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Fanatismo, de Florbela Espanca

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida. “Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”


Meus olhos andam cegos de te ver. Quando me dizem isto, toda a graça
Não és sequer razão do meu viver Duma boca divina fala em mim!
Pois que tu és já toda a minha vida!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
Não vejo nada assim enlouquecida… “Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Passo no mundo, meu Amor, a ler Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
No mist’rioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!…

ANÁLISE ESTRUTURAL:
Mi\nh’al\ma,\ de\ so\nhar\-te, na\da\ per\di\da. – 10/A “Tu\do\ no\ mun\do é \frá\gil,\ tu\do\ pas\sa… –10/C
Meu\s o\lhos\an\dam\ ce\gos\ de\ te\ ver. – 10/B Quan\do\ me\ di\zem\ is\to,\ to\da a\ gra\ça –10/C
Não\ és\ se\quer\ ra\zão\ do\ me\ vi\ver –10/B Du\ma\ bo\ca \di\vi\na\ fa\la\ em mim! –10/D
Po\is \que\ tu\ és\ já\ to\da a \mi\nha\ vi\da! – 10/A
E, o\lhos\ pos\tos\ em\ ti,\ di\go\ de\ ras\tros: –10/E
Não\ ve\jo\ na\da as\sim\ en\lou\que\ci\da… – 10/A “Ah!\ po\dem \vo\ar\ mun\dos,\ mor\rer\ as\tros, : –10/E
Pas\so\ no\ mun\do,\ meu\ A\mor,\ a\ ler –10/B Que\ tu\ és\ co\mo\ Deus:\ prin\cí\pio\ e \fim!…” –10/D
No\ mis\te\ri\oso\ li\vro\ do\ teu\ ser –10/B
A mes\ma\ his\tó\ria\ tan\tas\ ve\zes\ li\da!… – 10/A

O POETA DESCREVE A BAHIA, de Gregório de Matos.


A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha; Muitos mulatos desavergonhados,
Não sabem governar sua cozinha, Trazidos sob os pés os homens nobres,
E podem governar o mundo inteiro. Posta nas palmas toda a picardia,

Em cada porta um frequente olheiro, Estupendas usuras nos mercados,


Que a vida do vizinho e da vizinha Todos os que não furtam muito pobres:
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, E eis aqui a cidade da Bahia.
Para a levar à praça e ao terreiro.

ANÁLISE ESTRUTURAL:
A/ ca/da/ can/to um/ gran/de/ con/se/lhei/ro, - 10/A
Que/ nos/ quer/ go/ver/nar/ ca/ba/na e/ vi/nha; - 10/B Mui/tos/ mu/la/tos/ de/sa/ver/go/nha/dos, - 10/C
Não/ sa/bem/ go/ver/nar/ sua/ co/zi/nha, - 9/B Tra/zi/dos/ sob/ os/ pés/ os/ ho/mens/ no/bres, - 10/D
E po/dem/ go/ver/nar o/mun/do /in/tei/ro. – 9/A Pos/ta/ nas/ pal/mas/ to/da a /pi/car/dia, - 9/E

Em/ ca/da/ por/ta/ um /fre/quen/te o/lhei/ro, -10/A Es/tu/pen/das/ u/su/ras/ nos/ mer/ca/dos, - 11/C
Que a /vi/da/ do/ vi/zi/nho e/ da /vi/zi/nha -10/B To/dos/ os/ que/ não/ fur/tam/ mui/to/ po/bres: - 11/D
Pes/qui/sa, es/cu/ta, es/prei/ta e es/qua/dri/nha, - 9/B E e/is/ a/qui a/ ci/da/de/ da/ Ba/hia. – 10/E
Pa/ra a/ le/var à/ pra/ça e/ ao /ter/rei/ro. – 9/A
Motivo, de Cecilia Meirelis
Eu canto porque o instante existe Se desmorono ou se edifico,
e a minha vida está completa. se permaneço ou me desfaço,
Não sou alegre nem sou triste: — não sei, não sei. Não sei se fico
sou poeta. ou passo.
Irmão das coisas fugidias, Sei que canto. E a canção é tudo.
não sinto gozo nem tormento. Tem sangue eterno a asa ritmada.
Atravesso noites e dias E um dia sei que estarei mudo:
no vento. — mais nada."

ANÁLISE ESTRUTURAL
Eu /can/to/ por/que o/ ins/tan/te e/xis/te – A/9 Se /des/mo/ro/no/ ou/ se e/di/fi/co, - 9/E
e a/ mi/nha/ vi/da/ es/tá/ com/ple/ta. – B/9 Se/ per/ma/ne/ço/ ou/ me/ des/fa/ço, - 9/F
Não/ sou/ a/le/gre/ nem/ sou/ tris/te: - A/9 — não/ sei/, não/ sei/. Não/ sei/ se/ fi/co – 7/E
Sou/ poe/ ta. – A/2 ou /pas/so. – 2/F

Ir/mão/ das/ coi/sas/ fu/gi/di/as, - 8/C Sei/ que/ can/to./ E a/ can/ção é/ tu/do. – 8/G
Não/ sin/to /go/zo/ nem/ tor/men/to. – 8/D Tem/ san/gue e/ter/no/ a asas/ rit/ma/da. – 8/H
A/tra/ves/so/ noi/tes/ e/ di/as – 8/C E um/ dia/ sei/ que/ es/ta/rei/ um/do: -8/G
No/ ven/to. – 2/D — ma/is/ na/da." – 3/H

ANÁLISE ESTRUTURAL E DE CONTEÚDO:


O poema acima é um soneto, por tanto, possui duas quadras e dois tercetos, ao todo, são 14 versos de pura rima e métrica.
Sua estrutura é decassílaba e se apresenta na sequência de ABBA/ABBA/CCD/EED, analisando o padrão, percebe-se que
a poeta utiliza da mesma técnica de rima nas duas primeiras estrofes, apresenta também a sexta silaba sempre acentuada,
o que contribui com a musicalidade do poema. Suas rimas são ricas pois são feitas com classes gramaticais diferentes,
exceto na décimo segundo e décimo terceiro verso.
Quanto ao conteúdo, é claro que o poema se trata de paixão, que o eu lírico está apaixonado e declara seu amor. A
ideia de fanatismo, termo usado como título do poema, é apresentada logo na primeira estrofe, tal estrofe que contempla
várias figuras de linguagens que auxilia em reforçar o significado de fanatismo. Tais sinais que dão força ao sentido que o
poema quer percorrer está no paradoxo no segundo verso “Meus olhos andam cegos de te ver.” e na hipérbole no quarto
verso da primeira quadra: “Pois que tu és já toda a minha vida!”
Tais ideias apresentadas acima induzem o leitor a sentir a intensidade do amor Eu lírico, o uso do paradoxo
mostra intensidade e a hipérbole demonstra exagero, o que além de corroborar com a ideia do paradoxo, intensifica ainda
mais a semântica do poema. Na segunda quadra, é acrescentada a ideia de obsessão logo no primeiro verso com o uso do
adjetivo “enlouquecida”.
Ao decorrer dos dois tercetos a seguir, a expressão do amor é sempre reforçado e enaltecido até que no último
verso em que o eu lírico parece elevar o amado a ser comparado a Deus e com esse feito, justificasse o título do poema e
mostrando ao leitor que o amor que o eu lírico sente é de caráter devocional e absurdo.
ANÁLISE ESTRUTURAL E DE CONTEÚDO (TEXTO: O POETA...)
O poema de Gregório de Matos se trata de um soneto, ou seja, possui forma fixa constituída por duas quadras e
dois tercetos. Apresenta rima pobre visto que a utiliza-se palavras da mesma classe gramatical para compor, exemplo
disso basta observa os segundos versos dos tercetos, onde é rimado nobres e pobres, ambos são adjetivos.
A estrutura é composta por sequências padrões nas quadras e nos tercetos, o primeiro padrão notável é a presença
de 10 silabas poéticas nos dois primeiros versos em cada estrofe ao longo do poema, outro padrão é que todas as estrofes
terminam com 9 silabas poéticas.
O poema retrata a Bahia com um olhar experiente, dando a compreensão que os fatos citados sobre o lugar é
vivido pelo Eu lírico. Tal observação pode ser feita nos tercetos. Em forma de sátira, tais costumes são revelados como
forma apontas aspectos que moldam a sociedade em questão, citando entre as linhas do poema, os rastros que a
escravidão deixou no estado, como nos tercetos, onde os termos mulato e homens nobres dentro do contexto indicam a
chegada dos escravizados, finalizando com o último verso sinalizando a maldade que sofriam pelos nobres.
No último terceto, os versos expõem a ganância dos nobres no comércio e completa que quem não furta, muito
pobre é. Ao final, com o verso “E eis aqui a cidade da Bahia” deixa claro a intenção do poeta ao apresentar ao leitor
como é o que esperar da cidade da Bahia, como se estivesse respondendo a alguém que lhe pediu para que descrevesse tal
estado.
ANÁLISE ESTRUTURAL E DE CONTEÚDO (TEXTO: MOTIVO)
- Quanto a forma, não há uma fixa. O poema se comporta da seguinte maneira:
- Quatro quartetos
- existe rima entre os versos em cada estrofe, rimas variadas (ricas e pobres)
- Quanto a métrica, é notável apenas nos dois primeiros quartetos. Os dois últimos são de métrica desregulada.
- contextualizado: a poeta quer dizer para viver o presente (primeiro verso da primeira estrofe), que assim, a vida dela
segue completa apenas sendo poeta. Com os sentimentos pouco duradouros, não sente prazer nem dor, deixa eles
passarem por ela como vento que vem e vai. Não sabe se essa ideia dela é prejudicial ou não, se permanece com ela ou se
desfaz, se fica ou se passa mas ela continua a falar, a poetizar e fazer isso é tudo, é a vida, é viver o presente. Além disso
ela tem consciência que um dia tudo ficara mudo e ela partirá, a chegada do presente que parecia um futuro distante.

PONTOS IMPORTANTES:
Poesia X Poema: Subjetividade, não tem preocupação com a forma, expressão do eu lírico/ materialização da poesia
(preocupação com a forma; formas fixas e livres).

TEXTOS TEORICOS:
- OCTAVIO PAZ:
“Um soneto não é um poema mas uma forma literária, exceto quando esse mecanismo retórico – estrofes, metros e rimas
– foi tocado pela poesia. (...) Por outro lado, há poesia sem poemas: paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos (...)”
(p.16)

“Cada poema é um objeto único, criado por uma “técnica” que morre no instante mesmo de criação. A chamada “técnica
poética” não é transmissível porque não é feita de receitas, mas de invenções que só servem para seu criador.” (p.20)

“Quando um poeta adquire um estilo (...) deixa de ser um poeta (...)” (p.20)

- NORMA GOLDSTEIN: Termos técnicos e aplicação deles no poema.


Métrica/metro: subdivisão do verso em segmentos se Assimetria: o metro varia de verso para verso. (p.25)
sílabas longas/breves e/ou determinação das posições de Soneto: dois quartetos (4,4) e dois tercetos (3,3). (p.53)
sílabas fortes em um verso. (p.17) Refrão: quando versos de repetem entre as estrofes.
Rima: repetição de sons semelhantes no final de versos (p.53-54)
diferentes. (p.22) Oitava: estrofe de oito versos; muito usado em épicas.
(p.55-56)
Simetria: fica a impressão de simétrica regularidade.
(p.23)
Quadrinha: poema de quatro versos, geralmente,
relativo à filosofia popular. (p.56)

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