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Entenda o que é GHG

Protocol, seus três


escopos e como
evoluíram os
inventários
corporativos
06 Mar 2024 Por Kyla Aiuto, Sarah Huckins e Hannah Momblanco Foto: PeopleImages/iStock

Artigo Programa de Clima

Mais sobre
O início da contabilização dos gases de efeito estufa
GHG Protocol (GEE) – ou a medição de emissões de empresas e
outras entidades – remonta ao !nal da década de
1990, mas o interesse pela prática cresceu de forma
exponencial nos últimos anos com a proliferação de
iniciativas corporativas, voluntárias ou obrigatórias, de
divulgação de impactos climáticos. Em 2022, a
Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos
propôs uma nova norma, exigindo que empresas
públicas divulguem suas emissões. Em 2023, a União
Europeia promulgou a Diretiva de Relatórios de
Sustentabilidade Corporativa (CSRD, na sigla em
inglês), a qual exigirá que empresas em operação na
Europa divulguem suas emissões a partir de 2025.
Também em 2023, o Conselho Internacional de
Normas de Sustentabilidade (ISSB, sigla em inglês)
lançou um padrão voluntário de relatórios de GEE
(IFRS S2) que, quando implementado pelos
governos, exigirá que as empresas divulguem as
emissões resultantes de suas operações e cadeias de
valor em escala global. Quase 400 organizações em
todo o mundo já se comprometeram a utilizar ou
acelerar a adoção dos padrões do Conselho, incluindo
o IFRS S2.

A divulgação de emissões de GEE é uma ferramenta


importante para a responsabilização das empresas e
para a mitigação das mudanças climáticas, além de
um passo fundamental no cumprimento das metas de
redução de emissões. Para evitar os piores impactos
das mudanças no clima, precisamos reduzir as
emissões de GEE quase pela metade até 2030 e, por
!m, atingir o zero líquido. E, para fazer isso, seja em
âmbito nacional, subnacional ou empresarial, o
processo começa com a contabilização de GEE.

A seguir, respondemos as principais perguntas sobre o


assunto, que tem evoluído rapidamente:

O que é a contabilização
de GEE?
A contabilização de gases do efeito estufa (GEE),
também chamada de contabilização de carbono (uma
vez que o dióxido de carbono é o mais comum desses
gases), refere-se à medição e monitoramento das
emissões de GEE por meio de métodos padronizados
e à divulgação dessas informações a partir de
protocolos aprovados. Métodos padronizados
permitem que empresas, governos e indivíduos
meçam as emissões de GEE originadas por suas
atividades, tanto diretamente, a partir de suas
operações, quanto indiretamente, por meio de suas
cadeias de valor e consumidores.

A contabilização das emissões corporativas,


especi!camente, é especialmente importante porque
as empresas são as principais geradoras de emissões.
De acordo com um relatório de 2017 do CDP, um
conjunto de apenas 100 empresas é responsável por
70% das emissões industriais mundiais de GEE.
Como teve início a
contabilização de
emissões corporativas de
GEE?
Muitos eventos e iniciativas contribuíram para o
avanço da contabilização e divulgação de emissões
corporativas ao longo dos últimos 25 anos. Em 1997,
a assinatura do Protocolo de Kyoto marcou o início
de um requisito global de descarbonização, abrindo
caminho para a introdução de metas de redução de
emissões para 37 países e a União Europeia.

Na época, no entanto, não havia diretrizes para que as


empresas também medissem suas emissões. O WRI e
o Conselho Empresarial Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável (WBCSD na sigla em
inglês) lançaram o GHG Protocol em 1998 como
uma parceria entre ONGs e empresas para estabelecer
métodos padronizados de contabilização, capazes de
atender à necessidade de uma metodologia global
comum. Hoje, a estrutura de “três escopos” do GHG
Protocol é a base para a contabilização de emissões
corporativas. GHG é a abreviação para “greenhouse
gas”, ou gases de efeito estufa.

O que são emissões de


Escopo 1, Escopo 2 e
Escopo 3?
Para avaliar seu impacto climático de forma
abrangente, as empresas precisam medir não apenas as
emissões geradas em suas próprias operações, mas
também as resultantes das matérias-primas que
adquirem e do uso dos bens que vendem. Calcular a
totalidade do impacto de uma empresa exige que
sejam avaliadas emissões de três escopos:

O Escopo 1 é referente às emissões diretas de fontes que


a empresa possui ou controla. Essas emissões em geral
acontecem in loco, como na combustão do diesel usado
para dirigir um caminhão ou na queima de carvão para
gerar eletricidade.
O Escopo 2 refere-se às emissões indiretas, provenientes
da compra de eletricidade e processos de vaporização,
aquecimento e resfriamento. Por exemplo, as emissões de
escopo 2 de um usuário de eletricidade seriam as
emissões de escopo 1 da empresa geradora de energia.
E o Escopo 3 é referente às emissões indiretas
provenientes de atividades na origem ou no final da
cadeia de valor, fora do controle da empresa. Por
exemplo, as emissões indiretas que acontecem quando
um usuário de celular carrega o aparelho seriam as
emissões de escopo 3 do final da cadeia de valor da
empresa fabricante do celular. De forma semelhante, as
emissões dos materiais utilizados pela empresa para
fabricar o telefone seriam as emissões de escopo 3 da
origem de sua cadeia de valor.
Visão geral dos escopos do GHG Protocol e das emissões ao longo da cadeia
de valor. GHG Protocol, Padrão de Contabilização e Divulgação de Emissões na
Cadeia de Valor Corporativa (Escopo 3)

Por que a contabilização e


divulgação das emissões
corporativas de GEE é
importante?
Com um método padronizado para medir e divulgar
as emissões, as empresas estão aptas a identi!car os
setores nos quais podem diminuir sua pegada de
carbono e contribuir para os esforços globais de
redução de emissões. Procedimentos precisos e
con!áveis de contabilização também podem aumentar
a con!ança de investidores e outros atores estratégicos
nas práticas sustentáveis e perspectivas futuras de uma
empresa. Além disso, os padrões de contabilização de
emissões também servem de base para iniciativas
voluntárias e obrigatórias de divulgação e de!nição de
metas. Por !m, a contabilização também pode ajudar
as empresas a identi!car riscos e oportunidades
associados às emissões de sua cadeia de valor, envolver
parceiros e atores ao longo da cadeia na gestão dos
gases de efeito estufa e participar dos mercados de
GEE.

Cada vez mais empresas se juntam a iniciativas como


o CDP (anteriormente chamado de Carbon Disclosure
Project ou “projeto de divulgação de carbono”) e
a Science Based Targets initiative (SBTi) – e ambas
usam os padrões de contabilização do GHG Protocol
para monitorar e divulgar os avanços. Em 2022, mais
de 18.700 empresas submeteram divulgações
climáticas por meio do CDP, 42% a mais do que em
2021 e mais de 233% a mais do que na época da
assinatura do Acordo de Paris, em 2015. Também em
2022, 2.151 organizações se comprometeram a
estabelecer metas baseadas na ciência por meio da
SBTi – o número de organizações comprometidas
com essas metas aumentou mais de 2.000% desde a
fundação da SBTi em 2015.

A contabilização e
divulgação de emissões
corporativas de GEE é
obrigatória?
A divulgação é obrigatória para algumas
O que está no
empresas, dependendo de onde operam.
horizonte do GHG
Nos últimos anos, a divulgação de Protocol
emissões de GEE foi incorporada à
Atualmente, o conjunto
legislação de muitos países. de padrões do GHG
Protocol passa por um
Por exemplo, em julho de 2023 a processo de revisões
envolvendo diversas
Comissão Europeia estabeleceu
partes interessadas.
os Padrões Europeus de Relatórios de Entre novembro de
Sustentabilidade (ESRS, na sigla em 2022 e março de 2023,
o público foi convidado
inglês) para todas as grandes empresas
a oferecer feedbacks
listadas na UE sujeitas à Diretiva de que vão embasar as
Relatórios de Sustentabilidade atualizações dos
padrões e orientações
Corporativa (CSRD). Esses padrões corporativas do GHG
fazem referência direta aos padrões do Protocol. O objetivo é
GHG Protocol, e espera-se que garantir que os padrões
sejam efetivos em
alcancem 50 mil empresas em toda a fornecer uma base
União Europeia. contábil rigorosa e
confiável para que as
Outro exemplo é a Lei de empresas possam
medir, planejar e
Responsabilidade de Divulgação acompanhar os
Climática da Califórnia, promulgada em avanços em suas metas
baseadas na ciência e
outubro de 2023. A legislação exige que a
de zero líquido,
Agência de Recursos do Ar da Califórnia alinhadas com o limite
desenvolva e adote regulamentações de 1,5°C. O processo de
revisão das
exigindo que empresas com mais de US$1
contribuições e
bilhão em operação no estado divulguem propostas está em fase
suas emissões de escopo 1 e 2 a partir de de conclusão pelo
secretariado do GHG
2026 e as emissões de escopo 3 a partir de Protocol, que trabalha
2027. no desenvolvimento de
planos de trabalho
Muitos países também têm optado por específicos para
atualizar os padrões.
utilizar estruturas voluntárias para O GHG Protocol
também está no
estabelecer a exigência de divulgações. O
processo de
padrão IFRS S2, por exemplo, tem sido desenvolver novas
adotado em estruturas regulatórias Orientações para o
Setor de Uso da Terra e
na Turquia, na Nigéria e no Brasil,
de Remoções. Essas
exigindo que as empresas divulguem suas orientações são
emissões de escopo 1, 2 e 3 de acordo com baseadas no conjunto
de padrões
o GHG Protocol. Outros governos corporativos e buscam
também já manifestaram a intenção de explicar como as
alinhar suas regulamentações com o IFRS empresas devem
contabilizar e divulgar,
S2, incluindo Nova nos inventários de GEE,
Zelândia, Filipinas, Singapura e Taiwan. as emissões e
remoções de gases de
Estima-se que o padrão IFRS S2 alcance
efeito estufa
entre 100 mil e 130 mil empresas em todo provenientes do
o mundo. manejo de terras,
mudanças no uso da
terra, produtos
biogênicos, tecnologias
de remoção de dióxido
de carbono e demais
atividades relacionadas.
Países e jurisdições onde a divulgação de emissões corporativas é ou
será obrigatória

Fonte: Compilado pelos autores. Dados até fevereiro de 2024.

O que vem pela frente na


contabilização de
emissões corporativas?
Um momento-chave para a contabilização de
emissões de GEE em 2024 será o lançamento da
Norma de Divulgação Climática da Comissão de
Valores Mobiliários dos EUA, que deve ser !nalizada
ainda este ano. A proposta preliminar para a nova
regra, feita em 2022, exige a divulgação corporativa
das emissões de Escopo 3. No entanto, a
Reuters informou recentemente que a Comissão
desistiu da exigência de divulgação das emissões de
escopo 3. Isso é um problema, já que essas emissões
de escopo 3 representam, em média, 75% do total de
emissões. Até o momento, ainda não foi emitida uma
versão atualizada da regra, nem há um cronograma
especí!co para !nalização. Os interessados na
contabilização de GEE estarão de olho em novas
atualizações e desdobramentos referentes à nova
regra.

Artigo publicado originalmente no Insights.

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