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Instituto Superior de Gestão e Administração de Santarém

Técnico Superior de Segurança e Saúde no Trabalho

Avaliação Ergonómica do Posto de Trabalho – Método EWA

Luísa Manuela Marinho

Docente: Rui Miguel Costa Silva


Unidade Curricular: Ergonomia

Santarém
2021/2022
Resumo
A Ergonomia é uma área de estudo que tem evoluído com o tempo e se mostrado uma
ferramenta necessária para prevenção de acidentes de trabalho e, consequentemente
doenças profissionais. A Ergonomia também é uma auxiliar da Segurança e Saúde no
Trabalho. Neste sentido, existe o método EWA, desenvolvido propriamente para ajudar
os técnicos de Saúde e Segurança. O objetivo geral desta pesquisa é fazer uma avaliação
ergonómica do posto de trabalho de uma funcionária que desenvolve trabalhos de
pastelaria. Usando o método EWA obtivemos um resultado desejável, visto que, na maior
parte dos parâmetros de avaliação os resultados foram bons ou razoáveis.

Palavras-chave: Ergonomia, EWA, Prevenção, Segurança.


ÍNDICE

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 6
OBJETIVOS ............................................................................................................ 6
METODOLOGIA .................................................................................................... 7
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 8
1.1. DEFINIÇÃO DE TERMOS E CONCEITOS ................................................ 8
1.2. OBJETO VERSUS OBJETIVO DA ERGONOMIA .................................... 9
1.3. EVOLUÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO DA ERGONOMIA AO LONGO
DO TEMPO ................................................................................................................ 10
1.4. ÁREAS DE INTERVENÇÃO ERGONÓMICA ......................................... 11
1.5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ERGONÓMICA ....................................... 12
1.6. MODELO ERGONOMIC WORKPLACE ANALYSIS (EWA) ................ 13
CAPÍTULO II – APLICAÇÃO DO MÉTODO EWA ......................................... 15
2.1. CARATERIZAÇÃO DA EMPRESA ............................................................. 15
2.2. ÁREA DO POSTO DE TRABALHO ............................................................ 15
2.3. ATIVIDADE FÍSICA EM GERAL ................................................................ 22
2.4. LEVANTAMENTO DE CARGAS ................................................................ 23
2.5. POSTURAS DE TRABALHO E MOVIMENTOS ........................................ 25
2.6. RISCOS DE ACIDENTE ............................................................................... 28
2.7. CONTEÚDO DO TRABALHO ..................................................................... 30
2.8. AUTONOMIA NO TRABALHO................................................................... 31
2.9. COMUNICAÇÃO ENTRE OS TRABALHADORES ................................... 32
2.10. TOMADA DE DECISÃO............................................................................. 33
2.11. REPETITIVIDADE DO TRABALHO......................................................... 34
2.12. ATENÇÃO .................................................................................................... 35
2.13. ILUMINAÇÃO ............................................................................................ 36
2.14. AMBIENTE TÉRMICO ............................................................................... 37
2.15. RUÍDO .......................................................................................................... 38
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 42
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Área de Trabalho Horizontal acordo com especificações do Método EWA.
........................................................................................................................................ 15
Figura 2: Posto de Trabalho Horizontal ..................................................................... 16
Figura 3: Espaço de Trabalho com Materiais Anexados na Parede. ......................... 17
Figura 4: Altura do Plano de Trabalho Recomendáveis ............................................ 17
Figura 5: Demonstração da Altura do Plano de Trabalho ......................................... 18
Figura 6: Sugestão de Aumento do Plano de Trabalho ............................................. 19
Figura 7: Distâncias Recomendadas entre os Olhos do Observador e o Plano de
Trabalho. ......................................................................................................................... 20
Figura 8: Ângulos de Visão Recomendáveis. ............................................................ 20
Figura 9: Ângulo de Visão do Posto de Trabalho ...................................................... 21
Figura 10: Níveis da Atividade Física em Geral, e Fatores Determinantes pelo Método
EWA. .............................................................................................................................. 22
Figura 11: Posturas Corretas no Levantamento de Cargas ........................................ 24
Figura 12: Demonstração de Levantamento de Cargas pela Funcionária ................. 25
Figura 13: Classificação das Posturas de Trabalho e Movimentos Pescoço-Ombros e
Cotovelos-Pulsos. ........................................................................................................... 26
Figura 14: Classificação das Posturas de Trabalho e Movimentos Costas e Ancas-
Pernas. ............................................................................................................................ 26
Figura 15: Posturas das Costas da Funcionária ......................................................... 27
Figura 16: Demonstração da Postura da Funcionária, Ancas e Pernas. ..................... 28
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1: Descritores do Método EWA.................................................................... 13
Quadro 2: Parâmetros de Avaliação e Índices de Classificação ................................ 14
Quadro 3: Probabilidade de Ocorrência do Risco. .................................................... 29
Quadro 4: Gravidade dos Acidentes. ......................................................................... 29
Quadro 5: Probabilidade de ocorrência do acidente versus Severidade pelo Método
EWA. .............................................................................................................................. 30
Quadro 6: Classificação do conteúdo de trabalho segundo o método EWA. ............ 31
Quadro 7: Classificação da autonomia segundo o método EWA. ............................. 32
Quadro 8: Classificação do nível de comunicação entre pessoas segundo o método
EWA. .............................................................................................................................. 33
Quadro 9: Classificação a atribuir à tomada de decisão segundo o método EWA. ... 34
Quadro 10: Classificação da repetitividade no trabalho segundo o método EWA. .. 35
Quadro 11: Critérios de avaliação do nível de atenção segundo o método EWA. .... 36
Quadro 12: Níveis de Iluminância Média Segundo Tipos de Atividades e Locais de
Trabalho. ......................................................................................................................... 37
Quadro 13: Velocidade do ar e humidade relativa para condições térmicas semelhantes
– EWA. ........................................................................................................................... 38
Quadro 14: Níveis de classificação do ruído atribuídos pela especificação do trabalho
a realizar. ........................................................................................................................ 39
Quadro 15: Apreciação do Posto de Trabalho em Análise ........................................ 40
INTRODUÇÃO

A necessidade de adaptação e bem-estar humano prevalece desde antiguidade. Assim,


pode parecer que a Ergonomia seja uma área do saber relativamente nova, no entanto, os
seus ideais estão diretamente ligados com a existência do homem. O ser humano sempre
procurou adaptar o ambiente a sua volta segundo as suas necessidades.

Utilizando a inteligência, os seres humanos empreenderam, há muito, um processo de


transformação do seu habitat com o objetivo de assegurar meios de subsistência e de
melhorar as condições de vida (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

A revolução industrial e a entrada da máquina nos meios de produção colocaram em


confronto os seres humanos com as novas realidades de trabalho, caracterizadas por níveis
elevados de energia (máquina a vapor, motor de combustão, eletricidade), equipamentos
e máquinas com uma tecnologia avançada e pouco amigáveis na utilização, locais de
trabalho insalubres e cargas horárias de trabalho elevadas, gerando uma situação
insustentável (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

Neste contexto socioeconómico emergiu a consciência social para a necessidade de


proteger o trabalhador e se desenvolveram os conceitos de segurança e saúde no trabalho.
Entretanto, hoje, as preocupações com os fatores de risco (segurança e saúde) e de
incomodidade (ergonomia) são transversais aos vários contextos de vida, pessoal,
profissional e social (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

A palavra Ergonomia, em termos etimológicos deriva do grego "Ergon" (trabalho) e


"Nomos" (estudo). O seu papel é adequar o trabalho ao homem. Mais do que nunca a
Ergonomia tem sido um grande aliado da Segurança e Saúde no trabalho, bem como
também uma ferramenta importante no âmbito da prevenção de acidentes de trabalho e
doenças profissionais.

OBJETIVOS
A pesquisa realizada tem por principal objetivo fazer avaliação ergonómica do posto
de trabalho usando o Método EWA.

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METODOLOGIA
A metodologia usada foi essencialmente bibliográfica com recurso aos manuais do
curso de pós-graduação de Segurança e Saúde no Trabalho e artigos online. Foi aplicado
o método Ergonomic Workplace Analysis (EWA) para avaliação do posto de trabalho.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1.DEFINIÇÃO DE TERMOS E CONCEITOS


A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como: “Um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença.”
(Organização Mundial da Saúde)

Tendo em conta este conceito e como o bem-estar dos trabalhadores reflete-se na


produtividade, ou alcance dos objetivos traçados, as empresas estão cada vez mais
empenhadas na criação de um ambiente de trabalho saudável. Segundo o Serviço Social
da Indústria, SESI (2010) este ambiente “é aquele em que os trabalhadores e os gestores
colaboram para o uso de um processo de melhoria contínua da proteção e promoção da
segurança, saúde e bem-estar de todos os trabalhadores e para a sustentabilidade do
ambiente de trabalho”, tendo em conta alguns aspetos importantes, nomeadamente as
questões de segurança e saúde no ambiente físico de trabalho.

Ainda segundo o Serviço Social da Indústria, o ambiente físico de trabalho se refere à


estrutura, ar, equipamentos, móveis, produtos, substâncias químicas, materiais e
processos de produção no local de trabalho. Estes fatores podem afetar a segurança e
saúde física dos trabalhadores, bem como sua saúde mental e o seu bem-estar. Dentre
muitos problemas que podem surgir, como: perigos químicos, físicos, biológicos,
queremos abordar especialmente sobre os fatores de risco ergonômicos que incluem, por
exemplo, processos que exigem força excessiva, posturas desconfortáveis, tarefas
repetitivas, levantamento de objetos pesados.

De acordo com a OMS, a ergonomia é a “Ciência que visa o máximo rendimento,


reduzindo os riscos do erro humano ao mínimo, ao mesmo tempo que trata de diminuir,
dentro do possível, os perigos para o trabalhador. Estas funções são realizadas com a
ajuda de métodos científicos e tendo em conta, simultaneamente, as possibilidades e as
limitações humanas devido à anatomia, fisiologia e psicologia.”

A Organização Internacional do Trabalho define a ergonomia como sendo a “aplicação


das ciências biológicas do homem em conjunto com as ciências da engenharia, para
alcançar a adaptação do homem com o seu trabalho, medindo-se os seus efeitos em torno
da eficiência e do bem-estar para o homem.”

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A ergonomia visa eliminar ou não sendo possível, atenuar os riscos existentes entre a
interação do homem com o trabalho.

O risco, por sua vez, é uma “condição insegura de trabalho capaz de afectar a saúde e
o bem-estar dos trabalhadores ou das populações envolventes, ou ainda, é a possibilidade
de um trabalhador sofrer um dano na sua saúde ou integridade física provocado pelo
trabalho e pressupõe a interação do homem com tal componente de trabalho” (Manual de
Avaliação e Controlo de Riscos, ISLA, 2022).

Também se considera risco, todo e qualquer fator, condição, característica ou


comportamento que contribuam para o aumento da probabilidade de concretização de
dano, doença ou lesão. A conjugação de vários fatores de risco, pode resultar no
aparecimento de doenças/lesões, sejam elas profissionais ou não (Ribeiro, 2021).

Para colmatar os riscos inerentes à atividade profissional, a Ergonomia reúne-se de


técnicas e procedimentos essenciais na prevenção e combate de acidentes de trabalho e
doenças profissionais. O estudo ergonómico pretende reduzir o máximo possível os
riscos, apostando no maior conforto e saúde dos trabalhadores, tendo como resultado a
eficácia, considerando a produtividade e a qualidade.

1.2.OBJETO VERSUS OBJETIVO DA ERGONOMIA


A Ergonomia é um domínio científico e tecnológico multidisciplinar, que se ocupa da
otimização das condições de trabalho, considerando as necessidades, as características e
limitações das populações trabalhadoras.

O objeto da Ergonomia é o trabalho humano. O trabalho humano engloba: carga


mental e físicos, aspetos materiais, ambientais, organizacionais e socioculturais das
atividades de trabalho. No que se refere ao objeto da ergonomia, podemos considerar:

• ERGONOMIA DE PRODUTO: intervenção na conceção dos produtos, desde as


pesquisas de mercado, conceção, produção e controlo de qualidade.

• ERGONOMIA DE PROCESSO: intervenção na organização ambiental, espacial e


temporal dos elementos materiais dos processos produtivos:

o Ergonomia do posto de trabalho – microergonomia

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o Ergonomia do sistema de produção – macroergonomia

Quanto ao objetivo da ergonomia é otimizar o trabalho humano. No que se refere ao


objetivo (compatibilizar as atividades de trabalho com as características bio-psico-sociais
do ser humano, em termos de eficiência e eficácia, aumentando a fiabilidade dos sistemas
de trabalho), podemos considerar:

• ERGONOMIA DE CONCEPÇÃO: partindo dos conhecimentos técnicos e


científicos existentes, intervêm na fase de projecto/planeamento, antecipando e
eliminando disfunções, sendo a mais eficaz e rentável.

• ERGONOMIA DE CORRECÇÃO: corrige as disfunções, inadaptações ou não


conformidades ergonómicas identificadas em contexto real de trabalho, considerando as
suas configurações, material, lógica, organizacional, humana e social.

(Manual de Ergonomia, ISLA, 2022)

1.3.EVOLUÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO DA ERGONOMIA AO LONGO DO


TEMPO
Tal como outras ciências, a ergonomia passou por um processo evolutivo. A sua
evolução partiu das ciências económicas, em que o principal fator era o aumento da
produtividade, no entanto, com o passar do tempo, passou-se a ter um conceito mais
humanizado. Segundo o Manual de Ergonomia (ISLA, 2022), as fases são:

1º Fase – Ergonomia dos métodos e tempos de trabalho, a fase “Taylorista e


Fordista”, que tinha como preocupação maximizar a produtividade. Proponha uma
abordagem de natureza mecanicista e padronizada, onde o ser humano constituía um dos
fatores de produção.

2º Fase – Ergonomia ocupacional, desenvolvida após a Segunda Guerra Mundial,


propõe uma abordagem centrada na problemática da ciência e da tecnologia, bem como,
na prática das questões físicas e de percepção, aplicáveis a produtos, equipamentos e
postos de trabalho.

3º Fase – Ergonomia ambiental, que propõe uma ampliação da área de intervenção,


passando a considerar os temas relativos ao ser humano no seu ambiente “natural” e ao
ambiente “por ele construído”.

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4º Fase – Ergonomia cognitiva, a ergonomia da interface humano/computador,
reposta á automação e entrada dos sistemas computacionais no trabalho, muda o enfoque
dos aspetos físicos e materiais do trabalho para os de natureza cognitiva contribuindo para
a melhoria e desenvolvimento de produtos e sistemas.

5º Fase – Macroergonomia, que propõe uma abordagem onde a análise e


compreensão das atividades de trabalho é enquadrada no contexto organizacional,
incorporando os princípios ergonómicos nos objectivos da organização.

6º Fase – Ergonomia antropo-tecnológia, integrando nas preocupações ergonómicas


a influência dos fatores geográficos, demográficos, económicos, sociológicos e
antropológicos.

1.4.ÁREAS DE INTERVENÇÃO ERGONÓMICA


De acordo com a International Ergonomics Association (IEA), existem três grandes
áreas de intervenção Ergonómica:

- Ergonomia Física: estuda as respostas do ser humano à carga física de trabalho,


considerando aspetos materiais (configuração dos locais de trabalho e a lógica dos
processos de trabalho - repetição, vibração, força e postura), temporais (carga horária,
trabalho por turnos e noturno, ritmos e pausas) e ambientais (iluminação, ruído, vibrações,
conforto térmico), considerando para o efeito a anatomia humana e a antropometria
(Manual de Ergonomia, ISLA, 2022).

- Ergonomia Cognitiva: estuda a carga de trabalho mental e a forma como a


percepção, a memória, o raciocínio e resposta motora, podem influenciar o desempenho
do ser humano, particularmente ao nível da sua capacidade de decisão, inter-
relacionamento com os outros, e os próprios elementos do sistema onde está integrado
(Manual de Ergonomia, ISLA, 2022).

- Ergonomia Organizacional: debruça-se sobre o estudo dos sistemas sociotécnicos,


tendo como objetivo a otimização da sua estrutura organizacional, políticas e processos,
procurando deste modo intervir ao nível da conceção, programação, satisfação,
motivação, supervisão do trabalho, ética, trabalho em equipa e responsabilidade social
(Manual de Ergonomia, ISLA, 2022).

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1.5.MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ERGONÓMICA
As metodologias de análise e intervenção ergonómica têm sofrido modificações e
adaptações ao longo do tempo em função da conceptualização do trabalho, do progresso
técnico-científico e do ambiente socioeconómico e cultural (Manual do Módulo de
Ergonomia, ISLA, 2022).

Os métodos de análise ergonómica são procedimentos de “codificação e recompilação


de informação sobre o conteúdo dos postos de trabalho e tarefas e sua associação a certos
atributos desses postos (valoração, complexidade, dificuldade, interdependência …) ou
dos seus ocupantes (características pessoais, conhecimentos, competências…)” (Hakel
1987, citado em Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

De acordo com o Manual do Módulo de Ergonomia, (ISLA, 2022) existem os


seguintes tipos de métodos de análise ergonómica:

• Métodos objetivos ou diretos: Métodos de análise normalizados, propondo


avaliação quantificada das variáveis críticas dos postos de trabalho (local e ambiente de
trabalho, processo e carga de trabalho, riscos). Geram diagnósticos objetivos,
estabelecendo quadros referenciais da situação de trabalho com pouca margem para
interpretações, permitindo hierarquizar os problemas e priorizar as intervenções.
Apresentam algumas limitações, nomeadamente na avaliação de atividades sem ciclo de
trabalho definido, avaliação da carga de trabalho mental, valoração dos riscos
psicossociais. Como exemplos referem-se: LEST – Laboratoire d'Economie et de
Sociologie du Travail, RNUR – Regie Nationel des Usines Renault.

• Métodos subjetivos ou indiretos: Métodos que apreendem a forma como o


trabalhador perceciona o desempenho das tarefas que lhe são atribuídas e os problemas
que enfrentou. O diagnóstico da situação de trabalho é obtido pela participação direta dos
trabalhadores, participação que se prolonga no estudo e implementação de soluções para
os problemas detetados e na avaliação dos seus efeitos. Como instrumento de recolha de
informação privilegiam os questionários. Como exemplos referem-se: Diagnóstico
ergonómico curto (ANACT).

• Métodos mistos: São métodos que combinam a realização de processos de avaliação


objetiva (direta) e de avaliação subjetiva (indireta) das situações de trabalho, identificam
os pontos de convergência e divergência. Permitem orientar as intervenções de forma a

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se conseguir uma boa compreensão e integração pelos trabalhadores das soluções
propostas. Exemplos: Questionário de análise de postos de trabalho (PAQ McCormick),
Método MAPFRE: Fundación MAPFRE Ergonomic Workplace Analysis (EWA),
Finnish Institute of Occupational Health.

1.6.MODELO ERGONOMIC WORKPLACE ANALYSIS (EWA)


Os métodos mistos avaliam aspetos objectivos e subjetivos, sendo mais adequados
para o diagnóstico ergonómico em contexto laboral pois integram a perspetiva dos
trabalhadores (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

Como avaliação inicial ergonómica, no âmbito das atividades de SST, o método EWA,
foi desenvolvido para ser aplicado por técnicos em SST e não por especialista em
ergonomia, é um método aberto, permitindo ao utilizador acrescentar ou suprimir itens,
considerando as condições de trabalho específicas a avaliar, e cobre as principais áreas
da ergonomia do trabalho, nomeadamente:

Quadro 1: Descritores do Método EWA.

Fonte: Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022.

A análise e avaliação tem como base quatorze parâmetros, que embora não sejam
comparáveis entre si, todos eles são classificados de acordo com um índice de análise
quantitativa e qualitativa (subjetiva). No primeiro índice cuja responsabilidade da
classificação é do Técnico de Segurança, os valores situam-se dentro de uma escala que
varia entre (1) e (5), sendo o valor 1-Óptimo 2-Bom, 3-Razoável, 4-Insuficiente e o
valor 5-Mau, estando sujeitos à definição e implementação de ações corretivas, todos
postos de trabalho em que haja parâmetros avaliados com valores de (4) e/ou (5)
respetivamente. Por seu lado, a classificação a atribuir no âmbito do índice análise

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qualitativa, resulta de uma entrevista a realizar junto do elemento que executa as tarefas
associadas ao posto de trabalho, podendo essa mesma classificação situar-se entre (++) e
(- -), sendo (++) Bom, (+) Razoável, (-) Mau e (- -) Muito Mau.

Quadro 2: Parâmetros de Avaliação e Índices de Classificação

Fonte: Ramos, 2013.

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CAPÍTULO II – APLICAÇÃO DO MÉTODO EWA

2.1. CARATERIZAÇÃO DA EMPRESA


A Bramily é uma microempresa formada em 2019 com o objetivo social de produzir e
comercializar bolos.

A avaliação do posto de trabalho focou-se na área de produção (cozinha), em que há


apenas uma funcionária responsável.

2.2. ÁREA DO POSTO DE TRABALHO


• Área de Trabalho Horizontal
Na área de trabalho horizontal tendo em consideração o estabelecido pelo método
EWA, todos os materiais, ferramentas e/ou equipamentos, deverão estar localizados na
superfície de trabalho de modo que a pessoa que os necessita de utilizar, tenha o seu
acesso totalmente facilitado e esforço reduzido.

Figura 1: Área de Trabalho Horizontal acordo com especificações do Método EWA.

Fonte: Adaptação de Ramos, 2013 (com base no Manual EWA, traduzido por L. Gomes Costa - Univ.
Minho).

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• Análise e Avaliação Ergonómica
Figura 2: Posto de Trabalho Horizontal

Fonte: Próprio Autor, 2022.

Ao olhar para área de trabalho horizontal conseguimos ver que há uma grande
dispersão dos materiais de trabalho, inclusive faz uma curva em L que exigirá uma rotação
do trabalhador para alcançar as ferramentas de trabalho. Tal situação excede os limites
estabelecidos na figura acima. Esta disposição resulta em um esforço maior do
trabalhador para busca de equipamentos que serão precisos ao longo do processo
produtivo. Logo, seria prático que os equipamentos estivessem dispostos em linha reta,
permitindo uma maior e melhor visibilidade de todos eles. Por exemplo, com o objetivo
de reduzir o espaço de trabalho, alguns utensílios como: fouet, peneira e colheres podem
estar colados na parede como sugere a imagem a seguir:

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Figura 3: Espaço de Trabalho com Materiais Anexados na Parede.

Fonte: www.casavogue.globo.com, 2020.

• Altura do Plano de Trabalho (Área de Trabalho Vertical)


De acordo com as especificações do método EWA, a altura ideal do plano de trabalho
para a execução de tarefas, são a que estão expostas na figura abaixo. Estabelecendo-se
que "Altura do cotovelo é igual à distância do cotovelo ao solo com o braço numa posição
descontraída".

Figura 4: Altura do Plano de Trabalho Recomendáveis

Fonte: Ramos, 2013 (baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

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• Análise e Avaliação Ergonómica
Figura 5: Demonstração da Altura do Plano de Trabalho

Fonte: Próprio Autor, 2022.

Segundo o Método EWA, para trabalhos que exigem liberdade de movimento das
mãos, o ideal é que o plano de trabalho esteja ligeiramente abaixo do nível dos cotovelos.
No entanto, na imagem acima, conseguimos ver uma distância considerável entre o nível
do cotovelo e a área de trabalho.

Uma solução para resolver este mal seria o uso de uma tábua que seria colocada em
cima do plano de trabalho. O plano em si, seria usado para colocação dos materiais, ao
passo que na tábua adaptável seria realizado o trabalho.

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Figura 6: Sugestão de Aumento do Plano de Trabalho

Fonte: www.manufakt.br, 2020.

• Visão
"A distância de visão deve ser proporcional às dimensões do objeto de trabalho; um
objeto pequeno requer uma menor distância de visão e uma superfície de trabalho.
Objetos que são continuamente comparados a uma distância de visão próxima (menos de
1mm) devem estar situados à mesma distância dos olhos do observador" (Ergonomic
Workplace Analysis, 2012). Tal como ilustram as imagens abaixo:

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Figura 7: Distâncias Recomendadas entre os Olhos do Observador e o Plano de Trabalho.

Fonte: Ramos, 2013 (baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

Figura 8: Ângulos de Visão Recomendáveis.

Fonte: Ramos, 2013 (baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

Segundo o Ergonomic Workplace Analysis (2012), relativamente ao ângulo de visão,


é importante considerar que o objeto observado com maior frequência, deve estar
centrado em frente do observador. O ângulo de visão recomendado varia entre 15º e 45º
graus, dependendo da postura do trabalho. Deste modo cada um dos ângulos tem haver
com as seguintes posturas:

- 15º Graus: Postura com cabeça direita e tronco um pouco inclinado para trás
(Exemplo tarefas executadas numa sala de controlo).

- 45º Graus: Postura com tronco ligeiramente inclinada para diante (Exemplo, tarefas
executadas a uma secretária).

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• Análise e Avaliação Ergonómica
Figura 9: Ângulo de Visão do Posto de Trabalho

Fonte: Próprio Autor, 2022.

Comparando a imagem acima com as figuras que demonstram as posturas a adotar e


os ângulos de visão, conseguimos ver que pelo facto de o plano de trabalho ser mais baixo
do que o recomendado há uma curvatura maior do tronco, o que representa uma postura
não adequada. Também é visível um esforço visual acentuado devido a distância a que os
objetos se encontram, formando um ângulo superior a 45 graus.

A cabeça representa 6 a 8% do peso corporal, onde as posturas com inclinações ou


lateralizações do pescoço superiores a 15º, por períodos prolongados, geram fadiga com
desconforto e dor cervical. Como tal, assegurar que a maioria da informação visual
necessária para o desempenho das tarefas se encontra na linha de visão (linha imaginária
horizontal perpendicular ao olho que passa pela pupila com um indivíduo a olhar em
frente mantendo a cabeça em equilíbrio com os músculos do pescoço descontraídos). O
campo visual vertical de conforto encontra-se entre 5º acima e 30º abaixo dessa linha de
visão (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

Com um plano de trabalho mais alto será possível aproximar-se mais dos objetos em
uso, em especial quando forem necessárias medições. Também diminuirá a necessidade
de maior inclinação para observação dos materiais de trabalho.

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Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
1 Área do Posto de Trabalho 3 ++ Razoável/Bom

2.3. ATIVIDADE FÍSICA EM GERAL


A atividade física geral, é determinada pela duração do trabalho, pelos métodos e
utilização de equipamentos que impõem dispêndio de esforço físico. No que toca a sua
grandeza, a respetiva atividade pode ser apropriada, elevada ou baixa. A sua qualidade,
pode ser determinada pela possibilidade que o próprio trabalhador tem de regular a sua
carga de trabalho, pela possibilidade desta carga, poder se regulada pelo método de
produção ou ainda pelas condições ambientais que envolvem a realização desse trabalho
(Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

Figura 10: Níveis da Atividade Física em Geral, e Fatores Determinantes pelo Método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

22
• Análise e Avaliação Ergonómica
Tendo em consideração as tarefas executadas no posto de trabalho em causa,
relativamente à atividade física em geral, pode-se considerar que a mesma não é
pesada, embora o seu ritmo possa apresentar oscilações sazonais, pois é de admitir
que em épocas específicas como acontece no caso da época Natalícia, a procura de
bolos aumente consideravelmente, impondo o aumento de pedidos de encomendas,
aumentando consequentemente o ritmo de trabalho dos seus funcionários.

No que toca ao método de trabalho, pela sua repetibilidade, longa duração e na


possibilidade de as tarefas poderem ser definidas pela funcionária, tem pelos motivos
referidos tendência a provocar pouco desgaste.

A favor da atividade física, reverte o fato das pausas estipuladas para o almoço e
tomar café, e fora destas, a existência de pequenas pausas que podem ser geridas pela
funcionária, pois esta goza de autonomia suficiente para interromper a produção
sempre que o ache conveniente, isto desde que garanta o cumprimento dos objectivos
estabelecidos pela empresa.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
2 Atividade Física em Geral 2 + Bom/Razoável

2.4. LEVANTAMENTO DE CARGAS


O levantamento de cargas é uma das tarefas mais usuais no desempenho de funções.
O esforço calculado para o levantamento de uma determinada carga, é dado pelo seu peso,
distância horizontal entre a carga e o corpo, e altura da elevação.

Numa perspetiva ergonómica, o levantamento de cargas é entendido como correto


quando o peso é agarrado com as duas mãos em simultâneo de frente para o tronco, e o
movimento de abaixamento é realizado com a coluna cervical em posição vertical numa
superfície não escorregadia (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

23
• Análise e avaliação Ergonómica
Para levantar uma carga, utilizar a seguinte técnica:

1. Abordar a carga de frente para trajeto a percorrer;

2. Coloca um pé de cada lado da carga e o corpo sobre a mesma (se tal não for possível,
tentar colocar o corpo tão próximo quanto possível da carga);

3. Utilizar os músculos dos membros inferiores para erguer a carga, mantendo a coluna
direita, evitando desequilíbrios (torsões, lateralizações, inclinações);

4. Durante o levantamento manter a carga tão próxima quanto possível do corpo, com
os membros superiores estendidos.

(Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022)

Figura 11: Posturas Corretas no Levantamento de Cargas

Fonte: Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022.

Embora a atividade analisada não exija o levantamento constante de cargas, contudo,


vez por outra, é necessário levantar sacos de farinha de trigo e outros materiais que
estejam ao nível do chão. Como sugere a imagem abaixo, a trabalhadora cumpre com as
recomendações ergonómicas sobre o levantamento de cargas.

24
Figura 12: Demonstração de Levantamento de Cargas pela Funcionária

Fonte: Próprio Autor, 2022.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
3 Levantamento de cargas 2 ++ Bom/Bom

2.5. POSTURAS DE TRABALHO E MOVIMENTOS


A postura adotada pelo trabalhador, em particular da cabeça e do pescoço, é muitas
vezes determinada pela necessidade de controlo visual das atividades de trabalho (Manual
do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

As posturas de trabalho referem-se às posições do pescoço, braços, costas, quadris e


pernas durante o trabalho. Os movimentos de trabalho são os movimentos do corpo
exigidos pelo trabalho (Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

Na análise e avaliação de tais posturas, é fundamental que se o faça de forma separada


por grupos: pescoço-ombro, cotovelos-punhos, costas e anca-pernas.

25
Figura 13: Classificação das Posturas de Trabalho e Movimentos Pescoço-Ombros e
Cotovelos-Pulsos.

Fonte: Adaptação de Ramos, 2013 (baseado em Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

Figura 14: Classificação das Posturas de Trabalho e Movimentos Costas e Ancas-Pernas.

Fonte: Adaptação de Ramos, 2013 (baseado em Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

26
• Análise e avaliação Ergonómica
Tendo em consideração a escala de valores estabelecidos em cada um dos grupos
das figuras anteriores, podemos tecer a seguinte análise sobre as posturas e
movimentos do corpo:

Pescoço - Ombros: A este nível, podemos observar que a carga de trabalho na


sua globalidade, não impõe à operadora, movimentos tidos como difíceis, pois a
mesma consegue manter uma postura natural.

Cotovelos - Pulsos: Em relação aos braços da operadora, não estão sujeitos a


posições muito tensas.

Costas: No que concede às costas, embora estas não estejam sujeitas a qualquer
carga impedindo à operadora de certo modo permanecer numa posição relaxada,
importa considerar que a boa postura está limitada pela obrigatoriedade da execução
das tarefas, pelo facto das atividades serem feitas de pé.

Figura 15: Posturas das Costas da Funcionária

Fonte: Próprio Autor, 2022.

27
Ancas e Pernas: Na avaliação deste indicador, verifica-se que a operadora fica de
pé numa posição estática durante boa parte do seu ciclo de trabalho, tendo a própria
considerado que esta postura lhe causa algum incómodo, mesmo usufruindo de
alguma autonomia para interromper a produção.

Figura 16: Demonstração da Postura da Funcionária, Ancas e Pernas.

Fonte: Próprio Autor, 2022.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
4 Posturas de Trabalho e Movimentos 4 + Insuficiente/Razoável

2.6. RISCOS DE ACIDENTE


Considera-se risco, todo e qualquer fator, condição, característica ou comportamento
que contribuam para o aumento da probabilidade de concretização de dano, doença ou
lesão. A conjugação de vários fatores de risco, pode resultar no aparecimento de
doenças/lesões, sejam elas profissionais ou não (Ribeiro, 2021).

Genericamente, o risco é definido (R) como o produto da probabilidade (P) da


ocorrência de um acidente potencial pela gravidade (G) ou severidade das consequências
decorrentes desse acidente. Face à probabilidade de a ocorrência ser quotidiana ou rara e
do efeito do sinistro sobre as pessoas e os bens ser considerável ou desprezível, o risco

28
será mais ou menos preocupante (Manual de Avaliação e Controlo de Riscos, ISLA,
2022).

Em termos de probabilidade de ocorrência, esta é:

Quadro 3: Probabilidade de Ocorrência do Risco.

Fonte: Manual de Controlo e Avaliação de Riscos, ISLA, 2022.

Quanto à gravidade ou severidade dos acidentes, esta pode ser:


Quadro 4: Gravidade dos Acidentes.

Fonte: Manual de Avaliação e Controlo de Riscos, ISLA, 2022.

Da inter-relação estabelecida entre a probabilidade de ocorrência do acidente e sua


gravidade, podemos estabelecer uma escala de valores que servem para classificar de
forma quantitativa o risco de acidente.

29
Quadro 5: Probabilidade de ocorrência do acidente versus Severidade pelo Método EWA.

Fonte: Adaptação de Ramos, 2013 (baseado em Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

• Análise e avaliação Ergonómica


No posto de trabalho em análise, os únicos riscos existentes são referentes a postura
inapropriada que poderá apresentar consequências a longo prazo. Por outro lado, também
há o risco de cortes, pelo manuseio de materiais cortantes.

No entanto, estes riscos são ligeiros e poderão ser ainda mais minimizados com
formações sobre as diferentes posturas a adotar durante o horário de trabalho e também,
disponibilizar luvas apropriadas para trabalhos em cozinha.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
5 Risco de Acidente 3 ++ Razoável/Bom

2.7. CONTEÚDO DO TRABALHO


O conteúdo do trabalho é determinado pela quantidade e qualidade das tarefas
individuais desempenhadas pelo elemento afecto ao posto de trabalho, incluindo-se aqui
para além das tarefas principais que estão diretamente ligadas à produção, outras que
indirectamente são necessárias para garantir o funcionamento do processo produtivo.
Quanto mais detalhada for esta descrição, maior será a classificação em termos de
conteúdo (Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

Esta classificação é feita de acordo com a escala de valores registados no quadro 7.

30
Quadro 6: Classificação do conteúdo de trabalho segundo o método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e avaliação Ergonómica

Tendo em consideração o exposto no quadro anterior, pode-se afirmar que a


funcionária executa a totalidade da entidade de trabalho, isto é, planeia, executa
inspeciona e corrige.
Assim sendo, o ideal seria que a funcionária não tivesse todas as responsabilidades em
suas mãos, com o risco de acontecer uma fadiga mental e também de acontecerem muitas
falhas. Recomenda-se que a inspeção seja feita por outro trabalhador, dando-lhe a
possibilidade de identificar melhor os erros e obter-se um resultado final mais satisfatório.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
6 Conteúdo do Trabalho 4 - Insuficiente/Mau

2.8. AUTONOMIA NO TRABALHO


A escassez de autonomia na execução de tarefas, limita os movimentos do trabalhador,
assim como atrofia a sua iniciativa, criatividade e capacidade em termos de desempenho.

O nível de autonomia de acordo com a método EWA, pode ser classificado dentro da
seguinte escala de valores (Quadro 8).

31
Quadro 7: Classificação da autonomia segundo o método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e Avaliação Ergonómica


Sobre o grau de autonomia que é facultado à funcionária, o seu ritmo de trabalho é
influenciado pelos objectivos de produção que são estabelecidos pela direção da empresa.
Entretanto, a funcionária tem liberdade para gerir e controlar esse ritmo, o que lhe permite
usufruir de pausas extras, para descansar em caso de cansaço. Nesta perspetiva a
funcionária reconhece que lhe é concedida autonomia no seu local de trabalho.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
7 Autonomia no Trabalho 3 ++ Razoável/Bom

2.9. COMUNICAÇÃO ENTRE OS TRABALHADORES


No âmbito deste parâmetro, cabe-nos analisar e avaliar se os trabalhadores usufruem
da possibilidade de comunicarem e estabelecerem contactos pessoais entre si e a respetiva
supervisão, ou por outrem, qual o grau de isolamento inerente ao posto de trabalho e as
oportunidades diretas e indiretas de relacionamento e comunicação entre as pessoas
(Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

Esta análise e avaliação é feita de acordo com a escala de valores definidos no quadro
9.

32
Quadro 8: Classificação do nível de comunicação entre pessoas segundo o método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e Avaliação Ergonómica


A comunicação entre a funcionária, seus colegas e a supervisão, é determinante para o
exercício da sua função, e existe uma preocupação por parte da supervisão em fazer com
que a comunicação e os contatos entre os trabalhadores sejam possíveis. Quanto às
relações estabelecidas entre a funcionária, seus colegas e a supervisão e que, caracteriza
deste modo o ambiente de trabalho, segundo o parecer da mesma, é bastante agradável.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
8 Comunicação entre Trabalhadores 1 ++ Ótimo/Bom

2.10. TOMADA DE DECISÃO


"A dificuldade de tomada de decisões é influenciada pelo grau de disponibilidade de
informação e do risco envolvido na decisão" (Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

A análise e classificação a atribuir sobre este parâmetro é feita tendo em consideração


a escala de valores definidos no quadro 10.

33
Quadro 9: Classificação a atribuir à tomada de decisão segundo o método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e Avaliação Ergonómica


As tarefas que são executadas pela funcionária no posto de trabalho são simples.
Embora dependa de instruções específicas para serem realizadas, elas são claramente
discriminadas e identificáveis no ato do pedido da encomenda. Assim, quando chega até
a área de produção e design, a funcionária tem o devido conhecimento sobre o que deverá
fazer. Porém, são muitos os casos em que a funcionária precisa de ser criativa, a fim de
satisfazer o pedido do cliente.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
9 Tomada de Decisão 2 - Bom/Mau

2.11. REPETITIVIDADE DO TRABALHO


A repetitividade do trabalho é determinada pela duração média do ciclo de trabalho. A
avaliação e classificação deste parâmetro, só é justificável em postos de trabalho onde a
execução de tarefas é feita de uma forma repetida. Esta repetitividade acontece
particularmente, em linhas produção em grande série, e, por exemplo em linhas de
embalamento de produtos.

34
Quadro 10: Classificação da repetitividade no trabalho segundo o método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e avaliação Ergonómica


Depois de feita avaliação do posto de trabalho em estudo, verificou que não estamos
diante de uma atividade repetitiva, pois o ciclo de trabalho é superior a 30 minutos.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
10 Repetitividade do Trabalho 2 + Bom/Razoável

2.12. ATENÇÃO
"Atenção compreende todo o cuidado e observação que um trabalhador deve dar para
o seu trabalho, instrumentos, máquinas, visores, processos, etc. O nível de atenção é
avaliado pela relação entre a duração da observação e o grau de atenção necessário”
(Ergonomic Workplace Analysis, 2012).

35
Quadro 11: Critérios de avaliação do nível de atenção segundo o método EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e Avaliação Ergonómica


De acordo com o quadro…, podemos concluir que o período de observação associado
ao ciclo de trabalho situa-se entre 30%, que corresponde a uma classificação de valor 1,
quanto à atenção requerida para a execução das tarefas esta pode-se classificar de nível
2, pois durante o seu ciclo de trabalho além de manipular materiais, em algum momento
ela precisa de outras ferramentas específicas para fazer o design dos bolos, em precisa de
prestar atenção redobrada para evitar-se erros.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
11 Atenção 3 - Razoável/Mau

2.13. ILUMINAÇÃO
Nos locais de trabalho deve existir iluminação em quantidade suficiente, distribuída
uniformemente, sem reflexos incómodos, sombras ou contrastes excessivos, assegurando
uma boa restituição de cores, promovendo a segurança (minimizando acidentes), a saúde
(fadiga e problemas visuais) e o conforto dos trabalhadores (Manual de Módulo de
Ergonomia, ISLA, 2022).

36
Quadro 12: Níveis de Iluminância Média Segundo Tipos de Atividades e Locais de Trabalho.

Fonte: Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022.

• Análise e Avaliação Ergonómica


Ao analisar a iluminação do posto de trabalho observamos que o espaço conta com
duas janelas de castelaria que permitem a entrada da luz solar, o que facilita em grande a
capacidade de observação da funcionária. Para além disso, o espaço dispõe de luz
artificial cumprindo os requisitos mínimos de 500 lux para tarefas com exigências visuais
moderadas.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
12 Iluminação 2 ++ Bom/Bom

2.14. AMBIENTE TÉRMICO


O ambiente térmico, conjunto das variáveis térmicas que influenciam o organismo, é
um fator importante na saúde e bem-estar, influenciando o desempenho humano. Estar
exposto a temperaturas demasiado elevadas ou baixas provoca uma complexa interação
entre mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos (Manual do Módulo de Ergonomia,
ISLA, 2022).

Um ambiente térmico confortável (neutro), permite que a produção de calor


metabólico e as trocas de calor com o meio (perdas / ganhos) se encontrem em equilíbrio

37
(homeotermia), satisfazendo 80% dos indivíduos e prevenindo situações de hipotermia
ou de hipertermia (Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022).

Quadro 13: Velocidade do ar e humidade relativa para condições térmicas semelhantes –


EWA.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e Avaliação Ergonómica


Depois de feita uma análise visual ao posto de trabalho, constatou-se que existe um ar
condicionado capaz de refrescar o ambiente. Dado que o trabalho é moderado com pouca
movimentação, segundo a escala do método EWA a faixa recomendável de temperatura
é de 17 a 21 graus, logo, o posto de trabalho cumpre com esses requisitos.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador

13 Ambiente Térmico 2 + Bom/Razoável

2.15. RUÍDO
O ruído pode ser definido como um som que, pelas suas características, se torna
desagradável, irritante, e quando atinge determinados níveis (pressão, frequência e
duração) se transforma num risco para a saúde. A perceção de ruído é condicionada por
fatores como a idade, o estado emocional, os gostos, as crenças ou o modo de vida, fatores
que determinam o grau de incomodidade do ruído (Manual do Módulo de Ergonomia,
ISLA, 2022).

38
A avaliação e classificação do ruído é obtida em função do tipo de trabalho executado.
Sempre que o seu valor for superior a 80dB(A), existe o risco do individuo ter perda
irreversível de audição. Este é o valor máximo de exposição contemplado no âmbito da
legislação vigente (Dec. Lei nº182/2006 de 6 setembro).

Deste modo é recomendável, sempre que este valor é ultrapassado o uso de protetores
auriculares.

Quadro 14: Níveis de classificação do ruído atribuídos pela especificação do trabalho a


realizar.

Fonte: Ramos, 2013 (Baseado em Manual de Análise Ergonómica de Postos de Trabalho - Tradução de
L. Gomes Costa - Unv. Minho).

• Análise e Avaliação Ergonómica


Embora não fosse possível medir o ruído no posto de trabalho, ficou claro que não
estamos de uma exposição a níveis de ruído elevados, visto que as máquinas usadas não
produzem sons ruidosos acima do recomendado.

Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador
14 Ruído 1 ++ Ótimo/Bom

39
CONCLUSÃO

Após análise e avaliação de cada um dos parâmetros, podemos finalmente fazer a


respetiva compilação de dados, através da qual obtemos o quadro, que nos dá uma
perspetiva global do posto de trabalho no âmbito da análise estabelecida pelo método
EWA.

Quadro 15: Apreciação do Posto de Trabalho em Análise


Avaliação Avaliação
N. Descrição média do média do Índice Qualitativo
observador trabalhador

1 Área do Posto de Trabalho 3 ++ Razoável/Bom


2 Atividade Física em Geral 2 + Bom/Razoável
3 Levantamento de cargas 2 ++ Bom/Bom
4 Posturas de Trabalho e Movimentos 4 + Insuficiente/Razoável
5 Risco de Acidente 3 ++ Razoável/Bom
6 Conteúdo do Trabalho 4 - Insuficiente/Mau
7 Autonomia no Trabalho 3 ++ Razoável/Bom
8 Comunicação entre Trabalhadores 1 ++ Ótimo/Bom
9 Tomada de Decisão 2 - Bom/Mau
10 Repetitividade do Trabalho 2 + Bom/Razoável
11 Atenção 3 - Razoável/Mau
12 Iluminação 2 ++ Bom/Bom
13 Ambiente Térmico 2 + Bom/Razoável
14 Ruído 1 ++ Ótimo/Bom
Fonte: Adaptação do Próprio Autor, 2022.

Perante a pontuação obtida em cada um dos parâmetros, podemos concluir que o posto
de trabalho, onde são realizadas as tarefas de pastelaria, tem algumas características que
estão ergonómicamente ajustáveis à boa prática da segurança e saúde no trabalho, mas
apresenta alguns aspetos ligados em particular às Posturas e Conteúdo do Trabalho que

40
precisam de ser melhorados. As implementações de melhorias já foram referidas na sua
totalidade na avaliação de cada um dos parâmetros.

Quanto à aplicação do método "Ergonomic Workplace Analysis - EWA", por ser de


análise mista regulado por critérios de avaliação objetivos e subjetivos, adequa-se deste
modo ao estudo do tipo de atividade considerada. No entanto há que ter presente, que as
avaliações obtidas e as melhorias implementadas não se fecham sobre si mesmas, com
validade indefinida, pelo contrário, aquilo que hoje se identifica como correto ou
incorreto em termos ergonómicos, deve ser sempre questionado e reavaliado de forma
permanente, tendo sempre presente a melhoria continua dos processos de produção e
satisfação das pessoas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Decreto Lei nº182/2006 de 6 Setembro. Prescrições Mínimas de Segurança e Saúde


Respeitantes à Exposição dos Trabalhadores aos Riscos devidos ao Ruído.

Ergonomic Workplace Analysis, 2012. Editors: Mauno Ahonem, Martti and Tuulikki
Kuorinka ISBN 951-801-674-7 - Ergonomics Section FINNISH ISNTITUTE OF
OCCUPATIONAL HEALTH Topeliuksenkatu 41 a A - SF-00250 Helsinki - Finland.

Manual de Avaliação e Controlo de Riscos, ISLA, 2022.

Manual do Módulo de Ergonomia, ISLA, 2022.

Organização Mundial da Saúde. Acesso em bvsms.saude.gov.br.

Organização Internacional do Trabalho.

Ramos, João. Ergonomia (Método de Análise – EWA), 2013.

Ribeiro, António. Manual de Introdução a Segurança e Saúde do Trabalho, 2021.

Serviço Social da Indústria – SESI. Ambientes de trabalho saudáveis: Um modelo para


ação. Para empregadores, trabalhadores, formuladores de políticas e profissionais.
Publicado em 2010.

www.casavogue.globo.com

www.manufakt.br

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