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Introdução à Lógica Matemática

Propriedades Semânticas

Rogério Melo Nepomuceno


Introdução
▪ Sintaxe: se preocupa em como se escreve
uma fórmula (regras sintáticas).

▪ Semântica: se preocupa em como se


interpreta uma fórmula (valor lógico).
Propriedades Semânticas
▪ Validade
▪ Contradição
▪ Implicação
▪ Equivalência
Validade
Definição
Uma fórmula P é dita válida ou uma tautologia
se, e somente se, todas as interpretações de P
são verdadeiras.

Isto é, para toda interpretação I, I(P) = V.


Exemplo 1
A fórmula A  A é válida, ou uma tautologia,
pois todas as linhas da tabela verdade referentes
a ela são verdadeiras.

A A A  A
V F V
F V V
Exemplo 2
A fórmula (A → B)  (A  B) é válida, ou uma
tautologia, pois todas as linhas da tabela
verdade referentes a ela são verdadeiras.

A B A→B A  B (A → B)  (A  B)
V V V V V
V F F F V
F V V V V
F F V V V
Exercício
Verifique se a fórmula A → (B → A) é válida.
Resposta: Sim, é válida.

A B B → A A → (B → A)
V V V V
V F V V
F V F V
F F V V
Contradição
Definição
Uma fórmula P é dita contraditória se, e
somente se, todas as interpretações de P são
falsas.

Isto é, para toda interpretação I, I(P) = F.


Exemplo 1
A fórmula A  A é contraditória, ou uma
contradição, pois todas as linhas da tabela
verdade referentes a ela são falsas.

A A  A
V F
F F
Exemplo 2
A fórmula (A → B)  (A  B) é contraditória,
ou uma contradição, pois todas as linhas da
tabela verdade referentes a ela são falsas.

A B A → B A A  B (A  B) (A → B)  (A  B)
V V V F V F F
V F F F F V F
F V V V V F F
F F V V V F F
Exercício
Verifique se a fórmula (A  B)  (A  B) é
contraditória.
Resposta: Sim, é contraditória.

A B A  B A B A  B (A  B)  (A  B)
V V V F F F F
V F F F V V F
F V F V F V F
F F F V V V F
Implicação
Definição
Dizemos que uma fórmula P implica em uma
fórmula Q, o qual representamos por P  Q, ou
ainda, Q é consequência lógica de P, se para
toda interpretação de P verdadeira, Q também é
interpretada como verdadeira.

Isto é, P  Q se, e somente se, a fórmula P → Q


é uma tautologia.
Exemplo 1
Note que A  (B → A), pois toda vez que A é
interpretado como verdadeiro, B → A também é
verdadeiro.
A B B → A A → (B → A)
V V V V
V F V V
F V F V
F F V V
Exemplo 2
Note que (A  A)  B, apesar de (A  A)
sempre falso.

A A A  A B (A  A) → B
V F F V V
V F F F V
F V F V V
F V F F V
Exercício
Verifique se (A → B)  (A  B).
Resposta: Sim.

A B A → B A A  B (A → B) → (A  B)
V V V F V V
V F F F F V
F V V V V V
F F V V V V
Exercício
Verifique se (A  B)  (A).
Resposta: Não.

A B A  B A (A  B) → A
V V V F F
V F V F F
F V V V V
F F F V V
Equivalência
Definição
Dizemos que uma fórmula P é equivalente a
uma fórmula Q, o qual representamos por
P  Q, ou ainda P  Q, se, e somente se, para
toda interpretação I, I(P) = I(Q).

Isto é, P  Q se, e somente se, a fórmula P  Q


é uma tautologia.
Exemplo 1
A fórmula (A → B) é equivalente a (A  B),
pois para toda interpretação I, I(A → B) =
I(A  B).

A B A → B A A  B (A → B)  (A  B)
V V V F V V
V F F F F V
F V V V V V
F F V V V V
Exemplo 2
A fórmula (A  B) é equivalente a (A  B),
pois para toda interpretação I, I((A  B)) =
I(A  B).

A B A  B (A  B) A B A  B (A  B)  (A  B)

V V V F F F F V
V F F V F V V V
F V F V V F V V
F F F V V V V V
Exercício
Verifique se (A  B)  (A  B).
Resposta: Sim.

A B A  B A B A  B (A  B) (A  B)  (A  B)

V V V F F F V V
V F F F V V F V
F V F V F V F V
F F F V V V F V
Equivalências Notáveis
Introdução
▪ A tabela apresentada a seguir define algumas
equivalências básicas, denominadas também de
leis básicas, ou teoremas, as quais são
extremamente importantes na lógica.
▪ Tais leis nos permite substituir uma fórmula por
sua equivalente, sem nenhum prejuízo.
▪ Nesta tabela os símbolos T e ⊥ representam,
respectivamente, os símbolos sintáticos para
verdade (tautologia) e falsidade (contradição).
Equivalências Notáveis
Relacionamentos Dual Propriedade
1.a PQQP 1.b PQQP Comutativa
2.a P  (Q  R)  (P  Q)  R 2.b P  (Q  R)  (P  Q)  R Associativa
3.a P  (Q  R)  (P  Q)  (P  R) 3.b P  (Q  R)  (P  Q)  (P  R) Distributiva
T 4.a TPP 4.b ⊥PP Identidade
e 5.a P  P  ⊥ 5.b P  P  T Complemento
o 6.a Elementos
⊥P⊥ 6.b TPT
Neutros
r 7.a PPP 7.b PPP Idempotência
e 8.a (P  Q)  P  Q
(P  Q)  P  Q 8.b De' Morgan's
m 9.a P  (P  Q)  P 9.b P  (P  Q)  P Absorção
a (P  Q)  (P  R)  (Q  R)  (P  Q)  (P  R)  (Q  R) 
10.a 10.b Consenso
s (P  Q)  (P  R) (P  Q)  (P  R)
11 P  P Dupla Negação
12 P  Q  (P → Q)  (Q → P) Bicondicional
13 P → Q  (P  Q) Condicional
14 (P  Q)  (P  Q) Equivalência  e 
Exemplo 1
Aplicando as equivalências notáveis, simplifique a
fórmula (A  B)  A.
Solução:
Fazendo P = A e Q = B, então temos:
(P  Q)  P.
Usando a propriedade comutativa, temos: P  (P  Q).
Agora é só usarmos a propriedade de absorção, que diz
que P  (P  Q)  P, e teremos como resultado P.
Logo, a fórmula (A  B)  A se reduz a A.
Exemplo 2
Aplicando as equivalências notáveis, simplifique a fórmula
(A → B)  A.
Solução:
Fazendo P = A e Q = B, então temos: (P → Q)  P.
Usando a propriedade condicional, temos que P → Q  P  Q, o que
nos dá a fórmula equivalente (P  Q)  P.
Agora, podemos usar a propriedade comutativa e associativa, o que
nos permite reescrever nossa fórmula como (P  P)  Q.
Utilizando a propriedade de complemento, a qual diz que
(P  P)  T, teremos como resultado T  Q.
E, finalmente, utilizando a propriedade elementos neutros, verificamos
que T  Q  T, o seja, a nossa fórmula se reduziu a T.
Como T é a representação para verdade, então concluímos que a nossa
fórmula é sempre verdadeira, ou seja, válida.
Aplicação em Algoritmos
Introdução
Em algoritmos podemos utilizar as equivalências
entre fórmulas para simplificar uma expressão
lógica de uma expressão condicional em uma
estrutura condicional ou de repetição.
Exemplo 1
Seja o seguinte laço de repetição:

Enquanto ((A = 20 ou B = 0) e (B  0 e A  20 e C = ‘S’)) faça


<execute um bloco de comandos>
Fim Enquanto

Ao executar este algoritmo verificou-se que o bloco de


comandos interno ao Enquanto nunca é executado.
O que está acontecendo?
Exemplo 1
Para verificarmos o problema podemos construir a tabela
verdade para a expressão e validar o resultado. Faça isso agora!
P Q R PQ Q P Q  P (Q  P)  R (P  Q)  (Q  P  R)
V V V V F F F F F
V V F V F F F F F
V F V V V F F F F
V F F V V F F F F
F V V V F V F F F
F V F V F V F F F
F F V F V V V V F
F F F F V V V F F

Observe que a fórmula é contraditória. Logo, o corpo do Enquanto nunca será executado,
pois a fórmula é sempre falsa.
Exemplo 1
Outra forma para matar este charada, é utilizando as
equivalências notáveis.
Primeiro, precisamos identificar as proposições da nossa
condicional, o que nos dá:

P : A = 20
Q:B=0
R : C = ‘S’

Agora, precisamos reescrever a condicional usando a


notação simbólica, cujo resultado é:

(P  Q)  (Q  P  R)
Exemplo 1
Pronto, agora é só aplicarmos sucessivamente as equivalências
lógicas, uma após a outra, para obtermos uma simplificação e
analisarmos o resultado:

Fórmula Resultante Equivalência Aplicada


(P  Q)  (Q  P  R) Fórmula Original
(P  Q)  ((Q  P)  R) Associativa
(P  Q)  ((Q  P)  R) De´Morgan
(P  Q)  ((P  Q)  R) Comutativa
((P  Q)  (P  Q))  R Associativa
⊥R Complemento
⊥ Elemento Neutro
Exemplo 1
Portanto, baseado no nosso raciocínio expresso pela tabela
anterior, o algoritmo deverá ser reescrito para:

Enquanto (falso) faça


<execute um bloco de comandos>
Fim Enquanto

Pronto, achamos o problema: a expressão lógica do


condicional é equivalente a falso.
Como o bloco de comandos interno ao Enquanto somente é
executado se a sua condicional for verdadeira, o que não é o
caso, então o laço realmente nunca será executado,
concluindo assim o nosso raciocínio.
Exemplo 2
Por exemplo, suponha o seguinte trecho de código:

Se ((A = 1 e B = 0) ou (A  1 e C = -3) ou (B = 0 e C = -3)) e não (A = 1 ou C  -3)


então
<execute um bloco de comandos>
Senão
<execute outro bloco de comandos>
Fim Se

Neste exemplo, a condicional do SE..ENTÃO pode


ser simplificada.
Exemplo 2
Considere:

▪ P:A=1
▪ Q:B=0
▪ R : C = –3

Então podemos escrever a condicional como:

((P  Q)  (P  R)  (Q  R))  (P  R)


Exemplo 2
Analisando a fórmula e consultando a tabela de equivalências notáveis,
verificamos que a regra de consenso é:

(P  Q)  (P  R)  (Q  R)  (P  Q)  (P  R)

Então, por esta regra, podemos reescrever a condicional do nosso


exemplo, que é:

((P  Q)  (P  R)  (Q  R))  (P  R)

como:

((P  Q)  (P  R))  (P  R)


Exemplo 2
Analisando a fórmula resultante e consultando a tabela de equivalências
notáveis novamente, verificamos que pela regra De´Morgan temos:

(P  R)  (P  Q)

Então a formula (P  R) pode ser reescrita como (P  R), o que nos
permite reescrever a nossa fórmula como:

((P  Q)  (P  R))  (P  R)

pois

((P  Q)  (P  R))  (P  R)  ((P  Q)  (P  R))  (P  R)
Exemplo 2
Pela regra de dupla negação, a nossa fórmula:

((P  Q)  (P  R))  (P  R)

pode ser reescrita como:

((P  Q)  (P  R))  (P  R)

já que

R  R
Exemplo 1
Pela regra de comutação, a nossa fórmula:

((P  Q)  (P  R))  (P  R)

pode ser reescrita como:

(P  R)  ((P  R)  (P  Q))


Exemplo 2
Analisemos a fórmula obtida anteriormente:

(P  R)  ((P  R)  (P  Q))

Note que (P  R) é comum.


A regra de absorção nos diz que: P  (P  Q)  P.

Então, pela regra de absorção, podemos desprezar o (P  Q) da nossa


fórmula e reescrevê-la como:

P  R
Exemplo 2
Bom! Então a fórmula inicial se reduz a:

P  R

Relembrando que:

▪ P:A=1
▪ R : C = –3

Então, a condicional correspondente a expressão lógica do SE..ENTÃO do nosso algoritmo


poderia ser substituída por:

Se (A  1 e C = -3) então
<execute um bloco de comandos>
Senão
<execute outro bloco de comandos>
Fim Se

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