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CRATO – CE
2023
LINDEUVÂNIA GOMES DE SOUSA
CRATO-CE
2023
Tabela 1: Participação de pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais por
cor ou raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Brasil ................... 25
Tabela 2: Participação de pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais por
cor ou raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo a região Nordeste 29
Tabela 3: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, com indicação do
coeficiente de variação, segundo o sexo ........................................................................... 34
Tabela 4: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
com indicação do coeficiente de variação, segundo o sexo........................................... 36
Gráfico 1: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o Brasil...... 26
Gráfico 2: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo o Brasil .................................................................................................................... 26
Gráfico 3: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o
Brasil ........................................................................................................................................ 27
Gráfico 4: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou
raça, segundo o Brasil .......................................................................................................... 27
Gráfico 5: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo a região
Nordeste .................................................................................................................................. 30
Gráfico 6: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo a região Nordeste .................................................................................................. 31
Gráfico 7: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o
Nordeste .................................................................................................................................. 32
Gráfico 8: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou
raça, segundo o Nordeste .................................................................................................... 32
Gráfico 9: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o sexo ....... 35
Gráfico 10: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo o sexo ...................................................................................................................... 37
Gráfico 11: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o
sexo .......................................................................................................................................... 38
Gráfico 12: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor
ou raça, segundo o sexo ...................................................................................................... 38
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
METODOLOGIA ......................................................................................................... 8
1. CONCEITO DE “RAÇA” HUMANA ..................................................................... 11
2. CICATRIZES DO REGIME DE PRODUÇÃO ESCRAVOCRATA BRASILEIRO . 14
3. RACISMO ESTRUTURAL .................................................................................... 20
4. A INTERSECCIONALIDADE DE RAÇA E GÊNERO COMO FATOR
CONDICIONANTE DA PRETERIÇÃO DA MULHER NEGRA AOS POSTOS DE
LIDERANÇA NO MERCADO DE TRABALHO NORDESTINO................................ 23
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 40
INTRODUÇÃO
Esse estudo analisa a ocupação de cargos de liderança por mulheres negras na
contemporaneidade, abrangendo o período de 2011 a 2021, no qual houvera
significativas mudanças no quadro econômico e social, decorrentes, em grande medida,
do fim do período de bonança propiciado pelo “boom das commodities" e dos tardios
impactos da crise mundial de 2008.
Ademais, tem-se a gradativa deterioração das relações de trabalho, que se
intensifica a partir de 2016, após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), e a
subsequente nomeação de Michel Temer (PMDB) como Presidente da República.
Seguidamente, com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a precarização das
relações de trabalho seguiu avançando aceleradamente, tendo impactos mais
acentuados na população negra, sobretudo, na mulher negra.
Vale lembrar que vivemos em um país majoritariamente constituído por uma
população não branca, entretanto, a conjectura na qual foi alicerçada as bases
trabalhistas brasileiras não propicia a ascensão profissional da pessoa negra de forma
igualitária se equiparado à pessoa branca. A população negra se defronta com
obstáculos inerentes a uma estrutura social construída sobre os escombros do regime
escravocrata que outrora vigoroso, mas que continua sinuoso e presente, à revelia do
mito da democracia racial.
Para mais, uma pessoa negra sendo ela do sexo feminino enfrenta barreiras
adicionais, que vão além de sua cor, as barreiras de uma sociedade ditada por regras
de domínio social patriarcal, centralizada no interesse do homem branco. Não
exclusivamente, essas adversidades supracitadas contribuem progressivamente com o
afastamento das mulheres, sobretudo negras, de ocuparem postos de maior prestígio
nas organizações, ditas meritocráticas.
Este trabalho tem por finalidade realizar um percurso cronológico temporal, no
escopo nacional e regional nordestino, com intuito de identificar, caracterizar, examinar
e evidenciar a responsabilidade do fator histórico socioeconômico que alicerçou as bases
trabalhistas em nosso país, e como estas seguem vivas na sociedade contemporânea,
observando a interseccionalidade existente entre raça e gênero, assim como os distintos
indicadores sociais, no processo diferenciado e pesaroso de ascensão profissional da
mulher negra no Nordeste.
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Assim, essa temática escolhida, carrega o anseio pessoal pela conscientização
do corpo acadêmico da Universidade Regional do Cariri (URCA) quanto a importância
da luta pela equidade racial, social e de gênero no mercado de trabalho e na sociedade,
que está conscientização e o desejo de igualdade possa causar um efeito
transbordamento para além dos muros de nossos campi, chegando à comunidade de
modo a contribuindo para acender a luta por políticas públicas efetivas, voltadas ao
combate a essa forma terrível de opressão que é a interseccionalidade vivida por tantas
mulheres negras, por tantas brasileiras e por tantas nordestinas, como eu.
Em vista disso, é mediante as questões que norteiam este trabalho que os
objetivos almejados são apresentados. Adiante, seguem descritos o objetivo geral e os
objetivos específicos:
Objetivo geral: Identificar os impactos do racismo e do sexismo na vida profissional
da mulher negra no mercado de trabalho Nordestino no intervalo de 2011 a 2021.
Objetivos específicos: a) Conceituar o termo “raça” na sociedade como fonte
primaria de segregação racial e forma de opressão de um povo; b) Caracterizar o
processo histórico da produção escravocrata e como este, ainda hoje, reverbera no
mercado de trabalho brasileiro, consequentemente, na empregabilidade da população
negra; c) Examinar os fatores socioeconômicos que obstaculizam a ascensão
profissional da mulher negra no mercado de trabalho do Nordeste; d) Evidenciar as
barreiras institucionais presentes no mercado de trabalho Nordestino, que corroboram
com a preterição da mulher negra a postos de liderança no século XXI, em decorrência
do racismo e do sexismo numa chave interseccional.
O trabalho em questão estrutura-se com a sequência de capítulos desenvolvidos
ordenadamente para a compreensão das ideias propostas. Além dessa introdução sobre
a temática desse trabalho, apresentamos a metodologia utilizada que nos auxiliou na
coleta de informações e dados. Na sequência são apresentados aspectos de
conceitualização da “raça” humana. Em seguida buscou-se caracterizar as cicatrizes
deixadas pela produção escravocrata brasileira. Por fim, exploramos a questão do
racismo estrutural no século XXI, e no último capítulo tratamos da interseccionalidade
vivida por mulheres negras no âmbito laboral do Nordeste brasileiro.
Isto posto, no primeiro capítulo, intitulado O Conceito de “raça” humana, indaga-
se sobre o conceito de raça na sociedade; em seguida, no segundo capítulo, Cicatrizes
do Regime Escravocrata Brasileiro, o intuito é resgatar e caracterizar o processo histórico
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da produção escravocrata no Brasil e como este formato de produção deixou vestígios
tão vívidos no mercado de trabalho nacional, refletindo, negativamente, na
empregabilidade da pessoa negra em todo o país; no terceiro capitulo, busca-se
aprofundar a compreensão sobre o racismo estrutural no século XXI, abarcando,
principalmente, o Nordeste brasileiro mediante seus fatores socioeconômicos e culturais,
que regem o mercado de trabalho de modo a obstaculizar ascensão profissional da
pessoa negra, sobretudo, da mulher negra; por fim, no quarto capítulo, aborda-se a
interseccionalidade de raça e gênero como fator condicionante da preterição da mulher
negra aos postos de liderança no mercado de trabalho Nordestino, tendo como período
temporal de análise o período de 2011 a 2021.
METODOLOGIA
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conhecimento, ou um conjunto de conhecimentos, que nos auxilie na
compreensão desta realidade e nos oriente em nossas ações (PÁDUA, 2004,
p. 31).
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1. CONCEITO DE “RAÇA” HUMANA
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Esse processo histórico de classificação de pessoas buscou justificar as
injustificáveis atrocidades que se seguiam nos tortuosos séculos de escravidão do negro,
advindas da separabilidade racial/étnica e social da população e do desejo de poder e
de riqueza encabeçado pela Europa. Depois de mais de cem anos da abolição da
escravidão em nosso país, é nítido que as identidades eurocentristas pintadas, assim
como as vantagens e desvantagens dessa modulação social, continuam sendo
perpetuadas, geração após geração.
A conceituação esdrúxula de raça humana associada às novas identidades e
classificações sociais perpassou séculos e prevaleceu na atualidade como uma espécie
de herança social, que diz onde cada indivíduo se encaixa na sociedade e qual sua
posição na hierarquia produtiva do mundo capitalista, de forma que cada um deve agir
de acordo com a condição de classe que lhe foi determinada, perenizando, assim, um
ciclo que parece inquebrantável.
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2. CICATRIZES DO REGIME DE PRODUÇÃO ESCRAVOCRATA BRASILEIRO
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recorreram ao “trabalho” africano porque não dispunham de contingente populacional
europeu suficiente para povoar as colônias do novo mundo, pontua Novais (1986).
O embargo quanto ao povoamento e a força de trabalho nas colônias do novo
mundo, segundo os colonos, precisou ser sanada com o trabalho africano. Argumento
que em nada valida a escravidão do negro. Logo, a história expõe que o real sentido do
escravismo colonial foi a expansão do capitalismo mercantil europeu para promoção da
acumulação primitiva do capital, tendo sido o trabalho compulsório, majoritariamente
exercido pelos negros e negras escravizados, a condição precípua da rentabilidade
econômica provenientes das colônias. (NOVAIS, 1985)
Em síntese, as colônias existentes na América foram constituídas,
essencialmente, com um viés extrativista, cuja produção, impreterivelmente, deveria ser
destinada à exportação. Sendo assim, no Brasil, enquanto colônia, seguia esta mesma
premissa, desde o início da colonização até a implantação da agroindústria. A princípio,
o trabalho compulsório nos plantios e moendas de cana-de-açúcar foram exercidos
pelos nativos, todavia, o crescimento das atividades produtivas no interior das colônias
e, por consequência, o consumo exponencial de força de trabalho, abre lugar à
incorporação da mão-de-obra escrava africana. (NOVAIS, 1985)
No Brasil, a região Nordeste foi a primeira a ter implementada a forma
mercantilista de colonização para essas terras, entre o século XVI e XIX, milhares de
negros africanos foram trazidos para serem usados como ferramentas de trabalho. O
negro foi transmutado em commodities de um sistema produtivo alicerçado na
segregação da espécie humana, através de sua racialização para atender aos anseios
capitalistas de acumulação do mundo europeu.
Logo que desembarcavam, eram vendidos aos senhores de engenhos e
lavradores, sendo aplicadas altas taxas de juros, de modo que, individualmente, a
comercialização de seres humanos propiciava altos lucros aos envolvidos. Desprovidos
de sua liberdade, assim como de qualquer outro direito como pessoa, a vida do negro
escravo em qualquer parte do mundo colonial, não sendo diferente no Brasil, nos
séculos de escravidão, consistia em trabalhar initerruptamente, sob condições
desumanas, de sol a sol. Diz Manuel Correia de Andrade:
Os escravos eram frequentemente submetidos a maus-tratos, à corporais,
podendo ser batidos com chicote, varas ou correias de couro, ser postos a ferro
ou no tronco ou até ser acorrentado pelos pés ou pelo pescoço; não convinha,
entretanto, aos senhores matar ou mutilar aos cativos que lhes haviam custado
muito dinheiro (ANDRADE, 2003, p.80).
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Quanto a relação entre escravidão e acumulação primitiva do capital, pode ser
afirmado que existe uma relação direta. A acumulação primitiva teve, em grande medida,
a escravidão como a principal fonte geradora de riqueza. Não é sem razão que Marx
escreve: “se o dinheiro vem ao mundo como uma mancha congênita de sangue numa
das fases, o capital vem pingando da cabeça aos pés, de todos os poros, sangue e lama”
(MARX,1867, apud. HUBERMAN, 2018, p.146).
Não obstante, ao se desenvolver, o sistema colonial mercantilista promove,
simultaneamente, os fatores de sua superação, pois, enquanto condição necessária à
exploração colonial está o engendramento da sociedade senhorial-escravista, cujas
interrelações e valores cada vez mais colidiam com os da sociedade burguesa que
ascendia na Europa. (NOVAIS, 2007)
De todo modo, no plano da produção, a dinâmica do conjunto da economia
colonial cumprira seu propósito, promovendo a acumulação primitiva dos centros
econômicos europeus, o que acontecia por meio do setor exportador colonial, que era
definido pela demanda europeia, uma vez que, predominantemente, dependia do influxo
externo advindo do capitalismo europeu.
Além do setor exportador, também se desenvolvera um setor de subsistência,
que, em certas circunstâncias e em áreas específicas, vinham a adquirir considerável
desenvolvimento, organizando-se em grandes propriedades, como no caso da pecuária,
ou, noutros casos, incorporando o regime escravagista. Assim sendo, tanto o setor
exportador, principal motor da economia colonial, quanto o setor de subsistência, eram
dependentes do centro dinâmico europeu, o primeiro, dependendo diretamente, o
segundo, indiretamente (NOVAIS, 2007).
Complementarmente, no nível das relações socioeconômicas, a estrutura de
produção colonial favorecia uma altíssima concentração da renda, que, inevitavelmente,
destinava-se aos senhores de escravos, uma vez que, não por acaso, também eram os
proprietários das empresas produtoras de mercadorias para o comércio colonial
(NOVAIS, 2007).
De acordo com Novais (2007),
(…) a renda global gerada nas economias periféricas só se realiza em
última instância nos mercados da economia central, europeia; assim, a sua maior
parte se transfere, através dos mecanismos do comércio colonial já analisados
antes, para as metrópoles, ou antes, para os grupos burgueses ligados as
transações ultramarinas; mas é o fato de a parcela (menor) que permanece na
16
colônia se concentrar na pequena camada senhorial que permite o contínuo
funcionamento da exploração colonial (NOVAIS, 2007, p. 83).
17
Então, para responder as pressões inglesas, no Brasil, foi iniciado um plano para
abolição da escravidão, lento e gradual, diga-se de passagem.
A primeira lei sancionada, neste sentido, foi a lei Eusébio de Queirós, em 1850,
que determinou a proibição definitiva do tráfico negreiro no Brasil, sendo um importante
marco para o início da emancipação dos escravos no país, embora ainda insuficiente.
No Brasil, a emancipação dos escravos demorou para acontecer, de modo que,
com a proibição do tráfico negreiro, as escravas passaram a atender ao propósito de
reprodutoras de mão-de-obra, mais um fardo pesado a se carregar. Somente vinte e
um anos depois, em 1871, foi promulgada a lei do Ventre Livre, que decretou que a
partir daquela data os filhos de escravas nasceriam livres. Infelizmente, essa lei pouco
contribuiu para o fim da escravidão, haja visto que nada dizia sobre o tratamento e a
criação das crianças nascidas “livres”, que, por sua vez, ficavam sob o domínio dos
proprietários de suas mães, pois não abarcava os escravos nascidos anteriormente a
está data.
Em 1885, mais uma lei abolicionista é aprovada, a lei dos sexagenários, que, na
prática, agradou muito aos senhores de escravos, uma vez que determinava que
escravos com idade a partir de 65 anos tivessem sua liberdade reconhecida. Ora,
considerando as condições precárias de vida de um escravo, sua média de vida era de,
aproximadamente, 40 anos, enquanto que aqueles que alcançavam os 65 anos de
idade já não tinham vigor para o trabalho, sendo vistos como inúteis pelos senhores de
engenho. Logo, esta lei terminou por favorecer os proprietários de escravos por eximi-
los da responsabilidade de manter os escravos quando idosos, podendo escorraça-los
sem prestar qualquer reparação ao escravo recém libertado.
Por fim, em 13 de maio de 1888, com a proclamação da lei n° 3.353, intitulada
Leia Áurea, foi determinada a libertação de todos os escravos que ainda viviam no
Brasil, que, apesar disso, foi o último país da América Latina a abolir a escravidão.
Contudo, embora tenha sido concedida liberdade as pessoas negras, o Estado
brasileiro não promoveu qualquer política pública de integração social.
[...] O escravo que se viu liberto de uma hora para outra, sem nem uma ajuda,
sem terras para cultivar, sem assistência dos governos, sentiu que a liberdade
adquirida se constituía apenas no direito de trocar de senhor na hora que lhe
aprouvesse. Transformou-se em assalariado em “morador de condição”,
continuando a habitar choupanas de palha ou senzalas, a comer carne seca com
farinha de mandioca e a trabalhar no eito de sol a sol (ANDRADE, 2003, p. 108).
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No Brasil, a abolição da escravidão, seguida da implantação da república, foi
apenas uma fratura na forma de auto consagração e soberania do homem branco, o
isentando da responsabilidade quanto a qualquer reparação histórica das pessoas
negras, que, agora libertas, continuavam oprimidos, tendo de decidir entre serem
recolocados no sistema de produção, em condições análogas a escravidão, ou se
integrarem a massa de desocupados da economia de subsistência, em decorrência de
sua situação socioeconômica.
Fecharam-se todas as portas que poderiam colocar o negro e o mulato na área
dos benéficos direitos do processo de democratização dos direitos e garantias
sociais. Pois é patente a lógica desse padrão histórico de justiça social. Em nome
de uma igualdade perfeita no futuro, acorrenta-se o “homem de cor” aos grilhões
invisíveis de seu passado, a uma condição sub-humana de existência e a uma
disfarçada servidão eterna. (FERNANDES, 2008, p. 309).
19
3. RACISMO ESTRUTURAL
20
Conquanto, transcender essa condição inercial, requer uma análise crítica sobre
sua condição na sociedade, portanto, para quebrar esse paradigma social, que nos
direciona, tanto negros, quanto brancos, inconscientemente, a naturalizar fatos
absurdos, como, por exemplo, que existam tantas pessoas em situação de pobreza, que
haja um massivo encarceramento de pessoas, que a maioria das pessoas tenham de se
submeter a condições de trabalho precárias, por vezes, análogas à escravidão, e que,
invariavelmente, sejam as pessoas negras que compunham a imensa parcela da
população sujeita aos supramencionados absurdos.
Almeida (2021), afirma que o racismo nasce no ventre da ideologia e é alimentado
pelos meios de comunicação, pelo sistema educacional e pelo sistema de justiça em
consonância com a realidade, o que fortalece a reprodução do racismo estrutural na
sociedade como um todo, desde antes de nosso nascimento, capturando, inclusive, o
próprio indivíduo negro, sem que se perceba.
Conforme ensina Almeida,
[...] uma pessoa não nasce branca ou negra, mas torna-se a partir do momento
em que seu corpo e sua mente são conectados a toda uma rede de sentimentos
compartilhados coletivamente de sua consciência e de seus afetos. Pessoas
negras, portanto, podem reproduzir comportamentos individuais o racismo de
que são as maiores vítimas (ALMEIDA, 2021, p. 67).
Logo, “tanto o ser branco quanto o ser negro são construções sociais” (ALMEIDA,
2021, p.77), ao passo que, o primeiro, é “naturalmente” destinado a posições centrais,
constituídas de poder, enquanto que o segundo é destinado a posições periféricas,
desprovidas de qualquer poder.
Posto isso, a partir da década de 1970, no Brasil, em decorrência da ausência de
representatividade da mulher negra nos movimentos antirracistas, assim como nos
tradicionais movimentos feministas, hegemonicamente compostos por mulheres
brancas, cujas pautas refletem os anseios da mulher branca, surgem, então, movimentos
feministas negros, permeados pela pauta da interseccionalidade de gênero e raça.
Atualmente, dentre suas pautas, os movimentos feministas negros questionam
sobre o lugar social ocupado por certos grupos, os lugares de “fala”, os lugares de “voz”,
e os lugares de poder de decisão político-econômico e corporativo na sociedade, que
subjugam, diretamente, a parcela da população não ocupante desses espaços sociais,
restringindo-as das mesmas oportunidades (RIBEIRO, 2021).
21
Como afirma Ribeiro (2021), mesmo que, eventualmente, o indivíduo negro
consiga certo poder aquisitivo, condição propiciada por uma quebra de ciclo de pobreza
em seu núcleo familiar, por exemplo, mesmo estando em uma localização social e
econômica mais favorável, ainda assim, o mesmo não estará resguardado do racismo,
pois, continuará tendo menos oportunidades e direitos do que uma pessoa branca
ocupante de posição social equivalente, em consequência da causalidade da opressão
estrutural sobre o negro.
Subjacente na estrutura social, o racismo está impregnado na configuração cívica
brasileira, respondendo pela inferiorização e apagamento da negra, distanciando-as dos
espaços de decisão, tanto nos segmentos institucionais públicos quanto nas empresas
e instituições privadas, o que perpetua o racismo historicamente arraigado no país, uma
vez que a negra continua a ser oprimida, não obstante a sofisticação dos instrumentos
de opressão.
Sendo assim, no século XXI, metamorfoseado, o racismo embrenha-se na
estrutura social “democrática”, buscando não ser percebido, senão como característica
intrínseca e incontestável da própria sociedade. Portanto, é notável que o racismo é
essencialmente estrutural, tendo sido naturalizado pela sociedade, à revelia de
indicadores socioeconômicos que demonstram os impactos incidentes direto e
exclusivamente no povo negro, de maneira que, embriagados por seus privilégios,
significativa parcela da população não negra negligência, quando não repudia, pautas
antirracistas, reforçando os pilares do racismo estrutural.
22
4. A INTERSECCIONALIDADE DE RAÇA E GÊNERO COMO FATOR
CONDICIONANTE DA PRETERIÇÃO DA MULHER NEGRA AOS POSTOS DE
LIDERANÇA NO MERCADO DE TRABALHO NORDESTINO.
23
Desse modo, sob o prisma da interseccionalidade, tem-se os instrumentos teórico
metodológicos necessários ao delineamento dos encargos singulares incidentes sobre
mulheres negras em decorrência dessa matriz colonial moderna, possibilitando, assim,
o enfrentamento dessa estrutura de opressão mediante a proposição de políticas
públicas e de letramentos jurídicos, e reparo histórico (AKOTIRENE, 2019).
Logo, o entroncamento das estruturas de desfavorecimento da mulher negra não
apenas tangencia o mercado de trabalho, estando radicado nas delimitações do seu
escopo, reproduzindo o privilégio branco que fundamenta a matriz colonial moderna, o
que é evidenciado por indicadores que traduzem o universo do mercado de trabalho.
No Brasil, embora mais de 55% da população seja negra, a maioria dos cargos
de direção são ocupados por não negros (11,4%), majoritariamente, por homens não
negros (6,4%), enquanto o menor percentual de ocupação de cargos de liderança é da
mulher negra (1,9%). Outrossim, o menor rendimento médio é o da mulher negra, R$
1.617,00, ao passo que o homem não negro, em média, aufere mais que o dobro do seu
rendimento médio, R$ 3.471,00. (DIEESE, 2021, apud IBGE, 2021).
Em 2020, com a pandemia do COVID–19, a situação das mulheres negras e
periféricas, de forma particular as que chefiam seu lar, ficou mais delicada, foram elas a
parcela da população mais afetadas com o desemprego e por consequência, com a
insegurança alimentar grave, onde todo o seu núcleo familiar sofreu com redução e
privação de alimentação básica (SCHALL, et al.).
Nos anos de 2020 a 2021, o país passou por um grande retrocesso quanto ao
combate à fome no Brasil, onde a fome, tem lugar, gênero e cor. Regiões Norte e
Nordeste, são mais afetadas, as mulheres são mais impactadas, por fim as mulheres
pretas são mais atingidas, são elas que em grande medida compõe a massa de
desassalariados, ou se encontram trabalhando auferindo baixos rendimentos. (SCHALL,
et al.)
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua,
realizada pelo IBGE, confirma o que já mencionamos anteriormente, que o Brasil é um
país predominantemente não branco, sendo constituído, majoritariamente, de pessoas
negras, mais especificamente, de pretas e pardas, de modo que a população negra, em
2018, representava 55,8% da população brasileira, sendo as pretas, 9,3%; e as pardas,
46,5%, a população indígena e amarela correspondia a cerca de 1%, enquanto a
população branca correspondia a 43,1%. Em vista disso, tratou-se de revelar a
disparidade existente entre a população negra e a branca.
24
A partir de dados coletados pelo IBGE na PNAD Contínua, no intervalo ininterrupto
de 2012 à 2021, pode-se constatar que as pessoas negras, em todo o período analisado,
compunham a maior parte da população ocupada, representando, em média, cerca de
52,8% da população brasileira ocupada, enquanto que as pessoas brancas representam,
em média, cerca de 46,3%. Não obstante, em média, apenas cerca de 29,0% das
pessoas ocupadas em cargos gerenciais são negras, de modo que, se a distribuição das
pessoas ocupadas reflete com certa fidedignidade a distribuição étnica populacional
brasileira, o mesmo não ocorre na distribuição dos cargos gerenciais, haja visto que
cerca de 69,2% dessas ocupações são ocupadas por pessoas brancas, o que implica
que as pessoas negras ocupam, apenas, 29,0% dos cargos gerenciais.
Adiante, tem-se a tabela 1 com dados da participação de trabalhadores em cargos
gerenciais por cor e raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Brasil:
Absoluto CV % CV % CV Absoluto CV % CV % CV
2012 89695 0,2 48,5 0,6 50,8 0,5 3268 2,1 69,6 1,3 29,0 3,2
2013 91359 0,2 47,9 0,5 51,4 0,5 3437 2,2 69,8 1,1 28,6 2,7
2014 92248 0,2 47,6 0,6 51,6 0,5 3558 2,2 69,1 1,2 29,0 3,0
2015 92400 0,2 47,0 0,5 52,3 0,5 3629 2,4 70,1 1,4 28,4 3,4
2016 90750 0,2 46,3 0,5 52,8 0,5 3467 2,8 71,1 1,5 27,4 3,8
2017 91205 0,2 45,6 0,5 53,4 0,5 3278 2,6 67,7 1,4 30,0 3,1
2018 92771 0,2 44,9 0,6 54,0 0,5 3022 3,1 68,2 1,5 30,2 3,1
2019 94956 0,2 44,3 0,6 54,6 0,5 3135 3,2 68,1 1,5 29,9 3,7
2020 86673 0,3 45,6 0,6 53,5 0,6 2751 3,5 69,7 1,7 27,6 4,8
2021 89495 0,3 45,2 0,7 53,8 0,6 2387 3,6 69,0 2,0 29,5 4,6
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
25
A seguir, no Gráfico 1, é ilustrada a participação das pessoas ocupadas por cor
ou raça, segundo o Brasil, podendo-se verificar, no intervalo estudado, um aumento da
participação da população negra dentre as pessoas ocupadas perante uma diminuição
da participação das pessoas brancas.
Pessoas ocupadas
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
26
A dominância dessa relação dispare é ainda mais explicitada nos Gráfico 3 e 4,
que consideram os valores médios da participação de trabalhadores por cor ou raça e
da participação de trabalhadores em cargos gerenciais por cor ou raça, segundo o Brasil,
respectivamente. O desvio padrão da participação de trabalhadores brancos e de
trabalhadores pretos e pardos, segundo Brasil, são, respectivamente, 1,42 e 1,26;
enquanto que o desvio padrão da participação de trabalhadores brancos e de
trabalhadores pretos e pardos em cargos gerenciais, segundo o Brasil, são de 1,05 e de
0,99, respectivamente; mostrando haver baixa dispersão dos dados analisados frente a
média.
Gráfico 3: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o Brasil
Pessoas ocupadas
46,3
52,8
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
29,0
69,2
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
27
No transcorrer do período analisado, 2012 a 2021, não houve significativa
mudança de panorama, tendo havido, conforme supracitado, uma modesta elevação da
participação da pessoa negra em cargos gerenciais frente a sua participação no mercado
de trabalho, passando de 29,0%, em 2012, para 29,5%, em 2021, um aumento de 0,5%,
e, de 50,8%, em 2012, para 53,8%, em 2018, um aumento de 2,0%, respectivamente.
Outrossim, a participação da pessoa branca, no transcorrer do período analisado,
2012 a 2021, também não se alterou significativamente, tendo ocorrido ínfima diminuição
de sua participação em cargos gerenciais frente a sua participação no mercado de
trabalho, passando de 69,6%, em 2012, para 69,0%, em 2021, uma diminuição de 0,6%,
e, de 48,5%, em 2012, para 45,2%, em 2018, uma diminuição de 3,3%, respectivamente.
Corroborando com essas constatações, matematicamente, tem-se que o
Coeficiente de Correlação (𝜌) dos dados analisados de Pessoas Pretas ou Pardas
Ocupadas com os de Pessoas Pretas ou Pardas Ocupadas em Cargos Gerenciais,
segundo Brasil, é de, aproximadamente, 0,36, indicando que há uma associação direta
entre essas variáveis, embora imperfeita. Do mesmo modo, o Coeficiente de Correlação
(𝜌) dos dados analisados de Pessoas Brancas Ocupadas com os de Pessoas Brancas
Ocupadas em Cargos Gerenciais, segundo Brasil, que é de, aproximadamente, 0,52,
indica haver uma associação direta entre essas variáveis, que se movimentam na
mesma direção, porém em descompasso de intensidade.
Adiante, segue a fórmula utilizada para calcular o Coeficiente de Correlação (𝜌):
Cov (Ocupadas, Ocupadas em Cargos Gerenciais)
ρ=
S .S
Sendo:
𝜌 = Coeficiente de Correlação
Cov = Covariância
S = Desvio Padrão
Dessarte, é nítido que, em grande medida, o aumento da participação da pessoa
negra em cargos gerenciais advém do aumento da sua participação dentre as pessoas
ocupadas, não advindo de uma mudança qualitativa na distribuição dos cargos
gerenciais, ao passo que houve, também, uma diminuição da participação de pessoas
brancas dentre as pessoas ocupadas, provocando uma redução da participação de
pessoas brancas em cargos gerenciais.
28
Regionalmente, no Nordeste, a participação da população negra dentre as
pessoas ocupadas é imensamente maior do que a participação da população branca, o
que, em certa medida, traduz-se, também, numa maior participação da população negra
em cargos gerenciais frente a população branca, destoando da participação em cargos
gerenciais por cor ou raça em âmbito nacional.
Contudo, é necessário ressaltar que, diferentemente do que ocorre a nível
nacional, no Nordeste, cerca de 74,1% das pessoas ocupadas são negras, enquanto que
apenas 25,3% das pessoas ocupadas são brancas, ao passo que apenas cerca de
57,4% dos cargos gerenciais são ocupados por pessoas negras, indicando que, embora
a população branca represente um contingente bem menor das pessoas ocupadas,
relativamente, ocupam mais cargos gerenciais, uma vez que constituem,
aproximadamente, 41,9% das pessoas ocupadas em cargos gerenciais.
Ademais, no intervalo analisado, de 2012 a 2021, ocorrera pequena redução na
participação percentual de pessoas brancas ocupadas por cor ou raça, e, quase que
proporcionalmente, houve significativa redução da participação da população branca em
cargos gerenciais, tendo havido, concomitantemente, crescimento da participação da
população negra dentre as pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais.
A seguir, tem-se a tabela 2 com dados da participação de trabalhadores em cargos
gerenciais por cor e raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Nordeste:
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE
29
Na Tabela 2, foi estruturada a distribuição percentual de pessoas ocupadas e de
pessoas ocupadas em cargos gerenciais, considerando a cor ou a raça, no intervalo de
2012 a 20121. Cada linha apresenta a distribuição percentual de pessoas negras e de
pessoas brancas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais, considerando o ano
estudado, no qual foi realizada a coleta dos dados pelo IBGE durante a PNAD Contínua,
enquanto que as colunas apresentam informações um tipo de informação, como o ano,
os percentuais de pessoas brancas ou de pessoas negras ocupadas e os percentuais
de pessoas brancas ou de pessoas negras ocupadas em cargos gerenciais.
Desse modo, a preterição da população negra em contraposição a predileção da
população branca na ocupação de cargos gerenciais é constatada no Nordeste por meio
da discrepância entre o diferencial da participação da população negra dentre as
pessoas ocupadas frente a participação da população branca e o diferencial da
participação da população negra dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais
frente a participação da população branca.
Logo, é perceptível que, essencialmente, a predileção da população branca para
a ocupação de cargos gerenciais em detrimento da população negra, que é vista no
Brasil, também é constatada no Nordeste.
O Gráfico 5 exibe claramente a maior participação da população negra dentre as
pessoas ocupadas no Nordeste, assemelhando-se ao Gráfico 1, que exibe a brutal
superioridade da participação da população branca na ocupação de cargos gerenciais
no Brasil.
Pessoas ocupadas
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
30
Enquanto isso, o Gráfico 6 exibe uma participação levemente maior da população
negra dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais no Nordeste,
comparativamente ao percentual da população branca; assemelhando-se ao Gráfico 2,
que exibe uma participação apenas um pouco maior da população branca, dentre as
pessoas ocupadas no Brasil, quando comparada a participação da população negra.
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE
31
de serem brancos ou pretos e pardos, enquanto que a dispersão dos dados da
participação dos trabalhadores em cargos gerenciais é mais acentuada, tanto para
brancos quanto para pretos e pardos.
Pessoas Ocupadas
25,3
74,1
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
41,9
57,4
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
32
61,0%, em 2018, um aumento de 2,0%, enquanto que sua participação no mercado de
trabalho nordestino aumentou de 73,0%, em 2012, para 74,9%, em 2021, um aumento
de 1,9%.
De modo inverso, de 2012 a 2021, ocorrera, também, proporcional diminuição da
participação da pessoa branca dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais diante
da sua participação dentre as pessoas ocupadas no Nordeste, passando de 40,2%, em
2012, para 38,2%, em 20121, uma redução de 2,0%, enquanto que sua participação no
mercado de trabalho nordestino foi reduzida de 26,5%, em 2012, para 24,3%, em 2021,
uma redução de 2,2%.
Isto posto, matematicamente, tem-se que o Coeficiente de Correlação (𝜌) dos
dados analisados de Pessoas Pretas ou Pardas Ocupadas com os de Pessoas Pretas
ou Pardas Ocupadas em Cargos Gerenciais, segundo Nordeste, é de,
aproximadamente, 0,08, indicando que há uma associação direta entre essas variáveis,
embora imperfeita. Do mesmo modo, o Coeficiente de Correlação (𝜌) dos dados
analisados de Pessoas Brancas Ocupadas com os de Pessoas Brancas Ocupadas em
Cargos Gerenciais, segundo Brasil, que é de, aproximadamente, 0,05, indica haver uma
associação direta entre essas variáveis, que se movimentam na mesma direção, porém
em divergentes intensidades.
Adiante, segue a fórmula utilizada para calcular o Coeficiente de Correlação (𝜌):
Cov (Ocupadas, Ocupadas em Cargos Gerenciais)
ρ=
S .S
Sendo:
𝜌 = Coeficiente de Correlação
Cov = Covariância
S = Desvio Padrão
Sendo assim, conforme demonstrado, no Nordeste, embora tenha havido
aumento da participação da pessoa negra em cargos gerenciais, ocorrera aumento
similar da sua participação percentual dentre as pessoas ocupadas, implicando que o
aumento de sua participação percentual em cargos gerenciais se deve, fortemente, ao
equivalente aumento percentual de sua participação dentre as pessoas ocupadas.
Outrossim, a diminuição da participação da pessoa branca em cargos gerenciais decorre,
grandemente, da diminuição de sua participação dentre as pessoas ocupadas no
Nordeste.
33
No Brasil, tem-se que cerca de 57,9% das pessoas ocupadas são homens, por
conseguinte, as mulheres representam 42,1% das pessoas ocupadas. Isto posto,
adicionando-se como fator delimitador a cor ou raça, constata-se que homens negros
compõem a maior parcela das pessoas ocupadas, cerca de 31,5%, em seguida, tem-se
os homens brancos, constituindo cerca de 25,9% das pessoas ocupadas, seguidos das
mulheres negras, que representam cerca de 21,3% das pessoas ocupadas, por fim,
encontra-se a mulher branca, que representa cerca de 20,4% das pessoas ocupadas.
Logo abaixo, tem-se a tabela 3 com dados da participação de homens e mulheres
dentre as pessoas ocupadas, por cor e raça, com indicação do coeficiente de variação:
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
34
Gráfico 9: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o sexo
Pessoas ocupadas
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE
35
Tabela 4: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
com indicação do coeficiente de variação, segundo o sexo
Pessoas ocupadas em cargos gerenciais
Total
Homem Mulher Homem Mulher
Ano (1 000 pessoas)
Homens Mulheres Branco Branca Preto ou pardo Preta ou parda
Absoluto % CV Absoluto % CV % CV % CV % CV % CV
2012 2090 64,0 2,4 1178 36,0 2,9 44,4 1,5 25,2 2,0 18,7 3,6 10,3 4,7
2013 2157 62,7 2,4 1280 37,3 3,1 43,5 1,5 26,3 1,6 18,5 3,4 10,1 4,1
2014 2286 64,2 2,6 1273 35,8 2,9 43,7 1,6 25,4 1,7 19,5 3,5 9,6 4,4
2015 2294 63,2 2,9 1335 36,8 3,0 43,8 1,6 26,3 1,9 18,6 3,8 9,8 4,9
2016 2139 61,7 3,2 1328 38,3 3,6 43,5 2,1 27,7 1,9 17,5 5,2 9,9 5,2
2017 2017 61,5 2,5 1261 38,5 4,0 41,1 1,8 26,6 2,0 19,0 3,6 11,0 5,2
2018 1907 63,1 3,4 1115 36,9 3,6 43,0 1,7 25,2 2,2 19,1 3,6 11,1 4,8
2019 1988 63,4 3,8 1147 36,6 3,6 43,7 1,7 24,4 2,2 18,4 4,7 11,5 4,6
2020 1769 64,3 3,9 982 35,7 4,1 44,4 1,9 25,3 2,4 18,4 5,1 9,2 6,6
2021 1553 65,1 4,0 834 34,9 4,9 44,8 2,4 24,2 3,2 19,2 5,4 10,3 7,5
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
36
mudança significativa quanto a distribuição dos cargos gerenciais considerando cor ou
raça, tão pouco considerando sexo.
O Gráfico 10 exprime a imutabilidade supramencionada, demonstrando, também,
a segregação que ocorre por cor ou raça, assim como por sexo, mas, principalmente,
quando combinados os dois fatores, cor ou raça e sexo.
Gráfico 10: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo o sexo
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
37
Gráfico 11: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o sexo
Pessoa Ocupada
21,3 25,9
31,5 20,4
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
Gráfico 12: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou
raça, segundo o sexo
10,3
18,7 43,6
25,7
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.
Logo, mediante cálculo do Desvio Padrão, também foi verificada a dispersão dos
dados coletados frente a média, propiciando mais consistência as informações auferidas.
Porquanto, verificou-se que o desvio padrão da participação do homem branco dentre
as pessoas ocupadas é de 0,89, da mulher branca é de 0,57, do homem preto ou pardo
é de 0,55, e da mulher preta ou parda é de 0,80; enquanto que o desvio padrão da
participação do homem branco dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais é de
1,0, da mulher branca é de 1,7, do homem preto ou pardo é de 0,57, e da mulher preta
ou parda é de 0,73.
38
Ademais, a participação das pessoas ocupadas em cargos gerenciais está
diretamente associada a participação das pessoas ocupadas, quando considerado,
simultaneamente, o sexo e a raça ou a cor, movimentando-se na mesma direção, mesmo
que em intensidades diferentes, o que é demonstrado pelo Coeficiente de Correlação de
0,26, do homem branco, 0,45, da mulher branca, e de 0,66, da mulher negra, de modo
que apenas o homem negro possui coeficiente negativo de -0,01, não obstante.
Destarte, corrobora-se que, de 2012 a 2021, ocorrera ínfima variação na
participação das pessoas ocupadas, considerando, concomitantemente, o sexo e a raça
ou cor, o que também é percebido na participação das pessoas ocupadas em cargos
gerenciais.
Portanto, podemos concluir que o mercado de trabalho é estruturado de modo a
favorecer pessoas brancas em detrimento de pessoas negras, mas também a preferir
homens em desfavor de mulheres, quando considerada as ocupações em cargos
gerenciais. Em razão disso, ascender profissionalmente no mercado de trabalho da
região Nordeste do Brasil, assim como ocorre em âmbito nacional, não depende somente
da competência do trabalhador, uma vez que as organizações não adotam critérios
meritocráticos, possuindo, em regra, um viés segregante por cor ou raça e, também, por
sexo. Dessarte, a pessoa não branca é previamente desqualificada, principalmente, se
for mulher.
39
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