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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADA – CESA


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

LINDEUVÂNIA GOMES DE SOUZA

MULHERES NEGRAS EM POSTOS DE LIDERANÇA: UMA ANÁLISE


INTERSECCIONAL DO SETOR PRIVADO NORDESTINO - 2011 A 2021

CRATO – CE
2023
LINDEUVÂNIA GOMES DE SOUSA

MULHERES NEGRAS EM POSTOS DE LIDERANÇA: UMA ANÁLISE


INTERSECCIONAL DO SETOR PRIVADO NORDESTINO - 2011 A 2021

Relatório parcial de monografia apresentado ao Colegiado


do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional
do Cariri- URCA, como requisito para conclusão da disciplina
Monografia I, realizado sob orientação do(a) professor(a)
Nivalter Aires dos Santos

CRATO-CE
2023
Tabela 1: Participação de pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais por
cor ou raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Brasil ................... 25
Tabela 2: Participação de pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais por
cor ou raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo a região Nordeste 29
Tabela 3: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, com indicação do
coeficiente de variação, segundo o sexo ........................................................................... 34
Tabela 4: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
com indicação do coeficiente de variação, segundo o sexo........................................... 36
Gráfico 1: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o Brasil...... 26
Gráfico 2: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo o Brasil .................................................................................................................... 26
Gráfico 3: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o
Brasil ........................................................................................................................................ 27
Gráfico 4: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou
raça, segundo o Brasil .......................................................................................................... 27
Gráfico 5: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo a região
Nordeste .................................................................................................................................. 30
Gráfico 6: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo a região Nordeste .................................................................................................. 31
Gráfico 7: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o
Nordeste .................................................................................................................................. 32
Gráfico 8: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou
raça, segundo o Nordeste .................................................................................................... 32
Gráfico 9: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o sexo ....... 35
Gráfico 10: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo o sexo ...................................................................................................................... 37
Gráfico 11: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o
sexo .......................................................................................................................................... 38
Gráfico 12: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor
ou raça, segundo o sexo ...................................................................................................... 38
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
METODOLOGIA ......................................................................................................... 8
1. CONCEITO DE “RAÇA” HUMANA ..................................................................... 11
2. CICATRIZES DO REGIME DE PRODUÇÃO ESCRAVOCRATA BRASILEIRO . 14
3. RACISMO ESTRUTURAL .................................................................................... 20
4. A INTERSECCIONALIDADE DE RAÇA E GÊNERO COMO FATOR
CONDICIONANTE DA PRETERIÇÃO DA MULHER NEGRA AOS POSTOS DE
LIDERANÇA NO MERCADO DE TRABALHO NORDESTINO................................ 23
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 40
INTRODUÇÃO
Esse estudo analisa a ocupação de cargos de liderança por mulheres negras na
contemporaneidade, abrangendo o período de 2011 a 2021, no qual houvera
significativas mudanças no quadro econômico e social, decorrentes, em grande medida,
do fim do período de bonança propiciado pelo “boom das commodities" e dos tardios
impactos da crise mundial de 2008.
Ademais, tem-se a gradativa deterioração das relações de trabalho, que se
intensifica a partir de 2016, após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), e a
subsequente nomeação de Michel Temer (PMDB) como Presidente da República.
Seguidamente, com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a precarização das
relações de trabalho seguiu avançando aceleradamente, tendo impactos mais
acentuados na população negra, sobretudo, na mulher negra.
Vale lembrar que vivemos em um país majoritariamente constituído por uma
população não branca, entretanto, a conjectura na qual foi alicerçada as bases
trabalhistas brasileiras não propicia a ascensão profissional da pessoa negra de forma
igualitária se equiparado à pessoa branca. A população negra se defronta com
obstáculos inerentes a uma estrutura social construída sobre os escombros do regime
escravocrata que outrora vigoroso, mas que continua sinuoso e presente, à revelia do
mito da democracia racial.
Para mais, uma pessoa negra sendo ela do sexo feminino enfrenta barreiras
adicionais, que vão além de sua cor, as barreiras de uma sociedade ditada por regras
de domínio social patriarcal, centralizada no interesse do homem branco. Não
exclusivamente, essas adversidades supracitadas contribuem progressivamente com o
afastamento das mulheres, sobretudo negras, de ocuparem postos de maior prestígio
nas organizações, ditas meritocráticas.
Este trabalho tem por finalidade realizar um percurso cronológico temporal, no
escopo nacional e regional nordestino, com intuito de identificar, caracterizar, examinar
e evidenciar a responsabilidade do fator histórico socioeconômico que alicerçou as bases
trabalhistas em nosso país, e como estas seguem vivas na sociedade contemporânea,
observando a interseccionalidade existente entre raça e gênero, assim como os distintos
indicadores sociais, no processo diferenciado e pesaroso de ascensão profissional da
mulher negra no Nordeste.

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Assim, essa temática escolhida, carrega o anseio pessoal pela conscientização
do corpo acadêmico da Universidade Regional do Cariri (URCA) quanto a importância
da luta pela equidade racial, social e de gênero no mercado de trabalho e na sociedade,
que está conscientização e o desejo de igualdade possa causar um efeito
transbordamento para além dos muros de nossos campi, chegando à comunidade de
modo a contribuindo para acender a luta por políticas públicas efetivas, voltadas ao
combate a essa forma terrível de opressão que é a interseccionalidade vivida por tantas
mulheres negras, por tantas brasileiras e por tantas nordestinas, como eu.
Em vista disso, é mediante as questões que norteiam este trabalho que os
objetivos almejados são apresentados. Adiante, seguem descritos o objetivo geral e os
objetivos específicos:
Objetivo geral: Identificar os impactos do racismo e do sexismo na vida profissional
da mulher negra no mercado de trabalho Nordestino no intervalo de 2011 a 2021.
Objetivos específicos: a) Conceituar o termo “raça” na sociedade como fonte
primaria de segregação racial e forma de opressão de um povo; b) Caracterizar o
processo histórico da produção escravocrata e como este, ainda hoje, reverbera no
mercado de trabalho brasileiro, consequentemente, na empregabilidade da população
negra; c) Examinar os fatores socioeconômicos que obstaculizam a ascensão
profissional da mulher negra no mercado de trabalho do Nordeste; d) Evidenciar as
barreiras institucionais presentes no mercado de trabalho Nordestino, que corroboram
com a preterição da mulher negra a postos de liderança no século XXI, em decorrência
do racismo e do sexismo numa chave interseccional.
O trabalho em questão estrutura-se com a sequência de capítulos desenvolvidos
ordenadamente para a compreensão das ideias propostas. Além dessa introdução sobre
a temática desse trabalho, apresentamos a metodologia utilizada que nos auxiliou na
coleta de informações e dados. Na sequência são apresentados aspectos de
conceitualização da “raça” humana. Em seguida buscou-se caracterizar as cicatrizes
deixadas pela produção escravocrata brasileira. Por fim, exploramos a questão do
racismo estrutural no século XXI, e no último capítulo tratamos da interseccionalidade
vivida por mulheres negras no âmbito laboral do Nordeste brasileiro.
Isto posto, no primeiro capítulo, intitulado O Conceito de “raça” humana, indaga-
se sobre o conceito de raça na sociedade; em seguida, no segundo capítulo, Cicatrizes
do Regime Escravocrata Brasileiro, o intuito é resgatar e caracterizar o processo histórico

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da produção escravocrata no Brasil e como este formato de produção deixou vestígios
tão vívidos no mercado de trabalho nacional, refletindo, negativamente, na
empregabilidade da pessoa negra em todo o país; no terceiro capitulo, busca-se
aprofundar a compreensão sobre o racismo estrutural no século XXI, abarcando,
principalmente, o Nordeste brasileiro mediante seus fatores socioeconômicos e culturais,
que regem o mercado de trabalho de modo a obstaculizar ascensão profissional da
pessoa negra, sobretudo, da mulher negra; por fim, no quarto capítulo, aborda-se a
interseccionalidade de raça e gênero como fator condicionante da preterição da mulher
negra aos postos de liderança no mercado de trabalho Nordestino, tendo como período
temporal de análise o período de 2011 a 2021.

METODOLOGIA

A pesquisa científica se configura como um objeto essencial na maturação do


senso crítico de um indivíduo dentro do ambiente acadêmico das instituições de
ensino superior, sobretudo nas instituições da rede pública de ensino.
Se a pesquisa tem por finalidade primaria obter informações verídicas sobre
um determinado assunto, assim como preencher lacunas deixadas sobre a explicação
de fenômenos da nossa realidade e ainda desmistificar certos conceitos pré-
estabelecidos pelo senso comum. Podemos afirmar que, a pesquisa se define por um
conjunto de atividades orientadas e planejadas na busca pelo conhecimento.
Seguindo esta lógica, pode-se afirmar que a pesquisa científica é concebida
como algo complexo pelo fato de ela compreender um conjunto de atividades, tais
como: investigar o assunto e compreendê-lo, buscar informações em fontes distintas,
comparar ideias de diferentes autores e selecioná-las a fim de que estas possam lhe
dar suporte necessário na realização da investigação e, finalmente, a escrita do
próprio texto.
[...] Pesquisa é a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção
da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à
realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula
pensamento e ação (MINAYO,1994, p.136). De forma mais abrangente, pode-se dizer
que:

A pesquisa é toda atividade voltada para a solução de problemas; como


atividade de busca, indagação, investigação, inquirição da realidade, é a
atividade que vai nos permitir no âmbito da ciência, elaborar um

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conhecimento, ou um conjunto de conhecimentos, que nos auxilie na
compreensão desta realidade e nos oriente em nossas ações (PÁDUA, 2004,
p. 31).

Para toda pesquisa científica se faz necessário a adoção de uma metodologia


qualitativa, quantitativa ou de ambas, de modo que direcione o pesquisador com
levantamento de informações e/ou dados necessários à execução do trabalho que se
intenciona.
Pádua (2004, p. 36), advoga que “As pesquisas qualitativas têm se preocupado
com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as
motivações, crenças, valores, representações sociais, que permeiam a rede de
relações sociais”.

Segundo Knechtel (2014, p. 25), a pesquisa quantitativa é uma modalidade


de pesquisa que atua sobre um problema humano ou social, é baseado no
teste de uma teoria e composta por variáveis quantificadas em números, as
quais são analisadas de modo estatístico, com o objetivo de determinar se as
generalizações previstas na teoria se sustentam ou não. Nesse sentido, a
pesquisa quantitativa está ligada ao dado imediato. O que isso quer dizer?
Significa que ela se preocupa com quantificação dos dados, comprovando se
uma teoria é válida ou não a partir de análises estatísticas.

O presente trabalho busca investigar fenômenos histórico – socioeconômicos


superando certos determinismos cegos, além de compreender a dinâmica da
formação das hierarquizações de classes em detrimento de outras que se
estabeleceram a séculos em nossa sociedade, assim como esses elementos se
comportam na contemporaneidade dentro do contexto laboral das empresas privadas,
brasileiras e nordestinas.
Considerando a complexidade da produção de conhecimento que
intencionamos, optou-se pela modalidade de pesquisa quali-quantitativa, de modo
complementar, e não excludente, os dois métodos em combinação serão essenciais
para uma análise minuciosa e clara do conteúdo trabalhado.
A análise qualitativa foi realizada mediante pesquisa bibliográfica, alicerçando-
se, especialmente, nas obras da coleção Feminismo Plural, dirigida por Djamila
Ribeiro, tendo em vista que, conforme citado pela autora na sua obra Lugar de Fala,
“a coleção propõe a descolonização do pensamento” (RIBEIRO, 2021, p.14).
Seguindo essa premissa, são apresentadas as obras componentes da nossa pesquisa
bibliográfica e seus respectivos autores.
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Racismo Estrutural, de Silvio Luiz de Almeida, advogado, autor e professor, na
atualidade reconhecido como um dos grandes especialistas brasileiros acerca da
questão racial, sendo na data de 01 de janeiro de 2023, empossado no cargo de
Ministro de Direitos Humanos e Cidadania do Brasil.
Interseccionalidade, de Carla Adriana da Silva Santos, “Carla Akotirene”,
militante, professora, autora, colunista e importante pesquisadora quanto ao
feminismo negro e a interseccionalidade enfrentada pela mulher negra no Brasil. E
Lugar de Fala, de Djamira Tais Ribeiro dos Santos, filosofa, feminista negra, escritora,
colunista e a única mulher negra a ocupar uma cadeira na academia de letras de São
Paulo.
Além das estimadas obras apresentadas a cima, mais não menos importante,
também foi utilizado como fonte de pesquisa, as seguintes obras: Mulheres, Raça, e
Classe, de Ângela Davis; A integração do Negro na Sociedade de Classes, de
Florestan Fernandes; Estrutura e dinâmica do Antigo Sistema Colonial
(séculos XVI – XVII), de Fernando A. Novais, além de outras importantes obras que
serviram de arcabouço para estruturar o plano de fundo responsável pela condição
situacional do negro no século XXI, foram elas: História da Riqueza do Homem, de
Leo Huberman. A Terra e o Homem no Nordeste, de Manoel de Correia Andrade entre
outras obras e fontes de pesquisa online, devidamente citadas no referencial teórico
deste trabalho.
Quanto a análise quantitativa, foi alicerçada, preponderantemente, em dados
provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD
Contínua, realizada pelo IBGE, no intervalo ininterrupto de 2012 a 2018, sobre a
participação de trabalhadores no mercado de trabalho por cor ou raça, considerando,
primeiramente, o Brasil, e, em seguida, a região Nordeste. Outrossim, foi estudada a
participação de trabalhadores no mercado de trabalho por cor ou raça, considerando
o sexo.
Para tanto, os dados foram estruturados em tabelas, possibilitando, assim, a
distribuição dos dados em decorrência do período temporal em que foram coletados.
Subsequentemente, tratou-se de construir gráficos para proporcionar maior clareza às
informações contidas nas tabelas, optando-se, portanto, por gráficos de barras e de
setores.

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1. CONCEITO DE “RAÇA” HUMANA

Antes de chegar ao objetivo principal deste trabalho, que é identificar os impactos


do racismo e do sexíssimo na vida profissional da mulher negra no mercado de trabalho
Nordestino, abrangendo o intervalo de 2011 a 2021, precisaremos discutir alguns
conceitos importantes que nos permitiram compreender e desmistificar o conceito de
raça que nos foi ensinado, pois, seja por desconhecimento ou por ignorância,
erroneamente aceitamos a narrativa do senso comum a respeito do termo acima
mencionado, que via de regra está cimentado com base em parâmetros de sociedade
determinados pelo poder dominante da aristocracia branca.
Existem muitas conceituações de raça, entretanto, sabemos que esse termo
inicialmente não foi criado para classificar seres humanos, mas sim animais e plantas,
de forma que ainda nos dias de hoje é utilizado na Zoologia e na Botânica para classificar
subespécies dentro do seu campo de estudo (MUNANGA, 2003). A definição de raça,
como conhecemos hoje, trata-se de um conceito moderno delicadamente forjado no
século XVI, no ápice da era mercantilista e das grandes navegações.
De acordo com os autores a seguir, podemos dizer que o termo raça, para o ser
humano, carrega um peso histórico – socioeconômico e de poder político.
Raça não é um termo fixo, estático. Seu sentido está inevitavelmente atrelado
às circunstâncias históricas em que é utilizado. Por trás da raça, sempre há
circunstâncias históricas em que é utilizado. Por trás da raça sempre há
contingência, conflito, poder e decisão de tal forma que se trata de um conceito
relacional e histórico (ALMEIDA, 2021, p. 24).

A partir da fala do majestoso Almeida (2021), podemos concluir que,


biologicamente, somos iguais, pertencentes a uma única espécie, a humana. Logo,
podemos afirmar que a definição de “raça” se tratou da ideia de dividir a espécie humana,
visando fins econômicos e de manutenção de poder que favoreceu determinada parte
da população tida por “civilizada”, esta que por sua vez passa a subjugar parcela da
sociedade possuidora de características distintas a do homem eleito como homem
universal, “o homem branco europeu”, caraterísticas superficiais como o tom de pele não
branca.
Por conseguinte, [...] É parte de um discurso científico errôneo e de um discurso
político racista, autoritário, anti-igualitário e antidemocrático, o termo de “raça” apenas
reificá uma categoria política abusiva. (PAUL GILROY,1998, apud. GUIMARÃES, 2002,
p. 48).
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Foi nesse contexto que o conceito de raça humana surgiu, prevalecendo ainda
nos dias de hoje. Trata-se, portanto, de uma construção social, que intenta justificar o
injustificável, as atrocidades que umbilicalmente ligadas a segregação racial do ser
humano, a escravidão de vários povos.
No século XVII, com o estabelecido do conceito racial/étnico, historicamente
moldado no século anterior, a sociedade não apenas elegeu a branquitude do homem
europeu como ideal, mas também o colocou no topo da hierarquia de poder do mundo,
dando corpo a hegemonia eurocentrista de produção capitalista colonial/moderna.
Essa segregação social da população mundial produziu distintas identidades
novas do ser humano, ao passo que imprimiu a posição de domínio europeu sobre o
resto da população mundial, os colocando na posição de conquistadores. Dessa
maneira, a Europa, antes uma conotação geográfica, passa a expressar uma conotação
racial em relação as novas identidades, os índios, os negros e os mestiços.
As classificações e relações sociais que foram desenhadas se materializaram
em relação de dominação, onde as identidades sociais passaram a ser diretamente
atreladas aos papéis hierárquicos no sistema produtivo. Aponta Quijano (2009) que,
assim como o conceito de raça, a classificação da população, foi usurpada da botânica
para ser utilizada na diferenciação de “classes” de gentes na população europeia no final
do século XVIII e início do século XIX. Segue:
A ideia de ‘classe’ foi introduzida nos estudos sobre a ‘natureza’ ainda antes
de ser sobre a ‘sociedade’. Foi o ‘naturalista’ sueco Linneo o primeiro a usá-la
na sua famosa ‘classificação’ botânica do século XVIII.
[...] Os que estudavam e debatiam a sociedade da Europa Centro-Nórdica no
final do século XVIII e no início do século XIX, aplicaram a mesma perspectiva
às pessoas e verificaram que era possível ‘classificá-las’ também a partir das
suas características mais constantes e diferenciáveis (empiricamente, o seu
lugar nos pares riqueza e pobreza, mando e obediência).
[...] Ao transferir o substantivo classe do mundo da ‘natureza’ para o da
‘sociedade’, era indispensável associá-lo com um adjetivo que legitimasse essa
deslocação: a classe deixa de ser botânica e transforma-se em social.
(QUIJANO, 2009, p.28 - 29).

Os traços, a cultura, a intelectualidade, e, também, a liberdade produtiva da


população não europeia, foram suprimidas e classificadas como inferiores para ceder
lugar aos interesses dos conquistadores. O mundo foi dividido em Europa e Não-Europa.
Historicamente, a formação do pensamento eurocentrista foi um dos métodos mais
eficazes de legitimação de uma relação de superioridade/inferioridade que se tem
conhecimento.

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Esse processo histórico de classificação de pessoas buscou justificar as
injustificáveis atrocidades que se seguiam nos tortuosos séculos de escravidão do negro,
advindas da separabilidade racial/étnica e social da população e do desejo de poder e
de riqueza encabeçado pela Europa. Depois de mais de cem anos da abolição da
escravidão em nosso país, é nítido que as identidades eurocentristas pintadas, assim
como as vantagens e desvantagens dessa modulação social, continuam sendo
perpetuadas, geração após geração.
A conceituação esdrúxula de raça humana associada às novas identidades e
classificações sociais perpassou séculos e prevaleceu na atualidade como uma espécie
de herança social, que diz onde cada indivíduo se encaixa na sociedade e qual sua
posição na hierarquia produtiva do mundo capitalista, de forma que cada um deve agir
de acordo com a condição de classe que lhe foi determinada, perenizando, assim, um
ciclo que parece inquebrantável.

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2. CICATRIZES DO REGIME DE PRODUÇÃO ESCRAVOCRATA BRASILEIRO

No capítulo anterior, pôde ser compreendido com maior clareza a formulação do


conceito de “raça” na sociedade, o que permitiu equacionar o peso histórico da
construção de distintas identidades étnico-raciais e a posterior classificação no mundo
entre Europa e não Europa. Toda essa construção social serviu de arcabouço para a
estruturação do regime escravocrata, responsável pela destruição, exploração e morte
da identidade do povo negro em favor do lucro e do poder eurocentrista.
Isso posto, conforme Novais (1986), o poder eurocêntrico se tornou soberano no
mundo, culminando em uma expansão dos domínios europeus, que propiciou o início da
superação do antigo sistema de produção comercial, no qual os bens eram produzidos
dentro da Europa, passando, então, a serem produzidos fora da Europa, mas sob
controle europeu, em uma nascitura sociedade extra-europeia oriunda da colonização
comercial.
Dessarte, arraigada a colonização, tem-se a acumulação primitiva do capital e o
fortalecimento da insurgente burguesia mediante a produção de produtos com demanda
latente no mercado europeu, como: a cana-de-açúcar, o tabaco, o algodão e o cacau,
além da exploração de peles para vestimentas de luxo e da extração de metais
preciosos. Neste contexto, novamente, com toda sua ascosidade, emerge a
escravidão. Aponta Novais:
Em outras palavras: não bastava produzir os produtos com procura crescente
nos mercados europeus, era indispensável produzi-los de modo que a sua
comercialização promovesse estímulos à originária acumulação burguesa nas
economias europeias. Não se tratava apenas de produzir para o comércio, mas
para uma forma especial de comércio colonial; é, mais uma vez, o sentido último
(aceleração da acumulação primitiva do capital) que comanda todo o processo
da colonização. Ora, isto obrigava as economias coloniais a se organizarem de
molde a permitir o fundamento do sistema de exploração colonial, o que impunha
a adoração de formas de trabalho compulsório ou, na forma de limite, o
escravismo. (NOVAIS, 1985, p.66).

Ainda segundo o autor, “A escravidão foi o regime de trabalho preponderante na


colonização do novo mundo; ao passo que o tráfico negreiro foi responsável por
alimentar um dos setores mais rentáveis do comércio colonial” (NOVAIS,1985, p.67).
Buscando, mais uma vez, justificar o injustificável, os europeus afirmavam que

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recorreram ao “trabalho” africano porque não dispunham de contingente populacional
europeu suficiente para povoar as colônias do novo mundo, pontua Novais (1986).
O embargo quanto ao povoamento e a força de trabalho nas colônias do novo
mundo, segundo os colonos, precisou ser sanada com o trabalho africano. Argumento
que em nada valida a escravidão do negro. Logo, a história expõe que o real sentido do
escravismo colonial foi a expansão do capitalismo mercantil europeu para promoção da
acumulação primitiva do capital, tendo sido o trabalho compulsório, majoritariamente
exercido pelos negros e negras escravizados, a condição precípua da rentabilidade
econômica provenientes das colônias. (NOVAIS, 1985)
Em síntese, as colônias existentes na América foram constituídas,
essencialmente, com um viés extrativista, cuja produção, impreterivelmente, deveria ser
destinada à exportação. Sendo assim, no Brasil, enquanto colônia, seguia esta mesma
premissa, desde o início da colonização até a implantação da agroindústria. A princípio,
o trabalho compulsório nos plantios e moendas de cana-de-açúcar foram exercidos
pelos nativos, todavia, o crescimento das atividades produtivas no interior das colônias
e, por consequência, o consumo exponencial de força de trabalho, abre lugar à
incorporação da mão-de-obra escrava africana. (NOVAIS, 1985)
No Brasil, a região Nordeste foi a primeira a ter implementada a forma
mercantilista de colonização para essas terras, entre o século XVI e XIX, milhares de
negros africanos foram trazidos para serem usados como ferramentas de trabalho. O
negro foi transmutado em commodities de um sistema produtivo alicerçado na
segregação da espécie humana, através de sua racialização para atender aos anseios
capitalistas de acumulação do mundo europeu.
Logo que desembarcavam, eram vendidos aos senhores de engenhos e
lavradores, sendo aplicadas altas taxas de juros, de modo que, individualmente, a
comercialização de seres humanos propiciava altos lucros aos envolvidos. Desprovidos
de sua liberdade, assim como de qualquer outro direito como pessoa, a vida do negro
escravo em qualquer parte do mundo colonial, não sendo diferente no Brasil, nos
séculos de escravidão, consistia em trabalhar initerruptamente, sob condições
desumanas, de sol a sol. Diz Manuel Correia de Andrade:
Os escravos eram frequentemente submetidos a maus-tratos, à corporais,
podendo ser batidos com chicote, varas ou correias de couro, ser postos a ferro
ou no tronco ou até ser acorrentado pelos pés ou pelo pescoço; não convinha,
entretanto, aos senhores matar ou mutilar aos cativos que lhes haviam custado
muito dinheiro (ANDRADE, 2003, p.80).
15
Quanto a relação entre escravidão e acumulação primitiva do capital, pode ser
afirmado que existe uma relação direta. A acumulação primitiva teve, em grande medida,
a escravidão como a principal fonte geradora de riqueza. Não é sem razão que Marx
escreve: “se o dinheiro vem ao mundo como uma mancha congênita de sangue numa
das fases, o capital vem pingando da cabeça aos pés, de todos os poros, sangue e lama”
(MARX,1867, apud. HUBERMAN, 2018, p.146).
Não obstante, ao se desenvolver, o sistema colonial mercantilista promove,
simultaneamente, os fatores de sua superação, pois, enquanto condição necessária à
exploração colonial está o engendramento da sociedade senhorial-escravista, cujas
interrelações e valores cada vez mais colidiam com os da sociedade burguesa que
ascendia na Europa. (NOVAIS, 2007)
De todo modo, no plano da produção, a dinâmica do conjunto da economia
colonial cumprira seu propósito, promovendo a acumulação primitiva dos centros
econômicos europeus, o que acontecia por meio do setor exportador colonial, que era
definido pela demanda europeia, uma vez que, predominantemente, dependia do influxo
externo advindo do capitalismo europeu.
Além do setor exportador, também se desenvolvera um setor de subsistência,
que, em certas circunstâncias e em áreas específicas, vinham a adquirir considerável
desenvolvimento, organizando-se em grandes propriedades, como no caso da pecuária,
ou, noutros casos, incorporando o regime escravagista. Assim sendo, tanto o setor
exportador, principal motor da economia colonial, quanto o setor de subsistência, eram
dependentes do centro dinâmico europeu, o primeiro, dependendo diretamente, o
segundo, indiretamente (NOVAIS, 2007).
Complementarmente, no nível das relações socioeconômicas, a estrutura de
produção colonial favorecia uma altíssima concentração da renda, que, inevitavelmente,
destinava-se aos senhores de escravos, uma vez que, não por acaso, também eram os
proprietários das empresas produtoras de mercadorias para o comércio colonial
(NOVAIS, 2007).
De acordo com Novais (2007),
(…) a renda global gerada nas economias periféricas só se realiza em
última instância nos mercados da economia central, europeia; assim, a sua maior
parte se transfere, através dos mecanismos do comércio colonial já analisados
antes, para as metrópoles, ou antes, para os grupos burgueses ligados as
transações ultramarinas; mas é o fato de a parcela (menor) que permanece na

16
colônia se concentrar na pequena camada senhorial que permite o contínuo
funcionamento da exploração colonial (NOVAIS, 2007, p. 83).

Logo, na economia colonial escravista-mercantil, as relações mercantis atingiam,


apenas, os senhores de escravos, que importavam das economias centrais as
mercadorias necessárias ao atingimento de suas demandas pessoais e produtivas,
embora houvessem outras camadas sociais necessárias à manutenção da colonização
através da execução de atividades administrativas, militares e religiosas. Todavia, essas
são categorias secundárias da colonização, sendo, também, dependentes do binômio
senhor-escravo, ao passo que, no âmbito da colônia, tudo depende da camada senhorial,
uma vez que a economia mercantil se expande em função dela. (NOVAIS, 2007)
Contudo, com o advento da mecanização da produção intrínseca a Revolução
Industrial, o modus operandi do sistema econômico colonial é fraturado, já que o
crescimento massivo da produção capitalista passa a reivindicar amplas faixas de
consumo ultramar, transcendendo o consumo das camadas superiores da sociedade,
não podendo mais continuar restritas à camada senhorial. Em decorrência disso, o
sistema é abalado, inaugurando-se a crise.
Outrossim, a mão-de-obra escrava, que outrora sustentava o sistema econômico
colonial, passou a ser um estorvo para o ascendente capitalismo industrial europeu,
pois a dinâmica de produção havia mudado, prescindindo de mão-de-obra, enquanto
carecia de consumidores. Por conseguinte, desmantelou-se o paradigma escravocrata,
uma vez que conflitantes com os interesses da burguesia europeia, promovendo, assim,
uma “conscientização humanitária” sem precedentes, pautada, impreterivelmente, no
interesse econômico eurocentrista.
Logo, não tardou para que essa inversão de paradigma reverberasse nas
colônias, cuja subserviência continuava a subsidiar a pujança econômica europeia.
Desse modo, objetivando destravar um possível mercado consumidor latente, as
metrópoles europeias passaram a repudiar e a proibir a escravidão, adotando, inclusive,
medidas fiscalizatórias e punitivas para coibir o comércio escravocrata. Nesse contexto,
o Reino Unido, juntamente com abolicionistas e negros alforriados, passou a pressionar
o governo brasileiro a abolir a escravidão, o que não ocorreu imediatamente,
perdurando por demasiado tempo, tendo sido o Brasil o último país a abolir a
escravidão.

17
Então, para responder as pressões inglesas, no Brasil, foi iniciado um plano para
abolição da escravidão, lento e gradual, diga-se de passagem.
A primeira lei sancionada, neste sentido, foi a lei Eusébio de Queirós, em 1850,
que determinou a proibição definitiva do tráfico negreiro no Brasil, sendo um importante
marco para o início da emancipação dos escravos no país, embora ainda insuficiente.
No Brasil, a emancipação dos escravos demorou para acontecer, de modo que,
com a proibição do tráfico negreiro, as escravas passaram a atender ao propósito de
reprodutoras de mão-de-obra, mais um fardo pesado a se carregar. Somente vinte e
um anos depois, em 1871, foi promulgada a lei do Ventre Livre, que decretou que a
partir daquela data os filhos de escravas nasceriam livres. Infelizmente, essa lei pouco
contribuiu para o fim da escravidão, haja visto que nada dizia sobre o tratamento e a
criação das crianças nascidas “livres”, que, por sua vez, ficavam sob o domínio dos
proprietários de suas mães, pois não abarcava os escravos nascidos anteriormente a
está data.
Em 1885, mais uma lei abolicionista é aprovada, a lei dos sexagenários, que, na
prática, agradou muito aos senhores de escravos, uma vez que determinava que
escravos com idade a partir de 65 anos tivessem sua liberdade reconhecida. Ora,
considerando as condições precárias de vida de um escravo, sua média de vida era de,
aproximadamente, 40 anos, enquanto que aqueles que alcançavam os 65 anos de
idade já não tinham vigor para o trabalho, sendo vistos como inúteis pelos senhores de
engenho. Logo, esta lei terminou por favorecer os proprietários de escravos por eximi-
los da responsabilidade de manter os escravos quando idosos, podendo escorraça-los
sem prestar qualquer reparação ao escravo recém libertado.
Por fim, em 13 de maio de 1888, com a proclamação da lei n° 3.353, intitulada
Leia Áurea, foi determinada a libertação de todos os escravos que ainda viviam no
Brasil, que, apesar disso, foi o último país da América Latina a abolir a escravidão.
Contudo, embora tenha sido concedida liberdade as pessoas negras, o Estado
brasileiro não promoveu qualquer política pública de integração social.
[...] O escravo que se viu liberto de uma hora para outra, sem nem uma ajuda,
sem terras para cultivar, sem assistência dos governos, sentiu que a liberdade
adquirida se constituía apenas no direito de trocar de senhor na hora que lhe
aprouvesse. Transformou-se em assalariado em “morador de condição”,
continuando a habitar choupanas de palha ou senzalas, a comer carne seca com
farinha de mandioca e a trabalhar no eito de sol a sol (ANDRADE, 2003, p. 108).

18
No Brasil, a abolição da escravidão, seguida da implantação da república, foi
apenas uma fratura na forma de auto consagração e soberania do homem branco, o
isentando da responsabilidade quanto a qualquer reparação histórica das pessoas
negras, que, agora libertas, continuavam oprimidos, tendo de decidir entre serem
recolocados no sistema de produção, em condições análogas a escravidão, ou se
integrarem a massa de desocupados da economia de subsistência, em decorrência de
sua situação socioeconômica.
Fecharam-se todas as portas que poderiam colocar o negro e o mulato na área
dos benéficos direitos do processo de democratização dos direitos e garantias
sociais. Pois é patente a lógica desse padrão histórico de justiça social. Em nome
de uma igualdade perfeita no futuro, acorrenta-se o “homem de cor” aos grilhões
invisíveis de seu passado, a uma condição sub-humana de existência e a uma
disfarçada servidão eterna. (FERNANDES, 2008, p. 309).

Contemporaneamente, a igualdade racial continua inatingida, e a pessoa de cor


segue acorrentada aos grilhões invisíveis de seu passado, ao passo que a naturalização
do racismo segue presente e tenta normalizar a desigualdade racial existente nas
relações socioculturais e econômicas, buscando, também, deslegitimar a pauta
antirracista.

19
3. RACISMO ESTRUTURAL

Constitucionalmente, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza [...]” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, art. 5º), de modo que, frente a lei,
os desiguais devem ser tratados considerando suas desigualdades, a fim de igualá-los
perante a lei. Entretanto, é acachapante como as normas constitucionais, principalmente
o supramencionado artigo 5º, mas também a legislação infraconstitucional, são
esvaziadas de significado quando confrontadas com a realidade vivida pela população
negra no país.
Considerando que o Brasil é o país com a maior população negra fora do
continente Africano, tendo um agrupamento de pessoas negras menor apenas do que o
da Nigéria (PEREIRA, 2012), é surreal que a presença do negro ainda seja tão irrisória
nos espaços de exaltação social, sendo desprestigiado, por exemplo, nos espaços
acadêmicos, políticos e laborais. Porquanto, a população negra é relegada a periferia da
sociedade, condição situacional proveniente de um processo de formação social
deturpado, que privilegia a pessoa não negra em detrimento da negra, sobremaneira, o
homem não negro frente a mulher negra.
Logo, tendo que o racismo estrutural se consolidada sobre a segregação racial,
ou seja, sobre a separabilidade implícita entre pessoas negras e brancas, acontecendo,
sob uma perspectiva histórica, política e econômica, construída ao longo dos séculos,
impregnada de um viés eurocentrista. Trata-se, porquanto, de uma ideologia racista
arraigada no imaginário social, que nos entorpece os sentidos, impedindo, assim, que
possamos enxergar a marginalização imposta à pessoa negra por uma sociedade
alicerçada em preceitos racistas.
Em vista disso, cabe indagar se, de fato, o negro é cognitivamente menos apto a
vida acadêmica, a intelectualidade, a ocupação de cargos de liderança, dentre outras
posições reservadas aos brancos, o que, por sua vez, é um fator determinante da
condição socioeconômica do indivíduo. Posto isso, faz sentido ponderar sobre o quanto
as decisões individuais das pessoas negras afetam, realmente, sua condição
socioeconômica.
Diante disso, podemos afirmar que a concepção, no mínimo equivocada, do negro
como sendo menos capaz do que o branco foi construída e, incessantemente,
aprimorada desde a expansão ultramarina até a contemporaneidade.

20
Conquanto, transcender essa condição inercial, requer uma análise crítica sobre
sua condição na sociedade, portanto, para quebrar esse paradigma social, que nos
direciona, tanto negros, quanto brancos, inconscientemente, a naturalizar fatos
absurdos, como, por exemplo, que existam tantas pessoas em situação de pobreza, que
haja um massivo encarceramento de pessoas, que a maioria das pessoas tenham de se
submeter a condições de trabalho precárias, por vezes, análogas à escravidão, e que,
invariavelmente, sejam as pessoas negras que compunham a imensa parcela da
população sujeita aos supramencionados absurdos.
Almeida (2021), afirma que o racismo nasce no ventre da ideologia e é alimentado
pelos meios de comunicação, pelo sistema educacional e pelo sistema de justiça em
consonância com a realidade, o que fortalece a reprodução do racismo estrutural na
sociedade como um todo, desde antes de nosso nascimento, capturando, inclusive, o
próprio indivíduo negro, sem que se perceba.
Conforme ensina Almeida,
[...] uma pessoa não nasce branca ou negra, mas torna-se a partir do momento
em que seu corpo e sua mente são conectados a toda uma rede de sentimentos
compartilhados coletivamente de sua consciência e de seus afetos. Pessoas
negras, portanto, podem reproduzir comportamentos individuais o racismo de
que são as maiores vítimas (ALMEIDA, 2021, p. 67).

Logo, “tanto o ser branco quanto o ser negro são construções sociais” (ALMEIDA,
2021, p.77), ao passo que, o primeiro, é “naturalmente” destinado a posições centrais,
constituídas de poder, enquanto que o segundo é destinado a posições periféricas,
desprovidas de qualquer poder.
Posto isso, a partir da década de 1970, no Brasil, em decorrência da ausência de
representatividade da mulher negra nos movimentos antirracistas, assim como nos
tradicionais movimentos feministas, hegemonicamente compostos por mulheres
brancas, cujas pautas refletem os anseios da mulher branca, surgem, então, movimentos
feministas negros, permeados pela pauta da interseccionalidade de gênero e raça.
Atualmente, dentre suas pautas, os movimentos feministas negros questionam
sobre o lugar social ocupado por certos grupos, os lugares de “fala”, os lugares de “voz”,
e os lugares de poder de decisão político-econômico e corporativo na sociedade, que
subjugam, diretamente, a parcela da população não ocupante desses espaços sociais,
restringindo-as das mesmas oportunidades (RIBEIRO, 2021).

21
Como afirma Ribeiro (2021), mesmo que, eventualmente, o indivíduo negro
consiga certo poder aquisitivo, condição propiciada por uma quebra de ciclo de pobreza
em seu núcleo familiar, por exemplo, mesmo estando em uma localização social e
econômica mais favorável, ainda assim, o mesmo não estará resguardado do racismo,
pois, continuará tendo menos oportunidades e direitos do que uma pessoa branca
ocupante de posição social equivalente, em consequência da causalidade da opressão
estrutural sobre o negro.
Subjacente na estrutura social, o racismo está impregnado na configuração cívica
brasileira, respondendo pela inferiorização e apagamento da negra, distanciando-as dos
espaços de decisão, tanto nos segmentos institucionais públicos quanto nas empresas
e instituições privadas, o que perpetua o racismo historicamente arraigado no país, uma
vez que a negra continua a ser oprimida, não obstante a sofisticação dos instrumentos
de opressão.
Sendo assim, no século XXI, metamorfoseado, o racismo embrenha-se na
estrutura social “democrática”, buscando não ser percebido, senão como característica
intrínseca e incontestável da própria sociedade. Portanto, é notável que o racismo é
essencialmente estrutural, tendo sido naturalizado pela sociedade, à revelia de
indicadores socioeconômicos que demonstram os impactos incidentes direto e
exclusivamente no povo negro, de maneira que, embriagados por seus privilégios,
significativa parcela da população não negra negligência, quando não repudia, pautas
antirracistas, reforçando os pilares do racismo estrutural.

22
4. A INTERSECCIONALIDADE DE RAÇA E GÊNERO COMO FATOR
CONDICIONANTE DA PRETERIÇÃO DA MULHER NEGRA AOS POSTOS DE
LIDERANÇA NO MERCADO DE TRABALHO NORDESTINO.

No mercado de trabalho a aprovação do pleiteante não se dá somente pelo


conteúdo do currículo, nem pela desenvoltura durante a entrevista, de certo, também
não necessariamente será escolhido aquele mais aderente a lacuna em aberto. Destarte,
existem critérios subjacentes que determinam aqueles que são preferidos em detrimento
de outrem.
Comumente, a seletividade na preterição de uns em favor de outros advém de
preconceitos arraigados na sociedade e que são reproduzidos pela cultura da empresa,
havendo, portanto, um viés subjetivo imperado pela concepção de uma persona
idealizada, discriminando aqueles destoantes do padrão exigido.
No Brasil, idealizou-se o homem branco como naturalmente aderente, o que
constitui um retrato narcísico da elite brasileira, uma vez que o país é majoritariamente
constituído de pessoas negras. De todo modo, em um país capitalista, que pressupõe a
existência do crivo meritocrático, não deveria haver qualquer tipo de discriminação, uma
vez que contradiria a premissa da igualdade de oportunidades e da seleção daquele
melhor qualificado.
De acordo com Akotirene (2019, p.28), precisamos ver o branco como sistema
político e econômico, em que raça, classe e gênero proporcionam uma experiência
imbricada de privilégios. Deste modo, em conformidade com o sistema político
supramencionado, a expropriação dos direitos dos negros, assim como das mulheres,
mas, sobretudo, das mulheres negras, sua antítese, é o que viabiliza os privilégios
provenientes da intersecção de raça, classe e gênero, promovendo, concomitantemente,
uma situação ímpar de expropriação dos direitos da mulher negra.
Silvio de Almeida (2021, p. 25), afirma que: “A noção de homem, que para nós
soa quase intuitiva, não é tão óbvia quanto parece: é, na verdade, um dos produtos mais
bem-acabados da história moderna e exigiu uma sofisticada e complexa construção
filosófica. Criou-se a figura de um indivíduo universal, homem - branco, em todas as
instâncias de nossa sociedade é ele que se encontra no topa da hierarquia.”
Em vista disso, a preterição da mulher negra no mercado de trabalho somente
pode ser entendida mediante o estudo da inseparabilidade do racismo, do capitalismo e
do cisheteropatriarcado, modernos aparatos coloniais, que se cruzam e se sobrepõem,
produzindo um sistema de opressão interligado. (AKOTIRENE, 2019)

23
Desse modo, sob o prisma da interseccionalidade, tem-se os instrumentos teórico
metodológicos necessários ao delineamento dos encargos singulares incidentes sobre
mulheres negras em decorrência dessa matriz colonial moderna, possibilitando, assim,
o enfrentamento dessa estrutura de opressão mediante a proposição de políticas
públicas e de letramentos jurídicos, e reparo histórico (AKOTIRENE, 2019).
Logo, o entroncamento das estruturas de desfavorecimento da mulher negra não
apenas tangencia o mercado de trabalho, estando radicado nas delimitações do seu
escopo, reproduzindo o privilégio branco que fundamenta a matriz colonial moderna, o
que é evidenciado por indicadores que traduzem o universo do mercado de trabalho.
No Brasil, embora mais de 55% da população seja negra, a maioria dos cargos
de direção são ocupados por não negros (11,4%), majoritariamente, por homens não
negros (6,4%), enquanto o menor percentual de ocupação de cargos de liderança é da
mulher negra (1,9%). Outrossim, o menor rendimento médio é o da mulher negra, R$
1.617,00, ao passo que o homem não negro, em média, aufere mais que o dobro do seu
rendimento médio, R$ 3.471,00. (DIEESE, 2021, apud IBGE, 2021).
Em 2020, com a pandemia do COVID–19, a situação das mulheres negras e
periféricas, de forma particular as que chefiam seu lar, ficou mais delicada, foram elas a
parcela da população mais afetadas com o desemprego e por consequência, com a
insegurança alimentar grave, onde todo o seu núcleo familiar sofreu com redução e
privação de alimentação básica (SCHALL, et al.).
Nos anos de 2020 a 2021, o país passou por um grande retrocesso quanto ao
combate à fome no Brasil, onde a fome, tem lugar, gênero e cor. Regiões Norte e
Nordeste, são mais afetadas, as mulheres são mais impactadas, por fim as mulheres
pretas são mais atingidas, são elas que em grande medida compõe a massa de
desassalariados, ou se encontram trabalhando auferindo baixos rendimentos. (SCHALL,
et al.)
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua,
realizada pelo IBGE, confirma o que já mencionamos anteriormente, que o Brasil é um
país predominantemente não branco, sendo constituído, majoritariamente, de pessoas
negras, mais especificamente, de pretas e pardas, de modo que a população negra, em
2018, representava 55,8% da população brasileira, sendo as pretas, 9,3%; e as pardas,
46,5%, a população indígena e amarela correspondia a cerca de 1%, enquanto a
população branca correspondia a 43,1%. Em vista disso, tratou-se de revelar a
disparidade existente entre a população negra e a branca.

24
A partir de dados coletados pelo IBGE na PNAD Contínua, no intervalo ininterrupto
de 2012 à 2021, pode-se constatar que as pessoas negras, em todo o período analisado,
compunham a maior parte da população ocupada, representando, em média, cerca de
52,8% da população brasileira ocupada, enquanto que as pessoas brancas representam,
em média, cerca de 46,3%. Não obstante, em média, apenas cerca de 29,0% das
pessoas ocupadas em cargos gerenciais são negras, de modo que, se a distribuição das
pessoas ocupadas reflete com certa fidedignidade a distribuição étnica populacional
brasileira, o mesmo não ocorre na distribuição dos cargos gerenciais, haja visto que
cerca de 69,2% dessas ocupações são ocupadas por pessoas brancas, o que implica
que as pessoas negras ocupam, apenas, 29,0% dos cargos gerenciais.
Adiante, tem-se a tabela 1 com dados da participação de trabalhadores em cargos
gerenciais por cor e raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Brasil:

Tabela 1: Participação de pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais por cor


ou raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Brasil
Pessoas ocupadas Pessoas ocupadas em cargos gerenciais
Cor ou Raça Cor ou Raça
Total Total
Ano
(1 000 pessoas) Branca Preta ou parda (1 000 pessoas) Branca Preta ou parda

Absoluto CV % CV % CV Absoluto CV % CV % CV
2012 89695 0,2 48,5 0,6 50,8 0,5 3268 2,1 69,6 1,3 29,0 3,2
2013 91359 0,2 47,9 0,5 51,4 0,5 3437 2,2 69,8 1,1 28,6 2,7
2014 92248 0,2 47,6 0,6 51,6 0,5 3558 2,2 69,1 1,2 29,0 3,0
2015 92400 0,2 47,0 0,5 52,3 0,5 3629 2,4 70,1 1,4 28,4 3,4
2016 90750 0,2 46,3 0,5 52,8 0,5 3467 2,8 71,1 1,5 27,4 3,8
2017 91205 0,2 45,6 0,5 53,4 0,5 3278 2,6 67,7 1,4 30,0 3,1
2018 92771 0,2 44,9 0,6 54,0 0,5 3022 3,1 68,2 1,5 30,2 3,1
2019 94956 0,2 44,3 0,6 54,6 0,5 3135 3,2 68,1 1,5 29,9 3,7
2020 86673 0,3 45,6 0,6 53,5 0,6 2751 3,5 69,7 1,7 27,6 4,8
2021 89495 0,3 45,2 0,7 53,8 0,6 2387 3,6 69,0 2,0 29,5 4,6

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Na Tabela 1, foi estruturada a distribuição percentual de pessoas ocupadas e de


pessoas ocupadas em cargos gerenciais, considerando a cor ou a raça, no intervalo de
2012 a 2021. Cada linha apresenta a distribuição percentual de pessoas negras e de
pessoas brancas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais, considerando o ano
estudado, no qual foi realizada a coleta dos dados pelo IBGE durante a PNAD Contínua,
enquanto que as colunas apresentam um tipo de informação específica, como o ano, os
percentuais de pessoas brancas ou de pessoas negras ocupadas e os percentuais de
pessoas brancas ou de pessoas negras ocupadas em cargos gerenciais.

25
A seguir, no Gráfico 1, é ilustrada a participação das pessoas ocupadas por cor
ou raça, segundo o Brasil, podendo-se verificar, no intervalo estudado, um aumento da
participação da população negra dentre as pessoas ocupadas perante uma diminuição
da participação das pessoas brancas.

Gráfico 1: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o Brasil

Pessoas ocupadas
60,0

50,0

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Já no Gráfico 2, é exibida a brutal predominância da participação da pessoa


branca em cargos gerenciais, havendo, contudo, um modesto aumento da participação
da população negra em cargos gerenciais frente a uma diminuição da participação da
população branca.

Gráfico 2: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,


segundo o Brasil

Pessoas ocupadas em cargos gerenciais


80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

26
A dominância dessa relação dispare é ainda mais explicitada nos Gráfico 3 e 4,
que consideram os valores médios da participação de trabalhadores por cor ou raça e
da participação de trabalhadores em cargos gerenciais por cor ou raça, segundo o Brasil,
respectivamente. O desvio padrão da participação de trabalhadores brancos e de
trabalhadores pretos e pardos, segundo Brasil, são, respectivamente, 1,42 e 1,26;
enquanto que o desvio padrão da participação de trabalhadores brancos e de
trabalhadores pretos e pardos em cargos gerenciais, segundo o Brasil, são de 1,05 e de
0,99, respectivamente; mostrando haver baixa dispersão dos dados analisados frente a
média.

Gráfico 3: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o Brasil

Pessoas ocupadas

46,3
52,8

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Gráfico 4: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou


raça, segundo o Brasil

Pessoas ocupadas em cargos gerenciais

29,0

69,2

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

27
No transcorrer do período analisado, 2012 a 2021, não houve significativa
mudança de panorama, tendo havido, conforme supracitado, uma modesta elevação da
participação da pessoa negra em cargos gerenciais frente a sua participação no mercado
de trabalho, passando de 29,0%, em 2012, para 29,5%, em 2021, um aumento de 0,5%,
e, de 50,8%, em 2012, para 53,8%, em 2018, um aumento de 2,0%, respectivamente.
Outrossim, a participação da pessoa branca, no transcorrer do período analisado,
2012 a 2021, também não se alterou significativamente, tendo ocorrido ínfima diminuição
de sua participação em cargos gerenciais frente a sua participação no mercado de
trabalho, passando de 69,6%, em 2012, para 69,0%, em 2021, uma diminuição de 0,6%,
e, de 48,5%, em 2012, para 45,2%, em 2018, uma diminuição de 3,3%, respectivamente.
Corroborando com essas constatações, matematicamente, tem-se que o
Coeficiente de Correlação (𝜌) dos dados analisados de Pessoas Pretas ou Pardas
Ocupadas com os de Pessoas Pretas ou Pardas Ocupadas em Cargos Gerenciais,
segundo Brasil, é de, aproximadamente, 0,36, indicando que há uma associação direta
entre essas variáveis, embora imperfeita. Do mesmo modo, o Coeficiente de Correlação
(𝜌) dos dados analisados de Pessoas Brancas Ocupadas com os de Pessoas Brancas
Ocupadas em Cargos Gerenciais, segundo Brasil, que é de, aproximadamente, 0,52,
indica haver uma associação direta entre essas variáveis, que se movimentam na
mesma direção, porém em descompasso de intensidade.
Adiante, segue a fórmula utilizada para calcular o Coeficiente de Correlação (𝜌):
Cov (Ocupadas, Ocupadas em Cargos Gerenciais)
ρ=
S .S

Sendo:
𝜌 = Coeficiente de Correlação
Cov = Covariância
S = Desvio Padrão
Dessarte, é nítido que, em grande medida, o aumento da participação da pessoa
negra em cargos gerenciais advém do aumento da sua participação dentre as pessoas
ocupadas, não advindo de uma mudança qualitativa na distribuição dos cargos
gerenciais, ao passo que houve, também, uma diminuição da participação de pessoas
brancas dentre as pessoas ocupadas, provocando uma redução da participação de
pessoas brancas em cargos gerenciais.

28
Regionalmente, no Nordeste, a participação da população negra dentre as
pessoas ocupadas é imensamente maior do que a participação da população branca, o
que, em certa medida, traduz-se, também, numa maior participação da população negra
em cargos gerenciais frente a população branca, destoando da participação em cargos
gerenciais por cor ou raça em âmbito nacional.
Contudo, é necessário ressaltar que, diferentemente do que ocorre a nível
nacional, no Nordeste, cerca de 74,1% das pessoas ocupadas são negras, enquanto que
apenas 25,3% das pessoas ocupadas são brancas, ao passo que apenas cerca de
57,4% dos cargos gerenciais são ocupados por pessoas negras, indicando que, embora
a população branca represente um contingente bem menor das pessoas ocupadas,
relativamente, ocupam mais cargos gerenciais, uma vez que constituem,
aproximadamente, 41,9% das pessoas ocupadas em cargos gerenciais.
Ademais, no intervalo analisado, de 2012 a 2021, ocorrera pequena redução na
participação percentual de pessoas brancas ocupadas por cor ou raça, e, quase que
proporcionalmente, houve significativa redução da participação da população branca em
cargos gerenciais, tendo havido, concomitantemente, crescimento da participação da
população negra dentre as pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais.
A seguir, tem-se a tabela 2 com dados da participação de trabalhadores em cargos
gerenciais por cor e raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo o Nordeste:

Tabela 2: Participação de pessoas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais por cor


ou raça, com indicação do coeficiente de variação, segundo a região Nordeste
Pessoas ocupadas Pessoas ocupadas em cargos gerenciais

Total Cor ou Raça Total Cor ou Raça


Ano
(1 000 pessoas) Branca Preta ou parda (1 000 pessoas) Branca Preta ou parda
Absoluto CV % CV % CV Absoluto CV % CV % CV
2012 21609 0,5 26,5 1,3 73,0 0,5 524 5,1 40,2 5,5 59,0 3,8
2013 21817 0,5 26,6 1,3 73,1 0,5 501 4,2 46,2 4,6 53,4 3,9
2014 22571 0,5 25,8 1,4 73,8 0,5 488 4,5 40,7 4,7 58,9 3,3
2015 22627 0,5 25,2 1,3 74,4 0,4 517 5,5 40,3 4,8 58,9 3,3
2016 21323 0,5 25,1 1,3 74,2 0,5 405 5,0 36,4 5,8 62,8 3,4
2017 21042 0,5 25,2 1,4 74,2 0,5 484 5,2 41,8 5,6 57,7 4,1
2018 21231 0,6 24,9 1,3 74,3 0,5 397 5,2 43,2 5,0 56,3 3,8
2019 21591 0,6 24,7 1,4 74,3 0,5 427 5,8 44,4 5,1 55,0 4,1
2020 19013 0,7 24,6 1,8 74,7 0,6 378 7,2 47,9 7,6 51,2 7,0
2021 19811 0,7 24,3 1,8 74,9 0,6 272 9,1 38,2 11,2 61,0 7,1

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE

29
Na Tabela 2, foi estruturada a distribuição percentual de pessoas ocupadas e de
pessoas ocupadas em cargos gerenciais, considerando a cor ou a raça, no intervalo de
2012 a 20121. Cada linha apresenta a distribuição percentual de pessoas negras e de
pessoas brancas ocupadas e ocupadas em cargos gerenciais, considerando o ano
estudado, no qual foi realizada a coleta dos dados pelo IBGE durante a PNAD Contínua,
enquanto que as colunas apresentam informações um tipo de informação, como o ano,
os percentuais de pessoas brancas ou de pessoas negras ocupadas e os percentuais
de pessoas brancas ou de pessoas negras ocupadas em cargos gerenciais.
Desse modo, a preterição da população negra em contraposição a predileção da
população branca na ocupação de cargos gerenciais é constatada no Nordeste por meio
da discrepância entre o diferencial da participação da população negra dentre as
pessoas ocupadas frente a participação da população branca e o diferencial da
participação da população negra dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais
frente a participação da população branca.
Logo, é perceptível que, essencialmente, a predileção da população branca para
a ocupação de cargos gerenciais em detrimento da população negra, que é vista no
Brasil, também é constatada no Nordeste.
O Gráfico 5 exibe claramente a maior participação da população negra dentre as
pessoas ocupadas no Nordeste, assemelhando-se ao Gráfico 1, que exibe a brutal
superioridade da participação da população branca na ocupação de cargos gerenciais
no Brasil.

Gráfico 5: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo a região


Nordeste

Pessoas ocupadas
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

30
Enquanto isso, o Gráfico 6 exibe uma participação levemente maior da população
negra dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais no Nordeste,
comparativamente ao percentual da população branca; assemelhando-se ao Gráfico 2,
que exibe uma participação apenas um pouco maior da população branca, dentre as
pessoas ocupadas no Brasil, quando comparada a participação da população negra.

Gráfico 6: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,


segundo a região Nordeste

Pessoas ocupadas em cargos gerenciais


70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE

Considerando que a análise da participação de trabalhadores ocupados em


cargos gerenciais por cor ou raça somente tem significância quando confrontada com a
participação dos trabalhadores ocupados, tem-se que a preterição da população negra
em favor da população branca é evidenciada tanto pelos dados da Tabela 1 quanto pelos
da Tabela 2.
Além do mais, nos Gráficos 7 e 8, que consideram, respectivamente, os valores
médios da participação de trabalhadores por cor ou raça e da participação de
trabalhadores em cargos gerenciais por cor ou raça, segundo o Nordeste, a prevalência
dessa relação desigual é ainda mais evidente.
Nota-se que o desvio padrão da participação de trabalhadores brancos e de
trabalhadores pretos e pardos, segundo Nordeste, são, respectivamente, 0,77 e 0,62;
enquanto que o desvio padrão da participação de trabalhadores brancos e de
trabalhadores pretos e pardos em cargos gerenciais, segundo o Nordeste, são de 3,54
e de 3,50, respectivamente; mostrando haver baixa dispersão dos dados analisados
frente a média, quando trata-se da participação dos trabalhadores, independentemente

31
de serem brancos ou pretos e pardos, enquanto que a dispersão dos dados da
participação dos trabalhadores em cargos gerenciais é mais acentuada, tanto para
brancos quanto para pretos e pardos.

Gráfico 7: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o


Nordeste

Pessoas Ocupadas

25,3

74,1

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Gráfico 8: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou


raça, segundo o Nordeste

Pessoas ocupadas em cargos gerenciais

41,9
57,4

Pessoa Branca % Pessoa Negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Durante o período analisado, 2012 a 2021, aconteceu um aumento proporcional


da participação da pessoa negra dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais
frente a sua participação dentre as pessoas ocupadas no Nordeste, de modo que a
participação da pessoa negra em cargos gerenciais passou de 59,0%, em 2012, para

32
61,0%, em 2018, um aumento de 2,0%, enquanto que sua participação no mercado de
trabalho nordestino aumentou de 73,0%, em 2012, para 74,9%, em 2021, um aumento
de 1,9%.
De modo inverso, de 2012 a 2021, ocorrera, também, proporcional diminuição da
participação da pessoa branca dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais diante
da sua participação dentre as pessoas ocupadas no Nordeste, passando de 40,2%, em
2012, para 38,2%, em 20121, uma redução de 2,0%, enquanto que sua participação no
mercado de trabalho nordestino foi reduzida de 26,5%, em 2012, para 24,3%, em 2021,
uma redução de 2,2%.
Isto posto, matematicamente, tem-se que o Coeficiente de Correlação (𝜌) dos
dados analisados de Pessoas Pretas ou Pardas Ocupadas com os de Pessoas Pretas
ou Pardas Ocupadas em Cargos Gerenciais, segundo Nordeste, é de,
aproximadamente, 0,08, indicando que há uma associação direta entre essas variáveis,
embora imperfeita. Do mesmo modo, o Coeficiente de Correlação (𝜌) dos dados
analisados de Pessoas Brancas Ocupadas com os de Pessoas Brancas Ocupadas em
Cargos Gerenciais, segundo Brasil, que é de, aproximadamente, 0,05, indica haver uma
associação direta entre essas variáveis, que se movimentam na mesma direção, porém
em divergentes intensidades.
Adiante, segue a fórmula utilizada para calcular o Coeficiente de Correlação (𝜌):
Cov (Ocupadas, Ocupadas em Cargos Gerenciais)
ρ=
S .S
Sendo:
𝜌 = Coeficiente de Correlação
Cov = Covariância
S = Desvio Padrão
Sendo assim, conforme demonstrado, no Nordeste, embora tenha havido
aumento da participação da pessoa negra em cargos gerenciais, ocorrera aumento
similar da sua participação percentual dentre as pessoas ocupadas, implicando que o
aumento de sua participação percentual em cargos gerenciais se deve, fortemente, ao
equivalente aumento percentual de sua participação dentre as pessoas ocupadas.
Outrossim, a diminuição da participação da pessoa branca em cargos gerenciais decorre,
grandemente, da diminuição de sua participação dentre as pessoas ocupadas no
Nordeste.

33
No Brasil, tem-se que cerca de 57,9% das pessoas ocupadas são homens, por
conseguinte, as mulheres representam 42,1% das pessoas ocupadas. Isto posto,
adicionando-se como fator delimitador a cor ou raça, constata-se que homens negros
compõem a maior parcela das pessoas ocupadas, cerca de 31,5%, em seguida, tem-se
os homens brancos, constituindo cerca de 25,9% das pessoas ocupadas, seguidos das
mulheres negras, que representam cerca de 21,3% das pessoas ocupadas, por fim,
encontra-se a mulher branca, que representa cerca de 20,4% das pessoas ocupadas.
Logo abaixo, tem-se a tabela 3 com dados da participação de homens e mulheres
dentre as pessoas ocupadas, por cor e raça, com indicação do coeficiente de variação:

Tabela 3: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, com indicação do


coeficiente de variação, segundo o sexo
Pessoas ocupadas
Total
Homem Mulher Homem Mulher
Ano (1 000 pessoas)
Homens Mulheres Branco Branca Preto ou pardo Preta ou parda
Absoluto % CV Absoluto % CV % CV % CV % CV % CV
2012 52407 58,4 0,2 37289 41,6 0,3 27,3 0,6 21,2 0,6 30,7 0,5 20,1 0,7
2013 53175 58,2 0,2 38184 41,8 0,3 26,9 0,6 21,0 0,6 31,0 0,5 20,4 0,6
2014 53562 58,1 0,2 38686 41,9 0,4 26,6 0,6 21,0 0,6 31,0 0,6 20,6 0,7
2015 53548 58,0 0,2 38852 42,0 0,3 26,2 0,6 20,8 0,6 31,3 0,5 21,0 0,6
2016 52332 57,7 0,2 38418 42,3 0,4 25,7 0,6 20,5 0,7 31,4 0,5 21,4 0,7
2017 52445 57,5 0,2 38760 42,5 0,4 25,5 0,6 20,1 0,6 31,5 0,5 21,9 0,6
2018 53006 57,1 0,2 39765 42,9 0,4 24,8 0,6 20,0 0,6 31,6 0,5 22,3 0,6
2019 54347 57,2 0,2 40610 42,8 0,3 24,5 0,6 19,8 0,7 32,1 0,5 22,5 0,6
2020 50492 58,3 0,3 36181 41,7 0,4 25,6 0,7 20,0 0,8 32,1 0,6 21,3 0,7
2021 52370 58,5 0,3 37125 41,5 0,5 25,6 0,8 19,6 0,8 32,3 0,6 21,4 0,8

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Na Tabela 3, foi estruturada a distribuição percentual de homens e mulheres


ocupadas, considerando a cor ou a raça, no intervalo de 2012 a 2021. Cada linha
apresenta a distribuição percentual de homens e mulheres negras e de homens e
mulheres brancas ocupadas, considerando o ano estudado, no qual foi realizada a coleta
dos dados pelo IBGE durante a PNAD Contínua, enquanto que as colunas apresentam
apenas um tipo de informação, como o ano, os percentuais de homens ou de mulheres
brancas ocupadas e os percentuais de homens ou de mulheres negras ocupadas.

34
Gráfico 9: Participação de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o sexo

Pessoas ocupadas
35,0

30,0

25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Homem branco % Mulher branca % Homem negro % Mulher negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE

De acordo com o Gráfico 9, no transcorrer do período analisado, houve pífia


alteração da distribuição percentual das pessoas ocupadas, considerando a cor ou raça
e o sexo.
Quanto à composição percentual das pessoas ocupadas em cargos gerenciais,
pode-se notar a acentuação da participação dos homens, que ocupam,
aproximadamente, 63,3% dos cargos gerenciais, tendo havido aumento de sua
participação comparativamente a sua representatividade percentual dentre as pessoas
ocupadas; inversamente, verifica-se a diminuição da participação da mulher em cargos
gerenciais, ocupando, aproximadamente, 36,7% dos cargos gerenciais, implicando,
também, na redução de sua participação comparativamente a sua representatividade
percentual dentre as pessoas ocupadas.
Além disso, no decorrer do intervalo analisado, houve um aumento da participação
dos homens em cargos gerenciais, contrapondo-se a diminuição de sua participação
dentre as pessoas ocupadas, tendo havido, inversamente, a diminuição da participação
da mulher em cargos gerenciais frente a sua maior participação dentre as pessoas
ocupadas, havendo, evidentemente, um descompasso na ocupação de cargos
gerenciais decorrente da preterição da mulher em favorecimento do homem.
Subsequentemente, tem-se a tabela 4 com dados da participação de homens e
mulheres dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais, por cor e raça, com
indicação do coeficiente de variação:

35
Tabela 4: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
com indicação do coeficiente de variação, segundo o sexo
Pessoas ocupadas em cargos gerenciais
Total
Homem Mulher Homem Mulher
Ano (1 000 pessoas)
Homens Mulheres Branco Branca Preto ou pardo Preta ou parda
Absoluto % CV Absoluto % CV % CV % CV % CV % CV
2012 2090 64,0 2,4 1178 36,0 2,9 44,4 1,5 25,2 2,0 18,7 3,6 10,3 4,7
2013 2157 62,7 2,4 1280 37,3 3,1 43,5 1,5 26,3 1,6 18,5 3,4 10,1 4,1
2014 2286 64,2 2,6 1273 35,8 2,9 43,7 1,6 25,4 1,7 19,5 3,5 9,6 4,4
2015 2294 63,2 2,9 1335 36,8 3,0 43,8 1,6 26,3 1,9 18,6 3,8 9,8 4,9
2016 2139 61,7 3,2 1328 38,3 3,6 43,5 2,1 27,7 1,9 17,5 5,2 9,9 5,2
2017 2017 61,5 2,5 1261 38,5 4,0 41,1 1,8 26,6 2,0 19,0 3,6 11,0 5,2
2018 1907 63,1 3,4 1115 36,9 3,6 43,0 1,7 25,2 2,2 19,1 3,6 11,1 4,8
2019 1988 63,4 3,8 1147 36,6 3,6 43,7 1,7 24,4 2,2 18,4 4,7 11,5 4,6
2020 1769 64,3 3,9 982 35,7 4,1 44,4 1,9 25,3 2,4 18,4 5,1 9,2 6,6
2021 1553 65,1 4,0 834 34,9 4,9 44,8 2,4 24,2 3,2 19,2 5,4 10,3 7,5
Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Na Tabela 4, foi estruturada a distribuição percentual de homens e mulheres


ocupadas em cargos gerenciais, considerando a cor ou a raça, no intervalo de 2012 a
2021. Cada linha apresenta a distribuição percentual de homens e de mulheres negras
e de homens e de mulheres brancas ocupadas em cargos gerenciais, considerando o
ano estudado, no qual foi realizada a coleta dos dados pelo IBGE durante a PNAD
Contínua, enquanto que as colunas apresentam apenas um tipo de informação, como o
ano, os percentuais de homens ou de mulheres brancas ocupadas em cargos gerenciais
e os percentuais de homens ou de mulheres negras ocupadas em cargos gerenciais.
Ademais, percebe-se que a mulher negra é preterida na ocupação de cargos
gerenciais em decorrência de sua cor ou raça, assim como devido ao sexo, uma vez que
representa apenas cerca de 10,3% dos ocupantes de cargos gerenciais, embora
corresponda, aproximadamente, a 21,3% da população ocupada, alcançando maior
disparidade quando comparada com o homem branco, que ocupa cerca de 43,6% dos
cargos gerenciais, apesar de representar, aproximadamente, 25,9% das pessoas
ocupadas.
Logo depois do homem branco, tem-se como maior ocupante de cargos
gerenciais, a mulher branca, ocupando cerca de 25,7% dos cargos gerenciais, embora
compusesse, aproximadamente, 20,4% das pessoas ocupadas; em seguida, encontra-
se o homem negro, que, apesar de representar cerca de 31,5% das pessoas ocupadas,
ocupa apenas 18,7% dos cargos gerenciais. De 2012 a 2021, não ocorreu nenhuma

36
mudança significativa quanto a distribuição dos cargos gerenciais considerando cor ou
raça, tão pouco considerando sexo.
O Gráfico 10 exprime a imutabilidade supramencionada, demonstrando, também,
a segregação que ocorre por cor ou raça, assim como por sexo, mas, principalmente,
quando combinados os dois fatores, cor ou raça e sexo.

Gráfico 10: Participação de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou raça,
segundo o sexo

Pessoas ocupadas em cargos gerenciais


50,0
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Homem branco % Mulher branca % Homem negro % Mulher negra %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

A proeminência dessa relação divergente é ainda mais exacerbada nos Gráfico


11 e 12, que consideram, seguidamente, os valores médios da participação de homens
e mulheres, por cor e raça, dentre as pessoas ocupadas, e da participação de homens e
mulheres, por cor e raça, dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais.

37
Gráfico 11: Participação média de pessoas ocupadas por cor ou raça, segundo o sexo

Pessoa Ocupada

21,3 25,9

31,5 20,4

Homem Branco % Mulher Branca %


Homem Preto ou Pardo % Mulher Preta ou Parda %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Gráfico 12: Participação média de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por cor ou
raça, segundo o sexo

Pessoa ocupada em cargo gerencial

10,3
18,7 43,6

25,7

Homem Branco % Mulher Branca %


Homem Preto ou Pardo % Mulher Preta ou Parda %

Elaboração da autora com base nos dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

Logo, mediante cálculo do Desvio Padrão, também foi verificada a dispersão dos
dados coletados frente a média, propiciando mais consistência as informações auferidas.
Porquanto, verificou-se que o desvio padrão da participação do homem branco dentre
as pessoas ocupadas é de 0,89, da mulher branca é de 0,57, do homem preto ou pardo
é de 0,55, e da mulher preta ou parda é de 0,80; enquanto que o desvio padrão da
participação do homem branco dentre as pessoas ocupadas em cargos gerenciais é de
1,0, da mulher branca é de 1,7, do homem preto ou pardo é de 0,57, e da mulher preta
ou parda é de 0,73.

38
Ademais, a participação das pessoas ocupadas em cargos gerenciais está
diretamente associada a participação das pessoas ocupadas, quando considerado,
simultaneamente, o sexo e a raça ou a cor, movimentando-se na mesma direção, mesmo
que em intensidades diferentes, o que é demonstrado pelo Coeficiente de Correlação de
0,26, do homem branco, 0,45, da mulher branca, e de 0,66, da mulher negra, de modo
que apenas o homem negro possui coeficiente negativo de -0,01, não obstante.
Destarte, corrobora-se que, de 2012 a 2021, ocorrera ínfima variação na
participação das pessoas ocupadas, considerando, concomitantemente, o sexo e a raça
ou cor, o que também é percebido na participação das pessoas ocupadas em cargos
gerenciais.
Portanto, podemos concluir que o mercado de trabalho é estruturado de modo a
favorecer pessoas brancas em detrimento de pessoas negras, mas também a preferir
homens em desfavor de mulheres, quando considerada as ocupações em cargos
gerenciais. Em razão disso, ascender profissionalmente no mercado de trabalho da
região Nordeste do Brasil, assim como ocorre em âmbito nacional, não depende somente
da competência do trabalhador, uma vez que as organizações não adotam critérios
meritocráticos, possuindo, em regra, um viés segregante por cor ou raça e, também, por
sexo. Dessarte, a pessoa não branca é previamente desqualificada, principalmente, se
for mulher.

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REFERÊNCIAS
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