Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
11 de agosto de 2020
Governo do Estado de Minas Gerais Ana Renata Moura Rabelo
Hugo Dilhermando de Souza Lacerda
Organização
Coordenadoria de Promoção da Saúde e Controle
Alexandre Mário de Freitas (SEDESE)
do Tabagismo
Tomaz Duarte Moreira (SEDESE)
Cristiane Roberta Pinto Tomaz
Equipe de elaboração Joseane Mariluz Martins de Carvalho
Nayara Resende Pena
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Pollyanna de Oliveira Silva
Social
Diretoria de saúde mental, álcool e outras drogas
Observatóio de Desenvolvimento Social
Lı́rica Salluz Mattos Pereira
Henrique Miranda Figueiredo
Viviane Souza Maciel de Almeida
Alexandre Mário de Freitas
Alexandre Silva Nogueira Secretaria de Estado de Justiça e Segu-
Flávia Lacerda Teixeira rança Pública
Mateus Morais Araujo Superintendência do Observatório de Segurança
Diretoria de Articulação e Planejamento da Educação Pública
Profissional Ana Luiza Werneck Passos Veronezi
Gilmar Álvares Cota Junior Diretoria de Informações de Justiça
Henrique Tângari Silva Lizandro Nei Gualberto
Juliana Estanislau Cançado Daniel Rezende Silva
Maria Clara de Paula Ribeiro Tarabal Fernanda de Moura Galantini
Coordenadoria de Polı́ticas para a Juventude Hugo Maia Alves da Costa
Tomaz Duarte Moreira Márcia Dias Gonzaga
Isla Rosa Rafael Lara Mazoni Andrade
Luiza Mascarello Regina Márcia do Valle Ramos
Louis Alfredo Rosales Allanic Rolem Daniel de Lellis Marçal
Wanderson Campos Barbosa Meira
Diretoria de Fomento e Organização de Polı́ticas
Esportivas Secretaria de Estado de Educação
Ana Paula de Jesus Superintendência de Polı́ticas Públicas
Luı́za Cupertino Xavier da Silva Esther Augusta Nunes Barbosa
Secretaria de Estado de Saúde Diretoria de Modalidades e Temáticas de Ensino
Coordenação de IST/Aids e Hepatites Virais Patrı́cia Queiroz de Aragão
Adriana Padrão Rocha Miranda Demerson Maia Vilela
Silvana Novaes Ferreira Estevão de Almeida Vilela
Fabiana Benchetrit dos Santos
Coordenação de Doenças e Agravos Não Trans-
Haline Cristina Ferreira Santos
missı́veis
Ludmila Nunes Campos Pereira Superintendência de Avaliação Educacional
Cássia Virgı́nea Pereira Soares Wagner Eustáquio Oliveira da Costa
Janaina Paloma Barros de Oliveira Diretoria de Avaliação da Aprendizagem
Luı́sa Souza Costa
Coordenação de Saúde Indı́gena e Polı́ticas de
Nathália Reis
Promoção da Equidade em Saúde
Juliana Noronha
Ana Clara de Castro Franco
Nádia Fernandes
Luı́sa Azeredo Silveira
Marilene Pereira de Souza Ilustração da capa
Rosa Maria dos Santos Juliana Nunes de Alcântara
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1 PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
4 EDUCAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
4.1 Matrı́culas de Jovens na Educação Básica . . . . . . . . . . . . . . . 18
4.1.1 Matrı́culas de Jovens na Educação Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
4.2 Distorção idade-série . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.2.1 Evolução da Distorção Idade-Série no Ensino Médio, zona urbana, dividida
por série – Minas Gerais, 2015 a 2019 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.2.2 Evolução da Distorção Idade-Série no Ensino Médio, zona rural, dividida
por série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.3 Rendimento Escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.3.1 Evolução da Taxa de Aprovação no Ensino Médio, zona urbana, dividida
por série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.3.2 Evolução da Taxa de Aprovação no Ensino Médio, zona rural, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.3.3 Evolução da Taxa de Reprovação no Ensino Médio, zona urbana, dividida
por série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.3.4 Evolução da Taxa de Reprovação no Ensino Médio, zona rural, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.3.5 Evolução da Taxa de Abandono no Ensino Médio, zona urbana, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.3.6 Evolução da Taxa de Abandono no Ensino Médio, zona rural, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.4 Avaliações Educacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.4.1 Evolução da Taxa Média (%) de Participação no PROEB do 3o ano do
Ensino Médio da rede estadual - Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . 28
4.4.2 Evolução da Proficiência Média no PROEB do 3o ano do Ensino Médio da
rede estadual – Lı́ngua Portuguesa - Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . 29
4.4.3 Evolução da Proficiência Média no PROEB do 3 ano do Ensino Médio da
rede estadual – Matemática - Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . 30
4.4.4 Evolução dos Padrões de Desempenho no PROEB do 3o ano do Ensino
Médio da rede estadual – Lı́ngua Portuguesa - Minas Gerais, 2015 a 2018 . 31
4.4.5 Evolução dos Padrões de Desempenho no PROEB do 3o ano do Ensino
Médio da rede estadual – Matemática - Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . 32
4.5 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica . . . . . . . . . . . . 33
4.5.1 Resultado IDEB do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e 2017 -
Minas Gerais, 2015 e 2017 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.5.2 Nota SAEB do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e 2017 . . . . . 34
4.5.3 Nota Média Padronizada do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e
2017 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5 TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.1 Taxa de participação na força de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.2 Taxa de desocupação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5.3 Informalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.4 Rendimento Médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5.5 Jovens nem-nem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
5.6 Público CadÚnico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
5.7 Mercado de trabalho formal - RAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6 ESPORTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.1 O perfil dos praticantes e dos não praticantes de esportes ou ativi-
dades fı́sicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.2 O perfil de quem nunca praticou esporte . . . . . . . . . . . . . . . . 52
6.3 Os principais esportes e atividades praticadas . . . . . . . . . . . . . 53
6.4 Os motivos para a prática e para a não prática de esportes ou
atividades fı́sicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
6.5 A opinião sobre o investimento do poder público em polı́ticas de
esporte ou atividade fı́sica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.6 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
7 SEGURANÇA PÚBLICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
7.1 Homicı́dios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
7.1.1 Número de vı́timas de homicı́dio em Minas Gerais por faixa etária . . . . . 59
7.2 Medidas Socioeducativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.3 Perfil demográfico da população jovem privada de liberdade em
Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
8 SAÚDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
8.1 As juventudes e suas especificidades no acesso à saúde . . . . . . . 68
8.2 Saúde sexual e reprodutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
8.2.1 Gravidez na adolescência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
8.2.2 Infecções Sexualmente Transmissı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
8.2.2.1 HIV/Aids . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
8.2.2.2 HIV Gestante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
8.2.2.3 Sı́filis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
8.2.2.4 Sı́filis Adquirida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
8.2.2.5 Sı́filis Gestante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
8.3 Violências interpessoais e autoprovocadas . . . . . . . . . . . . . . . 87
8.3.1 Lesões Autoprovocadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
8.3.2 Violência Sexual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
8.3.3 Violência interpessoal contra grupos sistematicamente vulnerabilizados . . . 93
8.3.4 Violências identificadas na Pesquisa Nacional de Saúde Escolar . . . . . . . 95
8.4 Saúde mental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
8.4.1 Cuidado em saúde das pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool
e outras drogas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
8.4.2 Promoção da mental e ações direcionadas ao fenômeno suicı́dio . . . . . . 101
9 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
pontar em quaisquer diagnósticos, como o tema dos jovens “nem nem” (grupo onde estão
pessoas que não trabalham, nem estudam), a alta taxa de homicı́dios e o tema do de-
semprego, entre outros, que não somente se mantém preocupantes, como ocasionalmente
apresentam resultados piores. Por outro lado, este intervalo de quase 10 anos também
trouxe novos desafios ao trabalho de se fazer um diagnóstico, dadas as transformações no
universo do trabalho e da educação.
O desafio da elaboração de um diagnóstico reside não somente na obtenção de dados
oficiais atualizados, escrita técnica e teoricamente fundamentada, mas também em pro-
duzir um texto didático e acessı́vel à diversos públicos – abordagem objetivada por este
documento. Ao apresentar as análises de como os responsáveis pela gestão das polı́ticas
percebem os desafios pelas quais as juventudes do estado têm enfrentado, o diagnóstico
visa promover o debate público sobre diversas questões que afetam os jovens mineiros, per-
mitindo a construção de melhores polı́ticas públicas a partir das evidências mais recentes
e consistentes.
2 Introdução
A proposta de criação do Diagnóstico das Juventudes de Minas Gerais foi feita pelo
Conselho Estadual das Juventudes - Cejuve-MG e abraçada por todas as Secretarias de
Estado que contribuı́ram com o levantamento e análise dos dados para sua elaboração.
Sabendo que as polı́ticas públicas de juventude (PPJs) são transversais, não se concen-
trando em uma única secretaria, buscamos trazer dados que contribuem para o debate
sobre estas polı́ticas nas mais diversas áreas. Procuramos também focar nos problemas
que afetam as juventudes de forma desproporcional em relação às outras faixas etárias,
como a taxa de desocupação, a taxa de homicı́dios e a taxa de abandono escolar, por
exemplo.
O objetivo do diagnóstico é trazer subsı́dios para o desenvolvimento de polı́ticas
públicas para as juventudes tanto no Estado quanto nos municı́pios. Identificando os
principais problemas enfrentados por este público e, sempre que possı́vel, trazendo ori-
entações para as polı́ticas de cada área, com base no conhecimento, nas normas e nas
diretrizes de cada secretaria.
O diagnóstico foi todo elaborado com base em fontes secundárias de dados, utilizando-
se dos dados de pesquisas como o Censo Escolar da Educação Básica e a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicı́lios Contı́nua - PNADc, ambas do o Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatı́stica - IBGE. Também foram utilizados dados de sistemas governamentais
como o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informação de
Agravos de Notificação - Sinan, do Ministério da Saúde, e o Cadastro Único para Pro-
gramas Sociais (CadÚnico), do Ministério da Cidadania, entre outros. Ao utilizar bases
de dados secundárias, foi possı́vel trabalhar com as juventudes de fato, com os dados e
informações mais adequadas ao diagnóstico., tendo em vista que frequentemente os resul-
tados são divulgados em faixas etárias que englobam jovens e crianças ou jovens e adultos
na mesma categorias, como 10 a 19 anos ou 25 a 29 anos.
Destacamos também que, embora o Estatuto da Juventude considere como jovem todas
pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade, buscamos refletir
neste diagnóstico a pluralidade das juventudes, uma vez que os problemas e desafios afetam
de forma diferente os diversos grupos. Dayrell (2003) reforça a importância de se tratar
das juventudes no plural, para enfatizar a diversidade de modos de ser jovem existentes,
e esta diversidade é retratada aqui por meio dos recortes de raça, gênero, territorialidade
e orientação sexual que foram feitos durante o levantamento dos indicadores.
Estes recortes realizados permitiram vermos se determinados problemas afetam mais
as mulheres ou os homens e como estas diferenças refletem na busca por polı́ticas públicas
que atendam a estas especificidades de gênero. Também identificamos que, em todas as
Capı́tulo 2. Introdução 10
áreas pesquisadas, a maioria dos problemas levantados afeta mais fortemente a juventude
negra, mostrando a necessidade de que as PPJs atendam prioritariamente este público.
Para além, os recortes evidenciaram que há pouquı́ssimos dados sobre orientação sexual e
identidade de gênero nas pesquisas e bases de dados oficiais, o que invisibiliza a população
LGBT+1 e, na maioria dos casos, impossibilita verificar se há diferença no impacto de
cada indicador entre as diferentes orientações sexuais e identidades de gênero.
No entanto, mesmo diante das dificuldades estruturais dos dados oficiais, o Diagnóstico
das Juventudes de Minas Gerais, que contou com um trabalho de diversos setores do Es-
tado, já se tornou um marco para as Polı́ticas Públicas de Juventude em Minas Gerais.
Os dados aqui compilados e analisados, se constituem uma vasta e confiável fonte de
informações sobre as juventudes do Estado, que tem uma possibilidade de utilização am-
pla: desde servir como base para que os gestores públicos ao pensem as PPJs a subsidiar
escrita e desenvolvimento de projetos por organizações da sociedade civil, além de servir
como uma fonte de dados para pesquisas acadêmicas e para o próprio Cejuve, para di-
recionamento de sua atuação. Em suma, o presente Diagnóstico se constitui um avanço
para as juventudes e suas reivindicações.
1
Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. O mais (+) ao final da sigla tem sido utilizado para
representar outras pessoas não heterossexuais e que não estejam contempladas nessas quatro primeiras
letras.
11
Tabela 2 – Declaração de autopercepção de raça nos jovens de Minas Gerais, entre 2015
e 2019.
nesses últimos 5 anos, com uma expressão levemente maior do gênero masculino - cerca
de 0,5% de diferença na maioria dos anos - o que também pode representar variações da
amostra.
Os dados relativos à raça/cor revelam algumas mudanças consistentes no decorrer
da última meia década, especialmente no percentual de jovens que se identificam como
negros, o que compreende todos que se declaram pretos ou pardos - como classifica o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatı́stica (IBGE) - e no percentual de jovens que se
identificam como brancos. A porcentagem de jovens que se declararam negros apresentou
um crescimento de quase 5 pontos percentuais entre 2015 e 2019, enquanto a de jovens
brancos apresentou uma redução de mesma amplitude.
Os dados poderiam ser explicados por duas hipóteses: 1) taxa de natalidade maior de
crianças negras do que de crianças brancas; ou 2) alteração na autopercepção de cor, com
mais jovens se autodeclarando negros.
Para verificar essas hipóteses, consideramos os dados de raça/cor para as faixas etárias
de 15 a 19, 20 a 24 e 25 a 29 anos em pesquisas realizadas em 2014 e 2019, um intervalo
de cinco anos que faz com que todos aqueles que eram jovens em 2014 passassem para a
faixa etária seguinte ou deixem de ser jovens (Tabela 3). Além disso, em 2019, a faixa
etária de 15 a 19 anos representará apenas aqueles que ainda não eram jovens em 2014.
Caso a hipótese 1, ligada à taxa de natalidade, estivesse correta, o percentual de
jovens negros aumentaria apenas na faixa etária de 15 a 19 anos. Contudo, como há
um aumento significativo do percentual também nas outras faixas, deduz-se que a auto
percepção de cor tem mudado em favor dos que se auto declaram negros. É possı́vel supor
que tais mudanças possam decorrer das conquistas advindas de polı́ticas de promoção da
igualdade racial, ações afirmativas, maior visibilidade que os debates sobre igualdade racial
têm encontrado na mı́dia e do maior empoderamento das pessoas negras.
Capı́tulo 3. Dados demográficos e socioeconômicos 13
Tabela 3 – Declaração de auto percepção de raça nos jovens de Minas Gerais, nos anos
de 2014 e 2019
Além das variáveis demográficas anteriores, raça e gênero, informações sobre pobreza
são especialmente úteis para a gestão pública, visto que a maioria dos jovens são usuários
expressivos de serviços públicos, como saúde, educação e assistência social.
O conceito de pobreza é um dos mais utilizados na gestão pública. Contudo, é um dos
mais distintos quanto à sua delimitação. Uma pessoa ou uma famı́lia pode ser considerada
pobre por diferentes parâmetros, portanto, o enfrentamento do problema também pode
ter múltiplas abordagens. Como um problema de natureza multidimensional, ou seja,
causado por diferentes variáveis, não existe um único parâmetro oficial, o que exige que,
na justificativa pela escolha de um parâmetro, se apontem suas virtudes e limites.
O acesso a serviços públicos, como saúde, educação, energia e saneamento, que po-
dem ser tratados como indicadores de pobreza, depende muito da cidade, da região e
da economia local em que o indivı́duo ou famı́lia se encontram. Considerando a grande
diferenciação econômica dentre os inúmeros municı́pios de Minas Gerais, bem como seu
tamanho e perfil populacional, um critério centrado no acesso àqueles serviços - como indi-
cador de pobreza - dificilmente poderia capturar adequadamente as grandes diversidades
regionais do estado. Outro critério utilizado são as linhas de pobreza, que dividem as
pessoas/famı́lias a partir de uma renda per capita, para classificar os grupos entre extre-
mamente pobres, pobres e não pobres. A renda per capita considera todos os rendimentos
recebidos em um domicı́lio no mês, e divide pelo número de pessoas desse domicı́lio. Com
base nesses valores, é verificado se a famı́lia está abaixo ou acima das linhas de pobreza
e extrema pobreza.
Em ambos os parâmetros anteriores, ainda se tem a dificuldade de lidar com famı́lias
e pessoas de complexa comparação, pois a realidade econômica e social de uma pessoa
e uma famı́lia que vive na área rural de um municı́pio pequeno, no interior do estado,
com economia predominantemente agrı́cola, é totalmente diferente de uma outra pessoa
e famı́lia que vive numa área urbana de uma capital, com economia predominante de
serviços. Estas pessoas/famı́lias têm acesso à serviços públicos totalmente diferentes, e
o perfil de consumo, proporcionado pela renda, também é bastante distinto. Contudo, o
critério de classificação entre pobres e não pobres, pela renda, ainda tem a vantagem de
Capı́tulo 3. Dados demográficos e socioeconômicos 14
permitir comparações entre uma variável numérica precisa, já que a moeda nacional tem
valor igual em todo território, ainda que a obtenção dessa informação também apresente
suas dificuldades.
Nesse sentido, utilizamos os dados de renda dos inscritos no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), visto que o mesmo se baseia na moeda
corrente nacional, e os dados têm a mesma forma de obtenção em todo território brasileiro.
Este cadastro é o mecanismo que faculta às pessoas de baixa renda acesso à programas
governamentais de transferência de renda, como o Programa Bolsa Famı́lia (PBF) ou
Benefı́cio de Prestação Continuada (BPC), para pessoas idosas ou com deficiência, além
de outros serviços públicos destinados a famı́lias de baixa renda.
O CadÚnico utiliza a definição do Decreto no 9.396/2018 acerca da situação de po-
breza e extrema pobreza: as famı́lias em situação de pobreza e de extrema pobreza são
caracterizadas pela renda familiar mensal per capita de até R$ 178,00 (cento e setenta e
oito reais) e R$ 89,00 (oitenta e nove reais), respectivamente. É importante ressaltar que
esta renda não inclui os benefı́cios financeiros provenientes do Bolsa Famı́lia.
Independente da origem dos dados do qual se trata a pobreza, desde 2014 tem se veri-
ficado no Brasil, como um todo, uma inversão na tendência de redução da pobreza, tanto
no percentual de pessoas pobres, quanto no de pessoas extremamente pobres, sendo o
crescimento deste último grupo mais expressivo. No caso dos jovens, o impacto da renda
é ainda mais acentuado devido aos altos ı́ndices de desocupação deste público, expressi-
vamente maiores que o público adulto, e que se agrava em contextos de crise econômica.
O cı́rculo vicioso da pobreza tende a se reforçar em populações mais vulnerabilizadas e
historicamente excluı́das, onde as diferenças de raça e gênero evidenciam estes problemas.
Primeiramente, para distinguir a situação da pobreza juvenil vamos comparar esse
grupo com outros grupos etários. Logo em seguida vamos apresentar as distinções de raça
e gênero separadamente, entre os jovens inscritos no CadÚnico nas figuras 1 e 2, e depois
de forma integrada (figura 3) para condensar uma explicação final sobre os tópicos aqui
abordados.
As comparações entre grupos etários apontam que o aumento da idade contribui para
a menor vulnerabilidade econômica, uma vez que o acesso ao mercado de trabalho é mais
fácil, fazendo dessa a variável de maior importância no quesito obtenção de renda. Os
idosos são menor grupo populacional e também os menos vulneráveis em condições de
pobreza nos parâmetros aqui trabalhados. As crianças são as que estão na condição mais
precária, com 38,09% desse grupo estando entre o pobres e extremamente pobres.
No âmbito da população do CadÚnico, separando o grupo dos jovens dos demais
grupos etários, verificou-se que quase 950 mil deles (20% do total) eram pobres ou ex-
tremamente pobres, sendo que três quartos desse grupo (15%) estavam em situação de
extrema pobreza, tornando esta a segunda faixa etária mais vulnerável da população.
Além disso, é importante apontar como estão as distinções entre raça/cor e gênero
Capı́tulo 3. Dados demográficos e socioeconômicos 15
dentre os jovens, tendo em vista que a pobreza não afeta a todos os jovens da mesma
forma. Nesse sentido, a figura 1 mostra como a pobreza atinge de forma diferente a
juventude branca e a juventude negra.
dos jovens negros em relação aos brancos. Quase 24% dos jovens negros são pobres ou
extremamente pobres, enquanto o número de jovens brancos nessas condições é de, no
máximo, 15%. Esses percentuais significam que mais de meio milhão de jovens negros
estão em situação de extrema pobreza. A discrepância fica mais evidente quando se
percebe que apenas os jovens negros extremamente pobres (18%) superaram o percentual
somado de jovens brancos pobres e extremamente pobres. As desigualdades também são
observadas quando se diferencia os gêneros.
Figura 2 – Condição de vulnerabilidade em relação a gênero dos/as jovens inscritos no
CadÚnico de Minas Gerais - 2019.
jovens negras esse percentual não alcança 71%, uma diferença percentual de quase 20
pontos.
A presente crise econômica pode levar a uma precarização ainda maior das condições
de vida dos grupos mais vulnerabilizados, especialmente os jovens, os negros e as mulheres.
Essa situação exigirá do poder público um monitoramento mais atento quanto ao alcance
e efetividade de suas polı́ticas públicas, para que elas sejam cada vez mais capazes de
responder de forma eficaz às dificuldades enfrentadas por esta população.
18
4 Educação
A realização deste documento tem como base, principalmente, a utilização dos dados
do Censo Escolar da Educação Básica desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatı́stica - IBGE, dados do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) desenvolvido
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anı́sio Teixeira - INEP e de
dados do Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Básica - SIMAVE, gerenciado pela
Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Nesse sentido, foi realizado um recorte
dos dados com o intuito de apresentar as informações referentes ao público jovem, com
idade entre 15 e 29 anos, do Estado de Minas Gerais, considerando um recorte histórico
de 2015 a 2019.
Com intuito de subsidiar as discussões sobre as polı́ticas públicas para a população
jovem de Minas Gerais, foram selecionados cinco pontos considerados relevantes para
a discussão, a saber: matrı́culas de jovens na Educação Básica; distorção idade-série,
rendimento escolar; avaliações educacionais e o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica - IDEB.
2015 1.385.265
2016 1.413.296
2017 1.392.311
2018 1.357.992
2019 1.206.154
Fonte: Censo Escolar/INEP - 2015 a 2019
M ATDk
T DIk = 100
M ATk
Onde:
Fonte: MEC/INEP, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
Fonte: MEC/INEP, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
Na zona rural, a taxa de distorção idade-série no Ensino Médio, de modo geral, variou
pouco entre 2015 a 2018 (cerca de 1,6%), com queda mais acentuada em 2019, atingindo
21,7%. No decorrer do perı́odo, a 1a série sempre apresentou maiores percentuais em
relação às demais, seguida da 2a série. Ao contrário das outras séries que apresentaram
uma queda entre as taxas apuradas em 2018 e 2019, a 3a série manteve-se em queda
constante até 2018 (20,7%), com pequena elevação no percentual em 2019 (21,6%).
A reta que representa o total de matrı́culas de estudantes em distorção idade-série no
Ensino Médio, em ambas áreas, apresenta resultados aproximados, oscilando entre 22,5%
e 27% (zona urbana) e 21,7% e 26,9% (zona rural). Contudo, na área urbana, há uma
tendência, ao longo do perı́odo histórico, de maiores distorções na idade-série de alunos
das primeiras séries, reduzindo nas séries/anos seguintes. Na zona rural, por sua vez, as
taxas de distorção entre as séries são mais similares, apenas a 1a série/ano supera, sempre,
as demais.
Capı́tulo 4. Educação 23
Figura 7 – Evolução da Taxa de Aprovação no Ensino Médio, zona urbana, por série –
Minas Gerais, no perı́odo de 2015 a 2018.
Fonte: MEC/INEP, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
(2) O nı́vel de ensino Não-Seriado diz respeito às turmas de Ensino Médio não divididas em série.
Figura 8 – Evolução da Taxa de Aprovação no Ensino Médio, zona rural, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018
Fonte: MEC/INEP, 2020. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
(2) O nı́vel de ensino Não-Seriado diz respeito às turmas de Ensino Médio não divididas em série.
acentuado na 1a série entre os anos 2017 (83,7%) e 2018 (81,1%). Ademais, as taxas de
aprovação se elevam com o crescimento da série. (Figura 8).
Comparando-se as duas localizações, observa-se que para o Ensino Médio, a zona
Capı́tulo 4. Educação 25
rural alcança taxas de aprovação superiores à zona urbana, com mı́nimo apurado de 87,5
e máximo de 80,9 para a área rural e na urbana entre 79,8 e 80,9.
Figura 9 – Evolução da Taxa de Reprovação no Ensino Médio, zona urbana, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018.
Fonte: MEC/INEP, 2020. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
(2) O nı́vel de ensino Não-Seriado diz respeito às turmas de Ensino Médio não divididas em série.
Figura 10 – Evolução da Taxa de Reprovação no Ensino Médio, zona rural, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018.
Fonte: MEC/INEP, 2020. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
(2) O nı́vel de ensino Não-Seriado diz respeito às turmas de Ensino Médio não divididas em série.
Figura 11 – Evolução da Taxa de Abandono no Ensino Médio, zona urbana, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018.
Fonte: MEC/INEP, 2020. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
(2) O nı́vel de ensino Não-Seriado diz respeito às turmas de Ensino Médio não divididas em série.
Figura 12 – Evolução da Taxa de Abandono no Ensino Médio, zona rural, dividida por
série – Minas Gerais, 2015 a 2018.
Fonte: MEC/INEP, 2020. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nota: (1) O nı́vel de ensino 4a Série do Ensino Médio corresponde aos estudantes das etapas: Normal
Magistério e Ensino Profissionalizante.
(2) O nı́vel de ensino Não-Seriado diz respeito às turmas de Ensino Médio não divididas em série.
Capı́tulo 4. Educação 28
Para avaliações de larga escala como o PROEB, uma das metodologias utilizadas é a
Teoria da Resposta ao Item (TRI). Ela permite colocar, em uma mesma escala (régua),
os itens e as habilidades dos estudantes. A partir de pré-testes, define-se a proficiência
dos itens e a dos estudantes, o que possibilita alocá-los, conforme a sua proficiência, em
um ponto da régua, numerada de 0 a 500.
Fonte: SIMAVE, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Fonte: SIMAVE, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Fonte: SIMAVE, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
e área de conhecimento avaliadas. Por sua vez, o nı́vel baixo corresponde a um nı́vel
muito inferior ao mı́nimo esperado para a etapa de escolaridade e área do conhecimento
avaliadas.
Os valores de proficiência média a serem alcançados para figurar o nı́vel de aprendizado
recomendado são diferentes para cada componente, devido às construções particulares de
cada matriz de referência. Em Lı́ngua Portuguesa, por exemplo, o aprendizado recomen-
dado é atingido em valores iguais ou superiores a 300 pontos, já em Matemática está faixa
abarca valores iguais ou superiores a 350.
Embora os dois componentes apresentem a mesma distância entre os valores máximos e
mı́nimos obtidos de 3,7 pontos, observa-se que em Matemática a queda foi mais gradativa,
atingindo o valor mı́nimo em 2017. Além disso, em Lı́ngua Portuguesa a recuperação foi
melhor que em Matemática.
Fonte: SIMAVE, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
rem ao decorrer do perı́odo (2015 a 2018), há uma tendência a permanecerem constantes,
sem mudanças significativas.
Fonte: SIMAVE, 2019. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
os estudantes da Educação Básica e, com isso, refletindo nos resultados das avaliações
externas e internas.
4.5.1 Resultado IDEB do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e 2017
- Minas Gerais, 2015 e 2017
Figura 18 – Resultado IDEB do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e 2017 -
Minas Gerais, 2015 e 2017.
Fonte: MEC/INEP, 2018. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
Nos anos de 2015 e 2017, o Ensino Médio regular de Minas Gerais obteve resultado
de 3,7 e 3,9 no IDEB, respectivamente, elevando 0,2 pontos. Mesmo com a elevação, não
foram alcançadas as metas estabelecidas. Conforme se observa pela linha da projeção, o
Capı́tulo 4. Educação 34
resultado esperado para 2017 foi ainda mais distante que o de 2015, com diferença de 2,2
pontos entre a projeção e o IDEB apurado.
4.5.2 Nota SAEB do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e 2017
Figura 19 – Nota SAEB do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e 2017
Fonte: MEC/INEP, 2018. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
4.5.3 Nota Média Padronizada do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015
e 2017
Para que uma proficiência não “pese” mais que a outra no cálculo, elas são tratadas
para terem mesma variação (de 0 a 10). Assim, realiza-se a padronização que é o quanto
cada proficiência representa percentualmente na variação do IDEB. Entre 2015 e 2017, o
Ensino Médio Regular cresceu, 0,22, saindo de 4,55 em 2015 para 4,77 em 2017.
Desse modo, fica evidente que, em relação ao indicador de qualidade educacional,
Minas Gerais está abaixo do esperado (projeções) e, embora apresente crescimento nas
Capı́tulo 4. Educação 35
Figura 20 – Nota Média Padronizada do Ensino Médio Regular - Minas Gerais, 2015 e
2017.
Fonte: MEC/INEP, 2018. Elaboração: Diretoria de Avaliação da Aprendizagem/ SAE/ SB/ SEE-MG.
médias de desempenho do Saeb, não é o suficiente para equilibrar com as baixas taxas de
rendimento escolar.
Diante de todo o exposto, planejar e executar ações que visem a garantia de uma
educação de qualidade é extremamente necessário, não só para as juventudes mineiras
para todos os estudantes da Educação Básica.
36
5 Trabalho
15 a 19 anos entre 2017 e 2018, que subiu de 43,4% para 45,9%. Em 2019, a taxa desse
grupo voltou ao mesmo patamar observado em 2017.
Figura 22 – Taxa de participação dos jovens (15 a 29 anos), segundo gênero e raça em
Minas Gerais, 2019
considerados: os homens negros apresentam a maior taxa de participação nessa idade (%),
enquanto as mulheres brancas registram 30,9% de participação na força de trabalho. Os
homens negros, de fato, apresentam a maior taxa de participação em todos os grupos de
idade. É importante ressaltar a diferença de gênero na participação na força de trabalho.
As mulheres têm taxas inferiores em qualquer recorte de idade/raça. A maior diferença
observada é entre homens e mulheres negros, de 25 a 29 anos: enquanto 91,4% dos homens
estão ocupados ou procurando trabalho, a taxa de participação das mulheres é de 73,4%.
Figura 24 – Taxa de desocupação dos jovens (15 a 29 anos), segundo gênero e raça em
Minas Gerais, 2019
5.3 Informalidade
O desafio do primeiro emprego, a falta de experiência e as dificuldades colocadas pela
crise econômica tornam os jovens mais suscetı́veis ao desemprego. No entanto, mesmo
quando conseguem alguma ocupação, a inserção desses grupos no mercado de trabalho
tende a ser mais precária que a do restante da população. A elevada taxa de informalidade
de adolescentes e jovens é um dos indicadores dessa precariedade. A Figura 25 apresenta
a proporção dos ocupados que declarou ter trabalho informal, por grupo etário dos jovens
e também para o total da população de Minas Gerais, de 2015 a 2019.
A informalidade da população de Minas Gerais ficou em torno de 40% ao longo do
perı́odo analisado. O maior percentual, de 44%, foi registrado em 2019. O grupo de 20
a 24 anos apresentou valores próximos à média da população, e o maior percentual foi
de 45%, em 2018. O grupo de 25 a 29 anos apresentou valores inferiores à média da
população durante todo o perı́odo, mas foi o único grupo etário a registrar crescimento
da informalidade entre 2018 e 2019: de 38% para 41%. Os mais jovens, como mencionado
anteriormente, são os mais afetados pela informalidade. Além de estarem em um patamar
superior ao do restante da população, com um percentual de informalidade por volta de
Capı́tulo 5. Trabalho 40
Figura 26 – Taxa de informalidade dos jovens (15 a 29 anos), segundo gênero e raça em
Minas Gerais, 2019
Tabela 6 – Rendimento médio do trabalho principal recebido pelos jovens (15 a 29 anos),
segundo gênero e raça – Minas Gerais, 2019
Grupo Etário
Gênero e Raça Formais Informais
15 a 19 anos
Homem branco R$ 1.097,93 R$ 706,27
Homem negro R$ 1.095,45 R$ 687,67
Mulher branca R$ 957,88 R$ 661,73
Mulher negra R$ 951,45 R$ 588,32
20 a 24 anos Homem branco R$ 1.473,25 R$ 1.156,52
Homem negro R$ 1.303,85 R$ 1.123,20
Mulher branca R$ 1.327,51 R$ 931,51
Mulher negra R$ 1.237,76 R$ 781,66
25 a 29 anos Homem branco R$ 2.244,22 R$ 1.847,70
Homem negro R$ 1.796,77 R$ 1.427,97
Mulher branca R$ 1.902,18 R$ 1.724,29
Mulher negra R$ 1.370,95 R$ 1.120,04
Fonte: PNADc/IBGE. Valores referentes ao primeiro trimestre de 2019 e deflacionados
em relação a janeiro de 2020.
Figura 27 – Proporção de jovens (15 a 29 anos) que informaram não estudar e nem tra-
balhar, na semana de referência, segundo gênero e raça em Minas Gerais,
2019
Figura 28 – Proporção de jovens (15 a 29 anos) inscritos no CadÚnico que informaram ter
trabalhado na semana anterior à atualização do cadastro em Minas Gerais,
2015-2019
Porém, a principal função é diferente por raça. Entre homens e mulheres negros, o
trabalho por conta própria e a principal função (percentual de pessoas que informaram
ter feito algum trabalho por conta própria) chega a 50% entre as mulheres negras. Entre
os homens e mulheres brancos, por outro lado, o emprego com carteira assinada é o
mais informado. Cabe destacar também que o trabalho temporário em área rural é a
terceira função mais realizada pelos homens, tanto brancos quanto negros, uma vez que
o percentual daqueles que realizaram esse trabalho chega a 11% em ambos os grupos.
O quadro dos jovens entre 25 e 29 anos é mais uniforme. Para todos os subgrupos de
gênero/raça, o trabalho por conta própria foi a principal função realizada entre aqueles
que informaram ter trabalhado, seguido pelo emprego com carteira assinada. Novamente,
destaca-se o trabalho temporário em área rural entre os homens.
Em relação ao rendimento médio desses jovens, como indicado na Tabela 7, o público
na faixa etária de 25 a 29 anos recebe os maiores valores. O padrão de diferencial por
gênero e raça se mantém em todos os grupos etários. Assim como visto a partir dos dados
da PNAD, os homens brancos entre 25 e 29 anos têm o maior rendimento entre todos os
subgrupos analisados. Cabe destacar também o nı́vel muito inferior dos valores recebidos
pelos jovens de 15 a 19 anos, que, no geral, exercem a função de aprendiz.
Capı́tulo 5. Trabalho 45
Tabela 7 – Rendimento médio dos jovens (15 a 29 anos) inscritos no CadÚnico que infor-
maram ter trabalhado, segundo gênero e raça – Minas Gerais, 2019
Grupo etário
Gênero/raça Rendimento médio
15 a 19 anos
Homem branco R$ 31,01
Homem negro R$ 21,94
Mulher branca R$ 21,48
Mulher negra R$ 16,04
20 a 24 anos Homem branco R$ 244,80
Homem negro R$ 193,61
Mulher branca R$ 162,58
Mulher negra R$ 123,49
25 a 29 anos Homem branco R$ 450,17
Homem negro R$ 353,60
Mulher branca R$ 266,73
Mulher negra R$ 206,82
Fonte: CadÚnico. Valores referentes ao mês de dezembro de 2019 e deflacionados em
relação a janeiro de 2020.
Figura 29 – Estoque de vı́nculos ativos de jovens (15 a 29 anos) em Minas Gerais, 2014-
2018
Em 2018, os vı́nculos das pessoas entre 15 e 29 anos representaram quase 29% do total
de vı́nculos ativos no mercado de trabalho formal do Estado, segundo a Relação Anual
de Informações Sociais (RAIS). Como esperado, considerando os diferenciais na taxa de
participação na força de trabalho, a maior parte (49%) dos vı́nculos dos jovens era de
Capı́tulo 5. Trabalho 46
pessoas na faixa etária de 25 a 29 anos. O grupo entre 20 e 24 anos respondeu por 40%,
e o grupo da faixa de 15 a 19 anos por 11%.
Em relação à distribuição desses vı́nculos por gênero, não foram identificadas grandes
variações entre os grupos etários considerados, tampouco ao longo do tempo. Os homens
sempre respondem pela maior parte dos vı́nculos ativos, com um percentual que gira entre
56% e 58%.
As informações coletadas pela RAIS permitem ter um panorama das principais ocupações
que esses jovens estão desempenhando no mercado de trabalho formal. Os gráficos a seguir
apresentam a distribuição dos vı́nculos ativos em dezembro de 2018, segundo os grandes
grupos ocupacionais da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
Os mais jovens estão atuando, principalmente, em ocupações do grande grupo 4, que
agrega trabalhadores de servicos administrativos, como auxiliar de escritório, assistente
administrativo, operador de caixa, almoxarife, escriturário de banco, etc. O segundo
grupo em número de vı́nculos, da faixa etária entre 15 e 19 anos, é o grande grupo
5, pertencente aos trabalhadores das áreas de Serviços e Comércio, como vendedor do
comércio varejista, atendente de lojas e lanchonetes, repositor de mercadorias, garçom,
frentista, dentre outros. Em terceiro lugar, estão os grandes grupos 7 e 8, que contém
trabalhadores da produção industrial, cujas ocupações mais frequentes são embalador,
alimentador de linha de produção, ajustador mecânico e servente de obras.
No grupo da faixa de 20 a 24 anos, os mesmos três grupos ocupacionais predominantes
Capı́tulo 5. Trabalho 47
na faixa etária anterior continuam como os que mais concentram vı́nculos formais ativos.
É válido destacar que a proporção associada ao grande grupo 4 diminui em relação ao
observado entre os jovens de 15 a 19 anos. Nas idades entre 20 e 24 anos, ganha espaço
o grande grupo 3, que se refere aos técnicos de nı́vel médio e engloba ocupações como
técnico de enfermagem, assistente de vendas, técnico eletrônico, técnico em manutenção
em equipamentos de informática, dentre outros.
Finalmente, entre as pessoas entre 25 e 29 anos, os grupos ocupacionais 4, 5, 7 e 8
respondem por parcelas bastante similares do total de vı́nculos ativos. Nessas idades, além
da proporção de técnicos em nı́vel médio ser superior à observada no grupo de pessoas
com idades entre 20 e 24 anos, nota-se um crescimento da participação do grande grupo
2 em relação aos grupos mais jovens. Esse grupo se refere aos profissionais das áreas de
Ciências e Artes, nos quais se incluem enfermeiros, secretários executivos, farmacêuticos,
médicos, professores de ensino fundamental, contadores, administradores, etc.
48
6 Esporte
Em contrapartida, menos da metade (33,8%) das mulheres jovens que responderam ale-
garam ter praticado algum esporte ou atividade fı́sica, enquanto 66,2% afirmaram não ter
realizado nenhuma prática.
Sobre esses dados, da diferença da prática entre mulheres e homens, uma importante
informação foi encontrada na pesquisa feita pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento em 2017 - PNUD 2017, por meio dos próprios dados da PNAD de 2015.
Nesse estudo foi constatado que a principal diferença no percentual de homens e mulheres
envolvidos nas atividades fı́sicas e esportivas ocorre entre a população mais jovem e que
essa diferença diminui à medida que a idade aumenta. Isso pode ser observado na Figura
31, retirado do caderno da pesquisa desenvolvido pelo PNUD (2017).
Um ponto central de discussão, assim como também ressaltado pelo PNUD, é sobre
o papel do espaço escolar na construção dos conhecimentos e hábitos relacionados às
atividades esportivas e fı́sicas, onde se verifica a necessidade de uma nova abordagem nas
escolas. Nesse sentido, um possı́vel ponto de discussão seria o desenvolvimento de uma
nova perspectiva sobre a educação dos corpos, que rompa com a distinção das práticas
por gênero dentro do contexto da educação fı́sica e do meio esportivo em geral.
Em relação à cor ou raça do público analisado, a Figura 32 indica os valores para as
pessoas que se autodeclararam brancas, pardas ou pretas. Para todas as cores ou raças,
foi verificado um maior número de pessoas que não praticaram esporte ou atividade fı́sica
no perı́odo de referência, em relação às que praticaram. Além disso, foram constatados
valores semelhantes entre as cores ou raças apresentadas, tanto no grupo dos que praticam,
quanto no dos que não praticaram. A respeito do nı́vel de instrução dos praticantes,
a Tabela 8 indica que as pessoas sem instrução possuem a maior porcentagem para a
categoria “não praticou algum esporte ou atividade fı́sica” (70,9%).
Para os outros nı́veis de instrução, somente os grupos com ensino superior incompleto
Capı́tulo 6. Esporte 50
Figura 32 – Distribuição dos jovens mineiros que praticaram ou não algum esporte ou
atividade fı́sica no perı́odo de referência de 365 dias segundo a cor ou raça
Tabela 8 – Distribuição dos jovens que praticaram ou não algum esporte ou atividade
fı́sica no perı́odo de referência de 365 dias segundo o nı́vel de instrução. (Em
%)
Não praticou
Praticou algum
algum esporte
Nı́vel de Instrução esporte ou Total
ou atividade
atividade fı́sica
fı́sica
Sem instrução 20,1% 70,9% 100%
Fundamental incompleto ou
41,5% 58,5% 100%
equivalente
Fundamental completo ou
44,5% 55,6% 100%
equivalente
Médio incompleto ou equiva-
49,6% 50,4% 100%
lente
Médio completo ou equivalente 41,2% 58,9% 100%
Superior incompleto ou equiva-
51,4% 48,7% 100%
lente
Superior completo 50,9% 49,1% 100%
Fonte: PNAD (2015)
Tabela 9 – Distribuição dos jovens que praticaram ou não algum esporte ou atividade
fı́sica no perı́odo de referência de 365 dias segundo a classe de rendimento
mensal domiciliar per capita. (Em %)
Năo praticou
Praticou algum
Classe de rendimento mensal algum esporte
esporte ou Total
domiciliar per capita ou atividade
atividade fı́sica
fı́sica
Sem rendimento 45,6% 54,4% 100%
Até 1/4 salário mı́nimo 29,3% 70,7% 100%
Mais de 1/4 até 1/2 salário
41% 59% 100%
mı́nimo
Mais de 1/2 até 1 salário
43% 57% 100%
mı́nimo
Mais de 1 até 2 salários
48,1% 52% 100%
mı́nimos
Mais de 2 até 3 salários
52,4% 47,6% 100%
mı́nimos
Mais de 3 até 5 salários
60,9% 39,1% 100%
mı́nimos
Mais de 5 salários mı́nimos 53,6% 46,4% 100%
Fonte: PNAD (2015)
Figura 33 – Distribuição dos jovens mineiros que nunca praticaram esporte segundo o
nı́vel de instrução
Ainda sobre o perfil dos que nunca praticaram esporte, a Figura 34 indica que a
maioria (38,0%) possui classe de rendimento mensal domiciliar per capita de mais de
meio até 1 salário mı́nimo, seguido do grupo dos que possuem renda acima de 1 e até
Capı́tulo 6. Esporte 53
2 salários mı́nimos (23,0%) e dos que dispõem de renda de até meio salário mı́nimo.
Ou seja, é percebido que os que não possuem acesso ao esporte estão concentrados em
classes econômicas baixas. Neste caso, aqueles inseridos nas classes de rendimento mensal
domiciliar per capita de até 2 salários mı́nimos.
Figura 34 – Distribuição dos jovens mineiros que nunca praticaram esporte segundo a
classe de rendimento mensal domiciliar per capita
De forma geral, assim como na seção 6.1, também foram constatadas disparidades
relacionadas ao grupo social de pertencimento dos indivı́duos. Nesse caso, especialmente
no que diz respeito aos marcadores raça, sexo e renda.
esse debate, é preciso novamente que se reflita acerca da construção dos conhecimentos
sobre as atividades fı́sicas e esportivas, que ainda hoje distingue as práticas a partir do
gênero. Além disso, é urgente que as entidades públicas, responsáveis pela promoção das
atividades fı́sicas e esportivas, se atentem às questões relacionadas ao gênero, uma vez
que elas podem promover o impedimento da vivência de diversas práticas corporais as
mulheres.
Em relação a hegemonia das variadas modalidades do futebol entre os esportes mais
praticados pelos homens, essa é uma realidade que, em certa medida, demonstra reflexo
de um cenário nacional. Sobre isso, é importante que o poder público faça uma análise
sobre as polı́ticas esportivas fomentadas, para que se avalie se o foco está nessas modali-
dades. A avaliação parte do pressuposto de que essa situação poderia ocasionar em um
benefı́cio majoritário ao público masculino. Além disso, esses dados apontam que pode ser
necessário o desenvolvimento de discussões sobre a diversificação das práticas esportivas
e de atividades fı́sicas.
Figura 35 – Distribuição dos jovens mineiros que praticaram algum esporte no perı́odo de
referência de 365 dias segundo o motivo de ter praticado
Figura 36 – Distribuição dos jovens mineiros que praticaram alguma atividade fı́sica no
perı́odo de referência de 365 dias segundo o motivo de ter praticado
Figura 37 – Distribuição dos jovens mineiros que praticaram algum esporte no perı́odo de
referência de 365 dias segundo o motivo de não ter praticado
para o lazer, em que se vivencia as práticas esportivas. Nesse sentido, é importante que o
lazer e o esporte sejam entendidos tanto pelo poder público, quanto pela sociedade como
direitos fundamentais para a qualidade de vida do indivı́duo humano.
Além disso, também pode ser considerado, ao menos preocupante, o fato de 38,69%
dos jovens que não praticam esporte terem afirmado que sua motivação foi o fato de não
gostarem ou não quererem praticar. Conforme apontado pelo PNUD, esse poderia ser um
alerta para os agentes responsáveis pela promoção de atividades fı́sicas e esportivas no
paı́s. Ademais, conforme reforçado pela pesquisa, a falta de gosto pela prática esportiva
na juventude pode ter como consequência a geração de pessoas adultas que, por não terem
tido oportunidade de desenvolver suas capacidades, não vão optar por praticarem esportes
ou atividades fı́sicas em sua rotina.
atividades fı́sicas. Nesse sentido, acredita-se que essa é uma constatação relevante, uma
vez que se verifica a legitimidade dada pelos jovens às polı́ticas esportivas e de atividades
fı́sicas.
A pesquisa também apresentou a divisão da opinião dos jovens segundo o sexo. Entre
os homens, 89,3% afirmaram que o poder público deveria investir em esporte ou atividade
fı́sica. Em relação às mulheres, essa porcentagem foi semelhante, de 87,6%. Nesse sen-
tido, é importante ressaltar que, apesar de praticar menos atividades que os homens, as
mulheres acreditam na mesma proporção que as polı́ticas de esporte e de atividades fı́sicas
devem ser fomentadas pelo poder público. Dessa forma, é válida a reiteração da necessi-
dade de discussão sobre as oportunidades e educação desiguais das práticas esportivas e
de atividades fı́sicas entre os homens e mulheres jovens.
7 Segurança Pública
7.1 Homicı́dios
A morte prematura de jovens (15 a 29 anos) por homicı́dio é um fenômeno que vem
crescendo no Brasil desde a década de 1980, conforme aponta o Atlas da Violência de 2019
(CERQUEIRA et al., 2019). O homicı́dio foi em 2017 a principal causa de morte entre
os jovens brasileiros - foram 35.783 assassinados no Brasil, o que representa uma taxa
de 69,9 homicı́dios para cada 100 mil jovens no paı́s, taxa recorde nos últimos dez anos.
Naquele ano, Minas Gerais, apesar de ter apresentado uma taxa inferior à média nacional
(44,2 para cada 100 mil jovens) contabilizou um número absoluto de 2.217 pessoas de 15
a 29 anos.
Com a chamada “escalada da violência armada”, Cerqueira e Moura (2013) traçam
um perfil desses jovens vitimizados: são tipicamente homens, pardos, com 4 a 7 anos de
estudo, mortos nas vias públicas, por armas de fogo, nos momentos em que há maior
interação social, ou seja, aos finais de semana e nos meses de outubro a março, quando é
primavera/verão e há festas de fim de ano e carnaval.
Os autores apontam que a letalidade juvenil também gera impactos sobre o desen-
volvimento econômico e acarretam substanciais custos para o paı́s: as mortes violentas
de jovens custam cerca de R$ 79 bilhões a cada ano, o que correspondeu a 1,5% do PIB
nacional em 2010.
Este diagnóstico apresenta alguns dados sobre o perfil dos jovens vı́timas de homicı́dios
em Minas Gerais. As informações foram extraı́das do Sistema de informações sobre Mor-
talidade (SIM) do Ministério da Saúde e foram considerados os grupos etários de 15 a 29
anos.
volta para cerca de 500 entre jovens de 25 a 29 anos, sendo sempre superior à taxa média
da população de Minas Gerais.
Figura 38 – Número de vı́timas de homicı́dio por faixa etária em Minas Gerais (2018)
Fonte: SIM/CPDE/DIE/SVE/SubVS/SESMG.
Grande Grupo CID10: X85-Y09 Agressões, Y35-Y36 Intervenções legais e operações de
guerra.
Dados de 2017 a 2019 atualizados em 02 de setembro de 2019, portanto sujeitos a al-
terações.
Fonte: SIM/CPDE/DIE/SVE/SubVS/SESMG.
Grande Grupo CID10: X85-Y09 Agressões, Y35-Y36 Intervenções legais e operações de
guerra.
Dados de 2017 a 2019 atualizados em 02 de setembro de 2019, portanto sujeitos a al-
terações.
Essa maior predominância dos homens entre as vı́timas de homicı́dio é explicada por
Souza (2005) apud Moura et al (2015, p. 783-784):
Capı́tulo 7. Segurança Pública 61
Além disso, estudo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (DRUGS
et al., 2011) aponta que “os homens jovens têm mais probabilidades de possuir armas
e participar de crime de rua, de guerras de gangues e cometer crimes relacionados com
as drogas” (UNODC, 2011), com a maioria das vı́timas sendo assassinadas em locais
públicos. Já entre as mulheres, é mais comum que as vı́timas sejam mortas dentro de
sua própria residência e frequentemente os assassinos são familiares ou outras pessoas
conhecidas.
Nesse sentido, é importante frisar as diferentes causas dos homicı́dios de homens e
mulheres uma vez que seu enfrentamento exige respostas e polı́ticas públicas distintas.
Além do viés de sexo/gênero, há também um forte viés racial: 73,4% das vı́timas de
homicı́dio são negras (definidos como a soma de indivı́duos pretos e pardos, segundo a
classificação do IBGE), ao passo que 23,1% são brancas, conforme se vê na Figura 40,
enquanto na população geral a proporção é de 63,83% de jovens negros e 35,98% de jovens
brancos.
Fonte: SIM/CPDE/DIE/SVE/SubVS/SESMG.
Grande Grupo CID10: X85-Y09 Agressões, Y35-Y36 Intervenções legais e operações de
guerra.
Dados de 2017 a 2019 atualizados em 02 de setembro de 2019, portanto sujeitos a al-
terações.
Tabela 10 – População prisional em Minas Gerais, por ano e por classificação de idade.
Ano Pop. total Pop. 18-29 anos Pop. 30+ Porc. pop. 18-29 anos
2015 60.977 22.679 38.298 37,19%
2016 63.427 26.487 36.940 41,76%
2017 68.763 31.093 37.670 45,22%
2018 74.973 36.425 38.548 48,58%
2019 76.278 38.498 37.780 50,47%
Fonte: Infopen/Sigpri
Notas: 1) dados referentes ao dia 1o de julho de cada ano.
Capı́tulo 7. Segurança Pública 64
Figura 41 – População prisional em Minas Gerais, por ano e por classificação de idade
Fonte: Infopen/Sigpri
Notas: 1) dados referentes ao dia 1o de julho de cada ano.
Capı́tulo 7. Segurança Pública 65
Figura 42 – Admissões no sistema prisional em Minas Gerais, por mês e por classificação
de idade
Fonte: Infopen/Sigpri
Figura 43 – Desligamentos no sistema prisional em Minas Gerais, por mês e por classi-
ficação de idade
Fonte: Infopen/Sigpri
Faz-se necessário destacar, contudo, que parte do aumento observado se deve à cres-
cente assunção da gestão das antigas carceragens e cadeias públicas de responsabilidade
da Polı́cia Civil para dentro da estrutura da Secretaria estadual responsável pelo sistema
prisional, que terminou somente em 2017.
Capı́tulo 7. Segurança Pública 66
Figura 44 – População jovem privada de liberdade em Minas Gerais por cor de pele - 2019
Fonte: Infopen/Sigpri
Notas: 1) dados referentes ao dia 1o de julho de cada ano.
Tabela 11 – População jovem privada de liberdade em Minas Gerais, por ano e por cor
de pele.
Tabela 12 – População privada de liberdade em Minas Gerais, por ano e por sexo.
Figura 45 – População jovem privada de liberdade em Minas Gerais, por ano e por esco-
laridade
Fonte: Infopen/Sigpri
Notas: 1) dados referentes ao dia 1o de julho de cada ano; 2) EF é o ensino
fundamental, considerado entre o 1o e o 9o anos; EM é o ensino médio, considerado entre
seus 1o e 3o anos.
68
8 Saúde
não respeito do nome social e agressões verbais, fı́sicas e psı́quicas. Referente à saúde de
travestis e transexuais, especificamente, ainda existem dificuldades no acesso seguro aos
procedimentos de hormonização e redesignação sexual previstos da PORTARIA No 2.803,
DE 19 DE NOVEMBRO DE 2013, que redefine o Processo Transexualizador, o que leva
essas pessoas a recorrerem à automedicação e outros procedimentos clandestinos a fim
de realizar as alterações corporais desejadas. A literatura também aponta para agravos
da saúde fı́sica e mental mais comuns entre a juventude LGBT como taxas mais altas de
depressão, ansiedade, tabagismo, abuso de álcool e outras substâncias, suicı́dio, estresse
crônico, isolamento social e desconexão de uma série de serviços de saúde e acolhimento.
Em relação à população indı́gena, o Ministério da Saúde afirma que a situação de
saúde dos Povos Indı́genas é geralmente pior que a dos não indı́genas (BRASIL, 2016b),
sendo comum agravos à saúde decorrentes da falta de saneamento e mudanças cultu-
rais. As principais causas de morbimortalidade nos povos indı́genas brasileiros ainda
são as doenças parasitárias e infecciosas como tuberculose, malária, hepatites, diarreia
e infecções respiratórias. Os resultados do Primeiro Inquérito Nacional sobre Saúde e
Nutrição dos Povos Indı́genas (2009) demonstram os altos nı́veis de anemia, principal-
mente nas mulheres em idade reprodutiva. Ainda de acordo com o referido Inquérito,
paralelamente à desnutrição e anemia, estudos recentes têm chamado atenção para a
rápida emergência de sobrepeso e obesidade em jovens e adultos indı́genas, assim como as
doenças crônicas não transmissı́veis, como hipertensão arterial e diabetes mellitus nas di-
ferentes macrorregiões do paı́s. Diante disso, diversos estudos apontam para as mudanças
epidemiológicas em relação à saúde dos povos indı́genas. Além das doenças infecciosas,
parasitárias e as doenças crônicas, somam-se a essas os agravos relacionados às causas
externas, como os acidentes, as violências, os homicı́dios, os suicı́dios, os problemas refe-
rentes ao sofrimento mental e ao uso excessivo de bebidas alcoólicas não tradicionais e de
outras drogas (BRASIL, 2016).
A juventude privada de liberdade no sistema prisional e socioeducativo convive com
condições precárias de encarceramento, marcadas pela superlotação, celas escuras e sem
ventilação que fazem com que alguns agravos sejam mais comuns nessa população quando
comparado à população geral, como doenças respiratórias, tuberculose, dermatoses, agra-
vos em saúde mental, Infecções Sexualmente Transmissı́veis, entre outras, agravadas pela
dificuldade no acesso à saúde.
Assim, é imprescindı́vel reconhecer a dimensão de classe, gênero, raça/etnia e território
em suas particularidades para que seja possı́vel pensar ações e polı́ticas públicas que irão
atender às necessidades especı́ficas de saúde das juventudes brasileiras, oferecendo uma
saúde integral que compreenda a promoção da saúde e o reconhecimento da autonomia e
do protagonismo dos/das jovens nos seus projetos de vida.
Para isso é importante fortalecer as redes de atenção à saúde e o trabalho da Atenção
Primária à Saúde enquanto coordenadora do cuidado, buscando a integralidade da atenção
Capı́tulo 8. Saúde 70
nos serviços, qualificando todos os profissionais quanto ao acolhimento dos jovens, atentando-
se para suas necessidades nutricionais, biológicas, psicológicas e sociais em todas as etapas
do desenvolvimento humano.
Pensar as ações em saúde para as juventudes pressupõe a articulação intrasetorial e
intersetorial com outras polı́ticas públicas e equipamentos do território em que se encon-
tram os serviços e que ampliem a busca direta dos adolescentes e jovens aos serviços de
saúde. Parcerias em projetos de Educação e Saúde nas escolas, qualificação das reuniões
intersetoriais para acompanhamento de situações de maior vulnerabilidade e parcerias
com projetos de Secretarias de Cultura, Esporte e Lazer dos municı́pios são fundamentais
neste sentido.
Sob esta perspectiva, compreende-se que é importante dar ao jovem a oportunidade de
participar da construção, execução e avaliação das ações de saúde, desenvolvendo também
o protagonismo juvenil, dando autonomia e apoio e ampliando seus direitos e cidadania.
las de ensino regular devidamente cadastradas no Censo Escolar (Realizado pelo INEP).
Foram entrevistados 118.909 estudantes, de 13 a 17 anos. A PeNSE 2015 contemplou
questões sobre aspectos socioeconômicos; contexto familiar; hábitos alimentares; prática
de atividade fı́sica; experimentação e consumo de cigarro, álcool e outras drogas; saúde
sexual e reprodutiva; violência, segurança e acidentes; utilização de serviços de saúde,
entre outros aspectos.
No que diz respeito à Saúde Sexual e Reprodutiva, a PeNSE apresenta que o percentual
de escolares que já tiveram iniciação sexual aumenta com a idade, considerando que no
grupo etário de 13 a 15 anos o percentual era 27,0%, enquanto no grupo etário de 16 a
17 anos, mais da metade dos alunos já tiveram relação sexual (54,7%).
Os resultados indicaram ainda que, 34,5% dos escolares de 13 a 15 anos de idade, do
sexo masculino, já tiveram relação sexual alguma vez, enquanto que, entre as meninas
deste grupo etário, o percentual era de 19,3%. Na faixa etária de 16 a 17 anos, 59,9% dos
escolares do sexo masculino já haviam tido relação sexual, enquanto que para a mesma
faixa etária, o percentual entre as meninas foi de 49,7%.
A análise por grupos de idade mostrou que os escolares mais jovens de 13 a 15 anos de
idade que já iniciaram a vida sexual, 59,7% usaram preservativo na primeira relação. No
grupo etário de 16 a 17 anos o percentual foi de 68,2%. Os resultados que se referem ao
uso de preservativo na última relação sexual indicam que o comportamento dos escolares
pouco se altera na comparação com o percentual de uso de preservativo na iniciação sexual.
No grupo de escolares de 13 a 15 anos de idade, 60,3% responderam usar preservativo na
última relação sexual; no grupo etário de 16 a 17 anos, esse percentual foi de 65,6%.
No que se refere ao uso de método contraceptivo e de prevenção de infecções sexu-
almente transmissı́veis (ISTs) na última relação, os resultados indicaram que 69,5% dos
escolares com idades de 16 a 17 anos usaram algum método para se protegerem. Assim
como observado no indicador de uso de preservativo na primeira relação, os mais jovens
foram os que menos se protegeram (59,6%).
Proporção de
Nascidos vivos de
Total de nascidos nascidos vivos de
Raça/Cor mães com 10-19
vivos mães adolescentes
anos
com 10-19 anos
Branca 9.093 82.782 10,98%
Preta 2.869 18.912 15,17%
Amarela 194 1.314 14,76%
Parda 22.237 131.427 16,92%
Indı́gena 108 492 21,95%
Ignorado 2.567 18.481 13,89%
Total 37.068 253.408 14,63%
(a) Fonte: SINASC/CPDE/DIE/SVE/SubVS/SESMG (b) Consulta em 03 de janeiro de
2020.
gravidez na adolescência por Região Intermediária (2016). Na Figura 46, pode-se perceber
que os casos se concentram principalmente nas regiões intermediárias de Teófilo Otoni e
de Montes Claros, sendo as regiões intermediárias com menor proporção são as de Belo
Horizonte e Barbacena.
8.2.2.1 HIV/Aids
balha com categorias de exposição, sendo elas: “sexual (heterossexual, homossexual e bis-
sexual); sanguı́nea (usuários de drogas injetáveis - UDI, transfusão sanguı́nea, hemofı́lico
e acidente de trabalho); e transmissão vertical.” (BRASIL, 2010)(BRASIL, 2010).
As Figuras 52 e 53 demonstram que a principal categoria de exposição é sexual, sendo
que entre os homens a exposição é maior na população homossexual e entre as mulheres
na população heterossexual.
A faixa etária estudada em relação a categoria Gestante HIV, representa 61% do total
de notificações da população geral. Essa faixa etária, inserida no perı́odo da fertilidade
feminina contribui para a significante porcentagem de notificações. Nas figuras abaixo
é possı́vel verificar as notificações das gestantes HIV nas faixas propostas, bem como a
apresentação desses dados em subcategorias.
Na sequência apresentamos os dados de HIV Gestantes, relativos às notificações por
faixa etária 15 a 29 anos, faixa etária detalhada e raça/cor extraı́dos do banco de dados
do SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação no perı́odo compreendido
entre 2015 e 2018.
Além da alta concentração na população jovem em relação à população geral, vemos
que os casos concentram-se ainda mais na população negra, como demonstra a Figura 56,
uma vez que elas representam de 70% a 75% dos casos, enquanto são cerca de 65% das
jovens mineiras. Vale ressaltar também que o número de diagnóstico de HIV Gestante
entre as jovens segue o mesmo padrão de diagnósticos de HIV apresentados na seção
anterior, prevalecendo a idade de 25 a 29 anos.
Capı́tulo 8. Saúde 81
Figura 54 – HIV Gestante por Faixa Etária 15 a 29 Anos e Ano de Diagnóstico em Minas
Gerais - 2015 a 2018
Figura 55 – HIV Gestante por Faixas Etárias e Ano de Diagnóstico em Minas Gerais -
2015 a 2018
Figura 56 – HIV Gestante por Faixas Etárias e Raça/Cor em Minas Gerais – 2015 a 2018
8.2.2.3 Sı́filis
A sı́filis é uma infecção bacteriana sistêmica, crônica, curável e exclusiva do ser hu-
mano. Quando não tratada, evolui para estágios de gravidade variada, podendo acometer
diversos órgãos e sistemas do corpo. Trata-se de uma doença conhecida há séculos; seu
agente etiológico, descoberto em 1905, é o Treponema pallidum, subespécie pallidum.
Sua transmissão se dá principalmente por contato sexual; contudo, pode ser transmitida
verticalmente para o feto durante a gestação de uma mulher com sı́filis não tratada ou
tratada de forma não adequada (BRASIL, 2017b).
A maioria das pessoas com sı́filis são assintomáticas; quando apresentam sinais e sin-
tomas, muitas vezes não os percebem ou valorizam, e podem, sem saber, transmitir a
infecção às suas parcerias sexuais. Quando não tratada, a sı́filis pode evoluir para formas
mais graves, comprometendo especialmente os sistemas nervoso e cardiovascular (ROLFS
et al., 1997). Na gestação, a sı́filis pode apresentar consequências severas, como abor-
tamento, prematuridade, natimortalidade, manifestações congênitas precoces ou tardias
e/ou morte do recém-nascido (RN). O Brasil, assim como muitos paı́ses, apresenta uma
reemergência da doença (BRASIL, 2019c).
tempo.
A sı́filis adquirida é um agravo de notificação compulsória desde 2010, conforme Por-
taria de Consolidação N 4, de 28 de setembro de 2017. Esta doença vem afetando os
segmentos mais jovens da população brasileira, sobretudo a faixa etária entre 20 e 29
anos, reforçando a necessidade de intensificar ações de prevenção, e sensibilização deste
público para a relevância do agravo.
Em continuidade apresentamos os dados deste agravo, relativos às notificações por
faixa etária 15 a 29 anos, faixa etária detalhada, sexo e raça/cor extraı́dos do banco de
dados do SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação no perı́odo compre-
endido entre 2015 e 2018.
Os dados elencados apontam que há um constante aumento dos números de casos de
sı́filis adquirida na população jovem em Minas Gerais (Figura 57), sendo que a faixa etária
de 20 a 24 anos é a que concentra um maior número de casos, em comparação com as
demais faixas 15 a 19 e 25 a 29 anos (Figura 58). Em relação ao diagnóstico do agravo
entre homens e mulheres, observa-se que as faixas etárias de 20 a 24 anos e de 25 a 29
anos, os homens são os mais afetados, em relação à faixa etária de 15 a 19 anos, há uma
pequena diferença entre os casos entre jovens homens e mulheres (Figura 59).
Por fim, em relação à raça/cor, não foi identificada predominância dos casos em ne-
nhuma uma raça especı́fica, com o maior número de caso entre jovens negros (pardos e
Capı́tulo 8. Saúde 84
Figura 58 – Sı́filis Adquirida por Faixas Etárias e Ano de Diagnóstico em Minas Gerais –
2015 a 2018
Figura 59 – Sı́filis Adquirida por Faixas Etárias e Sexo em Minas Gerais – 2015 a 2018
pretos) estando de acordo com o maior número desses jovens em Minas Gerais (Figura
60). Vale destacar que este gráfico possui altos números de dados ignorados ou brancos.
Capı́tulo 8. Saúde 85
Figura 60 – Sı́filis Adquirida por Faixas Etárias e Raça/Cor em Minas Gerais – 2015 a
2018
Na Sı́filis em gestantes, o agente etiológico pode ser transmitido para o feto, mais
frequentemente intraútero, embora também possa ocorrer durante a passagem do feto
pelo canal de parto (se houver presença de lesão ativa). A transmissão ocorre em torno de
70 a 100% quando a gestante apresenta sı́filis primária ou secundária (BRASIL, 2017b).
A sı́filis gestacional é passı́vel de prevenção quando a gestante infectada por sı́filis, é
tratada adequadamente e em tempo oportuno, bem como sua parceria.
Os casos de sı́filis em gestantes notificados apresentam aumento progressivo ao longo
dos anos em Minas Gerais, com destaque para os anos de 2017 (4.086 casos) e 2018 (5.521
casos). O aprimoramento do sistema de vigilância associado à ampliação da testagem
rápida nos serviços de saúde podem justificar esse aumento. Também podemos observar
que o número de notificações de Sı́filis em gestante na faixa etária de 15 a 29 anos é
expressivo quando comparado ao número de notificações geral.
Finalizando os agravos em IST, apresentamos os dados de Sı́filis Gestante, relativos às
notificações por faixa etária 15 a 29 anos, faixa etária detalhada e raça/cor extraı́dos do
banco de dados do SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação no perı́odo
compreendido entre 2015 e 2018.
Quanto aos agravos Hepatite B e C, o número de notificações nas faixas etárias pro-
postas são pouco significativas, por esse motivo, não serão apresentados neste diagnóstico.
Capı́tulo 8. Saúde 86
Figura 61 – Sı́filis Gestante por Faixa Etária 15 a 29 Anos e Ano de Diagnóstico em Minas
Gerais – 2015 a 2018
Figura 62 – Sı́filis Gestante por Faixas Etárias e Ano de Diagnóstico em Minas Gerais –
2015 a 2018
Figura 63 – Sı́filis Gestante por Faixas Etárias e Raça/Cor em Minas Gerais – 2015 a
2018
dade, que resulta ou tem grande probabilidade de resultar em ferimentos, morte, prejuı́zos
psicológicos, problemas de desenvolvimento ou privação. ” (OMS, 2002, p.5).
De acordo com a OMS a violência pode ser classificada em três categorias: interpessoal,
coletiva e auto infligida, sendo que essa última engloba o comportamento suicida (suicı́dio,
tentativa de suicı́dio e ideação suicida).
Em virtude da complexidade do agravo o Ministério da Saúde (MS) implantou em
2006 o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), com o objetivo de coletar
dados e gerar informações sobre violências e acidentes, a fim de subsidiar a construção
de polı́ticas públicas em saúde. Os dados de violência são coletados através da Vigilância
contı́nua por meio da Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada e
inseridos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Em 2011, a notificação de violência passou a integrar a lista de notificação compulsória,
universalizando a notificação para todos os serviços de saúde do paı́s. No ano de 2014, o
MS estabeleceu a notificação imediata a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), em até 24
horas, das tentativas de suicı́dio e violência sexual, visando a tomada rápida de decisão
como: encaminhamento e vinculação do paciente aos serviços de atenção psicossocial,
acesso à contracepção de emergência e às medidas profiláticas de doenças sexualmente
transmissı́veis e hepatites virais em até 72 horas da agressão (BRASIL, 2015). Atualmente,
a legislação vigente sobre os agravos de notificação compulsória está contida na Portaria
de Consolidação n 04, de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde.
As notificações são uma dimensão da Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde
de Crianças, Adolescentes e suas famı́lias em situação de violência que prevê também o
acolhimento, o atendimento, os cuidados profiláticos, o tratamento, o seguimento na rede
de cuidado e a proteção social, além das ações de vigilância, prevenção das violências e
promoção da saúde e da cultura da paz (BRASIL, 2010).
Os dados coletados das notificações contribuem para analise do cenário histórico da
violência, conforme demonstrado na Figura 64, que apresenta o número de notificações
de violência interpessoal/autoprovocada na faixa etária de 15 a 29 anos, de 2015 a 2018
em Minas Gerais. Verifica-se aumento das notificações de violência durante o perı́odo
analisado, sendo o ano de 2018 com maior registro de notificações de violência, 27,55%,
do total de notificações de violência registradas nos 04 anos (n = 71.769).
A Figura 65 demonstra os tipos de violência notificados, na faixa etária de 15 a 29
anos, de 2015 a 2018. Verifica-se que a violência fı́sica se destacou em relação às ou-
tras violências com 51,81%, seguida da lesão autoprovocada com 17,13% e da violência
psicológica 16,98%.
A Figura 66 apresenta o número de notificações de violência na população de 15 a
29 anos no perı́odo de 2015 a 2018, segundo raça/cor. A raça parda apresentou maior
percentual de notificações, 48,51%, seguida da branca com 38,28%, preta 11,90%, amarela
0,92% e indı́gena 0,36%. O percentual de informações ignoradas ou em branco totalizou
Capı́tulo 8. Saúde 89
9,94%.
Observa-se na Figura 67 as notificações de Lesão Autoprovocada segundo sexo e faixa
etária de 15 a 29 anos, no perı́odo de 2015 a 2018. É possı́vel verificar que o sexo feminino
apresentou maior percentual de notificações no perı́odo analisado, com 68,43%, enquanto
o sexo masculino apresentou o percentual de 31,56%, em relação ao total das notificações
(n =18905).
A Figura 68 apresenta o percentual de notificações de lesão autoprovocada e violência
interpessoal na faixa etária de 15 a 29 anos de 2015 a 2018. Constata-se que a violência
interpessoal apresentou percentual maior de notificação, 75,50% (n=19.774) em relação a
lesão autoprovocada, 24,49% (n=6.414).
A Figura 69 aponta os casos notificados de tentativas de suicı́dio na ficha de inves-
tigação de intoxicação exógena, na faixa etária de 15 a 29 anos de 2015 a 2018. Do total
das notificações de intoxicação exógena (n= 42.805), 37,35% (n=15.988) foi de tentativa
de suicı́dio.
(4,9%) foram os que mais afirmaram sentirem-se humilhados, na maior parte do tempo
ou sempre.
Ainda no contexto de violência sofrida, os resultados indicaram que 4,7% dos escolares
com idades de 13 a 15 anos e 4,5% dos escolares de 16 a 17 anos de idade já foram forçados
a ter relação sexual. A diferenciação entre os sexos é maior na faixa etária dos 13 a 15anos,
sendo 5,2% o percentual para o sexo masculino e 4,3% o percentual para o sexo feminino.
Com relação aos acidentes, que também possuem impacto na morbimortalidades das
juventudes, a PeNSE sinaliza que os riscos no trânsito são potencializados quando o
condutor ingere bebidas alcoólicas. O percentual de escolares que andaram em veı́culo
motorizado, cujo condutor havia ingerido bebida alcoólica foi de 25,4%. Os escolares do
sexo masculino foram os que mais reportaram essa situação: 27,0% para o grupo etário
de 13 a 15 anos e, 26,5% para o grupo de 16 a 17 anos de idade.
Ainda para subsidiar a discussão, apresentamos alguns dados levantados pelo 3o Le-
vantamento Nacional sobre o Uso de Drogas (BASTOS et al., 2017) sobre o padrão de
consumo de múltiplas drogas na população brasileira, fazendo aqui o recorte da juventude.
De acordo com a pesquisa, a substância ilı́cita mais consumida no Brasil é a maconha:
7,7% dos brasileiros de 12 a 65 anos já a usaram ao menos uma vez na vida. Em segundo
lugar, fica a cocaı́na em pó: 3,1% já consumiram a substância. Nos 30 dias anteriores
à pesquisa, 0,3% dos entrevistados afirmaram ter feito uso da droga.A pesquisa revela
ainda que o ı́ndice de consumo de álcool no Brasil é mais alarmante do que o do uso
de substâncias ilı́citas,apresentando inclusive relação importante entre uso de álcool e
violência. Aproximadamente sete milhões (34,3%) dos indivı́duos menores de 18 anos
reportaram ter consumido álcool na vida, e 22,2% consumiram nos últimos 12 meses. A
pesquisa revelou ainda que cerca de 1,3 milhões de adolescentes de 12 a 17 anos já consu-
miram cigarros industrializados na vida. O consumo nos últimos 30 dias é reportado por
cerca de 2,4% dos adolescentes, o que corresponde aquase meio milhão de adolescentes e
jovens.
O consumo de substâncias ilı́citas na vida, nos últimos 12 meses e nos 30 dias an-
teriores se concentrou claramente nas faixas etárias intermediárias, especialmente entre
os adultos mais jovens (25-34 anos), com valores igualmente mais elevados, embora não
tão pronunciados nas faixas mais próximas (18-14 anos e 35-44 anos). De forma com-
plementar, observam-se estimativas mais baixas nas faixas que poderı́amos definir como
extremas, no contexto das faixas etárias compreendidas pelo levantamento, com padrões
de consumo substancialmente mais baixos entre os muito jovens (12-17 anos) e mais velhos
(55-65 anos).
É importante notar que entre os adolescentes (12-17 anos) que consumiram álcool, a
prevalência de dependência foi de 2,6%, enquanto na população total de adolescentes nessa
faixa etária foi de 0,6%. A razão entre a prevalência de dependência entre indivı́duos que
consumiram álcool e prevalência de dependência na população geral (2,6%/0,6%) nessa
faixa etária foi a que apresentou maior magnitude (4,3%) - o que pode indicar uma
chance maior de dependência entre os indivı́duos que iniciam o consumo de álcool mais
precocemente.
A pesquisa demonstra ainda que a percepção da população brasileira sobre os riscos
relacionado ao uso de drogas está mais relacionada ao uso do crack do que ao álcool.
Apesar dos dados mostrarem claramente que o álcool é a substância mais associada a danos
à saúde que levam à morte, os usuários de crack, em sua maioria, compõem uma população
majoritariamente marginalizada, que vive em situação de rua. O levantamento corrobora
o grave problema de saúde pública que é o uso de crack no Brasil ao demonstrar que o
consumo dessa substância no paı́s é um fenômeno do espaço público. Essa constatação
Capı́tulo 8. Saúde 98
deve nortear as ações de cuidado, que precisam acontecer prioritariamente nos territórios,
garantindo intervenções nas cenas de uso e estratégias que permitam acesso ao cuidado a
essa população marginalizada.
Em relação ao uso do tabaco, a PeNSE (2016b) aponta que, no que se refere à expe-
rimentação do cigarro, ela tem um crescimento relativo de aproximadamente 53,0% entre
as duas faixas de idade analisadas. No grupo etário de 13 a 15 anos a experimentação é de
19,0%, chegando a pouco mais de 29,0% entre os escolares na faixa etária de 16 a 17 anos.
No grupo de idades de 16 a 17 anos, 10,0% dos escolares experimentaram cigarros antes
dos 14 anos de idade, aproximadamente 8,0% consumiram cigarros pelo menos uma vez
nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa, 53,0% estiveram em presença de pessoas que
faziam uso de cigarros e em torno de 24,0% possuı́am pais fumantes. Quanto ao consumo
de outros produtos do tabaco, pouco mais de 8,0% dos escolares de 16 a 17 anos de idade
declararam fazer uso.
Em relação à percepção de que com o aumento da idade também aumenta a exposição
ao risco à saúde por meio do consumo de bebida alcoólica pelos escolares brasileiros; na
faixa etária de 16 a 17 anos, 73,0% dos escolares já experimentaram uma dose de bebida
alcoólica. Nesse grupo de idades, pouco mais de 21,0% dos escolares tomaram a primeira
dose de bebida alcoólica com menos de 14 anos de idade e cerca de 60,0% possuı́am amigos
que consomem bebidas alcoólicas.
O indicador de consumo atual de bebida alcoólica, considerando as duas faixas de
idade analisadas, cresceu 56,5%, passando de pouco mais de 24,0% entre os escolares de
13 a 15 anos de idade para quase 38,0% no grupo etário de 16 a 17 anos. Em torno de
37,0% dos escolares de 16 a 17 anos de idade já sofreram com episódios de embriaguez e
aproximadamente 12,0% deles tiveram problemas, com famı́lia ou amigos, porque haviam
bebido.
No âmbito do estado de Minas Gerais, a Diretoria de Saúde Mental, álcool e outras
drogas apresenta diretrizes para a organização do cuidado das pessoas com problemas
decorrentes do uso de álcool e outras drogas, que podem auxiliar nas discussões a serem
realizadas:
• Polı́tica Estadual de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas está em consonância com
os princı́pios do Sistema Único de Saúde(SUS) e da Reforma Psiquiátrica Antimani-
comial, que estabelece como dispositivos prioritários para a atenção aos usuários de
álcool e outras drogas os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em suas diversas
modalidades, e em especial os CAPS AD, Unidades de Acolhimento Adulto e Infan-
tojuvenil (UA e UAi) e leitos em Hospital Geral, além de estimular o matriciamento
e a implantação de Equipes de Consultório de Rua. Tais estratégias visam garantir
atenção integral à saúde desses usuários, considerando as particularidades de cada
caso e dos territórios, a construção dos casos em rede, a autonomia e os direitos dos
Capı́tulo 8. Saúde 99
usuários;
• O cuidado em saúde mental, álcool e outras drogas deve ser realizado no território,
com o compartilhamento do cuidado entre CAPS e equipes da Atenção Primária à
Saúde, por meio de discussão de casos em conjunto e responsabilidade compartilhada
entre os envolvidos no Projeto Terapêutico Singular, prioritariamente através do
apoio matricial;
• A realização da busca ativa pelos serviços de saúde é uma ação estratégica que
pode propiciar a construção do vı́nculo para o cuidado. Portanto, é fundamental
que todos os trabalhadores da rede de atenção à saúde estejam implicados nesse
processo;
• Nas situações em que as pessoas que consomem algum tipo de drogas (lı́cita ou
ilı́cita) não conseguem, ou não querem interromper o uso, essa escolha não impede
o direito ao cuidado e à saúde,conforme os princı́pios do SUS (Universalidade, Inte-
gralidade e Equidade);
• Com relação às pessoas em situação de rua, é necessário que o atendimento realizado
pela saúde em decorrência do uso de álcool e outras drogas, mesmo quando identi-
ficada a necessidade de internação, preserve os vı́nculos familiares ainda existentes
ou procure resgatar os laços que foram interrompidos, sempre que o usuário assim o
desejar. Nesse caso, a inserção da pessoa em situação de rua nos serviços de saúde
do território (ex. equipes de atenção primária e CAPS), deve estar em interface com
os serviços de assistência social (PAIF, PAEFI e Serviço Especializado para Pessoas
em Situação de Rua) para que haja possibilidades de se trabalhar os vı́nculos fami-
liares, respeitando-se o desejo da pessoa atendida, podendo favorecer o processo de
saı́da das ruas;
• A internação, quando necessária, deve ser uma intervenção em saúde, não podendo
ser realizada com o intuito de abrigamento ou solução para o processo de saı́da
das ruas, sendo estes de extrema importância e responsabilidade, devendo ser cons-
truı́dos pelos serviços de assistência social, contando com dispositivos de saúde como
parceiros; e
• Não há nenhuma nova orientação sobre internações compulsórias, estando vigente
a definição da Lei no 10.216, que prevê que a internação somente será realizada
mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos e em seu
Art.6 “III-Internação compulsória: aquela determinada pela Justiça” e “de acordo
com a legislação vigente”.
Capı́tulo 8. Saúde 101
como definições:
• Tentativa de Suicı́dio envolve condutas voltadas para se ferir em que há intenção de
se matar, podendo resultar em ferimento ou morte;
no sexo feminino e 75,2% no sexo masculino; raticida 40,8% no sexo feminino e 59,1%
no sexo masculino e produto de uso domiciliar 26,5% no sexo feminino e 73,4% no sexo
masculino. Não consta informação em 6,2% dos casos notificados.
No que tange a automutilação trata-se de um fenômeno também com complexidade,
no entanto não necessariamente está ligada a ideação suicida. Nesses casos, é importante
um acolhimento por profissionais da equipe multiprofissional na rede de atenção à saúde
na perspectiva de realizar uma escuta e acompanhamento. Inclusive não há dados na
literatura cientı́fica que explicite claramente os motivos do ato, porém há inferência que
esteja relacionado à necessidade de reduzir sentimentos negativos, angústias diversas e até
pedido de ajuda.
O enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e um senso de
isolamento impactam na vida do indivı́duo. As taxas de suicı́dio também são elevadas
em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes; indı́genas;
lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI); e pessoas privadas de
liberdade. Dessa forma, é fundamental pensar em estratégias e acolhimento que compre-
enda as necessidades individuais e os determinantes sociais.
Capı́tulo 8. Saúde 105
9 Conclusão
e 24 anos é muito mais vulnerável à Sı́filis Adquirida, uma das Infecções Sexualmente
Transmissı́veis (ISTs) abordadas. Por sua vez, o capı́tulo 5 (Trabalho), mostra que os
jovens entre 15 e 19 anos são os mais vulneráveis quando se trata desse tema, tanto pela
inserção precoce no mundo do trabalho – ocorrida enquanto ainda estão em idade de
ensino obrigatório – quanto pela maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
Outros recortes adotados para a análise dos dados foram o de sexo e o de raça/cor,
que propiciaram análises diferenciadas dos impactos das polı́ticas públicas entre o público
feminino e masculino, e entre pessoas brancas, negras e indı́genas. O capı́tulo 5 demonstra
que a taxa de participação na força de trabalho entre jovens mulheres é menor que entre
jovens homens, sendo que a maior diferença da taxa de participação está entre os homens
e mulheres negros, com idades entre 25 e 29 anos. Também observa-se que os jovens
homens entram no mercado de trabalho mais cedo que as jovens mulheres. A mesma
condição é observada no caso dos jovens negros em relação aos jovens brancos. Portanto,
esses recortes de sexo e raça/cor na elaboração do diagnóstico destacam um contexto de
diferentes condições para as jovens mulheres em relação aos jovens homens, e de jovens
negros em relação a jovens brancos, de maneira a apontar novos caminhos e desafios para
a elaboração de polı́ticas públicas para as juventudes.
Graças ao recorte de raça/cor, ficou evidenciado que a população jovem negra é desta-
cadamente mais vulnerável à diversos fatores, tais como o acesso ao mercado de trabalho
e como a morte prematura por meio de homicı́dio. O capı́tulo 7 (Segurança Pública)
revela que em 2017, o homicı́dio foi a principal causa de morte entre os jovens brasileiros.
Em Minas Gerais, o número de homicı́dios cresce vertiginosamente até a faixa etária de
20 a 24 anos, quando começa a decrescer lentamente. Segundo Cerqueira e Moura (2013),
o perfil dos jovens vitimizados são homens, pardos, com 4 a 7 anos de estudo, mortos
nas vias públicas, por armas de fogo, nos momentos em que há maior interação social.
Ainda de acordo com os autores, há um “custo” da juventude perdida no paı́s: essas mor-
tes prematuras impactam no desenvolvimento econômico e acarretam expressivos custos
para o paı́s. A cada ano, foram cerca de R$ 79 bilhões, o que corresponde a 1,5% do PIB
brasileiro em 2010.
No tocante à importância dos recortes para a análise, um ponto de fragilidade den-
tro dos dados secundários utilizados é a falta de informações sobre orientação sexual, o
que impede uma análise condizente com a realidade das juventudes LGBT+ no acesso às
polı́ticas públicas para a juventude. O capı́tulo 8 apresenta os dados de violência interpes-
soal estratificados por orientação sexual, evidenciando um cenário de maior insegurança
e vulnerabilidade para o público LGBT+. Ao refletir que os ı́ndices de subnotificação
sobre a sexualidade dos indivı́duos são altos no momento em que é realizada notificação
da violência, pode-se perceber que o cenário real de violência contra esse grupo é ainda
maior e problemático. Além disso, para a elaboração de polı́ticas para essa juventude,
seria ideal a existência de dados sobre orientação sexual em relação à todas as polı́ticas
Capı́tulo 9. Conclusão 108
públicas.
No capı́tulo 4 (Educação), foi apresentado que o Estado de Minas Gerais conta com
1.206.154 jovens matriculados na Educação Básica. A distorção idade-série no ensino
médio oscilou nos últimos anos, mas reduziu consideravelmente em 2019, tanto na zona
rural quanto urbana. Como essa redução ocorreu apenas em um ano, será necessário
verificar se os dados se mantém ao longo dos anos. Na zona rural, a taxa de aprovação é
significativamente maior em relação à zona urbana, e a taxa de abandono escolar é menor.
Em relação às reprovações, a maioria se concentra no primeiro ano do ensino médio. Por
fim, de acordo com o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), houve um
crescimento das notas obtidas nos conteúdos de Lı́ngua Portuguesa e Matemática, o que
fornece um indicativo sobre a qualidade do ensino ofertado. No entanto, Minas Gerais
ainda está abaixo das projeções e, embora apresente crescimento nessas notas, elas não são
suficientes para alcançar o equilı́brio com as baixas taxas de rendimento escolar. Assim,
ainda é um desafio melhorar a qualidade da educação ofertada na rede pública.
Em termos de acesso ao esporte, assunto abordado no capı́tulo 6, observa-se que os
jovens homens praticam mais esportes e atividades fı́sicas do que as jovens mulheres.
Entre os homens, a prática de esporte é alta para os jovens, decrescendo de acordo com
a idade. Por outro lado, entre as mulheres a prática do esporte é relativamente constante
nas diferentes faixas etárias, reduzindo significativamente apenas entre as mulheres idosas.
Outro ponto destacado é que a prática esportiva está vinculada ao nı́vel de escolaridade,
em que os jovens que possuem maior escolaridade praticam mais esportes de maneira
contı́nua. Nesse sentido, os dados sobre esporte demonstram um cenário de desafio para
as polı́ticas públicas esportivas para as juventudes, de maneira a torná-las mais acessı́veis,
tanto no âmbito de gênero, quanto em termos de escolaridade, tendo em vista os benefı́cios
da prática esportiva como um componente de cultura, lazer, saúde e qualidade de vida.
Portanto, este diagnóstico realizou uma análise nas principais áreas de polı́ticas públicas
para situar como se encontram os jovens nas mais diversas estatı́sticas, e o que o Estado
tem feito, em termos de ações e polı́ticas públicas para esse público, bem como o que ainda
deve ser desenvolvido para enfrentar as condições de desigualdade e de vulnerabilidade às
quais os jovens estão submetidos. Assim, esperamos que ele seja amplamente difundido e
utilizado para a construção de polı́ticas públicas baseadas em evidências, mais efetivas e
que respondam às necessidades reais das juventudes.
109
Referências
BRASIL, Ministério da Saúde. Manual técnico para o diagnóstico da infecção pelo hiv
em adultos e crianças. Brası́lia, 2016.
BRASIL, Ministério da Saúde. Óbitos por suicı́dio entre adolescentes e jovens negros
2012 a 2016. Brası́lia, 2018.
ROLFS, R. T. et al. A randomized trial of enhanced therapy for early syphilis in patients
with and without human immunodeficiency virus infection. New England Journal of
Medicine, Mass Medical Soc, v. 337, n. 5, p. 307–314, 1997.
Lista de ilustrações
Figura 37 – Distribuição dos jovens mineiros que praticaram algum esporte no perı́odo
de referência de 365 dias segundo o motivo de não ter praticado . . . . 56
Figura 38 – Número de vı́timas de homicı́dio por faixa etária em Minas Gerais (2018) 60
Figura 39 – Sexo dos jovens vı́timas de homicı́dio Minas Gerais (2018) . . . . . . . 60
Figura 40 – Cor dos jovens vı́timas de homicı́dio em Minas Gerais (2018) . . . . . . 61
Figura 41 – População prisional em Minas Gerais, por ano e por classificação de idade 64
Figura 42 – Admissões no sistema prisional em Minas Gerais, por mês e por classi-
ficação de idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 43 – Desligamentos no sistema prisional em Minas Gerais, por mês e por
classificação de idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 44 – População jovem privada de liberdade em Minas Gerais por cor de pele
- 2019 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 45 – População jovem privada de liberdade em Minas Gerais, por ano e por
escolaridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 46 – Proporção de gravidez na adolescência (10 - 19 anos) por Região Inter-
mediária em Minas Gerais - 2016 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 47 – Mandala de prevenção combinada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Figura 48 – Número de novos diagnósticos de HIV/Aids na Faixa Etária de 15 a 29
anos no perı́odo de 2015 a 2018, em Minas Gerais . . . . . . . . . . . . 77
Figura 49 – Número de novos diagnósticos de HIV/Aids por Faixas Etárias Estra-
tificada no perı́odo de 2015 a 2018, em Minas Gerais . . . . . . . . . . 77
Figura 50 – Número de diagnósticos de HIV/Aids por Faixas Etárias e Sexo no
perı́odo de 2015 a 2018, em Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 51 – Número de diagnósticos de HIV/Aids por Faixas Etárias e Raça/Cor
no perı́odo de 2015 a 2018, em Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 52 – HIV/Aids por Faixas Etárias e Categoria de Exposição no Sexo Mas-
culino - 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 53 – HIV/Aids por Faixas Etárias e Categoria de Exposição no Sexo Femi-
nino - 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 54 – HIV Gestante por Faixa Etária 15 a 29 Anos e Ano de Diagnóstico em
Minas Gerais - 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 55 – HIV Gestante por Faixas Etárias e Ano de Diagnóstico em Minas Gerais
- 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 56 – HIV Gestante por Faixas Etárias e Raça/Cor em Minas Gerais – 2015
a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Figura 57 – Sı́filis Adquirida por Faixa Etária 15 a 29 Anos e Ano de Diagnóstico
em Minas Gerais – 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 58 – Sı́filis Adquirida por Faixas Etárias e Ano de Diagnóstico em Minas
Gerais – 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Lista de ilustrações 114
Figura 59 – Sı́filis Adquirida por Faixas Etárias e Sexo em Minas Gerais – 2015 a
2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 60 – Sı́filis Adquirida por Faixas Etárias e Raça/Cor em Minas Gerais –
2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Figura 61 – Sı́filis Gestante por Faixa Etária 15 a 29 Anos e Ano de Diagnóstico
em Minas Gerais – 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Figura 62 – Sı́filis Gestante por Faixas Etárias e Ano de Diagnóstico em Minas
Gerais – 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Figura 63 – Sı́filis Gestante por Faixas Etárias e Raça/Cor em Minas Gerais – 2015
a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 64 – Frequência de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada por
Faixa Etária 15 a 29 anos, em Minas Gerais 2015 – 2018 . . . . . . . . 89
Figura 65 – Frequência de Notificação de Violência, segundo tipo de violência por
faixa etária 15 a 29 anos, em Minas Gerais 2015-2018 . . . . . . . . . . 90
Figura 66 – Frequência de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada,
segundo raça/cor por faixa etária de 15 a 29 anos, em Minas Gerais . . 90
Figura 67 – Frequência de Notificação de Lesão Autoprovocada por sexo, segundo
Faixa Etária 15 a 29 anos em Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . 91
Figura 68 – Percentual de Notificações de Lesão Autoprovocada e Violência Inter-
pessoal, segundo faixa etária 15 a 29 anos em Minas Gerais, 2015 a
2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Figura 69 – Proporção de casos notificados de Tentativa de Suicı́dio na ficha de
investigação de Intoxicação Exógena, segundo faixa etária 15 a 29 anos
em Minas Gerais, 2015 a 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Figura 70 – Frequência de notificações de violência, segundo orientação sexual, na
faixa etária de 15 a 29 anos em Minas Gerais, 2018 . . . . . . . . . . . 93
Figura 71 – Frequência de notificações de violência na faixa etária de 15 a 29 anos
segundo Identidade de Gênero em Minas Gerais, 2018 . . . . . . . . . . 94
Figura 72 – Frequência de notificações de violência na faixa etária de 15 a 29 anos
segundo motivação da violência, por raça/cor, em Minas Gerais, 2018 . 95
Figura 73 – Frequência de Notificação de Tentativa de Suicı́dio por envenenamento
por sexo, segundo Faixa Etária 15 a 29 anos, em Minas Gerais 2015 –
2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Figura 74 – Mortalidade por causas externas por residência de Lesões Autoprovo-
cadas Voluntariamente (X60 – X84) segundo sexo, por ano do óbito,
Minas Gerais 2015 – 2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Figura 75 – Distribuição dos casos notificados de Tentativa de Suicı́dio por envene-
namento na faixa etária de 15 a 29 anos, segundo sexo, Minas Gerais,
2018 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Lista de ilustrações 115
Lista de tabelas