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Ativos Ambientais White Paper 2020

Ativos Ambientais
White Paper
2020

RECs, Créditos de Carbono, CBIOs e GAS-REC. Quais são as


diferenças?
Ativos Ambientais White Paper 2020

Índice

Entendendo os ativos ambientais – RECs, Créditos de


Carbono, CBIOs e GAS-REC. Quais são as diferenças?

Introdução 3

Plataforma para Relato de Emissões de GEE 4

O que é um Crédito de Carbono? 5

O que é um REC? 7

O que é GAS-REC? 9

O que é um CBIO? 11

Créditos de Carbono, CBIOs, RECs e GAS-REC são a mesma coisa? 13

Existe risco de dupla contagem ou duplo beneficiário? 16

Referências 21

Autor 22

Tabela de Diferenças entre Crédito de Carbono, CBIO, REC e GAS-REC 23

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Introdução

Muitas iniciativas de caráter regulatório aquisição de ativos ambientais que


e voluntário procuram estimular influenciam o relato das emissões de
aspectos de sustentabilidade em âmbito GEE. O conhecimento de cada
local, regional, nacional e mundial. Um instrumento e seu campo de aplicação é
dos aspectos chave atualmente tratados aspecto crítico para a tomada de decisão.
são as emissões de gases de efeito estufa
Este documento aborda quatro
(GEE). Esse documento tem como
instrumentos largamente utilizados,
objetivo apresentar os instrumentos de
elucidando as diferenças e razões pelas
mercado existentes no Brasil, sua relação
quais cada organização deveria escolher
e eventuais restrições ou recomendações
cada tipo e as falhas de interpretação
de utilização.
mais comuns. Os instrumentos aqui
Organizações que procuram reportar abordados são RECs, Créditos de
suas emissões de GEE e Carbono, CBIOs (Programa RenovaBio)
consequentemente diminuí-las possuem e GAS-REC.
uma variedade de opções à disposição,
Porém, antes de explicar cada
incluindo ações e instrumentos para
instrumento, cabe uma explicação a
redução de suas emissões diretas,
respeito da forma pela qual as
atividades e instrumentos para reduzir
organizações reportam suas emissões de
suas emissões indiretas pelo uso de
GEE, usando padrões
energia, além de ações para incentivar
internacionalmente conhecidos.
fornecedores a reduzir emissões que
poderiam ser alocadas nos produtos e
serviços. Nesse leque de opções, existem
ações internas efetivas de redução,
mudanças na matriz energética e também

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Plataforma para Relato de Emissões de GEE

O Protocolo GHG e o CDP são estacionárias (inclusive gás adquirido),


plataformas que grande parte das tratamento próprio de efluentes,
organizações no mundo utilizam para mudanças no uso da terra e emissões
registrar suas “pegadas de carbono”, por fugitivas são alguns exemplos de
meio de inventário de emissões de GEE. emissões próprias, relatadas no Escopo
Sob as regras do GHG Protocol e CDP, 1. Já no Escopo 2 são relatadas as
cada organização segue uma lista de emissões decorrentes da compra de
guias e procedimentos para medir suas energia elétrica e térmica (incluindo
emissões e relatá-las de forma vapor). Emissões de viagens a negócios,
organizada. Essa forma organizada transporte de funcionários, tratamento de
divide as emissões de GEE em três efluentes por terceiros, transporte e
diferentes escopos ou âmbitos: emissões logística contratada devem ser
de responsabilidade direta da reportadas no Escopo 3.
organização (Escopo 1), emissões
Com base nesse painel organizado de
decorrentes da compra de energia
emissões de gases de efeito estufa, cada
(Escopo 2) e emissões da cadeia de
organização pode escolher estratégias,
fornecedores (Escopo 3).
incluindo aquisição de ativos ambientais,
Emissões decorrentes de frota própria, para diminuir ou compensar (mitigar)
queima de combustível em instalações suas emissões de GEE.
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O que é um Crédito de Carbono?

Um projeto de crédito de carbono é uma carbono normalmente se referenciam


atividade específica ou conjunto de pelo ciclo de vida do projeto alvo,
atividades com o objetivo de reduzir conforme metodologias pré-definidas
emissões de GEE, aumentar o estoque de em âmbito internacional.
carbono ou aumentar as remoções de
Os créditos de carbono são usados pelas
GEE da atmosfera, segundo o GHG
organizações para compensar ou abater
Protocol. Esse projeto precisa
emissões diretas e indiretas associadas às
demonstrar possuir adicionalidade, ou
operações, reportadas pela plataforma do
seja, a redução de emissões de GEE do
GHG Protocol. As emissões “negativas”
projeto deve ser adicional à que ocorreria
decorrentes do projeto de crédito de
na ausência de tal projeto. Além disso, as
carbono podem ser compradas pelas
reduções de emissão devem ser reais,
organizações para abater emissões
permanentes, verificáveis e os créditos
próprias dentro dos Escopos 1, 2 ou 3,
de carbono emitidos após efetiva
em complemento às eventuais ações
verificação. Existe um pacote de
internas da organização para diminuir
procedimentos para que um projeto de
suas emissões em si. O uso de créditos de
crédito de carbono tenha sua
carbono não diminui as emissões da
adicionalidade comprovada e aprovado,
organização em si, mas podem ser
dependendo da metodologia utilizada e
usadas para abater uma determinada
normalmente são envolvidas
quantidade de emissões e reduzir, de
organizações externas de validação e
fato, a pegada de carbono da
verificação. Os projetos de crédito de
organização.

No caso de usinas de produção de


energia elétrica de fonte renovável, é
possível aplicar metodologias para a
geração de créditos de carbono. A base
da alegação seria que cada MWh
injetado pela fonte renovável deslocaria
ou substituiria a mesma quantidade de
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MWh gerado a partir de fontes não


renováveis (como termelétricas movidas
a óleo ou gases fósseis). A unidade de
transação de créditos de carbono,
independente do projeto originário, é
toneladas de dióxido de carbono
equivalente evitadas ou reduzidas.

A compra de créditos de carbono


representa uma ação de redução das
emissões de GEE e pode ser aplicada
em qualquer Escopo definido no GHG
Protocol. Não há necessidade de que a
empresa compradora dos créditos de
carbono consuma qualquer insumo
gerado pelo projeto ou tenha relação
comercial com o projeto de redução de
emissões, inclusive podendo haver
compra em diferentes países.

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O que é um REC?

REC é a sigla “Renewable Energy


Certificate” ou Certificado de Energia
Renovável. RECs são instrumentos
legais usados nos mercados de energia
Dessa maneira, o REC é uma alegação de
para fazer a contabilidade da eletricidade
posse de atributo de renovabilidade da
renovável e alocar suas parcelas a
energia. Como a produção e entrega de
consumidores específicos.
energia no grid conta com fontes
Ele é um instrumento comercializável renováveis e não renováveis e a energia
baseado no mercado que representa o física não pode ser rastreada, o REC é a
direito de propriedade legal do atributo forma mundialmente adotada para que os
de renovabilidade de uma determinada consumidores possam fazer alegações
geração de energia elétrica renovável críveis a respeito do consumo de energia
previamente registrada. Um REC é renovável, sem risco de dupla contagem
criado para cada megawatt-hora de ou duplo beneficiário.
energia renovável que é injetada no grid
Consumidores dentro de um mesmo
de energia elétrica de um determinado
sistema físico ou legal, que não possuem
país ou região. Nos mercados em que
RECs, ficam com toda a carga renovável
existe o instrumento de REC, como no
não alocada mais toda a carga não
Brasil, eletricidade somente pode ser
renovável para fazer suas alegações de
considerada renovável se a organização
consumo, usando o chamado Mix
que faça tal alegação possuir o REC.
Residual. Dessa forma, consumidores
Para uma usina geradora de energia
num mesmo grid de energia com o
emitir RECs não há necessidade de
mesmo consumo podem fazer alegações
qualquer alegação de adicionalidade (ver
diferentes a respeito da renovabilidade
créditos de carbono), dentro de mercados
da energia utilizada e o REC é
voluntários.
diferencial. Dessa forma, numa visão
global de curto prazo, RECs somente
realocam um perfil de emissões presente
num determinado grid: usuários com

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REC reportam emissões das fontes podem ser uma ferramenta flexível para
renováveis alocadas e usuários sem REC que empresas possam alegar emissões
reportam emissões de fontes renováveis baixas ou até zero para seu Escopo 2 –
não alocadas mais emissões de fontes Emissões decorrentes do consumo de
não renováveis. O sistema global, em si, energia elétrica. Embora RECs sejam um
continua com a mesma “pegada de instrumento essencial para a
carbono”. A médio e longo prazo, o uso contabilização de energia renovável, não
contínuo de RECs tende a influenciar importando como a energia elétrica é
que novos investimentos em energia comprada ou usada, RECs podem ser
sejam prioritariamente em fontes adquiridos junto ao contrato de compra
renováveis, diminuindo a “pegada de de energia elétrica ou de forma
carbono” do sistema como um todo. desagregada, desde que a quantidade de
RECs seja compatível com o consumo.
Em termos do relato padronizado dos
inventários de gases de efeito estufa, por A compra de RECs não representa uma
exemplo no GHG Protocol, RECs redução das emissões de Escopo 2 e sim
uma evidência factual de que energia
com baixa ou zero emissão foi adquirida
pela organização. Empresas que não
consomem energia elétrica não podem
adquirir RECs, assim como não se deve
adquirir RECs além do próprio consumo,
pois o REC não possui utilidade para
redução de emissões dos Escopos 1 ou 3,
a não ser que sejam formalmente
incorporadas com reduções de emissões
(ver créditos de carbono). Mais ainda, as
boas práticas indicam que a compra de
RECs por empresas consumidoras de
energia elétrica deveria ser feita dentro
do mesmo sistema interligado ou dentro
do mesmo mercado. Isso cria uma
dificuldade, na prática, que o comércio
de RECs seja internacional.

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O que é GAS-REC?

A Certificação GAS-REC rastreia o misturam. A Certificação GAS-REC e o


biogás proveniente de usinas de sistema de rastreamento asseguram que
produção de biogás pela cadeia de não existe dupla-contagem (nem duplo
fornecimento de forma a provar que o beneficiário) do ponto de produção do
consumidor de gás se apropria da parte biometano até o consumidor final.
renovável do gás consumido. É o
GAS-REC é um esquema de
chamado gás natural renovável,
rastreamento de biogás que permite aos
proveniente de fontes renováveis.
usuários de gás poderem fazer alegações
Cada metro cúbico de biogás produzido a respeito do uso de gás natural
e distribuído por qualquer meio físico renovável. Os certificados GAS-REC
tende a substituir ou deslocar a mesma emitidos podem ser comercializados
unidade de gás natural proveniente de separadamente do gás físico. Os donos
fontes fósseis ou outros combustíveis iniciais do certificado GAS-REC, que
fósseis. A Certificação GAS-REC são as usinas de produção de biogás,
rastreia o biogás gerado e distribuído no podem comercializar a commodity física
Brasil, chegando até o ponto de gás e ao mesmo tempo procurar
consumo. O rastreamento é feito por um compradores para o atributo de
sistema de “book and claim”, ou seja, de renovabilidade do biogás gerado,
entradas e saídas, sem necessariamente conseguindo uma receita extra em
seguir o fluxo físico, já que num função da característica de
gasoduto, por exemplo, o gás natural sustentabilidade do biogás injetado ou
fóssil e o gás natural renovável se transportado.
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A unidade de medida do GAS-REC é GAS-RECs, assim como não se deve


expressa em unidades de energia (BTU adquirir GAS-RECs além do próprio
ou MWh), dado que nem sempre a consumo, pois o GAS-REC não possui
produção e comercialização do gás utilidade para redução de emissões dos
natural renovável é padronizado, como Escopos 2 ou 3. Mais ainda, as boas
no caso de biogás limpo que se práticas indicam que a compra de GAS-
transforma em biometano (que é RECs por empresas consumidoras de gás
padronizado dentro das regras da ANP). deveria ser feita dentro de um mesmo
sistema de transporte (que entrega mix
A compra de GAS-RECs não representa
de gás fóssil e gás renovável) ou dentro
uma redução das emissões de Escopo 1
de um mesmo mercado. Isso dificulta, na
(combustão estacionária ou móvel) e sim
prática, que o comércio de GAS-RECs
uma evidência factual de que biogás com
seja internacional (a não ser no caso de
baixa emissão foi adquirido pela
gasodutos internacionais).
organização. Empresas que não
consomem gás não podem adquirir

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O que é um CBIO?

O CBIO é um crédito de estufa na produção, comercialização e


descarbonização criado a partir da uso de biocombustíveis.
instituição do Programa RenovaBio no
O principal instrumento do RenovaBio é
Brasil. RenovaBio é a Política Nacional
o estabelecimento de metas nacionais
de Biocombustíveis, instituída pela Lei
anuais de descarbonização para o setor
13576/2017 com os objetivos de
de combustíveis, de forma a incentivar o
fornecer uma importante contribuição
aumento da produção e da participação
para o cumprimento dos compromissos
de biocombustíveis na matriz energética
determinados pelo Brasil no âmbito do
de transportes do país. Por meio da
Acordo de Paris, promover a adequada
certificação da produção de
expansão dos biocombustíveis na matriz
biocombustíveis são atribuídas notas
energética, com ênfase na regularidade
diferentes para cada produtor e
do abastecimento de combustíveis e
importador de biocombustível, em valor
assegurar previsibilidade para o mercado
inversamente proporcional à intensidade
de combustíveis, induzindo ganhos de
de carbono do biocombustível
eficiência energética e de redução de
produzido. A nota refletirá exatamente a
emissões de gases causadores do efeito
contribuição individual de cada agente
produtor para a mitigação de uma
quantidade específica de gases de efeito
estufa em relação ao seu substituto fóssil
(em termos de toneladas de
CO² equivalente).

As distribuidoras de combustíveis
devem comprovar o cumprimento de
metas individuais compulsórias por meio
da compra de Créditos de
Descarbonização (CBIO), ativo
financeiro negociável em bolsa, derivado
da certificação do processo produtivo de
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biocombustíveis com base nos plataforma do GHG Protocol. As


respectivos níveis de eficiência emissões “negativas” decorrentes de
alcançados em relação a suas emissões. cada CBIO podem ser compradas pelas
organizações para abater emissões
Os produtores e importadores de
próprias dentro dos Escopos 1, 2 ou 3,
biocombustíveis que aderirem
em complemento às eventuais ações
voluntariamente ao programa poderão, a
internas da organização para diminuir
partir dessa produção certificada,
suas emissões em si.
comercializar esses créditos. Os
distribuidores de combustíveis No caso de usinas de produção de biogás,
cumprirão a meta individual por exemplo, a parcela que é tratada para
compulsória anual ao comprovar a chegar ao padrão nacional de biometano
propriedade dos CBIOs em sua carteira. pode ser alvo da obtenção de CBIOS. A
unidade de transação de CBIOS,
A metodologia utilizada para obtenção
independente do tipo de combustível, é
do CBIO se baseia na análise das
padronizada em termos de toneladas de
emissões de GEE do ciclo de vida de
dióxido de carbono equivalente evitadas
cada biocombustível e sua comparação
ou reduzidas.
com as emissões do combustível fóssil
que representa a prática normal de A compra de CBIOS, fora do âmbito das
mercado (“business as usual”). É um distribuidoras de combustíveis,
tipo de metodologia aceitável para a representa uma ação voluntária de
emissão de um tipo de crédito de redução das emissões de GEE e pode ser
carbono. Existe um componente aplicada em qualquer Escopo definido
regulado do mercado de CBIOs, que são no GHG Protocol. Não há necessidade
as distribuidoras de combustíveis que de que a empresa compradora dos
devem adquiri-los em quantidade CBIOS consuma qualquer combustível
suficiente para dar sustentação às alvo da certificação do RenovaBio ou
políticas nacionais de descarbonização tenha relação comercial com a
de matriz de combustíveis. Porém, em distribuidora ou usina responsável pela
essência, por se tratarem de créditos de certificação RenovaBio, inclusive
carbono, podem ser usados por podendo haver compra em diferentes
quaisquer organizações para compensar países (desde que o país destino
ou abater emissões diretas e indiretas reconheça o CBIO como um instrumento
associadas às operações, reportadas pela de crédito de carbono válido).

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Créditos de Carbono, CBIOs, RECs e GAS-REC


são a mesma coisa?

Os ativos ambientais acima possuem gerador do ativo ambiental. Como


diferentes definições e objetivos e podem ser usados por qualquer
definitivamente não são a mesma coisa. organização, são ativos medidos em
“moeda padrão”, ou seja, toneladas de
Todos os instrumentos podem ajudar
CO2 equivalente evitadas. Ambos ativos
organizações a baixar suas emissões de
representam reduções de emissão que
GEE e suas respectivas pegadas de
podem ser usados para abater
carbono, porém devem ser vistos como
(compensar) emissões reais nos Escopos
instrumentos voltados a diferentes
1, 2 ou 3 dentro das regras do GHG
objetivos, não sendo totalmente
Protocol.
intercambiáveis.
Já RECs e GAS-RECs podem ser
De um certo modo, créditos de carbono
considerados ativos semelhantes entre si,
e CBIOS podem ser considerados ativos
porém significativamente diferentes de
semelhantes, pois representam ativos de
Créditos de Carbono e CBIOS. Ambos
emissões negativas (ou sejam, redução
instrumentos são ferramentas de
de emissões) e não estão
rastreamento virtual de consumo de bens
necessariamente ligados à evidência
físicos, cuja rastreabilidade factual é
factual do bem físico gerador (que é um
impossível ou impraticável. RECs e
projeto). Esses instrumentos podem ser
GAS-RECs não permitem às
adquiridos por organizações de qualquer
organizações abater emissões e sim
tipo, mesmo que não tenham relação
declarar consumo de bens físicos
alguma com o bem físico primário
rastreados que possuem intrinsicamente
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emissões de GEE menores que os outros


bens físicos usados para o mesmo
objetivo. A compra desses instrumentos
permite que as organizações se
apropriem da parte renovável dos bens
físicos misturados, deixando para os
demais a parte não alocada. Em si, não
há redução de emissões no todo, mas sim
uma simples equação de alocação das
emissões existentes. Diferente dos
créditos de carbono ou CBIOs, que
podem ser adquiridos por qualquer
organização, os instrumentos RECs e
GAS-REC somente podem ser
adquiridos por organizações que usam os
bens físicos ligados a esses ativos, no
caso, energia elétrica do grid e gás
respectivamente. Em termos de relato de
emissões, os ativos REC e GAS-REC
somente podem ser usados para permitir
declaração de emissões nos Escopos 2 e
1 do GHG Protocol respectivamente.

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Existe risco de dupla contagem ou duplo


beneficiário?

Essa é uma questão controversa em certificar sua unidade para emissão de


âmbito mundial. REC e GAS-REC são RECs e vender esses atributos de MWh
ferramentas para promoção e renováveis para outra organização, na
rastreamento de energia renovável, pois moeda dos RECs que é MWh. Mais
estão mais ligados ao meio físico ainda, a energia elétrica física em si
transacionado (energia elétrica e biogás poderia ser vendida para um terceiro
respectivamente) no presente e são base consumidor, que não poderia alegar
factual para alegação de consumo de consumo de energia renovável. Essa é a
bens renováveis, sem inferências futuras prática atual em vários mercados no
ou outras hipóteses. Já créditos de mundo. Porém, existem alguns mercados
carbono e CBIOs representam uma ação ou regulamentos ligados aos RECs nos
que previne a emissão (ou causa o quais não é permitido que uma usina de
sequestro de) uma tonelada de CO2 geração de energia elétrica emita
equivalente. Enquanto o REC e GAS- Créditos de Carbono para os MWh que
REC podem ser medidos factualmente, o foram utilizados para emissão de RECs,
crédito de carbono e CBIO não podem, a não ser que esses Créditos de Carbono
pois são resultado de comparação sejam emitidos para o mesmo comprador
hipotética com alguma linha de base, dos RECs. Dessa forma, a emissão de
além da questão subjetiva da REC impediria a emissão de Créditos de
adicionalidade. Carbono, considerando o mesmo MWh e
compradores diferentes.
Sendo assim, uma usina de energia
elétrica poderia submeter um projeto de Por exemplo, considere uma usina de
crédito de carbono e, caso aprovado, energia elétrica elegível para emissão de
solicitar emissão desse ativo ambiental RECs e que possui um projeto de crédito
para vender a qualquer organização no de carbono registrado formalmente. Essa
mundo, como toneladas de CO2 evitadas usina gera, por exemplo, 10.000 MWh
ou negativas ligadas a cada MWh de energia renovável num determinado
gerado. Ao mesmo tempo, poderia mês. Caso a usina decida usar esses
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10.000 MWh para emissão de RECs e emissões, para cada certificado emitido,
Créditos de Carbono, ele deveria se o vendedor (usina) deseja ou não
escolher cada MWh para emissão de manter os direitos sobre eventuais
REC ou para emissão de Crédito de reduções de emissão, cabendo ao
Carbono (considerando clientes comprador fazer essa específica
diferentes para cada ativo ambiental). exigência ou não.
Caso decida emitir uma quantidade “X”
Vamos agora analisar o caso de uma
de RECs, sobraria para outros
usina de etanol que vende esse
compradores a quantia equivalente a
combustível para a distribuidora A. Essa
(10.000 – X) para emissão de créditos de
usina obteve certificação RenovaBio e
carbono. Esse é o caso do I-REC
possui autorização para emissão de
(International REC Standard), que
CBIOs. Como já explicado, os CBIOs
passou a adotar essa limitação na
podem ser usados no mercado regulado
emissão dos I-RECs a partir de 2020.
para distribuidoras de combustível e no
Em linha com o conceito acima, em mercado em geral como ferramenta de
mercados nos quais é livre a emissão de compensação de emissões de GEE
RECs e Créditos de Carbono para o (reduções de emissão). Vamos supor que
mesmo MWh, algumas organizações a usina vendeu 100% de seus CBIOs
compradoras de RECs solicitam que não para uma distribuidora B, mas continua a
sejam emitidos créditos de carbono para comercializar o etanol físico com a
os mesmos MWh que foram vendidos distribuidora A, que coloca o produto no
como RECs, em função de políticas mercado. O produto se encontra
internas da organização compradora. disponível para venda no posto de
Essas organizações procuram garantir combustível. Uma indústria que possui
com isso que as eventuais reduções de frota de veículos próprios compra o
emissão geradas a partir dos MWh etanol e usa em sua frota flex. Ao final
vendidos como RECs não sejam do ano, essa indústria vai reportar suas
vendidos para outras organizações, emissões de GEE, de acordo com as
valorizando aqueles RECs adquiridos diretrizes do GHG Protocol. Dessa
por ela. Como essa pode ser uma política forma, no Escopo 1 a empresa vai
interna de cada comprador, os emissores reportar a compra de determinada
locais de REC no mundo inteiro indicam, quantidade de litros de etanol e reportar
na falta de regras limitantes das suas emissões de acordo com o fator de

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emissão do etanol. Para esse Apesar disso, especificamente para o


consumidor, ele está relatando um fato mercado de gás, algumas organizações
de que consumiu determinada que adquirem GAS-REC podem solicitar
quantidade de etanol num determinado que não sejam emitidos CBIOs para os
tempo, sem que o fato de a usina possuir mesmos volumes de biometano
ou não certificação RenovaBio altere sua comercializados como GAS-REC, em
decisão de relato. Como a indústria função de políticas internas da
possui a nota fiscal física do etanol, ela organização. Essas organizações
consegue reportar de forma crível seu procuram garantir com isso que as
consumo e consequente emissão de GEE eventuais reduções de emissão geradas a
do etanol. Não cabe à indústria relatar partir dos metros cúbicos ou BTU de
redução de emissão por ter consumido biometano vendidos como GAS-REC
etanol em vez de gasolina na sua frota não sejam vendidos para outras
“flex” e sim somente o fato de que organizações, valorizando aqueles GAS-
consumiu etanol no período de tempo. RECs adquiridos por ela. Como essa é
Apesar de o combustível ter sido alvo de uma política interna de cada comprador,
certificação RenovaBio com emissão de os emissores locais de GAS-REC no
CBIOs, não há que se alegar qualquer Brasil indicam, para cada certificado
risco de dupla contagem nesse emitido, se o comprador deseja ou não
procedimento. manter os direitos sobre eventuais
emissões de CBIOs, cabendo ao

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comprador fazer essa específica ausência de qualquer rastreabilidade, a


exigência ou não. empresa deverá usar o fator de emissão
da mistura adquirida (se tiver acesso a
Para encerrar esse artigo, vamos agora
essa informação via distribuidora) ou por
analisar o caso de uma usina de
conservadorismo deveria reportar como
biometano que vende esse combustível
se o consumo fosse de 100% de gás
para uma distribuidora de gás, injetando
natural fóssil. Caso a empresa possua
biometano padrão ANP diretamente no
GAS-REC em seu poder em quantidade
gasoduto. Essa usina possui certificação
compatível com seu consumo total, ela
RenovaBio e autorização para emissão
poderia alegar o consumo de até 100%
de CBIOs. Como já explicado, os CBIOs
de biometano e reportar emissões mais
podem ser usados no mercado regulado
baixas que as do gás natural. Essa
para distribuidoras de combustível e no
alocação não gera uma redução de
mercado em geral como ferramenta de
emissões no todo, mas somente uma
compensação de emissões de GEE
realocação das emissões de todos os
(reduções de emissão). Vamos supor que
usuários daquela distribuidora
a usina vendeu 100% de seus CBIOs
(gasoduto). Apesar de o biometano ter
para uma distribuidora B, mas continua a
sido alvo de geração de CBIOs, a
comercializar o biometano físico com a
indústria na ponta não está se
distribuidora A, que coloca o produto no
apropriando das reduções de emissão e
mercado por meio de um gasoduto, cujo
sim somente alegando o fato presente de
maior parte é de gás natural fóssil. O
que está consumindo um produto
produto “gás natural fóssil mais
rastreado de um mix do gasoduto de
biometano” se encontra disponível na
impossível rastreabilidade física. Não há
ponta dos gasodutos para uso industrial.
qualquer risco de dupla contagem, pois
Uma indústria que possui uma caldeira
enquanto a distribuidora B se apropriou
compra o gás e utiliza-o no seu processo
das reduções de emissão decorrentes do
industrial. No final do ano, essa indústria
biometano, a indústria se apropriou
decide reportar suas emissões de GEE,
fisicamente do biometano injetado na
de acordo com as diretrizes do GHG
rede e pode reportar emissões daquele
Protocol e CDP. Dessa forma, no Escopo
biometano, e não do gás misturado no
1 a empresa vai reportar a compra de
gasoduto.
determinada quantidade de metros
cúbicos ou BTU (MWh) de gás. Na

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Ainda no caso da usina de biogás, motivo para dupla contagem, mas a


descrito acima, haveria de fato dupla emissão de CBIOs e Créditos de
contagem se a usina obtivesse Carbono para o mesmo volume
certificação RenovaBio e certificação produzido representaria dupla contagem.
para emissão de Créditos de Carbono, Uma usina, nesse caso, deveria optar
uma vez que ambos ativos representam pela emissão de CBIO ou Crédito de
reduções de emissão de GEE sobre uma Carbono para cada unidade de biogás
mesma base de operação. A simples produzido.
obtenção da dupla certificação não seria

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Ativos Ambientais White Paper 2020

Referências:

http:// www.ghgprotocol.org

http://www.cdp.net

http://www.anp.gov.br/producao-de-biocombustiveis/renovabio

https://www.irecstandard.org/

https://institutototum.com.br/index.php/servicos/273-i-rec

https://institutototum.com.br/index.php/servicos/412-certificacao-gas-rec

https://www.epa.gov/sites/production/files/2018-
03/documents/gpp_guide_recs_offsets.pdf

https://resource-solutions.org/wp-content/uploads/2015/08/RECsOffsetsQA.pdf

http://greengastrading.co.uk/biomethane-certification-scheme/

http://www.anp.gov.br/producao-de-biocombustiveis/renovabio

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Autor:

Fernando Giachini Lopes

Engenheiro de Produção e Mestre em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da


USP, Diretor do Instituto Totum. O Instituto Totum é um Organismo de Certificação
acreditado pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro nos escopos de Qualidade,
Verificação de Inventários de Gases de Efeito Estufa e Certificação de Pessoas, além de
forma inspetora acreditada pela ANP para RenovaBio. Atua desde 2004 na concepção e
gerenciamento de Programas de Certificação voltados para produtos, serviços e pessoas.
Atualmente, gerencia mais de vinte programas de autorregulação no Brasil nos mais
variados segmentos, como alimentos, segurança, energia, financeiro, dentre outros. No
escopo de energia, é o Emissor Local do I-REC Standard no Brasil, responsável pelo
Programa Brasileiro de Certificação de Energia Renovável (REC Brazil) e pela
Certificação GAS-REC.

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Ativos Ambientais White Paper 2020

Tabela de Diferenças entre Crédito de Carbono, CBIO, REC e GAS-REC

Aspecto Crédito de Carbono CBIO REC GAS-REC


Regulação Voluntário Regulado pela ANP Voluntário Voluntário
Origem Projeto que evita ou reduz Projeto que produz Geração de energia Geração de biogás ou
emissões de GEE. biocombustível. elétrica renovável. biometano.
Objetivo Representa redução de Representa redução de Evidência factual de que Evidência factual de que
emissões de GEE em emissões de GEE na energia elétrica renovável biogás ou biometano foi
qualquer tipo de atividade produção de foi gerada e consumida. gerado e consumido.
elegível. biocombustíveis.
Unidade de Toneladas de CO2 Toneladas de CO2 MWh. BTU, MWh ou m3.
Medida equivalente. equivalente.
Relação com Permite redução de Permite redução de Permite alegação de uso Permite alegação de uso
GHG Protocol emissões na forma de emissões na forma de de fonte renovável de de gás natural renovável
compensação nos Escopos compensação nos Escopos energia elétrica somente somente no Escopo 1.
1, 2 ou 3. Não muda as 1, 2 ou 3. Não muda as no Escopo 2. Não pode Não pode ser usado com
emissões em si da emissões em si da ser usado com objetivo de objetivo de reduzir
organização. organização. reduzir emissões ou emissões ou compensar
compensar emissões. emissões.
Relação com Organizações podem alegar Organizações podem Organizações podem Organizações podem
Declaração redução de emissões fora alegar redução de alegar uso de fontes alegar uso de gás natural
Ambientais das do ambiente da empresa. emissões fora do ambiente renováveis de renovável nas suas
Organizações da empresa. eletricidade nas suas operações.
operações.
Testes de Requeridos para provar que Não requerido, bastando Não requerido. O registro Não requerido. O
Adicionalidade reduções de emissão estão seguir as regras do da usina, assim como a registro da usina, assim
além da prática comum. RenovaBio. Regulação emissão do REC é como a emissão do
Geralmente necessitam de exige procedimento de simples e feito por GAS-REC é simples e
atividades de validação e certificação envolvendo Emissor Local. feito por Emissor Local.
verificação executadas por firma inspetora externa.
terceira parte independente.
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Aspecto Crédito de Carbono CBIO REC GAS-REC


Importação e Permitida, dado que a Depende da regulação. Somente permitida para sistemas Pode ser restrito a um
Exportação do redução do efeito estufa conectados ou para um mesmo mesmo gasoduto ou a
Ativo Ambiental tem abrangência mercado regulado. um mesmo país.
mundial.
Perenidade Normalmente os Enquanto existir Uma usina de energia elétrica Uma usina de biogás
projetos que geram regulação. pode emitir RECs enquanto pode gerar GAS-REC
Créditos de Carbono estiver operando. enquanto estiver
permitem a emissão do operando.
ativo por tempo
limitado (entre 7 até 21
anos).
Relação com Não há. Somente no aspecto Somente podem adquirir RECs Somente podem adquirir
Bem Portador regulado para organizações que consumam GAS-REC organizações
distribuidoras. Para energia elétrica dentro do mesmo que consumam gás
mercado em geral não grid ou mercado regulado. dentro de um mesmo
há. Geralmente se espera que seja gasoduto ou país.
pareado o ano de consumo com Geralmente se espera
o ano de geração da energia alvo que seja pareado o ano
do REC. de consumo do
biometano com o ano de
produção alvo do GAS-
REC.
Risco de dupla Somente em relação ao Somente em relação ao Não há, caso sejam usados Não há, caso sejam
contagem CBIO. Crédito de Carbono. padrões de emissão usados padrões de
transparentes a respeito do emissão transparentes a
direito de emissão de créditos de respeito do direito de
carbono por parte do vendedor. emissão de créditos de
Porém, cada vez mais existem carbono ou CBIOS por
limitações para emissão de RECs parte do vendedor,
e Créditos de Carbono para o cabendo ao comprador
mesmo MWh (considerando aceitar ou não a
compradores diferentes). condição.

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Aspecto Crédito de Carbono CBIO REC GAS-REC


Transparência a Não previsto. Não previsto. Previsto no instrumento a citação Previsto no instrumento
respeito de de retenção ou não de direitos de a citação de retenção ou
eventuais ativos emissão de créditos de carbono. não de direitos de
ambientais Em alguns mercados ocorre emissão de créditos de
concorrentes exigência de que não sejam carbono ou CBIOs.
emitidos créditos de carbono
para os mesmos MWh emitidos
como RECs para outro
comprador diferente do REC.
Limitações Uma redução de CBIO deve ser usado no Geralmente há necessidade de Geralmente há
temporais para emissão certificada em período de parear o ano de geração necessidade de parear o
uso do ativo geral pode ser usada a demonstração de (produção de energia) do REC ano de geração
qualquer tempo para compliance legal no com o ano de alegação de (produção de biogás) do
alegação de abatimento mercado regulado. Para consumo. GAS-REC com o ano de
de emissões. uso voluntário não consumo.
parece haver limitação
de uso quanto ao
período.
Usuários Qualquer organização No âmbito regulado, Qualquer organização Qualquer organização
Potenciais no mundo interessada distribuidoras de interessada em reportar consumo que consume gás em seu
em abater emissões de combustíveis no Brasil de energia renovável, processo e está
GEE e reportá-las nas que precisam atender às especialmente aquelas que interessada em reportar
plataformas GHG metas da ANP. No reportam desempenho ambiental consumo de gás natural
Protocol, CDP, ISE âmbito voluntário, idem no RE 100, Certificação Leed, renovável,
(B3) e relatórios de à coluna do Crédito de CDP, GHG Protocol, ISE (B3), especialmente aquelas
sustentabilidade, Carbono. desde que esteja conectada aio que reportam
independente da origem mesmo grid elétrico (ou mesmo desempenho ambiental
do crédito de carbono. mercado) onde foi produzida a no CDP, GHG Protocol,
energia do REC. ISE (B3), desde que
esteja no mesmo país ou
ligada ao sistema de
transporte de gás.

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