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Estudo anatômico
Entrei no anfiteatro da ciência,
Atraído por mera fantasia,
E aprouve-me estudar anatomia,
Por dar um novo pasto à inteligência.
Glossário
Lente: professor
1
Escansão de “Estudo anatômico”
Fo / ra u / ma / me / re / triz: / o / ros / to / be / lo
Pu / de / tí / mi / do o / lhá- / lo / com / res / pei / to
Por / en / tre as / ne / gras / on / das / de / ca / be / lo.
2
À liça
Bardo! o cantar somente o colo nu da amante
Não diz co’a evolução do século gigante!
Enquanto tu sorris
De uns olhos sensuais,
Nos lôbregos covis,
Nas furnas imperiais,
Acende a realeza a cólera tigrina
E sedenta e feroz! na luta que a domina
Arroja-se de encontro à nossa irmã Justiça
Tentando-a sepultar no chão da enorme liça!
Glossário
Liça: luta; local de grandes torneios
Lôbregos: tristes, soturnos, lúgubres
3
Escansão de “À liça”
4
Marcelo Gama – Mostardas/RS, 1878; Rio de Janeiro/RJ, 1915.
Poemas retirados de: GAMA, Marcelo. Via sacra e outros poemas. Rio de Janeiro: Sociedade
Felipe d’Oliveira, 1944. A 1ª edição é de 1902.
Via sacra
O caminho sagrado, esse dos sonhadores
que sobem, a cantar, a montanha das dores,
tendo os pés a sangrar e uma lira por cruz!
Caminho do ideal, estrada que conduz
a uma terra de amor e de dias risonhos,
desde muito sonhada em mentirosos sonhos,
e onde querem chegar, subindo entre alcantis,
surdos à multidão eterna de imbecis,
os poetas, os bons, os visionários todos
que acreditam no sonho e na quimera... – doudos!
jardineiros da dor, coveiros da ilusão,
que a regar e a enterrar, já têm, no coração,
– um viçoso jardim, e nalma – um cemitério;
malditos, para quem a ventura é um mistério,
porque quando supõem haver chegado o – Enfim!
surge mais uma curva... o caminho é sem fim.
Glossário
Alcantis: rochas, despenhadeiros
5
Escansão de “Via sacra”
6
Eu (trechos)
Sou feio se não mente o juízo dos espelhos,
nem é falsa a expressão do que olha para mim!
Também, onde habitar, senão num corpo assim,
esta alma que me põe sangrentos os joelhos?
Porque eu vou me ferindo entre abrolhos e cardos,
que tal é, neste mundo, o fadário dos bardos!
7
Alceu Wamosy – Uruguaiana/RS, 1895; Santana do Livramento/RS, 1923.
Poemas retirados de: WAMOSY, Alceu. Poesia completa. Porto Alegre: EDIPUCRS; IEL; Alves
Editores, 1994.
Duas almas
A Coelho da Costa
Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
8
De poetas
Ainda hoje em dia existe honrada e boa gente,
Que pensa que ser poeta é coisa muito feia,
Muito rico burguês, que vive honestamente
E que aconselha à filha ingênua que não leia...
9
Via crucis
“Dolce mal, dolce affanno, dolce peso”1, Petrarca
Ó Calvário do Verso! Ó Gólgota da Rima!
Como eu já trago as mãos e os tristes pés sangrentos,
De te escalar, assim, nesta ânsia que me anima,
Neste ardor que me impele aos grandes sofrimentos...
Glossário
Gólgota: do Aramaico, é a colina em que Jesus foi crucificado;
também é conhecido como Calvário, do Latim.
1
“Doce mal, doce ânsia, doce peso!”
10
Augusto Meyer – Porto Alegre/RS, 1902; Rio de Janeiro, 1970.
Poemas retirados de: MEYER, Augusto. Poesias: 1922-1955. Rio de Janeiro: São José, 1957.
Minuano
Ao Liberato
Este vento faz pensar no campo, meus amigos,
Este vento vem de longe vem do pampa e do céu.
11
Comedor de horizontes,
meu compadre andarengo, entra!
Ó mano
Minuano
upa upa
na garupa!
Glossário
Grenha: cabeleira desgrenhada; bosque denso.
Casuarina: árvore semelhante a um pinheiro.
Cinamomo: árvore ornamental.
12
Chewing gum
Masco e remasco a minha raiva, chewing gum.
Quotidianissimamente enfastiado,
engulo a pílula ridícula,
janto universo e como mosca.
13
Mario Quintana – Alegrete/RS, 1906; Porto Alegre/RS, 1994.
Poemas retirados de: QUINTANA, Mario. Prosa & verso. Porto Alegre: Globo, 1983. Ambos os
poemas são do livro A rua dos cataventos (1940).
I
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Glossário
Filigranas: fios de ouro ou prata delicadamente entrelaçados;
adorno, ornamento.
Irisar: abrilhantar com as corres do arco-íris.
14
V
Eu não entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente...
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem o mal de toda gente,
15
XX
A Athos Damasceno Ferreira
Estou sentado sobre a minha mala
No velho bergantim desmantelado...
Quanto tempo, meu Deus, malbaratado
Em tanta inútil, misteriosa escala!
Glossário
Bergantim: antiga embarcação à vela e remo, esguia e veloz; era
muito utilizada pelos portugueses no Oriente
Empós: após
16
Aureliano de Figueiredo Pinto – Tupanciretã/RS, 1898; Santiago/RS, 1959.
Poemas retirados de: PINTO, Aureliano de Figueiredo. Romances de estância e querência.
Porto Alegre: Martins Livreiro, 1981. A 1ª edição é de 1959.
Domingo feio
Hoje... Refugo... E no galpão me empaco!
Quieto... Não gabo, mas também não xingo.
Vou passar chimarreando este domingo
e pitando as fumaças do meu naco.
Glossário
Lavareda: labareda
Flete: cavalo de boa estampa
Tarumã: árvore
17
Toada em voz baixa
Hoje a neblina enche a campanha.
Ronca raivento o ventarrão.
Ah! se não fosse a lavareda
que arma visagens na parede
das quatro faces do galpão!
Glossário
Oitão: cada uma das paredes laterais de uma casa
18
Fabrício Carpinejar – Caxias do Sul/RS, 1972.
Poema retirado de: CARPINEJAR, Fabrício. Caixa de sapatos: antologia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2003. O poema é do livro Terceira sede (2001).
(sem título)
Ser inteiro custa caro.
Endividei-me por não me dividir.
Atrás da aparência, há uma reserva de indigência,
a volúpia dos restos.
19
Eduardo Sterzi – Porto Alegre/RS, 1973.
Poemas retirados de: STERZI, Eduardo. Prosa. Porto Alegre: IEL; CORAG, 2001.
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Angélica Freitas – Pelotas/RS, 1973.
Poema retirado de: FREITAS, Angélica. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo:
Companhia das Letras, 2017.
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