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CARACTERIZAÇÃO DE
STAKEHOLDERS DE UMA CADEIA
PRODUTIVA LÁCTEA DO SUDESTE
GOIANO E IDENTIFICAÇÃO DE SUA
ESTRUTURA DE GOVERNANÇA À LUZ
DOS PRESSUPOSTOS DE WILLIAMSOM
Julio Cesar Valandro Soares (UFG)
j-cvs@hotmail.com
LETICIA PEIXOTO ABRANCHES (UFG)
leticia_abranches25@hotmail.com
Rodrigo de Sa Guimaraes (UFG)
rodrigo_rsggo@hotmail.com
Maico Roris Severino (UFG)
maico@dep.ufscar.br
Isa Leite Coelho (UFG)
isaleite92@hotmail.com
1. Introdução
A cadeia produtiva brasileira do leite passou por um conjunto de transformações importantes
a partir dos anos 90, além de apresentar algumas peculiaridades inerentes à sua configuração e
operação. Nesse sentido, pode-se destacar algumas, tais como a carência de coordenação entre
agentes da cadeia (produtores e usinas), a redução do nível de serviço aos produtores por parte
de usinas, com o consequente aumento do custo de produção dos produtores rurais e a
desregulamentação do mercado, após décadas de controle governamental sobre tais preços.
Sublinha-se, também, a emergência de regionais (Mercosul) e a abertura do País ao mercado
exterior (globalização), entre outros. Inevitavelmente, esses elementos referenciados têm
provocado desdobramentos e desafios importantes no âmbito desta cadeia produtiva.
Não obstante, o segmento lácteo da Região Centro-Oeste, e de Goiás em especial, mostrou
indicadores expressivos nas últimas décadas quando se analisa o contexto brasileiro. Frente a
estas considerações, o objetivo deste trabalho é caracterizar stakeholders de uma cadeia
produtiva láctea do sudeste goiano, mais especificamente produtores rurais, e identificar a
estrutura de governança da respectiva cadeia à luz dos pressupostos de Williamsom, bem
como acenar com possíveis desdobramentos da mesma frente ao contexto ambiental em
redesenho.
2. Fundamentos teóricos
2.1 A cadeia produtiva brasileira do leite – considerações gerais e diferentes contextos
O agronegócio vinculado ao leite ocupa lugar de destaque no contexto brasileiro, tanto sob o
ponto de vista econômico, quanto sob o social, desempenhando um papel relevante no
suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para a população. Nesse sentido,
Vilela (2002) revelou que o leite se posicionou entre os seis primeiros produtos mais
importantes da agropecuária brasileira, ficando à frente de produtos tradicionais, como café
beneficiado e arroz.
Em publicação mais recente, Valandro Soares (2009) chama a atenção para a relevância deste
segmento no contexto nacional, afirmando que a produção de leite, em especial, tem grande
importância socioeconômica para o Brasil, haja vista o grande número de famílias rurais
dependentes da atividade, constituindo-se fator de renda e emprego. Aguiar (2009) constatou
que, geograficamente, a produção brasileira se distribui por todo o território. Porém, quase
dois terços da produção ocorrem apenas nas regiões Sul e Sudeste. Entre os principais Estados
produtores, destacava-se, em 2006, o Estado de Minas Gerais, com aproximadamente 28% da
produção nacional, além de Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul (cerca de 10% para cada um
deles).
Martins (1999), por seu turno, sugere dividir o sistema agroindustrial do leite nacional em
dois períodos distintos. No primeiro, entre 1945 e o início de 1991, o governo teve uma
presença marcante por meio de instrumentos como crédito, investimento em pesquisa e
extensão rural e, principalmente, tabelando os preços recebidos pelos produtores e os preços
pagos pelo consumidor. O segundo período corresponde a uma mudança de ambiente
institucional, representado pelo fim do tabelamento somado à abertura econômica, à
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O segundo período referido por Martins (1999), protagonizado por volta do início dos anos 90
e marcado pelo aumento permanente da produção e a busca incessante da eficiência, pode ser
caracterizado a partir da Tabela 2, adaptada de Valandro Soares e Silveira (2011), em que os
autores sistematizam cronologicamente alterações ambientais e institucionais observadas no
Brasil a partir dos anos 90 e respectivos efeitos diretos no setor lácteo do País.
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3. Procedimentos metodológicos
3.1 A coleta dos dados e caracterização e estruturação da amostragem explorada na
pesquisa
A coleta dos dados referente a este trabalho explorou fontes de natureza primária e
secundária. Quanto às fontes secundárias, foram explorados documentos de uma cooperativa
situada no sudeste goiano, a COACAL, além de sites institucionais. Já as fontes primárias
exploradas, as quais subsidiaram a descrição e caracterização do objeto de estudo deste
trabalho (produtores rurais associados à COACAL), se constituíram a partir de entrevistas
semiestruturadas survey supervisionada realizados junto a stakeholders da cadeia produtiva
em discussão, no caso, produtores rurais e colaboradores (funcionários técnicos e direção) da
COACAL, de fevereiro a setembro de 2011.
Ao longo desta etapa da coleta dos dados, foram entrevistados 102 produtores, com a
utilização do instrumento de pesquisa desenvolvido por Valandro Soares (2011).
Considerando a população de 235 produtores referente ao recorte temporal analisado (2002-
2009), assim como o próprio tamanho da amostra (102 entrevistas), pode-se estabelecer o erro
amostral desta pesquisa. Seguindo o procedimento recomendado por Barbetta (2002),
considerando a população de 235 produtores rurais e a amostra de 102, obteve-se uma
margem de erro amostral de 7,4%.
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Censos
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indicadores que revelam que estas atividades ocupam um espaço expressivo no contexto
brasileiro, tendo experimentado um crescimento importante nas últimas décadas. Outra ilação
que se pode depreender das considerações postas refere-se ao caráter socioeconômico que
estas atividades representam no contexto goiano, no sentido de se traduzirem em fontes
importantes e estruturantes em termos de geração de emprego e renda.
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Fornecedores Transporte: COACAL –
de insumos Produção processamento
primária – logística do
aos leite da (leite e
produtores produtores de derivados) e
leite propriedade
rurais de leite rural à repasse do
COACAL excedente
Distribuição
ao varejo: Consumidor
leite Varejo*
final
processado e
derivados
Transporte do
leite Indústrias -
excedente in Centroleite laticínios Varejo**
natura (spot) (leite spot)
à Centroleite
5 Conclusões
Em se tratando do agronegócio do leite no Centro-Oeste, e em especial do estado de Goiás,
constatou-se que este segmento cresceu substancialmente nas últimas décadas, fenômeno que
exacerbou a importância socioeconômica do respectivo segmento. Referente à cadeia
produtiva objeto deste estudo, em particular os elos estudados (produtores e COACAL),
percebe-se um contínuo processo de busca de readequação dos mesmos frente às turbulências
ambientais e institucionais no cenário que operam, muito embora admitam dificuldades de
sustentabilidade neste cenário e que sofreram e sofrem efeitos importantes do mesmo, como a
inviabilização e o respectivo abandono de muitos produtores em relação à atividade de
produção primária de leite.
No que diz respeito a algumas características da amostra de produtores contemplada pela
pesquisa, pode-se destacar que se trata de um grupo com escolaridade relativamente limitada
(quase a metade dos produtores entrevistados possuem primeiro grau incompleto) se
comparada a outros segmentos socioeconômicos. Pode-se dizer que a área das propriedades é
relativamente pequena (46% dos entrevistados possuem até 47 hectares).
Acerca das estruturas de governança presentes na cadeia produtiva, mais especificamente nos
elos produtores rurais-COACAL e tomando por referência o trabalho de Williamson (1996),
verificou-se que se trata de uma estrutura híbrida, com maior proximidade da hierarquia.
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Referências
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Agradecimentos
Este trabalho recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás – FAPEG.
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