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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

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MINISTÉRIO DA SAÚDE
DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE

NORMAS SANITARIAS PARA ASSISTÊNCIA A POPULAÕES EM


SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA,

1. INTRODUÇÃO

Em situação de emergência tem sido documentada uma grande perda de vidas por causa
de uma maior incidência de doenças e ferimentos, dependendo da causa da emergência.
Os desastres naturais, as guerras e desastres tecnológicos, tendem a acarretar um
aumento da mortalidade e morbilidade. As doenças responsáveis por tais aumentos (da
mortalidade e morbilidade), também são conhecidas; as doenças diarreicas, as infecções
respiratórias agudas e a malária.

O aumento da incidência das doenças deve-se a factores de risco ambientais a que estão
expostas as populações, nomeadamente, maior concentração das pessoas no mesmo
sítio, a quantidade e qualidade insuficientes da água de consumo para as populações,
abrigos inadequados, saneamento deficiente e fornecimento de alimentos insuficiente

Para minimizar os problemas acima referidos foi elaborado o presente documento, com
normas básicas a serem utilizadas nos CA ( Centros de Acomodação), podendo serem
complementadas por outros instrumentos disponíveis localmente.

2. REQUISITOS DE SANEAMENTO A SEREM RESPEITADOS NA MONTAGEM E


ORGANIZACAO DOS CENTROS DE ACOMODACAO

2.1. ABRIGO

As tendas de lona são o tipo mais prático e comum de abrigo de emergência, mas
também, pode-se utilizar outras soluções mais económicas dependendo das condições e
recursos locais.

Quando as pessoas são acomodadas durante vários dias em acampamentos


temporários, é necessário observar as seguintes regras mínimas:

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a) 0 lugar do acampamento deve ficar longe de criadores de mosquitos, depósitos de lixo
e deve ter fácil acesso as vias de comunicação.

b) A topografia do terreno deve permitir fácil drenagem.

c) 0 acampamento deve ser organizado de forma a garantir espaço para as pessoas e


as facilidades necessárias. Mais ou menos se estima que seja necessária uma
superfície de 3 a 4 hectares por cada mil pessoas ou seja, de 30 a 40 metros
quadrados por pessoa.

d) 0 lugar deve estar possivelmente perto de uma fonte de agua que garante uma
disponibilidade adequada deste liquido, se não haver fonte de agua no local deve se
garantir o abastecimento através de tanques flexíveis e utilizar o calculo de
15l/pessoa/dia (baseado no levantamento adequado do nº de pessoas no abrigo).

e) As tendas devem ser arrumadas em fila, em ambos os lados de uma estrada de, pelo
menos, 10 metros de largura para permitir o tráfego fácil. Entre as margens da estrada
e as tendas deve haver, pelo menos três metros de distancia.

f) As tendas devem ter uma área mínima de 3 metros quadrados por pessoa e devem
estar separadas de, pelo menos, 8 metros, entre elas sendo preferível tendas
menores ( Familiares) para pequenos grupos de pessoas do que grandes tendas para
muitas pessoas.

g) Um barraca de 3 metros de comprimento para instalação de lavatórios de campo deve


ser fornecida para cada 50 pessoas.

h) Valas de drenagem só para escoamento da agua da chuva e devem ser cavadas em


torno dos tendas e ao longo das estradas. Os pontos de agua devem ser drenados
para evitar lama.

i) 0 acampamento deve ser divididos em duas áreas: uma residencial e outra de


serviços comuns. ( Posto Sanitário, Posto de Policia, Posto da Administração, etc)

2.2. ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Disponibilidade de água
Identificar a fonte segura de agua potável no CA:
a) Água da rede ( Verificar se a rede não esta contaminada e se é funcional

b) Água de poços/Nascentes ( verificar se é potável e se é suficiente para a população


do CA)

c) Água das chuvas ( Se estiver a chover, encoraja-se a colecção da agua das chuvas)

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d)Sistemas Particulares ( alguns sistemas privados pertencentes as fabricas, farmas etc.
podem ser utilizados, tendo-se o cuidado de assegurar a potabilidade da agua fornecida).

e) Abastecimento utilizando tanques posicionados no CA ( tanques Flexíveis)

Cálculo das necessidades de água:

Para Consumo Pessoal - 15 litros pessoa/dia ( Ex. Pop. De 1000 pessoas necessita 15
mil litros por dia)

Desinfecção da água destinada ao consumo humano.

A desinfecção é uma técnica que tem como fim o de eliminar os microrganismos


patogénicos que podem estar presente na agua, reduzindo assim, a transmissão
daquelas doenças infecciosas que podem ser veiculadas por esse meio.

 Água de pouca contaminação ( qualidade razoável) : 0-10 coliformes/100 ml


 Água poluída: 10-100 coliformes/100 ml
 Água contaminada 100-1000coliformes/100 ml
 Água muito contaminada > 1000 coliformes/100 ml

Teste de potabilidade.

Deve ser formado UM C)LI mais activistas com o fim de capacita-lo Para executar a
desinfecção de agua e o controlo do adequado teor em Cloro Residual com o teste da
"ortotolidina" por meio de Kits.

A formação dos referidos activistas pode-se realizar com o apoio dos Laboratórios
Provinciais de Aguas das Direcções Provinciais de Saúde.

Um sistema muito simples e prático para a desinfecção de agua é o de utilizar o JAVEL/


CERTEZA como desinfectante, respeitando as seguintes regras :

 Para 1 litro de agua deitar 4 gotas de JAVEL/ CERTEZA;


 Para 10 litros de agua deitar uma quantidade de JAVEL/ CERTEZA igual a 1
colher de chá
 Para 100 litros de agua deitar uma quantidade de JAVEL/ CERTEZA igual a 2
colheres de sopa;
 Para 500 litros de água uma quantidade de JAVEL/ CERTEZA igual a terceira
parte de um copo médio.

Após ter posto o JAVEL/ CERTEZA no contentor, esperar pelo menos 30 minutos (o
tempo necessário para o desinfectante espalhar-se e agir sobre os microrganismos
presentes) ante de beber a água.

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Caso não houver disponibilidade de desinfectante, deve-se aconselhar as pessoas de
deixar ferver a água durante 15-30 minutos antes de bebe-la.

Armazenagem de água
Para o uso colectivo – Tanques flexíveis com várias torneiras, instaladas nesses
depósitos, facilitam seu uso simultâneo por varias pessoas. Caso não houver torneiras,
orientar as pessoas para que tirem a água com um recipientes limpo e sem mergulhar as
mãos.

Para o uso familiar – Depósitos de 10/20/30 litros, agua que dever ser tratada pela
família, como descrito anteriormente e supervisadas pelos activistas de higiene e
saneamento do CA.

2.3 ELIMINAÇÃO DE EXCRETAS

Um dos principais problemas sanitários a resolver é o da adequada disposição dos


dejectos a fim de evitar a contaminação do solo e da agua, maus cheiras, proliferação de
insectos e perigo de difusão de doenças de ciclo fecal- oral.

Latrinas com tampa Para disposição de excretas devem ser instaladas em fila em
Lugares próprios. Caso o abastecimento de água seja feito através de poços, as latrinas
devem ser instaladas a uma distancia de pelo menos 50 metros e num plano mais baixo
em relação a fonte de agua, e pelo menos 30 metros de qualquer fonte de agua).

Pode-se prever uma latrina Para cada 10/20 pessoas ( em casos extremos se pode
utilizar no máximo 50 pessoas /latrina ate que rapidamente se garanta o padrão anterior).

As latrinas devem ser construídas de forma a facilitar a utilização por todo o tipo de
pessoas ( Mulheres, crianças, velhos e deficientes físicos)

As latrinas devem ser construídas de forma a facilitar a limpeza e evitar a ploriferacao de


vectores ( moscas e mosquitos )

Deve haver separação de latrinas para homens e para mulheres

Outras características ( ver o manual de referencia da UNICEF)

2.4. ELIMINAÇÃO DE LIXO

Pode-se prever a produção de cerca 500 gramas de lixo/pessoa/dia, com um teor de


humidade de aproximadamente 40% e um peso especifico da ordem de 200 Kg/metro
cúbico.

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Formas de Tratamento de lixo
 Armazenamento e colecção de lixo – pode ser feito em depósitos de 200 litros,
com recolha diária e desinfecção diária do deposito.
 Aterro Sanitário – Este deve ter com dimensões de 1,5m de largura e 2 m de
profundidade. Quando atingir 40cm do nível da terra deve ser fechado.
 Incineração - método sugerido mas deve-se ter o cuidado de provocar incêndio
no CA.
 O lixo medico deve ter o tratamento especial

2.5 HIGIENE DE ALIMENTOS

Em principio, antes de criadas condições para o processamento familiar, os alimentos


devem ser pre-confecionados e empacotados para evitar a contaminação por organismos
patogénicos ( enlatados de diversos tipos, frutas).

Logo após a criação de condições para o processamento familiar deve-se garantir uma
distribuição de alimentos fortificados por família;

Condições sanitárias apropriadas para o armazenamento, preparação e distribuição de


alimentos, nos casos em que a opção seja a confecção colectiva, algumas regras devem
ser observadas:
 controle da água para preparação de alimentos;
 controle da higiene dos locais de preparação de alimentos;
 controle sanitário do pessoal que trabalha nesses locais manipulando alimentos.
É responsabilidade directa das autoridade do CA e da saúde garantir a higiene dos
alimentos de forma a se evitar surtos de diarreias.

3. ASSISTÊNCIA MÉDICA

3.1. ORGANIZAÇÃO

Todos os CA devem ter uma unidade sanitária de referencia com facilidade de


comunicação.

Nos CA com menos de 2000 pessoas as actividades básicas de saúde serão suportadas
por activistas da Cruz Vermelha e da saúde comunitária, supervisados por um técnico
clínico da saúde. Estes deverão garantir a Vigilância Epidemiológica para possíveis
epidemias, educação sanitária, higiene pessoal e colectiva, incluindo os primeiros
socorros em caso de alguma emergência no CA.

Para os CA que tem mais de 2000 pessoas deve existir um posto de socorro gerido por
um supervisor sénior da saúde, 10 activistas de saúde e kit básico de primeiros socorros
para 2000 pessoas. Deve existir ainda uma parteira para atender casos de emergência
obstétrica

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3.2. ACÇÕES BÁSICAS ASSISTÊNCIA NOS CA.

3.2.1 Vigilância Epidemiologia


 Supervisão na utilização e consumo de agua
 Supervisão e controlo da disposição dos resíduos sólidos e líquidos
 Supervisão e controlo da higiene dos alimentos e dos seus manipuladores
 Controlo e erradicação dos diferentes vectores
 Planificação e coordenação das actividades de vacinacao contra as doenças
preveníveis por vacinas, de acordo com as normas nacionais ( VAM, Sarampo)
 Estrita violência e controlo das doenças epidémicas ( Cólera, Disenterias, Malária)
 Coordenação da distribuição das redes mosquiteiras aos afectados.

3.2.2. Actividades clínicas


 primeiros socorros ( ferimentos e doenças ligeiras)
 Garantir a transferência dos doentes graves para as unidades de referencia
 Assistência de partos em casos de necessidade
 Controlo de tratamento dos doentes crónicos
 Identificação de casos de desnutrição aguda e garantir o seguimento adequado

3.2.3 Transporte médico


 Deve se garantir uma ambulância ou outro transporte com condições mínima, para
transferência de doentes graves ou parturientes, para a unidade de referencia.

Maputo, Janeiro de 2007

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