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ABSTRACT: The article aims at alternatives for the Brazilian trade policy and at a strategic positioning in the
coming WTO negotiations. Based on the dynamic analysis of agriculture and food industry exports, it is sug-
gested the adoption of policies that join together the strategies of the largest national and multinational corpo-
rations with present Brazilian external commerce interests on development. This text also analyses the sources
and main mechanisms of agriculture protectionism in developed economies, calling attention to domestic
players and pressure groups in the Millenium Round. The article finishes proposing a "minimum agenda" and
a global strategy for the Brazilian positioning (including new issues) in the forthcoming WTO agriculture
negotiation.
1. Introdução
O agronegócio responde por 32% do PIB brasileiro (cerca de U$ 250 bilhões anuais), 38%
da pauta de exportações (U$ 20 bilhões anuais) e 28% dos empregos no País. Na ponta fi-
nal, os mercados de alimentos se globalizaram: margens cada vez mais apertadas pela con-
corrência internacionalizada, ampliação do poder do marketing (segmentação, comunica-
ção, novas marcas e embalagens, menor ciclo de vida dos produtos), maior poder de barga-
nha do setor supermercadista, etc. Movimentos de fusões, aquisições e alianças estratégicas
atingiram em cheio os agentes da agroindústria e do varejo. Empresas tradicionais que du-
rante décadas operaram com grande êxito nas indústrias de alimentos e bebidas, de têxteis,
de derivados da celulose e nas indústrias de insumos, máquinas e equipamentos para a
agricultura estão sendo vendidas ou buscam novos parceiros e capital para continuar sobre-
vivendo. Cresce a concentração em todos os elos do agribusiness, o que não é necessaria-
mente negativo, desde que a concorrência entre os grandes players promova reduções de
preços, melhoria da qualidade, maior eficiência. O potencial do agronegócio brasileiro é
sentido na recente entrada de novos grupos multinacionais que antes não operavam no País.
Antes camuflada pelo enganosa gestão financeira da inflação crônica, as empresas hoje
1
. Marcos Sawaya Jank é professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP),
pesquisador do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (PENSA), M.Sc. em Políticas
Agrícolas e Comércio Internacional em Montpellier (França) e Doutor pela FEA-USP.
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No setor agropecuário, estimativas do Prof. Guilherme Dias apontam para três categorias
distintas de produtores. A primeira é formada por cerca de 30 a 50 mil agricultores que
acumularam patamares praticamente insolúveis de endividamento, e que não têm encontra-
do saída no atual quadro de juros reais elevados da economia. A segunda é composta por
algo entre 600 a 800 mil produtores, que têm plena condição de dar um novo salto competi-
tivo com base em novas incorporações de tecnologias produtivistas. Este salto depende de
um ou mais dos seguintes fatores: do ainda incerto crescimento do mercado doméstico, da
abertura de novos mercados na exportação e da melhoria das condições macroeconômicas
(principalmente nas áreas monetária e fiscal) e de infra-estrutura do País (transportes, por-
tos, energia, etc.).
No front externo, após sucessivas crises cambiais nos países emergentes desde 1997 (Su-
deste Asiático, Rússia, América Latina), tornou-se patente a necessidade de diminuir a de-
pendência pelo capital externo. Em 1999 o Brasil acumulará um déficit em transações cor-
rentes da ordem de US$ 26 bilhões (4,2% do PIB), resultante de saldos negativos nos ba-
lanços comercial e de serviços. Para reverter este quadro, o governo trabalha com a ambici-
osa meta de atingir exportações de U$ 100 bilhões em 2002, sendo mais de US$ 40 bilhões
só no agronegócio. Trata-se de um esforço extraordinário que beira a fantasia, mas que
deve ser encarado com rigor pelos agentes públicos e privados, a partir de um completo
redesenho da arquitetura do comércio exterior. O ponto fundamental é que o País precisa
rapidamente aumentar o seu saldo comercial e isso depende, acima de tudo, de um inédito e
elevado grau de coordenação entre os agentes envolvidos.
Este texto propõe-se a apontar duas estratégias não excludentes que têm como objetivo o
expressivo aumento das exportações do agronegócio no médio e longo prazos. A primeira
refere-se a uma política estratégica de comércio exterior junto às grandes corporações
do agronegócio, numa convergência inédita de interesses voltada para o incremento da ex-
portação de commodities agrícolas e agroindustriais (Capítulo 2). A segunda é uma propos-
ta concreta para o posicionamento brasileiro na próxima rodada de negociações agríco-
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• de 1993 a 2000: retomada das exportações (hoje situadas na faixa de US$ 20 bilhões
anuais), graças ao bom desempenho de produtos como soja, café, açúcar, frangos, celu-
lose e outros.
Em linhas gerais, as exportações do setor foram marcadas por uma crescente diversificação
dos produtos e destinos e pela adição de valor no conjunto dos produtos comercializados. A
participação relativa das commodities estritamente agrícolas caiu de 75% do total no início
da década de setenta para menos de 40% no final dos anos 90. Quanto ao destino destas
exportações (Gráfico 3), nota-se uma forte concentração das vendas no mercado europeu
(45% do total), seguido da Ásia (16%), Nafta (10%), Oriente Médio (7%) e Mercosul (6%).
Vale salientar que nos produtos onde o bloco europeu não é o maior importador do Brasil,
ele se posiciona como grande concorrente. Daí a importância de incorporar a agricultura
nas disciplinas gerais da OMC (maior acesso aos mercados e cortes profundos nos subsídi-
os e proteções).
4
20 20
15 15
10 10
US$ BILHÕES
5 5
0 0
-5 -5
-10 -10
-15 -15
-20 -20
-25 -25
72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98p
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20
18
US$ BILHÕES
15
13
10
8
5
3
-
72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98p
Soja Café Papel e Celulose
Fumo Açúcar Carnes
Laranja Algodão e Cacau Outros
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Café
Total
Soja
Açúcar
Fumo
Laranja
Frango
bovina
Outros
Carne
União Européia Nafta Ásia Oriente Médio Mercosul Outros
Fonte: SECEX
Tabela 1. Exportações do Agronegócio: Ranking pelo valor exportado das empresas (90/98)
Faturamento (U$, 1990-98) Empresas % das exportações do agronegócio
Nº Acum % % Acum Média anual (U$)
Acima de 1 bilhão 17 17 0,3% 43% 43% 300.458.000
500 milhões a 1 bilhão 25 42 0,4% 16% 59% 77.967.778
100 milhões a 500 milhões 114 156 1,9% 21% 80% 22.382.685
10 milhões e 100 milhões 511 667 8,7% 15% 96% 3.614.701
1 milhão a 10 milhões 1.091 1.758 19% 4% 99% 393.933
Abaixo de 1 milhão 4.102 5.860 70% 1% 100% 16.592
5.860 100% 100% 2.039.857
Fonte: SECEX/BNDES (extraído de Jank et al., 1999)
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Estudo que concluímos recentemente (Jank et al., 1999) mostrou em detalhe este forte cres-
cimento no grau de concentração intra-industrial e de internacionalização das exportações
do agronegócio brasileiro. Na média de 1997/98 os 4 maiores exportadores controlaram
87% das exportações de fumo, 85% do frango, 67% do suco de laranja, 67% dos suínos,
51% da carne bovina e 48% da soja. A participação de empresas transnacionais nas expor-
tações chega a 90% do total exportado no caso do fumo, 51% na soja, 37% nos suínos, 29%
no frango e 20% na laranja.
A maior parte das grandes corporações que dominam o agronegócio mundial vêm atuando
no mercado brasileiro. Somente a título de exemplo, dentre os grupos europeus operando
no processamento e varejo de alimentos que expandiram as suas atividades no Brasil pode-
se citar Unilever, Nestlé, Danone, Parmalat, Bongrain, Dreyfus, Doux, Royal Numico, So-
dhexo, Carrefour, Ahold e Sonae. Poderia-se citar vários outros conglomerados norte-
americanos e alguns asiáticos. Até o momento, a estratégia que tem direcionado o cresci-
mento destas empresas no Brasil é a expansão do mercado doméstico, sendo reduzidas as
preocupações da política pública e da maioria destes players com a vertente exportadora.
São várias as razões que explicam porque os países desenvolvidos protegem os seus agri-
cultores. Razões que têm raízes econômicas, sociais, políticas, ambientais e até mesmo cul-
turais. As mais citadas são a segurança alimentar de ordem quantitativa (a busca da auto-
suficiência alimentar ou food security em inglês), a força política da classe rural, as preocu-
pações ligadas com qualidade e segurança do alimento (food safety), a manutenção do em-
prego rural, a ocupação e o manejo do território, a preservação do meio ambiente, o equilí-
brio das pequenas cidades, da paisagem e da cultura campestre, entre outras.
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A segurança alimentar de ordem quantitativa costuma ser reivindicada por países que, no
passado, sofreram com a falta de alimentos em situações de guerra (Japão, Coréia) ou, mais
comumente, por simples sentimentos coletivos de xenofobia em relação aos alimentos im-
portados (França, Suíça, Itália). A força política da classe tem origem em lobbies bem es-
truturados que formam a chamada “inter-profissão agrícola” nas reivindicações pela manu-
tenção dos subsídios, com representação ativa no poder legislativo. O Senado francês, por
exemplo, é eleito indiretamente por conselheiros representantes dos 36.760 municípios da-
quele País, portanto com interesses fortemente agrícolas, apesar da baixa representatividade
da população diretamente envolvida com atividades agrícolas (menos de 3% da população
francesa).
O conceito de multifuncionalidade está presente desde meados dos anos 70 na União Euro-
péia (UE), nas políticas sócio-estruturais criadas pelo bloco (do tipo FEOGA-orientação) e
ampliadas nas várias etapas de reforma da Política Agrícola Comum. A partir dos anos 80,
a UE claramente optou por um novo padrão tecnológico baseado no estímulo a técnicas
agrícolas menos intensivas, com nítidas vantagens ambientais e de retenção de empregos no
campo. O Brasil, por sua vez, também introduziu diversas políticas de caráter multifuncio-
nal na década de noventa, visando basicamente minorar os crescentes problemas de empre-
go do País, a exemplo dos programas de apoio à agricultura familiar (PRONAF), à reforma
agrária, à conservação de solos, ao reflorestamento e outros.
É preciso entender que a proteção do campo é algo que faz parte da cultura da maioria dos
países desenvolvidos, sendo difícil imaginar a completa eliminação dos subsídios, princi-
palmente em países onde as pequenas propriedades rurais dominam o cenário competitivo.
Na UE-15 a área média das propriedades rurais é da ordem de 18 ha, variando de 7-9 ha em
países como Itália, Grécia e Portugal a 35-40 ha na Irlanda, Dinamarca e França.
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80%
20% MAIORIA DE DESILUDIDOS
dependem do emprego não-agrícola e ajuda direta
O primeiro grupo é composto por uma minoria de agricultores “privilegiados” que respon-
dem pela maior parte da receita agrícola e que, historicamente, têm recebido a maior parte
dos subsídios. Este grupo goza hoje de um nível de vida muito superior à média das famíli-
as européias e norte-americanas (Tweeten, 1997). Exemplos são os grandes produtores de
cereais e beterraba açucareira do centro-norte da França, os suinocultores e avicultores da
Holanda, Dinamarca e Bélgica e as grandes agriculturas comerciais dos Estados Unidos.
Nos EUA, onde a quantificação dos grupos é mais precisa, um estudo recente (USDA,
1998) mostra que os 30% de agricultores que faturaram acima de 50 mil dólares anuais em
1996 responderam por 90% da receita global da agricultura, desfrutando de uma renda lí-
quida 58% superior à da família média norte-americana.
Na verdade, esta categoria de produtores tem permanecido na atividade rural, tanto nos
EUA como na UE, apenas em razão de um ou mais dos seguintes fatores: a) o emprego
não-agrícola exercido em tempo parcial pelo agricultor ou pelos seus familiares; b) o seu
baixo custo de oportunidade, já que trata-se basicamente de indivíduos com idade avançada
que dificilmente encontrariam oportunidades profissionais em outras regiões e cidades (na
UE 57% dos agricultores têm hoje mais de 55 anos de idade); e c) as pequenas ajudas dire-
tas do governo.
Ora, parece-me claro que países como o Brasil não deveriam combater genericamente “o
agricultor europeu” ou o “protecionismo agrícola” per se. Muito mais proveitoso será se
soubermos onde teremos mais a ganhar nos diferentes cenários de redução do protecionis-
mo agrícola, identificando com precisão o que deve ser pedido e o que poderá ser ofereci-
do, de maneira pragmática. Neste sentido, em termos de mecanismos de proteção agrícola
os grandes “adversários” de países agrícolas competitivos como o Brasil são:
Basta dizer que estimativas recentes apontam que menos de 20% dos produtores agrícolas
da UE são de fato beneficiados pelos subsídios à exportação, os quais não só distorcem de
forma brutal os preços mundiais como ainda geram uma eterna dependência alimentar por
parte dos países mais pobres do mundo (ver Anexo 1: Principais coligações nas negocia-
ções agrícolas da OMC).
A estratégia seria então centrar os nossos esforços no combate a estas duas formas espúrias
de proteção, forçando os países desenvolvidos a redirecionar os seus subsídios para os agri-
cultores marginalizados, sem afetar (ou afetando minimamente) os mercados. Neste contex-
to, compromissos de eliminação dos subsídios diretos e créditos à exportação e compromis-
sos de melhoria do acesso aos mercados por parte dos países desenvolvidos seriam com-
pensados pela aceitação do princípio da multifuncionalidade nos seguintes termos:
A tabela abaixo mostra que os montantes de subsídios diretos praticados em 1999 atingiram
uma média de U$ 5.700 por propriedade rural no caso da União Européia e U$ 11.200 no
caso dos EUA. Se fossem desmontados os atuais sistemas de suporte de preços ligados à
produção e os recursos redistribuídos àqueles que mais deles precisam na forma de paga-
mentos diretos (cheques ao produtor, por exemplo), os danos no mercado internacional
seriam muito menores e a maior parte do problema da baixa renda agrícola estaria resolvi-
da. O atual impasse do protecionismo agrícola advém do fato de que estes subsídios são
fornecidos basicamente por meio de preços garantidos desconectados do mercado mundi-
al, que ultra protegem os maiores produtores sem resolver o problema dos menores. Como
os preços garantidos impedem os ajustes entre oferta e demanda, forma-se um circulo vici-
oso com excedentes escoados por subsídios à exportação (UE) ou créditos governamentais
de longo prazo (EUA) que depois geram controles draconianos de oferta (cotas, set-aside,
etc.) enquadrados na “caixa azul”, e assim por diante...
Queiramos ou não, tudo indica que o protecionismo de cunho ambiental crescerá expo-
nencialmente nos próximos anos no comércio agrícola. A existência de regras mínimas
cientificamente aceitáveis e praticáveis é melhor do que um cenário onde os países des-
envolvidos imponham exigências aleatórias tão absurdas quanto impraticáveis.
Em suma, a estratégia proposta neste artigo coloca como alvo para o Brasil nas negociações
da OMC certos mecanismos de subsídio que beneficiam apenas uma pequena parcela
dos produtores europeus e norte-americanos. Tais mecanismos tem nome: intervention pri-
ce (UE), loan rate (EUA), export refunds (UE), export credit guarantees (EUA), tariff pe-
aks and escalation, tariff rate quotas, etc. A grande maioria dos produtores europeus e nor-
te-americanos seria beneficiada nos novos formatos de apoio doméstico. Conforme afirma-
do anteriormente, a mudança no padrão tecnológico da UE nos anos 90 deve ser entendida
como algo positivo pelos negociadores brasileiros. Portanto, os nossos “adversários” não
seriam os agricultores europeus e norte-americanos, mas sim um pequeno grupo de podero-
sos agricultores lobistas, ultra-protegidos, ainda assim ineficientes na produção de commo-
dities e politicamente muito fortes.
Nesta nova orientação, entendo que é importante trabalhar paralelamente no sentido de des-
envolver “aliados” que aceitem o nosso posicionamento dentro das nações desenvolvidas.
Os aliados mais prováveis que poderiam ser co-optados ao longo do processo negocial seri-
am:
Os consumidores, que com a nova proposta pagariam menos por seus alimentos, já que
o subsídio seria doravante separado do preço final dos produtos.
Os contribuintes, já que é fácil demonstrar que os gastos com as políticas agrícolas di-
minuiriam sensivelmente se este novo formato de protecionismo fosse adotado.
A parcela mais sensata das ONGs, potenciais aliadas desta causa desde que se realize
amplas campanhas de esclarecimento público sobre os danos causados no Terceiro
Mundo pelos atuais mecanismos de proteção dos países ricos e se o Brasil encarar de
frente o desafio de criar regras mínimas para a questão ambiental na Organização Mun-
dial de Comércio.
A figura abaixo resume a estratégia básica e os aliados e adversários potenciais nas próxi-
mas negociações agrícolas da OMC.
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ALIADOS ADVERSÁRIOS
Agricultores Marginalizados Certas modalidades de subsídios
Contribuintes Certas categorias de produtores privi-
Corporações (Agroindústrias/Varejo) legiados
Consumidores
Algumas ONGs
4. Conclusões
1. Negociação com base no princípio do single undertaking (nada entra em vigor enquan-
to não houver acordo em tudo).
3. Expressiva ampliação do acesso aos mercados, com eliminação dos picos, escaladas e
quotas tarifárias, de forma a enquadrar a área agrícola nas disciplinas gerais da OMC.
4. Extinção da Cláusula de Paz, de forma que os países possam contestar práticas desle-
ais de comércio em desacordo com a OMC.
É importante lembrar, outrossim, que ainda resta uma trabalhosa LIÇÃO DE CASA a ser
cumprida pelos setores público, privado e acadêmico na preparação das negociações da
OMC. A saber:
Terceiro, é preciso contar com o trabalho complementar de equipes full time de especia-
listas aptos a analisar os diferentes cenários de liberalização que se apresentarão, estabe-
lecendo os trade offs possíveis e desejáveis para o Brasil durante o processo negociador.
É fundamental, por exemplo, contar com modelos aplicados de equilíbrio geral do tipo
do GTAP (Global Trade Analysis Project), desenvolvido pela Universidade de Purdue
nos Estados Unidos. A base de dados do GTAP compreende fluxos de comércio bilate-
rais entre 45 regiões/países do mundo, desagregados em 50 tipos de produtos, sendo hoje
a mais importante base de dados do comércio agrícola internacional disponível.
Por fim, este artigo lança um novo desafio para a política de comércio exterior brasileira.
Ele sugere que a maior agilidade e coordenação na “diplomacia das nações” deve ser com-
plementada por uma ativa “diplomacia empresarial”, onde governo e setor privado adotem
políticas integradas que acoplam as estratégias das grandes corporações nacionais e inter-
nacionais do agronegócio aos interesses de crescimento sustentável e eqüitativo da nação
brasileira.
Referências
ISMEA (1999). The European Agro-Food System and the Challenge of Global Competiti-
on. Roma: ISMEA-IAMA, 230 p.
Jank, M.S. & Viégas, I.P. (1999). A OMC e o Agronegócio: O desafio da Rodada do Milê-
nio. Revista Preços Agrícolas, Piracicaba, 14 (156):3-10.
Jank, M.S.; Leme, M.F.; Paula, S.R.L.; Faveret, P.; Nassar, A. (1999). Multinationals and
Intra-industry Concentration: The case of Brazilian agribusiness exporters. Ameri-
can Agricultural Economics Association (International and Industry Conference).
Nashville (USA), august, 20 p.
OECD (1998). Agricultural Policy: The need for further reform. Paris: Discussion Paper.
U.S. Department of Agriculture (1997). Agricultural Income and Finance: Situation and
Outlook Report. AIS-65. Washington: Economic Research Service.
U.S. Department of Agriculture (1998). Agriculture in the WTO: Situation and Outlook
Series. WRS-98-4. Washington: Economic Research Service.
(MSJ)
(20 de Dezembro de 1999)
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ANEXO 1
PRINCIPAIS COLIGAÇÕES NAS NEGOCIAÇÕES AGRÍCOLAS DA OMC
As principais alianças que se formarão nas próximas negociações agrícolas da OMC formarão,
grosso modo, seis grupos distintos de pressão. O resultado será determinado pelas chamadas “coli-
gações de geometria variável” que se formarão entre estes grupos.
2. Grupo de Tendência Protecionista: formado pelos países do Leste Europeu - hoje 10 países
da Europa Central e Oriental (PECO) - candidatos a uma futura integração com a União Euro-
péia.
3. Grupo Liberal: países que defendem a eliminação (ou sensível redução) de todos os subsídios
às exportações e internos, além da forte ampliação no acesso aos mercados. Este agrupamento é
composto pelo chamado Grupo de Cairns, que são 15 países basicamente oriundos da América
do Sul, Oceania e Ásia (14 situados hemisfério sul) que se autodenominam “exportadores leais”
(fair traders) e respondem por cerca de 25% do comércio mundial nos agronegócios. O grupo
se reuniu pela primeira vez em 1986, no início da Rodada Uruguai, na cidade de Cairns na Aus-
trália.
4. Grupo de Discurso Liberal: compreende basicamente os Estados Unidos, país que representa
11% do comércio mundial nos agronegócios, de tradicional discurso e vocação para o free tra-
de, porém se utilizando de toda sorte de práticas protecionistas ao setor agrícola.
5. Grupo de Apoio ao Protecionismo: formado pelos países mais pobres do mundo, onde buro-
cracias estatais sobrevivem às custas de benesses geradas pelos subsídios à exportação, créditos
governamentais de longo prazo, programas de ajuda alimentar e facilidades de acesso a merca-
dos dos países ricos. São cerca de 85 países que participam dos acordos preferenciais do tipo
UE/países ACP (Convenção de Lomé), Iniciativa para o Caribe dos EUA (CBI), Sistema Geral
de Preferências (SGP) e outros programas. A União Européia e os Estados Unidos são especia-
listas em adotar fartos programas de distribuição de excedentes alimentares para os países mais
pobres do mundo, sob o argumento do combate à fome e à miséria. O resultado destes progra-
mas é a destruição do potencial agrícola de dezenas de nações pobres e uma eterna dependência
alimentar pelos produtos subsidiados.
6. Grupo das Baleias: formado por países que contam com um elevado contingente populacional
e, por isso, têm grande importância na produção e no consumo de alimentos. São eles a China, a
Índia, a Rússia e a Ucrânia. No momento, a Índia faz parte da organização e a China acaba de
fechar um acordo com os EUA visando o seu breve ingresso. Rússia e Ucrânia deverão entrar
posteriormente. As concessões visando o seu ingresso de cada país na OMC (o paulatino des-
monte do regime de quotas da China, por exemplo) deverão ser arduamente negociadas e repre-
sentam uma desestabilização no equilíbrio de forças dos demais grupos de pressão.