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Resumo: Este artigo analisa o agronegócio diante dos presságios da transição ecológica e
das vulnerabilidades da resiliência dos bens da natureza no território rural nacional, nos
termos da economia política, abordando três temas: a face externa do agronegócio, o
caráter da produção agrícola e as vulnerabilidades dos bens da natureza e transição
ecológica.
Palavras-chave: agronegócio; commodity; agricultura; recursos da natureza; transição
ecológica.
Agribusiness for nature resembles the incapable sorcerer dominate the forces
that he summoned
Abstract: This article analyzes agribusiness in the face of the omens of the ecological
transition and the vulnerabilities of the resilience of nature's goods in the national rural
territory, in terms of political economy, addressing three themes: the external face of
agribusiness, the character of agricultural production and the vulnerabilities of nature's
assets and ecological transition.
Keywords: agribusiness; commodity; agriculture; natural resources; ecological transition.
Introdução
remessa do agronegócio 3045 4309 2382 2385 3999 6706 4913 5828 8300 6054 11580 13317
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Por exemplo, segundo Banco Central do Brasil (2022), no ano de 2021, o déficit em transações correntes
somou US$ 28,1 bilhões, e essa insuficiência de saldo deveu-se ao aumento do desprovimento de US$12,2 no
balanço da conta renda primária.
Nessa transição, os complexos agroindustriais se estabeleceram muito além da
fronteira do Estado nacional e sua trajetória de acumulação se firma no crescimento
econômico liderado pelas exportações de commodities.
No caso da cadeia de valor dos grãos de ração (soja e milho), foi mediante as redes
verticais de comércio externo capitaneadas por empresas transnacionais, por exemplo:
ARCHER DANIELS MIDLAND (ADM), BUNGE, CARGILL E LOUIS DREYFUS COMPANY.
Juntas elas são conhecidas como grupo ABCD, sendo que as três primeiras são empresas
norte-americanas e a LOUIS DREYFUS holandesa. As quais, em 2019, foram as principais
exportadoras desses produtos no país, sendo que a CARGIL liderou o comércio externo de
soja e milho com embarques somados de 17 milhões de toneladas, seguida pela BUNGE,
que acumulou quase 15 milhões (COSTA, 2022).
Essas empresas oligopolizadas centralizam o comércio de commodities,
controlando de 60% a 70% da produção nacional, com capacidade de manipular os preços e
a oferta de produtos agrícolas e agroindustriais numa dimensão transnacional, como
também estão interessadas nas flutuações rentistas das commodities, inclusive com
estrutura financeira correspondente.
Na manufatura de bens intensivos de recursos naturais houve uma transformação
do perfil da gestão, tanto com a presença de capitais estrangeiros no controle da cadeia de
valor, como com a internacionalização de ativos nacionais, através de fusões e aquisições
comandadas por bancos e outras instituições financeiras. No caso dos complexos
sucroalcooleiros, por exemplo, houve entrada de capital externo: a RAÍZEN surgiu como
uma joint venture entre a COSAN e a SHELL do Brasil. Noutra perspectiva, o setor de
processamento da carne se internalizou:
Essas Cúpulas tiveram como objetivo: apontar alternativas ao bem- estar ambiental
e social em uma economia global complexa e excludente. No entanto, essas Cimeiras se
revelaram incapazes de propor uma alternativa com vistas a uma transição ecológica.
Todavia, há que se ressaltar que apenas os governos nacionais têm capacidades
de realizar as principais estruturas (sociais, econômicas, agrárias e culturais ) e
infraestruturas para conter, amenizar e até resolver em alguns casos os resultados das
mudanças climática e da deterioração dos bens da natureza na escala de tempo prevista
pelas distintas Cimeiras mundiais, e, por outro lado, um importante aparato público
impulsionador e disseminador das consciências local e global sobre os temas. Conforme
expressou o professor Belluzzo (2021), o meio ambiente não é uma questão nacional, é
uma questão global que precisa ser administrada por um organismo em que seja possível a
participação de todos, mas olhando para cada situação específica nacional.
Não são poucos os eventos que tem têm demonstrado os desordenados incidentes
ambientais ao redor do mundo, incluso o caos que está acontecendo com os biomas
nacionais, nos últimos tempos.
Os bens da natureza encontram-se sob forte tensão de degradação e supressão,
decorrentes de atividades antrópicas, trazendo impactos a à regulação climática e a à
sobrevivência humana e de outras outros seres.
O quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
destacou que o aquecimento global é inequívoco. Cada vez mais os eventos climáticos,
como seca, calor, inundações e frio, acontecerão de forma acentuada e prolongada. Entre
suas projeções para o Brasil estão o avanço da seca no Nordeste, na Amazônia e no
Centro-Oeste, além da mudança no regime das monções da Amazônia afetando as chuvas
no centro-sul.
De acordo com a Global Forest Watch3, cerca de 40% dos desmatamentos globais
de floresta tropical ocorreu no Brasil e, segundo o Boletim do IPAM 4, os focos de calor, entre
janeiro e maio 2022, tiveram aumento de 22% em relação a igual período do ano passado.
De acordo com o Sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o
Cerrado teve 4092 km² desmatados entre o início de janeiro e o fim de julho de 2022, um
aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2021, sendo o maior valor acumulado
nos últimos quatro anos. Na Amazônia, o acumulado de desmatamento foi de 5463 km²,
isso representa um aumento de 7% em relação ao ano passado. Esse valor é o maior
acumulado entre janeiro e julho nos últimos seis anos5.
As atividades antrópicas no meio rural têm sido catastróficas, pois há anos vêm
delapidando a biodiversidade nacional com consequência nas mudanças climáticas do país.
No Brasil, a maior parte das emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa) provém das
mudanças no uso da terra e das florestas (decorrente das ações: fogo, desmatamento e
agropecuária), seguida da atividade agropecuária em si.
Esses fatores se traduzem em importantes ameaças aos meios de subsistência das
pessoas. A agricultura nacional enfrenta desafios ambientais crescentes diante das
mudanças climáticas, como: escassez ou excesso de pluviosidade, crise no abastecimento
hídrico, perda de biodiversidade, compactação dos solos, pragas resistentes e aumento da
3
Disponível em: <https://www.globalforestwatch.org/blog/pt/data-and-research/dados-globais-de-perda-de-
cobertura-de-arvore-2021/>.
4
Disponível em: <https://ipam.org.br/bibliotecas/boletim-cimc-2/>.
5
Informações disponíveis em: <https://www.wwf.org.br>.
incidência de desastres naturais. Em suma, sendo demandante de recursos ambientais no
processo produtivo, a agricultura fica mais vulnerável às variações do clima e a à
degradação antrópica dos biomas (fragmentação ou mesmo destruição completa
de habitats).
A apropriação da terra, seja terra privada ou grilada 6, possibilitou a à elite agrária
assenhorear e explorar recursos fundiários e ambientais de uma porção significativa do
território nacional, na contramão dos preceitos constitucionais com fins a à conservação dos
bens da natureza, como o princípio social da propriedade (SILVA, 2021).
O agronegócio resulta na apropriação privada da riqueza privadamente e na
socialização dos problemas sociais e ambientais com a nação, acentuando os traços
estruturais do subdesenvolvimento (FURTADO, 1992), e da dependência (MARINI, 2001) do
país.
Estamos num cenário adverso para resolução dos problemas ambientais. As
premissas agrárias (concentração da terra e da renda) e o padrão de desenvolvimento do
agronegócio (mercado autorregulado, associado e dependente às grandes empresas e aos
sistemas financeiros em escala global), há várias décadas, são identificados com as
dinâmicas de espoliação dos bens da natureza e de subtração da soberania alimentar – um
arranjo econômico global que transforma terra, água e biodiversidade em lucro privado.
E ainda, os interesses do agronegócio estão na agenda do Legislativo e do
Executivo. Ressalta-se que no primeiro turno da atual eleição, 70% dos deputados
integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) foram reeleitos, e para o senado
a mesma elegeu 40 do total de 81 senadores. Esse poder político pode ser decisivo para a
aprovação das pautas do setor de exaltação da propriedade privada, como mudanças na
regulação ambiental, regularização fundiária, autocontrole da fiscalização agropecuária e
registro de agrotóxicos entre outras.
A degradação dos recursos da natureza se confronta também com à a ação
governamental atual em fim de mandato, uma vez que as políticas públicas ambientais ou
de subsídios ou de incentivos creditícios e fiscais são inadequadas, mal monitoradas e
fiscalizadas, sem nenhum monitoramento-feedback, as quais acabam por estimular ou
mesmo exacerbar a dilapidação ambiental.
De outro ponto de vista, a pauta de exportação de poucas commodities agrícolas,
aportando divisas para a balança comercial do país, trouxe consequências para o
abastecimento alimentar, com redução da oferta de alimentos, reforçando a trágica
realidade em que 33 milhões de pessoas passam fome e mais da metade (59%) da
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O grilo consiste, genericamente, em instrumentos históricos de se apoderar de terras devolutas no território
nacional, por meio da falsificação de títulos e açambarcamento de posse/domínio de outros. O ganho patrimonial
incidiu também sobre o estoque de terra grilada, na contramão dos preceitos constitucionais, mas com
beneplácito do poder público.
população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau (Rede
PENSSAN7). Isto Isso mostra que a insegurança alimentar e a devastação ambiental
tenham têm o mesmo efeito causal: o modo de produção de commodities do agronegócio
dependente e associado ao capital financeiro e a trades de suprimentos agrícolas em
escalas mundiais.
Na contramão, parte do setor do agronegócio tem em conta o problema ambiental
que vivencia, percebe a armadilha que seu modo de produção e de acumulação lhe armou,
o caos ambiental, ou seja, o processo produtivo de commodities sendo demandante de
recursos naturais fica mais vulnerável às variações do clima, à degradação dos recursos
hídricos e a à devastação dos biomas (fragmentação ou mesmo destruição completa
de habitats). Esse setor empresarial, com preocupação ambiental, tem foco na alocação
ótima de recursos ao internalizar as oportunidades de valorações dos bens da natureza ao
reduzir a emissão de carbono e ser eficiente no uso de recursos naturais ,
reconhecendo que os ecossistemas possuem limites e precisam ser conservados. Essa
preocupação então se converte em vantagem competitiva em mercados cada vez mais
exigentes com a sustentabilidade dos biomas nacionais.
Assim sendo, as alternativas a à transição ambiental que aceitam as regras e que
se adaptam às regras desse mercado, que aceitam a lógica de expansão infinita desse
capital, são soluções capazes de iniciar a transição ecológica. Nesse cenário, é possível a
crise ambiental ter solução nos marcos do sistema de acumulação vigente na economia
política do rural?
Haja visto vista que o avanço sobre os bens comuns da natureza é o status quo do
padrão de acumulação do agronegócio associado e dependente do capital global. , percebe-
se relações que os oligopólios das cadeias globais de suprimento de insumos e de
abastecimento de commodities agrícolas, associados com capital financeiro, se
estabelecem com a perpetuação da concentração da riqueza e da renda agrária no território
rural nacional, por um lado, e, por outro, o da terra como reserva de valor, reserva alimentar
e reserva de água. Portanto, hoje, a terra hoje está dentro de uma geopolítica local e
nacional muito mais complexa (SANTOS, 2022).
Temos hoje um território rural reorganizado, configurado, normatizado,
racionalizado de forma global. Uma corrida aos recursos naturais que faz uma pressão
enorme sobre o território rural e que cria uma tensão entre aqueles que querem a terra para
produção de commodities (mineral, agrícolas e energia) e os que querem a
sustentabilidade dos bens da natureza e a reforma agrária.
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Disponível em: <https://pesquisassan.net.br/2o-inquerito-nacional-sobre-inseguranca-alimentar-no-contexto-da-
pandemia-da-covid-19-no-brasil/>.
Há um conflito que se agrava entre um espaço local vivido e um espaço global,
habitado por um processo racionalizado e um conteúdo ideológico de origem distante e que
chegam a cada lugar com os objetos e as normas estabelecidos para servi-los daquelas
formas e normas ao serviço de alguns de fora.
Para Veiga (2007), há pelos menos duas grandes dimensões da globalização
contemporânea que atuam de forma cruzada sobre os destinos das áreas rurais: econômica
e ambiental. Em primeiro lugar, a dimensão econômica, que envolve as cadeias produtivas,
comércio e fluxos financeiros, tende a agir essencialmente em algumas regiões no sentido
de torná-las cada vez mais periféricas, ou marginais, há vastos territórios que se tornam
cada vez mais excluídos das grandes dinâmicas que alimentam o crescimento da economia
global. Simultaneamente, a dimensão ambiental, que envolve tanto as bases das
amenidades naturais, quanto várias fontes de energia alternativas e biodiversidade, agindo
essencialmente no sentido de torná-las cada vez mais valiosas à qualidade da vida, ou ao
bem-estar.
O ambiente econômico do agronegócio encontra-se desestruturado por problemas
ambientais que se manifestam como contendas no formato de novas preposições de
paradigmas. Essas novas problematizações abrem novas fronteiras de padrões e
alternativas em competições com o esquema econômico formal vigente (DELGADO, 2021).
A crise ecológica põe em xeque a questão da superação e de inovação
socioeconômica do agronegócio. As anomalias e os enigmas intrínsecos a à economia do
agronegócio fazendo fazem surgir outros paradigmas, principalmente no campo ecológico,.
pois, essa crise se transforma, devido à mudança climática e a à destruição da
biodiversidade, numa crise de sobrevivência humana.
Considerações finais
Referências
DOWBOR, L. A Era do Capital Improdutivo. São Paulo: Outras Palavras & Autonomia
Literária, 2017.
NETO, J. P.; BRAS, M. Volume Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo:
Editora Cortez, 1990. Disponível em: <https://checkout.cortezeditora.com.br › produto>.
Acesso em: 03 mar. 2020.
VEIGA, J. E. Mudanças nas relações entre espaços rurais e urbanos. In: PIQUET, R. et al.
(Orgs.). Economia e Território no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Garamond,
2007.