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WAGNER NOGUEIRA

O TRIBUNAL
ECLESIÁSTICO
O processo de disciplina de membro ou ministro
presbiteriano de acordo com o Código de Disciplina da IPB

- 2020 -
O Tribunal Eclesiástico | 2

APRESENTAÇÃO

O Código de Disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil


(CI/IPB) foi promulgado em dia 13 de fevereiro de 1951, em reunião
do SC-IPB, no templo da IP Unida de São Paulo (SC – 1951 – Doc.
XLII) com a finalidade de regulamentar o processo de disciplina no
seio da Igreja Presbiteriana do Brasil.
O presente trabalho é uma análise em forma de esboço de
todo o CD/IPB com vistas a ser um guia simples para os membros
dos concílios ou juízes dos tribunais da IPB no andamento do
processo disciplinar, principalmente no processo do tribunal
eclesiástico. Este material foi também parte do material que preparei
quando fui professor da disciplina Constituição e Ordem da IPB 2, no
Seminário Presbiteriano Brasil Central – Extensão em Ji-Paraná, RO,
em 2010 e 2012.
Devo a maior parte desse conteúdo às anotações das aulas
do professor Silas de Campos no Seminário Presbiteriano do Sul, em
Campinas, SP, de quem fui aluno. Este esmerado professor é um
dos mais respeitados juristas da IPB tendo ocupado a presidência do
Tribunal de Recursos do SC/IPB.

Espigão do Oeste, RO
14 de maio de 2020.

Rev. Wagner Nogueira


Pastor Presbiteriano

| Rev. Wagner Nogueira


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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...........................................................................2

I. A DISCIPLINA ECLESIÁSTICA ...................................................6


1.1 Introdução.........................................................................6
1.2 O poder da igreja ..............................................................7
a) Mt 16.19 e 18.18 ........................................................7
b) O poder da igreja e o poder do Estado ......................8
1.3 A disciplina e a Confissão de Fé de Westminster .............8
1.4 A importância e propósito da disciplina .............................9
a) Edificação do povo de Deus .................................. 10
b) Uma barreira à propagação do mal ....................... 10
c) Pureza da igreja e honra de Cristo ........................ 11
d) O bem dos culpados ............................................. 11
1.5. Pecados para disciplina ................................................. 11
1.6 Dicas para melhor executar a disciplina .......................... 13
II. O CÓDIGO DE DISCIPLINA DA IPB......................................... 14
1. Conteúdo Constitucional ................................................... 14
2. Desdobramento Jurídico do Conteúdo .............................. 15
a) Estrutura .................................................................. 15
b Filosofia .................................................................... 15
3. Código Penal .................................................................... 15
a. Teoria das “faltas”. ................................................... 15
b. Elementos ................................................................ 15
c. Classes .................................................................... 16
d. Penas....................................................................... 16
e. Individualização da Pena ......................................... 16
f. Aplicação provisória das penas ................................. 16
g. Direito de defesa ...................................................... 16
h. Decadência e prescrição .......................................... 16
4 Organização judiciária. Tribunais ....................................... 17

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a) O Conselho .......................................................... 17
b) O Presbitério ........................................................ 17
c) O Sínodo .............................................................. 17
d) Tribunal do Sínodo ............................................... 17
e. Supremo Concílio .................................................... 17
f. Tribunal de recursos do Supremo Concílio ............... 17
g. Revisão de processo findo ...................................... 17
5. Código de Processo ......................................................... 18
a) Início ....................................................................... 18
b) Condições de procedibilidade ................................. 18
c) Condições de seguimento do processo ................... 18
d. Ritos ........................................................................ 18
e. Instauração do Processo (Sumário e Ordinário). ..... 18
f. O interrogatório do acusado ..................................... 19
g. Inquirição das testemunhas e a acareação. ............ 19
h. Outras provas a produzir ......................................... 19
i. Outros atos processuais ........................................... 19
j. Sessões e Julgamento ............................................. 19
k. Fim do processo em primeira instância:................... 19
l. Recursos .................................................................. 19
6. Código de Execuções ...................................................... 19
a. Faltas veladas ......................................................... 19
b. Faltas públicas ........................................................ 19
c. Cautelas .................................................................. 20
7. Restauração..................................................................... 20
8. Roteiro Geral no Andamento de um Processo ................. 20
9. Audiência no processo sumaríssimo perante o conselho . 23
10. Audiência de julgamento no processo sumário .............. 23
11. Audiência de julgamento no processo ordinário ............. 24
12 Audiência de julgamento de recurso de apelação ........... 24
13 Audiência de julgamento no tribunal de recursos do
Supremo Concílio da IPB ..................................................... 25
I. Preliminares ............................................................. 25
II. Na Audiência ........................................................... 25
14 Noções de Prazo............................................................. 26
a) Definições ............................................................ 26
b) Contagem dos prazos .......................................... 27
c) Prazos no CD/IPB ................................................... 28

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15 Alguns conceitos técnicos ................................................ 29


III. COMO DISCIPLINAR UM MEMBRO DA IGREJA ................... 32
A) Passos Iniciais: ............................................................... 32
B) Do Processo Sumaríssimo ............................................... 34
C) Do Processo Sumário ...................................................... 37
D) Do Processo Ordinário ..................................................... 39
E) Do início do andamento do processo ............................... 42
F) Dos Recursos ................................................................... 45
1. Recurso de Revisão .............................................. 45
2. Recurso de Apelação ............................................ 45
3. Recurso Extraordinário ......................................... 47
IV. MODELOS DE DOCUMENTOS OFICIAIS............................... 48
1. Modelo de Votação ........................................................... 48
2) PARÂMETROS DE COMUNICAÇÃO ............................... 48
a) Sugestão de Citação................................................ 48
b) Sugestão de intimação ............................................ 50
3) Sugestão de sentença ou acórdão ........................... 51
V. PALAVRAS, LOCUÇÕES E FRASES LATINAS COMUMENTE
CITADAS NA LITERATURA JURÍDICA E NO PROCESSO ......... 53

BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 58

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I. A DISCIPLINA ECLESIÁSTICA
1.1 INTRODUÇÃO
Ao pensar em “disciplina” logo nos ocorrem as imagens
negativas relacionadas à nossa infância, tais como os castigos
físicos aplicados por nossos pais por causa de alguma
desobediência. No âmbito da igreja também é mais comum
lembrarmos daquelas cenas de puro constrangimento em que
alguém teve seu nome citado por estar em disciplina por alguma
falha cometida. Lembra-se mais da falha do que do processo de
amadurecimento que significou aquele período em que a pessoa
esteve disciplinada. De forma geral tudo isso é uma forma negativa
de se ver a disciplina.
Em Hebreus 12.4–13 utiliza-se a alegoria familiar para falar
da correção que Deus opera nos seus filhos, como pode ser visto na
própria etimologia da palavra “disciplina” usada pelo autor. O
substantivo grego paideian (disciplina) vem da mesma raiz que a
palavra “criança”, que é o substantivo grego paidi,on e do verbo
paideu,w que pode ser traduzido como instruir, treinar educar, corrigir,
dar direção e castigar1. Pode-se dizer que estas opções de tradução
do verbo “disciplinar” são elementos que compõem o exercício da
disciplina que tem o objetivo de aplicar todas estas etapas na vida de
um crente.
Desse modo, não se pode limitar as sentenças disciplinares
a medidas puramente punitivas como a suspensão da participação
da Ceia e a perda de cargos. Uma sentença disciplinar pode muito
bem incluir um programa de reabilitação espiritual da pessoa tal
como discipulado em profundidade, leitura acompanhada de livros
sobre temas específicos ou da própria Bíblia, sessões de
aconselhamentos, inclusão em grupos de estudos ou familiares,
entre outros. Por que isso geralmente não é feito por nossos
tribunais?

1
GINGRICH-DANKER. Léxico do N.T. Grego/ Português. São Paulo: Vida Nova, 1983. p.153.

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Da mesma forma a visão e a participação da comunidade no


processo disciplinatório também podem ser positivas. Se o período
da disciplina significa um momento de cuidado especial com a
pessoa em falha, a comunidade não pode simplesmente agir como
mera espectadora, com curiosidade ou comentários maldosos e
indiferença. Ela é chamada a contribuir durante todo o processo para
recuperar totalmente o faltoso.

1.2 O PODER DA IGREJA


Como definida no Código de Disciplina da IPB, “disciplina
eclesiástica é o exercício da jurisprudência espiritual da igreja sobre
os seus membros, aplicada de acordo com a Palavra de Deus (CD,
art. 2º). Daí resulta ser o exercício do poder da igreja para educar
seus membros ou, em casos, graves, declará-los fora de sua
comunhão.
A CI/IPB estabelece que o poder da igreja é “espiritual e
administrativo, residindo na corporação, isto é, nos que governam e
nos que são governados” (art. 3º). Este poder é declarativo e não
normativo, o que o torna bem limitado. É apenas uma declaração do
que a Palavra de Deus diz com respeito a procedimentos com a falha
ou pecado. Não se pode conferir à igreja ou aos seus concílios o
direito de decidirem sobre o que moralmente bom ou mal; só Deus
tem essa prerrogativa (Rm 1.32; 2.16; 3.4-8; 9.20; Sl 119.89,142,160;
Mt 5.18). O mesmo vale para a declaração de perdão de pecados (Is
43.25; 55.7; Mc 2.7,10; Sl 103.3; 1Jo 1.9).
A autoridade dos que governam é de ordem (quando exercida
por oficiais individualmente, como na administração da ceia,
impetração da bênção e integração de concílios) e de jurisdição (em
concílios) para legislar, julgar, admitir, excluir ou transferir membros
e administrar as comunidades (CI/IPB, art. 3º, § 2º).

a) Mt 16.19 e 18.18
“... o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e o que
desligardes na terra terá sido desligado nos céus”.
No original é usada a construção verbal chamada de futuro
perfeito passivo perifrástico para indicar que a ação seria completada

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antes de algum ponto no futuro e cujos efeitos continuariam ser


sentidos. Ou seja, o ato de ligar no céu será completado antes do ato
futuro de ligar na terra. “É a igreja na terra levando a efeito as
decisões do céu, e não o céu ratificando a decisão da igreja”2.
Desse modo, a decisão de um tribunal humano sentenciar
uma pessoa traz o enorme peso espiritual de buscar a certeza bíblica
de que tal disciplina já começou no céu, no tribunal de Cristo.

b) O poder da igreja e o poder do Estado


O poder da igreja é espiritual e não civil. Cabe ao Estado o
“poder da espada” (Rm 13.1-7). Estado e Igreja são esferas
diferentes e paralelas do Reino de Deus e uma não deve governar a
outra (Mt 22.21; Jo 18.36; 2Co 10.3-4). Portanto, a igreja não pode
usar a força física para coagir obediência ao Evangelho (Lc 9.54,55).
Nem o Estado o pode fazer. Mas nas questões civis cabe ao Estado
usar suas armas legítimas para coibir o mal; a luta da igreja é através
de armas espirituais (2Co 10.4).

1.3 A DISCIPLINA E A CONFISSÃO DE FÉ DE


WESTMINSTER
Abaixo transcrição do capítulo 30, da nossa Confissão de Fé:
1. O Senhor Jesus, como Rei e Cabeça da sua Igreja,
nela instituiu um governo nas mãos dos oficiais dela;
governo distinto do magistrado civil1. 1 - Is 9.6-7; 1Tm
5.17; 1Ts 5.12; At 20.17, 28; 1Co 12.28; Jo 18.36.
Para nossos símbolos de fé, a igreja não pode deixar para o
Estado a disciplina de seus membros, porque seu governo é distinto.
No parágrafo seguinte há uma especificação maior do que
seja o poder da igreja para a disciplina: as chaves do Reino do Céu,
ou o poder espiritual declarativo:
2. A esses oficiais estão entregues as chaves do Reino
do Céu. Em virtude disso, eles têm, respectivamente, o

2
Albright, W. F; Mann, C. S. The Anchor Bible: Matthew. Garden City, NY: Doubleday, 1971
citado por Rienecker-Rogers (2000, p, 37).

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poder de reter ou cancelar pecados; de fechar esse reino


a impenitentes, tanto pela Palavra como pelas censuras;
de abri-lo aos pecadores penitentes, pelo ministério do
Evangelho e pela absolvição das censuras, quando as
circunstâncias o exigirem1. 1 - Mt 16.19; 18.17-18; Jo
20.21-23; 2Co 2.6-8.
O parágrafo terceiro aborda a questão da necessidade da
disciplina. Sem ela a igreja se degeneraria totalmente.
3. As censuras eclesiásticas são necessárias para
chamar e ganhar (para Cristo) os irmãos transgressores,
a fim de impedir que outros pratiquem ofensas
semelhantes, para lançar fora o velho fermento que
poderia corromper a massa inteira, para vindicar a honra
de Cristo e a santa profissão do Evangelho, e para evitar
a ira de Deus, a qual, com justiça, poderia cair sobre a
Igreja, se ela permitisse que o pacto divino e os seus elos
fossem profanados por ofensores notórios e obstinados1.
1–
1Co 5; 11.27-34; 1Tm 5.20; 1.20; Jd 22,23.
O último capítulo enumera os possíveis passos para a
execução da disciplina: repreensão, suspensão da Ceia por algum
tempo e exclusão da igreja.
4. Para a melhor obtenção destes fins, os oficiais da
Igreja devem proceder dentro da seguinte ordem,
segundo a natureza do crime e demérito da pessoa:
repreensão, suspensão do sacramento da Ceia do
Senhor por algum tempo e exclusão da Igreja1. 1 - Mt
18.17; 1Ts 5.12; 2Ts 3.6,14-15; 1Co 5.3,4,5,13; Tt 3.10.

1.4 A IMPORTÂNCIA E PROPÓSITO DA DISCIPLINA


Calvino comparou a disciplina eclesiástica com a salvação da
seguinte forma: “assim como a doutrina salvífica de Cristo é a alma
da igreja, assim também a disciplina é-lhe como que a nervatura,
mercê da qual acontece que os membros do corpo entre si se liguem,

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cada um em seu lugar”3. Pela disciplina a igreja mantém unidos os


seus membros durante o caminho da salvação aqui no mundo.
O CD/IPB definiu a disciplina eclesiástica como “o exercício
da jurisdição espiritual da igreja sobre seus membros, aplicada de
acordo com a Palavra de Deus” (CD/IPB, art. 2º). E quanto ao seu
propósito diz:
Toda disciplina visa edificar o povo de Deus, corrigir
escândalos, erros ou faltas, promover a honra de Deus, a
glória de nosso Senhor Jesus Cristo e o próprio bem dos
culpados (CD/IPB, § único).
Dessa definição podemos extrair algumas finalidades da
disciplina eclesiástica.

a) Edificação do povo de Deus


Quando a disciplina é aplicada nos termos bíblicos, não
apenas há a restauração do faltoso ou a sua exclusão do rol de
membros, mas também há a edificação do povo, pois a igreja é
purificada e instada a viver com temor e tremor diante de Deus e dos
homens. O apóstolo Paulo diz: “...purifiquemo-nos de toda impureza,
tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no
temor de Deus (2 Corinthians 7.1). O escritor de Hebreus disse que
a disciplina é para aproveitamento a fim de sermos participantes da
santidade de Deus e que produz frutos pacíficos naqueles aos quais
ela é exercitada, e que pode restabelecer as mãos descaídas, os
joelhos trôpegos, fazer retos os caminhos para os pés a fim de não
se extraviar o que é manco, antes, que ele seja por ela curado (Hb
12.10-13).

b) Uma barreira à propagação do mal


Nem sempre o faltoso será curado, mas se bem aplicada a
disciplina será uma barreira contra a contaminação de outros pelo
erro. Especialmente conflito entre pessoas se não forem resolvidos
logo, contaminará um número grande de pessoas (Hb 12.15; 1Co
5.2, 6-7). Paulo chega a dizer que os líderes em desvio de conduta

3
CALVINO, v.4, p.211.

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devem ser punidos publicamente para que outros temam (1Tm 5.20),
o que foi feito com o apóstolo Pedro (Gl 2.11).
Vale lembrar que a disciplina abrange não somente os
pecados morais ou de comportamentos inadequados como também
a erros doutrinários ou heresias ou falhas dos concílios.

c) Pureza da igreja e honra de Cristo


Quando cristãos ou concílios continuam em pecado ou em
falta grave, sem qualquer disciplina, o nome de Cristo é desonrado
entre os descrentes (Rm 2.24). O objetivo da disciplina também é
nos tornar sem mácula e irrepreensíveis (2Pe 3.14) e uma igreja
santa e sem defeito (Ef 5.27). Por ser uma afronta à santidade de
Cristo, tolerar o pecado pode custar caro à igreja (1Co 11.27-34; Ap
2.20, 14.16).

d) O bem dos culpados


Assim como os pais sábios disciplinam seus filhos (Pv 13.24)
e Deus, como nosso Pai, nos disciplina (Hb 12.6; Ap 3.19), assim
também a igreja disciplina os seus membros para trazer de volta
aquele que está a desviar-se ou enfraquecido na fé. A ideia principal
é “ganhar” o irmão (Mt 18.15), “restaurar com espírito de brandura”
(Gl 6.1) e converter o pecador do caminho errado (Tg 5.20).
Até mesmo o último passo da disciplina, a excomunhão,
aponta para a esperança de que a pessoa seja salva (1Tm 1.20; 1Co
5.5). Logo, a disciplina visa o bem dos culpados, a sua restauração
e reconciliação com a Igreja de Cristo.

1.5. PECADOS PARA DISCIPLINA


A questão prática da disciplina aqui se impõe: quais são os
pecados para o exercício da disciplina eclesiástica?
Segundo Mt 18.15-17, quando questões de queixa pessoal
não são resolvidas particularmente, torna-se um assunto para
disciplina formal. Mas o Novo Testamento não parece apresentar
uma lista restrita de pecados que tenham de ser disciplinados

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formalmente. Pelo contrário, a grande variedade de pecados punidos


pela disciplina aponta uma extensão muito grande da disciplina.
Alguns exemplos: divisões e escândalos (Rm 16.17, Tt 3.10);
incesto (1Co 5.1); ociosidade ou rejeição ao trabalho (2Ts 3.6-10);
desobediência aos escritos apostólicos (2Tm 3.14,15); blasfêmia
(1Tm 1.20), heresias (2Jo 10-11).
Como bem observa Wayne Grudem, os pecados
explicitamente disciplinados no Novo Testamento eram pecados
publicamente conhecidos ou muito óbvios e persistentes4. A exceção
é o pecado de Ananias e Safira, os quais foram punidos por pecados
de foro íntimo (At 5.1-11).
Nosso Código de Disciplina (art. 1º) reconhece que o foro
íntimo da consciência escapa à jurisdição da igreja, sendo dele, só
Deus o juiz. Mas o foro externo está sujeito a constante vigilância e
observação da igreja ou dos concílios.
Sendo assim
Falta é tudo que, na doutrina e prática dos membros e
concílios da igreja, não esteja de conformidade com os
ensinos da Sagrada Escritura, ou transgrida e prejudique a
paz, a unidade, a pureza, a ordem e a boa administração da
comunidade cristã (CD/IPB, art. 4º).
A seguir, impede os tribunais de considerar como falta, ou
admitir como matéria de acusação algo que não possa ser provado
como tal pela Escritura (CD, art. 4º, § único e CI/IPB, art. 1º).
Apesar do exposto acima, a igreja passa adotar como praxe
a eleição de alguns poucos pecados para disciplina. Dentre esses,
os pecados do sexo ocupam quase a unanimidade. Quando se vê
falar que alguém foi disciplinado é quase certo que o motivo foi a
quebra do sétimo mandamento. Mas e os outros mandamentos das
Escrituras?
A questão de saber quais pecados merecem disciplina
pública também se esbarra no propósito da disciplina. Por exemplo,
uma pessoa que tenha cometido um pecado notório e que tenha
demonstrado arrependimento e sincero esforço de mudança, poderia

4
Ver GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova, 1999.
p.752.

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se sentir muito melhor apenas com uma admoestação e


acompanhamento espiritual do que com uma declaração pública de
pena eclesiástica. O ideal de uma igreja pura não pode se tornar um
legalismo artificial apenas para satisfazer a justiça de um grupo de
pessoas e desprezar a graça de Deus em aceitar os pecadores.
Outro perigo é que a eleição de pecados “graves” põe em
risco a visão radical do pecado, enfraquecendo a nossa
hamarteologia, o que se vê claramente na igreja brasileira. O que
parece ser um zelo pela santidade, se torna um desprezo flagrante
aos inúmeros apelos das Escrituras quanto a uma grande variedade
de pecados e não apenas para alguns (por exemplo, Gl 5.19-21; Ap
21.8).

1.6 DICAS PARA MELHOR EXECUTAR A DISCIPLINA


 Restringir a ciência do pecado a um número menor possível
de pessoas. Isso facilita o arrependimento, diminui a
abrangência dos escândalos, preserva a honra da pessoa
e de Cristo.
 Progressão de pena. Sempre é bom começar com uma
pena menor possível e ir aumentando-a à medida da
necessidade, considerando os atenuantes e agravantes.
 Um cuidado maior com a disciplina de líderes da igreja. Ver
1Tm 5.19-21. Isso se justifica em razão de sua influência
sobre outros e da possibilidade do escândalo.
 Muito cuidado no que contar para a igreja, especialmente se
for líder. Nunca os detalhes do pecado devem ser contados
para a igreja. A igreja deve saber apenas o suficiente para:
1) entender a seriedade do pecado em questão; 2) ser
capaz de compreender e apoiar o processo de disciplina;
3) não sentir que o pecado foi minimizado ou encoberto, se
mais detalhes vierem à tona posteriormente.
 Ser rápido em acolher o arrependido à comunhão da igreja.
Conforme 2Co 2.7-8; 7.8-11. Isso ajuda a pessoa a ser
integrada novamente no convívio da comunidade de fé.
 O perdão não isenta a disciplina. Logo após Jesus falar da
disciplina (Mt 18.15-20) ele fala que devemos perdoar os

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que nos ofendem quantas vezes forem necessárias (Mt


18.21-35). O perdão tem mais a ver conosco do que com a
pessoa. Espera-se que um cristão ofendido tenha
condições de perdoar plenamente seus ofensores, mas
também que o ame o suficiente para abrir um processo
disciplinar para o bem do ofensor, para a honra de Cristo e
porque a Palavra de Deus assim o ordena.

II. O CÓDIGO DE DISCIPLINA DA IPB


1. CONTEÚDO CONSTITUCIONAL
Natureza e finalidade – arts. 1º/3º
Faltas – arts. 4º/7º
Penalidades – arts. 8º/17
Tribunais – arts. 18/26
Da suspeição e da incompetência - arts. 27/41
Processo
Seção 1ª - Disposições gerais - arts. 42/47
Seção 2ª - Do andamento do processo - arts. 48/64
Seção 3ª - Do processo em que o Concílio ou tribunal for parte
– art. 65/67.
Seção 4ª - Do interrogatório do acusado, da confissão e das
perguntas ao ofendido - arts. 68/70
Seção 5ª - Das testemunhas e da acareação – arts. 71/82
Seção 6ª - Do secretário - art. 83
Seção 7ª - Das citações - arts. 84/91
Seção 8ª - Da intimação - arts. 92/93
Seção 9ª - Da sentença ou acórdão - arts. 94/96
Seção 10ª - Do processo sumaríssimo perante o Conselho -
arts. 97/102
Seção 11ª - Do processo sumário - arts. 103/106
Seção 12ª - Do processo ordinário - arts. 107-112

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Dos recursos em geral


Seção 1ª - Natureza dos recursos - arts. 113/114
Seção 2ª - Da apelação - arts. 115/124
Seção 3ª - Da revisão - arts. 125/126
Seção 4ª - Do recurso extraordinário - arts. 127/132

2. DESDOBRAMENTO JURÍDICO DO CONTEÚDO


a) Estrutura
1. Código Penal – arts. 4º e 17
2. Organização judiciária - arts. 18 e 41
3. Código de Processo - arts. 42 e 132
4. Código de Execuções - arts. 133, 134

b Filosofia
Arts. 1º e 3º.
1. Foro íntimo humano (extra jurisdicione e intra jurisdicione);
Externo (comportamento).
2. Natureza espiritual e declarativa.
3. Fundamento: a palavra de Deus.
4. Fim da pena (duplo fim: punição e utilidade), combinado
com a retribuição e recuperação do faltoso (art. 2º, parágrafo
único e 3º).

3. CÓDIGO PENAL

Art. 4º e 17.
a. Teoria das “faltas”.
 Fatos inconformes com a Bíblia
 Fatos contra a IPB - art. 4º.

b. Elementos
Art. 6º (da falta).

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 Subjetivos – (vontade e culpa).


 Objetivos (Ação propriamente dita)
 (Omissão)
 (Situação ilícita)
 (Resultado – evento)

c. Classes
 Sujeito ativo (aquele que pratica a falta – individual,
arts. 4º e 7º).
 Sujeito passivo (aquele que sofre a falta – pessoal e
geral).
 Notoriedade (públicas e veladas).

d. Penas
As penas atingem:
 O indivíduo (admoestação - art. 9º, a; afastamento -
art. 9º, b; exclusão - art. 9º, c; deposição - caso de
ministro e oficiais)
 O concílio (Repreensão - art. 10; Interdição e
Dissolução)

e. Individualização da Pena
Art. 13. A pena deve ser proporcionalmente à falta e
graduada.

f. Aplicação provisória das penas


Art. 16, § único.

g. Direito de defesa
Art. 16.

h. Decadência e prescrição
A decadência se dá depois de um ano da ciência do fato (art.
17) e a prescrição: dois anos do fato (art. 17, § único).

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4 ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. TRIBUNAIS


a) O Conselho
Competência sobre membros e oficiais - art. 19.

b) O Presbitério
Competência originária sobre ministros e Conselhos. Em grau
de recurso ordinário julga apelação de sentenças dadas pelo
Conselho (art. 20).

c) O Sínodo
Competência do plenário para julgar originalmente presbitérios
(art. 21). Em grau de recurso julga apelação dos presbitérios (art. 21,
§ único).

d) Tribunal do Sínodo
Haverá no Sínodo um tribunal de recursos para casos do art.
20, I, “a” e “b”, ou seja, recursos de ministros e concelhos.

e. Supremo Concílio
O Supremo Concílio processa e julga privativamente os
sínodos (art. 22).

f. Tribunal de recursos do Supremo Concílio


Processa e julga: Recurso Extraordinário das sentenças finais
dos presbitérios e dos Sínodos; recursos extraordinários das
sentenças finais dos tribunais dos sínodos.

g. Revisão de processo findo


Compete tanto os concílios quanto os tribunais rever as suas
próprias decisões em processos findos (art. 23).

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O Tribunal Eclesiástico | 18

5. CÓDIGO DE PROCESSO
a) Início
 Queixa  Apresentada pelo ofendido;
 Denúncia  Por qualquer outro (promotor). Ambas
escritas.

b) Condições de procedibilidade
 Correção suasória da falta – art. 43.
 Advertência ao malicioso ou leviano – art. 47.

c) Condições de seguimento do processo


Art. 46 - Necessidade para a Igreja.
 Esgotados os passos de Mt 18.15,16.
 Lisura da acusação.

d. Ritos
Arts. 97-112.
 Sumaríssimo – Perante o Conselho.
 Sumário (art. 103). Há incidentes – “b” e “c”.
 Ordinário – Ministros e Concílios, desde que haja
contestação ou dificuldade na apuração da verdade.

e. Instauração do Processo (Sumário e Ordinário).


 Decisão de instauração (após observados os itens
1,2,3).
 Advertências de gravidade das funções (art. 52).
 Providências iniciais: autuação, citação do acusado
(arts. 48, 84 e 91)
 Como pode ser a citação: Carta (85), Carta Precatória
(87), Edital (90).
 Designação de um relator e defensor (arts. 51 e 59).
 Agravo (art. 54) – “Recurso intermediário”.
 As partes e seus procuradores (art. 56).

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O Tribunal Eclesiástico | 19

f. O interrogatório do acusado
Art. 68.

g. Inquirição das testemunhas e a acareação.


Arts. 71 e 81; art. 82.

h. Outras provas a produzir


Provas documentais (art. 68), periciais e diligências (art.108).

i. Outros atos processuais


Intimação da decisão (art. 92, 14, 133 e 61 – Livro próprio).

j. Sessões e Julgamento
Art. 61, § 1º, b, § 2º.

k. Fim do processo em primeira instância:


 Sentença ou acórdão (art. 94).
 Decisão absolutória (art. 95).

l. Recursos
 Recurso de apelação (art. 115).
 Recurso de revisão (art. 125).
 Recurso Extraordinário do Tribunal do Supremo
Concílio – dois casos (art. 127).

6. CÓDIGO DE EXECUÇÕES
a. Faltas veladas
Art.14, a.

b. Faltas públicas
Art. 14, b.

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O Tribunal Eclesiástico | 20

c. Cautelas
Arts. 15 e 53.

7. RESTAURAÇÃO
 Pena determinada (art. 9º, b, 134, a).
 Pena indeterminada (art. 9º, b, 134, b).
 Oficiais (art. 134, c, d).

8. ROTEIRO GERAL NO ANDAMENTO DE UM


PROCESSO
a - Reunido o Tribunal para receber a queixa ou a denúncia,
observar o seguinte:
 Se a queixa ou a denúncia está em ordem,
devidamente formalizada;
 As letras a, b e c do art. 46, conforme o caso;
 Advertência do art. 47;
 Advertência aos juízes conforme art. 52.
b - Decidida a instauração do processo (art. 48), proceder a:
 Autuação da queixa ou denúncia (arts. 48, 49, 50).
 Citação do acusado, com cópia da queixa ou
denúncia, com determinação de dia, hora e local para
vir ver-se processar, nomear procurador, ser
interrogado e defender-se (arts. 48, 56, 68, 84 ss., 16,
60).
 Designação do dia do interrogatório (arts. 56, 68).
 Nomeação de um relator, o qual opinará pelo
arquivamento ou seguimento (arts. 50, 51, 94, § 1º).
c - Determinada a citação, suspende-se o processo até o dia
marcado para o interrogatório, mínimo de 8 dias (arts. 48, § 2º;
84, 85). Observar os arts. 44 único, 48 § 1º e 56 único.
d - Na reunião do Tribunal no dia de comparecimento do acusado
observar:
 Seu interrogatório pelo presidente – (art. 68);

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O Tribunal Eclesiástico | 21

 Dar-lhe o direito de nomear ou indicar procurador


(defensor), se não o fez antes (arts. 44, 56, 58). Se
ausente o defensor, nomear um “ad-hoc” (art. 57). Os
Concílios sempre se fazem representar por
procurador (arts. 65, 67);
 O ofendido ou queixoso também pode nomear
procurador (arts. 44, 56);
 Reduzir a termo as respostas do interrogatório, que
depois serão assinadas.
f - Fica sempre assegurado ao acusado o mais amplo direito de
defesa (arts. 16, 60, 66, 99, 110).
g - Alguns atos, entre outros, do secretário:
 Observar arts. 48, 50, 83, 86, 91 a 93;
 Dar atenção ao registro em Livro próprio, conforme
art. 61 e parágrafos e art. 62;
 Cumprir todo o art. 14 e 133, indicando os prazos (41
§ 1º. 48 § 2º, 91, 108 a 111, 117).
h - Testemunhas – são arroladas até 5 de cada parte (arts. 71, 72)
e nos depoimentos, observar os arts. 72 a 82.
Ordem de arguição: pelo tribunal; por quem os indicou; pela
parte contrária (79 §2º).
i - Havendo confissão, observa-se o processo sumário (arts. 70 e
103 a).
Neste caso há a palavra ou parecer do relator, da acusação,
da defesa, seguindo-se a votação pelo relator e depois por
ordem de idade, a começar dos mais moços (arts. 70 e
104).
j. Em caso de denúncia de ministro (art. 107 a e c) e cumpridas as
diligências supra, haverá o prazo de 5 dias para a acusação e
defesa apresentarem suas “alegações finais” por escrito (art.
111). A apresentação é facultativa.
l. Concluída a instrução e findo o prazo do relator (5 dias), convoca-
se o Tribunal com designação de dia, hora e local, para o
julgamento (processo ordinário) (arts. 197 a 112). Mas na
audiência do processo ordinário observa-se o rito do processo
sumário (112 e 103 a 106).
m. A sentença (acórdão) é escrita pelo relator (arts. 94 a 96),
observadas as atenuantes e agravantes (arts. 13 a 15),

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O Tribunal Eclesiástico | 22

aplicando-se a pena cabível (arts. 9º a 11) ou absolvendo o


acusado (art. 95).
n. Se na votação o relator for voto vencido, o acórdão será lavrado
por outro juiz com voto vencedor (arts. 94 § 3º). Em caso de
empate, o presidente votará; se impedido a decisão é favorável
ao acusado (art. 105, parágrafo único).
o. Após a sentença ou acórdão, cabe recurso da parte vencida (se
o desejar). Prazo: 5 dias (arts. 113 a 117).
p. Para a execução da pena, observar o disposto no art. 113 e para
restauração ver o que diz o art. 134.
q. Registro na Ata do Conselho – Observar art. 61 e 62, CD.
Como todos os detalhes do processo e da sentença já estão nos
autos, o registro na Ata do Conselho é o mais resumido possível.

Quanto ao registro do processo:


 hora, data, local, nome do tribunal, juízes presentes e
ausentes, nome do queixoso ou denunciante e do
acusado, e natureza da queixa ou denúncia;
 oração inicial, declaração do ocorrido, (interrogatório,
inquirição de testemunhas de acusação ou de
defesa, acareação, confissão, julgamento de
processo, julgamento de recurso ou de apelação);
 se qualquer juiz ou parte chegou posteriormente, e
algum outro fato digno de registro;
 hora e data da nova convocação e do encerramento
do trabalho com oração.

 Quanto ao registro da sentença:


Apenas declarar ter sido recebida ou rejeitada a
denúncia por tantos votos a favor e tantos contra;
Ou o recurso escrito ou a apelação com o resultado
da votação, dando ou negando provimento, ou
aplicando pena.
Serão consignados os nomes dos juízes que votarem a favor
ou contra.

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O Tribunal Eclesiástico | 23

Deve-se observar, ainda, que cada tribunal poderá ter


(opcional) um livro de atas exclusivo para registro do resumo de suas
atividades.

9. AUDIÊNCIA NO PROCESSO SUMARÍSSIMO PERANTE


O CONSELHO

O Conselho como tribunal tem de partir do fundamento de uma


queixa ou denúncia para convocar a pessoa. Se não se observar
isso, o Tribunal do Conselho poderá ficar em situação vexatória se o
convocado negar as acusações que lhe são feitas.
Ouvir as declarações do acusado, respeitando seu direito de
defender-se e requerer investigações (arts. 16 e 99).
Nada mais havendo a investigar, reunido o tribunal novamente,
este decide julgando o caso (art. 101).
Em caso de condenação, cabe ao acusado apelar ao
Presbitério no prazo de 5 (cinco) dias (art. 117).

10. AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO NO PROCESSO


SUMÁRIO

Depois de cumpridas todas as formalidades processuais, no


dia designado reúne-se o tribunal para ouvir o relatório (parecer) do
relator, o qual é a sentença escrita conforme o art. 94 e seu § 1º.
Palavra à acusação e à defesa por 10 minutos cada uma.
Votação: primeiro o relator, o qual conclui a leitura da segunda
parte de seu relatório, aborda questões de mérito e justifica seu voto,
depois os demais juízes, a começar dos mais jovens.
Em caso de empate, o presidente votará; se impedido, a
decisão será favorável ao acusado (art. 105, § único).
O juiz com voto vencido, dará as razões de seu voto, caso o
queira (art. 94, § 2º).
Se o relator for voto vencido, nomeia-se outro com voto
vencedor para redigir o acórdão. Este é sempre o resumo da decisão,
absolvendo ou condenando o acusado (art. 95).
Proclamação da decisão em audiência (art. 106).

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O Tribunal Eclesiástico | 24

11. AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO NO PROCESSO


ORDINÁRIO

Cumpridas todas as formalidades para o processo ordinário,


observar o amplo direito de defesa do acusado durante toda a fase,
especialmente as referidas nos arts. 108/109.
Apresentação de alegações finais pela acusação e pela
defesa. É uma análise geral do processo que cada parte faz, para
sustento de sua tese, sua posição e pontos de vista, analisando
depoimentos, documentos, laudos e o que mais lhe interessar. É ato
facultativo à parte interessada, pois com elas ou sem elas, o relator
terá condições de apresentar seu trabalho final (art. 94 e § 1º).
O presidente despacha os autos ao relator e deve convocar o
Tribunal para o dia da audiência de julgamento (art. 111).
No dia designado observam-se os mesmos procedimentos da
audiência do processo sumário (arts. 112, combinado com 104 a 106:
o relator lê seu parecer, acusação e defesa falam por 10 minutos; o
relator conclui seu parecer e voto, com justificativa, e a seguir votam
os demais juízes, desde os mais moços; apura-se e proclama-se o
resultado; redige-se o acórdão com ciência às partes).

12 AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO DE RECURSO DE


APELAÇÃO

Se a apelação é de membro de Igreja, o processo é


encaminhado ao Tribunal do Presbitério, constituído de seu plenário.
Constituído o quórum do tribunal, verificar se há juízes
suspeitos ou impedidos por haverem atuado na instância inferior (art.
28 c).
O apelante pode, caso esteja irresignado com a decisão do
Presbitério, apresentar Recurso Extraordinário ao Tribunal de
Recursos do SC-IPB, desde que seu julgamento justifique um ou os
dois casos previstos nas letras a e b do art. 127, CD/IPB.
Por que não apelar ao Tribunal de Recursos do Sínodo? Pelo
art. 21, parágrafo único, este tribunal tem competência para julgar os
recursos que processaram ministros e conselhos (art. 20 I, a e b). No

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O Tribunal Eclesiástico | 25

caso aqui citado, o recurso de membro de Igreja não se enquadra no


dispositivo citado.
No dia da audiência, apregoadas as partes pelo secretário,
observa-se o mesmo procedimento para o julgamento descrito para
o processo sumário (arts. 103/106).

13 AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO NO TRIBUNAL DE


RECURSOS DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB

Código de Disciplina, art. 22, parágrafo único.


Informações gerais e observações quanto à audiência.

I. Preliminares
1. O Tribunal deve ter seu presidente e um secretário (CD, art.
25; 50 e 83).
2. Recebido o recurso, o presidente mandará autuar o pedido e
requisitar o processo que lhe der lugar; verificará se o recurso
está devidamente instruído e convocará o Tribunal (art. 128).
3. Se o pedido não estiver instruído e a matéria não constituir
assunto para Recurso Extraordinário (RE), o presidente
mandará arquivar o processo (art. 128, p. único).
4. Reunido o Tribunal, este receberá o pedido e o processo e
designará um relator (art. 129).
O relator apresentará parecer escrito nos autos (art. 130); o
presidente designará local, dia e hora para o julgamento e convocará
novamente o Tribunal.
Intimar também as partes (art. 119).

II. Na Audiência
Art. 131.
1. Oração.
2. Composição do Tribunal (quórum de 5, sendo 3
ministros e 2 presbíteros – CD/IPB, art. 24, § único).
3. Ver na composição se há alegação de suspeição – por
escrito – (arts. 27, 28, 29 e 30) – se for marido, parente
consanguíneo ou afim, até o terceiro grau, de uma das

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O Tribunal Eclesiástico | 26

partes. Ex.: pai para filho = 1º grau; para neto = 2º grau;


para bisneto = 3º grau. Primos são de 4º grau.
4. Pregão das partes pelo Secretário (art. 120).
5. Palavra ao relator (art. 131 a).
6. Palavra ao requerente para alegações (10 minutos; art.
131, b).
7. Votação (ordem de votação, conforme art. 120):
a. Relator (ele termina a 2ª parte de seu relatório, discute
ou analisa o mérito e justifica seu voto).
b. Juízes (dos mais moços aos mais idosos), podendo
haver justificativa de voto ou acompanhar outro que já
votou. (art. 120, in fine).
8. Decisão:
a. Se a apelação é do acusado somente, a pena não poderá
ser aumentada (art. 121).
b. Em caso de empate, o presidente desempata (art. 122).
c. Se o presidente não puder votar, a decisão é favorável
ao acusado (art. 122, p. único).
d. Vencido o voto do relator, outro relator, nomeado pelo
presidente, dentre os vencedores, redigirá novo acórdão
(art. 123)
e. A decisão final confirma ou reforma, no todo ou em parte,
a sentença apelada (art. 124)
f. Ciência às partes presentes ou conforme o art. 96 e 14.

14 NOÇÕES DE PRAZO
a) Definições
Prazo é o período de tempo no qual os atos processuais são
realizados. É a lei que especifica os diferentes prazos e todos os
envolvidos nele, inclusive juízes e tribunais, obrigam-se a seu
cumprimento. É, no caso, o chamado prazo legal. Este se torna
peremptório ou fatal, uma vez esgotado, porque não mais admite a
prática de atos ou provas a produzir. É, ainda, peremptório porque
não admite prorrogação; em sua duração praticam-se os atos
prescritos na lei ou perde-se esse direito. Exemplo comum é o caso

| Rev. Wagner Nogueira


O Tribunal Eclesiástico | 27

de a parte interessada ou vencida apresentar recurso à instância


superior.
O juiz ou o tribunal eclesiástico pode determinar às partes
envolvidas no processo a prática de certos atos dentro de
determinado prazo. É o chamado prazo judicial. Não observado ou
não cumprido por motivo justificado e aceita a justificativa pela
autoridade judicante, esta assina novo prazo para que atenda o que
antes determinara. Se com ou sem prorrogação ou prazo não for
cumprido, ocorre a preclusão, isto é, o impedimento de observar ou
praticar no processo atos determinados e, conforme o caso previsto
na lei, leva à extinção do direito da parte interessada.
A inércia da pessoa por não utilizar dos meios legais para
atender seus direitos no tempo que a própria lei estabelece, chama-
se prescrição. A prescrição é um prazo peremptório ou fato e ocorre
no art. 17 do CD. Interrompe-se ou suspende-se a ocorrência da
prescrição iniciando-se o processo contra o faltoso, por meio da
queixa ou denúncia (CD, art. 42), dentro de um ano da ciência de sua
falta. Em se passando determinado tempo da prática da falta, que no
caso do CD, art. 17, § único, é de dois anos, sem que tenha havido
queixa ou denúncia, o direito a ser exercido contra o faltoso caduca
e, processualmente falando, nada mais pode ser feito contra ele.
Chama-se esse decurso de prazo de decadência.

b) Contagem dos prazos


O CD/IPB nada dispõe sobre o modo de contar os prazos que
ele estipula. Na legislação secular, o Código de Processo Civil
doutrina que “salvo disposição em contrário, computar-se-ão os
prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento”
(art. 184). Continua o mesmo dispositivo: “Considera-se prorrogado
o prazo até o primeiro dia útil se o vencimento cair em feriado ou em
dia em que: I – for determinado o fechamento do fórum. Os prazos
só começam a correr do primeiro dia útil após a intimação” (§§ 1º e
2º). O Código de Processo Penal, mais antigo que o anterior, em seu
art. 798, diz: “Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos
e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou
feriado”. “§ 1º: “Não se computará no prazo o dia do começo,
incluindo-se, porém, o do vencimento”.

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O Tribunal Eclesiástico | 28

Não computar o dia do começo e incluir o dia do término é a


continuidade da vigência do antigo princípio romano que assim dizia:
“dies a quo nom computatur in termino; dies ad quem computatur in
termino” (O dia do início do prazo não se conta; conta-se o dia em
que este termina). A praxe forense criou, abreviadamente, as
expressões dies a quo para o início do prazo e dies ad quem para o
término.
Dentre as diversas atribuições do secretário do tribunal (CD,
art. 83-d), compete-lhe: “dar às partes ciência de prazo, de
despachos e sentenças, fazer citações, notificações e intimações, de
tudo lavrando os termos e certidões nos autos”. O parágrafo único
do art. 92 especifica que “a intimação será feita verbalmente pelo
secretário ao intimando, devendo ser certificada nos autos”. O art. 93
arremata dizendo que a intimação deverá ser feita por ordem escrita.
Ainda que bem claro o dispositivo anterior, é sempre mais prudente
também o cumprir mediante comunicação escrita, com cópia nos
autos. Obviamente que fica excluída essa providência quando a
parte ou seu procurador, com poderes especiais, se acharem
presentes, como, por exemplo, no caso do art. 117, competindo ao
secretário colher o ciente dele naquela oportunidade.
Quanto a contagem dos prazos, nosso CD se queda silente,
e a praxe presbiteriana vem observando que exclusão do dies a quo
e o cômputo do dies ad quem. É sempre bom e mais prudente não
deixar para o último dia o cumprimento dos prazos.

c) Prazos no CD/IPB
Um dia ou 24 horas, como diz o texto, para o juiz responder
que não aceita sua suspeição (art. 32).
Três dias para a acusação, após ouvido o acusado e
testemunhas, requerer diligências que entender, cabendo à defesa o
mesmo direito (art. 108).
Cinco dias:
a. Para o acusado apresentar defesa escrita e, depois,
alegações finais, prazo este também para a acusação (arts.
68-f e 110);
b. Para o apelante interpor recurso de apelação da sentença,
após intimado, e mais cinco dias para arrazoar (art. 117);

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O Tribunal Eclesiástico | 29

c. Para o apelado contra-arrazoar (art. 117);


d. Para o relator do tribunal superior examinar o processo sob
recurso (art. 118).
Oito dias de tempo mínimo estipulado para o acusado
comparecer ao tribunal (art. 48, § 2º).
Dez dias:
a. Para o tribunal responder
b. a acusação de suspeição levantada contra ele (art. 34);
c. Para o relator examinar o processo, opinando pelo
arquivamento ou seguimento (art. 50).
Quinze dias, a partir da citação, para que seja alegada, pelo
faltoso, a incompetência do tribunal (art. 38).
Trinta dias para o tribunal proceder a revisão admitida (art.
126).
Um ano para iniciar o processo, contado da ciência da falta
(art. 17). Após isso ocorre a prescrição.
Dois anos para iniciar o processo a partir da ocorrência do
fato, se o tribunal não tinha ciência da falta (art. 17, parágrafo único).
Passando esse prazo ocorre a decadência.

15 ALGUNS CONCEITOS TÉCNICOS


Ato – de agere – levar, conduzir. É toda ação resultante da
vontade ou da manifestação da vontade. É tudo que acontece pela
vontade de alguém. Pelo C. D. as faltas são atos sujeitos a processo
(art. 6º e seguintes). A palavra é acrescida de outras: ato jurídico; ato
lícito; ato de comércio; ato civil; ato legislativo.
Fato – Algo que ocorre com ou sem a intervenção da vontade
humana. É a alteração ou mudança no curso das coisas ou na
existência das pessoas. O ato está no fato. Os fatos são naturais e
voluntários. Os primeiros ocorrem sem a intervenção do homem; os
voluntários, pela ação do homem. A questão debatida é um fato.
Direito Substantivo (ou Lei Substantiva) – O substantivo
define a essência da matéria. É o direito objetivo. O direito
substantivo estabelece a regra ou regras de um princípio geral e
abstrato, em oposição às leis formais ou adjetivas. A Lei ou Direito
Substantivo prevalece sobre a adjetiva. Na colisão de leis, prevalece

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O Tribunal Eclesiástico | 30

a lei substantiva. A CI-IPB é lei substantiva enquanto o CD é lei


adjetiva.
Direito Adjetivo (ou Lei Adjetiva) – De adjectivus, que
acrescenta ou ajunta. Juridicamente indica a forma de exteriorização
que assegura a preeminência do direito. Pelo Direito Adjetivo temos
a legislação estabelecida para regular as relações jurídicas e que
assegurem o Direito Substantivo. É o direito que prescreve normas
(acrescenta-as; junta-as) como forma de exteriorização para garantir
ou assegurar o direito que já existe. É o direito formal ou processual.
Citação – É a chamada ou convocação a juízo para participar
de um ato processual ou de todos os atos do processo (CD, art. 84 e
seguintes).
Intimação – (intimatio, intimare) - Levar ao conhecimento da
pessoa interessada no processo algum acontecimento ou decisão. É
ciência dada pela autoridade à pessoa em um processo sobre
assunto que interessa ao intimando (CD art. 92). É sempre por
escrito, art. 93.
Notificação – (notificare, dar a saber) - É a ciência de uma
decisão da autoridade judiciária para que se faça ou providencie
alguma coisa ou tome as medidas legais cabíveis. A intimação é feita
às partes no processo; a notificação é uma comunicação no decurso
do processo para fazer ou deixar de fazer algo (ver CD art. 83, d).
Prescrição – É o perecimento da ação para defender o direito
pelo não exercício dele após certo tempo. É a omissão da ação. Com
a prescrição o direito se extingue. Ocorre em consequência do curso
de um prazo ou do próprio curso do prazo, conforme as condições
estabelecidas em lei (CD art. 17). Ver decadência
Revelia, revel – A revelia ocorre quando alguém citado ou
intimado deixa de comparecer ao curso do processo para defender-
se no prazo que lhe foi designado. A pessoa torna-se revel, mas o
processo tem o seu seguimento sem a presença do revel ou
contumaz. O comparecimento posterior extingue a revelia, mas não
anula a validez dos atos já praticados no curso do processo (cf. CD
59, 84 in fine).
Decadência – É a queda ou perda de um direito pelo seu não
exercício, conforme a própria lei estabelece. Ocorre pela inércia da
pessoa quanto ao exercício da ação. A decadência impede que o

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O Tribunal Eclesiástico | 31

direito assegurado se reafirme pela falta de exercício. Tem analogia


com a prescrição (ver CD parágrafo único do art. 17).
Competência – 1. Aptidão para exercitar ou fruir um direito; 2.
Capacidade legal para o exercício do poder. 3. Atribuição para
deliberar ou decidir como autoridade jurisdicional ou administrativa.
É judiciária quando se funda no poder de julgar; confere poder para
decidir nos limites da investidura do cargo.
Jurisdição – É poder ou autoridade atribuída a alguém ou a
uma organização para solucionar questões de ordem jurídica e
administrativa. Inclui a área ou território no qual se exerce este poder,
pela pessoa ou por um tribunal, concílio ou diocese. Os juízes têm
jurisdição para resolver casos que lhe são entregues. É competência
(atribuição de poderes) a uma autoridade. No caso da CI-IPB o
Conselho tem jurisdição sobre os membros (arts. 16 e; 20, 22, 23 e.
O Presbitério tem jurisdição sobre os pastores e Conselhos (art. 23,
§ 3º, 27, § 2º) e a sua competência decorre da jurisdição. Ver
competência.
Sentença – É a decisão dada por uma autoridade à qual foi
submetida uma questão para julgamento. Pela sentença se julga
uma questão em caráter definitivo, ainda que possa ser reformada
por autoridade superior mediante recurso próprio (art. 115 e
seguintes).
Trânsito em julgado da sentença – Também se diz
“sentença passada em julgado”, “coisa julgada”, “caso julgado”. É
quando a sentença se tornou definitiva ou irretratável por não
comportar mais recurso. Em nosso CD o prazo para recurso contra
a sentença (acórdão) é de cinco dias da intimação (art. 117) e não
ocorrendo a apelação nesse prazo a sentença transita em julgado.
Acórdão – Derivado do presente do plural do verbo acordar,
com o sentido de concordar; entrar em acordo. É decisão ou
resolução coletiva. São as decisões dos tribunais. Os juízes nas
sentenças individuais decidem; quando decidem coletivamente em
tribunal, eles acordam. O conjunto de acórdãos forma a
jurisprudência, quando uniforme. Já o nosso CD usa indistintamente
os termos sentença ou acórdão (art. 94 e seguintes).
Ementa – (ementum = pensamento, ideia) - É o resumo que se
faz dos princípios fundamentais da sentença. Pode ser resumo de

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uma lei, decreto, alvará. É anotação ou apontamento de uma decisão


(administrativa) ou ordens, sentença, lei, etc.
Súmula – (resumo, epítome breve). É o índice ou sumário que
explica o teor ou o conteúdo de alguma coisa. Nas sentenças ou
acórdãos é a própria ementa da sentença ou acórdão.
Jurisprudência – É a interpretação e aplicação das leis pelos
tribunais. É a decisão equânime ou reiterativa de casos concretos
levados a julgamento. É o conjunto de decisões sobre um mesmo
assunto; a coleção deles. Tem, também, o sentido de ciência do
Direito e da legislação
Testemunha – É a pessoa que atesta a veracidade de um ato
e presta esclarecimentos de fatos que lhe são perguntados,
confirmando-os ou negando-os. É auricular, informada, ocular, de
vista, presencial... (ver CD, art. 71 e seguintes).

III. COMO DISCIPLINAR UM MEMBRO DA


IGREJA

A) PASSOS INICIAIS:
a. Nos casos de pecado contra Deus e sua Igreja e de delitos
leves contra a moral e o patrimônio, deve-se cumprir o
que determina Mt 18.15-17 (CD, art. 46, letra b).
b. Nos casos de crimes comprovados, consumados,
irreversíveis, quando passíveis de condenação judicial, e
contra a integridade física, a vida, a moral, a honra, os
bens patrimoniais e a pátria, não cabe o estabelecido no
art. 46, b. Exemplos: assassinato, estupro, assalto, roubo
e traição à pátria.
 Obs.: Deve-se diferenciar o pecado de um servo
de Cristo, membro da Igreja, de um crime doloso,
injustificável e incompatível com a ética cristã

| Rev. Wagner Nogueira


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expressa na Palavra de Deus, mas que um joio da


Igreja pode eventualmente cometer.
b. Há pecados contra o próximo e os há contra a Igreja. Em
ambos os casos, deve-se tentar “eliminar” o pecado,
preservando íntegros o pecador e a Igreja, aplicando Mt 18,
no caso individual, e o art. 43 do CD, em se tratando de ação
conciliar.
c. d. O concílio reunir-se-á judicialmente (art. 18, do CD),
quando receber queixa ou denúncia, nos termos do art. 42,
a, b, do CD, passando a reunir-se em tribunal, instaurando
processo, depois de verificado o que dispõe o art. 46 e seus
§§.
d. e. Reunido em tribunal; instaurado o processo, segue-se o
que determina a Seção 2ª do CD (arts. 48 a 64).
e. A citação do acusado tem de ser por escrito,
acompanhada de “fé de ofício”, isto é, com uma via de
arquivo com o “ciente” do acusado. À citação anexar-
se-á cópia da “queixa” ou da denúncia” (art. 48, b, c
cf. arts. 84 a 91).
f. O tribunal aceitará até dez testemunhas (cinco de
cada lado- defesa e acusação). Somente pode ser
arrolado como testemunha membro da Igreja em
plena comunhão (art. 71, do CD).
 Obs.: A testemunha de fora da Igreja não
pode ser “citada”, mas apenas “convidada”
(art. 72, § único), não sendo, portanto, sua
presença obrigatória. Não se dará ao seu
depoimento o mesmo peso que se deve dar
ao de um crente professo da mesma
denominação.
 h. As perguntas serão sempre encaminhadas
ao Presidente do Tribunal, que as fará ao
interrogado (acusado ou testemunha), nos
termos do art. 76 do CD.
 Qualquer testemunha pode ser contraditada
ou julgada de suspeição (art. 77).

| Rev. Wagner Nogueira


O Tribunal Eclesiástico | 34

 Os depoimentos das testemunhas restringir-


se-ão aos fatos articulados no processo (art.
79, § 1º).
g. A Sentença ou Acórdão de condenação obedecerá ao
que determina o art. 94 do CD. A Sentença de
absolvição, o art. 95.

B) DO PROCESSO SUMARÍSSIMO
a. Terá lugar, quando o ofendido ou denunciante não
intentar processo contra o ofensor ou denunciado (art. 46,
b, cf. 42, a, b; 47), mas o suposto fato culposo chegar ao
Conselho por:
 Boatos generalizados.
 Constatação pelo Conselho ou por alguns presbíteros.
 Carta induzida de Confissão.
 Confissão espontânea a membros do Conselho,
verbal ou por escrito.
 Constatação de fatos consumados, mas não
denunciados, como gravidez de solteiras, adultério,
desvio doutrinário.
Obs.: No caso de confissão espontânea ao Conselho ou ao
Pastor (privativamente) antes que o erro cometido seja descoberto,
o problema deve ser tratado pastoralmente e em caráter
absolutamente privado entre o faltoso e o agente pastoral.
Nas questões alistadas acima, e não havendo peças
processuais (queixa ou denúncia), não cabe o disposto no art. 18 do
CD. Instaura-se, então, o Processo Sumaríssimo perante o Conselho
(não tribunal), conforme arts. 97 a 102.
b. Características do Processo Sumaríssimo:
 O acusado é convidado (não citado) a comparecer à
reunião do Conselho, especialmente convocado para
tratar do fato (art. 97).
 O acusado, que não é acionado por meio de queixa ou
denúncia, e cuja acusação contra ele circula
verbalmente, e assim chegou ao conhecimento do
Conselho, defende-se perante o Conselho e pode

| Rev. Wagner Nogueira


O Tribunal Eclesiástico | 35

requerer investigação sobre o que lhe é imputado (art. 98


cf art. 99).
 O acusado é interrogado pelos membros do Conselho,
não por juízes em tribunal, art. 98, onde se diz: O
acusado fará suas declarações a respeito da acusação
que é imputada, devendo ser interrogado pelos membros
do Conselho (negrito nosso), a fim de elucidar as
declarações feitas.
 Quem julga o caso é o Conselho, não o tribunal, com
presbíteros convertidos em juízes: Findas as
investigações, e não havendo novas alegações, o
Conselho julgará o caso imediatamente (negrito nosso)
(art. 100).
 Os fatos, alegações, depoimentos, acusação e defesa
serão registrados pelo Secretário em atas no livro do
Conselho: O Conselho registrará em suas atas,
resumidamente, os passos dados neste processo, bem
como as declarações feitas perante ele pelo acusado e
pelas testemunhas (art. 101).
 O tribunal somente pode reunir-se (conforme art. 42,
combinado com os arts. 46 e 47 do CD), quando
intentado por alguém por meio de queixa ou denúncia.
 Mesmo quando houver queixa ou denúncia, o Conselho
pode tratar do caso em processo sumaríssimo, isto é,
sem reunir-se em tribunal, dispensando:
 Autuação;
 Citação;
 Autos processuais;
 Relator judicial (o relator será o secretário do
Conselho);
 Procuradores;
 Intimação (ver Andamento do Processo, do art.
48 ao art. 64). O art. 42 do CD diz que as faltas
podem ser levadas ao conhecimento dos
“concílios” ou tribunais.
Se o Conselho receber a queixa ou a denúncia, e “resolver”
instaurar o processo, encaminhando cópia da queixa ou da denúncia
ao acusado, já iniciou o processo ordinário, nos termos do art. 48,

| Rev. Wagner Nogueira


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letras e parágrafos, não podendo mais passar para o sumaríssimo.


Recebendo queixa ou denúncia, e havendo condição de tratar do
problema pelo processo sumaríssimo, o Presidente reterá o
documento referido, convida o denunciado para comparecer ao
Conselho, sendo também convidado o denunciante. Não havendo
necessidade de testemunhas, o caso é tratado nessa mesma
reunião, registrado pormenorizadamente no livro de atas do
Conselho, e a sentença pronunciada, redigida pelo Secretário do
Conselho, atuando como Relator. Havendo necessidade de
testemunhas, o Conselho pode reunir-se tantas vezes quantas forem
necessárias, até resolver a questão.
 O art. 18 do CD não contempla os tribunais de recursos
dos sínodos e do Supremo Concílio pelos quais os
respectivos concílios tratam de questões judiciárias em
grau de recurso de apelação dos concílios inferiores.
Portanto, esses concílios não são convocados para fins
judiciários, mas os seus respectivos tribunais de recursos
(ver arts. 21, 22, 24-26 do CD).
c) Livro de Atas do Tribunal
O tribunal terá um livro de atas (o que não acontece no
processo sumaríssimo perante o Conselho (art. 101), onde registrará
os passos processuais. Eis o texto regulamentador: No livro de atas
do tribunal (tribunal conciliar e tribunal de recurso) será feito o
registro resumido do processo e o da sentença, devendo os autos
ser arquivados depois de rubricados pelo Presidente (art. 61, do CD).

E o art. 62, CD/IPB “Cada tribunal [conciliar ou de recurso]


poderá ter um livro para registro de suas sentenças ou decisões de
recursos”.
Obs.: Recomenda-se o processo sumaríssimo em virtude de
sua:
 simplicidade e agilidade;
 ser direto, de resolução rápida, e sem requintes
tribunícios;
 ser perante o Conselho, adquirindo, portanto, caráter
pastoral. Nele, o irmão faltoso não é tratado como réu,
nem os pastores (regente e docentes), como juízes.

| Rev. Wagner Nogueira


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 O Conselho, por meio de seu Secretário, funcionando


como Relator do Processo, lerá perante o acusado a
resolução de sentença. Antes de submetê-la à
aprovação, o Conselho poderá dar ao acusado dez
minutos para falar, orientando a votação. Findo o prazo
de pronunciamento final do acusado, o Conselho
submeterá a sentença a votos por meio de assinaturas.
O votante votará a favor ou contra o parecer do Relator,
começando pelos mais jovens. Todo voto em processo
deve ser declarado e confirmado por assinatura.

C) DO PROCESSO SUMÁRIO
Art. 103 a 106. O processo sumário é mais simples e mais
ágil que o ordinário, mas requer reunião em tribunal.
Tem andamento quando:
 O acusado, depois de citado processualmente
mediante queixa ou denúncia, comparecer à reunião
do tribunal e confessar o delito a ele imputado (art.
103, a do CD). A confissão, registrada em seus
termos, lida e aprovada pelo confessante, elimina a
acusação, a inquirição e as testemunhas.
 O acusado, “comparecendo, recusar defender-se”
pessoalmente ou por meio de defensor por ele
indicado. Tal recusa significa aceitação tácita do teor
da acusação, concordância com o fato delituoso que
lhe foi imputado. Nesse caso, o tribunal,
imediatamente, depois de ponderar os atenuantes e
os agravantes (art. 13 do CD), bem como o grau de
gravidade moral e espiritual do delito e as suas
consequências comunitárias, pronunciará a sentença,
nos termos do art. 104, combinado com o art. 106 do
CD, que será imediata e diretamente comunicada ao
faltoso.
 O acusado recusar-se a comparecer, depois de
devidamente citado, e a falta cometida não depender
de prova testemunhal. Exemplos, fragrantes de roubo

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ou assassinato. O procedimento será como o descrito


no item anterior.
 O acusado não puder ser citado diretamente por
ocultamento ou paradeiro ignorado (art. 103, d), o
tribunal o citará por edital, nos termos do art. 90 do
CD. Findo o prazo de citação, o processo segue
trâmites normais, na categoria de sumário.
 O acusado recusar-se a prestar depoimento (art. 103,
e), isto é, expor os motivos de sua falta ou defender-
se das acusações que lhe foram assacadas.
 O relator, em processos canônicos, é de fundamental
importância, pois lhe compete a redação do parecer
normativo da votação, incriminando ou inocentando o
faltoso.
 Após a leitura do parecer do relator, o acusador e o
defensor, se presentes, terão direito de falar,
orientando a votação, por dez minutos cada. A seguir,
o relator emitirá o seu voto, segundo seu parecer.
Depois os demais juízes, começando pelos mais
novos. Os votantes registrarão seus votos “a favor” ou
“contra” o “parecer do relator”; isto diante de seus
nomes escritos, por ordem de idade, no relatório final
do relator.
Observações:
01- Este não é um processo difícil, apenas um pouco mais
complexo que o sumaríssimo.
02- O processo instaurado com base em queixa é mais
fácil, pois há uma vítima declarada. Geralmente a
queixa fundamenta-se em fatos concretos,
verificáveis, contra o queixoso.
03- O processo fundamentado em “denúncia” é muito
mais complexo, pois além de caber ao “denunciante”
o ônus da prova”, compete ao tribunal verificar:
 primeiro, se o denunciante não visa interesses
pessoais ou propósitos inconfessáveis;
 segundo, se a comprovação da denúncia é
verdadeira, fundamentada em fatos;

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 terceiro, se na avaliação final dos depoimentos


não houve testemunhos contraditórios,
inviabilizando a comprovação do fato
denunciado. Comprovar denúncia pode ser bem
difícil.

D) DO PROCESSO ORDINÁRIO
Arts. 107 a 112 do CD/IPB.
a) O processo ordinário é o mais complicado pelas seguintes
razões:
 Direito de contestação de qualquer natureza: sobre a
legitimidade do tribunal ou de algum de seus atos;
sobre a legalidade de alguma(s) de suas decisões
processuais; sobre arrolamento e inquirição de
testemunha suspeita; sobre suspeição não acatada
de juízes do tribunal etc.
 Quando o curso do processo, pelos trâmites
anteriores, não levou o tribunal à clareza dos fatos,
inviabilizando um voto consciente e isento de seus
juízes.
 Quando a denúncia ou queixa seja contra ministros
docentes, tribunal ou concílio (ver art. 107, do
CD/IPB). No caso de o denunciado ser ministro, o SC-
2006 – Doc. XXXIV, acrescentou o § único que diz:
“Quando o acusado for ministro e a falta for por ele
confessada, poderá ser aplicado ao processo rito
sumário” (art. 103-106).
b) Andamento do Processo Ordinário:
 O acusado, quando ministro docente, será interrogado
pessoalmente.
 Quando for tribunal ou concílio, será citado na pessoa
de seu presidente.
 O tribunal ou concílio acusado deverá nomear um
procurador, na pessoa do qual será interrogado (ver
arts. 65, 66 e 67 do CD).

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 O tribunal ou concílio acusado poderá, embora não


seja muito comum, designar o presidente como seu
procurador. Este, mesmo não sendo designado, tem
o direito de acompanhar todo o andamento do
processo (art. 67, b, combinado com § único do
mesmo artigo).
c. Interrogado o acusado e inquiridas as testemunhas de
acusação e de defesa (nesta ordem), a acusação disporá
de três dias para requerer as diligências que julgar
indispensáveis. Findos os três dias, entregue ou não o
requerimento de diligências, o presidente dará o mesmo
prazo para a defesa solicitar diligências especificadas do
tribunal.
d. O tribunal decidirá pela aceitação ou não das diligências
requeridas, e poderá determinar suas próprias diligências
(art. 109).
e. Cumpridas as diligências (pesquisa inquiridora dos fatos
requeridos), dar-se-á à acusação o prazo de cinco dias
para as alegações finais.
f. Apresentadas, o presidente dará o mesmo prazo à defesa
para igual procedimento.
g. Recebendo ou não as alegações finais requeridas, findo
o prazo final da defesa, o presidente despachará o
processo ao relator, que fará seu relatório final do
processo, com “parecer normativo” de alegação de culpa
ou inocência do acusado (art. 111 do CD).
h. Daí para frente, segue-se o andamento do processo
sumário (arts. 104 a 106 do CD).
i. O interrogatório do acusado pode ser verbal, no tribunal,
ou por escrito (ver art. 68 e suas letras). As perguntas
formuladas pelo juiz interrogante e a respectiva resposta
serão tomadas a termo pelo secretário do tribunal.
j. Confissão do acusado fora do tribunal. Quando o acusado
confessa a um juiz ou inquiridor fora dos autos, este
deverá tomar a termo sua confissão, que será assinada
por ele ou atestada por duas testemunhas. Quando o
acusado fizer confissão por escrito, deve-se pedir-lhe

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O Tribunal Eclesiástico | 41

confirmação do feito, atestada por duas testemunhas (art.


70 do CD).
k. Testemunhas e acareação - arts. 71 a 82, do CD.
 A testemunha tem de ser membro de igreja,
preferencialmente da IPB. Sendo de outra
denominação, deve-se tomar o cuidado de não aceitar
depoimento de quem, pessoal ou
denominacionalmente, não se afeiçoa à nossa
comunidade ou até milita contra ela.
 O depoimento não pode ser por escrito, porque esse
recurso limita a ação inquiridora do tribunal.
 Limita-se o número de testemunhas a cinco para cada
parte da acusação e defesa (ver art. 71 do CD).
 A testemunha tem o dever moral e constitucional de
comparecer à reunião do tribunal para a qual foi
convocada (art. 72 cf. art. 74 do CD). A testemunha,
membro da Igreja instauradora do tribunal, tanto
convocada pelas partes como intimada pelo tribunal,
tem o dever de comparecer (art. 75 do CD). O tribunal,
por outro lado, não pode “intimar” membros de outras
denominações.
A testemunha não evangélica, arrolada por uma das partes,
somente deve ser aceita pelo tribunal se for pessoa de real
credibilidade e bem-conceituada na sociedade. O seu
comparecimento não é obrigatório, e compete a quem a arrolou a
responsabilidade de trazê-la. O seu depoimento será complementar,
nunca decisivo. O tribunal não julga culpado um membro da Igreja
com base em testemunhos exclusivos de não evangélicos. Na falta
de testemunhos qualificados, segundo o art. 71, do CD, o tribunal
deve fazer diligências para constatar, por si mesmo, a veracidade ou
não das acusações.
 Parentes ficam desobrigados de depor um contra o
outro (art. 73).
l. Da inquirição
 As perguntas serão endereçadas ao presidente que,
se convier, endereça-as à testemunha (art. 76, do
CD).

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 As partes poderão, antes do início do interrogatório,


contradizer a testemunha ou argui-la de suspeição
(art. 77).
 Compromisso a ser assinado pela testemunha (ver
art. 78 do CD).
 As partes poderão, se presentes, arguirem as
testemunhas, sempre por meio do presidente (art. 79
do CD).
 Ordem de inquirição da testemunha: >Tribunal, >
parte que a indicou, > parte contrária (art. 79, § 2º).
 Uma testemunha não pode presenciar o depoimento
de outra (art. 79, § 3º).
 O depoimento será reduzido a termo pelo secretário
do tribunal, lido perante o depoente, e, aceito, será
assinado pelo presidente, pelo depoente e pelas
partes (art. 80, do CD).
 Se a testemunha não souber assinar, não puder ou
não quiser, alguém assinará por ela diante do tribunal,
consignando nos autos tal ocorrência.
 O tribunal pode fazer acareações entre acusado e
acusador, entre acusado e testemunha, entre
testemunha e acusador (art. 82).

E) DO INÍCIO DO ANDAMENTO DO PROCESSO


a) Recebida a queixa ou a denúncia, o Conselho tomará as
seguintes providências, antes de instaurar o processo:
 Verificar se o pecado pode ser corrigido
pastoralmente; verificar se o queixoso ou denunciante
cumpriu Mt 18.15,16, cf art. 46,b, CD). Nem todo
pecado é corrigível pastoralmente. Exemplos: A
blasfêmia contra o Espírito Santo, o estupro
consumado, o assassinado...
 O Conselho tem que, verificada a natureza e a
intensidade do delito, cumprir o que determina o art.
43/CD, isto é, resolver a questão por meios suasórios,

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O Tribunal Eclesiástico | 43

recuperando e reintegrando o faltoso à comunhão da


Igreja, se houver possibilidade para tal procedimento.
 Verificar se a instauração do processo redundará em
benefício da Igreja (art. 46.a/CD).
 Verificar se os acusadores não querem usar o punho
do Conselho para “bater” no “desafeto” social,
comercial ou psicológico (art. 46,c/CD).
 Verificar o que dispõe o art. 53/CD, para que o espírito
pastoral supere o judicial.
 Se o Conselho se recusar a receber a queixa ou a
denúncia, o ofendido pode encaminhá-lo ao Concílio
superior, sempre por meio do inferior competente (art.
54, in fine/CD combinado com o art. 63/CI/IPB).
b) Instauração do Processo
Verificado o que recomenda o item anterior, e decidindo pela
instauração do processo, o Conselho tomará as seguintes
providências:
 Convocar o Conselho para reunir-se em tribunal.
 Receber, com o devido registro em ata no livro do
tribunal (art. 61/CD), a queixa ou a denúncia.
 Autuá-la, conforme art. 48.a, isto é, colocá-la numa
pasta com as especificações processuais. A queixa ou
a denúncia será a primeira e fundamental peça do
processo.
 Citar o acusado para que compareça à reunião do
tribunal, vendo-se processar; marcando-se-lhe hora,
dia e local da reunião (art. 48,b/CD). A citação seguirá
as normas estabelecidas nos art. 84, 85 e 86/CD. Uma
cópia da citação será anexada aos autos com a devida
“fé de ofício”.
 Carta Precatória. Estando o acusado residindo nos
limites de um concílio congênere, será enviada a este
Carta Precatória para que ele cite e ouça o acusado,
devolvendo os lautos precatoriais ao concílio
requerente (art. 87, cf. 88/CD).
 Recusando-se o acusado a atender a citação, o
processo seguirá normalmente, conforme art. 103,
c/CD.

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O Tribunal Eclesiástico | 44

 A citação será feita por edital, se o citando tiver


domicílio ignorado, nos termos do arts. 90/ 91/CD.
Tempo prescrito: 20 dias, a partir da fixação em lugar
público. Findo o prazo, dar-se-á a citação como feita.
 Cópia autenticada da queixa
Com a citação, enviar-se-á ao acusado cópia autenticada da
queixa ou denúncia. Tal cópia, se postada, deve ser com AR. Se
entregue pessoalmente, com duas vias, sendo uma devolvida com o
“ciente”, devidamente datado e assinado, do destinatário. Tais
cuidados são para que se faça “fé de ofício” da citação nos autos
processuais (art. 48,c/CD). A data mínima estipulada na citação para
o acusado comparecer à reunião do tribunal não pode ser menos de
oito dias (art. 48, § 2º/CD).
 A autuação se fará nos termos do art. 49.
 Depois de as peças processuais serem devidamente
autuadas (colocadas por ordem de entrada na pasta),
o secretário numerará e rubricará folha por folha,
dando ao relator “vista do processo” que, no prazo de
dez dias opinará, por escrito, pelo seguimento do
processo ou por seu arquivamento (Art. 50/51/CD).
O tribunal aprovará ou não o relatório inicial do relator (art. 50,
§ único/CD).
 Sobre a defensoria, ver arts. 56 a 60/CD.
 Toda reunião de tribunal deve começar e encerrar-se com
oração (art. 61, b,d, CD).
Observações:
 Nenhum processo pode iniciar-se sem a “citação” do
acusado, acompanhada de cópia da queixa ou denúncia
contra ele. Fornecendo ao acusado a cópia da queixa ou
da denúncia, dar-se-á o direito fundamental de defesa e a
possibilidade de preparar-se para enfrentar seu
acusador(es) no tribunal.
 No caso de Ministro, se a disciplina foi de “deposição”,
este ato extremo de punição implicará na perda da
condição de membro do Presbitério da Igreja, e,
consequentemente, fora da Igreja. Sendo deposto, o
concílio disciplinador não poderá indicar igreja para filiá-lo
(art. 48.a do CI/IPB). No caso de “exoneração” nos termos

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O Tribunal Eclesiástico | 45

do art. 48, itens “b” e “c”, indicar-se-á uma igreja, nos


limites do concílio, para sua filiação. A Igreja indicada fica
na obrigação de filiá-lo.
 Se o ministro deposto pretender retornar à comunhão da
Igreja, procederá da seguinte maneira:
 Frequentar assiduamente uma igreja.
 Depois de demonstrar testemunho cristão e dar
provas de arrependimento, solicitar do Conselho
da Igreja que encaminhe ao Presbitério um
pedido de autorização de restauração à
comunhão da Igreja.
 Autorizado, o Conselho o restaurará à
comunhão da Igreja.
 O caminho de retorno ao ministério pastoral será
o estabelecido no art. 134.d, do CD): >
Restauração à comunhão da Igreja, >licença
para pregar, dada pelo Presbitério, >
reintegração no ministério pastoral.

F) DOS RECURSOS
Art. 113 a 132. Há três tipos de recursos: Revisão, Apelação
e Extraordinário.

1. Recurso de Revisão
Arts. 12/126/CD).
Recurso de Revisão é o direito que o vencido tem de requerer
novo julgamento de sua causa. Por este recurso ele apresenta novos
elementos probatórios ou novas testemunhas, que podem alterar o
teor da sentença a seu favor.
O tribunal, verificando a procedência do recurso revisório,
dentro de trinta dias, depois de reexaminar os autos, dará resposta
ao requerente, seguindo as normas estatuídas nos arts. 94/96/CD.

2. Recurso de Apelação
Arts. 115 a 120/CD).

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O Tribunal Eclesiástico | 46

 Tem direito de apelação ao concílio superior tanto o


acusado como o acusador que se julgar prejudicado
pelo julgamento ou pela eventual anulação do
processo. O apelante deve justificar e fundamentar a
apelação. A apelação não tem efeito suspensivo, mas,
vencendo na instância superior, anula a decisão
anterior.
 A apelação sobe ao Presbitério via Conselho (art. 63/
CI/IPB). Com ela sobem o processo e as cópias das
atas relativas ao feito processual.
 O Conselho, ao encaminhar a apelação (o que tem de
fazer), deve anexar um arrazoado, fundamentando
sua decisão.
 Recebida a apelação pelo Presbitério, emite-se a
competente intimação ao apelante e ao apelado nos
termos dos arts. 92/93/CD. A partir da data de
recepção da intimação, os interessados têm cinco
dias para arrazoar (art. 117/CD).
 Findo o prazo, com os arrazoados ou sem eles, o
presidente nomeará um relator para, no prazo de
cinco dias, examinar os autos e prestar relatório sobre
o teor da sentença original e a pertinência ou não da
apelação (art. 118/CD).
 Voltando os autos ao presidente, este convocará o
tribunal para audiência de julgamento, marcando
hora, dia, mês e local da reunião, intimando os
interessados, com o “devido ciente”, com tempo hábil
para comparecimento (mínimo de oito dias) (art.
119/CD).
 Na audiência de julgamento, depois de anunciadas as
partes e o motivo da reunião, o presidente dará a
palavra ao relator, que lerá o relatório, podendo dar
explicações, solicitadas pelo presidente ou por
qualquer dos juízes, sobre partes não muito claras de
seu relatório, que inclui seu parecer de aceitação ou
rejeição do feito apelado.
 Depois da palavra do relator, estando as partes
presentes, o presidente lhes dará a palavra por dez

| Rev. Wagner Nogueira


O Tribunal Eclesiástico | 47

minutos, primeiro para o apelante, depois para o


apelado.
 Em seguida, a votação, que será contra ou a favor ao
voto do relator; e isto por escrito e nominalmente,
começando pelos mais novos.

3. Recurso Extraordinário
Art. 127-132, CD/IPB.
Recurso Extraordinário é o pronunciamento do tribunal do
Supremo Concílio sobre decisão dos tribunais inferiores nos
seguintes casos (art. 127, alínea “a” e “b”:
a) Quando as decisões deixarem de cumprir, no processo,
leis ou resoluções tomadas pelo Supremo Concílio, ou as
contrariarem;
b) Quando forem divergentes as resoluções do tribunal, ou
quando questionável a jurisprudência.
Este recurso deve ser encaminhado diretamente ao Tribunal
de Recursos do Supremo Concílio, via o concílio inferior competente,
e a sua decisão será comunicada ao tribunal prolator da sentença
recorrida, art. 132, CD/IPB.

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IV. MODELOS DE DOCUMENTOS


OFICIAIS
1. MODELO DE VOTAÇÃO
NOME / COM O RELATOR /CONTRA O RELATOR
João de Tal / Ass.... /
José de Tal / / Ass....

 No caso de empate, a decisão favorecerá o acusado


(art. 122, § único/CD).
 O tribunal da instância superior poderá confirmar ou
reformar a sentença da instância inferior (art. 124/CD).
 Se o voto do relator for vencido, o presidente nomeará
um juiz de voto vencedor para relatar a sentença (art.
123/CD) por escrito.

2) PARÂMETROS DE COMUNICAÇÃO
a) Sugestão de Citação
Tribunal da Igreja Presbiteriana tal, Rua tal, n° tal, Bairro tal,
cidade tal, Estado tal, CEP XXXXX-XXX; Telefone XXXXXXXX, E
mail tal.

Do Tribunal
Para Maria Silva.

Assunto: Citação judicial canônica.

Irmã Maria Silva:

Pelo presente instrumento de citação o Tribunal da Igreja


Presbiteriana XXX, reunido no dia ____de _________, de ____, às
14h30min, por meu intermédio, comunica para citar o seguinte:

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O Tribunal Eclesiástico | 49

01- Recebeu e acatou “denúncia” contra a sua pessoa, cujo


teor do documento e nome do denunciante a irmã verificará na cópia,
eletronicamente processada, anexa.
02- Nos termos do art. 84/CD, a irmã fica citada a comparecer
à reunião deste tribunal, convocada para o dia ___de _________de
_____, às 14h30min, Rua XXXXX, n°, xxx, Bairro xxx, cidade xxx,
Estado xxx.
03- Lembramos à irmã o seu dever de acatar a citação
recebida para o seu próprio bem e pureza do Corpo de Cristo.

Sala do Tribunal, ___de________de _____

_________________ _________________
Sec. do Tribunal Pres. Do Tribunal

Ciente em ____de________de ____

Ass. ________________________
Maria da Silva

Obs.: Esta citação deve ser entregue na presença de duas


testemunhas.

Se a acusada não puder ou não quiser assiná-la, o secretário


fará constar a ocorrência, e as testemunhas assinarão por ela.
Nota: Juntar ao processo a via devolvida devidamente
cientificada.

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O Tribunal Eclesiástico | 50

b) Sugestão de intimação

Tribunal da Igreja Presbiteriana XXX.

São Paulo, rua Pedro Torquato, Bairro______________, Rua


________________, s/n, CEP ___________.

Do Secretário do Tribunal

Para a irmã (ou senhora) Maria Silva.


Assunto: Intimação faz.

Prezada Senhora, dona Maria da Silva:

Pelo presente instrumento de intimação, fundamentado nos


artigos 92 e 93 do CD, comunico-lhe, para informação e acatamento,
que o Tribunal da Igreja Presbiteriana xxx, reunido às 15h00min do
dia ____de ____________ de _____, na Sala do Conselho, “afastou
preventivamente” a irmã dos privilégios da Igreja, nos termos do Art.
16,§ único/CD, até a conclusão do processo, quando as acusações
articuladas contra a senhora ficarem perfeitamente elucidadas.
A continuação da irmã nas atividades liderantes da Igreja,
enquanto processada, tem causado desconforto a muitos conservos.
À vista da decisão em epígrafe, a irmã fica afastada,
temporariamente, da comunhão eucarística, do magistério religioso
da comunidade e do cargo que ocupa na diretoria da SAF,
continuando, porém, como membro da Igreja e aluna da Escola
Dominical.
Sala do Tribunal, ___de__________de ____.

_______________________________
Fulano de Tal. - Sec. do Tribunal

Obs.: Com o “Ciente” da acusada para anexação no


processo.

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Nota: Prolatada a sentença, far-se-á, seguindo a sugestão


acima com as devidas adaptações, a “intimação” de cada parte –
denunciado e denunciante- com o título: “Intimação de Sentença”
(art. 96/CD). Onde se diz, na sugestão proposta: “Intimação faz”,
pode-se dizer: “Intimação de Sentença faz”.

3) Sugestão de sentença ou acórdão

 Prolação de sentença

(art. 94/CD)

Sentenciada: Maria da Silva


Denunciante: João Silveira, também membro da Igreja
Móvel da Acusação contra do Maria Silva:

Alegação de acusação

Não pagamento de área anexada ao seu terreno, adquirida à


vizinha, dona Tereza Mabel, não evangélica, viúva e pobre. A
sentenciada assumiu compromisso verbal, mas testemunhada, de
quitar o terreno em cinco prestações. Pagou a primeira prestação e,
valendo-se da ingenuidade, da boa-fé e da amizade de dona Tereza,
recebeu a Escritura, registrou-a, e não liquidou as prestações
restantes, alegando que a posse da Escritura é prova legal de
quitação de dívida. O denunciante, por meio de testemunhas visuais
do feito, provou, perante o tribunal, a veracidade da acusação.

Alegação da Defesa:
Dona Maria Silva manteve sistematicamente a negação, e as
testemunhas arroladas firmaram seus depoimentos apenas no “ouvi
dizer” que a acusada “pagou” o que devia à dona Tereza. Ela, por
sua vez, não nega a compra, nega que não tenha efetuado o
pagamento. O Tribunal concluiu pela autenticidade da acusação.

Fundamentos da Decisão de Sentença:

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O Tribunal Eclesiástico | 52

a. Mau testemunho da acusada diante de pessoas não


evangélicas.
b. Escândalo aos irmãos de fé, especialmente os neófitos.
c. Uso reiterado da mentira perante o tribunal.
d. Desonestidade: não pagamento da dívida contraída, embora
usufrua o objeto da compra em constante e real valorização.
e. Comprovação testemunhal irrefutável do delito cometido.

Pena Aplicada:
Afastamento da Comunhão da Igreja por tempo
indeterminado, até que dê provas de arrependimento, liquidando a
dívida com dona Tereza Mabel com os juros de lei.
Agravantes:
a- Experiência religiosa.
b- Relativo conhecimento das doutrinas evangélicas.
c- Boa influência do meio.
d- Não reconhecimento da falta.
Atenuantes:
a- Bom comportamento anterior.
b- Assiduidade nos serviços divinos.
c- Colaboração nas atividades da Igreja (ver art. 13/CD ).

Sala do Tribunal; Igreja Presbiteriana xxx; Rua xxx, nº xxx;


Bairro xxx, Estado xxx, ____de _______________de _____
Assinam, por ordem: Presidente, Secretário, demais juízes.

(Consultar “Sugestão de Modelo de Votação).

Obs.: A pena suposta aplicada não fere o art. 69/CI/IPB,


porque não se trata de “obrigar” a irmã a pagar, mas de não
conservar na comunhão da Igreja uma pessoa de ação moral
incompatível com a ética cristã.
Reparado o erro, pode ser restaurada.

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O Tribunal Eclesiástico | 53

V. PALAVRAS, LOCUÇÕES E FRASES


LATINAS COMUMENTE CITADAS NA
LITERATURA JURÍDICA E NO PROCESSO

ab initio – Desde o início ou começo. O mesmo que in limine.


abusus non tollit usum – o abuso não impede o uso.
ad cautelam – Por cautela; por segurança.
ad exemplum – Por exemplo: equivalentes = in exemplis,
exempli gratia; verbi gratia, ut upta.
ad litem = Para o litígio, para a demanda. Refere-se ao processo
em litígio.
ad litteram – literalmente. Expressões equivalentes: ipsis litteris;
ipsis verbis; in verbis; verbo ad verbum.
ad nutum – À vontade; pela vontade
ad majorem dei gloriam – Para maior glória de deus. Era divisa
dos jesuítas.
ad quem – Para quem. Usa-se em referência ao tribunal para
quem se apela. Ver a quo.
ad referendum – Para referir; para apreciação posterior. É a
consulta e dependência de aprovação a quem se refere.
Uma decisão ad referendum significa que foi tomada sob a
aprovação ou referendo da parte ou autoridade maior.
alibi – Refere-se à ausência do acusado no lugar da prática do
crime, provando-se que naquela ocasião ele se achava em
outro local.
alieni juris – Incapaz juridicamente. É o oposto de sui juris.
ante liten – Antes da lide ou litígio. É medida preliminar
requerida antes da ação.
apud – Junto a; extraído da obra de. Usa-se em bibliografia para
indicar a fonte de uma citação indireta. Cita-se o autor
através de outro autor ou obra.
a quo – Refere-se ao juiz ou tribunal de quem se recorre e o
recorrido é o ad quem.

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O Tribunal Eclesiástico | 54

bona fide – Boa fé.


brevi-manu – Sumariamente; sem formalidade.
caput - Cabeça. Cita-se quando o artigo se subdivide em
parágrafos e caput refere-se ao principal.
citra petita – Aquém do pedido. Refere-se ao julgamento que
não atendeu a todos os problemas processuais (ver extra
petita e ultra petita).
confiteor – Eu confesso. Início de oração de confissão conforme
a liturgia católica.
consummatum est – Está consumado.
coram populo – No coração do povo, i. e, em sua presença.
corpus alienum – Corpo alheio ou estranho à matéria do
processo.
corpus juris canonici – Corpo de direito canônico. Refere-se à
sua compilação.
corpus juris civilis – Corpo de direito civil. Refere-se à
compilação do direito romano.
cui prodest? A quem aproveita? Usa-se para indagar que o
autor de um ato condenável procura tirar proveito dele.
curriculum vitae – Carreira de vida. Breve conjunto de dados
estudantis e profissionais de quem se candidata a
emprego. Usa-se dizer também curriculum vitae et
studiorum.
data venia – Com a devida vênia. Usa-se, inicialmente, com
respeito e discordância da outra parte. Outras formas: data
maxima venia; concessa venia, permissa venia.
de cujus – Refere-se à pessoa falecida.
de facto – De fato – ver de jure.
de jure – De direito. Usa-se em oposição a de facto.
de meritis – Sobre o mérito; movimento; refere-se à parte
principal da demanda.
deo gratias – Graças a deus...
dura lex sed lex – Dura é a lei, mas é a lei.
ecce homo – Eis o homem. Pilatos apresentando cristo.
ex abundantia – Sobejamente.
ex – abrupto – De improviso; intempestivamente.
ex adverso – Do adversário; a parte contrária.
ex – cathedra – De cátedra. Refere-se ao exercício da
autoridade e seu título.
ex – corde – Do coração. Usa-se no final de cartas
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Exempli gratia – Por exemplo. Abrev. e. g. ver ad exemplum e


verbi gratia.
Ex jure, ex lege – Segundo o direito, segundo a lei.
ex nunc – De agora em diante. O oposto é ex tunc.
Ex-officio – Por ofício ou dever do cargo; feito oficialmente sem
pedido da parte.
ex positis – Posto isto; do exposto.
ex-professo – Por conhecimento do assunto.
extra litis – Fora da demanda.
extra petita – Além do pedido. Trata-se de julgamento que vai
além do que foi requerido. Também se usa extra petitum.
ex tunc – Voltando ao passado; desde então.
ex-vi – Por efeito ou por força
ex n legis – Por força da lei; conforme a lei.
factotum – Factótum, que faz de tudo.
fictio juris – Ficção de direito.
flatus vocis – Num sopro de voz; num sussurro.
forma dat esse rei – A forma é que dá substância à coisa.
fumus boni juris – Fumaça do bom direito. É a presunção de
legalidade.
habitat – O ambiente natural.
homo faber – Homem operário
homo sapiens – O homem racional; o ser humano.
honoris causa – Para honra. Título universitário conferido em
homenagem, sem a pessoa submeter-se a exames.
ibidem – No mesmo lugar, obra ou capítulo. Usa-se nas
citações.
ictus oculi – Num golpe de vista; num lance; de pronto.
idem – O mesmo.
id est – Isto é.
in absentia – Na ausência. Refere-se ao julgamento do réu
ausente.
in albis – Em branco, sem providência.
in dubio pro reo – Na dúvida, a favor do réu. Na incerteza do
julgamento e decisão, favorece-se o réu.
in extenso – Por extenso, na íntegra.
in fine – No fim, usado nas citações, referindo à parte final.
in limine – No início. Ver ab initio.
in loco – No lugar; no próprio local. Mesmo que in situ.
in se ipsa – Em si mesma.
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intentio legis – A intenção ou finalidade da lei.


intuitu personae – Em consideração à pessoa; em função da
pessoa.
in verbis – Pelas mesmas palavras; textualmente. Igual a:
verbis, ad litteram; ipsis verbis; verbo ad verbum.
ipis litteris – Textualmente.
ipis verbis – Pelas mesmas palavras. Ver in verbis.
ipso facto – Por este fato; por isso mesmo.
juris et de jure – De direito e por direito. É presunção legal que
não admite prova em contrário.
juris tantum – Pertence só ao direito e prevalece até prova em
contrário.
lapsus – linguae – Erro de língua ou involuntário no ato de falar
ou dizer.
lato sensu – Em sentido lato. Ver stricto sensu.
loco citado – No local ou trecho citado.
manu militari – Com mão ou força militar, coercitivamente.
marginalis – Anotações marginais.
mea culpa – Minha culpa; reconhecer o erro.
mens legis – A mente ou espírito da lei.
meta optata – Alvo desejado ou visado.
minima de malis – Dos males o menor.
miserere – Tem piedade.
modus faciendi – Maneira de agir ou fazer.
modus probandi – Modo de provar; forma de prova.
mutatis mutandi – Mudado o que deve ser mudado; guardadas
as devidas proporções.
nomen juris – Nome jurídico ou legal.
nulla poena sine lege – Nula é a pena sem lei; não há pena sem
lei.
nulla poena sine judicio – Nula é a pena sem julgamento.
opus – Obra.
pari passu – A passo igual; passo a passo; simultaneamente.
passim – Por aqui e ali. Usa-se após título de uma obra para
dizer das referências a vários trechos.
per capta – Por cabeça; para cada pessoa;
prima facie – À primeira vista, sem maiores exames.
primus inter pares – Primeiro entre os pares, os colegas.
pro forma – Por formalidade.

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punctum saliens – O ponto saliente ou principal de uma


questão.
quid – O ponto difícil, o “que”, o detalhe.
quid inde? – E daí? E então? Qual a consequência disso?
quid juris? – Qual o direito? Que solução se aplica?
ratio juris – Q razão do direito.
ratio legis – Razão da lei.
sic – Assim; desse jeito; na íntegra. Usa-se entre parênteses
após citação ou palavra que se considera errada ou
estranha, mas que foi escrita como se transcreve.
sine die – Sem dia determinado. Adiamento sine die.
sine qua non – Sem o qual não; sem o qual. Diz-se também sine
qua.
status quo – O estado em que está.
stricto sensu – Em sentido restrito. Usa-se, também restricto
sensu, o contrário de lato sensu.
sub judice – Sob julgamento. Causa sob julgamento.
sui generis – É seu próprio gênero; não apresenta semelhança
com nada; original.
sui juris – Que tem direito próprio; que é juridicamente capaz.
sursum corda – Elevai os corações. Era expressão usada pelo
padre no início da missa, rezada em latim.
te deum – A ti, Deus... Iniciais do cântico de ação de graças na
igreja católica. te deum laudamus (A ti, Deus, louvamos).
ultra petita – Além do pedido. É a demanda que se resolve além
do que foi pedido. Também se diz ultra petitum. É o
contrário de citra petita (ver).
urbi et orbi – Para a cidade e para o mundo; em todo lugar ou
parte.
usque – até. Os artigos 5º usque 12.
verba legis – As palavras da lei.
verbi gratia – Por exemplo; a saber. Ver exempli gratia.
verbo ad verbum – Palavra por palavra. Ver ipsis verbis.
versus – Contra
vexata quaestio – Questão controvertida.

| Rev. Wagner Nogueira


BIBLIOGRAFIA

Azambuja, Darcy. Teoria Geral do Estado. 49 ed. Rio de Janeiro:


Globo, 1962.
Berkhof, Louis. O poder da igreja. In.: _Teologia Sistemática. 4 ed.
Campinas: Luz para o Caminho, 1996. p.598-60.
Calvino, João. Institutas da Religião Cristã. v.4. São Paulo: Casa
Editora Presbiteriana e Luz para o Caminho, 1989.
Campos, Silas de (org.). Manual Presbiteriano: edição especial com
notas, jurisprudência e resoluções do SC-IPB. São Paulo: Cultura
Cristã, 2006.
Carvalho, Addy Félix. Código de Disciplina da Igreja Presbiteriana do
Brasil – Interpretação e Comentários. São Paulo, ed. do autor, 2004.
Carvalho, Addy Félix. Interpretação e comentários sobre a
Constituição da IPI. São Paulo: ed. do autor, 2002.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Saraiva
Editores, 1988.
Constituições do Brasil – 1824 a 1969. São Paulo: Atlas.
Coulanges, Fustel de. A Cidade Antiga. São Paulo: Editora das
Américas; Hemus Editora Ltda, 1961– s/d.
Grudem, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:
Vida Nova, 1999.
Leith, John II. A Tradição Reformada. São Paulo: Associação
Evangélica Literária Pendão Real, 1997.
Manual Presbiteriano com notas remissivas. São Paulo: Cultura
Cristã, 2019 (Edição aprovada pela Comissão Permanente designada
pelo Supremo Concílio da IPB para supervisionar as edições do
Manual Presbiteriano).
Martins, F. O Ofício de Presbítero. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, s/d.
Martins, F. Porque sou Presbiteriano. São Paulo CEP, 1985
Roberts, W. II.. O Sistema Presbiteriano. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, s/d.

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