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BRASILEIROS
'■'Professor A posentado do D epartam ento de Solos, Faculdade de A gronom ia, U niversidad e Federal
do Rio Grande do Sul - UFRGS. Porto Alegre (RS). E-m ail: nestorkam pf@ gm ail.com
2/Professor A ssociado do Departam ento de Ciência do Solo, U niversidade Federal de Lavras -
U FLA. L avras (MG). B olsista do CNPq. E-m ail: jm arqu es@ d cs.u fla.br
3/Professor Titular do D epartam ento de Ciência do Solo, U niversidade Federal de Lavras - UFLA.
Lavras (MG). Bolsista do CNPq. E-m ail: n iltcu ri@ d cs.u fla.br
Conteúdo
IN T R O D U Ç Ã O ................................................................................................................................................................................. 82
ESTRUTURA DOS A RGILO M IN ERA IS................................................................................................................................. 84
Propriedades.................................................................................................................................................................................. 85
CARACTERÍSTICAS DOS ARGILOM INERAIS ENCONTRADOS EM SOLOS BRA SILEIRO S..................... 87
C au linita.......................................................................................................................................................................................... 87
M ic a s .................................................................................................................................................................................................90
E s tru tu ra .................................................................................................................................................................................... 90
Id en tificação .............................................................................................................................................................................. 92
Formação e O corrência.......................................................................................................................................................... 92
Importância A m biental......................................................................................................................................................... 93
V erm icu lita......................................................................................................................................................................................93
E s tru tu ra .................................................................................................................................................................................... 93
Formação e O corrência.......................................................................................................................................................... 94
Importância A m biental......................................................................................................................................................... 95
E sm e c tita s .......................................................................................................................................................................................95
E s tru tu ra .................................................................................................................................................................................... 95
Ocorrência e Form ação.......................................................................................................................................................... 96
Importância A m biental......................................................................................................................................................... 98
Vermiculita e Esmectita com Hidróxi-al entre Camadas ............................................................................................. 99
E s tru tu ra .................................................................................................................................................................................... 99
Formação e O corrência........................................................................................................................................................ 100
Importância A m biental....................................................................................................................................................... 101
Aluminossilicatos Mal C ristalizad os................................................................................................................................. 101
E stru tu ra .................................................................................................................................................................................. 101
Formação e O corrência........................................................................................................................................................102
KER, J.C .; CU RI N.; SCH A EFER, C.E.G.R. & V ID A L-TO RRA D O , P., eds. P ed o log ia; Fundam entos.
V içosa, MG, SBCS, 2012. 343p.
82 N e s t o r K â m p f e t al.
INTRODUÇÃO
Com certa frequência, tem sido enfatizada a importância de minerais do grupo dos
óxidos, principalmente de Fe e Al, nas propriedades físicas e químicas dos solos tropicais.
Neste contexto, situam-se os Latossolos, usualmente de constituição mineralógica mais
rica em óxidos, em comparação com outros solos. Não obstante, mesmo assim, estimativa
baseada em 46 am ostras de h orizon tes B lato ssó lico s (D ick, 1986), de am pla
representatividade no Brasil, evidencia uma fração argila constituída, em média, por 730
g/kg de argilominerais, principalmente caulinita; por 145 g/kg de óxidos de ferro (goethita
e hematita), e por 125 g/kg de óxidos de alumínio (gibbsita) e outros silicatos. Estas
proporções evidenciam o predomínio dos argilominerais na fração argila, mesmo em
solos nos quais a concentração em óxidos tende a ser mais expressiva.
A presença dos argilominerais dá-se na forma de diferentes espécies minerais
(Quadro 1), cuja ocorrência é condicionada pelo material de origem, pelo intemperismo e
pela pedogênese, incluindo etapas de estabilidade, transformações e neoformações
minerais. Em conseqüência, essa diversidade pode estar representada em diferentes tipos
de solos ou em um perfil de solo, fazendo desses (e de outros grupos) minerais indicadores
da intensidade de intem perização e dos processos pedogênicos (bisialitização,
monosialitização, alitização, etc.).
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 83
P e d o l o g i a
84 N e s t o r Kàmpf et al .
Figura 1. Tetraedros Z 0 4 (onde Z = Si, Al) unidos por com partilham ento de oxigênios basais em
anel hexagonal, dando origem à lâm ina tetraedral.
Fonte: Adaptado de Grim, 1968.
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 85
Figura 2. O ctaedros YO é (em que Y = Al, Fe, Mg; 0 = 0 , OH) unidos por com partilham ento de
arestas form ando a lâm ina octaedral .
Fonte: A daptado de Grim, 1968.
Quando a soma da carga dos cátions é igual à soma da carga dos ânions, então a
camada do argilomineral não tem carga líquida. Entretanto, durante a formação do cristal,
pode ser incorporada certa proporção de cátions com raio iônico similar e carga diferente
do cátion dominante, configurando uma substituição isomórfica. Assim, o posicionamento
de Al3+ em vez do Si4+, em sítio tetraedral, ou de Mg2+ (ou Fe2+) efn vez de Al3+, em sítio
octaedral, origina um excesso de carga negativa na camada do mineral. Por outro lado,
quando o Al3+ ocupa um sítio octaedral em lugar do Mg2+ (ou Fe2+), resulta em excesso de
carga positiva. Portanto, a carga líquida da camada depende do tipo e do grau da ocupação
isomórfica; mas nos argilominerais do solo; entretanto, a carga líquida é sempre negativa.,
A união entre as camadas dá-se (1) por ligação eletrostática entre os O e OH de
camadas adjacentes nos argilominerais 1:1, (2) por meio de cátions (K, Ca, Mg, etc.), ou
grupos de lâm inas h id róxid o o ctaed rais, p o sicio n ad os nas en trecam ad as nos
argilominerais 2:1 que apresentam excesso de carga negativa na camada, e (3) por forças
de van der Waals naqueles argilominerais 2:1 sem carga na camada. O conjunto total de
uma camada mais a entrecamada (ocupada ou não) constitui uma unidade estrutural,
contendo uma ou mais unidades da fórmula química. Assim, a expressão "argilomineral
tipo 1:1 ou 2:1" refere-se à unidade estrutural do m ineral.;
Propriedades
A maioria dos processos químicos e físicos que ocorrem nos solos é controlada pela
reatividade da superfície dos argilominerais. Esta reatividade é condicionada pela
estrutura dos minerais, mediante sítios ativos na superfície das partículas que interagem
com outras substâncias ou com os.componentes da solução do solo (Johnston, 1996;
Johnston & Tombácz, 2002). Os argilominerais, por compreenderem um empilhamento
de camadas, apresentam superfícies basais de maior extensão e superfícies laterais, ou
das arestas, de menor extensão. Nos argilominerais 1:1, as superfícies basais são: uma
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86 N e s t o r Kàmpf e t al .
superfície siloxana, formada pelos oxigênios basais da lâmina tetraedral, e uma superfície
form ada pelos grupos OH da face não com partilhada da lâm ina octaedral. Nos
argilominerais 2:1, ambas as superfícies basais são do tipo siloxana. As superfícies laterais
dos argilominerais 1:1 e 2:1 são constituídas pelas terminações das lâminas tetraedrais
e octaedrais, que formam grupos OH em coordenação incompleta com os cátions Si e Al.
A reatividade da superfície siloxana depende da ocorrência de substituição
isomórfica na estrutura do argilomineral. Na ausência desta substituição, a superfície
siloxana não tem carga, pois cada oxigênio basal está compartilhado entre dois tetraedros
de Si e, assim, a carga dos oxigênios está integralmente satisfeita pelos átomos de Si.
Estas superfícies siloxanas neutras são encontradas no talco, na pirofilita e na caulinita,
funcionando como uma base Lewis muito fraca, pois sua habilidade de doar elétrons é
muito limitada. Também na caulinita, há uma superfície basal de grupos OH terminais
(superfície gibbsítica) neutros por estarem em coordenação completa, pois cada OH está
ligada a dois Al na lâmina octaedral. Do ponto de vista da reatividade, as superfícies
neutras são relativamente inertes, pois não formam ligações H com as moléculas de
água, sendo, portanto, superfícies hidrofóbicas. Pela mesma razão, não interagem com
moléculas orgânicas iônicas polares; entretanto, moléculas não polares são sorvidas
pelas forças de van der Waals e ligação hidrofóbica (Laird & Sawhney, 2002).
A substituição isomórfica nos argilominerais 2:1 origina sítios de carga permanente
(ou de carga constante) nas superfícies basais das esmectitas, vermiculitas, cloritas e micas.
A distribuição da carga na superfície não é uniforme, mas localizada nos oxigênios
basais próximos aos sítios de substituição isomórfica. A substituição isomórfica octaedral
(e.g., de Al3+ por,.Mg2+na montmorilonita) distribui a carga sobre aproximadamente dez
oxigênios basais das duas superfícies siloxanas justapostas, possibilitando às cavidades
siloxanas formarem ligações razoavelmente fortes com cátions e moléculas dipolares. Já
a substituição isomórfica tetraedral (p.e., de Si4+ por Al3+na vermiculita e micas), resulta
em uma distribuição mais localizada da carga sobre os três oxigênios basais do tetraedro
Al, possibilitando a formação de ligações muito mais fortes com cátions e moléculas
dipolares. Nas micas e vermiculitas, essa carga é suficientemente elevada para permitir
a cada cavidade siloxana complexar um cátion K +, cujo diâmetro iônico é muito similar
ao da cavidade siloxana ditrigonal ( 0 -0,21 nm).
Grupos superficiais OH, localizados nas arestas (ou em terraços, quebras ou buracos)
dos argilominerais, chamados de grupos OH terminais, apresentam uma coordenação
incompleta por estarem ligados a apenas um átomo de A l3+ ou Si4+, sendo diferenciados,
respectivamente, em grupos aluminol (-A1-OH) e silanol (-Si-OH). Os grupos aluminol
podem apresentar uma carga parcial negativa (quando pH > PCZ) e, por protonação
(quando pH < PCZ), adquirem uma carga parcial positiva (>Al-OH'1/2 + H +>Al-OH2+1/2),
além de participarem nas reações de troca de ligantes (fixação de fosfatos e moléculas
orgânicas). Os grupos silanol (>Si-OH) são, em sua maioria, neutros e pouco ativos na
faixa de pH entre 2 e 8. A reatividade dos grupos OH terminais depende, portanto, de
condições externas aos minerais, isto é, da reação (pH) da solução do solo. Desta maneira,
os grupos OH terminais formam sítios de carga condicional, também referidos como de
carga variável ou pH dependentes, presentes na caulinita (e em óxidos), pelo qual esses
argilominerais são mais reativos nas arestas do que nas superfícies basais. A contribuição
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 87
C aulinita
Na caulinita, a fórmula estrutural ideal é A l2Si O (OH)4, o espaço entrecamadas é
fixo e a distância basal de uma cam ada para outra é de 0,72 nm (Brown et al., 1978;
Dixon, 1989). A razão molar S i0 2/A120 3 das caulinitas varia de 2,00 a 2,10 (Grim, 1968),
e dela deriva o índice Ki usado na classificação dos Latossolos (Embrapa, 2006).
Caulinitas de solo normalmente apresentam um empilhamento desordenado das
camadas, aleatoriamente deslocadas em nfr/3 ao longo do eixo b (Brown et al., 1978;
Giese Jr., 1988). O grau de desordem estrutural está diretamente relacionado com o aumento
no teor de ferro nas caulinitas (Mestdagh et al., 1980), as quais podem ter de 2 a 15 % de
Fe3+ octaedral (Taylor, 1987).
A existência de carga negativa permanente ou somente carga pH dependente na
caulinita é assunto controvertido. A carga perm anente constatada em caulinitas tem
sido considerada como insignificante ou atribuída à presença de interestratificação
esm ectita-caulinita e de im purezas na form a de mica (Ma & Eggleton, 1999). Ainda,
conform e Lim et al. (1980), os valores de CTC de 2 a 15 cm olc/kg para a caulinita,
com um ente citados na literatura, são superestim ados; estes autores constataram em
caulinitas da G eórgia que a carga perm anente a pH 7 é muito baixa, variando de 0 a
-1 cmol /kg e que valores maiores devem-se a impurezas na form a de argilom inerais
2:1. Para as caulinitas KGa-1 e KGa-2 (Geórgia-USA), foram obtidos valores de carga
perm anente de 0,63 e 1,36, e ponto de carga líquida zero de 3,6 e3,5, respectivamente
(Schroth & Sposito, 1997); segundo estes autores, existe uma grande amplitude nos PCZs
de caulinita citados na literatura. Por outro lado, caulinitas de solo, na Austrália,
apresentaram uma CTC média de 5,7 cmolc/kg (Singh & Gilkes, 1992a). Esses valores
indicam que o requisito de uma CTC menor do que 17 cmolc/kg de argila no horizonte B
latossólico (Embrapa, 2006), por ser este horizonte de composição caulinítica e, ou, oxídica,
ainda admite uma contribuição de outros argilominerais.
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P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 89
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90 N e s t o r Kàm pf e t a l.
Micas
E stru tu ra
As micas têm uma estrutura 2:1, em que um de cada quatro sítios tetraedrais é
ocupado por Al em lugar do Si, resultando em uma deficiência de carga líquida x = l por
unidade de O]0(OFí)r Esta deficiência é equilibrada por cátions alcalinos (principalmente
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 91
K+) situados entre camadas, coordenados nos arranjos ditrigonais (Si,Al) 0 6 da superfície
siloxana, ligando uma camada a outra (Figura 3). O espaçamento basal da unidade
estrutural (camada + entrecamada) é fixo em ~1,0 nm. A elevada carga da camada explica
a alta retenção de potássio e a propriedade não. expansiva da mica em comparação com
a verm iculita e esmectita, as quais se expandem, justam ente, em decorrência de uma
menor carga da camada (Fanning et al., 1989).
Figura 3. Conjunto de unidades estruturais básicas de m ica dioctaedral com potássio entrecam adas.
Fonte: A daptado de Schulze, 1989.
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92 N e s t o r K ã m p f e t al .
Identificação
Dados de frequência m ostram que as muscovitas (que são mais comuns no solo)
contêm 9 - 1 0 % K20 (Weaver & Pollard, 1973), pelo qual tem sido usado o teor total de
KzO x 10 para estimar o teor de mica na fração argila de solos (Jackson, 1969). A morfologia
foliar em placas é característica das micas, tanto sob lupa, para as formas macroscópicas,
como sob microscópio eletrônico, para as da fração argila (Grim, 1968; Reichenbach &
Rich, 1975).
As rochas ígneas são a fonte original das micas na superfície terrestre. Em geral, a
concentração de mica é maior em sedimentos, principalmente folhelhos. Por causa do
seu caráter detrítico, todas as espécies de micas componentes de rochas podem ocorrer
em solos. Apesar de as micas trioctaedrais serem mais abundantes nas rochas, nos solos,
predominam as micas dioctaedrais, isto decorre da maior susceptibilidade das micas
tr io c ta e d r a is ao in te m p e ris m o e da sua tra n sfo rm a ç ã o em d io c ta e d r a is .
Consequentem ente, as m icas mais abundantes nos solos são mais semelhantes à
muscovita, sendo chamadas de ilita, quando na fração argila, e de biotita, quando nas
frações grosseiras, em solos pouco intemperizados (Luz et al., 1992), ou persistem apenas
em horizontes su bsup erficiais e em saprólitos, nos solos m ais intem perizados.
Usualmente, a presença de mica nos solos está associada com seqüências de transformação
e intemperismo do tipo mica —» vermiculita, mica —>VHE —>caulinita ou mica —» caulinita
(Volkoff & Melfi, 1980; Volkoff et al., 1989). Casos mais específicos mostram a neoformação
pseudomórfica de caulinita a partir de biotita, na fração areia de saprólitos de rochas
metamórficas (Pinto, 1971; Muggler, 1998), e a transform ação biotita —» esmectita, na
fração silte de Planossolo (Mota & Oliveira, 1999).
Existe uma correlação estreita entre o teor de mica dos solos e o seu correspondente
material de origem. Essa relação é refletida pela concentração total de mica ou por sua
ausência em solos desenvolvidos de rochas sem este mineral, bem como pela distribuição
do tamanho de partícula das micas nos solos e suas rochas de origem. Na fração argila
do solo, a mica tende a ser mais abundante na fração argila grossa (2 a 0,2 micrômetros)
(Demattê et al., 1977). Solos originados de basalto e gabro são normalmente livres de
mica, enquanto os de granito, gnaisse, calcários, filitos, folhelhos, argilitos e arenitos
podem conter minerais micáceos em quantidades significativas (Moniz & Jackson, 1967;
Goedert & Beatty, 1971; Lepsch & Buol, 1974; Lepsch et al., 1977,1978; Lima et al., 1977;
Demattê & Holowaychuck, 1977; Demattê et al., 1977; Kãmpf & Klamt, 1978; Sans et al.,
1979; Moniz et al., 1994; Almeida et al., 1997; Muggler, 1998; Miranda & Ferreira, 1999;
Mota & Oliveira, 1999; Lacerda et al., 2001; Lima, 2001). Há exceções, como a presença de
P edologia
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As micas são os minerais com potássio mais comuns nos solos. O K é liberado no
processo de intemperismo das micas, transformando-as em vermiculita e esmectita, ou
em interestratificações com esses minerais. Entre as micas há diferenças significativas
quanto à velocidade e intensidade da liberação de K e, consequentemente, também quanto
à sua susceptibilidade à alteração, que é maior nas trioctaedrais (biotlta) e menor nas
dioctaedrais (muscovita) (Mackintosh & Lewis, 1968).
A maior resistência da muscovita ao intemperismo é considerada nos critérios dos
horizontes diagnósticos óxico (EUA, 1998) e B latossólico (Embrapa, 2006), que exigem
menos de 4 % de minerais primários menos resistentes ao intemperismo, mas admitem
até 6 % de muscovita na fração areia. Esta resistência da muscovita pode explicar por
que a presença de micas no solo não significa, necessariamente, uma alta disponibilidade
de K para as plantas.
Verm iculita
E stru tu ra
Este mineral tem uma estrutura básica de camadas 2:1, similar à da mica. Entretanto,
mostra capacidade de expansão em água e líquidos orgânicos semelhante às esmectitas
(Figura 4). Vermiculitas trioctaédricas [nH20 , Mgx(Mg3) (Si4 xAlx) O10(OH)J e dioctaédricas
[wH20 , M gx(Al2) (Si4 xAlx) O10(OH)2] são originadas, respectivamente, da transformação
da biotita e da muscovita (Douglas, 1989). As vermiculitas trioctaedrais também podem-
se formar pela transformação de cloritas. Por isso, a composição química das vermiculitas
é muito similar à de seus minerais de origem. No solo, as vermiculitas dioctaedrais são
as mais comuns.
As vermiculitas distinguem-se das micas, principalmente, pela menor carga negativa
líquida da camada, de 0,6 a 0,9 por unidade de fórmula, bem como pela presença de mais
Fe3+. Essa redução da carga negativa deve-se, em parte, à oxidação do Fe2+à Fe3+, além da
ejeção do Fe3+ dos sítios octaedrais quando ficam superpopulados em cátions trivalentes
(Farmer et al., 1971). A substituição de Si por Al nos tetraedros é aleatória (mas exclui a
ocorrência de Al em tetraedros contíguos), geralmente excedendo 1 equivalente por
O10(OH)2, e equilibrada com a substituição parcial de cátions octaedrais divalentes por
trivalentes. Em conseqüência, a carga da lâmina octaedral é positiva, variando de +0,14
a +0,61 equivalentes. O espaço entre camadas geralmente está ocupado por cátions (Mg,
Ca, Na, K), além de moléculas de água. Em decorrência dessas substituições, a CTC das
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vermiculitas tem uma amplitude de 115 a 250 cmolc/kg (Douglas, 1989); entretanto, a
presença de lâminas Al-OH entrecamadas pode reduzir consideravelmente esses valores
(vide cloritas); as vermiculitas dioctaedrais têm CTC menor que as trioctaedrais (Kerns
Jr.& Mankin, 1967).
Figura 4. Conjunto de unidades estruturais básicas de verm iculita e de esm ectita dioctaedrais com
cátions hidratados entrecam adas.
Fonte: Adaptado de Schulze, 1989.
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 95
Esmectitas
Anteriormente, o termo m ontmorilonita era usado como nome do atual grupo
esmectita. O termo bentonita é comumente usado como sinônimo de montmorilonita;
entretanto, corresponde a uma rocha com elevado teor de esmectita, formada por alteração
de cinza vulcânica depositada em meio aquoso ligeiram ente alcalino (AGI, 1976;
Borchardt, 1989; Moore & Reynolds, 1997).
E stru tu ra
As esmectitas (do grego smectos, sabão) têm estrutura 2:1 semelhante à da vermiculita
(Figura 4), mas distinguem-se pela menor densidade de carga nas camadas de 0,2 a 0,6
por unidade de fórmula. O espaçamento basal pode variar de 1,0 a 2,0 nm, dependendo
dos cátions e moléculas entrecamadas, bem como da umidade relativa (MacEwan &
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96 Nestor K à m p f e t a l.
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 97
Quanto à sua origem, as esmectitas nos solos podem ser: (1) herdadas do material
de origem, principalmente folhelhos, argilitos e calcários (Goedert & Beatty, 1971; Lima
et al., 1977; Volkoff et al., 1989; Ribeiro et al., 1990; Souza et al., 1993; M oniz et al.,
1995); (2) produtos da transform ação de micas, verm iculitas e cloritas máficas (Luz et
al., 1992; Pinto & Kãmpf, 1996); ou (3) neogênicas, precipitadas diretamente da solução
(Cogo, 1972; Kãmpf et al., 1995a). As esm ectitas são argilom inerais característicos de
Vertissolos (Goedert & Beatty, 1971; Cogo, 1972; Souza et al., 1993; Kãmpf et al., 1995a;
Lyra & Ribeiro, 1995), mas podem estar presentes também em outros solos, conferindo
ou não propriedades vérticas, como Planossolos (Moniz et al., 1995; M ota & Oliveira,
1999), Plintossolos (Anjos et al., 1995), Chernossolos (Kãmpf et al., 1995a; Oliveira et
al„ 1998), Luvissolos (Luz et al., 1992), Gleissolos (Gianluppi, 1979; Lima, 2001; Marques
et al., 2002), Neossolos Litólicos (Moniz et al., 1995; Kãmpf et al., 1995a), Espodossolos
(Moniz et al., 1995), Alissolos (Lima et al., 1977; M arques et al., 2002), Cambissolos
(Volkoff et al., 1989; Souza et al., 1993; Anjos et al., 1995) e Neossolos Flúvicos (Embrapa,
1999; Lima, 2001; M arques et al., 2002). A formação e a preservação das esmectitas são
favorecidas em pedoam bientes com drenagem restrita, com suprim ento de soluções
ricas em Si, Al, Mg, Fe e lixiviação mínima. E usualmente aceito que as beidelitas, em
solos, são produtos do intemperismo de minerais que já apresentam carga tetraedral,
tais como: micas e cloritas. Na cristalização de esm ectitas a partir da solução do solo,
condições de pH ligeiram ente ácido (pH < 6,7) ou alcalino (pH > 8), proporcionando
maior solubilização de Al, tendem a favorecer a beidelita, enquanto a form ação da
m ontm orilonita seria favorecida em pHs interm ediários, com ausência de Al para
com petir por sítios tetraedrais (Borchardt, 1989; Righi et al., 1995,1998). Nos estudos
mineralógicos de solos esmectíticos brasileiros, não é freqüente a prática de diferenciar
entre m ontm orilonita e beidelita; exceção notável é a identificação de beidelita em
Cambissolos e Podzólicos eutróficos do Alto Rio Purus, Acre (Volkoff et al., 1989) e em
solos vérticos do Recôncavo Baiano (Ribeiro et al., 1990). E possível que, entre os vários
registros genéricos de esmectita existam, portanto, ocorrências tanto de montmorilonita
como de beidelita, além de esmectitas com comportamento m isto de ambas (Kãmpf et
al., 1995a).
Nos solos, as esmectitas estão geralmente saturadas por Ca e Mg. Entretanto, com
a acidificação do meio há liberação de Al da estrutura, o qual forma polímeros de Al-OH,
que se precipitam nas entrecamadas, originando esmectitas com hidróxi-Al entrecamadas
(Kãmpf et al., 1995a). Há indicações de que a remoção do Al-OH das entrecamadas, pela
ação complexante de compostos orgânicos, possa reverter o processo (Brahy et al., 2000).
Com o aumento da taxa de lixiviação e dessilicação, as esmectitas originam caulinita e
óxidos de ferro, por .meio de um estádio interm ediário com caulinita-esm ectita
interestratificada (Kãmpf et al., 1995a), ou passando diretamente à caulinita (Volkoff &
Melfi, 1980); no processo, a esmectita perde gradualmente a lâmina octaedral (Delvaux &
Herbillon, 1995). A interestratificação clorita-esmectita foi observada em Chernossolos e
Neossolos Litólicos derivados de rochas ultrabásicas, como estádio interm ediário na
transformação de clorita em esmectita (Pinto & Kãmpf, 1996).
P e d o l o g i a
98 Nestor Kãmpf et al.
Importância Ambiental
Por sua natureza expansiva, elevadas ASE e CTC, as esmectitas são extremamente
reativas, geralmente constituindo solos de boa fertilidade química. Solos esmectíticos,
como os Vertissolos, apresentam valores de CTC em uma amplitude de 48 a 96 cmolc/kg
de argila (Brasil, 1973; Kãmpf et a l, 1995a; Embrapa, 1999). Além da adsorção de cátions
necessários às plantas, as esmectitas adsorvem compostos orgânicos, herbicidas e
pesticidas (Laird & Sawhney, 2002). A redução do Fe3+estrutural a Fe2+aumenta o potencial
de fixação de K+, com ou sem secamento da esmectita (Khaled & Stucki, 1991). A
capacidade de fixar cátions entre camadas (sem secamento) aumenta com o incremento
de Fe2+ na estrutura, dependendo do cátion e do teor de Fe2+. Para determinado teor de
Fe2+, a capacidade de fixar cátions aumentou na ordem Cu2+ < Zn2+ < Ca2+ < K+, que segue
exatamente o inverso da energia de hidratação dos cátions, indicando que a redução do
ferro octaedral favorece a desidratação da região entre camadas. O aumento da CTC por
redução do Fe octaedral pode influenciar a disponibilidade de nutrientes às raízes das
plantas. Por outro lado, no caso de depósitos de rejeitos, pode aumentar a capacidade de
fixar elementos potencialmente tóxicos, diminuindo sua mobilidade.
A tendência de expansão e contração das esmectitas requer especial consideração
no uso agrícola, na engenharia ambiental e geotécnica (Coulombe et al., 1996). A alta
capacidade de expansão, de contração e de adsorção de água das esmectitas tem efeitos
físicos que limitam o manejo e a execução de obras de engenharia em solos esmectíticos,
pois seu comportamento físico muda radicalmente do período seco para a época das
chuvas. A contração, avaliada pelo coeficiente de extensão linear COLE, mostra amplitude
de 0,07 a 0,20 cm/cm, em Vertissolos esmectíticos (Coulombe et al., 1996), e de apenas
0,02 a 0,04, em solos cauliníticos, como Latossolos e Nitossolos (Palmieri, 1986). Quando
seços, os solos esmectíticos tornam-se de muito a extremamente duros, ressecam -se e
fend ilham -se, provocando a ruptura das raízes; no período de chuvas, com o
reumedecimento, a massa do solo expande-se, tornando-se muito plástica e muito
pegajosa, dificultando em muito o manejo desses solos. Além disso, a expansão e a fácil
dispersão da esmectita em água conferem aos solos esmectíticos alta susceptibilidade à
degradação e à erosão hídrica, conforme se verifica em Vertissolos, Chernossolos vérticos
e Neossolos Litólicos da região da Campanha do RS (Stammel, 1996). A redução do ferro
estrutural reduz a expansão das esmectitas ferruginosas (Gates et al., 1993).
De longa data, a capacidade de expansão e contração dos solos esmectíticos tem
sido atribuída à expansão cristalina das esmectitas, em decorrência das interações entre
as camadas e os cátions hidratados entre camadas (Coulombe et al., 2000; Olson et al.,
2000). Entretanto, este modelo parece válido apenas para esmectitas saturadas de Na,
em baixa concentração de eletrólitos. Para as esmectitas saturadas de Ca, o tipo de
microestrutura (cristálitos, domínios e quasicristais) e a área superficial dos argilominerais
controlam o potencial de expansão-contração (Wilding & Tessier, 1988; Coulombe et al.,
1996). É conhecido que as esmectitas não ocorrem na forma de partículas discretas (ao
contrário das micas, caulinita e vermiculita), pois o número de camadas associadas na
esmectita depende do cátion saturante, do potencial osmótico e do potencial de pressão
do sistema argila-água. Quando saturadas de cátions divalentes (Ca2+), as esmectitas
organizam-se na forma de uma rede de componentes, denominada quasicristal (do latim
P edologi a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 99
cjuasi, como se fosse) (Olson et al., 2000), compostos de vários empilhamentos de camadas.
A água localiza-se nas entrecamadas, entre os empilhamentos e entre os quasicristais.
Como, nas condições naturais do solo, não é usual a remoção da água do espaço
entrecamadas da esmectita, as mudanças significativas no volume do solo devem-se ao
movimento da água entre os quasicristais: a expansão ou contração dos solos com
esmectitas saturadas de Ca2+ ocorre quando a água penetra ou sai dos espaços porosos
entre os quasicristais. De fato, o principal requisito para uma significativa expansão e
contração do solo é a presença de microporos com diâmetro de 1 a 2 mm, os quais podem
aceitar ou liberar água rapidamente, conforme as mudanças no potencial da água no
solo. Isto significa que a presença de argilominerais expansíveis, tais como esmectitas,
não é essencial na composição de Vertissolos (Olson et al., 2000). E, realmente, têm sido
registrados solos com comportamento de Vertissolo, mas com predomínio de caulinita
(Oliveira et al., 1998; Vertissolo Háplico Perfil-15, VRCC, Embrapa,1999). A formação de
uma microestrutura de quasicristais de caulinita exige cristálitos de pequena dimensão.
Neste contexto, é interessante lembrar o aumento do COLE com a diminuição da espessura
das caulinitas em Latossolos, constatado por Palmieri (1986).
Estru tu ra
P e d o l o g i a
100 N e s t o r K ã m p f e t al .
(Tamura, 1953), seguida dos tratamentos com Mg, K e glicerol, usualmente aplicados na
distinção de vermiculita e esmectitas.
Figura 5. Conjunto de unidades estruturais básicas de verm iculita (VHE) e de esm ectita com hidróxi-
Al entrecam adas (EHE).
Fonte: Adaptado de Schulze, 1989.
Argilom inerais VHE e EHE ocorrem comumente em solos ácidos (Lepsch & Buol,
1974; Kãmpf & Klamt, 1978; Curi et al., 1984; Almeida et al., 2000; Marques et al., 2002).
Como condições favoráveis ã form ação de lâminas hidróxi-A l entre camadas em
vermiculita e esmectita, são citados (Rich, 1968): (1) intemperismo ativo para liberar íons
Al; (2) ambiente moderadamente ácido, em torno de pH 5; (3) baixo teor de matéria
orgânica, para evitar a complexação do Al; e (4) umedecimento e secamento freqüentes. O
processo de form ação desses minerais e seus efeitos sobre as propriedades físicas e
químicas da verm iculita e da esmectita foram demonstrados, experimentalmente, por
muitos autores (Barnhisel & Bertsch, 1989).
Esses minerais ocorrem principalmente na fração argila grossa (2 - 0,2 mm) dos
solos, tendendo a aumentar de concentração nos horizontes superficiais do perfil de solo
(Lepsch & Buol, 1974; Demattê & Holowaychuck, 1977; Oliveira, 1977; Kãmpf & Klamt,
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 101
1978; Põtter & Kãmpf, 1981; Mõller & Klamt, 1982; Curi et al., 1984; Almeida et al., 2000),
indicando sua formação pedogênica e resistência ao intemperismo. As vermiculitas com
lâminas hidróxi-m etal entrecamadas são termodinâmicamente mais estáveis que a
caulinita, sendo compatível a sua ocorrência associada com gibbsita (Karathanasis, 1988).
A biociclagem de silício também pode contribuir para a estabilidade de VHE e EHE nos
horizontes superficiais do solo. A ocorrência de esmectita, nos horizontes superficiais, e
de esm ectita com hidróxi-A l, nos horizontes subsuperficiais de solos, tem sido
interpretada como uma transform ação EHE —» esmectita, por despolimerização do Al
entrecamadas por meio da complexação com ácidos orgânicos (Brahy et al., 2000).
Estru tu ra
P e d o l o g i a
102 Nestor K ã m p f e t a l.
ÓXIDOS DE FERRO
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 103
de ferro em solos, que pode variar de < 1 a > 500 g kg-1, está relacionada com o material de
origem, com o grau de intemperização e com processos pedogênicos de acumulação ou
remoção. Os vários tipos de óxidos de ferro, por terem cores diferentes, podem imprimir
coloração característica aos solos, mesmo quando presentes em pequenas quantidades;
podem ocorrer homogeneamente distribuídos na matriz do solo ou concentrados na forma
de ferricretes (crostas de ferro), camadas, horizontes, nódulos, mosqueados, plintita, etc.
Por esta razão, na classificação de solos, são adotados atributos e critérios que envolvem
óxidos de ferro como indicadores do pedoambiente (Soil Survey Staff, 1998; Embrapa,
1999). Por sua baixa solubilidade, esses minerais podem, em certos casos, persistir por
longo tempo no solo, mesmo que as condições ambientais tenham mudado. Este fato
amplia a utilidade diagnostica dos óxidos de ferro, como minerais indicadores de
mudanças ambientais. Neste contexto, o conhecimento das condições de formação dos
óxidos de ferro, em ambientes pedogênicos e geoquímicos, é fundamental na interpretação
de processos atuais e pretéritos ocorrentes nos solos. Um requisito fundamental para
usar os óxidos de ferro como indicadores pedogênicos é a habilidade de identificar,
quantificar e caracterizar as várias fases minerais. Dentre os métodos físicos mais usados,
destacam-se: a difração de raios-x (DRX), a espectroscopia M õssbauer, a microscopia
eletrônica e outros, além de métodos químicos de dissolução seletiva, como, por exemplo,
oxalato de amônio (Feo) (Schwertmann, 1964; McKeague & Day, 1966) e ditionito-citrato-
bicarbonato (DCB) (Mehra & Jackson, 1960; Holmgren, 1967).
Considerando as respectivas condições de formação específicas, a distribuição (ou
a ausência) dos diferentes minerais de óxidos de ferro nos solos permite inferir sobre as
condições de aeração e de drenagem do solo e, consequentem ente, de processos
pedogenéticos. Topossequências de solos vermelhos (hematita e goethita), nos interflúvios
bem drenados; solos amarelos (goethita), nas encostas moderadamente drenadas, e solos
cinzentos e com mosqueados, nos sopés mal drenados, são exemplos de óxidos de ferro,
atuando como indicadores genéricos de ambientes aeróbicos e anaeróbicos (Peterschmitt
et al., 1996). Acumulações localizadas de óxidos de ferro (mosqueados, plintita) e matrizes
descoradas (croma < 2), indicativos de ambientes de solo, com saturação (pela água)
sazonal ou permanente, são usados como critérios diagnósticos para características
redoximórficas e regimes áquicos (Soil Survey Staff, 1998).
P e d o l o g i a
104 N e s t o r K à m p f e t al .
O xi-hidróxidos
A goethita, a-FeOOH, consiste em cadeias duplas de octaedros, compartilhando
arestas unidas a outras cadeias duplas, pelo compartilhamento de ápices e ligações de
hidrogênio (Figura 6A). Vista em corte ao longo do eixo c, a estrutura aparece como
cad eias duplas de o ctaed ros ocu pados com Fe, altern ad as com p seudotú neis
correspondentes ao espaço de cadeias duplas vazias. A lepidocrocita, y-FeOOH, também
apresenta cadeias duplas de octaedros, porém unidas pelas arestas compartilhadas,
formando lâminas octaedrais corrugadas. Estas lâminas estão empilhadas e unidas por
ligações de hidrogênio (Figura 6B). A ferrihidrita, Fe5HOg4HzO, é um óxido de ferro mal
ordenado, com graus de ordenamento variáveis. A estrutura ainda está sendo investigada
(Drits et al., 1993; Manceau & Drits, 1993), mas pode ser visualizada como estrutura
defeituosa de hematita, contendo cadeias duplas de octaedros compartilhando arestas e
faces (Towe & Bradley, 1967). Os íons Fe3+ estão distribuídos aleatoriamente pelos
interstícios octaedrais, com muitos sítios vagos e com mais OH' e HzO e menos Fe3+ do
que na hematita (Cornell & Schwertmann, 1996). Com base na DRX, são distinguidas
duas formas de ferrihidrita: a mais desordenada, com dois reflexos e, outra, mais ordenada,
com seis reflexos; não há conversão de uma em outra (Stanjek & Weidler, 1992).
Ó xidos
A hematita, a-Fe2Oy consiste em lâminas de octaedros que com partilham arestas
com 2/3 dos sítios octaedrais ocupados com íons Fe3+. Os sítios vagos estão arranjados
regularmente, formando anéis hexagonais de octaedros ocupados, análogos à lâmina
dioctaedral dos filossilicatos. As lâminas dioctaedrais estão empilhadas ao longo do
eixo c. Cada plano de oxigênios é com partilhado com duas lâminas dioctaedrais
adjacentes. Cada octaedro compartilha três arestas com três octaedros vizinhos, na mesma
lâmina, e uma face e seis ápices com nove octaedros, em lâminas vizinhas (Figura 7A). A
magnetita, Fe30 4, difere dos demais óxidos de ferro por conter tanto íons Fe2+como Fe3+. A
magnetita tem uma estrutura de espinélio inverso, consistindo de camadas octaedrais e
tetraedrais/octaedrais mistas, empilhadas ao longo de Fe [111], com Fe3* ocupando sítios
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 105
tetraedrais e tanto íons Fe2+ como Fe3+ em sítios octaedrais (Figura 7B). A maghemita,
y-Fe2Os, tem a mesma composição química da hematita, mas estrutura análoga à da
magnetita (Figura 7B). A maioria ou a totalidade do ferro na maghemita ocorre como Fe3+
e vacâncias catiônicas preservam o equilíbrio de cargas, causadas pela oxidação do Fe2+
a Fe3+. Os cátions estão distribuídos aleatoriamente nos sítios tetraedrais e octaedrais. As
vacâncias também são aleatórias, porém confinadas aos sítios octaedrais. A ilmenita é
quase isoestrutural com a hematita, com a metade dos átomos de Fe substituídos por Ti,
de forma que as unidades Fe3+-0 -F e 3+, na hematita, são unidades Fe2+-0 -T i4+, na ilmenita
(Figura 7A) (Lindsley, 1976).
Figura 7. Estrutura dos óxidos de ferro hem atita (A) e m agnetita (B).
Outros cátions metálicos com diâmetro iônico similar ao do Fe3+ (Al, Ni, Ti, Mn, Co,
Cr, Cu, Zn, V) podem substituir o íon Fe na estrutura de vários óxidos de ferro. A
substituição isomórfica de Al3+ por Fe3+ ocorre mais frequentemente e em maior extensão
(Schwertmann & Carlson, 1994). Além de cátions M3+, também cátions M2+ e M4+ podem
ocorrer nas estruturas de óxidos de Fe3+; a proporção, entretanto, geralmente é inferior a
0,1 mol m o l1(Cornell & Schwertmann, 1996).
P e d o l o g i a
106 N e s t o r K ã m p f e t al .
(Schwertmann, 1988; Schwertmann & Taylor, 1989). Estas duas abordagens têm resultado
em interpretações que variam desde coincidentes até conflitantes. A termodinâmica parece
satisfazer certas interpretações dentro da escala do tempo geológico. Por sua vez, o enfoque
cinético correlaciona-se melhor com os fatores e processos pedogênicos e projeções em
estádios temporais não tão extensos, desde minutos (por exemplo, no caso da exposição
do solo anaeróbico ao ar), até milhares ou milhões de anos (por exemplo, na formação/
alteração de Latossolos, Espodossolos, lateritas, etc.). A termodinâmica química permite
prever a possibilidade da reação, independentemente da sua viabilidade, enquanto a
cinética química procura elucidar o mecanismo da reação nas suas diversas etapas.
Desta maneira, as duas abordagens são complementares, embora na literatura transpareça
muitas vezes uma competição entre "escolas de pensamento". Neste texto, a abordagem
termodinâmica será chamada de "m odelo geoquím ico" e a abordagem cinética de
"m odelo pedogênico" para a formação de óxidos de ferro.
O ferro, presente como Fe2+ em minerais primários (principalmente silicatos), na
maioria das rochas, é liberado durante a intemperização, por meio de processos de
protólise e oxidação, hidrolisa-se em contato com a água e forma óxidos de Fe3+. Esta
reação pode ser representada esquematicamente por:
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 107
P e d o l o g i a
108 Nestor K ã m p f e t a l.
Nos ambientes aeróbicos, a formação inicia-se com a liberação do Fe2+ dos minerais
primários, pela intemperização e sua imediata oxidação (abiótica ou biótica) a Fe3+ (reação
1), ou, então, por qualquer outra fonte de Fe3+como, por exemplo, a dissolução de óxidos
de ferro já existentes. Na seqüência, os íons Fe3+, precipitam -se como ferrihidrita ou
goethita, dependendo de qual produto de solubilidade, Kps = [(Fe3+)(OH)3], é ultrapassado
primeiro, o mais alto, da ferrihidrita (Kps ~10'39), ou o relativam ente mais baixo, da
goethita (IO44 < Kps < 10'4)) (Feitknecht & Michaelis, 1962). A hematita é formada a partir
do seu necessário precursor, a ferrihidrita, por uma reação no estado sólido, em que, por
um processo de desidratação e rearranjo no interior de agregados individuais de
ferrihidrita, ocorrem a nucleação e o crescimento de cristais individuais de hematita.
D urante a tran sform ação da ferrih id rita, aum enta a proporção dos octaedros
compartilhando faces (Combes et al., 1989), seguindo-se uma redistribuição das vacâncias
na estrutura aniônica e maior desidratação. O processo de desidratação compreende a
remoção do próton do grupo OH, o que leva à eliminação de uma molécula de H 20 e à
formação de uma ligação O-O. O desbalanço local de carga, por causa da perda do próton,
é compensado pela migração e redistribuição do Fe3+ dentro da estrutura catiônica. Todo
o ferro de cada cristal individual de hematita é derivado de um único agregado de
ferrihidrita, ou seja, o tamanho do cristal de hematita está relacionado com o tamanho do
agregado de ferrihidrita (Cornell & Schwertmann, 1996).
Por outro lado, a transformação da ferrihidrita em goethita transcorre via um processo
de dissolução-precipitação (= transform ação reconstrutiva). A presença de octaedros
F e ( 0 ,0 H ) 6, com partilhan do faces na ferrih id rita, com o na hem atita, im pede a
transformação direta, via estado sólido, da ferrihidrita em goethita, que contém apenas
octaedros compartilhando arestas e ápices. Desta maneira, a transformação de ferrihidrita
em goethita requer a ruptura das pontes de oxigênio dos octaedros compartilhando faces,
o que explica a necessidade do mecanismo de dissolução - precipitação (Combes et al.,
1989). A goethita form a-se de íons Fe3+ em solução, via um processo de nucleação-
crescimento do cristal. Portanto, qualquer fonte de Fe (minerais, exsudatos biológicos,
compostos orgânicos) capaz de manter uma baixa atividade de Fe3+ em solução irá
favorecer a goethita. O fato de a nucleação e o crescimento da goethita ocorrerem via
solução torna-a mais susceptível à influência das variáveis da solução, em comparação
com a hematita, que se forma via fase sólida. Desta maneira, as rotas de formação da
hematita e da goethita são diferentes, porém competitivas, pois as condições que favorecem
uma são desfavoráveis a outra. Isto se observa não apenas nas proporções destes minerais,
/ mas também na sua cristalinidade.
As condições ambientais que favorecem a formação de ferrihidrita e sua subsequente
transform ação em hematita são: (1) alto teor de Fe na rocha original, resultando em
elevada taxa de liberação de Fe; (2) pH próximo à neutralidade, isto é, o pH de
solubilidade mínima e que favorece a agregação da ferrihidrita (Schwertmann & Murad,
1983); (3) temperaturas mais elevadas ou menor atividade da água, favorecendo a
estabilidade (Schwertmann & Fischer, 1966) e a etapa de desidratação (Torrent et al.,
1982); e (4) rápida mineralização da biomassa, proporcionando baixa complexação do
Fe (Schwertmann,1988). Essas diversas condições, usualmente observadas de macro à
microescala, estão relacionadas com clima/(Kãmpf & Schwertmann, 1983a; Singer et aí.,
P e d o l o g i a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 109
1998), paisagem (Curi & Franzmeier, 1984; Schwertmann & Latham, 1986), paisagem e
drenagem (Macedo & Bryant, 1987; M otta & Kãmpf, 1992; Peterschm itt et al., 1996),
hidrologia (Chagas et al., 1997) e profundidade do solo (Bigham et al., 1978; Kãm pf &
Schwertmann, 1983a; Macedo & Bryant, 1987; M otta & Kãmpf, 1992). Desta maneira, a
variabilidade de pedoambientes, condicionando a distribuição dos diversos óxidos de
ferro, constatada regionalmente, também se verifica ao longo de um perfil de solo,
considerando a variação da atividade biológica, teor de m atéria orgânica, pH, Eh,
hidrologia (fluxos verticais e laterais), intemperismo, etc., com a profundidade do solo.
Por exemplo, nos horizontes superficiais, a presença de matéria orgânica, atuando na
complexação do Fe, pode impedir a precipitação da ferrihidrita, suprimindo assim a
form ação da h em atita e fav orecend o a da goeth ita, enquanto, nos h orizon tes
subsuperficiais, ocorre hematita, em decorrência da menor influência da matéria orgânica.
O u tra exp licação para p erfis de solo com h orizon tes su p erficiais am arelos e
subsuperficiais vermelhos (solos bicrômicos) é a mudança de um pedoclima, de mais
seco para mais úmido, durante a evolução pedológica. Sob o ambiente mais úmido
contemporâneo, na presença de compostos orgânicos e micro-organismos, a dissolução
seletiva da hematita por redução produz um horizonte superficial, ou um solo inteiro,
contendo apenas goethita. Este processo, chamado de xantização, será tratado mais adiante.
Por outro lado, nos estudos geoquímicos da alteração de perfis de crostas de ferro,
geralmente é assumida uma seqüência vertical de transformação/neoformação dos óxidos
de ferro (Ambrosi & Nahon, 1986; Tardy, 1993; Ramanaidou et al., 1996), sem detalhar os
processos envolvidos.
A ampla e comum associação de ferrihidrita-goethita, enquanto a de ferrihidrita-
hematita é rara (Parfitt et al., 1988), indica que a velocidade da transformação ferrihidrita
—>hematita provavelmente é muito rápida nos solos (Singer et al., 1998), enquanto a da
ferrihidrita —> goethita, que se dá via dissolução-recristalização, é mais lenta. Pelo fato
de as energias de form ação da goethita e da hem atita serem m uito próxim as, a
predom inância de goethita ou de hematita, formadas a partir da ferrihidrita, depende
mais da cinética da reação do que de considerações termodinâmicas. A precipitação da
ferrihidrita, em temperaturas mais elevadas, torna-a menos reativa e diminui sua
dissolução, o que aumenta a formação de hematita e diminui a de goethita por este
processo (Schwertmann & Fischer, 1966).
Não há nenhuma indicação pedogênica para a transformação, no estado sólido, de
goethita em hematita por simples desidratação, nem o inverso, por simples hidratação.
Entretanto, altas tem peraturas, >250 °C, por exemplo, geradas em queimadas, podem
transform ar goethita em hematita e lepidocrocita em maghemita, por desidroxilação
(Stanjek, 1987). Durante a desidroxilação, as ligações OH são substituídas por ligações
oxigênio e desenvolve-se o compartilhamento de faces entre octaedros, que é ausente nas
estruturas FeOOH; como nestas estruturas apenas a metade dos sítios octaedrais não é
preenchido com cátions, durante a transformação também há uma movimentação de
átomos de Fe para alcançar a ocupação de 2/3 dos octaedros da hematita.
Tam bém há form ação de hem atita nas altas tem peraturas de am bientes não
pedogênicos, durante o resfriamento de rochas ígneas, bem como por metamorfismo (por
exemplo, a hematita de Itabirito), hidrotermalismo e diagênese (Lindsley, 1991; Cornell
P e d o l o g i a
110 Nestor Kãmpf et al.
& Schwertmann, 1996). As hematitas presentes em sedimentos red beds são, em sua
maioria, de origem diagenética (Walker et al., 1981; Blodgett et al., 1993). Essas hematitas
não pedogênicas são muitas vezes referidas como hematitas "primárias", podendo ocorrer
como residuais no solo, a exemplo do que ocorre em muitos Latossolos de cores
avermelhadas, de textura média e com baixíssimos teores de ferro, originados de rochas
psamíticas, registrados no Brasil (Resende et al., 1997).
Outros óxidos de ferro comuns em pedoambientes aeróbicos são a magnetita e a
maghemita. A magnetita é usualmente herdada da rocha de origem (litogênica), mas
tanto a formação biológica (Fassbinder et al., 1990) como abiótica de magnetita (Maher &
Taylor, 1988) foram relatadas. A alteração da magnetita para hematita por transformação
via estado sólido, sem evidência do desenvolvimento de maghemita, foi relatada por
Gilkes & Suddhiprakarn (1979), Curi (1983) e Anand & Gilkes (1984). Em estudos de
laboratório, o tamanho de partícula determina se hematita ou maghemita são formadas,
quando a magnetita é oxidada abaixo de 220 °C (Egger & Feitknecht, 1962; Gallagher et
al., 1968). Partículas com diâmetro < 300 nm transformam-se em maghemita, enquanto
partículas maiores oxidam para hematita. Isto talvez possa explicar a razão pela qual
maghemitas de solo ocorrem tipicamente na fração argila.
A maghemita é comum em muitos tipos de solos, especialmente nos trópicos e
subtrópicos, ocorrendo dispersa ou concentrada em concreções (Taylor & Schwertmann,
1974; Curi & Franzmeier, 1984; Anand & Gilkes, 1987a; Fontes & Weed, 1991). As duas
principais vias para a formação de maghemita em solos são a oxidação aérea de magnetita
litogênica (Curi & Franzmeier, 1987); Fontes & Weed, 1991) ou a transformação de outros
óxidos pedogênicos (goethita e ferrihidrita), por aquecimento por meio de queimadas
(entre 300 e 425 °C), na presença de compostos orgânicos (Schwertmann & Fechter, 1984;
Anand & Gilkes, 1987b; Stanjek, 1987; Campbell, 1997). Para explicar a presença de
maghemita em toda a espessura de solos muito profundos (Latossolos) por este último
mecanismo, há necessidade de considerar-se também um processo de intensa perturbação
e revolvimento da massa de solo (erosão, redeposição, bioturbação, etc.), expondo
sucessivamente novo material à superfície. Em suma, até o presente, pouco se sabe sobre
a formação pedogênica da maghemita.
Uma vez formados, a alta estabilidade termodinâmica (Diakonov et al., 1994) assegura
que os óxidos de Fe3+persistam por longos períodos de tempo, isto é, enquanto for mantido
o ambiente aeróbico. Nesta condição, seu movimento na paisagem ou, no perfil de solo,
pode se dar mecanicamente, por erosão ou migração de argilas ou, em situações especiais,
a mobilização do Fe ocorre por dissolução dos óxidos de ferro. Os principais processos
de dissolução dos óxidos de ferro são: protonação, redução por m icro-organism os e
complexação por ligantes orgânicos, produzindo, respectivamente, íons Fe3+, Fe2+ e
complexos Fe2+ ou Fe3+. As respectivas reações são representadas por:
P edologi a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 111
P edologia
112 N e s t o r K ã m p f e t al .
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 113
P edologia
114 N e s t o r K ã m p f e t al.
1994). A interpretação é dificultada quando o solo esteve sujeito a vários ciclos ambientais,
originando uma sobreposição de feições glei e pseudoglei.
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 115
P edologia
116 Nestor Kãmpf e t al .
ÓXIDOS DE ALUMÍNIO
Estrutura e Composição
Há três polimorfos de hidróxido de alumínio Al(OH)y gibbsita, bayerita e nordstrandita,
co n stitu íd os pela m esm a estru tu ra fu nd am en tal: dois planos de íons OH em
empacotamento hexagonal denso, isto é, cada íon OH em uma unidade reside diretamente
no topo do OH da unidade subjacente, com A l3+ entre eles, formando uma lâmina
octaedral, em que os íons Al ocupam 2/3 dos sítios octaedrais e estão distribuídos em
anéis hexagonais; cada Al3+ está coordenado com seis OH e cada OH está unido a dois
Al3+ (Figura 8). Essas lâminas de octaedros Al(OH)6 dos polimorfos Al(OH)3 são idênticas
às lâminas dioctaedrais dos filossilicatos. Os três polimorfos diferenciam-se quanto ao
empilhamento das lâminas octaedrais. Na gibbsita (y-Al(OH)3), os íons OH de uma lâmina
situam-se exatamente sobre os íons OH da lâmina subsequente, isto é, a justaposição das
lâminas não é em posição de empacotamento denso. Na natureza, ocorrem grandes
quantidades de hidróxidos e oxi-hidróxidos de Al de baixa cristalinidade ou não
cristalinos, que, provavelmente, dominam as reações químicas nos solos; apesar da sua
instabilidade ao longo do tempo, a sua cristalização em formas mais estáveis pode ser
retardada ou inibida por muitos componentes do solo, tais como compostos orgânicos e
Si (Hsu, 1989).
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 117
Figura 8. Estruturas da gibbsita (A), diásporo (B), boehm ita (C) e coríndon (D). Os octaedros contêm
Al no centro e oxigênios nos vértices; os círculos pretos representam hidrogênios.
Fonte: Adaptado de Waychunas, 1991; Bish & Guthrie, 1993.
P edologia
118 Nestor Kãmpf e t al .
Ocorrência e Formação
O Al3+ originalmente ocorre nos aluminossilicatos primários, de onde é liberado pelo
intemperismo. De maneira similar aos óxidos de ferro, cada óxido de Al é favorecido por
condições ambientais específicas. Todavia, detalhes quanto à sua formação no solo ainda
são obscuros, principalmente graças à incerteza dos tipos de polímeros de Al envolvidos.
O acúmulo de óxidos de Al depende, principalmente, da atividade do silício em
solução. Assim, a precipitação de gibbsita por dissolução de caulinita só é possível se a
atividade do H4S i0 4 em solução for inferior a 0,5 m g L '1 (Lindsay, 1991), situação comum
em muitos solos tropicais oxídicos. Outros fatores que influem na concentração de Al, na
sua precipitação e na cristalização dos diferentes tipos de óxidos são a presença de íons
estranhos que não o Si, a ação complexante de compostos orgânicos e o pH. A inibição da
cristalização aumenta não só com a concentração de íons estranhos e de ânions orgânicos,
mas também com o decréscimo do pH da solução (Violante & Violante, 1980; Violante &
Huang, 1985; H su,1989).
Experimentos de síntese mostram que, em temperatura ambiente, a gibbsita forma-
se em soluções ácidas (pH < 6), em que a hidrólise é mais lenta. Estas condições concordam
com a ocorrência natural de gibbsita em solos muito intemperizados e ácidos (Schoen &
Roberson, 1970). Uma possível explicação para a ocorrência mais freqüente da gibbsita e
para a raridade da bayerita e da nordstrandita em solos é o fato de as condições ácidas
em que se forma a gibbsita coincidirem com as de solubilidade mínima da sílica amorfa;
enquanto, em pH alcalino, que favorece a bayerita e a nordstrandita, a solubilidade da
P edologi a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 119
sílica é bem mais elevada e pode favorecer a formação de silicatos de alumínio em lugar
de óxidos de Al.
Anions com forte afinidade por Al3+, tais como sulfato, carbonato, fosfato e silicato,
podem interferir na cristalização do Al(OH), (Huang, 1988; Hsu, 1989). Quanto à ação de
compostos orgânicos, os ânions orgânicos complexantes (AOC) ou influem na velocidade
de cristalização do Al(OH), e a natureza do produto precipitado (Violante & Violante,
1980; Violante & Huang, 1985; Huang & Violante, 1986; Singer & Huang, 1990). O aumento
da concentração de ácidos fúlvicos e húmicos, inicialmente, retarda e, depois, inibe,
completamente a cristalização dos hidróxidos de Al, pois a complexação do Al impede sua
hidroxilação completa, sem formação de Al(OH)3 (Kodama & Schnitzer, 1980; Singer &
Huang, 1990). Isto pode explicar os baixos teores ou a ausência de gibbsita em solos ácidos
com elevados teores de matéria orgânica e de Al "trocável" (Kodama & Schnitzer, 1980), a
exemplo dos Cambissolos Húmicos Alumínicos subtropicais que apresentam teores mais
elevados de gibbsita nos horizontes Bi e C (Põtter & Kãmpf, 1981).
A presença significativa de gibbsita tem sido constatada principalmente em Latossolos
do Brasil central e sudeste (Demattê & Holowaychuck, 1977; Oliveira, 1977; Rodrigues &
Klamt, 1978; Galhego & Espíndola, 1979; Carmo et al., 1984; Macedo & Bryant, 1987). Por
outro lado, nos Latossolos do sul e norte do Brasil predomina a caulinita e os teores de
gibbsita geralmente são baixos. O Al3+trocável é mais elevado nestes solos, exigindo maior
quantidade de calcário ípara correção da acidez (Sombroek, 1966; Kãmpf & Klamt, 1978;
Kitagawa & Mõller, 1979; Põtter & Kãmpf, 1981). Nestas últimas regiões, a gibbsita é abundante
apenas em saprólitos bauxíticos de basalto e riólito (Kãmpf & Schwertmann, 1995).
Estudos m icrom orfológicos, usualmente, relatam a form ação de gibbsita: por
substituição topotáctica de aluminossilicatos (acumulação relativa), em saprólitos e
horizontes C, e pela transferência do Al em solução, form ando revestim entos e
preenchimento de vazios com gibbsita (acumulação absoluta), nos horizontes superiores
já intemperizados do solo (Nahon, 1991; Muggler, 1998). A via pedogênica para a formação
da gibbsita por dessilicação de alum inossilicatos prim ários ou argilom inerais é
condicionada pela intensidade de lixiviação, a qual é afetada pela precipitação
pluviométrica, temperatura, material de origem, topografia, nível do lençol freático,
vegetação e tempo. Dados termodinâmicos apoiam as observações empíricas de que a
gibbsita forma-se somente sob condições de forte dessilicação, isto é, quando a atividade
do H4S i0 4 é suficientemente baixa (< 0,5 mg L'1 de Si) (Lindsay, 1991). Em conseqüência,
quantidades significativas de gibbsita estão usualmente relacionadas com ambientes de
clima quente e úmido, alta precipitação pluviométrica e drenagem livre, fatores estes que
favorecem a dessilicação e lixiviação de íons, bem como a rápida mineralização da matéria
orgânica. De fato, materiais altamente intemperizados, tais como os Latossolos e lateritas,
são frequentemente descritos como locais de ocorrência de gibbsita. Assim, a gibbsita é um
componente principal (associada à caulinita e aos óxidos de ferro) nos Latossolos dos
cerrados no Brasil central (Curi & Franzmeier, 1984; Macedo & Bryant, 1987; Fontes &
Weed, 1991; Gomes et al., 2004; Resende et al., 2005) e em Haploperoxes da Costa Rica
(Nieuwenhuyse & Breemen, 1997). Entretanto, a gibbsita é um componente menor em muitos
Latossolos da floresta e savana amazônica (Sombroek, 1966; Kitagawa & Mõller, 1979), em
IJdoxes das Filipinas (Poudel & West, 1999), bem como em Latossolos subtropicais (Kãmpf
P edologia
120 Nestor Kãm pf e t a l.
& Schwertmann, 1983). Baixas proporçoes de gibbsita também podem ocorrer em solos de
climas temperados (Graham et al., 1989; Campbell, 1997; Ogg & Baker, 1999).
Conforme esperado, em seqüências de intemperismo e lixiviação decrescentes com a
profundidade do solo, em muitos Latossolos, a quantidade de gibbsita aumenta dos
horizontes mais profundos à superfície do solo (Macedo & Bryant, 1987; Muggler, 1998).
Entretanto, o incremento da gibbsita com a profundidade do solo não é incomum. Em
Ultissolos e Inceptissolos de climas temperados údicos, a maior proporção de gibbsita nos
horizontes inferiores, ou em saprólitos, e seu decréscimo, mas os horizontes superiores,
são explicados pela posição dos solos em declives íngremes que favorecem a remoção da
água e do Si da zona de intemperismo intenso próximo à rocha (Graham et al., 1989;
Norfleet et al., 1993). Por outro lado, a ocorrência de camadas gibbsíticas abaixo de solos
cauliníticos sob floresta úmida amazônica foi atribuída a diversas causas, a saber: a
biociclagem de Si, estabilizando caulinita nos horizontes superiores (Lucas et al., 1997), a
formação de Oxissolos cauliníticos na desintegração da bauxita (Lucas, 1997) ou, ainda, a
deposição de fluxos de lama silicosos sobre materiais bauxíticos (Kotschoubey et al., 1997).
A posição na paisagem também pode influenciar a distribuição da gibbsita nos
solos. Em hidrossequências, o teor de gibbsita em Acrustoxes pode aumentar em direção
aos solos mais bem drenados (e mais lixiviados) nas posições de topo (Curi & Franzmeier,
1984), ou decrescer, dos Gleissolos dos sopés colúvio-aluviais, aos Latossolos do sopé e
do topo (Motta & Kãmpf, 1992). Estas tendências podem ser explicadas com o auxílio de
modelos termodinâmicos, que associam o equilíbrio gibbsita-caulinita, a atividade da
água (a ) e o diâmetro de poros (Tardy & Novikoff, 1988; Tardy, 1993): a gibbsita precipita-
se em a elevada, enquanto a caulinita é estável em a baixa, e a « está relacionada com
o tamanho de poro. Desta maneira, a ocorrência de gibbsita pode ser associada a sítios
com alta a ou a poros de tamanho grande, enquanto a caulinita é estável em sítios (ou
horizontes) com baixa a ou poros de tamanho pequeno.
Considerando a avançada idade de muitas paisagens tropicais e, consequentemente,
a natureza poligenética de seus solos, as ocorrências de gibbsita podem não estar
relacionadas com o atual am biente do solo (Tardy & Roquin, 1998). Todavia, é
inquestionável que a gibbsita forma-se sob ambiente de dessilicação, que pode abranger
desde sítios em microporos na superfície de minerais específicos até perfis com vários
metros de espessura.
Im portância Ambiental
Aspectos gerais relacionados com a importância ambiental dos óxidos de Al estão na
seção anterior. Em decorrência da maior frequência e abundância da gibbsita nos solos, a
presente seção trata especificamente deste mineral. A gibbsita, associada com a caulinita e
com os óxidos de ferro, é encontrada em muitos solos de carga variável (Latossolos,
Argissolos, Cambissolos). A presença significativa de gibbsita (usualmente associada aos
óxidos de ferro) tem grande influência nas propriedades químicas e físicas, o que está
maximizado em muitos Latossolos. Com o incremento da razão gibbsita/caulinita (ou o
decréscimo da razão molar S i0 2/Al2Oa), os Latossolos mostram elevação nos valores de
pH, aumento do PCZ, valores ApH positivos (ApH = pH em KC1 - pH em água), maior
P e dologi a
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 121
ÓXIDOS DE SILÍCIO
P edologia
122 Nestor Kãmpf e t al.
Estrutura e Composição
Os óxidos de Si são tectossilicatos, com a estrutura formada pela repetição de tetraedros
S i0 4, em que cada oxigênio está ligado ao Si de tetraedros adjacentes, constituindo uma
armação tridimensional. A razão Si/O é 1:2, da qual deriva a fórmula estrutural SiOz. Os
polimorfos de Si são diferenciados pelo sistema cristalográfico e pelo padrão de ligação
dos tetraedros entre si. O quartzo apresenta sistema cristalográfico trigonal; a cristobalita,
tetragonal; a tridimita, ortorrômbico, e a opala não se enquadra neste contexto. As estruturas
são progressivamente mais abertas na seqüência quartzo < cristobalita < tridimita < opala,
o que resulta em decréscimo na densidade, na dureza e na estabilidade e acréscimo na
porosidade, impureza, hidratação e área superficial específica (Drees et al., 1989; Heaney,
1994). O a-quartzo é o polimorfo SiO, mais abundante e o mais estável na crosta terrestre.
A estrutura do quartzo pode ser visualizada como pares de cadeias de tetraedros S i0 4,
dispostas em espiral ao longo do eixo c, produzindo túneis paralelos ao eixo (Figura 9); a
ligação Si-O é parcialmente iônica (~40 %) e covalente. O quartzo é um dos minerais mais
puros conhecidos, todavia, pode conter traços de vários elementos (Al, Ti, Fe, Na, K, Mg,
Ca, OH), intersticiais ou como substituições isomórficas.
Figura 9. Projeção no eixo c das estruturas: -quartzo com cadeias de tetraedros em espiral (A); uma
lâm in a de tetraed ros de -trid im ita (B) e um a lâm in a de tetraed ro s de -cristo b alita (C),
m ostrando anéis ovais distorcidos. As frações na figura a) indicam a extensão da rotação dos
tetraedros em relação à célula unitária, em geral 1/3 e 2/3 eqüivalem à rotação de 120 e 240°,
respectivam ente.
Fonte: Adaptado de Heaney, 1994.
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 123
P edologia
124 Nestor Kãmpf et al .
temperaturas ambientes. Por isso, a precipitação de sílica amorfa, a qual possui baixa
energia livre de superfície da solução do solo é relativam ente freqüente, embora
termodinamicamente o quartzo seja mais estável. Em geral, fases mais solúveis têm energia
livre de superfície menor que fases menos solúveis, de maneira que os polimorfos mais
solúveis de qualquer material precipitam-se primeiro, a partir de soluções supersaturadas,
mesmo que termodinamicamente as formas menos solúveis sejam as mais estáveis. Estes
polimorfos transformam-se progressivamente nos polimorfos menos solúveis, até à
formação do polimorfo menos solúvel, porém, mais estável. Este fenômeno é conhecido
como a regra das etapas de Ostwald. No caso da sílica, a opala-A precipita-se primeiro,
transforma-se em opala-CT, a qual se transforma em quartzo. Essas transformações tanto
podem ocorrer na forma de solução sólida como envolver solubilização e reprecipitação.
Ocorrência e Formação
O quartzo é um constituinte comum em muitas rochas, ocorrendo também como
mineral secundário (formas precipitadas quimicamente), agindo como cimentante em
sedimentos, graças ao seu pequeno tamanho de partícula e propriedades covariantes. O
quartzo é de longe o óxido de silício mais abundante nos solos. A cristobalita ocorre em
solos desenvolvidos de materiais vulcânicos, como, por exemplo, em solos desenvolvidos
de basalto, no Rio Grande do Sul (Curi et al., 1984; Kãmpf & Schwertmann, 1995). A
opala pode ser um constituinte im portante no solo, dependendo das condições
pedoambientais, enquanto a presença de tridimita é rara.
O quartzo está presente no solo, principalmente, como mineral primário, herdado
do material de origem. Em relação a outros minerais, a sua maior estabilidade deve-se ao
fato de cristalizar-se a partir do magma, em condições próximas ao ambiente de superfície
(é um dos últimos minerais a cristalizar na série de Bowen; ver Capítulo Intemperismo);
ao empacotamento denso da estrutura cristalina e à alta resistência da ligação Si-O-Si. O
quartzo autigênico (neoformado) é abundante em sedimentos silicosos tipo chert (quartzo
microcristalino), nos quais ele predomina na forma granular (microquartzo), originado
pela transformação diagenética de opala-A biogênica —>opala-CT —» opala-C —» quartzo,
via uma série de etapas de dissolução e precipitação, em que as partículas maiores, de
baixa solubilidade, crescem às expensas de partículas menores, de alta solubilidade, por
causa da maior reatividade e alta superfície específica destas últimas (Knauth, 1994). O
quartzo autigênico tam bém pode ser form ado por precipitação direta, quando a
concentração de SiOz em solução é > 4 mg L'1, conforme experimento in vitro (Mackenzie &
Gees, 1971). Formas autigênicas de quartzo, principalmente na forma de crescimentos
superficiais em cristais pré-existentes, bem como de precipitação química, são relativamente
comuns em solos (Drees et al., 1989). A formação de quartzo em condições próximas ao
ambiente, também pode ser atribuída ao envelhecimento de géis de sílica. A transformação
pedogênica de opala em quartzo microcristalino ocorre em duripãs e em solos cimentados
por sílica (Flach et al., 1969), pois baixas concentrações de H4S i0 4 e baixo teor de impurezas
favorecem a precipitação de quartzo microcristalino nestes ambientes.
Por causa da sua resistência ao intemperismo e ocorrência generalizada em rochas
ígneas, metamórficas e sedimentares, o quartzo é o mineral mais freqüente na maioria dos
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 125
solos. No solo, concentra-se nas frações areia e silte (mesmo em Latossolos) e em menor
quantidade na fração argila grossa (2 - 0,2 mm); a ausência do quartzo na fração argila fina
(< 0,2 mm) é atribuída ã menor resistência das partículas muito finas à dissolução. O quartzo
tende a concentrar-se nos horizontes eluviais (horizontes A e E) de Argissolos, Planossolos,
Espodossolos e constitui mais de 90 % da fração mineral em Neossolos Quartzarênicos.
Im portância Ambiental
Solos não cimentados, constituídos dominantemente por quartzo (p.e., Neossolos
Quartzarênicos), são não plásticos, em virtude da fraca coesão (forças de van der Waals)
desenvolvida entre as partículas de sílica, têm baixa capacidade de retenção de água e
alta condutividade hidráulica. Por outro lado, duripãs cimentados por pequenas
quantidades de Si são duros a extremamente duros quando secos (Flach et al., 1969). A
deposição de sílica amorfa pode ocorrer inicialmente pela adsorção de polímeros na
superfície de cristais de caulinita, que promovem a continuidade da deposição (Chadwick
et al., 1987). O crescimento do depósito de sílica amorfa, em ciclos de umedecimento e
secamento do solo, eventualmente solda as partículas de caulinita adjacentes, terminando
por ligar toda a matriz do solo, mesmo sem preencher completamente o espaço poroso.
Para haver cimentaçâo em solos arenosos, onde predominam grãos de quartzo, há
necessidade de deposição mais extensiva de sílica (Singh & Gilkes, 1993).
Por sua baixa superfície específica (geralmente maior tamanho de partícula), pouca
hidratação e muito baixa ou ausência de carga, óxidos de Si cristalinos têm pouco efeito
na atividade físico-química da relação solo-planta, atuando como diluentes dos minerais
mais reativos, tais como os argilominerais e óxidos de Fe e de Al. Apesar de o silício não
ser essencial para o crescimento das plantas, o H4S i0 4 tem um efeito benéfico no
desenvolvimento de algumas plantas, como cana de açúcar e arroz.
Considerando a sua ubiquidade, abundância, resistência ao intem perism o e
imobilidade, o quartzo é usado como mineral índice em estudos de uniformidade do
material de origem, da evolução do solo e do seu grau de intemperismo (White, 1981;
Marcelino et al., 1999). Também pode ser usado na diferenciação de materiais de origem,
como, por exemplo, de solos originados de riólito-dacito, que contêm mais quartzo em
relação a solos desenvolvidos de basalto (Curi et al., 1984). Entretanto, o uso do quartzo
como, mineral índice pode ser limitado nas situações em que a sua solubilidade é
aumentada pela lixiviação extensiva (Pye & Massullo, 1994) ou quando há formação de
quartzo autigênico ou biogênico (Wilding & Drees, 1971).
ÓXIDOS DE TITÂNIO
P edologia
126 Nestor Kãmpf e t al .
limitada a estudos relacionados com o desenvolvimento dos solos, porque estao geralmente
mais concentrados nos solos, em relação às rochas de origem.
Estrutura e Composição
O titânio ocorre principalm ente em coordenação o ctaed ral e, por isso, as
estruturas dos vários óxidos de titânio podem ser descritas pelo arranjo de octaedros
com Ti (Lindsley, 1976; W aychunas, 1991). O rutilo (T i0 2), que é isoestrutural com a
p iro lu s ita e a m an g an ita, co n siste em cad eias u n itá ria s de o cta ed ro s T iO é,
com partilhando arestas (Figura 10). O anatásio consiste em octaedros TiO ó que
com partilham quatro arestas O-O, duas no topo e duas a 90°, na base; em vez de
cadeias, os octaedros form am uma arm ação tridim ensional (Figura 11). A ilm enita,
que é quase isoestrutural com a hem atita e o coríndon, tem a m etade dos átom os Fe
substituída por Ti, de form a que as unidades Fe3+- 0 3-Fe3+, na hematita, são unidades
Fe2+- 0 3-Ti4+, na ilmenita. As titano-magnetitas são soluções sólidas de magnetita (Fe30 4)
com ulvõspinélio (Fe2T i 0 4) e apresentam uma estrutura inversa de espinélio.
P edologia
IV - MINERALOGIA DE SOLOS BRASILEIROS:PRINCIPAIS ASPECTOS 127
Ocorrência e Formação
Rutilo, anatásio, ilmenita e, menos frequentem ente, brookita, ocorrem como
minerais acessórios, em muitas rochas ígneas e metamórficas, e como minerais detríticos,
em sedim entos nos quais o anatásio geralm ente é autigênico (Deer et al., 1992). Nos
solos, os óxidos de Ti podem ser m inerais residuais herdados do m aterial de origem,
ou formados pelo intemperismo de minerais portadores de Ti, ou autigênicos (Milnes
& Fitzpatrick, 1989). Rutilo, anatásio e ilm enita são, com um ente, m inerais residuais
presentes nas frações areia e silte dos solos. A ilmenita pode ser intem perizada para
pseudorutilo e m isturas de rutilo, anatásio e óxidos de ferro. Há evidências do
intemperismo de anatásio e ilmenita por ácidos orgânicos no horizonte A de Podzóis,
na Escócia (Berrow et al., 1978), bem como do rutilo em Spodic Quartzipsam m ents
australianos (Kella et al., 1991).
Há muitos exemplos de óxidos de Ti secundários formados pelo intemperismo de
minerais primários em saprólitos e solos. A alteração da ilmenita sob condições oxidantes
forma pseudorutilo (Grey & Reid, 1975). A formação autigênica de anatásio, como produto
da alteração de esfeno, foi observada em Espodossolos da Escócia (Berrow et al., 1978).
Im portância Ambiental
Dada sua baixa concentração generalizada no solo, há pouca evidência de efeitos
dos óxidos de Ti na reatividade do solo. Apenas nos solos tropicais, onde sua concentração
é mais elevada, pode-se esperar algum efeito. O anatásio apresenta as superfícies laterais
hidroxiladas com carga variável (Fitzpatrick et al., 1978). A superfície do rutilo e do
anatásio tem grupos hidroxila com diferentes reatividades (Tanaka & White, 1982), que
podem adsorver e reter fosfato e arsenato (Cabrera et al., 1977; Fordham & Norrish,
1983). Pelo fato de ser muito resistente no solo, a ilmenita pode ser usada como mineral
P edologia
128 Nestor Kãmpf e t al .
referência nos estudos de intemperismo e gênese do solo (Bleeker, 1972; Mitchell, 1975;
Claridge & Weatherhead, 1978; Kella et al., 1991).
Em termos de estudos de desenvolvimento do solo, a utilidade do rutilo tem sido
reconhecida na resolução de questões fundamentais de pedogênese: (a) origem da rocha
matriz; (b) se os horizontes têm origem alóctone ou autóctone; (c) se os horizontes são
resultantes de processos químicos ou físicos; e (d) extensão em que a formação do solo
tem sido acompanhada por perdas e ganhos de vários componentes (Fitzpatrick &
Chittleborough, 2002).
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