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D esde a Antiguidade, os homens procuram uma panacéia para seus males (ou

melhor, para aquilo que consideram seus males): uma fórmula milagrosa (ou
mágica) capaz de livra-lo das atribulações comuns a todos nós enquanto nesta
existência. E nesta busca ele faz de tudo. Alguns, percebendo esta obstinação característica
do ser humano, tiram proveito manipulando-a em benefício próprio ou de seu grupo.
Inventam um sem número de crenças religiosas, místicas e mágicas as mais absurdas, sem
qualquer valor real. E, através destas, exploram seu semelhantes. Penso não ser necessário
entrar aqui em maiores considerações a respeito.
Quando poderemos reconhecer que, realmente, começamos a compreender um
assunto?
A resposta é simples: quando começamos a perceber ser ele basicamente muito mais
simples do que imaginávamos.
Com a vida dá-se o mesmo. Quando conseguimos despi-la dos trapos com os quais
a vestiram, então, a compreendemos com mais clareza.
Se quisermos compreender o que é o homem e porque sua existência é tão cheia de
problemas, devemos retornar ao passado. Quem conhece o passado tem respostas para o
presente e as chaves do futuro. Uma vez feito isto, o resto é fácil... Mas é necessário recuar
com habilidade, perscrutar os corredores do tempo sem nos deixarmos atrair por miragens
fantasiosas. Alem do mais, tudo está gravado em nós mesmos, em lembranças herdadas de
nossos mais remotos antepassados.
Os documentos escritos são muito recentes em comparação ao aparecimento do
homem na superfície da Terra. Eles nos fazem retroceder somente há alguns milhares de
anos. O homem habita o planeta há mais de um milhão de anos. Para se compreender o que
ele é hoje, deve-se olhar para a longa estrada percorrida neste milhões de anos, e observar
onde ele esteve.
O que nos informa o Antigo Testamento? Se é que poderíamos tomar o Gênesis
como uma narrativa historicamente verídica, o que é grandemente difícil. Além do dito na
Bíblia e em outros livros ‘sagrados’ da humanidade, como poderíamos saber a história do
homem na Terra? Como é que desvendamos o passado, dentro dos parâmetros da
Arqueologia e da Paleontologia? A resposta é simples: desenterrando resquícios da
passagem do homem por este mundo. Ferramentas, armas, utensílios, etc. Este é o processo
de nossos irmãos paleontólogos e arqueólogos. Começamos a encontra ferramentas.
Ferramentas de pedra. E, assim, tiramos a conclusão que nossos antepassados usavam
ferramentas de pedra. Inicialmente lascada; depois polida.... Entretanto, em dado
momento, começamos a encontrar certos objetos que, de maneira alguma, ‘casam’ com
esta teoria. Mas, estamos tão habituados a aceitar as teorias da ciência oficial que nem
chegamos a parar e pensar nestes achados incoerentes. Simplesmente não fazem parte de
nossa teoria. Então, simplesmente, os esquecemos.
Entretanto, indivíduos mais atentos começam a conjeturar a respeito destas
‘incoerências’, e caem na dúvida quanto a certeza e veracidade das teorias oficiais. Por
exemplo: o que faz uma pilha elétrica entre os achados da antiga civilização egípcia? E
aquela arma lançadora de raios, na mão de um antigo guerreiro Maia, desenhado nas ruínas
de um templo perdido na floresta mexicana? E o que dizer do mapa de Piris Reis?
Deixemos, entretanto, estes assuntos para serem desenvolvidos em outra ocasião.
Voltemos aos instrumentos de pedra. Quem nos negará este fato, já que a ciência oficial
assim o afirma?
Mas, reflita sobre isto. Quando o homem da Terra partiu para percorrer esta trilha,
não havia retorno. Quando nós, pela primeira vez, lascamos nossos instrumentos,
determinamos, em parte, nosso destino. Todo o resto fluiu desta iniciativa, deste ato: lanças,
arcos e flechas, arados, rodas, a escrita, cidades, aviões e bombas atômicas.

Foi um modo de vida (ou melhor, de existência), um modo de pensar. Mas


totalmente desastroso.
Entretanto, não cabe a mim dizer se esse caminho foi ‘bom” ou “mau”. Não estou
bastante certo se estes termos têm ou não sentido no contexto. Mas é, sem dúvida, inegável
que o homem da Terra tomou uma pesada carga quando fabricou seu primeiro instrumento
de pedra. Somente um imbecil deixará de compreender a lição transmitida por nossa
História. Uma importância maior ao poder externo traz em si uma pesada falha; um
castigo, como diriam cristãos. Como alguém me instruiu certa vez: “Leia nossos
romances, ouça nossas músicas, contemple nossa arte. Conte os túmulos de todas as
guerras. Pense se puder, no tédio, na inutilidade, na frustração, na exaustão, e na
busca desesperada de divertimentos. Conte os suicídios; visite os hospícios. Quem sabe
terás uma melhor visão do que falo.”
“Temos o poder sobre todas as coisas: podemos construir pontes, casas,
edifícios enormes, navios, aviões, e já estamos no início da conquista espacial. MAS
COMO GENTE, ESTAMOS REALIZADOS? Chegamos, pelo menos, a encontrar
uma medida para a felicidade? Por que precisamos de pílulas para dormir ou para
eliminar nossa crescente angustia? É, por acaso, nosso anseio pelas estrelas apenas
uma expressão de nossa indigência interior?

“Havia um pedágio a pagar no caminho que percorremos? Havia um Galhofeiro


oculto na cortina que descerramos?
Um modo de vida? Sim.
Mas seria o único?
E se o homem terrestre tivesse entrado por outro caminho? Um caminho diferente?
E se ele nunca tivesse fabricado seu primeiro instrumento de pedra?
Que caminho nos seria oferecido?
Observe os povos ainda não contaminados com a nossa “civilização”.
Sim, não há paralelo entre estes diversos povos. Mas não têm eles grande confiança
na “magia”? Grande confiança em seus sonhos? Não usam os sonhos para prever o futuro?
Dar sentido à vida? Não confiam em sua “magia” e em seus sonhos como fontes de
profunda sabedoria? Não admitiam alguns deles, muito antes de Freud e Jung, a idéia do
subconsciente? Não conheciam que a doença podia ser (ou ter) origem num conflito entre a

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Alma e o pensamento supostamente racional? Que são os deuses egípcios senão
representações arquetípicas?
E o que dizer de nossos próprios sonhos? Não falamos dos sonhos e de nossas
intuições em termos de símbolos de esperança e de idéias? Não são nossos sonhos
mensagens (cifradas) de nossas Almas? Que é a meditação senão um mergulho nesta
Alma? Que são rituais a não ser um modo de provocar este contato com as partes mais
íntimas de nós mesmos? Nunca perca suas metas, nunca perca as mensagens de seus
sonhos. Deixa sempre que seus “sonhos” sigam adiante e medite no que eles dizem em
imagens e símbolos.
O que tudo isto representa?
Os místicos e magistas evidentemente desenvolveram um aspecto diferente da
mente humana. A cultura, ou sistema mágico-místico desenvolveu e concentrou-se num
grupo diferente das possibilidades humanas. Bem diferente das desenvolvidas pelo homem
comum, ainda preso em suas ferramentas materiais. Eles conseguiram explorar as Fontes da
Mente Humana. Operam em símbolos, visões, sonhos, etc.
Telepatia? Não! Eles aperfeiçoaram (aprenderam de alguém, ou de algum lugar,
todas estas coisas) uma técnica quase esquecida, mas lembrada por poucos. Ai reside o
domínio deles sobre a própria natureza humana.
Mas não é só isto. Esta técnica vai mais longe. Ela atinge todos os aspectos da Vida.
Eles vivem num mundo de grande riqueza. Um mundo de cores intensas, tons
deslumbrantes, sombras profundas, luz inefável. Estão aptos a liberarem suas Almas e a
dirigi-las aos mais recôndidos mundos do Universo. Dispõem de técnicas as quais jámais
imaginaremos se permanecermos apenas limitados por nossas vidas puramente materiais.
Têm eles o perfeito conhecimento sobre o crescimento dos mundos, o
desdobramento da Vida, etc.
Mas também são humanos. Não superhomens. Não foram idealizados como
fantasias da imaginação. Eles, de fato, existem. Apenas descobriram as raízes e viram a
causa que deu origem à toda esta confusão em que vivemos.
São eles os pioneiros das futuras raças. traçaram o mapa do nosso próprio mundo,
ou mundos; descreveram, há muito, nosso sórdido presente, quando ainda era futuro, e os
porta-vozes das ‘religiões’ e da ‘ciência’ diziam que todas essas coisas eram impossíveis
— e os homens tiveram que fazer o papel indispensável e (pelo menos a princípio) ingrato
do “Filho Ilegítimo”, desprezado, de aprendizes do diabo que proclama as verdades com
que os pais não se preocupam ou, mais provavelmente, em que nem sequer repararam
devido à “respeitabilidade”.
Eles também mergulham nas literaturas sagradas do mundo, tal como arrastaram as
hipóteses científicas e sociais até ao limite das suas conclusões, para que nós pudéssemos
examinar. Quanto lhes devemos?
Parece haver uma “Aliança” contra todo este Saber, uma “organização” para fazer
desaparecer certos ‘segredos’ que nos vieram de longe, de muito longe. Existem várias
hipótese sobre o tema. Mas tais hipóteses não são tão fantásticas quanto a grande
Conspiração. É que somente agora nós sabemos até que ponto era (e é) perfeita a O.N., até
que ponto seus filiados eram ( e são ) numerosos em todos os recantos da Terra; e até que
ponto essa conspiração estava ( e está ) próxima do êxito.
O tema tem servido à numerosos escritores, em que a trama é apresentada em forma
romanesca.

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Todos os grandes homens da humanidade estavam ( e estão) conscientes de que a
conspiração existe. Atualmente ela se encontra mais oculta do que nunca. Porém pode ser
percebida através o noticiário mundial, da grande influência da mídia em nossas vidas, e do
poder bancário e clerical, sugando as energias de quase todos os países do mundo.
Quem são nossos inimigos?
Nós os denominaríamos “Os Homens Vestidos de Negro”. Sob meu particular
ponto-de-vista, o papel destes ‘homens’ é impedir, a todo custo, uma difusão mais ampla e
rápida e mais compreensível do Saber. Foi por intermédio deles que teve lugar a destruição
de grandes civilizações passadas, cujos nomes se perderam no tempo. Hoje pouquíssimas
referencias são feitas a elas, e o que dizem delas é pura adulteração.
Ao mesmo tempo que os traços destas civilizações nos chegam, vem com eles uma
“tradição”, cujo princípio consiste na pretensão de que o Saber pode ser terrivelmente
perigoso nas mãos dos homens. Os “técnicos” na conservação da Magia e da Alquimia
juntam-se neste ponto de vista. Porém, uma minoria não. Por que temem que o Saber venha
a ser patrimônio de todos?

Para os arqueólogos clássicos, a Arqueologia Egípcia não apresenta nenhum


mistério, e nela pode-se perceber uma passagem contínua do Neolítico a uma forma de
civilização mais avançada; passagem que se efetuou de maneira “natural”. Entretanto, para
o arqueólogo não ortodoxo, ao contrário, a Antiguidade Egípcia (ou a Sumeriana, ou a
Arcadiana) é muito mais importante, e os problemas sem solução muito mais numerosos do
que os Clássicos afirmam.
Existem, então, coisas que não devemos tomar conhecimento?
Assim querem os Homens Vestidos de Negro. E para isto fabricam numerosas
“provas” atestando suas teorias.
Acontece, porém, que de vez em quanto, surgem enigmas não fazendo parte do
esquema deles.
A faculdade humana mais importante é o Poder de Auto-Conservação e de
Renovação. O mais simples exemplo típico da auto-conservação ocorre quando o homem
dorme. Um homem cansado é um homem praticamente nas garras da morte. A força da
auto-conservação é tão poderosa, que o caos apenas o estimular para maiores esforços.
Muitas das fases da História do Homem estão cheias de crueldade e horror e,
contudo, ao dormir o homem consegue recuperar-se disto facilmente, do mesmo modo que
uma criança cansada consegue descansar sua fadiga. Compare, se quizer, o período do sono
com a morte.
Nada mais obvio que o homem é um deus que irá superar qualquer obstáculo
que se anteponha entre ele e seu destino.
Segundo alguns autores, se repararmos com a devida atenção, observaremos que
subitamente, de um certo momento, localizado no Século XVIII (eu coloco este período
mais afastado), houve uma mudança. E então entramos numa confusa era: caótica e de
obscurantismo, marcada por inúmeras teorias contra nossa liberdade. Surgem, então,
ditaduras por todos os continentes. Homens brilhantes são presos. Já não criam como
deuses: Nazismo, Fascismo, Comunismo, começam a minar os povos. Isto evolue até a
Segunda Guerra Mundial. E o que é muitíssimo mais importante: o homem parece ter
perdido seu poder de auto-conservação. No Século XVIII, vários grandes homens cometem
suicídio (?). E, contudo, todos tiveram vidas tão duras quanto àqueles que viveriam no
Século XIX.

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O novo homem perdeu a fé na Vida, perdeu a fé no Conhecimento.
O Mestre parou seu discurso. Uma imensidade de pensamentos e imagens
furtivas invadiram minha mente.
Parecendo adivinhar minha perturbação, falou:
- Não se perca, agora, em divagações infrutíferas. Com o tempo, e com seus
esforços pessoais todo o quebra-cabeça será montado em uma forma compreensível.
Algumas soluções virão em forma de sonhos, outras em rápidos lampejos da mente.
procure acalmar vossa mente, e quando ela se tornar como um lago cuja superfície não é
agitada nem por uma mínima aragem, você verá o fundo. Por enquanto é só. Quando
algumas incógnitas forem resolvidas, entre em contato comigo da maneira ensinada, ou eu,
no momento exato, farei contato consigo.
Despedi-me do Mestre.
No caminho de casa, minha mente não parava seu diálogo interno.
Estava cansado e o balanço do ônibus e o lamento de seu motor subindo a
serra me fez dormir o resto da viagem.

Frater Aster IX O.T.O.


Frater MHDB 2 = 9 A.’.A.’.
Frater P.A.A.A. Ordem de Thelema

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