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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO SOLARPUNK NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO:


UM ESTUDO DE CASO DA ANIMAÇÃO “FIRMINA”

ALEX FERNANDES, GIOVANNA POLYCARPO, NATÁLIA CAVALCANTE,


VICTOR COSTA

SÃO PAULO
2022
CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO SOLARPUNK NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO:
UM ESTUDO DE CASO DA ANIMAÇÃO “FIRMINA”

O objetivo deste artigo é criar uma reflexão sobre


a relação entre a animação “Firmina” e Criação de
um mundo audiovisual Brasileiro solarpunk, além
de ser um requisito parcial para a obtenção do
bacharelado em Design de Animação;
Universidade Anhembi Morumbi; Design de
animação.

Sergio Nesteriuk Gallo; Gilberto Dos Santos


Prado; Tiago Eugenio dos Santos

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________
Prof. Orientador Tiago Eugenio dos Santos
__________________________________________________________
Prof(a) Convidado
__________________________________________________________
Prof(a) Convidado

Data da defesa: 15/06/2022


São Paulo
2022
CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO SOLARPUNK NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO:
UM ESTUDO DE CASO DA ANIMAÇÃO “FIRMINA”

ALEX FERNANDES, GIOVANNA POLYCARPO, NATÁLIA CAVALCANTE, VICTOR


COSTA

Resumo

Este artigo é sobre a construção de um mundo ficcional solarpunk usando como


exemplo o curta-metragem animado “Firmina”.
A princípio, iremos definir o conceito de solarpunk. Em seguida, explicaremos a
construção de mundo do curta destrinchando-a entre arquitetura e urbanismo, natureza, fontes
de energia, tecnologia e design de personagem.
Por fim, algumas considerações sobre o processo de criação do filme e seus resultados.

Palavras-chave
Solarpunk, Sustentabilidade, Audiovisual, Animação, Firmina, Direção de arte,
Diegese, Worldbuilding, Construção de mundo, Futurista, Estética, São Paulo, Paulistano,
Brasileiro, Diversidade.

1.Introdução

A ficção tem muitos propósitos. Um deles é exacerbar sentimentos e experiências, a


fim de estudá-los e processá-los. Outro é a realização de desejos. Ela também pode ser usada
como crítica ou manifesto social. E um caminho que é trilhado com recorrência é criar histórias
sobre possibilidades de futuro para a humanidade, servindo aos propósitos anteriormente
listados e/ou outros mais.
O Brasil é um país bastante novo, nascido de uma situação de grande opressão e
tragédia, e que por isso recorrentemente passa por processos de tentar conciliar o passado, se
auto entender no presente e assim acreditar em possibilidades de futuro. Isso tudo é
impulsionado pelo audiovisual nacional, que, sendo feito pelo nosso povo, não pode deixar de
refletir as experiências do mesmo.
Alguns exemplos de ficção futurista brasileira são “Uma história de Amor e Fúria”
(2013), “3%” (2016), “Divino Amor” (2019) e “Onisciente” (2020).
Este artigo irá discorrer sobre a construção de um mundo solarpunk na ficção usando
como exemplo o curta metragem animado “Firmina”, também feito por nós.
Inicialmente, iremos conceitualizar o que é o solarpunk, tanto enquanto movimento
como enquanto gênero ficcional. Em seguida, destrincharemos a construção de mundo do filme
a partir de alguns assuntos principais.
O primeiro deles é arquitetura e urbanismo, que será dividida entre as áreas privadas e
as áreas públicas. Depois, natureza, essencial para o solarpunk. Em seguida, o assunto será
fontes de energia, outro pilar do solarpunk. Similarmente, explicaremos sobre a tecnologia
dentro de nossa diegese. Por fim, divagaremos sobre o design de personagem, dividindo-o em
uma esfera dos corpos do elenco e uma esfera do figurino.

2.Solarpunk

“[o solarpunk] é um movimento estético, filosófico e de ativismo.” (REINA-ROZO,


2021, pág. 50, Tradução livre)1
“Solarpunk é um movimento na ficção especulativa, arte, moda e ativismo que busca
responder e representar à questão “com o que uma civilização sustentável se parece, e como
chegamos nela?”2, “Solarpunk é, ao mesmo tempo, uma visão do futuro, uma provocação bem
pensada, uma forma de viver e um conjunto de propostas alcançáveis para chegar lá” 3, e
“Solarpunk enfatiza sustentabilidade ambiental e justiça social” 4. (Manifesto Solarpunk apud
REINA-ROZO, 2021, pág. 54 e 55, Tradução livre)

1
“is an aesthetic, philosophical, and activist movement”
2
“Solarpunk is a movement in speculative fiction, art, fashion, and activism that seeks to answer
and embody the question “what does a sustainable civilization look like, and how can we get
there?”
3
“Solarpunk is at once a vision of the future, a thoughtful provocation, a way of living, and a set of
achievable proposals to get there.”
4
“Solarpunk emphasizes environmental sustainability and social justice.”
O solarpunk é um subgênero de ficção que provém das narrativas ecológicas, com
partes literárias bastante gráficas e imagéticas. E se originou tanto da luta pela conscientização
mundial do papel do ser humano na destruição do meio-ambiente, como “na necessidade de
restauração e sustentabilidade das comunidades com base em velhos costumes, princípios
espirituais, necessidades básicas do ser-humano, mas também de vanguarda”. (FORTUNA,
2021, pág. 11)
O termo Solarpunk foi criado no dia 27 de maio de 2008 pelo blog “Republic of the
Bees” enquanto a primeira publicação a se autodeclarar solarpunk foi a antologia brasileira de
2013 “Solarpunk – Histórias ecológicas e fantasias em um mundo sustentável”. (REINA-
ROZO, 2021, pág.50)
Reina-Rozo também descreve o papel crucial que a construção colaborativa através de
espaços online teve e ainda tem no movimento.
Além disso, o solarpunk é “um movimento cuja origem, discussão e expansão pertence
maioritariamente à blogosfera” e “Não é evidente uma origem dos princípios do solarpunk,
enquanto linguagem, antes configuram uma multiplicidade de textos na blogosfera,
compilações de discussões e debates.” (FORTUNA, 2021, pág. 9 e 14)

[o solarpunk] “não surgiu só das obras que evidenciaram a base

temática e nome (...), mas igualmente da sua associação com

experiências comunicacionais espontâneas – da discussão há volta de

blogs dedicados à especulação, ficção, e arte, ligadas à ecologia.”

(FORTUNA, 2021, pág. 14)

O solarpunk existe também em paralelo e contraste a outros subgêneros da ficção


especulativa como o cyberpunk, o steampunk, o dieselpunk, entre outros. Todos eles têm como
característica em comum ideologias anticapitalistas, antiautoritárias e antitotalitárias, e, por
isso, compartilham do sufixo “punk”. Além disso, todos eles possuem como prefixo um
substantivo que referencia, a nível mais superficial, o tipo de energia/ tecnologia principal de
seu universo; mas que, a nível mais profundo, relaciona estes tipos de energia/ tecnologia a
ideologias próprias de cada gênero.
“O que justifica a associação de solar a punk, num impulso paradoxal, é a

apropriação desses princípios e filosofias anti-sistema: não-conformidade, anti-

autoritarismo, anti-corporativismo, anti-consumismo, produção independente, e o seu

ethos de tomar os problemas pelas próprias mãos” (FORTUNA, 2021, pág. 11)

Universos solarpunk exploram sociedades em que a humanidade tenha progredido para


além das opressões sociais e da exploração insustentável da natureza. A energia solar
referenciada no nome “solarpunk” é usada como metonímia de um mundo pacífico e
sustentável, onde todos vivam de forma digna. Não é um oásis para poucos ou uma fachada
para práticas nefastas, pelo contrário: engloba conceitos como respeito, independência,
liberdade, compaixão, comunidade e equidade.

“Poderíamos ter uma visão de uma sociedade cujas políticas, economia e

dia a dia fossem influenciadas pela tecnologia com base na energia renovável, de

como esta contrasta com uma sociedade ainda presa na ilusão de um mundo

exclusivamente dirigido para os interesses capitalistas e como isso afecta a sociedade

física e psicologicamente; como trazer de novo a natureza para as cidades mudando

a vida concreta das pessoas, as suas inter-relações e o espaço à sua volta, a comida, a

moda, os novos e velhos costumes”. (FORTUNA, 2021, pág. 23)

3.Estudo de caso “Firmina”

O curta-metragem “Firmina” acontece em uma São Paulo Solarpunk, e a


caracterização desde cenário é tratada com grande relevância ao longo de todas as cenas do
filme. Mais do que apenas palco para ações dos personagens, o contexto solarpunk permeia
todos os aspectos do filme em uma relação em que não apenas o cenário serve à história, mas
a história também serve ao cenário.
Obras ficcionais solarpunk são por natureza ficção especulativa, e, como tal, toda a
direção de arte do curta tem como base especular a respeito de como seria uma cidade de São
Paulo que tenha se desenvolvido e se modificado numa direção de sustentabilidade e
equidade, com a magia sendo apenas uma representação tangível de uma relação profunda e
recíproca desta sociedade como um todo entre si e com a natureza.
Quando começamos a pesquisar por obras visuais solarpunk, nos deparamos diversas
vezes com uma estética que era futurista e ecológica, mas também distante e pouco
relacionável. Assim, quando começamos a pensar na nossa ideia de um mundo diverso
culturalmente, onde todas as pessoas são valorizadas e os métodos de produção são menos
nocivos, isso acabou gerando desconexão com esses mundos perfeitamente geométricos, que
apesar de terem vegetação, parecem completamente estéreis e sanitizados.
Além disso, contextos histórico-culturais diferentes terão visões diferentes do que é
uma sociedade perfeita. (FORTUNA, 2021, pág. 25)
Assim, nosso mundo solarpunk não é um solarpunk genérico, mas sim um sonho
pensado a partir das nossas realidades. Ao invés de trabalhar um mundo não existente, muito
longe de nossa vivência, ou então algo muito inspirado em países do exterior, decidimos que
esse futuro Solarpunk se passaria aqui no Brasil, sendo mais inspirado por São Paulo e a mescla
cultural que esta cidade é, assim como também valorizar a favela, povos indígenas, africanos e
a arte que vem dessa parcela marginalizada da nossa sociedade.

Fonte: Autoria Própria

Em relação à arquitetura e urbanismo da cidade, o que fazia mais sentido com a nossa
proposta de sustentabilidade era que São Paulo tivesse sido adaptada utilizando o que já existe
nela, ao invés de descartar uma cidade inteira para reconstruí-la. Para isso, pesquisamos várias
possibilidades que o mundo real já nos oferece, desde a despoluição de rios, passando por
energia renovável, vegetação, retrofit, arquitetura sustentável, revitalização de espaços
públicos, entre outros. Durante toda esta pesquisa, uma pergunta norteava nossos esforços:
como tornar algo sustentável?
Assim, descobrimos que não existe um molde definitivo de sustentabilidade. O que é a
melhor escolha sustentável para um contexto, não vai ser em outro. A sustentabilidade acontece
quando se faz um levantamento das informações pertinentes e, a partir delas, fazem-se escolhas
que balanceiem durabilidade, baixo impacto natural e utilidade. Por exemplo, um material pode
ser considerado “ecológico”, mas em uma situação em que ao longo do tempo a manutenção
de um objeto feito deste material acabe gerando impactos piores ao meio-ambiente do que se
o objeto tivesse sido feito de um material menos “ecológico”, porém mais durável, não é uma
situação sustentável de verdade.
Desta forma, decidimos que as construções de São Paulo seriam revitalizadas, passando
por processos de retrofit que otimizassem a iluminação e ventilação naturais (o que gera mais
conforto e menos gasto de energia), aumentassem as áreas verdes (com jardins verticais e nos
telhados, além de mais árvores no entorno) e formas renováveis de gerar energia, sobre as quais
posteriormente abordaremos mais a fundo. Isso pode ser observado na cena em que es jovens
estão revitalizando a favela.

Fonte: Autoria Própria


Fonte: Autoria Própria

Também pensamos nos espaços urbanos públicos. Pesquisamos sobre como se criam
praças sustentáveis, como otimizar a iluminação em espaços públicos, sobre acessibilidade e,
novamente, sobre como a geração de energia sustentável (que ainda será abordada em mais
detalhe) se relaciona a estes espaços. Utilizamos estes aprendizados na criação das áreas
públicas, como pode ser observado na cena com o grupo de idosos. Os chãos regulares e
inobstruídos, as rampas e o espaço entre os objetos facilitam a mobilidade das pessoas. O rio
está limpo e saudável, com as margens reflorestadas. A cidade e a natureza não são dois
conceitos inimigos, mas se mesclam e se fortalecem mutuamente.

Fonte: Autoria Própria

Retornando ao assunto de natureza, as árvores e plantas do curta são plantas reais que
podem ser encontradas com facilidade em São Paulo. Isso contribui com o nosso ideal de criar
um solarpunk dentro do recorte paulistano.
Fonte: Autoria Própria

A grande exceção são as árvores mágicas da cena final. Elas não são uma árvore de
verdade, mas sim uma mistura dos diversos tipos de Ipês (árvore nacional que realmente pode
ser encontrada em todo o país, porém cada tipo de ipê se restringe a regiões específicas).
Escolhemos o Ipê por ele ser característico do país, mas também pela beleza e pelo aspecto
magico de quando a copa da árvore é composta apenas por flores, não folhas. Decidimos que
os ipês mágicos seriam rosas e roxos para criar uma impressão de sobrenatural e diferenciá-los
das árvores comuns.
Fonte: Autoria Própria

Finalmente, a energia sustentável. Ao longo de nossa pesquisa descobrimos várias


tecnologias que são testadas e usadas ao redor do mundo para gerar energia sustentável. Um
exemplo são pavimentos solares e turbinas eólicas. Após alguns testes, decidimos que a nossa
cidade seria energizada com a ajuda de painéis solares, vidro fotovoltaico e de turbinas
eólicas flutuantes (todas tecnologias que existem de verdade). É possível ver todas as três ao
longo do curta, existindo enquanto parte normal do cotidiano da cidade. É interessante
observar que procuramos incluir nestas tecnologias formatos hexagonais que remetessem a
favos de mel. Isso se deu poque o formato do favo de mel é extremamente eficiente para as
abelhas, e queríamos evocar para o projeto uma ideia de utilização eficiente e intencional dos
recursos. Além disso, pelos favos de mel serem construídos pelas abelhas, também é um
formato que exprime admiração e inspiração pelo mundo natural; uma mescla harmoniosa do
que é tecnológico com o que é orgânico.
Fonte: Autoria Própria

Fonte: Autoria Própria


Fonte: Autoria Própria

Porém estas não são as únicas tecnologias que podem ser encontradas em “Firmina”.
Um aspecto importante do solarpunk é a tecnologia em uma relação positiva com o mundo
natural.
Na cena da revitalização da favela, os jovens utilizam tanto a magia quanto a tecnologia
em sua tarefa.

Fonte: Autoria Própria


Fonte: Autoria Própria

No mundo real, um dos grandes pilares da produção desenfreada do lixo que é


descartado de maneira inadequada e muitas vezes sem necessidade na nossa sociedade é a
Obsolescência Programada, que ajuda a alimentar outro mal, o do Consumismo.
Para contrariar estes conceitos, os objetos em nosso universo são pensados de uma
forma que os torne mais sustentáveis, reutilizáveis e de fácil acesso para grande parte da
sociedade.
Isso é visível principalmente na tecnologia, que tem um aspecto proposital de sucata,
mas funcionalidades superiores às que temos hoje em dia, como se todo o material necessário
para criar tecnologias melhores estivesse no ferro-velho mais próximo e o conhecimento
passado de forma responsável tornasse isso possível.
Esse aspecto de sucata foi escolhido para contrapor a estética comumente escolhida
para representar alta-tecnologia, que são formas claramente produzidas por uma máquina, luzes
neon e esterilidade. Este ideal clean não parece e não costuma ser muito consertável, enquanto
as máquinas em nosso universo podem ser abertas, mexidas e terem suas peças trocadas por
uma pessoa comum com muito mais facilidade.
Fonte: Autoria Própria

Fonte: Autoria Própria

Fonte: Autoria Própria

Entrando no assunto da “pessoa comum”, vamos explorar o design dos personagens.


O processo de design dos personagens também foi informado por especulações de
como seria uma São Paulo guiada por ideais de comunidade, sustentabilidade, equidade,
multiculturalismo e respeito. O elenco de “Firmina” procura apresentar uma leitura das
diversidades paulistanas livre das atuais opressões sistêmicas.
A começar pelos corpos, as pessoas no curta possuem diferentes idades, cores e
formatos, tais quais também podem ser encontrados na São Paulo do mundo real.

Fonte: Autoria Própria

Outro aspecto importante da construção física do elenco é que alguns dos


personagens, os que fazem magia, estão em vários estágios de ter seu cabelo se transmutando
em plantas. O cabelo de planta é tanto um auxílio visual para reforçar a existência da magia,
como um símbolo da relação intima entre os seres humanos e a natureza.

Fonte: Autoria Própria


Finalmente, outro ponto focal da criação visual deste mundo foi o design de figurino.
Nós queríamos que a moda ajudasse a criar a impressão de futuro e localizasse a diegese
Solarpunk em um tempo-espaço coeso.
A ideia é de que, como é de praxe, a moda foi se alterando com o tempo e que estes
personagens todos são contemporâneos entre si e vivem na mesma cidade, com um mesmo
zetgeist, mas ainda assim expressando suas individualidades.
Durante a exploração visual dos figurinos nos atentamos a questões relacionadas a
slow fashion e a utilização de materiais orgânicos (menos agressivos ao meio ambiente do
que materiais sintéticos).
Em relação ao design em si, o objetivo foi criar um visual que representasse bem a
sociedade e ideais do curta, com uma sensibilidade estética que, concomitantemente,
fortalecesse a ideia de que se trata de um mundo diferente do mundo real e ressoasse de
forma intima com realidades brasileiras, principalmente paulistanas.
Para tal, criamos um amalgama entre estilos brasileiros atuais, alta costura, moda
alternativa, afropunk, afrofuturismo e retrofuturismo.
Fonte: Autoria Própria
Fonte: Autoria Própria
Fonte: Autoria Própria

4. Considerações Finais

“Firmina” foi produzido e executado em meio à pandemia da covid-19, um tempo no


qual as injustiças sociais se tornaram ainda mais latentes e o mundo enfrentava um trauma
coletivo. Nós, o grupo Gato Malhado, também fomos afetados a nível prático, físico, social,
psicológico e emocional por este contexto.
Todo o material que conseguimos produzir foi dentro das possibilidades que
encontramos dentro da restrição de tempo de um ano (o curta começou a ser pensado em
julho de 2021), de trabalho humano, sendo um grupo de 4 pessoas, e apesar das dificuldades
adicionais causadas pela pandemia.
Mesmo com estes percalços, conseguimos construir um filme bonito e emocionante,
que cumpre os objetivos discutidos neste artigo.
Ao longo da produção e execução do curta-metragem, nosso entendimento de
solarpunk foi se aprofundando a partir de referências, pesquisas e debates. Se a princípio
havia uma ideia vaga de uma sociedade ecológica e igualitária, terminamos o curta com mais
conhecimentos e motivação tanto para sonhar com uma sociedade sustentável, justa e
multicultural como para construir caminhos que levem a ela no mundo real.
Existem muitos tipos de diversidades, e, cada vez mais, vai se aumentando o
conhecimento sobre diferentes tipos de opressão. Ao longo da produção do curta procuramos
contemplar diferentes demografias dentro das nossas restrições de tempo e recursos, que
acabam limitando o número de personagens. Contudo, no balanço entre as nossas próprias
limitações de conhecimento e a procura por evitar tokenismo, sabemos que nossa
representação de diversidade infelizmente não consegue contemplar a todas as
multiplicidades que existem na cidade. Ainda assim, nosso elenco e cenário são uma tentativa
honesta de sonhar uma São Paulo que se aproxime dos ideais solarpunk.
Agora concluído, “Firmina” é a nossa contribuição ao desenvolvimento do solarpunk,
um gênero-movimento que, apesar de novo, já inspira pessoas ao redor do mundo na
construção de futuros mais otimistas.

Referências

Reina-Rozo, J. (2021). Art, energy, and technology: the Solarpunk movement. International
Journal of Engineering, Social Justice and Peace, 8 (1), p. 47-60,
https://doi.org/10.24908/ijesjp.v8i1.14292.

FORTUNA, João Ricardo. O anti-futurismo solarpunk: Desenvolvimento de uma Estética


Figurativa e Narrativa. Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2021. Disponível
em: http://hdl.handle.net/10451/48872.

A Solarpunk Manifesto por The Solarpunk Community (2019)


A Solarpunk Manifesto (English) – ReDes – Regenerative Design (re-des.org)
https://www.re-des.org/a-solarpunk-manifesto/, acessado em 25/05/2022 às 10:13

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