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Um lugar na Mesa- (1997)

Peça teatral em um ato

De Jorge Linhaça
Personagens:

Raul: Líder de um grupo de artistas mambembes sem recursos


financeiros.

Paloma: Filha de Raul, bailarina do Show.

Totó: Noivo de Paloma que tem um temperamento meio explosivo.

Clarinha: Amiga de Paloma e parceira de Totó em uma dupla sertaneja


de raiz.

Bum e Tererê: Dois palhaços que são a alma do espetáculo.

Maria: Mãe de Clarinha, esposa de Raul, sempre disposta a apaziguar.

Mendigo: Personagem misterioso, responsável pela grande reviravolta da


trama.

Zézinho: Irmão da pombinha, garoto do tipo faz tudo na trupe.

Dançarinos (número indefinido) que participam das coreografias durante


os eventos musicais da peça.
Cenário

Uma velha sala grande, que pode ser de um casarão ou galpão


abandonado. Tendo com elementos apenas uma velha mesa e algumas
cadeiras ou bancos.

Serão utilizados uma jarra de sucos e uma bandeja, além de uma tolha
de mesa surrada.

Um painel surpresa deve ser descerrado no final da apresentação aos


acordes finais da musica tema.

Figurinos:

Todos os personagens terão dois tipos de figurinos, um na primeira fase


da peça e o outro mais luxuoso no ápice da trama.
Cena I

Música “O circo” enquanto se abrem as cortinas....o cenário permanece


vazio e silencioso por cerca de 60 a 90 s

Vindo da plateia entra Raul irritado:

Como é minha gente, essa peça começa ou não começa? Vamos logo,
chega de enrolação!

Zézinho: Já vai pai, já está tudo pronto...Calma...Agora!

Raul: Respeitável, público, a companhia de variedades Arca de Noé,


tem o prazer de apresentar a dupla sertaneja sensação do momento, os
rouxinóis do sertão, com vocês: Totó e Clarinha.

Entram Totó e Clarinha:

Totó: Nossa, quanta gente bonita aqui hoje né Clarinha?

Clarinha: É mesmo Totó, nós vamos ter que caprichar ...

Totó: (dirigindo-se à plateia) Então pra começar o Boa noite do Totó!

Clarinha: E o Boa noite da Clarinha.

Totó: O que você acha que podemos cantar para eles Clarinha?

Clarinha: Acho que podemos cantar aquela música linda de Cascatinha e


Inhanha, aquele grande sucesso imortal..

Totó: Então vamos cantar Clarinha, agora para vocês...India

(tocam ou dublam a música)

Raul (após a apresentação): Palmas para a nossa dupla


maravilhosa...muito bem....maravilhoso...Agora para vocês verem como
nossa companhia tem um pouco de tudo, com vocês a nossa suave e bela
bailarina, aquela que desliza pelo palco com suavidade e beleza...com
vocês a nossa Pombinhaaaaaa

Entra a música de bailarina e Pombinha faz a sua apresentação.

Ao final Raul diz:

Palmas para a Pombinha minha gente, mais palmas, que apresentação


fantástica! E agora com vocês o momento que todas as crianças, de
todas as idades esperam, a nossa dupla de reis do riso, os mestres da
alegria, os palhaços mais amados do Brasil: Bum e Tererê.

( Música o Circo- Xuxa)

Os palhaços brincar de dar cambalhotas, fazer micagens e quando


brincam de pular sela, quando Bum salta sobre Tererê, este despenca
e fica gemendo no chão:

Tererê, colocando as mãos nas costas , mancando...aí ai ai...ui ui ui

Bum: (preocupado)...Que houve Tererê você, se machucou???

Tererê: Não...É que quando você pulou em cima de mim e fiquei


Mariiiiiiia moooooleeeeee .-balançando o corpo para demonstrar moleza
como uma minhoca desmilinguida.

Bum.:-Ah seu palhaço, foi só isso?? Vamos lá cumprimentar a plateia.

Oi Senhoras e senhores, garotado do meu coração....Boa noiiiteeeeeeee

Vixi, não ouvi.....mais uma vez....boa noiteeeeeeee....mais uma


vez....ahhhh agora sim....

Tererê: OI gentaradaaaaa.

Bum; que é isso Tererê...isso é jeito de cumprimentar o público?

Tererê: Uai e num é não??


Bum: Claro que não...você tem que dizer coisas doces para o público?

Tererê: Ah...agora entendi....deixa comigo

Oi pessoal: pirulito, bala, pudim , rocambole, paçoca, maria mole,


chocolate.....

Bum- interrompendo- Não é nada disso Tererê...não é nome de doces,


é coisas doces , agradáveis...

Tererê: Tipo o que ?

Bum...você fala assim...Distinta plateia...e depois...ah depois você diz


qualquer coisa...

Tererê: Ah tá vendo como você não explica? Se tivesse dito antes


ficava mais fácil....agora vai...fica olhando...presta atenção....

Distintaaaa Platéiaaaaa....qualquer coisaaaaaa

Bum: Assim não dá Tererê, desse jeito eles nunca vão gostar de você...

Tererê: Pois eu aposto que eles gostam muito mais de mim do que de
você

Bum: ..ah é? Então vamos fazer um teste....este lado da plateia


quando eu levantar o braço vai gritar BUUUUM.....

Tererê: E este lado de cá quando eu levantar os dois braços vai gritar


Terere-eeee

(Fazem esse jogo com a plateia até que a atenção caia...)

Bum: - Viu só...eu disse que eles gostam mais de mim do que de você.

Tererê: Só se for porque eles ainda não me viram cantar....

Bum: -gargalhando- Você cantar??? Kakakakakakaka Duvidooooo!!!

Só se for pra botar todo mundo pra correr...kakakakak


Tererê: Pois eu vou mostrar que sei cantar muito bem e pra provar
vou cantar a mesma música que o Totó e a Clarinha cantaram, só que
muiiiito melhor....

Bum: Essa eu quero ver...kakakakakaka

Tererê: Então olha só: meus bailarinos entrem aí....

(dubla a música índia teus cabelos do Tiririca)

Os “dançarinos” fazem um arremedo de coreografia enquanto Tererê


canta e brinca com a plateia...Totó é Clarinha aparecem para espiar
no palco e fazem cara de que não acreditam....ao fim da música ficam
em cena apenas Bum, Tererê e Raul.

Raul: muito bem, estou gostando de ver, um dia desses as pessoas vão
ver....Ah, mas vai ser diferente, muito diferente...aquele mundão de
gente, aquela plateia imensa....nós vamos chegar longe...bem longe...

Bum: -olhando para longe- É mesmo Raul...eu também posso ver a


gente bem longe...que nem o São Paulo...lá em Tóquio.

Raul: Tudo bem....mas agora vamos jantar que a minha barriga já está
roncando...Maria meu amor, traz aí a janta

Maria: Janta? Janta é modo de falar, hoje só temos mesmo pão e


refresco de uva.

Pombinha: Quanta reclamação...pelo menos dá para acalmar as


lombrigas

(todos se dirigem à mesa e quando ameaçam pegar o pão para comer,


ouve-se alguém bater à porta )

Totó: Pode deixar que eu atendo – abre a porta e dá de cara com um


mendigo...
Mendigo: entrando- Boa noite, desculpem incomodar, mas será que
vocês teriam alguma coisa para eu comer? Estou morrendo de fome.

Bum: Xiii amigo, você chegou em má hora, nós não temos nem pra
gente...

Tererê: Isso mesmo, estamos vendendo o almoço pra comprar a janta.

Raul: Que é isso amigos, vocês ficaram loucos? ...(para o mendigo)-Não


ligue pra esses palhaços não, eles vivem fazendo piada de tudo...entre,
fique à vontade...não temos muito, mas o que temos podemos repartir
com você.

Totó: - Puxando Raul pelo braço pra longe do mendigo- Você está louco
Raul? Nem sabemos de onde veio esse cara...deve ter vindo lá da
mendigolândia!

Raul- -repreendendo- Que é isso Totó? Você não vê que é exatamente


por isso que devemos ajudá-lo? Além disso que mal ele pode nos fazer,
nós não temos nada mesmo...

Maria:- Estou surpresa com você Totó, será que já se esqueceu que
Cristo ensinou que a verdadeira religião é cuidar dos necessitados??

Zézinho: -taxativa- Isso mesmo! Aqui sempre haverá um lugar à mesa


para aqueles que necessitam.

Totó: Desculpem, vocês tem mesmo razão...

(música “um lugar na mesa” dublada e dançada por todos, a parte do


solo é feito por Raul...o mendigo permanece silente no meio de todos,
sem participar da coreografia.)

Após a música monta-se uma cena semelhante à Santa Ceia, onde o pão
é repartido, passando de mão em mão, o mesmo acontecendo com o
suco de uva.

Após comerem , o mendigo assume a boca de cena, de costas para o


público, e diz:
- Muito obrigado, vocês foram muito gentis em repartir o pouco que
tinham, a maioria das pessoas nem espera para ouvir o que eu tenho a
dizer, nem me deixam entrar em suas casas...se enojam com minha
aparência suja e por causa de minha pobreza...

Maria: Olha, nós não estamos numa situação nada boa, mas sempre se
pode dividir um pouco de comida e , se você quiser, pode dormir aqui,
afinal já está tarde e as ruas andam muito perigosas...

Bum: - agora sério- Olha eu tenho umas roupas velhas guardadas, não
estão lá muito boas, mas, estão melhores que essas que você está
vestindo...se você quiser...

Mendigo: - Muito obrigado, mas já estou acostumado com estas minhas


roupas...

Raul- Interrompendo e organizando a casa- O papo está muito bom, a


noite está muito agradável, mas, já está tarde. –dirige-se ao mendigo-
Você dorme aqui mesmo, vou pedir para minha filha lhe trazer uns
cobertores para forrar o chão e se cobrir, aqui costuma dar uma
esfriada à noite. Você pode ficar à vontade.

- Bum e Tererê, ajudem a tirar a mesa por favor

Bum: -Tirar a mesa?

Tererê:- Bom...se é isso que ele quer...

Saem os dois carregando a mesa...quando Raul se dá conta sai atrás


deles falando

Raul:- Peraí seus palhaços...não foi isso que eu quis dizer....

Apenas o mendigo fica em cena e dirige-se à plateia:

- Incrível como fui bem recebido nesta casa, por estas pessoas...elas
nem ligaram para minha aparência e para a minha pobreza...Esse é um
verdadeiro exemplo de verdadeiros cristãos.
Quantos de vocês me receberiam em suas casas? Quantos de vocês
ignorariam minha aparência? Quantos de vocês não me julgariam um
bêbado, um vagabundo, ou até mesmo um ladrão?

Você me deixaria entrar em sua casa? E você...e você...e você??

Clarinha- entrando-: - Realmente, se julgarmos as pessoas apenas pela


sua aparência, muitas vezes estaremos cometendo injustiças.

Pombinha: Olhe aqui os cobertores, vão ajudar a espantar o frio,


desejo que tenha uma boa noite...

Mendigo:- Esperem, por favor, gostaria de conversar um pouco com


vocês.

Clarinha: Meu nome é Clarinha...

Paloma: Eu me chamo Paloma, mas todos me chamam de pombinha.

Mendigo: Tem lógica, paloma em espanhol é pomba, mas me digam, o


que vocês fazem da vida?

Pombinha: Meu pai Raul tem o sonho, e nós também, de levar alegria e
diversão às comunidades mais carentes da cidade e do interior, por isso
estamos sempre ensaiando alguns números.

Mendigo: Nossa, mas esse é um lindo sonho, por que ainda não o
realizaram? O que é que falta?

Clarinha: Na verdade o que falta é um milagre, um patrocínio para


podermos levar esse pequeno espetáculo adiante.

Mendigo: Mas os milagres podem sempre acontecer, basta que


acreditemos neles e façamos a nossa parte. Quem sabe não chegou a
hora de vocês receberem esse milagre?

Venham comigo e vou lhes mostrar que os milagres são sim possíveis.

Pombinha: Ir com você? A estas horas da noite? Para onde nós iríamos?
Mendigo: - Vocês me deram ajuda quando eu precisei, confiem em mim
e eu lhes mostrarei como os milagres são possíveis.

Clarinha: Mas como podermos confiar em você? Que sinal você pode nos
dar de que realmente pode fazer um milagre?

Mendigo: Os sinais só acontecem para aqueles que primeiro creem.

Pombinha: Existe algo na sua voz que me inspira confiança, tudo bem,
nós vamos com você, mas me deixe antes escrever um bilhete avisando
aos outros... (escreve um bilhete e o deixa no cenário) saem os três.

Entra Totó, ao amanhecer, (música de suspense) e encontra o


bilhete...começa a ler a se desesperar:

Totó: Mas o que é isso? A pombinha ficou louca...onde ela foi?! Aos
Gritos...RAUL....RAUL...PESSOAL....Rápido aqui...Venham logo...

Raul aparece ajeitando a roupa, seguido pelos demais....

Raul: Que foi Totó? Você enlouqueceu? A casa esta pegando fogo??

Totó: Que fogo que nada, antes fosse isso, é bem pior...Aquele
mendigo...aquele mendigo levou a Pombinha e a Clarinha embora...a
estas horas já deve ter cometido todo tipo de atrocidades com elas...

Zézinho: Calma Totó, você está parecendo um cachorro louco espumando


pela boca...assim a gente não entende nada...

Totó: olha aqui o bilhete...A Pombinha e a Clarinha saíram no meio da


noite com aquele mendigo esquisito...

Maria: Totó, a Pombinha não é nenhuma boba, e a Clarinha está c, om


ela, logo, logo, elas estão de volta e tudo se esclarece...

Totó: Você está louca! Nós temos de ir atrás dela! Temos de fazer
alguma coisa....

Bum: E agora, quem poderá nos socorrer?

Tererê: Eu...o Tererê colorado....


Totó tenta agredir Tererê mas é contido por Raul...

Raul: Calma Totó, preste atenção:

(Música a pombinha)

Raul: Totó nós temos que manter a cabeça fria nessas horas...

Totó: Que cabeça fria que nada...Vocês que fiquem aí, eu vou atrás da
Pombinha...e sai esbaforido...

Maria: Espera Totó, você vai fazer alguma besteira....

Tererê: Sigam-me os bons.....

Bum: Isso, isso, isso...

Raul fica sozinho com a plateia e conversa com ela:

Raul:- A Pombinha vai voltar, tenho certeza disso, ela vai


voltar...Justo agora que eu mais preciso dela...tenho certeza de que
ela vai voltar...Vejam vocês...mais um problema para resolver

Essas pessoas dependem de mim para realizar nosso sonho...É duro


carregar esse fardo...vejam só...abri as portas de nossa casa para
ajudar uma pessoa desconhecida, acolhi esse mendigo em minha casa e
ele levou o meu maior tesouro...minha filha, para longe...eu não sei o
que fazer ou pensar...será que eu agi errado?

Você...O que faria no meu lugar? Acolheria o mendigo em sua casa? E


você? Vocês acham que a pombinha vai voltar? Sim? Que bom...Mas
estou perdido, não sei mais como agir...preciso orar ( vai para o palco e
ajoelha-se em oração dublando a música “ as formigas” ).

Durante a dublagem a Pombinha entra pelo fundo da plateia com uma


linda roupa de bailarina no momento em que a música pede a voz
feminina... Raul se assombra e continua a cantar enquanto os outros
personagens, já ricamente trajados vão se juntando a eles no palco,
com exceção de totó que chega no final. Ao final da música Totó
pergunta:
Totó:- O que significa tudo isso?

Pombinha:- Isto Totó, é um verdadeiro milagre, a realização de nosso


sonho. Fique você sabendo que aquele mendigo que acolhemos é o
responsável por tudo isto, ele tem muitos amigos que resolveram nos
ajudar a montar nosso espetáculo.

Mendigo: É verdade, vocês foram muito bons comigo, me acolheram e


me alimentaram na hora que mais precisei, agora, como você pode ver
eu estou retribuindo toda essa atenção.

Dirigindo-se à plateia:

Pois se o homem fizer o bem, de modo algum deixará de receber sua


recompensa...

Música: Um lugar na mesa

Todos os atores desenvolvem a coreografia da música, dublando-a de


maneira que o mendigo fique oculto da plateia a partir de determinado
momento e que ao final da música ( no para ele para ele para ele...para
eeeeeeellleeeeeee...as colunas vão se abrindo até deixar o mendigo
visível já vestido de Jesus Cristo, ao mesmo tempo um Grande painel se
desenrola do alto do palco revelando uma pintura de Cristo na segunda
vinda...

O mendigo dirige-se à boca de cena e fala para a plateia:

Em verdade, em verdade vos digo, que tudo aquilo que fizeste a um


destes pequeninos, a mim o fizeste. Cortina.

Agradecimentos por ordem de aplausos ( we are the champions ou


jamily)

Bailarinos

Totó, Clarinha e Maria

Bum, Tererê, Raul e Pombinha

Mendigo/Cristo

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