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“O estudo de literatura indígena conduz a uma reflexão sobre o outro, o diferente, e sua
inclusão/exclusão na sociedade contemporânea, no espaço urbano e na produção
literária global e local.”. (p. 15)
“Para o colonizador, o nativo não é visto como representante de uma civilização – assim
como o habitante de nações europeias – mas como primitivo, colocado numa posição de
subalternidade, sob domínio ou a autoridade de europeu.”. (p. 17)
“O colonizador inventa o índio, rotulado por um discurso homogeneizador, que ainda
persiste no século XXI.”. (p. 18)
“[...] a manifestação cultural e literária dos índios é menosprezada, considerada exótica
ou primitiva, apagada ou recriada por m olhar e um discurso não indígena.”. (p. 19)
“O índio – o outro/diferente – deve se con-formar, ou seja, formar-se com a ideologia e
os valores do colonizador, submeter-se à nova ordem e reconfigurar seu mundo.”. (p.
20)
“Quando, a partir dos anos 1960, o movimento político das nações indígenas norte-
americanas ganha maior visibilidade, o movimento literário ganha impulso.”. (p. 27)
“Nos séculos XX e XXI, os índios narradores de histórias passam a apresentar suas
próprias versões das identidades indígenas. Por meio da escritura, eles discutem e
desfazem as distorções construídas por séculos de colonização. Assim, a escrita e a
literatura tornam-se instrumentos de poder e de revisão de identidades individuais e
coletivas.”. (p. 31)
“Essa expressão dá-se primeiro pela tradição oral, desde antes do assim chamado
descobrimento; após o contato com culturas europeias, as narrativas provenientes da
oralidade passam a ser escritas para assegurar sua memória e preservação.”. (p. 32)
“As construções discursivas indígenas, embora tenham sido produzidas paralelamente
às ocidentais, não encontraram a mesma visibilidade ou valorização dadas às criações
classificadas como literárias de acordo com padrões estéticos europeus.”. (p. 32)
“Compostas no intercâmbio entre oralidade e escritura, as textualidades indígenas
revelam sua complexidade e seu caráter híbrido. Por isso, conduzem
à releitura de que o cânone ocidental costuma considerar como texto literário”. (p. 36)
“Para que a literatura indígena alcance a sala de aula, é preciso que seus leitores,
professores e alunos, disponham de referenciais teóricos para que as textualidades
indígenas sejam interpretadas em sua contextualização cultural e estética. Para tanto,
faz-se imprescindível tratar de questões voltadas para a atividade leitora, focando
primeiro a leitura do outro para então passar à leitura de suas obras.”. (73)
“O entrelugar caracteriza-se, portanto, por sua mestiçagem, e fundamenta-se na abertura
para trocas culturais.”. (78)
“A questão do gênero literário exemplifica a questão do hibridismo cultural e do diálogo
entre tradições literárias. Ao mesmo tempo, aponta para especificidades da construção
das textualidades indígenas, especialmente no que se refere à presença de elementos
provenientes da oralidade ou vinculados à visualidade.”. (79)
“A própria composição da obra é híbrida. Ou seja, tem-se aí uma pluralidade de vozes e
gêneros, o que demostra a necessidade de discutir a questão do gênero nas obras
indígenas.”. (79)
“O contato e a interpenetração de gêneros textuais são perceptíveis tanto na literatura
canônica ocidental quanto na textualidade extraocidental. Esta última demonstra sua
complexidade pela interação de multimodalidades discursivas criadas na intersecção da
oralidade, da performatividade,, da escrita alfabética e pictoglífica.”. (80)
“Percebe-se que não há como equiparar textos de literatura cerimonial à prosa ou à
poesia ocidentais; isso indica mais uma vez que conceitos e elementos do verso e da
narrativa ocidentais não podem ser simplesmente aplicados à análise de textos
indígenas.”. (81)
“A escritura indígena pode ser vista, então, como meio de ocupar um território para
reinscrever a presença indígena na América, de uma perspectiva não de sujeição, mas
de negociação com o poder hegemônico. Pela escritura e inserção no mercado editorial,
as nações indígenas entram na História, não mais como coadjuvantes, e obtêm
reconhecimento.”. (85)
“Na manifestação da imaginação pela escritura, a autoria é questão crucial. A noção de
autoria indígena pode envolver a produção de um escritor que expressa sua voz
individual ou uma voz coletiva. Marcado por um nome ocidentalizado ou por um
etnônimo a marcação autoral indígena conduz ainda ao reconhecimento de um outro que
afirma sua identidade.”. (87)
“A duplicidade da autoria indígena configura-se, por exemplo, por traços geométricos,
como já comentado no capítulo anterior. Eles marcam a autoria coletiva, conferindo
maior veracidade à história relatada. Já gravuras ou figuras geométricas pequenas ou
irrelevantes remetem a um conhecimento individual.”. (91)
“Vários marcadores compõem os textos literários e devem ser lidos para que se
vislumbre ao menos parte de sua dimensão, tais como: título, subtítulo, créditos,
dedicatória, prefácio, posfácio, referências, notas biográficas, etc. Esses marcadores
também devem ser observados nos textos indígenas.”. (99)
“O texto indígena pode ter sido escrito não por duas mãos, mas por cem mil vozes ou
mais. Essas vozes narram até o momento em que sua palavra-voz-imagem se fez
palavra-letra-imagem. Desenhos geométricos localizados, por exemplo, ao longo da
margem do texto podem sinalizar a autoria coletiva, invisível para olhos não ensinados a
percebê-la.”. (99)
“Os autores indígenas negociam com a sociedade hegemônica um novo lugar para
tornar visível a história, a textualidade e a identidade indígena. Elas mostram como os
índios podem, ao assumir controle da narrativa, redefinir seu passado, presente e futuro,
na literatura e no mundo.”. (101)
“Ao narrar suas versões da História brasileira por meio de textualidades literárias, os
autores indígenas contemporâneos expressam consciência do poder da escrita para sua
inserção como agentes de construção de um passado, de um presente e possivelmente de
m futuro na Grande História Nacional.”. (103)
“Portanto, o leitor, provavelmente não índio, percebe que o livro faz parte de um projeto
que visa trazer para contemporaneidade saberes ancestrais, não vinculados a apenas
uma, mas a várias etnias indígenas.”. (104)
“A leitura da História dos povos ou “nações” indígenas pode envolver uma grande
narrativa construída para criar a impressão de que os índios das Américas têm uma
identidade comum e formam uma cultura única; porém, não muitos como um, mas
muitos como muitos.”. (118)
“As identidades dos índios – como todas as identidades – são híbridas, construídas na
des/reterritorialização e no imbricamento de um mundo globalizado.”. (118)
“O reconhecimento de identidades com um passado (não esquecido), com um presente
(um ser ou estar no momento) e com um futuro (um porvir, ou vir a ser) faz pensar
sobre a relação entre tempo e a construção indenitária e, novamente, sobre o movimento
incessante desta construção.”. (121)
“O jogo linguístico de construção indenitária não é solitário: o sujeito não se constrói; o
outro está sempre na base da discussão sobre a identidade. É ele que vai relativizá-la.”.
(122)
“Outro elemento também relevante para discutir a questão da identidade é a relação do
homem com espaço. Esta não é mais de fixação, mas de circulação.”. (122)
“O termo índio não só demonstra um equivoco geográfico, mas principalmente uma
ignorância cultural. Porém, é esse o termo utilizado pela autor como ponto de partida:
para provocar uma reflexão sobre a identidade do índio pela palavra sob as perspectivas
tribal e ocidental.”. (130)