Você está na página 1de 359

Teologia Pastoral

Índice

Índice.........................................................................................................................................................3
1. Ministério Integral do Pastor...............................................................................................................6
2. A Igreja................................................................................................................................................12
3. A Propagação.....................................................................................................................................15
4. A Colheita............................................................................................................................................19
5. Sustento Financeiro...........................................................................................................................24
6. Organização Nacional........................................................................................................................27
Bibliografia..............................................................................................................................................33

Introdução...............................................................................................................................................36
1. Psicologia............................................................................................................................................37
2. A Psicologia e os Fatos Psíquicos...................................................................................................42
3 Relação da Psicologia Com a Fisiologia..........................................................................................43
4. Inteligência..........................................................................................................................................51
5 Psicologia do Desenvolvimento........................................................................................................53
6 Psicologia da Personalidade..............................................................................................................57
7. Psicologia Educacional.....................................................................................................................61
Bibliografia..............................................................................................................................................75

Introdução...............................................................................................................................................78
1. Teologia Sistemática..........................................................................................................................79
2. A Existência de Deus.........................................................................................................................80
3. Definições de Deus............................................................................................................................81
4. A Revelação de Deus.........................................................................................................................84
5. A Natureza de Deus...........................................................................................................................87
6. A Trindade Divina...............................................................................................................................96
7. Textos Trinitários no Novo Testamento..........................................................................................97
8. O Deus Criador..................................................................................................................................98
Bibliografia............................................................................................................................................102

1. Introdução a Sociologia...................................................................................................................105
2. Definição da Sociologia...................................................................................................................107
3. O Que Dizem os Fundadores..........................................................................................................108
4. O Que os Sociólogos Fazem...........................................................................................................111
5. Os Manuais de Sociologia...............................................................................................................112
6. A Sociologia Como Ciência.............................................................................................................113
7. História e Sociologia........................................................................................................................114
8. Doutrina Social.................................................................................................................................115
9. A Sociedade Humana.......................................................................................................................116
10. Sociologia e Ideologia..................................................................................................................117
11. Relação Social................................................................................................................................118
12. Grupos Secundários......................................................................................................................119
13. Mobilidade Vertical.........................................................................................................................120
14. Teoria Funcionalista......................................................................................................................121
15. Instituições Sociais........................................................................................................................122
16. Instituições Universais..................................................................................................................123
17. Religião e Organização Social......................................................................................................124
18. Processos Sociais..........................................................................................................................125
19. Acomodação e Assimilação..........................................................................................................126
20. Competição e Conflito...................................................................................................................127
21 Proximidade Física..........................................................................................................................128
22. Mudança Social.............................................................................................................................129
23. Defasagem Cultural........................................................................................................................130
24. Anomia............................................................................................................................................131
25. Educação Escolar..........................................................................................................................132

3
26. Estilo de Vida..................................................................................................................................133
27. Os Sociólogos Definem Seit: Campo de Competência..............................................................134
28. A Verificação de Preferência da Elite..........................................................................................136
29. Os Campos de Interesses Sociológicos.....................................................................................137
30. O Que a Razão Sugere...................................................................................................................138
31. A Sociologia Como Estudo da Sociedade...................................................................................139
32. A Sociologia, Como o Estudo de Instituições.............................................................................140
33. A Sociologia, Como Estudo de Relações Sociais......................................................................141
34. A Perspectiva Sociológica............................................................................................................142
35. Sociologia e Ciências Afins..........................................................................................................144
36. Disciplinas, Fronteiras e Problemas............................................................................................148
Bibliografia............................................................................................................................................149

1. Introdução a Filosofia......................................................................................................................152
2. A Filosofia.........................................................................................................................................153
3. Conceito Medieval............................................................................................................................155
4. Conceito Moderno............................................................................................................................156
Revisão..................................................................................................................................................158
5. Natureza da Filosofia.......................................................................................................................159
6. Natureza da Filosofia.......................................................................................................................160
7. Objeto da Filosofia...........................................................................................................................161
Revisão..................................................................................................................................................162
8. Método da Filosofia..........................................................................................................................163
9. Evolução do Método Filosófico......................................................................................................164
10. Natureza do Método Filosófico.....................................................................................................166
11. Condições da Investigação Filosófica.........................................................................................167
Revisão..................................................................................................................................................168
12. Divisão da Filosofia........................................................................................................................169
13. Filosofia Especulativa....................................................................................................................170
14. Filosofia Prática..............................................................................................................................171
15. Solução do Problema Filosófico..................................................................................................172
16. Conclusão.......................................................................................................................................176
Revisão..................................................................................................................................................177
Bibliografia............................................................................................................................................178

1. História da Filosofia.........................................................................................................................181
2. A Filosofia é Grega...........................................................................................................................182
3. O Legado da Filosofia Grega Para o Ocidente Europeu..............................................................184
4. Ouvindo a Voz dos Poetas..............................................................................................................186
5. O Que Perguntavam os Primeiros Filósofos?...............................................................................188
6. O Nascimento da Filosofia..............................................................................................................189
7. Nem Oriental, Nem Milagre..............................................................................................................190
8. Filosofia e Mito.................................................................................................................................191
Revisão Geral.......................................................................................................................................193
8. Condições Históricas Para o Surgimento da Filosofia................................................................194
9. Principais Características da Filosofia Nascente.........................................................................195
10. Campos de Investigação da Filosofia..........................................................................................196
11. Filosofia Grega...............................................................................................................................197
12. Período Socrático ou Antropológico...........................................................................................198
13. O Mito da Caverna..........................................................................................................................201
14. Os Campos do Conhecimento Filosófico....................................................................................203
15. Ciências Teóricas, Contemplativas ou Teóricas........................................................................204
16. Período Holonístico.......................................................................................................................205
17. Principais Períodos da História da Filosofia a Filosofia na História........................................206
18. Os Principais Períodos da Filosofia.............................................................................................207
19. Filosofia Medieval (do Século VIII ao Século XIV)......................................................................208
20. Filosofia da Renascença do Século XIV ao Século XVI.............................................................209

4
21. Filosofia Moderna do Século XVI a Meados do Século XVIII.....................................................210
22. Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (Meados do Século XVIII ao Começo do Século
XIX).........................................................................................................................................................211
23. Filosofia Contemporânea..............................................................................................................212
24. As Ciências e as Técnicas.............................................................................................................213
25. As Utopias Revolucionárias..........................................................................................................214
26. A Cultura.........................................................................................................................................215
27. O Fim da Filosofia..........................................................................................................................216
28. A Maioria da Razão........................................................................................................................217
29. Infinito e Finito................................................................................................................................218
Revisão Geral.......................................................................................................................................221
Bibliografia............................................................................................................................................222

1. Religiões comparadas.....................................................................................................................225
2. Gnosticismo......................................................................................................................................226
3. Docetismo.........................................................................................................................................228
4. Marcionismo.....................................................................................................................................230
5. Arianismo..........................................................................................................................................232
6. Pelagianismo....................................................................................................................................233
7. Apolinarismo....................................................................................................................................235
Revisão Geral.......................................................................................................................................237
8. Testemunhas de Jeová....................................................................................................................239
9. Hinduísmo.........................................................................................................................................240
10. Taoísmo..........................................................................................................................................243
11. Confucionismo...............................................................................................................................244
12. Budismo..........................................................................................................................................247
Revisão Geral.......................................................................................................................................249
13. Islamismo........................................................................................................................................251
14. Adventismo.....................................................................................................................................253
15.Mormonismo....................................................................................................................................255
16. Espiritismo......................................................................................................................................258
Glossário...............................................................................................................................................263
Bibliografia............................................................................................................................................264

Introdução.............................................................................................................................................266
2 Como Fazer Exegese........................................................................................................................268
3 O Procedimento Exegético...............................................................................................................269
4 O Uso de Instrumentos....................................................................................................................270
5 Metodologia......................................................................................................................................272
6. Origem do Método Histórico Crítico..............................................................................................273
7 Crítica Textual...................................................................................................................................275
8. Metodologia da Crítica Textual....................................................................................................280
9. Análise Textual.................................................................................................................................283
10. Dúvidas e Contradições de Alguns Textos Sagrados................................................................287
11. Língua do Novo Testamento.........................................................................................................289
Bibliografia............................................................................................................................................296

Introdução.............................................................................................................................................298
Verbo Tempo Voz Modo Pessoa Número Raiz Significado.............................................................302
Bibliografia Básica...............................................................................................................................320

Introdução Linguística do Aramaico..................................................................................................322


Os Dez Mandamentos..........................................................................................................................325
A Origem das Primeiras Formas Escritas.........................................................................................332
Provão de Bacharel..............................................................................................................................358

5
Lição 1
1. Ministério Integral do Pastor

O ministério pastoral pode ser descrito de muitas maneiras, e exercê-lo significa realizar
trabalhos diversificados. Ser pastor é uma coisa, e exercer o pastorado é realizar atividades variadas. O
pastor deve se projetar para além do marco histórico de sua chamada. Ele avança rumo à sua
realização profissional e vocacional, que o coloca na posição de o profissional mais solicitado da
sociedade contemporânea.

O Pastor como pregador. A pregação continua sendo uma das maiores exigências do
ministério pastoral. Mas é necessário salientar que as igrejas não esperam que o pastor seja grande
pregador, orador excelente nem expositor excepcional, mas simplesmente pregador. No exercício da
pregação, o pastor é o profeta de Deus, aquele que representa o seu Senhor diante do povo, e o povo
diante do seu Senhor. Seu lugar no púlpito não pode ser substituído por nenhum outro pregador. Por
ser o dirigente da igreja e aquele que conhece as necessidades do rebanho, ele mesmo deve servir o
alimento que as ovelhas necessitam.
O pastor que se descuida do ministério da pregação ou que não gosta de pregar, exercerá um
ministério pastoral mudo em sua igreja. Todavia, o pastor não deve usar o tempo de meia hora ou mais
disponível à pregação, para ralhar com os membros ou insulta-los. Deve Ter cuidado para que a
proclamação do evangelho não se converta em uma oportunidade para ele tratar de problemas
pessoais. A pregação deve ser o bálsamo que cura os ouvintes. Portanto, deve ser terapêutica em sua
recepção e aplicação. A finalidade divina é que ela edifique e console o povo de Deus. Os bons
pregadores não ferem com o sermão. Pelo contrário, eles curam as feridas dos ouvintes.
Mas há ocasiões em que a pregação necessita ser também um chicote usado como exortação.
Porem o pastor jamais a deverá empregar de maneira negativa. Até o uso do chicote pode se
transformar em algo positivo. O pastor deve fazer uso da exortativa para criar consciência, corrigir,
admoestar e consolar. Mas é necessário estarmos atentos para o fato de existirem crentes
masoquistas, que se deleitam com o castigo e a dor que os pregadores lhes podem infligir. Quanto
mais rigorosamente pregar o pastor ou o pregador convidado, mais eles gostarão da pregação. E
existem também os pregadores que se sentem satisfeitos quando castigam a congregação.
Muitos pastores são deficientes na pregação. As causas dessa deficiência são múltiplas. Não
leem livros nem Homilética, nem de sermões nem de biografias de pregadores, e são preguiçosos na
leitura sistemática da Bíblia. Mas a verdade é que a boa leitura ajudaria a melhorar a capacidade
Homilética desses pastores. Eles também não têm o habito de separar um dia da semana para
preparar suas pregações. Porém seria recomendável que eles na Segunda-feira mesmo começassem
meditando na mensagem que pregarão no Domingo, e continuassem assim durante toda a semana.
Eles também não dedicam um tempo para o enriquecimento da sua cultura teológica. O
ministro do evangelho deve ser um estudante durante toda a sua vida. Uma boa formação teológica
ajuda no desenvolvimento de um ministério eficaz. Os cursos de Homilética motivam o pregador a
corrigir-se e a superar-se. Outros não dão à pregação a importância que ela merece .Para eles orar,
reunir-se com os irmãos e fazer visitas pastorais é mais importante que a pregação. O certo é que tudo
isso é importante, mais a pregação é essencial. A mais importante avaliação que uma igreja
evangélica pode fazer de um aspirante ao púlpito é ouvindo a sua pregação
Existem também aquelas pessoas que são contrarias a toda preparação Homilética. Pensam
que a Homilética é um produto humano, intelectual, algo que o pregador inventa. Mas a Homilética é
uma ferramenta que ajuda o pregador a organizar, preparar e entregar uma mensagem que Deus lhe
deu, de maneira que o sermão alcance eficazmente o ouvinte.
Alguns são inimigos dos esboços e das notas escritas, isso devido a sua incapacidade
Homilética. Atacam o emprego dos esboços porque não sabem preparar um esboço, ou porque
necessita da disciplina para investir algumas horas, às vezes dias ou semanas, em colaboração com o
Espírito Santo, na preparação da mensagem divina que receberam de Deus. Muitas ideias ou
pensamentos recebidos pelo pregador podem ser sementes de sermões poderosos. Deus dá
mensagens aos pregadores através de meios simples, normais e naturais. O pregador deve estar
sempre à espera de mensagens.

6
Muitos pregadores não gostam de pregar. Na vida existem muitas coisas desagradáveis que temos de
fazer. Nenhum pastor gosta de trabalhar no orçamento de sua igreja. Porém, ele se vê diante da
necessidade da necessidade de prepara-lo em colaboração com uma comissão de finanças. Da
mesma forma, pregar é um requisito pastoral. Aquele que não gosta de pregar, que se dedique então a
ser um bom membro da igreja, e não um mal pastor.
A Homilética é uma arte que requer muita destreza. Fazer um esboço ou preparar notas para
pregar é uma capacidade que nem todos os pregadores possuem. Mas graças a Deus hoje em dia
podem ser encontrados nas livrarias evangélicas muitos livros de esboço. Esses livros serão de muita
ajuda para pregadores que, por falta de experiência ou tempo, não podem preparar seus próprios
esboços. Deus tem-me concedido o privilégio de publicar vários livros de Homilética. Alegro-me
quando alguns pregadores me informam que mediante o uso de algum esboço elaborado por mim,
Deus lhes permitiu entregar uma poderosa mensagem. É necessário salientar que, ao empregar um
esboço preparado por outro, o pregador deve colocar nele seu toque pessoal. Deve adaptá-lo ao seu
estilo, acrescentando ou cortando. Os títulos muitas vezes podem ser substituídos por outros do
agrado do pregador.
O fato de o pregador não dominar a arte da Homilética não o desobriga de pregar com certa
organização. O pastor que não souber entender a técnica de preparar um esboço bíblico, ou expor por
escrito a estrutura do sermão, não deve desanimar. Apresentaremos a seguir uma maneira simples
através da qual ele poderá cumprir esse importante aspecto de seu ministério.
1.1 Escolha um tema ou um assunto sobre o qual você gostaria de pregar. Esse tema pode surgir de
sua mente iluminada pelo Espírito Santo, da leitura de um texto bíblico, da leitura de um livro
evangélico, de uma reflexão que você fez, ou de uma observação casual.
1.2 Depois de haver lido e refletido sobre o assunto que você escolheu, ou lido textos bíblicos
relativos a esse tema, escreva em um caderno de anotações ou em folhas de papel qualquer
pensamento que lhe ocorrer relacionado ao tema.
1.3 Consulte comentários bíblicos, leia as passagens em diferentes versões bíblicas, e escreva
qualquer ideia nova que você encontrar.
1.4 Explore de novo o texto ou textos escolhidos, fazendo-lhes as seguintes perguntas, que são de
muita utilidade na Homilética. O Que? Por que? Como? Qual? Onde? O doutor Cecílio Arrastía chama
a este processo de a invasão do texto, e comenta:
á dissemos que do choque de uma invasão dupla - do texto e do contexto - brota a luz.
Esta luz produz o terceiro passo do processo, que é a iluminação, o clímax. Nesse ponto
o pregador estará aterrissando em terra firme, pois a meta foi alcançada. O pico mais alto
e rebelde, o Everest da Bíblia, foi alcançado e conquistado, produzindo-se assim uma
ampla iluminação. O Pregador Cristão e a Bíblia, A Bíblia de Estudo Mundo Hispano,
p 112,1977.

1.5 Pense agora em uma introdução que seja curta, atrativa e interessante. É hora de você escrever a
conclusão.
1.6 Isto que você já tem escrito é suficiente para a pregação. Agora só lhe resta orar muito e deixar
que o Espírito Santo lhe ajude. No momento da pregação e da mensagem, use muito a imaginação e
acrescente ação às notas escritas. Mas não fique muito preso as notas; mantenha-se livre para usá-las
com naturalidade. Pregue confiando que o Senhor Jesus Cristo lhe ajudará enquanto você estiver
pregando.
Nenhum pastor deve esquecer que a competição no púlpito é cada dia maior. Os pregadores do rádio
e da televisão podem eclipsar o pregador que entrega sua mensagem ao vivo, mais jamais poderão
substitui-lo. O rebanho do Senhor sempre espera esse alimento espiritual que cada domingo o seu
pastor lhe dá.

2. O Pastor como conselheiro. Na sociedade moderna existe muita procura de conselheiros


educativos, matrimoniais, financeiros, legais, estudantis e clínicos. Até para tomar certas decisões é
necessário a orientação de alguns conselheiros. O aconselhamento é um amplo campo, e oferece ao
pastor oportunidades únicas. As razões pelas quais muitos evangélicos procuram seus pastores em
busca de conselho são:
A. Não se paga pelas consultas. Os pastores aconselham e orientam sabendo que isso faz parte do
seu ministério espiritual. Esta função não é trabalho remunerado, e sim um serviço que ele presta.

7
B. O pastor é um representante de Deus que inspira confiança. Ele aconselha com ética. A ele vêm os
amigos e irmãos na fé para derramar suas lágrimas.
C. Entre o pastor e os membros da igreja existem fortes laços de amizades. O pastor é o amigo de
todos; é amado e estimado pelos membros que se sentem seguros ao entrar em seu gabinete
pastoral.
D. O pastor aplica seus conselhos dentro de um contexto cristão. Seu manual de aconselhamento e
terapia é a Bíblia; ele aconselha iluminado pelo Espírito Santo.
O pastor conselheiro pode oferecer seus serviços em muitas situações e de várias maneiras.
Geralmente ele é solicitado para aconselhar em situações pré- matrimoniais, matrimoniais em casos
de falecimento e em reuniões de jovens.

2.1 Conselhos a um rapaz e a uma moça que querem se casar. Isto é chamado de
aconselhamento pré-matrimonial. Os noivos geralmente procuram o pastor quando querem traçar seus
planos para casar-se. O pastor deve orientá-los a se conhecerem melhor antes do casamento. É
importante que eles conheçam o caráter um do outro, e seus deveres, interesses e motivações. O
pastor também deve incentivá-los a ler algum livro sobre o casamento. O livro que sempre recomendo
aos meus aconselhados é O Ato Conjugal A beleza do amor sexual, escrito pelo casal La Haye .
Tão logo os noivos tenham uma data para o casamento, o pastor deve marcar datas para aconselhá-
los antes do grande dia. Duas ou três reuniões seriam muito benéficas ao casal de noivos. O
aconselhamento não deve ser deixado para a véspera do casamento.

2.2 Conselhos a um casal com problemas em seu relacionamento matrimonial. Neste caso, a principal
função do pastor será perguntar, observar, escutar e esclarecer. O pastor nunca deve recomendar o
divórcio nem a separação aos seus aconselhados. Eles devem tomar a decisão.
É bom também conversar com os conjugues separadamente, e finalmente com ambos. O conselheiro
nunca deve tomar partido em favor de um dos conjugues. Esse aconselhamento visa levar o casal a
iniciar uma readaptação proveitosa. O conselheiro deve ter muito cuidado quando estiver
aconselhando uma mulher separada ou divorciada, pois há o risco da chamada transferência
psicológica. Alguns conselheiros se envolvem tanto no problema da aconselhada, que sem querer nem
perceber terminam se envolvendo emocionalmente. Tem havido casos em que o conselheiro foi
seduzido pelo problema e a necessidade emocional da aconselhada.

2.3 Conselhos aos viúvos antes e depois do funeral de algum membro da igreja, ou de algum membro
da família destes. Esse aspecto do aconselhamento muitas vezes não recebe a devida atenção. Desde
o momento em que o pastor é avisado do falecimento de algum membro da igreja, ou da pessoa
relacionada a essa membro, seu dever é colocar-se imediatamente em contato com os parentes da
pessoa falecida, e fazer uma visita pastoral. Seus serviços e orientação serão importantes na escolha
da funerária, na resolução de outros detalhes do funeral. Nesse momento de aflição, a ajuda do pastor
é extremamente necessária.
É muito doloroso ter que identificar o cadáver de um ente querido, mas muitas vezes o pastor tem que
ir ao hospital ou ao necrotério com os parentes do falecido, para ajudá-los na identificação do cadáver.
Um conselho que dou sempre aos pastores é que procurem conhecer o dono da casa funerária que
está mais próxima da igreja. Todo pastor deve possuir uma ideia clara e segura como se realiza um
funeral, e ter consigo o roteiro do programa que deve ser desenvolvido na igreja ou na funerária. A
pregação deve Ter como propósito trazer consolo aos parentes do falecido. Não é momento para se
jogar com os sentimentos alheios, nem tampouco para entristecer os ouvintes com a mensagem de
julgamento e condenação. Não se está ali com o propósito de abrir ou fechar o céu para ninguém.
O aconselhamento neste casso não termina com o enterro. Um ser querido foi enterrado, e isso
deixou um vazio que perdurara muito tempo durante muito tempo no coração de seus familiares
enlutados ajudará os parentes a enfrentar melhor a perda. Um programa devidamente organizado na
funerária ajudará a amenizar a dor dos que perderam uma pessoa querida. O funeral deve funcionar
no sentido de contribuir para aliviar essa separação entre os vivos e os mortos.
Costuma-se lamentar muito quando alguns pastores evitam a pregação em uma hora tão necessária e
preferem convidar a outro para pregar. O pastor nunca deve faltar ao cemitério. O substituto, por
melhor que seja, nunca poderá ocupar satisfatoriamente o lugar do pastor durante a cerimônia no
cemitério.

8
É importante que as pessoas que perderam um ente querido fiquem à vontade para falar sobre o
parente falecido. Não se deve impedir que elas chorem. Temos que chorar por nossos mortos, mesmo
sabendo que eles estão com o Senhor nas mansões celestiais. O vazio que fica no lar de onde um ser
querida partiu dificilmente ou jamais será preenchido. Orar com os viúvos e os parentes e visitá-los
lhes ajudará a preencher o vazio com a presença e a força divinas.

2.4 Aconselhando a juventude. Enquanto houver adolescentes e jovens na igreja, o pastor não deixará
de ter trabalho como conselheiro. A carga de aconselhar os jovens será menor se o pastor nomear
para eles um conselheiro dos jovens deve ler livros sobre essa faixa etária e sobre aconselhamento de
jovens, e fazer cursos que lhe ajudem a tornar-se cada vez mais capaz.
Para que o pastor conselheiro tenha êxito em sua função, deve esforçar-se em conhecer a natureza, o
caráter, as atitudes e Filosofias dos jovens. Alguns aspectos sobre os quais os jovens necessitam de
conselhos são: A independência social e financeira; o matrimonio; namoro e noivado; o
reconhecimento e o respeito; o futuro; os relacionamentos familiares; as experiências dos adultos; as
pressões do grupo.

3. O Pastor como dirigente. A imagem do pastor diante do rebanho revela o nível de sua
liderança. Ser um bom dirigente não é fácil nem difícil. Isso é determinado pela própria pessoa.
3.1 O líder. Alguém já disse que para uma pessoa ser líder necessita ter seguidores. Portanto,
o líder é a pessoa que convence os outros de que podem confiar nela, segui-la, e que sabe o que diz e
faz. Todo líder genuíno influencia nas aptidões capacidades e atitudes motivações dos demais.
3.2 O Organizador. Todo bom dirigente é um líder que organiza. Nenhuma organização
alcançará seus objetivos se não tiver hierarquia. O pastor dirigente deve ser o primeiro elo dessa
cadeia de poder ou hierarquia. Ele permanecerá sempre atento para que todos os departamentos da
igreja estejam devidamente organizados.
3.3 O supervisor. A organização sem a supervisão não consegue nada. Supervisionar significa avaliar
e cuidar para que as coisas sejam feitas como foram propostas.
Um bom dirigente está disposto a avaliar seu trabalho. Não é um perfeccionista, mas busca sempre o
melhor. Está disposto a escutar a crítica construtiva e positiva dos demais.
O fracasso de muitos está baseado no fato de eles quererem fazer tudo e ser tudo. Acreditam que sem
ele nada se conseguirá. Isto é um erro. Na vinha do Senhor existe trabalho para todos. Um líder
aprende a dar o sinal para que o povo marche. É melhor delegar responsabilidades aos outros, e
passar a supervisionar essas responsabilidades, do que tomar tudo para si e finalmente perceber que
não é capaz de dar conta de tão grande responsabilidade.

4. O pastor como professor. Os novos convertidos em especial devem ser discípulos do


pastor. Os pastores que têm conseguido êxito no ministério o alcançaram porque alimentaram seus
cordeirinhos recém-nascidos. Antes do pastor recomendar o novo convertido para o batismo em
águas, ele deve ter dado a esse novo convertido várias horas de instrução. O pastor ensina aos novos
convertidos, mas a igreja também espera que uma vez por semana ele seja professor de todos. Não
existe maior bênção para o membro de uma igreja que reconhece que seu pastor é professor e
pregador.
4.1 O pastor ensina verbalmente. Para isso ele deve preparar-se bem. Na pregação, ele pode
improvisar, mas no ensino a improvisação revela falta de preparação. Os estudos bíblicos têm que ter
sequência e continuidade.
4.2 O pastor ensina com o seu exemplo. Os crentes aprenderão através do exemplo que o pastor lhe
der. A contradição de muitos pastores é devido ao fato de eles ensinarem uma coisa e fazerem outra.

5. O pastor como profeta. Muitos pastores esperam convidar um evangelista para que Deus
lhes revele a enfermidades que existe sobre sue rebanho. O pastor que atua assim não está
realizando um trabalho completo para Deus. Se algo vai mal em sua congregação, ele deve procurar a
Deus, e certamente Deus lhe dará a revelação do problema. Outros pastores gostam quando algum
pregador convidado prega exortativamente em sua igreja. Mas o que tem estado fazendo o pastor?
Porque ele não está funcionando como um profeta de Deus para falar ao seu povo o que este
necessita ouvir?
O ministério profético do pastor é uma necessidade urgente em muitas congregações. Observe
bem que eu estou falando de um profeta e não de um papai. O que muitos líderes sabem fazer é irar-

9
se, ralhar, ameaçar e castigar. Porém, esses líderes carecem do ministério profético, para que com
autoridade e unção possam dizer: Eis o que o Senhor diz... Porém, ao exercer sua função profética, o
pastor deve ter cuidado para não cair no erro de entregar mensagens como Deus me disse que eu lhe
dissesse... Isto está fora de moda. Alguns líderes têm-se convertido em verdadeiros demagogos
espirituais. Eles brincam e se entretém com a fé dos crentes. Os testemunhos que se escutam hoje em
muitos púlpitos das igrejas não passam de fantasias espirituais. Muitas profecias dadas e anunciadas
são simples manipulação psicológica.

6. O pastor como pacificador. Jesus disse: Bem-aventurados os pacificadores, porque eles


serão chamados filhos de Deus Mt. 5:9. Em toda igreja existem conflitos, os líderes lutam pelo poder e
autonomia. Por isso o pastor tem que ser um pacificador. Na igreja de Filipos havia duas missionárias,
certamente muito ativas, que se atacavam: Evódia e Síntique. O apóstolo Paulo pediu ao principal
dirigente da igreja: E peço-te também a ti, meu leal companheiro de jugo, que ajudes as mulheres que
trabalham comigo no evangelho... Fp 4:3.
A causa do conflito na igreja é algumas vezes o confronto entre a família do pastor e outra
família. Também pode ser entre um líder e outro líder. O pastor deve ser sábio, não colocando-se do
lado de sua família, mas no meio das duas famílias. Se ele se deixar influenciar pelo parentesco,
terminará pagando por toda a confusão. O fogo não pode ser combatido com fogo, mas sim com água.
Quando uma congregação está atravessando uma crise de poder, onde uns querem exercer toda a
autoridade e outros apresentam resistência, é necessário que o pastor seja objetivo e realista.
O pastorado é uma vocação divina. O homem que Deus chamou para ser encarregado e colocado
nesse trabalho, não pode amedrontar-se. Mas para isto necessitará da convicção de que jamais estará
sozinho. Não quero limitar o ministério pastoral aos homens somente; sei que Deus também chamou
mulheres para cargos de liderança. O mesmo Senhor Jesus Cristo ajudará o pastor ou líder, homem
ou mulher, o desempenhar triunfalmente o ministério recebido.

10
Lição 2
2. A Igreja

Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno


não prevalecerão contra ela Mt 16.18

1. Por que pregamos o Evangelho?


Com que fim pregamos e oramos, sacrificando nossos bens, nosso tempo e nossas forças? O
alvo deve ser compreendido por todos: Missionários, Pastores, Mestres, Membros da igreja local.
Todos os participantes da fé evangélica devem definir bem a finalidade de seus esforços. À primeira
vista, a pergunta parece demasiado simples. Contudo, se fizéssemos esta pergunta a pastores e
missionários de todos os grupos evangélicos por todo o mundo, quão diferentes não seriam as
respostas. Sem dúvida, alguns contestariam que o propósito é o de convencer os pagãos ao
cristianismo e melhorar suas condições sociais para que todos possam desfrutar maior felicidade e
saúde. Outros, que seu propósito é o de salvar as almas. E ainda outros explicariam que seu objetivo é
o de testificar a toda a criatura para assim apressar a volta de Jesus Cristo. Todos esses motivos são
dignos, porém nenhum é inteiramente adequado. Então, qual o exato e verdadeiro alvo?
Cristo anunciou seu propósito: Edificarei a minha igreja. O apóstolo também relatou como
trabalhava e afirmou que sofria pelo amor à Igreja Cl 1.24. Não há melhor alvo que esse, indicado no
Novo Testamento. Portanto, definimos assim: o nosso propósito é estabelecer uma Igreja conforme o
modelo apresentado no Novo Testamento. O alvo que miramos e os meios que empregamos para
alcançá-lo estão rigorosamente relacionados. De modo que se não tivermos alvo bem definido, é
possível errarmos na seleção dos meios empregados e não conseguiremos o verdadeiro fruto de
nosso trabalho. Nem digamos que para alcançar o ideal de uma igreja do Novo Testamento temos de
seguir os métodos do Novo Testamento.
A importância de Ter um alvo bem definido se ilustra com o caso seguinte: Há poucos anos,
alguns missionários foram enviados a certo país por um grupo de crentes interessados principalmente
em anunciar Jesus Cristo como salvador a todo o mundo, o mais depressa possível. Impelidos pelo
ardente desejo de apressar o regresso de nosso Senhor e levando em conta que essa grande
comissão havia de ser cumprida antes do segundo advento. Concordaram que seus missionários não
deviam fixar-se em cidade alguma, mas sim, deviam andar de cidade a cidade, permanecendo apenas
o suficiente para dar o testemunho de Jesus, o Salvador. Seguindo este plano, os missionários não se
preocupavam muito por conservar os resultados de seus esforços. Não passavam em um lugar o
tempo necessário para estabelecer uma igreja, nem para instruir os novos crentes a fim de que
pudessem desenvolver-se nas atividades da vida cristã. O resultado desse procedimento foi triste,
porque depois de anos de esforços, quase não havia fruto permanente. Pregaram em muitas cidades,
porém, sem estabelecer igrejas. Não reconheceram a grande verdade que apesar do valor da
evangelização, o objetivo principal do evangelismo é a fundação da igreja, isto é, de um povo chamado
do mundo para gozar de uma relação especial com o Senhor Jesus Cristo. No plano de Deus, a igreja
mesma é o agente mais poderoso para a evangelização. Por fim, o grupo de missionários a que nos
referimos, examinou a situação, viu a causa do fracasso, e adaptou métodos para alcançar um novo
objetivo: o estabelecimento da igreja do Senhor Jesus Cristo.
Quando uma missão tem como primeiro objetivo o melhoramento social do povo, usualmente
dá muita importância ao desenvolvimento de instituições como colégios, hospitais, e projetos agrícolas.
Todo o projeto e instituição que tem por fim melhoramento do povo, é digno de nosso apoio, porque é
o desejo de todos os crentes verdadeiros, ver o progresso de sua missão em todos os sentidos.
Contudo, esses projetos embora dignos, constituem fruto secundário da obra missionária e não
o centro ou razão fundamental de nossas atividades se tomamos o Novo Testamento como modelo.
Se não entendermos isto claramente, estabeleceremos instituições fortes, porém, em regra geral, a
igreja mesma ficará fraca, sem vigor necessário para fazer frente a uma crise, como por exemplo,
uma invasão comunista, quando a igreja vê-se privada dos meios financeiros e de ministros de outros
países. Tal igreja, provada da ajuda de fora com que se havia costumado, raras vezes pode sustentar-
se. Somente a igreja que tem raízes no solo nacional, aclimatada a seu próprio ambiente, poderá
sobrevier às dificuldades.

11
2. Características da Igreja do Novo Testamento
Examinemos as características dessa igreja do Novo Testamento, que propomos estabelecer.
Um estudo detalhado esmerado do livro dos Atos dos Apóstolos e das Epístolas de São Paulo revela-
nos os métodos empregados pelos apóstolos e especialmente pelo apóstolo Paulo, o qual pode ser
considerado como Missionário modelo. Deus o chamou a pregar nos países onde não era conhecido o
Evangelho, de modo que deixou Jerusalém e Antioquia, onde a igreja já estava estabelecida e saiu à
Ásia e à Europa pregando a judeus e gentios. Ao entrar pela primeira vez em uma cidade, começava
pregando o Evangelho ao público em geral, reunindo mais tarde os convertidos em lugar conveniente.
Às vezes servia-se de casa de um novo crente como lugar de reunião para a igreja recém nascida.
Outras vezes conseguia usar uma sinagoga ou uma escola para esse fim. Os crentes se congregavam
às horas marcadas para adorar a Deus e receber instrução na doutrina cristã. Com o correr do tempo,
anciãos e diáconos eram escolhidos assim como os Ministérios necessários ao rebanho, para levar a
cabo a obra da evangelização. Por exemplo, o apóstolo Paulo ficou em Tessalônica somente poucas
semanas, mas deixou ali uma igreja estabelecida At 17.1,2; I Ts 1.1; 5.12.
Trabalhou em Éfeso, cidade principal da Ásia Menor, durante dois anos ensinando na Escola
de Tirano. Como resultado desse tempo que passou lá, toda aquela região teve oportunidade de ouvir
o Evangelho. Seu discurso de despedida aos anciãos de Éfeso At 20.18-35 revela admiravelmente a
relação que deve existir entre um missionário e uma igreja assim fundada o apóstolo permanecia
pouco tempo em cada cidade ou região, porém ao partir deixava uma igreja organizada, capaz de
manter-se e de ocupar-se da propagação do Evangelho, sem mais auxílio, a não ser de uma visita ou
carta do apóstolo. Evidentemente o apóstolo Paulo não cria que fosse necessário pedir que as igrejas
em Jerusalém e Antioquia lhe enviassem ministros para ocupar o pastorado das igrejas que
estabelecia. Não encontramos nem um exemplo sequer de que pedisse auxílio financeiro às igrejas de
Antioquia ou de Jerusalém para o sustento de pastores ou para construção de novos templos.
Descobrimos que em certa ocasião o apóstolo ajuntou ofertas das novas igrejas para o socorro da
igreja mãe em Jerusalém quando aquela região foi assolada por grande fome. Que comentário mais
eloquente da eficácia dos métodos do Novo Testamento, e quantas vezes não nos desviamos desse
ideal para adotar métodos modernos.
Vemos, pois, que a igreja do Novo Testamento era primeiramente uma igreja que avançava por
si mesma, isto é, que tinha dentro de si a vitalidade suficientemente para estender-se e ainda
evangelizar lugares vizinhos. Em segundo lugar, governava-se a si mesma, isto é, por homens
capacitados pelo Espírito Santo escolhidos dentre os convertidos no local. Em terceiro lugar,
sustentava por si, não dependia de auxílio financeiro externo para atender aos gastos da obra.
Cremos que em certo sentido a Igreja do Novo Testamento tinha caráter nacional ou de filha do
país onde se estabelecia. Nesse mesmo sentido, desejamos o desenvolvimento de uma igreja
Nacional em nossos territórios, de tal maneira, que possa lançar suas próprias raízes no país e
frutifique sem necessidade de depender desmedidamente de fundos e de obreiros do exterior.
Queremos dizer, isto sim, que a igreja não deve depender do estrangeiro quanto aos ministros e as
fianças. A nosso ver, em comportamento nacionalista, com tendências a excluir crentes e ministros de
outras nacionalidades, não concorda com o Espírito de Cristo. Os crentes hoje não devem permitir que
o espírito nacionalista prevaleça neles, porque no corpo de Cristo não há diferença entre o judeu e o
gentio, e o amor de Jesus Cristo não conhece fronteiras nacionais.
Levando em conta que a igreja da época apostólica não dependia do estrangeiro, mas lhe
bastavam os recursos locais, que se diria hoje uma igreja que forçosamente tivesse de depender do
auxílio de fora para poder existir? É bem sabido que há igrejas nos campos missionários que depois de
vinte anos de existência, não podem sustentar os próprios pastores. Sabemos que uma igreja que
depois de algumas décadas de existência encontrou-se na necessidade de apelar à missão para lhe
enviar outro pastor missionário quando seu pastor ia aposentar-se por velhice. Parece evidente que tal
comportamento afasta-se muito do exemplo apostólico. Podemos afirmar com segurança que Deus
não deseja que a igreja de país algum dependa da missão estrangeira a tal ponto que, tendo a auxílio
cortado enfraqueça e morra.

3. É Possível Alcançar o Alvo


Podemos ter plena certeza de que o ideal de uma igreja conforme um modelo ao Novo
Testamento, é prática e viável em pleno século vinte. Isto é possível porque o Evangelho não mudou.
Servimos ao mesmo Deus que os apóstolos serviram, e o Espírito Santo está conosco assim como
estava como a igreja apostólica. Não propomos nem desejamos introduzir um plano ou sistema novo.

12
O único em que insistimos é que a igreja de hoje ostente as características do modelo apostólico.
Cremos que isto é possível, já que o Evangelho tem uma missão universal e é adaptável a todo clima e
raça e a cada nível social e econômico. Se nossa pregação e prática são as do Novo Testamento,
produzirão certamente uma igreja do Novo Testamento, em qualquer lugar onde pregamos. Os
habitantes de qualquer país podem ser convertidos pelo poder do evangelho revestidos do Espírito
Santo e estarão capacitados a levar a cabo a obra da igreja.
Deus mesmo planejou o Evangelho de maneira a suprir a necessidade dos africanos, dos
chineses e dos indianos. De modo que em todos os pontos da terra onde a semente do Evangelho é
lançada legitimamente, produzirá uma igreja do país, o Espírito Santo faz sua obra com igual facilidade
em qualquer nação do mundo. Supor que uma igreja nova em qualquer região deve estar
permanentemente sob o cuidado de uma missão que lhe supra todas as necessidades, é inconsciente
ao povo a que desejamos servir, e ao mesmo tempo há evidência de que nos falta fé em Deus e no
poder de seu Evangelho.

13
3. A Propagação

Uma igreja local é o meio divino de evangelizar o território a seu rigor. Ainda que Deus tenha
dado a certos homens o Dom especial de evangelista contudo a tarefa de ganhar almas para Cristo
não é limitada a esses poucos ministros. Cada crente é uma testemunha de Cristo e deve ganhar
almas para o reino de Deus. Como no mundo natural, onde há vida, há também o poder de reproduzir
essa vida. De igual maneira se temos recebido a vida do Filho de Deus, temos também o desejo de
reproduzir vida de Cristo no próximo. Dizem que nos dias do grande avivamento na igreja da Coréia,
antes de se batizar nas águas, o novo convertido tinha de ganhar uma pessoa para Cristo como prova
de realidade de sua própria conversão, uma igreja que sabe evangelizar, será uma igreja crescente,
ainda que lhe falte um ministro eloquente no púlpito. Aliás o pregador por mais eloquente que seja,
será incapaz de fazer o trabalho que complete aos membros. Cada igreja tem responsabilidade na
evangelização do mundo, porém de uma maneira especial é responsável pelo território a seu redor no
mínimo até à metade da distância que a separa da igreja mais próxima.

1. Igrejas Filiais
O ministério do pastor não deve limitar-se ao que possa fazer dentro do templo. Muitas vezes
aceitamos erroneamente a ideia de que os não convertidos é que devem chegar à igreja, quando na
verdade a Igreja é que tem a responsabilidade de levar o Evangelho aos não convertidos. Jesus disse
aos discípulos: Ide por todo o mundo. Os cultos da igreja dão ao pastor uma oportunidade de fortalecer
os crentes e anima-los a levar a cabo a obra de evangelização pelos arredores. O pastor mesmo deve
pregar o Evangelho nas cidades e vilas circunvizinhas. Isto não deve ser um comportamento casual,
mas sim, sistemático. À medida que se apresentam as oportunidades, o pastor deve estabelecer cultos
de pregação e classes da Escola Dominical nas casas e em outros lugares convenientes esperando
que Deus salve as almas e que se forme um novo grupo de crentes.
O pastor além de esforçar-se em evangelizar, deve ensinar à congregação como levar a cabo
este trabalho tão importante. Porém, não se deve esperar que ele faça tudo. Cada igreja deve escolher
entre seus membros os mais competentes e fiéis para servirem como obreiros. A direção da igreja
designará os obreiros para os locais de pregação. No início do trabalho é comum utilizar-se a pregação
na casa de um novo convertido ou pelo estabelecimento de uma classe de Escola Dominical, nestes
casos um irmão mais experimentado, ou um professor ou professora da Escola Dominical da igreja
sede poderá ser designado para esse trabalho. Servirão ainda nessas atividades os diáconos e
auxiliares; sendo que as congregações nascentes serão dirigidas pelos anciãos da igreja.
Deve-se recordar que tanto o lugar da pregação como o obreiro encarregado, ficam sob a
administração do pastor e da direção da igreja sede. Os obreiros locais não devem portanto,
considerar-se independentes do governo da igreja. Fica bem claro que o obreiro está sujeito à
autoridade de seu pastor e da igreja principal.
Os convertidos nos locais de pregação devem receber instrução a fim de preparar-se para o
batismo nas águas. Se o ponto de pregação fica perto da igreja, os convertidos receberão sua
instrução ali, porém, se a distância for longa, será necessário fazê-lo em sua própria localidade,
possivelmente por meio do mesmo obreiro encarregado. Passando o tempo, o grupo novo pode
desenvolver-se formando uma igreja. Para que o grupo ou congregação venha ser organizado em
igreja, são necessários acordos e determinações da Igreja sede. A igreja sede deve dar oportunidade
pelo menos uma vez no mês aos trabalhadores para relatar o que Deus tem feito por meio deles, pois
isto lhe servirá de grande estímulo. Também deve prover classes de instrução para eles a fim de que
possam desenvolver suas capacidades ministeriais.

2. Instrução para Obreiros


Se for adotado esse sistema prático de evangelização o resultado será que o pastor terá
sempre um grupo de auxiliares entusiastas. Muitos não se desenvolverão além da esfera de obreiro
auxiliar, como seja de diácono ou presbítero. Outros, porém, poderão atingir o ministério. Isto impõe ao
pastor uma obrigação séria. O pastor, como é óbvio, deseja ver sua obra prosperar e gostaria de reter
esses novos obreiros no regaço de usa própria igreja. Alguns pastores desejam o desenvolvimento
desses colaboradores enquanto continuam como auxiliares, mas se são chamados para o Ministério,
ao invés de anima-los levantam obstáculos. Os pastores devem no entanto, manifestar um espírito
verdadeiramente missionário. É mais bem aventurado dar do que receber. A videira que produz fruto é
que recebe a bênção do lavrador. Aqueles que não produzem serão cortados e lançados no fogo.

14
O apóstolo Paulo encarregou a Timóteo que se esforçasse em ensinar aos crentes; e o que de
mim, entre muitas testemunhas, ouvistes, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também
ensinarem aos outros II Tm 2.2. Como pode o pastor prover o ensinamento necessário para os
auxiliares? Uma classe semanal para os pregadores principiantes será de grande auxílio. Se puder,
inicie um curso de Evangelismo Pessoal. A seguir prossiga nos estudos que convém, que aprendam a
fazer esboços simples para a mensagem. Devem receber ainda doutrinas para enriquecer seu
conhecimento bíblico. O mais importante no entanto são as instruções de como ensinar os novos
convertidos. Convém ensinar aos obreiros a instruírem os novos convertidos nos pontos fundamentais
da doutrina e da conduta pessoal para que estejam bem fundados na Palavra de Deus. Isto é de suma
importância, pois há pregadores capazes de apresentar sermões preparados mas são incapazes de
lançar os alicerces de uma igreja.
Além de uma classe para pregadores novatos, sugerimos que o pastor consiga a ajuda de
outros pastores ou missionários para iniciar um curso breve de instruções de obreiros. Nos distritos
rurais é conveniente que o curso se realize na época em que os agricultores se encontram mais
desafogados do trabalho secular. Como regra geral, dois ou três ministros devem cooperar no curso de
instrução. O curso é breve e pode durar duas ou três semanas com classes de instrução durante o dia,
como se fosse um Instituto Bíblico. Esses estudos serão do mesmo caráter que os que o pastor
ensinara na sua classe semanal. Talvez possa acrescentar um estudo sobre a Escola Dominical ou
outro também apropriado. Durante os dias do curso, os auxiliares poderão iniciar uma campanha de
evangelização por meio de distribuição de literatura e de trabalho pessoal. Os cultos da noite podem
ser de caráter evangelizante. Várias igrejas poderão unir esforços para esse curso de instrução com a
oportunidade de cooperar com ofertas e víveres para o sustento dos alunos.
Segundo a nossa concepção, tais cursos oferecem uma maneira excelente de estimular a obra
do distrito já que os oficiais da igreja, os professores da Escola Dominical e os obreiros aprendem a
participar ativamente na evangelização. Quando se nota num obreiro indícios de vocação ministerial, é
bom que ele receba instrução em Instituto Bíblico durante dois ou três anos. É possível que o obreiro
desenvolva um ministério abençoado sem estudar em um Instituo bíblico, porém, sem dúvida
aprenderá rapidamente a evitar muitos erros, se puder desfrutar da instrução ministrada por mestres
espirituais e de boa formação doutrinária. Enquanto um grupo vai ao Instituto Bíblico, outros tomam
lugar em suas atividades e assim a igreja evangélica se prepara. A preparação do obreiro via de regra,
deve incluir o exercício prático do ministério.

3. O Ministério do Evangelista
Um aspecto importante na propagação da igreja é o ministério do evangelista. O verdadeiro
evangelista tem uma vocação da parte de Deus para atrair almas para Cristo. Usa-se fazer campanhas
evangelísticas com o fim de animar a igreja e de ganhar os não convertidos, porém, seu ministério
exerce-se principalmente em novos campos. A campanha evangelística de Felipe em Samaria Atos 8
serve como exemplo de obra evangelística. O objetivo de seu ministério não é simplesmente ganhar
novos convertidos, mas estabelecer igrejas. O evangelista não deve entrar em um campo novo, ganhar
almas para o Senhor e logo deixar os novos crentes sem pastor e sem o necessário cuidado até
morrerem por falta de alimento espiritual, ou serem devorados como cordeiros indefesos pelos lobos
sempre atentos, antes de dar continuidade da obra. Eis algumas ideias e métodos aptos a guiar o
evangelista em seu trabalho.
Alguns evangelistas principiam o serviço preparando o terreno para o estabelecimento de uma
igreja por meio do trabalho pessoal e da distribuição de literaturas de casa em casa. Eles percebem a
vantagem de ganhar a simpatia e a confiança do povo, antes de dar início aos cultos públicos. Esse
método é de valor especial nos lugares onde o povo devido a preconceitos religiosos e fanatismos, fica
prevenido contra o Evangelho. Convém lembrar que não é sempre necessário conseguir um edifício ou
alugar um salão para começar os cultos. Muitas vezes é melhor mesmo principiar os cultos de
pregação em casa particulares ou ao ar livre, quando as autoridades permitem, do que num salão
apropriado.
Alguns evangelistas foram muito bem sucedidos realizando campanha de evangelização ao ar
livre. Começaram conseguindo um terreno baldio ou um lugar bastante amplo em ponto central onde
instalaram luzes, alto falante e uma plataforma provisória antes de anunciar cultos. Em alguns casos
nem conseguem assentos para os ouvintes e o povo fica em pé durante horas escutando a Palavra de
Deus. Quando o evangelista tem capacidade de levar a cabo com êxito este tipo de campanha, o
resultado é altamente vantajoso. Não há dúvida que muitos que não entrariam num templo protestante

15
devido a preconceitos sociais e religiosos, dão atenção ao ar livre. Resulta daí que os próprios novos
convertidos reconhecem por si a necessidade de Ter um templo onde possam congregar-se e
assumem com boa vontade a responsabilidade de adquirir lugar permanente para as reuniões. Assim
desde o princípio tudo concorre para a fundação de uma igreja responsável por seu próprio sustento.
Pessoalmente temos conhecimento de várias igreja que tiveram início dessa maneira simples e
prática.
Às vezes Deus inspira o evangelista a empregar métodos próprios para resolver os problemas
de evangelização das cidades de suas regiões.
O evangelista e seus colaboradores dedicam-se primeiramente à oração para receber direção
divina quanto a cidade que deve servir de base às operações. Dois ou três dias antes de principiar a
campanha, cerca de trinta pessoas das mais espirituais da igreja, buscam a Deus em jejum e oração.
Quando creem que a hora tem chegado, o evangelista com um grupo de obreiros vai à cidade onde se
realizará a campanha, a fim de fazer os preparativos necessários aos cultos ao ar livre. Cedo, de
madrugada, num Domingo, centenas de crentes das igrejas vizinhas chegando de todas as direções,
ao verem tantos crentes convertidos de todas as partes, e ao ouvirem os hinos, a imensa multidão
atraída é envolvida por Deus.

4. A Colheita
Depois o evangelista dará oportunidade para os testemunhos. Os crentes testificarão sobre a
sua salvação pessoal e as bênçãos recebidas pela fé. A seguir o evangelista entregará uma curta
mensagem e convidará a todos que desejarem aceitar Jesus Cristo como Salvador e virem à frente. O
evangelista convida-los-á a ajoelharem-se e terá lugar a oração. Podendo fazê-la em duas etapas se
assim o desejar:
a. Os novos convertidos pedem a Deus perdão de seus pecados e declaram seu desejo de
uma vida nova.
a. Os crentes oram pelos novos crentes e agradecem a Deus a colheita. A seguir o evangelista
aconselha os convertidos:
> Orarem a Deus
> Lerem a sua palavra
> Caminhar com os irmãos na fé.
Depois de os crentes regressarem à sua cidade ou local o evangelista continuará para
assegurar a colheita espiritual.

5. Estabelecendo uma Igreja Nova


Quando se consegue ganhar um grande número de novos convertidos em uma campanha
evangelística, é absolutamente indispensável que se façam preparativos esmerados e detalhados para
prosseguir com visitas a fim de estimular os crentes novos; doutro modo, uma grande parte da colheita
se perderá. É necessário anotar o nome e o endereço dos novos convertidos e dos amigos
interessados para visitá-lo pessoalmente. Uma das melhores maneiras de alcançar isto é por meio de
cartões nos quais ficam registrados nome e endereço da pessoa interessada. É necessário que haja
um número suficiente de obreiros presentes em uma campanha desse tipo para encarregar-se das
visitas. Se a campanha se realiza numa cidade não evangelizada, será necessário animar os crentes
de igrejas vizinhas a que estejam presentes para prestarem auxílio.
Deve-se entender que não é suficiente que os ouvintes somente levantem a mão em sinal de
aceitação a Cristo, em um simples culto ou numa campanha quando todos estão emocionados. Será
necessário separar as pessoas interessadas para dar-lhes instrução especial diária em classes
especiais para novos convertidos. Se a campanha se realiza numa cidade grande onde há igrejas
evangélicas, deve-se usar no trabalho os professores da Escola Dominical, os diáconos, os
presbíteros, enfim, os crentes hábeis e fiéis. Em ocasião de grande avivamento e bênção, uma igreja
de certa cidade organizou um plano que incluiu toda a cidade e arredores. Dividiu a cidade em regiões
e repartiu a responsabilidade de cada região entre os diáconos e outros obreiros, encarregando-os de
reunir todos os interessados e novos convertidos em classes e cultos. O resultado dessa estratégia foi
que imediatamente se estabeleceram treze novos pontos de pregação.
De suma importância é dar instrução bíblica e sã aos novos convertidos. Os que foram
comovidos pela campanha precisam encontrar uma base sólida para sua fé na Palavra de Deus a fim
de resistir na hora da prova. uma visita a casa de novos crentes servirá para animá-los. Esse trabalho
não deve estar limitado à ação do pastor ou dos diáconos, antes cada membro deve ser utilizado

16
visando aos melhores resultados. Deve-se aproveitar com toda diligência, os dias de colheita espiritual,
antes que tudo se perca.
Em tudo isso devemos recordar sempre que o elemento indispensável na extensão da obra de
Cristo é a presença e operação do Espírito Santo. É pelo Espírito Santo que as almas se convencem
da necessidade da salvação. Também o mesmo Espírito Santo é quem chama obreiros e os envia aos
campos maduros. Podemos avançar somente na medida em que o Espírito Santo opera. Portanto
tenhamos no mais alto conceito a necessidade de manter um ambiente espiritual pois sem isso não
haverá êxito.
Não devemos esquecer que os crentes progredirão muitos se forem ensinados hinos com
mensagens próprias para esta fase o obreiro deve analisar a poesia do hino, o novo convertido deve
orar e ser estimulado a fazê-lo em reuniões e quando for visitado.

17
Lição 3
4. Governo

Já dissemos que os três fundamentos essenciais de uma forte igreja num país são: 1
Propagação própria capacidade e iniciativa para entender a obra; 2 Governo Próprio o
desenvolvimento de ministros dentre os membros capacitados para dirigir a igreja; 3 Sustento Próprio
capacidade financeira para manter a obra e estendê-la. O governo próprio é vital, com reflexos em
todos os setores da vida e da igreja. Portanto, devemos lançar esse fundamento desde o começo,
numa igreja. Examinaremos primeiramente o governo próprio na esfera da igreja local.
Parece-nos sem razão instituir uma organização nacional ou regional da obra antes que haja
igrejas locais organizadas. No primeiro século do cristianismo, as igrejas locais foram organizadas.
Desde o princípio At 6.1-6 porém, levaram muitos anos até instituírem uma organização capaz de unir
igrejas locais. Por conseguinte, deduzimos que a organização de igrejas individuais é o primeiro passo,
e o fundamento para o governo geral da igreja.
Devemos Ter cuidado em não depreciarmos as igrejas locais as quais representam uma
verdadeira força na obra evangélica. Na medida em que tivermos igrejas locais ativas e bem
organizadas, termos uma obra forte, por outro lado se não incorporarmos devidamente os convertidos,
ainda que haja um número grande de crentes, jamais haverá uma igreja. O governo levantado na
igreja local ajuda os crentes a reconhecerem suas responsabilidades. Quando aceitam a Jesus Cristo
despertam para uma nova relação com Deus. Quando se constituem em igrejas, os convertidos
despertam para um novo convívio com os crentes, membros e companheiros no corpo de Cristo. Este
reconhecimento de responsabilidade dá como resultado, unidade e zelo para a obra, atitudes
indispensáveis para alcançar um espírito de sacrifício por parte da congregação. O espírito de
colaboração e sacrifício é igualmente essencial para o sustento da obra. Que passo daremos, então,
para estabelecer uma igreja local?

1. A Base da Comunhão na Igreja Local


Para formar uma igreja é preciso que haja como base: COMUNHÃO E COOPERAÇÃO, isto é,
que haja acordo entre os membros quanto às doutrinas, propósitos e métodos que se utilizarão para
alcançar suas finalidades. O profeta pergunta: Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo? Am
3.3. É impossível que os crentes andem juntos, unidos no entendimento e propósito sem Ter algum
concerto ou acordo entre si. Aqueles grupos que desprezam e não querem Estatutos e Regimentos
Internos, não arrolam os membros em sua maneira de trabalhar, dispensado normas escritas. Eles
sabem que tem autoridade na igreja e quais as regras gerais de procedimento. Alguns dizem que a
Bíblia é seu regulamento e o Espírito Santo seu guia. Bem, isso desejamos a todos. É preciso porém
saber como interpretar a Bíblia e discernir se somos verdadeiramente ente guiados pelo Espírito Santo
e não por caprichos e ideias errôneas. Há muitos que afirmam que a Bíblia é seu guia, porém, os
ensinamentos e práticas não o demonstram. Seria uma confusão desastrosa se seguíssemos cada
ideia e crença de pessoas que professam o cristianismo sem adotarem uma norma pela qual
pudéssemos julgar a pureza e a doutrina ou prática.
Ao formar uma igreja, os convertidos devem ser instruídos na Palavra de Deus e na Vida Cristã
de maneira a poderem chegar a um acordo e declarar com certeza: Isto é o que cremos, o que somos
e pregamos. Deve haver um acordo completo quanto às doutrinas fundamentais. O apóstolo Paulo
exortou aos Coríntios: Que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões, antes
que sejais unidos em um mesmo sentido, e em um mesmo parecer I Co 1.10. Os crentes têm de
chegar a um acordo com respeito à doutrina para que todos falem uma mesma coisa, e devem Ter
uma concepção uniforme quanto ao que constitui a conduta cristã para que todos sejam unidos em um
mesmo sentido e em um mesmo parecer.
Necessariamente tem de chegar ao mesmo parecer com respeito às doutrinas da salvação, do
pecado, do castigo futuro, do segundo advento de Cristo, do sustento da igreja e, várias outras
doutrinas fundamentais. Têm de ser unidos em um mesmo parecer com respeito à atividade cristã
quanto aos vícios do álcool e do fumo, como também quanto às diversões populares como o baile, o
teatro, jogos, etc., para que a igreja tenha seu testemunho limpo perante o mundo. Deve haver
também um entendimento com respeito às exigências da lei civil, quanto ao matrimônio, capaz de
afetar a admissão de membros novos. Do mesmo modo, deve haver entendimento sobre a maneira de
tratar com os membros que caem em pecado, desonram o nome de Cristo e da igreja. Jesus Cristo

18
disse a seus discípulos: Ide ensinai a todas as nações... ensinando-as... Mt 28.19-20. Vemos, pois,
que se principia a edificação e a organização de uma igreja tendo por base o ensinamento bíblico.
Alguns países da América resolveram esta dificuldade mediante a publicação de um
regulamento local para as igrejas filiadas, o qual é uma aplicação dos pontos bíblicos e serve como
base de comunhão. Representa um acordo entre os irmãos e as igrejas quanto às doutrinas
fundamentais e a norma de conduta para os membros, assim como da maneira de proceder das
igrejas locais.

2. Os Membros
A seleção dos membros constituintes FUNDADORES de uma igreja e a adição subsequente de
novos membros é algo que merece vigilância esmerada e oração fervorosa da parte do evangelista, do
pastor e, também de toda a igreja. Quando um evangelista está lutando para estabelecer uma igreja é
muito natural que deseje toda a ajuda possível.
Muitas vezes acontece que há pessoas na vizinhança que já ouviram o evangelho em outro
lugar ou pode haver, também, pequenos grupos de membros de outras igrejas evangélicas que por um
motivo ou outro não estão contentes com sua própria igreja e desejam juntar-se, num novo esforço.
Motivado pelo desejo legítimo de conseguir toda a ajuda possível para sua nova obra, o obreiro pode
ser tentado a aceitar imediatamente o auxílio que se lhe oferece sem prévio exame dos supostos
crentes. Em regra geral, fazer assim, é semear fracasso na sua igreja. Não somente compromete a
ética cristã, quanto ao modo de receber membros desgostosos de outras denominações, como
também, põe em dúvida a prudência do obreiro que lança em bases duvidosas o fundamento da obra.
É preferível que o obreiro tome tempo para cavar bem, e edifique sobre a rocha. Requererá
certamente, mais tempo, porém, o ministro terá gozo em ver a obra firme e certamente resistente às
intempéries.
Sem enfatizar as diferenças entre denominações evangélicas ou excluir a comunhão cristã do
verdadeiro filho de Deus é mister reconhecer a necessidade de um acordo comum entre os membros
de uma igreja quanto à doutrina e os ideais que temos para trabalhar com unanimidade e harmonia.
Crentes procedentes de outros grupos devem ser examinados cuidadosamente a fim de descobrir-se
se defendem doutrinas erradas. Admitir como membros pessoas com ideias errôneas com respeito ao
castigo futuro, ao Sábado, etc., dará como resultado o enfraquecimento da estrutura espiritual da
igreja. Deve haver, por exemplo, um entendimento bem definido acerca do sustento da igreja, pois é
possível que não se sintam responsáveis quanto aos dízimos e achem que outros devem levar a caga
financeira da obra.
Possivelmente lhes faltam ideias claras e maduras com respeito à norma de santidade que a
igreja deve manter. Se tias crentes são recebidos como membros ativos da nova congregação,
certamente o pastor terá um conflito mais tarde quando começar a ensinar aos novos convertidos as
normas e doutrinas bíblicas, aí o pastor se encontrará em apuros quando os membros que ele
recebera apressadamente principiarem a solapar o trabalho e a oporem-se aos ensinamentos. Como
membro de maior experiência, o contrariado pode exercer influência sobre os novos convertidos. Se
lhes disser, por exemplo, que não é necessário dar dízimos, pode desfazer o trabalho do pastor neste
particular ponto. Também não verá a necessidade de disciplinar um membro desviado que nunca foi
doutrinado com respeito a esses aspectos na vida cristã. Assim, sem ser intolerante e mesquinho, é
necessário que o pastor selecione com cuidado as pedras do fundamento da futura igreja. Deve instruir
os novos membros nas verdades essenciais para o desenvolvimento da igreja, e somente os que
estão plenamente doutrinados poderão ser admitidos como membros. Claro que pode haver uma certa
tolerância quanto à opiniões sobre pontos não fundamentais, porém, quando se tratar de doutrinas e
práticas básicas da igreja, não podemos deixar de exigir submissão completa.
Quanto a resolver sobre quem pode ser recebido como membro, nem o pastor ou evangelista
deve tomar tão importante decisão sem consultar os demais. O pastor não é dono da igreja e a
decisão com respeito aos que serão recebidos não deve ser uma prerrogativa sua. Todos os crentes
formam a igreja e portanto ela é de todos. Não se deve exigir que a igreja aceite como membro uma
pessoa que os irmãos não creem sinceramente, por conseguinte quando um membro desonra a norma
da igreja, cometendo pecado, à igreja cabe discipliná-lo juntamente com o pastor Mt 18.15,17.
Também cabe aos membros colaborar no desenvolvimento de ambiente de solidariedade e na
responsabilidade de aprovação no ingresso de novos membros. Quando uma igreja está sendo
organizada, os convertidos podem ser examinados pelo pastor em cooperação com dois ou três

19
membros mais espirituais e fiéis. Depois de organizar a igreja e eleitos os seus dirigentes o dever de
examinar os novos convertidos cabe ao pastor junto com estes com aprovação da igreja.
Havendo chegado a um acordo quanto à doutrina, os métodos de trabalho e os objetivos da
igreja, esta, composta dos membros cujos nomes aparecem no rol de membros, principiará a fruir sua
autonomia por meio de decisões e eleições. A igreja é autônoma em sua esfera local e pode resolver
seus problemas, desde que, não prejudique os direitos de uma co-irmã ou contrários princípios
aprovados por convenções Regional ou Nacional. A igreja elege suas próprias autoridades At 6.1-6, as
quais assim eleitas são responsáveis primeiramente perante Deus e também perante à congregação.

3. Prerrogativas dos Funcionários


Já vimos que a igreja local deve eleger seus próprios funcionários. Agora veremos a relação
que deve existir entre : pastor, evangelistas, presbíteros, diáconos e membros. O pastor de uma igreja
ocupa um cargo importante, e às vezes difícil, no qual é posto por Deus como responsável pelo
rebanho I Pe 5.1-4. Porém, ao mesmo tempo é ministro para servir à igreja. Certamente é chamado
por Deus e ao mesmo tempo escolhido pelo povo. Tem uma responsabilidade dupla. É claro que sua
primeira responsabilidade é perante Deus, e se houver conflito entre o que ele considera como seu
dever e o que o povo exija, então como homem de Deus, tem que obedecer antes a Deus que aos
homens. Contudo, é evidente que se o pastor não goza da aprovação e do apoio da congregação, não
pode ministrar eficazmente. Uma ilustração desse princípio vê-se na vida de Moisés, chamado por
Deus Êx 3.10. Porém tinha que ser recebido pelos israelitas antes de tornar-se seu dirigente espiritual
Êx 3.16; 4.29-31.
O pastor é o líder espiritual da igreja e tem a responsabilidade do bem estar dela Hb 13.17. A
ele cabe também dirigir a diretoria e presbitério, a qual não se deve considerar com o direito de agir
independentemente do pastor, nem pode reunir-se secretamente para tratar de negócios da igreja sem
o conhecimento dele.
Contudo a autoridade do pastor tem certas limitações. Por isso o apóstolo Pedro admoesta os
pastores que não devem considerar-se como tendo domino sobre a herança de Deus. O pastor é
ministro e servo da igreja, é um exemplo para a igreja e para os crentes. Embora a igreja eleja seus
representantes oficiais para consultar com o pastor nos assuntos de interesse, este não deve
defraudar a congregação passando por cima dos ditos representantes, sem dar-lhes a devida
consideração. O pastor não tem o direito de aceitar membros nem exclui-los a seu bel-prazer. Em
outras palavras, o pastor não deve agir no espírito de ditador na direção na igreja, e sim, estabelecer
relações harmoniosas e de cooperação com os membros da igreja.
Ao pastor cabe tomar a iniciativa de manter o clima de harmonia geral. Deve convocar
mensalmente a junta para tratar dos assuntos que quase sempre requerem atenção, como por
exemplo, entrevistar os candidatos para o batismo nas águas, a disciplina dos membros, os deveres
financeiros da igreja, etc. O pastor deve evitar o costume de tratar particularmente com um ou dois
membros de maior influência ou prestígio da junta, ao invés de reunir todos. Tal costume lhe causará
sérias dificuldades.
Ainda que tudo pareça seguir normalmente na igreja, o pastor não deve deixar de reunir a
diretoria e presbitério. Muitas vezes os membros sabem de dificuldades que ele próprio desconhece. O
pastor deve dar oportunidade a todos os oficiais da igreja para apresentarem os problemas e opinarem
a respeito. As decisões não devem ser tomadas isoladamente pelo pastor, nem por nenhum outro
membro do corpo oficial, mas por votação. Reconhecemos que a decisão da maioria é o que deve
prevalecer, contudo, em qualquer assunto de maior gravidade cabe ao pastor buscar uma decisão
unânime por parte da junta oficial. Descobre-se que os membros da diretoria não estão de acordo
sobre algum ponto, o melhor é adiar a decisão, dando lugar a maiores estudos e orações para buscar
subsídios ao assunto discutido. Decisões impostas contra a vontade de uma minoria considerável
criarão dificuldades ao governo da igreja.
Ainda que não haja qualquer assunto de gravidade a discutir, mesmo assim deve reunir-se a
diretoria para oração. Não há nada melhor para estabelecer unidade entre os oficiais da igreja e seu
pastor que reuniram-se para discutir os problemas da igreja e orarem juntos, visando ao progresso da
obra. Feliz o pastor que aprende bem esta lição e sabe trabalhar em harmonia com a diretoria.
Quanto às eleições, é provável que especialmente nas primeiras eleições gerias da igreja, ela
precisa de certa direção e conselho. O presidente da reunião deve explicar deve explicar à igreja as
qualificações bíblicas para o posto de diácono I Tm 3.8,13; At 6.1,6. Se se trata de novos crentes, um
estudo bíblico sobre o assunto dado com antecipação, será de grande benefício. É bem sabido que

20
uma igreja não madura na experiência cristã muitas vezes escolherá alguém por motivos falsos, por
simpatia pessoal, antes de fazê-lo por qualificações espirituais. Portanto, é aconselhável que haja uma
comissão encarregada de apresentar candidatos, a qual o presidente pode explicar mais claramente
as qualificações do posto e fazer para saber acerca dos candidatos apontados. Portanto sugere-se que
a igreja eleja uma comissão encarregada de propor os candidatos à eleição. Devem-se indicar mais
candidatos que o número necessário de funcionários a fim de facilitar a seleção. Também é proveitoso
que o presidente juntamente com a comissão nomeada, explique a cada candidato os predicados
exigidos, para que cada um possa retirar seu nome, caso não se sinta capaz de cumpri-los. A mesma
diretoria não deve servir como comissão encarregada de propor candidatos, embora seja permanente
nos postos.
Certas igrejas têm estabelecido como regra, que um membros da diretoria não deve continuar
no posto durante mais de três anos consecutivos, sem que os outros irmãos se desenvolvam no
ministério e nas responsabilidades.

4. Disciplina dos Membros


O alto privilégio da autonomia leva consigo certas responsabilidades sérias. A igreja local que
procura governar-se segundo o modelo do Novo Testamento faz-se automaticamente responsável em
manter a ordem e a norma bíblica. Sem dúvida, um dos aspectos difíceis do governo próprio é a
disciplina dos membros. A bíblia contém exortações com respeito ao assunto Vide Mt 18.15,17; Gl 6.1;
Rm 16.17; I Co 5.12; II Ts 3.16; Tt 3.10,11.
É da responsabilidade de uma igreja exercer vigilância sobre a vida dos membros. A maior
responsabilidade repousa sobre o pastor e o presbitério. Quando se tem conhecimento que um
membro tem deslustrado o bom testemunho da igreja por atos indignos, cabe ao pastor e presbitério
investigar e tomar uma decisão em nome da igreja. É muito natural e assim sucede com a maioria, não
desejar encarar uma pessoa faltosa, pois nunca sabemos qual será a reação geral. Ocorre ainda que
os membros da congregação podem ser influenciados desfavoravelmente. Por causa desse risco,
muitos pastores se refugiam na oração certos de que será melhor confiar em Deus que tratar do
assunto. Acham melhor manifestar um espírito amável do que agir com dureza contra aquele que
pecou. Claro que a oração é importante, e muito necessária quando temos de tratar desses assuntos,
porém a oração por si só não solucionará o problema que requer decisão e ação. Paulo orava em tais
casos, porém também fazia mais do que isso: orava e agia I Co 5. Não devemos Ter outro sentimento
senão o amor para com aqueles que não cumprem a vontade de Deus.
Quando um pai corrige um filho, não mostra falta de amor, antes a correção é a prova de seu
amor. Assim, na igreja não seria manifestação de zelo para com Deus nem para com a pessoa, deixá-
la arruinar o bom nome da igreja e sua própria vida espiritual sem uma palavra de admoestação ou de
correção mais séria, conforme o caso. O pastor não é digno dessa alta vocação se deixa de cumprir
um dever somente para ser agradável. Se passarmos por cima dessas coisas, o testemunho do
Evangelho sofrerá danos. Os não convertidos crerão que apresar de nossa pregação e nosso
testemunho de santidade, fechamos os olhos ao pecado e em nada somos diferentes dos não salvos.
Portanto, por amor à igreja, à alma do membro faltoso e por amor aos não convertidos que nos
observam, é que devemos cumprir a nossa solene responsabilidade. Façamo-lo com oração e amor.
Sejamos misericordiosos para que alcancemos misericórdia, porém quando os interesses do reino de
Deus exijam, não vacilemos.
Quando ocorre a notícia de que um membro da igreja tenha caído em pecado, o pastor deve
falar primeiramente com o acusado, e se não puder esclarecer o problema, reúne o presbitério e
preceda a uma investigação vide Mt 18.15,17. O acusado deve ser chamado à reunião. Se negar a
culpa, ser-lhe-á dada oportunidade de provar inocência e não será tido por culpado até que se
encontre a evidência da culpa. Uma vez provada à culpa, o presbitério tratará com ele segundo a
gravidade do caso. Em faltas de menor consequência, se o acusado demonstrar espírito humilde e
arrependido, deve ser perdoado e aconselhado. Se a falta foi tal que causou censura do mundo ao
testemunho da igreja, como no caso de embriaguez e imoralidades, então o culpado deve ser
aconselhado, se mostrar-se arrependido sinceramente, deve ser perdoado; porém, se ao mesmo
tempo o presbitério impor-lhe um período de disciplina, em que o culpado dará provas de sinceridade,
de arrependimento e se restabelecerá na confiança dos irmãos e dos convertidos. Durante o período
de disciplina, não poderá participar dos cultos privados nem terá outros privilégios dos membros ativos
em comunhão. Para alcançar o efeito devido, a decisão do presbitério deve ser anunciada para que a
igreja saiba e ore por ele, ajudando-o a voltar à vida espiritual. Ao mesmo tempo, isto o fará

21
reconhecer a gravidade da falta. Em tudo isso é mister que se manifeste o espírito de amor e
misericórdia. O objetivo da disciplina não é castigar, mas antes restaurar a vida espiritual. Deus é o juiz
de todos, porém, a igreja é responsável em vigiar por seus próprios membros e o testemunho que dão
I Co 5.12-13. Vê-se que os pastores e oficiais da igreja devem ser homens íntegros, caracterizados de
misericórdia, coragem e justiça. Devem ser imparciais sem favoritismo, mas sem tolerância com o
pecado. A importância da disciplina para o crescimento e a estabilidade da igreja é de valor
inestimável. Deus honrará a igreja que o honra na sua Palavra.

5. A Decisão Final
Quando às vezes surgem circunstâncias nas quais o pastor e os membros da igreja não podem
chegar a um acordo completo, o pastor e a diretoria chegam a um acordo sobre a melhor maneira de
resolver um problema. Outras vezes uma boa parte dos membros não está de acordo com a pastor e o
presbitério. Em regra geral, quando o pastor alcança harmonia entre os membros da diretoria e do
presbitério, a igreja os segue. Porém isto requer tempo e paciência. Como já dissemos, é aconselhável
evitar um passo precipitado, e não resistir em adotar uma decisão quando as emoções estão agitadas.
É melhor adiar a solução, dando lugar ao arrefecimento dos ânimos e a um julgamento mais são.
Há pastores que às vezes insistem em seus próprios pontos de vista, dividindo a congregação
e causando sérias dificuldades as quais podiam ser evitadas com um pouco de paciência.
Se o pastor se dá conta que não tem o apoio dos membros da diretoria ou presbitério em
determinado assunto, e, mesmo dando tempo para tratá-lo com paciência, o presbitério e diretoria não
chegam a uma conclusão, se ele considera o caso como de importância e necessário bem-estar geral,
seu único recurso é apelar para a igreja. Decisão final em assuntos locais se tomará coma igreja
reunida. Ainda nessa parte o pastor tem a grande responsabilidade de ensinar a igreja a conduzir-se
de tal maneira que tudo seja feito sob a direção suprema do Espírito Santo e conforme a Palavra de
Deus. De modo que, quando resultar um desacordo que não possa ser resolvido pela ação da
diretoria, ele leva os assuntos à igreja em reunião convocada para esse fim, e a questão será discutida
e posta em votação. A decisão da maioria será decisiva nos assuntos locais.

22
5. Sustento Financeiro

Ao procurar voltar ao exemplo do Novo Testamento, em nosso trabalho de fundar igrejas no


campo missionário, não encontramos problema mais difícil do que esse do sustento financeiro. O
problema é tão sério não porque o sustento financeiro seja difícil, mas em grande parte devido à
métodos implantados pelas missões ao estabelecer uma igreja.
Ainda que pareça estranho, as dificuldades a esse respeito resultam a magnanimidade mal
orientada dos missionários que lançam os alicerces da obra. Vejamos por um momento o tremendo
problema que o missionário enfrentava. Encontrava-se quase só em um território imenso. A princípio
não havia nem amigos nem crentes para ajudá-lo. Sentia-se triste e aflito ao ver as multidões sem
Cristo, cidades inumeráveis sem o Evangelho. Ainda mais, os convertidos que aceitavam o Senhor,
muitas vezes eram rejeitados pelo seu próprio povo. Às vezes o novo convertido pedia o emprego. O
missionário procurava resolver ajudando-os peculiarmente de uma forma ou outra. Não raro, dava-lhe
emprego na missão. Se eles mostravam interesse e capacidade para o ministério espiritual, então o
missionário os aceitava como obreiros na obra de Deus. Esses obreiros assim afastados dos seus,
chegavam a depender do missionário para sua manutenção para sua manutenção e, ao fundarem
congregações, não ensinava os princípios básicos da responsabilidade financeira da obra. O
missionário recebia o sustento do estrangeiro que por sua vez mantinha o obreiro. Daí a pensarem:
para que pedir que os convertidos se sacrifiquem para sustentar sua própria igreja e pastor?
O missionário, via de regra, encontrava candidatos aptos para o ministério entre os estudantes
do colégio da missão. Os crentes adultos tinham obrigações de famílias e logicamente era-lhes mais
difícil prepararem-se convenientemente. Assim o missionário escolhia os jovens que podiam preparar
com maior facilidade, na esperança de que por meio do treinamento e do exemplo pudessem chegar a
desenvolver-se um trabalho de ministério adequado à evangelização do seu próprio povo e a direção
da igreja. Às vezes tinha êxito porém encontrava inúmeros e sérios obstáculos. Esses obreiros ficavam
acostumados a depender da missão e do missionário, o qual além de lhe resolver os problemas
monetários, os dirigia no trabalho.
Ao terminar os estudos, esses obreiros esperavam continuar recebendo o sustento da mesma
fonte, afastados de seu próprio povo e, tendo abandonado seus costumes, não lhes seria fácil
acomodar-se novamente à vida primitiva das aldeias. Estavam já acostumados a nível mais alto que
somente podiam manter com o auxílio financeiro do missionário. Era assim que os pastores e as
igrejas por eles levantadas se consideravam como dependentes do missionário. Como resultado, as
igrejas perderam muito da iniciativa individual e do vigor da vida espiritual que resulta do trabalho
verdadeiramente nacional. A princípio nem o missionário, nem o obreiro, nem mesmo os crentes
entendiam os efeitos debilitantes deste comportamento. Mais tarde, acostumaram-se a esses métodos,
mas já não era fácil de mudar. Assim o sistema foi perpetuado. É nosso propósito aqui explicar porque
se deve remediar tais casos e como fazê-lo.
Antes de prosseguirmos, seria proveitoso apresentar os motivos porque cremos que as igrejas
devem sustentar-se financeiramente.

1. Plano bíblico I Co 9.7-14. A igreja verdadeira deve instituir-se no exemplo e ensinamento


do Novo Testamento. Não podemos usar outro método sem risco para a vida espiritual da igreja. A
bíblia tem que ser o nosso guia. Suponhamos que o leitor está familiarizado com o ensinamento bíblico
acerca do dízimo. No momento queremos chamar a atenção a um só texto. Em I Co 9.13-14, o
apóstolo Paulo dá como exemplo, a prática dos sacerdotes do Velho Testamento no concerto,
declarando que os que ministravam as coisas sagradas no Templo recebiam seu sustento dos dízimos
da nação israelita o dízimo é dez por cento das entradas. Veja Nm 18.20-21. Logo em I Co 9.14, o
apóstolo diz: Assim ordenou o Senhor aos que anunciam o Evangelho, quer dizer que como os
sacerdotes viviam dos dízimos do povo, assim também, Deus ordenou que o ministro evangélico seja
sustentado pelo dízimos e ofertas da congregação.
O sustento de pastores e igrejas por pessoas estranhas, nem sequer é mencionado no Novo
Testamento. Não achamos onde o apóstolo Paulo ou outro ministro solicitasse auxílio à igrejas de
Jerusalém ou de Antioquia para o sustento das novas igrejas fundadas por seus esforços missionários.
Contudo, ele exortou os novos convertidos a que sustentassem sua própria obra e que ajudassem os
próprios pastores com ofertas e bens materiais I Tm 5.17-18; Gl 6.6. E ainda vemos que em certa
ocasião quando houve fome na Judéia, o apóstolo Paulo ajuntou ofertas das igrejas novas com o
propósito de enviá-las aos irmãos atingidos da igreja mãe em Jerusalém.

23
Porém, alguém pode objetar: Não trabalhou Paulo com as mãos para sustentar-se ao invés de
levantar ofertas das igrejas? Não devemos seguir o exemplo? Respondemos: O apóstolo Paulo tinha
auxílio de duas fontes: recebia auxílio das igrejas para a obra missionária Fp 4.16, e, quando não
havia ofertas das igrejas, trabalhava para seu próprio sustento e para suprir as suas necessidades. Ele
explicava que o fazia de propósito, isto é, exortava os crentes a sustentarem aqueles que os serviam
no Senhor. Os missionários modernos, também devem seguir o exemplo do apóstolo Paulo neste
sentido, via de regra, os missionários não recebem ofertas das igrejas ainda que biblicamente
pudessem fazê-lo, apenas para evitar má compreensão e não serem acusados por parte dos inimigos
do Evangelho como exploradores dos convertidos. Os missionários, assim como o apóstolo Paulo
também o fez, despojaram as outras igrejas II Co 11.8, isto é, as igrejas de sua pátria no exterior, para
poderem servir as novas igrejas que estabeleceram. Porém, como o apóstolo Paulo exortou os novos
convertidos a que ajudassem no sustento a seus pastores, assim o missionário deve exortar as igrejas
a que sustentem os pastores que lhes ministram a Palavra. É louvável que um obreiro, desejando
estabelecer uma igreja em campo novo, trabalhe com as mãos para sustentar-se, contudo uma vez a
igreja estabelecida, ela mesma deve responsabilizar-se pelo sustento do pastor.

2. O Dízimo. Uma igreja deve sustentar-se por meio de dízimos dos membros, pois só assim
chegará a um método lógico e equitativo para o sustento do ministério. Dez famílias ou mais que deem
o dízimo fielmente podem sustentar o pastor mais ou menos n nível de vida deles próprios. Devemos
reconhecer que o pastor e sua família têm mais gastos que uma família comum da congregação,
porém, à medida que sua igreja cresce, as entradas aumentam. Deve-se entender que os dízimos são
para a casa do tesouro Ml 3.10, e não para o pastor pessoalmente. A diretoria estudará honorários
pastorais prebenda e outros gastos da obra.

3. O Sustento do Pastor. Resulta de grande benefício para a igreja o fato de ser responsável
pelo desenvolvimento da própria obra e do sustento do pastor. Quando os irmãos evitam a
responsabilidade no sustento financeiro da obra do Senhor passam também a não responsabilizarem
pelos deveres espirituais para com a igreja. É fácil observar como é vital este assunto à vida e ao vigor
duma igreja padrão, quando a comparamos com outra que esteja acostumada a receber tudo de
graça. Uma congregação que se sacrifica e trabalha pelo próprio êxito, em regra geral, terá também
mais iniciativa na evangelização e em tudo o que diz respeito ao progresso da obra, enquanto que a
igreja que recebe tudo sem fazer a sua parte, poucas vezes demonstra esta iniciativa.

4. Pastor é empregado. O pastor também deve sentir-se responsável pela sua igreja. O pastor
necessita reconhecer que sua chamada é divina, para executar uma obra e cumprir um dever da parte
de Deus, antes de considerar-se como empregado. De outra maneira seu ministério ficará seriamente
enfraquecido e sujeito ao fracasso.

5. Sacrifício Quando Necessário. Devemos acentuar que o sacrifício e a amargura são


inevitáveis no desenvolvimento do ministério pastoral. Quando as circunstâncias exigem que o obreiro
espere de Deus o seu sustento, resulta daí o fortalecimento da fé na vida espiritual.
Quando porém não ocorre essa hipótese o pastor fica privado deste meio prático de crescer na
vida espiritual. O obreiro que deseja um ministério robusto terá de confiar em Deus e ser dirigido por
Ele. Se por acaso alguém pensa que escrevemos apenas do ponto de vista teórico, esteja seguro de
que não estamos exigindo de outros o que nós mesmos não tenhamos feito. Aprendemos estas lições
de tanto valor durante vários anos de lutas em campos novos e em campo missionário em
circunstâncias bem difíceis. Temos de passar por essa experiência de esperar em Deus diariamente,
para as necessidades mínimas da família, sem outro meio visível de sustento para melhor avaliarmos
a vida de fé. Assim se fortalece a fé e se lança os alicerces de um ministério abençoado e profícuo.

6. A Igreja Aceita o Desafio. Agora chegamos ao último e talvez ao mais poderoso motivo
pelo qual a igreja deve sustentar-se. Se a igreja não pode enfrentar suas próprias despesas chegará o
dia em que não poderá estender-se por falta de recursos financeiros, porque todos os fundos foram
usados somente para manter a obra. Nesse caso, a igreja se encontrará em circunstâncias que lhe
impedirão de tomar a iniciativa da evangelização, ou de fundar igrejas novas, ou ainda educar ou
preparar novos obreiros para o ministério. Tal situação chegaria a se insustentável. Não podemos crer
que a igreja de Jesus Cristo deva viver sujeira a tais limitações. Ao contrário, quando cada nova

24
congregação se encarrega da responsabilidade do próprio templo e da mensalidade de cada pastor
não há limites às possibilidades de expansão da igreja. Cada igreja nova será uma entidade capaz de
sustentar-se e progredir e, na medida que novas igrejas se levantam, estas assumirão a
responsabilidade de sua própria obra. A verdade é que as novas igrejas mesmas chegarão a ser uma
fonte de entradas para ajudar a expansão da obra e da evangelização do país.
Examinemos alguns passos práticos que nos ajudarão a alcançar tão louvável alvo;
primeiramente os pastores mesmos devem ser ensinados e convencidos da necessidade de
estabelecer o sustento próprio da igreja. Os obreiros devem dar todo apoio moral a este esforço. É
preciso que eles se convençam do benefício que receberão, assim como também a própria obra
lucrará com essa maneira de agir, então, devem dedicar-se à realização desse processo. Se o obreiro
mesmo não está de acordo com esses princípios, será muito mais difícil ensinar a igreja a cumprir a
sua responsabilidade.
Devemos lembrar que certos obreiros, por falta de visão, preferem confiar no sustento muito
limitado da parte de fora de alguém ao invés de depender de Deus e de sua igreja. Já vimos que
quando o obreiro se anima e lança-se a seguir o plano bíblico, muitas vezes, dentro de poucos meses
se encontra em melhor situação financeira do que quando depende de outra fonte. A razão principal
disto é que a congregação, de modo geral, não sente a responsabilidade de sustentar o pastor,
quando sabem que o sustento do pastor compete a outros e não a ela. Logo, as igrejas mesmas
devem ser iniciadas na tarefa do sustento próprio.
Os missionários e ministros devem ensinar a cada membro a dar o dízimo. Tudo o que se
relaciona com este assunto deve ser discutido com eles. Às vezes é necessário muita paciência para
ensinar a uma igreja já estabelecida há anos, desabituada dessa responsabilidade, porém, uma vez
que os membros vêem os benefícios espirituais, eles mesmos ensinarão aos demais. Os obreiros da
igreja devem servir de exemplo aos demais membros. É muito importante que quando um membro
aceita a responsabilidade de um posto na igreja, tenha consciência desse alto privilégio, que inclui a
responsabilidade de ser o exemplo dos demais em todos esses assuntos.

7. Ensinando sobre o Sustento da Igreja. Para apresentar a igreja o tema do próprio


sustento, o pastor ou missionário deve dar estudos bíblicos. Antes de apresentar o plano à igreja deve
discuti-lo na diretoria e presbitério. Não deve procurar impor o plano contra a vontade dos membros,
antes convém inspirar os membros para que eles mesmos se animem a dar os passos necessários
para alcançar o alvo.
Também é de muita importância que os novos convertidos sejam instruídos com respeito a sua
responsabilidade financeira imediatamente depois de sua conversão e antes de assumirem a categoria
de membro da igreja. Alguns pastores têm vacilado a esse respeito, não ensinando aos convertidos
acerca da responsabilidade financeira, temendo que, ao fazê-lo desanimem os novos crentes. Isso é
uma atitude errada. O tempo mais apropriado para ensinar os crentes é quando seu coração está
aberto para Deus, e estão gozando o primeiro amor. Uma vez acostumados a descuidar-se dessa
responsabilidade será bem mais difícil o ensino.
O pastor deve exercer cuidado especial em estabelecera confiança da igreja quanto à maneira
de manejar os fundos. Alguns pastores não querem que a igreja tome conhecimento das entradas de
dinheiro, temendo que as achem demasiadas. Em regra geral, sucede o contrário. A congregação
sente-se orgulhosa ao saber que sustenta seu pastor acertadamente. Ao contrário, se não sabem o
que ele recebe, muitas vezes creem erradamente que as entradas são maiores que a realidade. Um
relatório financeiro deve ser entregue à igreja em datas determinadas. Isso estabelecerá a confiança
na boa administração, e esta confiança inspira a liberalidade.
É preciso notar que ao pastor cabe dar exemplo com o dízimo do que recebe. Seria impossível
pregar lealdade àquilo que ele mesmo não fizesse. Não nos esqueçamos nunca de que a entidade
mais importante da obra é a igreja local. Tenhamos cuidado de não dirigir a igreja de tal maneira que a
desobrigue da responsabilidade e da iniciativa. Não devemos permitir que uma igreja transfira a
responsabilidade de seu governo, da extensão da obra, nem do sustento financeiro para outros. Uma
igreja que espera que outros façam por ela o que ela mesma deve fazer, torna-se débil e raquítica, em
lugar de gozar do desenvolvimento normal e sadio.
Em tudo isso convém-nos recordar que o estado espiritual da igreja influi na obra em todos os
aspectos, especialmente no aspecto econômico. Ainda que seja difícil ou mesmo impossível alcançar o
sustento próprio da igreja por meios de esforços humanos, todavia com a bênção de Deus e o
derramamento do seu Espírito Santo toda essas coisas são possíveis. A igreja aceitará o ensinamento

25
do sustento e se animará a novos esforços sob a influência do Espírito Santo. Talvez nisso seja
necessário uma palavra de advertência aos nossos obreiros. Se a igreja não está gozando de um alto
nível de espiritualidade, então não é a fase mais propícia para introduzir o assunto do sustento próprio
e introduzir reformas. Antes o pastor deve orar por um derramamento do Espírito Santo e quando
ascender a temperatura espiritual da igreja, e o ambiente estiver saturado das bênçãos do Senhor, aí
será o momento de animá-los a assumir a responsabilidade e a dar novos passos. Lembremo-nos que
em todas estas coisas a vida espiritual da igreja é de primeira importância, os métodos são
secundários.
Uma última palavra de conselho ao pastor que tem de tratar desse problema. É melhor que ele
ensine o dever do dízimo à igreja como verdade bíblica e que ponha em plano secundário as suas
próprias necessidades financeiras. Como um fiel ministro de Deus, deve ensinar o dízimo à igreja
animando-a que assuma suas responsabilidades espirituais, tendo em mira, o melhoramento da igreja
mesma e não para o benefício do pastor. Ensine a verdade e confie em Deus. Deus cuidou de Elias
em tempo de fome, também saberá cuidar dos ministros que lhe obedecem incondicionalmente e
depositam sua confiança nele.

26
Lição 4
6. Organização Nacional

Até aqui tratamos das responsabilidades e das relações no governo da igreja local.
Examinaremos agora o governo das igrejas quando estas constituem uma organização nacional. A
organização nacional deve brotar das raízes das igrejas locais e existir porque essas igrejas assim
necessitam, nunca será imposta ou forçada, sem o consentimento e a participação das próprias
igrejas.
Cumpre recordar que não existe forma de governo perfeita, mesmo entre igrejas. Qualquer
forma de governo eclesiástico leva consigo seus riscos, já que não o livramos da fraqueza humana. A
forma episcopal ou governo de bispos leva consigo o perigo de se estabelecer uma hierarquia
eclesiástica que finalmente buscará os próprios interesses e procurará manter-se no posto de
autoridade eclesiástico centralizado e totalitário. O conceito de que o governo dirigido pelo papa é
infalível foi resultado de elevar este sistema centralizado e totalitário a uma conclusão final e lógica.
Como não foi admitida a possibilidade de erro do elemento humano, o resultado foi um sistema de
doutrinas e práticas totalmente afastadas dos padrões do Novo Testamento. Por outra parte o sistema
democrático de governo, também oferece riscos. Enquanto o povo cristão anda perto de Deus e cheio
do Espírito, é mais acertado confiar que toda igreja entenderá e interpretará corretamente a voz do
Espírito, do que depositar confiança num homem ou pequeno grupo de homens que pretendem ouvir e
seguir a voz de Deus infalivelmente.
Quando a voz de um povo cheio do Espírito, pode fazer-se ouvir, o Espírito Santo tem a
oportunidade de corrigir abusos e tendências perigosas. À medida que o povo cristão se desvia do
contato com Deus e perde a necessária percepção espiritual, aí cresce o perigo de ser guiado pela
sabedoria humana influenciado pelos deuses populares. Em tais circunstâncias a voz do povo não é a
voz de Deus, com também não é a do papa.
Alguns buscam evitar perigos desfazendo toda forma de governo na igreja. Isto, contudo não é
solução. Várias passagens das Sagradas Escrituras ensinam claramente que deve haver governo na
igreja local por meio de anciãos, diáconos, e além disso há o precedente do governo em escala
superior. As mesmas necessidades que levam a igreja local a Ter seu próprio governo indicam
também que deve haver alguma forma de governo capaz de unir entre si as várias igrejas locais,
visando à unidade doutrinária e prática. Na época apostólica existiam não somente igrejas locais como
as de Jerusalém e de Éfeso, mas também, as igrejas da Judéia e da Ásia, o que indica que a igreja era
formada de unidades de um país I Co 8.1; 9.2; I Ts 2.14 ou regiões de um país. Há quem creia que o
governo geral deve ser limitado à esfera de uma igreja local e que cada um deve funcionar como
entidade independente. As igrejas locais devem funcionar com autonomia em sua esfera, porém além
dessa esfera, a igreja existe eminentemente como corpo de Cristo e não pode fugir às ligações e
relações entre as igrejas como um todo. Por exemplo, o ministério dos apóstolos não de destinava a
preencher a necessidade de uma igreja apenas, mas era posto a serviço das igrejas, uma ou mais
vezes segundo as circunstâncias. Como o membro, assim essa mesma igreja necessita reconhecer-se
como parte da igreja estabelecida em seu estado. A necessidade de tal união resulta dos fatores
seguintes:
a. A imprescindível comunhão cristã. Grupos pequenos de crentes, que não têm contato com
outras igrejas, podem vir a desanimar e ficar inativos. O intercâmbio da comunhão cristã com outras
igrejas aviva o ânimo dos crentes, produz o gozo do Espírito Santo e estimula a atividade cristã.
b. A unidade e a comunhão cristã produzem a fixação e corrigem as igrejas locais. Como o
crente individualmente deixado a sós pode adquirir ideias estranhas e interpretações incorretas ou
fanáticas das Escrituras, assim também as igrejas, sem contato com outras igrejas, estão sendo
expostas ao mesmo perigo. A união e a comunhão podem corrigir tais anomalias. O contato com
outras igrejas serve para conservar o equilíbrio espiritual nas igrejas locais.
c. A organização das igrejas de um estado ou país permite levar a cabo certos projetos que
iriam além do alcance de uma igreja local isolada. Esses projetos preveem a extensão da obra a
cidades e estados vizinhos não evangelizados, o estabelecimento de Institutos Bíblicos para instrução
de obreiros e cooperadores, a eleição e o sustento de ministros aptos para servir às igrejas como
evangelistas, mestres e dirigentes, os quais executarão os projetos necessários ao progresso e
manutenção do trabalho. Deus é o autor da boa ordem. Mesmo na esfera material ele organizou os
planetas e determinou os tempos. Em toda a natureza vemos que as criaturas dependem umas das

27
outras para a própria existência. Na sociedade, Deus instituiu a família como entidade social
organizada, e os governos humanos contam igualmente com sua aprovação. Ele ordenou a
organização da nação israelita, e quando as responsabilidades de governo tornaram-se
demasiadamente pesadas para Moisés, designou-lhe setenta anciãos do povo para o ajudarem no
governo. Os apóstolos organizaram a igreja de Jerusalém com a eleição dos sete diáconos. O Espírito
Santo pôs na igreja o ministério e o Dom de governos I Co 12.28.
A Livro de Atos não apresenta claramente um plano de organização para o governo de igrejas.
Contudo encontramos ali princípios fundamentais. Vejamos então como a igreja apostólica resolveu os
problemas que afetavam não apenas a igreja local, mas todas aquelas da época.

1. O Concílio de Jerusalém – O Primeiro


Ao expandir-se o Evangelho por todo o império romano, e ao se estabelecer igrejas entre os
gentios, surgiram problemas de largo alcance, os quais uma igreja local não podia resolver por si.
Parece que as igrejas de cristãos judeus prosélitos continuavam a observar as leis e ritos mosaicos.
Ao contrário, as igrejas gentílicas estabelecidas por Paulo e Barnabé haviam sido ensinadas que a
salvação dependia da fé em Cristo, os convertidos não haviam sido submetidos à circuncisão nem às
demais exigências da lei. Quando porém os crentes judeus souberam disso escandalizaram-se e
começaram a perturbar procurando corrigir o que parecia uma falta grave na instrução espiritual dos
gentios. Eles ensinavam que os gentios mesmo aceitando a Cristo, para obter a salvação, tinham de
obedecer às ordenanças da lei de Moisés, tornando-se prosélitos do judaísmo. Paulo e Barnabé viram
no ensinamento dos crentes judaizantes uma ameaça à doutrina da salvação pela fé em Cristo. Uma
divergência de opinião sobre doutrina básica bastou para que nenhuma igreja fosse individualmente
capaz de resolver o problema.
Que curso seguiu a igreja primitiva para chegar à decisão sobre assunto de tal magnitude? A
quem pertencia a voz de autoridade? Ao examinarmos, descobrimos a maneira como a igreja primitiva
resolveu esse problema. Vemos que a igreja temia decidir sobre um problema de doutrina e de falsos
mestres At 5.1-6; Gl 6.12; II Co 11.12.
Representantes da igreja inteira, inclusive delegados locais, reuniram-se em Jerusalém para
discutir o assunto At 5.2-6. Todos os elementos tinham representação: judeus e gentios, apóstolos e
anciãos e delegados das igrejas. Os missionários-apóstolos narraram à assembleia as maravilhas da
obra da graça operada entre os gentios. At 5.4. Assim focalizaram o problema v.5. É notável que
ninguém falou EX CATEDRA, como se tivesse a palavra final. Aparentemente não tocou a Pedro
presidir a assembleia, mas sim a Tiago, o pastor ou figura principal da igreja de Jerusalém. Como
primeiro passo, teve como lugar uma discussão geral do assunto, na qual todos participaram e a qual
Pedro acrescentou o relato da experiência própria acrescentado sua opinião. At 15.6-7. Depois Tiago
fez um resumo da discussão e apresentou a proposta vs.14 e 21 que teve aprovação geral vs.
22,23,25, e os presentes fizeram constar em ata a decisão a fim de que servisse como guia às igrejas
gentílicas vs.28-29. Confirmaram por escrito os obreiros fiéis, e elegeram homens encarregando-os de
uma comissão especial em o nome da igreja inteira vs.22,25. Declararam também, que o Espírito
Santo lhe dirigiu na resolução v.28. Um relato das decisões foi enviado às igrejas vs.23 e 30.
Há alguns que se opõem a discussões e votações em assembleias realizadas para tratar dos
negócios da igreja, considerando tal procedimento como demasiado carnal, numa igreja espiritual.
Creem como preferível que o dirigente inspirado diga aos demais o que se deve fazer, ou o que o
Espírito Santo os oriente por meio de mensagem profética. Essas objeções carecem de base. Naquela
ocasião a igreja gozava da direção inspirada dos apóstolos. Também as igrejas estavam acostumadas
ao ministério dos profetas que falavam sob a inspiração do Espírito Santo. Contudo não apelaram à
voz autoritária de um apóstolo, nem à declaração inspirada de profeta para guiá-los, porém, apesar
disso, vemos claramente, que o resultado da discussão geral e o acordo a que chegaram, foi sob a
sábia direção do Espírito Santo: Pareceu-nos bem ao Espírito Santo e a validade da revelação que ele
mesmo recebera de Deus, a juízo desse concílio. De fato, parece que ele recebeu instrução ou
revelação divina ao tomar essa atitude Veja Gl 2.1-2. Eis aqui um resumo dos passos dados pelo
concílio em Jerusalém, na solução do problema que afetava as igrejas.
 Reuniram-se ministros e delegados em um só lugar.
 Receberam informação dos obreiros.
 Submeteram o problemas à discussão geral da assembleia.
 Ninguém pessoalmente ditou a decisão, mas esta foi aprovada por acordo geral.
 Aprovaram a doutrina sã e desaprovaram o ensinamento errôneo.

28
 Deram beneplácito aos homens de bom caráter e de ensinamento são.
 Escolheram alguns homens dentre eles, investindo-os de missão especial.
 As decisões foram aprovadas por unanimidade.
 Registram atas da reunião e as distribuíram entre as igrejas.
 As discussões foram guiadas pelo Espírito Santo.

Aqui, pois, temos altos princípios que nos devem servir de guia para a solução de problemas
que porventura surjam em nossas igrejas. Devemos reunir os representantes da igreja e
especialmente os elementos que se sentem prejudicados pelos problemas. Ninguém deve ditar regras.
Todos devem Ter oportunidade de dar o seu parecer. Durante os debates podem confiar que o Espírito
Santo lhes dará a palavra de sabedoria e dirigirá os pensamentos. Sob a direção do Espírito Santo, o
Senhor ajudará a assembleia a chegar a um acordo. Segundo as necessidades, pode-se escolher
homens fiéis para comporem uma comissão especial em benefício de todas as igrejas. É de todo
correta a decisão da igreja local de Jerusalém escolher alguns homens para levar a cabo uma
comissão especial At 6.1-6, e assim também o conjunto de igrejas no concílio de Jerusalém selecionou
e comissionou certos homens para aclarar a correta posição doutrinária às igrejas gentílicas. Nada
impede hoje em dia a um grupo de igrejas constituir-se em convenção e comissionar homens aptos
dentre elas para levar a cabo projetos necessários e benéficos à generalidade das igrejas.
Praticamente a igreja hoje requer comissões: homens competentes para dirigir, para
aconselhar e para ajudar as igrejas com problemas internos. Homens que velarão por certas regiões e
animarão os grupos pequenos e fracos para que possam progredir; homens que sirvam como
secretários e outros cargos necessários, a um conjunto de igrejas, a fim de facilitar o encaminhamento
dos acordos. A convenção podem também recomendar a responsabilidade de levar a cabo certos
projetos para o proveito das igrejas no interior interconvencional.
O território que a convenção abrangerá será decidido levando em conta dados geográficos de
fronteiras nacionais e diferenças de idiomas. Há pouco proveito em se filiarem igrejas quando estas
estão longe uma das outras pois não podem manter comunhão entre si.
Quando a distância, a língua ou as fronteiras, limites estaduais, etc. impedem a união das
igrejas em uma só convenção é preferível que tenham a sua própria convenção.
Da mesma maneira que os membros de uma igreja local podem chegar a um acordo quanto a
sua própria norma, assim os representantes das igrejas devem reunir-se para concordar sobre os
princípios que servirão de guia ao desenvolvimento das igrejas em sua região. Cada igreja local deve
ser representada na convenção por seu pastor e por delegado devidamente credenciado.
A media que a obra se estende, o país pode ser dividido em outras regiões, e cada uma pode
Ter várias igrejas. Estas igrejas podem realizar reuniões de confraternização em um lapso de tempo
segundo as circunstâncias. O ministro escolhido na convenção para presidi-la terá a seu cargo a
vigilância de cada região e colaborará com os pastores das igrejas em seus problemas. Sendo este
ministro também pastor de uma das igrejas da região, não dependerá de sustento de outras fontes.
Pela mesma razão, o número de igrejas sob sua vigilância deve ser limitado, de outro modo terá que
desatender a sua própria igreja, para atender às demais, ou deixará de ser eficiente na obra da região.

2. As Relações Internas Nas Igrejas Nacionais


Convém lembrar que a autoridade final não descansa nos homens escolhidos para levar a
cabo certa comissão e sim, na convenção que os escolheu. A autoridade suprema da Convenção
Nacional reside na própria convenção assembleia. Essa autoridade se expressa pelas decisões e pela
eleição quando em assembleia e se delega em um sentido restrito aos ministros eleitos, para
responderem pela convenção no interregno das assembleias sessões. Nesse intervalo a autoridade da
convenção repousa nos funcionários da maneira seguinte:
A Junta Executiva é o corpo mais representativo de toda a organização, e, portanto nela se
apoia a maior autoridade quando a convenção não está em sessão. A Junta Executiva é composta de:
Presidente, Vice-presidente, Secretários, Tesoureiros e demais obreiros, assume a responsabilidade
de quando não está reunida a convenção geral. O presidente é o obreiro de maior responsabilidade e
autoridade na junta executiva e na sua ausência é substituído pelo vice presidente e depois deste pelo
secretário, a seguir o tesoureiro, a menos que haja outra designação de autoridades, dada pela
convenção. Por conseguinte, uma dificuldade que a junta não possa resolver e se considera incapaz, o
caso deve ser levado à convenção nacional em sessão que é autoridade suprema das igrejas em
assuntos de interesse geral. Devemos lembrar que somente a convenção geral, em sessão, tem

29
prerrogativas legislativas. A Junta Executiva tem função de administrar e levar a cabo as ordens do
corpo nacional, mas não de ditar leis.
Vemos, pois, que há duas organizações dentro da igreja: primeiro da igreja local com a sua
junta oficial ou diretoria, a qual administra os assuntos da igreja local; segundo, a organização nacional
que representa o conjunto de igrejas da região, a qual tem também seus funcionários e regulamentos.
Que relação tem esses dois grupos entre si? Repetimos uma vez mais que reconhecemos a
autonomia da igreja local em sua própria esfera. A Convenção Geral organização nacional não existe
com o fim de usurpar a autoridade inerente das igrejas locais, nem de lhes tirar os direitos e privilégios
bíblicos, os funcionários da organização nacional servem a igreja em caráter consultivos e de
cooperação, recomendam, aconselham, porém nada exigem. Por conseguinte, um membro da
organização nacional não tem direito de ditar regras a um pastor ou à igreja local. Os membros
executivos podem apenas auxiliar e aconselhar. A decisão verdadeira e final é algo que pertence a
igreja local e deve ser feita por ela mesma.
Contudo essa autonomia não é absoluta. Por exemplo, a igreja local não em o direito de adotar
medidas que contrariem aos acordos da organização nacional que representa o conjunto das igrejas,
nem de invadir a área de autonomia de uma co-irmã. Para explicar mais amplamente, a convenção
geral tem o direito de aprovar ou desaprovar os ministros. Logo, uma igreja local não tem prerrogativas
de instalar ser dirigida como pastor, um ministro disciplinado pela organização nacional. Nem pode
permitir que ensine uma outra doutrina não aprovada pelas igrejas em geral, e nem ainda que sigam
práticas prejudiciais à moral da igreja nacional. Nisto, a relação de uma igreja local com a organização
nacional é semelhante à relação do membro de uma igreja local com a sua própria igreja, e em ambos
os casos é mister que se mantenha a norma de conduta e da sã doutrina, em harmonia com o grupo a
que se está filiado. Não é difícil perceber-se que se uma igreja quisesse receber como pastor um
ministro eventualmente disciplinado por imoralidade a atuação dessa igreja teria um resultado
debilitante, já que o resultado de sua atuação iria muito além da esfera local.
A autonomia da igreja local é limitada pelos direitos das demais igrejas. As igrejas têm o direito
de exigir que outra, a ela associada guarde as mesmas normas. Vemos então que a soberania de uma
igreja local se limita voluntariamente quando esta se associa a outras e forma um corpo com elas.
Estas igrejas são autônomas, porém, não são independentes porque são membros do mesmo corpo.
Como o princípio básico de forense explica: O direito de um determina quando o direito do outro
começa. Assim que, as igrejas locais são autônomas porém não têm a liberdade de prejudicar as
demais, atuando em sentido contrário a estas.
Por outro lado, os membros que representam a organização nacional devem Ter muito cuidado
de não violar as prerrogativas da igreja não lhes impondo decisões forçadas. Afinal de contas, rogos e
súplicas baseados nas Escrituras, têm mais força que exigências humanas e dão melhores resultados.

3. Sustento dos Obreiros da Organização Nacional


Ao organizar as igrejas em convenção, deve-se fazer provisão para o sustento financeiro de
seus obreiros. Dependendo de querer a convenção que os obreiros dediquem tempo integral nestes
trabalhos. Se não, o presidente da junta e demais autoridades podem continuar com seus pastorados
e limitarão suas visitas às igrejas em ocasiões especiais e às chamadas de emergência. As
convenções de cada região se encarregará de zelar pelas demais necessidades da igreja. Este
sistema traz certas vantagens e não impõe pesada obrigação financeira sobre as igrejas servindo
ainda para evitar o perigo de uma organização nacional demasiada centralizada em países pequenos.
Ao contrário a experiência mostra que o pastor que acumula suas funções normais com a de
funcionário de uma organização nacional fica impossibilitado de atender com eficiência a um e a outro.
De modo que, em regra geral as exigências do posto presidente executivo, no mínimo, requerem
tempo integral no cumprimento da responsabilidade do cargo, principalmente em países grandes de
áreas continentais. Ex.: A obra das Assembleias de Deus em vários países da América Latina. Os
pastores das igrejas contribuem economicamente para a manutenção dos membros da junta executiva
por meio dos dízimos que mandam para a sede nacional. Em alguns países, se aumentam as entradas
por meio de ofertas especiais das igrejas ou pelo dízimo das entradas gerais das igrejas locais.

4. O Dinamismo da Igreja do Novo Testamento


Métodos e regras por si só, embora bons, dão resultados a igreja. A mecânica do bom
processo deve vir seguida do dinamismo apostólico. Sem métodos corretos, um avivamento poderoso
pode apagar-se ou tornar-se ineficiente. Sem o poder espiritual, a igreja, apesar de bem organizada,

30
não consegue avançar. O mecanismo sem dinamismo da igreja compara-se a um motor bem ajustado,
pronto para trabalhar, mas sem o combustível e a centelha para dar o arranco. Nos Atos dos
Apóstolos, encontramos o padrão autêntico para a conduta da igreja neotestamentária. Devemos
recordar que as epístolas de São Paulo e dos demais apóstolos foram escritas as igreja que viviam no
ambiente do Livro de Atos e que experimentaram os acontecimentos ali narrados. Um estudo do livro
de Atos dos Apóstolos revela-nos muito acerca do poder que motivou a igreja primitiva.
É digno também de atenção o lugar predominante que davam ao Espírito Santo na igreja
primitiva. Os discípulos deviam esperar a vinda do Espírito Santo capítulo dois. Ele desceu sobre os
crentes que esperavam sua chegada e foram eles cheios do Espírito. O autor do livro de Atos teve
muito cuidado em relatar a obra do Espírito Santo. Narra-nos como desceu sobre os samaritanos,
sobre os da casa de Cornélio, e mais tarde sobre os discípulos em Éfeso. Os apóstolos foram
inspirados pelo Espírito para falar, os diáconos foram cheios do Espírito Santo e alguns deles
chegaram a ser evangelistas; os apóstolos e diáconos foram dirigidos a seus campos de trabalho e
orientados em suas atividades pelo mesmo Espírito. O Espírito Santo fazia sinais e maravilhas
convencendo assim multidões, repartia poder às igrejas, inspirava os crentes a uma atitude de até dar
seus bens materiais para a obra do Senhor, em geral, Ele era o condutor invisível da igreja. O livro de
Atos poderia muito bem ser chamado: Os Atos do Espírito Santo.
Para poder experimentar os mesmos resultados, torna-se necessário que nossas igrejas hoje
em dia, captem de novo ambiente espiritual igual. Porém alguém poderá responder que as bênçãos
experimentadas pela primeira igreja pertencem a uma época passada e que é impossível experimentá-
las hoje. Convém enfatizar a verdade: vivemos hoje na mesma dispensação, ou época da graça, na
qual viveram também os apóstolos. O Espírito Santo ainda se encontra no mundo e Jesus Cristo é o
mesmo ontem, hoje e para sempre. O fato é que ao ler as Escrituras constatamos que Deus quer fazer
uma grande obra por meio do Espírito Santo, agora que se aproxima a hora de encerrar a era da
Igreja. Ele prometeu derramar o seu Espírito sobre toda a carne nos últimos dias.
Felizmente em muitas partes do mundo, veem-se avivamentos e bênçãos que nos lembram os
tempos bíblicos. Milagres do poder divino ocorrem e milhares de pessoas despertam para
experimentar de maneira especial a verdade do Evangelho e a plenitude do Espírito Santo.
A fraqueza espiritual de muitas igrejas de hoje em dia não decorre do enfraquecimento do
Evangelho quanto ao poder ou qualquer mudança dos propósitos de Deus. Uma igreja conforme o
modelo do Novo Testamento debilitada é culpa nossa, é o resultado da pouca visão e fraqueza de fé.
Peçamos a Deus que nos livre de toda ideia falsa e nos guie como testemunha do Cristo vivo e deu
seu Evangelho de poder, neste trabalho de fundar igrejas do Novo Testamento nestes dias.
Jesus disse: Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, cooperando com eles o Senhor, e
confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém. Mc 16.20

31
Bibliografia

HODGES, Melwin L. Edificarei a Minha Igreja. São Paulo, Emprevan Editora.


RIGGS, Ralph M. O Guia do Pastor. São Paulo, Emprevan Editora, 1974.
FONTES, Luis Francisco. Estudos e Anotações. São Paulo.
ARRASTIA, Cecílio. O pregador cristão e a Bíblia. São Paulo.

ATENÇÃO!

Fica proibida a reprodução total ou parcial desta obra


sem prévia autorização por escrito do autor.
Todos os direitos reservados, protegidos pela LEI 5088 DE 14/12/73.

Professor.................................................................................

32
Prova de Teologia Pastoral

Bacharel

Alunoa:...............................................................................................................data........../.........../.........

Marque um X na alternativa correta

1. O que continua sendo uma das maiores exigências do ministério pastoral?


 O Jejum
 A Oração
 A pregação
2. As razões pelas quais muitos evangélicos procuram seus pastores em busca de conselho são:
A. Não se paga pelas consultas.
B. O pastor é um representante de Deus que inspira confiança.
C. Entre o pastor e os membros da igreja existem fortes laços de amizades.
D. O pastor aplica seus conselhos dentro de um contexto cristão.
 Certo
 Errado
3. Um aspecto importante na propagação da igreja é o ministério do evangelista.
O verdadeiro evangelista tem uma vocação da parte de Deus para atrair almas para Cristo.
 Certo
 Errado
4. Já dissemos que os três fundamentos essenciais de uma forte igreja num país são:
1 Propagação própria capacidade e iniciativa para entender NÃO a obra;
2 Governo Próprio o NÃO desenvolvimento de ministros ;
3 Sustento Próprio a NÃO capacidade financeira para manter a obra e estendê-la.
 Errado
 Certo
5. É preciso notar que ao pastor cabe dar exemplo com o dízimo do que recebe.
Seria impossível pregar lealdade àquilo que ele mesmo não fizesse.
 Certo
 Errado

33
PSICOLOGIA
GERAL

34
LIÇÃO 1
Introdução

A psicologia se ocupa do homem. A riqueza e a complexidade do ser humano fazem-no objeto


de estudo em várias áreas. Psicologia é o estudo do comportamento do homem e de alguns animais e
suas relações sociais. Psicologia é a ciência dos fatos psíquicos que podem ser conhecidos
diretamente pela consciência. O significado etimológico de Psicologia é a ciência da alma. O termo é
derivado de duas palavras gregas: Psique = alma. Logos = ciência.

AMPLITUDE E APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA

Os principais sub-campos da Psicologia dedicada à investigação científica básica são:


Psicologia Geral - determina os princípios dedicados à investigação científica.
Psicologia Fisiológica - investiga os eventos e estruturas fisiológicas que atuam no comportamento.
Psicologia do Desenvolvimento - estuda as mudanças orogenéticas, as mudanças que ocorrem no
ciclo vital do indivíduo.
Psicologia Animal - estuda o comportamento animal comparado ao do homem.
Psicologia Social - estuda o comportamento do homem na sociedade.
Psicologia Diferencial - estabelece as diferenças individuais entre os homens.
Psicopatologia - estuda o comportamento anormal do homem, as neuroses e as psicoses.
Psicologia da personalidade - é a área de estudo que busca a integração ampla e compreensiva dos
dados obtidos por todos os setores de investigação psicológica.
Psicologia Educacional - lida com aplicação de técnicas e princípios da psicologia no ajustamento e
desenvolvimento do educando.
Psicologia organizacional - é usada na empresa. Ajusta o empregado ao emprego.

35
1. Psicologia

É o estudo científico do comportamento descrevendo-o e explicando suas causas com o


objetivo de prevê-lo e controla-lo, a medida que vão tornando conhecidas suas influências as quais
são chamadas de variáveis intervenientes. Filósofos buscaram o entendimento do comportamento
durante milhares de anos embora diziam erroneamente buscar entender a alma e não a mente,
pois achavam ser estas a mesma coisa. Eles foram os primeiros a descobrir a influência da
aprendizagem, da motivação interesse, da personalidade e até mesmo da parte fisiológica formação
orgânica e hereditária em cada pessoa. A Biologia, a Física, a Química e a Medicina também
colaboraram no desenvolvimento da Psicologia que hoje é considerada uma ciência biológica, e o
primeiro laboratório científico denominado oficialmente psicológico se iniciou em 1879, na Universidade
de Leipzig, na Alemanha por Wilhelm Wundt psicólogo, embora outros pesquisadores, há muito
tempo, vinham precedendo seus estudos. Por causa de seus métodos de estudo serem caracterizados
como científicos. Essa disciplina independente diferenciada, a Psicologia, usa laboratórios
experimentais para se desenvolver, embora tivesse tido grandes contribuições de outras ciências para
o seu desenvolvimento, tais como a Física, a Química, a Biologia, a Fisiologia e a Medicina de onde
veio a ideia de tratamento e terapia para os que apresentavam anormalidades de
comportamento.
a. Estruturalismo de Wundt: que usa o método introspectivo, isto é, um comportamento
derivado de sua percepção da realidade que vem de dentro para fora conforme seu próprio ponto de
vista e não necessariamente como realmente é a realidade;
b. Funcionalismo de Angell; estuda o comportamento a medida que se ajusta ao ambiente;
interessando-se pelo propósito do comportamento e não pela estrutura da mente. Associacionismo de
Brown; Estuda o comportamento, seja qual for o seu grau complexidade, como sendo resultado da
associação de algum reforço incentivo dado a algum outro comportamento já manifesto;
c. Behaviorismo de Watson; Utiliza o método comportamental para estudar o comportamento,
no qual se diz que cada estímulo provoca uma resposta um comportamento, e a repetição dos
mesmos estímulos a cada vez que o comportamento é apresentado forma os condicionamentos.
Exemplo; os prêmios ou elogios também chamados de reforços positivos que se seguem a
apresentação de bons comportamentos incentivam uma criança, ou mesmo um adulto, a continuar a
se comportar da mesma maneira, assim como os castigos reforços negativos ou ausência de reforços
após os comportamentos não desejáveis levam a pessoa a mudar sua maneira de se comportar;
d. Gestalt de Wertheimer: Que usa o princípio de que o todo do comportamento é maior do
que a soma de suas partes, isto é, um comportamento também depende da percepção global que
cada indivíduo tem da realidade;
e. Humanismo de Dante: Enfatiza a dignidade e o valor do indivíduo e estuda o ser humano
em seu todo e o auxílio para que ele tente atingir o seu pleno potencial. A experiência subjetiva é
considerada tão importante quanto os relatos objetivos, e o incomum ou excepcional é estudado do
mesmo modo que o geral ou comum.
f. Não-diretivismo de Rogers: Foi um dos principais proponentes da Psicologia Humanista,
desenvolvendo a teoria do eu, a qual salienta que a base da personalidade é o desejo humano de
realizar potencialidades. A plena realização deve significar que os indivíduos estarão vivendo de
perfeito acordo consigo próprio e com os outros. Para ele interessa a parte manifesta do
comportamento e não a inconsciente, pois acredita que várias experiências positivas no decorrer da
vida tendem a apagar as negativas anteriores os ditos traumas e por isso trabalha com os problemas
de comportamento manifestos e não com os pressupostos de maneira não-diretiva, isto é, com os
próprios dados apresentados pelo paciente, conforme se vai fazendo a anamnese do paciente coleta
dos dados para o diagnóstico, durante o tratamento, checa-se os dados ao mesmo tendo que se
auxilia-o a raciocinar a partir de suas próprias palavras sem aconselha-lo. Psicanálise de Freud: Foi
desenvolvida como sendo um método de terapia e não um corpo de teoria no qual se trata os
problemas comportamentais a partir de suas causas inconscientes latentes: não-manifestas.
No Brasil, o psicólogo é um profissional formado por um curso de graduação em Psicologia,
que trata do paciente com problemas de comportamento através de palavras; enquanto o psiquiatra é
uni profissional formado por um curso de graduação em Medicina, que depois de seu curso faz
estudos adicionais para se ter noções de Psicologia ciência que estuda o comportamento para poder
tratar dos problemas comportamentais através de remédios terapia alopata e não psicoterapia e,
assim, acompanhar os casos de problemas psicológicos em tratamento com psicólogos quando os

36
pacientes não conseguem raciocinar sem o uso de remédios pacientes sem autocontrole. Já o
psicanalista pode tanto ser um psicólogo que trata o paciente através do método da psicanálise, ou um
psiquiatra com seus estudos adicionais feitos dentro do enfoque psicanalítico para poder entender,
baseado no inconsciente do paciente, qual o problema comportamental que o paciente apresenta que
diagnostica e receita o remédio recomendável para o caso agindo, também, paralelamente com a
psicoterapia que deve ser realizada pelo especialista de comportamentos: o psicólogo o que nem
sempre acontece, pois às vezes os sintomas são tratados com remédios, mas, por não serem tratadas
as suas causas, o problema volta a aparecer.
 Com a Química: quando o psiquiatra utiliza remédios paralelamente ao tratamento feito pelo
psicólogo;
 Com a Fisiologia: a formação fisiológica orgânica de um indivíduo também pode interferir no
seu comportamento;
 Com a Biologia: a hereditariedade também pode influir nos tipos de personalidades; d com a
Física: seus dados colaboraram nos estudos psicológicos feitos sobre sensações e
percepções;
 Com a Medicina: foi de onde veio a ideia de tratamento para os que se encontravam com
comportamentos fora dos padrões normais;
 Com a Filosofia: foi dessa área que surgiram os primeiros interesses pelo estudo do
comportamento embora ainda tivessem um conceito errôneo do objeto de estudo, pois
pensavam estar estudando a alma e não a mente ..

É um tipo de método experimental de laboratório usado no campo de estudo da chamada


Psicologia Comparada, que tem como interesse principal estabelecer comparações entre
comportamentos de uma espécie com os de outras, isto é, entender certos mecanismos de
comportamentos humanos ao compará-los com experimentos feitos em animais.
Ao comentar a Psicologia Pré-Experimental, em sua forma mais avançada, finalizou, assim,
esse período na história da Psicologia, dando início ao período da Psicologia Experimental. Como
professor de Anatomia na Escola de Medicina de Harvard, Wílliam James se interessou pela fisiologia
sensorial como sendo problemas tipicamente psicológicos, tornando participante da caracterização da
Psicologia como sendo uma ciência liberal, tão interdependente dos conhecimentos de outras ciências
como qualquer outra.
O Behaviorísmo foi um sistema de estudo do comportamento em que só eram relevantes as
respostas comportamentos observáveis presentes do paciente, que se caracterizava em movimentos
musculares e respostas glandulares. Os behavioristas descreviam as respostas observáveis a cada
estimulação recebida e, por esse motivo, negavam o conceito de mente, pois esta não podia ser
observada. Foi o behaviorismo que ajudou a Psicologia a confrontar as ideias sobre o controle dos
estímulos para que se tornasse possível de se controlar as respostas comportamentos resultantes
dessas estimulações, o que veio a ser chamado de condicionamentos.
A Gestalt levava em conta o ambiente inteiro para se explicar a percepção tido pelo indivíduo,
além de outros comportamentos, o que faz com que a Gestalt descreva sua posição como sendo: O
comportamento total é maior do que a soma de suas partes, o que representava o comportamento
como um processo criativo de síntese a CarI Gustv Jung 1875-9161 Nasceu na Suíça em 26/07/1875
que, embora tenha aceitado muitas das explicações de Freud sobre a personalidade, deu mais ênfase
aos eventos correntes do que ás experiências infantis e aos motivos sociais mais do que aos impulsos
sexuais. Propôs também que havia o inconsciente individual e o inconsciente coletivo hereditário;
Erich Fromm 1900 - 1980 Psicanalista americano conhecido pela aplicação de sua teoria
destinada aos problemas sociais e culturais. De acordo com sua visão, os tipos de personalidade são
caracterizados pelos modelos sócio- econômicos. Ele abriu caminho para as teorias orientadas a ver
os humanos como sendo produtos de sua cultura, ao mesmo tempo tentando criar harmonia entre a
vida individual e a social;
Alfred Adler 1870 - 1937 Nasceu na Áustria, em Viena. Trabalhou com Freud associado a ele,
na fundação da psicanálise. Em 9 deixou a psicanálise ortodoxa e fundou a escola neo-Freudiana de
psicanálise. Em sua análise do desenvolvimento individual, Adler enfatizou o sentimento de
inferioridade mais do que a direção sexual como sendo a força motivacional na vida humana
motivação social e não os impulsos sexuais. Para Adler, a chave para a personalidade estava no
esforço para alcançar a superioridade. Adler julgava que a pessoa teria a tendência de reconhecer

37
deficiências caso se julgasse inferior, e que, infelizmente, a sociedade, na maioria das vezes, tende a
reforçar essas deficiências sentidas. Funcionalismo é um dos sistemas que se desenvolveram em
reação ao Estruturalismo, que se interessava pelos propósitos do comportamento e não pela estrutura
da mente, investigando a adaptação ou ajustamento do sujeito a diferentes ambientes.
Primeiramente, em investigação científica, variável é tudo que pode se encontrar presente ou
ausente, ou apresentar diferenças em maior ou menor quantidade. Por exemplo: uma pessoa pode ser
membro de uma classe social alta, média ou baixa. Nesse caso a variável é a classe social.
Variável Independente: é a resposta obtida por uma condição manipulada por um psicólogo
experimental de laboratório. Nela pode-se fazer predições. Variável Dependente: já a resposta obtida
pelo experimentador é dependente de uma variável independente, portanto, é chamada de variável
dependente. Por ex.: suponhamos que o sucesso depende da inteligência. Neste caso o sucesso seria
a variável dependente.
Variável de controle: quando um experimentador quer saber o quanto uma variável atua sobre
um sujeito, ou seja, o quanto um comportamento resposta vem de uma variável dependente ou
independente, utilizam-se dois grupos: um chamado experimental e outro chamado de controle.
Exemplo: No caso de querermos saber se a inteligência de dois filhos gêmeos vem de membros
inteligentes da família fatores inatos ou do nível educacional dos pais, podemos separá-los em dois
grupos: um no de controle e outro no experimental cada um para viver com uma família de níveis
educacionais bem diferentes. Ao filho criado pelo grupo experimental, dá-se mais quantidade de
educação formal. Depois de certo tempo, mede-se o nível de inteligência e aí se fica sabendo se a
grande inteligência anteriormente apresentada pelos gêmeos era derivada da constituição genética ou
da educação que eles recebiam dos pais com alto nível educacional.

Os principais objetivos do emprego da Estatística em Psicologia são:


- resumir ou simplificar os dados obtidos;
- permitir que descrições ou inferências possam ser feitas a partir desses dados obtidos com
a coleta, análise, interpretação e apresentação de dados numéricos. Porque o comportamento das
pessoas nas multidões, grupos, de trabalho, grupos recreativos, grupos culturais e muitos outros,
estudados pelos psicólogos sociais, que chegaram à conclusão que a influência social é tanta nos
indivíduos que estes chegam até a fazerem o que não querem, só para não se sentirem só e serem
aceitos pelo grupo do qual participam talvez até seja por este motivo que existe o sábio ditado popular:
diga com quem andas, que direi quem tu és. A Psicologia Social estuda a influência social que os
grupos exercem sobre outros grupos e é a Psicologia Social que investiga a influência grupal sobre os
indivíduos e muitos comportamentos individuais ex.: aplaudir podem ser considerados como sendo
comportamentos de grupo.
Porque toda pessoa é um ser social por natureza e, quer queira ou não, acaba se ajuntando a
algum grupo, devido à sua necessidade de aceitação e de não se sentir só de socialização. Embora
esses estudiosos se esqueçam que não só o grupo influi no indivíduo, mas também o indivíduo tem
influência sobre o grupo. Grupo: união de pessoas que se relacionam sem perder sua identidade e
individualidade, mas quando constituem um todo, transcendem suas próprias partes possuem
propriedades que os indivíduos que o compõem não possuem; Grupo Primário: é aquele em que as
relações sociais são íntimas e pessoais, em que se desenvolvem laços sentimentais, tais como
liberdade, justiça, submissão à vontade do grupo e disposição para o sacrifício em favor do todo;
Grupo Secundário: é aquele em que as relações não são pessoais, nem há entre os indivíduos laços
sentimentais fortes, pois os contatos são mantidos de maneira indireta como através de cartas,
telefone, livros, etc., ou de maneira direta, mas mais formais ex.: entre um motorista e um passageiro
de ônibus; Posição: É o espaço direitos e deveres que os indivíduos ocupam ao se relacionarem numa
sociedade. Conforme o valor social dado à posição, variam os privilégios do indivíduo;
Status: É a posição ocupada pelo indivíduo dentro do espaço social com seus diferentes
deveres e direitos apoiados por normas sociais; Papel: É a parte dinâmica do status, que não deixa de
ser a realização de seus diferentes direitos e deveres referentes ao status social.
A importância do estudo da sensação está no revelar ou transformar informações para os
sentidos humanos e da percepção é interpretar e traduzir essas informações fornecidas pelos sentidos,
adaptando-as às informações já anteriormente recebidas para se ter uma nova visão da realidade.
A relação entre a percepção e a atenção é que a atenção é uma das variáveis um dos
fatores, um estímulo sensorial que interfere no ato de adquirir informações, portanto, ela é necessária
para que haja a percepção.

38
A Psicanálise foi criada por Freud, um médico Vienense que, ao desenvolver suas técnicas
terapêuticas criou teorias para apoiá-las, passando a investigar o desenvolvimento e a manutenção da
personalidade, enfatizando as primeiras experiências infantis e as fontes inconscientes da motivação,
tratada como primeira posição sistemática. Isto, no princípio, afetou as áreas da Psicologia Clínica e a
da Psicologia do Desenvolvimento, mas acabou sendo um dos métodos de tratamento da Psicologia,
que trata do comportamento através da manipulação do inconsciente. Charles Darwin colaborou com a
Psicologia desenvolvendo o conceito do comportamento de todas as formas de vida, isto é, propôs que
as características de gerações sucessivas são modificadas através do processo evolutivo.
Acreditava que as qualidades que permitem ao indivíduo a ajustar-se ao ambiente
permanecem, enquanto as que não o ajudam a ajustar-se ambientalmente, desaparecem. Os
principais conceitos da teoria de Darwin são: variabilidade a genética varia em função do ajustamento
do indivíduo ao ambiente; adaptação o ajustamento do indivíduo ao meio ambiente é essencial para a
sua sobrevivência; e seleção as características do indivíduo que o permitem a ajustar-se ao ambiente
tendem a reaparecer na espécie seguinte, o que tanto é chamada de procriação se letiva como de
seleção forçada.
Porque todo comportamento pressupõe uma necessidade um impulso e resulta no alivio
dessa necessidade, o que caracteriza o ciclo da motivação necessidade, comportamento e satisfação
da necessidade, o qual tende a recomeçar, portanto, a motivação, que são as condições que iniciam,
dirigem e mantém os comportamentos parece desempenhar um papel importante na Psicologia já que
esta é uma ciência que estuda o comportamento.
É o fato do comportamento ser impulsionado por alguma força uma motivação, isto é, a
existência de um motivo para o comportamento.
A teoria Behaviorista explica a motivação como sendo aprendida derivada de interações
ambientais ou sociais que se desenvolvem como resultado de recompensas e punições sociais e
incluem condições de motivos, tais como as necessidades de: realização, de amizade ou afiliação, de
domínio, de alívio de ansiedade, de atividades lúdicas brincadeiras, de entendimento, de agressão, de
autonomia, etc..., A teoria Cognitiva ou Piagetiana explica a motivação como sendo necessária para
que haja o aprendizado. Conforme disse Piaget, quanto mais uma pessoa experimenta, manipula as
coisas para ver o que acontece com elas conhecimento físico é que ela se torna mais capaz de
raciocinar conhecimento lógico matemático e, então, estruturar o seu conhecimento, partindo-se
sempre do conhecimento que já possuía; A teoria Psicanalista explica a motivação como sendo
inconsciente e frequentemente expressão de desejos agressivos ou sexuais, que podem ser expressos
abertamente ou de várias formas simbólicas; Já a teoria Humanista explica a motivação como sendo
uma hierarquia de necessidades, resumidas em: fisiológicas motivos de sobrevivência, de segurança,
de pertinência motivos de afiliação e aceitação, necessidade de estima motivos de status e realização,
necessidade de auto- realização tornar-se o que uma pessoa é capaz de ser. O psicólogo humanista
vê a auto realização como a meta final de cada pessoa.
Embora as emoções sejam eventos internos, elas podem se expressar externamente. Estas
respostas externas variam dependendo de numerosos fatores, inclusive da modalidade de expressão,
experiência prévia e idade. Podem se manifestar de três maneiras:
- nos relatos pessoais: falando ou escrevendo a respeito das emoções;
- em forma de comportamentos observáveis: gestos, posturas faciais, etc.;
- como indicadores fisiológicos: as mudanças no batimento cardíaco, no ritmo respiratório, na
pressão sanguínea, na dimensão pupilar, na configuração do EEG eletroencefalograma ou reação
galvânica da pele mudança da condutividade elétrica da pele, etc..
Excitação fisiológica corporal sozinha não pode causar uma emoção, assim como também a
influência cognitiva intelectual, embora as teorias cognitivas têm afirmado a capacidade de um
indivíduo de perceber as relações de causa e efeito entre várias experiências emocionais, o que já não
existe no primeiro caso. As doenças físicas ocasionadas por causas psicológicas ou psicossomáticas,
em estudos recentes, têm se mostrado ser a causa de pelo menos 95% das doenças encontradas em
hospitais e consultórios médicos talvez pelo mal reconhecimento, ou até mesmo ás vezes pelo
desconhecimento, no Brasil, do papel do psicólogo. Partindo-se dessas informações podemos concluir
que as emoções são mais aprendidas do que inatas.
Fisiologicamente corporalmente e cognitivamente intelectualmente. Devido ás emoções
poderem ser detectadas pela mensuração de respostas fisiológicas, desenvolveu-se um aparelho de
detecção de mentiras chamado de polígrafo, que geralmente é usado em investigações criminais e
também para se obter segurança na prática de exames. A teoria da detecção de mentiras diz que uma

39
pessoa que está dizendo uma mentira está passando por uma situação produtora de emoções. Obs.: E
preciso saber diferenciar tais tipos de emoção na interpretação dessa técnica.
Cannon-Bard foi um importante cientista que pesquisou a respeito da importância do cérebro
nas emoções e chegou à conclusão que um estímulo é recebido pelo córtex, reconhecido como
produtor de emoção e enviado para ativar os centros mais baixos do hipotálamo e do sistema límbico
sistema de emoções. Então os sinais são levados simultaneamente para os músculos externos e
órgãos internos e voltam ao córtex. Os músculos e órgãos fazem as reações fisiológicas para a
emoção, enquanto o córtex percebe o sinal de emoção, o que vem a sugerir que, as reações
fisiológicas e psicológicas, quando estão juntas, ocorrem ao mesmo tempo. Inteligência ou cognição
em Psicologia compreende o ato ou o processo de saber conhecer, que envolve a atenção, a
percepção, a memória, a razão, o julgamento, a imaginação, o pensamento e a linguagem.
Por um lado, já que a criatividade envolve a imaginação, sim.
Mas se formos pensar em resultados mensuráveis de inteligência, que nem sempre são
fidedignos, pois envolvem motivação, emoções e são parciais para se medir a inteligência,
pois uma entrevista bem feita teria muito mais valor que simples testes medidores de Q.
quociente de inteligência.

40
2. A Psicologia e os Fatos Psíquicos

A Psicologia se ocupa dos fatos psíquicos. São fatos psíquicos tudo aquilo proveniente de
situações biológicas, sociais e pessoais, que ocorrem no indivíduo e é traduzido em comportamento.
Portanto, pensamentos, lembranças, desejos, emoções são fatos psíquicos. Nossas reações
comumente são determinadas por nosso temperamento e o temperamento resulta da nossa
constituição orgânica. As variações de humor, as fases de euforia e de depressão com freqüência
coincidem com o bem estar e com o abatimento físico. É sabido como as variações de clima afetam o
nosso estado psicológico.
As expressões de nossa afetividade, o rendimento intelectual depende de nosso estado físico:
uma noite mal dormida pode tornar-nos irritadiços; uma digestão mal feita pode dificultar a assimilação
daquilo que estudamos. Mas é principalmente das condições do sistema nervoso central e
particularmente das condições do cérebro que se vê mais evidentemente a dependência que a vida
psíquica tem da vida fisiológica.

41
Lição 2
3 Relação da Psicologia Com a Fisiologia

Fisiologia é a ciência que estuda as funções de um organismo ou de qualquer dos seus órgãos.
O que os homens e os animais fazem e podem fazer depende, obviamente, do seu corpo e das suas
propriedades físicas. O comportamento resulta em grande parte da ação dos músculos movimentando
os ossos do esqueleto nas suas articulações. O corpo tem dois mecanismos de integração importante,
é o sistema nervoso e a corrente sanguínea. O sistema nervoso é o principal mecanismo integrante,
controlando tanto os músculos como a circulação sanguínea e a secreção de várias glândulas.

O sistema nervoso se divide em duas grandes partes:


Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico.
 O Sistema Nervoso Central é a parte do sistema nervoso que está dentro da caixa craniana e
da coluna vertebral ou canal raquidiano. Compreende o encéfalo e a medula espinhal. Sua
função é correlacionar e integrar, proporcionando o funcionamento harmonioso do corpo.
 O cérebro é à parte do sistema nervoso central SNC que desenvolve o papel principal nas
atividades psíquicas mais complexas: como a percepção, aprendizagem, o pensamento, etc.
 O cérebro é uma massa nervosa volumosa de forma oval, de cor cinzenta dividida em duas
partes principais por profundo sulco longitudinal.
 O sistema nervoso periférico é formado pelas fibras nervosas que estão fora da caixa craniana
e da coluna vertebral.

I. Emoção
Emoção são reações caracterizadas por um grau muito forte de prazer e desprazer e por uma
reação motora geralmente interna. Expressamos a emoção pela fisionomia, pela fala, pelos gestos,
pelo andar, pela atitude e pelas palavras.

Existem dois fatores importantes que atuam na emoção:


São as secreções da medula das glândulas adrenais da adrenalina e da noradrenalina. Os
efeitos da adrenalina consistem em aumentar a pressão sanguínea e o ritmo do pulso, descarregar no
sangue o açúcar e o estoque do fígado, aumentar a viscosidade do sangue, acelerar a respiração,
alargar as pupilas dos olhos, etc. A noradrenalina constringe os vasos sanguíneos da superfície do
corpo e deixa o sangue disponível noutros pontos.

Efeitos a emoção
As reações fisiológicas mais comumente observadas nos estados emocionais são:
 Respostas galvânicas da pele - o surgir das emoções provocam alterações elétricas na pele.
 Distribuição do sangue - há mudança da pressão sanguínea e a distribuição do sangue entre a
superfície e o interior do corpo. As pessoas ficam vermelhas de raiva e pálidas de medo.
 Taquicardia - O aumento das batidas do coração nos estados emocionais é tão familiar que o
coração já se tornou um símbolo de emoção.
 Respiração - o ritmo respiratório modifica-se correspondendo a alteração nas batidas do
coração.
 Reação pupilar - as pupilas dos olhos tendem a dilatar-se nos momentos de raiva e de dor, ou
na excitação emocional em geral.
 Secreção salivar - quando sob tensão emocional a boca fica seca, as glândulas ficam quase
paralisadas.
 Movimentos gastrointestinal - pode surgir a diarreia ou vômitos, isto porque os movimentos do
estômago e intestinal são afetados.
 Tensão muscular e tremor - o tremor é comum quando as pessoas se encontram em conflitos
de desejos. Duas ordens são dadas quase que simultaneamente aos músculos e existe o
descontrole.

42
 Reações de glândulas sudoríparas - nos estados emocionais fortes aflição e medo, por
exemplo existe mais suor sobre a pele.

Alguns estudiosos aceitam que as emoções são inatas.


Segundo Watson, existem três tipos básicos de emoção: o amor, o medo e a raiva.

1. O AMOR - é o sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outro. É um


sentimento de dedicação de uma pessoa a outra. É uma afeição, uma amizade, etc. O ato de amar é
inconscientemente motivado pelo desejo ou a necessidade de ser amado. Se você deseja ser amado,
inspire amor. Amar é vencer o sentimento de não gostar de si próprio. O amor próprio normal é parte
de nosso amor pela vida. É normal importar-se consigo mesmo o suficiente para desejar alimentar-se
bem, ter boa aparência e gozar o que a sociedade oferece dentro de uma vida de progresso. O amor
próprio normal é na verdade um respeito por si mesmo. O amor envolve esquecer e perdoar, a
tolerância das fraquezas e dos defeitos uns dos outros, na língua grega existe quatro palavras que
definem o amor que são: O amor instintivo tipo Eros; O amor afetivo é sacrifical, storge; Amor fraternal,
phileo, é amor ao próximo. E amor divino que em nós habita chamado ágape.

2. O MEDO - o medo é uma reação humana universal, explicado biologicamente como sendo a
proteção dada ao indivíduo em caso de perigo. É uma emoção que a pessoa experimenta quando
colocada frente a uma ameaça à sua vida ou ao seu corpo. Um medo imaginário e neurótico é o temor
apreensivo de alguma coisa que não existe no momento. Algo de errado se verifica com o sistema de
alerta; a luz vermelha permanece piscando, a pessoa se desorienta e as coisas que em si são
inofensivas tomam um aspecto perigoso.
Ex.: Uma conversa com o presidente ou alguma outra autoridade.
A solicitação para um discurso.
Para se vencer o medo, é necessário:
1. Admitir o medo.
2. Compreender o medo.
3. Fazer alguma coisa a respeito desse medo.
4. Manter-se ocupado.
5. Se necessário procurar uma orientação competente.
6. Usando a arma do amor que lança fora do temor. 1 Jo 4.18.

3. RAIVA - é um sentimento violento de ódio, de cólera.


Uma grande raiva pode se transformar em ódio. O ódio é uma reação emocional adquirida
contra os insultos do ego ou a qualquer coisa que ameace a nossa segurança. As pessoas odeiam
porque forma e ainda são privadas do amor que desejavam e do amor de que tinham necessidade.
Sentem-se rejeitadas. O ódio provoca sérias doenças psicossomáticas como: hipertensão arterial,
úlcera, dores de cabeça, urticária nervosa, insônia, fracasso no casamento.
A raiva ou o ódio torna a pessoa tensa.
Não permita que o ódio absorva o amor que existem em seu coração.
O raivoso busca destruir os objetos ou pessoas que se interpõem em seu caminho.
Os estados emocionais intensos e prolongados que não encontram expressão adequada
causam alteração na fisiologia anormal do organismo. Estas alterações provocam doenças tais como:
úlcera, bronquite asmática, alta pressão sanguínea, úlcera do cólon, artrite, etc. São doenças
psicossomáticas.

II. Percepção
Perceber é conhecer. É apreender o mundo e interpretá-lo. É dar-lhe um sentido e um
significado. A percepção é a tomada da consciência do meio em vista do ajustamento individual. A
percepção é o conhecimento do mundo exterior através dos sentidos. É uma forma de comportamento
por meio do qual o indivíduo organiza suas sensações e toma conhecimento do real. A sensação dá ao
indivíduo o conhecimento de que algum objeto chegou até ele, a percepção reconhece e identifica o
objeto existente no mundo exterior. A percepção é o processo de discriminação de estímulos e de
interpretação de seu significado. As percepções nos permitem organizar e dar sentido às informações
que recebemos através dos sentidos. Muitas vezes percebemos aquilo a que nos predispomos
perceber e aquilo que desejamos perceber. As experiências passadas criam na pessoa expectativas,

43
que a dispõe a perceber no ambiente os aspectos que antecipa, e certamente serão antecipadas as
coisas com as quais tem maior familiaridade.
Ex.: Uma mãe identifica seu filho pelo choro.
Uma pessoa identifica o carro pela buzina.
Obs.: O cego não tem percepção das cores. Há cegos que associam a cor aos sons.
Existem estímulos que nos chamam mais a atenção e outros nem percebemos.
Ex.: Estímulo de Intensidade - clarão forte, cheiro penetrante, som agudo.
Tamanho - anúncios e propagandas. Atentamos para os maiores.
Cor - objetos coloridos atraem mais.
O estado psicológico de quem percebe é um fator determinante da percepção, seus motivos,
emoções e expectativas fazem com que perceba, preferencialmente certos estímulos.
Ex.: Quem quer comprar uma blusa vermelha.
Quem tem fome sente-se atraído por estímulos comestíveis.
O médico, o botânico.

Os estímulos que despertam ansiedade, desagrado ou frustração têm, até certo grau de
intensidade, menor probabilidade de serem percebidos. Temos tendências, portanto, a perceber o
mundo mais como cremos ou queremos que ele seja do que com nos informam os diferentes
estímulos que chegam aos nossos órgãos dos sentidos. Dá-se o nome de sentido aos mecanismos
que o cérebro utiliza para manter em contato com o mundo exterior. A fim de assegurar sua própria
sobrevivência, o sistema cérebro - corpo deve detectar mudanças que ocorrem no meio ambiente;
utiliza para isso, grupos de células altamente eficientes e sensíveis que atuam como janelas para o
mundo exterior. Tais mecanismos constituem os sentidos: visão, audição, sensibilidade cutânea ou
tato, paladar e olfato. Os sentidos mais valiosos para o ser humano são os chamados receptores à
distância principalmente a visão e a audição.
- A Visão - é o sentido mais significativo para o homem e aquele cuja perda lhe causa mais
problemas.
Os olhos são o espelho da alma. Os olhos podem traduzir todas as emoções do homem:
tristeza, alegria, calor humano, surpresa, etc. A visão é o mais importante dos nossos sentidos, mas
seu valor só é convenientemente apreciado quando por alguma razão, ela é prejudicada ou perdida.
Quando conversamos com alguém, observamos com mais cuidado os lábios do interlocutor, ou
quando vemos um alimento sabemos qual é o seu sabor, mesmo que não possamos senti-lo na
íntegra. Já para o indivíduo que perde a visão o mundo pode tornar-se confuso e até mesmo
assustador.
- O Ouvido - envolve um complexo conjunto de mecanismos que codifica, seleciona, amplifica,
atenua e interpreta os sons.
O ouvidos é um intermediário entre o som e o cérebro, ele transforma as vibrações do ar em
uma linguagem compreensível para o cérebro, isto é, em impulsos elétricos. Tal função, naturalmente,
supõe uma estrutura bastante complexa. O ouvido compreende três subunidades: ouvido externo,
ouvido médio e ouvido interno.
Dotados cada uma destas subunidades de atribuições específicas.
- O Tato - assim como a visão identifica vários aspectos do mundo por meio de receptores
especiais da retina no olho, o cérebro recebe uma série de informações do meio ambiente de uma
variedade de pequenos receptores localizados na superfície da pelo. Cada um desses receptores, ou
combinações deles, fornece dados ao cérebro, que pose assim avaliar não apenas se algo está
tocando a pele, mas também sua pressão e localização, além disso, verificar se o contato produz dor,
se o objeto é quente ou frio, se está em movimento ou não.
- O Paladar - os sinais que o sentido da paladar identifica são quatro: azedo, salgado, doce e
amargo. Esses sinais também penetram por receptores especiais situados no dorso e nos lados da
língua e são interpretados pelo cérebro.
- O Olfato - funciona a distância e não recebe tipos de sinais provenientes de vibrações ou
ondas, mas de substâncias químicas suspensas no ar.
O sentido do olfato humano está situado numa área atrás do nariz e está intimamente
relacionado com o sentido do paladar.

44
III- Motivação
Motivação é o conjunto de fatores que respondem pelo comportamento de um indivíduo. São
as condições do organismo que o levam a um objetivo.
Exemplos de comportamentos:
1) Um homem anda rapidamente pelas ruas, na busca persistente de uma farmácia.
2) Um jovem vai para a universidade para ser médico.
3) Um jovem vai ao seminário para ser pastor, missionário, etc.
4) Um delinquente assalta um cidadão.
5) Um rapaz convida uma moça para jantar fora.

Todos esses são exemplos de comportamentos motivados.


A motivação precisa de motivo, incentivo e de impulso. O Motivo é uma condição que desperta,
sustenta e dirige o organismo em busca de um objetivo. O Incentivo é um estímulo interno combinado
com um externo que provoca reforços de uma resposta. Exemplos: alimento, sexo, dinheiro, etc.
Existem incentivos positivos e negativos.
O Impulso é um estímulo persistente de natureza fisiológica e que determina um reforço de
ajustamento.
É a força que põe o organismo em movimento.
A fome é o impulso que leva uma pessoa a buscar comida.
Existe impulso primário, nato, natural: fome e sede.
Existe impulso secundário ou adquirido: valorização pessoal.

1. Classificação dos Motivos:


a) Motivos de sobrevivência: cíclicos e episódicos
b) Motivos sociais
c) Motivos do Eu

Motivos de sobrevivência cíclicos - Fome - é a condição do indivíduo privado de alimento. O


hipotálamo é a parte do cérebro que regula a fome. Está no hipotálamo o centro de controle da fome e
também da saciedade. Existe a fome específica por determinados alimentos.
Sede - necessidade de água. Sensação de secura na boca e garganta.
Respiração – necessidade de ar, de oxigênio, de se expulsar o dióxido de carbono da
corrente sanguínea. O tronco encefálico é quem tem o controle da respiração.
Sono – estado especial do organismo, caracterizado pela relativa imobilidade.
Necessitamos em média de 8h de sono por dia. A privação do sono produz uma
reduzida receptividade aos estímulos e um decréscimo de eficiência no desempenho
das atividades.

Motivos de sobrevivência episódicos


Dor – é considerada como um impulso relacionado às necessidades básicas. A dor provoca um
comportamento de fuga ou de esquiva.
Medo – é uma reação inerente à dor ou a outros estímulos nocivos. O medo é um estado
fisiológico no qual o sistema nervoso autônomo é ativado a fim de alertar o indivíduo para que aja
adequadamente diante do perigo.
A fobia é um medo persistente e intenso de determinados objetos, situações ou pessoas,
acompanhado de um forte desejo de evitar ou livrar-se da causa.
Existem várias fobias. As mais comuns são:
Claustrofobia – medo de lugares fechados ou apertados.
Elurofobia – pavor de gatos
Antropofobia – medo de homens
Patofobia – medo de doenças
Microfobia – pavor de micróbios
Tisiofobia – pavor de tuberculose
Zoofobia – medo de animais
Sifilofobia – pavor de sífilis
Sitofobia – pavor de alimentos
Acrofobia – pavor de altura

45
Agorafobia – pavor de espaços abertos
Misofobia – pavor de impurezas
Fobofobia – pavor de ter medo doenças imaginárias
Pirofobia – pavor de fogo

Fadiga – é provocada por excesso de trabalho ou atividades. A fadiga serve para denotar um
estado motivacional do organismo associado a uma necessidade de descanso. O cansaço exagerado,
a insônia, irritação, uma multiplicidade de distúrbios físicos dores de cabeça, perturbações digestivas,
dores e pontadas vagas dificuldade para a concentração e falta de vontade para o trabalho, são
sintomas de fadiga.

1. Motivos sociais
Sexo: é necessário para continuação da espécie, mas para alguns pode ser dispensado.
Existem diferenças entre culturas, povos, etc. O que é um tabu num determinado lugar pode não ser
noutro lugar. Comportamentos maternais: este comportamento não é observado necessariamente só
na relação mãe-filho. Pode estar presente também na figura do pai quando cuida da criancinha com o
mesmo objetivo que a mãe faria. Afiliação – é a tendência para estar com outros indivíduos
semelhantes. Necessidade de afeto dos outros. Prestígio: necessidade de reconhecimento e
aprovação por parte dos outros.

2. Motivo do Eu
Motivo de realização: é a necessidade de agir conforme padrões de excelência, procurando
fazer o melhor possível, com desejo de sucesso. Pessoas com alta necessidade de realização são
mais ansiosas.

Conflito
Estamos diante de um conflito quando há dois motivos incompatíveis querendo assumir a
direção de nosso comportamento. Denomina-se conflito o estado psicológico decorrente da situação
em que a pessoa é motivada, ao mesmo tempo, para dois comportamentos incompatíveis. Se a
pessoa pudesse atender aos dois motivos, não haveria conflito. O conflito nasce precisamente da
necessidade de se fazer uma escolha, uma opção. A satisfação de um motivo leva automaticamente
ao bloqueio e frustração do outro. Kurt Lewin define conflito como sendo o resultado da oposição de
suas duas forças igualmente fortes.
Na vida real, os conflitos experimentados são muito complexos, podendo envolver um, dois,
três ou mais motivos-meta ao mesmo tempo. Porém, geralmente se classifica os conflitos em três tipos
básicos: aproximação-aproximação, afastamento-afastamento e aproximação-afastamento.
Conflito aproximação - aproximação: ocorre quando o indivíduo se sente motivado ao
mesmo tempo para duas metas positivas que se excluem mutuamente. Exemplos: o jovem que precisa
optar entre duas carreiras universitárias, igualmente atraentes. O recém graduado a quem se oferece
dois empregos bons. Em geral este tipo de conflito se resolve, após determinado período de indecisão.
A decisão pode ser mais ou menos dolorosa, dependendo da importância do assunto sobre o qual se
deve tomar a decisão.
Conflito afastamento - afastamento: resulta da ocorrência de duas alternativas indesejáveis.
Exemplo: o adolescente deseja sair da casa dos pais, pois o ambiente lhe parece por demais
repressivo, mas não tem condições de enfrentar as exigências financeiras da decisão. Seria fácil
resolver o impasse e não haveria conflito se ambas as alternativas pudessem ser abandonadas, mas
as circunstâncias obrigam o indivíduo a uma decisão, uma escolha, nascendo então a tensão, a
ansiedade e a frustração.
Conflito aproximação - afastamento: envolve um mesmo objeto para o qual nos sentimos ao
mesmo tempo atraídos e repelidos. O objeto é desejado e indesejado. A situação contém elementos
positivos e negativos. Nasce, então a ambivalência. Este conflito poderia ser exemplificado pelo
adolescente tímido que quereria declarar seu amor, mas tem medo da rejeição e do ridículo. Ele
planeja cuidadosamente o encontro com a pessoa amada, prepara palavra por palavra tudo o que vai
dizer. Almeja ardentemente estar junto ao seu amor. Mas, à medida que os minutos passam e se
aproxima o momento tão decisivo, cresce a ansiedade, ele transpira, treme, as palavras parecem lhe
fugir...

46
Frustração
É o estado emocional que acompanha a interrupção de um comportamento motivado. Ninguém
pode evitar por completo as frustrações, uma vez que nem todas as nossas necessidades e desejos
são satisfeitos. A saúde mental não depene de enfrentarmos ou não frustrações. Depende sim, da
forma como as enfrentamos.
A frustração provém de várias fontes. Há obstáculos externos e internos, limitações
provenientes de situações ambientais e pessoais. Alguém pode sentir-se frustrado por causa da chuva
que prejudicou suas férias na praia ou no campo. Mais grave seria a frustração causada pelo incêndio
que destruiu a casa, pela morte que levou o ente querido. No caso da chuva, certamente haverá outras
oportunidades de férias, mas será impossível recuperar a pessoa amada que morreu.
As frustrações mais dolorosas provém das limitações estritamente pessoais, especialmente as
que tem implicações sociais como a reprovação num vestibular, a perda do emprego por desempenho
inadequado, o fracasso amoroso. Nestes casos é mais difícil carregar a responsabilidade nos outros
ou nas circunstâncias. Estas situações acabam atingindo duramente o auto conceito, provocando
sentimentos de inadequação e inferioridade. Elas se agravam significativamente quando o indivíduo
não sabe avaliar suas qualidades e defeitos, não tem uma visão real de sua personalidade e acaba
estabelecendo metas irreais que fatalmente nunca serão atingidas. Há também os que estabelecem
seus objetivos muito aquém de suas possibilidades e passam a vida inteira lamentando de sua
situação.

Telford e Sawrey admite três situações que desencadeiam as frustrações:


A frustração por demora - ocorre quando o objetivo ou meta reforço só poderá ser atingido,
decorrido determinado tempo. O indivíduo tem que esperar, adiar o esperado reforço por tempo
determinado ou indeterminado. A frustração por entrave existe quando se impede ou interrompe o
curso do comportamento. O entrave pode decorrer de características pessoais de rodem física
intelectual ou psíquica. Outras vezes ele advém de situações sociais leis, regulamentos, normas
sociais, etiquetas, rituais ou do comportamento dos outros que nem sempre colaboram para atingirmos
nossos objetivos e nos realizarmos.

Conflito - já comentamos anteriormente.


Uma pessoa frustrada pode demonstrar inquietação, agressão ou apatia. Quando inquieta, a
pessoa começa a movimentar-se mais, anda de um lado para outro, fuma e conversa mais do que o
normal, rói as unhas, etc. A agressão decorrente da frustração pode ser direta ou deslocada. Ela será
direta, quando dirigida ao objeto causador da frustração. Exemplo: A criança que agride o colega
porque este lhe tomou das mãos o brinquedo. A agressão é deslocada quando dirigida a pessoa ou
objeto que nada tem a ver com a frustração. Alguém ou algo vira bode expiatório. Exemplo: o
funcionário cansado ou humilhado pelo seu chefe não pode agredi-lo, pois correria o risco de perder o
emprego, mas ao chegar em casa pode agredir a esposa ou os filhos.
A pessoa frustrada pode responder com apatia. Esta situação mostra como duas pessoas, ou a
mesma pessoa em situações diferentes, podem responder ao mesmo estímulo de formas diversas e
até contrárias. A tendência geral, diante da frustração é reagir e resistir.

Ansiedade
Ansiedade é um estado psíquico muito semelhante ao medo. Esta caracteriza-se por ser uma
reação de defesa do organismo diante de um perigo real. O medo é a reação do organismo que busca
manter sua integridade física ou psíquica. Já a ansiedade é um medo vago, sem fundamente lógico,
irracional ou desproporcional ao objeto causador. A ansiedade é um estado, caracterizado por
sentimento de apreensão, inquietude e mal estar difusos. Pode ser também sensação de impotência
para fazer algo ou tudo. As pessoas tomadas pela ansiedade, com freqüência sentem medo de um
perigo vago e desconhecido, mas para elas inevitável.
A ansiedade é um sinal de alarme dirigido ao eu. Serve para advertir a presença de um perigo,
de um impulso ou ideia inadmissíveis, para que o eu possa responder com medidas adequadas ou
mobilizar suas defesas. A ansiedade não é propriamente um fenômeno patológico, mas algo inerente à
condição humana. Até um determinado ponto, a ansiedade é sinal de vitalidade e serve para despertar
e motivar o organismo. Sua função é útil para a sobrevivência, já que põe o organismo de sobreaviso
quando aparece algo ameaçador para a estabilidade e integridade emocional do sujeito.

47
Para Sullivan a ansiedade é o medo da insegurança. Este medo teria suas origens na infância
e pode provir de privações e negligências afetivas. A ansiedade é o medo do isolamento, da solidão e
da falta de afeto. Para os existencialistas a ansiedade nasce da constatação da inevitabilidade da
morte e da constatação de tantas possibilidades não realizadas.

Mecanismos de Defesa:
Os mecanismos de defesa visam proteger a autoestima do indivíduo e eliminar o excesso de
tensão e ansiedade. Os mecanismos de defesa do ego, na denominação de Freud, são recursos
ardilosos pelos quais o eu se defende dos perigos instintivos e das emoções violentas impulsos
inconscientes que ameaçam o seu equilíbrio. Graças aos mecanismos de defesa conseguimos manter
o equilíbrio entre os conflitos internos e o ego. Quando estes mecanismos não são, por qualquer
motivo, adequados para diminuir a angústia ou a ansiedade, podem ocorrer transformações violentas
no comportamento.
A principal função dos mecanismos de defesa é ajudar-nos a manter a ansiedade e a tensão
em níveis que não sejam tão dolorosos para nós. Os mecanismos não resolvem os problemas criados
pela ansiedade, mas nos dão a possibilidade de nos sentir melhor, mesmo que seja apenas
momentaneamente. Evitam o desgaste advindo pelo grande aumento de tensão intrapsíquica causado
pela situação de frustração e conflito. Portanto, eles são benéficos, porque favorecem o auto respeito e
evitam o stress psíquico. Nesse sentido, o indivíduo sentir-se-á protegido das ameaças advindas da
situação de conflito e terá recursos para suportar por mais tempo essa situação, por um período
suficiente para armazenar informações e detectar comportamentos indispensáveis a um ajustamento
mais realista e eficiente.

Alguns dos principais mecanismos de defesa são:


1. Racionalização - a racionalização que consiste em justificar de forma mais ou menos lógica,
e se possível ética, a própria conduta. A racionalização é uma auto justificação ou aparência lógica,
mas na realidade inverídica. Muito conhecido é a fábula da raposa que, não alcançando as uvas que
desejava, se afastou dizendo: estão verdes, nem cães as podem tragar. O político que perde a eleição
e depois diz: Foi melhor assim, porque vou poder dedicar-me mais aos meus clientes e à minha
família. A pessoa que esperava ganhar na loteria e que ao conferir o bilhete vê que não foi premiada,
dá de ombros e comenta: foi até bom, dinheiro estraga a vida da gente. Reconhecer nossa
irracionalidade, ainda quando nos é incômoda, ajuda a superá-la. Nem a conduta nem os impulsos das
pessoas são sempre racionais.
2. Projeção - é um mecanismo que consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o
sujeito não pode admitir como suas. Sem que percebamos, muitas vezes, vemos os outros defeitos
que nos são próprios. Pensamentos e sentimentos na realidade nossos, são atribuídos a pessoas que
nos cercam. Podem servir de exemplos de projeção: o aluno que se sente frustrado pela reprovação
nos exames, põe-se a dizer que o professor é incapaz. O marido infiel que desconfia da esposa.
Formação de reação ou formação reativa - Aqui os impulsos e as emoções censuradas como
impróprias assumem uma forma de expressão contrária, aceitável para o ego ou consciente. Serve de
exemplo a mãe que inconscientemente não desejou o filho, considerando-o um estorvo, agora se
desdobra em cuidados de toda ordem para representar a seus próprios olhos o papel de mãe perfeita.
Repressão - Este mecanismo de defesa parece fundamentar todos os outros. Representa um
esforço para retirar do consciente os pensamentos, sentimentos, memórias e fantasias que forem
dolorosos ou ameaçadores. Vivências que provocam sentimentos de culpa são esquecidas. Muitos
casos de amnésia podem ser explicados através deste mecanismo de defesa: esquecemos o que é
desagradável.
Substituição - O mecanismo de substituição pode apresentar-se sob duas formas: a
sublimação e a compensação. Sublimação é o processo através do qual motivos inaceitáveis se
expressam de forma socialmente aceitável. Assim impulsos hostis podem ser expressos através da
prática de esportes violentos como o box.
Compensação consiste num esforço extraordinário realizado pelo indivíduo para ser bem
sucedido numa determinada área. Este esforço visa compensar uma fraqueza ou fracasso em outra
área da personalidade. O adolescente, sentindo-se inadequado para a prática de esportes pode
realizar um esforço muito grande para ser reconhecido e admirado pelo seu sucesso nos estudos.
Identificação - Através deste mecanismo o indivíduo busca segurança e o fortalecimento do eu
associando-se psicologicamente com outra pessoa que goza de prestígio e autoridade. Embora esse

48
mecanismo possa ser utilizado por qualquer indivíduo em qualquer idade, ele é particularmente
frequente na infância e adolescência. Os adolescentes facilmente se apegam a modelos apresentados
pela televisão. Adultos fazem questão de mencionar seu parentesco ou relação de amizade com
pessoas ilustres.

Ajustamento:
Por que alguns conseguem ser ajustados e outros não? Depende bastante da correta utilização
dos vários mecanismos que nos auxiliam na solução de problemas psíquicos. A vida de cada um terá
certamente muitos conflitos, frustrações e ansiedades. O homem tem que usar todas as suas
faculdades para enfrentar, superar ou conviver com os problemas. Por que não conseguimos resolver
nossos problemas pelo uso da razão? Embora nossos problemas pessoais sejam muito semelhantes a
qualquer outro problema, há algumas diferenças. Primeiramente, quando se trata de assuntos
pessoais o envolvimento emocional nos rouba a objetividade. Em segundo lugar há muitos aspectos
inconscientes em nosso comportamento. Há consequentemente, muitos dados desconhecidos por nós
mesmos.

Os mecanismos de defesa podem ajudar no ajustamento porque:


Através de seu uso diminui a tensão e assim se evita que os problemas nos façam soçobrar.
Os mecanismos de defesa nos possibilitam novas experiências que poderão nos ensinar novas formas
de ajustamento. Os mecanismos podem nos ajudar a descobrir as verdadeiras causas de nosso
comportamento. Muitas das atividades em que nos engajamos através dos mecanismos de defesa,
são atividades construtivas e úteis. Quando alguém pode ser considerado ajustado? Não é fácil dizer
se alguém é ou não ajustado. Tudo depende do conceito que temos de ajustamento e dos critérios
utilizados. E os conceitos e critérios variam bastante, dependendo do lugar e da época.
Para alguns normal e ajustado significam a mesma coisa. Outros fazem uma distinção,
afirmando que ajudado é o que se adapta com facilidade aos padrões da sociedade, o que não implica
necessariamente em ser normal e saudável, realizado e feliz. O indivíduo estaria desempenhando
papéis, fazendo o que os outros esperam que ele faça, mas não necessariamente fazendo aquilo que
o torna mais feliz. Pearls acredita que a pessoa é feliz, saudável e criativa à medida em que vive o
momento presente. Não gasta suas energias para lamentar o passado, nem para preocupar-se com o
futuro.
Abraham Maslow, que dedicou a vida inteira ao estudo da personalidade normal e ajustada,
propôs que o indivíduo com saúde mental caracterizar-se-ia por ser mais espontâneo e comunicativo.
Menos bloqueado, menos crítico de si mesmo, mais aberto e honesto, mais facilmente expressa seus
pensamentos e opiniões sem medo do ridículo. É intelectualmente flexível. Não teme o mistério e o
desconhecido, ao contrário é atraído para ele. Conserva características próprias da criança como a
vivacidade e inocência, o que juntamente com uma inteligência adulta, torna-se uma pessoa muito
especial.
A pessoa bem ajustada enfrenta conflitos, mas não é demasiadamente perturbada pelos
mesmos. Enfrenta seus problemas de forma realista, aceita o inevitável, compreende e aceita suas
limitações e as limitações daqueles com quem tem que conviver... A pessoa bem ajustada não é
necessariamente um conformista social... A pessoa sadia e bem ajustada é também produtiva e capaz
de desenvolver relações com outras pessoas o que lhe traz satisfação. É sensível às necessidades e
sentimentos dos outros, não é muito exigente na satisfação de suas próprias necessidades e é capaz
de dar e receber afeição. Hilgard, Atkinson

49
4. Inteligência

Da palavra inteligência:
De todas as palavras usadas atualmente pela Psicologia, inteligência é uma das mais difíceis
de se definir. Na verdade, os psicólogos não chegaram a uma definição aceitável, embora tenha sido
realizados inúmeros trabalhos para desenvolver testes capazes de medir a inteligência. O que falta,
porém, é uma definição precisa, pois se tem aceito, em geral, que a inteligência consiste na faculdade
mental capaz de selecionar informações recebidas através dos sentidos, de perceber as relações entre
esses novos dados e a informação já armazenada na memória, e, como resultado desses processos,
tomar decisões rápidas e adequadas. Se isso tudo parece complicado, devemos nos lembrar de que o
cérebro é um engenho complexo que recebe informação através dos cinco sentidos, inspeciona essa
informação e, depois de compará-la com a informação recebida no passado, faz algo com ela. A
capacidade intelectual ou inteligência refere-se a esses aspectos do funcionamento do cérebro - a
seleção e a tomada de decisões. Quando falamos de alguém muito inteligente, queremos dizer que o
cérebro do indivíduo em questão é altamente eficiente nesses processos em particular.
Segundo Vaughan, o termo inteligência envolve capacidade inata para aprender, capacidade
para pensar de modo abstrato, vivacidade mental, raciocínio seguro, equilíbrio emocional e capacidade
para adaptação.

Torndike admite três tipos de inteligência:


1. O tipo abstrato - habilidade para com símbolos.
2. O tipo social - habilidade para relacionar-se com pessoas.
3. O tipo prático ou mecânico - habilidade para manipular objetos.
Spearman admitiu que a inteligência era constituída de dois fatores:
O G geral e o S especial. O G é constante em todos os indivíduos, embora com variações, e é
composto de habilidades como perceber, memorizar, atentar, induzir, deduzir, relacionar, falar.
O S especial é constituído de habilidades especiais não constantes em todos os indivíduos e
variáveis entre os que as possuem. As habilidades especiais são: memória para nomes, velocidade
para trabalhar com os dedos, extensão de vocabulário para reter sinônimos, etc.
Thurstone, entendeu a inteligência como uma função constituída pelas seguintes habilidades
primárias: facilidade para trabalhar com números, fluência verbal, visualização, memória, rapidez
perceptual, indução e raciocínio verbal.

2. Inteligência média normal:


Tomando os quocientes de inteligência QI como base, a inteligência média normal é 100. Isso
não quer dizer que alguém com um QI 99 esteja abaixo da inteligência média, ou que com um QI 101
deva ser considerado acima da média.
Os resultados dos testes não tem precisão absoluta - há no mínimo 5% de erro - e podem ser
prejudicados por fatores pessoais, como, por exemplo, o grau de motivação ou uma dor de cabeça.
Dependendo do objetivo do teste, a classificação pode variar, mas na maior parte dos casos os
psicólogos classificam como de inteligência normal todos os que tem QI entre 90 e 110.
50% da população está nessa faixa.
Os indivíduos com QI ente 110 e 120 são geralmente classificados como de inteligência média
superior. Os indivíduos com QI entre 80 e 90 - inteligência média inferior. Cada um desses grupos
constitui aproximadamente 15% da população. Os três grupos reunidos, que compõem 80% da
população, podem, na realidade, ser classificados como normais. Os QIs acima de 120 ou abaixo de
80 refletem os casos extremos, em que as diferenças intelectuais são observáveis mesmo na ausência
de testes.
Há indivíduos de QI entre 120 e 140, que são descritos como portadores de inteligência
superior aproximadamente 1 em 10 indivíduos. No outro extremo fica aproximadamente 5% da
população com QI entre 80 e 90, que são, geralmente chamados de casos limítrofes. Acima e abaixo
desses valores, encontra-se uma porcentagem ainda menor da população que pertence a duas
categorias: a dos gênios e a dos deficientes mentais definidos.

O que se mede com um teste de inteligência?


O que se pretende medir, quando se aplica um teste de QI? Trata-se de uma questão
fundamental, a mais importante de todas: a inteligência está relacionada, acima de tudo, com a

50
capacidade de manipular e lidar com a informação de maneira eficiente no cérebro, e não com a
quantidade de informação já armazenada no mesmo. A quantidade de informação armazenada
relaciona-se com a memória, e o acúmulo de informações cresce gradativamente com a idade,
simplesmente porque o indivíduo vai tendo mais e mais experiência do mundo que o cerca.
O desenvolvimento da capacidade intelectual é bem diferente: há um crescimento rápido desde
o nascimento até o começo da puberdade e, a partir daí, ocorre uma diminuição abrupta no ritmo
desse desenvolvimento. Por volta dos vinte anos, a inteligência em si para de crescer, mas permanece
mais ou menos constante por cerca de uma década, então, muito lentamente, começa a diminuir. Em
pessoas muito inteligente, esse declínio é lento, quase que imperceptível, até a idade de sessenta ou
setenta anos, ao passo que nos indivíduos com QIs mais baixos essa mudança é perceptível uns dez
anos antes. É claro que o conhecimento, ou seja, a quantidade de fatos armazenados na memória,
continua a aumentar e isto pode dar a impressão de que um indivíduo de quarenta anos, por exemplo,
é muito mais inteligente do que um outro indivíduo de dezessete.

Fatores físicos que influenciam a inteligência:


A base da inteligência é a capacidade cerebral de manipular informações, observar as relações
entre dos dados velhos e os novos, e tomar decisões rápidas e precisas. Não parece haver dúvida de
que essa capacidade depende basicamente da capacidade de computação do cérebro. A maior parte
dos psicólogos e fisiólogos acredita que a matéria cinzenta localizada na superfície exterior do cérebro
o córtex cerebral e constituída por bilhões de células, é a máquina fisiológica responsável pela
computação. O homem é o mais dotado de córtex cerebral, por esse motivo, ele é o ser mais
inteligente da criação.
Qualquer dano do córtex cerebral, seja por trauma de parto, seja por doença ou por acidente,
pode afetar severamente a capacidade intelectual. Estudos microscópicos do córtex cerebral de
indivíduos portadores de deficiência mental grave mostraram que as células nervosas dessas pessoas
têm um número menor de interligações do que as de indivíduos normais. Pesquisas recentes
demonstram que há um período crítico na infância, durante o qual a subnutrição pode causar prejuízos
graves e permanentes ao funcionamento intelectual. Esse período crítico corresponde,
aproximadamente, a época em que o cérebro se encontra no ponto mais importante de
desenvolvimento, isto é, nos primeiros dezoito meses de vida.

O que se pode fazer para melhorar o QI das crianças?


Existem algumas regras simples que podem contribuir para melhorar as condições iniciais do
desenvolvimento da inteligência. A primeira e mais importante regra consiste em a mãe seguir uma
dieta adequada e bem equilibrada durante a gravidez, e em alimentar muito bem a criança durante os
primeiros anos de vida. A criança deve viver em ambiente estimulante, com oportunidade de ver coisas
novas, viajar por todos os lugares que for possível, e ter o máximo contato com crianças da mesma
idade, ou um pouco mais velhas, de preferência.
Deve-se encorajar, e numa forças, o filho a ler e gostar dos livros. Nesse sentido, o exemplo
dos pais é muito importante. A vida no lar deve ser a mais enriquecedora e estimulante possível, em
termos intelectuais.
Ao contrário do que geralmente se diz, uma boa escola, com bons professores e colegas
inteligentes, é apenas uma parte da questão. O desenvolvimento intelectual é prejudicado, quando a
vida no lar não oferece estímulos e desafios constantes. As drogas provocam danos ao sistema
nervoso, principalmente aquelas que inibem ou retardam o desenvolvimento do tecido nervoso, destrói
o computador fisiológico do cérebro, reduzindo, dessa forma, a inteligência.

51
Lição 3
5 Psicologia do Desenvolvimento

1. Gestação e nascimento
Os médicos obstetras recomendam, em geral, o chamado parto normal sempre que as mães
possam aguentar a dor e assim cooperar com o obstetra durante o trabalho de parto. Acredita-se que o
parto natural dá mais satisfação à mãe e diminui as possibilidades de traumas de nascimento à
criança. A moderna obstetrícia, a ciência da gestação e do parto, vem tornando os nascimentos mais
seguros e menos traumáticos. O recém-nascido nasce equipado para a vida, mas não respira no
instante do nascimento. O obstetra segura o bebê pelas pernas, coma cabeça para baixo e lhe dá
palminhas na parte traseira, a fim de que ele inicie o processo de respiração.
O choro do recém-nascido é o primeiro contato da criança como meio exterior e se realiza com
a entrada do ar nos pulmões. Por essa razão, diz-se que a respiração representa o contato do meio
interior do organismo com o mundo exterior. Muitas bronquites representam, como doença
psicossomática, um protesto da criança contra o meio familiar e, principalmente, contra a mãe. Nos
seus primeiros momentos de vida, a criança respira, suga, engole, digere os alimentos e elimina.
Esses comportamentos são reflexivos. Os comportamentos inteligentes ainda não existem e vão
formando-se através dos comportamentos motores.
O recém-nascido também possui o reflexo plantar - quando você faz cócegas na planta dos
pés, ele estica os dedos. Reflexo de moró - um ruído alto leva a criança a estender os braços e depois
encolher. Reflexo de preensão lembra o recém-nascido animal que se agarra à mãe, quando esta
foge, com medo. Otto Rank afirmou que o recém-nascido sofre um choque muito grande, que marca
toda a sua vida, quando ele sai do paraíso do útero materno, ambiente estável, de temperatura amena,
para um ambiente confuso, barulhento, de temperatura, às vezes, agressiva. É expulso do paraíso do
ventre materno para o inferno da vida.
O recém-nascido, não é capaz de discriminar os estímulos luminosos. Ele não pode
discriminar, pela visão, o pai da mãe. Ele percebe o som, os estímulos olfativos e é capaz de receber o
sabor do açúcar, do sal, e de certas substâncias ácidas. A amamentação é um processo muito
importante no desenvolvimento da criança, não só biológico como psicológico.

2. Crescimento e maturidade
Nós não estamos preparados para a vida assim que nascemos, porque o nosso
desenvolvimento é o mais lento de todos. Existem alguns princípios que são essenciais para o
crescimento e a maturidade, são eles: a aprendizagem e a hereditariedade. Maturação refere-se ao
processo de crescimento que resulta em mudanças, previsíveis no comportamento. O
desenvolvimento da criança caminha sempre do todo para o específico.
Ex.: Uma criança agarra uma colher com toda a mão antes de aprender a usar o polegar e o
indicador para sustentar a colher.
Após o nascimento, recebe alimentos, dorme, recebe carícias e satisfaz-se. Só mais tarde
começa a desempenhar atos sociais, a sorrir, a emitir alguns sons, a chorar socialmente. O
desenvolvimento e a maturação caminham juntos. De uma maneira geral, as crianças desenvolvem-se
segundo um ritmo, assim:
Engatinhar: 6 meses
Ficar de pé sozinho: 9 meses
Erguer-se: 10 meses
Andar: 12 meses

Essa sequência: engatinhar, ficar de pé, erguer-se, andar, é comum a todas as crianças, mas
algumas se adiantem e outras se atrasam no desenvolvimento. Esse fato se chama proporcionalidade.
A criança fala suas primeira palavras entre doze e catorze meses. Com dezoito meses, a criança já é
capaz de juntar duas palavras. Aos dois anos já pode nomear objetos de uso comum.

3. Comportamento Emocional
Freud, criador da Psicanálise, afirmou que todo comportamento da criança está relacionado
com dois fatores:
Procura do prazer

52
Evitar o sofrimento
Esses dois processos estão relacionados com o prazer proporcionado pela estimulação de
determinadas partes do corpo. O corpo é o principal elemento de comunicação da criança. Ela fala
com o corpo. A estimulação de certas partes do corpo provoca sentimentos de prazer na criança.
Essas partes são a boca, o ânus e os órgãos genitais. A criança quando amamentada sente prazer em
tocar com os lábios o seio da mãe, que a alimenta. A boca, o ânus e os órgãos genitais, são chamados
zonas erógenas
Erógena significa que traz prazer.
Freud afirmou que as crianças se desenvolvem passando pelas três fases na seguinte ordem:
1. Prazer da boca, alimentação;
2. Prazer da defecção e micção;
3. Prazer dos órgãos genitais.

Essas três fases se chamam fases psicossexuais. A primeira fase se chama fase oral, a
segunda, fase anal e a terceira, fase fálice. No primeiro ano de vida, a principal zona de prazer da
criança é a boca e os lábios, através dos quais se alimenta e mantém contato com a mãe. Essa fase
oral pode marcar muito a sua vida. Se você se fixa nessa fase, porque foi excessivamente alimentado
e acariciado ou porque foi pouco estimulado, conserva ainda vestígios dessa fase com o hábito de roer
unhas, fumar, chupar o dedo, mascar chiclete, comer demais ou ser um inveterado beijador.
Se a criança, mais velha, tem o hábito de morder, é porque ela se fixou na fase oral agressiva.
Se você tem o hábito de cuspir nos outros ou cuspir muito e sem razão, é porque, na interpretação
psicanalítica, você está fixado na fase oral agressiva. O mesmo acontece com a pessoa que utiliza
muitos palavrões como defesa. Experiências têm comprovado que as mães ou pais muito severos no
treinamento da eliminação das fezes ou da urina levam a criança a comportamentos indesejáveis,
como teimosia, avareza, complexo de limpeza e neurose de ordem.
É preciso lembrar, segundo a Psicanálise, aparece entre o terceiro e o sexto ano de vida da
criança. Nesta fase acredita-se que a criança sinta prazer em estimular os seus órgãos genitais. É
nesta fase que, segundo Freud, a criança sente uma atração instintiva pelo genitor pai ou mãe do sexo
oposto, isto é, a menina se sente atraída pelo pai e o menino pela mãe. Isso se chama em Psicanálise
de Complexo de Édipo.
Conhecendo o comportamento de uma criança em relação aos pais, você poderá predizer
como ela irá atuar em outros ambientes. Há lares democráticos nos quais se leva a criança a participar
de atividades com os pais, a vigilância é mais discreta e ambos os pais cooperam na educação. Nos
lares autocráticos, o controle é mais rígido, há castigos e punições e, geralmente, só um dos pais pai
ou mãe é responsável pela educação dos filhos. As crianças que vê de lares democráticos são mais
sensíveis ao elogio ou à crítica, são mais amáveis, menos reclamadoras, mais competitivas, melhor
ajustadas à escola. As crianças vindas de lares autocráticos ou de onde apenas um dos pais exerce
controle severo e castigo, são impopulares, menos sensíveis aos outros, menos competitivas e com
problemas de adaptação à escola.
O fator relativo aos pais que mais influi no desajustamento dos filhos é o ajustamento do casal.
Um casal desajustado traz filhos também desajustados. O filho mais velho, como herdeiro simbólico do
trono, é levado a assumir responsabilidades mais cedo que os outros. O primogênito sofre as
frustrações de deixar de ser filho único para receber novos irmãos. Ele deve ser o modelo aos irmãos
mais moços. A experiência tem mostrado que os filhos mais moços são mais confiantes, mais
competitivos, mais persistentes e com maior capacidade de liderança que o mais velho. Em geral, a
criança mais velha tem mais contatos sociais com adultos.

4. Desenvolvimento da linguagem
Nos primeiros dias de vida, a criança emite sons sem sentido. Ainda não é a linguagem
propriamente dita, são apenas exercícios das cordas vocais. Os pais ficam alegres, quando o recém
nascido emite sons como: gu-gu, a-a-a; u-u-u. Quando a criança toma banho e se sente feliz, solta
sons significativos de prazer. O som repetido de uma consoante geralmente labial como ...mã....mã;
pá...pá, constitui o chamado balbucio, o que significa que a criança está pesquisando sons e
deliciando-se com eles. Essa fase vai até 10 meses e se chama pré-linguística. O vocabulário da
criança aumenta rapidamente durante o segundo ano.

53
Nessa idade, algumas crianças têm um vocabulário de aproximadamente 50 palavras. À
medida que vai relacionando-se com o adulto, vai adaptando a sua gramática e linguagem com as
pessoas com as quais convive.
Ex.: Não fazi; Eu pódo; Eu trazi.

5. Desenvolvimento do autoconceito
Nos primeiros anos de vida, a criança não chega a reconhecer que está separada da mãe e
que o seu corpo é independente. Freud fala da simbiose da criança coma mãe, isto é, ela sente-se
unida à mãe como um todo. Piaget, por seu lado, diz que a criança não entende bem a distinção entre
o EU e o NÃO EU. A criança, até três anos, ao se referir a si própria, ainda responde com o seu
próprio nome e não usa o pronome pessoal - EU.
Ex.: Nando gosta. Celo vai. Nilo come.

O autoconceito que a criança tem de si inclui a percepção que possui de si mesma, de suas
habilidades e o grau em que ela se auto estima. Aos dois anos, a criança aprendeu o seu nome e
começa a usa-lo, aos quatro já mostra tendência a posse territorial, isto é, posse de lugar que lhe
pertence.
Ex.: Aqui é meu. Sai é meu.
Aos cinco e seis meses já desenvolve julgamentos a respeito de si própria.
Ex.: Não quero. Gosta a mamãe. Papai é bom.
A criança que tem uma auto estima baixa geralmente é mais ansiosa e tem mais dificuldades
na escola.
Uma auto estima elevada vem de famílias nas quais:
1. Valoriza-se o elogio e a recompensa.
2. O relacionamento entre pais e filhos é afetuoso.
3. São estabelecidos os limites quanto ao comportamento das crianças.

6. Drama da Adolescência
A adolescência tem sido chamada de fase intermediária do desenvolvimento, porque fica entre
a infância e a idade adulta. A palavra adolescência adolescere quer dizer crescer, tornar-se forte, isso
porque, nessa idade, se dá início à maturidade sexual. Essa fase é caracterizada pela atração que o
jovem começa a sentir por pessoas do sexo oposto. A adolescência tem sido vista como a fase da
agressividade e tensão.
Geralmente, tem início o chamado conflito psicológico. Isso não quer dizer, no entanto, que as
modificações corporais, sexuais, causem conflitos em todos os adolescentes. Os conflitos do
adolescente dependem não apenas das modificações sexuais como também da aprendizagem social
antes e durante a adolescência. A primeira fase da adolescência, chamada puberdade pubertas quer
dizer idade viril, potência sexual, relaciona-se com as mudanças hormonais que trazem ao homem
pelos e à moça, os seios.
O organismo da menina começa a produzir o hormônio feminino chamado estrógeno e o do
menino produz o andrógeno. É o início da menstruação na menina e da ejaculação. Os rapazes
geralmente tingem a maturidade sexual um ano ou dois mais tarde que as moças. O adolescente
muda o tom da voz e é comum o aparecimento de acne espinhas no rosto. Modifica-se o peso e a
altura. As mulheres afinam a cintura e aumentam os quadris. Os rapazes crescem muito e, por isso, se
dá, a essa fase, o nome pernas longas e calças curtas. A menstruação é um fenômeno que preocupa
muito a menina, quando não é devidamente orientada.
O comportamento social do adolescente sofre modificações diversas daquele que apresentava
quando criança. É fator de grande importância ao adolescente o agrupamento, os amigos, os
companheiros. Ele passa a se identificar mais com os companheiros e a afastar-se dos pais. No início
da adolescência, o menino identifica-se com o que os garotos fazem, porém à medida que cresce, o
jovem se aproxima de um grupo pequeno e selecionado.
O problema de orientação vocacional e escolha de uma profissão é um desafio para o jovem
de hoje. O comportamento no namoro tem levado os psicólogos a observar que as moças mostram-se
mais inclinadas a namorar mais cedo. O namoro competitivo é mais comum entre adolescentes mais
jovens e o namoro fixo é mais frequente entre adolescentes mais velhos. As moças inclinam-se, com
mais freqüência, a namorar rapazes da mesma classe socioeconômica, o que não acontece com os
rapazes.

54
Um dos problemas mais comuns entre os adolescentes e os pais e, principalmente, as mães, é
o chamado problema da chave, que é a volta para casa à noite. Muitos pais sentem dificuldade para
libertar a independência dos jovens adolescentes. Em algumas sociedades primitivas existem rituais
de iniciação do adolescente no mundo do adulto. Ao adolescente, por sua vez, é muito difícil a
transição da adolescência à vida adulta, em que se inicia a auto direção e independência.
O psicólogo Adler diz que a adolescência se caracteriza por três problemas básicos,
representados por três escolhas fundamentais:
1. Escolha de uma Filosofia de vida. 2. Escolha profissional.
3. Escolha de um companheiro de vida conjugal

55
6 Psicologia da Personalidade

Quando você ouvir falar em personalidade, essa palavra vem associada a comportamento,
caráter, temperamento e conduta de uma pessoa.
Você deve ter ouvido também muita gente dizer:
- Esse menino tem personalidade forte.
- É uma pessoa sem personalidade.
Quando alguém lhe pergunta como é a personalidade de seu amigo, você geralmente diz:
- Tem personalidade, é ativo, é persistente, é leal, bem humorado e equilibrado, não é egoísta,
é extrovertido.
- Como é a sua personalidade?
O termo personalidade indica a qualidade total do comportamento do indivíduo, indicada pelos
seus hábitos, pensamentos, atitudes, interesses, maneira de ser e Filosofia de vida.
A personalidade de uma pessoa é o resultado de uma interação entre o ambiente no qual ela
vive e a hereditariedade.
Isso faz a gente acreditar que o comportamento do indivíduo é o resultado de:
1. Experiências que não foram aprendidas como o piscar de olhos;
2. Experiências aprendidas, como o só gostar de novelas de amor.
O total de respostas aprendidas e não aprendidas constitui a personalidade.
Há certas respostas ou comportamentos que são características suas.
Como podemos definir a sua personalidade?
Ela caracteriza você por três tios de atuação:
1. Respostas características suas;
2. Respostas organizadas;
3. Respostas únicas.

Quantas pessoas dizem que você é bravo como ninguém? Esse fato é uma característica sua,
único na sua família. Quando dizem que não sabemos como Paulo vai agir diante de um professor,
essa afirmação leva a crer que, em situações semelhantes, o seu comportamento não foi previsível.
Há muitos comportamentos que são manifestos, patentes, e facilmente observados pelos outros. Você
pode verificar uma pessoa rir, chorar, coçar a cabeça, chutar uma bola, mas você não pode observar,
por exemplo, as emoções de um indivíduo. Essas respostas são chamadas respostas internas ou
veladas. Elas são formadas por valores, expectativas, frustrações, motivações, interesses. Essas
respostas internas constituem a chamada personalidade real do indivíduo.
Como você enfrentaria uma frustração?

1. A personalidade e a herança
O ser humano se origina de um ovo, formado pela união de duas células, o gameta masculino
e o gameta feminino. No gameta masculino, ou espermatozoide, encontram-se um estado virtual,
todos os fatores que o genitor lega ao filho; no gameta feminino, ou óvulo, encontram-se no mesmo
estado, os fatores fornecidos pela mãe. Assim, quando, pela fertilização, os dois elementos se unem
para formar o ovo, fica definitivamente organizado o equipamento hereditário do novo indivíduo. O
desenvolvimento desse equipamento é condicionado pela ulterior influência do ambiente, incluindo-se
neste o próprio organismo materno, pois a vida do novo sr não se conservaria se não encontrasse
ambiente favorável.
Na maturação dos gametas masculinos da espécie humana há a possibilidade da formação de
16.777.216 tipos diferentes de espermatozoides, o que quer dizer que não serão muito comuns, no
homens, espermatozoides iguais. Por outro lado, há na mulher a possibilidade de igual número de
óvulos diferentes. E como a produção de óvulos maduros na espécie humana é reduzida, não
passando de algumas centenas, devemos supor ser inteiramente improvável que se formem dois
óvulos iguais, na mesma mulher.
Ainda mais: cada um dos 16.777.216 tipos de gametas masculinos poderá combinar-se, ao
acaso, com cada um dos 16.777.216 tipos de óculos, para formar ovos, que poderão, assim ser de
tantos tipos quanto o produto do número de espermatozoides pelo de óvulos, isto é, aproximadamente
300 bilhões. Vê-se, pois, que é extremamente improvável ou mesmo praticamente impossível, que dois
indivíduos, embora filhos dos mesmos pais, nasçam com equipamentos hereditários idênticos.

56
Um outro problema ligado à hereditariedade, da maior significação pedagógica, é o da
transmissibilidade dos caracteres adquiridos. A genética assegura, com abundantes e sólidos
argumentos que não há nenhuma prova de transmissão hereditária dos caracteres adquiridos.
Exemplo: os judeus praticam há vários séculos a circuncisão, e apesar disso, nunca nasceu um
menino judeu circuncidado. É muito comum furar-se as orelhas das meninas, mas até hoje não se viu
nascer nenhuma menina de orelhas furadas. Os operários têm as mãos calejadas pelo seu trabalho,
mas os seus descendentes não nascem com as mãos menos delicadas que as dos filhos de
intelectuais.

2. O meio, como fator de personalidade


O meio atua de várias formas, mas sempre poderosamente sobre o desenvolvimento
individual. Da mesma maneira que os processos do crescimento do indivíduo dependem,
necessariamente, de provisão adequada de oxigênio, água, alimentos, temperatura e outros elementos
do meio físico, os atributos psicológicos da personalidade dependem de situações ambientais.
Se o indivíduo não se interessar pelos elementos do ambiente, não fizer uso dele, o ambiente
se torna, para ele nulo, inoperante. Para um cachorro esfomeado, por exemplo, um pasto verdejante é
como um deserto. O ambiente só tem ação efetiva quando de algum modo satisfaz a uma necessidade
ou se relaciona com os interesses do indivíduo, estimulando-o a reagir de alguma forma. A atuação do
ambiente depende, portanto, do indivíduo, de sua maneira de ser, de suas experiências anteriores, de
sua idade cronológica e mental, enfim, de seus interesses, de suas aspirações ou necessidades.

3. A atividade livre do indivíduo, como fator da personalidade


A personalidade não resulta, apenas da interação da herança e do meio.
Psicologicamente, o homem é, também, numa certa medida, um produto de si mesmo, pois no
exercício de sua atividade livre, pode adotar formas de conduta que conduzem à criação de hábitos,
que são, como se diz vulgarmente uma segunda natureza. A marcha do desenvolvimento da
personalidade é condicionada, tanto pelos fatores da herança e do meio, como pela própria iniciativa
criadora do indivíduo, que estimula ou inibe as suas tendências e predisposições.
Em toda vida psíquica sadia, fica sempre um resto de liberdade individualíssima que não pode
ser predeterminada nem avaliada tendo-se em consideração, apenas, a herança e o meio. As
propriedades, aptidões e disposições secundárias como temperamento, talento, etc., são apenas
partes dentro do marco da constituição interna, que constitui a personalidade, a qual reage, em parte
pelas leis da herança e do meio, em parte por outras leis. Desconhecer deste último fator da
personalidade será cair no determinismo evolucionista, que faz do homem uma resultante exclusiva
das forças que atuam sobre ele, sem nada poder fazer para neutralizar ou orientar a ação dessas
forças, modeladoras irreprimíveis de sua vida psíquica.

4. Traços e tipos da personalidade:


Quando você pede que alguém observe Maria, dirá:
- Ela é quieta, fechada, pontual, cooperadora e inteligente.
- Como você pode dizer isso dela?
- É que observei Maria em diferentes situações.

Essas percepções que a pessoa tem de Maria se chamam traços de personalidade. Um traço
de personalidade é uma característica duradoura do indivíduo e que se manifesta na maneira uniforme
de o indivíduo se comportar em qualquer situação. O fato de você dizer que Paulo é pontual significa
que ele, geralmente, chega a tempo no trabalho, nas reuniões, nas festas, ao tomar o ônibus. Ninguém
espera por ele. Quando dizemos que Paulo é pontual, estamos comparando-o com outras pessoas.
Queremos dizer, portanto, que Paulo é mais pontual, comparativamente, que seus amigos. Um
traço da personalidade pode ser comum numa cultura e não em outra. Entre os indígenas, a
desconfiança é um traço comum. Já que todos são desconfiados esse traço pode ser visto como
normal nessa cultura. O perfil da personalidade é composto por 12 traços básicos da personalidade
dos quais seis são fundamentais.

57
1. Ciclotimia – franco, seguro de si,
expansivo Esquizotimia – reservado, fechado, angustiado

2. Capacidade mental geral – inteligente,


ativo, vivo Deficiência Mental – pouco inteligente

3. Expansivo – alegre, bem disposto, bem


humorado, espirituoso Reprimido – deprimido, pessimista

4. Ciclotimia de aventura – gosta de


conversar, de encontrar pessoas, Esquizotimia de fuga – acanhado, pouco interesse por
conquistá-las pessoas

5. Pensamento socializado – polido, sereno,


Rusticidade – desajeitado, pouca habilidade social,
extropectivo
rudeza
6. Despreocupação – não convencional,
Convencionalidade – convencional, frio, não emotivo
imaginoso, diferente dos outros

Diante da dificuldade de descrever as pessoas, o homem resolveu criar tipos. Assim: bom e
mau, dominador e submisso, feio e bonito, otimista e pessimista, sensível e insensível. O estudo dos
tipos de personalidade denomina-se tipologia. Um médico, chamado Hipócrates, que viveu há 400
anos a.C., propôs quatro tipos de temperamentos, relacionados com secreções do corpo humano,
como o sangue, a bílis, a linfa e a fleuma. O temperamento é o aspecto dinâmico ou objetivo da nossa
personalidade. É aquilo que nos faz diferentes dos outros, nos faz únicos no universo. É herdado dos
pais e parentes próximos na árvore genealógica. O Espírito Santo quer controla-lo, a luz de: Gl. 5:22.
O nosso temperamento é herdado e congênito, não pode ser mudado. Pode ser, sim, controlado pelo
Espírito Santo, á medida que progride nossa santificação. O estudo do assunto revela que nosso
temperamento é herdado 50% dos pais, 1/4 dos avós, 3,16% dos bisavós e 1,6% dos trisavôs. A
palavra de Deus diz: Até a terceira e quarta geração. Êx. 20:5.

Vantagens de estudar e conhecer o nosso temperamento:


Conhecermos melhor a nós próprios;
Conhecermos melhor o nosso próximo e deste modo podemos melhor compreende-lo;
Somos levados a reagir convenientemente ás situações subjetivas;
Vigiamos a nós próprios, quanto o comportamento em relação a nós e aos outros.

Os primeiros estudos científicos dos temperamentos foram feitos pelo médico grego
Hipócrates. 460-370 a.C.. A classificação e nomenclatura dos temperamentos foram tão bem
elaboradas, que não sofreu atualização até hoje. Hipócrates foi o maior médico da antiguidade. Há
quatro tipos gerais de temperamento que são: Sanguíneo, Colérico, Melancólico e Fleumático. Todos
nós somos uma combinação desses tipos de temperamentos, predominando um deles no individuo.

Tipos Temperamentos
Sanguíneo Otimista, esperançoso, ativo, explosivo, turbulento
Melancólico Organizado, tímido, triste, deprimido
Colérico Otimista, ativo, prático líder, raivoso, agressivo
Fleumático Calmo, tranquilo, conselheiro, apático, indiferente

A tipologia mais conhecida é a de Jung, que distingue dois tipos fundamentais:


O extrovertido e o introvertido.
Extroverter-se significa voltar-se verter-se para fora extro.

58
Extrovertido é o indivíduo orientado para o mundo objetivo das coisas e dos acontecimentos,
interessado nas atividades sociais.
É uma pessoa que tem muitos amigos e de relacionamento fácil.
Introverter-se significa voltar-se verter-se para dentro intro.
Introvertido é o indivíduo interessado na vida interior, ideias, imaginações, sendo idealista e
fechado. Tem poucos amigos e dificuldade em contatos sociais.
Há pessoas que são extrovertidas verbais e introvertidas de sentimento.
As pessoas também se introvertem ou extroverte de conformidade com a situação e o meio no
qual se encontra.

Como andam as suas janelas?


Alguns teóricos acreditam que os primeiros cinco anos de vida são decisivos na formação da
personalidade. Outros entendem a formação e a mudança da personalidade como processos que
ocorrem continuamente durante toda a vida; e outros, ainda, afirmam que há necessidades que
motivam o indivíduo a agir de determinada forma.

Princípio da divisão da personalidade


A nossa personalidade está dividida em três grupos de forças: ID, EGO, SUPEREGO.
ID - refere-se às forças que provém da camada mais profunda de nossa personalidade. São forças
primarias ou impulsos chamados instintivos. Há duas espécies de instintos ou forças instintivas.
- Instintos destruidores - sádicos de morte.
- Instintos criadores - da libido de vida.
Pelo ID, você poderá explicar muitos comportamentos, tiques nervosos, depressões e sintomas
psicossomáticos. Algumas dores de cabeça enxaquecas, alergias, resfriados crônicos podem ser
explicados pela atuação de forças profundas da personalidade.
O ID é um componente genético - hereditário, aquilo que o indivíduo já traz ao nascer e já está
constitucionalmente estabelecido. Quando o ID se rebela contra o mundo exterior cria os chamados
estados neuróticos.
EGO - O ego serve de intermediário entre o id os instintos e o mundo exterior, freando,
controlando o comportamento.
O ego protege a pessoa dos perigos, criando o medo. E assim vai acumulando experiências e
adaptando o indivíduo ao mundo em que vive, de forma útil e conveniente ao seu desenvolvimento.
O ego orienta-se por uma fria moral autoritária e por uma razão lógica.
SUPEREGO - O superego um eu superior é o representante da sociedade dentro de nós.
Os pais, os educadores, determinam às crianças em que medida podem ser cumpridas as
exigência do ID.
Menino, não faça isso. Não pode.
Não faça isso, moça. É pecado.
Cuidado! Você vai se queimar.
As crianças aceitam essas prescrições e outras que lhe são transmitidas pela educação.
Identifica-se a criança com os pais, os educadores, as autoridades através do superego.
Quando, por exemplo, você odeia seu pai, esse ódio é incorporado à sua personalidade e, a partir daí,
você passa a odiar a autoridade.
Esses estados da personalidade atuam como um todo, havendo, no entanto, manifestações
mais acentuadas, ora de um, ora de outro, isto é, a pessoa ídica predominância do id, egóica
predominância do ego ou superegóica predominância do superego.
As pessoas em que predominam o comportamento ID são impulsivas, sensuais, amorais,
guiadas principalmente pelo pensamento mágico ou não lógico. São por isso inaptas à vida social,
comum. Estão, às vezes, tão fora da realidade que são chamadas idílicas. Os indivíduos guiados pelo
ego são frios, calculistas, utilitários, mas práticos, cautelosos. Evitam consequências desagradáveis
para com seus atos. São egoístas. As pessoas que desenvolveram demasiadamente o superego são
angustiadas. Indecisas. Mostram-se tímidas, receosas. Possuem um exagerado sentimento de
responsabilidade. São pouco eficientes na sua atuação e desenvolve-se uma intensa atividade mental.

Lição 4

59
7. Psicologia Educacional

I - Psicologia do Desenvolvimento

1. O corpo - o começo e o desenvolvimento da vida. Desenvolvimento pré-natal e o


processo de nascimento - quando ocorre a relação sexual e dá-se a fertilização do óvulo pelo
espermatozoide, os cromossomos dos dois gametas combinam-se. Cada organismo recém-formado
recebe 50% de sua bagagem genética - 23 cromossomos da mãe e 23 do pai. Ao alcançar a
maturidade sexual, o ovário liberta um óvulo por mês, sendo tal processo chamado de ovulação. Este
óvulo adentra a trompa de Falópio, onde pode ser fecundado. Quando fecundado, o óvulo, então se
denomina zigoto, é envolvido pela camada uterina, bastante rica em sangue.
A partir da última menstruação, a gestação dura aproximadamente 270 a 280 dias.

O período pré-natal acontece em três fases:


O período do zigoto 0 a 14 dias - o óvulo é fertilizado, desce pela trompa de Falópio e entra na
cavidade uterina. Este é o mais importante evento, porque se o óvulo não conseguir fixar-se na
membrana uterina, será abortado na menstruação daí decorrente.
O período do embrião 2 a 8 semanas - durante o período do embrião, surgem três camadas:
2.1 - O ectoderma - que dá origem à pele e glândulas da pele, ao sistema nervoso, aos
cabelos e unhas.
2.2 - O Mesoderma - desenvolve-se em musculatura, esqueleto, sistema circulatório e de
excreção.
2.3 - O Endoderma - forma a trompa de Eustáquio, a traqueia, os brônquios e as glândulas
vitais e órgãos.
O período do feto 3 meses até ao parto - o crescimento e a diferenciação dos
sistemas básicos continuam. Aos quatro meses, o feto começa a movimentar-se de modo sensível. No
quinto mês, os pêlos começam a surgir, ocorrem movimentos de sucção , os olhos piscam. No sétimo
mês, marca um período crítico no desenvolvimento do feto. É o chamado ponto de viabilidade, se o
feto vier a nascer terá uma boa margem de probabilidade de sobreviver.
Durante os dois primeiros períodos do desenvolvimento pré-natal, o organismo é especialmente
suscetível às influências perturbadoras do ambiente, sendo que qualquer uma delas pode ameaçar a
probabilidade de crescimento e desenvolvimento normais.

Entre tais fatores do meio constam:


Drogas: narcóticos, nicotina, antibióticos, etc.
Nutrição: deficiência em proteínas e calorias, obesidade da mãe.
Doenças: rubéola, doenças venéreas, poliomielite, varíola, hepatite virótica.
Fatores maternos: idade, estado emocional, número de partos, diabetes, gestação múltipla.
Radiação: atômica raios-X, terapêutica.
Fatores gerais: incompatibilidade sanguínea e ruídos intensos.

Existem vários tipos de partos: o parto cesárea, o parto normal, o parto de cócoras, o parto
inclinado e o parto na água.

2, Com respeito à aparência, o recém-nascido típico apresenta:


a) Nenhum controle voluntário de sua musculatura o que resulta nos movimentos casuais
espontâneos, especialmente visíveis nas extremidades.
b) Glândulas lacrimais inativas.
c) Uma fina camada de pêlos na superfície do corpo, variando dos mais ralos aos mais
espessos.
d) Abdômen avolumado.
e) Face longa e achatada, como resultado da falta de dentes, nariz achatado e queixo ainda
não desenvolvido.
f) Braços, pernas e tronco proporcionalmente pequenos em relação ao tamanho da cabeça.
g) Pele macia com manchas rosadas ou azuladas, principalmente na região da cabeça.
II - A Alma - Emoções, Vontade, Mente e Espírito

60
O homem é formado de corpo, alma e espírito. O corpo diz respeito à parte física e visível de
cada um de nós. É através do corpo que expressamos as nossas emoções. A alma é a parte subjetiva
onde estão guardados os nossos sentimentos, as emoções. Não podemos tocar os sentimentos, o
pensamento, as emoções, mas podemos sentir e transmitir aos outros um estado emocional. As
emoções são os estados de alegria, tristeza, etc.
A vontade é o ato caracterizado pelo planejamento, deliberação, decisão e execução. São
funções relacionadas com a atividade consciente. A mente é parte do intelecto, do conhecimento, da
consciência. O espírito é a parte que nos identifica com a imagem e semelhança de Deus. È o que nos
atrai a Ele numa busca constante. Todos nós nascemos com uma natureza pecaminosa. A criança
nasce e começa a se desenvolver normalmente passando por diversas fases. Existe a fase da
inocência em que a criança ainda não consegue distinguir ente o bem e o mal, mas o sangue de Jesus
Cristo responde pela sua natureza pecaminosa. Apesar da idade da inocência, ela tem fome para com
as coisas de Deus. É bom que esta fome seja estimulada, e devemos fazê-lo mostrando e falando
quanto Deus a ama.

1. A criança possui dois impulsos inerentes: O impulso da preservação da vida - este


impulso nos leva a pensar em cuidar de nós mesmos, procurando preservar a vida que possuímos. A
criança não pode raciocinar, já reconhece por instinto as coisas que contribuem para preservar a sua
vida. Quando a mãe a deixa, ela chora, por que teme que esteja sendo abandonada. Mama por instinto
de preservação. Quando novinha, é totalmente indefesa, não tem segurança nenhuma, depende da
mãe ou de alguém que pode ajudá-la a se defender. Este impulso permanece com o indivíduo durante
toda a sua vida. O medo e o egoísmo são resultados naturais deste impulso. Devemos mostrar à
criança a diferença entre o que é perigoso e o que não é. Ensinar-lhe a confiar em Deus e levá-la a
entender que Deus pode guardá-la de todo perigo. Fazer conhecer o fato de que Deus está sempre
junto e que os seus anjos protegem os filhos de Deus Sl 34.7. Mostrar à criança que o egoísmo é
pecado, explicando como começou e alguns resultados. Criar oportunidade quando a criança poderá ir
desenvolvendo a capacidade de amar e ser amada por outros.
a. O impulso de propagação da vida - nos leva a relacionar com outras pessoas e a procurar
aquela pessoa com quem participaremos da procriação de novas vidas. A criança deve sentir-se
querida e segura. Quando suas relações são satisfatórias com a primeira pessoa na sua vida que é a
mãe, depois com o pai e as outras pessoas; finalmente, ela estabelecerá uma importante relação
através da qual será progenitor de novas vidas.
b. O impulso do prolongamento da vida - este impulso leva a pessoa a pensar na razão de
sua vida e a relacionar-se com o Autor da mesma - o único que poderá dar a vida. Deus faz com que
todas as pessoas nasçam dependentes uns dos outros. Ao crescer, a pessoa passa a ser
independente, mas também aprende a dependência de um ser que proporcionará uma vida realizada,
gozando dos privilégios da sua amizade e do seu amor. Como ajudar a criança a satisfazer este
impulso de prolongamento da vida? Levando-a desde pequena a conhecer Aquele que ela por impulso
procura. E isto, providenciando estudos adequados para o desenvolvimento espiritual da criança já
salva, levando-a a experimentá-lo na sua própria vida.
A vida espiritual de uma criança começa quando ela nasce de novo pela fé no Senhor Jesus.
Uma vez que o homem natural não compreende as coisas espirituais I Co 2.14. O nosso primeiro alvo
é levar a criança à salvação em Cristo, conscientizando-a que no momento em que aceita a Cristo, o
Espírito Santo passa a habitar nela Rm 8. O desenvolvimento espiritual do novo nascido depende de
sua alimentação com o genuíno leite espiritual da palavra de Deus I Pe 2.2. É responsabilidade dos
pais e professores cristãos entregar este alimento espiritual à criança. O Espírito Santo fará a sua
parte, operando o crescimento espiritual. ... até que todos cheguem ... a perfeita varonilidade, à medida
da estatura da plenitude de Cristo Ef 4.13.

III - O Berçário 0 a 1 ano de idade


a. Objetivos Gerais
Preparar através das experiências da criança, mesmo da mais tenra idade, o fundamento
básico para a conversão cristã que poderá realizar-se depois que o aluno alcançar os anos em que
possa manipular sua vontade.
Ajudar a criança a começar a associar Deus e Jesus com os sentimentos de amor e alegria.
Ajudar a criança a sentir que a igreja é um lugar onde ela pode aprender mais acerca de Deus e Jesus.

61
b. Características gerais dos bebês:
- A criança gosta do que é familiar
- Pode ter medo de pessoas estranhas.
- Cada uma é diferente e tem necessidades individuais.
- Reage à música.
- Aprende através dos sentidos.
- É sociável. Estirar-se, emitir sons ou agitar-se são maneiras de corresponder.
- Cada criança tem o seu ritmo próprio de crescimento.
- É facilmente perturbada, porque o sistema nervoso é muito sensível.

Com um mês pode ouvir, saborear, chupar, engolir, urinar, agitar-se, chorar e fazer ruidinhos.
Pode olhar um objeto seguro em frente aos olhos. Pode começar a erguer a cabeça sozinha. Dorme
18 a 20 horas por dia. Gosta de objetos coloridos. Sons ou movimentos repentinos podem assustá-la.
Às vezes, o segurá-la nos braços a acalmará. Com dois meses pode seguir com os olhos um objeto
em movimento, chorar com lágrimas, sapatear, sorrir, escutar vozes. Pode ter medo se cair alguma
coisa ou se houver movimento repentino.
Com três meses pode segurar um objeto com as mãos, reconhecer a mãe, o pai. Olha muito
tempo alguma coisa que lhe chama a atenção. Tem medo de pessoas estranhas. Com quatro meses
pode sentar-se encostada, olha ao redor, balança os braços e as pernas e brinca com os dedos. Pode
rir alto e fazer sons diferentes.
Com cinco meses pode erguer a cabeça, sentar sem apoio, procurar um brinquedo perdido,
sorrir para si mesma em frente a um espelho. Chora por qualquer coisa e às vezes grita alto e agudo.
Com seis meses pode virar-se sem ajuda, agarrar brinquedos e fala consigo mesma. Sabe a diferença
entre estranhos e pessoas familiares. Pode nascer os primeiros dentes. Com sete meses observa
coisas e movimentos em volta. Pode divertir-se e manter-se ocupada durante pelo menos 15 minutos
seguidos. Presta atenção à sua própria voz e produz uma variedade de sons cada vez maior. Com
oito, nove meses senta sem apoio, durante muito tempo. Põe-se de pé agarrando-se a qualquer coisa.
Arrasta ou avança de quatro, vencendo boa distância. Imita gestos e expressões faciais.

c. Como aplicar o ensino bíblico ao rol de bebês:


Através da oração: o obreiro que trabalha no berçário deve começar orando por cada criança.
Ler a Bíblia para os bebês em voz suave e audível.
Como o bebê pode observar quadros e gravuras, pode-se aplicar o ensino através de histórias
visualizadas.
Ela pode escutar música apropriada.
Ela pode brincar sozinha também, por isto é bom trazer seus próprios brinquedos da sua casa,
ou usar os brinquedos da própria igreja.
Ela gosta de fazer com o obreiro a brincadeira de esconder o rosto.
A criança reage quando o obreiro conversa com ela.
Dependendo da idade, ela pode brincar no quadrado ou cercadinho.
Lembrar que o bebê precisa dos cuidados normais na hora certa; mudança de fraldas,
alimento, embalos com carinho.

d. Como deve ser a sala do berçário


A sala deve espelhar o seu mundo no lar. A mãe pode trazer um brinquedo predileto. Os
obreiros devem ser sempre os mesmos. Deixar somente os obreiros do departamento entrar na sala.
Os estranhos e visitantes devem ficar do lado de fora. Conservar a ficha individual do bebê junto ao
respectivo berço toda vez que ele vem à igreja. Providenciar ambiente com ordem e muito agradável.
Falar com voz calma e bem modulada. Com obreiros seguros na sua fé e personalidade cristã.
A influência do ambiente sobre o bebê é a mesma que se observa sobre a criança maior. A
sala deve ser ampla, clara se for o caso com ar condicionado, bem decorada com cortinas alegres e
vivas, quadro ou letras escritos versículos bíblicos. A criança comunica-se com o obreiro através do
seu comportamento. Ela não sabe dizer se o berço é pequeno ou se está incomodando. As camas
devem ser seguras, higiênicas e confortáveis. Devem estar a um metro de distância um da outra, para
que o obreiro tenha espaço entre os berços para cuidar devidamente das crianças.
Os brinquedos devem ser do tipo que interesse a criança. Pode ser de borracha ou matéria
plástica. Pode ser um chocalho para pegar, bolas de borracha, bonecas, etc. Usar aquecedores de

62
mamadeira para conservar a comida da criança. As sacolas devem ser marcadas com o nome da
criança. Cada sacola deve trazer o material de uso de cada uma individualmente.
Colocar também uma cadeira de balanço para o adulto. Uma mesa de serviço para guardar as
sacolas ou outros objetos. Colocar um bebedouro, copos, toalha, algodão, lenço de papel, óleo para
criança, talco, colônia, etc. Se houver espaço, um cercadinho e uma cadeira própria para segurar a
criança, enquanto pula e olha as outras, podem ser acrescentados para as crianças maiores que não
gostam de ficar no berço o tempo todo.
Obreiros e seu trabalho no berçário características do obreiro:
Assumir o berçário com muita responsabilidade, encarando-o como um dom de Deus. Ter
muita maturidade cristã. Ser estudioso da Bíblia. Viver na companhia de Jesus. Ser sensível às
necessidades da criança. Reconhecer as diferenças individuais. Aceitar a criança tal como é. Inspirar
confiança e segurança. Ver o mundo através dos olhos da criança. Reconhecer que cada criança é
diferente e o crescimento entre elas varia. Não fazer comparações entre habilidades das crianças com
a mesma idade. Uma pode andar mais cedo do que outra. Não se ausentar do berçário no horário de
trabalho.

IV - Maternal: 2 a 3 anos
1. Características das crianças:
a. Física: pequena, ativa, caminha de forma ainda insegura.
Está na fase do desenvolvimento dos músculos grandes, e põe tudo de si mesma em qualquer
coisa que faz. Às vezes cansa-se de brincar e procura um lugar para descansar um pouco.
b. Mental: é pouco atenciosa e não fica muito tempo fazendo uma coisa só, embora volte à
mesma atividade muitas vezes durante uma hora. Podem olhar alguma coisa sozinha, folhear uma a
uma, as páginas de um livro. Não sabe falar e pensar em termos abstratos.
c. Emocional: o mundo dela é na maior parte, o lar; aos domingos, a igreja.
As experiências dela tem sido principalmente as do crescimento, aprendizagem do controle e
gosta de mexer em tudo. Gosta de tocar, sentir, apalpar e bater os objetos.
d. Espiritual: começa associar Deus com as maravilhas que a cercam.
Está começando a compreender que Deus faz e dá coisas boas. Pode associar os nomes
Deus e Jesus com sentimentos de alegria, segurança e contentamento. Pode falar com Deus a seu
modo. Gosta de ouvir histórias, especialmente as que já conhece.

2. Como aplicar o ensino bíblico:


Ajuda-la a crescer no conhecimento e entendimento da Bíblia, enriquecendo suas experiências
com versículos bíblicos, orações curtas, pequenos cânticos, conversação. Aproveitar as oportunidades
de levar a criança a falar com Deus. Estes momentos são importantes e podem surgir depois de a
criança ter visto um quadro, ouvido um cântico, ou sentido o perfume de uma flor.
Contar histórias curtas com base numa gravura. Contá-las repetidas vezes. Histórias relativas à
criança em relação ao pai, à mãe ou com outras crianças agradam muito. Ajuda-las a apreciar livros
simples, histórias da Bíblia e figuras, nomeando os objetos nas gravuras mas começando com frases
como: Deus fez, Deus dá, Jesus ama.
Providenciar bastante espaço e equipamento adequado. Deixar sempre a Bíblia à disposição
das crianças. Ajuda-las a distinguir entre a fantasia e a verdade. Dar-lhe responsabilidades dentro das
suas possibilidades. Auxiliar os pais a familiarizar-se com o que está sendo feito na igreja. Procurar
fortalecer os laços entre a igreja e o lar.

3. Como Devem ser as Salas:


As salas devem ser bem localizadas, de preferência no andar térreo. Pode-se decorar com
cortinas, ou pintar as paredes com cores suaves que acalmam e agradam ao espírito. Devem ter
armários suspensos para guardar os materiais em uso. Devem ter banheiros de acesso fácil para a
criança. Deve ter uma estante aberta com a parte de trás fechada, estimulará a criança a tirar os
blocos ou brinquedos para as suas próprias atividades e guardá-las quando as terminar. Cadeiras com
assento com 25 cm do chão, colocar somente o número exato de alunos. Bonecas, material de pintura,
pincéis. Uma mesa será usada no centro da sala.

Cânticos apropriados para esta Idade:


- Cânticos de salvação para crianças:

63
Deus é bom para mim.
Deus mandou o sol brilhar.
Quem fez as lindas flores?

Histórias:
A criação do mundo.
O nascimento de Moisés.
O nascimento de Jesus.
Multiplicação dos pães.
Zaqueu.

Método de Ensino:
O ensino pode ser feito através de : cartazes, flanelógrafos, quadros, dramatização, fantoches,
outros brinquedos, etc.

O Professor:
A tonalidade de sua voz, seu carinho, vivacidade, contribuirão para a criação do clima
emocional adequado. Deve chegar na classe antes que os alunos e escolher algumas pessoas que lhe
ajudem na sala junto aos maternais.

V - Principiantes - 4 a 5 anos
1. Características gerais:
a. Fisicamente: É considerada a idade da graça pela liberdade de movimentos.
A atividade motora está em pleno desenvolvimento. Mexe os pés, olha de um objeto para
outro, vira-se na cadeira, fica em pé, anda um pouco, agita-se e é barulhenta. Gosta de rir e gritar.
Deve fazer atividades variadas possibilitando o desabrochar dos movimentos, criando condições para
um equilíbrio psicomotor. A atividade é característica de toda meninice justamente porque faz parte do
crescimento. Aos 4-5 anos, porém, a atividade já não é simplesmente um meio para despender
energia, mas deve ser coordenada e ter propósito. Os jogos e brincadeiras são meios importantes na
aprendizagem.
b. Mentalmente: Aprende o real diferentemente do adulto e não tem possibilidades de
abstração e imaginação que permitem uma concepção do mundo. A linguagem deve servir como
elemento facilitador da compreensão do mundo para a criança. Devemos utilizar recursos concretos,
manipuláveis e realizar tarefas que partem de situações vivenciadas pela criança. A sua atenção é
limitada mas está aumentando.
c. Emocionalmente: Já sabe diferenciar o sexo e identifica-se com o pai ou a mãe e sente
rivalidade em relação ao sexo oposto complexo de Édipo/Eletra. Interiorização do pai ou da mãe:
genitor do mesmo sexo constitui o ideal que procura ser; o genitor do outro sexo constitui o modelo
segundo o qual escolherá o companheiro a com o a qual se unirá afetivamente mais tarde. Precisa
receber esclarecimento sobre a necessidade de identificação da criança, e a importância do carinho e
compreensão para facilitar essa identificação. O eixo da criança nessa época é de ordem afetiva e
familiar: Estimulada pelo contato beneficia-se grandemente; necessita também de solicitude,
tranquilidade e atividade autônoma.
d. Socialmente: Pode surgir nesta fase o ciúme e rivalidades nas relações sociais com crianças
da mesma idade. Devemos estimular a cooperação. Nesta idade ela pode representar papéis.
Devemos aproveitar essa característica organizando atividades em pequenos grupos onde o
intercâmbio social é mais frutífero e satisfatório.
e. Espiritualmente: esta é a idade em que as crianças, normalmente, demonstram mais
interesse pelas coisas de Deus e começam a reconhecer o certo e o errado.
1) Pode entender que Jesus ama todas as crianças;
2) Que Deus a ama;
3) Pode sentir que Jesus é o seu melhor amigo;
4) Pode conversar com Deus dizendo: Muito obrigado pelas coisas que vê e conhece, e pedir
coisas simples;
5) Começa a reconhecer que ela é apenas uma, entre muitas no mundo de Deus;
6) Pode ter experiências de adoração, sentindo de maneira real a presença de Deus.
7) Pode aprender que Deus lhe fala através da Bíblia;

64
8) Pode aprender que Deus espera certas coisas dela e que há muitas coisas que ela pode
fazer para agradar a Jesus.

2. Como Deve ser a Sala e a Mobília:


- Deve ser atraente com equipamento adequado ao tamanho da criança, isto cria uma
atmosfera que a ajuda a pensar na igreja como um lugar agradável.
- Colocar:
Uma mesa de serviço; estante para livros, estante aberta para brinquedos, mesa e cadeiras
pequenas, colocar um som gravador, bonecas, joguinhos, Bíblias, livros; gravuras recortadas de
revistas, podem ser montadas em cartolinas e usadas com grande proveito.Ornamentar com cortinas.

3. Como Aplicar o Ensino Bíblico:


- Através de histórias bíblicas e da vida real.
- Precisam aprender sobre: a salvação, a oração, a Bíblia, etc.
- histórias: Zaqueu, a filha de Jairo, Jesus acalma a tempestade, etc.
Método de Ensino: Através de dramatização das histórias e lições bíblicas em cartazes.

VI - Primários - 6 a 8 anos
1. Características Físicas: Depois dos seis anos o crescimento progride em ritmo
relativamente lento. Aos 7/8 anos os meninos em média são maiores que as meninas, mas não há
grandes diferenças.
As atividades podem ser semelhantes para ambos. As acelerações de desenvolvimento
despertam interesse por brincadeiras e atividades de movimento e competição.
- Propiciar atividades que atendam a essa necessidade de movimento, possibilitando maior
tranquilização e facilitando a atenção necessária para outras atividades.
Ela já pode ajudar-se a si mesma, pode vestir-se levar os seus livros, andam sozinhas sem que
alguém a dirija pela mão.

2. Características Mentais: Vive uma fase de procura de relações, e para isso é necessário
levar em conta as propriedades dos objetos; onde tudo é possível, tem imaginação fértil, vive no fictício
e fantasioso, por isto, para ela tudo é possível.
Não conhece limitações. Num momento ela transforma o cabo da vassoura em cavalo veloz, o
caixote em trem e a boneca torna-se o filhinho querido de quem ainda cuida carinhosamente. Não
existem empecilhos, objetos passam por portas e janelas fechadas à sua vontade. Aos 7 anos a
criança está na chamada idade da borracha torna-se autocrítica, cheia de mas e entretanto.
É manipulando objetos que a criança inicia o raciocínio lógico.
Elas devem fazer descobertas a partir da própria experiência.

3. Características Emocionais:
- Há a liberação da fixação dos genitores; o amor volta-se para fora; perde o egocentrismo e
sente prazer em dar; gosta mais objetivamente das pessoas.
- Alguns acontecimentos como: colocação em internato, casamento de pai ou mãe; nascimento
de irmão pode fazer regredir a pontos que precisam ser superados.
- O desenvolvimento afetivo é mais discreto e íntimo; surge a bipolaridade amor e raiva da
mesma pessoa.
- A timidez aparece como defesa de sua intimidade; mais ou menos aos 8 anos inicia a
evolução da interioridade remorso, sensibilidade interiorizada.
Aprende a não exteriorizar tudo o que sente.
Objetos têm valor material e pessoal.
A curiosidade típica da idade leva a curiosidade sobre sexo e papel do pai na procriação.
- Valorizar as suas realizações aumenta sua segurança: a capacidade de desenhar; ou de
fazer bem um exercício de matemática, etc., ou ser elegante para sentar-se ou andar são pontos de
segurança que auxiliam a criança a valorizar-se e oferecer suas qualidades.

4. Características Sociais:
- Dos 6 aos 7 anos todas as crianças trabalham em associação.

65
- A consciência de que é diferente do adulto e dependente leva-o a maior aproximação dos
companheiros para firmar-se.
- Aos 8 anos mais ou menos a lealdade do grupo é muito acentuada; o denunciante é objeto de
reprovação.
- É necessário desenvolver condições nas quais a criança tenha possibilidade de cooperação e
realização afetiva.
- Devemos aproveitar a força do grupo no sentido de que a criança aprenda a avaliar-se
ouvindo os outros e reconhecendo qualidades dos outros.

5. Características Espirituais:
- São religiosos por natureza - Por religioso não queremos dizer que ela seja crente ou pessoa
convertida. Mas, que em cada criança existe um impulso religioso que se manifesta em amor,
reverência, temor e uma fé que confia completamente nos pais e pessoas amigas.
- Independentemente destes fatores, ela precisa de salvação.
- Ela é facilmente influenciada para Deus. Ela é tenra e flexível, que pode ser treinada para se
desenvolver e crescer numa ou noutra condição. Vai depender das influências recebidas.
- Devidamente ensinada e guiada neste tempo, a criança inclina-se para Deus como um botão
de flor busca o calor do sol, abrindo alegre e espontaneamente o seu coração.

4. Métodos de Ensinos Bíblicos:


Cartazes: eles aprendem mais facilmente pelo que vêem e não pelo que ouvem.
Figuras sobre flanelas - este método desperta o interesse por causa do elemento de surpresa,
visto que ela não sabe qual a figura que vai seguir. As histórias missionárias e morais se adaptam a
este modo de apresentação.
As lições devem ser bem objetivas.
Dramatização.
Histórias bíblicas: Na formação do caráter das crianças as histórias bíblicas exercem a maior
influência. Há histórias que ensinam grandes verdades tais como: obediência, honestidade, espírito de
perdão, gratidão, reverência, dependência de Deus, bondade, humildade, amor ao próximo, etc.

VII - Juniores : 9 a 11 anos


1. Características Físicas:
- Mais ou menos aos 9 anos as meninas tendem a uma aceleração de desenvolvimento; as
meninas são mais maduras que os meninos.
- As acelerações do desenvolvimento físico despertam interesse por brincadeiras de
movimento e competição.
- O desenvolvimento físico acelerado provoca desordem que já dificulta sua adaptação ao
ambiente: os adultos não devem lembrá-las sempre disso e recriminá-las constantemente quando
cometem atos desastrosos.
- Propiciar atividades que atendam às necessidades de movimento, possibilitando maior
tranquilização e facilitando a atenção necessária para outras atividades.

2. Características Mentais:
- Evolui para explicações racionais, libertos do egocentrismo surge noção de casualidade. Ex.:
barcos flutuam porque são fortes e não porque têm que flutuar; levanta hipóteses e tenta prová-las
- Descoberta a afirmação do eu e primeiros contatos realmente inter-individuais.
- Desenvolvimento da autodeterminação e vontade.
- A inteligência toma aspecto mais dinâmico e original; o funcionamento racional é mais
evidente para a criança.
- Suspende a ação e pesa os pensamentos.
- Prazer pela discussão.
- Devemos desenvolver atividades em grupo possibilitando exposição de pontos de vista
diferentes, que requeiram exposição dos fundamentos e possibilitem autocrítica da participação grupal.

3. Características Emocionais:
- As transformações físicas influem no psíquico. Transposição dos interesses do mundo
exterior para o mundo do próprio eu.

66
- Insatisfação com o mundo real onde se sentem incompreendidos faz com que se atirem ao
mundo fantástico, onde encontram tudo para satisfazer as próprias necessidades.
- A incompreensão dos adultos acentua o descontentamento e fuga para o irreal encontro de
grupos para debates de como se sentem, auxilia a aliviar desencontros e a perceber que os problemas
são comuns.

4. Características Sociais:
Idade social por excelência: a criança nesta fase vive em simbiose vida em comum com o
grupo mais do que qualquer outro momento - maior intensidade da vida social.
- Devemos dar condições de desenvolvimento; atividades e sensação de ser livre e
responsável estimulando ao amor próprio e a realização.
- A vida escolar reflete na vida familiar o relacionamento com companheiros é um problema
muito importante nessa idade e a criança leva para casa experiências sociais da escola. É necessário
criar condições para que a sociabilidade seja satisfeita.
- As crianças que vivem mais nas ruas porque os pais trabalham e as deixam mais sós
precisam trocar experiências com as outras crianças, além dos contatos que têm na rua.
- Os jogos preferidos são os de muito movimentos, que tenham o seu alvo definido e sejam
governados por normas.

5. Características Espirituais:
Esta é a grande oportunidade evangelística. Devemos falar-lhes de Cristo de tal maneira que
possam fazer sua decisão por Ele. Depois desta fase, o interesse pela igreja vai diminuindo, chegando
muitas vezes mesmo a desaparecer por completo.
Reconhece o pecado como pecado e sente a necessidade de se livrar das conseqüências.
Se já está salvo, é a idade quando deve experimentar pessoalmente a consagração e a vida
vitoriosa.

6. Atividades para os Juniores:


- Gostam de desenhar, de fazer cartazes, de colecionar objetos e organizar exposições, de
preparar murais e painéis, de confeccionar álbuns, pequenos livros ou fantoches, etc.
- Gostam de atividades musicais, além de gostarem do ritmo, aprendem com facilidade a letra.
As atividades musicais devem incluir não somente o cantar e o escutar boa música, mas também a
criação de música que naturalmente começa com a criação de uma letra simples para uma melodia já
conhecida.
- Com um pouco de orientação e estímulo são capazes de escrever poemas, roteiros para
jograis, reportagens para jornais na união de juniores, peças para dramatização, etc.

. As Salas Mobília:
- As salas devem ser arrumadas e decoradas de acordo com o bom gosto, a criatividade e as
condições financeiras da igreja, do professor e dos alunos.
- Mobília: Cadeiras, escrivaninha, quadro-giz, ventilador, plantas, cartazes ou quadros
decorativos, murais, etc.

7. O Professor:
- Deve ser: Crente, paciente, dedicado à oração, sincero em suas atividades e ações, fiel aos
deveres, pontual, atraente - de bom aspecto, boa aparência, ter cuidado com a sua pessoa.
- Deve ter: Amor a Deus, amor a seus alunos, amor a seu trabalho, entusiasmo, iniciativa,
imaginação fértil, interesse pela vida espiritual dos alunos.
- Deve conhecer bem a Palavra de Deus, a natureza e as características dos seus alunos,
conhecer a família dos alunos, conhecer métodos de ensinos para esta idade.

VIII - Adolescentes - 12 a 18 anos.


1. Características Gerais:
1) Aceitando o seu corpo e uma função masculina e feminina.
2) Desenvolvendo novas relações com outros da mesma idade, de ambos os sexos.
3) Tornando-se emocionalmente independente dos pais.

67
4) Alcançando certeza de independência econômica.
5) Escolhendo uma profissão e preparando-se para ela.
6) Desenvolvendo habilidades e conceitos intelectuais necessários ao dever cívico e social.
7) Desejando e alcançando comportamento social responsável.
8) Preparando para o casamento e a vida familiar.
9) Busca de um significado de vida.
10) Afirmação da personalidade.
11) Todos os fatos nesta época são provisórios, o adolescente faz tentativas em todas as
direções e muda os entusiasmos.

2. Características Físicas:
É uma época de crescimento e modificação no corpo. Prazer na atividade física sempre
acompanha o crescimento. As meninas desenvolvem-se mais rápido que os meninos, sendo mais
altas e aproximando-se da puberdade. Têm muito apetite e passam por períodos alternado de energia
e grande cansaço, devido ao crescimento rápido. Às vezes são acusados de preguiçosos, mas o fato é
que seu corpo necessita de descanso. Precisam acostumar-se com seu novo tamanho. Os braços e
pernas crescem antes do resto do corpo.
3. Mentalmente:
O desenvolvimento cerebral está quase completo. É a idade das dúvidas. Já não aceita mais o
que lhe é dito sem saber porquê. Rejeita aquilo que não é explicado adequadamente. Pensa com
seriedade, mas toma decisões precipitadas. Não conhece suficientemente a vida e os problemas para
tomar certas decisões, mas julga que já sabe muita coisa. Tem imaginação ativa, gosta de aventuras e
é pesquisador.

4. Emocionalmente:
A vida afetiva tem predominância; a fantasia adquire vivacidade que imprime à mentalidade
caráter inconfundível. Procura um amigo ou alguém em quem possa confiar. O desenvolvimento da
personalidade fá-lo sentir em igualdade com o adulto, mas por outro lado, diferente pela agitação que
enfrenta, quer ultrapassá-lo e enfrenta-lo.
- Os pais precisam tomar conhecimento de quem pode constituir modelos se não tiverem
atitudes excessivamente críticas e de controle.
- O educador precisa posicionar-se como pessoa para conversar com o adolescente, aceitar
e compreender, para ele sentir-se apoiado para falar.

5. Socialmente:
A afirmação da individualidade concretiza-se numa forma mais exata de afirmação da
necessidade de liberdade tudo que não é voluntariamente escolhido parece sufocá-lo e oprimi-lo.
Concebe a liberdade como algo objetivo, fala da liberdade em geral do homem na vida da sociedade.
A atividade intelectual e volitiva em pleno desenvolvimento e a afirmação da individualidade fazem o
adolescente lutar pelo direito de ter acesso às funções sociais e gozar de estima e apreciação. Gostam
de atividades em grupo, onde ninguém se destaque, mas onde todos possam participar. Fazer
sobressair um adolescente perante os demais é motivo de um embaraço quase insuportável.

6. Espiritualmente:
Duvida de tudo: Da existência de Deus, da veracidade da Bíblia como sendo realmente a
Palavra de Deus, da existência do céu e do inferno. Período crítico: Mesmo tendo sido criado na igreja,
se ele não tiver uma experiência real de novo nascimento, é nesta fase que ele sai da igreja em busca
de coisas que lhe dê mais satisfação, rebelando-se contra as restrições e normas de conduta que a
igreja quer lhe impor. Para o adolescente que já experimentou o novo nascimento, também haverá
problemas, mas serão superados pela presença do Espírito Santo.

1. Necessidades básicas
Achar a Deus: Precisa aprender mais sobre a natureza e Deus, lendo para si mesmo a Bíblia,
entendendo a significação da soberania de Deus e o fato de que Deus tem um plano para cada vida.
Achar-se a si mesmo: Precisa compreender que por causa do crescimento natural, ele tem de
enfrentar certos problemas, embaraços, acanhamento e dúvidas, mas não deve pensar que está

68
sozinho nesta situação. Achar uma carreira, uma profissão: Precisa de ajuda para descobrir quais são
os seus dons naturais e como desenvolvê-los. Deve sentir o desafio para viver a vida sob a direção de
Deus. Achar um cônjuge: Precisa apreciar a importância e a dignidade do sexo que só pode ter plena
satisfação no matrimônio. Deve receber instrução sábia quanto à maneira certa de namoro, noivado e
do casamento.

2. Características do Adulto Jovem


A adolescência termina quando o indivíduo se convence de que já tem uma identidade
formada, é capaz de viver intimamente com uma pessoa do sexo oposto, está definido
profissionalmente e está apto a associar-se com outros em condições de igualdade. Com estas
aquisições, o jovem entra para a fase adulta. Esta fase, comumente chamada de maturidade, é um
longo período que vai dos 20 aos 50 anos, isto é, do fim da adolescência até o climatério. Pode ser
dividida em duas etapas:
1ª Etapa: Adulto jovem - 20 aos 35 anos; 2ª Etapa: Meia idade - 35 aos 50 anos.

1º Adulto Jovem - 20 aos 35 anos


Superado o problema da formação de sua identidade, o adulto jovem mais amadurecido no
relacionamento interpessoal passa a enfrentar três grandes responsabilidades:
Ajustamento Profissional; Casamento e ajustamento sexual; Paternidade. Ajustamento
Profissional – A profissão representa um dos caminhos de orientação vital e de definição pessoal.
Condicionado pelas demandas do meio e também pelos traços do caráter do indivíduo, a profissão
determina o status na comunidade, os papéis sociais e os padrões de vida. As ocupações estão
intimamente associadas à personalidade embora nem sempre possamos distinguir que características
biopsíquicas foram responsáveis pela escolha e quais resultam da adaptação do indivíduo à sua
profissão.
É muito comum, em nossa época, observarmos jovens adultos passando por crises
profissionais que muitas vezes se confundem com crises de identidade tardias. O indivíduo supunha-
se realizado como pessoa e de repente por um suceder de frustrações descobre que havia tomado um
caminho errado. Se a personalidade influi na escolha de uma profissão, as profissões influem
consideravelmente nas pessoas que as exercem. Muitos traços da personalidade, maneiras de
comportar-se, valores morais e sociais, atitudes, opiniões e crença podem ser criados ou modificados
no exercício de uma ocupação.
Casamento e Ajustamento sexual – desde o final da adolescência, a pessoa começa a
enfrentar um novo conflito psico-social chamado de intimidade versus isolamento. Muitos procuram
fugir do isolamento em que se encontram, casando-se com uma pessoa na qual esperam encontrar a
solução dos próprios conflitos. A decisão de casar-se é um dos passos mais importantes que os jovens
devem dar no decorrer de toda a sua vida. Casar representa: Mudança de status e papéis sociais;
Renúncia ao descompromisso de vida de solteiro a; Responsabilidade sexual e social.

O jovem que se casa ofuscado pelas perspectivas de liberdade sexual ou de prestígio social,
deixa de levar em conta o risco de não cristalizar a sua identidade, se a escolha não for adequada. O
noivado não deve ser muito curto, nem excessivamente longo. É neste período de relacionamento
mais intenso que devem ser encontradas resposta para as seguintes perguntas: Tenho plena
convicção que é da vontade de Deus? Proporcionaremos segurança um ao outro? Serei capaz de
estimular o progresso pessoal do meu companheiro a? Estamos adequadamente independentes das
influências familiares ao ponto de nos relacionarmos com nossas famílias sem conflitos?
Temos condições físicas e emocionais que pronunciem uma satisfatória adaptação sexual?
Existem alguns motivos que podem interferir no ajustamento conjugal: Experiências sexuais
traumáticas pré-conjugais – quando crianças ou adolescentes são vítimas de agressão sexual por
parte de adultos, pode gerar consequências futuras e o temor de vir a sofrer novamente pode resultar
em frieza sexual.
Ideais de pureza de um dos cônjuges não compartilhado pelo outro – o sexo não pode ser visto
e apreciado como única fonte de procriação. A sexualidade adulta tem dois comportamentos distintos:
um de procriação e outro de prazer. O prazer sexual aumenta os laços afetivos e é de fundamental
importância e consolidação para o casamento. Temores de gravidez ou do parto – existem mulheres
que temem sofrer durante a gravidez ou no parto, temem prejudicar sua forma física ou serem
incapazes de criar os filhos. Estes temores geram ansiedade e interferem na intimidade conjugal

69
Paternidade – Ao tornarem-se pais, marido e mulher assumem novos e importantes papéis que
vão influenciar profundamente sua orientação frente ao futuro. Um homem pode sentir sua auto estima
elevada porque o nascimento de um filho demonstrou para a sociedade a sua potência e fertilidade e
por isso não dá atenção, de início, para a grande quantidade de renúncias e novas responsabilidades
que tem pela frente. Os pais mudam por influência dos filhos, quando estes nascem e trazem
alterações na dinâmica familiar, quando ficam doentes e mobilizam intensamente suas emoções,
quando vão para a escola e põem em prova os seus velhos conhecimentos, quando se opõem a seus
princípios e quando os abandonam, ao sair de casa para cuidar de sua própria vida.

Necessidades básicas do jovem adulto


Achar a Deus – precisa ter um encontro pessoal com Cristo e oportunidade de dedicar sua vida
a Deus. Achar-se a si mesmo – por causa do crescimento natural, o jovem enfrenta certos problemas,
embaraços, acanhamento e dúvidas, daí a necessidade de ter amigos ou alguém que lhe ajude
quando preciso. Achar uma carreira – precisa de ajuda para descobrir a vocação e o lugar onde pode
ser usado da melhor forma como discípulo de Cristo. Achar um cônjuge – surge a necessidade de
apreciar a importância e a dignidade do sexo que só pode ter plena satisfação no casamento. Achar a
sociedade – deve ter oportunidade de conhecer o papel do crente como cidadão e membro do Corpo
de Cristo, ao enfrentar os problemas sociais do mundo.

O professor do jovem adulto deve ter


Habilidade para compreender e apreciar os jovens; Caráter cristão; Interesse nas coisas que
interessam os jovens; Capacidade para cultivar amizades jovens, etc.
Obs.: Os que não se casaram, em vez de serem alvos de críticas e brincadeiras dos irmãos na
igreja, devem ser alvos de atenção, de compreensão cristã e reconhecimento do seu valor e
importância para a vida da igreja e da sociedade.

2º Meia Idade – 35 aos 50 Anos


A maturidade é entendida como o clímax da história pessoal, o ponto em que o indivíduo
conseguiu plasmar um conjunto de traços que o definem, frente a si mesmo e aos demais, como uma
pessoa realizada. Entre estes traços salientam-se os seguintes: Viver de acordo com a realidade em
vez de deixar-se levar por impulsos, temores ou fantasias. Esta adaptado profissionalmente e
conseguir realizar o trabalho cotidiano sem sentir-se excessivamente fatigado ou tenso. Ter a
suficiente flexibilidade para mudar quando a mudança promover melhor adaptação à realidade. Ser
capaz de tomar decisões a respeito de si próprio e dos outros sem influenciar-se por preconceitos.
Estabelecer amizades duradouras sendo tolerante e afetuoso.

1. Reações à Meia Idade. Pela metade da vida, um homem deve ter demonstrado sua
capacidade em alcançar sucesso na carreira, deve ter tido êxito na criação dos filhos e deve sentir que
tem sido útil, de algum modo. A mulher deve ter demonstrado pelo menos sua habilidade como mãe e
dona de casa. A pessoa que conseguiu aproximar-se do ideal de maturidade, está apta para usufruir
das vantagens da meia-idade. Poderá dar condição de ter uma posição social definida, de ter um lar
ajustado, de ter alcançado um bom nível de realização profissional, de ver os filhos criados e
prosperando, de sentir sua vida continuar através dos netos e de não mais precisar lutar intensamente
na busca de ideais inatingíveis. Mesmo que o grau de satisfação seja alto, a pessoa não poderá evitar
o sofrimento do conflito entre o desejo de continuar na escala ascendente de conquistas e realizações
e a percepção de que a meia-idade é, também, o início do declínio de sua personalidade.
Em nenhuma outra época da vida, a condição finita se ser humano é percebida tão
realisticamente como na meia-idade. O cabelo começa a embranquecer e ralar, as rugas acentuam-se,
o tegumento torna-se flácido, a acuidade auditiva e visual diminuem, dores musculares e articulares
são mais frequentes, os prazeres da mesa começam a tornar-se proibitivos pela ameaça à saúde e os
fantasmas das oclusões coronárias, dos infartos do miocárdio, das úlceras, do câncer que começam a
assediar a pessoa. Mesmo aquela que se considera saudável e não se preocupa tanto com suas
condições físicas não pode ficar indiferente às doenças dos familiares ou de amigos de sua idade.
As perdas, de variada natureza, tendem a acumular-se na meia idade. Na vida de uma pessoa,
as perdas começam com o nascimento e vão desde a perda do conforto intra-uterino, do seio materno,
dos privilégios da infância, dos amigos da adolescência até às perdas materiais, das ilusões e dos
objetos de amor. Na meia idade, entretanto, qualquer perda, principalmente a de entes queridos,

70
predispõem ou desencadeiam uma ansiedade existente, levando a pessoa a indagar a si mesma sobre
o significado da vida.
Na meia idade, as integrações psicopatológicas são menos comuns na personalidade que se
tornou firmemente integrada. Porém, reações depressivas são frequentes mesmo nas pessoas
amadurecidas. Certas pessoas da meia idade sofrem do que comumente se chama neurose de
domingo, os dias de folga, para elas, são impregnados de tédio, aborrecimento e irritação. Em vez de
aproveitar os momentos de folga para repor as energias gastas, vivem um conflito entre o
reconhecimento de que devem relaxar-se, nos dias de folga, e sentimentos de que não devem, pois a
vida é curta e há muito o que fazer. Surgem manifestações hipocondríacas que se associam às
sensações de tédio e de ansiedade frente à rotina. Mesmo os importantes cargos alcançados, à custa
do esforço dos longos anos, o prestígio e o respeito conseguidos pela demonstração de valor,
parecem não compensar certas expectativas de satisfação.

2. O Climatério: De todos os problemas da meia idade, talvez nenhum tenha o poder de tocar
a pessoa tão de perto como o climatério. Este em geral, exerce na meia-idade influências tão
marcantes na personalidade como a puberdade na adolescência, principalmente no sexo feminino. Se
a puberdade representava o início da atividade das glândulas responsáveis pela função reprodutora e
tinha seu marco fisiológico na menarca, o climatério representa a diminuição da atividade glandular
sexual e tem seu marco fisiológico na menopausa, por volta dos quarenta e cinco anos, quando
cessam na mulher as menstruações. Ou pode ser artificial quando é provocada por alguma forma de
cirurgia, sofrida pela mulher nos órgãos reprodutores.
Todas as modificações físicas peculiares à meia idade têm seu ponto crítico neste fenômeno.
Nessa época surgem os sintomas mais visíveis e se somatizam. Começam a escassez ou abundância
no período menstrual. Os sintomas são: 1 Somático: Ondas de calor, transpiração, suor frio,
dormências, formigamentos, dores musculares e articulares, dores nos seios, aumento do peso, etc. 2
Psicossomático: Sensação de cansaço, de esgotamento, palpitações, tonteiras, vertigens e
enxaquecas. 3 Psíquicos: Sensação de abafamento, de sufocação, irritabilidade, esquecimento,
desinteresse, ansiedade e depressão. A ignorância dos aspectos psicológicos que existem no
desenrolar do climatério faz com que se atribua, erroneamente, essas manifestações apenas às
alterações decorrentes da cessação da atividade glandular.
As transformações fisiológicas perturbam o equilíbrio relativamente estável do aparelho
psíquico. Os impulsos sexuais rechaçados, estimulados pelas modificações internas do organismo
tendem a invadir um ego debilitado pelas novas demandas e cujas forças defensivas estão
relativamente diminuídas. Então, desejos não satisfeitos, fixações e conflitos ressurgem ameaçando a
mulher, que se vê, assim, presa da ansiedade. Por outro lado, há uma percepção de que esta é a
última fase para a solução de problemas não resolvidos nas diversas fases do desenvolvimento.
Diante do fim da sexualidade, a mulher pode querer realizar em curto espaço de tempo tudo o que não
conseguiu realizar nos anos anteriores.
Se uma mulher, no climatério, olhar para trás e reconhecer que sua vida foi pouco produtiva,
não teve filhos ou se os teve foi pouco calorosa com eles, obteve pouco prazer sexual, suas amizades
foram restritas, participou pouco da vida comunitária, que enfim quase não conheceu o prazer no
contato humano, profundo e duradouro, esta mulher terá sobejas de razões para angustiar-se e sentir-
se empobrecida coma perda de sua feminilidade. O resultado poderá ser um grande abatimento ou
uma manifestação de sintomas e queixas. Ou pelo contrário poderá assumir atitudes nunca tomadas
antes, por exemplo, competir com mulheres mais novas, quer nos trajes, nos gostos ou nas diversões,
chegando às vezes, ao ridículo. Cabe, no entanto, lembrar que muitas mulheres não têm no climatério
muitos sintomas perturbadores.
Em resumo, o climatério, pelas mudanças hormonais que influem na economia emocional,
requer quase sempre uma reformulação de atitudes da mulher a respeito de si mesma. Uma mulher
emocionalmente amadurecida terá, nesta fase, dificuldades que usualmente não irão além de um certo
desconforto físico e que passarão uma vez cessada definitivamente a menstruação e restabelecido o
novo equilíbrio fisiológico. No homem não existe, fisiologicamente, uma síndrome que possa comparar-
se à menopausa da mulher. Nesta, a cessação da atividade glandular é evidente e ocorre, geralmente,
dois ou três anos após o início das alterações funcionais do ciclo menstrual. No homem não há
evidência nenhuma de que a atividade glandular sexual tenha um declínio tão rápido. Pelo contrário, o
processo é gradual e evolui, imperceptivelmente, durante o envelhecimento. Daí, o homem estar livre
das desconfortáveis manifestações físicas consequentes aos desequilíbrios e reajustes hormonais e

71
da problemática de sentir terminada sua função reprodutora. Muitos homens na meia idade têm
sintomas e sinais bastante semelhantes ao das mulheres na menopausa: Irritabilidade, ansiedade,
desânimo, pessimismo, insônia, distúrbios digestivos, cefaléias, etc.
Estes distúrbios são psicogenéticos e sua etiologia provém de auto sugestão e de conflitos
intrapsíquicos. Como ocorre com algumas mulheres, em vez de buscarem compreender o problema,
analisando a interação de suas experiências passadas com a situação atual, frente ao início da curva
descendente do seu ciclo vital, procuram os produtos químicos e formas artificiais de
rejuvenescimento. Temem a impotência e a perda de atrativos e lutam intensamente para manterem-
se em forma. A impotência no homem, é a impossibilidade de desempenhar seu papel no ato sexual,
consumado através do clímax.
A impotência pode ser orgânica quando causada por lesão física ou doença, mas é rara.
Comum é a impotência funcional, por causas psicológicas, como: 1 Sentimento de culpa, ansiedade,
vergonha, aversão adquirida pelo ato sexual; 2 Distúrbios emocionais distantes da atividade sexual
como, por exemplo, a morte de uma pessoa querida, preocupação com algum problema mais sério,
seja qual for a área, etc. 3 Lembranças reprimidas de traumas infantis ligados ao próprio sexo. A
impotência sexual quase sempre leva o homem à mistificação e mentira para fazer crer aos demais
que está em plena forma. O álcool; se usado em alta proporção, ingeridos em grandes doses, provoca
diminuição do interesse sexual. Anemia, carências protéicas, doenças endócrinas e outras doenças
crônicas podem ser uma das causas da impotência. Recomenda-se, que o homem e a mulher que
está chegando nesta faixa etária da vida, faça um check-up da sua saúde.

3. Velhice: A velhice é o período que se inicia na década dos cinquenta anos, após o indivíduo
ter atingido e vivenciado aquele platô de realizações pessoais que chamamos de maturidade. Sob
certos aspectos, porém velhice é um conceito controvertido. Se a considerarmos como um conjunto de
ocorrências que representam o declínio global das funções físicas, intelectuais e emocionais, ela tende
a ocorrer após os setenta anos. Em geral, só uma pessoa com mais de setenta anos possui uma série
de características que a podem definir globalmente como um velho. Entre estas características
podemos citar: o aspecto apergaminhado da pele, a atrofia muscular difusa, fragilidade óssea, a
calvície, o desgaste e a queda dos dentes, a atrofia geral dos tecidos e órgãos, as alterações da
memória, a limitação dos interesses intelectuais, os sentimentos de saciedade dos impulsos, etc.
Sucede que a velhice não corresponde apenas a estes acontecimentos psicofísicos mas
envolve um complexo processo de decadência funcional que na realidade se inicia muito antes da
pessoa ter qualquer noção de que está envelhecendo. Podemos dizer que se inicia, mesmo no fim da
adolescência. Alguns achados, comprovados estatisticamente, atestam que o desenvolvimento de
certas funções psíquicas ou físicas atingem seu pico muito cedo e, portanto, começam a declinar
também cedo. Por exemplo, a acuidade visual, auditiva e tátil, a força muscular e a rapidez da resposta
motora diminuem gradualmente a partir dos vinte anos; por volta dos vinte anos começa, também, um
progressivo declínio nos escores médios do indivíduo, nos testes de inteligência; a potencialidade para
a gravidez tende a diminuir em torno dos trinta e cinco anos etc. Assim, considerando certas funções, a
pessoa com trinta anos já é um pouco velha.
Entretanto, as manifestações da personalidade total não estão condicionadas a um número
restrito de componentes psicofísicos, havendo inclusive funções que atingem seu desenvolvimento em
idade mais avançada. Assim, por exemplo, a habilidade e precisão motora tem seu ápice por volta dos
quarenta e cindo anos; não atingiram seu ponto máximo aos sessenta anos. Por outro lado, é de fácil
observação o fato de que muitas pessoas de idade avançada realizam tarefas de grande importância
em várias áreas de atividade humana, quer na política, nas artes etc. Muitos sábios, músicos,
escritores, etc., realizaram suas maiores conquistas já bastante idosos. A involução psicológica é um
processo natural que ocorre num período variável de tempo, em geral curto, antecedendo a morte.
Podemos observar nos velhinhos a seguinte sequência de comportamentos:

1 Rebeldia própria de adolescente, aumento de interesses sexuais com masturbação e surtos de


paixão e romantismo;
2 comportamento aparentemente exemplar, adequada conduta social e ausência de interesses sexuais
ao lado de dependência e busca de aconselhamento e apoio;
3 diminuição das defesas restauradas na latência senil com um novo surto de interesses sexuais agora
acompanhados por sentimentos de ciúme e rivalidade;

72
4 falta de asseio pessoal e progressiva incontinência urinária e fecal, às vezes alternadas com
preocupações obsessivas de zelo e limpeza; 5 necessidade de guardar alimentos como se fosse faltar
sustento e demandas exageradas de atenção alternadas de belicosidade reativa à aceitação pelos
outros de sua dependência;
6 diminuição da atividade consequentemente ao enfraquecimento generalizado, crescente
incapacidade de manter a postura ereta, comunicação verbal diminuindo até a redução a fonemas,
confinação ao leito, alimentação à base de líquidos, necessidade de cuidados higiênicos constantes,
porque não há mais nenhum controle dos esfíncteres, irritabilidade e intolerância à frustração
alternadas com placidez, e, finalmente, marasmo e uma necessidade cada vez maior de dormir.

73
Bibliografia

COFER, Charles N. Psicologia do Desenvolvimento - Curso de Instrução Programada de Psicologia,


Vol. 3 - Editora Brasiliense - São Paulo - 1977.
DANDREA, Flávio Fortes. Desenvolvimento da Personalidade - Enfoque Psicodinâmico - 7ª Edição -
São Paulo - DIFEL, 1986, 184p.
SCHEEFER, Ruth. Aconselhamento Psicológico, Teoria e Prática - 7ª Edição - São Paulo - Atlas -
1979.
WHITE, Jerry. O Cristão na meia-idade; tr. Josias da Cunha de Souza e Roberto Alves de Souza - 2ª.
Edição - Rio de Janeiro - JUERP - 1991 - 278 .
CETEMIT- Centro educacional de Teologia e Missões Transculturais.

DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial deste material,
por quaisquer meios ou sistemas,
quer a título gratuito ou lucrativo, sem a autorização prévia por escrito da entidade.
A violação dos direitos autorais está sujeita às penalidades legas de ordem civil e penal.
ARTIGO 184 DO CÓGIGO PENAL.

74
Prova de Psicologia Geral
Bacharel

Aluno a:.........................................................................................data............./............../..............

1. Marque um X na alternativa correta


 Gustav Theodor Fechner, pode ser considerado marco da psicologia
 A palavra Psicologia significa expiração, alma, vida.
 A psicologia só surgiu no século XV, em 1728.
2. Marque um X na alternativa correta
 A Psicologia é uma ciência que estuda o comportamento dos seres animados.
 Não existem escolas pscológicas, por ser a psicologia uma matéria complicada
 Não há causa para determinadas ações, pois vem do inconsciente.
3. Marque um X na alternativa correta
 Claude Bernard descobriu que o meio interno de ser vivo está no desequilibro
 Motivo é tudo aquilo que determina o comportamento
 A palavra Homoestasia significa Espírito.
4. Marque um X na alternativa correta
 Os motivos inconscientes estão por trás de atitudes estranhas.
 O inconsciente não se revela através de nossas ações
 Os meios de comunicação prejudicam o desenvolvimento da criança
5. Marque um X na alternativa correta
 Precisamos entender as pessoas para entendermos o desenvolvimento
 A psicologia Evolutiva estuda o meio de amadurecimento dos seres
 Personalidade é tudo aquilo que achamos que somos

75
TEOLOGIA
SISTEMÁTICA

76
Introdução

O estudo da teologia sistemática faz-se cada vez mais necessária, especialmente nestes
últimos dias, quando vemos um aumento cada vez maior de falsos mestres e profetas O termo
teologia, segundo seus aspectos etimológicos, é composto de duas palavras gregas: Theos Deus e
logos estudo, tratado, palavra, fala, expressão.
Tanto Cristo, a Palavra Viva, como a Bíblia, a Palavra Escrita, são o Logos de Deus. Eles são
para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão. A teologia é,
portanto uma Theo-logia, isto é, uma palavra, uma fala ou expressão sobre Deus; uma doutrina sobre
Deus. É o estudo sobre a revelação de Deus que é a expressão dos Seus pensamentos e, logo, é,
também, o estudo sobre Sua própria Pessoa. Portanto teologia é o estudo sobre Deus, sua obra e sua
revelação. Por isso, o objetivo desse estudo é demonstrar através da Bíblia a essência e os atributos
de Deus de uma forma clara e objetiva.
O autor.

77
Lição 1
1. Teologia Sistemática

Nenhuma exposição sobre Deus seria completa se não contemplasse Suas obras e Seus
caminhos no universo que Ele criou, além de Sua Pessoa. Toda ciência provém e mantém relação
com o Criador de todas as coisas e com Seu propósito na criação. E toda verdade é verdade de Deus,
onde quer que ela seja encontrada. Deus se revelou na criação e nas Escrituras, e a verdade achada
pelas ciências naturais e sociais, por cristãos ou profanos, não é verdade profana; é verdade sagrada
de Deus Cl.2:3. Toda verdade, onde quer que seja encontrada, tem peso e valor iguais como verdade,
como qualquer outra verdade. Uma verdade pode ser mais útil em dada circunstância, e uma outra em
outra, mas ambas têm valor como verdade.
Portanto é perfeitamente lícito utilizar-se de outras fontes, enquanto verdade, para o estudo da
teologia. Podemos definir teologia sistemática segundo Lewis Eperry Chafer, que diz: Teologia
sistemática pode ser definida como a coleção, cientificamente arrumada, comparada, exibida e
defendida de todos os fatos de todas e quaisquer fontes referentes a Deus e às Suas obras. Ela é
temática porque segue uma forma de tese humanamente idealizada, e apresenta e verifica a verdade
como verdade.

1. Diversas definições sobre teologia


a. Alexander: A ciência de Deus...um resumo da verdade religiosa cientificamente arranjada,
ou uma coleção filosófica de todo o conhecimento religioso W. Lindsay Alexander.
b. Hodge: A teologia sistemática tem por objetivo sistematizar os fatos da Bíblia, e averiguar os
princípios ou verdades gerais que tais fatos envolvem Charles Hodge.
c. Strong: A ciência de Deus e dos relacionamentos de Deus com o universo A. H. Strong.
d. Thomas: A ciência é a expressão técnica das leis da natureza; a teologia é a expressão
técnica da revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos espirituais da revelação,
calcular o seu valor e arranjá-los em um corpo de ensinamentos. A doutrina, assim, corresponde às
generalizações da ciência W. H. Griffith Thomas.
e. Shedd: Uma ciência que se preocupa com o infinito e o finito, com Deus e o universo. O
material, portanto, que abrange é mais vasto do que qualquer outra ciência. Também é a mais
necessária de todas as ciências W. G. T. Shedd.

2. Outras teologias.
a. Teologia Natural: Estuda fatos que se referem a Deus e Seu universo que se encontra
revelado na natureza.
b. Teologia Exegética: Estuda o Texto Sagrado e assuntos relacionados, através do estudo
das línguas originais, da arqueologia bíblica, da hermenêutica bíblica e da teologia bíblica.
c. Teologia Bíblica: Investiga a verdade de Deus e o Seu universo no seu desenvolvimento
divinamente ordenado e no seu ambiente histórico conforme apresentados nos diversos livros da
Bíblia. A teologia bíblica é a exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia, conforme
originalmente revelada. A teologia bíblica extrai o seu material exclusivamente da Bíblia.
d. Teologia Histórica: Considera o desenvolvimento histórico da doutrina, mas também
investiga as variações sectárias e heréticas da verdade. Ela abrange história bíblica, história da igreja,
história das missões, história da doutrina e história dos credos e confissões.
e. Teologia Dogmática: É a sistematização e defesa das doutrinas expressas nos símbolos da
igreja. Assim temos Dogmática Cristã, por H. Martensen, com uma exposição e defesa da doutrina
luterana; Teologia Dogmática, por Wm. G. T. Shedd, como uma exposição da Confissão de
Westminster e de outros símbolos presbiterianos; e Teologia Sistemática, por Louis Berkhof, como
uma exposição da teologia reformada.
f. Teologia Prática: Trata da aplicação da verdade aos corações dos homens. Ela busca
aplicar à vida prática os ensinamentos das outras teologias, para edificação, educação, e
aprimoramento do serviço dos homens. Ela abrange os cursos de homilética, administração da igreja,
liturgia, educação cristã e missões.

78
2. A Existência de Deus

A Bíblia não discute a existência de Deus; começa por afirmar simplesmente que Ele existe e é
a causa de dotas as coisas que existem no mundo, inclusive o próprio mundo. No princípio criou
Deus os céus e a terra Gn 1.1. Nossa principal crença na existência de Deus é a natureza que revela
um Deus criador, a Bíblia Sagrada e o testemunho do Espírito Santo no nosso coração, acera do Filho
de Deus, que morreu e ressuscitou dentre os mortos.
1. Formas de negação da existência de Deus. Embora o homem seja um ser religioso por
natureza, no transcorrer da história humana surgiram muitas formas de negação da existência de
Deus, como mostraremos a seguir.
a. O ateísmo: O ateísmo, no sentido da negação da existência de Deus, está dividido em duas
classes: o ateu prático e o ateu teórico. Os primeiros são sensivelmente gente sem Deus,
provavelmente seja neste sentido que o salmista tenha falado sobre o néscio que diz em seu coração:
Não há Deus. O néscio desse Salmo é alguém que vive como se Deus não existisse, que não o leva
em conta para nada, que se sente como o capitão de sua vida e de seu destino. Esses ateus práticos
devem ter sido os que atormentaram o autor do Sl 42, perguntando-lhe: Onde está o teu Deus. Já os
ateus teóricos são geralmente uma classe mais intelectual, e baseiam sua negação da existência de
Deus no desenvolvimento de um raciocínio meramente humanista. Tratam de provar por meios que
eles consideram argumentos razoáveis e conclusivos que não há Deus. Este tipo de ateu é o resultado
do estado de perversão do homem, e de seu desejo de se esconder de Deus. Conclusão: O ateu
mente a sua mente, e à sua própria consciência.
b. O deísmo: O deísmo crer que Deus existe, contudo rejeita por completo a Sua revelação à
humanidade. Para o deísmo, Deus não possui atributos morais nem intelectuais, sendo até duvidoso
que ele tenha participado na criação. Em outra palavras, deísmo é a religião natural baseada no
raciocínio puramente Humano.
c. O materialismo: O materialismo declara que a única realidade é a matéria. Essa
concepção passou a ser denominada marxismo Marx, foi o fundador do ateísmo cientifico, segundo ele
o homem é apenas matéria, um animal apenas, por isso não terá que prestar conta de seus atos a
ninguém. Ele ensinava que os diferentes comportamentos físicos e psíquicos humanos, são
simplesmente movimentos da matéria, não admitia a existência das coisas espirituais, inclusive de
Deus. Ou seja tudo é matéria.
d. O panteísmo: O panteísmo ensina que no Universo, Deus é tudo e tudo é Deus. Deus é
não só parte do Universo, Ele é o próprio Universo. O hinduísmo é adepto deste falso conceito de
Deus. A Bíblia deixa bem claro que Deus é o Criador do Universo e independente dele Sl 24. 1.4
2. Provas naturalistas para a Existência de Deus:
1 Argumento Cosmológico. Da palavra grega Kosmos, mundo. O universo é um efeito que
exige uma causa adequada, e a única causa suficiente é Deus Sl 19.1.
2 Argumento Teleológico. Da palavra grega Telos, fim. O universo não apenas prova a
existência de um Criador, mas indica a existência de um Planejador Rm 1.18-20. Há um propósito
observável no universo que indica a existência de Deus como seu planejador.
3 Argumento Antropológico. Da palavra grega anthropos, homem. Já que o homem é um
ser moral e intelectual, deve ter um Criador que também seja moral e inteligente At 17.29. A natureza
moral, os instintos religiosos, a consciência e a natureza emocional do homem argumentam em favor
da existência de Deus.
4 Argumento Ontológico. Da palavra grega on, existente, ser. O homem tem a ideia inerente
de um Ser Perfeito. Esta ideia naturalmente inclui o conceito de existência, já que um ser, em tudo
mais perfeito, que não existisse, não seria tão perfeito quanto um ser perfeito que existisse. Portanto,
visto que a ideia de existência está contida na ideia de um Ser Perfeito, esse Ser Perfeito deve
necessariamente existir.
5 Argumentos Antropomórfico. A palavra antropomorfismo, vem do grego Antropos=
homem; Morphés= forma. Esta linguagem prende-se à concepção de como Deus se tem revelado ou
se revela de forma humana, para que seja entendido pela mente natural. Vejamos alguns exemplos
de Deus se apresentando com características humanas: cabeça, Dn 7:9 rosto Sl 27:8 cabelo, Dn 7:9
olhos, Pv 15:3 nariz, Sl 18:15 ouvido, Sl 31:2 boca, Is 34:16 dente, Jó 16:9 lábios, Is 30:27 língua, Is
30:27 riso, Sl 2:4 mãos, II Sm, 24:14 braços, Dt 33:27 pez, Ex 24:10 costas, Ex 33:23 coração, Jn 6:6
sapatos de Deus, Sl 60:8 vestidos de Deus, Dn 7:9 os dois lados de Deus Direito e esquerdo, I Rs
22:19.

79
3. Definições de Deus

Definição Filosófica de Platão: Deus é o começo, o meio e o fim de todas as coisas. Ele é a
mente ou razão suprema; a causa eficiente de todas as coisas; eterno, imutável, onisciente,
onipotente; tudo permeia e tudo controla; é justo, santo, sábio e bom; o absolutamente perfeito, o
começo de toda a verdade, a fonte de toda a lei e justiça, a origem de toda a ordem e beleza e,
especialmente, a causa de todo o bem.
Definição Cristã do Breve Catecismo: Deus é um Espírito, infinito, eterno e imutável em Seu
Ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.
Definição Combinada: Deus é um espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas tem sua
origem, sustentação e fim Jo.4:24; Ne.9:6; Ap.l:8; Is.48:12; Ap.1:17.
Definição Bíblica: As expressões Deus é Espírito Jo.4:24 e Deus é Luz I Jo.1:5, são
expressões da natureza essencial de Deus, enquanto que a expressão Deus é amor I Jo.4:7 é
expressão de Sua personalidade. I Tm.6:16.

80
Lição 2
4. A Revelação de Deus

1. Deus revelado na natureza. Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia


a obra das suas mãos. Um dia faz declaração há outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite.
Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda extensão da terra, e as suas palavras, até
ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol, que é qual noivo que sai do seu tálamo e se alegra
como um herói a correr o seu caminho. A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu
curso, até à outra extremidade deles; e nada se furta ao seu calor. Sl 19.1-6.
Deus se revela na Bíblia como a Causa Primária de tudo o que existe. Nunca houve um
momento em que Deus não existisse. Conforme afirma Moisés: Antes que os montes nascessem, ou
que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus Sl 90.2. Deus criou
todas as coisas em os céus e a terra Gn 1.1. O verbo criar hb.bara é usado exclusivamente em
referência a uma atividade que somente Deus pode realizar. Significa que, num momento específico,
Deus criou a matéria e a substância, que antes nunca existiu. O método que Deus usou na criação foi
o poder da sua palavra. Repetidas vezes está declarado: E disse Deus... Gn 1.3, 6, 9, 11, 14, 20, 24,
26. Noutras palavras, Deus falou e os céus e a terra passaram a existir. Antes da palavra criadora de
Deus, eles não existiam Sl 33.6,9; 148.5; Is 48.13; Rm 4.17; Hb 11.3. O conceito judaico-cristão é
que o mundo físico manifesta a glória e o poder criador de Deus 148.3-5; Rm 1.18-20. O conceito de
muitos incrédulos, ao contrário, é que a criação é em si mesma uma entidade divina, cuja força
controla o destino humano Is 47.13; Dn 4.7; outros creem que tudo se fez por acaso. O verdadeiro
crente rejeita tais ideias, aceita a revelação bíblica a respeito do universo, e por isso é movido a louvar
o Criador 89.5-8.

O perigo da rejeição desta revelação:


Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que
detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque
Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno
poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para
que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem
lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu. Rm 1.18-21. A indignação pessoal de Deus e sua reação imutável diante de todo o
pecado Ez 7.8,9; Ef 5.6; Ap 19.15 causada pelo comportamento iníquo do ser humano Êx 4.14; Nm
12.1-9 e nações Is 10.5; 13.3; Jr 50.13, e pela apostasia e infidelidade do seu povo Nm 25.3; 32.10-
13; Dt 29.24-28.
1 No passado, a ira de Deus e seu ódio ao pecado revelou-se através do dilúvio Gn 6-8, da
fome e da peste Ez 6.11ss, do abrasamento da terra Dt 29.22,23, da dispersão do seu povo Lm 4.16 e
de incêndio através da terra Is 9.18,19.
2 No presente, a ira de Deus é vista quando Ele entrega os ímpios à imundícia e às vis paixões
Rm 1. 24 e leva à ruína e à morte todos quantos persistem em lhe desobedecer Rm 1.18-3.18; 6.23;
Ez 18.4; Ef 2.3.
3. No futuro, a ira de Deus incluirá a Grande Tribulação para os ímpios deste mundo Mt 24.21;
Ap 6-19 e um dia vindouro de juízo para todos os povos e nações Ez 7.19; Dn 8.19 dia de alvoroço e
de desolação, dia de trevas e de escuridão Sf 1.15, um dia de prestação de contas para os iníquos
2.5; Mt 3.7; Ap 11.18; 14.8-10; 19.15. Por fim, Deus manifestará sua ira mediante o castigo eterno
sobre os que não se arrependerem Mt 10.28.
4. A ira de Deus não é a sua última palavra aos seres humanos, pois Ele proveu um meio de
escape ou salvação da sua ira. O pecador pode arrepender-se do seu pecado e voltar-se a Jesus
Cristo por fé 5.8; Jo 3.36 e alcançar a salvação.
5. Os crentes unidos a Cristo devem compartilhar da ira de Deus contra o pecado, não no
sentido de vingança, mas por amor sincero à justiça e aversão ao mal Hb 1.9. O NT reconhece uma
ira santa que aborrece aquilo que Deus odeia; ira esta evidenciada principalmente no próprio Jesus Mc
3.5; Jo 2.12-17; Hb 1.9; ver Lc 19.45, em Paulo At 17.16 e outras pessoas justas 2 Pe 2.7,8; Ap 2.6.
As três etapas do abandono por Deus, à impureza são:
a. Ele entrega as pessoas aos prazeres sexuais pecaminosos que degradam o corpo v.24;
b Ele as entrega a paixões homossexuais ou lésbicas, vergonhosas vs.26,27; a seguir:

81
c. Ele as entrega a um sentimento perverso, i.e., sua mente justifica as suas ações iníquas e
pensam continuamente no mal e nos prazeres dos pecados sexuais v.28. Essas três etapas ocorrem
entre todos que rejeitam a verdade da revelação divina e que buscam o prazer na iniquidade v.18; ver
v.27. Deus tem dois propósitos ao abandonar os iníquos ao pecado: a permitir que o pecado e suas
consequências se acelerem como parte do seu juízo sobre eles 2.2; e leva-los a reconhecer sua
necessidade da salvação 2.4.

2. Deus revelado a Israel. Deus fez do povo de Israel o centro de Sua revelação na terra, para
através dele abençoar toda a humanidade. Nenhum outro povo da terra, durante sua historia, teve
tanta certeza de que Deus age direta e pessoalmente com ele, quanto Israel. Disto dá testemunho da
Palavra de Deus em Romanos 3.2, quando diz: Aos judeus foram confiados os oráculos de Deus. Ne
9.13, diz mais: Desceste sobre o monte Sinai, do céu falaste com eles, e lhes deste juízos retos, leis
verdadeiras, estatutos e mandamentos bons.

A Revelação de Deus na História


A revelação de Deus na história de Israel é algo constante e patente. Ele atesta o favor divino,
bem como sua provisão com o povo que para si Ele escolheu. Milagres, tais como os relatados no
Êxodo, ou a fuga do exército assírio diante da Jerusalém no ano 701 a.C., eram prova da intervenção
direta de Deus confundindo os inimigos do seu povo. Esta intervenção era posta com tão grande
realismo, que os próprios fenômenos da natureza lhe estavam sujeitos: a parada do sol por Josué Js
10.12, e o recuo da sombra como evidência da disposição e decisão divina de curar o rei Ezequias Is
38.8, mostram ate que ponto aprove a Deus revelar-se ao povo que Ele mesmo escolheu para si.

Relação e Revelação. O fundamento da atitude religiosa era a aliança que Deus estabelecera
entre si e a descendência de Abraão Gn 17. Esta aliança foi uma imposição real mediante a qual Deus
se comprometeu, perante os descendentes de Abraão, a ser o Deus deles, dessa maneira dispondo-os
invoca-lo como o Senhor Todo-poderoso. O fato de Deus tornar conhecido o Seu Nome Jeová, foi um
testemunho da amistosidade do seu relacionamento com Israel. O nome até certo ponto, significa tudo
quanto uma pessoa é, pelo que, quando Deus disse aos israelitas qual é o Seu nome, isso assinalou o
fato que, conforme Ele era, em todo o seu poder e gloria, estava se comprometendo a cuidar do bem-
estar deles.
Lendo Gn 15, vemos as bases da aliança de Deus com o Seu povo Israel, através do seu
ancestral, o patriarca maior, Abraão. O citado capítulo registra a aliança de sangue o contrato social
mais obrigatório naquela época e suas circunstâncias peculiares. Registra que Abraão caiu em sono
profundo e que Deus, o Pai, como um fogareiro fumegante, e Deus o Filho representado pela tocha de
fogo, passaram entre as metades dos animais sacrificados que estavam no solo. Este era o selo da
cerimônia. De modo geral, ambas as partes de um contrato teriam de passar entre os animais
divididos, significando que cada uma delas aceitava as obrigações que lhe eram impostas e as
cumpririam. O fato de Deus Pai e Filho agirem nessa cerimônia significativa constitui uma afirmação
clara, naquela altura, quanto às intenções de cumprir suas promessas, sem levar em consideração o
que Abraão e os seus descendentes pudessem fazer!
Desse modo, o contrato normal de aliança tomou o aspecto de uma aliança de juramento.
Deus tomou e confirmou uma decisão de escolher a Israel e faze-lo povo Seu, decisão que não seria
modificado por coisa alguma que o homem fizesse ou deixasse de fazer, porque Jesus que ali estava
representado pela tocha de fogo um dia se humanizaria e faria uma aliança eterna entre Deus e o
homem, pois Jesus como representante do homem foi fiel a Deus sem nunca transgredir um único
mandamento do Pai. E como nós sabemos Cristo que era da descendência de Abraão e, portanto
israelita veio revelar a salvação a todas as nações do mundo. Por conseguinte, Deus continuou
revelando-se à comunidade de Israel através de Suas palavras, de leis e de promessa que ainda se
cumprirão principalmente no reino milenial.
A principal ênfase da revelação de Deus a Israel recai sobre a sua fidelidade à aliança feita
com Abraão, Sua paciência e misericórdia, e Sua lealdade aos Seus próprios propósitos. Quando
Deus Fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si
mesmo, dizendo: Certamente te abençoarei, e te multiplicarei Hb.6.13-14.

82
3. Deus revelado aos profetas. O homem jamais conhecera a Deus, a não ser que Deus
mesmo opere nesse sentido. O fato da revelação de Deus é expresso com o auxilio dos seguintes
termos: Deus se revela Gn 35.7-13; Deus se deixa ver Gn 12.7; Deus torna conhecida a Sua vontade
e, também Deus fala, fato atestado pela tão conhecida expressão bíblica: Assim diz o Senhor.
4. Resumo da Teologia e da piedade. Deus se dá a conhecer ao homem e o homem deve
com temor, humildade e obediência buscar conhecer a Deus. Este conhecimento comunicado por
Deus a respeito de Si mesmo ao homem é único em seu objetivo, e diversificado por causa dos meios
empregados, pois, sendo Deus o Senhor de tudo e de todos, Ele revela-se com bem lhe aprouver
através da criação.
5. A Quem Deus se Revela. Geralmente a revelação de Deus está reservada primeiramente
aos seus escolhidos, que o buscam, que o servem e andam em comunhão com Ele. Jesus disse:
Aquele que tem os seus mandamento e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será
amado por meu pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele Jo 14.21. Davi escreveu que o
segredo do Senhor é para os que o temem Sl 25.14 ARC Essa revelação divina está condicionado às
limitações e ao suportável pelo homem. Moises pode ver a Deus, apenas mediante determinadas
condições Êx 33.17-23.
Muitos profetas do Antigo Testamento registraram a experiência de um contato pessoal com a
revelação de Deus. Dentre eles se destacam Isaias, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Amós. Também no
Novo Testamento João na ilha de Patmos.
 Isaias – No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime
trono... Is 6.1
 Jeremias – De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: com amor eterno eu te amei, por
isso com benignidade te atrai Jr. 31.3.
 Ezequiel – Por cima do firmamento que estava sobre as suas cabeças, havia algo semelhante
a um trono, com uma safira; sobre esta espécie de trono estava sentada uma figura
semelhante a um homem. Vi-a como metal brilhante, com fogo ao redor dela, desde os seus
lombos, e daí para cima; e desde o seus lombos daí para baixo, vi-a como fogo e um
resplendor ao redor dela. Como aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de chuva,
assim era o resplendor em redor. Esta era a aparência da gloria do Senhor; vendo isto cai com
o rosto em terra...Ez 1.26-28.
 Daniel – Levantei os olhos, e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos os ombros
estavam cingidos de ouro puro de Ufaz, o seu corpo era como berilo, o seu rosto como
relâmpago, os seus olhos com tochas de fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como
bronze polido, e a voz das sua palavras como o estrondo de muitas gente Dn 10.5-6.
 Amós – Vi o Senhor, que estava em pé junto ao altar Am 9.11.
 João – E logo fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um
assentado sobre o trono. E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra de
jaspe e de sardônica; o arco celeste estava ao redor do trono e era semelhante à esmeralda.
Ap 4.3-4.

6. A Revelação Divina Através da Palavra. Escreveu o profeta Amós que o Senhor Deus não
fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas Am 3.7. Aos
profetas Deus manifestou seus segredos não só pelo que lhes deu a ver, mas também pelas palavras
que lhes comunicou. A palavra é o sinal característico do ministério profético Jr 18.18. Samuel e Elias,
dentre os primeiros profetas, aparecem como homens da palavra na sua boca, nos seus ouvidos Is5.
9. O profeta tem ingresso no conselho de Deus Jr 23.18-22. Quando o profeta recebia a revelação de
Deus, tinha plena consciência de que Deus o tomava naquele momento para isso. Ele sabia que não
era uma força ou inspiração que o tomava, mas uma pessoa viva, real e divina -Deus. Exemplos disso
temos em Ez 11.5; 2 Sm 23.2; Is 52.15.
7. Deus revelado aos Apóstolos. No Novo Testamento, Cristo é a suprema revelação de
Deus, seguindo dos apóstolos e escritores que prosseguiram recebendo e transmitindo essa revelação
até Apocalipse. Cristo e os apóstolos são o cumprimento da figura de Moises e dos profetas do Antigo
Testamento como mediadores da revelação divina.
8. Cristo, a Revelação Plena e Visível de Deus. Cristo é a maior revelação de Deus ao
homem, Os apóstolos os primeiros a andar com Cristo, receberam em primeira mão o impacto inicial
da revelação divina em pessoa. João o apostolo amado, que pelo Espírito apresenta Cristo com Deus
encarnado, escreveu:

83
 No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Jo 1.1.
 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do
Pai, cheio de graça e de verdade. Jo 1.14.
 O que era desde o principio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios
olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao verbo da vida e a
vida se manifestou, e nós a temos visto, e dele damos testemunho e vo-la anunciamos a vida
eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifesta, o que temos visto e ouvido anunciamos
também a vos outro, para que vos igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa
comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Estas cousas, pois, vos escrevemos para
que a nossa alegria seja completa 1Jo 1.1-4.

9. Especial Revelação a Paulo. O apostolo Paulo, a quem Deus confiou grande parte da
revelação divina do Novo Testamento, não foi contado com os doze, mas recebeu de Deus profundas
revelações, entre as quais destacamos as que se acham contidas em Cl 1.26-27; Gl 1.11-12:
 O ministério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos
seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da gloria deste ministério
entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da gloria.
 Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o
homem; porque eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de
Jesus Cristo.

10. Revelação transformadora. Foi esta revelação recebida da parte de Deus que fez dos
apóstolos aquilo que eles foram: diferentes, humildes, fervorosos, poderosos, destemidos e vitoriosos.
Para os apóstolos, Deus em Cristo estava sempre presente entre eles, poderoso, triunfante,
conduzindo a sua causa sucessivos triunfos. Possuídos desta revelação, eles escreveram o Novo
Testamento, pregaram o Novo Testamento, viveram o Novo Testamento, e morreram pelo Novo
Testamento. Suas vidas frágeis, porém vitoriosas; seus hábitos diferentes, porem santos; seus
caminhos vigiados e ameaçados pelas autoridades, porem guardados por anjos, são ainda hoje um
exemplo para aqueles que renunciaram o mundo e se decidiram viver para Deus. Pela visão que eles
tiveram de Deus, os apóstolos foram mudados de frágeis pigmeus em valentes bandeirantes da fé,
decididos a mudar o mundo.
11. Deus revelado a Igreja. Sobre a revelação de Deus nestes últimos dias à igreja, diz a
palavra de Deus na Epistola aos Hb 1.1-2: Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de
muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho, a quem
constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.
12. O Agente Revelador de Deus à Igreja. Quando Jesus falava aos seus discípulos e
apóstolos, da necessidade de ausentar-se fisicamente dentre eles, disse que sua ausência seria
ocupada pelo agente revelador do Pai e do Filho, o Espírito Santo. Quando a isto, prometeu Jesus: Eu
rogarei ao Pai, e Ele vos Dara outro Consolador... o Espírito da verdade... Jo 14.16-17. Mas o
Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviara em meu nome, esse vos ensinara todas as cousas
e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito Jo 14.26. Quando vier, porém, o Espírito da verdade,
ele vos guiara a toda verdade; porque não falara por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos
anunciara as cousas que hão de vir. Ele me Glorificara porque há de receber do que é meu, e vo-lo há
de anunciar Jo 16.13-15. O Espírito Santo jamais fala de si mesmo, mas comunica aos Santos aquilo
que o Filho quer revelar.
13. Revelando o Ministério de Beneplácito de Deus. Paulo declara que o ministério segredo
do beneplácito de Deus, visando a salvação da igreja e restauração da humanidade caída, por meio de
Cristo, foi agora revelado, depois de haver sido mantido oculto até o tempo da encarnação do verbo
Divino: Rm 16.25-26, 1Co2. 7-10 e Ef 1.9;3.3-11.
As origens da Igreja estão no eterno passado, conforme o propósito de Deus, mas a sua razão
de ser e de existir no mundo é claramente mostrada na revelação de Deus sobre ela. Deus destinou-
lhe a responsabilidade, que em suma é:
Ser aqui um lugar de habitação de Deus. Ef 2.20-22, 1 Co 3. 16.
Dar testemunho da verdade. 1 Tm 3.15.
Tornar conhecida a multiforme sabedoria de Deus. Ef 3.10.
Dar eterna gloria a Deus. Ef 3. 10-21.
Edificar seus membros. Ef4. 11-13.

84
Disciplinar seus membros. Mt 18.15-17.
Evangelizar o mundo Mt 28.18-20.

14. Uma Maior Revelação. Se grande foi a revelação dada por Deus a Israel, através da lei,
na pessoa de Moises, maior é a revelação de Deus através de Cristo, comunicada pelo Espírito Santo
a Igreja. A revelação divina confiada a Israel, deveria ser o ponto de partida para que aquele povo
desse testemunho de Deus as demais nações da terra; mas Israel falhou na sua vocação. A revelação
de Deus á sua Igreja, capacita-a a dar testemunho da grandeza de Deus, não só aos homens, mas
também aos principados e potestades nos lugares celestiais Ef 3.10. A marcha triunfal de igreja, como
coluna e baluarte da verdade, é mais uma prova indiscutível da que Deus existe e se compraz em se
dar a conhecer aos filhos do homem.

85
Lição 3
5. A Natureza de Deus

Quando falamos em essência de Deus, queremos significar tudo o que é essencial ao Seu Ser
como Deus, isto é, essência e atributos.

1. Essência de Deus: Deus é uma essência espiritual: Deus na sua essência é puro espírito,
sem a presença de matéria Jo.4:24.
2. Atributos de Deus: Sua essência é Espírito e Seus atributos são as qualidades ou
propriedades dessa essência. Atributos são a manifestação do Ser de Deus.

Classificação dos atributos


A Naturais e Morais: Em primeiro lugar, definiremos o conceito atributo citando A. H. Strong:
Os atributos de Deus são aquelas características que distinguem a natureza divina e ao mesmo tempo
são inseparáveis da ideia de Deus, e que constituem o fundamento para suas variadas manifestações
a suas criaturas. Deve-se levar em conta que esses atributos, que nos ajudam a pensar em Deus, nos
dão conta da totalidade do seu ser divino.

Atributos Naturais: Segundo Conner, os atributos naturais são os que não têm nenhuma
relação, de nenhum modo, com o caráter moral de Deus. Isso significa que Deus é um ser moral e que
tem atributos que revelam essa verdade, mas, além disso, tem outros atributos que não entram nesta
categoria. São os atributos que Conner denomina naturais. Seguiremos aqui a maneira de Hammond
tratar o assunto:
a. Infinitude: Deus é um ser sem limitações. A santidade infinita e o amor infinito não são
qualidades infinitas de santidade e de amor, mas sim a santidade e o amor que são qualitativamente
livres de toda limitação e defeitos.
b. Espiritualidade: Deus, sendo Espírito, é incorpóreo, invisível, sem substância material, sem
partes ou paixões físicas e, portanto, é livre de todas as limitações temporais Jo. 4:24; Dt. 4:15-19,23;
Hb.12:9; Is. 40:25; Lc. 24:39; Cl.1:15; I Tm. 1:17; II Co. 3:17

3. Personalidade: Uma definição mais precisa é que Deus é um Espírito pessoal e livre
Como pessoa, Deus está próximo do homem, e, de acordo com Conner, a personalidade de Deus é o
antecedente da encarnação de Deus em Jesus Cristo. Quando falamos em Deus como pessoa,
estamos usando este último termo num sentido deferente do que tem na moderna psicologia. A
liberdade é um elemento de sua personalidade; a Bíblia ensina que Deus, para criar o mundo e para
redimir o homem, não teve nenhuma motivação de fora de si mesmo: Segundo o conselho de sua
vontade Ef 1.11. Vejamos os três elementos básicos de personalidade em relação a Deus.
a. Volição ou vontade = querer Is.46:10; Ap.4:11.
b. Razão ou intelecto = pensar Is.14:24; Sl.92:5; Is.55:8.
c. Emoção ou sensibilidade = sentir Gn.6:6, Dt.6:15; Pv.6:16; Tg.4:5.

4. Os nomes de Deus. Nomes Primários de Deus no Antigo Testamento. O nome no Antigo


Testamento geralmente estava legado ao caráter da pessoa, e não é diferente com Deus, cada nome
de Deus nas paginas sagradas do livro santo revela seu caráter, sua dignidade e seu poder. Aleluia.
a. Jeová Yahweh: A palavra original que se pronuncia Yahweh ou Yawé é formada pelas
consoantes YHVH ou YHWH, com as vogais incorporadas no texto massorético de uma palavra
distinta, Adonai meu Senhor. Em seu sentido etimológico, é a terceira pessoa do singular imperfeito do
verbo havá ou hayá, que significa ser. Os antigos intérpretes explicam o verbo de forma abstrata e
metafísica, significando algo que aproximadamente afirmaria: Eu sou o que sou o que existe de uma
forma absoluta. Esse nome Jeová, foi criado pelos judeus, através das combinações das vogais de
Adonai Meu Senhor com as consoantes YHWH, e o resultado foi Jeová. Tal forma só começou a
aparecer no século XII d.C. Mas nunca aparece, com essa forma no original hebraico. Antes disso,
cada vez que aparecia o tetragrama os judeus pronunciavam Adonai.

86
Significado - O Auto Existente Eu Sou o Que Sou ^Wx 3.14.
Características - É o nome do relacionamento entre o verdadeiro Deus e Seu povo, e, quando
usado, enfatiza a santidade de Deus, o Seu ódio pelo pecado e amor aos pecadores.

b. Elohim:
Significado – Deus Criador . É uma palavra genérica usada para falsos deuses e também para
o verdadeiro Deus. É um substantivo plural, o chamado plural majestático. O plural permite a revelação
subseqüente da Trindade no N.T., mas não ensina a Trindade propriamente dita.

c. Adonai:
Significado - Senhor, Mestre. Usado pelos homens de Deus, e indica o relacionamento
senhor-servo,
Nomes Compostos de Deus no Antigo Testamento.
Com El:
El Elyon - traduzido por Altíssimo Is 14.13,14.
El Roi - O Forte que Vê Gn 16.13.
El Shaddai - Deus Todo-Poderoso Gn 17.1-20.
El Olam - O Eterno Deus Is 40.28.

5. Vejamos o no Jeová com algumas combinações dos principais nomes de Deus.

a. Jeová Jireh: O Senhor Proverá. Então, levantou Abraão os seus olhos e olhou, e eis um
carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e
ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho. E chamou Abraão o nome daquele lugar o SENHOR
proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do SENHOR se proverá. Gn 22.13-14.
Esse nome revela providencia pessoal. Esse foi o nome dado por Abraão no lugar onde ele
sacrificara o carneiro fornecido por Deus em lugar de seu filho Isaque. Deus proverá, é uma expressão
profética da providência divina de um sacrifício substituto, um carneiro v.13. O cumprimento pleno da
declaração de Abraão realiza-se quando Deus provê seu Filho Unigênito para ser o sacrifício expiador
no Calvário, para a redenção da humanidade. Daí, o próprio Pai celestial fez aquilo que Ele determinou
que Abraão fizesse Jo 3.16; Rm 5.8-10; 8.32.
Aprendemos da prova de Abraão que:
 Deus às vezes prova a fé de seus filhos 1 Pe 1.6,7; Hb 11.35. Tal prova deve ser considerada
uma honra no reino de Deus 1 Pe 4.12-14.
 O crente deve confiar em Deus, que Ele estará presente, concederá sua graça e tudo quanto
for necessário, em qualquer circunstância dentro da vontade divina Sl 46.1-23; 2 Co 9.8; Ef
3.20.
 Deus constantemente realiza seu propósito redentor, restaurador, através da morte de uma
visão; ou seja, Ele pode deixar acontecer em nossa vida, coisas que parecem destruir nossas
esperanças e sonhos 17.15-17; 22.1-12; 37.5-7,28; Mc 14.43-50; 15.25,37.
 Depois de uma provação da fé, Deus confirmará, fortalecerá, estabelecerá e recompensará o
crente vs.16-18; 1 Pe 5.10.
 Para se achar a verdadeira vida em Deus é preciso sacrificar tudo quanto Ele requer Mt 10.37-
39; 16.24,25; Jo 12.25.
 Depois de um teste de sofrimento e de fé, o resultado final da parte do Senhor para com o
crente é que Ele é muito misericordioso e piedoso Tg 5.11.

b. Jeová Nissi – O Senhor é minha bandeira. E Moisés edificou um altar e chamou o seu
nome: O SENHOR é minha bandeira Êx 17.15. As bandeiras também chamadas de estandartes,
insígnias, são penduradas, por um de seus lados, numa haste, mastro ou pau, através, às vezes, de
uma corda.. Esse nome foi dado por Moises ao altar que ele erigiu em memória a Deus pele derrota
imposta aos Amalequitas por Israel, sob o comando de Josué, em Refidim. Deus é aqui revelado como
o Àquele que nos conduz contra o inimigo e em cujo nome somos mais que venceres. A ênfase aqui é
que o povo deveria concentrar-se ao redor de Jeová seu líder, como o exercito se concentra em redor
de sua bandeira.

87
c. Jeová Shalom – O Senhor é paz. Então, Gideão edificou ali um altar ao SENHOR e lhe
chamou SENHOR É Paz; e ainda até ao dia de hoje está em Ofra dos abiezritas. Jz 6.24. Esse nome
revela Deus como aquele que concede paz pessoal.Esse nome foi dado por Gideão ao altar que ele
erigiu em Ofra, fazendo assim alusão à palavra que o Senhor lhe tinha dirigido: Paz seja contigo!. O
Senhor Jesus disse aos seus discípulos: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o
mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize Jo 14.26. Crendo em Deus e no Senhor
Jesus, para alcançar a vitória, em todas as lutas de nossa vida, encontraremos o segredo da
verdadeira paz.
d. Jeová Sabbaoth – O Senhor dos Exércitos. Subia, pois, este homem da sua cidade de
ano em ano a adorar e a sacrificar ao SENHOR dos Exércitos, em Siló; e estavam ali os sacerdotes
em Siló; e estavam ali os sacerdotes do SENHOR, Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli I Sm 1.3. Esse
nome revela liderança pessoal de Deus sobre todas as coisas criadas sejam exércitos de homens,
estrelas ou anjos, os quais em separado ou juntos, formam o exercito de Jeová. O significado geral do
termo está na concepção da Onipotência de Deus.
e. Jeová Micadiskim – O Senhor que te santifica. Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo:
Certamente guardareis meus sábados, porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas
gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica. Êx 31.13. Esse nome revela
purificação pessoal. Apresenta Deus no aspecto primordial dentro da obra salvadora e remidora. O
povo de Deus deve ser santo, diferente e separado do mundo, a fim de pertencer exclusivamente a
Deus.
f. Jeová Raah – O Senhor é o meu Pastor. O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Sl
23.1; 95.7. Mediante uma metáfora frequentemente empregada no AT, Deus é comparado aqui a um
pastor, ilustrando isso o seu grande amor por seu povo. O próprio Senhor Jesus empregou a mesma
metáfora para expressar seu relacionamento com os seus Jo 10.11-16; cf. Hb 13.20; 1 Pe 5.4. Duas
verdades destacam-se aqui: Deus, através de Cristo e do Espírito Santo, está tão afeiçoado a cada um
de seus filhos, que Ele deseja amar, cuidar, proteger, guiar e estar perto desses filhos, como o bom
pastor cuida das suas ovelhas Jo 10.11,14. Os crentes são as ovelhas do Senhor. Pertencemos a Ele
e somos alvo especial do seu amor e atenção. Embora todos nós andamos desgarrados como ovelhas
Is 53.6, o Senhor nos redimiu com seu sangue derramado 1 Pe 1.18,19, e agora somos dEle. Como
suas ovelhas, podemos lançar mão das promessas desse salmo quando atendemos a sua voz e o
seguimos Jo 10.3-5; 10.28.
g. Jeová Tsidequenu – O Senhor justiça nossa. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel
habitará seguro; e este será o nome com que o nomearão: O SENHOR, Justiça Nossa Jr 23.6. Esse
nome revela Deus como justiça pessoal, e aponta para a justificação não pelas obras de lei, mas sim
pela obra redentora de Jesus Cristo, que foi feito por Deus justiça nossa: Mas vós sois dele, em Jesus
Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção 2 Co 1:3.
h. Jeová Ellion O Senhor Altíssimo. Pois tu, SENHOR, és o Altíssimo em toda a terra; muito
mais elevado que todos os deuses. Sl 97.9. Esse nome revela preeminência pessoal. Deus aqui é
apresentado, como aquele que ocupa a liderança do Universo, como Deus dos deuses. O Deus que
esta acima de tudo, e controlas dadas as coisas, pela sua supremacia e soberania. Ele é o Deus
transcendental.
i. Jeová Ropeca – O Senhor que te Sara. E disse: Se ouvires atento a voz do SENHOR, teu
Deus, e fizeres o que é reto diante de seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos seus mandamentos,
e guardares todos os seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito;
porque eu sou o SENHOR, que te sara. Êx 15.26. Esse nome revela preservação pessoal. O termo
ropeca pode ser traduzido também Eu sou o Senhor teu Médico. O sentido da palavra é reparar como
se reconstrói um edifício, curar como se restaura a saúde de uma pessoa enferma. Isaias inicia o
capitulo da Redenção com a pergunta: Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou
o braço do SENHOR? Is 53.1. E a pregação continua, que ele levou nossos pecados e nossas
enfermidades; pois pelas suas pisaduras fomos sarados. Essa promessa revela que o desejo
primordial de Deus é curar o seu povo, e não lhe infligir doenças e enfermidades 23.25; Dt 7.15; Sl
103.3; 107.20.
j. Jeová Shammah – O Senhor que está presente. E o nome da cidade desde aquele dia
será: O SENHOR Está Ali. Ez 48.35. Esse nome revela presença pessoal. O livro de Ezequiel termina
com a grande promessa de que, um dia, Deus que um dia havia se afastado de sua cidade por causa
dos pecados do seu povo, no milênio habitará eternamente com seu povo; promessa esta repetida em
Ap 21.3: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará . A maior bênção

88
para nós, como povo de Deus, é termos Deus em nosso meio; esta é a essência da alegria e da
felicidade.

6. O relacionamento de Deus como Pai.


A Deus como Pai:
Pai de toda a criação At 17.29. Pai da nação de Israel Êx 4.22.
Pai do Senhor Jesus Cristo Mt 3.17. Pai dos crentes em Cristo Gl 3.26.

7. Eternidade. Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim,
de eternidade a eternidade, tu és Deus. Sl 90.2. Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na
eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito... Is 57.15. Estes versículos mostram
claramente a existência do Deus eterno, que não tem começo nem fim, do hebraico El-Olam Deus
Eterno. Em primeiro lugar, isto significa que Ele não está sujeito ao tempo, e é infindável no tempo Gn
21.33; Jó 10.5; 36.26. Em segundo lugar, embora Deus exista num tipo de eterno presente, em termos
de continuidade, e não de intemporalidade, Ele conhece o passado como passado, o presente como
presente e o futuro como futuro, Ele vivencia o nosso tempo por amor a nós, Vejamos está revelação:
E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do
Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos
Ap 5.8. Ver também Ap 4.2-4.
E veio outro anjo e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito
incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono.
E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus E o
anjo tomou o incensário, e o encheu do fogo do altar, e o lançou sobre a terra; e houve depois vozes, e
trovões, e relâmpagos, e terremotos Ap 8.3-5. Embora Deus habite na eternidade, Ele vivencia o
nosso tempo, que está representado pelos 24 anciãos, que estão em volta do seu trono de gloria. As
nossas orações sobem como incenso, e estão sempre em memória diante do trono de Deus, que há
seu tempo nos responderá: Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e seja o levantar
das minhas mãos como o sacrifício da tarde. Sl 141.2.
8. Infinidade ou Perfeição: É o atributo pelo qual Deus é isento de toda e qualquer limitação
em seu Ser e em seus atributos Jó.11:7-10; Mt.5:48. A infinidade de Deus se contrasta com o mundo
finito em sua relação tempo-espaço.
9. Imensidão: A infinidade de Deus em relação ao espaço é denominada imensidão ou
imensidade. Deus é imenso Grande ou Majestoso: Jó.36:5,26; Jó.37:22,23; Jr.22:18; Sl.145:3.
Imensidão é a perfeição de Deus pela qual Ele transcende ultrapassa todas as limitações espaciais e,
contudo está presente em todos os pontos do espaço com todo o seu Ser pessoal não é panteísmo. A
imensidão de Deus é intensiva e não extensiva, isto é, não significa extensão ilimitada no espaço,
como no panteísmo. A imensidão de Deus é transcendente no espaço intramundano ou imanente =
dentro do mundo - Sl.139:7-12; Jr.23:23,24 e fora do espaço supramundano = acima do mundo;
extramundano = além do mundo; emanente = fora do mundo – I Rs.8:27; Is.57:15.
10. Onipresença: É quase sinônimo de imensidão: A imensidade denota a transcendência no
espaço enquanto que a onipresença denota a imanência no espaço. Deus é imanente em todas as
Suas criaturas e em toda a criação. A imanência não deve ser confundida com o panteísmo tudo é
Deus ou com o deísmo que ensina que Deus está presente no mundo apenas com seu poder e não
com a essência e natureza de seu Ser e que age sobre o mundo à distância. Deus ocupa o espaço
repetitivamente porque preenche todo o espaço e não está ausente em nenhuma parte dele, mas
tampouco está mais presente numa parte que noutra Sl.139:11,12. Deus ocupa o espaço
variavelmente porque Ele não habita na terra do mesmo modo que habita no céu, nem nos homens,
ou na igreja como habita em Cristo Is.66:1; At.17:27,28; Compare Ef.1:23 com Cl.2:9.
11. Imutabilidade: É o atributo pelo qual não encontramos nenhuma mudança em Deus, em
sua natureza, em seus atributos e em seu conselho. A base para a imutabilidade de Deus: É Sua
simplicidade, eternidade, auto existência e perfeição. Simplicidade porque sendo Deus uma substância
simples, indivisível, sem mistura, não está sujeito a variação Tg.1:17. Eternidade porque Deus não
está sujeito às variações e circunstâncias do tempo, por isso Ele não muda Sl.102:26,27; Hb.1:12 e
13:8. Auto existência porque uma vez que Deus não é causado, mas existe em Si mesmo, então Ele
tem que existir da forma como existe, portanto sempre o mesmo Êx.3:14. E perfeição porque toda
mudança tem que ser para melhor ou pior e sendo Deus absolutamente perfeito jamais poderá ser

89
mais sábio, mais santo, mais justo, mais misericordioso, e nem menos. Por isso Deus é imutável como
a rocha Dt.32:4.
Imutabilidade não significa imobilidade: Nosso Deus é um Deus de ação Is.43:13.
Imutabilidade implica em não arrependimento: Alguns versículos falam de Deus como se
Ele se arrependesse Ex.32:14, IISm.24:16, Jr.18:8; Jl.2:13. Trata-se de antropomorfismo Nm.23:19;
Rm.11:29; ISm.15:29; Sl.110:4.
Imutabilidade de Deus em Sua natureza: Deus é perfeito em sua natureza por isso não muda
nem para melhor nem para pior Ml.3:6.
Imutabilidade de Deus em Seus atributos: Deus é imutável em suas promessas I Rs.8:56; II
Co.1:20; em sua misericórdia Sl.103:17; Is.54:10; em sua justiça Ez.8:18; em seu amor Gn.18:25,26.
Imutabilidade de Deus em Seu conselho: Deus planejou os fatos conforme a sua vontade e
decretou que este plano seja concretizado. Nada poderá se opor à sua vontade. O próprio Deus jamais
mudará de opinião, mas fará conforme seu plano predeterminado Is.46:9,10; Sl.33:11; Hb.6:17.
Onisciência: Atributo pelo qual Deus, de maneira inteiramente única, conhece-se a Si próprio
e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. O conhecimento de Deus tem suas
características:
É arquétipo: Deus conhece o universo como ele existe em Sua própria ideia anterior à sua
existência como realidade finita no tempo e no espaço; e este conhecimento não é obtido de fora,
como o nosso Rm.11:33,34.
É inato e imediato: Não resulta de observação ou de processo de raciocínio Jó.37:16
É simultâneo: Não é sucessivo, pois Deus conhece as coisas de uma vez em sua totalidade, e
não de forma fragmentada uma após outra Is.40:28.
É completo: Deus não conhece apenas parcialmente, mas plenamente consciente Sl.147:5.
Conhecimento necessário: Conhecimento que Deus tem de Si mesmo e de todas as coisas
possíveis, um conhecimento que repousa na consciência de sua onipotência. É chamado necessário
porque não é determinado por uma ação da vontade divina. Por exemplo: O conhecimento do mal é
um conhecimento necessário porque não é da vontade de Deus que o mal lhe seja conhecido Hc.1:13
Deus não pode nem quer ver o mal, mas o conhece, não por experiência, que envolve uma ação de
Sua vontade, mas sim por simples inteligência, por ser ato do intelecto divino veja II Co.5:21.
Conhecimento livre: É aquele que Deus tem de todas as coisas reais, isto é, das coisas que
existiram no passado, que existem no presente e existirão no futuro. É também chamado visionis, isto
é, conhecimento de vista.
Presciência: Significa conhecimento prévio; conhecimento de antemão. Como Deus pode
conhecer previamente as ações livres dos homens? Deus decretou todas as coisas, e as decretou com
suas causas e condições na exata ordem em que ocorrem, portanto sua presciência de coisas
contingentes ISm.23:12; IIRs.13:19; Jr.38:17-20; Ez.3:6 e Mt.11:21 apoia-se em seu decreto. Deus
não originou o mal mas o conheceu nas ações livres do homem conhecimento necessário, o decretou
e preconheceu os homens. Portanto a ordem é: conhecimento necessário, decreto, presciência. A
presciência de Deus é muito mais do que saber o que vai acontecer no futuro, e seu uso no N.T. é
empregado como na LXX que inclui Sua escolha efetiva Nm.16:5; Jz.9:6; Am.3:2. Veja Rm.8:29;
IPe.1:2; Gl.4:9. Como se processou o conhecimento necessário de Deus nas livres ações dos homens
antes mesmo que Ele as decretasse? A liberdade humana não é uma coisa inteiramente
indeterminada, solta no ar, que pende numa ou noutra direção, mas é determinada por nossas próprias
considerações intelectuais e caráter. autodeterminação racional. Liberdade não é arbitrariedade e em
toda ação racional há um porquê, uma razão que decide a ação. Portanto o homem verdadeiramente
livre não é o homem incerto e imprevisível, mas o homem seguro. A liberdade tem suas leis - leis
espirituais - e a Mente Onisciente sabe quais são. Em resumo, a presciência é um conhecimento livre
e, logicamente procede do decreto, ... segundo o decreto sua vontade Ef.1:11.
Sabedoria: A sabedoria de Deus é a Sua inteligência como manifestada na adaptação de
meios e fins. Deus sempre busca os melhores fins e os melhores meios possíveis para a consecução
dos seus propósitos. H.B. Smith define a sabedoria de Deus como o Seu atributo através do qual Ele
produz os melhores resultados possíveis com os melhores meios possíveis. Uma definição ainda
melhor há de incluir a glorificação de Deus: Sabedoria é a perfeição de Deus pela qual Ele aplica o seu
conhecimento à consecução dos seus fins de um modo que o glorifica o máximo Rm.2:33-36;
Ef.1:11,12; Cl.1:16. Encontramos a sabedoria de Deus na criação Sl.19:1-7; Sl.104, na redenção
ICo.2:7; Ef.3:10.

90
Onipotência: É o atributo pelo qual encontramos em Deus o poder ilimitado para fazer
qualquer coisa que Ele queira. A onipotência de Deus não significa o exercício para fazer aquilo que é
incoerente com a natureza das coisas, como, por exemplo, fazer que um fato do passado não tenha
acontecido, ou traçar entre dois pontos uma linha mais curta do que uma reta. Deus possui todo o
poder que é coerente com Sua perfeição infinita, todo o poder para fazer tudo aquilo que é digno dEle.
O poder de Deus é distinguido de duas maneiras: Potentia Dei absoluta = absoluto poder de
Deus e potentia Dei ordinata = poder ordenado de Deus. Hodge e Shedd definem o poder absoluto de
Deus como a eficiência divina, exercida sem a intervenção de causas secundárias, e o poder ordenado
como a eficiência de Deus, exercida pela ordenada operação de causas secundárias. Chanock define
o poder absoluto como aquele pelo qual Deus é capaz de fazer o que Ele não fará, mas que tem
possibilidade de ser feito, e o poder ordenado como o poder pelo qual Deus faz o que decretou fazer,
isto é, o que Ele ordenou ou marcou para ser posto em exercício; os quais não são poderes distintos,
mas um e o mesmo poder.
O seu poder ordenado é parte do seu poder absoluto, pois se Ele não tivesse poder para fazer
tudo que pudesse desejar, não teria poder para fazer tudo o que Ele deseja. Podemos, portanto, definir
o poder ordenado de Deus como a perfeição pela qual Ele, mediante o simples exercício de Sua
vontade, pode realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho. E óbvio, porém, que
Deus pode realizar coisas que a Sua vontade não desejou realizar Gn.18:14; Jr.32:27; Zc.8:6; Mt.3:9;
Mt.26:53. Entretanto há muitas coisas que Deus não pode realizar. Ele não pode mentir, pecar, mudar
ou negar-se a Si mesmo Nm.23:19; ISm.15:29; IITm.2:13; Hb.6:18; Tg.1:13,17; Hb.1:13; Tt.1:3, isto
porque não há poder absoluto em Deus, divorciado de Sua perfeições, e em virtude do qual Ele
pudesse fazer todo tipo de coisas contraditórias entre Si Jó.11:7. Deus faz somente aquilo que quer
fazer Sl.115:3; Sl.135:6.
El-Shadai: A onipotência de Deus se expressa no nome hebraico El-Shaddai traduzido por
Todo-Poderoso Gn.17:1; Ex.6:3; Jó.37:23 etc.
Em todas as coisas: A onipotência de Deus abrange todas as coisas ICr.29:12, o domínio
sobre a natureza Sl.107:25-29; Sl.33:6-9; Is.40:26; Jr.32:17; Rm.1:20, o domínio sobre a experiência
humana Sl.91:1; Dn.4:19-37; Ex.7:1-5; Tg.4:12-15; Pv.21:1; Jó.9:12; o domínio sobre as regiões
celestiais Dn.4:35; Hb.1:13,14; Jó.1:12; Jó 2:6.
Na criação, na providência e na redenção: Deus manifestou o seu poder na criação
Rm.4:17; Is.44:24, nas obras da providência ICr.29:11,12 e na redenção Rm.1:16; ICo.1:24.
13 Soberania ou Supremacia: Atributo pelo qual Deus possui completa autoridade sobre
todas as coisas criadas, determinando-lhe o fim que desejar Gn.14:19; Ne.9:6; Ex.18:11; Dt.10:14,17;
ICr.29:11; IICr.20:6; Jr.27:5; At.17:24-26; Jd.4; Sl.22:28; 47:2,3,8; 50:10-12; 95:3-5; 135:5; 145:11-
13; Ap.19:6.
Vontade ou Autodeterminação: A perfeição de Deus pela qual Ele, num ato sumamente
simples, dirige-se à Si mesmo como o Sumo Bem deleita-se em Si mesmo como tal e às Suas
criaturas por amor do Seu nome Is.48:9,11,14; Ez.20:9,14,22,44; Ez.36:21-23. À vontade de Deus
recebe variadas classificações, pois à ela são aplicadas diferentes palavras hebraicas chaphets,
tsebhu, ratson e gregas boule, thelema.
b. Vontade Preceptiva: Na qual Deus estabeleceu preceitos morais para reger a vida de Suas
criaturas racionais. Esta vontade pode ser desobedecida com freqüência At.13:22; IJo.2:17; Dt.8:20.
Vontade Decretória: Pela qual Deus projeta ou decreta tudo o que virá a acontecer, quer
pretenda realizá-lo causativamente, quer permita que venha a ocorrer por meio da livre ação de suas
criaturas At.2:23; Is.46:9-11. A vontade decretória é sempre obedecida. A vontade decretória e a
vontade preceptiva relacionam-se ao propósito em realizar algo.
Vontade de Eudokia: Na qual Deus deleita-se com prazer em realizar um fato e com desejo
de ver alguma coisa feita. Esta vontade, embora não se relacione com o propósito de fazer algo, mas
sim com o prazer de fazer algo, contudo corresponde àquilo que será realizado com certeza, tal como
acontece com a vontade decretória Sl.115:3; Is.44:28; Is.55:11.
Vontade de Eurestia: Na qual Deus deleita-se com prazer ao vê-la cumprida por Suas
criaturas. Esta vontade abrange aquilo que a Deus apraz que Suas criaturas façam, mas que pode ser
desobedecido, tal como acontece com a vontade preceptiva Is.65:12. A vontade de eudokia não se
refere somente ao bem, e nela não está sempre presente o elemento de deleite Mt.11:26. À vontade
de eudokia e a vontade de eurestia relaciona-se ao prazer em realizar algo.
Vontade de Beneplacitum: Também chamada Vontade Secreta. Abrange todo o conselho
secreto e oculto de Deus. Quando esta vontade nos é revelada, ela torna-se Vontade Revelada. A

91
distinção entre a vontade de beneplacitum e a vontade revelada encontra-se em Deuteronomio.29:29.
A vontade secreta é mencionada em Sl.115:3; Dn.4:17,25,32,35; Rm.9:18,19; Rm.11:33,34;
Ef.1:5,9,11, enquanto que a vontade revelada é mencionada em Mt.7:21; Mt.12:50; Jo.4:34; Jo.7:17;
Rm.12:2. Esta vontade está mui perto de nós Dt.30:14; Rm.10:8. A vontade secreta de Deus pertence
a todas as coisas que Ele quer efetuar ou permitir, tal como acontece na vontade decretória, sendo,
portanto, absolutamente fixa e irrevogável.
Liberdade: A perfeição de Deus no exercício de Sua vontade. Deus age necessária e
livremente. Assim como há conhecimento necessário e conhecimento livre, há também uma vontade
necessária e uma vontade livre. Na vontade necessária Deus não está sob nenhuma compulsão, mas
age de acordo com a lei do Seu Ser, pois Ele necessariamente quer a Si próprio e quer a Sua natureza
santa. Deus necessariamente se ama a Si próprio e Suas perfeições. As Suas criaturas são objetos
de Sua vontade livre, pois Deus determina voluntariamente o que e quem Ele criará; e os tempos,
lugares e circunstâncias de suas vidas. Ele traça as veredas de todas as Suas criaturas, determina o
seu destino e as utiliza para Seus propósitos Jó.ll:10; Jó.23:13,14; Jó.33:13. Pv.16:4; Pv.21:1;
Is.10:15; Is.29:16; Is.45:9.
Atributos morais: Santidade: É a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer
manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas criaturas.
Ser Santo vem do hebraico Kadash que significa cortar ou separar. Neste sentido também a mesma
ideia esta contida no Novo testamento, porém utiliza as palavras gregas hagiazo e hagios.

Depoimento Bíblico quanto à santidade de Deus


Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade,
terrível em louvores, operando maravilhas? Êx 15.11. Porque eu sou o SENHOR, que vos faço subir
da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo. Lv
11.45. Justo é o SENHOR em todos os seus caminhos e santo em todas as suas obras Sl 145.17. E
clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra
está cheia da sua glória. Is 6.4. E os quatro animais tinham, cada um, respectivamente, seis asas e, ao
redor e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir Ap 4.8.
Significado da santidade de Deus. A santidade de Deus significa a Sua absoluta pureza
moral. Indica que Ele não pode pecar, nem tolerar o pecado. Na Sua santidade, Deus arboresce o
pecado, ainda que ame o pecador. Uma vez que o sentido original da palavra santo é separado, em
que sentido está Deus separado de alguém ou de algo? Ele está separado do homem quanto ao
espaço; Ele está no céu, e o homem na terra. Ele está separado do homem quanto a natureza e
caráter; Ele é perfeito, o homem imperfeito; Ele é divino, o homem humano e carnal; Ele é moralmente
perfeito, o homem pecaminoso. Podemos destacar ainda a santidade de Deus sob dois diferentes
aspectos, que podem ser, positiva ou negativa Hb.1:9; Am.5:15; Rm.12:9.
Santidade Positiva: Expressa excelência moral de Deus na qual Ele é absolutamente perfeito,
puro e íntegro em Sua natureza e Seu caráter IJo.1:5; Is.57:15; IPe.1:15,16; Hc.1:13. A santidade
positiva é amor ao bem.
Santidade Negativa: Significa que Deus é inteiramente separado de tudo quanto é mal e de
tudo quanto o aborrece Lv.11:43-45; Dt.23:14; Jó.34:10; Pv.15:9,26; Is.59:1,2; Lc. 20:26; Hc. 1:13;
Pv.6:16-19; Dt.25:16; Sl.5:4-6. A santidade negativa é ódio ao mal.
Retidão: Também chamada justiça absoluta, é a retidão da natureza divina, em virtude da qual
Ele é infinitamente Reto em Si mesmo santidade legislativa. Sl.145:17; Jr.12:1; Jo.17:25; Sl.116:5;
Ed.9:15.
Justiça: Também chamada justiça relativa, é a execução da retidão ou a expressão da justiça
absoluta santidade judicial. Strong a chama de santidade transitiva. A retidão é a fonte da Santidade
de Deus, a justiça é a demonstração de Sua santidade. A justiça de Deus pode ser retributiva e
remunerativa. A justiça retributiva se divide em punitiva e corretiva. A justiça punitiva é aquela pela
qual Deus pune os pecadores pela transgressão de Suas leis. Esta justiça de Deus exige a execução
das penalidades impostas por Suas leis Sl.3:5;11:4-7 Dt.32:4; Dn.9:12,14; Êx.9:23-27;34:7. A justiça
corretiva é aquela pela qual Deus pune Seus filhos para corrigi-los Hb.12:6,7. Aqueles que não são
Seus filhos, Deus pune como um Juiz Severo Rm.11:22; Hb.10:31, mas aos Seus filhos, Deus pune
corrige como um Pai Amoroso Jr.10:24;30:11;46:28; Sl.89:30-33; ICr.21:13. A justiça remunerativa é
aquela pela qual Deus recompensa, com Suas bênçãos, aos homens pela obediência de Suas leis
Hb.6:10; IITm.4:8; ICo.4:5;3:11-15; Rm.2:6-10; IIJo.8.

92
Ira: Esta deve ser considerada como um aspecto negativo da santidade de Deus, pois em Sua
ira Deus aborrece o pecado e odeia tudo quanto contraria Sua santidade Dt.32:39-41; Rm.11:22;
Sl.95:11; Dt.1:34-37; Sl.95:11. Podemos, então, dizer que a ira é a manifestação da santidade
negativa de Deus Rm.1:18; IITs.1:5-10; Rm.5:9 etc. A ira é também designada de severidade
Rm.11:22.
Bondade: É uma concepção genérica incluindo diversas variedades que se distinguem de
acordo com os seus objetos. Bondade é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo
Mc.10:18; Lc.18:18,19; Sl.33:5; Sl.119:68; Sl.107:8; Na.1:7. A bondade implica na disposição de
transmitir felicidade.
Benevolência: É a bondade de Deus para com Suas criaturas em geral. E a perfeição de Deus
que O leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas Sl.145:9,15,16; Sl.36:6;104:21;
Mt.5:45;6:26; Lc.6:35; At.14:17. Thiessen define benevolência como a afeição que Deus sente e
manifesta para com Suas criaturas sensíveis e racionais. Ela resulta do fato de que a criatura é obra
Sua; Ele não pode odiar qualquer coisa que tenha feito Jó.14:15, mas apenas àquilo que foi
acrescentado à Sua obra, que é o pecado Ec.7:29.
Beneficência: Enquanto que a benevolência é a bondade de Deus considerada em sua
intenção ou disposição, a beneficência é a bondade em ação, quando seus atributos são conferidos.
Complacência: É a aprovação às boas ações ou disposições. É aquilo em Deus que aprova
todas as Suas próprias perfeições como também aquilo que se conforma com Ele Sl.35:27; Sl.51:6;
Is.42:1; Mt.3:17; Hb.13:16.
Longanimidade ou Paciência: O hebraico emprega a palavra erekaph que significa grande
de rosto e daí também lento para a ira. O grego emprega makrothymia que significa ira longe.
Portanto longanimidade é o aspecto da bondade de Deus em virtude do qual Ele tolera os pecadores,
a despeito de sua prolongada desobediência. A longanimidade revela-se no adiamento do merecido
julgamento Êx.34:6; Sl.86:15; Rm.2:4; Rm.9:22; IPe.3:20; IIPe.3:15
Misericórdia: Também expressa pelos sinônimos compaixão, compassividade, piedade,
benignidade, clemência e generosidade. No hebraico usa-se as palavras chesed e racham e no grego
eleos. É a bondade de Deus demonstrada para com os que se acham na miséria ou na desgraça,
independentemente dos seus méritos Dt.5:10; Sl.57:10; Sl.86:5; ICr.16:34; IICr.7:6; Sl.116:5; Sl.136;
Ed.3:11; Sl.145:9; Ez.18:23,32; Êx.33:11; Lc.6:35; Sl.143:12; Jó 6:14. A paciência difere da
misericórdia apenas na consideração formal do objeto, pois a misericórdia considera a criatura como
infeliz, a paciência considera a criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em
sua infelicidade, a paciência tolera o pecado que gerou a infelicidade. A infelicidade e sofrimento
deriva-se de um justo desagrado divino, portanto exercer misericórdia é o ato divino de livrar o pecador
do sofrimento pelo qual ele justamente e merecidamente deveria passar, como consequência do
desagrado divino.
Graça: É a bondade de Deus exercida em prol da pessoa indigna. Portanto graça é o ato
divino de conceder ao pecador toda a bondade de Deus a qual ele não merece receber Êx.33:19. Na
misericórdia Deus suspende o sofrimento merecido, na graça Deus concede bênçãos não merecidas.
Todo pecador merece ir para o inferno; assim Deus exerce Sua misericórdia livrando o pecador da
condenação. Nenhum pecador merece ir para o paraíso; assim Deus exerce a Sua graça doando ao
pecador o privilégio de ir gratuitamente para o paraíso. Essa diferença entre misericórdia e graça é
notada em relação aos anjos que não caíram. Deus nunca exerceu misericórdia para com eles, posto
que jamais tiveram necessidade dela, pois não pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldição.
Todavia eles são objetos da livre e soberana graça de Deus pela qual foram eleitos ITm.5:21 e
preservados eternamente de pecado e colocados em posição de honra Dn.7:10; IPe.3:22.
Amor: A perfeição da natureza divina pela qual Ele é continuamente impelido a se comunicar.
É, entretanto, não apenas um impulso emocional, mas uma afeição racional e voluntária, sendo
fundamentada na verdade e santidade e no exercício da livre escolha. Este amor encontra seus
objetos primários nas diversas Pessoas da Trindade. Assim, o universo e o homem são
desnecessários para o exercício do amor de Deus. Amor é, portanto, a perfeição de Deus pela qual Ele
é movido eternamente à Sua própria comunicação. Ele ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e
Seus dons.
Verdade: É a consonância daquilo que é asseverado com o que pensa a Pessoa que fez a
asseveração. Neste sentido a verdade é um atributo exclusivamente divino, pois com freqüência os
homens erram nos testemunhos que prestam, simplesmente por estarem equivocados a respeito dos
fatos, ou então por pura incapacidade fracassam em promessas que fizeram com honestas intenções.

93
Mas a onisciência de Deus impede que Ele chegue a cometer qualquer equívoco, e a Sua onipotência
e imutabilidade asseguram o cumprimento de Suas intenções Dt.32:4; Sl.119:142; Jo.8:26; Rm.3:4;
Tt.1:2; Nm.23:19; Hb.6:18; Ap.3:7; Jo.17:3; IJo.5:20; Jr.10:10; Jo.3:33; ITs.1:9; Ap.6:10; Sl.31:5;
Jr.5:3; Is.25:1. Ao exercê-la para com a criatura, a verdade de Deus é conhecida como sua
veracidade e fidelidade.
Veracidade: Consiste nas declarações que Deus faz a respeito das coisas, conforme elas são,
e se relaciona com o que Ele revelou sobre Si mesmo. A veracidade fundamenta-se na onisciência de
Deus.
Fidelidade: Consiste no exato cumprimento de Suas promessas ou ameaças. A fidelidade
fundamenta-se na Sua onipotência e imutabilidade Dt.7:9; Sl.36:5; ICo.1:9; Hb.10:23; Dt.4:24;
IITm.2:13; Sl.89:8; Lm.3:23; Sl.119:138; Sl.119:75; Sl.89:32,33; ITs.5:24; IPe.4:19; Hb.10:23.

94
Lição 4
6. A Trindade Divina

A palavra trindade não consta da Bíblia, mas o conceito de um Deus trinitário, sim. Este
conceito está em toda Bíblia mais, principalmente aparece claramente no Novo Testamento. A doutrina
da trindade não é uma sociedade de três deuses como querem alguns erroneamente interpretar, ou
uma especulação complicada que tenha surgido na mente de teólogos ociosos, mas é o esforço de
explicar com conceitos adequados aquilo que se constitui uma experiência diária e misteriosa
apresentada na Bíblia e vivida na igreja primitiva.
Unidade de Ser: Há no Ser divino apenas uma essência indivisível, porém, que se manifesta
em três substancias. Bekhof cita o conceito de Shedd sobre este assunto quando diz: O termo
essência descreve Deus como uma soma total de infinitas perfeições; o termo substância o
descreve como fundamento de infinitas atividades. Deus é um em sua natureza constitucional. A
palavra hebraica que significa um no sentido absoluto é yacheed Gn.22:2, isto é, uma unidade
numérica simples. Essa palavra não é empregada para expressar a unidade da divindade. A unidade
da divindade é ensinada nas palavras de Jesus: Eu e o Pai somos um. Jo.10:30. Jesus está falando da
unidade da essência e não de unidade de propósito. Jo.17:11,21-23, IJo.5:7.
Trindade de Personalidades na Divindade: Em Deus há três pessoas ou substancias: Pai,
Filho e Espírito Santo. A palavra hebraica que significa um no sentido de único é echad que se refere
a uma unidade composta. Esta palavra é empregada para expressar a unidade da divindade. Esta
palavra é usada em: Dt.6:4; Gn.2:24 e Zc.14:9; Gl.3:20; Ef.4:6. Aqui devemos esclarecer as palavras
pessoa e substancia. Pessoa na linguagem comum e diária indica um individuo racional e moral com
consciência de ser distinto de outros. Ao nos referirmos a Deus como pessoa, não afirmamos que nele
haja três indivíduos separado do outro, mas somente distinções de pessoas de um mesmo ser, dentro
da essência divina, que é geneticamente e numericamente uma só. Entre as pessoas da divindade há
relações eu-tu-ele, sem deixar de ser Deus uma mesma realidade. Para confirmar essa realidade
Berkhof cita os seguintes textos: Mt 3.16; 4.1; 1 Co 1.18; 316;5 20-22; Gl 4.4 e Ef 5.20. A essência de
Deus não fragmentada, pertence por igual a cada uma das três pessoas.
Isso significa que a essência divina não está dividida entre as três pessoas, e sim que está
plenamente, com todas as suas perfeições em cada uma das pessoas... Por conseguinte, não pode
haver subordinação no que respeita ao ser de uma pessoa da divindade a outra. Podemos ainda
citar muitas coisas físicas que formam uma unidade composta, entre elas, destacamos: A eletricidade
Três manifestações, o átomo três partículas, a água três estados o homem três entidades, etc.
Outra coisa que queremos destacar, é que, quando usamos a palavra substância queremos
evitar o termo existência, que indicaria naturezas separadas. O que seria um grande erro de
interpretação a luz de Jo 14.16, onde Jesus diz, que: rogaria ao Pai para que mandasse outro
Consolador. O termo grego para outro é, allon, significando outro da mesma espécie, e não heteros,
que significa outro, mas de espécie diferente.
Concluindo, o Pai entra com os nomes na divindade Êx 4.14, o Filho entra com o corpo Cl 2.9
e o Espírito Santo entra com a união entre o Pai e o Filho Ef 4.3-5;1Co 10.11. Os nomes de Deus
pertencem as três pessoas da divindade, inclusive ao Senhor Jesus, ou seja, o Pai é Deus, o Filho é
Deus e o Espírito Santo é Deus, e só existe um Deus, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor e o Espírito
Santo é Senhor, é só existe um Senhor Ef 4.5. O Pai é Jeová, Êx 3.14, o Filho é Jeová Jo 8.58 e o
Espírito Santo é Jeová II Co 3.18 e só existe um Jeová. Ef 4.5. O Pai é digno de Gloria, o Filho é digno
de Gloria e o Espírito Santo, porém, só glorificamos a um ser que é Deus. Embora seja difícil de
entender este mistério que sobrepuja a compreensão do homem ele nos ajuda a ver como Deus pode
ser independente do universo e, não obstante ser um Deus de amor cuja existência é a garantia do
bem estar de suas criaturas que são suas imagem e semelhança.

95
7. Textos Trinitários no Novo Testamento

Passaremos agora a estudar alguns textos no Novo Testamento que são os mais importantes,
em relação a crença trinitariana da Divindade. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que
se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que
uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Mt 3.16-17. Aqui aparece
o Filho amado, que, por cumprir toda a justiça, submete-se ao batismo de João; o Pai, cuja voz se
escuta, vinda dos céus; o Espírito Santo, que descia como pomba e vinha sobre Jesus. O comentário
de Bonnet-Schoreder explica isto da seguinte maneira: No batismo de Jesus aparece, pela primeira
vez, a Trindade divina: O Pai e seu testemunho; o Filho que se entrega para sua obra; e o Espírito
Santo que o consagra para ela.
Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo. Mt 28.19. Não pode haver dúvida nenhuma a respeito do significado plenário trinitário contido
nesta fórmula de batismo recomendada no Evangelho, onde as pessoas da divindade aparecem em
plano de completa unidade e qualidade de essência. Pai, Filho e Espírito Santo são, de algum modo,
distintos, mas ao mesmo tempo, iguais em dignidade. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o
mesmo Espírito Santo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo Senhor Jesus. E há
diversidade de operações, mas é o mesmo Deus o Pai que opera tudo em todos.1Co 12.4,6. Aqui se
menciona a capacidade que a igreja recebe para cumprir sua missão no mundo. Trata-se dos dons do
Espírito, do ministério, que o Senhor outorga e das operações de Deus Pai em todos.
A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam
com vós todos. Amém! 2 Co 13.13. A bênção impetrada por Paulo dá testemunho da crença na
Trindade, mantida pela igreja do NT. Paulo ora para que os Coríntos tenham continuamente a
experiência da graça de Cristo, i.e., da sua presença, poder, misericórdia e consolo; do amor paternal
de Deus Pai, com todas as suas bênçãos e da comunhão cada vez mais profunda com o Espírito
Santo. Sendo essa tríplice realidade uma bênção sempre presente em nossa vida, nossa salvação
está garantida.
Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da
vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre
todos, e por todos, e em todos. Ef 4.4-6. Nesta passagem o Apóstolo trata de motivar os leitores para
que haja neles solicitude pela unidade da igreja, o que deve ser preocupação de cada um dos seus
membros. Ao referir-se ao fundamento da unidade que deve haver na igreja, ele menciona as três
pessoas da divindade: o Espírito Santo v.4; o Senhor Jesus Cristo v5; Deus o Pai v6. Com estes
conceitos da unidade trina e una da divindade, há na igreja razão fundamental para mostrar
preocupação por unidade.
Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas.1 Pe 1.2. Novamente
aparecem as três pessoas da divindade em um contexto que se refere à salvação. A eleição é do Pai;
o meio é Jesus Cristo seu sangue; a santificação corresponde ao Espírito.
E os quatro animais tinham, cada um, respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro,
estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é
o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir. Ap 4.8. Aqui aparecem os
querubins diante do trono de Deus em pleno louvor e adoração. Seu louvor é dirigido ao Deus trino:
Santo O Pai, Santo O Filho, Santo O Espírito Santo.
Observação final: Não mencionamos estes textos e há ainda outros para apenas provar uma
tese, mas sim para confirmar que no Novo Testamento estão os elementos fundamentais da doutrina.

96
8. O Deus Criador

A fé da Igreja em relação á criação do mundo se expressa no primeiro artigo do credo dos


Apóstolos, ou confissão de Fé Apostólica, que diz: Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu
e da terra. De acordo com esta declaração de fé, Deus, por meio do seu todo-suficiente poder, criou o
universo do nada. Em sentido estrito da palavra, criação pode ser definida como aquele ato livre de
Deus, por meio do qual, segundo o conselho de Sua soberana vontade e para Sua própria glória, no
principio produziu todo o Universo visível e invisível, sem o uso de matéria preexistente e assim lhe
deu existência distinta da Sua própria existência.

Definição da criação de Deus segundo a Escritura


A criação é um ato do Deus Trino. A Escritura nos ensina que Deus Trino é o auto da
criação, Gn 1.1; Is 40.12; 44.24; 45.12, e isto o distingue dos ídolos Sl 96.5; Is 37.16; Jr 10.11,12.
Apesar do Pai se destacar como o autor da obra da criação 1 Co 8.6, a Bíblia indica-a também como
obra do Filho e do Espírito Santo. A participação do Filho na obra da criação está indicada em João
1.3; 1 Co 8.6; Cl 1.15-17, e a atividade do Espírito Santo a ela relacionada, se encontra expressa em
Gn 1.2: Jô 26.13; Sl 104.30; Is 40.12,13. A segunda e a terceira Pessoa da Trindade não são
poderes dependentes ou meros intermediários, pelo contrário, eles estão unidos com o Pai na obra da
criação. A obra da criação não se dividiu entre três pessoas individualmente. Todas as coisas são
imanentes do Pai, por meio do Filho, e no Espírito Santo. Posto que o Pai tomou a iniciativa da obra da
criação, com freqüência se lhe atribui isso somente a Ele.
A criação é um ato Livre de Deus. Existem algumas tendências prevalecentes segundo as
quais a criação é um ato necessário de Deus mais que um ato livre, determinado por sua soberana
vontade. Afirmar que a criação é um ato necessário de Deus é o mesmo que afirmar que a criação é
tão eterna como aquelas obras imanentes de Deus. Qualquer necessidade que se atribua às obras de
Deus, tem que ser uma necessidade condicionada pelo decreto divino e da constituição resultante
dessas coisas. Tem que ser necessidade dependente da soberana vontade de Deus, e, portanto, uma
necessidade no sentido absoluto da palavra. A Bíblia ensina que Deus criou todas as coisas, segundo
o conselho da sua vontade Ef 1.11; Ap 4.11, e que Ele é por si mesmo suficiente, não dependendo de
suas criaturas em nenhum sentido Jó 22.2,3; At 17.25.
A Criação é um ato Temporal de Deus. A Bíblia começa com a mui conhecida declaração: no
principio criou Deus os céus e a terra Gn 1.1. O grande significado desta afirmação repousa sobre o
ensino de que o mundo teve um principio. A Escritura também fala deste começo noutros lugares Mt
19.4,8; Mc 10.6; Hb 1.10. Também está claramente implícito que o mundo teve um começo, em
passagens como Sl 90.2: Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de
eternidade a eternidade, tu és Deus e no Sl 102.25: Em tempos remotos lançastes os fundamentos da
terra; e os céus são obras das tuas mãos.
A criação do mundo espiritual. Os anjos existem? São eles seres reais? Estas perguntas têm
sido feitas por diferentes pessoas em diferentes lugares. Evidentemente os anjos existem, e o que eles
são e fazem está mostrado no decorrer de todo o registro das Escrituras.
Depoimento bíblico. Só tu és Senhor; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército,
a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu os guardas com vida a todos; e o
exército dos céus te adora. Ne 9.6. Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na
terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades.
Tudo foi criado por ele e para ele. Cl 1.16. Expressões tais como: Exércitos dos Céus, soberanias,
principados. e potestades são geralmente aplicadas na Bíblia aos anjos.

Quando os anjos foram criados?


A Bíblia não dá uma data especifica quanto ao tempo em que os anjos foram criados. O que a
Bíblia, de forma inferente, nos da a entender é que os anjos foram criados por Deus num princípio
remotíssimo, quando Ele criou os céus. Quando foi esse principio ninguém jamais foi capaz de
descobrir. Dt 29.29. Do meio do redemoinho Deus pergunta a Jó : Onde estavas tu, quando eu lançava
os fundamentos da terra...quando as estrelas da alva juntamente alegremente cantavam. E
rejubilavam todos os filhos de Deus? Jó 38.4,7.
Os anjos são numerosos: Em Hb 12.22 os anjos são indicados como uma companhia
inumerável, literalmente miríade. Vejamos alguns versículos que confirmam esta afirmação: Acaso têm
número os seus exércitos Jó 25.3. Disse, pois: O Senhor veio de Sinai, e lhes subiu de Seir;

97
resplandeceu desde o monte Parã, e veio com dez milhares de santos; à sua direita havia para eles o
fogo da lei. Dt 33.2. E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos
anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares.
São seres espirituais: Eles são descritos como espíritos, porém o fato de os anjos serem
espíritos, não significa que eles não possuam um corpo. Se os anjos são espíritos, então eles
possuem corpos espirituais: Semeia-se corpo animal, é ressuscita corpo espiritual. Se há corpo animal,
há também corpo espiritual. 1 Co 15.44.
São seres imortais: Os anjos não estão sujeitos à dissolução: nunca morrem. A imortalidade
dos anjos se deriva de Deus e depende de Sua vontade. Os anjos são isentos da morte, porque assim
Deus os fez. Lc. 20:35,36.
Não se reproduzem conforme a sua espécie: As escrituras ensinam que os anjos não se
reproduzem, porque não são uma raça mais uma companhia. Na ressurreição nem casam nem são
dados em casamento; serão como os anjos de Deus no céu Mt 22.30.
São seres poderosos: Dotados de poder sobre-humano Bendizei ao Senhor, todos os seus
anjos, vós que excedeis em força, que guardais os seus mandamentos, obedecendo à voz da sua
palavra. Sl.103:20. São uma classe de seres criados superiores aos homens Sl.8:5; Hb.2:10.
Contudo, esse poder tem seus limites estabelecidos, não são Onipotentes IITs.1:7. Veja a
demonstração de poder dos anjos: At.5:19; 12:7,23; Mt.28.2.
São seres que habitam nos céus onde louvam e adoram a Deus: Quando as estrelas da
alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam? Jó 38.7; Cl 2.18a; ver
também Ap 19.10; 22.9.
Os anjos são seres pessoais: A maioria dos estudiosos da Bíblia são de opinião que os anjos
de Deus são mais sábios e inteligentes do que os homens, a história de Israel prova isto desde os dias
de Abraão. Tanto no Antigo como no Novo testamento vemos frequentemente a atuação dos anjos,
não somente como seres poderosos, mas também como inteligentes e pessoais. A crendice popular
de que os anjos são seres impessoais, não tem apoio bíblico. Sem duvida os anjos foram criados
espíritos com personalidade, tendo vontade própria e inteligência, cujo conhecimento é superior ao
dos homens e teve início na sua origem, 2 Sm 14.17-20; Sl 8.5; Ez 28.1-5, como o homem antes da
queda. Gn 2.19.
São seres velozes: Estando eu, digo falando na oração, o varão Gabriel, que eu tinha visto na
minha visão ao princípio, veio voando rapidamente... Dn 9.21a. A arte da idade medieval apegou-se à
narrativa que está em destaque, como fundamento para a imposição de asas em todos os seres
angelicais.
São filhos de Deus: Os anjos são chamados Filhos de Deus no Velho Testamento nas
referências de Jó 1:6; 2:1; 38:7, etc. Porém, deve ser observado, que, apesar de serem assim
chamados, os homens também o foram Lc.3:38; Jo.1:12; I Jo.5:1-2 . A palavra original é Benai-
Elohim = Filhos de Deus.

A criação do mundo material


No principio criou Deus os céus e a terras Gn 1.1
No primeiro versículo de Gênesis, Moises exprime em resumo a obra criadora de Deus, que
vem detalhadamente exposta nos versículos seguintes. É o dogma fundamental da verdadeira religião,
oposto a todos os falsos sistemas filosóficos e a todas as falsas religiões.
O mundo não é eterno - foi criado. E a harmonia da criação está a nos dizer; antes dela
houve um poder dinâmico que a gerou, e, portanto, esta coisa - o mundo- teve um principio. O ser que
gerou, é o eterno Deus. Em Jo 1.1 lemos: No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o
verbo era Deus. O apostolo confirma Gn 1.1: No princípio...Deus. Então Deus foi o princípio, a causa
primaria de tudo o que existe.
A Semana da Recriação. Prosseguindo no seu relato, Moises descreve as diferentes fases da
ação divina durante a semana da recriação, num período de seis dias, dos quais, três para a formação
dos espaços habitáveis e outros três para a obra do povoamento.
1 Dia – Disse Deus: Haja luz; e houve luz Gn1.3. Como divino artesão Deus começa por
iluminar o seu campo de ação. Não se trabalha no escuro porque, sem a luz - condição fundamental
de toda a obra cientificamente provado, tudo é confuso. No plano natural das coisas, a luz procede da
vibração. O v.3 de Gênesis revela a relação entre o movimento do Espírito sobre a matéria inerte e o
efeito nela produzida.

98
2 Dia – E chamou Deus ao firmamento Céus Gn1.6-8. Firmamento ou expansão foi como
Deus denominou o segundo elemento criado; foi a separação da matéria gasosa da qual surgira a luz.
O que Deus chama de expansão ou céus, não significa simplesmente a atmosfera à volta da terra
não, mas a grande câmara universal onde o sol, e as estrelas se localizam.
3 Dia – Aparecimento da terra firme Gn1.9-13. Neste o movimento está ligado á gravitação
envolvendo tudo e todas as demais forças que começam a concentrar a matéria debaixo do
firmamento à volta dos inúmeros centros. Um dos quais passa a ser o nosso globo. Por outro lado e
quase paralelamente, outro trabalho se vem desenvolvendo no terceiro dia: o surgimento das plantas
vs.1,12. Para que a terra pudesse receber seus habitantes, Deus cria as plantas, com suas inúmeras
finalidades.
4 Dia – A organização do sistema solar Gn 1.14-19. Este período assinala a organização do
sistema solar por nos conhecido. Nesse primitivo tratado de astronomia, ditados pelo Senhor a Moises,
surgem o sol, a lua e as estrelas. A função dos dois astros reis – sol e lua, é controlar o dia e a noite,
respectivamente. O sol regula dias e anos; e lua, semanas e meses; e as estrelas, as estações.
5 Dia – O surgimento da fauna marinha Gn 1.20-23. Neste quinto dia surgem os pequenos e
grandes peixes, como também todas as variedades de aves. Os animais do ar em geral, e do mar, tem
muita semelhança. Há muitas aves que vivem também na água.
6 Dia – A criação dos animais terrestres Gn 1.24-26. À semelhança dos demais animais, estes
também foram criados por Deus. Esses seres nasceram na terra e nela vivem. Divide-se em quatro
grupos distintos:
 Gado ou animais domésticos;
 Feras ou animais selvagens,
 Répteis, que se arrastam pelo solo, e;
 O homem imagem e semelhança de Deus.

Podemos conhecer a Deus. Falando ao Israel dos seus dias, e aos crentes de todas as
épocas, diz o profeta Oséias: Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor: como a alva a sua
vinda é certa; e ele descera sobre nos como a chuva, como chuva serôdia que regra a terra Os 6.3.
Numa analise mais cuidadosa deste texto do livro do profeta Oseias, concluímos que:
É imperioso conhecermos o Senhor. Conheçamos note que o verbo conhecer vem na forma
imperativa ou de mandamento, mostrando ser dever do homem, e principalmente do crente, de
conhecer o Senhor. Fechar a porta do conhecimento de Deus anula a possibilidade do homem vir a
conhecer a vontade divina para a sua própria vida, e isto é muito perigoso.
O conhecimento do senhor é progressivo. Prossigamos em conhecer o Senhor. Devemos
desvencilharmo-nos das amarras da imaturidade espiritual, passando da fase dos rudimentos da
doutrina, para a fase em que ela se mostra mais madura e substanciosa. É isto que Pedro chama de
crescimento na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo 2 Pe 3.18.
O nosso esforço de conhecer melhor a Deus será recompensado. Como a alva a sua vinda
é certa; e ele descera sobre nos como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra. Apesar da
garantia bíblica de que Deus se deixara achar por aquele que o buscar de todo o coração Jr 29.13,
não poucos tem laborado no erro de conhecer pouco a Deus, enquanto que outros laboram em erro
pior, o de conhecê-lo de forma distorcida. O fato de conhecermos só em parte 1 Co 13.9, não nos
desobriga da responsabilidade de conhecer a Deus hoje melhor do que o conhecíamos ontem.
Por fim, Deus se revela através de sua palavra pelo seu Espírito que em nós habita, que por
sua vez nos apresenta Jesus Cristo que é a própria imagem do Deus invisível. Hb 1.2-3.

A adoração a Deus. E Esdras abriu o livro perante os olhos de todo o povo; porque estava
acima de todo o povo; e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé. E Esdras louvou o SENHOR, o
grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém!, levantando as mãos; e inclinaram-se e
adoraram o SENHOR, com o rosto em terra. A adoração consiste nos atos e atitudes que reverenciam
e honram à majestade do grande Deus do céu e da terra. Sendo assim, a adoração concentra-se em
Deus, e não no ser humano. No culto cristão, nós nos acercamos de Deus em gratidão por aquilo que
Ele tem feito por nós em Cristo e através do Espírito Santo. A adoração requer o exercício da fé e o
reconhecimento de que Ele é nosso Deus e Senhor.
O ser humano adora a Deus desde o inicio da história. Adão e Eva tinham comunhão regular
com Deus no jardim do Éden cf. Gn 3.8. Caim e Abel trouxeram a Deus oferendas hebraico. minhah,
termo também traduzido por tributo ou dádiva de vegetais e de animais Gn 4.3,4. Os descendentes de

99
Sete invocavam o nome do SENHOR Gn 4.26. Noé construiu um altar ao Senhor para oferecer
holocaustos depois do dilúvio Gn 8.20. Abraão assinalou a passagem da terra prometida com altares
para oferecer holocaustos ao Senhor Gn 12.7,8; 13.4, 18; 22.9 e falou intimamente com Ele Gn 18.23-
33. Somente depois do êxodo, quando o Tabernáculo foi construído, é que a adoração pública tornou-
se formal.
A partir de então, sacrifícios regulares passaram a ser oferecidos diariamente, e especialmente
no sábado, e Deus estabeleceu várias festas sagradas anuais como ocasiões de culto público dos
israelitas Êx 23.14-17; Dt 12;16. O culto a Deus foi posteriormente centralizado no templo de
Jerusalém. A adoração na igreja primitiva era prestada tanto no templo de Jerusalém quanto em casas
particulares At 2.46,47. Fora de Jerusalém, os cristãos prestavam cultos a Deus nas sinagogas,
enquanto isso lhes foi permitido. Quando lhes foi proibido utiliza-las, passaram a cultuar a Deus
noutros lugares, geralmente em casas particulares At 18.7; Rm 16.5, mas, às vezes, em salões
públicos At 19.9,10.
Manifestações da adoração cristã. Dois princípios-chaves norteiam a adoração cristã. A
verdadeira adoração é a que é prestada em espírito e verdade Jo 4.23 , isto é, a adoração deve ser
oferecida à altura da revelação que Deus fez de si mesmo no Filho Jo 14.6. Por sua vez, ela envolve
o espírito humano, e não apenas a mente, e também com as manifestações do Espírito Santo 1Co
12.7-12. A prática da adoração cristã deve corresponder ao padrão do NT para a igreja At 7.44. Os
crentes atuais devem desejar, buscar e esperar, como norma para a igreja, todos os elementos
constantes da prática da adoração vista no NT. Além disso, a exortação que tem a igreja é oferecer
sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome Hb
13.15, e a oferecer nossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus Rm 12.1.
Louvar a Deus é essencial à adoração cristã. O louvor era um elemento-chave na adoração de
Israel a Deus Sl 100.4; 106.1; 111.1, bem como na adoração cristã primitiva At 2.46,47; 16.25; Rm
15.10,11; Hb 2.12. Uma maneira autêntica de louvar a Deus é cantar salmos, hinos e cânticos
espirituais. O AT está repleto de exortações sobre como cantar ao Senhor Sl 95.1; 96.1,2. A igreja do
NT era um povo que cantava 1Co 14.15; Ef 5.19. Os cânticos dos cristãos eram cantados, ou com a
mente Isto é num idioma humano conhecido ou com o espírito isto é, em línguas; 1Co 14.15. Em
nenhuma circunstância os cânticos eram executados como passatempo. Outro elemento importante na
adoração é buscar a face de Deus em oração. Os santos do AT comunicavam-se constantemente com
Deus através da oração Gn 20.17; 1Sm 8.6; 2 Sm 7.27; Dn 9.3-19.
Os apóstolos oravam constantemente depois de Jesus subir ao céu At 1.14, e a oração tornou-
se parte regular da adoração cristã coletiva At 2.42; 20.36; 1Ts 5.17. Essas orações eram, às vezes,
por eles mesmos At 4.24-30; outras vezes eram orações intercessórias por outras pessoas At 12.5;
Rm 15.30-32; Ef 6.18. Em todo tempo a oração do crente deve ser acompanhada de ações de graças
a Deus Ef 5.20; Fp 4.6; Cl 3.15,17; 1Ts 5.17,18.
Empecilhos a verdadeira adoração. O simples fato das pessoas se dizerem crentes
realizarem um culto, não é nenhuma garantia de que haja aí verdadeira adoração, nem que Deus
aceite seu louvor e ouça suas orações. Se a adoração a Deus é mera formalidade, somente externa, e
se o coração do povo de Deus está longe dEle, tal adoração não será aceita por Ele. Cristo
repreendeu severamente os fariseus por sua hipocrisia; eles observavam a lei de Deus por legalismo,
enquanto seus corações estavam longe dEle Mt 15.7-9; 23.23-28; Mc 7.5-7.
Note a censura semelhante que Ele dirigiu à igreja de Éfeso, que adorava o Senhor mas já não
o amava plenamente Ap 2.1-5. Outro impedimento à verdadeira adoração é um modo de vida
comprometido com o mundanismo, pecado e imoralidade. Deus recusou os sacrifícios do rei Saul
porque este desobedeceu ao seu mandamento 1Sm 15.1-23. Isaías repreendeu severamente o povo
de Deus como nação pecadora... povo carregado da iniquidade da semente de malignos Is 1.4; ao
mesmo tempo, porém esse mesmo povo oferecia sacrifícios a Deus e comemorava seus dias santos.
Por isso, o Senhor declarou através de Isaías: As vossas festas da lua nova, e as vossas
solenidades, as aborrece a minha alma; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Pelo que,
quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não
as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue Is 1.14,15. Semelhantemente, na igreja do
NT, Jesus conclamou os adoradores em Sardes a se despertarem, porque não achei as tuas obras
perfeitas diante de Deus Ap 3.2. Da mesma maneira, Tiago indica que Deus não atenderá as orações
egoístas daqueles que não se separam do mundo Tg 4.1-5. O povo de Deus só pode ter certeza que
Deus estará presente à sua adoração e a aceitará, quando esse povo tiver mãos limpas e coração
puro Sl 24.3,4; Tg 4.8.

100
Bibliografia

Bíblia de Estudo Pentecostal, Bíblia Vida Nova,


Hortan, Stanley M. Teologia Sistemática –
Perspectiva Pentecostal. 7 Ed Rio de Janeiro: CPAD, 2002;
Perlmam, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia.
1 Ed São Paulo: Vida 1970;A doutrina de Deus, ETAAD,
Elemento de Teologia Cristã, Ureta Floreal, Ed Juerp.

Direitos reservados
É proibida a reprodução total ou parcial deste material,
por quaisquer meios ou sistemas, quer a título gratuito ou lucrativo,
sem a autorização prévia por escrito da entidade.
A violação dos direitos autorais está sujeita às penalidades legas, civil e penal-
ARTIGO 184 DO CÓGIGO PENAL.

Professor.................................................................................

101
102
Prova de Teologia Sistemática
Bacharel

Aluno(a):................................................................................................. data................/................./.............

Marque um X na alternativa correta

1. Sobre a Teologia Natural:


Estuda fatos que se referem a Deus e Seu universo que se encontra revelado na natureza.
 Certo
 Errado
2. Sobre a Teologia Bíblica:
Investiga a verdade de Deus e o Seu universo no seu desenvolvimento divinamente ordenado e no
seu ambiente histórico conforme apresentados nos diversos livros da Bíblia. A teologia bíblica é a
exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia, conforme originalmente revelada. A teologia
bíblica extrai o seu material exclusivamente da Bíblia.
 Certo
 Errado
3. Sobre a Teologia Exegética: Não se preocupa com o Estudo o Texto Sagrado e assuntos
relacionados, através do estudo das línguas originais, da arqueologia bíblica, da hermenêutica
bíblica e da teologia bíblica.
 Errado
 Certo
4. Sobre o Panteísmo: O panteísmo ensina que no Universo, Deus é tudo e tudo é Deus. Deus é não
só parte do Universo, Ele é o próprio Universo. O hinduísmo é adepto deste falso conceito de Deus. A
Bíblia deixa bem claro que Deus é o Criador do Universo e independente dele Sl 24. 1.4.
 Certo
 Errado
5. Sobre o materialismo: O materialismo declara que a única realidade é a matéria. Essa concepção
passou a ser denominada marxismo Marx, foi o fundador do ateísmo cientifico, segundo ele o homem
é apenas matéria, um animal apenas, por isso não terá que prestar conta de seus atos a ninguém. Ele
ensinava que os diferentes comportamentos físicos e psíquicos humanos, são simplesmente
movimentos da matéria, não admitia a existência das coisas espirituais, inclusive de Deus. Ou seja
tudo é matéria.
 Certo
 Errado

Observação: Só existe uma alternativa correta em cada questão, e cada questão vale 2 Pontos.

103
Sociologia

104
105
Lição 1
1. Introdução a Sociologia

Objeto da Sociologia
Qualquer tentativa para estabelecer limites para um campo de pesquisa intelectual, é
intrinsecamente infrutífera. Quaisquer limites que estabeleçamos omitirão, inevitavelmente, algumas
pessoas cujo trabalho deve ser incluído. Todavia, quando ampliamos os limites, a fim de no campo
incluir tais pessoas e tais trabalhos, inevitavelmente incluímos alguns que, por outras razões, teríamos
excluído. E aquilo que, hoje nos parece firmemente estabelecido como parte de nossa pequena
comunidade, pode ontem ter sido um território estrangeiro entravado em nossas fronteiras, e amanhã
pode estabelecer-se fora de nossos muros como uma disciplina independente que procura definir seus
limites.
No entanto, não pode esperar que um estudante ingresse num campo de estudos que é
totalmente indefinido e limitado. Se precisar ser responsável por tudo, nada conhecerá. Na realidade,
fugirá apavorado, com toda razão. Pode-se verificar, com o tempo, que a definição dos limites de um
campo de, estudo é apenas um artifício; no entanto, de inicio, é necessária certa delimitação, ainda
que provisória. Na realidade, o perigo não é tão grande, se lembrarmos que quaisquer fronteiras que
estabeleçamos são ajuda para compreensão. Devem servir como capa folgada para delimitar a forma,
e não como uma armadura rígida que é sempre apertada, por mais útil que seja para expulsar os de
outras disciplinas que pretende o mesmo território. Dispomos de três caminhos principais para delinear
o objeto da sociologia.
1- O Histórico, através do qual procuramos pelo estudo dos trabalhos clássicos da sociologia,
encontrar as preocupações e os interesses centrais e tradicionais da sociologia, como disciplina
intelectual. Em resumo, perguntamos: o que dizem os fundadores.
2- O Empírico, pelo qual estudamos o trabalho sociológico atual, a fim de descobrir os assuntos
aos qual a disciplina da maior atenção. Em outras palavras perguntamos: O que estão fazendo os
sociólogos contemporâneos?
3- O Analítico, pelo qual dividimos e delimitamos, arbitrariamente algum objeto mais amplo e o
distribuiremos entre diferentes disciplinas. Na verdade, perguntamos: O que é sugerido pela razão?

A abordagem histórica é recomendada pelo respeito. Oferece-nos a oportunidade para utilizar


a sabedoria do passado. Permite-nos compreender questões que só podem ser entendidas se
compreendermos os seus antecedentes. Evidentemente, as pessoas podem ler à mesma história de
maneiras muito diferentes. Além disso, o método histórico corre o risco de tornar rígido o nosso
pensamento, pois a tradição pode ser pouco adequada para lidar com os problemas emergentes do
presente e do futuro. O método empírico é menos ambíguo; exige fundamentalmente, alguma forma de
contagem. Evidentemente o que os sociólogos contemporâneos acentuam em seu trabalho pode ser
apenas uma moda passageira, com pouca ligação com o trabalho importante do passado ou com
pouca promessa para o futuro. Na opinião do Prof° Pitirim Sorokin, as preocupações atuais da
sociologia são apenas manias ou defeitos e, na opinião de C. Wright Mills, ideiem um declínio da
imaginação sociológica. A abordagem analítica é a menos perturbadora. Algumas linhas de
definição, alguns outros parágrafos de explicação, e pronto.
Este é um caminho consagrado pelo passado, seguindo continuamente desde que foi
inicialmente demarcado por Augusto Comte, o pai da sociologia. Mas os decretos que dividem os
domínios do conhecimento humano não têm força da lei. Os estudiosos e os cientistas vão para onde
os dirigem seus interesses; estudam aquilo que gostam, quando querem, são, por natureza caçadores
furtivos, que pouco se incomodam com os direitos de propriedade, e com os avisos de passagem
proibida. Portanto, a definição arbitrária de campos de estudo, embora muitas vezes esteticamente
satisfatória, é geralmente um mau guia para o que realmente está acontecendo.
Apresenta um nítido plano orientador, mas como não existem leis de zoneamento, a estrutura
real da pesquisa pouco se parece com o plano. Não precisamos prejulgar a questão. Cada perspectiva
pode nos dar algo valioso para a compreensão da sociologia. Evitei a imposição de uma definição
Pronta de seu objeto, ao contrário preferi deixar uma concepção surgisse de um conjunto heterogêneo
de materiais significativos. As respostas nem sempre surgirão diretamente. No entanto, acredito que o
que surge mais gradualmente também desaparece menos rapidamente. Além disso, por este método

106
de apresentação espero, não apenas delinear o objeto do campo, mas, ao fazê-lo, apresentar algo, da
história da sociologia e uma impressão das questões contemporâneas. A ambos os temas voltaremos
frequentemente.
Não seria inteiramente honesto dizer: deixo que os temas falem por si mesmos. Os fatos
podem falar por si mesmos, mas não podem escolher a si mesmos. No entanto, tentei selecionar
pontos de vista. Nem é preciso dizer, entre tais pontos de vista salienta-se o meu. Tive como objeto
criar uma concepção ampla e exclusiva da sociologia. Isso exige a busca de temas unificadores e
bases comuns de acordo. Mas não procurei disfarçar a grande diversidade de opiniões, nem regar o
desacordo, profundo e frequente, que muitas vezes divide a comunidade sociológica.

107
2. Definição da Sociologia

Sociologia é um conjunto de conceitos, de técnicas e métodos de investigação produzidos


para explicar a vida social, é na verdade algo mais do que uma tentacilogia, desde o seu início,
sempre foi algo mais do que uma tentativa de reflexão sobre sociedade moderna. Suas explicações
sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no rumo desta civilização. Os
interesses econômicos e políticos dos grupos e das classes sociais, que na sociedade capitalista
apresentam-se de forma divergente, influenciam-se profundamente a elaboração do pensamento
sociológico.
A sociologia, é o estudo dos aspectos sociais da vida humana, seu objetivo primordial é
adquirir todo conhecimento relativo ao homem e a sociedade apenas na medida em que o pode
cientificamente ou seja, com aplicação de métodos científicos ao exame da realidade social. Portanto a
sociologia estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que
ocorrem na vida em sociedade. A sociologia abrange o estudo dos grupos sociais da divisão da
sociedade em camadas; dá mobilidade social dos processos de cooperação, competição e conflito na
sociedade, etc.
Podemos afirmar que a sociologia na defesa da Filosofia social se inclina considerando o grupo
social um todo que transnade as partes sem lhes eliminar a claro que os grupos persistem
independentemente das condições iniciais que provocam seu aparecimento; salientando a relativa
independência do comportamento do grupo das intenções e atos de seus membros, apresentando
novas concepções da sociedade; propondo normas para moderar a sociedade de acordo com os seus
princípios, buscando conhecer os acontecimentos que ocorrem dentro de uma sociedade.

108
3. O Que Dizem os Fundadores

O trabalho clássico do professor Sorokin sobre Teorias Sociológicas Contemporâneas, cita


bem mais de 1.000 homens, cujo trabalho é suficientemente importante para citação numa resenha do
desenvolvimento da sociologia moderna. A mode lar história e interpretação da evolução do
Pensamento Social, da Tradição à Ciência de Howard Becker e Harry Elmer Barner enche dois
volumes de 1.178 páginas grandes, além de notas e apêndices. Diante desse conjunto maciço, quem
dirá quais as pessoas que definem a tradição sociológica?
No entanto, existem quatro homens que todos da sociologia, quaisquer que sejam suas
acentuações, seu viés ou sua tendência, provavelmente aceitarão como as figuras centrais no
desenvolvimento da sociologia moderna. São eles: Augusto Comte, Herbert Spencer, Émile Durkheim
e Max Weber. Reunidos, abrangem o século XIX e o início do século XX período em que se formou a
sociologia moderna. Representam os principais centros nacionais – França, Inglaterra e Alemanha em
que inicialmente se desenvolveu a sociologia e em que começou a tradição moderna.
Cada um deles exerceu uma profunda influência pessoal na concepção da sociologia como
disciplina intelectual. Por isso, parece muito significativo indicar suas opiniões a respeito do objeto da
sociologia. Augusto Comte (1798-1857), que deu à sociologia o seu nome atual, Zleúleou mais energia
à expressão de esperanças quanto à sociologia, e à demarcação de suas pretensões do que à
definição de seu objeto. Pensava que a ciência social de seu tempo, quanto ao seu futuro, estava na
mesma relação em que antigamente a astrologia estava diante da ciência da astrologia, e a alquimia
diante da química. Sustentava que apenas num futuro distante a subdivisão do campo seria possível e
desejável, e pensava que em sua época seria impossível predizer qual pode ser o principio de
distribuição.
Por isso, dele não podemos obter qualquer lista de tópicos ou subdivisões do interesse
sociológico. Embora Augusto Comte não quisesse especificar as subdivisões da sociologia,
apresentou e consistentemente tratou a sociologia como se estivesse dividida em duas partes. Esses
dois conceitos representam uma divisão básica do objeto da sociologia que, sob muitas formas e
muitas maneiras, aparece em toda a história do campo e persiste até hoje. No primeiro caso, as
principais instituições ou conjuntos institucionais da sociedade tais como economia, família são
consideradas como unidade básica de análises sociológicas e a sociologia é concebida como estudo
consiste na investigação das leis de ação e reação de diferentes partes do sistema social. Sustenta
que as partes de uma sociedade não podem ser entendidas separadamente, como se tivessem uma
existência independente.
Ao contrário, precisa ser vistas como em relação mútua, formando um todo que nos obriga a
trata-las em combinação. Referia-se a esse princípio de inter-lização social universal como o
pensamento básico de toda a sua vida de estudo. A segunda divisão básica da sociologia, proposta
por Comte, foi denominada dinâmica social. Se a estática devia estudar como as partes da sociedade
se inter-relacionam, a dinâmica deveria localizar as sociedades globais como a unidade de análise e
mostrar como se desenvolveram e mudaram e mudaram com o tempo. Precisamos, lembrar, dizia
Comte, que as leis da dinâmica social são mais reconhecíveis quando se relacionam com as
sociedades maiores. Comte acreditava já ter resolvido o problema. Estava convencido de que todas as
sociedades passavam por certos estádios fixos de desenvolvimento e progrediam para a perfeição
sempre crescente. Hoje, esta opinião encontrará poucos adeptos.
Um número ainda menor admitirá que os estádios identificados por Comte são aqueles pelos
quais tidas as sociedades já passaram ou passarão. No entanto, o que é importante para nós é
lembrar que, para Comte, o estudo comparativo das sociedades era um objeto principal da analise
sociológica. Os três volumes dos Princípios de Sociologia de Herbert Spencer (1820-1903), publicados
em 1877, constituem o primeiro estudo amplo e sistemático dedicado a uma exposição e analise
sociológica. Spencer era muito mais preciso do que Comte ao especificar os tópicos ou campos
especiais que, segundo ele, seriam de responsabilidade da sociologia. O objeto da sociologia, segundo
a definição de Spencer, contém elementos muito conhecidos. Aqui e ali precisamos traduzir um termo.
Por exemplo, quando fala do sistema de coerções refere-se, evidentemente, ao assunto que a
sociologia moderna denominou controle social. Sob outros aspectos, não temos dificuldade em ligar o
objeto da sociologia delineado pelos sociológicos contemporâneos, ao esquema dado por Spencer.
Segundo a ordem apresentada pela citação, os campos da sociologia, segundo Spencer, são os
seguintes: família, política, religião, controle social e indústria ou trabalho.

109
Além disso, Spencer mencionou os sociólogos de associações, comunidades, divisões de
trabalho, diferenciação ou estratificação social, a sociologia do conhecimento e da ciência, bem como
o estudo da arte e da estética. Um exame imparcial do índice dos Princípios de Spencer, diante do
trabalho contemporâneo descrito em nossa seção seguinte, sugere que a amplitude dos assuntos com
que lida a sociologia tem sido notavelmente estável por longo período de tempo. No entanto, Spencer
de forma alguma admitiria que a sociologia estivesse limitada a uma lista de instituições, como a
família, ou os processos, tais como o controle social. Acentuava também que a sociologia devia lidar
com as inter-relações entre os diferentes elementos da sociedade, explicar como as partes influem no
todo e quais as reações a elas, e como, no processo, podem transformar e ser transformadas.
Como exemplos de tais influências recíprocas, chamaram a atenção para os efeitos de normas
sexuais na vida familiar, bem como para as relações entre as instituições políticas e outras formas de
regular o comportamento, tais como religião e a atividade cerimonial. Também recomendou o estudo
paralelo da organização do clero e de outras hierarquias a fim de revelar como as suas mudanças de
estrutura estão ligadas com mudanças de estruturas nas hierarquias.
Spencer acrescentava uma outra responsabilidade para a sociologia – isto é, aceitar a
sociedade global como sua unidade de analise. Sustentava que as partes da sociedade, embora
fossem unidades distintas, não estavam dispostas ao acaso. As partes mantêm certa relação
constante e este fato torna a sociedade, como tal uma entidade sentido, um objeto adequado para a
pesquisa cientifica. A partir disso, sustentava que a sociologia deve comparar sociedades de diferentes
tipos e sociedades em diferentes estádios. Sustentava que, para compreender os princípios da
sociologia, precisamos lidar com fatos de estrutura e função, apresentados pelas sociedades em geral,
na medida do possível separadas dos fatos específicos, devidos a circunstâncias especiais.
Dessa forma, a principal divisão da ênfase sociológica, sugerida por Comte, é também evidente
no pensamento de Spencer. Émile Durkheim (1858-1917), ao contrario de Spencer, não apresentou
tão observação feitas em suas Regras do método Sociológico e em vários outros trabalhos seus,
podemos facilmente reconstruir sua posição.
Durkheim frequentemente se referiu ao que denominou os campos especiais da sociologia, e
claramente aprovava o seu amplo desenvolvimento. Dizia que a sociologia não poderia tornar-se uma
ciência antes de renunciar à sua pretensão inicial e global quanto à totalidade da realidade social e
distinguir cada vez mais entre partes, elementos específicos. Ao resenhar o seu trabalho e o de seus
colaboradores franceses, afirmou sua ambição comum de iniciar para a sociologia o que Comte
denominou a era, e a especialização. Disse, por exemplo: Na realidade, existem tantos domínios da
sociologia, tantas ciências sociais específicas, quantas são as variedades de fatos sociais. No
esquema que apresentou para os primeiros volumes da primeira revista da sociologia, LAnnée
Sociologique, Durkheim tornou sua posição inconfundivelmente clara. Dividiu a revista em sete seções
sob cada titulo principal. Num número típico, as principais seções eram as seguintes: sociologia geral
que incluía uma subsecção sobre personalidade no individuo e na coletividade; Sociologia da Região a
ideologia do Direito e Moral, que incluía subsecções pré-organização política, organização Social,
casamento e família; Sociologia do Crime; Sociologia Econômica, que incluía subsecções sobre
medida de valor e grupos profissionais; Demografia, que incluía uma subsecção sobre comunidades
urbanas e rurais; uma secção sobre Sociologia da Estética.
Este esquema, apresentado em 1896 poderia facilmente ser usado por uma revista
contemporânea se sociologia geral. Embora tivesse uma visão geral das instituições e dos processos
sociais que os sociólogos deveriam estudar. Durkheim, como Comte e Spencer, também acentuavam
a importância da analise das relações entre instigues, e entre elas seu ambiente. Afirmava que uma
das principais contribuições da sociologia está na consciência de que existe uma estreita relação entre
todos esses fatos sociais tão diversos, agora têm sido estudados em completo. Pensava que cada fato
social deve ser ligado a um meio social especifico a um tipo definido de sociedade. Proceder de outra
forma, diz que os fatos sociais de religião, direito, ideias morais e econômicas suspensos no vazio.
Sustentava ser impossível compreende-los a não ser que sejam vistos em suas relações entre
si e com o meio coletivo em que se desenvolvem e de que constituem a expressão. Durkheim, da
mesma forma que Spencer, considerava as sociedades como tais, como unidades importantes de
análise sociológica. Falava da sociologia como a ciência das sociedades e repetidamente acentuou a
importância do estudo comparativo de diferentes tipos de sociedades. Assim, escreveu: Não é possível
quer complexidade a não ser acompanhando seu completo desenvolvimento em todas as espécies
sociais. A sociologia não é um ramo compara a específica sociologia; é a própria sociologia. Max
Weber (1864-1920) dedicou a maior parte de suas observações sobre a sociologia, como disciplinam a

110
exposição do método especial que defendia, denominado o método da compreensão, bem como à
discussão das vicissitudes da manutenção da objetividade e da neutralidade dos julgamentos de valor
na ciência social. No entanto, apresentou uma definição geral da sociologia a que, de passagem, se
referiu como essa palavra tão ambiciosa.
A sociologia, de acordo com Weber, é uma ciência que procura a compreensão interpretativa
da lição social, a uma explicação causal de seu curso e suas consequências, e nosso ponto de vista,
as palavras especiais nessa definição são ação social. A essa expressão Weber atribuía um sentido
realmente amplo, incluindo todo o comportamento humano, quando e na medida em que o individuo
que age lhe atribui um sentido subjetivo. Isso poderia sugerir que Weber via o ato social ou a relação
social como o objeto específico da sociologia. Na realidade, Weber propôs um sistema complexo para
classificar atos sociais e relações sociais, mas não os estudos, como tais. Não desenvolveu a sua
sociologia como um corpo de afirmações descritivas a respeito de tais atos ou dos padrões de suas
relações, nem apresentou quaisquer explicações minuciosas de tais padrões.
Em vez disso, dedicou-se sobretudo à análise de instituições concretas. Entre os assuntos
sobre que escreveu extensamente estão: religião; vários aspectos da vida econômica, onde se incluem
o dinheiro e a divisão do trabalho; partidos políticos e outras formas de organização ampla; classe e
casta; a cidade; música. Nem a definição de sociologia apresentada por Weber, nem a lista dos
assuntos a respeito dos quais escreveu exprimem adequadamente as características mais notáveis de
seu trabalho. O biógrafo de sua vida intelectual, professor Reinhard Bendix, diz dos merecidamente
famosos estudos de Weber sobre a religião: seus três principais temas consistiam no exame da
influência das ideias religiosas nas atividades econômicas, na análise da relação entre estratificação
social e ideias religiosas e na verificação e explicação das características distintivas da civilização
ocidental. Imediatamente reconheceremos esses dois primeiros temas como outro exemplo da
concepção da sociologia como uma disciplina unicamente interessada pelas inter-relações entre partes
ou elementos da sociedade.
O terceiro tema, a respeito das características distintivas da civilização ocidental, deve ser
reconhecido como outra referência à sociologia comparativa, que trata as sociedades como suas
unidades de análise e procura os fatores que expliquem as semelhanças e diferenças entre elas, em
diferentes lugares e épocas. Embora de maneira alguma se exprimam com os mesmos termos, os
quatro fundadores consultados parecem estar fundamentalmente de acordo quanto ao objeto
especifico da sociologia. Em primeiro lugar, todos permitiram e, em alguns casos, exigiriam que os
sociólogos estudassem uma grande amplitude de instituições, da família ao estado. Estas instituições
devem ser analisadas em si mesmas, a partir da perspectiva distintiva da sociologia, uma perspectiva
que ainda não definimos inteiramente.
Em segundo lugar, os que definem a tradição clássica parecem concordar que o objeto único
para a sociologia deve ser encontrado nas inter-relações entre diferentes instituições. Em terceiro
lugar, concordam com a opinião de que a sociedade como um todo pode ser considerada como uma
unidade distinta para análise sociológica, e que a sociologia tem a tarefa de explicar como e por que as
sociedades são semelhantes ou diferentes. Finalmente, devemos notar, entre os autores clássicos
nesse campo de estudo, um certo sentimento a favor da localização da sociologia em atos sociais ou
relações sociais, quaisquer que sejam seus ambientes institucionais. Essa opinião foi mais claramente
expressa por Weber, mas foi apresentada também por outros autores da tradição clássica.

111
4. O Que os Sociólogos Fazem

Se considerarmos o que os sociológicos fazem como nosso guia para aquilo de que trata a
sociologia, existem três formas principais que devemos examinar:
(1) os manuais em que os sociólogos tentam sumariar o seu campo de estudo;
(2) as associações que escolhem, quando solicitados a identificar-se com um ou outro ramo da
sociologia;
(3) as pesquisas que empreendem e os relatórios que apresentam em suas reuniões
sociológicas ou publicam em livros ou revistas especializadas. Talvez as três abordagens tendam a
refletir, principalmente, o que fazem os sociólogos típicos ou médios.

Existem os que dizem que não importa o que o sociólogo médio está fazendo, pois, deveria
fazer coisa muito diferente. No entanto, vamos por um momento deixar de lado a avaliação, a fim de
saber o que é que, certa ou erradamente, o sociólogo médio faz na realidade.

112
5. Os Manuais de Sociologia

Com poucas exceções, todos os sociólogos do país ensinam, e a grande maioria ensina com
manuais. Tais livros apresentam uma concepção básica do campo de estudos, e seu uso
presumivelmente reflete sua aceitação pelos especialistas. Entre 1952 e 1958, foram publicados, nos
Estados Unidos, 24 manuais de introdução à sociologia. O manual mais aceito foi usado,
aparentemente, por apenas 15% dos estudantes matriculados em cursos de introdução à sociologia, e
apenas dois outros atingiram 10% ou mais desse grupo. Considerando-se essa ampla difusão, torna-
se muito importante, para compreender o caráter do campo, saber se tais manuais revelam acordo
fundamental quanto ao objeto da sociologia, ou se a diversidade de pontos de vista tão grande quanto
à sugerida por tão grande número de manuais.
O professor Hornell Hart, que analisou o conteúdo de tais manuais, identificou temas tratados
pelo menos por 20 – isto é, por quase 85% dos que examinou. Os 12 temas mais tratados eram:
método científico na sociologia; personalidade na sociedade; cultura; grupos humanos; população;
casta e classe; raça; mudança social; instituições eco; família; educação; religião. Alguns processos
sociais não atingiram o topo da lista, em grande parte por causa do esquema de contagem
empregado. Por exemplo, se a vida urbana e rural não tivesse sido tratada separadamente, é evidente
que vida comunitária teria sido citada pelo menos por 20, dentre os 24 manuais. Quase a mesma coisa
pode ser dita, do tópico problemas sociais.
Além disso, algumas instituições evidentes quase chegaram ao ápice da lista; por exemplo,
governo e política. Parece haver acordo básico a respeito de pouco mais de uma dezena de assuntos
que devem ser incluídos em qualquer introdução à sociologia. Tal acordo não se estende,
necessariamente, à relativa importância dos diferentes temas. Nessa questão, o desacordo entre os
sociólogos é provavelmente muito maior do que o encontrado em qualquer das ciências naturais.
Alguns dos manuais diferem tanto da média, na acentuação de alguns temas, que dão uma impressão
marcando temente diversa do objeto da sociologia.
Por exemplo, o manual do professor Arnold Green deixa inteiramente de mencionar os
seguintes termos, seja, no índice ou no índice remissivo: atitudes, organizações, associação, controle
social, opinião pública e planejamento social. O professor Ronald Freedman e seus colaboradores da
Universidade de Michigan dão ao tópico de ecologia humana e vida de comunidade quase três vezes o
espaço dado pelo manual médio , fias esquecem quase totalmente os temas de interação social e
comunicação. Apesar dessas importantes diferenças, os fatos indicam que a sociologia tem mais
núcleo comum do que muitas pessoas entre as quais muitos sociólogos – acreditariam. Pesando todas
essas provas, o professor Hart conclui: Aparentemente, existe um núcleo sólido e bem definido do
objeto sociológico, tratado, em maior ou menor extensão, por quase todos os manuais.

113
6. A Sociologia Como Ciência

A sociologia foi à primeira ciência a se ocupar explicitamente com a vida social como uma
tonalidade com a complexa rede de instituições sociais e grupos que constituem a sociedade. A
concepção básica ou ideia diretiva de sociologia é portanto a de estrutura social e inter-relação
sistemática de formas de comportamento ou ação em sociedades determinadas. A sociologia como
ciência tem tido vários obstáculos para seu desenvolvimento, entre os quais 4 merecem ser citados em
virtude das suas implicações prejudiciais, a inexistência ou uma terminologia clara e precisa que
possibilite um universo de comunicações, a tendência a subjetivar os fatos sociais, a dificuldade de
experimentação, pois os elementos com que lida são seres humanos.
Parece claro haver uma necessidade de uma ciência social que se ocupe da sociedade como
um todo ou com a estrutura social total. Dizer isto, porém é suscitar o problema de como tal ciência
poderia ser praticada e como se relacionava com outras ciências sociais. A sociologia não é uma
ciência separada, completa em si antes que o especialismo comece, nem uma simples síntese de
ciências sociais constituída da justa posição mecânica de seus.
É antes um princípio vitalizados que corre por toda a investigação social, alimentando-a e
sendo por ela alimentado, estimulado a pesquisa, correlacionando resultados, exibindo a vida de todo
nas portes e voltando do estudo das partes para maior compreensão do todo. Portanto a sociologia
como ciência estuda os fatos tal como se apresentam, descreve-os, analisa-os e explica-os;
distinguindo-se das demais ciências sociais. A diversidade principal reside no aspecto geral de seu
interesse, em contraposição ao das outras ciências sociais que é mais especializado, pois, à sociologia
interessa a interação social no todo e não apenas uma de suas inúmeras facetas, que constituem,
cada uma delas, o campo específico de diferentes disciplinas.
O sociólogo interessa conhecer a sociedade como é, não como deveria ser. Embora seja
escrito que o sociólogo queira ver suas principais descobertas aplicadas na solução de problemas
específicos, não lhe cabe a responsabilidade das reformas, planejamento, ou adoção de medidas para
melhoria das condições sociais. Tal desejo não invalida o caráter científico de suas conclusões, pois é
o conhecimento em si que norteia sem trabalho e não são possíveis utilizações práticas. O sociólogo
procura ter consciência dos seus valores, preocupando no que refere-se às relações sociais em si, que
se manifestam enquanto os indivíduos pertençam a grupos econômicos ou religiosos, recreacionais,
etc.; surgindo assim entre os sociólogos um esforço no sentido de relacionarem suas investigações as
teorias, orientando suas atividades de pesquisa para a verificação de hipóteses explicitamente
formuladas.
O exame das teorias sociologia demonstra que se tem centralizado ao redor de determinadas
questões; Entre elas a fixação do que representam a sociedade e a cultura, o estabelecimento de
unidades elementares para seu estudo; a especificação dos fatores que condicionam sua estabilidade
ou sua mudança; a descoberta das relações que mantém entre si e com a personalidade; a
delimitação de um campo e a especificação de um objeto e de métodos de estudos próprios à
sociologia. Os sociólogos portanto se ocupam de estudar a realidade do indivíduo e da sociedade
moderna no momento em que essa realidade se consolida, colocando problemas práticos como
teóricos; criando assim conceitos cujo objetivo é explica-las.

114
7. História e Sociologia

A história e a sociologia estão interligadas de modo que a sociologia tem uma origem
particularmente importante de início na história.
A ideia geral do progresso, que ajudaram a formular, influi profundamente na concepção que o
homem tem da história. As histórias do pensamento social dão ênfase indevida a sua continuidade.
Serias útil e esclarecedor ter para a sociologia e as ciências sociais modernas uma explicação em que
se destaque a uma modificação radical na atitude para o mundo físico, entretanto alguns trabalhos
recentes em especial, uma abordagem semelhante começou a revelar as fontes de sociologia
relacionada com a história e o seu relacionamento ao surgimento do capitalismo industrial e à
modificação nas concepções da vida social que isso provocou.
Podemos avaliar as contribuições da história à sociologia considerando-as como tendo sido no
aspecto filosófico, as nações de desenvolvimento e progresso e no aspecto científico os conceitos dos
períodos históricos e tipos sociais. Foram os historiadores que tiveram em grande parte.

115
8. Doutrina Social

Como doutrina social, ela se preocupa com a investigação científica dos fenômenos sociais,
onde se normas para melhorar a sociedade de acordo com os seus princípios e a sociologia estuda as
relações sociais e as formas de associação. Considerando as interações que ocorrem na vida em
sociedade, onde existem normas que já são estabelecidas pela sociedade.
O problema social é relativo aqueles relacionado à várias pessoas associadas, pela ação
reciproca, com o mesmo objetivo e o problema sociológico é relativo somente ao interesse de um
grupo específico, este grupo se dedica aos assuntos sociais, aqueles que se desenvolvem dentro de
uma sociedade dedicando-se à compreensão das estruturas desta organização social.

116
9. A Sociedade Humana

A vida em grupo é uma exigência da natureza humana. O homem tem necessidade dos seus
semelhantes para sobreviver, para propagar e perpetuar a espécie para realizar-se plenamente como
pessoa. A sociabilidade, a tendência natural para viver em sociedade é desenvolvida através do
processo de socialização. Este é um processo global, através do qual o indivíduo se integra no grupo
em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos e costumes característicos do grupo. Participando
da vida em sociedade, aprendendo suas normas, valores e costumes o indivíduo está se socializando.
Quanto mais adequada a socialização do indivíduo, mais perfeitamente sociável ele se torna.
A importância da socialização para a sociedade é demonstrada através do comércio
social, que foi e continua a ser decisivo para o desenvolvimento da humanidade. As descobertas de
um membro de um grupo, comunicadas aos outros, tornam-se estímulo e ponto de partida para
aperfeiçoamentos e novas descobertas. Transmitidas de geração a geração, elas não se perdem com
a morte de seus descobridores. O homem se guia pela inteligência: sobre o alicerce do instinto
gregário ele edifica o convívio social, cujas formas se transformam de acordo com as condições em
que ele vive. A socialização é condição necessária a sobrevivência da espécie humana.

117
10. Sociologia e Ideologia

Sendo a ideologia considerada como o conjunto de ideias e opiniões de uma sociedade, as


relações possíveis entre a ideologia e a sociologia seriam as ideias e conceitos pertencentes a
determinada classe social, refletindo assim as condições de vida vigoraste numa sociedade, a
Filosofia, a arte, o direito a política e a religião são formas de ideologia, pois se manifestam segundo
os interesses específicos das classes sociais a que pertencem. A ideologia por sua vez também atua
sobre a realidade social, modificando-a num processo de reciprocidade, refletindo, em última análise,
as condições de vida material e a estrutura econômica vigorante numa sociedade e todo sistema de
sendo criado por influência de determinado meio econômico, histórico de social.
O pensamento ideológico e sociológico se liga ao respectivo meio da seguinte forma e sua
ideias componentes ou auxiliares são determinadas na origem pelo meio, o conteúdo destas ideias
tanto pode ser uma resposta como pode criar mecanismos de ajustamento ou de melhor sobrevivência
no mesmo meio, e a ação que essas desencadeiam repercute desta ou daquela maneira, tentando
modificar este mesmo contexto.
Esta relação existente entre a sociologia e ideologia são voltadas para os grupos sociais dos
quais fazem pare, opiniões, ações, regras, pertencentes a determinada classe social; os interesses
econômicos e políticos dos grupos e classes sociais, influenciando nessa relação e constituindo em
certa medida uma resposta e constituindo em certa medida uma resposta intelectual às novas
situações surgidas com a sociedade.

Toda a sociedade e todo o grupo social tem regras de conduta, que orientam e controlem o
comportamento das pessoas, que são as normas; indicando o que é permitido ou não dentro de tal
sociedade e os grupos convivem com tais regras que são confundidas com símbolos cujo valor ou
significado é atribuído pela mesma sociedade; exprimindo muitas vezes um significado como regra a
norma de um comportamento dentro de uma sociedade.

118
11. Relação Social

Comportamento social se refere ao indivíduo enquanto organismo biológico e a relação social


refere-se ao indivíduo no aspecto de seus comportamentos diante da sociedade, considerando as
interações que ocorrem na vida em sociedade.
Cultura é a vida social de um povo, a herança social que o indivíduo adquire de seu grupo.
A aquisição é a perpetuação da cultura dominante lida através do processo social, resultante
da aprendizagem: Cada povo tem uma própria cultura. Cada sociedade elabora sua própria cultura e
recebe a influência de outras culturas.
Sua própria cultura e recebe a influência de outras culturas.
Todas as sociedades, desde as mais simples até as mais complexas, possuem cultura. Não há
sociedade sem cultura, do mesmo modo que não existe ser humano destituído de cultura. Desde que
nasce o homem é influenciado pelo meio social em que vive, não há pessoa desprovida de cultura. A
cultura dominante é uma norma de comportamento estabelecida pela sociedade. Os indivíduos
normalmente agem de acordo com os padrões estabelecidos pela sociedade que vivem. Quando os
membros ou uma sociedade agem de uma mesma forma estão expressando a cultura dominante do
grupo.
No interior de uma cultura podem aparecer diferenças significativas caracterizando-se então
uma subcultura. A relação da cultura dominante com as subculturas de uma sociedade, embora não
sejam diferentes dos da cultura geral desta sociedade, os seus costumes, os valores, o modo de ser,
apresentam características próprias que se distinguem das dos indivíduos de outras sociedades.
Portanto existe a relação cultura dominante, quando uns dada sociedade, consequentemente, possui
valores culturais comuns a todos os seus integrantes. Dentro porém desta mesma sociedade
encontram-se elementos culturais restritos ou específicos de determinados grupos que a integram;
representativo de modos especiais de comportamento de um segmento de sociedade mais complexa.

119
12. Grupos Secundários

As diferenças existentes entre os grupos são característicos pela predominância dos contatos,
sendo que nos grupos primários, são predominantes os contatos ais pessoais, diretos, em que há um
relacionamento direto, face a face.
Nos grupos secundários predominam os contatos secundários, são os grupos sociais mais
complexos, como as igrejas e o estado, os contatos sociais neste caso realizam-se de maneira pessoal
e direta, mas sem intimidade, ou de maneira indireta, através de cartas, telegramas, telefone etc.
Portanto nos grupos primários existe o relacionamento pode ser pessoal e direto mas não existe
aquela aproximação total, existindo um certo distanciamento e em alguns casos de ordem indireta,
onde não existe o contato pessoal.

Podemos dizer que o grupo seja a interação permanentemente associadas de uma de mais
pessoas e agregado aquele agrupamento social não-homogêneo e organizado, diferenciando assim as
categorias por se tratas estas de uma das classes onde se dividem as e os termos.

Podemos assim afirmar a desigualdade sobre as quais se assente a sociedade, assim cada
tipo de organização estabelece seus formas de desigualdades de privilégios, de diferenças entre os
indivíduos; e os caracterizam são definidos fora dos indivíduos diferenciando a porção social dentre
uma sociedade, constituída o processo de desigualdades sociais.

120
13. Mobilidade Vertical

A mobilidade social vertical ocorre quando as mudanças de posição social ocorre no sentido de
subir ou descer na hierarquia social; podendo ser:
-- ascendente; quando a pessoa melhora sua posição no sistema estratificação social,
passando a integrar um grupo d situação superior à de seu grupo anterior;
--descendente, quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação social,
passando a integrar um grupo de situação inferior.
A mobilidade social horizontal ocorre quando a mudança de uma posição social a outra se
opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve uma mobilidade social horizontal.
Portanto a diferença entre a mobilidade vertical e a mobilidade horizontal basicamente é que na
mobilidade vertical a mudança de posição social, mas permanecer na mesma classe social e na
mobilidade horizontal a mudança da posição social somente ocorre dentro da mesma camada social.

Mudança social é qualquer alteração nas formas de vida de uma sociedade; nos processos e
instituições sociais e mobilidade social é o momento, no espaço social, executando por indivíduos ou
grupos que sobem ou descem na escada de uma sociedade estratificada em camadas sociais. As
relações existentes entre a mudança e a mobilidade social, é que quando elas ocorrem; alteram-se as
relações sociais, e isto varia de sociedade para sociedade, podendo ser lentos nas sociedades mais
simples, e acelerando nas sociedades contemporâneas complexas, como as grandes cidades; e o
ritmo de mudança depende de maior ou menor número de contatos sociais com outros povos,
desenvolvimento dos meios de comunicação e também de certas atitudes individuais e sociais, que
aceleram ou dificultam.

121
14. Teoria Funcionalista

A estratificação social indica a existência de diferenças, de desigualdades entre pessoas de


uma determinada sociedade; indicando a existência de grupos de pessoas que ocupam posições
diferentes; lembrando que todos os aspectos de uma sociedade, econômico, político, social, etc., estão
interligados. Assim os vários tipos de estratificação não podem ser entendidos separadamente; sendo
a estratificação social a divisão da sociedade em estratos ou camadas sociais hierarquizadas, e
supostas. Neste contexto podemos afirmar que a teoria funcionalista da estratificação social consiste
no estudo da estrutura social e da diversidade cultural.
Nesta teoria a manutenção e a eventual extensão do grupo e do seu sistema social; assim sua
cultura são os objetivos podem ser conhecidas através do estudo empírico; demonstrando que partes
determinadas da estrutura social e da cultura do grupo agem como mecanismo que satisfazem, ou
não, os requisitos funcionais.
A variação social e cultural se explica devido a possibilidade de satisfazer de várias maneiras
as necessidades funcionais, através de escolhas é limitado, tanto pelas características biológicas do
homem como por suas necessidades sociais ou psíquicas, e pela inter-relação e em certa medida pela
interdependência da próprias escolhas.

A estratificação social indica existência de desigualdades entre pessoas de uma determinada


sociedade; divida em camadas sociais e estão interligados, não podendo ser entendidos
separadamente e a oportunidade vida ocorre em uma das classes sociais desta mesma sociedade
onde o indivíduo pode não ocupar a uma mesma posição toda a vida; obtendo a oportunidade de
mudança.

122
15. Instituições Sociais

A instituição social, se diferencia das necessidades e individuais, particularmente em se


tratando de uma sociedade, ou de outro grupo de normas institucionalizadas, ou melhor, um padrão
satisfação de determinada necessidade. Por amplamente aceita pelos participantes do grupo em suas
personalidades e sendo um padrão normativo complexo, as instituições sociais aplicam-se a
determinados tipos de relações. Os participantes conformam-se mais ou menos com o padrão
institucional. Entretanto, todos o conhecem; e essas instituições sociais, surgem, por que é preciso
satisfazer as necessidades dos participantes das sociedades. Diferenciando assim das necessidades
individuais, que contém tanto as particularidades quanto humano-genético que funciona consciente e
inconscientemente no homem.

Mas o indivíduo por se tratar de um ser singular que se encontra em relação com sua própria
individualidade particular e com sua própria genericidade humana; e nela, tornam-se conscientes
ambos elementos genéricos e particulares; mas, nessas formulações deve-se sublinhar igual mente
os termos relativamente. Temos ainda de acrescentar que o grau de individualidade pode variar; já que
o indivíduo dispões de um certo âmbito de movimento no qual pode escolher sua própria comunidade
e seu próprio modo de vida no interior das possibilidades dadas; construindo uma relação com sua
própria comunidade. Bem como uma relação com sua própria particularidade vivida enquanto dado
relativo.

123
16. Instituições Universais

Instituições universais, são aquelas encontradas em todas as sociedades. Tais estruturas e


instituições universais derivam das necessidades fundamentais, ou melhor, as que devem ser
satisfeitas por sociedades de qualquer tipo.
A satisfação dessas necessidade exige o cumprimento de funções sociais, as consideradas
essenciais para a satisfação das necessidades básicas e portanto, para a manutenção da sociedade,
figuram a reprodução de novos membros, sua socialização, já que não basta apenas reproduzir novos
membros, sendo também necessário treina-los para sua participação ativa na sociedade; a produção e
distribuição de bens e serviços para a sobrevivência dos participantes; para que não julguem vãos
seus esforços, a manutenção da ordem, para que possa haver ação continuada.
Essas regulamentações são importantes, pois todos os grupos de que participa aderem a essa
regulamentação pois são padrões que a sociedade considera pelos seus antepassados, tendo sofrido
modificações maiores ou menores através do tempo e a sociedade exerce grande pressão para que
todos cumpram essas regras de importância estratégica para manter a organização desta sociedade e
dos indivíduos que dela participam.

124
17. Religião e Organização Social

As estruturas sociais encontram intimamente relacionadas e sobrepõe-se na execução das


diferentes funções. A estrutura regulamentação desta estrutura cabe às instituições sociais, pois são
instituições religiosas regulamenta a socialização de novos membros, juntamente com instituições
familiares e educativas. Essa instituição religiosa, para operar, deve encontrar uma base de ação, pois
não pode atuar no vácuo.
É por meio das estruturas sociais, que o faz; cumprindo também o dever de servir de
instrumento de regulação e controle das atividades do homem.
Todas as sociedades conhecem alguma forma de religião. A religião é um fato social universal,
sendo encontrada em toda parte e desde os tempos mais remotos. A religião sempre desempenha
uma função social indispensável; estando associada a sentimentos de respeito, temor e veneração e
se expressa em atitudes destinadas a lidar com esses poderes. A tendência moderna de dar mais
ênfase aos valores sociais, de valorizar mais os aspectos sociais e humanos; surgindo líderes que
defendem a necessidade de a igreja lutar por maior justiça entre os homens, defendendo um
participação cada vez maior das igrejas nos problemas sociais e ressaltando mais o conteúdo ético do
que os dogmas da religião.
O crescimento dos fatores como a crise social e a política e as dificuldades econômicas e o
crescimento demográfico juntamente com o analfabetismo, além das crises e angústias do homem
abrem espaço para que os movimentos das grandes religiões venham a contribuir sociologicamente
para a organização social, provando ocupar o vazio deixado pelo desencanto geral em relação às
ideologias e as estopais seculares, tentando assim buscar novos rumos e regras para a sociedade do
futuro, reagindo a uma crise da sociedade, cujas causas profundas encontram através dos quais essa
crise se manifesta.

125
18. Processos Sociais

São as diversas maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos atuam uns sobre os outros,
isto é, de que forma eles se relacionam estabelecendo relações sociais, qualquer mudança numa
sociedade, proveniente da influência dos seus membros, é um processo social.
Processo é o nome que se dá à continua mudança de alguma coisa em uma direção definida.
Processo social indica interação social, movimento, mudança. Os processos sociais são as diversas
maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos atuam sobre os outros, isto é, de que forma eles se
relacionam, estabelecendo relações sociais. Qualquer mudança proveniente dos contatos e da
interação social entre os membros de uma sociedade constitui, portanto, um processo social. No grupo
social ou na sociedade como um todo, os indivíduos e os grupos se reunam e se superam, se
associam e se associam. Assim, os processos sociais podem ser dissociados ou associativos.
A interação social é a base de toda a vida social. Sem ela, os grupos não seriam mais que
simples aglomerados de indivíduos, que permaneceriam, lado a lado, como estranhos. Através da
interação social, os membros dos grupos repartem suas atividades, tem vida como e inter-relacionada.
Por esta razão a interação social e o processo social gera e significa ação recíproca, isto é,
estabelecimento de relações muitas de interinfluências; construindo, portanto, o departamento chave
para uma concepção dinâmica das relações sociais. Ao interagirem, as pessoas não vêem apenas
como objetivos físicos, mas como indivíduos dotados de atitudes, expectativas de comportamentos,
sentimentos e capacidade de julgar.
Portanto a ação de cada uma terá como base não só suas próprias atitudes para com a outra,
mas também suas próprias expectativas quanto ao comportamento da outra e suas ações são
significativas; e a interação pública modificação do comportamento dos que dela participam;
comportamento em que se trata o contato social, seja direto ou indireto, como pré requisito essencial
ao processo social, pois é por ele que se estabelecerá a comunicação. Podemos dizer também que a
interação social é o processo social por soma de todos os interistímulos e respostas de todos os seus
possíveis agentes; sendo um processo incluso, abrangendo tipos distintos de interistímulos e reações,
enfeixa a cooperação como a opinião, formas principais de interação social; sendo a interação social
como processo social responsável por várias das quais as mais importantes são a socialização, a
formação da personalidade e as modificações do comportamento.

126
Lição 3
19. Acomodação e Assimilação

A relação existente entre acomodação e assimilação ocorre no fato de que ambas procuram
solucionar uma situação de conflito.
Quando, num conflito um dos adversários derrota o outro, o derrotado para não correr o risco
de ser totalmente liquidado, aceita as condições impostas pelo vencedor ficando numa condição de
subordinação. Quando alguém cumpre uma lei ou segue um costume com os quais não concorda, só
para evitar sanções também se enquadra numa caso de acomodação.
A acomodação provoca a diminuição do conflito e na assimilação se suspendem os conflitos;
como no caso do imigrante, que a princípio se acomoda no novo país, vai sem perceber, se deixando
envolver pelos costumes, símbolos, tradições e língua da nova pátria; procurando assim a assimilação
das uma solução ao conflito ao social frequentemente com a acomodação.

127
20. Competição e Conflito

Basicamente a diferença que ocorre é a seguinte:


A competição é inconsciente, impessoal e permanente, por oposição do conflito que é
consciente e pessoal e portanto emocional e a intermitente. A competição é a luta, consciente ou
inconsciente pela posse de bens escassos, seja eles materiais ou não. Enquanto social propriamente
dita, a competição é a é a luta que se estabelece para a ocupação de posições sociais, as limitações
impostas pela sociedade.
Havendo conflito a oposição visará, como objetivo imediato, ao dano ou a eliminação do
adversário que se interpõe entre o agente e o fim último em vista. O conflito surge. Quando há
entrechoque de interesses, quer os agentes desejam o mesmo, quer pretendem impor o seu aos
demais.

128
21 Proximidade Física

Porque o contato é a base da vida social, o passo inicial para que ocorra qualquer associação
humana; é a fase incipiente da associação humana, através da qual ocorrem as interações sociais,
aproximando ou dissociando os indivíduos.
É necessário para o contato a realização das ações sociais entre os indivíduos provocando
uma modificação de comportamento nesses indivíduos envolvidos, resultante do contato e da
comunicação estabelecida entre eles.
Portanto a proximidade física não é suficiente para que haja o contato. As pessoas não se
vêem apenas como objetivos físicos, mas como indivíduos dotados de atitudes, expectativas de
comportamento, sentimento e capacidade de julgar. Portanto, a ação de cada uma terá como base não
só suas próprias atitudes para com a outra mas também suas próprias expectativas quanto ao
comportamento da outra ou melhor, às prováveis reações ou respostas do outro para consigo,
estabelecendo assim o contato.
O contato social seja direto (frente a comunicação) é um pré requisito essencial ao processo,
pois é por ele que se estabelecerá a comunicação, sendo esse o fator principal para a ocorrência do
contato. Com a industrialização e a consequente urbanização diminuíram os grupos de contatos
primários, pois predominam os contatos secundários. As relações humanas nas grandes cidades são
fragmentadas e impessoais devido aos contatos sociais secundários. A proximidade física não quer
dizer proximidade afetiva numa metrópole onde a violência é grande, e esta proximidade
consequentemente não estabelecerá o contato.

129
22. Mudança Social

A dificuldade consiste na mudança da estrutura social, pois através da mudança social alteram-
se as relações sociais, e essa mudança social se estabelece de duas formas, através das forças
endógenas (internas) isto é, por mudanças originadas dentro da própria sociedade invenções, ou por
forças exógenas (externas), quando são provenientes de outras sociedades.
As mudanças sociais não ocorre sem esbarrar em obstáculos e resistências. Assim foram
preciso séculos para que se consolidassem grandes mudanças, como o cristianismo e a democracia;
portanto a estrutura social impõem obstáculos e resistências que dificultam a mudança social:
obstáculo são barreiras oriundas da própria estrutura social o que dificultam ou impedem a mudança
social.

Em toda a estrutura social existem grupos ou camadas sociais cujos interesses ou valores
fazem com que resistam abertamente à mudança social e as atitudes individuais e sociais podem
favorecer ou não a mudança social. Consequentemente as invasões e a difusão cultural são processos
que ocasionam as mudanças sociais, pois suscitam modificações nos costumes, relações sociais e
instituições.
Essas alterações podem ser de pequeno porte passando até despercebidas, ou podem alterar
quase todos os setores da vida social. As mudanças gradativas não destroem as instituições sociais
existentes, mas visam melhorá-las; já as mudanças profundas e violentas alteram todo o sistema de
relações sociais e culturais a mudança cultural ocorre quando dois ou mais grupos entram em contato
direto e contínuo, ocorrendo mudanças culturais nos grupos, pois verifica-se a transmissão de traços
culturais de uma sociedade para outra, alguns traços são rejeitados e outros aceitos, incorporando-se
frequentemente com alterações significativas, à cultura resultante, tanto da diversidade das
experiências de vida dos grupos, quanto das interpretações dessas diferenças, negando
preponderância de um determinante responsável pela situação e transformação da sociedade.

130
23. Defasagem Cultural

Podemos afirmar que a cultura compreende artefatos, bens processos técnicos, , hábitos e
valores herdados; a aquisição e a perpetuação da cultura é um processo social resultante da
aprendizagem; onde cada sociedade transmite as novas gerações a patrimônio cultural que recebeu
de seus antepassados e cada povo tem uma cultura própria cultural e receber influências de outras
culturas.
Cada geração passa por um processo de aprendizagem, no qual assimila a cultura de seu
tempo e se torna apta a enriquecer o patrimônio cultural da gerações futuras e é nesta capacidade que
tem os grupos de perpetuar a cultura que reside a possibilidade de progresso. As mudanças dos
diversos elementos da cultura não acontecem no mesmo ritmo, alguns se transformam mais rápido
que os outros e ocorrendo um desequilíbrio entre os diferentes aspectos da cultura, estaremos diante
da defasagem da cultura, pois a cultura não é sempre a mesma e apresentando formas e
características diferentes no espaço e no tempo; diante o correndo risco e perder, em suas análises a
dimensão da dominação política econômica que dá numa sociedade e que é grande parte responsável
pela predominância de determinados modos de agir, pensar e sentir; podendo ignorar outros conceitos
importantes para a compreensão da sociedade, como a sociedade, como a ciência, progresso nação
etc., tomando um conceito universalizante.

O processo de industrialização tem usado uma tecnologia cada vez mais moderna, utilizando
pouca mão - de - obra; mas o progresso tecnológico não abrange o uso da mão de obra,
principalmente da classe operária, que acabam não estando integradas em atividades produtivas,
gerando o desemprego e outros que acabam exercendo atividades para sobrevivência, exigindo
apenas uma parcela mínima de sua capacidade de trabalho, e essas pessoas apresentam um baixo
nível de renda e de consumo e vivem aglomeradas em favelas e cortiços, constituindo a camada
marginal do sistema econômico, pois esse processo de industrialização tende a produzir um
crescimento nessa camada marginal, pois há cada vez mais pessoas que não conseguem participar
efetivamente do sistema produtivo e da riqueza gerada.
Diante do atual processo de globalização, a industrialização se torna cada vez mais técnica e
precisa e voltadas para a qualidade total, o processo em que utiliza-se cada vez menos a mão-de-obra
e cada vez mais tecnologia. Esse processo tecnológico, teria a função de beneficiar a população, mas
a população continua na miséria, sem alimentação, moradia, saúde, educação e as grandes cidades
convivem com a crescente marginalidade e a deterioração dos serviços públicos. O desenvolvimento
social de um povo só será possível por meio do atendimento à essas necessidades, para as quais
precisam ser orientados os investimentos.

131
24. Anomia

A mudança social se refere a qualquer alteração nas formas de vida de uma sociedade e
alteram-se as relações sociais e a anomia ocorre dentro de uma situação social em que as próprias
normas estão em conflito, refletindo nos indivíduos de uma sociais.
Enquanto a mudança social ocorre nas formas de vida de uma sociedade e nos processos e
instituições sociais, a anomia refere-se a um estado dos indivíduos e não a um estado objetivo da
sociedade, refletindo o estado de ânimo dos indivíduos cujas raízes morais se partiram e que não mais
possuem qualquer senso de continuidade e obrigação, existindo em cada indivíduo como resultante
das crises individuais.

132
25. Educação Escolar

A educação escolar pode ser de mudança ou de estagnação social devido a maneira como a
educação escolar está organizada, pois é o resultado da organização da sociedade em conjunto.
Os mais pobres são marginalizados pela escola do mesmo jeito que são explorados no plano
da relações de trabalho e impedidos de participar da vida política. A escola não é democrática porque
a sociedade em que vivemos ainda não é verdadeiramente democrática. Os donos do poder também
são os donos do saber e os pobres são excluídos tanto da escola quanto da participação nas
decisões.
Vale a pena tentar mudar a educação escolar, pois quando se mexe na escola, estamos
mexendo na sociedade, e a sociedade por sua vez também não é coisa fixa, parada, que não se
muda, pois a sociedade não são só os donos do poder, a sociedade somos todos nós.
A educação escolar pode e deve mudar, mas somos nós que temos de procurar essas
mudanças, muita coisa pode ser feita para melhorar a escola, tornando-se urgente e prioritário adotar
medidas que assegurem a todas as crianças o ingresso na escola e sua permanência no ensino pelo
maior tempo possível, para que haja uma mudança social e não continue a existir esta estagnação na
sociedade, na formação dos profissionais pois os alunos mal formados hoje serão os profissionais de
amanhã.

133
26. Estilo de Vida

A consideração entre o indivíduo e a sua ação, e a compreensão de ação dos indivíduos e a


existência dos fenômenos sociais, como os estado a empresa capitalista, a sociedade anônima, mas
tão somente a de ressaltar a necessidade de compreender as intenções e motivações dos indivíduos
que vivenciam estas situações sociais, com determinadas motivações e intenções, refletindo sobre a
realidade em que vivem, mesclando ou não a contribuição de diferentes linha teóricas, demonstrarão
as possibilidades e a diversidade de pensamento na sociedade capitalista, podendo pensar em
diferentes tipos de ação social agrupando-as de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam
sua ações e que poderão ser compreendidas a partir dos tipos de ação social criados por ele e sendo
levado a uma escolha movidos nos interesses que remetem a vários desses tipos, podendo definir qual
a forma de orientação que será determinante; escolhendo diferentes formas de conduta; dependendo
de escolhas pessoais que devem ser feitas visando aos aspectos da realidade que se quer explicar.

Estamentos de classes se refere à camada social semelhante à casta, porém mais abertas, na
sociedade estamental a mobilidade social vertical ascendente é difícil, mas não impossível, como na
sociedade de castas. As castas. As classes sociais expressa as desigualdades sobre as quais se
assenta a sociedade capitalista; compreendendo que a maneira pala qual se estratifica uma sociedade
depende da maneira com que os homens se reproduzem socialmente. Na estratificação em castas
existem sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade não consegue alcançar posição
social mais elevada; pois a posição social é atribuída por ocasião de seu nascimento, independente de
sua vontade e sem perspectiva de mudança.

Pelo fato do indivíduo, ao longo de sua vida participar de vários grupos sociais, usando atingir
um objetivo, correspondendo a uma participação ou não participação de determinado grupo, pois
existem normas, hábitos e costumes, divisões de funções e posições sociais definidas que aproximam
ou afastam os indivíduos provocando ou não a participação.

134
27. Os Sociólogos Definem Seit: Campo de Competência

Nem todos ficaram muito impressionados pelas provas de acordo básicas de objeto nos manuais
de introdução à sociologia. Alguns sustentariam que os manuais podem abranger os mesmos temas
apenas porque a experiência ensinou que esses são os assuntos a respeito dos quais os estudantes
mais desejam ouvir falar. Isso poderia ser dito a respeito de relações raciais, mas dificilmente a respeito
de um tópico como metodologia cientifica, que é também um tema constante dos manuais. De qualquer
modo, muitos pensarão que nem a audiência de estudantes principiantes, nem os autores que escrevem
manuais para eles são a melhor autoridade para decidir acerca do objeto de um campo de estudos.
Desejam saber como é que a profissão, como um todo, define seu objeto. Felizmente, é relativamente
fácil verificar isso, a partir de estudos realizados pela American Sociological Association.
Em 1950, e novamente em 1959, cada membro da American Sociological Association foi
solicitado a indicar três campos da sociologia em que se sentia qualificado para ensinar ou pesquisar.
Cada sociólogo tinha liberdade para descrever a competência, em termos pessoais, de forma que as
categorias que surgiram não estavam predeterminadas. As respostas individuais foram depois
selecionadas e agrupadas em conjuntos que, aparentemente, de fato abrangiam todos os campos
mencionados. Houve um notável acordo entre os tópicos citados pelos especialistas como um todo e os
temas mencionados por um terço ou mais dos manuais de sociologia. No entanto, existem alguns
poucos casos em que as listas não coincidem completamente.
Assim, os manuais podem ter secções a respeito de governo, política, relações internacionais e
guerra, mas, como regras, não discutem sistematicamente a sociologia do conhecimento, da historia e
do direito, que foram citados como campo de competência, no levantamente dos sociólogos. Como cada
um desses campos foi escolhido por apenas 1 ou 2% dos sociólogos, pode-se sustentar que a questão
não é muito séria. No entanto, muitos sociólogos notarão, com pesar, que os manuais contemporâneos
não deem mais atenção a assuntos que tinham papel tão importante na história da pesquisa e dos
pensamentos sociológicos. Apesar disso, podemos concluir que os especialistas, como um todo,
identifica, como de interesse sociológico, aproximadamente a mesma amplitude de tópicos identificada
pelos autores de manuais.
Além disso, essas duas fontes apresentam grande acordo quanto à relativa acentuação que
atribuem a diferentes campos. Isso pode ser edificado pela proporção de todos os sociólogos que
escolhem qualquer tópico especifico como uma área para especialização. No alto da lista estão os
assuntos com que já nos familiarizamos: cultura, aspectos psicológicos da vida social, casamento e
família, metodologia, relações raciais e étnicas, comunicação e opinião estão entre os campos em que
mais sociólogos admitem sua competência. O caso notável de discrepância inclui teoria sociológica e
sociologia geral, que estão entre os campos mais importantes para os especialistas, mas que não são
frequentemente tratados como um tópico separado nos manuais para principiantes. Pode-se,
evidentemente, citar, numerosas razões pelas quais seria de bom aviso não aceitar essa abordagem
como capaz de dar uma resposta definitiva para o objeto da sociologia.
O que os sociólogos estão fazendo hoje pode não refletir os interesses tradicionais constantes e
centrais da sociologia como uma disciplina. Como exemplo, podemos citar o crescimento notavelmente
rápido do interesse pela sociologia da medicina. Antes da Segunda Guerra, não havia mais do que
aproximadamente uma dezena de norte-americanos que trabalhavam na sociologia da medicina; por
volta de 1960, havia varias centenas nessa atividade. Entre 1950 e 1959, a sociologia médica
apresentou, proporcialmente, o maior crescimento em todas as especializações de sociologia, pois
nesse período aumentou de sete vezes o numero dos que admitiram competência nesse campo.
Inevitavelmente, uma secção especial, dedicada a esse assunto, foi formada na Associação Americana
de Sociologia, colocando-o em pé de igualdade com alguma das especializações mais antigas e mais
tradicionais.
O aumento na pesquisa sobre saúde e hospitais pode talvez ser explicado pelo fato do
Congresso dos Estados Unidos ter criado um novo Instituto Nacional de Saúde, que recebeu um grande
orçamento para pesquisa. O estudo sociológico de doença e medicina tornou-se mais realizável e mais
atraente. Nem todas as mudanças no interesse sociológico podem ser explicadas tão facilmente. Logo
abaixo da sociologia médica, em sua proporção de crescimento entre 1950 e 1959, estava o campo de
estratificação, que também aumentou sete vezes. Neste caso, é difícil supor que maior possibilidade de
recursos de pesquisa, de fundações ou do governo, explique o maior interesse no estudo de classes
sociais e mobilidade social. Ao contrario, a crescente importância desse tópico deve ser reconhecida
com decorrência espontânea do interesse num aspecto fundamental de todas as sociedades e que,

135
infelizmente, tinha sido esquecido no passado mais próximo. Os guardiões da tradição clássica na
sociologia podem também alegrar-se com o fato de que, entre os outros campos que ganharam
adeptos, em proporção bem acima da media, estavam: sociologia do direito, religião, arte, organização e
trabalho.
No conjunto, todavia, a relativa atração de diferentes campos na especialização permaneceu
notavelmente estável, na década de 1950 a 1959. Dentre os 16 campos mais aceitos em 1950, todos,
com a exceção de um (sociologia rural), estavam entre os mais aceitos nove anos depois. Além disso,
houve pouquíssimas mudanças dramáticas na ordem de classificação; a mais espetacular foi o
crescimento de organização social (onde se inclui o estudo de estrutura social, instituições,
liderança e estrutura institucional comparativa), que passou dos 16.11 para o 4.0 lugar. No entanto,
entre os 16 mais aceitos, a mudança média na classificação foi de menos de 2 pontos.

136
28. A Verificação de Preferência da Elite

Pode-se objetar que, embora as preferências e capacidades dos sociólogos médios sejam
interessantes, não devem ser considerados mais importantes. A fim de compreender os interesses
centrais de uma disciplina, deve-se olhar para os lideres, a elite que estabelece a tendência geral e por
sua influencia determina a forma e orientação do trabalho seguido pelos outros. Nem sempre é fácil
verificar quem constitui a elite, e mesmo quando é identificada, nem sempre torna sua posição
inteiramente explicita. Talvez se possa concordar que um grupo que claramente pertence à elite é a
daqueles que desempenham os principais papéis na organização do programa de reuniões anuais de
sociologia e o dos que publicam artigos nas principais revistas de sociologia. Em 1957, as reuniões de
sociologia forma dedicadas a uma ampla resenha de Problemas e Prospectos de Sociologia. Esse
levantamento destina-se a lidar com todos os principais ramos da sociologia. Sob a orientação de uma
Comissão de Programa Especial, 3.3 aproximadamente 30 especializações de sociologia foram
escolhidas e estudadas; depois, os resultados foram reunidos em um livro muito usado, denominado
Sociology Today.
Os tópicos já conhecidos aparecem novamente: teoria sociológica,, metodologia, o individuo na
sociedade, a família, a comunicação, relações étnicas e raciais e assim por diante. Houve algumas
comissões importantes, tais como a sociologia histórica e militar – que, segundo a afirmação explicita
dos organizadores, foram omitidas por falta de espaço – tal como sociologia da doença mental. No
conjunto, todavia, a escolha de tópicos acompanha o esquema que já discutimos. O fato de as reuniões
de 1957 da Americam Sociological Society serem representativas dos interesses dos sociólogos mais
ativos pode ser verificado pelo exame da distribuição, segundo os assuntos, dos artigos que escrevem
para as revistas de sociologia. Embora existam diferenças de acentuação, de acordo com os interesses
específicos das varias revistas, os temas conhecidos predominam nas revistas dedicadas à sociologia
geral. Por exemplo, na American Sociological Review, em 1959, os tópicos predominantes formam
controle e divergência social, diferenciação e estratificação, metodologia cientifica, e assim por diante,
de acordo com a lista que já encontramos.

137
29. Os Campos de Interesses Sociológicos

Os manuais para cursos de introdução à sociologia, a participação media na American


Sociological Association e os lideres da profissão parecem estar basicamente de acordo quanto aos
tópicos que constituem o objeto da sociologia. Portanto, podemos construir um esquema geral dos
campos da sociologia, com o qual quase todos concordariam.

TABELA 1
UM ESQUEMA GERAL DO OBJETO DA SOCIOLOGIA

I. Analise Sociológica
Cultura humana e Sociedade
Perspectiva Sociológica
Método Cientifico na Ciência Social.

II. Unidades Fundamentais da Vida Social


Atos Sociais e Relações Sociais
A Personalidade do Individuo
Grupos (onde se incluem Classe e Etnia) Comunidades: Urbanas e Rurais
Associações e Organizações
Populações
Sociedade

III. Instituições Sociais Básicas


Família e Parentesco
Economias
Políticas e Jurídicas
Religiosas
Educacionais e Cientificas
Diversões e bem-estar
Estéticas e Expressivas.

IV. Processos Sociais Fundamentais


Diferenciação e Estratificação
Cooperação, Acomodação e Assimilação
Conflito Social (inclui Revolução e Guerra) Comunicação (inclui Formação,
Expressão e Mudança de Opinião)
Socialização e Doutrinação
Avaliação Social (o Estudo de Valores)
Controle Social
Divergência Social (Crime, Suicídio e etc.) Integração social
Mudança Social.

É difícil que muitos sociólogos digam que qualquer item dessa lista não merece sua posição.
Talvez exista um ou dois assuntos que muitos sociólogos veriam como omissões básicas, mas na
maioria dos casos seria possível mostrar que estão incluídos em alguma outra categoria. Isso não
significa, de forma alguma, que a lista aparentemente infindável de especialização. Não apenas existe
uma sociologia de pequenos grupos, mas alguns departamentos dão cursos sobre o grupo de duas
pessoas.
Não apenas existe uma sociologia geral da organização; existe também uma sociologia especial
do hospital. Existe uma sociologia especial e bem desenvolvida do estranho, e os sociólogos chegaram
a escrever sobre a sociologia da bicicleta. Mas todos esses casos podem serem vistos como casos
especiais e refinamentos de categorias mais gerais de interesse sociológico, sobre cuja inclusão existe
acordo geral. Devemos lembrar, no entanto, que o acordo geral sobre a adequação de tais tópicos como
assuntos de interesse sociológico não se estende necessariamente a uma avaliação de sua relativa
importância, nem a julgamentos quanto à maneira de estuda-los.

138
30. O Que a Razão Sugere

Pode-se sustentar, com razão, que nem o que foi proposto pelos fundadores, nem o que os
sociólogos atuais fazem é o caminho mais correto para determinar o objeto adequado da sociologia.
Isso talvez deva ser decidido por um processo de analise lógica. No entanto, como logo verificaremos,
está longe de ser evidente qual é, exatamente, o fundamento mais lógico para atribuir responsabilidade
para o estudo de questões humanas. Aparentemente, cada um dos ramos do conhecimento social e
humorístico tem um objeto específico. A ciência política, por exemplo, lida com as maneiras pelas quais
a sociedade distribui o direito de usar poder legítimo.
Analisa a respeito de governo e autoridade, descreve a distribuição rela das quais se exerce o
poder. Seguindo essa orientação, nossa tarefa se torna apenas a de descobrir para a sociologia algum
objeto especial ou distinto, preferivelmente alguma coisa concreta, específica e facilmente identificável,
que não seja considerada como o objeto central de estudo de alguma outra disciplina estabelecida. O
olhar mais superficial às facilmente identificáveis instituições básicas, aos produtos e aos processos
sociais revela que, na realidade, existem tais assuntos não distribuídos ou não reclamados. A política e
a economia são reclamadas e, em grande parte, o mesmo ocorre com a literatura, a linguagem, a
educação e o comercio.
Mas ainda restam à família, a delinquência, as classes sociais, os grupos raciais e étnicos, a
comunidade rural e urbana. Nenhum desses componentes básicos da sociedade tornou-se o objeto
característico de um rumo especializado do conhecimento que tenha a posição de uma disciplina
dependente, comparável à política ou à economia. Ao contrario, cada um desses assuntos tornou-se,
ate certo ponto, a grande categoria residual das ciências sociais. Não tem um, mas muitos objetos.
Alguns poderiam dizer, na realidade, que nesse sentido a sociologia não tem um objeto característico. É
apenas um acúmulo de disciplinas unidas, principalmente, pelo fato de lidarem com instituições e
processos sociais que, histericamente, não conseguiram tornar-se uma posição independente como
disciplinas intelectuais. Naturalmente, a qualquer momento uma dessas especializações pode ainda
estabelecer-se como uma disciplina independente, dando um fundamento para departamentos nas
universidades e tornando-se reconhecida como um campo independente por sociedades cultas,
fundações e comunidade de eruditos como um todo.
Até certo ponto, isso já aconteceu com o estudo da população e demografia, com a criminologia
e a penalogia, a sociologia industrial e o estudo da família. Se o longo e continuo processo de
diferenciação e especialização na erudição continuasse até o ponto de todos os sobre campos da
sociologia se tornar disciplinas independentes, será que a sociologia deixaria de existir como disciplina
independente? A rigor, só podemos dizer não se pudermos indicar um objeto especifico que restaria
para a sociologia. Felizmente, podemos fazer isso. Na realidade, auxiliados pela analise das secções
precedentes deste capitulo, podemos propor vários objetos específicos que a sociologia ainda poderia
exigir. São eles, em ordem decrescente de tamanho e complexidade: sociedades, instituições e relações
sociais.

139
Lição 4
31. A Sociologia Como Estudo da Sociedade

A Sociologia não precisa ser o estudo de qualquer parte isolada; pode ser o estudo do todo –
isto é, a sociologia pode ser a disciplina especial que considera a sociedade como sua unidade de
análise. Nesse caso, seu objetivo seria descobrir como as instituições que constituem uma sociedade
estão relacionadas entre si, em diferentes sistemas sociais. O especialista em governo pode estudar
tipos de governo, e perguntar como as funções legislativas, judiciárias e administrativas são distribuídas,
como se relacionam entre si as unidades que realizam tais funções, quais as consequências da
descentralização administrativa quando o poder legislativo continua difuso. Assim, mesmo, pode haver
um ramo do conhecimento que se concentra na sociedade como a unidade de análise.
Tal estudo da sociedade teria pelo menos duas divisões principais, uma mais interessada pela
diferenciação interna de sociedades específicas, a outra destinada a tratar as sociedades como uma
população que tem certas características internas identificáveis. Neste último caso, a sociologia proporia
questões do tipo seguinte: existe qualquer prova de que tipos de sociologia por exemplo, os grandes
impérios tendem a durar um período específico de tempo? Será que as sociedades passam por estados
definidos de desenvolvimento? As questões desse tipo já dominaram o pensamento sociológico,
especialmente sob a forma da teoria evolucionista de desenvolvimento social.
O descrédito das teorias evolucionistas contribui para desestimular outros esforços nessa
direção. Atualmente, são muitos mais aceitos e, aparentemente, muito mais produtivos os estudos da
sociedade que pesquisam, fundamentalmente, a sua estrutura interna. Algumas questões típicas,
propostas nessa tradição, são as seguintes: quais são os problemas internos que qualquer sociedade
deve enfrentar? Quais são os componentes mais comuns encontrados em quase todas as sociedades?
Qual a maneira típica pelas quais as sociedades distribuem responsabilidade por várias funções? Quais
as consequências da combinação de determinadas instituições – por exemplo, até que ponto o padrão
industrial e vida econômica são compatíveis com o tipo de família extensa?
Grande parte do que se chama frequentemente sociologia histórica e comparativa segue esse
modelo. Numa das suas series clássicas de estudos, Max Weber propôs o seguinte conjunto de
perguntas: Será que cada ética para a ação econômica do homem? E na medida em que isso fosse
verdade, daí não decorreria que os praticantes de certas religiões seriam mais ativos e eficientes na vida
econômica do que os que seguem diferentes éticas religiosas? Weber investigou essas questões numa
série grandiosa de estudos sobre a influência da religião na atividade econômica na China, na Índia e na
Europa Protestante, e neste último caso apresentou um dosa estudos mais conhecidos e mais
discutidos de toda a ciência social, em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Citamos
Weber como um exemplo do estudo da sociedade porque o seu interesse não era a religiosa como tal,
mas o efeito que tipos específicos de organização religiosa tiveram em outros aspectos da vida social e,
especificamente, na vida econômica.

140
32. A Sociologia, Como o Estudo de Instituições

A ideia de que a unidade característica da análise sociológica é a sociedade, mais


especificamente as relações entre os elementos que a compõem, é antiga e muito aceita. Pode-se
sustentar, no entanto, que as constituições como tais famílias, a igreja, a escola, o partido político –
constituem um objeto rural e específico para a sociologia, pois a sociedade como um todo já é a unidade
de análise nos campos da história e da antropologia.
As questões tratadas por uma disciplina especial, dedicada às instituições, seriam do seguinte
tipo: quais as características que todas as instituições têm em comum? Quais as dimensões através das
quais podem ser distinguidas, e como variam tais dimensões quando comparamos instituições que
realizam diferentes funções? Quaisquer que sejam suas funções, será que as instituições chegam a ter
outras características comuns, pelo fato de serem semelhantes quanto ao tamanho, grau de
especialização, proporção e autonomia e assim por diante?
Durkheim, já em 1901, dizia que a sociologia pode ser definida como a ciência das instituições
mas essa forma de análise sociológica não se desenvolveu muito. No entanto, a crescente importância,
no mundo moderno, de um tipo de instituição - a grande organização - deu novo interesse às
propriedades gerais das instituições e às pesquisas a respeito.

141
33. A Sociologia, Como Estudo de Relações Sociais

Assim como as sociedades são sistemas complexos de instituições, também as instituições


podem ser pensadas como sistemas complexos de relações sociais ainda mais simples. A família, por
exemplo, é constituída por muitos conjuntos de relações – as que existem entre homem e mulher, pai e
filho, irmão e irmã, avô e neto. Cada uma delas podem ser estudada como um tipo específico de
relação. E em todas as relações podemos investigar algumas acentuações comuns, que envolvem
alguns atributos, tais como tamanho do grupo (díade, tríade, etc.) ou a qualidade da relação – tal como
ocorre, por exemplo, no estudo de denominação e submissão.
A partir da análise, podemos sustentar que tais relações constituem um objeto especifico e que,
assim como as propriedades comuns e características das instituições podem ser estudadas em si e por
si mesmas, também é possível estudar as relações sociais da mesma forma. Indo ainda mais longe,
poder se sustentar que tais relações são apenas as moléculas da vida social, e que existe uma unidade
ainda menor, o ato social, o verdadeiro átomo da vida social, e que poderia ser o objeto específico da
sociologia.
Em capítulo posterior discutiremos mais amplamente o sentido de tais termos. Aqui, notaremos
apenas que Max Weber considerou muito seriamente a ideia de que a sociologia poderia ser, sobretudo,
o estudo de relações e atos sociais, e elaborou um conjunto de categorias para sua descrição e sua
análise. Outros eminentes sociológicos alemães aceitaram essa perspectiva. Leopolde Von Wiese
argumentou longamente a favor do tratamento das relações sociais como o único objeto característico
da sociologia, e grande parte dos trabalhos de George Simrnel foi uma aplicação desse princípio. Entre
os sociólogos contemporâneos, Taleott Parsons apresentou opiniões semelhantes. No entanto, só
recentemente se tem realizado, em escala considerável, pesquisa empírica sistemática focalizada no ato
social e lia relação social, sobretudo no estudo de pequenos grupos e na pesquisa industrial.
De acordo com o princípio de cada disciplina deve ter um objeto específico, verificamos que séries
de instituições que não conseguiram tornar-se o objeto de qualquer disciplina estabelecida tornaram-se
subdivisões da sociologia. Vimos, também, que mesmo que algumas instituições, como a família, se
tornassem objeto de disciplinas separadamente estabelecidas, ainda assim as sociedades, as
instituições, as relações sociais e os processos sociais, tais como diferenciação, cooperação, avaliação
e competição continuariam como focos distintos de análise sociológica.
Evidentemente, a antropologia também lida com todos esses assuntos e a historia também se
interessa por sociedades e instituições. Para distinguir precisamente dois campos, precisamos
considerar, não apenas seu objeto, mas também seus objetivos e métodos. Por isso, deixamos para o
próximo capitulo outras distinções entre sociologia, historia e antropologia. Neste capitulo, exploramos
três diferentes caminhos que levam a um delineamento do0 objeto da sociologia, e consideramos,
sucessivamente: o que os fundadores disseram que os sociólogos fazem e o que a lógica exige. Todos
os três caminhos indicam que a sociologia lida com uma grande amplitude de instituições e sociais.
O direito da sociologia a alguns desse processo e a algumas dessas instituições não apresenta
requisitos principais. É impensável que uma instituição social não constitua objeto de estudo intensivo.
Portanto, a sociologia pode ser vista não como uma coleção de sub-disciplinas que lidam com
instituições e processos sociais que não são reclamados por disciplinas mais especializações. No
entanto, precisamos reconhecer que, mesmo quando algumas instituições, como as econômicas e as
políticas, constituem o objeto de algumas especializadas e independentes do conhecimento,
continuam como objetos de pesquisa sociológica. Isso não é apenas redundância ou imperialismo
acadêmico. O aspecto de qualquer instituição ou processo social que o lida a qualquer outro é o seu
caráter como sistema interligado de ação.
Portanto, podemos dizer que a sociologia é o estudo de sistema social e de suas inter-
relações. Verificamos que o mais importante desses sistemas de ação, por ordem crescente de
tamanho e complexidade, são os seguintes: atos sociais isolados, relações sociais, organizações e
instituições, comunidades e sociedades. Isso não se tornou evidente para nós a partir do estudo de
manuais porque ai só podemos dizer quais as instituições discutidas e não qual de seus aspectos era
acentuados. Ao recordar, agora, os assuntos em que os sociólogos se consideravam competentes,
verificamos que entre as especializações mais frequentemente citadas estavam teorias e sociologia
geral.
Antes, não investigamos o sentido desses termos. Se o fizéssemos, teríamos descobertos que,
por essas escolhas, muitos sociólogos exprimiam sua opinião de que a sociologia não apenas uma
coleção de sub-disciplinas sobre todos os domínios da vida, mas, ao contrario, é o estudo dos

142
aspectos da vida social que estão presentes em todas as formas sociais. Naturalmente, essa ideia
foi explicitada frequentemente nos clássicos da sociologia. Inevitavelmente a encontramos, também,
se procurarmos, por analise lógica, delinear um objeto distinto para a sociologia, que não entre em
conflitos com os direitos de disciplinas que focalizam instituições especificas, tais como as políticas e
econômicas. Para compreender a sociologia, precisamos, evidentemente, saber algo de seu objeto. No
entanto, ainda mais fundamental para a definição de caráter de qualquer disciplina são as questões
que propõe a respeito de seu objeto e as maneiras pelas quais procura respondê-las.
As listas de assuntos, como a apresentada na Tabela, nos dizem do que trata a sociologia,
sem responde à questão :O que é a sociologia? ate aqui, estamos na posição de um aluno que deve
escrever um trabalho sobre a biologia como um ramo da ciência e escreve que é o estudo de braços,
pernas, cabeças e assim por diante: que também se refere à circulação, respiração e digestão: que,
além disso, compara homens e mulheres. Essa informação é certamente algo com que começa, mas
define o campo de estudo. Precisamos ainda descobrir a perspectiva especifica através da qual a
sociologia vê esses assuntos, como os estuda, quais os métodos de pesquisa que utiliza, que tipo de
conclusão tira de sua investigação. Esses são os temas que nos ocuparão nos capítulos seguintes.
Neles,claro que algumas das diferenças de acentuação, a que até aqui nos referimos ao esclarecer o
objeto da sociologia, se tornam muito importante ao tomar decisões quanto à relativa acentuação a ser
dada a vários assuntos e quanto aos métodos para pesquisa-los.

143
34. A Perspectiva Sociológica

Neste capitulo nos voltamos para duas tarefas: esclarecer a relação entre a sociologia e as
outras disciplinas que lidam com o homem na sociedade, e apresenta uma definição mais formal da
sociologia. Ambas apresentam assuntos não completados e que foram trazidos do capitulo anterior.
Em conjunto, nossa analise dessas questões apresenta uma concepção do que é característico da
perspectiva sociológica.
Anteriormente, já deixamos explicita nossa opinião de que, isoladamente, o objeto da
sociologia não poderia servir para definir o campo de estudo. Portanto, não precisamos de muito
tempo para justificar nossa tentativa de uma definição mais formal das características essenciais da
analise sociológica. A relação da sociologia com as outras disciplinas é questão diferente. As
disciplinas intelectuais são tão complexas e diferentes que qualquer caracterização rápida deve,
necessariamente, estar cheia de imagens arbitrarias e até deformada. Quando tentamos distinguir os
ramos do conhecimento, há, inevitavelmente, uma grande tentação para exagerar as diferenças, em
vez de reconhecer as semelhanças.
Apesar desses graves riscos, evidentemente precisamos apresentar certo mapa do terreno
àquele que desejam orientar-se no complexo domínio das ciências sociais. As primeiras impressões,
necessariamente superficiais, podem alterar-se, à medida que o principiante se torna mais orientado e
aprofunda sua compreensão da ciência social. E é importante reconhecer que as diferenças na
perspectiva e na pratica das varias disciplinas que lidam com o homem na sociedade são muitas vezes
fundamentais e permaneceram por longos períodos de tempo.

144
35. Sociologia e Ciências Afins

A sociologia é uma ciência do comportamento. Procura explicar o comportamento humano,


contemporâneo ou passado, tal como o experimenta diretamente ou o encontramos corporificado em
artefatos, monumentos, leis e livros. Mas, nesse sentido, a historia, a economia e até a critica literária
são também ciências do comportamento. Para entender o que é a sociologia precisamos compreender
o que é característico da abordagem sociológica desses fenômenos.
A comunidade acadêmica não é um navio impenetrável, inteiramente dividido em
compartimentos impermeáveis de conhecimento. Qualquer esforço para distinguir a sociologia d outras
disciplinas precisa ser um pouco arbitrário e à medida que o conhecimento progride e se transformam
as tendências de pesquisas, as definições atualmente corretas das varias ciências sociais se tornarão
imprecisas. Ao ver o problema numa perspectiva histórica, o professor Joseph J. Schwab, filosofo e
historiador da ciência, diz que um modo de investigação desacreditado por um cientista, afastado em
certa época, desprezado em uma ciência, reaparece e é produtivo em outras mãos e em outras
épocas ou em outras ciências.
Apesar disso, os ramos do conhecimento, interessados pelo homem e seu trabalho, revelam
numerosas características distintas que, hoje, claramente separam uma disciplina de outra. Entre as
questões básicas que propomos como fundamentos para caracterizar tais disciplinas, estão as
seguintes: saber se é multidimensional ou se focaliza apenas um aspecto da vida social e, se isso
ocorre, qual é esse aspecto; saber se interessa diretamente pela observação do comportamento ou se
concentram em dados mais afastados da ação cotidiana; saber se atribui um papel fundamental à
teoria abstrata e à generalização, ou se acentua a descrição do imediato e do concreto; saber se
acentua a mensuração e a utilização matemática dos dados, ou se preferem à observação direta e
uma forma mais empática ou clinica de compreensão da ação humana. Como as mesmas questões
podem ser igualmente propostas a todas as disciplinas, não sugerem uma ordem natural de
apresentação. Por isso, preferi descrever inicialmente as que menos provavelmente se confundem
com a sociologia – isto é, economia, ciência Política e Historia – e depois as menos distinguíveis da
Sociologia – isto é, psicologia e antropologia.
A economia às vezes denominada a ciência sombria, um fato que pode servir de consolo aos
sociólogos, sempre que sua ciência foi intitulada a penosa do alivio.
Qualquer que seja o alivio cômico dado por essa troca de insultos, evidentemente não é
suficiente para distinguir a economia da sociologia, como ciências do comportamento. A economia é o
estudo da produção e distribuição de bens e serviços. De acordo com o seu desenvolvimento no
Mundo Ocidental, em grande parte sob a influencia da Escola Clássica da Inglaterra, a economia lida
quase exclusivamente com as inter-relações de variáveis puramente econômicas: as relações entre
preço e oferta, circulação de dinheiro, proporção de entradas e saídas e assim por diante.
Relativamente pouca atenção tem sido dada ao comportamento econômico real do individuo ou à sua
motivação, e pouca energia foi empregada no estudo de empresas produtivas, consideradas como
organizações sociais. Isso deixou grandes lacunas em nosso conhecimento da vida econômica.
Mais importante ainda, tornou a disciplina inadequada para explicar o curso real dos
acontecimentos econômicos. Recentemente, os economistas têm demonstrado maior interesse pela
motivação e pelo contexto institucional da ação econômica. Apesar disso, muitos problemas
importantes, muito significativos para a economia, ainda não se tornaram objeto de pesquisa
econômica concentrada. Os estudos sobre o papel dos valores e preferências na oferta de trabalho, a
influencia do prestigio ou do costume no preço de bens, as origens e motivações de empresários e
gerentes, bem como a contribuição da educação para a produtividade foram em grande parte deixados
a sociólogos e psicólogos. Apenas alguns ousados economistas se aventuraram a tratar de tais
problemas. Essa restrição do horizonte do economista é certamente uma limitação, mas tem suas
vantagens, ao facilitar o desenvolvimento da economia como uma disciplina muito focalizada e
coerente, com considerável realização intelectual.
Os sociólogos frequentemente invejam os economistas pela precisão de sua terminologia,
exatidão de suas medidas, facilidade com que podem comunicar-se numa linguagem técnica
padronizada, extensão de seu acordo quanto a certos princípios básicos e capacidade para traduzir os
resultados de seu trabalho teórico em sugestões praticas que têm consequências fundamentais para
orientação do publico.
De outro lado, a folha de serviços dos economistas, na predição de acontecimentos
econômicos, é realmente muito imperfeita, presumivelmente porque não conseguem dar o peso

145
adequado a alguns fatores, tais como a motivação individual e a resistência institucional, que o
sociólogo se sente bem qualificado para estudar. Apesar disso, são numerosos e notáveis os paralelos
entre a estrutura do pensamento econômico e sociológico. Quase todos os sociólogos
contemporâneos acham que a maneira de pensar do economista está mais próxima da sua do que a
do historiador ou do teórico da política.
Os economistas, como os sociólogos, pensam em termos de sistemas e subsistemas:
acentuam as relações entre partes, sobretudo padrões de dependência, domínio, troca e assim por
diante. Ambos estão interessados em mensuração, frequentemente precisa, bem como em relação
entre conjuntos de cariáveis. Ambos aceitam os modelos matemáticos como recursos para a analise
de dados. A ciência política, ou governo, tal como é ensinada na maioria das universidades norte-
americanas, consiste principalmente de dois elementos: teoria política e administração governamental.
Nenhum desses ramos inclui contato extenso com comportamento político. Os cursos de teoria política
geralmente examinam a respeito do governo, de Platão, Machiavelli e Rousseau, até Marx. Os cursos
sobre administração geralmente descrevem a estrutura formal e as funções das repartições
governamentais, mas menos frequentemente lidam, minuciosamente, com sua atuação real. A
sociologia se dedica ao estudo de todos os aspectos da sociedade, enquanto que a ciência política se
restringe principalmente ao estudo do poder, tal como este se corporifica em organizações, nas quais
se inclui o governo, enquanto que a ciência política tende a voltar sua atenção aos processos internos
no governo.
Apesar disso, a sociologia política por muito tempo partilhou com a ciência política muito
menos dos mesmos, interesses e um estilo muito semelhante de trabalho. Algumas figuras,
importantes para os sociólogos, mas não para a ciência política, como Max Weber ou Robert Michels,
desempenharam o papel mais importante em cursos de sociologia política. Houve, além disso,
algumas diferenças de acentuação nas palavras de S. M. Lipset: A ciência política tem se interessado
por Administração Pública, ou como tornar eficientes às organizações governamentais; a sociologia
política, ao contrario, tem se interessado pela burocracia, sobretudo pela especificação de suas
tensões e acentuações inerentes. Apesar disso, o conteúdo e as acentuações de cursos de teoria
política eram muito semelhantes, seja que estivessem indicados no catalogo como cursos sobre
governo, seja que fossem indicados como sociologia política.
Nos últimos 30 anos no entanto, os sociólogos interessados em política se diferenciaram dos
cientistas políticos atrás de um programa intensivo sobre comportamento político. Pesquisaram
intensamente o comportamento eleitoral, as atitudes e valores populares diante de questões políticas,
organizações voluntárias, a participação em momentos políticos radicais da esquerda ou da direita, o
processo de tomada de decisão em pequenas comunidades e em burocracias particulares ou
governamentais.
Isso deu à política um novo caráter, que a distingue claramente como um ramo da ciência do
comportamento. Alguns cientistas políticos, o que é verdade sobretudo para o falecido V.O.Key, da
Universidade de Harvard, Robert Dahl, da Universidade de Yale, e Gabriel Alraond, da Universidade
de Stanford. Em seu trabalho desapareceu a distinção entre uma analise política e uma analise
sociológica, e surge uma nova ciência comportamental do processo político. A historia procura verificar
a sequência em que ocorreram os acontecimentos; é a distinção do comportamento no tempo. Os
sociólogos se interessam muito mais ou menos ao mesmo tempo. Os historiadores, quase que por
definição, se limitam ao estudo do passado, e frequentemente, quanto mais distante o passado,
melhor. Os sociólogos têm muito mais interesse pela situação contemporânea ou pelo passado
recente. Os historiadores, com a notável exceção dos chamados filósofos da historia, geralmente
fogem da exploração de causas; contentar-se em verificar como as coisas ocorrem na realidade.
Os sociólogos têm muito maior tendência a procurar a inter-relações entre acontecimentos e a
propor sequências casuais. O historiador se orgulha da clareza e das especificações de minúcia
caracteriza sua disciplina. O sociólogo tem maior tendência a abstrair da realidade concreta, a
categorizar e generalizar, a interessar-se pelo que é verdade não apenas a respeito da historia de um
povo especifico, mas das historias de muitos e diferentes povos. Na perspectiva do historiador, esse
processo sociológico de abstração da historia de diferentes países ou períodos é visto como capaz de
deformar a realidade característica de um determinado lugar ou período. Grande parte, talvez a maior
parte da historia, tem sido escrita como a historia de reis e guerras.
A história de acontecimentos menos excitantes ou atraentes as mudanças, no tempo, de
formas institucionais como a propriedade de terras, ou nas relações sociais, como os que existem

146
entre homens e mulheres na família, menos frequentemente interessam os historiadores. Tais
relações, no entanto, está no centro interesse sociológico.
Apesar dessas diferenças de acentuação, existem bases importantes para o acordo entre
historia e sociologia. Alguns historiadores, entre os quais alguns dos mais notáveis – tais como
Rostovtzev, G. G. Coulton e Jacob Burkhardtl escreveram historia social – isto é, historia que lida com
relações humanas, padrões sociais, tradições e costumes, bem como instituições importantes, além da
monarquia e do exercito. E algumas das mais notáveis análises sociológicas, tal como no trabalho de
Max Weber, foram aplicadas a problemas históricos. Os sociólogos reconhecem a sociologia histórica
como um dos campos especiais e típicos de sua disciplina; Sigmund Diamond, Robert Bellah e
Norman Birnbauni podem ser lembrados como especialistas contemporâneos importantes.
A psicologia é frequentemente definida como a ciência da mente ou dos processos mentais. Os
seus estudos abrangem as capacidades da mente para receber sensações, dar-lhes sentidos e
responder a elas. Em outras palavras, lida com processos mentais, tais como percepções, cognições e
aprendizagem. Os psicólogos contemporâneos também dão atenção especifica a sentimentos e
emoções, a motivos e impulsos, e á sua organização no que denominamos personalidade. A
psicologia tem profundas raízes na biologia e na Filosofia e permanece estreitamente ligada a elas.
Grande parte da pesquisa de psicólogos a respeito de percepção visual e auditiva tem pouca
significação para o comportamento social. De outro lado, os estudos de emoção, cognição, motivação
e assim por diante, tem uma ligação intima com a participação individual em relações sociais.
Geralmente, os estudiosos de percepção individual e outros processos mentais procuram leis de
funcionamento psíquico que transcenda as diferenças entre indivíduos e até entre espécies. Os que
estudam as emoções, os sentimentos e o comportamento conativo (de busca) se interessam mais
frequentemente pelo individuo e pela organização característica ou singular de sua personalidade. Isso
é verdade, sobretudo, no caso dos psicólogos àgelínicos.
Para os psicólogos mais interessados pela psique do que pela fisiologia, o termo personalidade
serve como um conceito central organizador, mas ou menos como sociedade e sistema social são
empregados pelo sociólogo. A psicologia, nessa perspectiva, procura explicar o comportamento
organizado numa personalidade individual, e determinado pela influencia combinada de sua fisiologia,
seu sistema psíquico e sua experiência pessoal singular. A sociologia, ao contrario, procura
compreender o comportamento na medida em que é organizado numa sociedade e é determinada por
alguns fatores, tais como o numero de pessoas que contem, sua cultura, sua situação objetiva, sua
organização social.
A sociologia e a psicologia se aproximam mais no campo especial da psicologia social. Do
ponto de vista psicológico, a psicologia social se interessa pelas maneiras pelas qual a personalidade
e o comportamento são influenciados pelas características sociais de uma pessoa ou por seu ambiente
social. Como exemplo, podemos citar os estudos de Salomon Asch sobre conformismo e percepção.
Nesses estudos, Asch mostrou que as pessoas descrevem uma linha como mais comprida ou mais
curta do que realmente é, contrariando a prova de seus sentidos, se uma maioria de outros sujeitos
experimentais combina que todos dirão que a linha é mais longa ou mais curta do que é. Assim, Asch
mostrou como um processo psíquico – a percepção era influenciada por uma situação social – posição
de minoria – provocando deformação perceptual.
Numa perspectiva sociológica, a psicologia social inclui qualquer estudo de processos sociais
que sistematicamente mostre como as propriedades psicológicas de qualquer homem ou, as
disposições de personalidade de homens específicos, ao agir numa situação, influem no resultado do
processo social. Assim, Janowitz e Marvick, em seu estudo de votação, demonstraram uma amostra
representativa de norte-americanos, que a acentuação de uma política externa isolacionista é mais
comum, não apenas entre pessoas de educação mais limitada, mas também entre os que têm uma
estrutura de personalidade autoritária. Nesse caso, mas tornou-se que um coeficiente de ação social –
a proporção de votação a favor de uma política isolacionista – variava de acordo com as disposições
de personalidade das pessoas no grupo.
Muitas vezes, a distinção entre a perspectiva sociológica e a psicológica, na psicologia social,
desaparece na realização de pesquisa. Nos estudos de opinião publica, de ação, tal como tumultos ou
linchamentos de movimentos de massa política e na religião, é frequentemente difícil ver qualquer
diferença entre o trabalho dos que tem formação em sociologia e os que são especializados em
psicologia. Na realidade, muitos sustentam que a psicologia social deveria ser reconhecida como um
campo independente, tal como ocorreu com a bioquímica e, tanto a Universidade de Michigan quanto a

147
Universidade de Columbia estabeleceram programas separados que permitem obter um diploma em
psicologia social, independente das exigências dos departamentos de sociologia e psicologia.
A antropologia, pelo menos nos Estados Unidos, é um assunto tao diversificado quanto à
sociologia, e inclui arqueologia física, historia cultural, muitos ramos da lingüística e o estudo de todos
os aspectos do homem primitivo, em todos os lugares. Como a psicologia tem grandes ligações com a
ciência natural e, no caso da antropologia física, uma estreita ligação com a biologia.
É como ciência da cultura que a antropologia esta mais próxima da sociologia. A cultura pode
ser definida de maneira restrita com o sentido básico de sistema de símbolos, onde se incluem a
linguagem e os valores aceitos por determinado povo. Neste caso, consideramos que a antropologia
tem um objeto especifico, no mesmo sentido em que consideramos o poder e a autoridade como o
objeto da ciência política, e a produção e distribuição de bens como o objeto específico da economia.
Mas se a cultura é definida de modo amplo, de maneira a incluir todas as formas padronizadas de
fazer coisas, abrangendo não apenas os valores aceitos, mas também as disposições institucionais, a
antropologia se torna coextensiva com a sociologia. Na realidade, nas universidades britânicas, a
antropologia se estabeleceu como o estudo acadêmico das sociedades, bem antes de a sociologia ser
aceita, e em muitas universidades norte-americanas os dois departamentos estão reunidos.
Apesar disso, a antropologia e a sociologia são diferentes, pois a primeira tem a
responsabilidade fundamental de estudar o homem primitivo ou não, enquanto a segunda estuda as
civilizações mais adiantadas. Este fato básico exerce uma influencia difusa no conteúdo e no objeto
das duas disciplinas. Os antropólogos tendem a estudar as sociedades em todos os seus aspectos,
como conjuntos. Na medida em que se especializam, isso ocorre geralmente em determinada área
cultural, como a Melanésia. Os sociólogos mais frequentemente estudam partes de uma sociedade e
geralmente se especializam em alguma instituição, como a família ou um processo, como mobilidade
social. Tradicionalmente, os antropólogos vivem na comunidade que estudam; observam diretamente o
comportamento ou registram os costumes descritos por seus informantes. Seu método de analise é
fundamentalmente qualificado e clinico. Os sociólogos mais frequentemente dependem de estatísticas
e questionários; sua analise é mais frequentemente formal e quantitativa. O ambiente natural para o
antropólogo é a comunidade ou grupo autônomo, enquanto que o sociólogo está bem à vontade no
estudo de processos e organizações amplas e impessoais.
Enquanto existirem povos indígenas características que, mantenham suas culturas singulares,
os antropólogos não deixarão de ter o seu objeto especifico. Mesmo que muitos dos povos que estuda
se mudem para o mundo contemporâneo, o antropólogo estará à vontade, na medida em que seu
povo mantiver uma comunidade característica na sociedade mais ampla. Mas se os seus sujeitos
tradicionais se tornarem inteiramente aculturados, disperses na sociedade mais amplos e absorvidos
nesta, a antropologia será menos capaz de sobreviver como disciplina autônoma. Pode tornar-se um
ramo da sociologia que se especialize no estudo de valores ou da pequena comunidade; pode ser
inteiramente absorvida, juntamente com a sociologia, numa ciência geral da sociedade.

148
36. Disciplinas, Fronteiras e Problemas

Benjamin Kidd escreveu sobre a sociologia nas 11.1 edições da Enciclopédia Britânica, disse:
A partir do século XVII, pode-se dizer, falando rigorosamente, que todas as contribuições mais
importantes para o conjunto da Filosofia ocidentais forma contribuição para a ciência da sociedade
(sociologia). A seguir, lembra que, com o passar dos anos, os seguintes termos foram seriamente
propostos como substitutos para o termo sociologia: política, ciência política, economia social, Filosofia
social e ciência social. Em tais circunstancias, qualquer noviço no campo deve ser desculpado se
exprime certa confusão ao enfrentar a tarefa de distinguir uma ciência social de outra.
A manutenção de tais distinções torna-se mais difícil pela facilidade com que os sociólogos
aceitam responsabilidade por qualquer instituição que ainda não é objetivo de uma disciplina
estabelecida. Na medida em que tais assuntos são importantes e de outra forma seriam esquecidos,
os sociólogos merecem mais elogios do que criticas. O mundo acadêmico mostrou notável capacidade
para excluir de estudo sérios, grandes extensões da atividade humana, como se a natureza humana
comum que, se exprime na vida de família, na estratificação e no crime, tornasse tais estudos vulgares
inadequados pára os cavalheiros acadêmicos. É apenas um pouco menos difícil para um novo ramo
de estudo, conseguir reconhecimento na universidade do que um camelo passar pela porta em
Jerusalém é conhecida como o buraco da agulha.
Essa qualidade aberta da sociologia e sua pronta acentuação de novos campos de estudo
decorrem do interesse geral do sociólogo por sistemas de ação social e sua inteira. Isso
inevitavelmente o leva a lidar com todos os aspectos da vida especial ou reserva de alguma outra
disciplina. Não existe um tribunal a que nos possamos dirigir para a decisão quanto a tais disputas
territoriais. De cada disciplina intelectual que enfrenta um assunto especifico, podemos perguntar:
Apresenta as questões provocantes? Existe ou será possível criar um método para estudar as
questões que apresenta? Uma vez aplicada, será que esse método para estudar conduz a fatos
significativos? Podem tais fatos ser reunidos a fim de formular conclusões ou generalizações que são
contribuições para o conhecimento? Será que tais conclusões indicam o caminho para novas
perguntas que nos levem ainda mais longe em nosso esforço para entender os homens e suas obras?
Qual o problema fundamental a que se dirige a sociologia?
Se quisesse exigir que o problema básico a que se dirige o sociólogo fosse escrito em uma única
frase, responderíamos: Procura explicar a natureza da ordem social.

149
Bibliografia

 Historia das Civilizações – Will Durant


 Coleção Os Pensadores
 O que é Sociologia – Alex Inkeles
 Manual da Filosofia – A. Cevillier
 Historia da Filosofia – Will Durant

Atenção!

Fica proibida a reprodução total ou parcial desta


obra sem previa autorização por escrita do autor.
Todos os direitos reservados!

Registro Nº..............................................

150
Prova de Sociologia
Bacharel

Aluno(a):................................................................................................................data.........../............/........

(Marque um X na alternativa correta)

1.Sociologia é um conjunto de conceitos, de técnicas e métodos de investigação produzidos para


explicar a vida social, é na verdade algo mais do que uma tentacilogia, desde o seu início, sempre foi
algo mais do que uma tentativa de reflexão sobre sociedade moderna.
 Certo
 Errado
2. Se considerarmos o que os sociológicos fazem como nosso guia para aquilo de que trata a
sociologia, existem três formas principais que devemos examinar: (1) os manuais em que os
sociólogos tentam sumariar o seu campo de estudo; (2) as associações que escolhem, quando
solicitados a identificar-se com um ou outro ramo da sociologia; (3) as pesquisas que empreendem e
os relatórios que apresentam em suas reuniões sociológicas ou publicam em livros ou revistas
especializadas.
 Certo
 Errado
3. Entre 1982 e 1989, foram publicados, nos Estados Unidos, 21 manuais de introdução à sociologia.
O manual mais aceito foi usado, aparentemente, por apenas 11% dos estudantes matriculados em
cursos de introdução à sociologia, e apenas dois outros atingiram 15% ou mais desse grupo.
 Certo
 Errado
4. A sociologia foi à Segunda ciência a se ocupar explicitamente com a vida social como uma
tonalidade com a complexa rede de instituições sociais e grupos que constituem a sociedade.
 Certo
 Errado
5. A sociologia é uma ciência do comportamento. Procura explicar o comportamento humano,
contemporâneo ou passado, tal como o experimenta diretamente ou o encontramos corporificado em
artefatos, monumentos, leis e livros.
 Certo
 Errado

151
Introdução a Filosofia

152
LIÇÃO 1
1. Introdução a Filosofia

A relação entre a Filosofia e o Cristianismo tem ao longo da história ensejando concepções


distintas, mormente os cristãos. Para uns, a Filosofia constitui-se como a Serva da Teologia,
proporcionando a construção de argumentos para a defesa do Cristianismo. Para outros, a Filosofia
tem sido considerada a Ferramenta do Diabo. Tal concepção decorre da célebre pergunta de
Tertuliano: O que Atenas e Jerusalém têm a dizer uma à outra? Afinal de contas, como dizem Geisler
e Feinberg: o Deus dos filósofos não é o Deus da Bíblia, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó.
Entretanto, não podemos negar os méritos do debate filosófico. O pensamento filosófico,
indubitavelmente, pode prestar relevante contribuição à compreensão teológica. Não obstante, os
erros cometidos pela Filosofia devem ser detectados e refutados a fim de que os princípios cristãos
sejam preservados.
Outros sim, muitos estudantes não tem muita certeza quanto ao que é a Filosofia; na realidade,
a maioria das pessoas sabe muito pouco acerca do assunto. Algumas pensam que é uma combinação
abstrusa e até mesmo perigosa de Astrologia, Psicologia e Teologia. Outros pensam que os filósofos
estão entre a elite intelectual, pessoas de grande sabedoria. Este conceito exaltado da Filosofia deve-
se, pelo menos em parte, ao fato de que é raramente estudada antes do nível da Faculdade.
Os estudantes de Escolas Primárias e Secundárias estudam Matemática, Literatura, Ciências e
História, mas não Filosofia. Quando os estudantes entram na Faculdade, frequentemente procuram
evitar a Filosofia por causa de sua alegada dificuldade. Aqueles que acabam estudando a Filosofia
descobrem que estão discutindo questões técnicas de pouco ou nenhum valor prático evidente. Esta
aparente impraticabilidade parece ser o motivo suficiente para rejeitar o estudo da Filosofia sem mais
cerimônias.

153
2. A Filosofia

Conceito Antigo

1. Conceito Oriental

A especulação filosófica propriamente dita não parece ter sido cultivada no Antigo Oriente.
Apesar da elevada cultura cientifica das suas elites intelectuais, os egípcios, os caldeus, os hindus, os
chineses, os judeus e os persas não possuíram, em matéria de Filosofia, mais do que conhecimentos
muitos gerais, derivados da religião e relativos à divindade, à alma humana e a preceitos morais.
Esses conhecimentos não foram, porém, submetidos a um tratamento filosófico, nem receberam uma
fundamentação metódica e sistemática. Eram considerados como frutos de revelação divina e
constituíam uma tradição sagrada que se transmitia intacta de geração em geração. Entre os judeus,
houve até certo desprezo pela Filosofia.
A doutrina moral que lhes foi revelada por Deus possuía tais características de realismo e de
objetividade que eles se satisfizeram com a mesma, julgando desnecessário enriquece-la com a
investigação cientifica ou com a especulação filosófica. Daí o caráter essencialmente religioso da
cultura hebraica antiga. Entre os povos do Antigo Oriente foram os hindus os que possuíam os maiores
dotes especulativos e os que mais se esforçaram para explicar, racionalmente, o homem e o Universo.
A Filosofia brâmane nada mais representou, porém, do que uma metafísica hierática e sagrada. Não
conseguiu desprender-se da religião. Ainda quando desvestidos dos indumentos mitológicos, o
pensamento oriental conserva-se fundamentalmente religioso e mais ou menos solidário das crenças e
superstições vulgares. Através da religião, os povos do Antigo Oriente possuíam verdades filosóficas e
não Filosofia, propriamente dita.

2. Conceito Grego

É somente na Grécia que a Filosofia se desliga da religião e adquire existência autônoma.


Teve, porém, a Filosofia entre os gregos inicialmente uma significação muito geral. Confundia-se ainda
com a ciência e designava toda ânsia de sabedoria, toda cultura intelectual, todo esforço do espírito
para enriquecer-se de conhecimentos novos. É esse conceito de Filosofia que vamos encontrar, pela
primeira vez em, Heródoto, Tucídides e Xenofonte. Filosofia significa então amor de verdade sob todas
as formas, arte de bem dizer e de bem pensar, tudo o que faz o homem mais humano. Segundo uma
tradição, da qual Cícero se fez arauto, o termo Filosofia teria sido criado por Pitágoras, no século VI
a.C. Antes dele, os filósofos gregos eram denominados sábios. Pitágoras, para quem o nome de sábio
só devia convir a Deus, teria escolhido um nome mais modesto – filósofo, isto é, amigo da sabedoria. A
Filosofia é, assim, em sua origem, uma ciência universal.
Para os primeiros sábios gregos, compreendia, não só o que chamamos de ciência, isto é, a
pratica da virtude, a prudência na conduta. Essa sabedoria era, porém, puramente prática, e essa
ciência toda voltada para o mundo exterior. Inspiravam-se na tradição lírica dos velhos poetas
criadores de teogonias se que explicavam a história do mundo pela vida dos deuses. Idêntica era a
preocupação dos primeiros sábios. Procuravam também elucidar a formação do mundo e o
aparecimento do homem sobre a terra. Investigavam a origem das coisas nos elementos, nos átomos
ou nos números. Sua Filosofia era uma cosmogonia que abrangia todo o domínio do conhecimento
humano da época. Com Sócrates, desloca-se o objeto da Filosofia. Do conhecimento do mundo passa
a visar ao conhecimento do homem.
A Filosofia pré-socrática havia sido essencialmente cosmológica, isto é, voltara-se
exclusivamente para a realidade exterior. A Filosofia de Sócrates muda de direção, torna-se
psicológica, orienta-se para o homem, para a realidade interior. O Conhece-te a ti mesmo é o ponto de
partida da Filosofia socrática. Com Platão, a Filosofia retoma o caráter de universalidade. É a ciência
suprema, a ciência soberana, a que domina todas as outras. Seu objeto não são como supunha
Heráclito, as coisas sensíveis, que se acham num vir a ser continuo, num estado de perpétua
transformação e que não contém nenhuma verdade. O objeto da Filosofia platônica é o ser necessário
e absoluto representado pela ideia, princípio de verdade para a razão e de existência para as coisas.
As ideias não são, porém, simples representações intelectuais, mas realidades objetivas e eternas, das
quais as coisas sensíveis são meros reflexos, imperfeitos e efêmeros. A Filosofia de Platão não visa,
entretanto, somente a investigar o que existe de imutável e de essencial nas coisas, o elemento ideal e

154
absoluto da realidade. É também visão de conjunto, síntese universal e princípio de harmonia para a
vida e para o pensamento. Sua finalidade suprema é a pesquisa perpétua da Verdade, da Beleza e da
Bondade, através da qual o filósofo se revela acima da vulgaridade terrena. Embora rejeitando o
idealismo platônico e fazendo da realidade o ponto de partida das suas especulações filosóficas,
Aristóteles concorda com Platão quanto ao caráter universal da Filosofia. Na concepção aristotélica é
a ciência de tudo o que existe e compreende três ordens de conhecimentos:
1. Conhecimentos teóricos; que visam à pura especulação – física, matemática, metafísica.
2. Conhecimentos práticos; que tem por fim dirigir a ação – ética e política.
3. Conhecimentos poéticos; que tem por fim dirigir a produção, isto é, as obras humanas –
poéticas, retórica e as outras astes.

Destas ciências, a verdadeira ciência do filósofo, a disciplina filósofa por excelência, é a


metafísica ou Filosofia primeira, que seria, mais tarde, chamada de antologia. Seu objeto é o estudo do
ser como tal, dos seus princípios e causas ultimas, independente das suas determinações sensíveis.
Para Aristóteles, como para Platão, a Filosofia, ciência dos princípios é, assim, ciência universal. Seu
âmbito de ação é a essência total da realidade. Com os estóicos, a Filosofia conversa seu caráter de
universalidade, mas recebe definição mais simples e concreta: a ciência das coisas humanas e
divinas. E, a maneira de Sócrates, os estóicos fazem convergir à Filosofia para os problemas morais.
Seu objetivo principal é pesquisar, pela especulação, os princípios racionais da moral. Essa tendência
prática da Filosofia se acentua ainda mais com Epicuro, que a define como uma atividade que procura
a vida feliz por meio de discurso e raciocínio. Com o advento da helenística, funde-se a cultura grega
com a oriental e entra em decadência o pensamento filosófico helênico.
A característica desse período crepuscular da Filosofia grega é a teosofia. A Filosofia se
transforma então em misticismo, a ciência confunde-se com a mitologia. Nessa fase agônica do gênio
especulativo da Grécia o Termo Filosofia diz Zeller, perde toda significação precisa. Em suma, não
obstante a variedade das definições, pode assinalar certos traços comuns que permitem caracterizar o
conceito de Filosofia entre os gregos. Em primeiro lugar, o filosofo não estuda as ciências particulares
por elas mesmas; seu objetivo é colher material para a construção de um sistema. Em segundo lugar,
cada sistema é um esforço para conceber o homem e o universo nas suas relações mútuas, para
descobrir as leis gerais que dominam a natureza e o espírito. Se a Filosofia compreende todas as
ciências, é para envolvê-las e ultrapassar, fundindo-se numa unidade. A Filosofia não é, portanto, entre
os gregos, ciência particular ou soma de conhecimentos; é uma síntese que estuda as coisas
enquanto formam um conjunto harmônico e universal, sua finalidade é descobrir os princípios que
regem a vida e o mundo. Numa palavra, a Filosofia, segundo a expressão de Aristóteles, é a ciência
dos princípios e das causas.

A palavra FILOSOFO significa Amigo da Ciência e da Sabedoria, e é atribuída a Pitágoras. A


palavra Filosofia, criada por Pitágoras, no século VI, antes da nossa era, passou desde então, a
designar um Sistema ou Conjunto Concatenado de Concepções gerais sobre o Mundo e o Homem.
Para estabelecer esse conjunto de concepções gerais de que é constituída a Filosofia, servem-se os
filósofos, de métodos, isto é, Meios ou processos com que constroem as Doutrinas de que se
compõem os seus sistemas.

155
3. Conceito Medieval

3. O Cristianismo e a Filosofia Medieval

A partir dos primeiros séculos da era cristã, a Filosofia passa a ser profundamente influenciada
pela doutrina cristã. Essa influência é justa e natural. O advento do Cristianismo, diz Leonel Franca,
divide a história do pensamento, como a história da civilização em duas partes inteiramente distintas.
Jesus Cristo, não se apresenta ao mundo como um fundador de escola, semelhante a Platão e
Aristóteles, que investiga, raciona, discute e propõe a um círculo mais ou menos estreito de iniciados o
seu sistema de ideias, a sua explicação do universo, revela-se como Deus é Salvador, que, possuindo
a verdade em sua plenitude, e comunica aos homens por meio de seu mistério infalível.
Não é, pois, o cristianismo um sistema filosófico, no sentido rigoroso do termo. Não é obstante,
íntima e universal foi à influência que exerceu sobre a nova orientação da Filosofia. Era natural.
Propostas, como infalivelmente verdadeiras, as novas soluções sobre a existência e a natureza de
Deus, as suas relações com o mundo, a origem e os destinos do homem, a obrigação a sanção da lei
moral, não podiam deixar de ter uma repercussão profunda em toda a Filosofia que versa sobre estas
mesmas questões ainda que encaradas sob aspectos diversos. Essa influência salutar e estimuladora,
do Cristianismo sobre a especulação filosófica explica a tendência geral da Filosofia da Idade Média,
desde a patrística à escolástica, em harmonizar a razão com a fé, a Filosofia com a teologia.

4. Santo Tomás e a Filosofia Medieval


A Filosofia Medieval atinge a sua plenitude com Santo Tomás de Aquino, que corrige e
aperfeiçoa o sistema aristotélico, estabelecendo, com admirável precisão, o objeto da Filosofia,
distinguindo esta da teologia e dando, assim, solução definitiva à questão das relações entre a razão e
a fé. Para Santo Tomás, Filosofia e teologia são duas ciências distintas, não contrárias; a razão e a fé
não se hostilizam. De fato, Deus manifesta-nos a verdade de dois modos: diretamente, pela revelação,
e, indiretamente, subministrando-nos, com as faculdades cognitivas, os instrumentos para adquiri-las.
O estudo da verdade revelada é objeto da teologia, o estudo racional do universo é da alçada da
Filosofia. O objeto material das duas ciências poderá, por vezes , ser comum (a existência de Deus, a
espiritualidade da alma etc., são, ao mesmo tempo, verdades filosóficas e teológicas), mas o
aspecto sob o qual o encaram as duas ciências (objeto formal) é sempre diverso, procedendo o
estudo do dogma por autoridade e a Filosofia por demonstração cientifica.
Assim, para Santo Tomás, a Filosofia é o conhecimento cientifico que, pela luz natural da
razão, considera as causas primeiras ou as razões mais elevadas de todas as coisas. Mas a
Filosofia não se confunde com as ciências particulares. A Filosofia e as outras ciências têm o mesmo
objeto material: tudo o que é cognoscível. A Filosofia, porém, considera formalmente, as causas
primeiras, enquanto que as outras ciências consideram, formalmente as causas segundas. Desta
maneira, Santo Tomás, precisa e completa o conceito aristotélico de Filosofia, diferenciando esta da
teologia e das ciências particulares. Essa harmonia orgânica entre a Filosofia e a teologia assinalada
pelo gênio de Santo Tomás seria mutilada, ainda na Idade Média, por Guilherme de Occam, um dos
pioneiros da decadência da escolástica que, no século XIX, pretendeu, em vão, erguer barreiras entre
a razão e a fé.

156
4. Conceito Moderno

1. Bacon de Descartes
Com estes dois filósofos, inicia-se a Filosofia moderna, que se orienta em duas direções: a do
empirismo e a do racionalismo. Bacon parte da experiência interna, dos dados da razão, do penso,
logo existo, para edificar o seu sistema. Daí motivo pelo qual Bacon reduziu a Filosofia às ciências
particulares, e, Descartes submeteu as ciências particulares à Filosofia. Descartes concorda, assim,
com os pensadores gregos ao conceber a Filosofia como a totalidade do conhecimento cientifico. Mas,
enquanto os gregos dividiam a Filosofia em diversas ciências distintas, entre as quais a metafísica era
considerada como a ciência filosófica, por excelência Descartes concebia a Filosofia como ciência
essencialmente uma, da qual a metafísica, a física, a mecânica, a moral, etc., seriam simples ramos.
Se Bacon Havia feito as ciências particulares observarem a Filosofia, Descartes fazia a Filosofia
obsorver as ciências particulares. Ambos confundiam, por conseguinte, embora por pontos de partida e
caminhos contrários, a Filosofia e as ciências.
2. De Locke e Kant
A partir do século XVII, a Filosofia tende a se tornar ciência independente e autônoma. Este é o
ponto de vista de Locke, que inicia a orientação criticista na Filosofia moderna. Locke desenvolve as
ideias de Bacon e refuta, em nome da experiência, as ideias inatas de Descartes, para considerar a
inteligência, ao nascer, como folha em branco, tabula rosa. Para Locke, o objeto da Filosofia deve ser
a analise e a critica do entendimento humano.
A partir de Locke, o conceito da Filosofia tende a restringir cada vez mais. Para Berkeley e
Hume, a Filosofia é o estudo da natureza humana e, para Cadillac, é a analise das sensações. Com o
idealismo de Kant, o conceito de Filosofia como critica do conhecimento se firma de maneira absoluta.
Kant refuta o empirismo inglês e o racionalismo cartesiano e considera o objeto da Filosofia como
sendo a determinação dos elementos a priori do conhecimento e da ação. Daí sua definição de
Filosofia: legislação da razão humana. Entre os sucessores de Kant, a Filosofia, embora mantendo sua
individualidade e autonomia, tende, cada vez mais, a reaver sua autoridade de ciência universal.
Assim, Fichte considera a Filosofia como ciência da ciência. (Wissenschaltenlehre). Scheiling,
identificando a natureza e o espírito como formas do absoluto, defende que o objeto da Filosofia é
estudar a natureza e o espírito na natureza.
Hegei retoma a Filosofia da identidade de Scheiling para considerar o pensamento como fonte
de toda a realidade. Donde sua definição de Filosofia: é a ideia que se pensa (die sich denkende
Idee), a verdade que se conhece (die sich wissend Wahreit). Desenvolvendo a concepção de Kant
nem sentido mais realista. Herbart considera a Filosofia como a elaboração dos conceitos visando à
eliminações das contradições, e Schopenhaver a ciência dos princípios da razão como fundamento de
todo saber.

3. De Reid a Comte
Enquanto os sucessores de Kant procuravam universalizar a Filosofia, embora a conservando
encerrada nos limites do mundo subjetivo, Reid e seus discípulos negam a possibilidade da metafísica
como ciência dos primeiros princípios, reduzindo a Filosofia à psicologia. Essa redução do âmbito da
Filosofia, ao longo do pensamento moderno, atinge seu ultimo grau com Augusto Comte. A Filosofia de
Comte é a negação da Filosofia. O princípio básico do positivismo é que só o sensível é real, pois só o
sensível pode ser conhecido. De sua natureza, o homem está destinado a ignorar tudo o que
ultrapassa a ordem empírica. Qualquer investigação que pretende elevar-se acima dos fatos,
idagando-lhes a origem, o fim e as causas, está de antemão condenada a irremediável esterilidade. O
homem só tem um modo de conhecer: o positivo, isto é, o sensível. No estudo dos fenômenos e no
descobrimento das relações invariáveis de semelhança e sucessão que os ligam, deve cifrar-se toda
nossa atividade intelectual, a metafísica é impossível. Possível é só a ciência positiva.
Dessa maneira, Comte renova o erro de Bacon fazendo as ciências absorver a Filosofia e
admitindo que o espírito humano só pode conhecer os fatos e suas leis, os fenômenos e suas
relações. Coerente com esse ponto de vista, Comte reduz a Filosofia a simples sistematização de
conhecimentos, a mera classificação de ciências particulares.

4. De Husserl a Max Sebeler


No século XX, varias correntes filosóficas procuram reagir contra a redução do âmbito da
Filosofia realizada pelos pensadores modernos, de Bacon a Comte. Movidas por uma necessidade

157
natural da inteligência, essas correntes buscam ultrapassar o fenômeno sensível, terreno próprio da
ciência, para atingir a substância intima das coisas, a essência da realidade, que é o campo específico
da Filosofia. Assim Husseri define a Filosofia como ciência descritiva das ciências; Nicolai Hartmann,
como ciência dos objetos sob ponto de vista da totalidade; Rehmke, como ciência básica do dado em
geral; Windelband, como ciência dos valores universais; Heidegger, como antologia fenornenológica
universal; Max Scheler como ato amoroso que põe o núcleo da pessoa humana em contato com a
essência das coisas. Todavia, a maioria das correntes filosóficas contemporâneas não consegue
separar as limitações do idealismo kantiano e do positivismo comtiano e, se inauguram, num certo
sentido, a ressurreição da metafísica, é reduzindo a realidade do âmbito das ideias ou negando à
inteligência o poder de penetrar na intimidade do ser.

5. Conclusão
Se quisermos uma definição clara e precisa da Filosofia, teremos de voltar a Santo Tomás de
Aquino. As definições modernas são inexatas e unilaterais, pois não se baseiam numa visão ampla e
profunda da natureza das coisas, não consideram a realidade universal na totalidade dos seus
aspectos. É interessante assinalar que os resultados das investigações cientificas contemporâneas
vem confirmando, de certo modo, o ponto de vista de Santo Tomás, segundo os quais as conclusões
da ciência possuem valor relativo e não passam de aproximações provisórias da realidade. As
transformações profundas que a maioria das ciências tem sofrido, desde os fins do século passado,
são bem significativas a esse respeito. Segundo o testemunho dos mais famosos cientistas da
atualidade, como Poincaré. Meyerson, Eddington, Einstein, Jeans, a ciência experimental tem um raio
de ação limitado, não penetra na essência da realidade, nem desvenda a natureza íntima das coisas.
Somente a Filosofia é capaz de sondar os mistérios do ser e de formular uma concepção integral do
homem, da vida e do universo.

158
Revisão

* Aprendemos nesta meteria que, no Antigo Oriente, a Filosofia confundiu-se com a religião. Os povos
orientais possuíram, através da religião, apenas filosóficas e não Filosofia propriamente dita.
* Vimos ainda que, na Grécia, a Filosofia distinguiu-se da religião, da religião, mas confundiu-se com a
ciência, constituindo, no inicio, uma sabedoria universal. Com Sócrates, Platão e Aristóteles, a Filosofia
se caracteriza com mais nitidez, mas não perde o aspecto de síntese universal, sendo definida,
sucessivamente, como ciência da alma, ciência das ideias e ciência dos princípios e das causas.
* Você aprendeu que, na Idade Média, a Filosofia passa a ser profundamente influenciada pelo
cristianismo. Daí a tendência da Filosofia medieval em procurar harmonizar a razão com a fé, Filosofia
com a teologia.
* Foi visto que, Santo Tomás corrige e aperfeiçoa o sistema aristotélico, estabelece o verdadeiro objeto
da Filosofia e distingue este da teologia e da ciência particular. Para ele, a Filosofia é o conhecimento
cientifico que, pela luz natural da razão, considera as causas primeiras ou as razões mais elevadas de
todas as coisas.
* Aprendemos que, Bacon faz as ciências absorverem a Filosofia e Descartes a Filosofia absorver as
ciências.
* Para Locke, a Filosofia é analise do entendimento, para Borkeley e Hume,estudo da natureza
humana; para Cadillac, analise das sensações, e, para Kant, legislação da razão humana.
* Você aprendeu também que, Reid reduz à psicologia, e Comte nega a metafísica, considerando a
Filosofia como simples classificação das ciências.
* Vimos que, procurando reabilitar a metafísica, Husserl define a Filosofia como ciência descritiva das
essências, Heidegger como antologia fenomenológica universal e Max Scheler como ato amoroso que
põe o núcleo da pessoa em contato com a essência das coisas.
* Foi visto ainda que, se quisermos uma definição clara e precisa da Filosofia, teremos de voltar a
Santo Tomás. As definições modernas são inexatas e unilaterais.
* Também aprendemos que, a palavra Filósofo significa Amigo da ciência e da Sabedoria. E a palavra
foi criada por Pitágoras.

Exercícios

1. Assinalar as características do conceito oriental da Filosofia.

2. Mostrar a evolução do conceito grego da Filosofia.

3. Analisar os conceitos de Filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles.

4. Explicar a influencia do cristianismo sobre a Filosofia. Esclarecer o conceito da Filosofia de Santo


Tomás de Aquino.

5. Mostrar a evolução do conceito moderno de Filosofia.

6. Dizer qual o conceito da Filosofia de Descartes, Kant, Comte e Husserl.

7. Estabelecer a diferença entre o conceito moderno e o conceito de Filosofia.

159
LIÇÃO 2
5. Natureza da Filosofia

Noção de Filosofia.
1. Gênese do conhecimento filosófico – O desejo de conhecer a natureza das coisas é uma
tendência inata do homem. Ele se manifesta desde os primeiros momentos de vida humana, movido
por um impulso natural da inteligência. Na curiosidade incessante e irrequieta da criança, vamos
encontrar os primeiros indícios dessa disposição espontânea do nosso espírito para investigar a
essência e o sentido do universo. A ciência e a Filosofia são frutos dessa sede irreprimível de
conhecimento cuja finalidade primordial não é fornecer ao homem, meios para que ele possa dominar
a natureza, e sim satisfazer sua curiosidade natural.
2. A Filosofia e o progresso da cultura – Acompanhando a evolução do conceito da Filosofia,
tivemos o ensejo de verificar que esta não constitui um rumo do saber de desenvolvimento recente. A
sua história, ao contrário, se entrelaça com o progresso da cultura, através dos séculos, através dos
séculos. Como toda ciência do espírito, o desenvolvimento da Filosofia não resultou apenas da força
criadora de um homem ou de uma geração. Foi antes da obra de capitalização cultural, isto é, da
contribuição intelectual de toda humanidade. O progresso da Filosofia não foi, por conseguinte,
trabalho exclusivo de um filósofo ou de uma época, mas esforço conjugado de todos os filósofos e de
todas as épocas.
3. A Filosofia e as outras formas de conhecimento – A Filosofia é conhecimento, mas nem
todo conhecimento é Filosofia. O conhecimento se distingue:
a) do conhecimento empírico ou vulgar, que resulta da observação comum e ocasional dos
fenômenos e que se contenta com a simples apreensão dos mesmos, sem refletir sobre a sua
natureza, sem investigar suas causas. A Filosofia, ao contrario, procura sempre conhecer as causas
ou as razões dos acontecimentos, procedendo com método e integrando os resultados obtidos numa
ordem sistemática;
b) do conhecimento cientifico particular, que tem por objeto um setor determinado da
realidade. Uma ciência particular, como a física, a química ou a biologia, representa sempre um
conjunto de conhecimentos sistemáticos sobre certo grupo de fenômenos. Esses conhecimentos são
adquiridos por processos metódicos de observação controlada ou de pesquisa rigorosa sobre o campo
da respectiva especialização. Seus limites são estabelecidos pela própria natureza e extensão do seu
objeto e o seu caráter é essencialmente analítico. A Filosofia, ao contrário, não procura conhecer
apenas um setor particular da realidade, mas formular uma explicação de todas as coisas por suas
razões mais profundas e mais gerais. Seu caráter é, portanto, essencialmente sintético. Sob o ponto
de vista da penetração na realidade, as ciências particulares se ocupam somente dos fatos sensíveis e
suas relações, dos fenômenos e suas leis, isto é, das causas segundas ou próximas da realidade.
A Filosofia se preocupava com natureza intima dos fatos, com a essência dos fenômenos, isto é, com
as causas primeiras ou remotas de todas as coisas.
c) do conhecimento revelado ou teológico, que resulta das investigações sistemáticas
realizadas sobre os dados da revelação sobrenatural. Esse conhecimento é também adquirido por
processos metódicos, mas seu objeto, por ser essencialmente transcendente, não é possível de
comprovação discursiva (como o das ciências sistemáticas), nem de observação controlada (como
o das ciências experimentais). Seu principio fundamental é a aceitação das verdades resultantes da
revelação sobrenatural.

160
6. Natureza da Filosofia

4. Caracteres da Filosofia – A Filosofia se caracteriza:


a) pela natureza sintética e causal dos seus conhecimentos
Seu objeto material, isto é, a meteria de suas investigações, é tudo o que existe e é acessível à
inteligência humana. Seu objeto formal, isto é, o ponto de vista especial sob o qual estuda tudo o que
existe, é a causa primeira, a razão fundamental. No que se refere ao seu objeto material, a Filosofia
depende da contribuição das ciências particulares, cada qual no setor de sua respectiva
especialização. A Filosofia engloba, porém, numa síntese universal, a contribuição específica das
ciências particulares sobre a natureza dos fenômenos e suas causas próximas e imediatas. Mas, pelo
seu objeto formal, vai a Filosofia além das aquisições dessas ciências investigando a sequência das
causas remotas, até atingir a causalidade suprema de toda a ordem existencial;
b) pelo processo critico e reflexivo de suas investigações
Cabe à Filosofia estabelecer as leis da validade dos raciocínios e das conclusões, condição
indispensável para a aquisição de qualquer conhecimento. Compete-lhe ainda julgar o valor e a
legitimidade dos métodos empregados pelas ciências particulares, assim como fornecer a estas os
postulados fundamentais que lhes servem de ponto de partida;
c) pela sua função normativa e valorizadora
Se a verificação sistemática dos fenômenos e a comprovação metódica das hipóteses é
apanágio das ciências particulares, a interpretação da realidade universal é apanágio da Filosofia. Daí
a razão pela qual somente a Filosofia pode determinar finalidades a serem atingidas, traçar normas de
ação livres e estabelecer o valor e a significação de cada parcela ou setor da realidade dentro da
síntese universal.

5. Definição da Filosofia
A luz desses caracteres que acabamos de analisar, podemos definir a Filosofia como um
sistema de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos e ordenados, que tende a explicar
todas as coisas por suas razões fundamentais. Eis porque Aristóteles e Santo Tomás denominaram a
Filosofia de ciência da universalidade das coisas por suas causas mais profundas e gerais.

161
7. Objeto da Filosofia

Objeto material – Aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar, ou verificar de modo
geral. Ex.: Homem.
Objeto formal
O enfoque especial em face das diversas ciências que possuem o mesmo objeto material.
Ex.: Homem (o elemento básico da Filosofia)

A ciência e a Filosofia não têm o mesmo objeto formal. Sem duvida, de um ponto de vista
material, ciência e Filosofia se aplicam ao mesmo objeto: o Mundo e o Homem (objeto material). Mas
cada disciplina estuda este objeto comum sob um aspecto que lhe é próprio (objeto formal). A ciência
se aquartela na determinação das causas supremas e seus fins derradeiros: visa, propriamente, em
todas as suas partes, ao conhecimento do que ultrapassa a experiência sensível (ou dos fenômenos)
e do que só é acessível a razão. Se então, a Filosofia é verdadeiramente uma ciência universal, o é
enquanto tende a conhecer, não tudo, como pensavam os antigos gregos, mas os primeiros princípios
de tudo.
Vê-se, por conseguinte, que uma explicação cientifica não é uma explicação filosóficas;
nenhuma explicação filosófica, uma explicação cientifica. Os problemas da ciência não são os mesmos
da Filosofia: o encadeamento dos fenômenos, como a ciência os visa descobrir, deixa intacta a
questão da natureza profunda das coisas, de seu valor e seu fim, e o conhecimento das essências,
dos valores e do fim não nos caberia dar a ciência das ligações fenomenais.

162
Revisão

* Aprendemos nesta lição que, o desejo de conhecer a natureza das coisas é inato e se manifesta
desde os primeiros momentos da vida humana.
* Vimos ainda que, a história da Filosofia se entrelaça com a evolução da cultura. O seu
desenvolvimento não é o resultado da força criadora de um homem ou de uma época e sim da
contribuição intelectual de toda a humanidade.
* Você aprendeu que, o conhecimento filosófico se distingue: do conhecimento empírico ou do vulgar,
do conhecimento científico particular e do conhecimento revelado ou teológico.
* Aprendemos ainda que, a Filosofia se caracteriza: pela natureza sintética e causal dos seus
conhecimentos, pelo processo crítico e reflexivo de suas investigações e pela sua função normativa e
valorizadora.
* Foi visto ainda que, a Filosofia é um sistema de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos e
ordenados, que tende a explicar todas as causas por suas razões fundamentais.
* Vimos que, a Filosofia se serve unicamente da razão natural.
* Também aprendemos que, a teologia se apoia como sobre seus primeiros princípios, nas verdades
reveladas, enquanto a Filosofia apela unicamente às luzes da razão.
* Você viu ainda que, o método de uma ciência depende do objeto mesmo dessa ciência.
* Foi visto também que, Aristóteles e Santo Tomás denominaram a Filosofia de ciência da
universalidade das coisas por suas causas mais profundas e mais gerais.
* Você viu quem, a Filosofia se caracteriza pela natureza sintética e causal dos seus acontecimentos –
Seu objeto material, isto é, a matéria de suas investigações, é tudo o que existe e é acessível à
inteligência humana.
* Aprendemos que, cabe à Filosofia estabelecer as leis da validade dos raciocínios e das conclusões,
condição indispensável para a aquisição de qualquer conhecimento.

Exercícios

1. Qual a gênese do conhecimento filosófico?

2. Será a Filosofia fruto exclusivo do espírito criador de um homem ou de uma época?

3. Distinguir o conhecimento filosófico das outras formas de conhecimento.

4. Estabelecer e explicar os caracteres fundamentais do conhecimento filosófico.

5. Formular e esclarecer, à luz desses caracteres, a definição da Filosofia.

163
LIÇÃO 3
8. Método da Filosofia

Noção de Método Filosófico

1. Definição
Método é o conjunto de processos para a pesquisa e demonstração da verdade. A diversidade
dos objetos das ciências acarreta a diversidade dos métodos. Cada ciência emprega meios de
investigação adaptados à natureza dos problemas que pretende resolver. E a Filosofia, cuja finalidade
é investigar as causas mais profundas e gerais de todas as coisas, também possui processos próprios
de pesquisa e estudo. Sem dúvida, o método da Filosofia pode ser definido e descrito. Mas a definição
que do mesmo se formule será sempre exterior e incompleta, enquanto não for ele praticado e vivido.
Somente a vivencia do método filosófico, o que se obtém unicamente através da própria investigação
no campo da Filosofia, nos poderá fornecer do mesmo uma noção nítida, viva e perfeita.

2. Condições da investigação filosófica


A primeira condição da pesquisa filosófica é um certo estado de espírito, uma certa disposição
de ânimo. Isto significa que é necessário, para filosofar, uma capacidade de perceber e sentir, quer no
mundo das realidades sensíveis, quer no mundo dos objetos ideais, problemas e mistérios. É preciso
manter diante do universo misterioso uma atitude de curiosidade, de admiração e de perplexidade.
Esta é a disposição de espírito que deve animar o estudante de Filosofia. Por isso dizia Platão que a
primeira virtude do filósofo é admirar-se.

Aquele para quem tudo é natural, para quem tudo é fácil de entender,
para quem tudo parece claro, esse jamais poderá ser um filósofo.

A segunda condição da pesquisa filosófica é o espírito de exatidão e o hábito de rigor no


pensamento. Essa exigência de disciplina e precisão na atividade intelectual deve ter, para os que
cultivam a Filosofia, dois aspectos fundamentais. De um lado, devem eliminar da pesquisa as reflexões
e tradições da sabedoria popular; a Filosofia deve enfrentar os problemas que lhe compete resolver
com um espírito de critica e com rigor de método incompatíveis com as concepções cômodas e fáceis
da sabedoria popular. Por outro lado, é necessário reagir, com energia, contra o erro contrário que é
de supor que a Filosofia de deve subordinar inteiramente às ciências particulares, que nada mais
representam do que uma síntese das conclusões das ciências positivas.

164
9. Evolução do Método Filosófico

3. Sócrates e Platão
Sócrates foi o primeiro filósofo a falar em método. Na solução dos problemas ou na exposição
de suas ideias, ele empregava o dialogo, que assumia forma diversa, conforme se tratava de um
sofista a refutar ou de um discípulo a instruir. Diante de um adversário, multiplicava habilmente as
perguntas até obrigá-lo a cair em contradição e confessar sua ignorância. É a ignorância socrática.
Diante de um discípulo, conduzia as perguntas de modo a levá-lo ao conhecimento dos casos
individuais à formulação de definição universal. É a maiêutica ou parturição das ideias. No fundo
Sócrates partia do falso pressuposto de que toda ciência preexiste no espírito do homem e que o
conhecimento da realidade consiste no despertar de noções inatas e adormecidas no entendimento
humano. Platão aperfeiçoou a maiêutica socrática, convertendo-a no que ele chamou de dialética.
A dialética platônica, observa Garcia Morente, conserva os elementos fundamentais da
maiêutica perática. A dialética platônica defende a ideia de que o método filosófico é uma
contraposição, não de opiniões distintas, mas de uma opinião e sua critica. Conserva, portanto, a ideia
de que se deve partir de uma hipótese inicial que se vai, aos poucos, aperfeiçoando, à custa das
criticas feita à mesma, e essas criticas são as melhores sob a forma de diálogo, isto é, sob a forma de
um intercâmbio de afirmações e negações. Para Platão, a dialética se decompõe em dois momentos: o
primeiro, consiste na intuição da ideia; o segundo, no esforço crítico para esclarecer essa intuição da
ideia.

4. Aristóteles e Santo Tomás


Aristóteles desenvolveu o dialético, fazendo-o mudar de aspecto. As leis de raciocínio, as
figuras e as formas do silogismo, eis a contribuição que Aristóteles trouxe para dialética. Na opinião do
grande filósofo grego, o método da Filosofia é a lógica, isto é, as leis do pensamento racional que os
permite passar de uma de uma ideia à outra, mediante as relações que as ideias mais gerais possuem
com as mesmas gerias. O método filosófico é, por conseguinte, a demonstração racional. As
afirmações só se transformam em verdades quando demonstradas.
O método lógico de Aristóteles foi aplicado e desenvolvido pelos filósofos da Idade Média.
Santo Tomás de Aquino, o maior dos filósofos medievais, combinou o método do silogismo ou da
prova com o método dialético. O método deste grande pensador não é somente, como em Aristóteles,
a demonstração racional, mas também a contraposição e a crítica das opiniões divergentes. É o que
os escolásticos chamavam de disputa. Vemos, assim, que o método dos filósofos da Antiguidade e da
Idade Média, não é a intuição primária ou apreensão direta e imediata, mas a discussão dialética com
a qual a intuição deve ser afirmada ou negada. A aplicação dói pensamento racional, com a
contraposição de opiniões, a discussão do filósofo com os outros ou consigo mesmo, eis o método
básico da Filosofia antiga e medieval.

5. Descartes, Sebelling e Hegel


A partir de Descartes, o método filosófico muda de natureza e de orientação. O interesse se
dirige, então, menos para discussão posterior à intuição, do que para a própria intuição e para os
processos que permitem alcança-las. No seu célebre Discurso de Método, é nítida a preocupação de
Descartes em chegar a uma evidencia clara e distinta, isto é, em conseguir uma intuição direta e lúcida
da verdade. Para ele, essa intuição pode ser conseguida dividindo-se todo objeto que se nos afigura
obscuro, não evidente, em partes, até que uma dessas partes se converta num objeto claro, intuitivo,
evidente. Assim teremos a intuição. Por conseguinte, no método cartesiano, o papel da intuição é
permitir que sejam discernidas que constituem a essência da realidade universal.
A analise, é portanto, um método que conduz Descartes à Intuição, e a partir desse momento,
todos os filósofos pós-cartesianos passam a considerar a intuição como o método, por excelência, da
Filosofia. Shelling e Hegel, por exemplo, afirmam que a intuição intelectual é o método fundamental da
pesquisa filosófica. Na opinião desses filósofos, atividade da razão humana na investigação da
realidade é dupla: por um lado, deve penetrar, intuitivamente, na essência das coisas, à maneira do
método cartesiano; por outro lado, partido dessa intuição inicial, deve construir, a priori, sem recorrer à
experiência, por meio de conceitos e formas racionais, todo o arcabouço da realidade, toda a estrutura
do universo.

165
6. Bérgson, Dilthey e Husserl
Bérgson considera a intuição como o único método filosófico, e opõe a atividade intelectual. O
seu ponto de vista é o que a atividade intelectual apreende somente os aspectos estáticos e
fragmentários da realidade, os elementos mecânicos e decomponíveis do universo. Este aspecto
dominado pela inteligência é a camada superficial, imóvel e falsa da realidade. Por baixo dessa
realidade mecânica que se pode dividir e recompor, se encontra a verdadeira realidade profunda e
essencial que não pode ser decomposta em seus elementos porque é uma realidade unitária e
movediça, uma realidade em, perpétua mudança, em eterno vir a ser. A essência da realidade é, por
conseguinte, o movimento, o fluir continuo, a transformação permanente. Esta realidade essencial só
pode ser apreendida pela intuição e jamais pela inteligência.
A intuição toma com Dilthey, um caráter diverso, que poderíamos chamar de volitivo. Para ele,
como para Bérgson, a inteligência não tem o poder de penetrar na intimidade das coisas. Na sua
opinião a realidade, ou melhor, a existência viva das coisas não pode ser demonstrada pela razão,
nem descoberta pelo intelecto. Tem de ser intuída com uma intuição de caráter volitivo, que consiste
em nos perceber a nós mesmos como agentes, como seres que, antes de pensar, querem, apetecem,
desejam. Somos antes de vontades, de apetites de desejos, antes de sermos antes do pensamento. E,
sendo antes da vontade queremos. Nosso querer tropeça, porém, em dificuldades. Essas dificuldades,
nas quais tropeça nosso querer, nós a convertemos em coisas, são elas, portanto, que nos dão,
imediata e intuitivamente, noticias da existência das coisas; e, tropeçando nossa vontade em
resistência, luta contra as mesmas, transformando-as em existência.
A existência das coisas é, por conseguinte, dada à intuição volitiva, como resultado das
resistências pelas mesmas oferecidas. A intuição volitiva é, por isso, na opinião de Dilthey, o método
fundamental da Filosofia porque nos revela a existência das coisas. Para Husseri, a intuição nos
permite conhecer o mundo por meio da apreensão das essências. É o que ele chama de redução
Fenomelógica, processo mental que consiste em ir ao fundo do objetivo de maneira direta, isolando-o
mentalmente, pondo-o entre parênteses, para deixar de lado seus elementos individuais e acidentais, e
captar, assim, sua essência universal.
Em suma, pela intuição fenomelógica, Husseri pretende discernir, na representação particular
dos objetos, a essência geral dos mesmos. Este método é por ele chamado de contemplação das
essências (Wesenchau). Vemos assim que, em Bergson, a intuição toma um caráter afetivo ou
emocional; em Dilthey, um caráter volitivo e essencial; em Husserl, um caráter intelectual. Esses três
tipos de intuição tem tido outros representantes na história da Filosofia. A intuição intelectual pode ser
encontrada, na antiguidade, em Platão e, na idade moderna, em Descartes, Schelling e
Sebopenhauer. A intuição afetiva foi utilizada, na antiguidade, por Plotino e, sobretudo, por Santo
Agostinho, seu mais alto representante, e, na idade moderna, por Max Sheller. A intuição volitiva pode
ser encontrada em Fichte, Maine de Biran e Heidegger.

166
10. Natureza do Método Filosófico

Divisão do Método Filosófico


Resumindo o que acabamos de expor, podemos dizer que os filósofos empregam métodos e
intuitivos para o estudo da realidade universal. No primeiro caso são utilizados processos
discursivos ou racionais, isto é, o raciocínio indutivo ou dedutivo, analítico ou sintético. O método
discursivo é, essencialmente, indireto, ao invés de ir diretamente ao objeto, passeia, por assim dizer,
em torno do mesmo, e considera e contempla sob múltiplos pontos de vista; procura envolve-lo cada
vez mais de perto, até conseguir, finalmente, obter um conceito que se lhe aplique perfeitamente. O
método intuitivo consiste justamente no contrario.
Realiza-se por um ato único do espírito que, lançando-se pronta e subitamente, sobre o objeto,
o apreende e determina. O método intuitivo é, portanto, direto, enquanto que o método discursivo é
indireto. Por meio da intuição se obtém um conhecimento imediato, ao passo que, por meio do
discurso ou de raciocínio, se consegue um conhecimento mediato, ao fim de uma série de operações
sucessivas. A intuição pode ser intelectual, volutiva ou emocional, correspondendo, cada uma delas,
aos três aspectos que cada objeto pode apresentar ao nosso espírito: a essência, a existência e o
valor.

Conclusão
Os diversos métodos acima estudados não se opõem entre si, antes se auxiliam mutuamente,
concorrendo, cada um deles, com sua contribuição para a conquista da verdade filosófica. A realidade
universal para ser apreendida em seus múltiplos e variados aspectos deve ser, ao mesmo tempo,
conhecida, sentida e vivida. São legítimos, portanto, para essa apreensão não só os métodos
intuitivos, como os discursivos. E, na aplicação desses métodos, o filósofo pode partir, que dos
primeiros princípios da razão, quer da experiência fornecida pelos fatos do mundo exterior. Mas por
maior que seja nossa preferência por este ou aquele processo de pesquisa, não devemos jamais
esquecer que a inteligência é o instrumento fundamental da investigação filosófica e o único que nos
permite penetrar no fundo do ser e atinge a essência da realidade.

167
11. Condições da Investigação Filosófica

A primeira condição da pesquisa filosófica é uma certa disposição para perceber e sentir os
problemas e mistérios do universo. Platão: A primeira virtude do filósofo é admirar-se. A segunda
condição da pesquisa filosófica é o espírito da exatidão e o hábito de rigor do pensamento.

O método depende do objeto formal


O método de uma ciência depende do objeto mesmo dessa ciência. Não se emprega, no
estudo dos seres vivos, os mesmos processos que no estudo dos seres inorgânicos, e a química
procede diversamente da física. Desta forma, é a definição e do objeto da Filosofia que nós devemos
deduzir o método que lhe convém.

O método filosófico e a um tempo experimental e racial


Nos definimos a Filosofia como a ciência das coisas por suas causas supremas. Daí se segue
que:
a. A Filosofia parte da experiência. Se a Filosofia é de inicio Ciência das coisas, a saber, do
homem, do mundo e de Deus devemos começar por conhecer as coisas que queremos explicar; isto é,
nosso ponto de partida será normalmente tornado na experiência. É de fato pelas propriedades das
coisas que nós podemos conhecer sua natureza, e essas propriedades, é a experiência vulgar ou
cientifica que nos faz descobri-las. É também pelos efeitos do poder divino que podemos elevar-nos
até a causa primeira do universo seja para afirmar a sua existência necessária, seja para determinar-
lhe a natureza e os atributos e estes efeitos são ainda uns objetos de experiência. Assim, o método
filosófico será primeiramente experimental, no sentido de que o ponto de partida da Filosofia é tomado
na experiência.
b. A Filosofia visa, pela razão, ao que está além da experiência. Mas como a Filosofia é, por
seus fins, essencialmente metafísica, isto é, quer ir além da experiência, sensível e chegar até as
causas primeiras, deverá fazer apelo à razão, porque estas causas primeiras, o homem não vê e não
as toca com os seus sentidos, e não as pode atingir a não ser por uma faculdade superior aos
sentidos. Eis porque o método filosófico é também um método racional.

168
Revisão

* Aprendemos nesta lição que, método é o conjunto para a pesquisa e demonstração da verdade.
Somente a prática ou vivencia do método filosófico nos poderá fornecer do mesmo uma noção nítida,
viva e perfeita.
* Vimos ainda que, a primeira condição da pesquisa filosófica é um acerta disposição para perceber e
sentir os problemas e mistérios do universo. A segunda é o espírito de exatidão e o hábito de rigor no
pensamento.
* Você viu que, Sócrates, na solução dos problemas filosóficos, empregou o diálogo, que podia
assumir a forma da ironia ou de maiêutica. Platão aperfeiçoou o método socrático, convertendo-o no
que ele chamou de dialético.
* Foi visto ainda que, Aristóteles desenvolveu o método dialético, acrescentando ao mesmo as leis do
silogismo. Santo Tomás combinou o método do silogismo com o método dialético.
* Você aprendeu ainda que, o método de Descartes consistia em chegar a uma evidência clara e
distinta, isto é, em conseguir uma intuição direta e lúcida da verdade. Schelling e Hegel, empregaram a
intuição intelectual.
* Também vimos que, Bergson, Dilthey e Husseri utilizaram o método intuitivo. No primeiro, a intuição
tomou um caráter afetivo ou emocional; no segundo um caráter volitivo e existencial; no terceiro um
caráter intelectual.
* Vimos ainda que, os métodos filosóficos se dividem, por conseguinte, em racionais ou indiretos e
intuitivos ou diretos.
* Foi visto também que, os diversos métodos não se opõem entre si, antes se auxiliam mutuamente,
pois a realidade universal deve ser conhecida, sentida e vivida. Mas a inteligência é o instrumento, por
excelência, na investigação filosófica.

Exercícios

1. Esclarecer a definição de método.

2. Como conhecer de maneira viva e perfeita o método filosófico?

3. Quais as condições de investigação filosófica?

4. Explicar o dicílogo de Sócrates e a dialética de Platão.

5. Mostrar como Aristóteles desenvolveu o método dialético e como Santo Tomás aperfeiçoou o
método do silogismo.

6. Assinalar a orientação que o método filosófico tomou com Descartes, Shelling e Hegel.

7. Por em relevo os caracteres que o método intuitivo tomou com Bergson, Dilthey e Husseri.

8. Dividir e classificar os métodos filosóficos.

9. Formular uma conclusão sobre o valor dos diversos métodos filosóficos.

169
LIÇÃO 4
12. Divisão da Filosofia

Base da Divisão
1. Critério da divisão
Uma vez estabelecido o objeto da Filosofia, torna-se preciso conhecer seu âmbito de ação, a
extensão do seu domínio, a fim de se tomar contato com os seus problemas fundamentais. Donde a
necessidade de se dividir a Filosofia em suas partes principais. A melhor divisão da Filosofia, é a que
resulta dos fins colimados pelo conhecimento filosófico. Podemos investigar as causas profundas da
realidade, quer visando ao conhecimento em si, destituídos de qualquer finalidade pratica, quer
visando ao conhecimento como meio para alcançar o bem absoluto do homem. No primeiro caso, em
que se procura conhecer por conhecer, temos a Filosofia especulativa; no segundo caso, em que se
procura conhecer para agir ou produzir, temos a Filosofia pratica.

2. Partes da Filosofia
A Filosofia especulativa compreende a Filosofia primeira ou metafísica e a Filosofia da
natureza. A Filosofia prática abrange a Filosofia moral ou ética e a Filosofia da arte ou estética.
Introdução necessária ao estudo dessas ciências é a lógica que fornece as normas que a inteligência
deve seguir para aquisição do saber. Representa por conseguinte, a lógica uma propedêutica
indispensável da Filosofia, uma vez que oferece a esta ciência os meios seguros para que possa
atingir a verdade. Donde se conclui que o estudo da Filosofia deve começar necessariamente pela
lógica. Analisemos agora sumariamente as principais partes da Filosofia.

170
13. Filosofia Especulativa

1. Metafísica
Também chamada Filosofia Primeira, é a ciência das primeiras causas e dos primeiros
princípios, isto é, a ciência que estuda os problemas que transcendem as realidades materiais e
sensíveis. É a própria Filosofia no sentido mais elevado. A metafísica, embora se possa inspirar nos
dados das ciências experimentais, para ultrapassá-los e atingir a essência das coisas, não se
confunde com nenhuma dessas ciências, uma vez que sua finalidade é estudar as conclusões últimas
a que nos pode levar o estudo dos seres e fenômenos. O se enquanto ser, o ser nos seus princípios
supremos e nas suas razões fundamentais, não como sermos revela nos fenômenos, mas tal como é,
independente e superior às manifestações sensíveis o objeto da metafísica.
Podemos, por conseguinte, definir a metafísica como a ciência do ser em oposição ao parecer,
a ciência do absoluto em oposição ao relativo, a ciência do incondicionado em oposição ao
condicionado. Com efeito, diz Lahrs, no estudo da realidade, podemos distinguir como que três zonas
ou regiões concêntricas:
a) Uma região externa, inteiramente superficial, zona das qualidades e dos fenômenos
perceptíveis aos sentidos ou à consciência sensível: esfera da experiência pura, do parecer.
b) Uma região mista, pertencendo ao mesmo tempo, à experiência e à razão, domínio da
ciência propriamente dita: regiões das causas, faculdades ou propriedades, consideradas, não em sua
essência íntima, mas enquanto explicam a natureza constante dos fenômenos.
c) Por sua, estas propriedades supõe uma realidade substancial e permanente, princípio da
atividade, e, ao mesmo tempo, sujeito de inerência, para as qualidades; região do ser e não já do
parecer; do que existe absolutamente em si e não já condicional e relativamente. É o domínio da razão
pura, o objeto próprio da metafísica.

Todavia, este ser que existe em si, que é a razão e explicação dos fenômenos que nele se
passam e que dele dominam, é imperfeito, e desde então não existe por si, sob este aspecto, é
também ele relativo e dependente de outro ser verdadeiramente absoluto, necessário e eterno, de
Deus, em uma palavra, o qual sendo cauda primeira e princípio de tudo quanto existe, é, por
excelência, o objeto da metafísica. A Filosofia de Deus ou Teodiceia, entendida como explicação
última e integral de toda a ordem do ser, é assim o ponto culminante de todos os problemas
metafísicos. Além da Teodiceia, podemos distinguir duas partes fundamentais da metafísica: a
Ontologia, que estuda o ser em si, abstrato e universalmente considerado, seus princípios e suas
causas; e a crítica do conhecimento, que estuda a natureza, as possibilidades e os limites do
conhecimento humano.
A metafísica é, eminentemente especulativa, abstrata e dedutiva, bem como indispensável
como fundamentação teórica para a solução de qualquer problema de natureza filosófica. Mesmo os
problemas maiôs concretos e materiais da Filosofia da natureza implicam, em última analise, princípios
de ordem metafísica. Todos os nossos pensamentos e todas as nossas ações suscitam questões
metafísicas. Por isso, podemos afirmar que, a todo o momento, estamos metafisicando, mesmo os que
negam a metafísica, precisam fazer metafísica para negar a metafísica. E segundo o testemunho de
Meyrson, o homem faz metafísica, como respira, sem querer e, sobretudo, sem saber o que faz.

4. Filosofia da Natureza
É o estudo do ser não mais abstrato e universal, mas concreto e particularizado nos diversos
gêneros e espécies do plano fenomenal. Versa sobre a natureza última dos seres, sua constituição
essencial, suas propriedades e seus atributos. A Filosofia da Natureza estuda os problemas centrais
da metafísica, (como a constituição da matéria, a quantidade, o movimento, o espaço, o tempo,
etc.), da biologia (como a origem e a natureza da vida), da antropologia, (como a origem e a
natureza do homem), da psicologia (como a origem, a natureza e o destino da alma). Conforme
os problemas estudados, a Filosofia da natureza toma os nomes de cosmologia racional, biologia
racional, antropologia racional e psicologia racional. Para facilidade do estudo, podemos, porém,
reunir as partes da Filosofia da natureza em dois grandes ramos: a Cosmologia ou estudo da
realidade exterior, e a Psicologia ou estudo da realidade interior.

171
14. Filosofia Prática

5. Filosofia Moral
Também chamada Ética, é o estudo do agir humano, enquanto livre e pessoal. Podemos defini-
las como ciência que trata do uso que o homem deve fazer da sua liberdade para atingir seu fim
último. A Filosofia moral é uma ciência essencialmente normativa, pois estuda atos, vontades,
intenções, em suma ação humana. Isto não quer dizer, porém, que a Ética não possua também um
caráter especulativo e racional. Pelo contrário, o problema moral é um problema da natureza racional e
filosófica e a Ética visa, antes de tudo, a formular princípios universais. Mas esses princípios se
referem, essencialmente, à atividade prática. Eis porque se define a Ética como uma ciência
normativa, pois estuda os princípios universais que devem dirigir a ação livre e pessoal do homem. A
Filosofia moral versa sobre os problemas do dever, da finalidade, do direito e da justiça.

6. Filosofia da arte
É o estudo do fazer humano, isto é, da obra produzida pelo homem. É também chamada,
impropriamente de Estética. O objeto da Filosofia da arte é o estudo das obras humanas, sob o ponto
de vista dos princípios universais que as devem orientar. Assim como a ética, a Filosofia da arte,
embora essencialmente prática, permanece especulativa, uma vez que as regras que formula não se
aplicam a cada obra em particular, mas sim à obra humana em geral. A Filosofia da arte versa sobre
os problemas da essência da arte, da natureza do belo, das regras e divisão da arte, das relações da
arte com a moral. Um verdadeiro sistema filosófico supõe o desenvolvimento orgânico e sistemático do
pensamento filosófico através dessas partes que integram a Filosofia. Muitas das recentes tentativas
de sistematização filosófica são falhas, fragmentárias e deficientes, por não levarem isso em conta,
desenvolvendo uma ou outra parte, com prejuízo para a harmonia do conjunto e para a solidez da
fundamentação racional.

172
15. Solução do Problema Filosófico

a) A Gnosiologia – Todos os nossos conhecimentos sensíveis são, no fundo, evidentes,


intuitivos. Entre os conhecimentos intelectuais podem ser considerados, evidentes, intuitivos, os assim
chamados Juízos Analíticos, a saber, os juízos nos quais o sujeito e precitados resultam
necessariamente conexos. A esse grupo pertencem, antes de tudo, os princípios primeiros do ser, pois
o conhecimento é conhecimento do ser. Os Juízos Analíticos, evidentes, constituem essencialmente a
Ciência, que tem por objeto próprio o necessário. Entretanto, fazem parte da Ciência também todos
aqueles os juízos que – por serem não diretamente evidentes podem ser logicamente conexos com os
juízos evidentes mediante a demonstração. Naturalmente, nem todo o nosso saber é constituídos por
juízos evidentes, analíticos ou reduzíveis a estes. Uma parte do nosso saber é constituída por juízos
sintéticos a posterior, isto é, tais que a conexão entre sujeito e predicado depende unicamente da
experiência. Se o sujeito desses juízos é universal, temos a ciência propriamente dita; se o sujeito é
particular, temos a história, temos a Filosofia, quando o sujeito é universal e a sua conexão com o
predicado é necessária, evidente e analítica, ou reduzível a evidencia.

b) A Ontologia – Admitindo que o conhecimento é espelhamento do ser, a primeira disciplina


filosófica que se apresenta em relação ao problema metafísico é a metafísica geral, ou Ontologia, ou
ciência do ser em geral. Seu papel é precisamente analisar o ser enquanto ser, isto é, conhecer o que
convém e o que não convém a todos os seres. Fundamental, nesse campo, é a famosa doutrina da
potência e do ato, formulada por Aristóteles e elaborada por Tomás de Aquino. Essa doutrina domina
toda a Filosofia. Mediante tal doutrina se entende o ser imperfeito, o ser absoluto, a necessária
passagem do ser imperfeito ao ser perfeito; a natureza das coisas do mundo físico, que são compostas
de Matéria (Potência) e Forma (Ato); a união do corpo com a alma no individuo humano, em que o
primeiro desempenha a função de matéria com o respeito ao segundo, que desempenha as funções
de forma.

c) A Teodiceia – Visto que o mundo, tanto o material como o espiritual, se manifesta


imperfeito, pois, a união de matéria e de forma, de potência e de ato, não pode ele ter em si mesmo a
causa do seu ser e do seu operar; mas é mister necessariamente remontar a um ser perfeito, ao ato
puro. As coisas, sendo compostas de potência e de ato, vêm a ser, quer dizer, passam da potência ao
ato; portanto, exigem uma causa eficiente, um ser em ato, de coisa movida à coisa que move, não é
possível parar, enquanto se não chegar ao ato puro, ao primeiro moto imóvel, a Deus, o qual move
sem ser movido. Diversamente, haveria um processo ao infinito, que desloca o problema sem resolvê-
lo. A essa a prova fundamental da existência de Deus, formulada por Aristóteles e aperfeiçoada por
Tomás de Aquino. Aristóteles sobre infalivelmente do devir ao que não vem a ser, baseando-se em
dois elementos igualmente seguros, evidentes, intuitivos: o vir a ser, que é um fato da experiência
imediata, e o princípio de causalidade, que é um dos primeiros princípios do ser (Ontologia).
Não consegue, no entanto, descer de Deus ao mundo, não concebendo Deus como criador do
mundo, porquanto sobrevive também na sua Filosofia o clássico dualismo grego, que admite a matéria,
o mundo eterno, incriado, ao lado de Deus. De sorte que, para Aristóteles, o mundo fica separado de
Deus: Deus não criou o mundo, não o conhece, nem o governa, O Deus aristotélico não é providência
e é inútil para o homem, que fica ao léu da força cega e inelutável do fato e do destino. Segundo
Aristóteles. Deus move certamente o mundo, mas não como causa eficiente, e sim como causa final,
atraindo inconscientemente o mundo para si, pois o imperfeito tende para o perfeito.
Tomás de Aquino tornará Criador o Deus aristotélico, não acrescentando-lhe algo
intrinsecamente, mas desenvolvendo logicamente, até o fundo, o grande conceito aristotélico de Deus
como Ato Puro. Se Deus é Ato Puro, também a matéria e o mundo devem ser criados, de contrário
Deus seria passivo em face do mundo, e, portanto, não seria mais Ato Puro. A criação, portanto, é uma
produção das coisas do nada, por parte de Deus. Quer dizer, Deus é o autor do ser o do agir do
mundo em toda a sua extensão; não o tira, porém, de si mesmo, como julgava o emanatismo
platônico, porque, neste caso, Deus teria a mesma substância do mundo, que ele deve explicar. E nem
sequer Deus organiza uma pressuposta matéria, porquanto, nesta hipótese, ele seria passivo
relativamente a essa matéria.
A criação do mundo, demais, é livre; diversamente Deus seria necessariamente conexo com
um mundo imperfeito, que vem a ser. Finalmente, a criação tem como fim último o próprio Deus, a
glória de Deus; diferentemente Deus, seria mais perfeito. Como conhecemos a existência de Deus

173
não por intuição mas mediante a demonstração, pois, se Deus é a primeira coisa na ordem da
existência, é a ultima na ordem do conhecimento, igualmente não conhecemos por intuição a essência
de Deus, que atingida indiretamente, mediante laborioso processo cognoscitivo. Deus é conhecido
através das perfeições do mundo, que é obra sua e uma imitação imperfeita de sua perfeição infinita.
Naturalmente, tiramos todo limite a essas perfeições do mundo criado, para eleva-las à infinidade do
ato puro. Precisamente, conhecemos o que Deus não é, negando-lhe os aspectos do mundo que são
incompatíveis com ele, como, por exemplo, a sensibilidade, a grandeza, a extensão, etc. Tais aspectos
ou qualidades são contidas em Deus virtualmente em sua perfeição mais alta (Teologia negativa). No
entanto, conhecemos também algo do que Deus é, afirmando a respeito dele os aspectos do mundo
que são compatíveis com ele, por exemplo, a personalidade, o intelecto, a vontade, etc. Afirmamos,
entretanto, estes aspectos a respeito de Deus analogicamente (Teologia positiva). Em Conclusão: o
que nós conhecemos em torno de Deus é um conjunto de negações e de analogias.

d) A Psicologia – A mais alta criação visível de Deus é o homem, matéria e espírito, corpo e
alma, animal e racional. Não é duas substância justapostas – como julgava Platão – mas uma
substância única, em que o corpo representa a matéria e a alma, a forma. Esta forma é, ao mesmo
tempo, princípio de vida, como nos vegetais, princípio de sensibilidade, como nos animais; princípio de
razão, a qual é própria do homem. E essas diversas funções, no homem, são todas desempenhadas
pela Alma Racional, porquanto o mais encerra naturalmente também o menos. E, assim, superando o
dualismo platônico de sentido e intelecto, de paixão e de razão, pois, se o intelecto transcende os
sentidos, o intelecto deve, no entanto, partir dos sentidos para elaborar os conceitos – primeiro grau do
conhecimento intelectual – mediante a abstração; se a razão transcende a paixão, à vontade, que é
uma tendência racional, não é, porém, uma negação, mas uma normalização da paixão.
Que a alma seja espiritual e, logo, imortal, é demonstrado pelo fato de que, no homem, há
atividades que não se podem explicar mediante a alma vegetativa e sensitiva, inteiramente imanentes
à matéria. Essa espiritualidade e imaterialidade da alma não impedem que ela seja a forma do corpo,
precise do corpo para conhecer e operar, e seja incompleta sem o corpo, como este não pode
substituir sem a alma. Aristóteles, não obstante a sua segura subida a Deus, como não efetivamente
ao conceito da criação, assim embora tenha ele visto claramente a transcendência da alma racional
(do intelecto agente) com o respeito à alma vegetativa e sensitiva, não chegou, de fato, ao conceito
precioso da imortalidade pessoal. A este conceito, no entanto, chegará logicamente Tomás de Aquino,
partindo das mesmas premissas aristotélicas.

e) A Cosmologia – No tocante à Filosofia da natureza a Cosmologia, devemos dizer que


também esta depende naturalmente da Metafísica geral, da Ontologia. Aí a doutrina fundamental da
potência e do ato se determina e se especifica na doutrina particular da matéria e da forma, que vimos
ser válida também na Psicologia Racional. Todas as coisas materiais são compostas de dois princípios
que constituem, entretanto, uma unidade substancial: a matéria indeterminada, sua possibilidade de
ser, por si só não existente, a forma determinante, que especifica a matéria mediante uma essência, e
que realiza a própria matéria, quando em virtude de uma causa eficiente, tal forma é realizada em
matéria, em vista de um fim a realizar. Mas se bem que a matéria seja indeterminada, não
diferenciada, com respeito à forma que a qualifica e especifica, é vice-versa a matéria que individua a
forma e a concretiza em que um determinado indivíduo enquanto matéria quantidade signata, quer
dizer, já individuada, concretizada historicamente.
Como as formas determinam à matéria em várias essências, assim a matéria multiplica a forma
em vários indivíduos. Além dessa doutrina fundamental da matéria e da forma (a qual não se pode
ser atacada por nenhuma teoria cientifica, porquanto a matéria e a forma metafísica são bem
diversas da matéria e da forma em sentido físico). Na Cosmologia é também fundamental a
doutrina do espaço e do tempo. Espaço e tempo são justamente concebidos por Aristóteles e Tomás
de Aquino não como coisas, e sim como relações reais de coisas, de uma maneira análoga à de Kant,
com a diferença essencial, entretanto, que existe entre realismo e idealismo. E também é fundamental
na Cosmologia a doutrina da originalidade e irredutibilidade dos vários graus, reinos da natureza. Um
não é reduzível ao outro, em especial ao reino orgânico não é reduzível ao inorgânico, e o espiritual
não é reduzível ao material. Todos esses graus, constituindo uma hierarquia que vai do mundo
puramente material até o homem, são ordenados segundo um grande Sistema Teológico: são
ordenados em suas relações recíprocas, dentro de cada um são ordenados entre si os diversos
gêneros, espécies e indivíduos, e dentro de cada essência e natureza, são ordenadas entre si várias

174
partes. De maneira que manifestam a racionalidade que anima todos os cosmos e depende
diretamente do elemento formal, ao lado da racionalidade que se manifesta também no mundo e
depende da matéria.

f) A Ética – Da metafísica geral e especial decorre logicamente a moral. Ela, portanto, não é o
resultado de um conjunto de máximas que decorrem da própria natureza do homem (animal racional)
para a realização da mesma natureza. As leis para a realização da natureza humana não se realizam,
porém, necessariamente como no mundo material, mas são confiadas ao livre arbítrio do homem. O
qual é livre, como Deus, porque é espiritual, racional e dotado de vontade; mas é metafisicamente
limitado, porque é criado como todas as criaturas e pode, por conseguinte, desviar - se da ordem, do
ser, enveredando para a desordem, para o não ser, o que constitui o mau moral, o pecado, com todas
as suas consequências, até o mal físico. Como o vício é a ação contra a ordem, contra a razão, assim
a virtude é a ação segundo a ordem, segundo a razão. Aristóteles distingue as virtudes contemplativas
o homem consegue verdadeiramente possuir o mundo, o qual entra intencionalmente, quer dizer,
cognoscitivamente, na sua mente; ao passo que o objeto das virtudes ativas fica sempre exterior ao
sujeito operante.

g) A Política – A moral é, portanto, a Lei racional para a realização da natureza humana. O


homem não pode, entretanto, realizar plenamente essa natureza humana no seu isolamento individual,
porquanto, é também um animal político, social, quer dizer, é ele naturalmente conexo com os seus
semelhantes, que participam com ele da mesma natureza humana; esta não é realizada plenamente
por nenhum indivíduo, de sorte que cada um precisa da ajuda, dos auxílios materiais e espirituais dos
outros. Daí a divisão do trabalho, de que depende o progresso e a civilização. A sociedade humana,
não é um fim e sim um meio para o bem do indivíduo humano. Com efeito, o indivíduo humano tem
uma realidade metafísica, substancial, que falta à sociedade; o indivíduo é uma pessoa, sendo dotado
de uma alma espiritual, racional, imortal; tem destinos que transcendem os confins do mundo, entre os
limites do qual vive, ao invés, a sociedade. A primeira forma de sociedade humana é humana sobre a
terra; portanto é necessária para a formação material e espiritual do individuo humano, que nasce bem
mais incompleto e imperfeito que os outros viventes.
A segunda forma de sociedade humana é o estado. Este surge como complemento necessário
da família, porque a família não basta à completa realização da natureza humana, com relação ao
intercâmbio de serviços e à divisão do trabalho, de que se falou mais acima. A função do Estado não é
apenas negativa, repressiva, vindicativa de quem age contra os interesses sociais mas também é
naturalmente positiva, organizadora, valorizadora da sociedade humana, do bem comum. De sorte que
o Estado teria uma razão de ser, ainda que o homem não precisasse de repressão. Ademais, o Estado
não tem apenas uma relação à natureza do homem, que é a natureza do animal racional. Daí a
natureza ética do estado. Não se trata, porém, de uma ética imanente, como se fosse ele o criador de
valores (o que levaria a uma doutrina que dependeria de uma concepção humanista e a vida);
mas trata-se de uma ética transcendente, como sendo veículo de valores, porque todo valor, toda
ordem depende de Deus; Ele, como vimos, é Criador absoluto de todo o agir humano.
O direito positivo, pois depende, do direito natural, racional (como já tinha visto Cícero), do
qual poderá e deverá ser uma concretização, diferentemente estaria em oposição com a natureza e
com a razão. Mas, em rigor de termos, nem se quer a sociedade do estado é suficiente para a plena
valorização da natureza humana. Com efeito, um estado, uma nação, um povo, um território, uma
região, um continente podem possuir bens e valores que podem faltar a outros, e vice-versa. Por
consequência, os vários estados devem tornar-se complementares, pela lei da divisão do trabalho e do
intercâmbio dos serviços. Deste modo se chega à sociedade humana universal. Tal sociedade não é,
nem deve ser, niveladora, negadora dos estados, das nações e dos povos, assim como o estado não
pode nem deve ser negador da família, mas deve valorizar os mesmos em uma fecunda e concreta
unidade.

h) A Arte – Juntamente com a religião e a Filosofia, a arte deve ser considerada entre as mais
altas atividades do espírito humano, pois ela tem por objeto aquela mesma essência das coisas,
aquele universal e imutável, que é o objeto da Filosofia. A diferença consiste em a Filosofia apresentar
esse elemento universal mediante conceitos abstratos um uma ordem lógica, ao passo que a arte o
representa mediante imagens, que concretiza fantasticamente o universal racional no particular
sensível. Assim, a arte é uma imitação fantástica da realidade em seu elemento universal e imutável,

175
como a Filosofia lhe é um espelhamento conceptual. Daí deriva a grandeza dramática do artista, que
deve lutar contra a matéria bruta para torná-la mais ou menos expressão adequada do inteligível, da
ideia. Mas também daí decorre a grande eficácia moral, purificadora pedagógica da obra de arte, que
oferece o inteligível concretizado intuitivamente no sensível e, logo bem mais facilmente compreensível
que na sua pureza conceptual.

i) A Religião – Não é preciso frisar que a sociedade humana, todas as sociedades humanas,
depende da sociedade, da ordem do homem para com Deus, do qual, por sua vez, dependem, como já
se viu, toda ordem e toda realidade. E quando essa ordem é alterada, tudo necessariamente se
pertuba, assim como a casa rui, quando é tirada do seu lugar a pedra do ângulo. A sociedade do
homem com Deus, porém, não é apenas natural, racional mas também sobrenatural; pois o homem foi
efetivamente elevado à ordem sobrenatural, que é também visível e social, de harmonia com a
natureza sensível e social do homem, é a igreja fundada por Cristo.
Cabe à igreja não somente conduzir o homem à consecução do seu fim sobrenatural, mas
também proporcionar-lhe todos os bens naturais, aqueles valores racionais, que poderia o homem, em
linha de fato, é incapaz de conseguir, devido à desordem introduzida na mesma natureza humana,
pelo pecado original. A essa desordem remediou a redenção de Cristo. Sem a revelação não é
plenamente possível resolver o problema da vida, e em especial o problema do mal, que atormenta
todo homem que vem ao mundo. Assim, a religião, o Cristianismo vem a ser não somente o
coroamento sobrenatural, mas também a integração natural da Filosofia. Esta sem a religião, sem o
Cristianismo, não resolve inteiramente o seu problema é o Problema da Vida.

176
16. Conclusão

Ao encerrarmos nossa breve Introdução da Filosofia, cumpre responder a seguinte pergunta:


PARA QUE ESTUDAR A FILOSOFIA? QUE VANTAGEM TIRO EU DISSO? QUE BEM ME FARÁ?
A seguir, passaremos em revista alguns bons motivos existentes para nos dedicarmos ao estudo da
Filosofia, para tanto, tomamos a liberdade de emprestar as palavras do filósofo cristão Norman L.
Geisler, em sua obra INTRODUÇÃO À FILOSOFIA – UMA PERSPECTIVA CRISTÃ:

1. Compreender a sociedade. A compreensão e a apreciação da Filosofia ajudarão a pessoa


a compreender a sua sociedade. A Filosofia tem uma influência profunda sobre a formação e o
desenvolvimento de instituições e de valores. Não devemos substimar à importância de importância de
ideia em moldar a sociedade. Por exemplo, o respeito com que se trata o indivíduo e a liberdade são,
em grande medida, o produto do pensamento ocidental. A Filosofia nos ajuda a perceber o que está
envolvido nas grandes perguntas que indivíduos e sociedades devem fazer.
2. Libertar do preconceito e do bairrismo. Os elementos críticos e equilatadores da Filosofia
podem ajudar a libertar a pessoa das garras do preconceito, do bairrismo e do raciocínio inferior. Na
reflexão filosófica podemos colocar-nos a certa distância das nossas crenças e das crenças dos
outros, e enxergá-las com certo cetismo. Leremos jornais e revistas de modo mais crítico, o que nos
deixará menos suscetíveis à propaganda. A Filosofia pode nos ajudar a não nos deixarmos iludir pelas
evasivas e omissões das técnicas políticas e publicitárias. Numa democracia há a necessidade de
desenvolvermos um cetismo saudável acerca das nossas crenças e das crenças dos outros, bem
como a capacidade de reconhecer boa argumentação e evidência. Não se quer dizer com isto que
devemos nos tornar totalmente céticos ou agnósticos. Muito pelo contrário, aquelas crenças que
passam o escrutínio da avaliação racional devem ser sustentadas com máxima confiança. A dúvida
por atacado e permanente é absurda e desnecessária.
3- O valor prático. A despeito da natureza abstrata de grande parte da Filosofia, ela pode ser
útil na vida em todos os dias. Decreto, a ênfase que os antigos davam à sabedoria como o alvo de
Filosofia era correta. Não haveria razão em procurarmos à clareza em todos os nossos conceitos
fundamentais se esta clareza não nos oferecesse ajuda à nossa vida, nem contribuísse à obtenção da
sabedoria acerca da qual falamos. Por exemplo, discussões éticas que tratam de princípios de ação
talvez pareçam removidas da arena da vida verdadeira, mas não estão. Imaginemos que você esteja
considerando um aborto. Sua decisão será grandemente influenciada pela sua crença, essa ação deve
ser orientada pela convivência ou pelo dever. Até mesmo quando Deus nos deu mandamentos diretos,
podemos examinar a justificativa que Deus dá destes mandamentos. Visto que Deus é tanto moral
quanto racional, seus mandamentos não são resultados de uma vontade arbitrária. Além disso, visto
que Escritura não preceitua toda ação em termos específicos, precisamos de orientação a respeito da
aplicação de princípios bíblicos e morais à ação. Na realidade, a Filosofia é intensamente prática.
4. O desafio Cristão. O cristão tem interesse específico pela Filosofia e é responsabilidade
estuda-la. A Filosofia será um desafio à sua fé quanto uma contribuição ao seu entendimento da fé.
Alguns cristãos sentem suspeita da Filosofia porque ouviram histórias acerca doutras pessoas que
perderam sua fé através do estudo da Filosofia. Foram aconselhados a evitar a Filosofia como a peste.
Após reflexão séria, fica sendo claro que este conselho não é sábio. O cristianismo pode enfrentar o
desafio não deveria ser a perda da fé, mas sim a possessão, de valor inestimável, de uma fé bem-
estar bem-arrazoada e madura. Além disso, há consequências sérias de falta de consciência de
padrões contemporâneos de pensamento. Ao invés de ficar isenta de sua influência, a pessoa fica
sendo a vítima inconsciente deles, infelizmente, há um número grande demais de cristãos que
sustentam crenças que são hostis à fé cristã e não tem busca da verdade, então, a Filosofia contribuirá
ao nosso entendimento de Deus e do seu mundo. Além disso, a história demonstra que argumentos e
conceitos filosóficos têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento da Teologia Cristã.
Embora nem todos os teólogos concordem quanto o valor ou caráter apropriado destes argumentos,
todos reconhecem que algum conhecimento das raízes filosóficas, é necessário para o entendimento
da Teologia Cristã. O desafio da Filosofia para o cristão é duplo. Primeiramente, há o desafio geral de
pensar de modo crítico, claro, correto e abrangente acerca do mundo. Esta é a tarefa de qualquer
pensador, seja cristão, seja não-cristão. Além disso, por causa das suas crenças e na argumentação
filosófica em defesa do Cristianismo. Precisa da Filosofia para comunicar o ponto de vista aqueles que
têm outras cosmovisões. Ao todo, o cristão depende da Filosofia para tornar o crível inteligível. A
Filosofia é a ferramenta mediante o qual o cristão mostra ou dá sentido da sua fé. I Ts 5.21.

177
Revisão

* Aprendemos nesta lição que, a Filosofia compreende a Filosofia especulativa, que procura conhecer,
e a Filosofia prática, que procura conhecer para agir ou produzir.
* Também aprendemos que, a Filosofia especulativa abrange a Filosofia primeira ou metafísica e a
Filosofia da natureza. A Filosofia da natureza. A Filosofia prática abrange a Filosofia moral ou ética e a
Filosofia da arte ou estética. A lógica é uma introdução à Filosofia porque fornece a esta os meios
necessários à aquisição do saber.
* Você aprendeu também que, a metafísica é a ciência das primeiras causas e dos primeiros
princípios. Divide-se em Teodiceia, Ontologia e Crítica do Conhecimento.
* Foi visto ainda que, a Filosofia da natureza é o estudo do ser concreto e particularizado nos diversos
gêneros e espécies do plano fundamental. Divide-se em: Cosmologia racional, Biologia racional,
Antropologia Racional e Psicologia racional.
* Também aprendemos que, a Filosofia moral ou ética é o estudo do agir humano enquanto livre e
pessoal.
* Você viu que, a Filosofia da arte é o estudo do fazer humano, sob o ponto de visto dos princípios
universais que dedem orientar.
* Vimos que, a compreensão e a apreciação da Filosofia ajudaram a pessoa a compreender sua
sociedade.
* Você viu que, a Filosofia nos ajuda a perceber o que está envolvido nas grandes perguntas que
indivíduos e sociedades devem fazer.
* Aprendemos que, os elementos críticos e equilatadores da Filosofia podem ajudar e liberar a pessoa
das garras do preconceito, do Bairrismo e do raciocínio inferior.
* Foi visto ainda que, o cristão tem interesse específico pela Filosofia e é responsabilidade estuda-la. A
Filosofia será um desafio a sua fé quanto uma contribuição ao seu entendimento da fé.
* Você aprendeu que, a Filosofia é uma busca da verdade, então a Filosofia contribuirá ao nosso
entendimento de Deus e do seu mundo.
* Foi visto que, a Filosofia é a ferramenta mediante a qual o Cristão mostra ou dá o sentido da sua fé.

Exercícios

1- Esclarecer o critério adotado para a divisão da Filosofia.

2- Enumerar e definir as partes que integram a Filosofia.

3- Explicar o objeto da metafísica.

4- Dividir a metafísica em seus ramos fundamentais.

5- Definir a Filosofia da natureza.

6- Distinguir a Filosofia da natureza da Metafísica.

7- Explicar o objeto da Filosofia Moral.

8- Definir a Filosofia da arte.

178
Bibliografia

Introdução à Filosofia – Norman L. e Paul D. Feinberg – Ed. Vida Nova.


Curso de Filosofia – Jolivet, Régis – Livraria Agir Editora.
História da Filosofia – Padovani, Umberto e Luiz Castagnola.
Manual da Filosofia – Santos, Theobaldo Miranda.
Introdução à Filosofia – Uma perspectiva Cristã – Geisler, Norman L.

Todos os Direitos Reservados, protegidos pela Lei 5088 de 14/12/73 –


É proibida, a reprodução total ou parcial,
por quaisquer meio sem autorização prévia.
Autor do Itadesp.

Registro Nº..............................................

179
Prova de Introdução a Filosofia
Bacharel

Aluno
(a):..................................................................................................................data................/................./.......

(Marque um X na alternativa correta)

1. É somente na Grécia que a Filosofia se desliga da religião e adquire existência autônoma. Teve,
porém, a Filosofia entre os gregos inicialmente uma significação muito geral.
 Certo
 Errado
2. A palavra FILOSOFO significa Amigo da Ciência e da Sabedoria, e é atribuída a Pitágoras.
A palavra Filosofia, criada por Pitágoras, no século VI, antes da nossa era, passou desde então, a
designar um Sistema ou Conjunto Concatenado de Concepções gerais sobre o Mundo e o Homem.
 Certo
 Errado
3. A partir dos primeiros séculos da era cristã, a Filosofia passa a ser profundamente influenciada
pela doutrina cristã. Essa influência é justa e natural. O advento do Cristianismo, diz Leonel Franca,
divide a história do pensamento, como a história da civilização em duas partes inteiramente distintas.
 Certo
 Errado
4. Platão foi o primeiro filósofo a falar em método. Na solução dos problemas ou na exposição de suas
ideias, ele empregava o dialogo, que assumia forma diversa, conforme se tratava de um sofista a
refutar ou de um discípulo a instruir.
 Certo
 Errado
5. A Psicologia – A mais baixa criação visível de Deus é o homem, matéria e espírito, corpo e alma,
animal e racional. Não é duas substância justapostas – como julgava Sócrates – mas uma substância
única, em que o corpo representa a matéria e a alma, a forma.
 Certo
 Errado

180
História
da
Filosofia

181
LIÇÃO 1
1. História da Filosofia

Origem da Filosofia
A palavra Filosofia é grega. É composta por duas outra. Philo e Sophia. Philo deriva-se de
philia, que significa amizade, amor fraterno respeito entre os iguais. Sophia quer dizer, sabedoria e
dela vêm à palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto amizade pela sabedoria, amor e
respeito pelo saber. Filosofo o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Atribui-se
ao filosofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra
Filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os
homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.
Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais
importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando para apenas servir
aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para
competir, isto é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também havia competições artísticas:
dança, poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar e
desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam , Esse Terceiro tipo de pessoa, dizia
Pitágoras, é como o filósofo.
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais não
coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comparada e vendida no mercado;
também não é movido pelo desejo de competir não faz das ideias e dos conhecimentos uma
habilidade para vencer competidores ou atletas intelectuais, mas é movido pelo desejo de observar,
contemplar julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida; em resumo, pelo desejo de saber. A verdade
não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista,
se tivermos olhos (do espírito) para vê-la.

182
2. A Filosofia é Grega

A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da


realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e
causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. Evidentemente,
isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os
chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da
América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses
povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos seres
humanos, pois desenvolvem e desenvolvem.
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas
características, apresenta certas formas de pensar e exprimir os pensamentos, estabelece certas
concepções sobre o que seja a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente
diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.
Vejamos um exemplo: Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência
de coisas, seres e ações contrários ou opostos, que formam a realidade. Deram às oposições o nome
de dois princípios: Yin e Yang.
Yin é o principio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o frio e a
umidade. Yang é o principio masculino ativo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os
dois princípios se combinam e formam todas as coisas, que, por isso, são feitas de contrários ou de
oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade masculina e da passividade feminina. Tomemos
agora um filósofo grego, por exemplo, o próprio Pitágoras. Que diz ele? Que a Natureza é feita de um
sistema de relações ou de proporções matemáticas produzidas a partir da unidade (o número 1 e o
ponto), da oposição entre os números pares e ímpares, e da combinação entre as superfícies e os
volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e combinações aparecem para
nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades contrarias: quente-frio, seco-úmido, áspero-
liso, claro-escuro, grande-pequeno, doce-amargo, duro-mole. Etc.
Para Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática da Natureza
aparece para nós, isto é, sob forma de qualidade opostas. Qual a diferença entre o pensamento chinês
e o do filosofo grego? O pensamento chinês torna duas características (masculino e feminino)
existentes em alguns seres (animais e os humanos) e considera que o Universo inteiro é feito da
oposição entre qualidades atribuídas a dois sexos diferentes de sorte que o mundo é organizado pelo
principio da sexualidade animal ou humano. O pensamento de Pitágoras apanha a Natureza numa
generalidade muito mais ampla do que a sexualidade própria a alguns seres da Natureza, e faz
distinção entre as qualidades sensoriais que nos aparecem e a estrutura invisível da Natureza que
para ele é de tipo matemático e alcançado apenas pelo intelecto, ou inteligência.
São diferenças desse tipo, além de muitas outra, que nos levam a dizer que existe um a
sabedoria chinesa, uma sabedoria hindu, uma sabedoria dos índios, mas não há Filosofia chinesa,
Filosofia hindu ou Filosofia indígena. Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir os
pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas,
tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir chamada cultura europeia ocidental da qual, em
decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.
Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios
fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. Aliás, basta
observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política, monarquia, anarquia, democracia,
física, dialogo, biologia, cronológica, gênese, genealogia, cirurgia, ortopedia, pedagogia, farmácia,
entre muitas outras são palavras gregas, para percebermos a influencia decisiva e predominante da
Filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições das sociedades europeias
ocidentais.
É por isso que em decorrência do predomínio da economia capitalista criada pelo Ocidente e
que impõe um certo tipo de desenvolvimento das ciências e das técnicas, falamos, por exemplo, em
ocidentalização dos chineses, ocidentalização dos japoneses, ocidentalização dos árabes, etc. Com
isso queremos significar que modos de pensar e de agir, criados no Ocidente pela Filosofia grega,
foram incorporados até mesmo por culturas e sociedades muito diferentes daquela onde nasceu a
Filosofia.

183
É pelo mesmo motivo que falamos em orientalismo e orientalista para indicar pessoas que
buscam no budismo, no confucionismo, no hinduísmo, no Yin e no Yang, nos mostra nas pirâmides,
nas auras, nas pedras e cristais maneiras de pensar e de explicar à realidade, a Natureza, a vida e as
ações humanas que não são próprias ou especificas do ocidente, isto é, só diferentes do padrão de
pensamento e de explicação que foram criados pelos gregos a partir do século VII antes de Cristo,
época em que nasce a Filosofia.

184
3. O Legado da Filosofia Grega Para o Ocidente Europeu

Por causa da colonização europeia das Américas, também fazemos parte ainda que de modo
inferiorizado e colonizado do Ocidente europeu e assim também somos herdeiros do legado que a
Filosofia grega deixou para o pensamento ocidental europeu. Desse legado, podemos destacar como
principais contribuições as seguintes: A ideia que a natureza opera obedecendo às leis e princípios
necessários e universais, isto é, os mesmos em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por
exemplo, graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o filósofo inglês, Isaac Newton, estabeleceu
a lei da gravitação universal de todos os corpos da Natureza.
A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a ação de um outro, produz uma
reação igual e contrária, que pode ser calculada usando como elementos do cálculo a massa do corpo
afetado, a velocidade e o tempo com que a ação e a reação se deram. Essa lei é necessária, isto é,
nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é
universal, isto é, é válida para todos os corpos em todos os tempos e lugares.
Um outro exemplo: as leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme demonstram os
filósofos gregos, são universais e necessárias, isto é, seja em Tóquio em 1993, em Copenhague em
1970, em Lisboa em 1810, em São Paulo em 1792, em Moçambique em 1661, ou em Nova York em
1975, as leis do triângulo ou do círculo são necessariamente as mesmas.
A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser plenamente conhecidas
pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecidos misteriosos e secretos, que precisariam ser
revelados por divindades, mas são conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e
capacidade, pode alcançar.
A ideia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas
universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso. Em outras
palavras, a ideia de que o nosso pensamento é lógico ou segue leis lógicas de funcionamento.
Nosso pensamento diferencia uma negação porque, na afirmação, atribuímos alguma coisa a outra
coisa (quando afirmamos que Sócrates e um ser humano, Atribuímos humanidade a Sócrates) e,
na negação, retiramos alguma coisa da outra (quando dizemos este caderno não é verde, estamos
retirando do caderno à cor verde). Nosso pensamento distingue quando uma afirmação é verdadeira
ou falsa. Se alguém apresentar o seguinte raciocínio: Todos os homens são mortais. Sócrates é mortal
é verdadeira, porque foi concluída de outras afirmações que já sabemos serem verdadeiras.
As ideias de que as práticas humanas, isto é, a ação moral, a política, as técnicas e as artes
dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa escolha passional (ou
emocional) ou racional, de nossas preferências, segundo certos valores e padrões, que foram
estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis,
que lhes teriam sido feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossíveis
de serem conhecidas. A ideia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários porque
obedecem a leis naturais ou da humana, mas também podem ser contingentes ou acidentais, quando
dependem das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas.
Dessa forma, uma pedra cai porque seu peso, por lei natural, exige que ela caia natural e
necessariamente; um ser humano anda porque as leis anatômicas e fisiológicas que regem o seu
corpo fazem com que ele tenha os meios necessários para a locomoção. No entanto, se uma pedra,
ao cair, atingir a cabeça de um passante, esse acontecimento é contingente ou acidental. Por quê?
Porque, se o passante não estivesse andando por ali naquela hora, a pedra não atingiria. Assim, a
queda da pedra é necessária e o andar de um ser humano é necessário, mas que uma pedra caia
sobre minha cabeça quando ando inteiramente contingente ou acidental.
Todavia, é muito diferente a situação das ações humanas. É verdade que é por uma
necessidade natural ou por uma lei da Natureza que ando. Mas é por deliberação voluntária que ando
para ir à escola em vez de andar para ir ao cinema, por exemplo. É verdade que é por uma lei
necessária da natureza que os corpos pesados caem, mas é por uma deliberação humana e por uma
escolha voluntária que fabrico uma bomba, a coloco num avião e a faço despencar sobre Hiroshima.
Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o
necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo tudo é necessário, temos que nos
conformar e nos resignar mas também evitar a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se
alguma força extra natural ou sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que
podemos conhecer e nem tudo é possível por mais que o queiramos.

185
A ideia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento verdadeiro, à
felicidade, à justiça, isto é, que os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mas criam valores
pelos quais dão sentido às suas vidas e às suas vidas e às suas ações.
A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade,
insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar
respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas
da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidas pela razão humana, e
que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.
Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não
era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas
que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando
se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além
da verdade pode ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a
todos.

186
4. Ouvindo a Voz dos Poetas

O Nascimento da Filosofia
Escutemos, por um instante, a voz dos poetas, porque ela costuma exprimir o que chamamos
de sentimento do mundo, o sentimento da velhice e da juventude perene do mundo, da grandeza e da
pequeneza dos humanos ou dos mortais.
Assim, o poeta grego Arquíloco escreveu:
E não te esqueças, meu coração, que as coisas humanas apenas mudanças incertas são.
Outro poeta grego, Teógnis, cantado sobre a brevidade da vida, dizia:
Choremos a juventude e a velhice também, pois a primeira foge e a segunda sempre vem.
Também o poeta grego Pídaro falava do sentimento das coisas humanas como passageiras:
A glória dos mortais num só dia cresce, mas basta um só dia, contrário e funesto, para que o
destino, impiedoso, num gesto a lance por terra e ela, súbito, fenece.
Mas não só a vida e os feitos dos humanos são breves e frágeis. Os poetas também exprimem
o sentimento de que o mundo é tecido por mudanças e repetições intermináveis. A esse respeito, a
poesia brasileira Orides Fontela escreveu:
O vento, a chuva, o solo, o frio. Tudo vai e vem, tudo vai e vem.

E o poeta brasileiro, Carlos Drummond, por sua vez, lamentou:


Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Como a vida é senha.
De outra vida nova
Como a vida é nova
Como a vida é vida
Ainda quando morte
Como a vida é forte
Em suas algemas.
Como a vida é bela
Como a vida vale
Mais que a própria vida
Sempre renascida.

O Sentimento de renovação e beleza do mundo, da vida, dos seres humanos é o que


transparece nos versos do poeta brasileiro Mario Quintana, nos seguintes versos: Quando abro a cada
manhã a janela do meu quarto. É como se abrisse o mesmo livro Numa página nova...

E por isso, em outros versos seus lemos:


O canto
Sobrenatural
Que há
Nas coisas da Natureza!
Se nela algo te dá
Encanto ou medo,
Não me digas que seja feia ou má,
É, acaso, singular...

Numa das obras poéticas mais importantes da cultura do Ocidente europeu, as Metamorfoses,
o poeta romano Ovídio exprimiu todos esses sentimentos que experimentamos diante da mudança da
renovação e da repetição, do nascimento e da morte das coisas e dos seres humanos. Na parte final
de sua obra, lemos: Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só
apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um
rio... O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite,
próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite... Não vês as

187
estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida? Como efeito a primavera, quando
surge, é semelhante à criança nova.. A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de
esperança o agricultor tudo floresce.
O fértil campo resplandece como com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas.
Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: É a robusta mocidade, fecunda e ardente.
Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo
entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho
trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos
como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso... E também a
Natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no
vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... Todos os seres têm sua origem noutros
seres! Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix.
Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia.
Quando compele ta cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de
folhas de canela, da aromática nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre
perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênis, que viverá outros cinco séculos... Assim
também é a Natureza e tudo o que nela existe e persiste.

188
5. O Que Perguntavam os Primeiros Filósofos?

Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de
uma arvore nasce outra arvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por
que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer a noite, o inverno
parece fazer surgir à primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro
escurece com o passar do tempo?
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A
paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até ressecar-se
no inverno. Por que um dia luminoso e ensolarado, do céu azul e brisa suave, repentinamente, se
torna sombrio, coberto de nuvens, varrido por ventos furiosos, tomado pela tempestade, pelos raios e
trovões?
Porque a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que antes me
agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da música que antes me
embalava, agora, que estou doente, parece um ruído insuportável?
Por que o que parecia uno se multiplica em tantos outros? De uma só árvore, quantas flores e
quantos frutos nascem! De uma só gata, quantos gatinhos nascem!
Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? A água do copo, tão transparente e de boa
temperatura, torna-se uma barra dura e gelada, deixa de ser líquida e transparente para tornar-se
sólida e acinzentada. O dia, que começa frio gelado, pouco a pouco, se torna quente e cheio de calor.
Por que nada permanece idêntico a si mesmo? De onde vêm os seres? Para onde vão, quando
desaparecem? Por que se transformaram? Por que se diferenciam uns dos outros?
Mas também, por que tudo parece repetir-se? Depois do dia, à noite; depois da noite, o dia.
Depois do inverno, o verão, depois do verão, a primavera, depois desta, o outono e depois deste,
novamente o inverno. De dia, o sol; à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, o mar é tranquilo e
propício à navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. O calor leva as águas para o
céu e as traz de volta pelas chuvas. Ninguém nasce adulto ou velho, mas sempre criança, que se torna
adulto e velho.
Foram perguntas como essas que os primeiros filósofos fizeram a para elas buscaram
respostas. Sem dúvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas
explicações, já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência,
da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativa,
não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.

189
LIÇÃO 2
6. O Nascimento da Filosofia

Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século
VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor ( particularmente as que
formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. E o primeiro filósofo foi Tales de
Mileto. Além de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a Filosofia também
possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas
outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logos, que vem da palavra jogos, que
significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a Filosofia nasce como
conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza, donde, cosmologia. Apesar da segurança
desses lados, existe um problema que, durante séculos, vem ocupando os historiadores da Filosofia: o
de saber se a Filosofia – que é um fato especificamente grego – nasceu por si mesma ou dependeu de
contribuições da sabedoria oriental (egípcios, assírios, persas, caldeus, babilônicos) e da
sabedoria de civilizações que antecederam à grega, na região que, antes de ser a Grécia ou a Hélade,
abrigara as civilizações de Creta, Tirento e Micenas.
Durante muito tempo, considerou-se que a Filosofia nascera por transformações que os gregos
operaram oriental (egípcia, persa,caldeia e babilônica). Assim, filósofos como Platão e Aristóteles
afirmavam a origem oriental da Filosofia. Os gregos, diziam eles, povo comerciante e navegante,
descobriu, através das viagens, a agrimensura dos egípcios (usada para medir as terras, após as
cheias do Nilo), a astrologia dos caldeus e dos babilônicos (usada para prever grandes guerras,
subia e queda dos reis, catástrofes como peste, fome, furações), as genealogias dos persas
(usadas para dar continuidade às linhagens e dinastias dos governantes), os mistérios religiosos
orientais referentes aos rituais de purificação da alma (para livra-la da reencarnação continua e
garantir-lhe o descanso eterno), etc. A Filosofia teria nascido por elas transformação que os gregos
impuseram a esses conhecimentos.
Dessa forma, da agrimensura, os gregos fizeram nascer duas ciências: a aritmética e a
geometria; da astrologia, fizeram surgir também duas ciências: a astronomia e a meteorologia; das
genealogias, fizeram surgir mais uma outra ciência: a história; dos mistérios religiosos de purificação
da alma, fizeram surgir às teorias filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana. Todos
esses conhecimentos teriam propiciado o aparecimento da Filosofia, isto é, da cosmologia, de sorte
que a Filosofia só teria podido nascer graças ao saber oriental.
Essa ideia de uma filiação oriental da Filosofia foi muito defendida oito séculos depois de seu
nascimento (durante o século 11 e 111 depois de Cristo), no período do Império Romano. Quem a
defendia? Os pensadores judaicos, como filho de Alexandria, e os Padres da Igreja, como Eusébio de
Cesareia e Clemente de Alexandria.
Por que defendia a origem da Filosofia grega? Pelo seguinte motivo; a Filosofia grega tomara-
se, em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos da época, os romanos, a forma superior ou
mais elevada do pensamento e da moral. Os judeus, para valorizar seu pensamento, desejavam que a
Filosofia tivesse uma origem oriental, dizendo que o pensamento de filósofos importantes, como
Platão, tinha surgido no Egito, onde se originara o pensamento de Moisés, de modo que havia uma
ligação entre a Filosofia grega e a Bíblia.
Os Padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que ensinamentos de Jesus eram elevados
e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e por isso mostravam que os filósofos
gregos estavam filiados a correntes de pensamentos místicos e orientais e, dessa maneira, estariam
próximos do cristianismo, que é uma religião.
No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada Orientalista, e muitos, sobretudo no século
XIX da nossa era, passaram a falar na Filosofia como sendo o milagre grego.
Com a palavra milagre queriam dizer várias coisas: Que a Filosofia surgiu inesperada e
espanto somente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse; Que a Filosofia grega foi um
acontecimento grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio, de um
milagre; Que os gregos foram um povo excepcional sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes
e nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia, como
foram os únicos e a criar as ciências e a dar às artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu,
nem antes e nem depois deles.

190
7. Nem Oriental, Nem Milagre

Desde o final do século XIX da nossa era e durante o nosso século, estudos históricos,
arqueológicos, linguísticas, literários e artísticos corrigiram os exageros das duas teses, isto é, tanto a
redução da Filosofia à sua origem oriental. Quanto o milagre grego.
Retirados os exageros do orientalismo, percebe-se, de fato, a Filosofia tem dividas com a
sabedoria dos orientais, não só porque as viagens colocaram gregos em contato com os
conhecimentos produzidos por outros povos (sobretudo os egípcios, persas, babilônicos, assírios
e caldeus), mas também porque os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os poetas
Homeru, Hesíodo, encontraram nos mitos e nas religiões dos povos orientais, bem como nas culturas
que precederam a grega, os elementos para elaborar a mitologia grega, que, depois seriam
transformadas racionalmente pelos filósofos. Assim, os estudos gregos recentes mostraram que mitos,
cultos religiosos, instrumentos musicais, dança, musica, poesia, utensílios domésticos, e de trabalho,
formas de habitação, formas de parentesco e formas de organização tribal dos gregos foram resultado
de contatos profundos com as culturas mais avançadas do Oriente e com a herança deixada pelas
culturas que antecedem a grega, nas regiões onde ela se implantou.
Esses mesmos estudos apontaram, porém, que, se nos afastarmos dos exageros da ideia de
um milagre grego, podemos perceber o que havia de verdadeiro nessa tese. De fato, os gregos
imprimiram mudanças de qualidade tão profundas no que receberam do Oriente e das culturas
precedentes, que até parecia terem criado sua própria cultura a partir de si mesmos. Dessas
mudanças, podemos mencionar quatro que nos darão uma ideia da originalidade grega:

1. Com relação aos mitos: quando comparamos os mitos orientais, cretenses, micênicos,
minóicos e os que aparecem nos poetas Homero e Nesíodo, vemos que eles retiraram os aspectos
apavorantes e monstruosos dos deuses e do inicio do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os
deuses, divinizariam os homens; deram racionalidade a narrativas sobre as origens das coisas, dos
homens, das instituições humanas (como o trabalho, as leis, a moral);
2. Com relação aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciência (isto é, num
conhecimento racional, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática
para o uso direto da vida. Assim, transformou em matemática (aritmética, geometria, harmonia) o
que eram expedientes práticos para medir, contar e calcular; transformou em astronomia
(conhecimento racional da natureza e do movimento dos astros) aquilo que eram práticas de
adivinhação e previsão do futuro; transformou em medicina (conhecimento racional sobre o corpo
humano, a saúde e a doença) aquilo que eram práticas de grupos religiosos secretos para a cura
misteriosa das doenças. E assim por diante;
3. Com relação à organização social e política: Os gregos não inventaram apenas a ciências ou
Filosofia, mas inventaram também a política. Todas as sociedades anteriores a eles conheciam a
praticavam a autoridade e o governo. Mas, por que não inventaram a política propriamente dita? Nas
sociedades orientais e não gregas, o poder e o governo exercidos como autoridade absoluta da
vontade pessoal e arbitrária de um só homem ou de um pequeno grupo de homens que decidiam
sobre tudo, sem consultar a ninguém e sem justificar suas decisões para ninguém.
Os gregos inventaram a política (palavra que vem de polis que, em grego, significa cidade
organizada por leis e instituições) porque instituíram práticas pelas quais as decisões eram tomadas
a partir de discussões e debates públicos e eram adotadas ou revogadas por voto em assembleias
públicas; por que estabeleceram instituições públicas (tribunais, assembleias, separação entre
autoridade do chefe da família a autoridade pública, entre autoridade político-militar e
autoridade religiosa) e sobretudo porque criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da
vontade coletiva pública e não como imposição da vontade de um só ou de um grupo, em nome de
divindades. Os gregos criaram a política porque separaram o poder político e duas outras formas
tradicionais de autoridade: a do chefe de família e a do sacerdote ou mago;
4. Com relação ao pensamento: diante da herança recebida, os gregos inventaram a ideia
ocidental da razão como um pensamento sistemático que segue regras, normas e leis de valor
universal (isto é, válidas em todos os tempos e lugares. Assim, por exemplo, em qualquer tempo
e lugar 2+2 serão sempre 4; o triangulo sempre terá três lados; o sol sempre será maior do que
a Terra, mesmo que ele pareça menor do que ela, etc.).

191
8. Filosofia e Mito

Resolvido esse problema, agora temos um outro que também tem ocupado muito os
estudiosos. O novo problema pode ser assim formulado; a Filosofia nasceu realizando uma
transformação gradual sobre os mitos gregos ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?
O que é um mito?
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos
homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e
da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar
alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar).
Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como
verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra, é uma narrativa feita em público, baseada,
portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade narrativa vem do
fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de que
testemunhou os acontecimentos narrados.
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Porque tem autoridade?
Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos
passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa
transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra o mito é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é,
pois, incontestável e inquestionável. Como o mito narra à origem do mundo e de tudo o que nele
existe? De três maneiras principais:
Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de
relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs
(seres semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus como uma humana ou de
uma deusa como um humano), os hu8manos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades,
como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mal, justo-injusto, belo-feio, certo errado, etc.
A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das
coisas, das qualidades, por outros seres, que são pais ou antepassados. Tomemos um exemplo da
narrativa mítida.
Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de plenitude,
inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas,
o mito narra à origem do amor, isto é, o nascimento de deus Eros (que conhecemos mais com o
nome de Cupido): Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, meno0s a
deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e
dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou cupido),
qu8e, com sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mas astúcia
para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém
se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcia para ser amado e satisfeito,
ficando ora maltrapilho, ora rico e cheio de vida.
Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no
mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças divinas, ou uma aliança entre elas
para provocar alguma coisa no mundo dos homens.
O poeta Homero, na Ilíada, que narra à guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas,
os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos,
alguns a favor de um lado e outros a favor de outro. A cada vez, orei dos deuses, Zeus, ficava com um
dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos lados – ou os troianos ou os gregos – vencer
uma batalha.
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o
príncipe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras
deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu
inicio à guerra entre os humanos.
Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedecem ou a
quem os obedece. Como o mito narra, por exemplo, o uso de fogo pelos homens? Para os homens,
fogo é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam a cozinhar os
alimentos, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno quanto podem fabricar instrumentos
de metal para o trabalho e para a guerra.

192
Os titãs, Prometeram, mais antigos dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para
que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens também. Qual foi o
castigo dos homens?
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que
conteria coisas maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta,. Pandora foi enviada aos homens e, cheia
de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças,
doenças, pestes, guerras e sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males do mundo.
Vemos, portanto, que o mito narra à origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais
entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a
origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias.
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer
nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento gênese, descendência, gênero, espécie).
Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmos,
como já vimos, quer dizer mundo ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o
nascimento e organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.
Teogonia é uma palavra composta de gonia e theos, que, em grego, significa: as coisas divinas, os
seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus
pais e antepassados.
Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte: A Filosofia, ao nascer, é, como já dissemos,
uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das
transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos
ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia? Duas
foram às respostas dadas:
A primeira foi dada nos fins do século e começo de século XX, quando reinava um grande
otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a
Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação cientifica da
realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de moedas do nosso século, quando os estudos dos
antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural
das sociedades e como os mitos estão profundamente estranhados nos modos de pensar e de sentir
de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus
mitos, como uma racionalização deles.
Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que Filosofia,
percebendo as contradições e limitações dos mitos foram reformulando e racionalizando as narrativas
místicas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente. Quais
são as diferenças entre Filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais importantes:
O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo
e fabuloso, voltando-se para o que era antes de tudo existir tal como existe no presente. A Filosofia, ao
contrario, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na
totalidade do tempo), as coisas são como são;
O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou aliança entre forças divinas
sobrenaturais e personalizadas, enquanto a Filosofia, ao contrario, explica a produção natural das
coisas por elementos e causas naturais e impessoais. O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a
Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra à origem dos seres celestes ( os astros), terrestres
(plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A Filosofia
explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos quatros elementos
úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.
O mito não se importava com contradições, com fabuloso e o incompreensível, não só porque
esses eram traços próprios da narrativa mística, como também porque a confiança e a crença no mito
vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrario, não admite contradições,
fabulações e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente do filosofo, mas da
razão, que é a mesma em todos os seres humanos.

193
Revisão Geral

 Nesta lição aprendemos que, a palavra Filosofia é grega, e é composta por duas outras:
Philo e Sophia;
 Vimos que. A Filosofia significa amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber;
 Aprendemos também que, filosofo é o que ama a sabedoria;
 No século passado XVII da nossa era, o filosofo inglês, Isaac Newton, estabeleceu a lei
da gravitação universal de todos os corpos da Natureza;
 A Filosofia é um fato tipicamente grego;
 Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, a diferença entre o
necessário e o contingente;
 Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do
século VII e inicio do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de
Mileto.
 O primeiro filosofo foi Tales de Mileto;
 Filósofos como Platão e Aristóteles afirmavam origem oriental da Filosofia;
 Nem todos concordavam com a tese da Filosofia orientalista e afirmavam que a
Filosofia era um milagre grego;
 A palavra mito vem do grego, mithos e deriva de dois versos: Mytheyo e Mytheo;
 Cosmos quer dizer mundo ordenado e organizado;
 E, por ultimo, vimos que, a Filosofia explica o surgimento de seres por composições,
combinações e separações dos 4 elementos: úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.

194
8. Condições Históricas Para o Surgimento da Filosofia

Resolvido esse problema, temos ainda um ultimo a solucionar: O que tornou possível o surgimento da
Filosofia na Grécia no final do século VII e no inicio do século VI antes de Cristo? Quais as condições
materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas que permitem o surgimento da Filosofia?
Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia.

As viagens marítimas. Que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os muito
diziam habitados por Deuses, titãs, herói eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e
que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não
possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantaniamento ou a
desinistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação que o mito já não podia
oferecer;

A invenção do calendário. Que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do


ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de
abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino
incompreensível.
A invenção da moeda. Que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das
coisas concretas ou dos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata uma troca feita
pelo calculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de
abstração e de generalização;
Surgimento da vida urbana. Como predomínio do comercio e do artesanato, dando
desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestigio das famílias da
aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o
surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisa encontrar pontos de poder e de pertigio
para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas
pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas
e aos conhecimentos favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir;
A invenção da escrita alfabética. Que, como a do calendário e da moeda, revela o
crescimento da capacidade de obstrução e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou
fonética, diferentemente de outras escritas como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os
ideogramas dos chineses, supõem que não se representa uma imagem da coisa que está sendo dita,
mas a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve;
A invenção da política. Que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da
Filosofia:
1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si
mesmo o que é melhor para si e como ela definira suas relações internas. O aspecto legislado e
regulado da cidade – da polis – servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, regulado
e ordenado do mundo como uma mundo racional.
2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de
discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poeta vidente, que recebia das
deusas ligadas à memória (a deusa Mnernosyne, mãe das musas, que guiavam os poetas) uma
iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural, diziam aos homens quais eram as decisões dos
deuses que eles deveriam obedecer.
Agora, com a polis, isto é, a cidade política, surge à palavra como direito de cada cidadão de
emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por
ele, de tal modo que surge o discurso político como as palavras humanas compartilhada, como
dialogam, discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou
das razões para fazer ou não fazer alguma coisa. A política, valorizando o humano, o pensamento, a
discussão, a persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para
que surgisse o discurso ou palavra filosófica.
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por
seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrario, ser públicos,
ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um pensamento que todos podem
compreender é discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a Filosofia.

195
9. Principais Características da Filosofia Nascente

O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais: a tendência à


racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, é o critério da
explicação de alguma coisa; Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é,
colocado um problema, sua solução é submetida a analise, a critica, à discussão e à demonstração,
nunca sendo aceita como uma verdade, se não for provado racionalmente que á verdadeira; Exigência
de que o pensamento apresente suas regras de funcionamento, isto é, o filosofo é aquele que justifica
suas ideias provando que segue regras universais do pensamento. Para os gregos, é uma lei universal
do pensamento que a contradição indica erro ou falsidade.
Uma contradição acontece quando afirmo e nego a si, mesma coisa sobre uma mesma coisa
(por exemplo: Pedro; e um menino e não um menino ,A noite é escura e clara; O inferno não
tem limites e é limitado). Assim, quando uma contradição aparecer numa exposição filosófica, ela
deve ser considerada falsa; recusa de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de que,
para cada problema, seja investigada e encontrada a solução própria por ele; tendência à
generalização, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas diferentes porque,
sob a variação percebida pelos órgãos de nossos sentidos, o pensamento descobre semelhanças e
identidades.
Por exemplo, para meus olhos, meu tato e meu olfato, o gelo é diferente da neblina, que é
diferente do vapor de uma cachoeira, que é diferente da chuva, que é diferente da correnteza de um
rio. No entanto, o pensamento mostra que se trata sempre de um mesmo elemento (água), passando
por diferentes estados e formas (liquido, sólido e gasoso), por causas naturais diferentes
(condensação, liquefação e evaporação).
Reunindo semelhanças, o pensamento conclui que se trata de uma coisa que aparece para
nossos sentidos de maneiras diferentes, e como se fossem coisas diferentes. O pensamento
generaliza porque abstrai (isto é, separa e reúne os traços semelhantes), ou seja, realiza uma
síntese. E o contrario também ocorre. Muitas vezes nossos órgãos dos sentidos nos fazem perceber
coisas diferentes como se fossem a mesma coisa, e o pensamento demonstrara que se trata de uma
coisa diferente sob a aparência da semelhança.
No ano de 1992, no Brasil, os jovens estudantes pintaram o rosto com as cores da Bandeira
Nacional e saíram às ruas para exigir o impedimento do presidente da Republica. Logo depois, os
candidatos a prefeituras municipais contrataram jovens para aparecer na televisão com o rosto
pintado, defendendo tais candidaturas. A seguir, as Forças Armadas Brasileira, para persuadirem
jovens a servi-las, contrataram jovens de rosto-pintado para aparecer como soldados, marinheiros e
aviadores. Ao mesmo tempo, varias empresas, pretendendo vender seus produtos aos jovens,
contrataram artistas jovens, para, de rostos pintados fazer a propaganda de seus produtos.
Aparentemente, teríamos a mesma coisa – os jovens rebeldes e conscientes, de rostos
pintados, símbolo de esperança do País. No entanto, o pensamento pode mostrar que, sob a
aparência da semelhança percebida, estão as diferenças, pois os primeiros rostos-pintados fizeram um
movimento político espontâneo, os segundos fez propagandas políticas para um candidato (e
receberam para isto), os terceiros tentaram ajudar as Forças Armadas a aparecer com divertidas e
juvenis, e os últimos, mediante remuneração, estavam transferindo para produtos industriais (roupas,
sapatos, vídeos, margarinas, discos, iorgutes) um símbolo político inteiramente despolitizado e sem
nenhuma relação com sua origem. Separando as diferenças, o pensamento realiza, nesse caso, uma
análise.

196
10. Campos de Investigação da Filosofia

Os períodos da Filosofia grega:


A Filosofia terá, no correr dos séculos, um conjunto de preocupações, indagações e interesses
que lhe vieram de seu nascimento na Grécia. Assim, antes de vermos que campos são esses,
examinemos brevemente os conteúdos que a Filosofia possui na Grécia. Para isso, devemos, primeiro,
conhecer os períodos principais da Filosofia grega, pois tais períodos definiram os campos da
investigação filosófica na Antiguidade. A historia da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em
quatro grandes fases ou épocas:
A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta Homero, em seus
dois grandes poemas, Ilíada e Odisseia;
A da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V antes de Cristo, quando os
gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Megara, Samos, etc., e predomina a economia
urbana, baseada no artesanato e no comercio;
A da Grécia clássica, nos séculos V e IV antes de Cristo, quando a democracia se desenvolve,
a vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império comercial e
militar.
E finalmente, a época belenística, a partir do final do século IV antes de Cristo, quando a
Grécia passa o poderio do império de Alexandre da Macedônia e depois, para as mãos do Império
Romano, terminando a historia de sua existência independente. Os períodos da Filosofia não
correspondem exatamente a essas épocas já que ela não existe na Grécia homérica e só aparece nos
meados da Grécia arcaica. Entretanto, o apogeu da Filosofia acontece durante o apogeu da cultura e
da sociedade grega; portanto, durante a Grécia clássica. Os quatro grandes períodos da Filosofia
grega, nos quais seu conteúdo muda e se enriquece são:
Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final do século V antes de
Cristo, quando a Filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das
transformações na Natureza.
Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o século IV antes de Cristo,
quando a Filosofia investiga as questões humanas, isto é, ética, a política e as técnicas (em grego,
ântropos quer dizer homem; por isso o período recebeu o nome de antropológico).
Período sistemático, do final do século IV ao final do século 111 antes de Cristo, quando a
Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia,
interessando-se sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto de conhecimento filosófico, desde que
as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os
critérios da verdade e da ciência.
Período belenístico ou greco-romano, do final do século 111 antes de Cristo até o século VI
depois de Cristo. Nesse longo período, que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros Padres da
Igreja, a Filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das
relações entre o homem e a Natureza e de ambos com Deus.

197
LIÇÃO 3
11. Filosofia Grega

Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da Filosofia grega têm como referencia o
filosofo Sócrates de Atenas, donde a divisão em Filosofia pré-socrática e socrática.

Período Pré-Socrático ou Cosmológico


Os principais filósofos pré-socráticos foram:

Filosofo da Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e


Heráclito de Éfeso; os filósofos da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e
Arquitas de Tarento;

Filósofos da Escola Eleata: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia.


Filósofos da Escola Pluralidade: Empédoeles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômenam,
Leucipo de Abdera e Denóerito de Abdera.

As principais características da cosmologia são:


É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza,
da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também
explica a origem e as mudanças dos seres humanos.
Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido do nada
(como é o caso, por exemplo, na religião judaico-cristã, na qual Deus cria o mundo do nada).
Por isso diz: Nada vem e nada volta ao nada.
Isto significa: a) que o mundo, ou a Natureza, é eterno; b) que o mundo, ou a Natureza, tudo se
transforma em outra coisa sem jamais desaparecer, embora a forma particular que uma coisa possua
desapareça com ela, mas não sua matéria. O fundo eterno, perene, imortal, de onde tudo nasce e para
onde tudo volta é invisível para os olhos do corpo visível somente para o olho do espírito, isto é, para o
pensamento. O fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo
retorna é o elemento primordial da Natureza e chama-se physis (em grego, physis vem de um
verbo que significa fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir). A physis é a Natureza
eterna e em perene transformação.
Afirma que, embora physis (o elemento primordial eterno) seja imperecível, ela dá origem a
todos os seres infitalmente variados e diferentes do mundo, seres que, ao contrário do principio
gerador, são perecíveis ou mortais. A physis é imortal e as coisas físicas são mortais. Afirma que
todos os seres, além de serem gerados e de serem mortais, são seres em contínua transformação,
mudando de qualidade (por exemplo, o branco amarelece, acinzenta, enegrece; o negro
acinzenta, erobranquece; o novo envelhece; o quente esfria; a noite se torna dia; a primavera
cede lugar ao verão, que cede lugar ao outono, que cede lugar ao inverno; o saudável adoece; o
doente se cura; a criança cresce; a arvore vem da semente e produz sementes, e etc .) e
umudando de quantidade (o pequeno cresce e fica grande; o grande diminuiu e fica pequeno; o
lo9nge fica perto se eu for até ele, ou se as coisas distantes chegarem até mim, um rio aumenta
de volumo na cheia e diminui na seca, etc.). Portanto, o mundo está numa mudança continua, sem
por isso perder sua forma, sua ordem e sua estabilidade.
A mudança nascer, morrer, mudar de qualidade ou de quantidade – chama-se movimento e o
mundo está em movimento permanente. A Natureza é mobilidade permanente. O movimento do
mundo chama-se devir e o devir segue leis rigorosas que o pensamento conhecimento. Essas leis são
as que mostram que toda mudança é passagem de uni estado ao seu contrario: dia-noite, claro-
escuro, quente-frio, seco-úmido, novo-velho, pequeno-grande, bom-mau, cheio-vazio, um-muitos, e
etc. O devir é, portanto, a passagem continua de uma coisa ao seu estado contrario e essa passagem
não é caótica, mas obedecem as leis determinadas pela physis ou pelo principio fundamental do
mundo. Os diferentes filósofos escolheram diferentes physis, isto é, cada um dos filósofos encontrou
motivos e razões para dizer qual era o principio eterno e imutável que está na origem da Natureza e de
suas transformações. Assim, Tales dizia que o ilimitado sem qualidades definidas; Anaxímenes, que
era o ar ou o frio; Heráclito afirmou que era o fogo; Leucipo e Demócrito disseram que eram os
átomos. E assim por diante.

198
12. Período Socrático ou Antropológico

Com o desenvolvimento das cidades, do comercio, do artesanato e das artes militares,


Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu período de
esplendor, conhecido como o Século de Pericies. É a época de maior florescimento da democracia. A
democracia grega possuía, entre outras, duas características de grande importância para o futuro da
Filosofia.
Em primeiro lugar, a democracia afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante
as leis e o direito de todo particular diretamente do governo da cidade da Polis. Em segundo lugar, e
como consequência, a democracia, sendo direta e não por eleição de representantes, garantia a toda a
participação no governo, e os que dele participavam tinham o direito de exprimir, discutir e defender
em publico suas opiniões sobre as decisões que a cidade deveria tomar. Surgia, assim, a figura
política do cidadão.
Ora, para conseguir que a sua opinião fosse aceita nas Assembleias, o cidadão precisava
falar e ser capaz de persuadir. Com isso, uma mudança profunda vai ocorrer na educação grega.
Quando não havia democracia, mas dominavam as famílias aristocráticas, senhoras das terras, o
poder lhes pertencia. Essas famílias, valendo-se de dois grandes poetas gregos, Homero e Hesíodo,
criaram um padrão de educação, próprio dos aristocratas. Esse padrão afirmava que o homem ideal ou
perfeito era o guerreiro belo e bom. Belo: seu corpo era formado pela ginástica, pela dança e pelos
jogos da guerra, imitando os heróis da guerra de Tróia (Aquiles, Heitor, Ajax, Ulisses). Bom: seu
espírito era formado escutando Homero e Hesíodo, aprendendo as virtudes admiradas pelos deuses e
praticadas pelos heróis, a principal delas sendo a coragem diante da morte, na guerra. A virtude era a
Arete (excelência e superioridade), própria dos melhores, os aristói.
Quando, porém, a democracia se instala e o poder vai sendo retirado dos aristocratas, esse
ideal educativo ou pedagógico também vai sendo substituído por outro. O ideal da educação do Século
de Pércies é a formação do cidadão. A Arete é a virtude cívica. Ora, qual é o momento em que o
cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania? Quando opina, discute, delibera e vota nas
assembleias. Assim, a nova educação estabelece como padrão do bom orador, isto é, aquele que
saiba falar em público e persuadir os outros na política. Para dar aos jovens essa educação,
substituindo a educação antiga dos poetas, surgiram, na Grécia, os sofistas, que são os primeiros
filósofos do período socrático. Os sofistas mais importantes foram: Pitágoras de Abdera, Górgias
Leontini e Isocrates de Antenas.
Que diziam e faziam os sofistas? Diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas
estavam repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da polis.
Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível ensinar aos jovens
tal arte para que fossem bons cidadãos.
Que arte era essa? A arte da persuasão. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para
os jovens, que aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição contraria, não, de
modo, que, numa assembleia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e
ganhassem à discussão. O filósofo Sócrates, considerando o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os
sofistas, dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela
verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse vantagioso.
Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valerem tanto quanto a
verdade. Como homem de seu tempo, Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um
lado, a educação antiga do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da sociedade grega, e,
por outro lado, os filósofos cosmologistas defendiam ideias tão contrarias entre si que também não era
uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro.
Discordando dos antigos poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas, o que propunha
Sócrates? Propunha que, antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer persuadir os outros,
cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A expressão conhece-te a ti
mesmo, que estava gravada no poético do templo de Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a
divisa de Sócrates.
Por fazer do autoconhecimento ou do conhecimento que os homens têm de si mesmos a
condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período socrático é
antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem, particularmente de seu espírito e de sua
capacidade para conhecer a verdade. O retrato que a história da Filosofia possui de Sócrates foi
traçado por seu mais importante aluno e discípulo, o filosofo ateniense Platão.

199
Que retrato Platão nos deixa de seu mestre Sócrates?
O de um homem que andava pelas ruas e praças de Atenas, pelo mercado e pela
assembleia indagando a cada um: Você sabe o que é isso que você está dizendo?, Você sabe o que é
isso que você acredita?, Você acha que está conhecendo realmente aquilo em que acredita, aquilo em
que está pensando, aquilo que está dizendo?. Voce diz falava Sócrates, que a coragem é importante,
mas:
O que é a coragem? Você acredita que a justiça é importante, mas: o que é a justiça?
Você diz que ama as coisas e as pessoas belas, mas o que é a beleza? Você crê que seus
amigos são as melhores coisas que você tem, mas: o que é a amizade?
Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam
e que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados,
curiosos, pois, quando tentavam responder ao cerebre o que é, descobriam, surpresos, que não
sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias.
Mas o pior não era isso. O pior é que as pessoas esperavam que Sócrates respondesse por
elas ou para elas, que soubesse as respostas às perguntas, como os sofistas pareciam saber, mas
Sócrates, para desconcerto geral, dizia: Eu também não sei, por isso estou perguntando. Donde a
famosa expressão atribuída a ele: Sei que nada sei.
A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que procurava Sócrates?
Procurava Sócrates? Procurava a definição daquilo que uma coisa, uma ideia, um valor é
verdadeiramente. Procurava a essência verdadeira da coisa, da ideia, do valor. Procurava o conceito
e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das ideias e dos valores.
Qual a diferença entre uma opinião e um conceito? A opinião varia de pessoa para pessoa, de lugar
para lugar, de época para época. É instável, mutável, depende de cada um, de seus gostos e
preferenciais. O conceito, ao contrario, é uma verdade interpolar, universais e necessárias que o
pensamento descobre, mostrando que a essência universal, intemporal e necessária de alguma coisa.
Por isso, Sócrates não perguntava se tal ou qual coisa era bela pois nossa opinião sobre ela pode
variar e sim: O que é a beleza? Qual é a essência ou o conceito do belo? Do justo? Do amor? Da
amizade?
Sócrates perguntava: Que razões rigorosas você possui para dizer o que diz e para pensar o
que pensa? Qual é o fundamento racional daquilo que você fala e pensa? Ora, as perguntas de
Sócrates se referiam as ideias, valores, praticas e comportamentos que os atenienses julgavam certos
e verdadeiros em si mesmos e por si mesmos. Ao fazer suas perguntas e suscitar dúvidas, Sócrates
os fazia pensar não só sobre si mesmos, mas também sobre a polis. Aquilo que parecia evidente
acabava sendo percebido como duvidoso e incerto. Sabemos que os poderosos têm medo do
pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar se todo mundo aceitar as coisas como elas
são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são. Para os poderosos de Atenas,
Sócrates se tornará um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de
desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Levado perante a assembleia Sócrates
não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno – a cicuta – e obrigado a suicidar-se.
Por que Sócrates não se defendeu? Porque, dizia ele: se eu me defender, estarei aceitando
as acusações, e eu não as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de mim? Que eu pare
de filosofar. Mas eu prefiro a morte a ter que renunciar a Filosofia.
O julgamento e a morte de Sócrates narrados por Platão numa obra intitulada Apologia de
Sócrates, isto é, a defesa de Sócrates feita por seus discípulos, contra Atenas. Sócrates nunca
escreveu. O que sabemos de seu pensamento encontra-se nas obras de seus vários discípulos. E
Platão foi o mais importante deles. Se reunirmos o que esse filósofo escreveu sobre os sofistas e
sobre Sócrates, além da exposição de suas próprias ideias, poderemos apresentar como
características gerais do período socrático.
A Filosofia se volta para as questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das
ideias das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com as questões morais e políticas.
O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional,
capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. Reflexão é a volta que o pensamento
faz sobre si mesmo para conhecer-se; e a consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade
para conhecer as coisas, alcançando o conceito ou a essência delas.
Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem a preocupação se
volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que encontramos a verdade, isto é, o

200
pensamento deve oferecer a si mesmo carinhos próprios, critérios próprios e meios próprios para
saber o que é o verdadeiro e como alcança-lo em tudo o que investigamos.
A Filosofia está voltada para a definição das virtudes morais e das virtudes políticas, tendo
como objeto central de suas investigações a moral e a política, isto é, as ideias e práticas que norteiam
os comportamentos dos seres humanos tanto como indivíduos quanto como cidadãos. Cabe a
Filosofia, portanto, encontrar a definição, o conceito ou a essência dessas virtudes, para além da
variedade das opiniões, para além da multiplicidade das opiniões contraria e diferentes. As perguntas
filosóficas se referem, assim, a valores como a justiça, a coragem, a amizade, a piedade, o amor, a
beleza, a temperança, a prudência, etc., que constituem os ideais do sábio e do verdadeiro cidadão.
É feita, pela primeira vez, uma separação radical entre, de um lado, a opinião e as imagens
das coisas, trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábitos, pelas tradições pelos
interesses, e, de outro lado, as ideias. As ideias. As ideias se referem à essência íntima, invisível,
verdadeira das coisas e só podem ser alcançados pelo pensamento que afasta os dados sensoriais, os
hábitos recebidos, os preconceitos, as opiniões.
A reflexão e o trabalho do pensamento são tomados como uma purificação intelectual, que
permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável, universal e necessária. A opinião,
as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas, mutáveis, inconsistentes,
contraditórias, devendo ser abandonadas para que o pensamento siga seu caminho próprio no
conhecimento verdadeiro.
A diferença entre os sofistas, de um lado, e Sócrates e Platão, de outro, é dada pelo fato de
que os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percepções sensoriais e trabalham com elas
para produzir argumentos de persuasão, enquanto Sócrates e Platão consideram as opiniões e as
percepções sensoriais, ou imagens das coisas, como fonte de erro, mentira e falsidade, formas
imperfeitas do conhecimento que nunca alcançam à verdade plena da realidade.

201
13. O Mito da Caverna

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres
humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são
forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a
cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali
penetre, de modo que se possa, na obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros
no exterior, portanto há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se
fosse a parte fronteira de um palco de marionetes.
Ao longo dessa mureta palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de
seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela,
os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas,
mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as, sombras vistas são as
próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens
(estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não
podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a
luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um
prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a
mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar,
dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do
sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os
homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas,
descobrindo que durante toda sua vida não vira senão sombras de imagens (as sombras das
estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria
realidade.
Liberdade e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado
pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno?
Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem
silencia-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em
afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por mata-lo. Mas quem
sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna
rumo à realidade.
O que é caverna? O mundo em que vivemos. O que são as sombras das estatuetas? As
coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O
filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das
ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual
ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A
Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à
condenação de Sócrates à morte pela assembleia ateniense)? Porque imaginaram que o mundo
sensível é o mundo real e o único verdadeiro.

PERÍODO SISTEMÁTICO: Este período tem como principal nome o filósofo Aristóteles de
Estagira, discípulo de Platão. Passados quase quatro séculos de Filosofia, Aristóteles apresenta,
nesse período, uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado pelos
gregos em todos os ramos do pensamento e da prática considerado essa totalidade de saberes como
sendo a Filosofia. Esta, portanto, não é um saber específico sobre algum assunto, mas suma forma de
conhecer todas as coisas, possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que
conhece.
Além de a Filosofia ser o conhecimento da totalidade e uma diferença entre esses
conhecimentos e práticas humanas, ela também estabelece uma diferença entre esses
conhecimentos, distribuindo-os numa escala que vai dos mais simples e inferiores aos mais complexos
e superiores. Essa classificação e distribuição dos conhecimentos fixaram o pensamento ocidental, os
campos de investigação da Filosofia como totalidade do saber humano.

202
Cada saber, no campo que lhe é próprio, possui seu objeto especifico, procedimentos
específicos para sua aquisição e exposição, formas próprias de demonstrações e prova. Cada campo
de conhecimento é uma ciência de demonstração e prova. Cada campo de conhecimento é uma
ciência (ciência, em grego é episteme).
Aristóteles afirma que, antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu campo
próprios, seus procedimentos próprios de aquisição e exposição de demonstração e de prova devem,
primeiro conhecer as leis gerais que governam o pensamento, independentemente do conteúdo que
possa vir a ter.
O estudo das formas gerais do pensamento sem preocupação com seu conteúdo, chama-se
lógica, e Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer campo do
saber. A lógica não é uma ciência, mas o instrumento para a ciência e, por isso, na classificação das
ciências feita por Aristóteles, a lógica não aparece, embora ela seja indispensável para a Filosofia e,
mais tarde, tenha-se tomado um dos ramos específicos dela.

203
14. Os Campos do Conhecimento Filosófico

Classificação aristotélica:
Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas produtivas ou as técnicas, isto é, as
ações humanas cuja finalidade está para além da própria ação, pois a finalidade é a produção de um
objeto, de uma obra. São elas: arquitetura (cujo fim é a definição de alguma coisa), economia (cujo
fim é produção agrícola. O artesanato e o comércio, isto é, produtos para a sobrevivência e para
o acumulo de riquezas), medicina (cujo fim é produzir a saúde ou a cura), pintura, escultura,
poesia, teatro, oratória, arte da guerra, da caça, da navegação. Etc. Em suma, todas as atividades
humanas técnicas e artistas que resultam num produto ou numa obra.
Ciências práticas: ciências que estudam as práticas humanas enquanto ações que têm
nelas as mesmas seu próprio fim, isto é, a finalidade da ação se realiza nela mesma, é o próprio ato
realizado. São elas: ética, em que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para alcançar o
bem do indivíduo, sendo este bem as virtudes morais (coragem, generosidade, fidelidade, lealdade,
Clemência, prudência, amizade, justiça, modéstia , honradez, temperança, etc.); e política, em
que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para ter como fim o bem da comunidade ou
bem comum.
Para Aristóteles, como para todo grego da época clássica, a política é superior à ética, pois a
verdadeira liberdade, sem a qual não pode haver vida virtuosa, só é conseguida na polis. Por isso, a
finalidade da política é a vida justa, a vida boa e bela, a vida livre.

204
15. Ciências Teóricas, Contemplativas ou Teóricas

São aquelas que estudam coisas que existem independentemente dos homens e de suas
ações e que, não tendo sido feito pelos homens, só podem ser contempladas por eles. Theoria em
grego, significa contemplação da verdade. O que são as coisas que existem por si mesmas e em si
mesmas, independentes de nossa ação fabricadora (técnica) e de nossa ação moral e política? São
as coisas da Natureza e as coisas divinas. Aristóteles, aqui, classifica também por graus de
superioridade as ciências teóricas, indo da mais inferior à superior:
1. Ciência das coisas naturais submetidas à mudança ou ao devir: física, biologia,
meteorologia, psicologia (pois a alma, que em grego se diz psychê, é um ser natural, existindo de
formas variadas em todos os seres vivos, plantas, animais o homem);
2. Ciência das coisas naturais que não estão submetidas à mudança ou ao devir; as
matemáticas e a astronomia (os gregos julgavam que os astros eram eternos e imutáveis);
3. Ciência da realidade pura, que não é nem natural mutável, nem natural imutável, nem
resultado da ação humana, nem resultado da fabricação humana.
4. Ciência teórica das coisas divinas que são a causa e a finalidade de tudo o que existe na
Natureza e no homem. Vimos que as coisas divinas são chamadas de theion e, por isso, esta última
ciência se chama teologia. A Filosofia, para Aristóteles, encontra seu ponto mais alto na metafísica e
na teologia, de onde derivam todos os outros conhecimentos.
A partir da classificação aristotélica, definiu-se, no correr dos séculos, o grande campo da investigação
filosófica, campo que só teria desfeito no século XIX de nossa era, quando as ciências particulares se
foram separando do tronco geral da Filosofia.

Assim, podemos dizer que os campos da investigação da Filosofia são três:


1. O do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de toda
realidade. Como, em grego, ser se diz on e os seres se dizem taonta, este campo é chamado de
odontologia (que, na linguagem de Aristóteles, se formava com a metafísica e a teologia).
2. O do conhecimento da capacidade humana ou dos valores e das finalidades da ação
humana; das ações que têm em si mesmas sua finalidade, a ética e a política, ou a vida moral
(valores morais) e a vida política (valores políticos), e das ações que tem suas finalidades num
produto ou numa obra: as técnicas e as artes e seus valores (utilidade, beleza, etc.).
3. O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o conhecimento do próprio
pensamento: a teoria do conhecimento, que oferece os procedimentos pelos quais conhecemos; as
ciências propriamente ditas e o conhecimento do conhecimento cientificam, isto é, a pistemologia.
Ser ou realidade, prática ou ação segundo leis especificas em cada ciência; eis os campos da
atividade ou investigação filosófica.

205
16. Período Holonístico

Trata-se do último período da Filosofia antiga, quando a polis grega desapareceu como
centro político, deixando de ser referencia política principal dos filósofos.
Uma vez que a Grécia encontra-se sob o poderio do Império Romano. Os filósofos dizem agora, que o
mundo é sua cidade e que são cidadãos do mundo. Em Grego, mundo se diz cosmos e esse período é
chamado o da Filosofia cosmopolitica.
Essa época da Filosofia é constituída por grandes sistemas ou doutrinas, isto é, explicações
totalizantes sobre a Natureza, o homem, as relações entre ambos e deles com a divindade ( esta, em
geral, pensada como Providência divina que instaura e conserva a ordem universal).
Predominam preocupações com a ética pois os filósofos já não podem ocupar-se diretamente com a
política, a física, a teologia e a religião.
Datam desse período quatro grandes sistemas cuja influencia será sentida pelo pensamento
cristão, que começa a formar-se nessa época: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.
amplidão do Império Romano, a presença crescente de religiões orientais no império, os
contatos comerciais e culturais entre ocidente e oriente fizeram aumentar os contatos dos filósofos
helenistas com a sabedoria oriental. Podermos falar numa orientalização da Filosofia, sobretudo nos
aspectos místicos e religiosos.

206
17. Principais Períodos da História da Filosofia a Filosofia na História

Como todas as criações e instituições, humanas, a Filosofia está na História e tem uma
história. Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada
época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi
compreendido. A Filosofia procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, respostas e,
sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a sociedade e a cultura de seu
tempo, do qual ela fez parte.
Tem uma historias: as respostas, as soluções e as novas perguntas, que os filósofos de uma
época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou frequentemente,
tornam-se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja aproveitando o passado
filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transformações nos modos de conhecer
podem ampliar os campos de investigação da Filosofia, fazendo a surgir novas disciplinas filosóficas,
como iam bem diminuir esses campos, porque alguns de seus conhecimentos podem desligar-se dela
e formar disciplinas separadas.
Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade aumentando quando, no século
XVIII, surge a Filosofia da arte ou estética; no século XIX, a Filosofia da história; no século XX, a
Filosofia das ciências, a Filosofia da linguagem. Por outro lado, o campo da Filosofia diminuiu quando
as ciências particulares que dela faziam parte foram-se desligando para constituir suas próprias
esferas e investigação. É o que acontece, por exemplo, no século XVIII, quando se desligam da
Filosofia a biologia, a física e a química; e, no século XX, as chamadas ciências humanas (psicologia,
antropologia, história).
Pelo fato de estar na História a Ter uma historia, a Filosofia costuma ser apresentada em
grandes períodos que acompanham, às vezes de maneira mais distante, os períodos em que os
historiadores dividem a História da sociedade ocidental.

207
18. Os Principais Períodos da Filosofia

FILOSOFIA ANTIGA
(DO SÉCULO V A.C. AO SÉCULO VI d.C.)

Compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana, indo dos presocráticos


aos grandes sistemas do período helenístico, mencionados no capítulo anterior.

FILOSOFIA PATRÍSTICA
(DO SÉCULO I AO SÉCULO VII)

Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII,
quando teve inicio a Filosofia medieval.
A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos
primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião o Cristianismo – com o pensamento filosófico
dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova
verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização
e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos.
Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (Ligada à Igreja de Roma)
e seus nomes mais importantes foram: Justiço, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio,
Santo Ambrósia, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Servilha, Santo Agostinho,
Beda e Boécio.
A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a
ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade única, de encarnação e morte
de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar
como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade,
introduziu, sobretudo, com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de homem interior, isto é, da
consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal
no mundo.
Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas
por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é,
entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento
recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande
tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e fé, e, a
esse respeito, havia três posições principais:
1. Os que julgavam a fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão ( diziam eles: Creio
porque absurdo).
2. Os que julgavam razão e fé e razões conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam
eles: Creio para compreender).
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmam que cada uma delas tem se
destinado ao seu próprio de conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo que
concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, tudo o que se refere à salvação da alma
e à vida eterna futura).

208
LIÇÃO 4
19. Filosofia Medieval (do Século VIII ao Século XIV)

Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana


dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das
catedrais, às primeiras universidades ou escolas. E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas
escolas, a Filosofia medieval também é conhecida com o nome de Escolástica.
A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles, embora o Platão
que os medievais conhecessem fosse o neoplatônico (vindo da Filosofia de Plotino, do século Vi
d.C.), e o Aristóteles que conhecessem fosse aquele conservado e traduzido pelos árabes,
particularmente Avicena e Averróis.
Conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a Filosofia medieval
acrescentou outros particularmente um, conhecido com o nome de Problema dos Universais e, além
de Platão e Aristóteles, sofreu uma grande influência das ideias de Santo Agostinho. Durante esse
período surge propriamente a Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia. Um de seus temas mais
constantes são as provas da existência do infinito criador e do espírito humano imortal.
A diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre
razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e separação entre corpo
(matéria) e alma (espírito), o Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e
governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, numerais), a
subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos: eis os
grandes temas da Filosofia medieval.
Outra característica marcante da Escolástica foi o metido usado por ela inventado para expor
as ideias filosóficas, conhecido como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser refutada ou
defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da Igreja.
Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo da força e da
qualidade dos argumentos encontrados nos vários autores. Por causa desse método de disputa teses,
refutações, defesas, respostas, conclusões baseadas em escritos de outros autores -, costuma-se
dizer que, na Idade Media, o pensamento estava subordinado ao principio da autoridade, isto é, uma
ideia considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade reconhecida (Bíblia,
Platão, Aristóteles, um papa, um santo).
Os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena,
Santo Anselmo, Santo Tomás Daquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon,
São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi Ealgazóli. Do lado judaico: Mimônides,
Nahamanides, Yeudah Bem Levi.

209
20. Filosofia da Renascença do Século XIV ao Século XVI

É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas


obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e
romanos. São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença:
Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta dos livros do Hermetismo;
nela se destocava a ideia da Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da Natureza como
um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural,
da alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia)
entre as coisas; o homem pode também, conhecer esses vínculos e criar outros como um deus.
Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa é a política e
defendida as ideias republicanas das cidades italianas contra o Império Romano Germânico, isto é,
contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores
resgataram autores políticos da Antiguidade, historiadores e juristas, e propuseram a imitação dos
antigos ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico.
Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos
conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), das
técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pinturas, esculturas,
literatura, teatro).
A efervescência teórica e pratica foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, que
garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas pessoas,
permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política
levaram as criticas profundas as Igrejas Romanas, culminando na Reforma Protestante, baseada na
ideia de liberdade de crença e de pensamento. A Reforma a Igreja respondeu com a contra-reforma e
com o poder da Inquisição.
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno,
Campannelia, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepier e Nicolau de Cusa.

210
21. Filosofia Moderna do Século XVI a Meados do Século XVIII

Esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, é marcado por três grandes
mudanças intelectuais:
Aquela conhecida como o surgimento do sujeito do conhecimento, isto é, a Filosofia em lugar
de começar seu trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa
indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos
conhecimentos.
Em outras palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre
si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer. O ponto de partida é o sujeito do conhecimento
como consciência de ser reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer.
O sujeito do conhecimento é um intelecto no interior de uma alma, cuja natureza ou substancia é
completamente diferente da natureza ou substancia de seu corpo e dos demais corpos exteriores.
Por isso, a segunda pergunta da Filosofia, depois de respondida a pergunta da Filosofia, depois de
respondida a pergunta sobre a capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou intelecto pode conhecer
o que é diferente dele? Como pode conhecer os corpos da Natureza?
A resposta à pergunta acima constitui a segunda grande mudança intelectual dos modernos, e
essa mudança diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a
Natureza, a vida social e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas
representações, ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento.
Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser plenamente
captada pelas ideias e conceitos preparou a terceira grande mudança intelectual moderna. A realidade,
a partir de Galileu, é concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura
profunda e invisível é matemática. O livro do mundo, diz Galileu, está escrito em caracteres
matemáticos.
A realidade, concebida como sistema racional de mecanismos fisiotemáticos origem à ciência
clássica, isto é, à mecânica, por maio da qual são descritos, explicados e interpretados todos os fatos
da realidade: astronomia, física, química, psicologia, política, artes, são disciplinas cujo conhecimento
é de tipo mecânico, ou seja, de relações necessárias de cauda e efeito entre um agente e uma
paciente.
A realidade é um sistema de causalidade racionais que podem ser conhecidas e transformadas
pelo homem. Nasce a ideia de experimentação e de tecnologia (conhecimentos teóricos que orienta
as intervenções práticas) e o ideal de que o homem poderá dominar tecnicamente a Natureza e a
sociedade. Predomina, assim, nesse período, a ideia de conquista cientifica e técnica de toda a
realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas,
graças às experiências físicas e químicas.
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas
e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-
las e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional.
A mesma convicção orienta o Racionalismo político, isto é, a ideia de que a razão é capaz de
definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantê-lo racionalmente.
Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas capacidades e nos poderes da razão
humana como houve no Grande Racionalismo Clássico. Os principais pensadores desse período
foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke,
Berkeley, Newton, Gassendi.

211
22. Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (Meados do Século XVIII ao Começo do Século XIX)

Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (por isso, o nome
iluminismo). O Iluminismo afirma que:
Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (a Filosofia da
Ilustração foi decisiva para as ideias da Revolução Francesa de 1789). A razão é capaz de
evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível. A perfectibilidade consiste em liberar-se dos
preconceitos religiosos, sócias e morais, em libertar-se da superstição e do medo, graças ao
conhecimento, as ciências, as artes e a moral.
O aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das mais
atrasadas (também chamadas de primitivas ou selvagens) as mais adiantadas e perfeitas (as da
Europa ocidental);
Há diferença entre Natureza civilização, isto é, a Natureza é o reino das relações necessárias
de causa e efeito ou das leis naturais universais e imutáveis, enquanto a civilização é o reino da
liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre os próprios homens, em seu aperfeiçoamento
moral, técnico e político.
Nesse período há grande interesse pelas ciências que se relacionam com a ideia de evolução
e, pó isso, a biologia terá um lugar central no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da
Filosofia da vida. Há igualdade grande interesse e preocupação com as artes, na medida em que elas
são expressões por excelência do grau de progresso de uma civilização.
Data também desse período o interesse pela compreensão das bases econômicas da vida
social e política, surgindo uma reflexão sobre a origem e a forma das riquezas das nações, com uma
controvérsia sobre a importância maior ou menor da agricultura e do comércio, controvérsia que se
exprime em duas correntes do pensamento econômico: a corrente fisiocrata (a agricultura é a fonte
principal das riquezas) e a mercantilista (o comércio é a fonte principal da riqueza das nações).
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, DAlembert, Diderot, Rousseau, Kant,
Fichte e Schelling, embora este último costuma ser colocado como filósofo do Romantismo.

212
23. Filosofia Contemporânea

Abrange o pensamento filosófico que vai de medos do século XIX e chega aos nossos dias.
Esse período por ser o mais próximo de nós, parece ser o mais complexo e o mais difícil de definir,
pois as diferenças entre as várias Filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes porque
as estamos vendo surgir diante de nós.

ASPECTOS DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA AS QUESTÕES DISCUTIDAS


PELA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Dissemos, anteriormente, que a Filosofia contemporânea vai dos meados do século XIX até
nossos dias e que, por estar próxima e nós, é mais difícil de ser eles parecem impossibilitar uma visão
de conjunto. Em outras palavras, não temos distância suficiente para perceber os traços sinalar quais
têm sido as principais questões e os principais temas que interessam a Filosofia neste século e meio.

HISTÓRIA E PROGRESSO

O século XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da Historia ou a historicidade do


homem, da sociedade, das ciências e das artes. É particularmente com o filósofo alemão Hegei que se
afirma que a Historia é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e
que, portanto, somos seres históricos. No século passado, essa concepção levou à ideia de progresso,
isto é, de que os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoram com o
passar do tempo, acumulam conhecimento e práticas, aperfeiçoando-se cada vez mais, de modo que
o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e o futuro será melhor e superior, se
comparado ao presente.
Essa visão otimista também foi desenvolvida na França pelo filósofo Augusto Comte, que
atribuía o progresso ao desenvolvimento das ciências positivas. Essas ciências permitiram aos seres
humanos saber para prever, prever para prover, de modo que o desenvolvimento social se faria por
aumento do conhecimento cientifico e do controle cientifico da sociedade. É de Comte a ideia de
Ordem e Progresso, que viria a fazer da bandeira do Brasil republicano. No entanto, no século XX, a
mesma afirmação da historicidade dos seres humanos, da razão e da sociedade levou à ideia de que a
história é descontínua e não progressiva, cada sociedade tendo sua História própria em vez de ser
penas uma etapa numa História universal das civilizações.
A ideia de progresso passa a ser criticada porque serve como desculpa para legitimar
colonialismos e imperialismos (os mais adiantados teriam o direito de dominar os mais
atrasados). Passa a ser criticada também a ideia de progresso das ciências e das técnicas,
mostrando-se que, em cada época histórica e para cada sociedade, o conhecimento e as práticas
possuem sentido e valor próprio, e que tais sentidos e tais valores desaparecem numa época seguinte
ou são diferentes numa outra sociedade, não havendo, portanto, transformação continua, acumulativa
e progressiva. O passado foi o passado, o presente é o presente e o futuro será o futuro.

213
24. As Ciências e as Técnicas

No século XIX, entusiasmada com as ciências e as técnicas, bem como a Segunda Revolução
Industrial, a Filosofia afirmava a confiança plena e total no saber cientifico e na tecnologia para
dominar e controlar a Natureza, a sociedade e os indivíduos. Acreditava-se que a sociologia, por
exemplo, nos ofereceria um saber seguro e definitivo sobre o modo de funcionamento das sociedades
e que os seres humanos poderiam organizar racionalmente e social, evitando revoluções, revoltas e
desigualdades.
Acreditava-se, também, que a psicologia ensinaria definitivamente como é e como funciona a
pisque humana, quais as causas dos comportamentos e os meios de controlá-los, quais as causas das
emoções e os meios de controla-los, quais as causas das emoções e os meios de controlá-las, de tal
modo possível uma pedagogia baseada nos conhecimentos científicos e que permitiria não só adaptar
perfeitamente as crianças às exigências da sociedade, como também educá-las segundo suas
vocações e potencialidades psicológicas.
No entanto, no século XX, a Filosofia passou e desconfiar do otimismo cientifica - tecnológico
do século anterior em virtude de vários acontecimentos: as duas guerras mundiais, o bombardeio de
Hiroshima e Nagasaki, os campos de concentração nazistas, as guerras da Coréia, do Vietnã, do
Oriente Médio, do Afeganistão, as invasões comunistas da Hungria e da Checoslováquia, as ditaduras
sangrentas da América Latina, a devastação de mares, florestas e terras, os prigos cancerígenos de
alimentos e remédios, o aumento de distúrbios e sofrimentos mentais, etc.
Uma escola alemã de Filosofia, a Escola de Frankfurt, elaborou uma concepção conhecida
como Teoria Critica, na qual distingue duas formas da razão: a razão instrumental e a razão critica.
A razão instrumental é a razão técnica - cientifica, que faz das ciências e das técnicas não um meio de
liberação dos seres humanos, mas um meio de intimidação, medo, terror e desespero. Ao contrário, a
razão crítica é aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental e
afirma que as mudanças sociais, políticas e culturas só se realizarão verdadeiramente se tiverem como
finalidade e a emancipação do gênero humano e não as ideias de controle e domínio técnico –
cientifico sobre a Natureza, a sociedade e a cultura.

214
25. As Utopias Revolucionárias

No século XIX, em decorrência do otimismo trazido pelas ideias de progresso, desenvolvimento


técnico - cientifica, poderio humano para construir uma vida justa e feliz, a Filosofia apostou nas
utopias revolucionarias – anarquismo, socialismo, comunismo -, que criariam graças à ação política
consciente dos explorados e oprimidos, uma sociedade nova, justa e feliz.
No entanto, no século XX, com o surgimento das chamadas sociedades totalitárias – fascismo,
nazismo, stalinismo e com o aumento do poder das sociedades autoritárias ou ditatoriais,a Filosofia
também passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias e a indagar se os seres
humanos, os explorados e dominados serão capazes de criar e manter uma sociedade nova, justa e
feliz.
O crescimento das chamadas burocracias que dominam as organizações estatais,
empresarias, político-partidárias, escolares, hospitalares levou a Filosofia a indagar como os seres
humanos poderiam derrubar esse imenso poderio que os governa secretamente, que eles
desconhecem e que determina suas vidas cotidianas, desde o nascimento até a morte.

215
26. A Cultura

No século XIX, a Filosofia descobre a Cultura como o modo próprio e especifico da existência
dos seres humanos. Os animais são seres naturais; os humanos, seres culturais. A Natureza é
governada por leis necessárias de causa e efeito; a Cultura é o exercício da liberdade.
A cultura é a criação coletiva de ideias, símbolos e valores pelos qual uma sociedade define
para si mesma e bem e o mau, o belo e o feio, o justo e o injusto, o verdadeiro e o falso, o puro e o
impuro, o possível e o impossível, o inevitável e o casual, o sagrado e o profano, o espaço e o tempo.
A cultura se realiza porque os humanos são capazes de linguagem, trabalho e relação com o tempo. A
cultura se manifesta como vida social, como a criação das obras de pensamento e de arte, como vida
religiosa e vida política.
Para a Filosofia do século XIX, em consonância com sua ideia de uma Historia universal das
civilizações, haveria uma única grande Cultura em desenvolvimento, da qual as diferentes culturas
seriam fases ou etapas. Para alguns, como os filósofos que seguiam as ideias de Hegel, o movimento
do desenvolvimento cultural era progressivo.
Para outros, chamados de filósofos românticos ou adeptos da Filosofia do Romantismo, as
culturas não formavam uma sequência progressiva, mas eram culturas racionais. Assim, cabia, à
Filosofia conhecer o espírito de um povo, conhecendo as origens e as raízes de cada cultura, pois o
mais importante de uma cultura não se encontraria em seu futuro, mas no seu passado, isto é, nas
tradições no folclore nacional.
No entanto, no século XX, a Filosofia, afirmando que a Historia é descontinua, também afirma
que não há a Cultura, mas culturas diferentes, e que a pluralidade de culturas e diferenças entre elas
não se devem à nação, pois a ideia de nação é uma criação cultural e não a causa das diferenças
culturais.
Cada cultura inventa seu modo de relacionar-se com o tempo, de criar sua linguagem, de
elaborar seus mitos e suas crenças, de organizar o trabalho e as relações sociais, de criar as obras de
pensamento e de arte. Cada uma, em decorrência das condições históricas, geográficas e políticas em
que se forma, tem seu modo próprio de organizar o poder e a autoridade, de produzir seus valores.
Contra a Filosofia da cultura universal, a Filosofia do século XX, que haja uma única cultura em
progresso e afirma a existência da pluralidade cultural. Contra a Filosofia romântica das culturas
nacionais como expressão de espírito do povo e do conjunto de tradições, a Filosofia do século XX
nega que a nacionalidade seja causa das culturas (as nacionalidades são efeitos culturais
temporários) e afirma que cada cultura se relaciona com outra e encontra dentro de si seus modos de
transformação. Dessa maneira, o presente está voltado para o futuro, e não para o conservadorismo
do passado.

216
27. O Fim da Filosofia

No século XIX, o otimismo positivista ou cientificista levou a Filosofia a supor que, no futuro, só
haverá ciências, e que todos os conhecimentos e todas as explicações seriam dados por elas. Assim,
a própria Filosofia poderia desaparecer, não tendo motivo para existir.
No entanto, no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios
totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos
e precários, e que, frequentemente, uma ciência desconhece ate onde pode ir e quando está entrando
no campo de investigação de uma outra.
Os princípios, os métodos, os conceitos e os resultados de uma ciência podem estar
totalmente equivocados ou devidos de fundamento. Com isso, a Filosofia voltou a afirmar seu papel de
compreensão e interpretação critica das ciências, discutindo a validade de seus princípios,
procedimentos de pesquisa, resultados de suas formas de exposição dos dados e das conclusões, etc.
Foram preocupações com a falta de rigor das ciências que levaram o filosofo alemão Husserl a
propor que a Filosofia fosse o estudo e os conhecimentos rigorosos da possibilidade do próprio
conhecimento cientificam, examinando os fundamentos os métodos e os resultados das ciências.
Foram também preocupações como essas que levaram filósofos como Bertrand Husserl e Quine a
estudar a linguagem cientificam, a discutir os problemas lógicos das ciências e a mostrar os paradoxos
e os limites do conhecimento cientifico.

217
28. A Maioria da Razão

No século XIX, o otimismo filosófico levava a Filosofia a afirmar que, enfim, os seres humanos
haviam alcançado a maioridade racional, e que a razão se desenvolvia plenamente para que o
conhecimento completo da realidade e das ações humanas fosse atingido.
No entanto, Marx, no final do século XIX, e Freud, no inicio do século XX, puseram em questão
esse otimismo racionalista, Marx e Freud, cada qual em seu campo de investigação e cada qual
voltado para diferentes aspectos da ação humana – Max, voltado para a economia e a política; Freud,
voltado para as perturbações e os sofrimentos psíquicos, fez descobertas que, até o final de nosso
século, continuam impondo questões filosóficas. O que eles descobriram?
Marx descobriu que temos a ilusão de estarmos pensando e agindo com nossa própria cabeça
e por nossa própria vontade, racional e livremente, de acordo com nosso entendimento e nossa
liberdade, porque desconhecemos um poder invisível que nos força a pensar como pensamos e agir
como agirmos. A esse poder que é social ele deu e de ideologia.
Freud, por sua vez, mostrou que os seres humanos têm a ilusão de que tudo quanto pensam,
faz, sentem e desejam, tudo quanto dizem ou calam estariam sob controle de nossa consciência
porque desconhecemos a existência de uma força invisível, de um poder – que é psíquico e social –
que atua sobre nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder que domina e controla invisível e
profundidade nossa vida consciente, ele deu o nome de inconsciente.
São sobre o que é e o que pode a razão, sobre o que é e o que a consciência reflexiva ou o
sujeito do conhecimento, sobre o que são e o que perdem as aparências e as ilusões.
Ao mesmo tempo, a Filosofia teve que reabrir as discussões éticas e morais: O homem é
realmente livre ou é inteiramente condicionado pela sua situação psíquica e histórica? Se for
inteiramente condicionado, então a Historia e as culturas são causalidades necessárias como a
Natureza? Ou seria mais correto indagar: Como os seres humanos conquistam a liberdade em meio a
todos os condicionamentos psíquicos, históricos, econômicos, culturais em que vivem?

218
29. Infinito e Finito

O século XIX prosseguiu uma tradição filosófica que veio desde a Antiguidade e que foi muito
alimentada pelo pensamento cristão. Nessa tradição, o mais importante sempre foi à ideia do infinito,
isto é, da Natureza eterna (dos gregos), do Deus eterno (dos cristãos), do desenvolvimento pleno e
total da Historia ou do tempo como totalização de todos os seus momentos ou suas etapas. Prevalecia
à ideia de todo ou de totalidade, da qual os humanos fazem parte e na quais os humanos participam.
No entanto, a Filosofia do século XX tendeu a dar maior importância ao finito, isto é, ao que
surge e desaparece, ao que tem fronteiras e limites. Esse interesse pelo finito aparece, por exemplo,
numa corrente filosófica (entre os anos 30 e 50) chamada existencialismo e que definiu o humano ou
o homem como um ser para a morte, isto é, um ser que sabe que termina e que precisa encontrar em
si mesmo o sentido de sua existência.
Para a maioria dos existencialistas, dois eram do modo privilegiado de o homem aceitar e
enfrentar sua finitude: através das artes e através da ação política revolucionária. Nessas formas
excepcionais da atividade, os humanos seriam capazes de dar sentido à brevidade e finitude de suas
vidas.
Um outro exemplo do interesse pelo finitude aparece no que se costuma chamar de Filosofia
da diferença, isto é, naquela Filosofia que se interessa menos pelas semelhanças e identidades e
muito mais pela singularidade e particularidade.
É assim, por exemplo, que tal Filosofia, inspirando-se nos trabalhos dos antropólogos,
interessa-se pela diversidade, pluralidade, singularidade das diferentes culturas, em lugar de voltar-se
para a ideia de uma cultura universal, que foi, no século XIX, uma das imagens do infinito, isto é, de
uma totalidade que conteria dentro de si, como suas partes ou seus momentos, as diferentes culturas
singulares.
Enfim, um exemplo de interesse pela finitude aparece quando a Filosofia, em vez de buscar
uma ciência universal que conteria dentro de si todas as ciências particulares, interessa-se pela
multiplicidade e pela diferença entre as ciências, pelos limites de cada uma delas e sobretudo por seus
impasses e problemas insolúveis.
Temas, disciplinas e campos filosóficos. A Filosofia existe há 25 séculos. Durante uma historia
tão longa e de tantos períodos diferentes, surgiram temas, disciplinas e campo de investigações
filosóficas enquanto outros desaparecem. Desapareceu também a ideia de Aristóteles de que a
Filosofia era a totalidade dos conhecimentos teóricos e práticos da humanidade.
Também desapareceu uma imagem, que durou muitos séculos, na qual a Filosofia era
representada como uma grande árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e a teologia, cujo
tronco era a lógica, cujos ramos principais eram a Filosofia da Natureza, a ética e a política e cujos
galhos eram as técnicas, as artes e as investigações. A Filosofia, vista como uma totalidade orgânica
ou viva, era chamada de rainha das ciências. Isso desapareceu.
Pouco a pouco, as muitas ciências particulares foram definindo seus objetivos, seus métodos e
seus resultados próprios resultados próprios, e se desligaram da grande arvore.
Cada ciência se desligar, levou consigo os conhecimentos práticos ou aplicados de seu campo
de investigação, isto é, as artes e as técnicas a ela ligadas. As ultimas ciências a aparecer e a se
desligar da arvore da Filosofia foram as ciências: psicologia, sociologia, antropologia, historia
linguística, geografia e etc. Outros campos de conhecimento e ação abriram-se para a Filosofia, mas a
ideia de uma totalidade de saberes que conteria em si todos os conhecimentos nunca mais
reapareceu. No século XX, a Filosofia foi submetida a uma grande limitação quanto à esfera de seus
conhecimentos. Isso pode ser atribuído a dois motivos principais:
Desde o final do século XVIII, com o filosofo alemão Immanuel Kant, passou-se a considerar
que a Filosofia durante todos os séculos anteriores, tivera uma pretensão irrealizável. Que pretensão
fora essa? A de que a nossa razão pode conhecer as coisas tal como são em si mesmas. Kant negou
que a razão humana tivesse tal poder de conhecer e afirmou que só conhecemos as coisas tais como
são organizadas pela estrutura interna e universal de nossa razão, mas nunca saberemos se tal
organização corresponde ou não à organização em si da própria realidade. Deixando de ser
metafísica, a Filosofia se tornou o conhecimento das condições de possibilidade de conhecimento
verdadeiro enquanto conhecimento possível para os seres racionais.
A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a
possibilidade humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação
moral enquanto realizada por liberdade e por dever.

219
Desde meados do século XIX, como consequência da Filosofia de Augusto Comte – chamada
de positivismo, foi feita uma separação entre Filosofia e ciências positivas (matemática, física, química,
biologia, astronomia, sociologia). As ciências, dizia Comte, estudam a realidade natural, social,
psicológica e moral e é propriamente o conhecimento. Para ele, a Filosofia seria apenas uma reflexão
sobre o significado do trabalho cientifico, isto é, uma analise e uma interpretação dos procedimentos
ou das metodologias usadas pelas ciências e uma avaliação dos resultados científicos. A Filosofia
tornou-se, assim, uma teoria das ciências ou epistemologia (episteme, em grego, quer dizer
ciência).
A Filosofia reduziu-se, portanto, à teoria do conhecimento, à ética e à epistemologia. Como
consequência dessa redução, os filósofos passaram a ter um interesse primordial pelo conhecimento
das estruturas e formas de nossa consciência e também pelo seu modo de expressão, isto é, a
linguagem. O interesse pela consciência reflexiva ou pelo sujeito do conhecimento deu surgimento a
uma corrente filosófica conhecida como fenomenologia, iniciada pelo filosofo alemão Edmundo
Hussert. Já o interesse pelas formas e pelos modos de funcionamento da linguagem corresponde a
uma corrente filosófica conhecida como Filosofia analítica cujo inicio é atribuído ao filosofo austríaco
Ludwig Wittgenstein.
No entanto, a atividade filosófica não se restringiu à teoria do conhecimento, à lógica, à
epistemologia e à ética. Desde o inicio do século, a Historia da Filosofia, tornou-se uma disciplina de
grande prestígio e, corri ela, a historia das ideias e a historia das ciências.
Desde a Segunda Guerra Mundial, com o fenômeno do totalitarismo fascismo, nazismo,
stalinismo, corri as guerras de libertação nacional contra os impérios coloniais e as revoluções
socialistas em vários países: desde os anos 60, com as lutas contra ditadura e com os movimentos por
direitos (negros, índios, mulheres, idosos, homossexuais, loucos, criança, os excluídos
econômica e politicamente); e desde os anos 70, com a luta pela democracia em países submetidos
a regimes autoritários, um grande interesse pela Filosofia política ressurgiu e, com ele, as criticas de
ideologias e uma nova discussão sobre as relações entre a ética e a política, além das discussões em
torno da Filosofia da Historia.
Atualmente, neste final de século, um movimento filosófico, conhecido como desconstrutivismo
ou pós-modemismo, vem ganhando preponderância. Seu alvo principal é a critica de todos os
conceitos e valores que, até hoje, sustentaram a Filosofia e o pensamento dito ocidental: razão, saber,
sujeito, objeto, Historia, espaço, tempo, liberdade, necessidade, acaso, Natureza, homem e etc. Quais
são os campos próprios em que se desenvolve a reflexão filosófica neste vinte e cinco séculos? São
eles: princípios e fundamentos últimos de toda a realidade de todos os seres.

LÓGICA: conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e


verdadeiro, independentemente dos conteúdos pensados; regras para a demonstração cientificam a
verdadeira; regras para pensamentos não científicos; regras sobre o modo de expor os
conhecimentos; regras para verificação da verdade ou falsidade de um pensamento, e etc.;
EPISTEMOLOGIA: analise critica das ciências, tanto as ciências exatas ou matemáticas,
quanto as naturais e as humanas, avaliação dos métodos e dos resultados das ciências;
compatibilidade e incompatibilidade entre as ciências; formas de relação entre as ciências; e etc.;
TEORIA DO CONHECIMENTO: ou estudo das diferentes modalidades de conhecimento
humano; o conhecimento sensorial ou sensação e percepção; a memória e a imaginação; o
conhecimento intelectual; a ideia de verdade e falsidade; a ideia de ilusão e realidade; formas de
conhecer o espaço e o tempo; forma de conhecer relações; conhecimento ingênuo e cientifico;
diferença entre conhecimento científico e filosófico, e etc.;
ÉTICA: estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e
razão; finalidades e valores da ação moral; ideias de liberdade; responsabilidades, dever, obrigação e
etc.;
FILOSOFIA POLÍTICA: estudo sobre a natureza do poder e da autoridade; ideia de direito, lei,
justiça, dominação, violência; formas dos regimes políticos e suas fundamentações; nascimento e
formas do Estudo; ideia autoritária, conservadora, revolucionaria e libertárias; teorias da revolução e da
reforma; analise e critica das ideologias;
FILOSOFIA DA HISTORIA: estudo sobre a dimensão temporal da existência humana como
existência sócio-política e cultural; teorias do processo, da evolução e teorias da descontinuidade
histórica significado das diferenças culturais e históricas, suas razoes e consequências;

220
FILOSOFIA DA ARTE OU ESTÉTICA: estudo das formas de arte, do trabalho artístico; ideia
de obra de arte e de criação; relação entre matéria e formas nas artes; relação entre arte e sociedade,
arte e política, arte e ética; Filosofia da linguagem: a linguagem como manifestação da humanidade do
homem; signos, significações; a comunicação; passagem da linguagem oral à escrita, da linguagem
cotidiana, à filosófica, à literária, a cientifica; diferentes modalidades de linguagem como deferentes
formas de expressão e de comunicação;
HISTÓRIA DA FILOSOFIA: estudo das deferentes períodos da Filosofia; de grupos de
filósofos, segundo os temas e problemas que abordam; de relações entre o pensamento filosófico e as
condições econômicas, políticas, sociais e culturais de uma sociedade; mudanças ou transformações
de conceitos filosóficos em diferentes épocas; mudanças na concepção do que seja a Filosofia e de
seu papel ou finalidade.

221
Revisão Geral

 Aprendemos nesta lição que, os teólogos medievais mais importantes foram: Abelardo,
Duns Scoto, Scoto Erígena, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme
de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura;
 A Filosofia da Renascença é marcada pela descoberta de obras de Platão
desconhecidas na Idade Media, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras
dos grandes autores e artistas gregos e romanos;
 A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas
e transformadas pelo homem;
 O Iluminismo afirma que, pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade
social e política;
 No século XIX, entusiasmado com as ciências e as técnicas, bem como com a Segunda
Revolução Industrial, a Filosofia afirmava a confiança plena e total no saber cientifico e na tecnologia
para dominar e controlar a Natureza, a sociedade e os indivíduos;
 No século XIX, a Filosofia descobre a Cultura como o modo próprio e especifico da
existência dos seres humanos;
 A Cultura é a criação coletiva de ideias, símbolos e valores pelos qual uma sociedade
define para si mesma o bem e o mau.
 No século XX, a Filosofia afirmando que a Historia é descontinua, também afirmam que
não há cultura, mas culturas diferentes;
 A Filosofia vista como uma totalidade orgânica ou viva, era chamada de rainha das
ciências. Isso desapareceu.
 A Filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a
possibilidade de conhecer.
 O interesse pela consciência reflexiva ou pelo sujeito do conhecimento deu surgimento a
uma corrente filosófica conhecida como fenomenologia, iniciada pelo filosofo alemão Edmund Husserl;
 A ética é o estudo dos valores morais (as virtudes);
 Filosofia política é o estudo sobre a Natureza do poder e da autoridade, ideia de direito,
lei, justiça, dominação, violência;
 E que, a Historia da Filosofia é o estudo dos diferentes períodos da Filosofia.

222
Bibliografia

Introdução à Filosofia – Norman L. e Paul D. Feiinberg –


Ed. Vida Nova.

Curso da Filosofia – Jolivet, Régis – Livraria Agir Editora.

História da Filosofia – Padovani, Umberto e Luis


Castagnola

Atenção!

Fica proibida a reprodução total ou parcial desta


Obra sem previa autorização por escrito do autor.
Todos os direitos reservados.

223
Prova de História da Filosofia
Bacharel

Aluno (a):........................................................................................data............./.............../..............

Marque um X na alternativa correta

01-
( ) A palavra FILOSOFIA é hebraíca.
( ) Filósofo é aquele que estabelece as leis.
( ) A palavra FILOSOFIA é grega.

02-
( ) Aristóteles estabeleceu a palavra hebraica Philo e Sophia.
( ) Isaac Newton estabeleceu a lei da Gravitação no século XVII.
( ) O primeiro filosófico foi Humero de Ockman.

03-
( ) O movimento do mundo chama-se dvir.
( ) Pitágoras de Abdera foi um dos primeiros nomes do legado da Filosofia.
( ) Kant foi o criador da lógica.

04-
( ) Aristóteles foi o criador da Lógica.
( ) Para Górgias de Leontini, a Filosofia compara-se a Metafísica.
( ) Cultura é a criação da Lógica, afirmada por Platão.

05-
( ) Ética é o estudo da natureza em diferentes formas e direitos.
( ) História da Filosofia é o estudo das mais diversas ciências.
( ) Ética é o estudo dos valores morais, virtudes.

224
Religiões
Comparadas

225
Lição 1
1. Religiões comparadas

Meu claro aluno, o objetivo do estudo desta matéria, não é tanto combater determinadas
religiões antagônicas, ou seitas heréticas, porque na medida em que você vai estudando as matérias
contidas no currículo do curso Teológico, você irá adquirir capacidade para combater não somente
aquelas mencionadas nesta matéria, mas também todas as outras que aqui não são mencionadas e
outras que porventura aparecem.
O objetivo do estudo desta matéria é, conhecer as doutrinas básicas das seitas e religiões
proeminentes do passado e do presente, sem se importar se estão certas ou erradas. A capacidade de
saber se está certas ou erradas, você vai adquirindo na medida em que for estudando as matérias
contidas em nosso currículo.
Nesta matéria, não fazemos apologia de nenhuma religião como ocorre com alguns tratados de
heresiologia, porque não é este o nosso objetivo. O nosso compromisso é com a Palavra de Deus.
Então conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Jo 8.32.
É bom lembrar que não existe uma só religião que trás 100% de mentira, porque se assim
fosse, ninguém lhe daria o menor crédito; todas elas trazem no seu sistema doutrinário uma boa
porção de verdade. Mas vale a pena dizer também, que pior do que a mentira é a meia verdade; arma
usada por satanás contra Eva. Gn 3.5-22.
Embora seja possível encontrar a origem da religião comparada no pensamento grego
Xenófanes século VI a.C., que notou que cada povo tendia a retratar Deus à sua própria imagem, não
foi senão no século XIX d.C., que começou o estudo sério das religiões comparadas. Sob a influência
da teoria da evolução, alguns estudiosos acharam aquilo que acreditavam ser elo evolucionista entre
várias tradições religiosas. Os principais entre eles eram F. Max Müller, E. B. Taylor e J. G. Fraser. A
disciplina obteve rápido reconhecimento acadêmico e, cátedras foram estabelecidas em várias
instituições, notavelmente nas novas universidades da América do Norte. Na Grã-Bretanha, o assunto
tendia a servir às necessidades do império e estava estreitamente vinculado ao estudo dos idiomas
asiáticos. Na Alemanha tomou a forma de história das religiões, que era considerada uma matéria
auxiliar na Teologia cristã. Nos Estados Unidos, sob a influência de instituições como a Universidades
de Chicago, veio a ser um elemento importante na expressão do consenso literal norte-americano.
Como matéria para os estudos de bacharelado, a Religião Comparada tornou-se muito popular no fim
da década de 1960 e no início da década de 1970, tendo como resultado a abertura de novos
departamentos de estudos religiosos em muitas universidades na Grã-Bretanha e na América do
Norte.
Na sua forma mais grosseira, a Religião Comparada pressupõe que todas as religiões são
essencialmente uma. Dessa maneira, os Dez Mandamentos do judaísmo, os ensinos de Jesus, as
Quatro Verdades Nobres do Budismo e vários códigos morais hindus são comparados para
demonstrar que todos contêm um denominador comum tal como o mandamento do amor ao próximo.
De modo semelhante, é frequente argumentar que, a despeito das diferenças aparentes, todos os
homens adoram a um Ser Supremo. Apesar disso, o estudo sério de várias religiões tem revelado mais
discordância do que concordâncias. Sendo assim, embora seja verdade que as donas de casa
inglesas e as mulheres africanas em Uganda carreguem guarda-chuvas, essa informação nos conta
pouca a respeito do estilo de vida dessas mulheres.
Usar guarda-chuvas para proteger da chuva não é a mesma coisa que usá-lo para evitar a luz
ofuscante do sol. Semelhantemente, a oração a Deus no cristianismo e a meditação no budismo talvez
pereçam semelhantes, mas o objetivo de cada uma dessas práticas é muito diferente. Uma religião tal
como o budismo de Teravada, na realidade, apresenta um argumento forte contra as formas
grosseiras da Religião Comparada, porque essa religião rejeita a importância da fé em Deus e nega a
existência da religião como fenômeno universal com uma variedade de expressões diferentes tornou-
se cada vez mais complexo. Algum estudioso ainda mantém o desejo de descobrir uma unidade
subjacente, ao passo que muitos outros já abandonaram essa busca e preferem o estudo de uma
tradição religiosa específica que reconhecem não ter paralelo.

226
2. Gnosticismo

A palavra gnosticismo vem do grego gignoskein, saber, refere-se a um movimento dedicado


à obtenção de um conhecimento genuíno maior, por meio do qual, segundo seus adeptos criam,
poderia ser obtida a salvação. O gnosticismo, tal como as religiões misteriosas dos gregos,
reivindicavam possuir uma sabedoria esotérica, que se tornaria propriedade dos iniciados, em
contraste com os de fora, que não seria assim privilegiado. Segundo esse sistema, os iniciados eram
os eleitos, ao passo que os demais não eram possíveis da redenção, pelo que seriam os hilicos, ou
seja, aqueles de tal modo imersos no princípio material que não podiam obter qualquer coisa que fosse
espiritual. Conhecimento místico, ritos e práticas mágicas eram promovidos pelo sistema gnóstico.
Esse sistema fez competição com o cristianismo bíblico durante cerca de cento e cinquenta anos,
tendo atingido o seu ponto culminante na Segunda metade do século II d.C.
Os trechos de 1 Jo 2.2 e 4.2-3 e as epístolas aos Colossenses e aos Efésios, com certeza
são tentativas para combater diversos aspectos dessas ideias externas acerca de Jesus. De
conformidade com o pensamento gnóstico, Jesus tornou-se parte da ordem dos anjos, talvez o mais
exaltado deles, talvez não. Talvez seja o deus deste mundo, porém também há muitos outros deuses.
Ele é uma criatura superior, mas não o Deus que está acima de todos, nem é filho em qualquer sentido
especial, conforme ensina a doutrina trinitária bíblica. Pelas passagens mencionadas acima 1 João
aprende-se que os gnóstico negavam a verdadeira humanidade de Jesus, portanto não diziam que
...Jesus Cristo Veio em carne... E nas epístolas aos Colossenses e aos Efésios, ficamos sabendo
que negavam a deidade essencial de Jesus Cristo, provavelmente rebaixando-o a alguma das ordens
de anjos. O problema do gnosticismo é o mesmo problema enfrentado hoje em dia. Jesus teve uma
vida grande e incomum.
Como poderia ele ter vivido como viveu? Os gnósticos respondem: Jesus pertence a alguma
ordem angelical, e não à humanidade. Deve ter havido muitas variedades de explicações, entre os
gnósticos, acerca da vida de Jesus, e que Jesus era um ser humano controlado por ser celestial; mas
outros criam que um ser angelical descera à terra a fim de cumprir uma missão, e que a sua –
humanidade – não passava de uma ilusão. Esse era o elemento docético dentro do gnosticismo.
Muitos gnósticos se davam com os docéticos, ensinavam que o espírito de Cristo descera
sobre Jesus, quando de seu batismo, mais o deixou quando de sua morte. Assim, o homem Jesus não
podia ser inseparavelmente identificado com o espírito descendente de Cristo.
Como já vimos, havia uma grande variedade gnóstica, e as mais importantes dela eram: os
ofitas, de Celso; os nicolaitas; os arcôntici; os setitas; os carpocratianos; os nasseni; os
simoniani; os barbelognósticos; os bardesanesianos; os basilidianos; os ebionitas e os
elequesaítas.
Muitas variedades dessa heresia se espalhavam por diversas áreas do mundo antigo; o que é
dito aqui serve apenas de caracterização geral. Os pais da igreja primitiva chamavam os gnósticos de
sabedoria grega. No gnosticismo se combinavam a orientalização da civilização greco-romano e a
helenização do Oriente. Com respeito ao cristianismo, o gnosticismo consistia essencialmente, na
tentativa de fundir as revelações dadas por meio de Cristo e seus apóstolos com os padrões de
pensamento já existentes. Se porventura o gnosticismo tivesse tido sucesso, nessa tentativa, o
cristianismo seria hoje, apenas mais outro culto misterioso greco-romano.
Os gnósticos dividiam os homens em três categorias a saber: os hilicos, os materialistas os
psíquicos, os meio-espirituais e os pneumáticos os espirituais.

Os hilicos. Que eram os materialista, estariam presos à matéria, estando sempre sujeitos ao
mal, às astúcias de satanás, às influências do reino das trevas, pelo que seriam totalmente incapazes
de receberem a redenção. Esse grupo incluía a maioria da humanidade sendo impossível qualquer
esperança de salvação. É bom lembrar que a doutrina calvinista da predestinação, pregada hoje pela
Igreja presbiteriana, caiu nesse mesmo erro; mudando apenas a maneira de comentar.
Os psíquicos. Que eram os meio-espirituais, estariam sujeitos a uma redenção inferior, por
meio da fé. Nessa classe eles numeravam os profetas do V.T., bem como homens bons de toda a
sorte; mas apesar de serem dignos da salvação, nunca chegariam a uma glória excelsa, porque essa
estaria reservada somente aos pneumáticos.
Os pneumáticos. Seriam os homens verdadeiramente espirituais, que finalmente seriam
reabsorvidos no ser divino Deus, perdendo assim, a sua própria individualidade. A redenção máxima
dos pneumáticos, seria produzida pela gnosis, sabedoria, ou conhecimento, de cujo termo se deriva o

227
vocábulo gnosticismo. Para o gnosticismo, o conhecimento era superior à fé. O gnosticismo fez do
conhecimento seu fator super importante. Este conhecimento era secreto, místico, mágico e gnósticos
e era a base da própria salvação e de todas as observações éticas. Os personagens principais do
gnosticismo foram: Valentino, Basílides, Saturnino, Cerinto e Márcion.
As passagens bíblicas que parecem repreender alguma forma de heresias gnósticas, são: Cl 1-
3 e os trechos paralelos em Efésios; várias porções da primeira epístola de João, como 2.22 e 4.3; II
Jo 7; I Tm 1.4; 4.3; 2.18; 3.5-7; Tt 1.14. Oito livros do Novo Testamento combatem o gnosticismo que
assediou a igreja pelo espaço de mais de 150 anos. Esses livros são as três epístolas de João, as
epístolas aos Colossenses, Judas e, em certas passagens, Efésios, o evangelho de João e o
Apocalipse.

228
3. Docetismo

A fantástica vida de Jesus, com suas numerosas e poderosas obras, fez muita gente sentir, a
necessidade de explicar como ele fazia essas coisas. Seria Jesus um ser angelical, disfarçado em um
homem? Seria Ele o Logos encarnado? Seria Ele apenas um homem, altamente desenvolvido através
do poder do Espírito Santo de Deus? A figura de Jesus seria mitológica, criada pela igreja primitiva?
Pelos fins do século II d.C., mais de vinte grupos cristãos tinham surgido, para os quais Jesus era um
herói, ou a figura central de sua religião. Cada um desses grupos tinha uma explicação diferente para
a grandeza de Jesus.
Todos os gênios criativos provocam esse tipo de perplexidade. É preciso que os homens
reagem diante da genialidade na passividade.
O docetismo, era uma seita do gnosticismo, e causou muitos problemas doutrinários para a
igreja primitiva.
A palavra docético se deriva do termo grego dokeo, que significa parecer. Cerinto que viveu
por volta dos 85 d.C., foi um dos principais advogados dessa opinião acerca de Jesus. Ele era
alexandrino e discípulo de Filo, o famoso filósofo judeu neoplatônico até 50 d.C.. O seu ensino geral é
que a humanidade de Cristo era ilusória, apenas parecia ser real. Entre outras, temos a ideia de que
Jesus já existia como homem quando o espírito de Cristo veio controlá-lo, mas que não houve
verdadeira encarnação de Cristo, nem o Cristo sofreu ou morreu, tão-somente o Cristo divino apossou-
se de Jesus, quando de seu batismo, e o abandonou quando de sua morte na cruz. O homem Jesus
em sentido algum seria Deus, mas tão-somente um homem um pouco melhor e mais sábio do que os
demais.
Márcion ou Marciano foi fundador de uma seita cristã, e viveu por volta do ano 144 d.C.,
ensinava certa forma de docentismo quando afirmava que apesar de Ter o Cristo, não nascera como
outros homens, nem tivera começo na história, mas aparecia subitamente , vindo dos céus, durante o
reinado de Tibério.
Os primeiros pais da igreja, Inácio, Irineu e Tertuliano, apuseram-se vigorosamente ao
docetismo. Tertuliano escreveu diversos artigos contra essa heresia, como também o fizeram outros
dos pais; e a maior parte de nossas informações a respeito das primeiras heresiologias nos chega
através dessas fontes. Parte da doutrina gnóstica tinha tendências ou implicações docéticas, e era
possível a alguém ser gnóstico e docético ao mesmo tempo.

Docetismo nas igrejas evangélicas da atualidade


Nas igrejas evangélicas da atualidade, Cristo é concebido quase exclusivamente em termos de
Deus, que andou neste mundo, realizando toda espécie de maravilhas, disfarçado de ser humano. A
moderna doutrina evangélica, em teoria, confessa a realidade da humanidade do corpo de Jesus, mas,
quando à explicação prática, ela é docética, porque, como homem, Jesus nada teria feito que valesse
a pena mencionar. Além disso, divinizamos de tal modo a sua humanidade, que nem podemos dizer
que há qualquer coisa de autenticamente humano nele. O docetismo de alguns pensadores fez com
que o corpo humano de Jesus seja uma entidade espiritual, e não física, embora tivesse a aparência
de um corpo físico. Ou então eles ensinam que seu corpo era uma alucinação, um fantasma, uma
representação teatral, sem qualquer substância real.
É bom lembrar que, muitos dos nossos irmãos, ainda que bem intencionados, sem saber,
ensinam doutrinas docética.

Modo de docetismo
A ideia da possessão. Alguns gnósticos pensavam que o Logos ou algum aeon angelical teria
vindo possuir temporariamente o corpo humano de Jesus, por ocasião de seu batismo, e que o
abandonou no ato da crucificação. Portanto, apesar de que esse corpo era genuinamente humano,
teria sido apenas um instrumento, mas não uma dimensão da realidade de Logos ou Nous mente.
Essa posição era uma espécie de meio-termo, que não chegava ao verdadeiro docetismo ensinado por
Basílides. Basílides, falava em termo de nous, que teria vindo habitar em um corpo humano,
utilizando-se do mesmo, mas que em sentido algum seria humano quanto à sua natureza inerente.
Muitos gnósticos posteriores optavam pela doutrina docética franca. Parte da doutrina islamita também
tem elementos docéticos.

229
Docetismo atacado no Novo Testamento
Na primeira epístola de João, encontramos duas seções atacando duramente os falsos mestres
docéticos e gnósticos, embora a epístola inteira seja uma polêmica indireta. O autor sagrado chamara
esses falsos mestres de anticristo I Jo 2.18. Também foram chamados de mentirosos, I Jo 2.22.
Negavam eles a Deus Pai e Deus Filho, portanto tinham degradado a pessoa e a missão do Filho de
Deus. Para eles, Cristo não seria unigênito sem igual Filho de Deus. Seria apenas um dentre muitos
aeon, ou emanação angelical de Deus. Seriam apenas um dentre muitíssimo salvadores e
mediadores. Outrossim, para eles, ele nunca se encarnou, mas tão-somente se apossara do corpo do
homem Jesus de Nazaré, por ocasião de um batismo, para abandoná-lo por ocasião de sua
crucificação. Para os docéticos, a morte de Jesus não tinha nenhum valor expiatório I Jo 2.2. A maior
parte dos livros apócrifos do N.T., tem inclinação gnóstica, e isto lhes da uma tendências docética. O
evangelho de Pedro, escrito por volta do ano 130-140 d.C., interpreta o grito de Jesus: Deus meu,
Deus meu, porque me desamparaste? Sl 22.1 e Mt 27.46, como se fosse: meu poder, meu poder;
porque me desamparaste? Como se isso fosse um grito de Jesus ao ver-se abandonado pelo aeon,
pois, naquele momento de crise, o aeon que Jesus supostamente teria recebido no ato do batismo
agora estava o abandonando.

Refutando o docetismo
Podem-se identificar os espíritos falsos e os verdadeiros por aquilo que um profeta diz acerca
de Cristo. Aquele que nega a humanidade de Cristo como ensinava o docetismo é inspirado por um
espírito maligno. Aquele que confessa a sua humanidade e, portanto, sua obra expiatória, etc. vem do
Espírito de Deus. Aquele que nega a humanidade verdadeira de Cristo é um anticristo. Não é fácil
vencer esses falsos mestres, mas isso é possível, mediante o poder de Deus, que está conosco o
Espírito Santo que é maior do que qualquer espírito maligno que está no mundo. Há um Espírito da
verdade e um espírito do erro. O que um homem pensa e diz sobre Cristo leva-nos a perceber que
espírito há nele.
Nem toda atividade espiritual, por conseguinte, é boa. Há um falso misticismo como há um
misticismo veraz. E também existem milagres da mentira.

230
Lição 2
4. Marcionismo

Sua origem
Marcionismo é o nome que se dá a uma seita cristã criada por Márcion, ou Marciano. Com
respeito ao nascimento de Márcion, não se sabe exatamente, embora sabemos que ele faleceu por
volta do ano 165 d.C., temos informações que Márcion nasceu em uma região chamado Ponto, na
Ásia menor, onde atualmente faz parte do território da Turquia. Márcion foi um influente mestre cristão,
que finalmente, fundou uma escola gnóstica, que fazia fortes oposições ao verdadeiro cristianismo da
época. Márcion foi excluído em 144 d.C., por causa das heresias que ensinava. Os maiores opositores
da heresia marcionita foram Tertuliano e Epifanio conhecidos como pais da igreja. Márcion produziu
uma obra apologética que poderia lançar muita luz sobre a sua pessoa e seus ensinamentos, mas a
verdade é que havia certa variedade de posições gnósticas. No entanto, sua doutrina era fortemente
paulina em caráter, embora, naturalmente, de mistura com suas próprias ideias e especulações. Ele
rejeitava totalmente ao Antigo Testamento, como impróprio para os tempos e os usos cristãos.
Márcion fora um rico proprietário de navios que abandonara os negócios a fim de dedicar toda
sua atenção à fé religiosa. A seita que ele fundou teve inicio em 144 d.C. Nessa época muitas
congregações marcionitas foram fundadas e propagaram-se por todo o império romano. Márcion
viajava muito, a exemplo do apóstolo Paulo visitando essas igrejas. Márcion era profundamente
influenciado por Cerdo, um mestre gnóstico, embora também diferente dele. Ele sentia que tinha uma
importante missão a cumprir, ou seja, pregar e estabelecer um puro evangelho, sem os fundamentos
judaicos. Segundo as informações que recebemos dos escritos de Justino e Tertuliano, o movimento
marcionita, por volta do século VII d.C. desapareceu no ocidente.
Por volta do século III começou o declínio do Marcionismo que finalmente foi proibido pelo
imperador cristão Constatino, embora tivesse ainda perdurado por mais alguns séculos no Oriente. A
doutrina de Márcion forçou indiretamente os pais da igreja a criar cuidadosos credos, e por fim a
despertarem para iniciar o cânon do Novo Testamento a canonização do Novo Testamento é estudada
na matéria de introdução bíblica do N.T.

Doutrina
Márcion pregou a doutrina de dois Deus, o do Velho, e o do Novo Testamento. Para Márcion, o
Deus do V.T., um demiurgo era um Deus, mas não o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Isto significa,
que o Velho Testamento é palavra de Deus, mas não do verdadeiro Deus. Para ele, o V.T. não
somente contradiz o N.T., mas também contradiz a si mesmo. Márcion ensinava que, por ignorância ou
por maldade, Jeová um Deus de quinta categoria fez esse Mundo cheio de imperfeições, e nele
colocou a humanidade. Segundo Márcion, Jeová era um Deus ciumento mesquinho e arbitrário, que
escolhe um povo nação de Israel acima dos demais, e que está constantemente conferindo a conta de
quem o desobedece para tomar vingança.
Márcion rejeitava o V.T. como se o mesmo tivesse sido produzido pelo demiurgo, veja no
glossário o significado de demiurgo um Deus justo e iracundo que pôs o seu povo sob o império da lei.
Esse demiurgo sob hipótese alguma seria o Deus todo poderoso, mas seria apenas o Deus do V.T., e
este mundo, como sua criação, naturalmente tinha seus problemas, porquanto não fora criado pelo
poder divino maior do verdadeiro Deus. O Deus do V.T., segundo Márcion, precisa ser distinguido do
Deus mais alto e desconhecido da revelação neotestamentária.
O cristianismo era uma nova revelação, independente em tudo do judaísmo, porquanto seria
uma graduação completamente nova, acima daquela antiga e ultrapassada fé. Para ele, o cristianismo
não teria intuito de cumprir o judaísmo e, sim, de substitui-lo totalmente. Cristo não seria uma
verdadeira encarnação divina na carne. Ele apenas parecia ter vindo em carne. Ensino docético.
O Deus mais alto do N.T., observando a miséria humana, enviou seu Filho a fim de redimir a
raça humana. Mas o demiurgo, o Deus do V.T., irado, cuidou para que Cristo fosse crucificado. Isso
foi feito com base na ignorância, e não meramente com base na ira. De fato, Cristo cumpriu
perfeitamente a lei, pelo que o demiurgo agiu de forma incoerente, porquanto era isso que ele estava
exigindo o tempo todo. O Cristo ressurreto apareceu perante o demiurgo, acusando-o de ter
equivocado; e o resultado foi que todas as almas humanas tiveram de ser entregues a ele, a fim de

231
que pudessem ser redimidas. Sendo assim, Cristo tornou-se a cabeça federal da raça humana, com a
qual se identificara perfeitamente, e que comprara por meio de sua morte.
Paulo seria o único verdadeiro apóstolo de Cristo, e sobre Paulo repousa toda a autoridade
escriturística. Paulo pregou o verdadeiro evangelho, fazendo contraste com a versão judaizante dos
outros falsos apóstolos. Então, Márcion, autonomeou-se representante de Paulo, para levar avante a
sua obra. A igreja primitiva não se mostrou fiel ás diretivas paulinas, razão pela qual se impôs um
movimento restaurador. Nisso consistia a missão de Márcion.
Márcion pregava que a salvação vem mediante a renúncia quanto ao demiurgo e seu tipo de
mensagem contida na ira e na lei mosaica. O Deus bom, do N.T., agiu de modo inteiramente diferente.
Ele opera através da graça, por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Para Márcion, a verdadeira
sinceridade cristã, só pode ser cumprida a base do ascetismo. Os homens enganam a si mesmos
quando se tornam parte do mundo esperando, ao mesmo tempo, que possam derrotar as obras da
carne. É recomendável não somente que o homem evite a sensualidade, mais também que evite o
casamento, que inevitavelmente é corruptor.
O corpo humano deve perecer, juntamente com toda a matéria, mas o homem é uma alma
eterna, e a alma que é redimida para receber a glória eterna. O Cânon marcionita era composto de
dez epístolas paulinas, e o evangelho de Lucas, que ele modificou no que bem quis. Nesse evangelho,
Cristo simplesmente teria aparecido, e não nascido. Esse foi o primeiro cânon cristão do N.T. a
canonização do N.T., é estudada na matéria de introdução bíblica do Novo Testamento.
A igreja de Márcion competia com a corrente principal do cristianismo da época. Ele tinha suas
próprias igrejas, credos, missionários e cultura. No entanto, muitos deles morreram como mártires de
sua causa pela perseguição imperial. Eles eram perseguidos mas não retaliavam. Márcion praticava, o
batismo pelos mortos I Co 15.29. Essa prática de batismo, pelo que sabemos através da história fora
à parte daquela referência paulina, foi observada, pela primeira vez, entre os marcianos e os
montanistas, no século II d.C., além de ser uma importante doutrina dos mórmons dos tempos atuais.
No tocante à descida de Cristo ao Herodes, Márcion anunciava uma estranha distorção, que
demonstrava a profundeza de sua doutrina anti judaica. Ele afirmava que Cristo libertara ao Hades
àquele espírito que o Antigo Testamento havia declarado serem maus, mas que, na realidade, eram
bons, ao passo que os crentes do V.T. que seriam piores do que os chamados ímpios foram deixados
no Hades.

232
5. Arianismo

O arianismo foi criado por Ário, que fora discípulo de Luciano de Antioquia. Ário era presbítero
em Alexandria no Egito, e viveu por volta dos anos 256-336 d.C. A controvérsia ariana teve início
quando Ário dez oposições doutrinárias ao bispo Alexandre de Alexandria. Acreditava-se que Ário
nasceu na Líbia. Era diácono quando foi excluído por acusação de praticar heresia em 313, por Pedro,
patriarca de Alexandria. Foi colocado em comunhão novamente por Aquiles, sucessor de Pedro, em
313. Ário tornou-se presbítero de Baucalis, onde passou a ensinar a sua doutrina. Em 318 foi
censurado, mas persistiu em seus ensinamentos. Foi excluído em 321. Eusébio, bispo da Cesareia
263-340 endossou o arianismo, que também teve apoio em altos escalões. Com isso dividiu a igreja no
Oriente, deixando desolado o imperador Constantino. O imperador convocou o Concílio de Nicéia,
onde Ário foi excomungado e banido. Então ele compôs um credo rival ao credo niceno, Constantino
ficou impressionado com o contra-credo de Ário, e o recebeu em 331, ordenando que Atanásio,
campeão da ortodoxia nicena, recebesse Ário em comunhão. Atanásio recusou-se, e foi exilado para a
Gálea. Constantino então ordenou que o bispo de Constantinopla restaurasse Ário à comunhão, mas
este faleceu no mesmo dia da cerimônia.

Doutrina
Os pontos principais da doutrina de Ário são: 1. Deus é ímpar e não gerado, do grego
Agennetos fora de Deus, tudo o mais foi criado do nada criação ex nihilo, através da vontade de
Deus. 2. O Logos Cristo é um intermediário entre Deus e o homem. Ele começou antes do tempo,
mas não seria eterno, o que significa que houve tempo em que o Logos Cristo não existia embora
Deus já existisse. 3. Segue-se daí que o próprio Logos foi criado por Deus o Logos foi genetos. Ele
também nasceu grego Gennetos, o que aponta para a filiação por adoção. 4. O Logos encarnado
Jesus Cristo, é assim inferior a Deus, embora seja objeto próprio da adoção, por causa de sua elevada
posição, estando acima de todas as demais criaturas. Nessa exaltação, ele é tanto senhor quanto
Redentor.
A ideia principal de Ário era que a divindade essencial jamais poderia identificar-se com esta
terrena inferior, portanto, isso seria uma espécie de contaminação. Aqueles que têm estudado a
filosofia platônica reconhecem aqui a influência dos ensinos dos universais e dos demiurgo. Mais
tarde a arianismo se dividiu em três correntes de ideias diferentes com respeito à divindade de Jesus
Cristo.

233
6. Pelagianismo

Pelagianismo é o nome que se dá a doutrina criada por Pelágio, teólogo britânico, e


contemporâneo de Agostinho, provavelmente de sangue irlandês, que viveu entre 360-420 d.C.
Pelágio foi a Roma e ficou chocado com os padrões morais da cidade, por isso, tentou fazer algo a
respeito. Pelágio estava convicto de que a doutrina da total depravação humana era causa de tantas
pessoas evitarem assumir a sua responsabilidade moral; e esse foi um dos fatores de suas
formulações teológicas. Em 410 d.C., ele foi com o seu seguidor Coelestiu, à África do Norte, onde
permaneceu por breve período.
Isso o levou a entrar em contato direto com Agostinho, que reprovou duramente sua maneira
de pensar sobre a constituição do homem. Finalmente, Pelágio foi condenado pelos dois sínodos
norte-africanos de Mileve e Cartago nos anos de 461 e 418 d.C., respectivamente. Essa condenação
foi confirmada pelo papa Inocente I, e, mais tarde, pelo papa Zózimo. Ao que parece, ele faleceu em
cerca de 420, porque depois dessa data não temos mais, notícias sobre ele. O concílio de Éfeso
também condenou a sua doutrina em 431 d.C. À doutrina pelagiana era da seguinte forma:
Viver isento do pecado é uma possibilidade humana, embora isso requeira muita força de
vontade. Em sua natureza básica, apesar da queda; o homem tem a capacidade de vencer o pecado.
O homem foi criado à imagem de Deus, e, apesar da queda, essa imagem é real e viva, pois doutra
sorte, o homem não seria aquele homem criado por Deus. Essa imagem é ativa e poderosa, e confere
ao homem capacidades morais, se ao menos ele quiser usa-las. A vontade humana sempre foi e
continua sendo livre para escolher o bem. Essa vontade pode rejeitar o mal, porquanto isso está no
alcance do homem, inteiramente à parte de degradação do pecado. Para Pelágio, o homem tem
capacidade de escolher o bem ou o mal.
Não existe tal coisa como pecado original ou como pecado herdado, o homem torna-se que é
mediante sua descendência proposital; mas ele tem capacidade de reverter isso para a obediência
proposital. Nem a queda de Adão no pecado, e nem os maus hábitos de um homem, desenvolvidos na
sua vida, podem anular o poder de sua vontade, poder esse tem capacidade de reverter em favor do
bem, e não meramente em favor do mal.
Segundo Pelágio, Adão não se tornou mortal em face da sua queda no pecado. Já foi criado
como um ser mortal, e teria morrido finalmente, mesmo que não tivesse caído no pecado. Adão, à
semelhança do qualquer outro homem, poderia Ter conservado a sua inocência mediante o exercício
de seu livre-arbítrio. No entanto, fez más escolhas. Os homens também têm feito más escolhas
errôneas, inteiramente à parte de suas conexões com Adão.
O pecado é um ato e não existe fora do ato, como se fosse alguma suposta natureza depravada
herdada. Os homens fazem de si mesmo o que são ao cultivarem atos pecaminosos. Para Pelágio, o
pecado deriva-se do ato, pecaminoso, e então do acúmulo de tais atos, mas nunca de uma herança da
Raça humana. Do mesmo modo que um indivíduo pratica o mal, assim também pode passa a praticar
o bem, anulando o seu passado.
O homem foi dotado de perfeição original, e pode manter a mesma. E mesmo que venha a
perdê-la, poderá recupera-la e viver completamente isento de pecado. Com respeito ao pecado, esse
assunto será estudado na matéria de Hamartiologia, doutrina do pecado.
Pelágio ensinava que cada criança nasce como uma tábua rasa. À semelhança de Adão,
enfrenta o problema da degradação, mas tem a liberdade de escolher o bem ou o mal, tal como
sucedeu a Adão.
Segundo ele, um homem, mediante o contínuo exercício de sua vontade em favor do bem,
pode atingir o estado de perfeição, em cujo estado, como infante, ele havia começado a sua vida,
Pelágio era contra o derrotismo, e lançava a culpa sobre a doutrina do pecado original para fazer os
homens pensarem em termos inferiores acerca de si mesmos e de suas potencialidades.
Segundo Pelágio, o pecado original é uma impossibilidade, visto que o pecado depende de um
só ato da vontade, e não de alguma questão de herança. O pecado é uma volição vontade depravada,
e não uma enfermidade da alma transmitida de geração em geração.
Pelágio era a favor do batismo infantil. Mas ensinava que devia ser feito apenas como uma
prática legítima, e não para remover pecados supostamente herdados pelos pais. Para Pelágio, os
homens iluminados, mesmo sem Ter nenhum contato com o cristianismo eram passivos de salvação,
porque Deus os julgaria de acordo a conduta de vida que tiveram, porque o homem seja cristão ou não
é imagem e semelhança de Deus.

234
Sendo assim, é possível a salvação para uma pessoa que não seja cristã, basta viver uma vida
de piedade, porque a retenção da imagem de Deus, apesar da queda no pecado é o que empresta ao
homem imensa capacidade para o bem, como base na sua própria natureza. Os chamados pagãos
também trazem a imagem de Deus, e podem atingir uma verdadeira retidão; e, com base nisso, é
possível a salvação, sem qualquer contato direto prévio com o evangelho.
Há uma graça comum que opera por meio de Cristo, e que não requer qualquer organização
religiosa especifica para que seja propagada. Isso, porém, não significa que Pelágio negasse o uso e o
poder da igreja. Mas ele negava que o Logos Cristo limita-se à igreja quanto a seu presente atuação
no mundo. Pelágio negava de modo absoluto a predestinação e afirmava o livre-arbítrio.

235
7. Apolinarismo

Apolinarismo é o nome de uma heresia do século IV que leva o nome do seu originador,
Apolináris ou Apolinário, o jovem. Apolinário nasceu entre 300 e 315, e morreu pouco antes de 392.
Parece que viveu toda a sua vida em Laodiceia, ao sudoeste de Antioquia. Era um homem de
capacidade tão rara e de santidade tão atraente, que até mesmo seus opositores mais irredutíveis
homenageavam seu caráter sólido. Ainda jovem, veio a ser um obreiro leigo na igreja de Laodiceia,
sob o governo do bispo Teodoto. Apolinário foi excomungado por pouco tempo, por ter frequentado
uma atividade pagã. Em 346 foi excomungado pela Segunda vez pelo bispo George, ariano. Apesar
disso, a congregação niceana de Laodiceia elegeu-o bispo, cerca de 361.
As evidencias sugerem que Apolinário dedicava mais tempo ao ensino e à escrita na cidade
próxima a Antioquia, do que à administração eclesiástica. Como mestre reverenciado, era amigo de
Atanásio, consultor de Basílio Magno, por correspondência, e teve entre seus alunos Jerônimo, em
373 ou 374.
O Apolinarismo parece ter emergido paulatinamente como um fio independente do cristianismo,
à medida que seus opositores conseguiram fazer com que ele fosse conhecido. Um sínodo em
Alexandria, em 362, condenou o ensino, mas não o ensinador, Basílio Magno persuadiu o papa
Damaso I a censurá-lo cerca de 376, e em 377 Apolinário e o Apolinarismo foram igualmente
condenados por um sínodo de Roma . O concílio geral de Constantinopla, em 381, considerou
anátema Apolinário e sua doutrina. O imperador Teodócio I passou, então, a promulgar uma série de
decretos contra o apolinarismo em 383, 384 e 388. Mas o herege idoso, segundo parece, continuava
escrevendo e ensinando calmamente em Antioquia e Laodiceia, seguindo sua paixão pelas verdades,
própria de um estudioso, e com a confiança serena de um santo, quanto à sua retidão.
O apolinarismo já tinha tornado um cisma especifico em 373, porque, quando o imperador
Valente deportou certos bispos egípcios par a Diocesareia, Apolinário abordou-os com saudações e
um convite para entrarem na comunhão com ele. Os bispos, por sua vez, rejeitaram suas propostas.
Já em 375, Vitális, um discípulo de Apolinário tinha fundado uma congregação em Antioquia. Vitális foi
consagrado bispo por Apolinário que também organizou a eleição do seu amigo Timóteo ao bispado de
Berito. Os apolinarios tiveram pelo menos um sínodo em 378, e há evidência no sentido de ter ocorrido
um segundo sínodo.
Depois da morte de Apolinário, seus seguidores dividiram-se em dois partidos, os vitalinos e os
polemianos ou sinusiatos. Por volta de 420, os vitalianos já estavam reunidos com a igreja grega.
Pouco mais tarde, os sinusiatos fundiram-se no cisma monofisita. O apolinarismo foi o precursor das
grandes lutas criptológicas que lançaram Antioquia contra Alexandria, tendo Roma, por árbitro, e o
resultado final foi o cisma monofista permanente da cristandade, depois do Concílio de Calcedônia, em
451.
Doutrina
O desvio central do apolinarismo da ortodoxia posterior de Calcedônia começou numa
tricotomia platônica. O homem era visto como corpo, alma sensível e alma racional, Apolinário achava
que, se a natureza humana de Cristo não foi diminuída de alguma maneira, então um dualismo seria o
resultado. Além disso, se alguém ensinava que Cristo era um homem completo, logo, Jesus tinha uma
alma racional humana que residia o livre-arbítrio; e sempre que havia livre-arbítrio, havia pecado.
Segue-se, portanto, que o Logos Cristo assumiu somente um corpo e a alma sensível que era
estreitamente vinculada a este. O próprio Logos ou Verbo tomou o lugar da alma racional ou espírito
ou nous, mente na humanidade de Jesus. Desta maneira, podemos falar da única e exclusiva natureza
encarnada do Verbo de Deus. Esta doutrina foi desenvolvida por Apolinário na sua demonstração de
encarnação divina, escrita em 376 como respostas à confederação papel inicial.
Apolinário foi um escritor prolífico, mas depois da sua excomunhão em 381 suas obras foram
assiduamente procuradas para serem queimadas. Assim o apolinarismo deixou pouca literatura a não
ser as citações nas obras dos seus críticos. O princípio geral segundo o qual o apolinarismo foi
condenado foi à percepção que havia no Oriente de que aquilo que Cristo não tomou sobre Si não é
curado. Se o Logos não assumiu a alma racional de Homem Jesus, logo a morte de Jesus não podia
curar nem redimir as almas racionais dos homens. E, enquanto a igreja se debatia com esta
percepção, rejeitava o apolinarismo e avançava em direção à definição da Calcedônia, que repreendeu
e corrigiu tanto Antioquia como Alexandria nos seus extremos: ele mesmo é perfeito tanto na divindade
quanto na humanidade; ele mesmo também é realmente Deus e realmente homem, com alma racional
e com corpo.

236
Apolinário opunha-se tanto à noção ariana doutrina de Ário da mutabilidade do Logos como à
noção da completa união das naturezas divina e humana, em Jesus Cristo. Apolinário firmava que, na
encarnação, o Logos Cristo tornou-se carne, tomando o lugar da alma humana racional na pessoa de
Jesus Cristo. Em outras palavras, ele negava que Cristo Jesus tivesse espírito humano, ensinando que
o ser espiritual, o Logos, manipulava um corpo humano. Isso negava a humanidade essencial de
Jesus Cristo. O certo mesmo, é dizer que no tocante a isso, estamos diante de um grande mistério,
que é a encarnação do Logos.
Concebemos Cristo em termos de plena humanidade e de plena divindade, visto Ter sido a
grande manifestação do Logos, o princípio do Filho, dentro da trindade. Por mais que se avancem os
estudos da ciência e da Teologia jamais conseguiremos compreender a combinação em si mesma,
entre o divino e o humano.
Doutrina como o apolinarismo tenta solucionar o que não pode ser solucionado, pelo menos no
presente. A doutrina de Apolinário foi condenada no Concílio geral de Constantinopla em 381 d.C.

237
Revisão Geral

 Aprendemos nesta lição que: não existe uma só religião que trás em suas doutrinas 100% de
mentira. Que pior do que mentira é a meia verdade.
 O estudo das religiões comparadas entende que essencialmente todas as religiões se
resumem em uma. Mas, descobrimos também, que não é bem isso. Porque o estudo sério de várias
religiões tem mais discordância do que concordância.
 O gnosticismo afirmava que a salvação só é possível através do conhecimento místico, e que
só estava ao alcance dos psíquicos e dos pneumáticos.
 Grande parte dos escritores de Paulo e João, foi combatendo a heresia gnóstica.
 O docetismo era uma seita do gnosticismo, e dizia que a humanidade de Jesus era ilusória;
ele apenas parecia ser humano, mas não era.
 Ainda com respeito ao docentismo, vimos que muitos cristãos da atualidade por ignorância
ou por excesso de otimismo professa a heresia docética.
 Márcion pregava uma doutrina gnóstica e docética, e que ele afirmava que Jeová, não era
Pai de Jesus Cristo, mas tão somente um Deus de uma categoria inferior.
 Ário ensinava que pelo fato de Cristo Ter tido contato com esse mundo, ele não poderia ser
Deus; porque qualquer contato com esse mundo material é o suficiente para se contaminar. Ário,
afirmava também que Cristo foi criado por Deus, por isso ele teve início de existência, sendo assim,
não era Deus.
 Com respeito à Pelágio, estudamos que ele afirmava que através da boa vontade, o homem
pode por si próprio vencer o pecado. Pelágio afirmava também que a humanidade não herdou o
pecado de Adão. Pelágio ensinava também que é possível uma pessoa ser salva através das suas
obras, mesmo não sendo cristã, porque os pagãos também possuem a imagem de Deus. Pelágio
afirmava também, que Adão não se tornou mortal por causa do pecado porque já havia sido criado
mortal; teria morrido da mesma forma se não pecasse.
 No apolinarismo, aprendemos que Apolinário ensinava que Jesus não tinha alma humana,
mas, que o Logos divino ao se encarnar, substituiu o lugar da alma humana na pessoa de Jesus
Cristo. Sendo assim Jesus tinha uma só natureza, e não duas, a humana e a divina porque isso seria
uma dualidade.

238
Exercícios

1. O que pode ser pior do que a mentira?

2. O que ensinava o estudo das religiões comparadas?

3. Para os gnósticos o que era essencial para a salvação?

4. Em quantas classes o gnosticismo dividia os homens e quais eram elas?

5. Quais são os textos bíblicos que combatem o gnosticismo?

6. O que significa a palavra Docético?

7. O que os docéticos ensinavam sobre a humanidade de Jesus?

8. Existe docentismo no meio evangélico? Sim ou Não

9. O que Márcion pensava do Senhor Jeová?

10. O que Ário ensinava sobre a divindade de Jesus Cristo?

11. O que Pelágio ensinava sobre o homem e o pecado?

12. O que ensinava Apolinário sobre a natureza de Jesus Cristo?

239
Lição 3
8. Testemunhas de Jeová

O nome Testemunhas de Jeová, foi adotado em 1931 pelo movimento fundado por Charles
Russel na década de 1870. Russel nasceu no ano de 1852 em Pittsburgh, Pensilvânia. Era de família
congregacionalista, mas reagiu fortemente contra sua criação religiosa. Com a idade de 18 anos,
começou uma classe bíblica em Pittsburgh, e esse grupo cresceu até tornar-se a organização que hoje
conhecemos como as Testemunhas de Jeová. Em 1876, Russel tornou-se pastor do grupo, e em
1879 começou uma revista, Zions Watchtower torre de Sião, precursora daquela que hoje existe com
o nome de Torre de Vigia. Em 1908, Russel transferiu a sede da sua organização para Brooklynn,
Nova Iorque.
A organização permanece sediada naquele bairro de Nova Iorque desde então. Em 1886,
Russel publicou o primeiro de uma série de sete livros Studies in the Scriptures Estudos sobre as
Escrituras. O volume 6 foi publicado em 1904 e o sétimo em 1917, um ano depois da morte de Russel.
A publicação do volume 7 de Studies in the Scriptures levou a um cisma na organização. A maioria
dos membros seguiu J.F. Rutherford, ao passo que um grupo menor formou uma associação Aurora
de estudantes da Bíblia. Esse grupo ainda existe e publica a revista Aurora, que tem uma circulação
de cerca de 30.000 exemplares. O grupo maior, que seguiu Rutherford, é aquele que hoje é chamado
de As Testemunhas de Jeová. A revista deles, A Torre de Vigia, tem uma circulação mundial de
mais de 64 milhões de exemplares.
Depois da morte de Russel em 1916, o juiz Joseph Franklin Rutherford passou a ser o líder da
organização. Organizador capaz, desenvolveu o grupo até chegar a ter a estrutura atual. Rutherford
escreveu mais de cem livros e, fundamentalmente, formou a teologia do grupo. Aumentou a hostilidade
do movimento contra a religião organizadora e desenvolveu uma variedade de métodos missionários
muito bem-sucedidos.
Rutherford, que havia nascido em 1869, morreu em 1942, legando aos seus seguidores uma
organização missionária que continuou a crescer a um ritmo notável.
Em 1891, as Testemunhas de Jeová foram abaladas por uma série de cismas, e um grande
número deixou a organização. O líder daqueles que se opunha ao grupo sediado em Brooklynn foi o
professor James Penton, um canadense cujos familiares estavam entre os primeiros convertidos de
Russel. Penton e aqueles que aderiram aos pontos de vista dele procuravam reenfatizar à doutrina da
justificação pela fé e levar o grupo de volta ao seu interesse original pelos estudos bíblicos. A intenção
de Penton e de outras Testemunhas que compartilhavam das suas ideias parece ter sido reformar o
grupo de dentro para fora. A liderança em Brooklynn rejeitou enfaticamente os argumentos deles e
expulsou todos aqueles que apoiavam tais conceitos. Embora essa divisão fosse grave, parece que a
maioria das Testemunhas permaneceu dentro da organização oficial, que manteve o controle sobre os
bens do grupo.
Como organização religiosa, as Testemunhas de Jeová são como muitos grupos típicos do
século XIX. Embora sua teologia tenha alguma semelhança com a dos arianos na história da igreja
primitiva, trata-se essencialmente de um grupo moderno, fortemente influenciado pelo racionalismo.
Assim como muitas outras religiões novas no século XIX, as Testemunhas de Jeová representam uma
forte reação contra a cosmovisão científica. O racionalismo do grupo se vê na sua rejeição das
doutrinas da trindade e dos ensinos tradicionais a respeito da pessoa e da obra de Jesus Cristo. Sua
atitude racionalista para com a Bíblia revela-se na sua interpretação liberalista das profecias e na sua
incapacidade de reconhecer a natureza simbólica da linguagem bíblica. Sua rejeição das transfusões
de sangue reflete essa rejeição da ciência moderna e, também o literalismo extremado da sua
exegese.
Na tentativa de justificar sua interpretação do cristianismo e sua rejeição da ortodoxia, as
Testemunhas produziram sua própria tradução da Bíblia A Tradução Novo Mundo das Escrituras
Gregas Cristãs e A Tradução das Escrituras Hebraicas - em 1950. Embora essa obra alegue ser uma
tradução, as Testemunhas nunca revelaram os nomes dos tradutores, nem comprovaram as suas
credenciais de estudiosos competentes. O que se vê na realidade é uma versão da Bíblia nos termos
da teologia da organização.
Provavelmente, a melhor introdução à teologia das Testemunhas de Jeová seja o seu livro;
Seja Deus Verdadeiro. Além da sua rejeição da doutrina cristã da trindade, ensina várias doutrinas
características. Na opinião deles, a expiação é um resgate, pago a Deus Jeová por Jesus Cristo, que

240
remove os efeitos do pecado de Adão, lança os alicerces de uma nova retidão e capacitam os homens
para salvarem a si mesmos pelas suas próprias obras. Ensina m que Jesus foi ressuscitado como um
espírito divino, após ter oferecido a Deus esse sacrifício vicário. Na morte, os seres humanos dormem
até à ressurreição ou, se forem maus, sofrem o aniquilamento. Segundo a opinião deles, Jesus Cristo
voltou espiritualmente a terra em 1914, e agora está ocupado na obra de derrubar a organização
mundana de satanás e estabelecer um reino milenar teocrático.
Este reino virá até nós num futuro próximo, por ocasião da batalha do Armegedon. Depois do
Armegedon, os crentes verdadeiros serão ressuscitados para uma vida na terra, enquanto um grupo
seleto de 144.000 Ap 7.4; 14.1 pessoas reinarão no céu com Cristo. Além de sustentarem essas
doutrinas, as Testemunhas de Jeová rejeitam o ministério profissional e, até recentemente, a ideia de
templos edifícios de igrejas. São pacifistas e conclamam seus membros a não se envolverem com
política mundana.
Hoje, há mais de três milhões de Testemunhas de Jeová no mundo. Tem uma extensa rede de
missionários e operam na maioria dos Países. Em alguns lugares, especialmente na África, as
Testemunhas sofrem perseguições severas. Em outros, especialmente, comparando-se a
denominações religiosas de tamanho razoável.

241
9. Hinduísmo

Hinduísmo é a fé religiosa do povo hindu, a raça ariana da Índia. A palavra hindu também tem
uma conotação religiosa, indicando alguém que professa o hinduísmo como sua religião. A palavra
hind é um antigo nome da Índia. O persa antigo tinha uma palavra, hindu, que significava terras dos
indianos. O termo sânscrito que serve de base é sindhu, que significa rio. Está em foco o rio Indo, que
flui através da porção ocidental do Tibete e do noroeste da Índia, mais de 3.100 km, desaguando na
porção noroeste do mar da Arábia. O hinduísmo, como religião, tem cerca de meio bilhão de
seguidores, ou seja, cerca de 84% da população da Índia e cerca de 11% da população do Paquistão.
Em anos recentes essa fé vem sendo propagada por missionários hindus nos países ocidentais, o que
tem aumentado ainda mais o número de adeptos, - além de exercer grande influencia sobre as ideias
de outras religiões. De fato, nossos dias têm visto uma considerável influencia de vários conceitos
hindus sobre outras fés, mesmo quando o sistema, como um todo, não tem sido aceito.
O termo hinduísmo designa o conjunto de princípios e práticas religiosas da população da
Índia. O hinduísmo também é praticado com variações, numa série de outros países: Paquistão,
Ceilão, Mianma, África do Sul, Bali, Trinidad e Tobago e Ilhas Fiji.
Apesar da variedade de cultos, rituais, doutrinas e seitas que caracterizam o hinduísmo,
podemos ressaltar dois pontos comuns. Existe um grande número de deuses, muitos originados entre
os árias antes da invasão. Esses deuses sofrem a influencia dos desejos e das vontades dos homens,
que, por sua vez e de muitas maneiras, procuram intervir em seus atos. Alguns deles são Indra,
Senhor dos Deuses, representado como um touro; Aurora, mãe de todas as criaturas, representada
como uma vaca; Veta deus dos ventos, Marutes, das águas e dos rios, Rudra, da tempestade. Os mais
importantes compõem a trindade hindu: Vishnu, Shiva e Brahma.
A complexidade dos cultos hindus deve-se às diferentes maneiras de influir sobre os deuses,
todas elas mágicas: utiliza-se a mantra, fórmula sintética murmurada, encantos, amuletos,
adivinhações de sonhos e sinais astrológicos.
Uma característica fundamental da sociedade hindu é o sistema de castas: sua origem está
ligada à separação que os árias de cor clara faziam entre eles e os habitantes do Vale do Rio Indo de
cor escura à época da invasão. Apesar de terem sido legalmente abolidas em 1947, as castas – que
chegaram a mais de 3 mil – ainda hoje marcam a vida social da Índia. Na sua origem, elas eram
quatro: a dos escravos hoje inexistente, descendentes dos primeiros habitantes, dominados pelos
árias, ou prisioneiros de guerra; a dos homens livres; as dos guerreiros nobres xátrias, donos de terras
e envolvidos na política do país, da qual saía o rei; e, por fim, a dos brâmanes homens do sagrado,
sacerdotes e mágicos que atuavam tanto nas aldeias quanto junto ao rei.
A evolução do hinduísmo conheceu quatro fases. A primeira, do hinduísmo védico,
corresponde a mais antiga, quando a tradição oral hindu foi registrada em livros chamados Vedas. A
Segunda foi a que mostrou maiores transformações e viu o surgimento do bramanismo. No século VI
a.C., várias seitas, como o jainismo, e uma religião muito importante, o budismo.

O Hinduísmo Védico
As religiões dessa área foram avassaladas pela invasão da Índia pelos arianos; mas muitos
dos elementos das mesmas foram incorporados na nova fé emergente. Esse processo vem desde
cerca de 1500 a.C. A religião védica caracterizava-se pelo otimismo, pelo amor à vida, por uma
espécie de fé neste mundo, mas com alguma crença acerca da vida vindoura. Os vedas tornaram-se
uma importante fonte de fé para todas as gerações que surgiram. Os deuses eram as forças da
natureza, como varuna o firmamento; Intra a tempestade, a fertilidade e a guerra; Agni o fogo Soma a
bebida alcoólica que fazia parte do sistema de sacrifício, e era considerado um elixir da imortalidade;
Vayu o vento; Ushas o alvorecer. Além desses, muitos outros deuses controlavam várias atividades da
sociedade.

O Hinduísmo Brahmane
Quando o hinduísmo védico acabou fenecendo, surgiu uma nova literatura, e os sábios
desenvolveram essa fé. A literatura que eles compilaram e produziram chamam-se os Brahamanas.
Foi introduzido muito cerimonialismo, bem como especulações e práticas mágicas. Esse elemento
mostrou ser tão importante que descreveu a importância dos deuses. Foi duramente esse período que
os conceitos da transmigração das almas, com uma resultante divina kármica além de outros
benefícios, foram concebidos.

242
Duas ideias importantes no hinduísmo são: a reencarnação e a salvação. A transmigração das
almas, também chamadas reencarnação, está ligada à ideia do karma, base da religião. O karma é o
conjunto de atitudes negativas que cada pessoa toma durante a vida. Esse negativismo marca toda a
existência do indivíduo, criando um peso para sua alma. Apenas pelas sucessivas reencarnações é
que a alma vai se purificando e atingindo estágios mais elevados. A salvação, que os hindus chamam
de nirvana libertação só acontece quando a alma consegue libertar-se dos ciclos reencarnatórios e
reencontrar-se com todo, o absoluto, Brahma.
A crença nas reencarnações sucessivas da alma não é exclusiva do hinduísmo. Entre nós, o
espiritismo, ou kardecismo de Alan Kardec, ensina que após a morte, apenas o corpo se extingue. A
alma procura reencarnar em outro corpo a fim de atingir um nível superior de iluminação. Todas essas
transformações deram origem ao bramanismo, que passou a interpretar o problema das
reencarnações a fim de fazê-lo coincidir com a divisão da sociedade em catas. Dessa maneira, os
brâmanes e os xátrias foram considerados os mais puros e evoluídos, menos cármicos, necessitando
de um número menor de reencarnações para se encontrar com Brahma. Quanto mais baixo na escala
social maior carga cármica e maior o número de reencarnações para o indivíduo purificar sua alma.

Resumo
No hinduísmo há uma larga gama de crenças, juntamente com muitas escolas, que promovem
diferentes ideias. Não há credo formal e nem formas padronizadas de adoração. No nível inferior inclui
os mais primitivos tipos de animismo. Em sua expressão mais sofisticada, surge o monismo. Assim
uma caracterização geral deve ser uma descrição bem ampla dos muitos elementos que formam o
chamado hinduísmo. Daremos aqui somente um esboço dos conceitos básicos, que encontram larga
aceitação entre os hindus.
1 Respeito pelas escrituras hindus. 2 A filosofia hinduista. 3 Cosmologia hinduista. 4 Alguns
pontos teológicos hinduista. 5 Renascimento e libertação. 6 Salvação. 7 Iluminação. 8 Formas de culto.
9 Sistemas das castas. 10 Ética hinduista. Se o aluno quiser conhecer esses tópicos com mais
profundidade, pesquise esse assunto na enciclopédia da Bíblia Teológica e Filosófica da editora
candeia, no volume três.

243
10. Taoísmo

O taoísmo é, uma das principais religiões ou filosofia da China. Foi fundada em cerca de 500
a nos antes de Cristo por Lao-Tsé, o qual ensinava que a felicidade pode ser adquirida mediante a
obediência aos requisitos da natureza humana e a simplificação das relações sociais e políticas, de
acordo com o Tao, ou Caminho, o princípio básico do cosmos, de onde procede a natureza inteira. As
escrituras básicas dessa fé chamam-se Tao Te Ching. Alguns eruditos pensam que Lao Tsé, ou Lao
Tzu, não foi uma personagem histórica, pois se trataria de um termo que significa velho filósofo, o
alegado fundador do taoísmo e autor do Tao Te Ching.

Tao
A palavra Tao, no chinês significa o caminho. Pode referir-se ao santo e bendito caminho que
pessoas religiosas e sérias deveriam seguir agora, e que promete a prosperidade e a saúde; ou, então,
está em foco o caminho último da fé religiosa, que dá acesso à glorificação. Essa palavra também é
usada para indicar a essência da espiritualidade e da transformação inferior máxima, Quando o
indivíduo atinge o alvo final da existência e do esforço humano.
O Tao, também é reputado como sendo a Fonte Divina de onde todas as coisas teriam
procedido, ou seja, o principio básico dos cosmos. A esse principio básico que, segundo os taoistas,
todas as coisas retornarão. O taoísmo é simbolizado por um circulo dividido em duas partes, sendo
uma preta e outra branca. A parte branca contém um pouco da preta, e a preta contem também um
pouco da branca. Significando que, o absoluto constitui-se de dois princípios inseparáveis, dois
elementos opostos, contraditórios: quente-frio, masculino-feminino, negativo e positivo e etc.
Da mesma maneira, todas as coisas e todos os seres constituem-se de elementos que se
contradizem, e o equilíbrio entre eles é que define a forma e o conteúdo de cada um. O fato de cada
elemento conter uma parcela do outro mostra que apenas a fusão dos opostos pode gerar um ser
equilibrado. Mais que cada elemento possui um pouco do outro. Assim, o positivo tem um pouco do
negativo, o masculino um pouco do feminino, o quente um pouco do frio. Quando esse equilíbrio se
rompe a desordem, a confusão, a destruição das formas e a doença. Recuperar a saúde – individual e
cósmica – é recuperar o equilíbrio, isto é, o tao. Certos apologistas cristãos orientais têm ligado o
termo Tao ao Logos do cristianismo. Pensando que a mesma coisa está em mente, embora expressas
por diferentes termos, em diferentes idiomas.

Tao-te Ching
O Tao-Te Ching é o nome da Escritura Sagrada do Taoísmo. Esse nome significa Clássico do
Caminho e sua virtude. Esse material foi composto e compilado entre os séculos VI e IV antes de
Cristo. Consiste em 5.250 caracteres, divididos em 81 capítulos. Lao Tzu contemporâneo mais velho
de Confúcio teria sido o autor desses escritos. Se ele foi mesmo um personagem histórico, e possível
que tenha sido autor de parte da obra. Seja como for, esses escritos provavelmente contem a essência
de seus ensinamentos. Varias formas literárias foram incluídos, como hinos, provérbios, polemicam e
discursos didáticos. O material propõe-se, acima de tudo a ensinar aos homens o caminho.

Doutrinas
O ensino místico dessa fé era que o caminho da vida transcende a razão e não pode ser
expresso por meio de palavras humanas. Contudo, embora nunca vocalizado, não e um ensino
inoperante e insensível. O homem que caminha pela vereda mística sabe o que esta acontecendo ao
seu ser, e tem consciência da transformação que ocorre quando ele sonda o poder divino, embora
talvez não encontre meios de expressar sua experiência. O indivíduo venceria através do quietismo,
deixando as coisas continuarem, mantendo-se na tranquilidade, deixando de lutar, procurando
encontrar a harmonia da natureza. Haveria dois conjuntos de qualidades opostas, denominadas o yin
e o yang, que ajudam a estruturar o universo e governam todas as coisas. No indivíduo, essas forcas
encontram seu devido equilíbrio.
Os requisitos divinos podem ser achados no homem interior, pois o homem e produto do Tao e
esta destinado a chegar ao Tao final. Um homem pode sentir-se feliz mediante a obediência as
exigências de sua própria natureza, mantendo uma atitude de moderação.

244
Pessoas comuns adicionaram muitos elementos ao taoísmo: as crenças em espíritos, e
sobrevivência da alma, encantamentos mágicos em busca da boa sorte e de cura, confissão de
pecados para obtenção de harmonia interior e libertação do mal, a necessidade de boas obras.
Os intelectuais estudaram a alquimia, procurando algum meio de tornar o homem imortal;
também acrescentaram conhecimentos acerca de boa variedade de questões: química, anatomia,
metalúrgica, pólvora, anestésicos e farmácia. La pelo século III antes de Cristo, o taoísmo e o
confucionismo rivalizaram fortemente, mas o budismo era mais popular que ambos, entre o povo
comum. O taoísmo apela mais para os literatos, para as classes governantes, o mais importante
nomes ligados a essa fé são Chuang Tzu o alegado fundador do taoísmo e Huai-nan Tzu.

245
11. Confucionismo

Confucio, também chamado de Kung Fu-tzu o criador do confucionismo, nasceu na aldeia de


Tsou, no estado de Lu, na porção sudoeste na província de Xantungue. Ele viveu por volta do ano
551 a 479 antes de Cristo. Foi ele um filosofo e líder religioso chinês. Confucio tornou-se o primeiro
mestre profissional da historia chinesa. Seus primeiros estudantes, que se tornaram discípulos em seu
movimento religioso, segundo os registros antigos, foram vinte e quatro. Confucio recebeu educação
liberal em estudos de humanidades como poesia e literatura, havendo transmitido essa cultura aos
seus discípulos. Muitos deles vieram a ocupar posições importantes no governo e na sociedade
chinesa. O próprio Confucio serviu em postos governamentais, e aos 54 anos de idade chegou a ser
ministro de Estado. Ele pregava à volta a organização dos primeiros tempos da dinastia Chou, nos
quais a organização familiar se confundia com a do Estado. Seus projetos de reforma não foram
aceitos e ele teve de se exilar por um longo tempo. Mas, ele, acima de tudo, era um mestre. Embora
tenha exercido alguma influencia, durante seus dias de vida, o triunfo do confucionismo não ocorreu
senão já no século II, antes de Cristo.
Confúcio viveu numa época critica da historia chinesa. O País passava, do que a historia
chama de idade do bronze para a idade do ferro. Época em que havia inúmeras guerras entre nobres,
donos de grandes propriedades rurais, pelo controle de territórios. Nesse tempo a dinastia Chou
exercia um governo apenas teórico, uma vez que o território lhe fugia ao controle. Um dos segredos de
Confúcio era a ligação entre professor e estudante, que cultivava algo que veio a tornar-se um ideal
chinês, muito imitado por outros. Quando foi instituído um dia do professor, na China em nosso século
XX, foi escolhida a data lendária do nascimento de Confúcio, que e 28 de setembro.
No desenvolvimento das suas ideias, Confúcio formou uma verdadeira escola. Ele pretendia
modificar o pensamento dos jovens aristocratas cultos que estavam sendo preparados para exercer
cargos públicos. Confúcio teve como objetivo reformar os costumes da época, pois acreditava que a
degradação moral e que teria levado as guerras e a destruição. Por isso chegou a estimular a pratica e
a preservação dos rituais tradicionais chineses, pois acreditava que fossem eficazes na preservação
dos valores morais.
Seu pensamento, desenvolvido e aprofundado por inúmeros discípulos, era racionalista e
pragmático, o que fez com que os confucionistas extirpassem da literatura chinesa todos os elementos
mitológicos e sobrenaturais. O principio da lealdade e básico no confucionismo. Há uma lealdade que
o filho deve ao pai e uma que os súditos devem ao soberano. Dessa forma a família não se
desmancha, o que contribui para a manutenção do Estado. Agindo com justiça, o pai demonstra seu
amor pelo filho e este se mantém leal. O mesmo raciocínio serve para as relações entre o rei e seus
súditos. Justiça, benevolência e lealdade são os princípios mais importantes e a base do
comportamento correto, tanto no nível individual quanto no nível político, segundo o confucionismo.
Em 136 antes de Cristo, o confucionismo foi transformado em doutrina política oficial do
império chinês. Manteve-se nessa condição ate 1912, quando se instalou a republica na China. Entre
220 e 907 depois de Cristo, o confucionismo foi suplantado pelo budismo indiano e pelo taoísmo, mas
a partir de 960 depois de Cristo, retomou sua importância e prestigio. A partir dessa data, ate cerca de
1279 depois de Cristo, uma mistura de budismo, zen-budismo, taoísmo e confucionismo deu origem ao
chamado neoconfucionismo, doutrina que pregava a meditação e a integração a natureza como
caminho da salvação. Após a republica, com Sun Yatsen 1912, a China passou a receber profundas
influencias ocidentais e o confucionismo foi criticado como uma doutrina conservadora e obscurantista.
Com a revolução comunista, Confúcio foi tachado de reacionário e seu pensamento execrado
na China. Fora da China, o Japão foi o País que recebeu maiores influencias do confucionismo,
tornando-se doutrina oficial do governo japonês no período de 1600 a 1868 depois de Cristo.

Doutrina
Confúcio não se afirmava pensador original, mas somente transmissor de ideias que ele
tomara emprestadas da Antiguidade. Na realidade, porem, ele foi um pensador muito genial. A filosofia
de Confúcio centraliza-se em torno do homem e seu bem-estar, na vida presente. Ele queria instituir
uma boa sociedade, caracterizada por relações sociais harmônicas. As relações sociais dependeriam
do que Confúcio chamava de li, ou seja, o caminho do bom gosto, a conduta de um cavalheiro. Se
isso envolve a pessoa na realização de ritos apropriados, religiosos e outros, consiste muito mais em
cumprir as próprias funções. Isso deve ser feito dentro das cinco relações cardeais: a pai e filho, b

246
irmão mais velho e irmão mais novo, c marido e mulher, d amigo e amigo e e soberano e súdito. A
piedade final e uma das importantes bases do sistema.
O senso de propriedade e um meio de desenvolvimento do caráter. Assim como uma casa
dotada de alicerce sólido também o homem bom deve caracterizar-se por boas maneiras, mostrando-
se cheio de consideração, no trato com o próximo. Isso e fomentado pelo estudo da musica e da
poesia. Nisso, Confúcio mesclava a ética com a estética. As qualidades humanas, segundo ele, seriam
estimuladas pelas artes. A mente e despertada pela poesia para a pratica do bem. Regra áurea do
confucionismo. O que não quiseres que te seja feito não facas a outros. Naturalmente, isso
corresponde à regra áurea ensinada por Jesus Mt 7.12. Ali Jesus declara Porque esta e a lei, e os
profetas. E, naturalmente, temos nisso uma aplicação da lei do amor.
A necessidade as comunicação de um bom caráter ocupa posição central nos ensinos de
Confúcio. Primeiramente o homem deve estabelecer seu próprio bom caráter, e então deve transmitir
os seus princípios a seu semelhante.
Principio do jen. O principio do jen indica que e próprio e justo, mas, acima de tudo, o amor.
Do amor flui a retidão, o respeito, a sinceridade, a lealdade, a liberdade, a verdade, a diligencia, a
generosidade, que são virtudes cardeais. Isso pode ser comparado à declaração do apostolo Paulo,
em Gl 5.22-23. Para Confúcio, o amor e solo onde são cultivadas todas as demais virtudes.
Política. Para Confúcio haveria tal coisa, como reforma do estado, ou realização de elevado
ideal, sem a espiritualização do indivíduo e da família. Um monarca deveria ser selecionado, por causa
de seus méritos morais, e não com base no poder pessoal. Esse conceito e um paralelo do ideal
platônico do filosofo rei pensamento de Platão filosofo grego. Para Confúcio não e direito. O direito
depende do caráter moral, e não se origina no poder militar. Ou então, dizendo a mesma coisa em
termos mais modernos: o poder não vem do cano de um fuzil, no dizer de uma outra famosa figura
chinesa.
Religião. Confúcio não foi propriamente dito fundador de uma religião, no sentido usual. Ele
acreditava na força moral universal, tendo usado as expressões céu e vontade do céu para referir-se a
essa força moral. Ele foi essencialmente, um filosofo moral, e não um filosofo metafísico. Quando um
de seus alunos perguntou a ele sobre a adoração dos espíritos, ele retrucou: ainda não sabemos como
servir aos homens; e como poderemos saber como servir aos espíritos? Quando indagado sobre a
vida além-túmulo, sua resposta foi: Ainda não sabemos muito sobre a vida. Como podemos saber
muito sobre a morte?
Confúcio jamais se apresentou como profeta de Deus; mas dedicou-se ao que ele pensava ser
uma missão celestial. Ele não conferenciava sobre Deus, como um ser descrito mediante preposições
teológicas. Mas a historia mostra-nos que ele que ele foi um homem voltado para as questões
espirituais. Em período de tribulação, de tristeza e de busca, ele invocava o céu. Era dono de uma
espiritualidade particular que não gostava de exibir diante dos homens. Na qualidade de homem
piedoso, ele esperava poder desenvolver essa mesma atitude em outras pessoas. Segundo os
entendimentos no assunto, Confúcio foi um cristão antes de Cristo.

247
12. Budismo

O budismo e uma religião de grande importância no oriente, o budismo foi fundado em torno
do século Vi a.C. por Siddharta Gautama, o Buda, que significa desperto iluminado. Por ser aberto a
todos os grupos sociais, culturas e nacionalidades, o budismo tornou-se bastante popular e expandiu-
se por todo o Extremo Oriente, chegando também a vários países do Ocidente. De certa maneira, o
budismo pode ser considerado uma reação aos rigores do bramanismo, seu excesso de disciplina e
sua dependência de uma classe sacerdotal inacessível aos homens comuns.
Não se tem certeza sobre a data de nascimento de Gautama. Para sua morte duas datas são
apontadas: 386 e 383 a.C. Buda, ou Gautama, era filho de rajá chefe eleito da tribo do atual Nepal, ele
casou com uma prima e teve um filho. Aos 29 anos, preocupado com o sofrimento do povo, deixou o
palácio em que vivia e tornou-se peregrino. Seguiu o caminho tradicional do hinduísmo, estudando
com mestres, jejuando e praticando sacrifícios e castigos corporais, junto com cinco amigos, que
seriam mais tarde seus primeiros discípulos.
Essas praticas enfraqueceram seu corpo e seu espírito e não responderam a suas duvidas e
interrogações. Depois de abandoná-las, sentou-se sob uma figueira sagrada e, após longas
meditações, atingiu a iluminação, a descoberta da Verdade. Durante 45 anos pregou por varias
regimes da Índia e faleceu aos 80 anos, no bosque Kusinagara. No século III a.C., o budismo
expandiu-se pela Índia, pelo Ceilão, pela Birmânia, pela Pérsia e pelo mundo grego. Entre os séculos I
e VI d.C. foi à vez dos países como Tailândia, Sumata, Java, Nepal, Tibete, China, Coréia e Japão
receberam profundas influencias budistas.
Essa expansão foi acompanhada da formação de varias correntes budistas. As duas mais
importantes são a hanayana, mais conservadora, cujos discípulos buscam a libertação nirvana
individual, e a mahayana, cujos discípulos acreditam na realização dos homens nesta vida mesmo e
acham que aquele que se liberta deve se colocar a serviço da libertação dos outros. Com a invasão
muçulmana, o budismo foi praticamente extinto na Índia devido à difusão do Islamismo, apoiado pelos
governantes invasores. Essa difusão do islã dividiu o mundo budista em três áreas sem comunicação:
Sudeste, Asiático Ceilão, Birmânia e Tibete e o Extremo Oriente China, Coréia, Vietnã e Japão.
Devido a razoes políticas, o budismo na China e no Tibete decaiu. Porem, deste os fins dos
séculos XIX, vem reerguendo-se na Índia. Varias figuras importantes da cultura indiana, como Gandhi,
Nehru e Radhkrishna, demonstra grande simpatia por essa religião. Mesmo estando muito mesclado
ao hinduísmo, e possível apontar diferença entre ambos. Para os budistas, o universo e todas as
coisas e os seres são caracterizados pela impermanência, ou seja tudo esta em constante
transformação, ate mesmo as ideias e os pensadores. Além disso, não e possível saber de que
substancias são feitas às coisas e os seres. Todos os fenômenos, mesmo o homem, são constituídos
de combinações de partes, o corpo, o intelecto, a alma e as emoções, e que estas morrem, morre
também o indivíduo.
O budismo não considera, dessa maneira, a existência de um espírito ou alma imortal, ao
contrario do hinduísmo. Porque o homem desconhece o principio da impermanência, apega-se ao que
e transitório na existência. Além disso, cria a ilusão de um eu eterno, transformando em centro de seus
desejos egoístas. Com essas ideias chocam-se com a realidade que cerca, que e dinâmica e esta em
constante transformação, o homem se frustra e se angustia, tornando-se prisioneiro do sofrimento. Os
ensinamentos budistas procuram superar essas limitações individuais e eliminar o sofrimento.
O nirvana e a libertação dos sofrimentos, quando o homem toma consciência de sua natureza,
que e igual à natureza de todas as coisas. Essa libertação só pode ser atingida pela própria pessoa.
No budismo não há nenhum deus capaz de salvar os homens, pois todos os seres podem chegar a
atingir o estagio de Buda, de iluminação. Os estudos e a leitura das palavras de quem atingiu o nirvana
constituem os primeiros passos do caminho da libertação. E preciso que cada um encontre seu próprio
caminho, não se entregando a um tolo sacrifício de seus desejos, nem querendo realizar tudo aquilo
que tem vontade. O ideal hanayana e o homem desligarem-se das coisas do mundo, geradoras de seu
sofrimento. Já para o mahayana, o ideal e o indivíduo iluminado permanecer no mundo ate que todos
tenham se libertado, pois cada um e parte de todos os outros.

Seitas Budistas. A historia do budismo e marcada pelo aparecimento de inúmeras seitas e


correntes diferentes. Hanayana e mahayana são as mais importantes, mas em cada pais o budismo
adquiriu características peculiares. No sudeste Asiático, monges theravada levam uma vida bem

248
diferente da dos primeiros discípulos de Buda: De cabeça raspada e vestida com manto amarelo, não
possuem nenhum objeto material e não tocam em dinheiro, vivendo das esmolas de outros.
No Ceilão, o budismo e hoje a religião mais importante, e na Tailândia e a religião oficial. No
Tibete, um movimento de reforma acontecido no século XV originou um budismo diferente, cujos
dirigentes se chamam Dalai Lama. O movimento missionário Dalai Lama estendeu a religião para a
Mongólia, a Mandichuria e a China do norte.
Em 1951, a China invadiu o Tibete e iniciou a erradicação do budismo nos Pais. O atual Dalai
Lama, líder espiritual e herdeiro legitimo do governo tibetano, encontra-se refugiado na Índia. Mas,
como já foi dito, o budismo introduziu-se na própria China, no primeiro século d.C. Sua influencia sobre
os usos e costume chinês foi enorme e mesmo algumas doutrinas, apenas esboçadas na Índia, foram
desenvolvidas na China. A grande absorção do budismo na China deveu-se as suas semelhanças com
o Taoísmo, religião bastante difundida no País.
O budismo Chinês adentrou no Japão em torno de 538 d.C. nesse País, adquiriu
características de uma religião de Estado, prestigiada pelos governantes. No século XVIII, a
perseguição contra o cristianismo obrigou todas as famílias a inscrever-se num templo budista. Essa
religião passou, assim, a vincular-se ao culto dos ancestrais. Mais tarde, associou-se a atividade de
assistência social, em hospitais, asilos e orfanatos. Elementos da cultura japonesa como o teatro No, a
arte de arranjos florais, o judô, o caratê e outras técnicas de defesa corporal impregnaram-se de
elementos budistas.

Zen-budismo. O budismo surgiu a fim de amenizar os sofrimentos dos miseráveis, que,


inferiorizados na sociedade hindu, poucas esperanças tinham. Para o budismo, apenas a pratica de
rituais não supera o ciclo de renascimentos individual. O zen-budismo surgiu da fusão de cenos
elementos do taoísmo com o budismo, no século VII d.C. baseia-se na simplicidade e na aversão a
agressividade e a ambição.
O nome deriva do termo hindu dhyana que significa meditação e sua equivalente china que
significa chinês e za-zen japonês. A meditação zen-budista consiste em ficar sentado, de pernas
cruzadas e espinha ereta, sem pensar em nada especial, mas também sem reprimir os pensamentos
que surgem na mente. A respiração, pausada e abdominal, e um dos pontos básicos da técnica.
Desses procedimentos vem o termo zazem, que significa sentar-se e meditar.
Outra forma de meditar e refletir sobre frases oferecidas pelo mestre. Essas frases são
absurdas, não tem nenhuma lógica e seu objetivo e levar a meditação. Chamam-se koan. Observem
algumas: Qual o som de uma só mão batendo palmas?; Se tens um bastão, te darei um, se não tens ,
tirarei o que possuis.

249
Revisão Geral

 Aprendemos nesta lição que a doutrina das Testemunhas de Jeová, não e tao nova como se
pensa. Ela e um tanto parecida com a antiga doutrina ariana, que foi considerada herética pela igreja.
 Você viu também que as Testemunhas de Jeová em uma extrema racionalidade, adotaram o
método liberalista para interpretar as profecias bíblicas.
 Com respeito ao hinduísmo, aprendemos que 84% dos habitantes da Índia são hinduístas.
 Aprendemos também que os nomes de alguns dos deuses hinduístas são: Indra, senhor dos
deuses, representado como um touro; Aurora, mãe de todas as criaturas, representada como uma
vaca; Veta deus dos ventos; Marutes deus das águas e dos rios; Rudra da tempestade. E também a
trindade hindu, que e, Vishnu, Shiva e Brahma.
 Vimos também que o hinduísmo em sua evolução passou por quatro fases a saber: 1. Hinduísmo
védico; 2. Bramanismo; 3. Jainismo; 4. Budismo.
 Você viu ainda que a religião hinduísta tem duas ideias importantes. A primeira e a reencarnação
e a segunda e a salvação que e chamada de nirvana.
 Aprendemos também que os conceitos básicos do hinduísmo são: 1. Respeito pela família; 2. A
filosofia; 3. A cosmologia hinduísta; 4. Alguns pontos teológicos; 5. Renascimento e Libertação; 6.
Salvação; 7. Formas de culto; 8. Sistemas das castas; 9. Ética hinduísta.
 Com respeito ao taoísmo, aprendemos que esta e a principal religião da China, fundada por Lao-
Tsé, cerca de 500 anos antes de Cristo.
 Você viu também que o livro sagrado do taoísmo e o Tao Te Ching, e que a palavra Tao, significa
O Caminho.
 Vimos ainda que o símbolo do taoísmo e o yin e o yang, que segundo o taoísmo, e quem mantêm
o equilíbrio do universo.
 Nesta lição aprendemos que o confucionismo foi criado por Confúcio, também chamado de Kung
Fu-tzu.
 Você viu também nesta lição, que o confucionismo era mais uma filosofia de vida do que mesmo
uma religião.
 Ainda sobre o confucionismo, aprendemos que muito dos seus ensinamentos mais tarde foi
repetidos por Jesus Cristo e pelo apostolo Paulo.
 Você viu também que a regra áurea do confucionismo era: O que não quiseres que te seja feito
não facas a outros.
 Aprendemos também que a grande preocupação de Confúcio, era com a família que formava a
sociedade.
 Você viu ainda, que para Confúcio, a reforma do Estado só seria possível através de uma boa
formação espiritual de cada cidadão.
 Ainda com respeito à Confucio, aprendemos que ele dizia que o amor é o solo onde são cultivadas
todas as demais virtudes.
 Sobre o budismo, aprendemos que Gautama, a quem chamam de Buda, foi o seu fundador.
 Você viu ainda que a palavra Buda significa iluminado.
 Você viu também que o budismo surgiu a fim de amenizar os sofrimentos dos miseráveis que eram
inferiorizados na sociedade hindu.
 Aprendemos também que Gautama o Buda, era um príncipe e que deixou o palácio em que vivia
para viver como peregrino seguindo o caminho tradicional do hinduísmo.
 Você viu ainda que segundo o budismo, Gautama o Buda foi iluminado no conhecimento da
verdade, após um longo período de meditação. Por isso ele é chamado de iluminado.
 Você aprendeu também que as duas seitas mais importantes do budismo são a hanayana e a
mahayana.
 Aprendemos também que o budismo diz que o universo e tudo que nele existe está em constante
transformação, não existe nada permanente nem mesmo as ideias que eles defendem.
 Vimos ainda que o budismo não aceita a imortalidade da alma, e nem do espírito, porque tudo se
transforma.

250
Exercícios

1. O que diz as Testemunhas de Jeová sobre a Trindade?

2. Qual é o método que as Testemunhas de Jeová usam na interpretação da Bíblia?

3. Em que País impera o hinduísmo?

4. Quem foi o fundador do taoísmo? E onde?

5. O que é Tao-Te Ching?

6. Defina o símbolo do taoísmo.

7. O que significa a palavra Tao em chinês?

8. O que é o yin e yang?

9. Em que situação se encontrava a China nos tempos de Confúcio?

10. Qual era o pensamento de Confucio em relação aos jovens aristocratas da China?

11. Fora da China, qual foi o País que recebeu mais influencias do confucionismo?

12. Qual é a regra áurea do confucionismo?

13. Apresente dois textos bíblicos onde coincide com o ensinamento de Confucio.

14. O que significa a palavra Buda?

15. Qual é o nome das duas seitas mais importantes do budismo?

251
Lição 4
13. Islamismo

Islamismo é o nome dado à religião pregada por Maomé nos séculos VIII d.C. Maomé foi um árabe
nascido em Meca, cerca de 570. Acreditava ter sido enviado para advertir e guiar o seu povo, e para
exorta-lo ao culto de Deus Alá. Maomé pregou a existência de um só Deus e que ele, Maomé, era o
mensageiro de Deus. As pessoas que acreditavam nesse Deus e aceitam Maomé como seu
mensageiro é chamado de muçulmanos. Muçulmanos é uma palavra que significa aquele que se
submete a Deus. Islã é a palavra árabe que responde a submissão. Os ocidentais frequentemente
chamam a religião islâmica de maometismo e seus seguidores de maometanos. Os muçulmanos
acham que esses termos encerram a ideia de que os muçulmanos adoram a Maomé.
O islã, uma das maiores religiões do mundo, tem mais de 500 milhões de seguidores. As maiores
comunidades muçulmanas localizam-se no Oriente Médio, norte da África, Indonésia, Bangladesh e
Paquistão. O islã é a principal religião nas regiões européias da Turquia e Albânia. Os antigos e
poderosos impérios muçulmanos já não existem mais, porem os muçulmanos ainda estão unidos pela
fé islâmica, que forma um laço cultural entre todos os que a adotam como religião.

A ascensão do Islã. Maomé começou a pregar em Meca, cerca de 610. De inicio sua atuação foi
lenta. A maioria dos ricos e poderosos caçoava dele e do que pregava. Seus ensinamentos irritaram
amedrontaram os habitantes da cidade, chegando alguns a planejar mata-lo. Em 622, Maomé fugiu
para a cidade de Medina então chamada de Iatrib, onde um grupo de pessoas o ajudou. Essa
migração para Medina é conhecida como a Hégira. Os muçulmanos datam seu calendário a partir
desse ano. Em 630, Maomé e seus seguidores voltaram a Meca e apoderaram-se da cidade.
Destruíram todos os ídolos do templo, chamado caaba, e transformaram a área em torno numa
mesquita local para o culto muçulmano. Os habitantes da cidade, então, aceitaram o islã e
reconheceram Maomé como seu profeta. Meca e Medina tornaram-se as cidades santas do islã.
A difusão do islã pelo Oriente Médio e norte da África começou com as conquistas
desencadeadas por Meca e Medina. Após a morte de Maomé, em 632, Abu Bakr foi eleito califa
governador dos mulçumanos. Ele e seus sucessores incentivaram a jihad guerra santa. Em cerca em
100 anos, construíram um império que se estendia sassânida persa e grande parte do império
Bizantino cristão. Os mulçumanos ameaçaram a Europa ocidental até que Carlos Martel derrotou-os
na batalha de Tours, em 732. Os mulçumanos reuniram milhões de pessoas diferentes numa grande
irmandade. Criaram uma esplendida civilização no Iraque, Pérsia atualmente Irã, Palestina, norte da
África, Espanha e Síria.
A doutrina Islâmica. Os componentes de Maomé memorizam ou escreveram suas revelações
enquanto ele ainda era vivo. Os estudiosos do islã acreditam que Maomé aprovou esses
ensinamentos. Mais tarde, esses testemunhos foram reunidos para construir o livro sagrado dos
mulçumanos, chamado Corão, que vem da palavra árabe que significa recitação. O califa Othman,
que governou de 644 a 656, mandou preparar a primeira edição oficial do corão e enviou uma copia
para a principal mesquita das capitais das províncias mulçumanas. Os mulçumanos consideram o
corão a palavra de Deus transmitida a Maomé por um anjo. Certos trechos do corão se parecem com
passagens da Bíblia, dos livros apócrifos e do Talmude. O corão contém muitas informações sobre os
profetas mencionados no Antigo Testamento e sobre o Novo Testamento, a respeito de Jesus Cristo,
que é chamado de palavra de Deus.

Deus e o homem. O corão prega a unidade e o poder absoluto de Deus, o Criador de todo o
universo. Também ensina que Deus é justo e piedoso, e que Ele deseja que o homem se arrependa e
se purifica enquanto está na terra, para poder alcançar o paraíso após a morte. Os mulçumanos
acreditam que Maomé foi o último dos profetas. Jesus e os profetas do Antigo Testamento foram seus
precursores. O corão, proíbe a representação de figuras humanas e animais, de forma que a arte
islâmica ortodoxa raramente mostra seres vivos. O corão, proíbe a representação de figuras humanas
e animais, de forma que a arte islâmica ortodoxa raramente mostra seres vivos. O corão condena
também a usura, os jogos de azar, o consumo de álcool e carne de porco.
Ética moral. O corão assim como a Bíblia, proíbe a mentira, o roubo, o adultério e o
assassinato. A punição baseia-se na lei da retaliação existente no antigo testamento, olho por olho,

252
dente por dente. O corão permite a escravidão sob determinadas condições, mas manda que os
escravos sejam libertados. Aceita que um homem tenha até quatro esposas em certas condições.
Vida e morte. O islã ensina que a vida na terra é um período de provações e preparação para
a vida vindoura. Os anjos do céu anotam as boas e más ações dos homens. Uma pessoa deve,
portanto, esforçar-se ao máximo para ser boa e ajudar as outras, e então, confiar na justiça e piedade
divinas para sua recompensa. A morte é a porta para vida eterna. Os muçulmanos acreditam também
num dia de juízo final, quando todos receberão o registro de suas obras na terra. O livro desses
registros será colocado na mão direta dos bons, que irão para o céu, e na esquerda dos maus, que
irão para o inferno. Os sofrimentos do inferno são semelhantes ao apresentado na Bíblia. O céu
muçulmano é um jardim com regatos, frutas deliciosas, sofás ricamente estofados e com lindas
donzelas.

253
14. Adventismo

A palavra Adventismo, vem do latim Adventus, que geralmente corresponde ao termo grego
parousia, ou vinda. O N.T. usa também o vocábulo epifania para indicar ambos os adventos. Quanto
ao primeiro, veja em II Tm 1.10; e quando ao segundo, I Tm 6.14.
Adventismo é também o nome das seitas religiosas que se originaram com o movimento do advento,
resultante dos ensinos do Willian Miller, que viveu por volta de 1782-1849. Willian Miller era pastor
batista na cidade de Nova Yorque. Miller, levava muito a sério as passagens proféticas e apocalípticas
da Bíblia; e através da manipulação dos dados que aparecem no livro de Daniel, ele concluiu que o
segundo advento de Cristo ocorria em 1843-1844. Passou a fazer muitas conferências, começando em
Dresden, NY. Anunciou a condenação iminente e um grande número de pessoas converteu-se. Assim,
uma nova seita nasceu. O espírito geral de temor provocou excessos. As pessoas venderam as suas
propriedades, e muitas abandonaram as atividades normais da vida diária. Periódicos passaram a ser
publicados alertando o mundo, a saber: Clamor de meia noite, sinais dos tempos e trombetas da
alarma.
Ele profetizou com confiança a volta iminente de Cristo, e estabeleceu o período entre 1843-
1844 como o tempo para o advento. O movimento espalhou-se rapidamente entre as igrejas do
nordeste dos Estados Unidos. Quando o retorno esperado não ocorreu de conformidade com a
predição original de Miller, uma reinterpretação das Escrituras fixou 22 de outubro de 1844 como à
data correta. As fiéis reuniram-se na suas congregações locais no dia marcado, adorando e
esperando. A grande decepção que veio após o fracasso da profecia levou muitos a abandonarem o
movimento e voltar discretamente para as igrejas das quais nunca se tinham desligado de modo oficial,
mas, a nova seita já estava firmemente estabelecida. O próprio Miller reconheceu o seu erro e deixou o
movimento, descartando quaisquer tentativas futuras para redimi-lo.
Uma série de novos sinais, visões e profecias, no entanto, alimentou os espíritos desanimados
daqueles que se abria mão das suas esperanças adventistas. Já no próprio dia seguinte à grande
decepção, Hiram Edson, um líder adventista, teve uma visão que confirmou a relevância profética da
data de 22 de outubro de 1984, mas indicou que marcava um evento celestial, e não terrestre. Naquele
dia, Cristo tinha entrado no Santo dos Santos para começar uma nova fase do Seu ministério de
redenção. Tal ministério acabou sendo definido na doutrina adventista do julgamento investigador,
Cristo entrou no santuário para analisar as ações dos cristãos professos a fim de determinar quais os
nomes que deviam ser incluídos no Livro da Vida.
Outras revelações subsequentes à grande decepção vieram para Ellen G. Harmon, uma jovem
discípula de Miller em Portland, Maine. Ela teve rápida aceitação como profetisa, e seus ensinos foram
aceitos como autorizados. O movimento que voltava à vida também aceitou o sebatismo e a crença de
que a aceitação do sábado era a marca da verdadeira igreja. A observância do sétimo dia e o
ministério de Cristo de julgamento investigador, confirmado pela revelação profética da Sra. Ellen
Harmon White, completam os alicerces do Adventismo contemporâneo. A maior parte dos grupos
adventistas também acredita no sono da alma e no aniquilamento dos maus. A forte ênfase que deram
ao ensinamento do V.T. também levou a uma preocupação tradicional com a dieta e a saúde.
Dois grupos principais de adventistas representam o movimento hoje – a igreja cristã do
advento e os adventistas do sétimo dia, que são numericamente predominantes. Variam um pouco
entre si quanto à sua adesão às doutrinas acima delineadas. Os adventistas do sétimo dia têm sido
tradicionalmente identificados como uma seita entre as igrejas cristãs. Tal classificação resulta do
argumento de teólogos cristãos de que a autoridade que a igreja confere ás profecias da Sra. White
compromete o caráter definitivo da revelação bíblica. Fazem esta acusação adicional: a doutrina do
julgamento investigador compromete a doutrina bíblica da justificação pela fé somente, eleva a uma
certeza de salvação que se baseia na perfeita obediência e não na fé. Nos anos recentes, porem, os
teólogos adventistas do sétimo dia tendem a considerar as profecias da Sra. White sujeitas ao
julgamento das Escrituras canônicas, e tem esposado um entendimento mais evangélico da
justificação pela fé. Como resultado, alguns lideres evangélicos, mas certamente não todos, tem
começado a incluir os adventistas do sétimo dia dentro dos limites da ortodoxia. Esta divisão de
opiniões quanto à posição teológica do movimento é refletida dentro do próprio grupo pelo debate
teológico intensivo destas questões em anos recentes.
A igreja adventista do sétimo dia experimentou um crescimento rápido no período depois da
Segunda Guerra Mundial. Esta igreja, no entanto, ainda tende a se manter isolada entre as
denominações cristas. Tem consistentemente mantido a educação das suas crianças sob seus

254
próprios auspícios. Os adventistas têm sido especialmente conhecidos pelos seus ministérios de
cuidados com a saúde. Suas preocupações tradicional com a dieta, incluindo a proibição do café e o
chá, e defesa do vegetarianismo estão muitas décadas na frente de outros movimentos
contemporâneos nestas áreas.
A centralidade dos eventos que acompanham o retorno de Cristo no pré milenismo, que se
tornou tão critica no desenvolvimento do movimento fundamentalista, e a ênfase contemporânea dada
à segunda vinda iminente de Cristo nas igrejas evangélicas em geral demonstram a continua
relevância do Adventismo dentro da tradição cristã.

Doutrinas fundamentais
A. O Adventismo defende a aniquilação dos ímpios. B. Ensina também a doutrina do sono da alma,
isto é, na morte a alma perde a consciência, até o dia do juízo. C. A criação de novos céus e nova
terra, sendo que este seria o lar dos remidos ressuscitados. D. Ensinam que haverá um milênio entre a
primeira e segunda ressurreição, sendo na ultima ocorrera o juízo final culminando com o
aniquilamento dos ímpios. E. Não haveria conversão do mundo ao evangelho. F. Satanás continuaria
assediando o trabalho dos remidos ate o fim.

Dissidências. Vários grupos adventistas desistiram de acompanhar o movimento original. Jonathan


Cummings, dizia que a imortalidade é um dom de Cristo dado apenas a alguns poucos, que seriam
escolhidos quando da ressurreição. E organizou um movimento chamado Igreja Cristã do Advento,
em Worchester, Massachussets, em 1861. Esse grupo continua sendo uma agremiação bastante
numerosa, com muitas igrejas. James Bates e James White, em 1844, declaram-se a favor da
observância do sétimo dia como sagrado, permitindo que somente a Bíblia fosse usada como regra de
fé e prática. Em uma conferencia, efetuada em Battle Creek, em Michigan, em 1860, formou-se a
denominação: Adventistas do Sétimo dia. Suas ideias básicas são as seguintes: A – As Escrituras são
leis acerca de tudo. B – Adoração e descanso no sétimo dia. C – Expulsão de membros que usam o
tabaco ou qualquer outra forma de intoxicantes. D – Ênfase sobre o segundo advento de Cristo, como
um retorno iminente, embora de data desconhecida.
Um outro grupo separou-se sob a liderança de Eder Crammer, em protesto a reivindicação de
inspiração divina por parte de um dos membros fundadores da denominação das Adventistas do
Sétimo Dia. Esse grupo, embora menor que o anterior, continua coulatido com um bom numera de
igrejas. Seu nome é Igreja de Deus Adventista. Todavia, ainda um outro grupo se formou, chamado
União de Vida e Advento, fundada em Nova Iorque, em 1863, sob a liderança de John T. Walsh, que
deixou de acreditar na ressurreição dos ímpios, terminando o milênio. Pois se os ímpios serão apenas
julgados, para logo serem aniquilados, por que ressuscitariam? Esse grupo tem continuado pequeno
até hoje. Finalmente, temos as igrejas de Deus em Jesus Cristo, que vieram à existência em
novembro de 1888. Esse grupo defende todas as doutrinas adventistas originais. Tem sobrevivido ate
nossos dias com modesto numero de igrejas.

255
15.Mormonismo

Os mórmons, como geralmente são chamados, representam um movimento religioso novo no


século XIX com elevado grau de sucesso. Hoje, então, divididos em dois grupos principais: a igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias, dirigida pela sua matriz em Salt Lake City, Estado de Utah,
nos Estados Unidos da América, e a igreja reorganizada de Jesus Cristo doas Santos dos últimos dias,
com a matriz em independência, estado de Missouri, também nos Estados Unidos. Alem desses
grupos maiores, existem vários grupos menores, fundamentalistas. Hoje, a igreja em Utah declara ter
mais de 3 milhões de membros, ao passo que a igreja Reorganizada declara ter cerca de 600.000
membros.
A igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias foi originalmente organizada em 6 de abril
de 1830, em Fayette, Nova Iorque, por Joseph Smith. Pouco depois da suas formação, seus membros
se transferiram para Kirtland, estado de Ohio, e depois para Jackson, estado do Missouri, como
resultado de intensa oposição contra eles. Finalmente, estabeleceram-se num lugar que chamaram de
Nauvoo, à beira do rio Mississipi, no estado de Llinois. Ali, prosperaram e edificaram uma cidade
florescente.
Em 12 de julho de 1843, Smith diz ter recebido uma revelação no sentido de permitir a
poligamia, e isto levou quatro convertidos decepcionados a fundar um jornal anti-mórmon. Esse jornal,
o expositor de Nauvoo, em sua única edição publicada, denunciou Joseph Smith em 7 de junho de
1844. Por causa disso, os irmãos de Smith incendiaram o escritório do jornal e o destruíram
totalmente. Como resultado, Joseph Smith e seu irmão Hyrum foram encarcerados em Carthage e, ali,
em 27 de junho de 1844, foram brutalmente assassinados quando uma turba tomou o cárcere por
assalto. Depois do assassinato de Joseph Smith,a maioria dos mórmons aceitou a liderança de
Brigham Young. Uma minoria cerrou fileiras com a esposa legítima de Joseph, com os respectivos
filhos, e formou a igreja Reorganizada. Sob a liderança de Young, os mórmons saíram de Nauvoo, em
1847, e migraram em carros de bois para mórmons e lançou os alicerces da força que ela atualmente
representa.
O mormonismo tem um duplo fundamento. O primeiro é a alegação de Joseph Smith no
sentido de ter recebido placas de ouro nas quais escrituras antigas estavam supostamente gravadas.
Smith disse que traduziu essas placas e, posteriormente, em 1830, as publicou com o nome de O livro
de Mórmon. O segundo alicerce é a alegação de Joseph Smith no sentido de ter conhecido
pessoalmente o Jesus vivo e de ter recebido, a partir de então, revelações contínuas da parte de Deus.
As substâncias dessas revelações contínuas acha-se na publicação mórmon A Doutrina e as
Alianças, ao passo que um relato do encontro entre Joseph Smith e Jesus, bem como da descoberta
do Livro de Mórmon acha-se em A Pérola de Grande Valor. Esse último livro também contém o
texto de dois papiros egípcios que Joseph Smith supostamente traduzira, além da sua tradução de
vários trechos da Bíblia. Em seu conjunto, O Livro de Mórmon, A Grande Doutrina e as Alianças e a
Pérola de Grande Valor formam a base da revelação contínua do mormonismo. Depois da morte de
Smith, essas revelações foram suplementadas por outras que a igreja alega terem sido dadas aos
seus lideres.
O Livro do Mórmon é uma estória de aventuras, sem complicações, escrita no estilo da
história bíblica. Ele diz respeito a duas civilizações antigas localizadas no continente norte-americano.
A primeira foi fundada por refugiados da Torre de Babel. Esse povo atravessou a Europa e emigrou
para o litoral a leste da América Central. Os fundadores da segunda civilização emigraram de
Jerusalém em cerca de 600 a.C. Esse grupo, conforme diz a estória, atravessou o Oceano pacifico em
barcos, semelhantes à arca. Depois de terem chegado a América, esses dois grupos, segundo se diz,
fundaram as grandes civilizações. A primeira civilização era a dos jardeítas. Esta foi totalmente
destruída por causa da corrupção deles. O segundo grupo foi fundado por judeus piedosos liderados
por um homem chamado Nefi, inicialmente, o grupo de Nefi prosperou e constituiu grandes cidades.
Mas, como seus antepassados na Palestina, muitos se apostataram e deixaram de adorar a Deus
verdadeiro. Como resultados, sua civilização foi assediada por guerras civis e acabou se destruindo.
Os descendentes dos apóstatas permaneceram no continente norte-americano como índios. Em O
Livro de Mórmon os índios são chamados lamanitas que, como resultado da apostasia a maldição de
uma pele escura.
O Livro de Mórmon alega que Cristo visitou a América do Norte depois da sua ressurreição,
revelou-se aos Nefitas, pregou a eles o evangelho e fundou uma igreja entre eles. Os nefitas acabaram
sendo destruídos pelos lamanitas numa grande batalha perto de Palmyra, estado de Nova Iorque, em

256
cerca de 428 d.C. Quase 1.400 anos mais tarde, segundo as alegações dos mormos, Josph Smith
recebeu a revelação do registro dessas civilizações, na forma de hieróglifos egípcios reformados
escritos em placas de ouro. Com a ajuda de óculos sobrenaturais, chamados urim e tumim, traduziram
para o inglês o idioma desconhecido, resultando disso O Livro de Mórmon. Segundo os estatutos da
fé da igreja mórmon e a teologia do Livro de Mórmon, o mormonismo é essencialmente Cristão.
Essas obras apresentam conceitos semelhantes aqueles de muitas outras igrejas cristas, mas tal
semelhança é enganosa. A teologia mórmon não se baseia nos Artigos de Fé publicamente
declarados, nem nos ensinos do Livro de Mórmon. Pelo contrario, a essência da teologia mórmon
provem das revelações continuas recebidas por Joseph Smith e pelos lideres mórmons posteriores.
O mormonismo ensina que Deus Pai tem corpo, e que o destino do homem é desenvolver-se
ate se tornar uma deidade. Este ensino está resumido no dito popular dos mórmons: Assim como o
homem é, Deus já era; assim como Deus agora é, o homem pode vir a ser. Esta crença inclui o
conceito das almas preexistente que recebem um corpo na terra e se tornam seres humanos como
parte da experiência probatória que determina a sua futura existência celeste. De modo contrário aos
ensinamentos da Bíblia, a rebelião do homem contra Deus, chamada de Queda na teologia cristã, é
considerada necessária. A teologia mórmon ensina que se Adão não tivesse comido o fruto proibido,
nunca teria tido filhos. Por isso, Adão, para propagar a raça e cumprir seu destino celestial, teve que
desobedecer a Deus. Dessa maneira, num sentido muito real, foi à queda do homem que salvou a raça
humana. Essa doutrina está encaixada num conceito de progresso eterno que reflete o pensamento
popular e a especulação científica nos tempos de Joseph Smith, por lealdade à ideia de um estado
probatório, a doutrina da justificação pela fé é rejeitada na teologia mórmon, que prefere a salvação
pelas obras como a base para se determinar o futuro de modo de existência das pessoas.. O propósito
da expiação feita por Cristo, então, passa a ser de simples garantia de que os seres humanos serão
ressuscitados da morte física. Na ocasião da ressurreição, no entanto, será atribuído aos seres
humanos um lugar em uma das três regiões celestiais, de conformidade com o tipo de vida que
levaram na terra.
A igreja mórmon alega ser a única igreja verdadeira, porque seus lideres continua a receber
revelações da parte de Deus. Além disso, alega possuir os poderes do sacerdócio de Arão e
Melquisedeque, no qual os membros do sexo masculino devem ser iniciados.
Como organização social, a igreja mórmon exibe muitas qualidades admiráveis. Promove
extensos programas de assistência social para seus membros, dirige uma grande organização
missionária e educacional e incentiva a vida no lar. Espera-se dos mórmons que participem daquilo
que é chamado trabalho do tempo. Trata-se do batismo por procuração dos antepassados e do
casamento celestial. Os mórmons acreditam que, como acréscimo ao casamento temporal, os
membros das igrejas podem ser selados com suas famílias, para o tempo e a eternidade mediante um
processo chamado casamento celestial.
Durante a década de 1960, a comunhão mórmon ficou preocupada com a exclusão dos negros
do sacerdócio. Em 1978, porem o presidente da igreja declarou que recebera uma nova revelação que
admitia os negros ao sacerdócio. Hoje, uma das questões mais controvertidas dentro da igreja mórmon
é a posição das mulheres, que também estão excluídas do sacerdócio. Além desses problemas
sociais, vários desafios intelectuais abalam a vida intelectual dos mórmons nessas últimas duas
décadas. Entre eles, há sérias dúvidas quanto à tradição de The Book of Abrahan e A Pérola de
Grande Preço, e quanto à pessoa de Joseph Smith, suas visões e reivindicações.
Boa parte das críticas tem surgido dos ex-mórmons que se decepcionaram com aquilo que
consideram ser a recusa da hierarquia eclesiástica em enfrentar dúvidas quanto à autenticidade do
mormonismo. Entre os ex-mórmons mais importantes está Fawan Brodie, cuja biografia de Joseph
Smith: No Man Knows My Histry Ninguém conhece a minha história, subverte gravemente a história
oficial do mormonismo, e Gerald e Sandra Tanner, cuja Campanha de Microfilmagem Moderna
apresentou numerosos documentos que desmente a versão oficial da história do mormonismo original
e do desenvolvimento da doutrina mórmon. Dentro da própria igreja mórmon, um debate vigoroso tem
sido levado a efeito nos jornais tais como Dialog e Moostone.
O rigor com que os estudiosos mórmons mais jovens enfrentam o estudo da sua própria
história nesses jornais é uma clara indicação do poder que o mormonismo tem que sobreviver às
criticas prolongadas. Embora os jovens missionários mórmons frequentemente apresentem o
mormonismo como uma forma de cristianismo norte-americana, levemente modificada, essa
abordagem não descreve fielmente a teologia mórmon nem a tradição crista. Como um novo
movimento religioso, o mormonismo representa uma síntese dinâmica do reavivamento nas fronteiras

257
do oeste dos Estados Unidos, da intensa experiência religiosa e das filosofias evolucionista populares,
e do respeito por Jesus e pela ética crista. Esta combinação de crenças exerce forte atração sobre
muitas pessoas que não se interessam pela história e teologias cristãs, ou que nelas não são
incluídas.

O mormonismo no Brasil
Em dezembro de 1925, os seis primeiros convertidos ao mormonismo da América do Sul, na
Argentina, foram batizados criando a missão sul americana da organização mórmon. Os missionários
que trabalhavam na Argentina vieram ao Brasil, em 1927, á procura de mórmons Alemães. Em 1928, a
mesma missão enviou dois missionários – Willian Fred Heinz e Emo Anton Josefh Schindler – para
Santa Catarina, em função da comunidade alemã ali existente. A missão brasileira nasceu em Maio de
1935. No ano seguinte ocorreram os primeiros batismos, e até 1938 foram alcançados apenas
alemães. Depois deste ano, foram iniciadas pregações em português em algumas cidades do sul e
sudeste do Brasil. Entre 1941 e 1945 época da segunda guerra mundial foi suspensa a vinda de
missionários dos Estados Unidos e os que aqui estavam tiveram de regressar aquele país. A segunda
fase do trabalho missionário mórmon teve inicio no fim de 1945.
O presidente da igreja, Davi O. Mckay visitou o Brasil em 1945. Nesse ano ocorreram 88
batismos e, em 1959, foi criada a missão brasileira do sul. Em 1966, foi organizada a primeira estaca
brasileira em São Paulo uma espécie de sede religional. Em 1968, a missão brasileira foi dividida entre
missão brasileira e missão brasileira do norte. Em 1980, havia 19 estacas e 5 missões organizadas no
país. Somente o Estado do Piauí ainda não tinha sido atingido pelos mórmons. A ultima edição da
batalha mundial 1987 – Ed. Vida Nova relata a existência de 161.800 mórmons no Brasil. O maior
número deles esta concentrado no Estado de São Paulo.

258
16. Espiritismo

O espiritismo baseia sua crença em supostos contatos com os mortos, que possibilitam a seus
adeptos adquirir o conhecimento necessário para o aperfeiçoamento moral. O nome espiritismo tem
sido utilizado para se referir mais especificamente o kardecismo, ou seja, o espiritismo ocidental; as
outras formas de espiritismo originárias da África ou dos indígenas da América têm sido denominadas
de baixo espiritismo umbanda, quimbanda, candomblé, etc.. Convém lembrar, no entanto, que muitas
das crenças fundamentais do espiritismo são encontradas na grande maioria das religiões através da
história reencarnação, aperfeiçoamento moral pelo esforço humano, etc.. A doutrina espírita pode ser
resumida da seguinte forma: crença na sobrevivência das almas e na comunicação com a mesma
após a morte, através do fenômeno da mediunidade; crença em um Deus criador e sustentador do
universo; crença na lei da reencarnação que possui um caráter expiatório quanto aos erros do
passado, regendo também a evolução dos espíritos; crença na lei do carma, a qual teoricamente,
garante a justiça de se ter agora uma vida segundo os atos praticados na vida anterior, e a lei da
pluralidade dos mundos que apresenta todo universo como um grande palco no qual se processa a
evolução de todas as criaturas.
Práticas espíritas diversas e tentativas de comunicação como os mortos podem ser
encontrados desde a mais remota antiguidade. No entanto, na modernidade, o espiritismo teve o seu
nascimento em Hydesville, no condado de Wayne, E.U.A, quando Katherine e Margaretta Fox de
origem metodista tentaram se comunicar com as supostas entidades espirituais que faziam barulho em
sua casa. Logo, foram ouvidas noticias de eventos semelhantes por toda parte. Estas noticias
chamaram a atenção de um francês, cujo nome era Leon Hippolyte Denizard Rivail 1804-1869, que
chamou a si mesmo de Allan Kardec considerando reencarnação do mesmo, e tornou-se um dos
primeiros e principais sistematizadores das doutrina espírita moderna. Afirmou que em 18 de abril de
1857 começava a era do espírito, cumpria-se a promessa do paracleto consolador feito por Jesus. Daí
em diante surgiu vários interessados e crentes no espiritismo, e foram fundadas várias sociedades
espíritas tanto na Europa como na América.
Abordagem kardecista pretende fazer uma espécie de sincretismo entre as ideias espíritas por
excelência e algumas ideias extraídas da Bíblia, sobretudo no Novo Testamento. O movimento
kardecista teve um impacto muito forte sobre o Brasil, onde o espiritismo é mais acentuadamente
religioso. Nos países de língua inglesa a tradição kardecista é bem pouco conhecida e as práticas
espíritas tendem mais a uma identificação não-religiosa. Os espíritas, que também se julgam cristãos,
pretendem basear seus argumentos em passagens questionáveis, tais como I Sm. 28:7-12 a pitonisa
de En-Dor, na ideia de que João Batista era a reencarnação de Elias etc..
No entanto, a Bíblia parece por demais clara no que diz respeito à condenação das práticas
espíritas e suas respectivas doutrinas: Não se achará entre ti quem... nem adivinhador, nem
prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem
quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal cousa é abominação ao Senhor... Dt 18:10-12 A
feiticeira não deixarás viver Êx. 22:18. Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os
adivinhos... acaso não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À
lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva, passarão pela terra
duramente oprimidos e famintos... Olharão a terra, eis ai angústia, escuridão, escuridão, e ansiedade,
e serão lançados para densas trevas Is. 8:19-22.
Além disso, as Escrituras afirmam que aos homens está ordenado morrer uma só vez, e
depois disso o juízo Hb. 9:27. A Bíblia também afirma a salvação pela fé em Cristo, a existência do
inferno e do juízo e a impossibilidade de se ter qualquer mérito diante de Deus. O espiritismo nega
todas as doutrinas bíblicas além de outras não esboçadas aqui. Por esta razão o espiritismo tem sido
rejeitado como cristão por parte de todos os evangélicos e até mesmo pela igreja católica romana, que
o condenou em 1898 através de um decreto.
O espiritismo tem crescido sobremaneira no Brasil. Calcula-se que cerca de 60% da população
quase 90 milhões de brasileiros – pelas estimativas de 1989 têm ou já tiveram alguma ligação com
espiritismo. Cerca de 30 – 50% da população são espíritas, ainda que se consideram católicas em
grande parte. Os que estão associados declaradamente ao espiritismo correspondem a 14% da
população quase 21 milhões de pessoas.

259
260
Doutrina

1. O espiritismo ensina que o homem é um espírito e o seu corpo físico é um veículo da alma,
para ser usado nessa esfera terrena, embora não faça parte essencial do seu ser.
2. O homem, na qualidade de espírito, naturalmente sobrevive ante a morte biológica; e o
espírito, uma vez liberado do corpo, é capaz de comunicar-se com os seres humanos que aqui
continuam. Outrossim, tal comunicação seria desejável e benéfica.
3. Há muitas esferas de desenvolvimento espiritual, e a alma, naturalmente, gravita até o nível
compatível com o seu próprio desenvolvimento espiritual.
4. O progresso no mundo dos espíritos, é infindo, e caminha na direção da perfeição. Há
julgamentos, mas estes visam orientar a alma, e não condená-la ou fazê-la estagnar.
5. Quase todos os espíritas são universalistas, acreditando que é inevitável que todas as
almas, finalmente cheguem a atingir a perfeição.
6. O homem foi criado dotado de livre arbítrio, e Deus manipula as coisas de tal maneira que o
homem escolhe o que é bom, afinal de contas, para seu próprio bem - estar, embora isso possa
envolver um tempo realmente prolongado, em alguns casos.
7. Profetas e médiuns. Os espíritas supõem que os profetas do Velho Testamento eram
médiuns, tanto no sentido que eles foram mediadores da mensagem de Deus como no sentido que
tinham experiências místicas não muito diferentes ou mesmo, em muitos casos, idênticas das dos
médiuns de nossos dias. Para muitos espíritas, Jesus foi o maior de todos os profetas, ou pelo menos,
pode ser contado entre os maiores. Entretanto, eles não creem que ele tenha sido Filho de Deus, em
sentido impar, como membro da trindade. Seria diferente dos outros homens, apenas em face de um
superior desenvolvimento espiritual.
8. Para os espíritas, a imortalidade da alma é suficiente, mesmo sem a ressurreição do corpo.
A ressurreição de Cristo é por eles interpreta em termos da comunicação de um espírito, e não que
seu corpo físico voltou a ter a vida biológica.
9. A terceira revelação. O espiritismo teve inicio sem quaisquer escrituras deles mesmo e
usavam outros livros sagrados com propósitos doutrinamento. Entretanto, atualmente há um grande
acumulo de material escrito, provavelmente de muitas fontes, afirmando ser altamente desenvolvido e
inspirado por espíritos desencarnados. Esse material passou a ser reputado como uma terceira
revelação, em relação ao Antigo e ao Novo Testamento, que seriam a primeira e a segunda revelação.
10. A reencarnação. Os espíritas franceses e brasileiros acreditam nessa doutrina, mas o
anglo-saxão tende por não crer na mesma. Todavia, essa crença esta se tornando, cada vez mais,
pane integrante do sistema.

Igreja da Unificação
O nome original e oficial deste novo movimento religioso, fundado pelo reverendo Sun Myung
Moon, é Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial. A despeito do seu
tamanho relativamente pequeno menos de quinhentos mil membros no mundo inteiro, tem recebido
bastante publicidade e atenção nos veículos de comunicação por causa de suas crenças e práticas
controvertidas.
Moon nasceu na Coréia em 1920, filho de pais presbiterianos. Alega que no domingo de
páscoa de 1936, enquanto orava numa colina na Coréia, Jesus lhe apareceu e lhe revelou que ele
havia sido escolhido para completar a obra que Jesus começara. Esta experiência foi primeira de uma
serie de encontros reveladores com Deus, nos quais Moon declara ter recebido novas verdades para
uma nova era. As novas revelações e doutrinas do Rev. Moon foram subsequente expostas em
principio Divino, publicado pela primeira vez em 1957. Moon estabeleceu oficialmente sua nova igreja
em 1954 com o propósito declarado de trazer salvação ao mundo e de dar inicio a uma família
verdadeiramente internacional.
A doutrina de igreja da unificação é altamente eclética e espírita em sua natureza. Reflete as
peculiaridades do solo religiosamente fértil da Coréia e o interesse que Moon teve durante toda a sua
vida pelos fenômenos espíritas. A presença de muita terminologia bíblica e crista na teologia da
unificação têm levado observadores casuais a tirarem à conclusão de que a igreja de Moon é apenas
outra variação do cristianismo. O próprio Moon, no entanto, tem reconhecido que seus ensinamentos
são heréticos do ponto de vista do cristianismo tradicional e ortodoxo. Ele afirma que, por causa das
divisões sectárias e da incapacidade das igrejas convencionadas em satisfazer as necessidades do
mundo complexo de hoje, Deus deseja transmitir uma nova revelação da verdade que, ajudada pelo

261
mundo dos espíritos e pelos seguidores leais do movimento, levara a efeito uma revolução espiritual.
Esse movimento resultara na unificação verdadeira e durável da família do homem e do mundo.
No centro da teologia da unificação está o ensino de Moon sobre a queda de Adão e Eva.
Segundo o principio Divino, o documento teológico básico da igreja da unificação, ninguém
compreendeu a queda do modo verdadeiro até que Moon recebeu sua revelação, que trouxe
iluminação e esclarecimento ao relato bíblico existente. Os adeptos acreditam que Lúcifer seduziu a
Eva, e que esta união sexual provocou a queda espiritual da humanidade bem como a queda de
Lúcifer. Eva entrou, então, numa relação sexual com Adão, que resultou na queda física do homem.
Este aspecto dual da queda – espiritual e físico – requer uma restauração de Deus a salvação
que, da mesma forma, é tanto espiritual quanto física em sua natureza. Os unificacionistas ensinam
que a intenção original de Deus para a humanidade, na ocasião, era que os homens e as mulheres
amadurecessem na perfeição de Deus, fossem unidos por Deus num casamento centralizado no amor
divino e produzissem filhos perfeitos, estabelecendo, assim, uma família impecável e, finalmente, um
mundo sem pecado. Todavia, os planos de Deus foram frustrados pela queda e o desejo de Deus
tornou-se o de restaurar todas as coisas, a fim de concretizar seu reino terreno e celestial.
A fim de realizar este desejo, os unificacionistas ensinam que é necessário um Messias, um
Cristo. Segundo o principio Divino, Deus acabou achando um homem obediente – Jesus – que veio
no lugar de Adão para restaurar a humanidade. Os seguidores de Moon ensinam que Jesus não era
Deus, mas um homem perfeito sem pecado original. A intenção de Deus era que Jesus tomasse uma
esposa aperfeiçoada no lugar de Eva, se casasse e gerasse filhos impecáveis. Finalmente, outras
famílias perfeitas seriam formadas, e o plano de Deus para a restauração de toda a sociedade seria
levado a efeito. Esta é a essência do principio Divino – o plano de Deus para a restauração da
humanidade – que antes estava oculto mas, segundo acreditam os unificacionistas, agora tornado
claro.
Um dos ensinos centrais da igreja da unificação é o de que a vontade de Deus foi frustrada
pela crucificação de Jesus. Os adeptos do movimento ensinam que a intenção original de Deus não
era que Jesus morresse. Neste sentido, Jesus não conseguiu completar sua missão: não se casou; ou
conseguiu a redenção física. Porque Jesus salvou a humanidade espiritualmente, mas não
fisicamente, é necessário, segundo o pensamento da unificação, que outro Messias, o Senhor da
segunda Vinda, leve a efeito a redenção física. Isto ocorrera durante a era Messiânica também
chamada à era do testamento completo, ou a nova era, que agora esta sobre a Terra.
O principio Divino deixa subentendido que o Senhor da segunda Vinda nascera na Coréia, e
que todas as religiões se unirão a ele. Os membros da igreja da unificação acham que o Messias já
está na Terra, embora muitos sejam reticentes em declarar publicamente que Sun Myung Moon é tal
Messias, a figura central, aos corações dos interessados sinceros. No período de 11 a 13 de
setembro, Sun Myung Moon, patrocinou uma convenção em Montevidéu, no Uruguai, para
parlamentares brasileiros, com o objetivo de se fixar no Brasil, e para conseguir o apoio do Congresso
Nacional. No inicio de agosto, Moon anunciou a construção de um templo para 30 mil pessoas em
Mato Grosso do Sul. Foram também distribuídas 28 ambulâncias a 28 municípios do Estado, segundo
informou a Folha de São Paulo do dia 06 de setembro de 1996.

DECLARAÇÃO DOUTRINÁRIA
Cremos que ...
As Escrituras Sagradas, compostas do Antigo Testamento, são inteiramente inspiradas por
Deus, infalíveis na sua composição original e completamente dignas de confianças em quaisquer
áreas que venham a se expressar, sendo também a autoridade final e suprema de fé e conduta;
Há um só Deus eterno, Poderoso e Perfeito, distinto em sua Trindade: Pai, Filho e Espírito
Santo;
Jesus Cristo, gerado por um ato criativo-direto do Espírito Santo e nascido da vigem Maria, é
verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; é o único mediador entre Deus e o homem; somente ele foi
perfeito em natureza, ensino e obediência;
O Espírito Santo é o regenerador e santificador dos remidos, o doador dos dons e frutos
espirituais, o Consolador permanente e Mestre da igreja;
Em Adão a humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus. Através da queda de
Adão, a humanidade tornou-se radicalmente corrupta, distanciada de Deus e desintegrada de seu
coração. A necessidade premente do homem é a restauração de sua comunhão com Deus, a qual o
homem é incapaz de operar por si mesmo;

262
Salvação eternal, dom de Deus, tem sido providenciada para o homem unicamente por Sua
graça, através da morte vicária de Cristo Jesus. Fé é o meio pelo qual o crente se apropria dos
benefícios da salvação da Sua morte;
Jesus Cristo ressuscitou fisicamente dentre os mortos; ascendeu aos céus e voltara na
consumação dos séculos para julgar tanto como os injustos;
Punição eterna, incluindo a separação e perda de comunhão com Deus, é o destino final do
irregerado homem e satanás com todos os seus anjos;
A igreja crista, que é o corpo e a noiva de Cristo, é consagrada à adoração e ao serviço de
Deus, através da proclamação fiel da palavra, a pratica de boas obras e a observância dos
sacramentos ou ordenanças: o batismo e a celebração da ceia do Senhor;
A tarefa da igreja é ensinar a todas as nações, fazendo que o evangelho produza frutos em
cada aspectos da vida e do pensamento. A missão suprema da igreja é a salvação das almas. Deus
transforma a natureza humana, tornando-se isto então o meio para redenção da sociedade. I.C.P.

263
Glossário

AEON – Uma palavra grega que significa: emanação.


ANTAGÔNICO – Aquilo que é contrario.
ANIMISMO – Vem de anima alma fôlego. Doutrina segundo a qual uma sé e mesma alma são o
principio da vida e do pensamento.
ASCETISMO – Doutrina que considera a espiritualidade afinidade com Deus com o essencial
para a vida moral.
DEIDADE – Significa: divindade.
CARMA – É o conjunto das ações dos homens e suas consequências. Na Filosofia da Índia.
CÂNON – O conjunto dos livros considerados inspirados por Deus.
CÁTEDRA – Cadeira pontifícia, cargo de professor ou mestre.
CISMA – Vem do grego schisma, que significa rasgadura. No vocabulário moderno significa uma
divisão eclesiástica.
CREDO NICENO - A crença no que foi convencionado no Concilio de Nicéia.
DEMIURGO – Criatura intermediaria entre a natureza divina e a humana. Um deus inferior, que
emanou do verdadeiro Deus.
DEIDADE – Divindade.
ECLÉTICO – Vem de ecletismo, a atitude de selecionar ideias dentre fontes variadas, a fim de
ficar com a sua própria opinião.
ERETO – Erguido, levantado, aprumado.
ESSÊNCIA – Aquilo que constitui o cerne de um ser. Natureza intima.
EXECRADO – Detestado, amaldiçoado, humilhado, repudiado.
EXEGESE – Ciência que estuda um texto minuciosamente.
GAMA – Serie ou sucessão de ideias.
MONISMO – Vêm do grego, monos, único referem-se a qualquer doutrina que diz que algum
principio único governo todas as coisas, por meio de cujo principio tudo existe e opera. Doutrina
filosófica.
GRECO-ROMANO – Uma fusão da cultura grega com a romana.
HELENIZAÇÃO – Implantação da cultura grega
HIERÓGLIFO – Escritos primitivos dos egípcios.
INERENTE – O que está por natureza inseparavelmente ligada a uma coisa ou pessoa.
MÍSTICA – O que é de qualidade espiritual algo espiritual.
INICIADOS – Instruído no conhecimento de qualquer seita.
LOGOS – Em teologia, se refere ao Cristo onipresente.
LITERALISTA – Processo de entender o texto literalmente.
LIVRE-ARBÍTRIO – Liberdade para escolher o bem ou o mal.
MONOFISISTA – Vem da palavra monofisismo. Essa palavra vem do grego monos, que significa
único, e physis, que significa natureza. O monofisismo é a doutrina que sustenta que o Cristo
encarnado tinha uma única natureza divina, revestida de carne humana.
NEOPLATÔNICO – Novos pensamentos baseados nas antigas ideias de Platão.
NOUS – Palavra grega que significa mente.
ORTODOXIA – Vem do grego orthodoxia orthos certo, e doxa opinião. Significa literalmente
opinião certa, ou crença certa.
PLATÔNICOS – Pensamentos gerados por Platão filosofo grego.
PRECURSORES – Aquele que vai adiante.
PROBATÓRIA – Refere-se à prova. Aquilo que contem prova.
PROLÍFICO – Vem de prolificar. Ter prole.
POLIGAMIA – Matrimônio de um com muitos.
PRAGMÁTICO – Referente aos atos que se deve praticar.
RACIONALISTA – Aquele que observa as coisas baseando unicamente na razão.
REACIONÁRIO – Aquele que reage contra a autoridade constituída.
REGATO – Ribeiro, riacho.
SÍNODO – Reunião, concílio.

264
Bibliografia

Defesa da Fé N° 1 e 2 – I.C.P.
Bíblia Sagrada – Ed. Vida.
Dicionário de Filosofia – Walter Brugger
Dicionário – Enciclopédia, Den Bornn
Enciclopédia Histórica e Teológica, Walter A. Elwell
Enciclopédia de Bíblia Teológica e Filosofia – Ed. Candeia.
Enciclopédia Americana.
Enciclopédia of Religion and Ethics, Hastings, James
Enciclopédia Delta Larouse.
Estudando a Biblia.
Historia dos Hebreus – Flavio Josefo.
Jornal Folha de São Paulo, 6 de setembro de 1996.
Novo Dicionário Aurélio.
O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – Ed. Candeia.
Paul, A Study in Social and Religious.
Religioes – Murilo Cisalpino. Ed. Scipione.

Atenção!

Fica proibida a reprodução total ou parcial desta

obra sem previa autorização por escrito do autor.

Todos os direitos reservados.

265
EXEGESE
A Ciência da
Interpretação

266
Lição 1
Introdução

Exegese, , significa etimologicamente a ciência da interpretação. Termo formado


pela sobreposição do final  expressivo de ação, ao tema verbal do composto  +   tiro,
extraio, conduzo fora. A exegese é, então, a extração dos pensamentos que estavam presentes, ao
escritor ao redigir um determinado documento. Ninguém pode elaborar esta difícil tarefa em moldes
perfeitos. Porém pode-se visualizar com transparência, ainda que não se possa atingir em toda
plenitude.

1 Princípios Básicos Para Interpretação Exegética


1° Denomina-se princípio da unidade escriturística. Sob a inspiração divina a Bíblia ensina
apenas uma teologia. Não pode haver diferença doutrinária entre um livro e outro da Bíblia.
2° Deixe a Bíblia interpretar a própria Bíblia. Este princípio vem da Reforma Protestante. O
sentido mais claro e mais fácil de uma passagem explica outra com sentido mais difícil e mais obscuro.
Este princípio é uma inferência do anterior.
3° Jamais esquecer a Regra Áurea da Interpretação, chamada de Analogia da Fé. O texto deve
ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de textos isolados.
4° Sempre ter em vista o contexto. Ler o que está antes e o que vem depois para concluir
aquilo que o autor tinha em mente.
5° Primeiro procura-se o sentido literal, a menos que as evidências demonstrem que este é
figurado.
6° Ler o texto em todas as traduções possíveis - antigas e modernas. Muitas vezes uma destas
traduções nos traz luz sobre o que o autor queria dizer.
7° Apenas um sentido deve ser procurado em cada texto.
8° O trabalho de interpretação é científico, por isso deve ser feito com isenção de ânimo e
desprendido de qualquer preconceito. o que poderíamos chamar de achismos.
9° Fazer algumas perguntas relacionadas com a passagem para chegar a conclusões
circunstanciais. Por exemplo:
a. Quem escreveu?
b. Qual o tempo e o lugar em que escreveu?
c. Por que escreveu?
d. A quem se dirigia o escritor?
e. O que o autor queria dizer?

10° Feita à exegese, se o resultado obtido contrariar os princípios fundamentais da Bíblia, ele
deve ser colocado de lado e o trabalho exegético recomeçado novamente.

2. As Ferramentas necessárias ao exegeta


Usar a Bíblia que contiver o texto mais fidedigno na língua original. Os que não podem ler a
Bíblia no original devem usar uma tradução fiel, tanto quanto possível. Escolhido o texto é necessário
saber exatamente o que ele diz. Para isso são necessárias as seguintes espécies de ferramentas:
a. Dicionários. Para o Velho Testamento o melhor em inglês é: Um Conciso Léxico Hebraico e
Aramaico do Velho Testamento de William Holaday. Para o Novo Testamento o melhor é: Léxico
Grego-Inglês do Velho Testamento de Walter Bauer Universidade de Chigago, traduzido e adaptado
para o inglês por Arndt Gingricd. Em português não há nem um dicionário para o grego bíblico. Para o
grego clássico o melhor que temos é: Dicionário Grego-Português e Português-Grego de Isidro
Pereira, Edição do Porto, Portugal.
b. Gramáticas. A melhor do hebraico é a de Gesenius. Para o Novo Testamento as melhores
gramáticas são as de Blass, Moulton e Robertson. Depois de determinado o que o texto registra, é
preciso ir além e investigar mais precisamente a significação teológica de certas palavras. A melhor
fonte para este estudo no grego é o Dicionário Teológico do Novo Testamento, editado por Kittel e
Friedrich. São dez alentados volumes para o inglês. Para o Velho Testamento não existe trabalho
idêntico. Em português continuamos numa pobreza mais do que franciscana neste aspecto. O próximo
passo é uma pesquisa conscienciosa do contexto para que não haja afirmações que se oponham ao

267
que o autor queria dizer ou distorções daquilo que ele disse. Após esta pesquisa é necessário
considerar cuidadosamente a teologia, o estilo, o propósito e o objetivo do autor. Para este mister as
obras mais necessárias são: concordância, introduções e livros teológicos.
Em português temos a Concordância Bíblica, publicação da Sociedade Bíblica do Brasil, 1975.
Muito úteis para o exegeta são os estudos teológicos que tratam com o livro específico do qual
estamos fazendo a exegese.
O próximo passo em exegese é a familiarização com o conhecimento geográfico, histórico, os
hábitos e práticas podem iluminar nossa compreensão sobre o texto.
Para tal propósito são necessários, Atlas, livros arqueológicos, histórias e dicionários bíblicos.
Dicionários da Bíblia são muito úteis para rápidas informações sobre um assunto, identificação de
nomes de pessoas, lugares ou coisas. O melhor dicionário da Bíblia é: The Interpreter´s Dictionary of
the Bible, quatro volumes.

268
2 Como Fazer Exegese

1. Cinco Regras Concisas

1. Interpretar lexicamente
É conhecer a etimologia das palavras, o desenvolvimento histórico de seu significado e o seu
uso no documento sob consideração. Esta informação pode ser conseguida com a ajuda de bons
dicionários. No uso dos dicionários, deve notar-se cuidadosamente o significar-se da palavra sob
consideração nos diferentes períodos da língua grega e nos diferentes autores do período.
2. 1nterpretar sintaticamente
O interprete deve conhecer os princípios gramaticais da língua na qual o documento está
escrito, para primeiro, ser interpretado como foi escrito. A função das gramáticas não é determinar as
leis da língua, mas expô-las. O que significa, que primeiro a linguagem se desenvolveu como um meio
de expressar os pensamentos da humanidade e depois os gramáticos escreveram para expor as leis e
princípios da língua com sua função de exprimir ideias. Para quem deseja aprofundar-se é preciso
estudar a sintaxe da gramática grega, dando principal relevo aos casos gregos e ao sistema verbal a
fim de poder entender a estruturação da língua grega. Isto vale para o hebraico do Antigo Testamento.
3. Interpretar contextualmente
Deve ser mantido em mente a inclinação do pensamento de todo o documento. Então pode
notar-se a cor do pensamento, que cerca a passagem que está sendo estudada. A divisão em
versículos e capítulos facilita a procura e a leitura, mas não deve ser utilizada como guia para
delimitação do pensamento do autor. Muito mal tem sido feita esta forma de divisão a uma honesta
interpretação da Bíblia, pois dá a impressão de que cada versículo é uma entidade de pensamento
separado dos versículos anteriores e posteriores.
4. interpretar historicamente
O interprete deve descobrir as circunstâncias para um determinado escrito vir à existência. É
necessário conhecer as maneiras, costumes, e psicologia do povo no meio do qual o escrito é
produzido. A psicologia de uma pessoa incluí suas ideias de cronologia, seus métodos de registrar a
história, seus usos de figura de linguagem e os tipos de literatura que usa para expressar seus
pensamentos.
5. interpretar de acordo com a analogia da Escritura
A Bíblia é sua própria intérprete, diz o princípio hermenêutico. A Bíblia deve ser usada como
recurso para entender ela mesma. Uma interpretação bizarra que entra em choque com o ensino total
da Bíblia está praticamente certa de estar no erro. Um conhecimento acurado do ponto de vista bíblico
é a melhor ajuda.

269
3 O Procedimento Exegético

1. O procedimento errado
Ler o que muitos comentários dizem com sendo o significado da passagem e então aceitar a
interpretação que mais lhe agrade. Este procedimento é errado pelas seguintes razões:
a. Encoraja o intérprete a procurar interpretação que favorece a sua preconcepção.
b. forma o hábito de simplesmente tentar lembrar-se das interpretações oferecidas. Isto para o
iniciante, frequentemente resulta em confusão e ressentimento mentais a respeito de toda a tarefa da
exegese. Isto não é exegese, é outra forma de decoreba e é muito desinteressante. O péssimo
resultado e mais sério do procedimento errado na exegese é que próprio interprete não pensa por si
mesmo.

2. Procedimento correto
O interprete deve perguntar primeiro o que o autor diz e depois o que significa a declaração.
a. Consultar os dicionários para encontrar o significado das palavras desconhecidas ou que
não são familiares. É preciso tomar muito cuidado para não escolher o significado que convêm ao
interprete apenas.
b. Depois de usar bons dicionários, uma ou mais gramáticas devem ser consultadas para
entender a construção gramatical. No verbo, a voz, o modo e o tempo devem ser observados por
causa da contribuição à ideia total. O mesmo cuidado deve ser tomado com as outras classes
gramaticais.
c. Tendo as análises léxicas, morfológica e sintática sido feitas, é preciso partir para análises
de contexto e história a fim de que se tenha uma boa compreensão do texto e de seu significado
primeiro.
d. Com os passos anteriores bem dados, o interprete tem condições de extrair a teologia do
texto, bem como sua aplicação às necessidades pessoais dele, em primeiro lugar, e às dos ouvintes.
Que o texto tem com a minha vida? Com os grandes desafios atuais?

270
4 O Uso de Instrumentos

1. Comentários
Eles não são um fim em si mesmo. O interprete deve manter em mente o clima teológico em
que foram produzidos, porque isso afeta de maneira direta a interpretação das Escrituras. Um
comentarista pode ser capaz, em certa media, de evitar bias tendências e permitir que o documento
fale por si mesmo, mas sua ênfase nos vários pensamentos na passagem será afetada pela corrente
de pensamento de seus dias. Os comentários principalmente os devocionais, tem a marca da
desatualização.
2. Uso de dicionário e gramáticas
E importante manter em mente a data da publicação. Todas as traduções de uma palavra
devem ser avaliadas e não apenas tirar só o significado que interessa a nossa interpretação. Explore o
recurso dos próprios sinônimos. Por exemplo, a palavra pobre é tradução de duas palavras gregas.
[penef e ptohoi-transliterado por Jotaeme] A primeira significa carente do supérfluo, que vive
modestamente, com o necessário e a segunda, significa mendigo, desprovido de qualquer sustento.
3. A escrita
Uma vez que a sentença é a unidade básica da expressão do pensamento, então a escrita é a
expressão de um conjunto de letras e números reunidos por sinais.
Por todo o antigo Oriente Próximo, desde pelo menos cerca de 3.100 a.C. em diante, a escrita
era a grande indicação da civilização e do progresso. No segundo milênio a.C. houve diversas
experiências que conduziram ao desenvolvimento do alfabeto, com o consequentes aumento geral do
número de letras. Embora, poucos documentos tenham sido encontrados na própria Palestina de antes
do período exílico, quando comparamos com muitos dos territórios circunvizinhos, é razoável supor-se
que sua proximidade a outros centros de cultura tenha permitido que seus habitantes compartilhassem
da arte da escrita durante todos os períodos passados igualmente, segundo é indicado pelas palavras
mais comuns para indicar a ação da escrita no heb. ãthabh; no aramaico ethabh; no grego graphõ
que ocorrem mais de 450 vezes no Antigo e no Novo Testamento.
4. Referências bíblicas
A Bíblia afirma que Moisés escreveu Êx.17:14 o decálogo Êx.24:12; 34:27, as palavras de
Jeová Êx.24:4, a Lei Torah, Js.8:31, e também afirma que Moisés falou sobre uma cópia escrita da
mesma Dt.27, Moisés também registrou em forma escrita todos os estatutos Dt.30:10 e Juízos
Êx.34:27; ref. 2 Rs.17:37, bem como as decisões legais Dt.24:10; Mc.10:4, os detalhes das
peregrinações feitas pelos israelitas Nm.23:2, e as palavras do cântico de vitória Dt.31:19,22, nisso ele
foi auxiliado por oficiais letrados shõterïm Nm.11:16, na versão portuguesa superintendente; o
acadiano shatãru escrever que, por razão de sua capacidade registraram as decisões e estavam
intimamente ligados com a legislação judiciária Dt.16:18; 1 Cr.23:4; Js.8:33 durante as peregrinações
do êxodo os sacerdotes também registraram as maldições Nm.5:23 e os nomes de determinados
objetos Nm.17:3. Josué escreveu uma cópia dos dez Mandamentos Js.8:32 bem como do pacto
renovado Js.24:26.
Samuel registrou a constituição do recém criado reinado de Saul 1 Sm.10:25; em nossa
versão, direito do reino. Davi escreveu cartas a Joabe, comandante de seu exército 2 Sm.11:14, como
também detalhes da administração do Templo. Salomão também se correspondeu com Hurão por
meios de cartas 2 Cr.2:11. Como em todos os períodos, escribas da corte eram freqüentemente
empregados para preparar listas de pessoas 1 Cr.24:6.
Isaías, o profeta, tanto escreveu 2 Cr.26:22; Is.8:1 como ditou para um escriba escrever as
suas palavras Is.30:8. Em seu tempo, Ezequias tanto escreveu cartas iggereth para Efraim e
Manasses 2 Cr.30:1; Is.38:9, intitulado cântico mikhtabh de Ezequias como recebeu carta do rei
assírio, Senaqueribe Is.37:14; 39:1. Jeremias ditava ao seu amanuense, Baruque Jr.30:2; 36:27;
45:1, como provavelmente o faziam também Os 8:12 e Ml 3:16, pois a palavra escrita era uma parte
importante da profecia 2ºCr.21:12, cujo valor foi igualmente salientado por Jó 19:23.
Conforme se conhece pelos Manuscritos existentes, os períodos neobabilônico e persa foram
assinalados por um número crescente de pessoas letradas. Daniel e os sábios babilônios podiam ler, e
presumivelmente também podiam escrever em aramaico Dn.5:24 e ss. Havia uma correspondência
ativa dentro do Império, tal como em períodos anteriores. Neemias, registrou a aliança firmada
Ne.9:38, enquanto que os seus oponentes de Samaria escreveram para o rei persa Ed.4:6,7; 5:7; 6:2.
O próprio Esdras era um escriba que escreveu decretos ou documentos de estado nos dialetos locais
8:34, conforme o estilo dos oficiais da corte, incluindo Mordoqueu, sob as ordens do rei Et.9:28 e ss.

271
Jesus Cristo e os Seus apóstolos faziam referência constante às Escrituras ou documentos
escritos está escrito – gegraptai - que ocorre por 106 vezes. Nosso Senhor mesmo sabia escrever
Jo.7:14,15, e escreveu publicamente pelo menos numa ocasião Jo.8:6. Zacarias, o sacerdote,
escreveu numa tabuinha de escrever recoberta com cera Lc.1:63, enquanto que Pilatos, o
governador romano, preparou uma inscrição trilíngue para ser colocada no alto da cruz
Jo.19:19,22.
João 21:24, Lucas 1:3; At.1:1, e o próprio Paulo Gl.6:11; Flm.19; Rm.15:15, embora
tivesse usado frequentemente um amanuense, como Paulo usou Tércio Rm.16:22, escreveram os
registros históricos e as cartas apostólicas que chegaram até nós. Até mesmo dentro do livro de
Apocalipse encontramos referências constantes a escrita, legais e registros vários Ap.1:11; 21:5.
Visto que a escrita, por sua própria natureza, é um meio de comunicação, declaração e testemunho,
é empregada para ilustrar a impressão, gravada em engraphõ 2 Co. 3:2 e ss ou sobre epigraphõ
Hb.8:10; 10:16 a mente e o coração do indivíduo ref. Jr.31:33; Pv.3:3, por operação do Espírito
Santo algumas vezes chamada de escrita interna.

272
5 Metodologia

O conhecimento das circunstâncias históricas que cercaram a composição de um livro é de


suma importância para uma compreensão adequada de seu significado. Somente após um estudo da
Canonicidade, da Crítica Textual e da Crítica Histórica é que o estudioso está preparado para fazer
exegese. o prefixo ex fora de para fora refere-se à ideia de que o intérprete está tentando derivar seu
entendimento do texto, em vez de ler seu significado no para dentro texto eisegese. Exegese é a
aplicação dos princípios da Hermenêutica para a apropriação de um entendimento correto do texto.
Toda ciência utiliza-se de um ou mais métodos para alcançar os seus objetivos; podemos dizer
que o método é a ponte que liga a tese a sua comprovação científica. Na exegese bíblica não deve ser
diferente, na busca da interpretação mais próxima do original necessitamos rigor científico para não
cairmos nos achismos, devocionísmos e ou revelações de trás da orelha. Nos serviremos do Método
Histórico-Crítico que dá ênfase à pesquisa histórica do texto bíblico sob uma perspectiva crítica
analisando-o em seus aspectos humanos, políticos, religiosos, geográficos, sociológicos e outros.
Nesta tarefa serve se da História, como ciência dinâmica que busca ver nos fatos históricos sua
motivação e suas consequências, e da Crítica Textual que veremos mais detalhadamente neste livro,
além de uma postura crítica e científica, nos permitirá fazer decisões com mínimo de parcialidade
possível.

Exemplo de exegese na interpretação textual


Em Dt 22:5, Deus disse: A mulher não usará roupa de homem, nem o homem, veste peculiar à
mulher; porque qualquer que faz tais cousas é abominável ao Senhor, teu Deus. Entendemos que não
somos sujeitos às ordenanças dadas por meio de Moisés aos israelitas. Portanto, é esclarecedor
entender o que Deus estava dizendo. Ele não estava proibindo que homens e mulheres usassem
algum artigo de roupa semelhante. Na época, ambos os sexos usavam túnicas. Deus quer que
mantenhamos distinções entre os sexos veja, por exemplo, 1 Co 11:14-15. Ele condena as perversões
de homens que se vestem e se comportam efeminadamente 1 Co 6:9.
Agora, vamos ver duas passagens semelhantes no Novo Testamento. Da mesma  sorte, que
as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom   senso, não com cabeleira frisada e
com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras como é próprio às mulheres
que professam ser piedosas 1 Tm 2:9-10. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado
de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido
ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi
assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus,
estando submissas a seu próprio marido 1 Pe 3:3-5. Esses trechos não são idênticos 1 Timóteo fala
sobre mulheres em geral, enquanto 1 Pedro fala sobre a mulher cujo marido não é cristão, mas há
vários pontos paralelos. Vamos estudar alguns pontos chaves.

Joias
É comum ouvir alguém usar esses versículos para proibir absolutamente todos os tipos de
joias, enfeites de cabelo, etc. Mas esse não é o sentido do texto. A Bíblia, às vezes, usa essa
construção Não faça isso, mas faça aquilo para enfatizar o que é mais importante, sem proibir o menos
importante. Jo 6:27 é um exemplo claro: Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que
subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará.... Jesus não está proibindo trabalho
honesto para suprir as necessidades da vida compare 2 Ts 3:10; 1 Tm 5:8, mas está dizendo que
devemos dar muito mais importância às coisas espirituais. Embora algumas igrejas mantenham usos e
costumes, que seus membros devem observar, por fazerem parte daquela igreja, porém não podemos
torcer o sentido original da palavra de Deus para satisfazer nossos desejos.

273
Lição 2
6. Origem do Método Histórico Crítico

Hermenêutica bíblica dos reformadores

1. Início com duas teses. A Reforma desencadeou-se a partir do estudo da Escritura pelos
reformadores. A compreensão da Escritura entre os reformadores determina todo desenvolvimento
posterior da Hermenêutica bíblica.
Lutero se entende como Doutor da Sagrada Escritura. E, como tal, dedicou-se à exegese de
diversos livros, tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento. Nisso se evidência que, para
Lutero, Antigo Testamento e Novo Testamento formam uma unidade inseparável e que a exegese é
bíblica. Nesta atividade ele inicialmente ainda aplica o método exegético medieval, que procura extrair
um quádruplo sentido sensus dos textos: o sentido literal; o sentido alegórico ou espiritual; o sentido
moral; e o sentido analógico ou escatológico. Mas, paulatinamente, abandona esse método e deixa
valer exclusivamente o sensus litteralis sentido literal como sendo o único legitimo e, por ser
simultaneamente espiritual, o parenético discursso moral e o escatológico . Tarefa da exegese é,
pois, levantar esse sentido literal.
Nisto se evidencia um segundo aspecto. Para se levantar o sentido literal não se depende de
uma instancia superior ou externa à Escritura. Não é a tradição, ou magistério eclesiástico que
determinam a compreensão da Escritura, mas somente a Escritura sola scriptura é única e última fonte
de Revelação. Com isso a Escritura está colocada sobre seus próprios pés.
A Bíblia precisa ser interpretada a partir de si mesma! Esta concentração na Sagrada Escritura
tem como consequência uma crítica teológica e histórica em relação a certos livros bíblicos, por
exemplo: Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse. O ponto de partida desse posicionamento crítico é a
constatação de certas incongruências entre os diversos escritos, e o critério para essa avaliação crítica
é em que sentido e até que ponto o escrito aponta para Cristo e o testemunha como Senhor. o critério
de avaliação de toda a Escritura, de todos os livros bíblicos, segundo Lutero, era o testemunho de
Cristo que era apresentado.
Calvino compartilha tal posicionamento. Para ele a Escritura – Antigo e Novo Testamentos
como unidade – também é a única fonte da Revelação. Cabe ao exegeta esclarecer o sentido literal do
texto bíblico por todos os meios possíveis. Por isso Calvino, ainda mais do que Lutero faz uso de todos
os meios históricos e filosóficos à disposição para conseguir uma exegese bíblica contextual. Objetivo
último dessa interpretação bíblica é provocar a fé.
Tal concentração na Escritura e a utilização de todos os meios possíveis de analisá-la levam
Calvino igualmente a um posicionamento crítico frente a certos livros bíblicos, por exemplo, Josué.
Em resumo, a Reforma, com o postulado de que a Escritura é a única fonte da Revelação,
coloca-a como centro das atenções e desencadeia com isso o surgimento da ciência bíblica. Tal
concentração na Escritura leva, por outro lado, a um posicionamento crítico frente à Escritura que
desembocará na análise histórico-crítica da Bíblia.

2. Retrocesso do princípio reformador na ortodoxia luterana


A reação da Igreja Católica ficou conhecida como Contra-Reforma e com respeito à
interpretação da Bíblia dizia: A Vulgata edição da Bíblia em latim é o texto canônico para a Igreja
Católica; os textos originais hebraicos e gregos não são determinantes para a doutrina Católica.
Bíblia e tradição são aceitas e reconhecidas com a mesma afeição e reverência de fé. O modelo
exegético medieval do quádruplo sentido é sancionado como único válido.
O título deste capítulo – retrocesso no princípio reformador – já inclui um julgamento e
refere-se ao resultado a que levou o desenvolvimento na ortodoxia, porque o objetivo não foi um
fechamento; pelo contrário, o que se queria era justamente resguardar o princípio fundamental do
sola scriptura. O princípio do sola scriptura levou posteriormente ao desenvolvimento de toda uma
doutrina da Escritura para fazer frente ao dogma Católico da Escritura e Tradição, bem como do
quádruplo sentido da Escritura.
Esta doutrina caracteriza-se por dois aspectos fundamentais: doutrina da inspiração verbal,
e características da Sagrada Escritura affectiones Sacrae Scripturae. A ideia da inspiração verbal
está colocada na própria Escritura. Já no Antigo Testamento os profeta entendem-se como pessoas

274
autorizadas e incumbidas pelo Espírito de Deus para o testemunho da mensagem recebida
Is.48:16; 61:1 e ss; Ez.2:1 e ss.
No Novo Testamento a ideia da incumbência e autorização pelo Espírito está igualmente
presente: Jesus envia seus discípulos promete-lhes a assistência do Espírito Mt.10:20. Paulo
enfatiza seguidamente que seu testemunho é palavra autorizada pelo Espírito Rm.15:19; 1 Co.7:4;
2 Co.4:13 e o evangelho de João diz o mesmo ao referir-se ao Paráclito mentor 16:7 e ss. E dito
que os escritos bíblicos inspiram-se em duas passagens das cartas 2 Tm.3:16 e 2 Pe.1:20s;
também Mc.12:36 e At.3:21.
Em ambas as passagens aparecem como pano de fundo os escritos vétero-testamentários
que são considerados inspirados. Assim os autores destas cartas encontram-se numa tradição que
vem desde o próprio Antigo Testamento e passa pela doutrina desenvolvida no judaísmo. O que, no
entanto, não aparece aí é a ideia da inspiração verbal. Esta é a novidade da ortodoxia . o que
acontece? A Bíblia é autoridade suprema e fonte exclusiva da Revelação, porque os autores
bíblicos escrevem palavras inspiradas literalmente pelo Espírito Santo. Os autores bíblicos perdem
totalmente sua identidade porque o que escrevem não são suas ideias, mas a Palavra de Deus. O
Espírito Santo dita diretamente a Profetas e apóstolos o que devem escrever, de sorte que eles não
são de fato os autores; eles são meros instrumentos, canetas de que o Espírito Santo faz uso.
A consequência desse modo de pensar é a identificação de Bíblia e Palavra de Deus. Se a
Bíblia é a Palavra inspirada de Deus ela é infalível. o que a Sagrada Escritura ensina é divinamente
inspirado e por isso infalivelmente verdadeiro. A outra consequência é a perda total da historicidade.
Não tem importância alguma a relação histórica do autor com o evento histórico de Jesus, seja
como testemunha ocular, seja como transmissor da tradição de testemunhas de primeira mão. A
inspiração verbal direta, de caráter sobrenatural, torna esta relação histórica como o evento
histórico de Jesus totalmente irrelevante. Não importa a quem e nem quando o Espírito Santo ditou.
Mas por que os evangelhos enfatizam tanto o testemunho daqueles que estiveram com
Jesus? Por que a ordem de transmitir adiante esse testemunho?
As características da Sagrada Escritura são três: autoridade, perfeição e transparência ou
eficácia.
Autoridade  a Escritura possui automaticamente por ser a Palavra inspirada de Deus.
Perfeição  por ser suficiente para se conhecer a vontade de Deus e as condições da
salvação sem o complemento da tradição eclesiástica.
Transparência:  complementa a perfeição no sentido de que à vontade salvívica de Deus é
claramente perceptível na Escritura. Não é necessária complementação ou interpretação pelo
magistério eclesiástico.
Nessa controvérsia a ortodoxia acaba desenvolvendo uma doutrina da Escritura que a torna
um documento infalível da Revelação. Mas, simultaneamente, um documento distante da realidade
humana para quem, em último analise, se destina a Revelação.

275
7 Crítica Textual

1. A Tarefa da Crítica Textual


Entende-se por crítica textual toda pesquisa científica em busca da verdadeira forma de um
documento escrito no original ou, pelo menos, no texto mais próximo do original. No que diz respeito
aos autores dos últimos quatro séculos, depois da genial invenção de Gutenberg podemos estar certos
de possuirmos suas obras exatamente como foram escritas, salvo raras exceções, particularmente
quando a erros tipográficos de menor importância. Já não se pode dizer o mesmo a respeito das obras
que circularam em manuscritos antes da invenção da imprensa. Não é de admirar que os escritos
copiados múltiplas vezes, uns cuidadosamente, mas outros sem maiores cuidados, e isto durante
séculos, sofressem múltiplas e variadas alterações. Isto constitui, nos diferentes documentos
conhecidos da mesma obra, o que se chama de variantes ou textos divergentes. A crítica textual,
particularmente a do Novo Testamento, tem por objetivo a escolha do texto, entre todos os
encontrados nos vários manuscritos, que possua a maior soma de probabilidade de ser o original ou a
forma primitiva do autógrafo, já que não possuímos nenhum dos autógrafos do Novo Testamento, mas
apenas cópias e algumas delas distantes mais de dois séculos do original.
Esta busca científica dos originais ou dos textos que lhes sejam mais próximos é de extrema
dificuldade, cheia de problemas de vasta complexidade. A Regra geral nos leva a concluir que, quanto
mais distante dos autógrafos, tanto quanto ao tempo como quanto ao número de cópias, maior a
corrupção do texto, maior a soma de erros. No entanto, esta regra não é absoluta.
Há obras, e o Novo Testamento é deste tipo, onde a matéria em si leva o copista a correções
intencionais, e a corrupção, neste caso, não estaria em função da distância que separa a cópia de seu
original, nem quanto ao número de cópias nem mesmo quanto ao tempo, mas em função direta e
inequívoca da matéria a ser copiada. Entretanto, o maior número de cópias torna os labores do crítico
mais suaves, pois o pequeno número de manuscritos conduz probabilidade de perda, nalguns lugares,
da verdade original, que só pode ser alcançada mediante conjectura, processo deveras precário.
O Novo Testamento leva grande vantagem quanto ao tempo que separa suas primeiras cópias
manuscritas dos respectivos autógrafos. Possui o Novo Testamento cópias completas dentro do quarto
século, menos de 300 anos de seus originais. Os papiros descobertos por Chester Beatty P 45, P46 e P 47
estão dentro da primeira metade do terceiro século. Recuando mais, temos a coleção de papiros
Bodmer P66 e P74 , sendo que P66 recua o estudante a cerca do ano 200. O P 52 , na Inglaterra, leva-o
ao ano 125 e, como se trata do texto do Evangelho de João, representa cópia dentro dos 30 anos
próximos da produção dos gráficos autênticos.
Não se dá o mesmo com os clássicos gregos e latinos. A cópia mais antiga que existe de
Sófocles foi escrita 1.400 anos depois da morte do poeta. Para o grande Platão o intervalo é de 1.300
anos.
Quando consideramos o número de cópias, o Novo Testamento possui cópias muito mais
numerosas que as dos clássicos. O Novo Testamento possui, entre os manuscritos completos e
outros de partes escritas na língua original, 5.366. Possui ainda precioso elemento de que se não se
pode lançar mão quando se trata de clássicos: são as versões. Só da Vulgata latina contam-se 8 mil
cópias, que, ao lado de mais mil da siríaca, cóptica, arménia, etiópica ou gótica, faz com que tenhamos
muito mais de 13 mil elementos. Embora essa multiplicidade de cópias oferecesse ensejo para faltas
involuntárias e intencionais, oferece também muito mais elementos de comparação.
A tarefa do crítico é reagir contra os erros dos copistas. Ninguém deve recear a tarefa, nem
mesmo menospreza-la, quando se pode afirmar, com os entendimentos do assunto que não só os
grandes manuscritos, mas também os mais antigos papiros atestam a integridade geral do texto
sagrado. Todavia, Lagrange diz que entre esta pureza substancial e um texto absolutamente igual aos
originais há distância apreciável.
Vale a pena registrar também que a elevada cifra de variantes, em sua maioria esmagadora,
diz respeito a questões que não afetam o sentido profundo do texto e que o número de variantes que
se revestem de importância, especialmente no que diz respeito à doutrina, é muito reduzido.
A crítica textual lança os fundamentos sobre o qual a estrutura da investigação teológica deve
ser construída. Sem um bom texto grego, tão mais próximo dos autógrafos quanto lhes permitam os
labores da crítica textual, não é possível fazer segura exegese, hermenêutica, crítica histórica ou
literária, nem mesmo teologia, para não falarmos em tradução. Embora seja chamada de baixa crítica
e bem modestos os seus esforços, é fundamental e indispensável ao estudante do Novo Testamento
desde o tradutor até o teólogo.

276
O crítico textual tem por função, primeiro, a coleta do material documentário, encontrado nas
variantes do texto bíblico. Essas variantes, tendo como base o Textus Receptus é o texto do NT
representado especialmente pela terceira edição de Stephanus, 1550, encontram-se nos manuscritos
unciais, minúsculos, papiros, devocionários, versões, citações patrísticas. O Novum Testamentum
Graece e The Greek New Testament fornecem esse material e todos os elementos indispensáveis a
essa identificação.
Para que ele possa realizar bem sua primeira função é necessário que esteja familiarizado com
o material, terreno onde realiza suas investigações. Deve conhecer não só os vários manuscritos,
versões e citações dos antigos escritos da Igreja Cristã, como também o modo pelo qual foram
produzidos, os usos da escrita literária e não-literária do tempo, o material usado, o destino e o objetivo
final dessa mesma produção. Isto será discutido na primeira porção destes estudos.
Para que possa realizar a segunda parte, mais profunda, mais difícil e que requer mente bem
educada e de grande acuidade intelectual, deve conhecer a própria história do texto, os métodos da
crítica textual, teologia do autor cujo livro se examina, a história das doutrinas, a língua original,
particularmente sua gramática, e um conhecimento cultural da época do autor e dos escritos cujas
cópias considera.
Por estas ligeiras indicações o leitor pode ver não só a extensão, mas as implicações desta
ciência. Isto para não falarmos em paleografia, arqueologia, conhecimento dos clássicos, como quer a
escola alemã, pois se pressupõe este trabalho já realizado pelos respectivos especialistas e colocado
ao alcance do crítico textual através da caracterização dos vários documentos. Esta obra é uma
pequena introdução a uma ciência que, embora ainda nova quanto a seu desenvolvimento, já possui
abundante messe bibliográfica e material de pesquisa igualmente abundante.

A alteração do texto
A corrupção do texto do Novo Testamento iniciou-se, provavelmente, dentro do período em que
viviam seus próprios autores, ou logo depois de sua morte. Esse fato é óbvio. Os Evangelhos, como os
outros livros, foram escritos em papiro e o papiro era facilmente perecível. Acresce que estes livros
eram lidos até caírem aos pedaços. Não que todos os cristãos pudessem ler, mas pelo menos podiam
ouvir enquanto outros liam. Era comum encontrar-se um grupo de cristãos ao redor de alguém para
ouvir a leitura do Evangelho. A leitura cedo se tornou hábito na Igreja. Uma das recomendações das
pastorais a um ministro, e isto não era para ato particular, privativo, mas público, era esta: aplica-te à
leitura 1 Tm.4:13. Dificilmente havia reunião cristã que terminasse sem leitura Bíblica. Por outro lado,
os cristãos primitivos eram todos evangelistas e muitos deles ambulantes, e seu trabalho requeria
novas cópias de livros. Assim os originais foram copiados antes de perecerem e, ao fim dos dois
primeiros séculos da era cristã, as cópias dos livros do Novo Testamento, principalmente dos
Evangelhos, haviam-se multiplicado.
Como essas cópias eram feitas sem grande controle, com sua multiplicação, multiplicaram-se
também os erros, uns intencionais, outros involuntários. A teoria, de que os erros do Novo Testamento
acontecidos nos dois primeiros séculos eram frutos de tratamento menos cuidadoso dos livros; porque
ainda não se considerava o Novo Testamento como Escritura, não é mais aceita. O oposto que é
verdade. É porque, como diz Colwell, o Novo Testamento era o tesouro religioso da Igreja, mas ele era
alterado. As variações involuntárias são menores que as intencionais, por motivo de fé e doutrina.
Só uma religião, o judaísmo, atingiu quase a perfeição na transmissão de suas Escrituras e isto
somente durante o período em que o templo esteve destruído, quando o Antigo Testamento se tornou
o Centro convergente de todo interesse religioso do povo. A analogia do primitivo escriba cristão não é
encontrada em seu colega judeu, mas no pregador moderno, que, embora conhecendo e
reconhecendo a Bíblia como a Palavra de Deus, cita-a, contudo, de memória, escreve passagens em
suas cartas, alterando-as, sem se aperceber do fato. O que dissemos atrás a respeito dos autores
patrísticos é válidos para os escribas.

Erros Involuntários - correções


Entre os erros ou falhas involuntárias cometidas pelos escribas do Novo Testamento
destacam-se as que são devidas à sua falta ou defeito de visão, a defeitos de audição ou mesmo a
falhas mentais. O astigmatismo ou mesmo a miopia poderiam levar o copista a erros que hoje o crítico
facilmente pode descobrir. Basta lembrar-se de que os unciais mais antigos tinham letras semelhantes,
como o teta e o ômicron, o velho sigma e o épsilon, que facilmente se confundiam, acrescido do fato
de que eram escritas juntas, sem espaço a separá-las, nem mesmo entre as palavras. Dois exemplos

277
bastam para justificar: em Romanos 6:5 muitos MSS Têm  juntos, mas há alguns que trazem
 porém. Os dois lambdas juntos deram ao copista a ideia de mi. Em At 15:40, onde há
C tendo escolhido aparece no Códice Beza C tendo recebido, sendo
o lambda confundido com um delta. Não somente confusão de letras, mas também de sílabas, como é
o caso de 1 Tm 3:16, em que alguns MSS, como 05, por exemplo,   nós confessamos
que em vez de  sem dúvida.
O erro visual chamado parablopse um olhar ao lado é facilitado pelo homoioteleuton, que é o
final igual de duas linhas, levando o escriba a saltar uma delas, ou pelo homoioarchon, que são duas
linhas com o mesmo início.
O Códice Vaticano em Jo 17:15, não contém as palavras entre parênteses: Não rogo que os
tires do mundo, mas que os guardes do maligno. É só consultar o Novo Testamento grego para ver
que as duas linhas terminavam de maneira idêntica, em   , no MS que o escriba de 03
copiava. Lc 18:39 não aparece nos MSS 33,57,103 e b, sem dúvida a um final de frase igual na
sentença anterior no MS do qual eles se derivam.
O Códice Laudiano tem um exemplo em At 2:4; Et repleti sunt et repleti sunt omnes spiritu
sancto, sendo este um caso de edição. Este exemplo é chamado de ditografia, que é a repetição de
uma letra, sílaba, palavra ou vocábulos. Os nomes próprios sofrem muito desta incapacidade visual.
Em muitos escritórios, os escribas se ajuntavam e escreviam enquanto um leitor lhes ditava o
texto sagrado. Mas o ouvido é imperfeito e este o traía mesmo quando o copista solitário ditava a si
próprio o texto que escrevia. Parece que o caso tão discutido de Rm 5:1 das variantes  e
 é um destes; ou de 1 Pe 2:3, onde em vez de  Cristo alguns MSS 018,020 trazem
 gentil.
No grego koinê as vogais e ditongos eram pronunciados de modo igual dentro das respectivas
classes. É o caso de 1 Co 15:24, onde a afirmação de Paulo tragada foi a morte na vitória ·,
aparece em P46 e 03 assim: tragada foi a morte no conflito  .
O problema dos espíritos para o ouvido do copista era muito sério. Bastava que o leitor não
aspirasse, por exemplo, o espírito forte do pronome relativo para fazê-lo artigo; falta que somente
podia ter lugar depois que os MSS passaram a usar espírito.
Caso curioso de mudança de consoante é o citado por Metzger em Ap 15:6, onde o texto diz
vestidos de linho puro  e os MSS 02,04 e alguns Códices da Vulgata trazem vestidos de pedra
pura  .
Uma só letra que o ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa
mudança de sentido torna-se erro grosseiro, caso hilariante. Quando a mente do escriba o traía,
chegava a cometer erros que poderiam variar desde a substituição de sinônimos, como o caso da
preposição  por ; variação na sequência das palavras; ou a transposição de letras dentro de uma
palavra, como o caso de Jo 5:39, onde Jesus fala das Escrituras porque elas dão testemunho de mim
  e o escriba do MS 05 escreveu: porque elas pecam a respeito de mim 
mudando completamente o sentido das palavras do Mestre.

Erros intencionais
Devem-se distinguir aqui muitos erros que Metzger classifica na categoria anterior e que não
passam de negligência, distração ou estupidez, de alguns escribas. O elevado conceito que o escriba
tinha do texto sagrado levava-o a corrigi-lo quando suspeitava de qualquer alteração, principalmente
doutrinária. Vários são os tipos de erros intencionais. Eis alguns:
Harmonização  Quando o escriba copiava os Evangelhos Sinóticos, era levado a harmonizar
certas passagens paralelas. No caso da cura do homem que tinha uma das mãos secas, Mt 12:13
tem: Então ele disse ao homem: estende a tua mão. E ele a estendeu; e ela foi restaurada como a
outra. Em Marcos, o texto para em restaurada, em outro o escriba acrescentou como a outra para
harmoniza-lo com Mateus. As palavras de Jo 19:20: e estava escrito em hebraico, latim e grego, têm
sido introduzidas em Lc 23:38 em muitos MSS. Em Atos há três narrativas da conversão de Paulo, que
os escribas tentaram harmonizar em muitos MSS.
Outro tipo de harmonização é o que muitos escribas realizaram, fazendo o texto do Novo
Testamento, conformar-se com o texto do Antigo Testamento, de onde o evangelista havia tirado sua
citação. Por exemplo: em Mt 1:1 alguns escribas W e os Bizantinos mudaram no profeta Isaías para
nos profetas porque verificaram que a citação não é só de Isaías. A conformação de textos do Novo
Testamento à liturgia da Igreja é outro tipo de harmonização. É este o caso da doxologia da Oração
Dominical: ... pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém, de Mt 6:13, que se encontra

278
em 07, 011, 017, 019 e outros, mas está ausente nos grandes Códices Sináiticos, Alexandrino e
Vaticano.
Correções em Ortografia, Gramática e Estilo  É o caso da ortografia de nomes próprios.
Cafarnaum em Mc 1:21, é bom exemplo. Em Lc 4:1, depois de um verbo de movimento  ele foi
conduzido. Vários MSS 02, 03, preferem o acusativo    ao deserto ao dativo de 01, 03,
05,    para resolver problema gramatical. Outros, para tornar o estilo mais suave ou mais
lógico, introduzem o uso de algumas partículas gregas, como é o caso do MS 713 e b, em Marcos
4:24. O livro do apocalipse, com tantos semitismos e solecismos, era uma verdadeira tentação ao
escriba literato.
Correções Doutrinárias  Não se consideram aqui as correções heréticas que aparecem
nalguns Códices, pois são fáceis de serem distinguidas. Certo escriba, copiando Mateus, surpreendeu-
se ao encontrar Jesus dizendo: Mas daquele dia ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o filho,
senão o Pai 24:36. O escriba sabia que o filho se referia a Jesus. Deduziu logo que alguém havia
cometido erro e corrigiu o texto omitindo : nem o filho: 01, 032, Bizantino, e várias versões.
Os escribas de vários MSS da Velha Latina e da Versão Gótica, ao transcrever o prólogo de
Lucas, acharam que Lucas precisaria ter-se referido à aprovação divina à sua decisão de compor o
Evangelho e acrescentaram, depois da expressão do v.3 pareceu bem a mim, a frase e ao Espírito
Santo, que é uma imitação de At 15:28.
Algumas alterações foram feitas por preconceitos raciais dos cristãos para com os judeus. O
texto de Mc 1:21 reza: ... a quem chamarás Jesus: porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.
Certo escriba, que escreveu determinado MS do Novo Testamento no Antigo Siríaco, substituiu a
expressão seu povo, que claramente se referia aos judeus, por o mundo, ficando assim o texto: porque
ele salvará o mundo dos seus pecados
Correções Exegéticas  Quando o copista ou revisor colocava os olhos numa passagem de
difícil interpretação, frequentemente tentava completar seu sentido, tornando-a mais exata, menos
ofensiva ou obscura. E este fato aponta muitos lugares onde o original foi alterado através de
interpolações e supressões de toda sorte.
Este é um caso curioso de interpolação: em Mt 26:15, onde os principais MSS falam em trinta
moedas de prata, os escribas dos MSS 05, a, e b, acharam que deveriam aclarar um pouco mais o
sentido, definindo o tipo de moeda de que se tratava, e mudaram o texto para trinta estateres. Logo
depois, outros escribas dos MSS 1, 209, h, que conheciam os dois textos, juraram-nos produzindo
trinta estateres de prata.
Outros escribas tinham tendência para suprimir. É o caso do que redigiu o Códice Sináitico, e
do texto que Eusébio usou, que em Mt 23:35, onde Zacarias é mencionado, deixou de lado a
expressão filho de Baraquias, pois esta afirmação de Mateus parecia contradizer o texto de 2 Cr 24:20,
onde é chamado filho de Joiada. O escriba do Evangelho Apócrifo dos Hebreus fez, no mesmo lugar,
harmonização ao texto de Crônicas, escrevendo, em lugar de filho de Baraquias filii Jojadae.
Outro fato curioso é o acréscimo, por alguns MSS respeitáveis 04, 038, Sy 8 e os Bizantinos,
após a frase de Mt 9:13, não vim chamar os justos, mas os pecadores, a expressão, para o
arrependimento, tomada de Lc 5:32, pois lhes parecia sem sentido a frase de Jesus terminando tão
bruscamente.
Acréscimo de complementos naturais e de correções ou escritas marginais  Muitos eram os
escribas que não toleravam ver a palavra sumos sacerdotes sozinha sem lhes acrescentar o
complemento natural e os escribas vários MSS Bizantinos, como em Mt 26:2, ou ainda, como os
escribas do Códice Beza, alguns da Velha Latina e da Sy 8 , que não resistiram a tentação de
acrescentar depois de escribas em Mt 27:41, fariseus, como se esses elementos andassem sempre
juntos.
Kuno Meyer conta um fato curioso, que ilustra o processo de corrupção, embora o caso seja
recente e não afete o texto propriamente dito do Novo Testamento. Seu mecanismo, no entanto,
embora cômico, revela o processo. Nas margens de um MS latino do novo século, do comentário de
Cassiodoro sobre os Salmos, algumas anotações têm esta sequência: Está frio hoje, É natural,
estamos no inverno, A lâmpada dá-nos pouca luz, Já é tempo de começar a trabalhar, Este
pergaminho é certamente pesado!, Bem, eu diria que este pergaminho é fino, Sinto-me atordoado hoje.
Não sei o que há comigo.
Naturalmente, os monges que faziam essa cópia e a encheram de trivialidades eram proibidos
de falar enquanto escreviam no escritório. Havia pesadas penas para os infratores. Não querendo
incorrer em faltas e receber o devido castigo, lançavam mão desse artifício.

279
Outro exemplo que, embora não guarde características tão hilariantes, não deixa de ser
curioso, é o de uma nota marginal do MS 028, onde o companheiro de Cleopas na estrada de Emaús
Lc 24:18 é Simão: O que ia com Cleopas era Simão, não o Pedro, mas o outro. Mas o Códice 031 tem
uma nota marginal no mesmo local que reza: O que estava com Cleopas era Natanael, como o Grande
Epifânio disse no Panarion. Cleopas era primo do Salvador, o segundo bispo de Jerusalém.
Correções Geográficas e Históricas  Um dos corretores do Sináitico, do MS 019 e alguns
outros mudaram a hora sexta de Jo 19:14 para hora terceira, por achar que Mc 15:25 ou a tradição
corrente era mais certa. Muitos outros exemplos podem ser encontrados na bibliografia especializada.
Os próprios títulos dos livros do Novo Testamento foram objetos de correção ampliação. Os
MSS 14,17,91 e 97 trazem o título do último livro do Novo Testamento assim: Apocalipse de João, o
Teólogo. Outros MSS como 1,25,28 e outros, prefixam a João a palavra santo e outros ainda
evangelista ou apóstolo, com as duas palavras juntas.
A impressão que este capítulo pode deixar na mente do principiante é desoladora. Entretanto,
há evidências, do outro lado, de escribas cuidadosos, excessivamente cuidadosos como os que
produziram o papiro Chester Beatty em Paulo, os Códices Sináitico, Vaticano, o original do Códice
Beza, o cursivo 33 e tantos outros. Há obras especiais que demonstram este aspecto positivo do
problema, não há necessidade de nele deter-se.

280
Lição 3
8. Metodologia da Crítica Textual

O estudante acaba de ver, metodicamente apresentadas as múltiplas e variadas formas que a


corrupção textual tomou nos primeiros séculos da transmissão do texto do Novo Testamento.
Naturalmente a critica verbal ou o estudo do que se chama enfermidade do texto é, muitas vezes,
impotente para fazer seu diagnóstico. Outrossim, a história do texto, que é também a história da crítica
textual, revela os mais variados processos empregados pelos eruditos para alcançar os objetivos da
própria crítica textual. Muito desta história revela o que não se deve fazer, enquanto outra parte
apresenta aspectos positivos, que se mantém úteis ao crítico moderno.
Esta é uma ciência diferente da matemática e por isso, os métodos estatísticos são suspeitos,
onde o bom senso e a acuidade intelectual do crítico julgam melhor que a técnica mais avançada,
embora o crítico não possa descansar só no bom senso, esquecendo a vasta erudição que a ciência
requer, bem como a aplicação consciente de sua própria metodologia. Nessa altura valem as palavras
de um dos maiores críticos da atualidade: O crítico deve estar sempre pronto para revisar seu
julgamento. Deve sempre suspeitar do texto, mas deve suspeitar ainda mais de suas próprias
conclusões. Kirsopp Lake
O processo de recessão e emendas é o método usado em geral, pelos críticos editores dos
clássicos greco-latinos. Este método teve inicio durante o período renascentista, quando surgiram
decretos papais apócrifos e muita história da Igreja que era espúria. Na segunda metade do século
XVII nasce a paleografia, que se constituiria em ciência auxiliar, básica e indispensável à crítica
textual.
No séculos XVIII e XIX surgem na Alemanha as primeiras edições dos clássicos editadas sob o
signo da nova metodologia clássica, e é o nome de Karl Lachmann 1793 – 1851 que se projeta, pois,
tão conhecido dos estudantes o texto do Novo Testamento, foi quem mostrou que, pela comparação
dos MSS, é possível inferir-se quais foram seus desaparecidos ancestrais, sua condição é até mesmo
sua paginação. Lachmann é o precursor do chamado método genealógico, que consiste em síntese,
no seguinte processo: suponha-se sejam dados cinco MSS de um livro antigo que pode ser também o
Novo Testamento e, em certo parágrafo, dois deles concordam em omitir determinada sentença que
está presente nos outros três, deduz-se então, que um ancestral comum aos outros três adicionou.
Suponha-se, no entanto, que os cinco MSS possuem muitos lugares comuns que podem ser
considerados de um mesmo grupo, sendo que o ancestral do grupo de dois é 02 e o ancestral do
grupo de três é 03. Pela comparação destes dois, que não são iguais, que derivam de uma mesma
fonte. Chaga-se a conclusão de que A e B têm um ancestral comum, X e assim, tem-se traçado a
genealogia dos cinco ou reconstruída sua família. De acordo com Lechmann e sua escola, para se
encontra o melhor e mais antigo texto de qualquer obra, a única coisa a fazer é traçar sua arvore
genealógica, alcançando, afinal, seu arquétipo.
Léon Vaganay declara: para se aplicar ao texto do Novo Testamento, este sistema é
impraticável.
Albert C. Clark, que publicou seu primeiro trabalho em 1914, sugere outro princípio, baseado
no mesmo processo genealógico. Clark, examinando os clássicos, chegou à conclusão de que as
omissões acidentais eram faltas mais comuns nos escribas que as interpolações. Baseado neste
princípio, que expõe em longo trabalho e que aplica no livro de Atos dos Apóstolos e também nos
Evangelhos, chegou a conclusão de que o texto Ocidental é o melhor e mais próximo dos autógrafos.
Em Atos, onde 05 é bem mais longo que os outros MSS, Clark, chega à conclusão de que o próprio
Lucas foi o autor de duas edições de Atos, uma delas mais longa 05 a outra mais breve 03. E com isso
Clark rejeita as conclusões de Westcott e Hort a respeito da pureza de B.
O francês Dom Henri Quentin, trabalhando no texto da Vulgata Latina, cria um método novo,
que não levou muito tempo para ser rejeitado: é o método estatístico, que é outro aspecto do processo
genealógico de Lchmann.
Este método foi logo abandonado e nenhum dos modernos críticos, nem mesmo considerando
a presente era como a dos computadores eletrônicos, encontra nele qualquer atrativo. Ninguém pode
aplicar cegamente um método matemático a uma ciência em que, para a identificação de cada número
que forneceria dados a esse processo estatístico, o crítico tem que usar seu juízo em uma série de
conhecimentos colaterais não aferíveis matematicamente.

281
Nenhum estudante pode deixar de conhecer a teoria de B. H. Streeter, dos chamados textos
locais. Em resumo, é esta sua teoria: tomando os fundamentos lançados por Westcott e hort e a luz de
aquisições posteriores, ele enfatiza a importância de se isolarem os textos que eram usados nos
diferentes centros do cristianismo antigo. Usando as citações do Novo Testamento encontradas nos
escritos da Igreja, identifica as formas peculiares do texto do Novo Testamento que se desenvolvem
nos principais centros do cristianismo por volta do ano 200, e é refletida nas antigas versões.
Examinando o Códice Korideto e as citações de Orígenes e Euzébio, revela a existência de um
outro tipo de texto que denomina Cesareense, além das três formas já mencionadas. Do mesmo tipo,
diz Streeter, é o texto dos MSS representados pela Família 1 e Família 13. Para ele os tipos Neutro e
Alexandrino são combinados em um só tipo, o Alexandrino. E o que os críticos chamam de Sírio, ele
denomina de Bizantino, que representa a recessão de Luciano no começo do quarto século e foi
adotado pela Igreja em Constantinopla no ano de 380. Streeter diz que as passagens que representam
modificações feitas depois do quinto século podem ser postas de lado, exceto quando divergem do tipo
Bizantino. Os MSS não dependem tanto de sua idade quanto da conexão genealógica.
Olhando para o gráfico de sua teoria, observa-se que os textos locais usados nos cinco centros
do cristianismo de então, Alexandria, Cesareia, Antioquia, Itália-Gália e Cártago, relacionam-se com as
disposições geográficas do mundo mediterrâneo, circulando-o. Cada membro dessa séria possui
muitas passagens peculiares a si próprio, mas cada um está relacionado a seu vizinho mais
chegadamente que aos membros da série , mais remotos. Assim 03 Alexandria tem muito em comum
com o 038 Cesareia; a família 038 possui muitas passagens em comum com Antioquia; por seu lado,
possui contatos com 05, b e a Itália –Gália; e , segundo em volta do circulo até o ponto de onde
partimos, K Cártago é , de algum modo, meio caminho entre 05, h e a e 03 outra vez em Alexandria.
As conclusões de Streeter oferecem três princípios que aqui são traduzidos:

a. O crítico textual, ao avaliar a soma de evidencia externa a favor de qualquer passagem,


deve considerar primariamente não o número ou a antiguidade dos MSS que a confirmam, mas o
número e a distribuição geográfica dos textos locais aos quais a passagem pode ser relacionadas.
b. Como consequência, os MSS devem ser citados não em ordem alfabética ou numérica, mas
em grupos correspondentes aos textos locais que representam. Quando pelo menos três dos principais
representantes de qualquer texto local confirmam uma passagem, pouco mais se obtém pela citação
de MSS adicionais que normalmente confirmam o referido texto, local.
c. Embora nos pequenos pontos de uma passagem em que há duvida, a certeza absoluta seja
impossível, o texto dos evangélicos pode ser alcançado, de vez que a insubsistência de modificações
ou interpelações é garantida pela concorrência de diferentes linhas de evidencia antiga e
independente.

Evidência Externa
a. A Antiguidade do texto de um MS é mais importante do que a Antiguidade do próprio MS. O
valor de alguns MSS minúsculos, como, por exemplo, 33, é maior que o de muitos unciais, embora
mais antigos.

b. Os MSS devem ser avaliados e não contados. A relação genealógica e o tipo de texto
devem ser considerados.
c. A distribuição geográfica dos MSS deve ser levada em conta, pois MSS remotos
geograficamente são geralmente independentes. Entretanto, o crítico deve estar de sobreaviso para o
caso da influência de textos incorretos verificada tanto em Roma como em Antioquia da Síria.
d. A tradição indireta também deve ser notada: as versões e as citações dos escritores antigos.
Algumas versões são mais velhas que muitos MSS e muitas citações patrísticas podem ser dadas com
precisão, possibilitando assim a formação da historia de determinadas passagens, e esta reconstrução
é básica para um sólido julgamento.
e. Ao se considerar a evidência patrística, deve-se levar em conta a teologia do autor ou sua
filiação religiosa.

Evidência Interna
a. O texto mais difícil deve ser o preferido. Este Mais difícil não é para o crítico, mas para o
escriba, que seria tentado a emendá-lo. Texto mais difícil é também conceito relativo, pois essa
dificuldade pode ser tal que só poderia ter surgido por um acidente de cópia.

282
b. Identidade de textos, particularmente nos erros, implica identidade de origem.

c. O texto mais curto deve ser preferido, amenos que seja breve ou por que o escriba omitiu
material que lhe parecia supérfulo, contrário a sua fé, ao uso litúrgico ou a uma prática ascética.
d. Textos que trazem as marcas de aperfeiçoamento estilístico, ou outras melhoras, são
suspeitos.
e. Desde que os escribas tinham a tendência de harmonizar passagens divergentes às
passagens paralelas, o texto em desacordo deve ser preferido.
f. A passagem que melhor se harmoniza com as tendências características do autor deve ser a
preferida.
g. Deve ser preferida a passagem que melhor explica a origem de todas as outras variantes.
h. Deve ser preferida a passagem que melhor se harmoniza com o estilo e o vocabulário do
autor através de toda sua obra.
i. Deve ser levada em conta a base aramáica do ensino de Jesus.
j. A prioridade do Evangelho de Marcos sobre os outros deve ser considerada.
k. A influência da comunidade cristã primitiva sobre a formulação e transmissão da passagem
em apreço não pode deixar de ser considerada.

Nem sempre todos esses critérios podem ser aplicados a determinado caso. Algumas vezes a
prioridade deve ser dada a determinada evidência sobre outra e a ordem acima não é uma ordem de
importância, mas de simples enumeração de princípios.
A crítica textual é ciência e arte ao mesmo tempo e cada crítico avaliará a seu modo as
evidências que possui. Entretanto a observação dos cânones normais da crítica textual só permite
distância mínima nas conclusões finais.
É indispensável ao crítico, um conhecimento de grego, latim, bem como de história das
doutrinas, da teologia e tendências do autor com quem se está tratando.

283
9. Análise Textual

Cl 2:2 Metzger
De todas as cartas atribuídas a Paulo, sua Epístola aos Colossenses contém
proporcionalmente o maior número de problemas textuais. O final de Cl 2:2 apresenta, a primeira vista,
interessante variedade de textos. Os MSS expõe quinze diferentes conclusões da frase  
  para o conhecimento do mistério ... .

A - 1    P46 , 03, Hilário de Poitiers.


2   Ha , Pa ; 69, 424**, 436, 462,1912, Sahídica Beatty MS
3   1462
4      05; d, Agostinho
5       Etiópica
6      33, Clemente
7       Armênia
8     Cirilo de Alexandria

B - 9     216, 440


10      92, 04, Sahídica, Bohaírica
11       Syc , Syh
12       441, 1908, SyP , Crisóstomo
13        Vulgata, Bohairicacodd, Pelágio
14          1 MS da Vulgata
15        05 p c, 07p, 017p, 019p, a maioria dos MSS minúsculos,
Teodureto etc.

De todas essas, variantes, a que foi colocada em primeiro lugar deve ser a preferida, com base
tanto em considerações externas como internas. Externamente é confirmada pelos melhores e mais
antigos MSS gregos; internamente, a dificuldade de interpretar o significado da expressão 
    levou os escribas à multiplicação do texto numa tentativa de lhe clarear
o sentido. Expediente óbvio foi a inserção da palavra , este acréscimo aparece em sete das
variantes as agrupadas em 03. A inclusão do artigo antes de  variantes 10 a 15 é devida ao
interesse de fazer a expressão paralela a  .
A variante que aparece em último lugar na lista é o texto que se traduz na KJV – King James
Version – por o mistério de Deus, e do Pai, embora confirmada pelo maior número de testemunhas, é
também a mais fraca, pois é a reunião de dois tipos de melhora representados por 11 e 12. Se a
variante 9 fosse a original, então o aparecimento de todas as oito grupadas em A seria inexplicável,
pois porque  deveria ter desapercebido?
Pelo contrário,  foi incluído afim de clarear a relação sintática entre  e  pois
a variante 1 poderia significar o conhecimento do minério do Deus-Cristo, ou o conhecimento do
ministério do Cristo de Deus, ou o conhecimento do ministério de Deus, Cristo. Além da inclusão de
 variantes 9 a 15, varias outras tentativas foram feitas para explicar as relações de  e
 4 a 8. O escriba responsável pelas variantes 2 e 3 procurou eliminar a dificuldade de um ou do
outro ou dos dois genitivos, e para a confirmação de 3 o escriba poderia indicar Efésios 3:4 como
precedente:   . A variante 4 dá-nos o que parece o sentido exato, sugerindo que
na variante 1 a palavra  é explanatória de    . Talvez, ao ditar a Epístola,
o autor tenha separado a palavra  da frase precedente por uma pequena pausa para
respiração, que pode ser representada na escrita moderna por vírgula.
Assim, é possível explicar a origem de todas as outras variantes, na suposição de que o texto 1
é o original, mas este texto não pode ser explicado como derivado de nenhum outro. Desde que as
evidências externas de 1 são as melhores, tanto quanto à idade como quanto ao caráter, pode-se
concluir que   é a mais antiga forma de texto preservado entre todas as variantes.

Lc 10:1,17 Metzger

284
Diz Lucas que Jesus enviou setenta ou setenta e dois discípulos? A evidência assim se
apresenta:
 P 45 evidência só o v. 17, 02, 04, 019, 032, 037, 038, 039, 040, fam. 1, fam. 13, a
maioria dos minúsculos, f, q, i evidência só o v.1 Sy c , v.17 Sy p h pal , Cop bo , Got, Irin, Tert, Clem, Orig,
Eus, Ambr, Jer;
  P 75 , 03, 05, 021 só verso 1, 0181 só v. 1 a, b, c, d, 1, r s , Vulg. Sy a c v.1
h mg
v.17, Cop.as , Georg. 1,2, Diatess, Efraim, Holandesa, Persa, Italiana Orig, Aug, Ambrst;

A evidência externa está quase que igualmente dividida. Os principais representantes dos
grupos Alexandrino e Ocidental, como a maioria da Velha Latina e da Siríaca Sináitica, confirma o
texto setenta e dois. Por outro lado, outras evidências Alexandrinas, relativamente de grande peso, 01,
019, 037, 039, 040, bem como testemunhas Cesareenses P 45, fam. 1, fam. 13 agregam-se para
confirmar o texto setenta.
O fator relacionado com a avaliação das evidências internas quer envolvendo probabilidades
transcricionais, quer intrínseca, são singularmente indistintos. É provável que na maioria dos antigos
MSS como o P45 e P75 o numeral tenha sido escrito com letras do alfabeto  ou . Era fácil para
qualquer dos números ser acidentalmente alterado para igualar-se ao outro. Se a variação foi feita
deliberadamente, pode-se imaginar que um escriba Alexandrino com tendências matemáticas alterou
setenta para setenta e dois por haver considerado isto um caso de simetria erudita. Por outro lado, se
a alteração foi feita inconscientemente, é mais provável que o número indicado tenha sido
transformado num número redondo setenta do que o solene número setenta e dois. Aqueles que
transmitiram a narrativa antes de sua inclusão em Lc 10, poderiam ter desejado atribuir-lhe significado
simbólico no número dos discípulos e é fácil encontrar paralelo nas antiguidades judaicas para setenta
ou setenta e dois. Setenta anciãos foram nomeados por Moisés para assisti-lo Nm.11:16,17,24,25;
houve setenta filhos de Jerubaal Jz.9:2; setenta filhos de Acabe 2Rs.10:1 e setenta sacerdotes de Bel
Bel e o Dragão, v.10.
Por outro lado, de acordo com a carta de Arísteo , setenta e dois anciãos seis de cada uma das
doze tribos foram escolhidos para preparar uma tradução grega da torá a Septuaginta, e no terceiro
livro de Enoque o número dos príncipes do reino celestial é setenta e dois, correspondendo às
setentas e duas línguas do mundo 17:8; cf. 18:2ss; 30:2
É, no entanto, muito difícil calcular-se qual o simbolismo que estava nas intenções de Lucas. Se, por
um lado, a missão desse grupo de discípulos é para ser entendida como dirigida à Israel, o número
poderia ter sido escolhido como múltiplo das doze tribos de Israel por outro, desde que vários autores
do Novo Testamento pressupõe paralelo entre Jesus e Moisés, é possível que este grupo de
discípulos de Jesus correspondesse aos setenta anciãos de Israel. Paralelamente colocadas, é muito
difícil dizer-se qual destas duas possibilidades é a mais provável.
Uma vista total das evidências externas e internas que se relacionam com essas variantes
revela indecisão. Embora o texto setenta e dois seja confirmado por uma combinação de testemunhas
antigas que normalmente possuem alto grau de convicção e originalidade, a diversidade de
testemunhas que trazem setenta é tão pesada e as considerações internas são tão equilibradas que o
crítico textual deve simplesmente reconhecer sua incapacidade de decidir com segurança entre as
duas variantes. Se alguém está preparando um texto grego de Lucas talvez a resolução menos
insatisfatória seria o recurso do parêntese que é sempre uma confissão tácita de incerteza do editor e
imprimir   .

Rm 5:1. As variantes textuais desta passagem dizem respeito tão somente ao verbo  , e
assim se mostra o apparatus criticus:
 - ind. - 011 , 033 , 010, 012, 025, 0220;
 - sub. - 01*, 03*, 02, 04, 05, 08, 018, 020, Chr., Or lat. et al, Cop. bo, Sy h1 .
Crítica externa  Quantitativa e qualitativamente as evidências externas parecem favorecer o
subjuntivo. No entanto, descoberta recente, a do fragmento de MS 0220, vem suprir o que falta a P 46 ,
que começa em 5:17. Este MS, cuja leitura é dificultada pelo estado em que se encontra, parece
indicar que o verbo está escrito com ômicron e não com ômega, sendo no caso, um indicativo e não
subjuntiva como explicam os escribas primários do Sináitico e Vaticano. Note-se, também, que os
corretores 1 do Sináitico e 3 do Vaticano conheceram um MS com o indicativo na qual se basearam
para sua correção. É possível que esse MS de que aqueles corretores fizeram uso houvesse
procedido do mesmo arquétipo de onde o escriba do 0220 transcreveu seu texto. E embora aquele

285
arquétipo pudesse ser situado no segundo século quem sabe em seus meados ou mesmo na primeira
metade, as evidências externas são inconclusivas.
Crítica interna  Se a teologia de Romanos e dos escritos paulinos como um todo for
examinada, poderá o crítico chegar a uma conclusão final, na qual os elementos já compulsados das
evidências externas darão sua colaboração conclusiva.
O indicativo dá ideia de algo ativo no presente, enquanto o subjuntivo é modo exortativo e que
traz em si a ideia de ação volitiva no tempo futuro. Há no subjuntivo também a ideia de ordem,
imperativa. O subjuntivo coloca o apóstolo exortando o homem justificado pela fé em Cristo a alcançar
por seus esforços sua paz com Deus. Mas isto é contra o pensamento paulino. No entender de Paulo
não há necessidade de esforços humanos no sentido de alcançar paz com Deus, pois o homem é
incapaz de realizar sua própria salvação até mesmo de manter sua paz. Cristo, e somente Cristo, é
seu salvador e só Ele é capaz de reconciliar o homem com seu Deus e lhe dar paz. Esta é a ideia do
indicativo. Jamais o apóstolo exortaria os romanos a procurar sua própria paz depois da justificação,
pois esta é obra de Cristo, já assegurada uma vez para sempre na cruz e dada ao homem com base
exclusivamente em sua fé e não em seus esforços. Uma vez salvo, já possui o homem a paz, dom
gratuito de Deus em Cristo.
Com base na teologia paulina o texto preferido deve ser aquele que traz o verbo no indicativo
presente.

Mateus 6:13b. O apparatus criticus deste texto apresenta as seguintes variantes:


1- Omitem: 01, 03, 05,035, 1, 118, 209, 1582, 130, 372, a, b, e, ff 1, g 2, h, m, aur. Vg., Orig. De
Orat. Xiii. 2, Cyp, De Dem. Orat. 7, Cyp. hr. 23.331..

Amém é acrescentado depois de sed libera nos a malo em 17vg.

2 - A doxologia aparece em várias formas como a seguir:


              .
Os MS que contém a doxologia nesta forma são os seguintes: 019, 032, 037, 038, 041, 042,
043 consensus codicum, 1182 , 22, fam.13, 543. 28. 33. 565, 700. 892 et alii.
3 - MS 157 possui o final da doxologia bem mais longo:
                 
    .
4 - A Didaquê, 8:2 traz o seguinte:
           .
5 - Nas versões cópticas sa. bo. Aliq. o texto toma a seguinte forma:
quoniam tuum est uirtus et gloria in saecula. Amen.
6 - A versão Siríaca Curetoniana tem este texto:
quoniam tuum est regnum et gloria in saeccula. Amen. A passagem tanto do cóptico como do
siríaco para o latim é artifício de que lançam mão os críticos para a exemplificação em línguas
modernas.
7 - O Códice Sangalense, o texto latino interlinear do MS Delta, tem:
quoniam tuum est uirtus et gloria et maiestas in saecula. Amen. Este MS acrescenta mais estas
aos melhores textos latinos. Entre os velhos textos latinos é o MS k que possui o texto mais curto:
quoniam est tibi in saecula saeculorum. Esta doxologia possui só um atributo em sua lista.
8 - Quoniam tuum est uirtus et gloria. Amen, aparece em g. sy. pesh., Cop. bo. Aliq.
Não considerando certos autores patrísticos de menor importância, este é o quadro do
apparatus criticus. Os melhores MSS das três famílias: Alaxandria, Ocidental e Cesareense, omitem o
final da doxologia. Os MSS 1582 e 1 são as testemunhas mais próximas dos textos de Mateus usado
por Orígenes, que omite a doxologia em apreço em seu ensaio sobre a Oração do Senhor De Oratoria,
xiii.2 . Cipriano, no terceiro século, não a usa em sua obra Demonstratio Oratoria. Um dos mais ilustre
MSS da Velha Latina, o Códice Vercelense, não contém a doxologia. Os textos em que a mesma
aparece apresentam grande variação quanto à sua forma. O Códice Bobiense k e a Siríaca
Curetoniana têm das forma a mais curta. O MS 157, que é posterior ao MS 33 o rei dos cursivos,
revela estágio posterior de desenvolvimento. Provavelmente o MS 157 encontrou seu texto na mesma
fonte do MS 33, mas o seu escriba acrescenta algo a mais que era corrente nas formas dos credos da
época. A forma que aparece em Almeida – Revista e corrigida, vem do Textus Receptus cuja
integridade é desnecessário comentar e tem como testemunhas MSS mais recentes, como pode ser

286
visto nas considerações sobre o apparatus criticus acima registradas. Além de alguns MSS de pouca
importância 019, 33, 565, etc., o texto final do verso 13, isto é, a doxologia, encontra apoio somente
em MSS Bizantinos bem recentes. Mas os MSS das famílias Alexandrina, Ocidental e Cesareense que
atestam o texto da doxologia perdem sua autoridade diante dos melhores representantes dessas
mesmas famílias que o omitem. Hort diz que a doxologia não aparece nos comentaristas gregos
exceto Crisóstomo e seus seguidores, nem mesmo nos comentaristas latinos. Ele diz que Eutímio a
descreve como uma aclamação que foi acrescentada por luminares divinos e mestres da Igreja.
Depois de uma visita de olhos pelo apparatus criticus conforme atrás foi demonstrado, o ponto de vista
de Eutímio pode ser aceito, isto é, de que a doxologia da Oração Dominical é uma inserção litúrgica
posterior para complementar a referida prece do Senhor.

E. F. Scott escreve o seguinte sobre o assunto:

Estas palavras não pertencem à oração original. Não são encontradas em nenhum MS antigo e
possuem similares em orações litúrgicas do tempo. Seu objetivo é essencialmente litúrgico. Não há
dúvida de que foi acrescentada pela Igreja, conforme a prática recebida do judaísmo de encerrar todas
orações públicas com uma solene atribuição de glória a Deus.
Era costume do judaísmo posterior acrescentarem-se as palavras: para sempre literalmente
pelos séculos a cada atribuição de glória a Deus. Isto era feito, sabe-se, como protesto contra a
heresia que negava o mundo futuro.
De acordo com o mesmo autor, das versões da Oração Dominical que aparecem em Mateus e
em Lucas, a de Mateus é a mais original. O corretor provavelmente pensou que Mateus, o Evangelho
mais comumente usado, era o que logicamente necessitava deste acréscimo litúrgico. Mas também
Lucas sofreu da parte o herético Márcion meados do segundo século, que, tentando evitar a fórmula
judaica venha o teu reino mudou-a para          .
Streeter diz que Mateus era o único evangelho usado pelo autor da Didaquê. O texto da
Oração Dominical encontrado na Didaquê, parece-nos como se seu autor não somente copiasse
Mateus, mas dá à Oração a forma na qual ela era geralmente usada na Igreja de seus dias.
A doxologia tem, naturalmente, uma base judaica: orar pela vinda do reino, afirmar que o reino
pertence a Deus somente, a exaltação do poder de Deus, o louvor a seu nome e a esperança futura,
era elementos comuns da religião judaica. As mais importantes orações judaicas, o Shemone Esreh, o
Kaddisch e o Shema, podem ser o solo no qual a Oração Dominical e particularmente sua doxologia
floresceram. A doxologia tem pontos em comum com 1 Cr 29:11 e talvez com Sl 145:11. A doxologia
começou tomar sua forma atual provavelmente no fim do primeiro século ou no começo do segundo,
como uma tendência para tornar uma realidade religiosa em sua forma devocional. 2 Tm 4:18 é, talvez
indicação de seu uso na Igreja daquele tempo. O impulso natural de encerar uma oração com
doxologia, tão importante na Igreja primitiva, possui ilustração numa doxologia paralela em latim
registrada por Ambrósio:

Per dominum nostrum J. C., in quo tibi est, cum quo tibi est, honor, Iaus, gloria, magnificentia,
potestas cum spiritu sancto a saeculis et nunc et sempre et in omnia saecula saecularum: amen.

Hort sugere que a doxologia apareceu primeiro na Igreja Síria, e depois nos textos gregos. Isto
é possível, ela aparece na versão Siríaca Curetoniana e na Didaquê, a referência extracanônica mais
antiga.
O texto de Mateus sem a interpolação da doxologia é mais simples, e está mais em harmonia
com a realidade religiosa de Jesus e a simplicidade do Mestre.
A evidência interna histórica bem como a evidência externa militam contra a inclusão da
doxologia. Os textos gregos do Novo Testamento mencionados no começo desta lição não a trazem e
só o Textus Receptus o faz, seguindo naturalmente o trabalho de Luciano.
A critica textual indica um texto grego do Evamgelho de Mateus, aonde, em 6:13, o ponto final
vem logo depois da palavra, .

Lição 4

287
10. Dúvidas e Contradições de Alguns Textos Sagrados

1. Gênesis cap. 11.5-7. Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos
dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e
isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
Problema: Deus é onipresente, isto é está em toda parte ao mesmo tempo Sl 139-710. Como
Ele pode ter descido se esta em toda parte?
Solução: Deus desceu é uma teofania, que significa uma manifestação de Deus em forma
humana ou angelical. Estas teofanias ocorriam frequentemente no Antigo Testamento. Certa vez Deus
apareceu a Abraão como homem Gn 18.2. Deus também desceu para falar com Moises Êx 3.14-18.

2. Êxodo cap. 20.13: Não matarás. Êx 21.12: Quem ferir alguém, que morra, ele também
certamente morrerá.
Problema: Na lei moral está escrito: Não mataras Entretanto como vimos acima Deus ordenou
que aquele que ferisse um homem , e esse morresse, deveria também ser morto. Isso não é uma
contradição, Deus ordena que não matemos e depois ordena que matemos?
Solução: Uma grande confusão tem surgido por causa da incorreta tradução do sexto
mandamento, que de fato dá a entender o que de fato não foi comandado por Deus. A palavra
hebraica usada na proibição deste mandamento não é a palavra usual para matar harag. A palavra
usada é o termo específico para assassinar ratsach. Uma tradução mais adequada deste
mandamento seria: Não assassinaras Ora, Êx 21.12 não é um mandamento para que assassine
alguém, mas é um mandamento para que as autoridades estabelecidas aplique a pena capital no caso
desse crime capital.

3. Juizes cap. 16. 28-30: Então, Sansão clamou ao SENHOR e disse: Senhor JEOVÁ, peço-
te que te lembres de mim e esforça-me agora, só esta vez, ó Deus, para que de uma vez me vingue
dos filisteus, pelos meus dois olhos. Abraçou-se, pois, Sansão com as duas colunas do meio, em que
se sustinha a casa, e arrimou-se sobre elas, com a sua mão direita numa e com a sua esquerda na
outra. E disse Sansão: Morra eu com os filisteus! E inclinou-se com força, e a casa caiu sobre os
príncipes e sobre todo o povo que nela havia; e foram mais os mortos que matou na sua morte do que
os que matara na sua vida
Problema: Se o suicídio é pecado, por que Deus abençoou Sansão por tê-lo cometido?
Solução: Sansão não tirou sua vida, ele sacrificou-se por seu povo. Há uma grande diferença.
Jonas orou: Peço-te, pois Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver Jn 4.3.
Nas Jonas nunca tirou a sua vida. O suicídio é um ato para si mesmo. O que Sansão fez foi entregar a
sua vida pelos outros – seu povo. O soldado que se atira sobre uma granada para salvar a vida de
seus companheiros , não esta se suicidando; ele está dando a sua vida pelos outros. De igual modo,
Cristo não cometeu suicídio, tendo ele vindo para dar a sua vida em resgate por muitos Mc 10.45.

4. 1 Samuel Cap. 18.10: E aconteceu, ao outro dia, que o mau espírito, da parte de Deus, se
apoderou de Saul...
Problema: Como Deus, sendo bom, poderia enviar um espírito maligno a Saul?
Solução: Por ser Deus absolutamente soberano, as ações de qualquer espírito maligno estaria
sujeita a sua autoridade. Portanto foi sob a permissão sua que o espírito atormentou Saul.

5. 1 Samuel 31.4: Então, disse Saul ao seu pajem de armas: Arranca a tua espada e
atravessa-me com ela, para que, porventura, não venham estes incircuncisos, e me atravessem, e
escarneçam de mim. Porém o seu pajem de armas não quis, porque temia muito; então, Saul tomou a
espada e se lançou sobre ela.
Problema: O rei Saul estava mortalmente ferido, e pediu ao seu escudeiro que o ajudasse a
cometer suicídio. Isto é justificável?
Solução: Suicídio é assassinado, e a Bíblia diz Não matarás Não importa que a vida tomada
seja o própria vida. Toda vida pertence a Deus, e apenas Ele tem o direito de toma-la. Dt 32. 39; Jó
1.21.

288
6. Mateus 27.5: E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.
Ato 1.18: Ora, este adquiriu um campo com o galardão da iniquidade e, precipitando-se, rebentou pelo
meio, e todas as suas entranhas se derramaram.
Problema: Judas morreu enforcado ou foi por ter caído em rochas.
Solução: Esses relatos não são contraditórios, mas se combinam entre si. Judas se enforcou
como Mateus afirma que ele fez. O relato de Atos apenas complementa que Judas caiu, e seu corpo
rompeu-se pelo meio, e suas entranhas se derramaram. Isso é o que se podia esperar que
acontecesse com alguém que se enforcasse numa árvore sobre um despenhadeiro de rochas
pontiagudas e sobre elas caísse.

7. João afirma: Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado 1 Jo 3.9. Mas no
primeiro capítulo ele falou com clareza que se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós
mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós 1 Jo 1.8.
Problema: João não se contradiz quando afirma que os crentes não pecam?
Solução: Em parte alguma João declara que os crentes são imunes ao pecado ou que nunca
pecam. Em 1 Jo 3.9 o verbo está no tempo presente e deveria ser traduzido da seguinte maneira:
Aquele que é nascido de Deus não peca habitualmente; ou não vive na pratica do pecado.

8. Apocalipse 16.14: Porque são espíritos de demônios que fazem prodígios ....
Problema: Os demônios podem realizar milagres?
Solução: Embora Satanás tenha grandes poderes espirituais, há uma gigantesca diferença
entre o poder do Diabo e o poder de Deus. Primeiro Deus é infinito em poder onipotente Satanás e os
demônios são limitados e finitos. Somente Deus pode criar Gn 1.1, o diabo não pode Êx 8.19. Apenas
Deus pode ressuscitar um morto, o diabo não pode. Satanás tem grande poder para enganar as
pessoas Ap 12.9 Ele é um grande mágico e tem como fazer prodígios de mentira. 2 Ts 2.9 Os
verdadeiros milagres, porém só podem ser realizados por Deus.

9. Mateus 22.30: Porque, na ressurreição, nem casam, nem são dados em casamento; mas
serão como os anjos no céu.
Problema: Jesus disse que na ressurreição seremos como os anjos no céu. Mas os anjos não
têm corpos físicos – eles são espíritos Hb 1.14. Isso, contudo não é uma contradição aos versículos
que afirmam que haverá uma ressurreição do corpo físico da sepultura? Jô 5.28-29; Lc 24.39.
Solução: Jesus não disse que seriamos como os anjos no sentido de que eles são espíritos,
mas que seremos como eles no sentido de que não se casam. Portanto, o que Jesus estava dizendo é
não no sentido de não termos corpos físicos, mas no sentido de abster-se sexualmente.

289
11. Língua do Novo Testamento

Não se pode reconstruir o pensamento cristão primitivo se não se der atenção acurado da
língua grega durante o primeiro século e se o estudante não possuir também acurado conhecimento
do significado e uso dos termos gregos pelos cristãos primitivos. Os elementos auxiliares aqui
indicados visão a uma introdução.

A Transição
Uma língua não muda instantaneamente, mas pouco a pouco, em graus insensíveis; não é
possível fixar o momento preciso quando um estágio da língua sucedeu a outro. O ático chegou ao seu
apogeu durante a guerra com os persas, com o Peloponeso e com a Macedônia, o que não dá direito
de se concluir que este apogeu começou na manhã do incêndio de Sardes e terminou no dia da morte
de Alexandre.
Assim é a língua do Novo Testamento. É difícil precisar-se até mesmo a geração em que
surgiu, pois, como toda língua, ela é um processo. O grego clássico de Homero, que vem até o quatro
século antes de Cristo, cederia lugar a forma bem mais sintética, o ático. No terceiro século a.C., o
dialeto ático já havia penetrado a língua dos jônios, na Ásia. Na segunda metade do século segundo
após Cristo, o ático já havia suplantado todos os outros dialetos.
Ptolomeu, filho de Lago, primeiro rei macedônio do Egito, introduziu o ático no país do Nilo e as
inscrições da época o revelam. Seleuco e sucessores o introduziram na Síria, e Eumenes e
sucessores no interior da Ásia Menor. Os dois grandes centros reais da época macedônia são
Antioquia da Síria e Pérgamo.
A difusão do dialeto ático é fenômeno político-cultural, uma das expressões do helenismo, que
é cultura e língua ao mesmo tempo. Com o advento de Alexandre, o Grande, as cidades estado
gregas, que se consideravam guardiãs de uma tradição cultural e linguística que não ia além de seus
muros, transformam-se com as conquistas macedônias, numa grande comunidade ou oikouméne.
A helenização lembre-se de que os gregos se chamavam helenos de toda a bacia do
Mediterrâneo até mesmo dos lugares distantes do alto Egito e além-Mesopotâmia, criou uma nova
língua que hoje os filólogos concordam possuir suas raízes no dialeto ático, já espalhado por todo o
oikouméne no tempo da grande transição: é o grego helenístico, língua comum.
Surge no primeiro século a. C. um movimento literário chamado aticismo, que consiste
essencialmente no uso de arcaísmos e formas obsoletas, tipo sofisticado de literatura. Há no Antigo
Testamento apócrifo excelente exemplo deste tipo de grego literário helenístico no livro Sabedoria de
Salomão, na Epístola de Jeremias ou no 2 o, 3o e 4o Livros dos Macabeus. No Novo Testamento,
Hebreus e Lucas são ótimos exemplos, sendo que o prólogo do evangelho de Lucas é grego literário
comparável ao de Heródoto ou Tucídides. Ao lado de Lucas, o grego do Apocalipse é inferior,
característico da koinê não-literária, língua mais vulgar.
A tentativa das pessoas cultas de manter a linguagem literária de uma época por padrões que
já estavam no passado era difícil, particularmente no período helenístico, e especialmente quando nos
lembramos de que o modelo estaria na velha Acaia e os escritores estavam na Palestina ou no Egito,
onde a língua se ia vulgarizando rapidamente e o aprendizado do grego como segunda língua, aliás,
indispensável de palavras de que não podia escapar as influências geográficas e à situação de ser o
grego falado ao lado de outras línguas, como o latim, siríaco, aramaico e etc.
Além deste grego literário helenístico, surgiu uma língua comum, que produziu também
literatura, língua a que se denominou koinê, isto é, comum.

O Grego Koinê
A descoberta do koinê.
Um grande erudito e pastor alemão, Gustav Adolf Deissmann, de Marburgo, tomando um
volume de papiros recém-publicado, repentinamente descobriu, a similaridade da linguagem de
papiros com a do Novo Testamento. Continuando seus estudos, chegou à conclusão de que as
peculiaridades do grego do Novo Testamento são devidas à sua relação com o grego coloquial
popular, linguagem não-literária do tempo, e não devido a influências semíticas ou à chamada
linguagem do Espírito Santo, argumenta usado por um autor alemão, afirmando que o Espírito Santo
muda a linguagem do homem que recebe a revelação.

290
Não se pode esquecer, no entanto, que a koinê existiu lado a lado com a língua nativa. Aquele
era um mundo bilíngue. Jesus e seus discípulos se dirigiam as multidões em grego ?, mas é certo
também que o aramaico, sua língua materna, era utilizado na intimidade.
A Carta aos Romanos é prova de que em Roma, além do latim, o grego era falado. E a queixa
de Juvenal de que Roma se tornara uma cidade grega confirma Horácio, que diz haver a Grécia
vencida submetido culturalmente o Lácio vencedor.
A obra de Deissmann foi baseada em papiros, ostracas e inscrições sepulcrais. Só os papiros
hoje publicados vão além de 50 mil. Entre os quais estão cartas de família, cartas de amor, recibos de
venda recibos de impostos, contratos de casamento e de divórcio, testamentos, escrituração de casas
de família e de templos, registro de processos e julgamento nos tribunais. A obra de Deissmann é
conhecida através de seu livro Licht von Osten, publicado em 1908, dificilmente a obra de um homem
tem sido mais decisiva e influente que a de Deissmann.

As fontes do koinê
Além da Saptuaginta e dos apócrifos do Antigo Testamento Sabedoria de Salomão, 1 o
Macabeus e outros, do Novo Testamento e seus apócrifos Atos de Paulo, Apocalipse e Evangelho de
Pedro, Didaquê, Pastor de Hermas e outros, e dos mais de 50 mil papiros já mencionados ao lado de
ostraca e inscrições tumulares, notam-se ainda as seguintes fontes para o estudo da Koinê:
 Obras de Epíteto, filósofo estóico de cerca de 60 d.C., cujos sermões foram registrados por seu
aluno Ariano.
 Escritores patrísticos.
 Escritores pagãos, embora um pouco longe, como por exemplo, Filão de Bizâncio, segundo
século a. Nomeiam-se ainda Apolodoro, Nicolau de Damasco

Características da koinê
A koinê era a língua do povo que não teve escola e que não possuía dotes literários. Não havia
língua padrão, no sentido em que, por exemplo, a linguagem de Machado de Assis representa para
nós uma época e um tipo. Variava de indivíduo para indivíduo e os autores do Novo Testamento são
testemunhas excelentes, como veremos logo a seguir.
A koinê parece ter sido a língua da experiência humana, própria para a boca do homem e da
mulher comum, cuja lógica se movia em termos não de argumentos eruditos, mas da metáfora
colorida, e cujas mentes eram ocupadas menos com o significado da vida do que com o vivê-la.
Koinê é o grego popular do período helenístico que revela vida e desenvolvimento em
comparação ao uso do passado. Este grego era vigoroso e vivo como a luta da vida de cada dia.
A koinê possuía três qualidades distintas: 1 a qualidade temporal de ser pós-clássica; 2 a
qualidade comum de não ser dialética; 3 a qualidade de ser comum no sentido cultural, de ser vulgar.
Talvez o termo que abrange áreas mais extensa é simplificação sentenças simples e curtas
note o estudante como é rebuscado e relativamente longo o prólogo de Lucas que suplantavam a
complexidade da sintaxe clássica. A glória do ático era a riqueza de conexões destinadas a expressar
as mais delicadas nuanças do pensamento nas relações das cláusulas. O mercador da praça de
Alexandria ou o soldado romano estacionando na Síria não possuíam essa habilidade. E a diferença
entre a especulação de Platão e a linguagem simples de um homem falando de um barco no mar da
Galileia; e deste, falando do barco e do campo, passa-se a outro que se endereçava ao povo na praça
do mercado das cidades grandes.
As cláusulas subordinadas cedem lugar às coordenadas e a conjunção  é a eleita. Dentre
mais de uma dúzia de meios usados pelos clássicos para expressar propósito, a koinê escolhe 
com o subjuntivo. Enquanto os clássicos possuíam mais de cem flexões verbais, a koinê as reduzia,
eliminando de vez o dual e quase liquidando o optativo, que aparece apenas 67 vezes no Novo
Testamento. A comparação entre o português analítico e o inglês sintético ilustra: o verbo desejar
possui dezenas de formas em português, e, em inglês, há só três: desire, desires, desired.
A koinê usa o presente histórico nas narrativas, o presente é usado para o futuro; o perfeito no
sentido do presente.
Prefere os superlativos aos comparativos. Há uma constante luta para uma ênfase que às
vezes é falsa, com expressões como: exatamente o mesmo, para todos e para cada um etc.
Preferência pelo discurso direto, pois as formas rebuscadas do classicismo para o discurso
indireto são desprezadas na conversação do mercado ou do lar.

291
A principal influência semítica era sintática e não era morfológica. Um só exemplo bastaria com
a referência às cláusulas coordenadas com . Neste ponto vale a menção das influências semíticas
oriundas das fontes veterotestamentárias do aramaico ou dos documentos que formam atrás da
versão grega da Septuaginta, muito usada pelos autores do Novo Testamento.

A koinê no Novo Testamento


É Blass quem afirma que a língua empregada no Novo Testamento, como um todo, é a que era
falada nos círculos inferiores da sociedade e não a língua das obras literárias. Os autores do Novo
Testamento não eram ativistas, mas, com essas afirmações em mente, ninguém deve imaginar que
eram pobres vulgares, cujas obras são composições produzidas em termos de gíria e da linguagem
pouco recomendável dos vagabundos de agora. A koinê do Novo Testamento não tinham as
qualidades artificiais sofisticadas do reavivamento ático, mas possuía todos os tons da vida do povo
em ebulição. Notem-se estas considerações de Mahaffy:
Eles escrevem um dialeto simples e rude em comparação com o grego ático usam formas que
embaraçariam os puristas que examinam os que desejam ser admitidos em Canbridge. Mais quis os
outros homens que contaram uma grande história com tanta simplicidade, em linguagem mais direta,
com mais poder? Creiam-me, o dialeto que conta tal história não é língua pobre.
O Novo Testamento usa a linguagem do povo, com dignidade, reserva e sentimento distante
das trivialidades dos papiros, embora lhes seja comum. Thayer diz: Ë maravilhosa ilustração da divina
orientação, colocando honras naquilo que o homem chama de comum
O autor de Hebreus, Lucas e Paulo mostram sensíveis afinidades literárias em seus escritos. A
parábola do filho pródigo, 1 Co.13 ou Rm.8, ou o capítulo 11 de Hebreus é literatura por excelência.
A distinção entre Epístolas Romanos, Tiago e carta Filemom, Timóteo é clara nos autores do
Novo Testamento. Harnack, num trabalho publicado em 1911, fala do ritmo, da forma poética, da
oratória real, da graça literária de 1 Co.13. Não podemos esquecer que Paulo era homem de cultura
tanto quanto era do povo.
Apesar de Deismann ser o verdadeiro descobridor da koinê, muitas vezes exagera quando
considera toda a literatura do Novo Testamento exceção, talvez, de Hebreus como expressão vulgar.
Não é sem razão que alguns filólogos alemães criticam Deismann por fazer um paralelo muito chegado
entre o Novo Testamento e os papiros não-literários.

Influências estranhas.
O livro de Atos 2:5-11 fala de mais de uma dezena de tipos estrangeiros que procuravam
Jerusalém durante as festas. A inscrição que Pilatos colocou na cruz de Cristo estava em três línguas:
grego, latim e hebraico provavelmente aramaico.
Há no grego do Novo Testamento traços hebraicos inquestionáveis. Resultam da influência do
Antigo Testamento hebraico e da Septuaginta. A tese de que os evangelhos são traduções do
aramaico não tem fundamento, mas serve para lembrar que o aramaico era a língua falada pelos
judeus da Palestina dos tempos de Jesus e teve sua influência nos escritores do Novo Testamento,
quase todos judeus. Não se pode dar ênfase exagerada a esta influência, pois os exemplos não são
muitos. Exemplos podem ser dados em Mt 19:5; Lc 1:34,42; 20:12 etc.
Moulton encontra três tipos desta influência: a palavras que refletem influência semítica; b
influência semítica na sintaxe; c semitismo resultantes da tradução do hebraico ou do aramaico para o
grego. Menciona o uso abusivo de , que se pode verificar em Marcos, por exemplo, ou a introdução
das narrativas por  . Deismann descreve os fatores desta influência como poderosos, todos
oriundos da Septuaginta.
Albrecht Ritschl diz que o Antigo Testamento é o léxico do Novo Testamento. Muito da
terminologia do Novo Testamento, em seus característicos semânticos, só pode ser explicado pelo
Antigo Testamento. A palavra  no grego clássico significava estatuto ou regra fixa.
Se olharmos para a Septuaginta, em que se traduz o hebraico Torah, veremos que o judeu
helenizado considerava a palavra traduzida para o grego não como um princípio abstrato, mas como a
revelação da vontade graciosa de um Deus pessoal a seu povo.
O verbo , significava para o grego mudança de mente ou de opinião, mas usado
pelos profetas hebreus, por João Batista ou por Jesus, queria dizer completa mudança de caráter e
disposição, abandono completo de atitude negativa para com Deus e consigo próprio e a tomada de
outra posição diferente, positiva. Esta mudança de significado é alcançada pelo conceito de pecado
dos judeus, diferentes dos gregos em tudo.

292
Algumas palavras são resultados de simples transliteração, como: ,, ,
 etc.
Os latinismos também estão presentes nos nomes de pessoas, ofícios, instituições, etc.
Exemplo: Pretório, legião, centurião, custódia, César, colônia ,libertino, flagelo, módio, sudário,
denário, etc.; bem como a tradução de várias palavras latinas.
Thayerl vê ainda a presença de outros elementos estrangeiros, como egípcios ,  ;
macedônios ; persas , ; fenícios ; cirenaicos 
A influência cristã na semântica das palavras e na sintaxe do Novo Testamento é notável.
Alguns desses novos significados têm um caráter técnico ou ritual:  para irmãos da mesma fé;
 no sentido oficial de ;  como dom de línguas; e outros termos como
, , , etc., que passaram a ter novos significados.
Os autores do Novo Testamento deram, em geral, um novo tom a seus vocábulos. Elevaram,
espiritualizaram e transfiguraram palavras então correntes, colocando velhos termos em nova
roupagem, acrescentando mais brilho a concepções já luminosas. Palavras como: , ,
, ,  transformaram-se em instrumentos de grande poder a elevar a língua do Novo
Testamento a pedestal de glória que só com o novo movimento poderia alcançar. Por exemplo:
. Nos escritos clássicos, ou mesmo no período ático, quer dizer libertação ou cessação da
guerra ou luta. No Antigo Testamento a palavra ainda guarda significado semelhante ao traduzir
Sl.29:11; 85:8,10; Is.57:19; Ez.34:25 o momento em que a ira de Deus cessa e se restaura a
harmonia entre ele e os homens. No Novo Testamento paz indica o estado espiritual de gozo ao qual a
graça e a misericórdia de Deus conduzem o homem por sua libertação do pecado. É algo que vem
depois da justificação pela fé Rm.5:1, quando cessa a ira de Deus para com o homem e,
subjetivamente, é tranqüilidade de alma que resulta de sua reconciliação com Deus Fp. 4:7; Gl.5:22.
Palavras de significação secular como , ou contendo uma conotação nacional, como
 ou , de uso diário vulgar, como  , , as partes componentes do ser humano,
como , , , receberam um novo significado ético, do qual o uso feito pelos filósofos
não é mais que pálida imagem. Até o estudante de conhecimentos gregos bem rudimentares pode
notar que palavras como , ,  no contexto dos escritos paulinos, e a palavra chave
 do querigma apostólico, alcançam uma variação cristã semântica por excelência.
Os gramáticos indicados nesta obra são unânimes em reconhecer que a sintaxe e o estilo dos
autores do Novo Testamento possuem princípios e regras que lhes são próprios, e até mesmo
desregramentos gramaticais curiosos, como no caso do Apocalipse.
A própria sintaxe cristã é diferente. A frase preposicional   envolve uso especial do
dativo. Jamais alguém no passado escreveu que estava em Moisés ou em Platão. Alguns chamam
esta construção de dativo místico , como usado pelos autores do Novo Testamento,
especialmente por Paulo e no quarto Evangelho, indica mais que confiança pessoal; é entrega total, é
união mística  .

Peculiaridades
O Novo Testamento é uma biblioteca composta de obras de dez ou mais autores. Usam a
mesma língua, mas a usam de modo diferente. Enquanto Hebreus coloca-se bem perto do grego ático
literário, o Apocalipse desce a praça do mercado para encontrar sua construção na linguagem do
vulgo.
A Epístola dos Hebreus  é escrita em estilo que está, reconhecidamente, bem mais perto do
estilo literário dos mestres da língua grega do que qualquer outro livro do Novo Testamento. É obra
distinta da prosa costumeira dos outros livros, pois sua cadência e seu ritmo são do tipo cultivado
pelos autores gregos. Isto é verificável, por exemplo, no primeiro verso, onde quatro palavras têm a
primeira sílaba com sons semelhantes, ou em 9:27, onde cinco palavras consecutivas começam com
alfa. Esse autor evita o hiato como faziam os clássicos, isto é, quando uma palavra termina em vogal,
a seguinte inicia-se em consoante e vice-versa.
Enquanto em Paulo a emoção lhe rouba o equilíbrio sintático, o autor de Hebreus sabe, ao
terminar uma sentença, como vai ser exatamente a construção da próxima. Seus parênteses são
próprios e bem colocados 3:7-11; 5:13,14; etc.
A única influência semítica em Hebreus são as encontradas nas citações do Antigo
Testamento, que, aliás, são tomadas da LXX.

293
A Epístola de Tiago  participa em muito dos refinamentos literários de hebreus. O uso das
negativas é feito nos moldes clássicos, bem como a escolha dos modos e tempos verbais.
Seu vocabulário é próprio e cheio de palavras raras e compostas, algumas das quais formadas
pelo próprio autor. Esta epístola contém setenta palavras peculiares a seu autor, enquanto Hebreus,
três vezes mais longa, só lhe excede em cerca de cem vocábulos novos.
À semelhança de Hebreus, Tiago é amigo da aliteração. Em 1:21, por exemplo, repete três
palavras ilustres, iniciadas em delta. Frequentemente, como em 1:14 ou 2:16, que são ótimos
exemplos, palavras em justaposição terminam em sílabas iguais.

O Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos  revela autor cuja pena é uma das mais
versáteis do Novo Testamento. Já se fez menção do prefácio do Evangelho 1:1-4 que representa um
período do mais puro grego como o de Heródoto ou Tucídides.
Lucas revela erudição ao empregar mais de 250 palavras novas no Evangelho e cerca de 500
em Atos não usadas em nenhum outro livro do Novo Testamento. Em sua narrativa da viagem de
Paulo a Roma revela conhecimento de termos náuticos. Os tão comentados conhecimentos de termos
médicos em Lucas não vão além dos de um autor culto de vida cosmopolita. Entretanto há pontos nas
narrativas de Mateus e Marcos que, reproduzidos nos paralelos de Lucas, revelam ponto de vista de
um médico 4:38; 5:12; 8:43 e paralelos.
Seu uso do optativo, características dos aticistas, mostra sua capacidade literária. Lucas usa
com muita propriedade os particípios em construções idiomáticas.
Repugna palavras estrangeiras como hasana, abba, gólgota etc. A palavra semítica amém, que
aparece nos outros muitas vezes, sugere só seis vezes neste Evangelho. Mas Lucas é amigo de
hebraísmos na sintaxe, como por exemplo, o uso de   no início das narrativas.

A Primeira Epístola de Pedro  a língua está mais próxima da literatura ática do que da
koinê. É interessante notar que o estilo próprio desse autor se ressalta até mesmo na construção que
imprime nas passagens que cita da Septuaginta. Usa o artigo de modo tão elegante como nenhum
outro no Novo Testamento. Embora pequena a Epístola, seu vocabulário é numeroso e próprio. Usa
poucas conexões, arranjos tão próprio das frases áticas. Sua linguagem idiomática é correta.
As Epístolas e Cartas de Paulo  a literatura clássica teve pouca ou nenhuma influência,
seus escritos estão vestidos na roupagem própria da koinê. Embora cite ocasionalmente da Bíblia
hebraica, é, no entanto, a Septuaginta que exerceu sobre seu uso do grego a mais poderosa
influência.
Muitas vezes Paulo arranjava seus argumentos na forma retórica de diálogo entre perguntas e
respostas, haja vista 1o Coríntios. Nessa discussão ideal, criada pelo apóstolo para efeitos retóricos,
encontra-se muitas vezes Paulo reagindo de maneira violenta com a expressão que lhe é bem
característica:   Deus tal não permita, de modo nenhum.
Como Paulo sempre ditava suas cartas, seu estilo é mais de conversação do que
deliberadamente polido. Muitas vezes parece que algo aconteceu a certa altura de uma de suas
cartas, que não só o estilo mas, também a sequência, revelam certa descontinuidade !!!. E que, depois
da interrupção de uma hora, um dia, ou dez dias, volta ? a ditar. Também diferentes escribas que
serviam ao apóstolo faziam variar seu estilo ?.Algumas vezes o grego coloquial de Paulo se eleva a
alturas de um estilo dinâmico da envergadura de Platão em Fedro. É o caso de Rm 8:31-39 e 1 Co 13.
A linguagem de Paulo é tão agitada e variada como se fora a encarnação de sua fervente
personalidade ?.
Evangelho e Epístolas de João  possui uma linguagem, diz Metzger, cuja simplicidade e
grandeza não têm rival em nenhum outro livro do Novo Testamento. Embora seu vocabulário seja
menor do que o dos outros Evangelhos, seu uso de palavras e frases através do expediente simples
da repetição é impressivo e majestoso.
Suas palavras chaves são:  , ,  , , , , .
João tem certa predileção de combinar expressões positivas e negativas, como em 1:3, 20; 2:25; 3:16
etc. Suas cláusulas são coordenadas com , geralmente, mas algumas vezes sem qualquer
conectivo.
Escreve grego puro no que diz respeito ao vocabulário e gramática, mas muitas vezes coloca
suas ideias em moldes judeus, como por exemplo regozijar-se com gozo 3:29, ou no uso do verbo
 para designar a mais íntima união entre Deus e o homem. João gosta do perfeito grego, pois
lhe serve ao propósito de enfatizar as consequências permanentes da obra e das palavras do Filho de

294
Deus. Suas frases curtas, como em 11:35 Jesus chorou, ou em 8:12 Eu sou a luz do mundo,
representam algo peculiar a seu estilo. Parece que João quer indicar que, quanto mais curtas, mais
enfáticas e poderosas. Seu tipo espiral de raciocínio, como na alegoria do Bom Pastor, por exemplo,
quando o autor volta à afirmação inicial mais de uma vez, querendo assim reafirmar, é não só reflexo
hebraico, mas também peculiaridade do Evangelho e de 1 João.

O Evangelho de Mateus  situa-se entre o grego superior de Lucas e o vulgar de Marcos.


Não há nada de peregrino em sua linguagem e seu estilo é menos individual. Mateus revela mais
cuidado que Marcos no uso daquilo que os aticistas chamam de barbarismo. Muitas vezes, ao usar o
material de Marcos, Mateus melhora seu estilo e vocabulário. Por exemplo, ao vulgar  de Marcos,
Mateus opõe o vernacular .
Mateus, seguindo a linha rabínica contemporânea, aprecia os arranjos aritméticos de seu material em
grupos de três: há três divisões na genealogia de Jesus 1:1-17; três tentações 4:1-11; três
determinações 7:7; três milagres de cura 8:1-15; três milagre de poder 8:23 – 9:8; três parábolas de
semeadura 13:1-32; três orações no Getsêmane 26:39-44; três negações de Pedro 26:69-75; três
perguntas de Pilatos 27:11-17, entre os múltiplos exemplos. Usa também o número sete, como as sete
cláusulas da Oração Dominical 6:9-13; sete demônios 12:45; sete parábolas 13; sete pães 15:34; sete
irmãos 22:25, entre outros exemplos.
Embora Papias faça referência à tradição de que Mateus foi escrito em hebraico aramaico, os
filólogos modernos afirmam sua composição em grego, incorporando material originalmente em
aramaico.

Marcos  é escrito num grego coloquial, sem qualquer polimento. Recebeu forte influência da
sintaxe hebraica, que se caracteriza pelo uso excessivo da conjunção . Doze de seus dezesseis
capítulos começam com essa mesma conjunção. No texto de Westcott-Hort, nas 88 divisões de
Marcos, 80 começam com . Seu vocabulário é limitado. Tem rara predileção por negativas e
diminutivos.
Embora o mais pobre dos evangelistas, não pode ser considerado sem preparo, pois seu estilo
elocução é vigoroso. Embora reflita grande número de aramaísmos, revela o autor domínio da koinê
popular, e, considerando-o o primeiro evangelista, é o criador original de novo tipo de literatura. Outro
sim; embora os versículos 9-20 do capítulo 16 faltem em dois dos manuscritos gregos mais antigos,
eles constam de outros manuscritos antigos, bem como da vasta maioria dos manuscritos gregos
provenientes de todas as partes do mundo antigo. Daí, muitos doutores da Bíblia concluírem que um
texto atestado pela maioria dos manuscritos antigos é sem dúvida parte do texto original do escritor
bíblico. Noutras palavras, devemos ter Mc 16.9-20 como parte integrante da Palavra inspirada de
Deus.

O Apocalipse  está situado no nível literário mais baixo do Novo Testamento. Embora sua
linguagem seja inferior, há rastros de eloquência poética neste livro 4:11; 5:9.10; 7:15-17 etc.
Thayer diz que seu desvio das leis ordinárias da construção grega é tão atrevido e caprichoso
aponto de levar à indagação de ser a obra, ou pelo menos algumas partes, não é reprodução
mecânica de um original aramaico.

O Grego Bizantino e Moderno.


A língua grega, como toda língua, tem sua história, seu processo de evolução. Do antigo
período, clássico, do qual Homero é a máxima expressão literária, entrou o grego em seu período
helenístico, em cuja época o esforço aticista tenta retornar ao passado em preservação purista,
pedante, mas que também se expressa em termos mais populares, embora guardando as
características vernaculares, época essa bem representada nos autores sagrados do Novo
Testamento e em alguns apócrifos do Antigo Testamento e da qual no mundo profano Epíteto é boa
amostra.
O processo de simplificação da koinê helenística prosseguiu através dos séculos. Do começo
do sétimo século ao fim do décimo primeiro, a cultura estava em seu nível mais baixo e, como
consequência, perde muito de seu caráter original. A sintaxe sofre muitas mudanças e o grego, como
foi acontecer em período idêntico na história de outras línguas, recebe somas apreciáveis de palavras
importadas, que se incorporam a seu vocabulário.

295
Depois do começo do século XI, inicia-se o período de estruturação do grego moderno, como
desenvolvimento natural da koinê. A forma coloquial do grego moderno falado em Komotini ou Verria,
pequenas cidades do interior da Grécia, é forma em que as velhas flexões verbais foram grandemente
modificadas ou eliminadas. Por outro lado, a linguagem universitária da Atenas de hoje tem-se
assimilado às formas antigas de modo que Demóstenes ou Heródoto poderiam entender o grego de
um escritor ateniense moderno, embora na conversação muito da pronúncia deste século lhes soasse
estranhas aos ouvidos.
Enquanto o latim, depois de passar pelas variações mais estranhas que uma língua pode
apresentar, desaparece por fim, o grego possui história contínua que o trás desde o período dos
cantores ambulantes pré-homéricos até nossos dias.

296
Bibliografia

Walter, A. Elwell, Histórico Teológico da Igreja Cristã, Vida Nova, 1988.


Bittencourt, B. P., Novo Testamento, Metodologia da pesquisa textual, JUERP,1995. VVAA,
Método Histórico Crítico, Centro Ecumênico de Documentação e Informação.
Douglas J. D. O Novo Dicionário da Bíblia, Vida Nova, 1990.
Manual popular de dúvidas enigmas e contradições da Bíblia de Tomas Howe e Normam Geisler.
CETEMIT- Centro Educacional de Teologia e Missões Transculturais.

Direitos Reservados.
É proibida a reprodução total ou parcial deste material,
por quaisquer meios ou sistemas, quer a título gratuito ou lucrativo,
sem a autorização prévia por escrito da entidade. A violação dos direitos autorais está sujeita às
penalidades legas, civil e penal-
ARTIGO 184 DO CÓGIGO PENAL.

297
Grego

298
Lição 1
Introdução

Durante o período clássico a língua grega era dividida em dialetos, sendo os principais o
Dórico, o Aeólico e o Iônico. No quinto século a.C., uma divisão do Iônico, o Ático, Alcançou
supremacia sobre os outros. O Ático era a língua de Atenas durante o seu período de glória; era a
língua de Platão, Demóstenes e outros grandes escritores. Atenas foi conquistada por Filipe,
macedônio, e o grego também conquistou os macedônios. A conquista de Alexandre significou a
conquista do Ático. Os Romanos conquistaram o mundo, mas também adotaram o grego como a
principal língua do império, seguida pelo Latim.
O grego sofreu uma grande adaptação a nova situação, recebendo influências de outros
dialetos gregos, bem como das línguas estrangeiras conquistadas. Esta nova língua chamava-se
KOINÊ ou Comum por ser a língua comum no mundo civilizado. A Septuaginta, O Novo Testamento e
documentos dos Pais da Igreja mostram que o Koinê era a língua usada em 300 a.C., até 500 d.C. O
Koinê do Novo Testamento é mais similar a língua falada da época do que a língua usada na literatura
clássica da época.

Alvos do curso
1. Reconhecer e recitar de memória as terminações gregas ensinadas neste módulo. As
terminações ensinadas neste módulo incluem alguns verbos, nomes, pronomes e adjetivos.
2. Entender e discutir os conceitos gramaticais e construções características da língua grega.
Isto inclui tempo, voz, modo, gênero, número, caso, etc.
3. Usar os diversos recursos disponíveis para fazer a exegese de um versículo no texto
original. 4. Recitar de memória e traduzir palavras gregas para o português e
vice-versa.

Tema 1 matema eij Alfabeto/Vogais/Ditongos/Aspiração/Pontuação


OBJETIVOS:
1. Recitar e escrever o alfabeto grego de cor.
2. Distinguir as vogais longas e breves.
3. Reconhecer e pronunciar os ditongos gregos.
4. Usar e pronunciar os sinais de aspiração.
5. Reconhecer os sinais de pontuação.

I – O alfabeto
Maiúsculas Minúsculas Nome Pronúncia
A a Alfa a em mar B b Betha b em boi G g Gama g em gato
D d Delta d em dado E e Épsilon e em até Z z Zeta z em prazo
H h Êta e em vê Q q Theta th em inglês I i Iôta i em mim
K k Kapa c em cá L l Lâmbda l em lá M m Mü m em mata
N n Nü n em nada C c Xi x em sexo O o Ómicron o em nó
P p Pi p em pó R r Ro r em rato S s-j Sigma s em sim
T t Tau t em tem U u Üpsilon em francês som F f Fi f em Faraó
X x Qui j espanhol ch alemão. Y y Psi ps em psicologia W w Ômega o em dono

Observações:
a. Este j é usado sempre no final de uma palavra; em outros lugares use o s.
b. O g antes de g, k, x é pronunciado como ng. Ex: aggeloj – anguelos.
c. Uma palavra grega tem tantas sílabas quantas vogais ou ditongos. Ex: e-la-bon, mar-tuj, yu-
xh, gi-nws-kw.

II – As vogais
Breve Longas
aa eh ow ii uu

299
OBS: O a, i, u podem ter pronúncias breves ou longas. O a e o u têm sons longos quase
idênticos aos breves, o i tem som breve como em pit, e longo como em feet.
III – Ditingos
Ditongo é a fusão de dois sons vocais em um só. Em grego temos os seguintes ditongos:
Ditongos Sons
ai ai em aipo au au em audaz ei ei em anéis eu eu em neutro
oi oi em anzóisou u em tu ui ui em eqüino

OBS: Os ditongos hu e wu são muito raros. Vogais longas seguidas de iota, a, h, w, têm o i
sobrescrito e não afeta o som.

IV – Aspiração
Toda vogal ou ditongo no início de uma palavra tem uma aspiração que se coloca em cima da
letra; em caso de ditongo, vai a cima da segunda letra. A aspiração branda ( ) não modifica a
pronúncia; já a áspera () tem o valor do h em inglês. O u sempre leva aspiração áspera. Vejamos
alguns exemplos de aspirações: _ioj, martanw,

V – Pontuação
Há quatro sinais de pontuação no grego: Vírgula, ponto final, ponto em cima e ponto e
vírgula. A vírgula e o ponto final são equivalentes aos sinais em português. O ponto em cima (‘)
equivale aos dois pontos e ponto-e-vírgula ao ponto de interrogação. Assim, temos: , = , . = . =
= :;=?

Tema 2 matema duo


Acentuação: Verbos e Substantivos
OBJETIVOS:
1. Aplicar as regras gerais de acentuação.
2. Aplicar as regras gerais de acentuação de nomes e verbos.

I – Acentuação
Há três tipos de acentos em grego: o agudo (), o grave ( ) e o circunflexo (^). Os acentos
sempre são colocados sobre uma vogal ou ditongo; no caso do ditongo, é sempre sobre a segunda
vogal. Quando uma aspiração e um sinal vêm sobre a mesma vogal, a aspiração vem primeiro e o
sinal depois, com exceção do circunflexo, que é colocado sobre a aspiração. Ex: okou, okoj.
Sílabas contendo vogais longas ou ditongos são sílabas longas, mas ai e oi no final de uma palavra
são breves (em relação à acentuação). Ex: anqrwpouj é longa, pois tem ditongo em ou.
anqrwpoi é breve, pois tem ditongo em oi. MAS anqrwpoij é longa, pois tem sigma (j) final
acrescentado ao ditongo. O e e o o são sempre breves, o h e o w são sempre longas. Já o a, i, u será
aprendido por observação.

Regras:
1. Em relação à última sílaba:
a) O agudo pode cair nas últimas 3 sílabas (Ex: posto/loj – está errada). Um acento agudo na
última sílaba de uma palavra, seguida por outra sem nenhum sinal de pontuação, é transformada em
grave (Ex: grafh/ nqrwpoj – está correta).
b) O circunflexo pode cair nas duas últimas sílabas (Ex: pisteuomen – está
errada).
c) O grave só pode cair na última sílaba.
1.1. Quando for longa:
a) Pode ter acento agudo ou circunflexo.
b) A antepenúltima não pode ser acentuada.
c) A penúltima, se acentuada, leva um agudo.
Ex: apostwlw e apostolou estão erradas. apostolw e apostoloi estão certas.

2. Em relação à sílaba breve:


a) O único acento que NÁO PODE vir sobre ela é o circunflexo.

300
b) Se a última sílaba for breve, com uma penúltima longa, se acentuada, leva o circunflexo. Ex:
doule e douloi estão erradas; já doloj está correta.
Observação: As regras não dizem onde os acentos devem ir, mas estabelecem
limites onde não devem ir; assim, por exemplo, o acento de lomenou poderia ser
qualquer uma das 3 formas: loumenou, loumenou, loumenou. Existem duas outras
regras que nos ajudam a determinar a posição certa.

II – Acentuação verbal
Os verbos têm acentos recessivos, ou seja, devem ser colocados na sílaba mais
atrás possível quanto permitido pelas regras gerais. Ex: eginwskou, a única forma é
eginwskou. s_ze, a única forma é swze.
III – Acentuação de substantivos
Deve ser constante em seguir o acento do Nominativo tanto quanto possível.
Assim, é necessário saber de cor: oikoj, oikou, oikw, oike, oikoi, oikwn, oikoij, oikouj.

Tema 3 matema treij


Pres. Ativo Indic./Conjunção Verbal/Análise Verbal
Objetivos:
1. Recitar de cor o vocabulário grego com suas respectivas traduções.
2. Recitar de cor as terminações verbais do Presente Ativo do Indicativo.
3. Definir e explicar os conceitos gramaticais, em particular os seis elementos de
um verbo.

I – Presente ativo do indicativo


1. Vocabulário: (aprender de cor os verbos abaixo – fazer fichas de auxílio).
blepw......................... eu vejo lamabanw............. eu recebo
ginwskw.................... eu conheço legw........................ eu digo
grafw......................... eu escrevo luw.......................... eu solto, destruo
didaskw..................... eu ensino exw.......................... eu tenho

2. Os verbos: têm tempo, voz e modo, como no português. Os tempos verbais


gregos expressam mais a qualidade da ação do que o tempo em que a ação acontece.
Somente no Indicativo é que o Presente indica Tempo Presente. A ideia principal do
Presente é que a ação é contínua, ainda em progresso, e é chamada de Linear ou
Durativa.
luw .............. eu solto, destruo ou eu estou soltando/destruindo.
lueij............ tu soltas, destróis ou estás soltando/destruindo.

A VOZ ATIVA indica que o sujeito é quem pratica a ação e o MODO INDICATIVO
implica que a ação é um fato.
3. Conjugação do verbo:
S luw..... eu solto/estou soltando. P luomen..... nós soltamos/estamos soltando.
I lueij... tu soltas/estás soltando. L legw......... vós soltais/estais soltando.
N luei..... ele/ela solta/está soltando. U luousi..... eles/elas soltam/estão soltando.

4. Terminações pessoais:
O pronome pessoal quase não é usado no grego, pois as próprias terminações já
indicam por si que a pessoa está fazendo a ação. As terminações para os verbos
primários (presente, futuro e perfeito) são: -w, -eij, -ei, -omen, -ete, -ousi.

301
5. Raiz, tema, vogal temática:
a) raiz: a primeira pessoa do singular do Presente Ativo do Indicativo é a raiz do
verbo.
b) Tema/radical: é a parte constante (quase sempre) de um verbo.
c) Vogal temática: é a vogal colocada entre o Tema e as Terminações Pessoais
que começam com consoantes. O o antes de m e g e e antes das outras consoantes.
Para conjugar um verbo é só pegar o Tema, adicionar as Terminações Pessoais e colocar
a Vogal Temática onde for necessária. Como exemplo, vejamos como seria a conjugação
do verbo luw.

Número Pessoa Tema Vogal Temática Terminações


S 1 lu – w I 2 lu – eij N 3 lu – ei P 1 lu o men
L 2 lu e te U 3 lu - ousi

Observação: daqui por diante iremos aprender a Vogal Temática como parte das
Terminações.

6. Acentuação verbal:
Os verbos têm acentos recessivos. Assim, precisamos apenas observar a última
sílaba: se for breve leva um agudo na antepenúltima sílaba; se for longa leva um agudo
na penúltima sílaba.

7. Análise de um verbo:
Analisar um verbo significa reconhecer Tempo, Voz, Modo, Pessoa, Número, Raiz
e Significado do verbo. Vejamos um exemplo de análise utilizando alguns verbos
diferentes e em diferentes conjugações:

302
Lição 2
Verbo Tempo Voz Modo Pessoa Número Raiz Significado

luw Presente Ativa Indicativo 1 Singular luw Solto/estou soltando


exete Presente Ativa Indicativo 2 Plural exw vós tendes/estais tendo.
egousi Presente Ativa Indicativo 3 Plural legw eles dizem/estão dizendo
exomen Presente Ativa Indicativo 1 Plural exw nós temos/estamos tendo

Tema 4 matema tessarej


Segunda Declinação/Análise De Substantivos
Objetivos:
1. Recitar de cor o vocabulário.
2. Recitar de cor as terminações da Segunda Declinação.

I – Vocabulário
adelfoj, o ................ irmão iepon, to ................. templo
anqrwpoj, o ................ homem kai, conjunção ................. e
apostoloj, o ................ apóstolo logoj, o ................. palavra
douloj, o ................ servo / escravo nomoj, o ................. lei
dwron, to ................ dom / presente oikoj, o ................. casa
qanatoj, o ................. morte uioj, o ................. filho

II – Segunda declinação
1. Declinação: é a mudança que ocorre na forma dos substantivos (incluindo
pronomes, adjetivos e verbos no particípio) com o propósito de indicar sua relação
com o resto da sentença. Há 3 declinações em grego. A primeira, com a predominância
do a – e por isso chamada de declinação a, a segunda em o; e a terceira com
predominância de consoantes. Porém, aprenderemos em primeiro lugar a Segunda
Declinação por razão de conveniência, por ser mais fácil.
Os substantivos, no grego, têm gênero, número e caso. Vejamos:

2. Gênero: existem 3 gêneros: masculino, feminino e neutro. Os gêneros devem ser


decorados juntamente com a palavra. Quase todos os substantivos da Segunda
Declinação terminados em oj são masculinos; e em on são neutros. O gênero é indicado
no vocabulário (e também nos dicionários) pelo artigo posto em frente à palavra. O
artigo masculino é o, o feminino h e o neutro é to. Exemplos: douloj, o ( masculino); grafh,
h (feminino); dwron, to (neutro).

Observação: em grego não há artigo indefinido, nem no singular, nem no plural.


Assim, adelfoj pode significar irmão ou um irmão. No entanto, existe o artigo
definido, e quando este aparece à tradução no Português também deve contar o artigo
definido. Assim, anqrwpoi significa homens ou uns homens, mas não pode ser traduzido
por os homens.

3. Número: como no Português, existem 2 números (singular ou plural). Verbos


concordam com o sujeito em número. Vejamos:
douloj luei = um servo/escravo está soltando/destruindo.
douloi luousi = uns servos/escravos estão soltando/destruindo.

303
4. Caso: é a função que um substantivo (declinado) exerce na sentença. Caso é
uma questão de função; declinação é uma questão de forma. Existem 5 casos:
Nominativo, Genitivo, (Ablativo, Locativo, Instrumental); Dativo, Acusativo e Vocativo.
Como exemplo, vejamos a declinação de anqrwpoj (homem).
Singular Plural
Nominativo anqrwpoj oj um homem anqrwpoi oi uns homens
Genitivo anqrwpou ou de um homem anqrwpwn wn de uns homens
Dativo anqrwpw para; a um homem anqrwpoij oij para; a uns homens
Acusativo anqrwpon on um homem anqrwpouj ouj uns homens
Vocativo anqrwpe pe ó, homem! anqrwpoi oi ó, homens!

Observação: As regras de acentuação devem ser observadas e a pronúncia deve


ser feita colocando ênfase na sílaba acentuada – como no Português. O Tema (radical) é
a parte constante, ao qual as terminações são adicionadas. O Tema de anqrwpoj é
anqrwpo, daí ser chamada declinação o; mas devemos decorar como anqrwp e –oj, -ou, -
w, -on, etc., como sendo as terminações. Observe, entretanto, que o o é a vogal
predominante na última sílaba. Vejamos, então, as funções:
a) Nominativo: O sujeito de uma sentença aparece sempre no Nominativo. Assim,
apostoloj ginwskei significa um apóstolo conhece (está conhecendo).
b) Genitivo: Expressa possessão, bem como origem ou derivação. O Genitivo tem
outros usos, os quais deverão ser aprendidos por observação; mas por enquanto, iremos
ficar com estes dois usos principais. Ex: douloj apostolou grafei – um servo de um
apóstolo escreve/está escrevendo. logoi apostolwn – umas palavras de uns apóstolos.
c) Dativo: É o caso do objeto indireto, ou seja, a quem a ação do sujeito se refere.
Ex: anqrwpoj grafei adelfw – um homem está escrevendo/escreve para um irmão. O
Dativo (como o Genitivo), também tem outras funções que deverão ser aprendidas
posteriormente.
d) Acusativo: É o caso do objeto direto, ou seja, sobre quem a ação do sujeito. Ex:
adelfoj grafei logouj anqrwpw – um irmão está escrevendo umas palavras para um
homem.
e) Vocativo: É o caso de invocação ou exclamação. anqrwpe – ó, homem! ou
homem!. O Vocativo plural em todas as declinações é semelhante ao Nominativo plural.

5. Declinação substantivo masculino:


Singular plural
N. ..................... uioj ................. uioi
G. ..................... uiou ................ uiwn
D. ..................... uiw ................ uioij
A. ..................... uion ................. uiouj
V. ..................... uie .................. uioi

Observação: Já que a regra geral nos permite acentuar uma sílaba longa, com
agudo ou circunflexo, então precisamos de uma extra para nos ajudar. Assim sendo, na
Segunda Declinação, todas as últimas sílabas longas acentuadas levam circunflexo,
exceto no Acusativo plural.

6. Declinação substantivo neutro:


Singular plural
N.V. ......... dwron ...................................... dwra
G. ............. dwrou ..................................... dwrwn
D. ............. dwrw ...................................... dwroij

304
A. ............. dwron ...................................... dwra

Observação: dwron, to é um substantivo neutro. Os vocativos de substantivos


neutros em todas as declinações são idênticos aos nominativos (singular e plural). O
nominativo, acusativo e vocativo plural terminam com a breve.

III – Ordem das palavras


1. A maneira normal de construir uma sentença é: sujeito, verbo e objeto. Ex: O
homem fala palavras. Já no grego a ordem das frases é determinada pela ênfase que se
quer dar à sentença. Ex: anqrwpoj legei logouj – seria a ordem correta; no entanto, legei
anqrwpoj logouj ou logouj anqrwpoj legei são corretamente possíveis. Assim sendo, a
tradução para o Português deve ser feita observando as terminações e não a ordem das
palavras. Primeiramente procura-se o sujeito, um substantivo no Nominativo (ou um
pronome determinado pelo verbo), depois o verbo e, finalmente, os objetos direto e
indireto – esta é a ordem de construção no Português. Ex: blepete nomouj ka Oikouj
verbo objeto direto conjunção objeto indireto Tradução: Vós vedes leis e casas/estais
vendo umas leis e umas casas.

2. O n móvel. Quando a terminação ousi vem antes de uma vogal ou no final de


uma sentença, o n é acrescentado. Ex: blepousin apostolouj.Obs: às vezes pode também
aparecer antes de uma palavra que começa com consoante.
3. Identificação ou análise de substantivos: Deve-se identificar o caso, gênero,
número, raiz e significado. Obs: a raiz de um substantivo é o nominativo singular do
mesmo. Vejamos um exemplo de como identificação ou análise.
Palavra Caso Gênero Número Raiz Significado
logon acusativo masculino singular logoj uma palavra
uioj nominativo masculino singular uioj filho
dwroij dativo neutro plural dwron para uns dons
douloj genitivo masculino singular douloj de um servo

Tema 5 matema pente


Primeira declinação
Objetivos:
1. Decorar as palavras do vocabulário.
2. Decorar as três formas da primeira declinação.
I – Vocabulário
lqeia, h/............... verdade zwh/, h/............... vida
basilei/a, h/............ reino me/ra, h/........... dia
grafh/, h/.................. escrito, escritura karda, h/.......... coração
do/ca, h/.................... glória parabolh/, h/.... parábola
erh/nh, h/.................. paz fwnh/, h/.............. voz, tom
kklhsi/a, h/............ igreja yuxh/, h/............ alma, vida
ntolh/, h/.................. mandamento _ra, h/............... hora

II – Primeira declinação
1. Todos os substantivos da primeira declinação que terminam em a ou h são
femininos.
2. Os substantivos que terminam em aj e hj são masculinos (serão vistos
posteriormente).

305
3. As terminações no plural de todos os substantivos da primeira declinação são
iguais.

4. Exemplo – Vejamos a declinação de _ra, h/ (hora):


Singular plural
N.V. _ra uma hora N.V. wrai umas horas
G. wraj de uma hora G. wrwn de umas horas
D. _ra para/a uma hora D. _raij para/a umas horas
A. _ran uma hora A. _raj umas horas

5. O radical de _ra é _ra, por isto a primeira declinação é chamada de declinação a,


mas já que o a combina com as diversas terminações é melhor pensar no radical como wr
e a, aj, a, an, como sendo as terminações.

6. Quando um substantivo da primeira declinação termina a, precedido de r, e e i o


a é mantido nas terminações do singular.

7. Quando o a do Nominativo singular é longo (pode ser observado pelo acento


agudo na penúltima sílaba), ele é longo em todos os casos com exceção do Nominativo
Plural.

8. O Genitivo Plural mostra uma exceção à regra de acentuação. Todos os


Genitivos Plurais da primeira declinação têm um acento circunflexo na última,
independente da acentuação no Nominativo singular.

9. Note que o Genitivo Singular e o Acusativo Plural são idênticos.

10. Mais um exemplo – Vejamos a declinação de l h/qeia, h/ (verdade):

Singular plural
N.V. l h/qeia uma verdade N.V. lhqeiai umas verdades
G. lhqeiaj de uma verdade G. lhqeion de umas verdades
D. l h/qeia para/a uma verdade D. l hqeiaij para/a umas verdades
A. l hqeian uma verdade A. l hqeiaj umas verdades

OBS: Todas as regras acima se aplicam a esta declinação com a seguinte


exceção: o Nominativo singular termina com a curto (o acento cai na penúltima sílaba),
assim, além do Nominativo Plural o Acusativo singular é curto também.

11. Outro exemplo – Vejamos a declinação de do/ca, h/ (glória):


Singular plural
N.V. do/ca uma glória N.V. docai umas glórias
G. dochj de uma glórias G. docwn de umas glórias
D. doch para/a uma glória D. docaij para/a umas glórias
A. docan uma glória A. docaj umas glórias

12. Quando o Nominativo Singular termina em a não precedido de r, e, i, usa-se o


h no Genitivo e Dativo Singular.

306
13. Exemplo – Vejamos a declinação de grafh/, h/ (escrito, escritura):
SINGULAR PLURAL
N.V. grafh/ um escrito N.V. grafai Uns escritos
G. grafhj de um escrito G. grafon de uns escritos
D. grafh/ para/a um escrito D. grafaij para/a uns escritos
A. grafhn um escrito A. grafaj uns escritos

14. Quando o Nominativo Singular termina em h este é mantido nas terminações


do singular.

15. Na primeira declinação, como na segunda, quando a última sílaba é acentuada,


leva acento circunflexo no Genitivo e Dativo de ambos os números, e o restante leva o
acento agudo.

Tema 6 matema ec
Adjetivo / artigo definido
Objetivos:
1. Aprender o uso dos adjetivos.
2. Aprender o uso dos artigos definidos, bem como sua declinação.
I – Vocabulário
gaqo/j, h/, o/n.................... adj. bom ku/rioj, o/.................. senhor
lloj, h, o........................ adj. outro, diferente mikro/j, a/, o/n........... adj. pequeno
di/kaioj, a, o/n.................. adj. reto, justo nekro/j, a/, o/n........... adj. morto
gei/rw................................ acordar, despertar o/, h/, to/...................... artigo
definido
rhmoj, h/, o/n.................... deserto do/j, h/, o/n............... estrada, caminho
sxatoj, h/, o/n................. adj. último pisto/j, h/, o/n.......... adj. fiel, crente
kako/j, h/, o/n..................... mau, maligno pr_toj, h/, o/n.......... adj. primeiro
kalo/j, h/, o/n..................... bom, bonito

Observação: observe que rhmoj e o/do/j são palavras femininas, uma exceção às
palavras terminadas em –o/j da Segunda Declinação, que normalmente são masculinas.

II – Declinação dos adjetivos


Usaremos como exemplo o adjetivo gaqo/j (bom):
Singular Plural
Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro
N.V. gaqo/j gaqh/ gaqon gaqoi gaqai gaqa
G. gaqou gaqhj gaqou gaqwn gaqwn gaqwn
D. gaqw gaqh/ g aqw gaqoij g
 aqaij gaqoij
A. gaqon gaqhn gaqon gaqouj gaqaj gaqa

Observação: o masculino e neutro são idênticos às terminações da Segunda


Declinação. O feminino segue as mesmas regras da Primeira Declinação. Como a
terminação não é precedida de r, e, i um a longo é usado. Este é o caso de mikro/j, a/,
o/n.

III – Declinação do artigo definido


Singular Plural
Caso Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro

307
N.V. h/ to/ oi ai ta/
G. tothj totwn twn twn
D. tw th tw toij toij toij
A. ton thn ton touj taj ta/

Observação: as formas o/, h/, to/ são proclíticas, isto é, têm acentos próprios e são
pronunciadas com a palavra seguinte. O artigo é declinado como o adjetivo gaqo/j com as
seguintes exceções: 1) as proclíticas mencionadas acima; 2) O Nominativo e Acusativo
Neutro singular têm to/ ao invés de ton; e, 3) O Nominativo Masculino é o/ ao invés de o/j.

IV – Uso do artigo
O uso do artigo em Grego corresponde basicamente ao uso do artigo definido em
Português. Ex: lo/goj = palavra ou uma palavra; o/ lo/goj = a palavra.

V – Concordância
Os adjetivos, incluindo os artigos, concordam com os substantivos que eles
modificam, em gênero, número e caso. Vejamos alguns exemplos:
o/ lo/goj, tologou, tw logw, blpw ton logon, oi logoi, twn logwn, ble/pw touj
logouj.
to/
 dwron, tou dwrou, h/ _ra, ble/pw thn wran, ai wrai.
o/do/j,
  thj odou, th odw, ble/pw thn odon, ai odoi, taij odoij, ble/pw taj odouj.
kalo/j lo/goj, kalou logou, kalh _ra, kalh o/do/j, kalon ieron.

VI – Uso dos adjetivos


Os adjetivos podem ser usados de 3 maneiras: Atributivo, Predicativo e
Substantivado. Esta distinção é à base de algumas características mais importantes na
língua grega.
a) Adjetivo Atributivo: o adjetivo atributivo qualifica o substantivo (dá-lhe um
atributo). Neste caso, o artigo sempre precede o adjetivo. Ex:
o/ g
 aqo/j lo/goj = a boa palavra estas duas são as formas
o/ lo/goj o/ gaqo/j = a boa palavra mas comuns do NT.
lo/goj o/ gaqo/j = a boa palavra
b) Adjetivo Predicativo: este destaca a qualidade do substantivo. O artigo não
procede o adjetivo. Ex: o/ doloj pisto/j = o servo é fiel pisto/j o/ lo/goj = o servo é fiel.

Observação: quando não há artigo numa frase, o uso do adjetivo, atributivo ou


predicativo, é determinado pelo contexto. Assim gaqo/j lo/goj ou lo/goj gaqo/j pode ser
traduzido uma boa palavra ou uma palavra boa.
c) Adjetivo Substantivo: um adjetivo pode ser usado como um substantivo,
principalmente com o artigo, quando não há nenhum substantivo modificado por ele.
Vejamos:
o/ g
 aqo/j = o homem bom oi agaqoi = os homens bons
h/ agawh = a boa mulher ai agaqai = as boas mulheres
to/ agaqon = a boa coisa ta/ agaqa/ = as boas coisas

Observação: algumas vezes, no português, os adjetivos, especialmente os


masculinos, têm esse mesmo uso como substantivos: o/ nekro/j = o morto (homem); oi
nekroi = os mortos; o/g
 aqo/j = o bom (homem); oi agaqoi = os bons.

308
Lição 3
Tema 7 matema epta
Primeira Declinação Nomes Masculinos / Preposição
Objetivos:
1. Decorar o vocabulário.
2. Recitar de cor a declinação de profh/thj.
Relacionar as preposições com os casos que elas requerem.
I – Vocabulário
1. Decorar o vocabulário.
2. Recitar de cor a declinação de profh/thj.
3. Relacionar as preposições com os casos que elas requerem.
I – Vocabulário
ggeloj,
o/
Anjo, mensageiro ko/smoj, o/ Mundo
gw Guio, conduzo, lidero li/qoj, o/ Pedra
po/ prep. c/ gen. de maqhth/j, o Discípulo, aluno
ba/llw Jogo, ponho, sacudo me/nw Fico, permaneço
dia/ Prep. c/ Acusat., por causa de meta/ Prep. c/ Gen., com, prep. c/ Acusat., depois de ej
Prep. c/ Acusat., para dentro de ouranoj, o/ Céu k (ec antes de vogais) prep. c/ genit., de dentro de
pe/mpo Envio n Prep. c/ Dativo, em. profh/thj, o/ Profeta teknon, to/ Criança pro/j Prep. c/ Acusat.,
para, a. topoj, o/ Lugar qeo/j, o/ Deus, deus (pode ou não pode ter
artigo). frw Levo.
1. Nomes da Primeira Declinação terminados em -hj são masculinos.
2. A declinação de profh/thj, o/, é a seguinte:

Singular plural
N. profh/thj hj profhtai ai
G. profhtou ou profhtwn wn
D. profhth profhtaij aij
A. profhthn hn profhtaj aj
V. profhta profhtai ai

OBSERVAÇÃO: Embora a palavra seja masculina ela é um nome da primeira declinação, e é


declinação do mesmo jeito de uma palavra feminina, exceto o Nominativo (hj), Genitivo (ou) e Vocativo
singular (a).

II – Uso de preposições
a) Preposições expressam relações. Por exemplo, o livro está na (em + a) mesa; a
preposição em expressa a relação entre o livro e a mesa.
b) As preposições não governam os casos, simplesmente auxiliam os substantivos a
expressarem os seus casos mais claramente.
c) As preposições têm muitos usos diferentes; é muito difícil traduzir apenas com a noção
do vocabulário, mas é importante que se decore os casos com os quais elas são construídas. Assim,
deve-se dizer que en + dativo = em. Precisamos, em primeiro lugar, conhecer o uso simples da
preposição para depois partir para usos mais complexos.
d) A preposição en, significando em, sempre pede o Dativo. Assim (em + a) na casa é
expressa por en tw oikw; (em + a) na verdade en th lhqei/a. A preposição ei/j, significando para
dentro de, exige sempre o Acusativo. Assim, para dentro da casa é expresso por ei/j ton aikon. A
preposição po/ sempre pede o Genitivo. Assim, (de + a) da casa é expressa por po/ tou oikou.
e) Estas 3 preposições ilustram o princípio geral de que o Genitivo é o caso de separação,
o Dativo o caso de permanência em um lugar e o Acusativo o caso de movimento para um lugar.
Preposições expressando Dativo separação naturalmente pedem o Genitivo; expressando

309
permanência num lugar pedem o Dativo; e preposições expressando movimento para um lugar pedem
o Acusativo.
Exemplos:
1. ei/j com Acusativo: gw ton doulon ei/j ton oikon (Eu conduzo o servo para dentro da casa). ei/
j leva o Acusativo, significando para dentro de; oikon está no Acusativo.
2. n com Dativo: legousin n tw/ ierw (Eles estão falando no templo). A preposição n leva
Dativo; e templo está no Dativo.
3. dia/ com Acusativo: ginwskete ton nomon dia/ thn ekklhsian (Vós conheceis a lei por causa
da igreja). A preposição dia/ pode ser acompanhada do Acusativo; quando isto acontece, ela é
traduzida por por causa de, ekklhsian está no Acusativo.
4. dia/ com Genitivo: ginwskomen ton nomon dia/ thj grafhj (Nós conhecemos a lei através da
Escritura). A preposição dia/ também pode ser acompanhada do Genitivo. frafhj está no Genitivo; por
isso, a tradução é através de.

Tema 8 matema oktw


Enclíticas / Pronomes Pessoais / Pres. Ind. emi/
Objetivos:
1. Recitar de cor a declinação dos pronomes pessoais.
2. Explicar os usos dos pronomes.
3. Recitar de cor o Presente do Indicativo de emi/.
4. Explicar o uso do Nominativo no Predicativo.

I – Vocabulário
egw ........................... pronome, eu emi/ ................... eu sou
su ............................. pronome, tu de ...................... conjunção, mas, e
autoj, h/, o/ ............. pronome, ele

OBSERVAÇÃO: a conjunção de é pós-positiva, isto é, ela nunca vem em primeiro lugar numa
sentença; geralmente aparece em segundo. Ex: o/ douloj ginwskei ton apostolon, blepei ton kurion (O
servo conhece o apóstolo, e o apóstolo vê o Senhor).

II – Enclítica
Enclítica é uma palavra que se liga intimamente à palavra que a procede, de modo que é
pronunciada junto com ela, e não tem acento próprio. Enclítica deve ser distinguida de Proclítica (ver
Lição 6.3 – obs.). Uma palavra enclítica modifica a acentuação da palavra que a procede 1 Você não
precisa saber estas regras, mas lembre-se de que se encontrar algum acento incomum ou que não
aprendeu, provavelmente ele é resultado da presença de uma palavra enclítica. Ex: anqrwpoj mou;
dwron sou; anqrwpoj estin.

III – PRonomes pessoais


a) A declinação do pronome pessoal da primeira pessoa é:
enfática
Singular plural
N. egw Eu hmeij Nós
G. emou, mou De mim / meu hmwn De nós / nosso
D. emoi, moi A / para mim hmin A / para nós
A. eme, me Me, mim hmaj nos enclíticas

1 W.C. TAYLOR. Introdução ao Estudo do Novo Testamento Grego. Ed. JUERP. Ver as regras esboçadas
neste livro. Nota do autor. enfática

Observação: os Genitivos devem ser traduzidos por meu, nosso. As formas emou, emoi,
eme, são usadas quando há necessidade de ênfase.
b) A declinação do pronome pessoal da segunda pessoa, é:
Singular plural
N. su tu umeij vós
G. sou de ti, teu, seu umwn de vós, vosso, seu

310
D. soi a / para ti umin a / para vós
A. se te umaj vos
Observação: embora a forma própria seja a segunda pessoa (tu, vós), no Português moderno
também podemos usar a terceira pessoa você, vocês – porém, para que se não confunda com a
terceira pessoa de fato, prefere-se que se faça o uso correto, ou seja, o da segunda pessoa. As formas
sou, soi, se, são enclíticas, exceto quando são enfáticas. A tradução do Genitivo também pode ser
seu, seus.

c) declinação do pronome pessoal da terceira pessoa, é:


Singular
Masculino Feminino Neutro
N. autoj ele aut$ ela auto isto
G. autou dele/seu aut$j dela/sua autou disto
D. aut% a/para ele auth a/para ela autw a/para isto
A. auton lhe, o authn lhe, a auto isto, o, a
Plural
Masculino Feminino Neutro
N. autoi eles autai elas auta estes
G. autwn deles/seus autwn delas/suas autwn destes
D. autoij a/para eles autaij a/para elas autoij para estes
A. autouj lhe, os autaj lhes, as auta estes, os, as
Observação: deve-se notar que a declinação de autoj é parecida com agaqoj, exceto a omissão
do Vocativo e a forma auto no Nominativo e Acusativo Neutro Singular.

III – Uso dos pronomes


Um pronome é uma palavra usada no lugar de um nome (ou substantivo). Exemplo: João está
na escola, ele está estudando. O pronome ele está substituindo João. O nome João é chamado de
antecedente do pronome. Há 3 coisas que consideraremos acerca dos pronomes pessoais:
a) O pronome pessoal concorda com o antecedente em gênero e número, mas não
necessariamente em caso. O caso do pronome pessoal é determinado por sua função na
sentença.
Ex: blepw ton maqhthn kai didaskw auton – eu vejo o discípulo e o ensino (estou ensinando-
lhe). Aqui maqhthn é o antecedente de auton, e já que maqhthn está no masc., sig., auton também
está no masc., sig. Por ambos exercerem a mesma função na sentença (objeto direto), eles estão no
Acusativo.
Ex: o/ apostoloj didaskei ton doulon kai o douloj blepei auton – O apóstolo ensina ao servo e o
servo o vê. Apostoloj é o antecedente de auton, pois concordam em gênero e número (masc./sing.,
respectivamente). No entanto, eles não concordam em caso devido à função que exercem; apostoloj
está no Nominativo (porque é o sujeito da primeira sentença) e auton está no Acusativo (porque é o
objeto direto).
Ex: blepo ton oikon mou kai menw em autw – Eu vejo a minha casa e permaneço nela. O
antecedente oikon é masc., sing., e o pronome também. Mas oikon está no Acusativo por ser objeto
direto, e autw no Dativo por causa da preposição, que também modifica a tradução.
Ex: akouei thn mou – Ele está ouvindo minha voz. O pronome mou é Genitivo masc., sing., e
não tem antecedente, pois é usado como Genitivo de Possessão.

b) O pronome pessoal não é usado no Nominativo, a não ser que haja ênfase. Quando
não são usados, o sujeito é expresso pela pessoa do verbo. Ênfase normalmente é causada por
contraste.
Ex: egw legw, ou de grafeij – Eu (e não neutro) falo, mas tu (e não outro) escreves. Egw e su
são enfáticos porque estão em contraste um com o outro. Na sentença egw legw, eu digo, a implicação
natural é que outra pessoa não fala. O uso enfático (duplo) de egw (que é o pronome do verbo) sugere
um contraste implícito. Autoj quase nunca é usado no Nominativo, como sendo um pronome pessoal.
Seu uso será estudado na próxima lição.

Aplicação: Jesus fez muito uso do pronome no sentido enfático, quando dizia: Eu sou

311
(e não outra pessoa). Vejamos os seguintes textos como exemplo: Jo 6.35; 8.12; 10.9,11,14; 11.25;
14.6; 15.1.
c) O uso das formas enfáticas e enclíticas.
Para expressar possessão a forma enclítica do Genitivo deve ser usada. Ex: Minha palavra – o/
lo/goj mou; tua/sua palavra – o/ lo/goj sou. Se há uma ênfase na ideia possessiva minha palavra (e não
de outra pessoa), usa-se um adjetivo possessivo, que será estudado mais tarde. Depois da preposição
usam-se as formas enfáticas. Ex: ec emou e não ek mou em emoi e não em moi
Porém, pro/j me é comum.

OBSERVAÇÃO: a vogal final de uma preposição normalmente é contraída antes de palavras


que começam com vogais, sendo que um apóstrofo a substituiu.

IV – Presente do indicativo de ei/mi/


Singular plural
1. ei/mi/ Eu sou esmen Nós somos
2. ei Tu és este vós sois
3. esti (n) Ele/ela é Eisi (n) Eles/elas são
Observação: todas as formas são enclíticas exceto ei. O verbo não tem voz, pois mostra um
estado e não ação. As formas eiti(n), eisi(n) usam n móvel. O verbo requer um complemento (no
Nominativo) e não um objeto (prova) (no Acusativo) para complementar seu significado. O
complemento é chamado de Predicado Nominativo. Ex: o/ apostoloj anqrwpoj estin – o apóstolo é um
homem. o apostoloj estin agaqoj – o apóstolo é bom (um homem bom).

Tema 9 matema ennea


Pronomes Demonstrativos / Usos De ato/j
Objetivos:
1. Decorar o vocabulário.
2. Recitar de cor a declinação de ato/j.
3. Entender, explicar o uso de ato/j e kenoj com e sem substantivos.
4. Reconhecer, explicar e traduzir as construções com ato/j.

I – Vocabulário
ga/ph, hj, h Amor. nn advérbio, agora.
marti/a, aj, h pecado. a_toj, ath, toto pronome, este, esta, isto. bapti/zw Batizo. a_tw
advérbio de modo, assim. dida/skaloj, ou, o/ Professor. ponhro/j, a/, o/n adj., maligno, mau (caráter).
kenoj, h/, o pronome, aquele. proswpon, to// Face paggeli/a, h/ Promessa. xar , h/ Gozo,
alegria. eagge/lion, to/ Evangelho. kri/nw Julgo.

1. Declinação de autoj
Singular Plural
Caso Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro
Nominativo outoj auth touto outoi autai tauta
Genitivo toutou tauthj toutou toutwn toutwn toutwn
Dativo toutw tauth toutw toutoij tautaij toutoij
Acusativo touton tauthn touto toutouj tautaj tauta

Observação: para diferenciar quanto ao uso de ou e au na primeira sílaba é só observar as


terminações: A) quando a terminação é o/, w/, o ou é usado na primeira sílaba; B) quando a
terminação é a, h/ o au é usado na primeira sílaba. Os Nominativos do Feminino e Masculino têm
aspiração áspera. Todos os outros têm t no início. Note bem as diferenças entre os Pronomes
Pessoais e os Demonstrativos – a aspiração e o acento. Veja: Pronomes Pessoais (3a. pessoa): autoj,
auth, auto. Pronome Demonstrativo: autoj, auth, touto. A declinação de ekeinoj é semelhante a dos
adjetivos, exceto o neutro ekeino.

II – Uso de oto/j e ke ke noj


Os Pronomes Demonstrativos podem ser usados de duas maneiras:

312
a) Na posição Predicativa: nestas posições eles modificam um substantivo, semelhante aos
adjetivos. Neste caso o substantivo tem o artigo. Ex: esta palavra – ou/toj o/ lo/goj ou o/ lo/goj au/toj.
eu vejo esta igreja – ble/pw tathn thn kklhsian.
b) Substantivado: ou/toj e kenoj são usados freqüentemente sozinhos. Quando isto
acontece ele é substantivado e é traduzido de acordo com o gênero.
Ex: este homem – ou/toj. esta mulher - ath/. este homem está falando – ou/toj legei. esta
mulher vê seu senhor - ath/ blepei ton kurion athj. isto é do Senhor – touto estin po/ tou kuriou.

III – Uso de ato/j ato/j é uma palavra muito importante na língua grega. Além do uso
normal como Pronome Pessoal, ela pode ser usada nas seguintes formas:
a) Na posição Predicativa: nesta posição ele intensifica o substantivo. Ele concorda com o
substantivo em gênero, número e caso, mas não tem o artigo. É a própria pessoa que faz a ação; é ela
mesma que faz isso ou aquilo.
Ex: o apóstolo mesmo / o próprio apóstolo - ato/j o/ po/stoloj ou o/ po/stoloj ato/j.
a igreja mesma / a própria igreja - ath/ h/ ekklhsi/a ath/.

b) Ainda no Intensivo: ele também pode intensificar um pronome pessoal ou o pronome


implícito no verbo. eu mesmo falo - ato/j gw/ lgw ou ato/j lgw. nós mesmos falamos -
atoi hmeij legomen ou atoi legomen. ga/ph: A melhor maneira para definir é contrastar com outra
palavra grega para amor: fi/loj, que é aquela afeição que alguém tem por uma pessoa e que resulta
num prazer recebido. Ele é instintivo e caracteriza nossas afeições naturais. É a afeição que temos por
pais, amigos, filhos, filhos e cônjuge. Quando é aceito e retornado pela pessoa a quem é dado, há uma
amizade e amor recíproco. ga/ph é a decisão de ver na pessoa aquilo que é digno de respeito; é
possível quando estamos em contato com Deus. Ele pode e dá aos seus, afeição baseada no valor
inerente e precioso da pessoa amada. Expressa um apego mais racional proveniente da escolha. Um
amor que flui ainda quando ele não é aceito e respondido. É o que chamamos de amor puro, sacrifical.

c) Na posição Atributiva: ele identifica o substantivo e é precedido pelo artigo.


Ex: o mesmo apóstolo – o/ ato/j po/stoloj ou o/ po/stoloj o/ lo/goj. a mesma igreja – h/
ath/ ekklhsi/a ou h/ ekklhsi/a h/ ath/.

Resumo
A tabela abaixo serve de revisão dos principais usos de adjetivos e pronomes:
A boa palavra. O/ kaloj lo/goj ou lo/goj o/ kaloj Atributiva (adjetivo)
A palavra é boa. kaloj o/ lo/goj ou o/ lo/goj kaloj Predicativo (adjetivo)
Esta palavra. ou/toj o/ lo/goj ou o/ lo/goj ou/toj. Predicativo (pronome demonstrativo).
Aquela palavra. kenoj o/ lo/goj ou o/ lo/goj kenoj.

Predicativo (pronome demonstrativo).


A palavra mesma ato/j o/ lo/goj ou o/ lo/goj ato/j. Predicativo Intensivo.
A mesma palavra o/ ato/j lo/goj ou o/ lo/goj ato/j. Atributivo. Minha palavra o/ lo/goj mou
Sua palavra O/ lo/goj atou
Eu o vejo ble/pw aton
Eu vejo este homem ble/pw touton
Eu vejo estas coisas ble/pw tauta

Tema 10 matema deka


Presente do indicativo médio e passivo
Objetivos:
1. Conjugar e reconhecer verbos nas vozes média e passiva.
2. Uso do caso Dativo de Meio ou Instrumental.
3. Conhecer verbos deponentes e compostos.
4. Aprender alguns significados do uso de casos juntamente com verbos.

I – Vocabulário
lla/ ............... conj., adversativa, mas, porém ese/rxomai Depoente, entro. k ou/w .............
Ouço, escuto (pode pedir Gen.,/Ac.). cerxomai .... Depoente saio. martwlo/j, on pecador

313
rxomai ........ Depoente, vou, venho ti ..................... conj., que, porque u ................... ((ouk antes
de vogais, oux antes de aspiração áspera), proclítico, não. rxw ................. Eu reino (pede Gen.)
poremai ...... Depoente, vou. gi/nomai ............ Depoente torno-me (pred., Nomin. s_zw .............
Salvo. die/rxomai ........ Depoente, atravesso. pokri/nomai Depoente, respondo, replico.
_po/ .................... Prep., c/ Gen., por (expressa agência); prep., c/ Acus., sob. lou/w ............. Lavo.

II - Voz
O verbo grego tem três vozes: ativa, média e passiva. As vozes ativa e passiva são usadas
como no Português: na ativa o sujeito executa a ação do verbo; na passiva o sujeito sofre a ação do
verbo. A voz média representa o sujeito com referência a si mesmo ou a algo que lhe
pertence:
a) agindo diretamente sobre si – lou/w (eu lavo – ativo); loumai (eu me lavo – médio).
b) Agindo para si, ou com vantagem para si - gorazomai (eu compro
para mim).
Às vezes, a diferença entre a ativa e a média é tão delicada que é impossível de traduzir para o
Português. Em outros casos a diferença é tão forte que é necessário um verbo para a ativa e outro
bem diferente para média.
Ex: rxw, eu reino e rxomai, eu começo.

A) Voz média: vejamos conjugação do Presente do Indicativo Médio.


Singular plural
1. louomai Eu me lavo louomeqa Nós nos lavamos
2. louh Tu te lavas louesqe Vós vos lavais
3. louetai Ele / ela se lava louontai Eles/elas se lavam

As terminações médias primárias são:


1. –mai, eu -meqa, nós
2. –sai, tu -sqe, vós
3. –tai, ele/ela -ntai, eles/elas

Observação: note as vogais temáticas (e, o) antes das consoantes (como já foi visto em lição
anterior). A segunda pessoa, lou/h, é uma forma abreviada (ao invés de louesai).

B. Voz passiva: ela não tem terminações próprias. A passiva e a média são idênticas, exceto
nos tempos futuro e aoristo. (OBS: nos nossos exercícios as formas que podem ser consideradas com
média ou passivas devem ser consideradas passivas). Vejamos, como exemplo, a conjugação do
Presente do Indicativo Passivo de luw, solto/destruo.

Singular plural
luomai Eu estou (sendo) destruído. luomeqa Nós estamos (sendo) destruídos. luh Tu estás
(sendo) destruído. luesqe Vós estais (sendo) destruídos. luetai Ele/ela está (sendo) destruído. luontai
Eles/elas estão (sendo) destruídos.

III - _po/ com o genitivo


Um verbo na voz passiva normalmente é seguido de um agente. Se o agente é uma
pessoa, será no Genitivo precedido por _po/.
Ex: o/ ku/rioj swzei ton doulon – O Senhor salva/está salvando o servo. O/ doloj swzetai
_po/ tou kuroiou – O servo está (sendo) salvo pelo Senhor.

IV – Dativo de meio ou instrumental


O Dativo sem nenhuma preposição é usado para expressar meio ou instrumento pelo qual
alguma coisa foi realizada. Enquanto _po/ com Genitivo expressa agência pessoal, o Dativo de meio
expressa meios impessoais.
Ex: agomeqa tw/ logw tou kuriou – Nós somos conduzidos pela
palavra do Senhor. ageij to teknon logoij kaloij – Tu estás conduzindo a criança com boas palavras.

314
V – Verbos depoentes
Os verbos depoentes ou deponentes são verbos os verbos que não têm forma ativa. Eles
aparecem na forma média/passiva, mas têm função ativa.
Ex: poreuomai – é passivo em forma, mas o significado é ativo: eu vou/estou indo.
VI – Verbos compostos
São apenas os verbos que têm uma preposição prefixada. O resultado da combinação do
verbo e da preposição devem ser apreendidos por observação. Há três categorias.
a) Efeito Simples: normalmente o significado do verbo composto pode ser determinado pelo
significado da preposição.
Ex:   rxomai – eu vou, mas eiserxomai – eu vou para dentro, entro. poreoumai – eu vou
mas ekporeoumai – eu vou para fora, saio.
b) Intensificação: a ideia do verbo é intensificada pela preposição.
Ex: ginwsgw – eu conheço epiginwskw – eu conheço completamente (implica envolvimento
pessoal).
c) Mudança Total: o significado do verbo é completamente mudado pela preposição.
Ex: ginwskw – eu conheço, mas anaginwskw – eu leio (ana c/Acus. = sobre).

VII – A posição de ou/


O negativo ou/, precede a palavra a qual ele nega. Como na maioria dos casos normalmente
se nega o verbo, o local normal dele é antes do verbo.
Ex: ou/ luw – eu não estou soltando. ou/ luomai – eu não estou sendo solto.

Aplicação: o verbo ginwskw, eu conheço, refere-se ao conhecimento adquirido por leituras,


aulas, etc., porém, epiginwskw significa a acumulação de conhecimento por envolvimento ou
experiência pessoal. O substantivo é epiginwsij, e aparece em 2Pe 1.2,3. De acordo com este verso,
graça, paz, vida e santidade vêm de um conhecimento concreto e precioso (total) de Deus, que é
baseado num envolvimento pessoal com Ele.
.
VIII – Alguns casos com verbos
Muitos verbos têm objetos em casos diferentes do Acusativo. Alguns pedem o
Genitivo e outros o Dativo. O uso deve ser aprendido por observação.
Ex: apokrinomai tw/ po/stolw – eu respondo ao apóstolo. akouw thj fwnhj – eu ouço a voz
(mas sem entendimento – escuto). Akouw thn fwnhn – eu ouço a voz (com entendimento).

OBSERVAÇÃO: At 9.7 fala que os companheiros de Paulo ouviram (com Gen.); mas em 22.9
fala que eles não ouviram (com Acus.). Não há contradição: eles não entenderam a voz, mas
escutaram um som incompreensível.

315
Lição 4
Tema 11 matema endeka
Imperfeito ativo do indicativo
I – Vocabulário
Palavra Significado
airw Levanto, levo.
anabainw Subo.
apoqnhskw Morro.
apokteinw Mato.
apostellw Envio (com comissão).
artoj, o/ Pão, pedaço de pão.
bainw Vou (a forma não aparece no NT, mas as formas compostas são comuns).
esqiw Como (comer).
kata prep., c/ Gen., contra c/ Acus., de acordo com significado original ‘para baixo’; tem muitos
significados no NT.
katabainw Desço.
men... de Por um lado por outro lado. Normalmente o men não é traduzido, e de é traduzido
por mas.
ouketi Adj. não mais. para Prep. c/ Gen. de c/ Dat., ao lado, na presença c/ Acus., ao (no, para)
lado.
paralambanw Recebo (noção, ao lado de). sun Prep. c/ Dat. com.
sunagw Ajunto, junto.
tote Adv., então (noção de algo que no passado eu não fazia).

II – Imperfeito ativo do indicativo


No tempo presente, não há uma forma especial do verbo grego indicar uma ação contínua; não
há distinção entre eu solto ou eu estou soltando. Mas no tempo passado esta distinção é mais forte do
que no Português. O tempo que é usado com Pretérito Perfeito é chamado de Aoristo (será estudado
depois). O Imperfeito do Indicativo representa a ação em processo no passado (linear). Vejamos a
conjunção do Imperfeito do Indicativo de louw, lavo:

Singular plural
e-lou-o-n Eu estava lavando, lavava. e-lou-o-me-n Nós estávamos lavando, lavávamos.
e-lou-e-j Tu estava lavando, lavavas. e-lou-e-te Vós estáveis lavando, laváveis.
e-lou-e Ele/ela estava lavando, lavava.
e-lou-o-n Eles/elas estavam lavando, lavavam.

Observação:
A) Note que, além das terminações, aparece um e antes do radical. Este é chamado de
aumento. Se o radical começa com uma consoante, o aumento é simplesmente prefixado a ele, e é
chamado de sábado. Se o radical começa com uma vogal, há uma fusão entre esta e o ‘aumento’, e
este é chamado de temporal. Vejamos a tabela abaixo que mostra esta fusão2
a = h ai = $ au = hu
e = h ei = $ eu = hu
o = w oi = %

Exemplo:
PRESENTE kou/w
IMPERATIVO hkouon gei/rw hgeiron ate/w htoun okodome/w wkodomoun e_ri/skw
h_riskon
B) A vogal temática é igual ao presente: o antes de m, n, e e antes das outras letras.
C) As terminações do imperfeito, para fins de estudo, devem ser consideradas como: -on, -ej, -
e, - omen, -ete, -on.
D) Na terceira pessoa do singular, às vezes aparece o –n móvel.
E) A primeira pessoa do singular e a terceira do plural são idênticas. Apenas o contexto pode

316
determinar qual pessoa deve ser usada3.

III – Aumento antes de verbos compostos


Nos verbos compostos o ‘aumento’ vem entre a preposição e o radical. Se a preposição
termina com uma vogal, esta desaparece.
Exemplos:
Presente kba/llw poktei/nw pa/gw
Imperativo ce/balon apekteion aphgon

IV – Imperfeito do indicativo de emi


Às vezes no Novo Testamento alguns ditongos não sofrem modificações.
Nota:
A) Na terceira pessoa do plural, a forma e-lou-o-san, às vezes, é encontrada.
B) No plural, formas como e-lou-a-men, e-lou-a-te, e-lou-a-n, são encontradas.
C) A tradução de eloun, além das significações dadas, pode ser, em certos contextos: eu ia
lavar, eu comecei a lavar, eu procurava lavar, eu continuava lavar, eu continuava a lavar, eu estava
acostumado a lavar, etc.

Singular
1. n e mhn, eu era, estava.
2. hj e esqa, tu eras, estava.
3. hn, ele/ela era, estava.
Plural
hmen e hmeqa, nós éramos, estávamos. hte, vós éreis, estáveis. hsan, eles/elas eram,
estavam.

Observação: A) A forma média mhn quase encostou o uso da forma ativa n. B) hsqa
é o velho perfeito, e é encontrado duas vezes no NT. C) hmeqa e hmen são usados quase o mesmo
número de vezes no Novo Testamento.

Tema 12 matema dwdeka


Imperfeito médio e passivo do indicativo sujeito neutro plural
I – Vocabulário
Palavra Significado
pe/rxomai dep. vou embora bibli/on, to/ livro daimo/nion, to/ demônio
dexomai/ dep. recebo, tomo kporeu/mai dep. Saio rgon, to/ trabalho
ti adv. Ainda kaconj.
 e, também, até ka... katanto... como
katerxomai/ dep. Desço ode/ conj. e não, nem ode/... ode/ nem...
nem
opw/ adv. ainda não
peri/ prep . c/ Gen., a respeito de concernente, sobre c/ Acus. Ao redor
ploon, to/ barco qa/lassa, h/ lago, mar
sune/rxomai dep. Reuno, vou ao encontro. _pe/r prep. c/ Gen. A favor c/Acus. Sobre.

II – Imperfeito médio e passivo do indicativo


A conjugação do Imperfeito Médio/Passivo do Indicativo de luw (solto, destruo, desato):
Singular
1. eluomhn, eu estava desatando para mim.
2. eluou, tu estavas desatando para ti.
3. elueto, ele/ela estava desatando.
Plural
1. eluesqe, nós estávamos nos desatando.
2. eluoesqe, vós estáveis vos desatando.
3. eluonto, eles/elas estavam se desatando.
As terminações pessoais do médio e passivo são:
Singular

317
1. –mhn
2. –so

Plural
1. meqa
2. sqe
3. –to 3. nto

Observação:
A) O aumento é colocado antes do trabalho, indicando tempo passado.
B) A tradução varia, como na voz ativa: eu me desatava, ou ‘ia’, principiava, continuava o/e é
normal.
D) A segunda pessoa do singular, luou é uma forma abreviada para eluou , é uma forma
abreviada para elueso.
E) Como no presente, também no Imperfeito, as vozes passivas e médias são idênticas. A
conjugação do Imperativo Passivo de lu/w (solto, destruo, desato):
Singular
1. eluomhn, eu estava sendo desatado.
2. eluou, tu estavas sendo desatado.
3. elueto, ele/ela estava sendo desatado.
Plural
1. eluomeqa, nós estávamos sendo desatados.
2. eluesqe, vós estáveis sendo desatados.
3. eluonto, eles/elas estavam sendo desatados.

Os verbos que são depoentes no Presente, também o são no Imperativo. Ex: rxomai – ‘eu
venho’; hrxomhn – ‘eu estava vindo’.

III – Sujeito neutro plural


Um Sujeito Neutro Plural, às vezes, tem o verbo no singular. Ex: ta/ daimo/nia cerxetai –
‘os demônios saem’. tauta esti ta/ kala dwra – ‘estes são bons presentes’.

IV – Uso de ka E ode/


A) Já vimos o uso de kas ignificando e. Mas ele tem outros usos. Frequentemente significa
‘também’, e ‘até’. Quando é usado assim, ele precede a palavra com a qual está logicamente
conectado. Ex: touto de ka  gw/ lgw – ‘mas isto eu também falo’. ginwskousi ka ta/ ton
nomon – ‘até as crianças conhecem a lei’.
B) ode/, como ka, tem o uso simples, significando ‘e não’, ‘nem’, mas também tem outros
usos como ‘nem mesmo’. Ex: touto de ou lgw ode/ legousin auto oi alloi – ‘mas isto eu não digo,
nem os outros dizem (isto)’ – Uso Simples. thn docan tou qeou blepousin ode/ oi maqhtai – ‘nem
mesmo os discípulos vêem a glória de Deus’.
C) Finalmente, ka... ka, ode/... ode/ significam respectivamente: ‘tanto... como’, e
‘nem... nem’. Ex: touto legousai kaoi apostoloi kaoi douloi – ‘tanto os apóstolos como servos
dizem isto’. Touto legousai ode/ oi apostoloi ode/ oi douloi – ‘nem os apóstolos nem os servos
dizem isto’.

Tema 13 matema dekatreij


Futuro ativo e médio do indicativo
Objetivos:
1. Verificar como se dá a formação do Modo Indicativo, reconhecendo as partes principais dos
verbos.
2. Aprender a formação e a conjunção de um verbo no Futuro do Indicativo Ativo e Médio.
3. Verificar a formação de radicais do Futuro e de outros tempos de vários verbos.

I – vocabulário
Palavra Significado
nable/pw fut. na/bleyw eu olho para cima, recebo minha vista.

318
bhsomai eu irei, fut. depoente de baino.
didacw eu ensinarei.
diw/kw fut. diwcw ... persigo, persisto, prossigo.
doca/cw fut. docasw ... glorifico.
leu/somai eu virei, irei. fut. ind. méd. de rxomai (depoente).
cw eu terei, fut. de xw
khru/ssw fut. khrucw ... prego.
genh/somai tornar-me-ei, fut. ind. méd. gi/nomai. (depoente).
gnw/somai eu conhecerei, fut. méd. (depoente) de ginw/skw.
lh/myomai tornarei, receberei, fut. ind. méd. (depoente) de lamba/nw.
proseu/xomai dep., ... oro, fut. proseu/comai.

II – Formação do indicativo
Para aprender a conjugação de um verbo no Grego, é necessário primeiramente, aprender as
Principais Partes dos verbos. Estas partes são as várias formas de tempo, nas quais os verbos são
escritos. Elas são as primeiras pessoas do singular do tempo. Por exemplo, as principais partes de lu/
w, são:
1. Sistema Presente lu/w
2. Sistema Futuro lusw
3. Sistema Aoristo elusa
4. Sistema Perfeito leluka
5. Sistema Perfeito Passivo lelumai
6. Sistema Aoristo Passivo elufhn

Uma vez que se conheça a primeira pessoa do singular de cada forma de tempo, tornasse fácil
conjugar os verbos em todas as vozes e modos, pois são baseados naquele radical. Como
exemplificado acima, a forma do Sistema Presente é lu/w, da qual o radical é lu-. Uma vez que se
conheça a primeira pessoa do singular do Sistema Presente é fácil conjugar o Presente e o Imperfeito
(nas Ativa e Média/Passiva), pois eles seguem um padrão muito consistente na língua grega. Verbos
regulares são aqueles onde todas as formas de tempo são derivadas do Presente. Lu/w é um verbo
regular. Nós estudamos o Sistema Presente (no Modo Indicativo), o qual é composto dos tempos
Presente e Imperfeito. Agora iremos estudar o Sistema Futuro, o qual é composto das formas do
Futuro Ativo e Médio. O Futuro Passivo é parte do Sistema Aoristo Passivo.

III – Futuro ativo do indicativo


Para a formação do futuro de um verbo regular, é só adicionar o sinal de futuro ( s )
ao radical do verbo, e acrescentar as terminações pessoais. (NOTA: nem sempre o radical de
um verbo é igual ao radical usado no Sistema Presente).
A conjugação do FUTURO ATIVO do Indicativo de lu/w:
Singular plural
1. lusw, eu soltarei. 1. lusomen, nós soltaremos.
2. luseij, tu soltarás. 2. lusete, vós soltareis.
3. lusei, ele/ela soltará. 3. lusousi (n), eles/elas soltarão.

Observações: A) O tipo de ação do Futuro pode ser pontilear (soltarei) ou durativa


(estarei soltando), mas geralmente é pontilear – denota uma ação que acontecerá no futuro;
B) As Terminações pessoais são idênticas às do Presente Ativo, inclusive as vogais temáticas;
C) O sinal de Futuro é adicionado ao radical.

A conjugação do FUTURO MÉDIO do indicativo de lu/w:


Singular plural
1. lusomai, eu soltarei para mim. 1. lusomeqa, nós soltaremos para nós.
2. lush, tu soltarás para ti. 2. lusesqe, vós soltareis para vós.
3. lusetai, ele/ela soltará para si. 3. lusontai, eles/elas soltarão para si.

Observações:
A) A tradição do Médio é eu soltarei para mim, etc.. No futuro as formas

319
Médias e Passivas são bem diferentes;
B) As terminações são idênticas às do Presente Médio;
C) O sinal de futuro é adicionado ao radical.

IV – Futuro ativo e médio de verbos terminados em consoantes


Quando o radical de um verbo termina numa consoante, o sufixo funde com esta consoante e
provocam os seguintes resultados:
1. Verbos com os radicais terminados em vogais: _ a, e, o
Ao adicionar s sofrem um alongamento: a + s = hs; e + s = hs; o + s = ws;
Exemplo:
agapaw (rad. agapa) = agaphsw
aitew (rad. aite-) = aithsw
fanerow (rad. fanero-) =
fanerwsw
2. Verbos com os radicais terminados em consoantes labiais
p, b, f + s = y
ble/pw (rad. blep-) = bleyw
niptw (rad. nib-) = niyw
grafw (rad. graf-) = grayw
3. Verbos com os radicais terminados em consoantes guturais
k, g, x + s = c
diwkw (rad. diwk-) = diwcw
agw (rad. ag-) = acw
exw (rad. sex-) = ecw
4. Verbos com os radicais terminados em consoantes dentais
t, d, q + s = s
swzw (rad. swd-) = swsw
peiqw (rad. peiq-) = peisw

V – Formação de radicais do futuro e de outros tempos


Neste caso de muitos verbos, os radicais de outros tempos são bastante diferentes do
radical do tempo presente. Veja o exemplo:
Presente radical futuro
khrussw khruk- khrucw
baptizw baptid- baptisw

Observações:
A) Em geral, o futuro de um verbo não pode ser formado por nenhuma regra, cada verbo deve
ser olhado no léxico, devido ao grande número de irregularidades;
B) A grande irregularidade na formação dos sistemas e a regularidade na conjugação de um
tempo dentro do sistema, pode ser ilustrado na comparação destes dois verbos: Presente = lu/w,
erxomai (dep.) – Futuro = lusw (lusomai, lusontai), eleusomai (eleusontai);
C) Ao fazer uma tradução é necessário procurar identificar o radical do Sistema Presente, para
procurar o significado num léxico – ex: acw pode ser akw, agw, ou axw, porém ao procurar no léxico
descobre-se que o segundo é correto;
D) Ao procurar identificar verbos compostos é necessário desassociar a preposição antes de
procurar no léxico – ex: apeleusesqe vem de eleusesqe, a primeira pessoa do singular é eleusomai. Ao
procurar no vocabulário vê-se que é o futuro de erxomai. Assim, apeleusesqe vem da forma grega
aperxomai, que deverá ser procurado no léxico para achar o significado;
E) Alguns verbos não são depoentes num tempo, mas são em outro – ex: bainw (presente) –
bhsomai (futuro médio depoente).

320
Bibliografia Básica

1. Nestre-ALAND. Novum Testamentum Graece Deutsche Bibelgesellschaft. 1994.


14. William Douglas CHAMBERLAIN. Gramática Exegética do Grego Neo-
Testamentário. (Tradutor: Dr. Waldyr Carvalho Luz). Casa Editora Presbiteriana. SP.
1989.
15. W.C. TAYLOR. Introdução ao Estudo do Novo Testamento Grego. Editora Batista
Regular, SP. 1999.
16. Francisco Leonardo SCHALKWIJK. Coinê: pequena gramática do Grego Neo-
Testamentário. CEIBEL. 1994.
17. Bárbara FRIBERG & Timothy FRIBERG. O Novo Testamento Grego Analítico.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. SP. 1987.
18. F. Wilbur GINGRICH & Frederick W. DANKER. Léxico do N.T. Grego/Português.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. SP. 1993.
19. Waldyr Carvalho LUZ. Manual de Língua Grega. Vols. I-III. Casa Editora
Presbiteriana, Cambuci, SP. 1991.
20. William Sanford LASOR. Gramática Sintática do Grego do N.T.. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova. SP. 1990.

321
HEBRAICO

322
Introdução Linguística do Aramaico

O Aramaico é uma língua Semítica e foi à língua que Jesus se


expressava em seu dia a dia.
A origem do Aramaico é atribuída aos caldeus (na Mesopotâmia,
o local do Éden) e as primeiras formas de escritas aramaicas
apareceram na versão Cuneiforme, um tipo de alfabeto inventado
pelos sumérios que influenciou a cultura hitita e Fenícia. Mais
tarde, o Aramaico desenvolveu um alfabeto próprio, sendo,
contudo perfeitamente visível à influência cuneiforme do
Aramaico do tempo de Jesus (Aramaico Siríaco), e é usado hoje
por cristão Sírio-Ortodoxo na liturgia do rito (culto), em diversas
cidades próximas de Damasco.

Cidade de Ma’alula no deserto da Síria tem lindos mosteiros e lendas Há uma hora depois
da cidade de Damasco no deserto da Síria, está localizada na costa da montanha Al-Qalamoun ou
Kalum a cidade de Ma´alula, uma pequena vila com mais de vinte mil habitantes, que ainda hoje
falam o Aramaico, a língua que Jesus falava. Ma’alula fica em meio à Síria. Com suas paisagens
constitui um belo povoado, imponentes rochas, casas simples e coloridas enfeitam o lugarejo. Em
época de inverno é possível avistar de longe os topos das montanhas cobertas por neve, em contraste
com o solo arenoso do deserto.
O Aramaico é nos dias de hoje, à segunda língua do idioma oficial de Ma’alula. E também a
cidade é um recanto cristão no meio da Síria. São vinte cinco por cento da população a dominarem o
Aramaico. Assim como ocorre nas três localidades muçulmanas vizinhas, Yabadin, Curdistão, Sarja,
e Tur’ Abdin. É exatamente na cidade de Ma’alula que está localizada à Igreja de São Sérgio e São
Bacu, e outras igrejas que; segundo alguns arqueólogos e até mesmo o jornalista Roberto Cabrine
que em sua visita na cidade de Ma’alula ele encontrou um líder ortodoxo que possui o pergaminho em
Aramaico Siríaco que contém á oração mais próximo que Yeshua ensinou aos seus discípulos ( o Pai
Nosso, em maio de 2007).

Das línguas semíticas, o Aramaico é o maior e melhor atestado que se tornou a língua franca
do Oriente médio a língua oficial do império Persa, e manteve-se a principal língua falada durante o
período formativo do cristianismo e do judaísmo rabínico, até que foi deslocado pelo Árabe no
sétimo século (Vll) d.C. Os sírios adotaram as escritas fenícias alfabéticas, aumentando-as com os
usos de letras e vogais, e parecem ser responsáveis pela sua propagação em todas as regiões árabes.

A divisão linguística

Segundo o Dr. Reginaldo Gomes de Araújo, em seu livro de Gramática do Aramaico Bíblico pg
22,23. A Língua Aramaica é comumente dividida em diversos dialetos, organizados e classificados
segundo princípios cronológicos e geográficos.

Cronológico:
1ª. Aramaico antigo. A parte mais antiga desse idioma foi achada em inscrições dos reinos
arameus. Todas essas inscrições foram descobertas no Norte da Síria (nas proximidades da cidade
de Aleppo). Cronologicamente pode-se datá-las entre o décimo (X) e sétimo (VII) séculos a.C. A
linguagem desse texto divide uma variedade de aspectos com o Hebraico, sugerindo assim que a
divisão entre o Aramaico e a ramificação canaanita (Hebraico e fenício) do semítico ocidental é
relativamente diferente.
2ª. Aramaico oficial. Este período é conhecido como oficial ou imperial, por causa da sua
função administrativa, a qual o Aramaico assumiu no império Persa, indo do século sexto (VI) ao
quarto (IV). Faz parte desse período o Aramaico bíblico. Documentos de Elefantina e documentos de
Driver. Podemos ainda dizer que este idioma assumiu, nesta época, o valor de língua franca do
Oriente Médio.
3ª. Aramaico Médio. É o Aramaico do terceiro (III) século a.C. Até mesmo, os séculos primeiros
(I) e (II) a.C. Este período esta caracterizado por textos encontrados em Aramaico com variações nas
escritas e nas morfologias. É texto encontrado na Pérsia, Índia, Afeganistão, e no Cáucaso. Desse

323
período temos ainda obras como o Targum Onqelos, documentos de Cumran, escritos em Aramaico e
Aramaico do Novo Testamento (B’rit Hadashah. Nova Aliança). Depois que Judá foi dominada pelo o
imperador da Babilônia Nabucodonosor, os Judeus adotaram o Aramaico que era originalmente o
alfabeto Fenício. Devemos distinguir aqui entre língua e escrito: poderíamos teoricamente escrever
português usando o alfabeto Hebraico, Cirílico ou Japonês. Alguns textos em Aramaico foram escrito
usando o Egípcio (Demotico) e Cuneiforme.
4ª. Aramaico tardio. O termo Aramaico tardio é usado para textos escritos entre o segundo (II)
e (IV) quarto século d.C. Da Palestina veio uma forte produção literária do judaísmo, inclusive o
Talmudi Palestino, os Midrashim e diversos Targumim. Encontramos, ainda, nesta região escrita cristã,
possivelmente Judeus convertidos, e samaritânos. Assim como na parte oriental, encontramos judeus
Babilônicos com o Talmud Bavli, textos em Mandaico e Siríaco.
5ª. Aramaico moderno. Denominamos aqui de Aramaico moderno o Aramaico falado hoje em
diversas cidades próximas de Damasco, entre elas podemos citar a maior: Ma’lula. Como também,
alguns cristãos no sudeste da Turquia presentes em Tur’ Abdim.

Geográfico:
Geograficamente podemos dividir o Aramaico em dois grandes grupos: Oriental e Ocidental.

Oriental ou Babilônico
Nesta parte encontramos os dialetos:
1ª. Babilônico. Representado pelas partes de escritas em Aramaico do Talmud Bavli.
2ª. Mandaico. Representado pela Bíblia desta seita conhecida pelo nome Ginza ou Sidra
Rabah (livro de João Baptista) e Qolastah (doutrinas mandaicas).
3ª. Siríaco. Nascido do Aramaico Oriental, o Siríaco é a língua dos antigos cristãos sírios,
usada hoje na liturgia do rito Siro-Ortodoxo.

Ocidental ou Palestino.
Nesta parte encontramos os dialetos:
1ª. Bíblico
2ª. Galileu Encontramos no Talmud Palestino, Midrashim do Gênesis, Levítico, Cântico dos
cânticos e Lamentações.
3ª. Judaico. Encontramos no Targum do Pentateuco de Onqelos e no Targum dos profetas de
Jonathan.
4ª. Samaritano. Escritos do Targum Samaritano do segundo ou terceiro século. Também
inscrições em Damasco e de Amwas.
5ª. Palmireno. Falado no celebre Oásis do deserto Sírio.
6ª. Nabateu. Encontrado no reino situado entre o golfo de Ákaba e o Mar Morto.

Introdução histórica do povo Judeu


O TANACH é a referência para entendermos a história do povo judeu, de acordo com as
escrituras sagradas. O povo Judeu tem a sua origem no patriarca Avraham (Abraão) que viveu
4.000 anos atrás em Ur, numa cidade muito antiga no noroeste da Mesopotâmia, Avraham foi pai
de Ytzchak (Isaque) e Ytzchak gerou a Yaakov (Jacó,Israel) e Yaacov teve doze filhos que
formaram as doze tribos de Israel. Por volta de 2000 a.C. Após Avraham sair de harã com sua esposa
e seu sobrinho Ló, para a terra de Knaan, Deus lhe fez uma promessa, que daria a sua semente
aquela terra Gn 12:5-7. Mas por conta da fome em Knaan o patriarca dos doze filhos Yaakov (doze
tribos) emigra para o Egito Gn 12:10.
Avraham sai do Egito após ser expulso, por ter mentido para Faraó, e passa a habitar no Sul
do Egito entre Betel e Ai Gn 13:3. No tempo de Ytzachak também houve fome em sua terra, porém o
Eterno lhes deu ordem para que ele não descesse ao Egito Gn 26:1-3. Da mesma forma aconteceu
nos dias de Yaakov, por haver fome na terra de Knaan, o patriarca Yaakov pede que seus dez filhos
migram para o Egito Gn 42, o qual era governado pelo seu filho Yosef (José).
Neste período o Egito era conduzido pelos hicsos, este termo é um termo egípcio que
significa príncipes que vieram de outros países estrangeiros. Faraó era considerado um Hicso, e por
este fato facilitou para Yaacov, quando ele chegou ao Egito, pois os hicsos tinham muito interesse
em fazer aliança com os semíticos, para fortalecer seu domínio no Egito Gn 47:3. Até então os
egípcios não eram propriamente dito o povo dominante do Egito, mas ao fortalecer sua aliança com

324
outros povos, contudo, puderam ter suas dependências, expulsando os hicsos, não apenas do Egito,
mas também da antiga província egípcia de Knaan. Este fato histórico ocorreu aproximadamente no
ano de 1500 a.C.
Os descendentes de Yaacov que haviam prosperado nas terras que a eles foram destinadas, a
leste do Delta, em Goshen Gn 47:6. Apesar de terem recebidos de Faraó meios de sobrevivências,
eles sofreram grandes dificuldades quando se viram forçados ao sistema de vida dos egípcios, o qual
era bastante estranho para eles.
A escravização propriamente dita ocorreu na época de Ramsés ll, isto é, por volta de 1280
a.C. Ramsés havia dirigido uma guerra contra os hititas, e foi derrotado por eles. Para esmagar
estas revoltas, foi preciso mobilizar muitos soldados egípcios, o que ocasionou falta de mão de obra
dentro do país. Ramsés, para recuperar seu prestígio, deu início a uma série de construções
monumentais, como uma nova capital, chamada Ramsés e o templo de Aton, na região de Goshen.
Como havia pouca mão de obra, foi preciso escravizar os hebreus e outras tribos estrangeiras. Sendo
assim os hebreus são escravizados pelos Faraós por aproximadamente 430 anos. O desejo de
libertação não era apenas físico, mas também espiritual cultural e religioso.

Moisés o libertador escolhido pelo o Eterno Elohim


Mas quando se aproximava os 430 anos de escravidão na terra da servidão, finalmente, o
Eterno Deus levanta Moshéh (Moisés) para por um ponto final na história dos hebreus e, liberta seu
povo da escravidão, por volta do ano 1300 a.C.
O Eterno fez com que durante 40 anos eles caminhassem no deserto. Pois a mentalidade de
escravo ainda fazia parte da vida do seu povo, por muitas vezes eles reclamavam para o seu líder,
fazendo comparação do deserto e o Egito, eles diziam: Porventura não tinha sepultura no Egito, para
que nos tirou dela? Para que neste deserto morramos? E por muitas vezes por causa da fome eles
tinham saudades dos legumes do Egito. Por dois motivos, Deus, conduziu o seu povo pelo caminho do
deserto.
1ª. Motivo: Os hebreus saíram do Egito com armas, porém eles não tinham experiência em
usa-las. Se Deus tivesse conduzidos pelo o caminho da terra dos filisteus, eles teriam que levantar
uma guerra contra os filisteus, mas como eles não tinham experiência em batalha Deus assim os
conduziu-os pelo deserto. Então para que o povo não se arrependesse vendo a guerra e tornassem ao
Egito, Deus os conduziu pelo caminho do deserto e foi no deserto que o povo tiveram um grande
preparo militar por homens como Josué e Ur.
2ª. Motivo: Pelo o fato dos hebreus saírem do Egito com a mentalidade de escravo, e por não
terem uma formação social e cultural, em virtude dessa questão o deserto foi o ponto estratégico que
Deus preparou para capacitar o seu povo, pois foi nesse período que Deus preparou a Torá e outros
códigos de ética de vida, os quais por intermédio desses códigos eles recebiam instruções, as quais os
outros países já possuíam suas leis cívicas, leis governamentais e leis religiosas. Ou seja Deus queria
trazer um novo padrão cultural de vida para o seu povo. A final como o povo tomaria posse de uma
cidade? Apenas com a experiência em batalhas? Como seria o governo de uma cidade sem uma
cultura, sem educação, sem conhecimentos administrativos?

Conclusão:
Por esses dois motivo Deus conduziu o seu povo pelo deserto; ele estabeleceu um novo
padrão de vida educacional cultural e, além disso, escolheu homens como Josué e Ur os quais
prepararam os hebreus para os campos de batalhas.

A língua original do Antigo Testamento


A Língua original do antigo testamento é o hebraico, com ligeira exceção: Ed 4:8; 8: 18. 7: 12-
26, Jr 10:11. Dn 2:2-7.28 Gn 25: 20, 31,18; 33;18;35,9. Gn 24: 10. Dt 3: 25; 26,5. Que foram escritos
em Aramaico. A língua Hebraica é chamada no antigo testamento de, a língua de knaan Is 19:18, e
língua Judaica Is 36: 13; 2ºRs 18:26,28; lê-se da direita para a esquerda, e o alfabeto compõe-se de
22 letras. O Hebraico é uma língua que excede a todas na simplicidade e nobreza de sua forma. Era
escrita apenas com as consoantes. Mas devido os judeus serem levados cativos para Babilônia, eles
tiveram que aprender a língua falada daquele lugar (Aramaico). Em virtude desta questão, a língua
Hebraica foi entrando em desuso, aponto de ser considerada por alguns como língua morta (não mais
falada). Mas depois de 70 anos de cativeiro, os Massoretas a fim de dar vida novamente para a
língua Hebraica, e para os textos, eles propuseram tenuót sinais, pontos e pequenos traços em cima e

325
embaixo das letras, indicando as vogais e as paradas, em que os leitores devem respirar. Esses sinais
masoréticos, são pequenos pontos que representam as vogais do Português.
Se o Hebraico era uma língua consonantal, ou seja composta apenas de consoantes, então ela
deixou de ser uma língua consonantal, devido os acréscimos dos sinais masoréticos?
O Hebraico não deixou de ser uma língua consonantal, mesmo que nos dias de hoje existem
os pontos masoréticos, ela continua sendo uma língua consonantal, os sinais masoréticos são
utilizados nas consoantes, apenas para dar som às palavras. Mas o uso das vogais são utilizados
entre o primeiro e, o segundo ano escolar. Depois de certo tempo de práticas das palavras com as
vogais (das mesmas palavras), o aluno passa ler apenas com as consoantes, as vogais estarão
ausentes das consoantes no momento da leitura, (porém, estará presentes na mente do leitor). Ao
notar as consoantes que fazem parte da formação de uma palavra, logo então o leitor se lembrará
das vogais que fazem parte de cada consoante na formação daquela palavra.

A língua Hebraica e momentos históricos


O Hebraico é uma Língua Sagrada para os judeus, devido ao fato de ser a língua em que foi
escrita a Torá, é uma língua que pertence à família das línguas semíticas, as quais pertencem o Árabe,
o Aramaico, Ugarítico, Acádico, Fenício, Púnico e o Siríaco, sendo que alguns estudiosos acreditam
que essas são originadas de um mesmo idioma-raiz conhecido como Paleo-Semítico, que teria existido
cerca de quatro mil anos atrás. O Hebraico seria uma ramificação desta raiz, desenvolvido entre o
povo hebreu, e cuja história pode ser dividida em quatro estágios básicos, mas, porém um dos
principais, a saber: Hebraico Bíblico, Mishnaico, Medieval e Moderno. Assim como toda língua que
está em ação, e tem o seu desenvolvimento e sua modificação, no decorrer da sua história a língua
Hebraica, também passou por modificação durante a sua evolução como idioma falado e escrito do
povo judeu. Através dos séculos, sua morfologia e seus vocabulários sofreram modificações, podendo
ser percebidos através de muitos documentos antigos e modernos.

Período histórico da língua, pós-exílico.


Os Yehudim (judeus) que se instalaram ao norte da Pérsia, com o passar do tempo eles foram
se adaptando ao segmento do Arami (Aramaico), e o Yvrit (Hebraico) aos poucos caiu em desuso.
Contudo, como essa literatura ainda hoje é parte integrante das escrituras, os caracteres ainda hoje
permanecem preservados em outros idiomas.
Após os 70 anos do cativeiro babilônico, o Aramaico tornou-se a língua vernácula da Judéia
restaurada. Diversas obras famosas foram escritas em Aramaico, como o Targum, o Talmude e outros
livros do escritor Flávio Josefo, embora muitos desses últimos não foram preservados em sua forma
original. No seguimento da destruição de Jerusalém e do Segundo Templo, no ano 70 d.C., os judeus
começaram gradualmente a dispersar-se da Judéia para diversos lugares do mundo, esse período e
conhecido como à época da diáspora. Por muitos séculos o Aramaico permaneceu como a língua
falada pelos judeus da Mesopotâmia, e o Lishana Deni, conhecido também como Judaico- Aramaico,
é um moderno descendente que ainda é falado por milhares de Judeus (e muitos não judeus) na
região conhecida como Curdistão; contudo, essa língua gradualmente cedeu lugar ao Árabe, como deu
lugar a outros judeus falarem em países os quais os judeus emigravam.
Após este período a língua Hebraica foi considerada como uma língua extinta, os judeus
tiveram que adotar em seus países de residência outras línguas nomeadamente como ladinas e o
iídiche, eles não estavam diretamente relacionados com o Hebraico (a primeira baseada no
Espanhol peninsular com empréstimo do Árabe, e a última, um antigo dialeto do Alemão
medieval), contudo, ambas foram escritas da direita para a esquerda, utilizando o alfabeto Hebraico.
A língua Hebraica também estava sendo utilizada como uma língua de comunicação entre os judeus
de outros países, particularmente com o propósito de facilitar o comércio internacional.
A mais importante contribuição para a preservação da leitura do Hebraico tradicional, nesse
período foi aquela dos eruditos chamados de os massoretas, que ocorreu aproximadamente do
sétimo ao décimo século d.C. que criaram algumas marcações suplementares para indicar as posições
onde deveriam existir vogais, assim como a acentuação tônica e os métodos de recitações. Desse
modo os textos originais do Hebraico que usavam apenas as consoantes passaram a contar com as
vogais, entretanto, algumas consoantes foram usadas para indicar vogais longas. Na época dos
massoretas esses textos eram considerados muitos sagrados para serem alteradas, assim todas as
marcações foram adicionados na forma de Tenuót - diacríticos (pequenos pontinhos e pequenos
traços) dentro e em baixo das consoantes.

326
Os Dez Mandamentos

A restauração da língua hebraica


Após a saída do cativeiro da Babilônia, o povo Judeu permaneceu falando a
língua que era falada na Babilônia (Aramaico) aproximadamente do século quinto
(V) até o século sexto (Vl) d.C. Após o sexto século devido a deportação do povo
Judeu (de sua terra nata)l, eles tiveram que fazer uso de outras línguas, como o
Árabe o Inglês, até que por intermédio dos esforços de Eliezer Ben Yehuda o povo
judeu tiverão novamente sua língua natal (Hebraico) restaurada. Eliezer Ben
Yehuda como um revolucionário na Rússia Czarista juntou-se ao Movimento
Nacional Judaico e emigrou para a Palestina em 1881. Motivado pelos ideais que o
circundavam de renovação e de rejeição do estilo de vida dos Judeus da Diáspora,
dedicou-se a desenvolver uma nova forma de escrita da língua Hebrica de modo
que os judeus pudessem usar para a comunicação do dia-a-dia.
Embora que no começo da sua obra o Movimento Nacional não ter aceitado. A carência de
uma língua comum que já estava sendo falada e entendida por muitos. O Comitê da Língua Hebraica
em breve seria constituído. A academia da Língua Hebraica mais tarde tornar-se-ia, uma organização,
que existe até os dias de hoje.
Enfim o resultado do seu trabalho e do comité foi publicado num dicionário (O Dicionário
Completo de Hebraico Antigo e Moderno). Com base no Hebraico bíblico Eliezer criou o Hebraico
moderno. Quando no comité era combinado criar novas palavras para determinados conceitos, Eliezer
procurava em índices de palavras bíblicas e dicionários estrangeiros, particularmente de Árabe (não
significa que o Árabe veio antes que o Hebraico, pois o Árabe derivou-se do Aramaico no
sétimo (VII) século d.C, que também é uma língua semítica).
Obs: Existe uma corrente que diz que o Árabe é antes que o Hebraico. Se estiver se referindo
ao moderno tudo bem, más ao Hebraico bíblico jamais.
E nesta criação Eliezer sempre preferia às raízes Semíticas Europeias, a abundância de
falantes europeus de Hebraico levou à introdução de muitas palavras estrangeiras. E outras
modificações que tiveram espaço à medida que a língua Hebraica estava entrando em uso novamente.
O Hebraico particularmente teve uma pequena influência do Russo. Por exemplo, o sufixo Russo Ácida
é usado em nomes onde o Português usa o sufixo-ação. Isso aconteceu tanto em empréstimos diretos
do Russo, como por exemplo: industrializacia, industrialização, e em palavras que não existem em
Russo.
A língua Hebraica recebeu também influência do Inglês que é também muito forte
parcialmente, devido à administração Britânica da Palestina, que durou cerca de 30 anos, e devido a
laços fortes com os Estados Unidos. E também a influência do Ídiche é notada nomeadamente nos
diminuitivos. Até mesmo o Árabe, sendo a língua de uma boa parte de judeus, mizraicos e sefarditas
imigrados de países Árabes, assim como dos palestinianos e árabes Israelitas, teve uma importante
influência sobre o Hebraico. O Hebraico moderno a princípio era escrito em forma quadrática. É o
mesmo alfabeto derivado do Aramaico, que foi usado para copiar livros religiosos em Hebraico durante
dois mil anos. Este alfabeto tem também uma versão cursiva, que é usada para a escrita à mão. Paleo

327
Hebraico: Este Hebraico era a língua falada pelo antigo povo de Israel desde a época dos patriarcas.
Esta língua foi desenvolvida em kanaã tendo uma forte influência canaanita-egípcia. Sua forma de
escrita era efetuada no antigo alfabeto Hebraico myhla arb tyçarb Gn 1 a (o mesmo que foi escrito a
Torá). Perduraria até o cativeiro Babilônico.
Ashuri, língua adotada pelos judeus após o retorno da Babilônia, derivada do Aramaico,
possuindo um alfabeto quadrado. Com a adoção da língua Aramaica também o antigo Hebraico
passou a ser escrito com este alfabeto (o mesmo que se utiliza, até em nossos dias o Hebraico
moderno). A adoção da escrita Hebraica com caracteres Aramaicos é atribuída a Ezra, o escriba.

As divisões linguísticas
Além dessas divisões linguísticas já citadas, existem outras divisões da língua Hebraica que
também é de suma importância. Segundo os relatos de Sáenz-Badillos e Rabin eles classificam e
datam da seguinte forma os períodos históricos das divisões linguísticas do Hebraico:
Hebraico medieval: Décimo (X) ao décimo quinto século (XV) d.C.
Hebraico pré-exílico ou hebraico clássico: Décimo (X) ao sexto séc. (VI) a.C.
Hebraico pós-exílico ou hebraico tardio: Sexto (VI) ao segundo séc. (II) a.C.
Hebraico de Hirbet Qumran: Segundo (II) a.C. ao segundo séc. (II) d.C.
Hebraico medieval: Décimo (X) ao décimo quinto séc. (XV) d.C .
Hebraico arcaico: Gn 49, Êx 15, Nm 23 e 24, Dt 32 e 33, Jz 5, Sl 68 etc.
Hebraico pré-exílico ou hebraico clássico, (Hebraico bíblico): o Pentateuco, Josué, Juízes,
1Samuel e 2Samuel, 1Reis e 2Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Amós, Oséias, Miqueias etc.
Hebraico pós-exílico ou hebraico tardio: Esdras, Neemias, 1Crônicas e 2Crônicas, Ester,
Ruthe, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, Cântico dos Cânticos, Joel, Obadias, Ageu, Zacarias,
Provérbios etc. Hebraico de Hirbet Qumran: o pesher de Habacuque, o Testamento dos Doze
Patriarcas, a Regra da Associação, o Documento de Damasco, a Regra da Guerra, o Rolo do Templo
etc. Hebraico rabínico ou hebraico talmúdico ou, neo-hebraico, (Hebraico Mishinaico): A literatura
tanaítica, a literatura amoraítica, a Mishná (a seção do Talmude escrita em Hebraico) etc.
Esses momentos históricos da língua Hebraica revelam os seus desenvolvimentos e evoluções
de contínuas, é às vezes profunda em suas estruturas linguísticas. Pelo que alguns pesquisadores
dizem que de todo esses períodos já citados acima, os três primeiros (Arcaico, pré-exílico e pós-
exílico) são considerados desenvolvimento do Hebraico bíblico, fato que se percebe ao longo da
composição dos próprios livros da Bíblia Hebraica.

As divisões geográficas das línguas semíticas


Línguas semíticas
O hebraico e o aramaico pertencem à família das línguas Semíticas. Essas Dividem-se em
quatro grupos:
Semítico do Sul: inclui o Árabe e o Etiópico. Anteriormente o Árabe era praticamente o único
canal de aproximação ao estudo do Semitismo antigo. Atualmente, o Acádico tomou o lugar do Árabe
nesta função. Os comentários atuais dos textos bíblicos ignoram muitas referências úteis ao Árabe
que enchiam os comentários da primeira metade do século.
Semítico do Noroeste: é o Cananeu em suas distintas formas: o Hebraico, Moabita, Edomita
por uma parte, e Ugarítico, Fenício e Púnico, por outra.
Semítico do Norte: é basicamente o Aramaico, subdividido em dois grupos: o grupo
ocidental (o Aramaico da Bíblia, dos Targumim e da Gemará, do Talmud Palestinense e ainda o
Samaritano e o Nabateu) e o grupo oriental (o Aramaico do Talmud Babilônico e o Siríaco das
traduções bíblicas e dos escritos cristãos e Mandeus).
Semítico do Leste: compreende o Acádico e suas línguas derivadas, Assírio e Babilônio.

Os judeus Ashkenazim e Sefaradim


Segundo o Dr. Gabriel Steinberg Schvartzman, existem cerca de 14 milhões de Judeus
esses estão espalhados pelo mundo todo, e que existem dois grupos principais de Judeus:
Os judeus Ashkenazitas ou Ashkenazim (Hebraico: Ashkenaz znKva
, Alemanha; znKva
, Judeus
oriundos da Alemanha, Europa Central ou Oriental). Designa originalmente o neto de Noé chamado
Ashkenaz, mas que assumiu um novo sentido etimológico com a palavra em hebraico medieval.

328
É usado para denominar os judeus provenientes da Europa central, oriundos sobre tudo de
zonas onde se fala o iídiche. Os Judeus Sefaraditas, ou Sefaradim (Hebraico drps, Sefarad,
Espanha, ydrps , Espanhol, Judeus nascidos na Espanha). Os sefarditas fugiram das
perseguições movidas na Península Ibérica pela inquisição espanhola (1478 -1834), dirigindo-se a
vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte da África, onde viveram durante séculos.
Milhares se refugiaram no Novo Mundo, principalmente Brasil e México, onde, nos dias atuais
concentram milhares de descendentes dos fugitivos. Na atualidade os sefarditas são divididos em:
Ocidentais e Orientais. Ocidentais são os chamados judeus hispano-portugueses. O rito ocidental é
conhecido como Castelhano-Português. Orientais são os sefardim que viveram dentro do Império
Otomano.
Eles são denominados de Semitas (Sem, o filho de Noé). São conhecidos como Hebreus filho
de Heber (neto de Sem), povo dalém do rio Eufrates. Nos dias de hoje, eles são conhecidos como
Israelitas pelo o motivo de serem pessoas descendentes de Israel (Yaacov) e Israelenses por conta de
habitarem na terra de Israel.
Mas além desses dois grupos de Judeus, existem em Nova York cerca de três milhões de
judeus americanos que fizeram escalas no Brasil. Em 1654 um pequeno grupo de Judeus partiu de
Recife para se fixarem na América do Norte. Esse grupo inicia com 23 pessoas, que abriram caminhos
para a chegada de outros sefaradim (Judeus oriundos da Península Ibérica, hoje também
concentrados no Oriente e na África.). Depois, do descimo nono século 19 (XIX), a comunidade
acolheu milhões de Ashkenazim (Judeus procedentes da Europa Oriental e da Alemanha). Hoje,
com mais de três milhões de Judeus, Nova York é a capital mundial do Judaísmo.
E segundo as tradições dos pioneiros do Recife ainda são mantidas as sinagogas das
Congregações Shearith Israel, que eles fundaram. A atual sinagoga de frente para o Central Park na
esquina da Rua 70 Oeste, é a quinta construída pela Congregação, as anteriores foram demolidas.
E ainda existe o primeiro cemitério onde foram sepultados muitos Judeus, mas porem agora o
mais antigo da cidade fica em Chatham Square, em um antigo bairro. As lápides dos 107 túmulos
foram quase apagadas pelo tempo. Mas alguns nomes não deixam dúvidas sobre a origem de alguns
Judeus (não apenas os Judeus que migraram de Recife, mas também Judeus da diáspora):
Abravanel, Abreu, Amorah, Amorim, Araújo, Dias, Leite, Pereira, Mendes, Gomez, Seixas, Pinto,
Fonseca, Burgos, Lopes, Oliveira, Cardozo e, muitos outros.

O calendário Judaico
Segundo á Morá Cecília Bem David do CCJ, o calendário do povo judeu foi definitivamente
fixado no ano 358 a.C. Por Avot Hilel II em nome do Bet Din em Yerushalaim.
Segundo o costume bíblico, os meses eram contados a partir do mês de Nisan, mas o inicio do
calendário religioso se dá em Tishri. O ano Judaico consiste no calendário de doze meses lunares:
Nissan (Março e Abril contém 30 dias) neste mês é o tempo das chuvas serôdias, colheitas de
cevadas (festa do Pessah e dos pães Asmos); lyar (Abril e maio contém 29 dias) neste mês é o
tempo de colheita geral y(nIv. Shny Pessah, segunda Pascoa); Sivan (Maio e Junho contém 30 dias)
neste mês é o tempo de vinicultura (Poda das vinhas, neste mês também comemora-se a festa
de Shavuot); Tamuz (Junho e Julho contém 29 dias) neste mês coletam-se as uvas; Av (Julho e
Agosto contém 30 dias) o tempo do grande verão, é o fim da colheita das uvas; Elul (Agosto e
Setembro contém 29 dias) é o mês do toques das trombetas a santa convocação , dia da expiação,
do tabernáculo, da Assembleia solene, das chuvas temporãs, da colheita das oliveiras;
Tishri (Setembro e Outubro contém 30 dias) é o tempo de arar aterra, e tempo de colheita
das azeitonas; Cheshvan (Outubro e Novembro contém 29 dias) no final do mês de Novembro para
a entrada do de Dezembro é o do plantio de grãos e de cereais, é tempo de dedicação;
Kislev (Novembro Dezembro contém 30 dias) é o mês de chuvas do inverno; Tevet
(Dezembro e Janeiro contém 29) no final do mês de Janeiro é o tempo de floração das amendoeiras,
mês da primavera; Shevat (Janeiro e fevereiro contém 30 dias) é o mês da colheita dos frutos
cítricos, colheita de figo e; Adar (Fevereiro e Março contém 29 dias) é o mês da primeira Pascoa,
festa dos pães Asmos, e tempo de chuvas tardias.

329
Tais meios primitivos de comunicação provaram evidentemente ser insuficientes e confusos,
para as comunidades localizadas a grandes distâncias de Yerushalaim, especialmente depois da
dispersão, final que começou em 70 a.C. Era necessário que se criasse um calendário judaico fixo,
baseado em cálculos precisos, para que todos os lugares os mais distantes -- na Grécia, na
Babilônia, no Egito, na Cirenaica, na Pérsia, e em Roma. O estudo da astronomia com vista ao
calendário tornou-se uma parte necessária do currículo rabínico. Muitos eram os calendários modelos
apresentados ao Sinédrio pelos sábios de tendência científica. Rabi Akiva tentou organizar um
calendário lunar uniforme no início do segundo século (II) intercalando, ou acrescentando, um mês a
mais, criando assim um ano bissexto de treze meses. Essa ideia do ano bissexto quase causou uma
cisão entre os judeus da Judeia e os da Babilônia.
A discursão foi muito acirrada e durou uma geração inteira. De acordo com o cômputo dos
rabinos, o ano solar foi calculado por eles em 365 dias, 6 horas, 48 minutos e, 12 segundos.
Consequentemente, o ano lunar tinha menos 10 dias, 21 horas e 12 segundos do que o ano
solar. Admitir que essa diferença de contagem do tempo não fosse conciliada resultaria em lançar a
confusão nas datas das festas Judaicas. Então os astrônomos rabínicos propuseram uma solução.
Acrescentaram um mês adicional, depois de cada três anos num ciclo de dezenove anos.
Assim haveria um décimo terceiro mês a saber o mês de Adar (Beit, o segundo Adar)- em
sete vezes intercaladas num ciclo de dezenove anos; a saber, no terceiro, sexto, oitavo, décimo
primeiro, décimo quarto, décimo sétimo e décimo nono. Os Judeus da antiguidade, contavam o dia de
noite para noite, conforme nos relata o livro de Gêneses: E houve noite e houve manhã, um dia. O
dia, que consta de vinte e quatro horas, termina ao cair da noite – o limite entre o dia que passou e o
dia que vai começar. É marcado pelo aparecimento de três estrelas de segunda magnitude,
claramente visíveis a olho nu (alguns astrônomos modernos são de opinião que, em condições
normais da atmosfera, essas estrelas podem ser vistas ao cair da tarde, quando o sol está a
sete graus abaixo do horizonte).
Os dias da semana naturalmente têm sete dias, eles não têm nomes e são chamados de IOM
RISHOM, o primeiro dia, IOM SHENÍ, o segundo dia, IOM SHLISHÍ, o terceiro dia, IOM RÊVIÍ, o
quarto dia, IOM CHAMISHÍ, o quinto dia, IOM SHISHÍ, o sexto dia e o SHABAT, o de parar.
Também se deve notar que, apesar do ano novo religioso (ROSH HASHANAH) começar com o
primeiro dia de Tishri, o calendário Judaico designa o mês de Nissan, na primavera, como o começo
do ano religioso. E o mês de Tishri como o primeiro mês Civil.

As festas Judaicas

Purim. Tem seu nome da palavra PUR, que significa: sorte, pois, por sorteio escolhera Haman
o dia em que havia de cumprir seus sinistros desígnios, quando recebeu autorização do melek
Achashwerosh (rei Assuero) para exterminar todos os judeus do reino, num dia em que se escolhera
Haman por sorte, e que veio a ser o dia 13 de Adar. Purim é uma festa Judaica que é celebrada em 14
de Adar, em memória do livramento que por intermédio da rainha Ester, Deus deu livramento para o
povo Judeu. A Meguilá é um rolo onde contém as escritas do livro de Ester, os judeus fazem menção
da Meguilá na cerimônia religiosa de Purim.
Na festa de Purim os Judeus usam máscaras quando se lê a Meguilá; Enviam presentes aos
amigos e vizinhos; degustam o hamantaschem de três pontas; E se embriagam de muito vinho.
Pessach. Pessach é uma festa que recorda a liberação da escravidão do povo hebreu do
Egito. O Eterno Deus enviou dez pragas para ferir a Faraó e seu povo para demonstrar o seu poder
sobre a natureza. Mas, quando os primogênitos dos egípcios foram mortos, Faraó finalmente concorda
em soltar seus escravos. Eles deveriam fazer uma oferta de um cordeiro (uma divindade para os
egípcios) os Israelitas deveriam passar o sangue do cordeiro nos batentes de suas portas, para que o
anjo da morte passasse sobre (Pessach) suas casas, daí o nome Pessach, que significa: passar,
pular. Ou seja o anjo da morte passou, pulou as casas dos Israelitas. Comemoram-se oito dias nos
quais os judeus só comem Matzá (pão ázimo – sem fermento) e, tomam água salgada, comem
Charosset (massa preparada com maçãs e nozes), comem ervas amargas, ossos de carneiros, ovo
cozido, salsa ou ervas verdes.

Contagem do Omer

330
O período de omer é um tempo de profunda preparação para o recebimento da Torá, a razão
fundamental do êxodo de Israel ter sido libertado da escravidão foi para estar preparados a aceitar
voluntariamente a lei de Deus. É a época que coincidia em Israel com o tempo de colheita. Tempo nos
quais todos ficavam trabalhando nos campos, ocupados e espalhados ao mesmo tempo.
A contagem era uma forma de cada um lembrar que no quinquagésimo dia, no dia de Shavuot,
iriam para o templo de Yerushalaim (Jerusalém) com as primícias colhidas.
Na segunda noite de Pesssach inicia o período do Omer (um maço de espigas de ceva
recém- colhidas). Segundo o Talmud, levando um único omer de cevada até o altar do templo, todo o
povo de Israel estava agradecendo e retribuindo simbolicamente a Deus pelo milagre realizado no
deserto: o omer do maná que alimentou os judeus no deserto.
A época da contagem do omer é também considerada um semiluto, pois várias tragédias
atingiram os judeus neste período, como por exemplo, a perseguição e morte dos discípulos do Rabi
Akiva pelos romanos; ou a morte dos Judeus durante as cruzadas; e, mais recentemente, a destruição
do Gueto de Varsóvia, durante a segunda guerra mundial. Assim festas e casamentos não são
realizados neste período, com exceção do Lag Baomer trigésimo-terceiro dia do ômer. A contagem
deve ser sempre feita de pé, após o aparecer das estrelas, quando segundo a tradição Judaica um
novo dia começa. A contagem de omer tem início com a recitação de Salmos 67, pois este contém
referência aos 49 dias.
Shavuot. O Adam, em Hebraico, o homem. Adama, a terra. Reunindo estes dois elementos,
o homem e a terra, a festa de Shavuot é celebrada, exatamente 50 dias depois de Pessach. Shavuot
tem outro nome Chag Habicurim, que significa a festa dos primeiros frutos. Séculos depois, por
causa da dominação da Grécia na terra de Israel, alguns Judeus que falavam a língua Grega,
passaram a chamar Shavuot de pentecoste, que significa a ordem pelo número 50, ou 50ª. Isto
porque o dia de Shavuot é festejado 50 dias depois da oferta de cevada no Templo de Yerushalaim,
no segundo dia de Pessach no mês de Sivan.
Quando Moshéh, depois de receber as tabuas da lei, o dia de Shavuot tornou-se santificado
sendo também chamado de Zman Matan Toratenu, que significa: a época em que nos foi dada a
nossa Torá.
Rosh Hashana. É uma época de juízo, o conceito Judaico de Rosh Hashaná não é de dar
oportunidades ao excesso e ao júbilo. É uma ocasião para o autoexame, um verdadeiro IOM Hadim
(dia de julgamento) e Iom Hazicaron (dia da recordação). É realmente um dia do juízo, não só em
seu sentido Divino, senão que nesse dia podemos também julgar a nós mesmos e as nossas próprias
ações. Rosh Hashaná é também rica em símbolos, sendo o mais conhecido do povo Judeu, o
costume de desejar-se um ano ao outro, Leshaná Tová Ticatêvu Vetechatênu (Sejam inscritos e
selados para um bom ano). Em Rosh Hashaná, é tocado o Shofar e ministrado a benção do Shofar,
Baruch Atá, Ado-nai, Elo-heinu Melech Haolam, Asher Kedshanu Bemitzvotav Vekimanu,
Vetzivanu Lishmoa kol Shofar (abençoado és tu, Senhor nosso Deus, Senhor nosso, Rei do
universo, que nos torna sagrado universo, por nós com suas bênçãos e conclama-nos a ouvir e
permitir o som do Shofar).
Iom Kipur. Iom Kipur é o último dos dez dias de arrependimento, marcado pelo jejum de 24
horas, pela meditação, pela aproximação de Deus. É o dia da confissão, das faltas cometidas, da
penitência e da promessa de não mais cometer erros. Mas é também a oportunidade de cada um
Judeu estender a mão ao inimigo, esquecer as ofensas e enfrentar o tribunal de Deus. No Iom Kipur,
pode encontrar força, jejuar é sentir o sofrimento dos que passam fome e sede e por falta de recursos.
Iom Kipur é um verdadeiro dia do perdão.
Sucót. Sucót significa cabanas. Durante 40 anos vagando pelo deserto, os Judeus viveram
em Sucót. Eles são ordenados a fazerem das suas sucót residências, (comer, dormir, estudar a
Torá e passar o tempo todo nela). Sucót também é conhecida de, Zemán Simchatêinu, a época de
nossa alegria. É também um dos Shloshet haregalim os três festivais, (os outros dois são Peshar e
Shavuót), a festa é celebrada a oito dias no mês de Tishri.
Chanucá. É uma celebração de milagres no mês de Kislev. Fatos maravilhosos aconteceram
que os judeus não esperavam. No segundo século (II) a.C, a cultura helenística estava se difundindo.
Essa cultura, cuja origem estava na Grécia, pode-se dizer que virou moda e muitos monarcas a ela
aderiram Como acontece nos dias atuais, existem pessoas que mudam de hábitos para aderir a outras
modas.

331
Os seus valores contrastavam com os valores do judaísmo: os helenistas enalteciam o belo, as
belas formas no físico, na escultura, na arquitetura, na literatura: os judeus enalteciam a moral, a
justiça, a igualdade dos seres humanos quanto ao cumprimento das leis.
O líder da cidade, Matatias, se recusou a inclinar-se perante o ídolo. Ele ergueu sua espada,
dirigiu- se ao povo de Modiin, dizendo-lhe que continuassem a acreditar num só Deus e que seguiria
as leis da Torá e motivou os judeus para que continuassem e não se entregassem. Matatias, e seus
cinco filhos e muitos Judeus lutaram contra os soldados e fugiram para as montanhas próximas. Eles
sabiam que, para serem livres, teriam que derrotar o rei e seu exército. Mas Matatias estava velho e
doente. Antes de morrer, reuniu seus filhos, Yohanan, Simon, Judá, Eleazar e Jonatan, e os abençoou.
Chazak ve’amatz, ele lhe disse em Hebraico: sejam fortes e bravos. O velho guerreiro nomeara seu
filho Judá para ser líder em seu lugar.
Judá era chamado de Macabeu, que significa: martelo e, seus seguidores ficaram conhecidos
como os macabeus. Era difícil para Judá formar um exército, pois os judeus eram agricultores,
pastores e professores. Não tinham treino para serem soldados. Não tinham armaduras e poucas eram
suas armas. Mas os macabeus conheciam as montanhas, grutas e a região da Judéia.
Podiam movimentar-se depressa, e conseguiram surpreender o exército do rei, mesmo à noite.
O seu amor pela liberdade lhes dava coragem e eles lutaram por longo tempo e arduamente. De
cidade em cidade, os macabeus foram derrotando os sírios e tomando-lhes as armas e os uniformes.
O rei Antíoco mandou mais e mais soldados, porém os judeus os afugentaram e chegaram
finalmente em Yerushalaim. Foram primeiro ao Templo Sagrado. Seus muros estavam desmoronando.
Os matos cresciam nos pátios e, eles plantaram árvores novas. Retiraram os ídolos e construíram um
novo altar. Acharam pontas de ferros e nelas colocaram pequenas tochas para fazer uma nova
Menorá. Exatamente três anos depois que os soldados sírios destruíram Yerushalaim, os judeus
acenderam novamente a Menorá e reinauguraram o Templo. Por oito dias celebraram alegremente.
Os macabeus proclamaram que, todos os anos, os Judeus deveriam celebrar a festa de
reedificação, chamada Chanucá. Este fato aconteceu no dia 25 de Kislev de 164. A.C. Chanucá
representa a gloria de uma nação para manter a sua identidade espiritual frente a força contrária
numericamente superior e impositiva.
Alguns judeus se helenizaram, e se uniram aos povos que dominaram a região, os
selêucidas. Porem a maior parte dos judeus permaneceu fieis às suas leis, não aderindo à adoração e
homenagens a outros deuses. No ano de 167 a.C. Antíoco (chamado Epifanes) quis impor a
helenização a todo povo.
Decretou uma repressão muito violenta contra a prática da religião judaica que todos os
judeus se convertessem rapidamente a religião politeísta (crença em vários deuses) dos gregos,
para concretizar isso, exigiu que os judeus não observassem o Sábado, comessem carne de porco e
não se circuncidassem. O judeu que não observasse as palavras do rei seria morto. No mês de Kislev,
do ano 167 a.C. Antíoco ordenou à seus soldados que marchassem para Yerushalaim. Eles
destruíram casas e fizeram fogueiras nas ruas, invadiram o Templo e puseram abaixo a Arca Sagrada.
Construíram um ídolo e o colocaram no altar do Templo. Muitos judeus foram mortos. Outros se
refugiaram em localidades vizinhas. Os soldados iam de cidade a cidade, certificando-se de que as
ordens do rei estavam sendo cumpridas. Um dia chegaram a Modiin, uma cidade a pouca distância de
Yerushalaim, ergueram um ídolo na praça do mercado e reuniram os judeus para que rezassem em
sua homenagem.

332
A Origem das Primeiras Formas Escritas

Datas aproximadas

dasbmflowuabyrotyuadsbhut
Encontrado na Tanar 2.500. bnhfjmv,kikjlkiogkfujhk

:xrah taw mymçh ta myhla arb tyçarb

abcdef huyoiokl mnbbbcbjdgcghhdf h

Abcdefgfsjlmnopqrstuvxzgjraafxgfh

‫وقحيكلسعرصشطصثتبهنملك‬

333
A forma de leitura e escrita do Aramaico e do Hebraico
O Hebraico e o Aramaico: Assim como em quase todas as línguas Semíticas, orientais, têm a
forma diferente das línguas ocidentais. A forma de leitura e de escrita do Aramaico e Hebraico é feita
da direita para a esquerda, com os livros abertos detrás para frente, de cima para baixo (de vez em
quando de baixo para cima ou da direita para a esquerda). Primeiramente, a consoante e logo
após a vogal até chegar o final da palavra.
Observação: Não existe ditongo no Aramaico e no Hebraico. As sílabas das palavras fazem
parte de dois grupos. Existem as sílabas abertas, esta sílaba é formada por uma consoante e uma
vogal. E existem as sílabas fechadas essa é formada por uma consoante mais uma vogal e mais uma
consoante.

B ; (ba) (be) (bi) wOB


(bo) (bo)Bo WB
(bu) BU (bu) etc.
Essas sílabas fazem parte do primeiro grupo (sílabas abertas).

Existe a sílaba fechada essa é formada por uma consoante mais uma vogal e mais uma
consoante:

tWK-lm; (mal kut) reino, reinado. Vyai (’yish) dym-lT; (tal myid) aluno. Essas sílabas fazem
parte do segundo grupo (sílabas fechadas).

Exemplo em Aramaico:

hl'a? !mi rB; hn:a]


Transliteração: ’Anah Bar Min ’Elah
Tradução: Eu sou filho de Deus!

~yhIOla/ !mI !B, ynIa]


Exemplo em Hebraico

Transliteração: ’Ani Ben Min ’Elohim


Tradução: Eu sou filho de Deus!

Pontuação diacrítica dos massoretas as vogais

Na língua Aramaica e Hebraica não existem vogais, o que existe realmente são tenuót que
quer dizer pontuação. Como os sons das vogais eram transmitidos oralmente e devido as
perseguições por volta de 690 a.C. Foram introduzidos sinais e pontuações inventados pelos
massoretas (os tradicionalistas) os que fazem as vogais. E elas vão embaixo, e sobre cada
consoante, isto é, uma forma de auxílio na leitura e vocalização de palavras. Lembrem-se isso não o
fará apenas ler mas sim praticá-las como uma língua consonantal. Existem dezesseis vogais que se
dividem em três grupos distintos. Á saber o primeiro grupo, é chamado de vogal breve, o segundo
grupo é chamado de vogal longa, e o terceiro é chamado de semivogal. Porém alguns educadores da
língua hebraica, não seguem essa regra devido à existência de palavra que possui duas ou três vogais
breve, ou longa. Ou seja, isso faz com que o som da palavra não seja pronunciado corretamente.

1ª vogal breve 2ª vogal longa 3ª Semivogal Valor fonético

334
xt'P; #m;q'e xt'P; @j;x' (a)

e
lwOgs, y reyc ? lwOgs @j;x' (e)

i
q reyxi y dwOy yI dwOy qreyIxi (i,Y)

~l,wOx wO ww: ~l,wOx \#m,q' @j;x' (o)

awv. (e) u #WBqi W qr,Wv (u)

Pontuações diacríticas massoréticas as vogais


Exemplo de como aplicar os pontos masoréticos nas consoantes:

1ª vogal breve 2ª vogal longa 3ª Semivogal

a; , Patach = á a' ,Qamáts = â a] , Hatef-Patach =a

B,
. , Segol = bé Be , Tsere = bê B/ Hatef-Segol = be

gI , Iriq = gí yg , Yod = gî ygI , Heriq-Yod = gy, gi

ho , Holem = hó wOh ,Holem-wav = hô h’\ Hataf-qamáts = hô

wU , kibúts = vú Ww , Shurúq =vû w>


, Shevá = we (meia vogal)

Observações:
Como saber quando o ( )' Qamáts está se referindo a vogal o e não a vogal a.
1ª Quando no início de uma palavra o kamáts estiver acompanhado de um Shevá, então o

Qamáts estará se referindo a vogal o exemplo: lbeq\ (Qovel) diante de.

335
2ª Quando na sílaba fechada, no início de uma palavra, o Qamáts estiver acompanhado de um.

Shevá, então o Qamáts estará se referindo a vogal o exemplo: hm'k.x'


(Chochmah) sabedoria
3ª Quando no início de uma palavra tiver um Qamáts e logo em seguida um Qamáts composto
de um Shevá, então tanto o primeiro quanto segundo estarão fazendo referência da vogal o exemplo:

~yIr;x\c' (tsochoraim) meio dia.


O Alefbet
O alfabeto contém 22 letras, quatro variações e cinco letras Sofit (são aplicadas nos finais das
palavras).

wh dgbB a
Vav Héi Dalet Guimel Veit Beit Alef

$kKyj xz Raf (sof) Raf Kaf Yod Thet Chet Zain

[ s!n~m l Aín Samér Nun (sof) Nun Men (sof) Men Lamed

q#c@p P Quf Tsadk (sof) Tsadk Fei (sof) Fei Pei

t f vr Tav Sim Shim Reish

336
Classificação fonética da articulação do alfabeto Aramaico e Hebraico

Labiais: w mB P
Dentais: z sv c
Linguais: l ndj t
Palatais: y g K q
Guturais: rhxa [
1ª Letra.Alef : essa letra não tem som, o seu som se perdeu por volta do ano 700. a. C. O
que dá som a essa letra, são as vogais que lhe apoiam. Afef (boi, arado): denota o macho sexo
masculino. E nos arremetem a uma ideologia de unidade, princípio, causa, força, atividade, poder. Ela
é a primeira, e representa o número um (da unidade do Eterno, o único) ela é formada por três

y
consoantes, Yod, = 10 wav, w = 6 Yod, y=10. Quando somamos as três letras têm um resultado
numérico de 2 6, e se somarmos 2+6 = 8. O número infinito do Eterno.

337
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante alef, e coloque em baixo da
letra alef os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

338
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra alef.

Beith:
2ª letra. O seu valor fonético na língua portuguesa é da letra b. A letra beit sem o daguesh,
se forma a letra veith, com o som da letra v.

Beit (casa, tabernáculo) denota: moradia; e nos arremetem a uma ideologia correlata de gérmen,
esperma, paternidade o poder criador. Como casa que está bem firme sobre a terra, encontramos um
ponto dentro dela chamado daguesh, que neste caso representa uma pessoa (um habitante). Em uma
forma de escrita antiga da letra beit era desenhada com dois tracinhos, um para cima, e outro para trás
em direção a letra alef. Se alguém perguntasse para ela quem te fez beit, o tracinho para cima
indicaria o Eterno. Se perguntassem qual o nome dele, o tracinho apontaria para a letra alef, (D’us, um,
único).

339
Beit

Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante beit, e coloque em baixo da


letra beit os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

340
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra beit.

3ª letra. Guimel: o seu valor fonético na língua portuguesa é da letra g.

Guimel (camelo) denota o órgão, elemento


funcional de um sistema: expressa as ideias de organismo e do sistema filosóficos do corpo humano.
O formato dela é de uma onda quebrando no mundo, ouça: guim mel, guimel é também ‘’generoso’’, o
pé de guimel se estende em direção a esquerda em direção de dalet, porque é próprio do generoso
procurar o pobre. Guimel é uma letra generosa, enquanto dalet é pobre.

341
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante guimel, e coloque em baixo
da letra guimel os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes
vogais.

342
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra guimel.

4ª letra Daleth: o seu valor fonético na língua portuguesa é da letra de d.


Dalet (porta) sugere a multiplicidade; expressa a ideia de variedade natural, nutrição e fartura. Sendo
uma porta pouquíssimas pessoas sabem que, na verdade se atreveriam abrir a porta, pois têm medo
de entrar. Dalet é a porta Dal, é a porta do orgulho da casa de um homem pobre, 2ª A porta da nossa
casa que há muito tempo não abrimos.

343
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante daleth, e coloque em baixo
da letra daleth os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes
vogais.

344
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra daleth.

5ª letra Héi: o seu valor fonético na língua portuguesa é o da letra h. Um som bem leve como o h no
Inglês exemplo: help (ajuda). No Hebraico moderno o héi não tem som, depende do lugar.

Héi (janela, de uma casa): Denota o sopro vital; Denota o sopro vital; e exprime as ideias de princípios
vivificantes. O héi quase não tem som. É como o som da exalação, o ruído do menor esforço que uma
pessoa pode produzir. É por isso que há um pouco de héi dentro de cada palavra. Ela é composta de
duas letras, primeiro há um dalet e, em seguida, no canto inferior esquerdo um yod. Héi é o mais
próximo que você pode ficar D’quele que é Santo. (Yod essa letra está inserida no Tetragrama nome
do Eterno).

345
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante héi, e coloque em baixo da letra héi os pontos
masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

346
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra héi.

6ª letra Vav: o seu valor fonético na língua portuguesa é o da letra v. A letra vav também é utilizada
como à vogal, o, u, e representa também a conjunção de duas palavras o vav conjuntivo.
Vav (prego, gancho, guincho) como já vimos, o vav é utilizado como a conjunção. Ou seja, é o que liga um
ao outro, e se nós observarmos o Tetragrama hwhy podemos identificar o Vav da mesma forma que
encontramos no nome xwr e no Shem de Yeshua [wvy . O que nos arremetem a uma ideologia de
religamento, ou ‘’religares, relig, lig’’ em Latim. Ou seja o religamento do homem em D’us.

347
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante vav, e coloque em baixo da letra vav os pontos
masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra vav.

348
7ª letra Zain: o seu valor fonético na língua portuguesa é o da letra z.

Zain (arma, espada): Denota o pendor; expressa as ideias de rumo, empenho dirigido, causa final.
Denota o gênero masculino ‘’Zarrar’’, a esse homem pertence uma barba ‘’Zaquan’’ e esse homem é
velho’’ Zaquen’’ esse homem pode ver o passado ‘’Zaman’’ e se lembra ‘’Zerrer’’ de tudo.

Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante zain, e coloque em baixo da


letra zain os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

349
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra zain.

8ª letra Chet: o seu valor fonético na língua portuguesa é o da letra rr. Como por exemplo: rede, resto,
rima e rato.

Chet (cinta, cerca): Denota o trabalho; e expressa as ideias de equilíbrio, calor, moralidade, legislação.
Na Torá a letra chet é escrita com um apêndice pontuado na cabeça é quase que se houvessem duas
letras separadas; porém unidas por um vínculo tênue, para ficar de pé, e elas precisam uma da outra,
mas gostaria de não precisar, e por isso mal se tocam. chet é a agonia da alma separada de si mesma;
a parte superior e a inferior de sua garganta digladiando-se para criar um som de chet. É por isso que o chet
gera pares tão estranhos e conflitantes.

350
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante chet, e coloque em baixo da
letra chet os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

351
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra chet.

9ª letra Thet: o seu valor fonético na língua portuguesa, é o da letra t.

thet (cinta, cerca): Denota o trabalho; e expressa as ideias de equilíbrio, calor, moralidade, legislação. Na Torá a
letra Chet é escrita com um apêndice pontuado na cabeça é quase que se houvessem duas letras separadas; porém
unidas por um vínculo tênue, para ficar de pé, e elas precisam uma da outra, mas gostaria de não precisar, e por
isso mal se tocam. thet é a agonia da alma separada de símesma; a parte superior e a inferior de sua garganta
digladiando-se para criar um som de chet. É por isso que o chet gera pares tão estranhos e conflitantes.

352
Exercício: preencha os quadradinhos com a consoante thet, e coloque em baixo da
letra thet os pontos masoréticos que são correspondentes das seguintes vogais.

353
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra thet.

10ª letra Yod: o seu valor fonético na língua portuguesa é o da letra i, ou y, em muitas ocasiões esta
consoante servirá como vogal.

Yod (mão): sugere comando e duração; expressa s ideias de divindade, e eternidade, manifestação,
potencial, poder de ordenação. A letra Yod é tão pequena que, as pessoas às vezes esquecem coloca-
las nas palavras quando soletram. Ela é escrita no alto, como ‘’Yonah’’ pomba voando além dos céus.
Uma pomba buscando ansiosamente um ligar para iluminar (pousar). Segundo uma tradição antiga, o
mundo vindouro foi criado com a letra Yod, pois assim como esta letra se curva, também se curvarão
os arrogantes no futuro.

354
Coloque os valores fonéticos das seguintes vogais, que acompanham a letra yod.

355
11ª Letra Kaf: o seu valor fonético na língua portuguesa é o da letra k.
Kaf (palma da mão): Denota a forma; exprime as ideias de afinidade, assimilação, vida passageira. Kaf também é um
cálice ‘’kós’’ cheio de bênçãos tanto para os que seguram, quanto para aqueles que deles bebem.

356
24- O Senhor te abençoe e te guarde;
25- O Senhor faça seu rosto brilhar sobre ti, e tenha Misericórdia de ti;
26- O Senhor levante seu rosto sobre ti, e te dê a paz.

357
Provão de Bacharel

Aluno (a): ........................................................................................ data ............./........./..............


(Marque um X na alternativa correta)

1. O que é Monoteísmo?
 É a crença em único Deus
 É a crença em vários deuses
 Na antiga Grécia existia um deus por nome de Monoteísmo
2. O Que Significa o Nome Jesus Cristo?
 O nome Jesus Cristo significa Emanuel
 Jesus significa Salvador e Cristo significa Ungido
 O nome Jesus Cristo significa Salvação de Promessa
3. Quais são os Símbolos do Espírito Santo?
 O Espírito Santo não tem Símbolos
 Água, Óleo, Fogo, Rio, Selo, Vento e Pomba
 Pão, Maná, Água, Pomba, Fogo, Vento e Vida
4. Quantas vezes aparecem a palavra ANJO na Bíblia?
 294
 312
 510
5. Qual foi o homem que viveu mais em toda Bíblia?
 Adão
 Noé
 Matusalém
6. O que significa o termo Hamartiologia?
 Vem do hebraico e significa Expiação
 Vem do Hebraico e significa Doutrina da Salvação
 Vem do grego e significa Doutrina do Pecado
7. Qual é a definição da palavra Soteriologia?
 Vem do latim e significa Salvação
 Vem do hebraico e significa Doutrina da Salvação
 Vem do grego sõteria, e significa Doutrina da Salvação
8. Quantos livros compõem os profetas menores?
 5 Livros
 12 Livros
 39 Livros
9. Quantos versículos têm a Bíblia toda?
 31.173 Versículos
 42.187 Versículos
 53.321 Versículos
10. Qual é a árvore que vive aproximadamente 2500 anos?
 Oliveira
 Pinheiro
 Tamareira
11. No Cristianismo do Século I, o termo heresia indicava o que?
 A oposição a Deus
 A negação do Espírito Santo
 A negação do evangelho pregado pelos apóstolos
12. Sobre os Evangelhos e correto afirmar que:
 Todos os livros do Novo Testamento são conhecidos como Sinóticos.
 Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como Evangelhos Sinóticos.
 Gênesis, Mateus e Apocalipse são conhecidos como Evangelhos Sinóticos.
13. Quais são os três modos de fazer Missões?
 Orando e Pregando
 Local, Nacional e Internacional
 Indo, Orando e Contribuindo.

358
14. Qual é a origem da palavra arqueologia?
 Vem de duas palavras aramaicas e significa escavações bíblicas
 Vem de duas palavras gregas e significa Estudo das coisas antigas
 Vem de duas palavras hebraicas e significa Estudo do passado
15. Quem foi o fundador do Judaísmo?
 Noé
 Abraão
 Moisés
16. Quais foram os dois fundadores da Igreja Assembléia de Deus no Brasil?
 Daniel Berg e Martinho Lutero
 Daniel Berg e Gunnar Vingren
 Gunnar Vingren e Martinho Lutero
17. Qual a formula batismal do Batismo nas Águas ?
 A formula é em nome de Jesus Cristo
 A formula é em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
 O batismo significa Morte, Sepultamento e Ressurreição
18. A onde está escrito:
Ensina ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele
 Em Salmos
 Em Eclesiástes
 Em Provérbios
19. Quando que os valores éticos ressurgem na família cristã?
 Quando há prioridade para a Televisão e novelas
 Quando há prioridade para a Palavra e brincadeiras
 Quando há prioridade para a Palavra e a Oração
20. Quais são os países que tem o português como língua oficial?
 Brasil, Portugal, Moçambique e Angola
 Somente Brasil, Portugal e Argentina
 Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe.
21. Qual foi o primeiro interprete da Bíblia?
 Noé
 Moisés
 O diabo
22. Quais são os três pontos importantes do pregador?
 Voz, Postura e Leitura.
 Voz, Vocabulário e Postura.
 Higiene, Educação e Comportamento.
23. O que significa a palavra Hermenêutica?
 Vem do Latim e significa Textos.
 Vem do aramaico e significa ciência bíblica.
 Vem do grego hermenevein e significa Interpretar.
24. O que significa o termo Escatologia?
 Significa que a Igreja será arrebatada
 Significa os três tempos: Passado, Presente e Futuro
 Escatologia vem do grego e significa Doutrina das Últimas Coisas
25. É o relacionamento padrão do pastor com o ministério em que preside. É a ciência que define o
comportamento do pastor junto ao ministério...
 Ética Padrão
 Ética Nominal
 Ética Ministerial
 Ética Social
 Ética Secular
26. Marque a Correta:
 Um líder deve sempre elogiar os companheiros.
 O líder deve criar conflitos para encorajar seus companheiros.
 As reuniões devem ser longas e proveitosas.
27. O G - 12 ensina que os seus adeptos devem escrever seus pecados em papel e depois será
queimado em fogueira . Esta Informação É:
 Verdadeira
 Falsa

359
28. Marque a Correta:
 O Conhecimento Religioso baseia-se em suposições teóricas e científicas.
 O Conhecimento científico é real porque lida com fatos.
 As ciências possuem: Razão, Teórica, Prática e Finalidade.
29. A suprema vontade de Deus em relação ao Mundo é que seus habitantes sejam salvos: está escrito em
 1 Co. 5.5
 1 Tm 2.3,4
 2 Tm 1.5
30. A administração eclesiástica é o triple de armação para condução de um bom
 Combate
 Relacionamento
 Desenvolvimento.
31. O que continua sendo uma das maiores exigências do ministério pastoral?
 O Jejum
 A Oração
 A pregação
32. Marque a Correta:
 Gustav Theodor Fechner, pode ser considerado marco da psicologia
 A palavra Psicologia significa expiração, alma, vida.
 A psicologia só surgiu no século XV, em 1728.
33. Sobre a Teologia Natural:
Estuda fatos que se referem a Deus e Seu universo que se encontra revelado na natureza.
 Certo
 Errado
34. Sociologia é um conjunto de conceitos, de técnicas e métodos de investigação produzidos para
explicar a vida social, é na verdade algo mais do que uma tentacilogia, desde o seu início,
sempre foi algo mais do que uma tentativa de reflexão sobre sociedade moderna.
 Certo
 Errado
35. É somente na Grécia que a filosofia se desliga da religião e adquire existência autônoma.
Teve, porém, a filosofia entre os gregos inicialmente uma significação muito geral.
 Certo
 Errado
36. Marque a Correta:
 A palavra FILOSOFIA é hebraíca.
 Filósofo é aquele que estabelece as leis.
 A palavra FILOSOFIA é grega
37. Grande parte dos escritos de Paulo e João foi combatendo a Heresia.
 Gnóstica.
 Docética.
 Macionica.
38. Denomina-se princípio da unidade escriturística. Sob a inspiração divina a Bíblia ensina
apenas uma teologia. Não pode haver diferença doutrinária entre um livro e outro da Bíblia.
 Certo
 Errado
39. No período Koinê o alfabeto grego possuía 24 letras...
 Certo
 Errado
40. Marque a Correta:
 O Pentateuco Judaico está escrito em caracteres antigos.
 O hebraico se escreve da direita para a esquerda.
 O alfabeto hebraico possui 20 consoantes.

360

Você também pode gostar