2012). Os
pescadores, geralmente, têm baixa escolaridade e baixa renda, exibindo padrões de
relativa pobreza. Acrescenta que a atividades enfrenta constantes conflitos, como:
competição com a pesca amadora e esportiva;) diminuição da produtividade devido a
degradação ambiental) perda de habitats naturais (FENZL, 2013).
Diante deste pressuposto a pesca artesanal no passado, e muitas vezes até hoje,
é considerada ineficiente e improdutiva e a razão principal desta ineficiência é a dispersão
das comunidades dos pescadores ao longo da costa e a pouca importância e visibilidade
que caracterizam esse setor (VASCONCELLOS; DIEGUES; SALES, 2007). Muito se
ouvia na década de 70 que a pesca artesanal estaria com os dias contados por causa do
alto incentivo fiscal do governo brasileiro à pesca industrial, porém a sobre a pesca e
insustentabilidade deste tipo de atividade forçou as importações e levou a declínio e
sucateamento grande parte do parque industrial pesqueiro (DIEGUES, 200).
Em conversa com os membros da família, foi relatado que todos os filhos de seu
Valdeci têm vínculo pesqueiro e que cada saber lhes foram ensinados de acordo com a
criação deles, ou seja, o modo de vida tem grande influências na aprendizagem de
conhecimentos empíricos que vão muito além das teorias.
Para Diegues (2000) a compreensão da pesca artesanal deve levar em
consideração o modo de vida peculiar dos pescadores, assim como as suas relações de
trabalho.
Em um primeiro momento o S.r. Valdeci relata com vigência as dificuldades que
enfrenta para se manter sendo um pescador, pois este não tem nenhuma ferramenta de
trabalho e com isso o mesmo diz” Trabalho mais de dez anos para um conhecido meu,
por que ele me empresta todos mantimentos dele para mim ir pescar como, barco, rede
e em troca nós dividi o peixe ou o dinheiro”
A pesca conserva a tradição da vida difícil e modesta. No Brasil um sinônimo de
miséria, não ter moeda, é “ está na pindaíba”, no idioma tupi, é a vara de pescar: pindá,
17

anzol, ubá, iba, madeira, vara, cana. Quem estiver reduzido a uma vara de pescar para
obter alimentos enfrenta situação precária e rude (CASCUDO, 1973, p.50).
Entretanto, como observamos anteriormente seu Valdeci não domina nenhum
meio de produção na pesca além de sua mão de obra, ou seja, este trabalha como
arrendatário neste sistema pesqueiro, pois o mesmo exerce esta atividade na
pluriatividade entre seus filhos e amigos que são parceiros na busca pela captura de
peixes. No entanto, este relata que às vezes seu filho Venilson necessita ficar ausente
das atividades escolares para ajudar na pesca, mais que informa a comunidade escolar
sobre o não comparecimento deste nas próximas semanas enquanto estiver em
atividades pesqueiras.
4.1 sobre O Acordo De Seu Valdeci Com Relação A Pesca
Atualmente, seu Valdeci da Silva Ambrósio conta a disponibilidade de seu parceiro
Alfredo que também reside na comunidade de Tamatateua, para que lhe empreste as
ferramentas necessárias para ir ao mar, ou seja, ambos têm uma espécie de acordo que
se resume em torna de recursos financeiros tanto para o pescador como para o dono das
ferramentas. Entre este acordo, não há exploração por ambas partes, pois estes têm o
mesmo objetivo em comum que é o consumo familiar e o lucro com a atividade.
Sendo assim, com a venda dos peixes são divididos em cinco partes, ou seja, duas para
o dono das ferramentas e três para o pescador, por outro lado, o custo com combustível,
alimentação são retirados antes das divisões por partes.
4.2 Materiais Utilizados
ANDRIGUETTO-FILHO (1999) é responsável pelo maior esforço até então
produzido, em nível nacional, no sentido de aplicar à pesca o enfoque de sistemas. O
autor adaptou o conceito de sistema de produção de Reboul (1976, apud DUFUMIER,
1996), caracterizando então o sistema de produção pesqueiro como “um modo de
combinação entre um meio aquático definido, força e meios de trabalho com a finalidade
de captura de recursos vivos aquáticos, comum a um conjunto de unidades de produção”.
Os principais mecanismos de trabalho utilizados pelo entrevistado são, força
braçal, barco, rede branca (nails), gelo, caixa de isopor, faca, terçado, roupas leves,
panelas, e apetrechos criados de acordo com a necessidade de captura das espécies
Como: cacuri, curral, estacada.
18

Figura 12. Valdeci e seus companheiros de pesca Figura 13. Desembarcação da pesca
Fonte: (Raelly Ambrósio, 2022) Fonte: (Raelly Ambrósio, 2022)

4.3 Tipos De Peixes Mais Capturados


Seu Valdeci relatou os mais variados tipos de peixes que costuma capturar, desde
os consumíveis à inapropriado para consumo, dentre estes estão.
CONSUMÍVEIS: Corvina, cação, bandeirada, arraia, pescada, gó, pacamon, uritinga,
bagre, timbira e uricica.
NÃO CONSUMÍVEIS: Segundo ele, peixe punum que se refere a (água viva), essa
espécie faz mal para saúde, pois está causa vômito, diarreia e se o mesmo tocar em
partes do corpo ocorre muita coceira. No período do inverno são encontrados com muita
frequência esta espécie. Por outro lado, o peixe baiacu que é considerado venenoso para
o consumo, se algumas das aves como galinha e pato ingerirem de imediato morrem.
19

Figura 14. Captura de pescado arraia, Valdecir Figura 15. Peixe Bagre
Fonte: (Raelly Ambrósio, 2022) Fonte: (Raelly Ambrósio, 2022

4.4 Ciclo Pesqueiro


De acordo com o pescador, o melhor ciclo pesqueiro é no mês de maio em que os
peixes estão mais abundantes como (safra da gó e Covina). De fevereiro a março é ruim
de pescar, pois com a entrada do inverno as espécies vão embora, porém exceto o peixe
bagre que a safra do mesmo é durante o período chuvoso.

4.5 O Preço do pescado


A comercialização do pescado do entrevistado ocorre entre marreteiros e
consumidores da própria comunidade, ou seja, o mesmo enfatiza que passa sua
mercadoria constantemente para um conhecido seu que é marreteiro. Segundo este o
preço do quilo dos peixes varia de acordo com o tamanho da espécie, vale ressaltar que
em conversa com o mesmo não é ele que coloca o preço em sua mercadoria, mas sim
os compradores.
No entanto, o S.r. Valdeci relatou que é praticamente obrigado a vender seu
produto por determinado preço independentemente que seja valor baixo ou não, o fato
se dá simplesmente pela ausência de escoamento de seu produto em outras localidades,
pois não tem condições de ir em busca de mercado que valorize seus esforços e
principalmente sua mercadoria pesqueira, ou seja, diante deste cenário concluiu-se que
a necessidade do produtor rural é advinda de exploração e falta de valorização do
pescador artesanal.
Diante disto, o sistema de produção que mais traz recursos financeiros para a família de
nosso entrevistado é a pesca, porém estes estão como fornecedores de captura e venda
20

de sua matéria prima e isso tem que mudar, pois a produção familiar necessita se inserir
no mercado e buscar o seu reconhecimento em transportar seus produtos e ter a
qualificação entre estes, ou seja, associações e cooperativas são ideias para que o
produtor rural possa começar a se empreender neste sistema já que ambas visam o bem
comum e lucro em certas atividades.
A seguir será apresentado um ilustrativo em tabela a respeito do quantitativo de preço
das espécies pesqueiras de seu Valdeci.

PESCADO ESPÉCIE VALOR AO MARRETEIRO

1 kg Corvina grande 13 reais

1kg Corvina média 8 reais

1kg Corvina pequena 5 reais

1kg Cação 9 reais

1kg Bandeirada 7 reais

1kg Arraia 6 reais

1kg Pescada 10 reais

1kg Gó 3 reais

1kg Pacamon 5 reais

1kg Uritinga 4 reais

1kg Bagre 5 reais

1kg Timbira 3 reais

1kg Uricica 2,50 reais

Tabela 4. Valores do pescado


4.6 Gastos E Renda Mensal
Conforme os dias idos a maré, o pescador tem uma base de gastos que variam
desde o combustível a alimentação, para este, o fenômeno de custos procede por quinze
dias enquanto estiver em atividades pesqueiras. Porém, estes gastos são divididos entre
o pescador, arrendatário e ajudantes de pesca.
Durante o mapeamento de dados no mês de novembro de 2022, o entrevistado
esteve em atividades junto com dois de seus amigos, sendo assim, a divisão de gastos
21

e renda com a pesca seguiu a partir do quantitativo dos participantes, ou seja, foi dividido
em partes para cinco pessoas.
Segue abaixo o demonstrativo em tabela a respeito dos gastos .

GASTOS QUANTIDADE DE GASTOS DIVISÃO P/ PESSOA

Alimentação 300 reais 60 reais

Combustível 250 reais 50 reais

Tabela 5. Gastos mensais

Somado a isso, no decorrer da pesquisa e com base na renda mensal de seu


Valdeci Ambrósio foi constatado que este consegue retirar do sistema de produção
pesqueiro 530 reais por mês, ou seja, fora de suas despesas. Além disso, sua esposa
Elvina Ribeiro é beneficiária social (Aposentadoria por idade), e quatro de seus filhos são
extrativistas (Caranguejo- Uçá).
Abaixo será demonstrada a renda por cada atividade e renda per capita.

NOME ATIVIDADE RENDA TOTAL E PER CAPITA

Valdeci Ambrósio Pescador 530 reais 2.442÷8 pessoas= 305,35

Elvina Ribeiro Aposentada 1.212 reais X

Valdelino Ambrósio Extrativista 200 reais X

Venilson Ambrósio Extrativista 100 reais X

Valdeilson Ambrósio Extrativista 250 reais X

Jailson Ambrósio Extrativista 150 reais X

Tabela 6. Renda per-capta por atividade


No cálculo, o IBGE utiliza a linha proposta pelo Banco Mundial, que considera
pobre quem tem rendimento de até 5, 50 dólares por dia, sendo assim são
consideradas pobres as pessoas que vivem com uma renda mensal per capta (por
pessoa) inferior a R $469 por mês.
22

5. SABERES TRADICIONAIS
O conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e saber - fazer a
respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em
geração (DIEGUES; ARRUDA, 2001).
Dentro desse contexto, destaca-se uma nova forma de abordar os fenômenos, no
sentido de (re) valorizar os saberes-fazeres tradicionais sobre o uso da natureza e
resgatar para este cenário o protagonismo das comunidades rurais na superação da crise
ecológica. Esta nova maneira de fazer ciência se chama etnoecologia, que, num sentido
mais amplo, esforça-se por retomar as práticas tradicionais de manejo dos recursos
naturais como ponto de partida para se desenhar posturas alternativas de produção que
sejam ecologicamente viáveis (POSEY, 1984; TOLEDO, 1992).
Em conversa com o entrevistado foi relatado alguns saberes tradicionais que o
mesmo adquiriu com seu pai e com pessoas durante a sua infância, e que hoje são
conhecimentos de suma importância para este no processo de captura dos peixes, como:
Rancho, curral, cacuri, estacada, quebrada e fases lunar.
É fundamental o conhecimento do uso, acesso e usufruto das populações
ribeirinhas, lacustres e todas as outras categorias pesqueiras para melhor manutenção e
conservação dos recursos e do ambiente, uma vez que a noção de meio ambiente não
corresponde apenas a um conjunto de variáveis bióticas e abióticas, mas a um conjunto
de variáveis sociais geradas ao longo do processo histórico de ocupação e transformação
do espaço pela sociedade (FURTADO, 1997).
O tradicional neste tipo de conhecimento não é a sua antiguidade, mas a forma
como ele é gerado transmitido e posto em prática. As comunidades tradicionais não estão
imobilizadas no espaço nem congeladas no tempo, ao contrário, retiram parte de sua
vitalidade da capacidade de se comunicar e se mover. O conhecimento não é apenas
transmitido de geração a geração pela oralidade, ele é dinâmico e envolve pesquisa,
experimentação, observação, raciocínio, especulação e intuição (FERNANDES- PINTO;
MARQUES, 2004, p.188).
23

5.1 Rancho De Pesca


Durante a trajetória pesqueira seu Valdeci relatou que sentiu a necessidade de
criar seu próprio rancho, pois não tinha condições de passar as noites sobre o relento,
não tinha como guardar seu material, ou seja, segundo ele" o rancho é como uma casa,
para nos abrigar e é feito muitas das vezes de madeiras do próprio mangue, lá podemos
dormir e descansar"
Rancho de pesca e um dos ícones espaciais da vida e trabalho da pesca artesanal,
presente em toda costa potiguar, vem historicamente ocupando áreas de praias,
estuarinas e de rios com posição estratégica de apoio para realização das práticas da
pesca, o mesmo tem como finalidade de servir de vivenda aos pescadores e de guardar
os apetrechos de pesca (OCEÂNICA).

Imagem 16. Rancho do entrevistado


Fonte: ( Raelly Ambrósio, 2022)
5.2 Curral De Pesca
Para o pescador Valdeci a pesca de Curral é uma armadilha que ele costuma
manusear para capturar os pescados e não necessita de iscas, esta é o principal meio
em que este consegue pescar, ele diz" tenho meu próprio curral, e costumo pegar
bastante peixes quando é a safra, eu mesmo que construir com a ajuda de outros
pescadores, a gente usa rede, vara de madeira e até mesmo as árvores de tinteiro do
mangue, escolhemos um lugar que achamos adequado para montar o curral e ele é num
formato de coração".
As armadilhas constituem uma das diferentes técnicas utilizadas na pesca
artesanal. Podem ser móveis ou fixas, funcionam atraindo o pescado para seu interior
sem o uso de iscas e não impedem totalmente a sua saída. Suas denominações, bem
como os materiais empregados na sua construção podem variar de acordo com o local
de confecção. Veríssimo (1895) já descrevia o uso de armadilhas fixadas por pescadores
do litoral do Pará desde o século 17.
24

Enfatizando as falas de nosso entrevistado, os currais de pesca constituem um


tipo de armadilha fixa construído com cercas de madeira, geralmente extraídas do
manguezal (Laguncularia racemosa e/ou Avicennia germinans), com entrada em forma
de “V” que direciona os peixes para o seu interior, aprisionando-os. Estas armadilhas são
encontradas em todo litoral brasileiro, principalmente na beira de praias, em bancos de
areia onde há bastante influência dos regimes de marés (TAVARES et al, 2005; PIORSKI
et al, 2009).
Em termos estruturais as partes essenciais de um curral de pesca são: (a) espia
(estrutura tipo uma cerca que intercepta os peixes e os dirige para outros compartimentos
da armadilha); (b) sala (local por onde os peixes passam após percorrerem toda a espia)
e (c) depósito (estrutura final da armadilha, local onde os peixes ficam aprisionados
definitivamente e os pescadores podem proceder com a despesca) (MANESCHY, 1993)
Como citado anteriormente por seu Valdeci o tipo de curral que ele costuma utilizar
é em formato de coração, que segundo ele essa técnica costuma capturar maiores
quantidades de peixes e o custo de redes é considerado menor para cercar, além de
capturar peixes tanto em maré baixa como em alta.
Curral em Coração – Possui uma espia, uma sala e um depósito. Segundo
Maneschy (1993) deve ser construído “atravessado” em relação às correntes de maré
para capturar os peixes tanto de maré enchente, quanto de maré vazante

Figura 17. Desenho esquemático de um curral de pesca do tipo Enfia-Coração,


Mostrando suas compartimentalizações (Fonte: Maneschy, 1993).
25

Fonte: (Raely Ambrósio, 2022).


Figura. 18- Valdeci em seu curral
5.3 Pesca De Cacuri
O termo cacuri, segundo os curraleiros da zona do salgado paraense, no Brasil
significa curral pequeno. Já Ribeiro( 1987) dá conta de que é uma expressão pertencente
à língua geral, correspondente a um atrepecho fixo de pesca de grandes dimensões.
Bachelard, ao refletir sobre a forma do ser, entende que a vida habita na forma, logo
compreendemos que a circularidade, forma geratriz do Cacuri, faz dele “animado”
enquanto ser, portanto, potente enquanto armadilha, potente visual, cênica e
culturalmente, concentrando assim potência em sua forma. O “ser redondo se tornará
para nós um instrumento que nos permita reconhecer a primitividade de algumas imagens
do ser, imagens da redondeza plena” (Bachelard, 1993: p. 172).
Além de pescar em curral seu Valdeci também utiliza muito a pesca de cacuri que
também é uma armadilha para capturar as espécies, segundo ele "A cacuri é num formato
de círculo, com duas rodas, uma estaca fixada bem alta e o espia que serve para enganar
o peixe, ela é feita de tala da árvore do inajazeiro, e agente arma ela somente em maré
seca nos igarapés para quando a maré encher os peixes são chocados na rede da
estacada e entram no cacuri, após a captura dos pescados ela é desmontada”.
A diferença de Curral para Cacuri é que esses dois recursos pesqueiros se diferem
a partir do material a ser utilizado em suas confecções, ou seja, o curral permanece fixado
após a captura e a cacuri é removida após o ato. Entretanto, a cacuri fica localizada às
margens de igarapés e rios, enquanto o curral fica situado em bancos de areia,
popularmente conhecidos como croa.
26

A palavra cacuri identifica uma arte de pesca fixa de grande proporção que tem a
forma de um cercado e é assentada nas margens de rios, igarapés e praias. Caracteriza-
se como um " instrumento de subsistência confeccionado na atualidade por indígenas,
negros, afro indígenas, mestiços e brancos pobres" (LIMA, 2012, p.44) da Amazônia, e é
destinada à captura da fauna aquática com a ajuda das correntes de maré.

Figura 19. Ilustração de um cacuri Figura 20. Ilustração de dentro do cacuri


Fonte: (Blog do dia, 2014). Fonte: (Raely Ambrósio, 2022).

5.4 Pesca De Estacada


Pesca De Estacada consiste na utilização de varas que recebem o nome de "
estacada" que servem para demarcar e sinalizar o local de fixação de alguma modalidade
da pesca artesanal de subsistência ou comercial (Marinelton Cruz, 2015).
Diante desta perspectiva, o entrevistado relatou que às vezes usa essa técnica
durante a sua pescaria, ou seja, o mesmo diz que" Demoro um pouco para montar essa
armadilha, por que a vara tem de ficar fixadas no chão quase dois metros de distância
uma das outras, mais é bom de pegar peixes, a gente amarra a rede no pé das estacas
isso na maré seca, para quando ela encher a rede levanta e os peixes são malhados .
27

Figura 21. Ilustração de uma estacada


Fonte: (Marinelton Cruz, 2015)

5.5 Pesca Na Quebrada


Com relação a este tipo de pesca é um conhecimento íntimo e técnica de seu
Valdeci, isto é, segundo ele nessa modalidade não são usadas nenhum tipo armadilhas,
porém este utiliza apenas o mistério e a contribuição da natureza a seu favor na hora da
captura das espécies.
Para ele, a quebrada é o canal grande do mar que no fundo tem pedras e facilidade na
colocação das redes, ou seja, é um meio natural de se manejar na hora de pescar, sendo
assim, deve-se ter cuidado ao passar da quebrada, pois torna-se perigoso devido ser um
local de grande profundidade e frequência de tubarões.

5.6 Fases Lunar


As fases Lunares têm grande influência no ciclo pesqueiro de seu Valdeci, desde
os horários de deslocamento ao mar à captura de peixes. Este ressalta" Quando é lua
nova, ela quebra e vai para quarto, depois ela lança para se transformar em cheia".
Lua nova: o entrevistado desce para o mar, por que é noite clara e dá bem pouco peixes
devido a claridade que a fase da lua provoca no ambiente.
Lua de quarto: Não é considerado bom de ir pescar, pois segundo o mesmo dá
panemagem (nada) durante a pescaria, ou seja, a água do mar fica azul e é quando os
tubarões começam a aparecer nas pequenas profundidades.
Lua cheia: é considerada umas das melhores fases na pescaria, por que a noite é escura
e facilita na captura dos pescados, além de dar bastante peixes.
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Lua minguante: é quando a lua vai lançando e depois quebra para ser quarto, o que
influencia nas águas da maré, considerada razoável no ciclo pesqueiro.
Dentre estes aspectos, seu Valdeci Ambrósio, segue cada uma dessas fases de
acordo com o horário que pretende ir para o mar, isto é, do porto de saída (Atalaia) até
seu rancho são três horas de percurso, dependendo da fase da maré.

6. RELAÇÃO COM A NATUREZA


Ao longo da história a relação entre a humanidade e o seu meio foi item de
fundamental importância na chamada luta pela sobrevivência. Atualmente, com o
desenvolvimento das ciências e o processo de racionalização dos meios produtivos, as
sociedades se preocupam em extrair da natureza às suas demandas de consumo, ainda
hoje, não é possível controlar está de maneira absoluta, para se obter boas colheitas,
criar animais ou outros recursos naturais, ou seja, a sociedade produtora precisa contar
com a regularidade de determinados ciclos naturais que nem sempre acontecem de
forma previsível (RAINER SOUSA, 2022)
Diante desta perspectiva, a família entrevistada tem grandes relações ambientais
com os meios em que praticam atividades agrícolas e pesqueiras, ou seja, dentre estas
relações estão a agricultura (produção de farinha), Extrativismo (Caranguejo Uçá) e
Pesca Artesanal.

6.1 A Relação Do Trabalho X Natureza


O trabalho é, num primeiro momento, um processo entre a natureza e a
humanidade, processo em que este realiza, regula e controla por meio da ação, um
intercâmbio de materiais com a natureza (MARX, 1967: 188).
Entre o sistema de produção pesqueiro da família, dentre outras atividades os
membros desta exercem um desenvolvimento de dependência com relação à natureza,
pois segundo relatos de seu Valdeci que diz" Quando vou para o mar, dependendo muito
das fases da lua que é através dela que sei se o mar está agitado ou não, além de ter
uma noção da quantidade de peixes que dará, na minha pescaria só busco capturar
pescado grande e médio". Entretanto, o mar é para todos e este não domina nenhum
lugar específico em que possa capturar os peixes, ou seja, onde houver espécies o
29

mesmo captura. Dessa forma, dona Elvina enfatiza dizendo "Quando nós vamos plantar
maniva, dependemos muito das chuvas por que ela influencia para que possa germinar
as manivas. Mais adiante um dos filhos do casal relata" Sou extrativista e quando desço
para coletar caranguejos a lua tem certa influência com relação as vazantes da maré, e
principalmente nas fases de acasalamento da espécie e minha relação de trabalho o
mangue é de respeito durante a reprodução do período do defeso”.
Podemos inferir, que a família de seu Valdeci trabalha de forma sustentável, pois
estes têm um todo cuidado ao executarem qualquer atividade de vínculo com a natureza.

6.2 A Relação Entre Homem X Mulher


No campo de pesquisa foi constatado que tanto os homens e mulheres da família
de seu Valdeci exercem atividades pesqueiras e agrícolas, porém as mulheres em
determinadas atividades são vistas como ajudantes, por exemplo na busca por mariscos
como camarão, sururu e turu, Dona Elvina e sua filha relataram que sofrem preconceitos
da própria sociedade marxista que vejam as ações praticadas por elas com um olhar de
repreensão, isto é, alegando que somente a mão de obra de masculina e digna de todos
os esforços e valorização.
Diante deste viés, a pergunta seria, se a mulher não pode ter contato com a pesca,
onde fica o papel dela ao zelar os peixes, limpar e cozinhar? A participação das mulheres
ribeirinhas nestes sistemas é visível, e tem seu valor pois ambas estão sempre presentes
nas mais simples atividades, seja no cuidado com o lar, na pesca (mariscos) e agricultura,
porém em uma sociedade contemporânea ainda se segue o tabu de que o sexo feminino
é frágil em distintas situações, entretanto, estas compravam suas capacidades através
de suas competências ao exercerem qualquer atividade.
Segundo Kergoat (2002), a divisão sexual do trabalho "Caracteriza-se pela
designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva
e a captação dos homens das funções com forte valor agregado (política, religiosa,
militantes)" (p.50).
Para a análise do trabalho das mulheres, Maneschy (1995), sugere a ampliação
da compreensão de produção pesqueira. Essa deve englobar as atividades de
processamento do pescado, de preparo e de conservação dos instrumentos de pesca,
30

além de captura de espécies, a fim de permitir uma melhor caracterização da atuação


das mulheres no setor pesqueiro.
Na comunidade de Tamatateua algumas mulheres não consideram as atividades
que fazem como trabalho, ou seja, não tem um incentivo de enpoderamento que possa
levá-las a serem autônomas e protagonistas de suas próprias ações. Desse modo, a falta
de emancipação com respeito a valorização de suas práticas influencia as meninas e
futuras mulheres do campo a naturalizar essa problemática como um meio natural, onde
a principal justificativa para isto é a diferença de gênero.
Dona Elvina, por muito tempo foi pescadora tanto de peixes como de mariscos,
porém nos dias de hoje a mesma enfatizou que já não tem a disponibilidade para exercer
o que antes fazia, devido a sua idade e alguns problemas de saúde, entretanto sua filha
Raelly é ativa tanto na pesca como na extração de mariscos (molusco turu), a mesma
em épocas acompanha seu pai em atividades pesqueiras, em conversa com esta foi
relatado que todos os conhecimentos e práticas adquiridos por ela se deu através de
ensinamentos repassados por seus pais.

Figura 22. Raelly e seu pai Valdeci Figura 23. Raelly extraindo Turu
Fonte: (Raelly Ambrósio, 2022) Fonte: (Raelly Ambrósio, 2022)

6.3 Tipos De Manejos


Além da pesca artesanal, a família Ambrósio desenvolve, entre esta, outros tipos
de manejos como o extrativismo de caranguejos, embora este seja apenas uma
complementação de renda da família em época que a pesca se encontra em período de
difíceis capturas.
31

O caranguejo uçá é constituído por grandes populações bênticas que trazem


benefícios para comunidades ribeirinhas quando se utiliza de recursos do manguezal
para autoconsumo e/ ou comercialização. A maioria dos trabalhadores vive somente da
extração de caranguejos e uma pequena parcela, da agricultura, o nível de escolaridade
é baixo e a atividade envolve desde crianças até adultos. O sistema pesqueiro
caranguejo-uçá é carente de ordenamento com vistas à diminuição de esforços e ao
incremento do valor de venda do produto em sua cadeia produtiva. (COSTA, 2013).
Com relação a venda do produto, a cambada (quantidades de caranguejos) é
repassada para o atravessador basicamente de 10 reais, ou seja, contendo 14 unidades
em cada cambada.

Figura 24. Extrativista após atividade Figura 25. Cambada de caranguejos


Fonte: (Jaqueline silva, 2022) Fonte:( Jaqueline Silva, 2022)

Por outro lado, a agricultura (produção de farinha), mariscos como: Sururu,


Camarão e Turu são sistemas desenvolvidos apenas para o consumo familiar.
O processo de manejo na agricultura se dá através da pluriatividade dos familiares
entre si, ou seja, desde o preparo com a terra, plantio da maniva e colheita, isto é, o uso
do território para o cultivo é da própria família.
Hoje em dia, o uso da raiz da mandioca vai muito além do preparo através de
alimento in natura. Há diversos alimentos produzidos derivados da mandioca, como o
polvilho, tapioca, tucupi, e principalmente farinha de mandioca (SÍTIO PENA, 2022).
Em muitas famílias, a produção da farinha é uma tradição que passa de gerações, de pai
para filho. Sua potencialidade gera a possibilidade de produção de diversos outros
32

produtos com alto valor agregado, tanto para consumo familiar como para consumo
animal (SÍTIO PENA, 2022).

Figura 26. Plantio de maniva Figura 27. Farinha pronta


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: ( Jaqueline Silva, 2022)

6.4 Consumo Familiar Com Bases Em Todos Os Sistema De Produção


Além da venda de alguns produtos como, pesca artesanal, extrativismo e, exceto
a agricultura (produção de farinha), a família de seu valdeci consome grande parte do
que produzem, ou seja, em relatos foi catalogado que estes vendem o produto de um
determinado preço e acabam comprando o mesmo acima do valor que foi repassado ao
marreteiro.
Abaixo na tabela será demonstrado o consumo familiar e per capita da família, referente
ao mês de novembro de 2022

PRODUTO QUANTIDADE PREÇO CONSUMO PER CAPITA

Pesca artesanal 25 kg ao mês 8 reais 200 reais 25 R$

Extrativismo 10 cambadas 10 reais 100 reais 12,5 R$

Farinha 60 kg ao mês 7 reais 420 reais 52,5


Tabela 7. Renda per capta novembro

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É interessante apontar que com relação a comunidade de Tamatateua a escola


Brasiliano Felício da Silva tem um certo vínculo com os sistemas familiares de produções
de seus referidos alunos, pois está em seu Projeto Político Pedagógico, elabora práticas
33

educacionais de acordo com a realidade dos educando, ou seja, o que significa que seus
métodos teóricos não ficam somente em papéis ou no diálogo, mais sim, postos em
ações que são desenvolvidas para melhores compreensões a respeito do cotidiano de
sua comunidade escolar.
A escola é participativa em projetos que são designados e benéficos a suas
modalidades de ensino, deste modo a mesma conhece com perspicácia o modo de vida
das famílias de seus discentes, cujo em tradições, costumes, culturas e sobretudo
trabalha numa perspectiva de valorização em conhecimentos empíricos presentes na
comunidade a qual está inserida.
Com relação ao sistema de produção escolhido para aprofundamento teórico, podemos
concluir que tanto o dono das ferramentas como o pescador estão diante de uma
modalidade de pequena produção familiar, isto é, a relação entre ambas é de vivência.
Entretanto, o dono das ferramentas apenas comprou um barco, rede e etc, este ñ
vai pescar, porém domina o meio de produção que são suas instrumentalizações de
pesca, deste modo, seus utensílios pesqueiros geram renda para este sem o mesmo
trabalhar, por que cedeu seus mecanismos de pesca para quem pratica a atividade e
com isso este regimenta na mão de obra de quem não tem nenhum instrumento de
trabalho.
O contrato que ele tem com o pescador é de forma informal, ou seja, 50% dos
benefícios para este e o restante para quem pratica a atividade pesqueira, sendo assim,
o pescador pode entrar em parceiras com outros pescadores para lhe ajudar na captura
de pescado e deste modo quem ganha mais benefícios é quem domina o capital como
tecnologia e instrumentalização do que o indivíduo que não tem.
Diante deste viés, é algo tão tradicional em comunidades como a de Tamatateua,
onde nosso entrevistado e seu amigo pegam na produção, consomem e vendem o
produto, dentre estes aspectos, ambos não exercem um trabalho em uma lógica
capitalista, mas sim dentro de um sistema de pequena produção. A falta de políticas
públicas transforma seres subordinados de acordo com suas necessidades,
cooperativas são essenciais para que o produtor possa ter a oportunidade de valorização
em seus produtos, desse modo sair de fornecedor de matéria prima para empreendedor
de seus próprios mecanismos.
34

Perante uma realidade específica, o dono das ferramentas considerasse um capitalista


por ter fatores de produção que lhe beneficiam, dentre estes o barco e os demais meios
de pesca que se destacaram na comunidade, porém dentro de uma visão capitalista este
não é, pois para se ter esta designação deve se dominar o capital do lucro e como
analisamos anteriormente o mesmo destaca-se como auto consumidor.
35

ANEXOS

Figura 28. Mapeamento da turma Figura 29. Desenvolvimento dos desenhos equipe 1
Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

Figura 30. Desenvolvimento dos desenhos equipe 2 Figura 31. A equipes em atividades coletivas
Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

Figura 32. Desenvolvimento dos desenhos equipe 3 Figura 33. Desenvolvimento dos desenhos equipe 4
Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)
36

Figura 34. Socialização da equipe 1 Figura 35. Socialização da equipe 2


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

Figura 36. Socialização da equipe 3 Figura 37. Socialização da equipe 4


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

Figura 38. Desenho equipe 1 Figura 39. Desenho equipe 2


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022) Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)
37

Figura 40. Desenho equipe 3


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)

Figura 41. Desenho equipe 4


Fonte: (Jaqueline Silva, 2022)
38

MEC – SETEC SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO,


CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ CURSO DE LICENCIATURA
Termo de Autorização Uso de Imagem, Voz e Apresentação
Termo de Autorização Uso de Imagem, Voz e Apresentação Termo de autorização para
divulgação de material audiovisual e slides pelo IFPA.
Nome completo:
_________________________________________________________________________
CPF:_____________________________
Nome do evento: Seminário de Educação do Campo
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Data de realização: __________________________________________
Nome da apresentação:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
________________________
Termo de autorização: Autorizo, para todos os fins em direito admitidos, a utilização da minha
imagem e voz constantes em fotos, gravações e filmagens decorrentes da minha participação
no evento acima especificado, assim como autorizo a divulgação da minha apresentação em
slides, sob a responsabilidade do Instituto Federal do Pará, sendo que a referência ao meu
nome, que constitui um direito moral, deverá ser respeitada sempre. As imagens, voz e
apresentação poderão ser exibidas nos relatórios parcial e final do referido evento, em
apresentações audiovisuais do mesmo, em publicações e divulgações disponibilizadas em
acesso aberto, por meio do portal, dos perfis em redes sociais, e do Repositório Institucional do
Instituto Federal do Pará, bem como de outros sistemas de disseminação da informação e do
conhecimento. A autorização neste termo especificada é gratuita e por prazo indeterminado.
Por ser esta a expressão de minha vontade, nada terei a reclamar a título de direitos conexos à
minha imagem e voz.
Local e Data _______________________________________________________________
____________________________________________________
Assinatura
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40
41

APENDICES

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ
DIRETORIA DA GRADUAÇÃO

QUESTIONARIO DE PESQUISA DE CAMPO


Data do preenchimento do questionário: __/___/____ Horário: __/___
Nome_________________________________________________________
Sexo: Mas. () Fem. () Idade: _________
Estado civil: solteiro/a ( ) Casado/a ( ) união estável ( )
- Perfil socioeconômico.
1. Há quanto tempo mora na comunidade?
2. De onde tira o sustento de sua família?
3. Qual a sua renda mensal com a atividade? ( ) menos de 1 salário mínimo. ( ) 1 salário
mínimo. ( ) 1 a 2 salários mínimos. ( ) outros.
4. Quantas pessoas sua renda mensal?
5. Quanto tempo por semana é dedicado a pesca
- Atividade de coleta.
1. Que mecanismos e técnicas você utiliza durante a pesca?
2. O Sr. (a) é proprietário (a) da embarcação que utiliza para a pescar?
3. Qual o período do mês de maior e menor captura de peixes?
4. Quais são as espécies de peixes que você costuma capturar?
5. Você retira algum recurso do manguezal, além da pesca?
- Educação ambiental.
1. Para você o que são impactos ambientais no manguezal?
2. Se for o homem, quais o problema acredita que é a causa?
3. O que você faz para melhorar os impactos no manguezal?
4. Você acha que nos últimos anos houve mudanças significativas no manguezal
próximo onde você mora?
5. Você acha que o manguezal é importante?
42
43

REFERENCIAS

OLIVEIRA, A, M,S. Relação Homem/ Natureza no modo de produção capitalista, Scripta nova, 2002.

CRUZ, Marinelton: O contexto do sistema de uso privado do espaço geográfico marinho no litoral
do Maranhão, 20 de janeiro de 2015.

SCHONARDIE. A relação Homem/ Natureza e suas implicações na proteção do meio ambiental na


contemporaneidade, Janeiro/Abril 2020.

CRISTINA, G.; NASCIMENTO, C: Pesca artesanal em" Currais": Um enfoque etnoecologico, João
pessoa- PB 2014.

PASQUOTTO. el al. Pesca artesanal e enfoque sistêmico: Uma atualização necessária: SBSP,
Aracaju, 2004.

CARDOSO. M, C. et al. Pescadores artesanais, conflito de interesses e os recursos pesqueiros


vistos como capital natural crítico: o caso do lago do Juá em Santarém, Pará, Janeiro/ Abril de
2018.

LIMA, W.; PACHECO, A: A forma arquitetural do cacuri: Pontencial para uma espacialidade
ciência, volume 4-número 2 agosto e dezembro/ 2012

ALENDE, C.R.M. MARIA.; S. Estudo dos sistemas de produção dos agricultores familiares da
fronteira oeste do Rio grande do sul, Dissertação de mestrado, RS, Brasil 2006.

NASCIMENTO, J.R. el al. Técnicas e saberes imbricados na arte da pesca de curral em uma reserva
extrativista marinha da Amazônia:, Bragança Pará

LIMA, W. C. R. el al. Cacuri: Uma arte de pesca como dispositivo para a criação artística.

FREITAS, C. O. el al. Gestão de custo da pesca artesanal do vale do guaporé em Rondônia.


Congresso brasileiro de custos- porto de galinhas, PE, Brasil 16 a 18 de novembro de 2016.

Projeto Paneiro do mangal: estudantes e professores participam de mutirão na comunidade de


Tamatateua, Bragança Pará 2021

Projeto rancho de pesca: Espaço coletivo de vida e trabalho, Rio grande do Norte 2021

AMBRÓSIO. E. Projeto educação do campo e Sustentabilidade: o lixo de Tamatateua,2019


Projeto mangues da Amazônia, 2021
Projeto de educação de jovens e adultos articulado a educação profissional (Educa pesca,
2021).
Projeto Político pedagógico, Brasiliano Felício da silva, 2012.
Cacuri uma obra de arte do meu interior: Blog do dias, 31 de julho de 2014.
Durkheim, 1999/ 2001
Uniamérica, 2021 ACS, 2022 Sebrae Kant, 2019 Raely Ambrósio, 2022 Sítio pena, 2022.
Maneschy.
1993 IBGE

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