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Resumo
Um robô responsável por compactar lixo deixado pelos seres humanos é o núcleo
do longa–metragem WALL–E, animação da Pixar. Este artigo procura articular
perspectivas a partir de algumas preocupações permanentes frente a uma era
movida pela instantaneidade e caracterizada pelo desperdício, consumo excessivo e
o constante descarte. O filme revela um panorama do planeta no ano de 2700,
expondo questionamentos de cunho ambiental, político, tecnológico e sociológico.
Ferramentas teórico–conceituais tomadas de Zygmunt Bauman são empregadas
neste trabalho para assinalar características da contemporaneidade diante dos
problemas enfrentados pela sociedade do efêmero, da velocidade e do espetáculo.
Para tal análise, utiliza–se o conceito de pedagogia cultural a partir de Shriley
Steinberg e Joe Kincheloe com ênfase no seu caráter pedagógico. A utilização de
um texto fílmico imerso no campo dos estudos culturais tem o intuito de apontar o
cinema como um meio para o “ensinar”. Tendo como ênfase as questões
relacionadas ao consumo e a educação, bem como suas repercussões na vida
contemporânea, a película como um instrumento pedagógico tem se mostrado um
importante artefato para pensar a formação de sujeitos na contemporaneidade.
WALL–E, além de ter sido indicado ao Oscar e levado a estatueta, traz ao público
um alerta com relação ao meio ambiente, o uso das novas tecnologias e suas
conseqüências sociais.
Palavras-chave:
Educação, Pedagogias Culturais, Sociedade de Consumidores.
Carla Marcon*
csmarcon@gmail.com
Sandro Bortolazzo*
sandrobortolazzo@hotmail.com
Resumo
Um robô responsável por compactar lixo deixado pelos seres humanos é o núcleo
do longa-metragem WALL-E, animação da Pixar. Este artigo procura articular
perspectivas a partir de algumas preocupações permanentes frente a uma era
movida pela instantaneidade e caracterizada pelo desperdício, consumo excessivo e
o constante descarte. O filme revela um panorama do planeta no ano de 2700,
expondo questionamentos de cunho ambiental, político, tecnológico e sociológico.
Ferramentas teórico-conceituais tomadas de Zygmunt Bauman são empregadas
neste trabalho para assinalar características da contemporaneidade diante dos
problemas enfrentados pela sociedade do efêmero, da velocidade e do espetáculo.
Para tal análise, utiliza-se o conceito de pedagogia cultural a partir de Shriley
Steinberg e Joe Kincheloe com ênfase no seu caráter pedagógico. A utilização de
um texto fílmico imerso no campo dos estudos culturais tem o intuito de apontar o
cinema como um meio para o "ensinar". Tendo como ênfase as questões
relacionadas ao consumo e a educação, bem como suas repercussões na vida
contemporânea, a película como um instrumento pedagógico tem se mostrado um
importante artefato para pensar a formação de sujeitos na contemporaneidade.
WALL-E, além de ter sido indicado ao Oscar e levado a estatueta, traz ao público
um alerta com relação ao meio ambiente, o uso das novas tecnologias e suas
consequências sociais.
Abstract
A robot responsible for compact garbage let by human being is the heartwood of
feature film WALL-E, from Pixar production. This article search to articulate
perspectives from some permanents worries in face an era moved by instantaneity
and characterized by wastefulness, excessive consumption and the constant
discard. The movie reveals a planet panorama on year 2700, exposing
environment, politic, technologic and sociologic questions. Theoric-Conceptions
tools took from Zygmunt Bauman are invested in this work to assign
contemporaneous characteristics on faced problems in front of this ephemerality,
velocity and spectacle society. For this analysis, it's used Cultural Pedagogy
Conception from Shriley Steinberg and Joe Kincheloe with an emphasy in its
pedagogic character. The use of a filmic text immersed on Cultural Studies field has
an ntuit to point the cinema as one way to "educate". For that reason, there was an
emphasis to questions related to consumption and education, as well as their
repercussions in contemporary society, the film as a pedagogic instrument has
been shown an important artefact to think about subject's formation in
contemporaneous. WALL-E, besides to be indicated to Oscar e took the prize, has
shown the public an alert about the environment, uses of new technologies and
their consequences.
Introdução
Um dia, repentinamente, surge uma grande nave e, junto dela, um robô altamente
moderno chamado EVA, enviado pela Axion para examinar as condições da Terra e
vistoriar a existência de vegetação viva no solo do planeta. WALL-E, de pronto, se
apaixona por EVA, mas ela é chamada de volta à estação, (já que localiza e colhe
um broto de planta, que serve como confirmação de vida). O robozinho,
desesperado em ver sua amada sendo levada para longe, agarra-se à nave e passa
a segui-la numa corrida incansável.
Todo o passeio que se faz pelo enredo da trama fílmica pretende discutir algumas
questões que a obra apresenta. Quais suas nuances frente uma sociedade de
consumidores? Que relações estão em jogo entre uma era movida pela
instantaneidade, caracterizada pelo constante descarte e a maneira como a Terra
vem sendo tratada? São muitas as perguntas suscitadas, tanto pela relevância do
tema como por sua discussão. Ao longo da análise, procura-se articular algumas
cenas do WALL-E com imagens e debates recorrentes no cenário contemporâneo.
Portanto, este artigo propõe uma reflexão (a partir da obra WALL-E) acenando
preocupações permanentes de uma era movida por movimentos instantâneos, pelo
consumo excessivo e por um constante descarte. Néstor García Canclini, Zygmunt
Bauman e David Harvey são alguns dos autores que discorrem sobre o cenário
contemporâneo e, por isso, são empregados neste trabalho para assinalar
características desta sociedade. Como ferramenta central de análise, utiliza-se o
conceito de pedagogia cultural de Shriley Steinberg e Joe Kincheloe com ênfase no
seu aspecto pedagógico.
Na obra WALL- E, o excesso de lixo fez com que a Terra se tornasse um lugar
inabitável, sujo e poluído. A sociedade da demasia produziu uma grande indústria
do descarte, da sobra, daquilo que não tem mais uso. A rotatividade e a constante
injeção de novos produtos no mercado consolidou um problema estático, imóvel e
prejudicial - o lixo urbano. Tudo em nome de uma experiência incessante de busca
do deleite e da felicidade.
WALL-E não é simplesmente um robô lixeiro capaz de selecionar peças para seu
auto-conserto. A obra cinematográfica propaga um discurso recheado de alusões às
relações interpessoais. A ambientação, a princípio, parece assumir uma harmonia
melancolicamente marcada pela solidão do protagonista, porém, o padrão artístico
exibe um empenho de cunho sociológico na trama dos personagens, a começar por
sua companheira - uma baratinha de estimação chamada Spot.
É possível observar que hoje, as relações amorosas entre humanos estão marcadas
por um individualismo crescente, onde permanecer longe fisicamente garante
segurança. As tecnologias de comunicação permitem o abastecimento de um
supermercado virtual volátil onde seria possível a escolha do (a) parceiro (a) ideal.
O terror da solidão "remete as pessoas aos computadores, enquanto o perigo
representado pelos estranhos estimula o adiamento dos encontros da vida real".
(Bauman, 2008: 24).
Um texto cultural fílmico, entre outras coisas, pode ajudar a enxergar e conhecer a
sociedade em que vivemos. Redes de produção significativas estão imersas dentro
de obras de ficção e contribuem para exames críticos nas diversas culturas em que
circulam. A educação fora da escola tem sido tema de ampla discussão entre
estudiosos, o que faz com que se amplie a concepção de espaço pedagógico para
além dos ambientes escolares.
Uma montanha de lixo vem sendo produzida nas últimas décadas, fato gerado pela
constante movimentação dos artigos consumíveis, envolvidos em processos velozes
e de curta duração.
A constante busca pelos mais diversos artefatos está inscrita na ação de que "a
ideologia do consumo pode ser um ótimo pretexto para a produção ou
transformação das subjetividades" (Rocha et al. 2006: 19). O consumo pós-
moderno não se encontra tão somente cercado pela satisfação das necessidades,
mas envolvido em processos de identificação marcados pelo consumo dos signos e
remetendo-nos à noção de abundância. O que se observa é que os objetos a serem
consumidos estão intrinsecamente relacionados ao conforto, bem-estar, status e
deleite.
Bauman (2008) em seus escritos tem reiteradamente nos chamado a atenção para
a ênfase que se dá ao consumo em nossos tempos e também para as
transformações nos modos de consumir. O consumo, em sua obra, é delineado
como eixo das sociedades atuais, diferenciando-se de tempos regressos quando o
que interessava era a produção.
É preciso esclarecer que o consumo não está inscrito apenas no âmbito material,
mas também de forma simbólica e abstrata. A cada encontro entre seres humanos,
os limites da soberania do consumidor se fortalecem.
A vida na Terra, de acordo com o filme WALL-E não é possível devido às intensas
ações de descarte promovidas pelos humanos. O movimento de compra e rejeição
tornou a vida insustentável no planeta, fazendo-nos questionar determinados
valores tais como necessidade, desejo, prazer. O filme também aponta problemas
relacionados a um consumo desenfreado e um descaso quanto ao meio ambiente.
O descarte aqui significa "[...] mais do que jogar fora bens produzidos, [...]
significa também ser capaz de atirar fora valores, estilos de vida, relacionamentos
estáveis, apego a coisas, edifícios, lugares, pessoas e modos adquiridos de ser e
agir." (Harvey, 1993: 230)
Desta forma, um trabalho proposto com base no WALL-E não é finito em suas
interpretações e suscita tantas outras indagações que não serão exauridas neste
trabalho.
A mesma tecnologia que informa, também auxilia. Isto é visível quando algum
habitante da Axion sofre qualquer tipo de acidente (como cair de uma cadeira
comandada eletronicamente). O dano é consertado em instantes. "Robôs-hospitais"
estão sempre em alerta para salvar e ajudar, já que na nave, qualquer tipo de
contato físico entre os humanos deve ser evitado. Uma atividade simples como cair
e levantar do chão já não é tão simples assim. Em WALL-E, os aparatos eletrônicos
passam a substituir as atividades físicas corporais, e, portanto, o caminhar, o cair,
o levantar e até mesmo o andar se tornam atividades complexas para os
tripulantes e passageiros, todos obesos e destituídos de agilidade e com as
habilidades motoras totalmente prejudicadas.
4 Algumas considerações
Segundo Bauman:
Estar inserido ou ainda fazer parte desta sociedade significa poder consumir o que o
mercado oferece. Porém, isto não significa que devemos ignorar os cuidados com o
planeta, a saúde, as relações pessoais e o uso das tecnologias como salvo conduto
da vida em sociedade.
Referências Bibliográficas
ROCHA, Everardo; ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de; EUGENIO, Fernanda (orgs.).
Comunicação, consumo e espaço urbano: novas sensibilidades nas culturas jovens.
Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006.
Carla Marcon*
csmarcon@gmail.com
Sandro Bortolazzo*
sandrobortolazzo@hotmail.com
Resumo
Abstract
A robot responsible for compact garbage let by human being is the heartwood of
feature film WALL-E, from Pixar production. This article search to articulate
perspectives from some permanents worries in face an era moved by
instantaneity and characterized by wastefulness, excessive consumption and the
constant discard. The movie reveals a planet panorama on year 2700, exposing
environment, politic, technologic and sociologic questions. Theoric-Conceptions
tools took from Zygmunt Bauman are invested in this work to assign
*
Mestranda na área de Estudos Culturais em Educação (Universidade Luterana do Brasil)
*
Mestrando na área de Estudos Culturais em Educação (Universidade Luterana do Brasil)
contemporaneous characteristics on faced problems in front of this
ephemerality, velocity and spectacle society. For this analysis, it’s used Cultural
Pedagogy Conception from Shriley Steinberg and Joe Kincheloe with an
emphasy in its pedagogic character. The use of a filmic text immersed on
Cultural Studies field has an ntuit to point the cinema as one way to “educate”.
For that reason, there was an emphasis to questions related to consumption and
education, as well as their repercussions in contemporary society, the film as a
pedagogic instrument has been shown an important artefact to think about
subject’s formation in contemporaneous. WALL-E, besides to be indicated to
Oscar e took the prize, has shown the public an alert about the environment,
uses of new technologies and their consequences.
Introdução
Uma montanha de lixo vem sendo produzida nas últimas décadas, fato
gerado pela constante movimentação dos artigos consumíveis, envolvidos em
processos velozes e de curta duração.
Imaginar uma forma de limpar o mundo de toda a “sujeira” resultante de
práticas que não colaboraram para a sustentabilidade do planeta é o objetivo do
personagem-robô WALL-E. A incessante jornada repetitiva do “robozinho” ilustra
e, de certa forma, dá conta de algumas questões relacionadas à sociedade de
consumo.
O conceito de consumo formulado por Canclini (2006) é entendido como
um conjunto de processos socioculturais em que se realizam o uso e a
apropriação dos produtos. E, para pensar o termo sociedade de consumidores,
Bauman (2008) garante que existe uma interpelação para com seus membros
essencialmente pelo viés consumista. Uma sociedade que avalia seus
integrantes pelas capacidades e condutas em relação ao consumo.
A constante busca pelos mais diversos artefatos está inscrita na ação de
que “a ideologia do consumo pode ser um ótimo pretexto para a produção ou
transformação das subjetividades” (Rocha et al. 2006: 19). O consumo pós-
moderno não se encontra tão somente cercado pela satisfação das
necessidades, mas envolvido em processos de identificação marcados pelo
consumo dos signos e remetendo-nos à noção de abundância. O que se
observa é que os objetos a serem consumidos estão intrinsecamente
relacionados ao conforto, bem-estar, status e deleite.
Bauman (2008) em seus escritos tem reiteradamente nos chamado a
atenção para a ênfase que se dá ao consumo em nossos tempos e também
para as transformações nos modos de consumir. O consumo, em sua obra, é
delineado como eixo das sociedades atuais, diferenciando-se de tempos
regressos quando o que interessava era a produção.
O consumo perde sua aura banal e acaba se transformando em um
mecanismo organizador das sociedades. O molde dos contornos sociais e das
relações, na perspectiva do autor, passa a ser gestado a partir da pauta de que
na sociedade de consumidores é preciso consumir e ser consumido.
Os usos e significados do espaço e do tempo acabaram se modificando
com a transição do fordismo1 para a acumulação flexível, devido à implantação
de novas formas organizacionais e do advento de novas tecnologias. O “mundo
fordista” gerou um modelo de industrialização, de acumulação e de regulação. A
engenharia social encontrava-se orientada pela ordem e pelo impedimento da
mobilidade. No “capitalismo pesado”, a produção, o capital e os trabalhadores
estão fixados, enraizados e estáveis dentro de uma rotina ordenada e sólida.
Com a aceleração generalizada dos processos de produção de artefatos
e bens de consumo, acentua-se uma volatilidade que perpassa modismos,
técnicas de produção, processos de trabalho, ideologias, valores e práticas
estabelecidas. No “capitalismo leve”, o mundo se torna uma coleção infinita de
possibilidades.
1
Fordismo é um sistema produtivo baseado numa linha de montagem, tendo como objetivo a
produção industrial elevada. Esse conjunto de princípios foi criado pelo americano Henry Ford
em 1909. Sua meta principal era buscar o aumento da produção no menor espaço de tempo,
utilizando o trabalhador que reproduzia mecanicamente a mesma ação durante todo o dia.
para vermelho todas suas vestimentas. O estar bonito, na moda, andar em
sintonia, imediatamente cadenciam os habitantes da Axion, sempre antenados
nos últimos produtos do mercado tornando-se visíveis e consumíveis.
Você pode escolher o seu visual. Escolher em si, optar por algum visual
não é a questão, uma vez que é isso que você deve fazer, só podendo desistir
ou evitar fazê-lo sob risco de exclusão. (Bauman, 2008: 110)
Para Bauman (2008), o ato de consumir está indissociável da condição
dos vivos, tornando-se imperativo e permanente. A condição real da pós-
modernidade em relação ao consumo se vincula a noção da valorização do ter e
não do ser.
O envolvimento do sujeito nas relações de compra e venda o transporta
para o consumismo que apresenta-se de forma central nas relações sociais. “O
‘consumismo’ chega quando o consumo assume o papel-chave que na
sociedade de produtores era exercido pelo trabalho.” [grifos do autor] (Bauman,
2008: 41)
A idéia da sociedade do descarte de David Harvey (1993) mistura-se ao
conceito da sociedade de consumidores de Zygmunt Bauman (2008), uma vez
que ambas defendem uma superexposição às “novas tentações” como pré-
requisito para a funcionalidade do sistema. A satisfação das necessidades não é
o objetivo final, mas ao contrário, tem-se como alvo desejos excessivos e em
intensidade crescente.
4 Algumas considerações
Referências Bibliográficas