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© 2017 Kel Costa



Capa: Carol Dias

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados.

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qualquer meio ou forma, seja ele impresso, digital, áudio ou visual, sem a
expressa autorização da autora sob penas criminais e ações civis.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.


















Agradecimentos

Minha única intenção é ser breve e declarar um “muito obrigada” bem
grande para todos os meus calos que me acompanham desde a época do Orkut.

The Colt’s Secret é a adaptação de uma das minhas fanfics de maior
sucesso e trata-se de uma história muito especial, não só para mim, mas para
todos que a acompanharam desde o começo. Com ela, nunca tive pretensões de
criar nada de diferente ou causar algum tipo de reflexão. Esta história é para
divertir.

A vocês, calos, que tanto pediram e torceram para que TCS voltasse, torço
para que caminhemos juntos até o final, dessa vez, definitivo. Obrigada <3





















O dia amanheceu frio e não melhorou meu péssimo humor matinal. Saí do
banho amaldiçoando até a quinta geração da pessoa que inventou os estudos,
vesti o primeiro moletom que vi pela frente, passei um pente pelo cabelo cheio
de nós e desci as escadas para me juntar às meninas na cozinha.
— BOM DIA, MADISON! — Jennifer gritou, entusiasmada demais para
uma pessoa normal. — Animada para nosso primeiro dia de faculdade?
Argh! Ela conseguia ser irritante. Ou, talvez, eu fosse o problema em si.
Precisava confessar que não estava muito entusiasmada para iniciar essa nova
etapa da minha vida porque eu apenas não era de me animar com esse tipo de
coisa. Lugar novo, colegas de classe novos, tudo isso significava chamar
atenção. E eu não era bem o tipo de pessoa que consegue passar despercebida
por muito tempo.
Eu tinha escolhido a Universidade de Green Bay justamente por ser uma
instituição pequena e onde eu não me destacaria muito. Pelas minhas pesquisas,
nada de interessante ou surpreendente acontecia na cidade. Deixei Chicago para
trás e não demorei para encontrar outras garotas que quisessem dividir uma casa
perto da faculdade. Nós fizemos a mudança duas semanas antes das aulas
começarem e isso fez com que fôssemos nos conhecendo melhor e sem pressa.
Nossa casa era bem grande e espaçosa, acolhia perfeitamente a mim, Jennifer,
Louise e Anna.
Como elas continuavam me encarando à espera de uma resposta, eu respirei
fundo.
— Muito animada Jennifer, explodindo de felicidade! — fui forçada a
respondê-la com um sorriso amargo enquanto passava a manteiga na fatia de
pão.
— Nossa, Madison, seu entusiasmo contagia o ambiente, sabia? — ela
respondeu-me cheia de sarcasmo e eu acabei devolvendo na mesma moeda, já
que não estava com humor para aturar coisas do tipo àquela hora da manhã.
— Jura? Que bom, fico feliz por isso! — sorri amargamente. — Já estou
indo. Vem comigo Anna?
— Claro! Já acabei o café.
Em menos de cinco minutos, estávamos no estacionamento da universidade
e eu precisava admitir que era ridiculamente perto para ir de carro. Estacionei na
primeira vaga que encontrei e, quando me preparava para desligar o motor,
alguém bateu na minha janela.
— Sim? — baixei o vidro e encarei a garota de cabelo loiro e liso.
— Oi, meu nome é Megan, tudo bem? — ela lançou um sorriso mais falso
que nota de quatro dólares. — Então... Como eu acho que vocês devem ser
calouras aqui, achei melhor avisar para não estacionar nessa vaga.
— Por que não?
— Porque ela já tem dono. É uma vaga cativa.
Ótimo, era só o que me faltava, ser expulsa da vaga. Olhei em volta,
chocada.
— Não estou vendo nenhuma placa informando que a vaga tem dono...
— Dê a ré — ela pediu.
Encarei Anna ao meu lado e ela deu de ombros, sem ter uma opinião
própria. Relutante, decidi dar a maldita ré só para me livrar do problema de
cabelo loiro. Cheguei o carro um pouquinho para trás e Megan estalou a língua,
apontando para o chão. Meu queixo caiu quando eu olhei para o local que antes
meus pneus cobriam e vi a palavra COLT escrita com tinta branca.
— Obrigada – agradeci sem muito ânimo, boquiaberta.
— Começamos bem, Mad. — Anna me deu um tapinha no ombro.
Depois de rodar alguns minutos procurando outra maldita vaga, eu
finalmente estacionei e nós entramos no prédio gigante que se estendia à nossa
frente, todo adornado em gesso com estátuas no alto.
Eu teria que me acostumar rápido com aquele turbilhão de vozes, gente
entrando e saindo, falando alto, rindo. E antes eu achava que o colégio era ruim?
Aquilo ali era quase o inferno!
Como nós estávamos perdidas, tive a brilhante ideia de parar em frente a
um mural que ficava no fim do corredor, onde constavam as informações das
salas e das aulas daquele semestre.
— Ok Anna, minha sala fica no terceiro andar e a sua... Pelo visto, hum...
Ah! No segundo! Acho que a gente se vê depois então. Lá na lanchonete? —
perguntei, sem ouvir resposta. — Anna?
Resolvi me virar para entender o motivo de estar sendo ignorada.
Simplesmente não tinha percebido que o turbilhão de vozes havia cessado e
quem não estava em silêncio, murmurava alguma coisa baixa para si mesmo ou
para os amigos. E todos, eu disse todos – inclusive minha amiga – olhavam
fixamente para o início do corredor, até que eu segui a direção com meus olhos.
Eram seis no total. Três homens e três mulheres, que passavam pelo
caminho que se abria em meio aos estudantes embasbacados. Eu não sabia se
estava com algum problema de visão, mas eles pareciam deuses recém-chegados
do Olimpo. Todos possuíam a mesma pele pálida e usavam óculos escuros.
A mulher que chamava mais atenção era a loira. A mais alta das três e dona
de um corpo esguio como uma modelo de passarela. Seu cabelo era liso e
escorria pelos ombros, esvoaçando conforme ela andava.
A outra era tão linda quanto a primeira, com cabelo nos ombros, levemente
ondulado e de franja, num tom de ruivo escuro. Ela era mais magra, mas
hipnotizava qualquer um com seu caminhar.
Logo atrás estava uma morena, de cabelo preto e longo até a cintura, que
mesclava alguns fios em tom caramelo. Ela era baixa perto das outras duas e a
que tinha o corpo mais curvilíneo.
Após as mulheres perfeitas, pude ver melhor os três homens. O mais alto
era loiro e tinha cabelo muito curto. Embora ele estivesse devidamente vestido,
dava para perceber que era extremamente definido pela camisa rente ao corpo.
Ninguém devia ter coragem de encarar aquela montanha de músculos.
O do meio era o mais baixo dos três. Tinha cabelo castanho que ia quase até
o queixo e escorria pelo seu rosto fino. Suas roupas o faziam parecer como um
roqueiro triste.
O terceiro e último, era simplesmente o mais magnífico de todos. Seu
cabelo era bem escuro, quase preto e liso, moldando-se ao seu rosto e caindo
desalinhado em algo que parecia uma franja e ele insistia em levar para trás com
a mão. Tinha um rosto ligeiramente quadrado com traços másculos e lábios
cheios na medida certa. Não era tão alto quanto o loiro nem tão baixo quanto o
outro. Não era musculoso, mas aparentava ser forte.
Eu via algumas pessoas cumprimentá-los timidamente, mas eles não
olhavam para a cara de ninguém e muito menos respondiam o cumprimento.
Apenas desfilavam pelo corredor, em suas roupas extremamente elegantes, até
subirem as escadas. Bastou sumirem para que o turbilhão de vozes voltasse,
como se todos tivessem saído de algum tipo bizarro de hipnose.
— Viu as salas, Mad? — Anna agora voltara a falar comigo como se nada
tivesse acontecido.
— Tenho que ir para o terceiro andar e você ao segundo.
— Ok, nos vemos na lanchonete mais tarde!
Ela nem sequer esperou que eu comentasse sobre o acontecido. Saiu
correndo e subiu as escadas com pressa, deixando-me sozinha. A menina que me
expulsara mais cedo da vaga estava passando por mim e eu não resisti em
segurá-la pelo braço.
— Ei, lembra de mim? — esforcei-me para colocar um sorriso amigável no
rosto, mas ela não me olhou muito solícita.
— Claro! Você é a garota que roubou a vaga do Colt. Devia me agradecer o
resto do semestre pelo toque que eu dei.
— Sério? Não é para tanto, não acha? — perguntei. — Mas mudando de
assunto... Quem eram aquelas pessoas que chegaram juntas?
— Justamente. São os Colts. — Ela fez uma cara de espanto e apertou meu
braço, levando-me para um canto do corredor. — Qual seu nome?
— Madison Foster.

— Ok, Madison. Veja da seguinte forma: eles são a elite, e você... — ela me
olhou da cabeça aos pés — bem, você está longe de ser a elite, não é mesmo?
Eu nem tive tempo de responder o que queria para aquela patricinha, pois
antes mesmo de abrir minha boca, ela me deu as costas e foi na direção de uma
amiga que a chamava do outro lado do corredor.
Droga! Nem me dei conta do quanto estava atrasada. Saí correndo pela
escada, empurrando as pessoas lerdas que cismavam em parar para conversar,
esquecendo que ali era local de passagem. Cheguei sem fôlego no meu andar e
senti meu rosto esquentar pelo esforço.
Minha primeira aula era de Literatura Modernista – uma matéria avançada
– que não era cursada por calouros, mas que eu consegui encaixar na minha
grade de horário por causa de um curso que eu fizera no ano anterior. Arrependi-
me amargamente por ter perdido tempo ouvindo as baboseiras da patricinha, pois
o professor já se encontrava na sala lotada. De veteranos. Ótimo. Todos os rostos
me encararam quando abri e fechei a porta atrás de mim.
— Estamos começando hoje, senhorita. — Ele me lançou um olhar de
reprovação. — Saiba que não tolero atrasos de mais de dez minutos em minhas
aulas. Se não puder estar dentro desta sala no horário correto, fique em casa
dormindo.
Engoli em seco e baixei a cabeça. Não era a melhor forma de começar uma
matéria que eu não queria reprovar. Subi os degraus, sem olhar para ninguém e
me sentei em silêncio na última fileira.
Estava abrindo meu livro quando vi um cabelo escuro bem familiar, duas
fileiras à minha frente. Eu não acreditava que estava na mesma sala que um
deles! Ou melhor, que o mais bonito deles! Olhei para a menina ao meu lado,
que parecia viajar numa revista camuflada dentro do livro.
— Ei! — Ela me olhou e eu apontei discretamente para o bonitão lá na
frente. — Qual o nome dele?
— O Colt? Aquele é o Christopher.
Christopher. O nome era bonito para alguém tão antipático, mas eu tinha
gostado. Tinha uma melodia agradável.
— Christopher... — sussurrei baixinho.
Então, por algum motivo que eu desconhecia, ele se virou para trás
rapidamente e me encarou através dos óculos escuros. Eu não sei se foi ilusão
minha, devia ser, mas podia jurar tê-lo visto passar a ponta da língua o canto da
boca.
Em seguida, ele se virou quando o professor fez uma pergunta para toda a
turma. Uma garota lá na frente levantou o braço para responder e todo mundo
notou que ela estava bem nervosa, de tanto que gaguejava. Tive pena da pobre
menina quando uma risada coletiva tomou conta da sala. Eu não ri, pois sabia
exatamente o que era passar por aquilo. Ele também não riu.
Enquanto a garota procurava um lugar para se esconder, Christopher
simplesmente deu um tapa ensurdecedor com a mão aberta na carteira e toda a
sala se calou.
— Continue, Vivian — ele falou com uma voz que me fez tremer.
E então ela continuou.
Uau! O que foi aquilo? Era perturbador o fato de que todos os alunos
tinham acatado sua ordem e a voz... a sua voz era ao mesmo tempo rouca e
aveludada. Isso era possível? A voz dele era inebriante.

¤¤¤

Não notei a hora passar, já que estava mergulhada em meus devaneios, mas
quando saí do transe, o professor terminava suas últimas frases. Assim que a
aula acabou, alguns alunos saíram rápido, enquanto ele caminhou devagar até a
porta. Eu achei graça na forma como as mulheres olhavam para seu rosto quando
passavam por ele.
Desci para a lanchonete e vi minhas amigas sentadas numa mesa,
guardando lugar para mim.
— Oi gente. Espero que o dia de vocês tenha sido melhor que o meu. —
Cheguei jogando meus livros na mesa e reclamando.
— O meu, com certeza não foi — Louise resmungou, mexendo no canudo
do seu suco.
Olhei para as outras meninas, na esperança de que alguém ali me
atualizasse dos acontecimentos.
— Vou resumir. — Jennifer respirou fundo. — Louise estava muito feliz
porque os caras no corredor estavam comentando sobre a beleza dela. Isso até
chegar a loira estonteante que roubou toda a atenção.
— Deixe-me adivinhar: Loira, alta, linda, de óculos escuros? — perguntei,
já sabendo a resposta.
— Uhum — Anna confirmou. — Seguida de uma ruiva gata e uma morena
de parar o trânsito. Essa faculdade, definitivamente, tem muita concorrência.
Contei minha história para elas, desde o infortúnio com a vaga do carro, até
o acontecimento em sala de aula.
— Ah Madison, você é doida. O cara é um gato e você implicando com ele.
Olha a neurose, tudo por causa de uma vaga.
— Não é tudo por causa de uma vaga, Anna. É por causa da vaga, do nariz
empinado deles e por todos parecerem venerá-los. Eles são os donos da
faculdade por acaso? Não.
Eu não ia convencê-las de nada, era perda de tempo. Pelo visto, Anna
estava tão fascinada quanto as outras. Deixei-as ali e fui comprar algo para
comer.
























Eu me encaminhava à lanchonete para encontrar com meu clã, quando
testemunhei Peter chegar por trás de uma garota com um salgado e um copo de
suco nas mãos. Eu já sabia que ele ia aprontar alguma coisa, pois Peter tinha
uma necessidade insaciável de aparecer. E claro, de enlouquecer as mulheres,
mas isso eu também tinha.
Ele encostou a mão nos ombros da menina e sussurrou um "oi" em seu
ouvido. Vi a pobre coitada estremecer e deixar o copo cair. Ele era, sem dúvidas,
o pior de todos.
— Algum dia você vai se cansar dessa brincadeira, Peter? — perguntei,
olhando a garota trêmula voltar para a mesa.
— Ele falou comigo! Um Colt falou comigo!
Uma coisa boa – ou não – de ser assim como eu, era ter uma superaudição.
Lógico que ninguém ali sabia disso, mas era engraçado na maioria das vezes
ouvir o papo das pessoas, por mais baixo que elas estivessem cochichando.
— Nunca vou cansar!
— Peter, isso só faz com que você e Alexis vivam brigando.
Eu não terminei de falar, porque alguém esbarrou forte em mim. Virei-me
para olhar, pronto para fazer a pessoa implorar por desculpas, mas descobri que
era a garota da Literatura, a mesma que tinha sussurrado meu nome.
Ela levantou a cabeça e me encarou, permanecendo imóvel e boquiaberta,
como todas ficavam. Eu não a conhecia, portanto, devia ser caloura. Pensei em
brincar um pouquinho com ela e me divertir como gosto de fazer com as outras,
mas por algum motivo desconhecido, eu travei.
Finalmente, a garota falou.
— De-des-desculpa, eu não estava olhando.
Senti vontade de rir quando seu rosto ficou vermelho igual a um pimentão.
Em geral, as garotas só ficavam tontas, mas não costumavam corar e ficar com
essa cara de abobalhada. Não tanto assim. Eu estava de bom humor, portanto,
não quis piorar a situação.
— Sem problemas — respondi de forma educada.
Ela voltou a caminhar na direção da lanchonete, enquanto Ian, Krisna e
Alexis chegavam. Sentamos em nossa mesa cativa e começamos a colocar
algumas questões em dia.
— Pegaram algum professor ruim esse semestre? — Ian perguntou, sem
muito ânimo.
— Estou com uma professora idiota, serve?
— Qual o problema dessa vez, Alexis?
— Bom, eu tenho aula com uma professora que fica tímida diante dos
alunos. Foi só um cara falar uma gracinha para ela que a maluca quase se enfiou
debaixo da mesa.
— Eu fiquei intrigado com uma caloura — sussurrei, sem achar que alguém
prestaria atenção.
Todos me olharam incrédulos. Sabiam que eu sequer prestava atenção em
calouros.
— Como assim? — Krisna perguntou, baixando um pouco os óculos para
me olhar.
— Não consegui ignorá-la. — Dei de ombros. — Acabei respondendo e
sendo educado com ela.
— Quem é a garota? — Ian perguntou, olhando em volta. Eu fiz o mesmo.
Ela ainda estava na lanchonete, esperando por seu pedido enquanto tentava
desembaraçar um nó do cabelo. Era um pouco desajeitada.
— Ali. — Apontei com a cabeça. — De moletom preto.
— Nossa, ela se veste bem. — O humor sarcástico de Alexis aflorou.
— Do que estão falando? — ouvi o canto baixo de Brianna e a procurei
pelo pátio.
Assim que chegou à mesa e se sentou, atualizei-a de toda a conversa que
tivemos. Enquanto terminava as explicações, eu observava a estranha garota, de
longe. O que será que ela tinha de diferente?


— Mad, está tudo bem? — a voz de Anna me tirou do transe em que me
encontrava desde que cruzei o caminho do bonitão.
— Hã? — Pisquei. — Ah sim, está.
— Você está estranha. Aconteceu alguma coisa?
— Não. Só o antipático do Colt que esbarrou em mim. Ou melhor, eu
esbarrei nele.
Todas me olharam pasmas. O que foi? Falei alguma besteira? Ou me babei
com ketchup? Cheguei até a passar a mão pela boca para conferir.
— Como assim você esbarrou no Colt? Qual deles? Foi de propósito? Ele
falou contigo? Você falou com ele? — Jennifer me encheu de perguntas.
— Não. — Revirei os olhos. — Sim, quer dizer, eu esbarrei nele sem
querer, pedi desculpas e pronto, continuei minha vida. Nada demais.
Mentira! Eu quase babei quando olhei para cima e dei de cara com ele me
encarando. Acho que entendi por que as pessoas surtavam quando os olhavam
tão de perto. Só podia ser isso, porque antes, eu o achava bonito, claro. Mas
depois... Bem, existia alguma palavra apropriada? Christopher Colt parecia
irreal, como se fizesse parte de um sonho. Mesmo com seu olhar sombrio, ele
era irresistível. Seu rosto possuía contornos perfeitos e sua boca...
Ah Madison, chega! Ele podia ser absurdamente lindo, mas ainda era
estranho e antipático.
— Colt... — sussurrei.

¤¤¤

O resto do dia passou bem rápido com o meu desespero em tentar não
chegar atrasada em nenhuma aula. Eu tinha que admitir que quando saía de uma
sala para entrar em outra, corria os olhos pelo corredor na expectativa de cruzar
com um deles.
No final das aulas, entrei no estacionamento e fui caminhando
tranquilamente até o carro, que estava bem longe. Quando me aproximava da
vaga da qual tinha sido expulsa, vi a loira, o loiro sarado, a ruiva, a morena e o
roqueiro, encostados num carro rosa. Eu disse rosa, certo? Era uma Mercedes
conversível que daria para enxergar até mesmo da Lua.
Olhando melhor para todos, eu senti falta de um deles. Ele, claro. O
antipático. Não que os outros não fossem, mas ele me irritava mais.
No mesmo instante, virei-me para trás, assustada com o barulho de uma
batida e vi uma garota ao volante de um utilitário com a frente toda amassada.
Ela tinha batido na traseira de um carro velho e ao estudar melhor a cena,
entendi o motivo. Christopher Colt havia sorrido para ela ao passar pelo carro. A
pobre coitada estava chorando com a cabeça encostada no volante, enquanto ele
se dirigia até os outros cinco, sorrindo, rodopiando o chaveiro do carro no dedo.
Eu tive pena da menina.
Ele não foi para a Mercedes rosa. Ele abriu a porta do carro ao lado e só
então eu percebi que não era a Mercedes que estava na minha antiga vaga. Era
um carro que eu provavelmente não sabia o nome, daqueles que a gente só vê em
filmes, tipo os de espionagem. Era preto e incrivelmente lindo.
Eu não devia ter feito o que fiz, mas senti uma raiva súbita e marchei até
eles. Quando notaram que eu me aproximava, cruzaram os braços e o mais
musculoso se colocou à frente dos outros.
— Sim? — ele perguntou, com o queixo levemente empinado.
— Por que vocês fazem isso? — Tentei, em vão, ficar na ponta dos pés para
igualar nossa altura.
— O que nós fazemos? — Ele franziu a testa. — Você pode me explicar?
Ele se inclinou, aproximando-se do meu rosto e me deixou tonta. Era
possível todos eles serem assustadoramente lindos?
— Peter!
Uma voz seca fez com que o grandalhão se distanciasse de mim,
permitindo-me recuperar o fôlego. Então, eu vi que Christopher tinha saído de
dentro do carro e se colocado ao lado do outro. Ele passou a mão pelo cabelo
enquanto me olhava.
— Deixe-a falar. Estou curioso — sorriu de forma cínica.
— Porque vocês fazem isso com as pessoas? Viram que a garota bateu com
o carro, né? Foi provocação sua! — Apontei o dedo para ele e logo depois me
arrependi.
Christopher inclinou a cabeça para o lado como se estivesse me estudando e
se aproximou de mim, encostando o peito no meu dedo em riste. Passou o
indicador com um anel prata pelo lábio inferior e me encarou tão sério que eu
senti medo. Sem olhar para o outro, fez um sinal com a mão e o grandão voltou
para a Mercedes. Eu abaixei meu dedo, meio tensa, e perdi o ar com a sua voz
baixa e sussurrada na minha direção.
— Por que seria culpa minha se alguém bate com o carro por não olhar para
frente? Vocês mulheres são... — Eu estava imóvel. Pude senti-lo parar atrás de
mim e seu hálito roçar minha pele. — Fracas...
Abri a boca para responder alguma coisa atrevida, mas não sabia o que
devia falar. O olhar dele era capaz de fazer qualquer pessoa se perder em
pensamentos. Christopher me observava como se eu fosse algum mistério para
ele, sendo que ele mesmo era o próprio para mim.
— Até amanhã, Madison — falou, afastando-se bruscamente e entrando em
seu carro.
A Mercedes rosa, com a loira ao volante, saiu cantando pneus. Antes que o
arrogante também fosse embora, dei um tapa na lataria do carro dele. Observei o
vidro baixar lentamente e Christopher arquear uma sobrancelha para mim.
— Como você sabe meu nome? — perguntei, tentando conter a irritação.
— Você me disse — ele sorriu.
— Não, não disse. Eu me lembraria.
Ele mexeu o dedo, pedindo que eu me aproximasse. Inclinei um pouco meu
corpo e apoiei as mãos na janela do carro.
— Qual o seu nome? — sussurrou em pergunta.
— Madison. — Fechei os olhos, sentindo o hálito inebriante em meu rosto.
— Ou Mad, se preferir.
— Viu como você me disse? — Aquela resposta me fez abrir novamente os
olhos a tempo de ver Christopher piscar e sorrir, antes de dar a partida no carro.





































A caloura estava realmente testando meus limites. Não me lembrava de
ninguém que tivesse ousado me apontar o dedo e ainda continuasse vivo. Mas
ela me intrigava. O seu sangue cheirava forte e doce. Em qualquer outra ocasião,
ela já estaria morta há tempos, mas talvez torturá-la fosse mais divertido.
Estacionei na garagem atrás da Mercedes de Alexis e vi todos eles em pé,
esperando-me com caras emburradas e braços cruzados.

"Ele está com um sorriso de satisfação, deve ter matado a garota."

— Não Ian, eu não a matei — respondi assim que ouvi seus pensamentos.
Um poder que eu conquistei ao longo dos anos, mas que só funcionava com
outros vampiros.
— E eu posso saber por que a humana ainda está viva? Vocês viram a
petulância dela, certo? — Brianna falava com as mãos na cintura e batia os pés,
uma imagem perfeita de uma criança mimada.
Mesmo que ela não fosse vampira e não tivesse seu poder de sedução,
Brianna seria o tipo de pessoa que conseguiria qualquer coisa de um homem.
Felizmente, eu não me deixava levar pela sua vontade.
— Eu não a matei, porque ela me intriga. — Parei diante dela. — Além do
mais, a garota não oferece perigo nem para uma mosca.
Eu os deixei com suas próprias neuroses e entrei em casa. Aproveitei para
tirar aqueles malditos óculos, pois era algo que me deixava de saco cheio. Parei
diante do espelho, encarando meus olhos vermelhos que poderiam assustar
qualquer criatura mortal. Eu precisava me alimentar... Não queria usá-los essa
noite.
— Peter! — Saí do quarto chamando por aquele que era tão sedento quanto
eu.
Entrei no quarto dele e o encontrei trocando de camisa. Antes que ficasse à
vontade demais, fiz logo o convite.
— Vou até o centro para caçar. Vem comigo?
— Caçar?
Ele era lento desde sempre. Costumava responder, repetindo alguma
palavra enquanto processava a pergunta.
— Não, Peter. Comprar roupas.
Dei-lhe um tapa na nuca e o bonito resmungou, alisando o local, como se
sentisse dor.
— Vocês não vão sair para caçar agora, não é? Esqueceram do que temos
essa noite? — Krisna apareceu na porta do quarto, abotoando uma camisa.
— Nós estaremos de volta antes de anoitecer. É uma caça rápida. Não quero
usar óculos hoje.
— Mas... — ela começou eu a interrompi.
— Sem mais, Krisna. Eu não estou pedindo. Estou comunicando.
Coloquei de novo os óculos e fui para o carro esperar por Peter. Se fosse
possível morrer, eu teria morrido sufocado por causa do cheiro pavoroso que
chegou junto com ele.
— Que droga é essa? — perguntei, abrindo todos os vidros do carro.
— Perfume.
Eu olhei o abobalhado, tentando não rir. Ele ficaria magoado.
— Por que você tomou banho de perfume?
— Para atrair a caça mais fácil. — Ele deu de ombros.
— Ah claro! Como eu não me toquei antes! Um perfume francês deve
mesmo ser bem mais atrativo do que nosso hálito inebriante, nosso rosto perfeito
e nosso poder de persuasão.
Zombei dele, gargalhando enquanto dirigia para o centro da cidade e via
Peter se ajeitar no banco enquanto se controlava para não me dar um soco. Ele
não ousaria, óbvio.

¤¤¤

Parei o carro perto de um beco, onde garotas de programa costumavam dar
início a mais uma noite de trabalho.
— Sem brincadeiras, Peter. — Segurei-o pelo braço antes que saísse do
carro. — Já vai começar a escurecer e nós temos compromisso hoje. Seja rápido.
— Você é um saco, sabia Chris? Mas eu serei rápido, se é para a felicidade
geral da nação — respondeu, revirando os olhos.
Saímos do carro e nos distanciamos. Eu andei pela calçada até o outro lado
do beco que dava para o muro de uma antiga fábrica. Uma mulher tentava
acender um cigarro, encostada à parede. Ela estava sozinha, seria uma presa
fácil.
Eu me aproximei e tirei o isqueiro de sua mão.
— Boa noite — fiz uma abordagem pacífica enquanto tirava o isqueiro da
mão dela e acendia eu mesmo o seu cigarro.
— Bom. Quer di-dizer, boa — gaguejou com brilho nos olhos.
Ela não era nada bonita. Não fazia meu estilo, absolutamente, mas eu estava
com fome e com pressa. Passei a língua pelos lábios enquanto a mulher se
atirava sobre mim. Mais fácil do que pensei.
Senti suas mãos apressadas descerem por minhas costas e joguei sua cabeça
de lado, tirando o cabelo que cobria seu pescoço, preparando o local com a
língua.
— Hum... vai me morder, coisa linda? — ela perguntou, praticamente
gemendo.
Poderia se arrepender da pergunta. Agarrei-a pela cintura, puxando-a para
mim, enquanto deixava meus caninos crescerem. Cravei-os então em seu
pescoço, sentindo o sangue quente escorrer para dentro de minha boca. Ela me
arranhava ao tentar se soltar, mas eu não sentia dor.
Parei um pouco de lhe sugar, para perguntar seu nome. Krisna dizia que
essa minha mania era um pouco doentia, mas eu gostava de me sentir mais
próximo de minhas vítimas. Ok, era doentio, mas eu gostava.
— M-adi-Madison — gaguejou com os olhos cheios de lágrimas.
Seu corpo amolecia em minhas mãos e eu senti um gosto amargo quando
ela disse seu nome. Era o mesmo da caloura e, por algum motivo que eu
desconhecia, tive piedade dela. Cravei meus dentes novamente, mas dessa vez,
só bebi o suficiente para não a matar. Ela ficaria inconsciente por algumas horas,
mas depois ficaria bem. Peguei seu rosto com minhas mãos e tirei meus óculos.
— Você está bem, mas foi picada por uma cobra. Procure um hospital para
estancar o sangue quando acordar — falei, olhando em seus olhos, hipnotizando-
a.
Deitei-a no canto do beco e voltei, encontrando Peter encostado no carro à
minha espera.
— Quem foi que demorou, hein, Christopher?
— Tive um pequeno contratempo. — Joguei os óculos no banco de trás e
liguei o carro.


























Entrei em casa e bati a porta com raiva. Como eu pude ser tão idiota em
deixar Christopher Colt brincar comigo daquele jeito? Cogitei a hipótese de
bater com a minha cabeça oca na parede, mas então ouvi gritinhos animados
vindos da cozinha e fui averiguar do que se tratava.
— Madison, você não vai acreditar!
— Pelo visto, não posso duvidar de mais nada hoje, Jennifer.
— Então, Mad. Eu consegui, com todo meu charme, fazer com que
fôssemos convidadas para a festa de hoje! — Louise terminou de falar e abriu a
boca num sorriso, preparando-se para gritar. Ou esperando que eu o fizesse.
— Festa? Que festa?
E eu lá estava com humor para festa? Eu queria era socar a cara de alguém
para descontar minha raiva.
— Como assim que festa? — o agudo que saiu da boca de Anna podia ser
ouvido no outro quarteirão.
— Em que mundo você vive, Madison? Não é possível que tenha passado o
dia todo na faculdade e sequer ouviu falar sobre a festa. É a festa de
confraternização do início de um semestre. É tipo, o evento VIP do campus. E é
claro, que só os VIPS podem entrar. — Louise sorria triunfante. — Mas, como
eu sou uma ótima amiga, eu disse que só iria se pudesse levar vocês!
Eu me perguntei como ela conseguiu se tornar popular em menos de 24
horas. Tudo que consegui fazer naquele primeiro dia de aula foi me irritar com
um estranho e levar esporro do professor. I-na-cre-di-tá-vel!
— Sei... — Estreitei meus olhos, preparando-me para a pegadinha. — E
qual é a dessa festa? Tem que levar alguma comida? Pagar uma fortuna para
entrar?
Elas me olharam como se eu fosse um alien.
— Você não ouse levar nada! Madison, a festa é na casa da Fraternidade
Beta. Os mais ricos do campus. Tirando os Colts, claro. Se aparecer por lá com
um saco de salgadinhos, vai ser o maior mico.
Eu ouvi direito? Ouvi ela citar o nome Colt? Pelo visto, eu já não me
importava muito com detalhes sobre a festa.
— Você já descobriu alguma coisa sobre esses Colts, Louise?
— Nada demais. — Ela deu de ombros. — Só sei que eles são muito ricos.
Muito, muito, muito mesmo. — Disso eu já sabia. — Mas então, como eu dizia
antes de você me interromper, a festa é nessa fraternidade bombástica. E é uma
festa à fantasia! Não entra quem estiver sem fantasia, ok? Então nós precisamos
começar a ver nossa roupa, pois temos pouco tempo.
— Fantasia? — Quis correr para bem longe delas. — Não é muito meu
estilo. Quando é a festa?
— Hoje! — Jennifer deu um grito que agrediu meus tímpanos.
— Vocês querem que eu arrume uma fantasia para hoje?
— Tem uma loja de aluguel de fantasias aqui no bairro — Anna avisou,
sem conseguir conter sua felicidade. — Estávamos só esperando você chegar em
casa.
Não era mesmo o meu dia. Depois do estresse na faculdade, ainda teria que
ir numa festa de ricaços esnobes. Ótimo!

¤¤¤

A lojinha de fantasias era uma espelunca e o vendedor que nos atendeu
parecia um ogro. Assim que entramos, Louise se agarrou a uma roupa da Mulher
Maravilha e Anna perguntou se ele tinha alguma coisa de coelho.
Corri os olhos pela loja, sem saber o que procurar. Eu não queria nada que
deixasse minha bunda de fora nem que fizesse os outros acharem que meu Q.I.
era menor que 50. Também não queria nada muito colorido, não estava com esse
espírito alegre. Na verdade, eu queria mesmo era sair correndo dali, mas aí eu vi
um vestido de época num manequim no fundo da loja. Ele parecia aqueles que a
gente vê em filmes antigos, de corpete justíssimo, mangas longas e saia rodada.
— Que fantasia é aquela? — perguntei.
— Aquela é só uma parte da fantasia — o vendedor respondeu animado. —
Vampira do século quinze. A fantasia é composta pelo vestido, uma capa preta
de veludo e os dentes. Se você quiser as lentes brancas, custam mais 15 dólares.
Eu estava com espírito assassino de um vampiro hoje. Achei a fantasia
perfeita!
Estava no caixa fazendo o pagamento quando Jennifer parou do meu lado,
com uma roupa preta e verde, estranha...
— O que é isso Jen?
— Minha fantasia! De sinal!
— Sinal?
— É. Sinal verde, entende? Tipo, eu estou livre, leve e solta.
Pensei em muitas coisas para responder, mas achei melhor mantê-las apenas
para mim.
Na volta para casa, as meninas estavam muito entusiasmadas e eu me deixei
contagiar um pouco, afinal, não dava para passar todas as horas da minha vida,
com raiva de Christopher Colt. Eu tinha coisas mais interessantes para fazer,
como criar coragem para entrar naquela roupa.

¤¤¤

— Anna, ajude-me!!! — chamei por ela enquanto corria até seu quarto.
— Que foi, Mad?
— O que eu faço no rosto? — Gesticulei para minha cara sem maquiagem,
pois eu precisava fazer algo que combinasse com a fantasia.
— Eu não tenho certeza, mas acho que ficaria legal um batom bem
vermelho e uma sombra escura nos olhos. Só que a expert aqui em maquiagem
não sou eu, não é? — Anna sorriu, deixando bem claro que eu precisaria pedir
ajuda para a carrasca do grupo.
Nunca tinha usado um batom vermelho. No máximo, eu passava um brilho
labial muito de vez em quando. E sombra? Como se passava isso? Decidi engolir
meu orgulho e fui bater na porta do quarto de Louise.
— Que cara é essa? — ela me perguntou ao me olhar dos pés à cabeça,
torcendo a boca.
— Será que você poderia me maquiar?
— Claro! Eu não quero você com essa aparência atrás de mim!
Louise me puxou pela mão e me fez sentar em sua cama. Pedi por uma
maquiagem bem sensual e ela mandou que eu confiasse em seu dom. Céus!
Depois de alguns minutos, Louise terminou e me levou ao espelho. Eu
estava bem atraente mesmo! Ela tinha usado uma combinação de sombra preta e
roxa nas minhas pálpebras e um delineado bem marcante. A boca vermelha
chamava muita atenção e eu até que gostei do resultado do batom. Para finalizar,
ela cacheou meu cabelo.
Passados alguns minutos de mais tortura, finalmente estava pronta.
Coloquei o vestido preto com pequenos detalhes em roxo, prendendo a
respiração enquanto Anna me apertava no corpete. Aquilo era realmente
apertado!
Peguei a capa – que pesava mais do que eu – e joguei-a por cima dos
ombros, prendendo a cordinha no pescoço. Demorei incontáveis minutos para
colocar a maldita lente branca que ardia horrores e, por último, coloquei os
dentes. Eu me senti ridícula, pois os dentes eram muito feios.
Depois de pronta, olhei meu reflexo no espelho e sorri satisfeita com a
imagem que via refletida.
— Madison Foster, se eu fosse homem, eu a pegaria hoje! — brinquei.
Tive que reprimir a gargalhada que quis sair quando Jennifer entrou em
meu quarto. Minha nossa! A fantasia dela consistia num vestido curto e preto,
com 3 bolas verdes gigantes no centro do corpo.
— Gostou? — perguntou, dando algumas voltinhas para se exibir.
— Oh Jen, você com certeza vai chamar a atenção! — Ela sorriu, satisfeita
com minha resposta.






































Quando chegamos em casa, todos já nos esperavam prontos. Fui direto para
meu quarto, abri o closet e sentei na cama. Não me sentia saciado porque não
tinha me alimentado direito. O nome da prostituta havia me tirado do sério.
Esfreguei a testa e resolvi me concentrar na roupa, mas depois de algum
tempo olhando para o closet, acabei pegando as primeiras peças que vi pela
frente. Por que me importar, se eu sempre ficava bem com qualquer coisa?
Quando cheguei na sala e encontrei os outros, Ian me olhou de um jeito
estranho.
— Você não caçou? — perguntou ele.
— Claro que sim. Por quê?
— Porque seus olhos... — Ele fez uma careta e Alexis me virou de frente
para o espelho. — Veja você mesmo.
Ah. Merda! Meus olhos já estavam novamente vermelhos.
— Não me alimentei adequadamente — suspirei. — Deixei a presa viver.
— Por que fez isso? — Krisna entrou na sala e tocou meu braço,
encarando-me enquanto via meu passado.
— Não sei, apenas não quis matá-la — menti.
Ela sorriu.
— Você vacilou quando ouviu o nome dela. — A ruivinha era boa, eu não
podia negar.
O dom de Krisna era um dos melhores que eu já tive conhecimento durante
todos os anos. Bastava ela tocar em algum vampiro para enxergar todo o passado
dele. Mas, assim como meu dom, o dela também só funcionava com vampiros.
— Então, deixe-me ver se eu entendi. Você dirigiu até o centro, caçou pela
metade e dirigiu de volta. Para no final das contas, ir de óculos à festa? —
Brianna falava enquanto prendia o riso.
— Não. Na verdade, eu não vou de óculos — sorri de volta. — Vocês é que
vão sem eles.
— Ah não, Christopher! Da última vez que a gente fez isso, eu não
aguentava mais passar a noite toda dizendo que era lente.
— Nós vamos sem óculos. Não é um pedido.
Peter, que ao contrário de mim havia se alimentado muito bem, estava com
os olhos de cores normais. Ele cruzou os braços e fez aquela cara de idiota
ressentido.
— E eu? Serei o único sem os olhos vermelhos? — perguntou.
— Se perguntarem alguma coisa, você diz que não conseguiu colocar suas
lentes — respondi e dei um peteleco na orelha dele.
Nós realmente amávamos festas à fantasia e halloweens, porque eram as
únicas oportunidades que tínhamos para andarmos ao natural, sem que
precisássemos esconder nossos olhos ou retrair os caninos. Era bem incômodo
mantê-los retraídos o tempo todo.
A única coisa que me incomodava em festas como aquela era que sempre
havia algum idiota vestido de Conde Drácula, tentando impressionar alguma
garota. Se soubessem como Drácula era frio e cruel, pensariam duas vezes.

¤¤¤

Parei o carro em frente à Beta. A casa era, digamos, monumental. Chamava
a atenção de quem passava e era o sonho de consumo de todo “filhinho de
papai” que entrava para a universidade. Qualquer uma de suas filiais era assim,
pois havia uma Beta em praticamente todos os campus do país. Porém, ter
dinheiro não era o único requisito. O que muitos – ou melhor, quase ninguém
sabia – é que a fraternidade era mantida por nós, mas nunca, em hipótese
alguma, ligávamos nosso nome a ela. Só servia para nos proporcionar festas e
um estoque alimentar para quando precisássemos. Em troca, prometíamos
transformação no futuro, ao presidente da casa e sua cúpula.
Quando nos misturamos e entramos na casa, eu a vi. Madison Foster. E que
Dracul a perdoasse, mas ela estava mesmo vestida de vampira?
Eu não estava preparado para o choque. Não que ela não estivesse bonita,
pelo contrário, agora eu a notava melhor e podia dizer que estava linda, com
lábios vermelhos sedentos, olhos penetrantes e um vestido que apertava sua
cintura fina. Madison não era exatamente uma garota que me despertaria a
atenção na rua. Ela era muito magrinha, tinha cabelo excessivamente liso – que
agora estava cacheado – um rosto oval com bochechas rosadas e salientes. Seus
lábios não eram muito grossos, mas eram perfeitamente delineados. Os olhos de
formato amendoado agora estavam brancos, mas eu lembrava que eram verdes.
Ela era peculiar e, por algum motivo que eu desconhecia, chamava-me a
atenção. Independente disso, eu não podia deixar de achar irônico que estivesse
vestida como vampira. Quais as chances da mulher que me intrigou se vestir de
um jeito como se quisesse se juntar à sua família?
Fomos recebidos pelo presidente da Beta, Henry Bass, que já nos esperava
com taças de cristal. Não era preciso dizer o que tinha dentro delas, certo? Claro,
que para qualquer um que perguntasse, nós diríamos...
— Vinho! Sirvam-se, Colts! — Henry interrompeu meus pensamentos com
um brinde excessivamente animado.
Eu o cumprimentei com um gesto e me sentei numa cadeira, observando as
pessoas.
— Inacreditável! Vocês viram o mesmo que eu? — Alexis não me dava um
minuto de paz.

“Vir vestida de vampira! Ninguém merece! E que fantasia mais cafona!”

Às vezes, eu imaginava se ela não tinha nascido somente para ser meu
karma.
— Eu não acho cafona — menti.
— O que é? O que Alexis está pensando? — Krisna sempre se irritava por
ficar de fora.
— Eu falo, Christopher! — a loira má me cortou no momento em que eu ia
responder. — Tenho boca!
— Eu sei. Infelizmente, eu leio a mente imunda do Peter.
— Aquela caloura petulante! De vampira! E pior, de vampira bem
ultrapassada, não é? — Alexis empinava cada vez mais o nariz enquanto falava.
Ou melhor, alfinetava.
— Eu achei que ela ficou gostosinha — Peter sussurrou e Alexis olhou com
raiva para ele.
— Você quer me irritar? Ou quer ficar sem sexo por um século?
— Baby, você não me deixou terminar... Eu a achei gostosinha, mas depois
que vi sua bunda — ele fazia algo como o contorno do corpo de Alexis com as
mãos — na minha frente, esqueci de tudo!

"Mas que ela está gostosinha, ah, isso está!" — como ele era cínico!

— Eu gostei — falei naturalmente e eles se viraram para me olhar, como se
eu tivesse cometido algum pecado. — Qual o problema? Ela está... Interessante.
Ou só nós podemos ser os vampiros aqui?
— Isso foi mesmo uma pergunta, Christopher?
— Vocês me deixam entediado. — Desisti de conversar por ali e me
despedi do clã. — Vou dar uma volta.
Levantei e fui me misturar na multidão que dançava e se acotovelava.
Malditos humanos!
Parei ao lado do bar, procurando por presas fáceis para uma noite de sexo
sem compromisso. Vampiros também possuíam essas necessidades e,
sinceramente, morder um pescoço durante o sexo, além de vitamínico, era
estimulante.
Uma ruiva gostosa com roupa de cheerleader parou de frente para mim,
com um sorriso enorme e assustador.
— Oi. — Dei o primeiro passo, já que ela parecia hipnotizada.
— No-no-no-nossa! — Tive vontade de dar um tapa em suas costas para
desengasgar. — Nem acredito que estou falando com você! SOU SUA FÃ!!! —
ela gritou, tremendo como um bonequinho de pilha em curto. O tipo ideal de
Peter, não o meu.
De repente, a louca se agarrou ao meu pescoço, enquanto eu me controlava
para não a matar na frente de todos. Nosso segredo era guardado até hoje,
justamente por sermos muito controlados em público. Porém, quando se tem um
pescoço saltitante em cima de você, fica difícil. Tive que segurá-la pelos braços
e afastá-la com força.
— Fã? Não sou famoso para ter fãs. — Ao me desvencilhar da maluca,
misturei-me rapidamente à multidão e fugi do bonequinho de pilha.

































Eu estava atônita. A festa estava mais cheia do que eu pensei que estaria e
eu não gostava de multidões. Anna gritava alguma coisa em meu ouvido, por
causa da música muito alta, quando vi os Colts chegarem.
Dessa vez, nenhuma mulher precisava estar muito perto deles para que seu
queixo caísse. Eles estavam maravilhosos!
A loira entrou desfilando à frente do grupo, vestindo um macacão de couro
preto e botas de canos longos e saltos altíssimos.
A ruiva, igualmente linda, calçava botas um pouco mais básicas, mas a saia
de couro curtíssima e o corpete também de couro, deixavam pouco para a
imaginação.
O decote da morena que vinha logo atrás era vertiginoso e eu tinha certeza
que todos os caras da festa gostariam de se jogar dentro dele. Ela era exuberante.
Seu salto agulha parecia flutuar ao invés de tocar o chão.
Já estava aceitando o fato de ser o patinho feio perto daquelas pessoas,
quando então, meu coração parou. Na verdade, tudo parou. O mundo podia ter
acabado que eu não conseguiria me mover.
O loiro musculoso apareceu de preto dos pés à cabeça, com uma camisa tão
justa que parecia ter embalado à vácuo aqueles músculos perfeitos. Até o
baixinho de estilo roqueiro estava apetitoso de jaqueta preta e cordões de prata
no pescoço. Eles eram elegantes e andavam com um ar de superioridade que me
dava nos nervos.
Então, eu irracionalmente apertei a latinha de refrigerante em minha mão.
Se eu fosse um pouco mais forte, com certeza teria tomado um banho. Tudo por
causa dele. É claro que ele ficaria para o final, não é? Irritante como era, sua
entrada precisava ser triunfante.
Eu me senti naqueles filmes em que a pessoa chega e a cena roda em
câmera lenta, enquanto o bonitão desfila. Christopher Colt usava um sobretudo
de couro até os pés e um cordão que reluzia um enorme e redondo pingente
prata. Definitivamente, ele era gostoso. Antipático, mas gostoso.
Quando passaram por nós, pude ver que usavam lentes vermelhas e dentes
iguais aos meus. Certo, não eram iguais. Os meus eram ridiculamente falsos. Os
deles... uau! Pareciam ter sido feitos sob encomenda, de tão perfeitos que eram.
Qual a fantasia que usavam? Vampiros? Só se fossem vampiros bem modernos!
Eu tremi quando Christopher passou por mim, olhando-me dos pés à cabeça e
dando um sorriso irritantemente torto.

¤¤¤

Todo mundo parecia se conhecer, até mesmo minhas amigas já tinham feito
amizades. Eu procurava você-sabe-quem pela festa, mas só encontrei a loira alta
e o musculoso, que discutiam alguma coisa num canto da casa.
Depois de rodar bastante pelo local, eu o encontrei. Não foi nenhuma
surpresa ter visto uma cheerleader pendurada no pescoço dele. Óbvio. O que eu
pensava? Que aquele cara gostoso estaria sentado num sofá, curtindo a solidão?
Que idiota, Madison! Por que estava tomando conta da vida do idiota? Eu
nem sequer ia muito com a cara dele... Só estava curiosamente atraída pelo seu
corpo sexy e aquele rosto perfeito. Chacoalhei a cabeça para tirar os
pensamentos impuros e me encostei numa pilastra, enquanto pensava se valia à
pena dar o fora daquela festa.
— Morda-me, por favor! — alguém gemeu no meu ouvido.
Quando me virei, prendi a risada. O esquisito estava vestido de pirata, mas
estava bem longe de ser o Johnny Deep.
— Minha dieta é balanceada, obrigada — respondi com cara de poucos
amigos.
— Então que tal eu puxar esse seu cabelo e arrastá-la até meu navio?
Olhei sem acreditar no que estava ouvindo e o garoto ria que nem um
retardado. Que porra de cantada era aquela? Estava pronta para soltar um
palavrão quando um vulto preto parou ao meu lado.
Virei o rosto e encontrei Christopher Colt encarando o pirata. Quando o
bobalhão cruzou os olhos com os dele, não demorou nem cinco segundos para
dar o fora e me deixar em paz.
— Eu não precisava de ajuda — falei, fazendo um esforço enorme para não
gaguejar.
— Claro que não. — Ele sorriu meio cínico. — Percebi que você estava se
defendendo muito bem.
— Por que você tem essa necessidade de implicar comigo?
— Eu? — Ele fechou o semblante e eu engoli em seco. — Que eu me
lembre, foi você quem chegou me atacando no estacionamento. E não de um
jeito bom.
Cruzei meus braços ao perceber que sua seriedade dava lugar a um
sorrisinho malicioso direcionado a mim.
— Posso saber qual a graça? — perguntei.
— Nenhuma. Só estou admirando sua fantasia incrível. Vampirinha...
Senti que estava sendo zoada, mas não sabia exatamente por qual motivo.
Era uma fantasia, e daí? Ao menos eu estava usando uma que condizia com o
tema que escolhi. Porque, sério mesmo, Christopher Colt não estava muito a
caráter.
— Estou muito bem caracterizada. Já você, saiu pegando qualquer roupa
que tinha em casa e fingiu ser um vampiro moderninho, saído de um filme
futurista.
— Para a sua informação, o couro existe há anos... — O indicador dele
tocou meu queixo e seu rosto se aproximou do meu. — Há muitos anos. E Mad...
— Madison, por favor — eu o consertei. — Mad é apenas para os íntimos.
— Ok, Madison — ele falou meu nome de uma forma tão sexy que me fez
estremecer. — Por favor, tire esses dentes ridículos.
Eu corei de raiva. Como ele conseguia ser tão babaca? Christopher Colt se
achava o rei, não é mesmo? Se não fosse tão bonito, eu levaria a sério minha
vontade de agarrá-lo pelo cabelo e bater com a cara dele na parede mais
próxima.
— Eu estou muito bem assim. — Virei meu rosto para que ele não notasse o
quanto me abalava.
— Não, não está. Já bastam esses olhos brancos estúpidos. — Ele riu e
aproximou mais o rosto, estreitando os seus olhos enquanto observava de perto
os meus.
— Quer dizer que até com minhas lentes você resolveu implicar?
— Você já viu vampiro de olhos brancos?
— Não sei. — Recuei dois passos porque a proximidade dele me deixava
nervosa. — Você vê muitos vampiros todo dia? Como tem tanta certeza que eles
não têm olhos brancos?
Christopher ficou sério, parecendo irritado. Ótimo! Ponto para mim. Eu
estava longe de ser uma pessoa descontraída, principalmente com o público
masculino.
Minha graça acabou rapidinho quando o clima se tornou mais tenso. Colt
me encurralou contra a parede e roçou os lábios em minha orelha. Eu podia
sentir perfeitamente o seu hálito tocar minha pele.
— Madison... — sussurrou — tire esses dentes...
A forma como ele falou e o tom de voz eram estranhos. Me deixaram com
uma sensação diferente de tudo que eu conhecia, inebriante. Senti todos os pelos
do meu corpo arrepiarem e meu coração disparar freneticamente. Por mais que
eu não quisesse obedecê-lo, senti uma necessidade de fazer o que pedia.
Arranquei meus dentes e joguei-os em cima de uma mesa ao nosso lado.
— Melhorou? — Sorri um pouco contrariada, sem saber o motivo para agir
assim.
— Muito — Ele devolveu o sorriso, com aquela dentadura afiada e perfeita.
— Se eu disser que sua boca ficou mais bonita sem eles, você acreditaria?
Oh céus. O que esse homem queria? Que eu derretesse ali? Ou ele me
agarrava logo ou então que me deixasse em paz!
Não, Madison Foster! Lembre-se que ele é antipático e você o detesta. A
voz da razão tentou me fazer voltar à realidade e parar de ser tão fácil.
— Hum — pigarreei, ganhando tempo para mudar de assunto. — Está
aproveitando a festa? Não pude deixar de notar que parecia se divertir com a
cheerleader.
— Não. Você está enganada. — Ele balançou a cabeça ao negar minha
insinuação. — Eu gosto de desafios. Prefiro mulheres difíceis.
Pressionei meus lábios ao vê-lo piscar para mim e passar uma mão pelo
cabelo negro como a noite. Ou poderia ser uma irritação ocular causada pela
lente vagabunda.
Se Christopher Colt achava que uma piscadinha casual me deixaria de
pernas bambas e caindo de quatro por ele, então ele estava certo. Minto,
enganado.
— Como se você tivesse muita dificuldade em arranjar mulher, não é
mesmo? Ou você finge que não vê o efeito que causa nas garotas? Elas babam
quando passa.
Ele sorriu.
— Você também baba?
Aqueles olhos vermelhos que o faziam parecer um felino, um predador
nato, tiravam-me do sério. Eu tinha plena consciência de que estava quase
hipnotizada por aqueles olhos. E nunca fui uma pessoa fácil de impressionar.
Christopher Colt deve ter estudado métodos de tortura com o exército
israelense.
— Não, não babei. — Engoli em seco e cruzei meus braços, sentindo-me
desconfortável. — Por que eu babaria, se você não faz meu estilo?
— Não faço? — Ele continuava sorrindo, levando aquilo na brincadeira.
Quando segurou uma mecha do meu cabelo, afastei sua mão.
— Prefiro os loiros — menti descaradamente. — Tipo aquele que anda com
você. Ele é alto, forte... faz mais o meu estilo.
Disse aquilo só para irritá-lo, mas acho que Christopher levou a sério
demais, porque o vi cerrar as mãos e tencionar o maxilar. Muito. Imagino que se
antes eu não tivesse chances nenhuma com ele, agora eu nem sonharia mais com
isso.









Em todos meus longos anos, nunca vi nenhuma mulher me trocar por Peter.
Era uma montanha de músculos, mas faltava-lhe sensualidade e elegância.
Confesso que ouvir as palavras que saíram da boca de Madison me tirou um
pouco do sério.
Eu não entendia a garota. Não entendia por que perdia meu tempo com ela.
Tampouco conseguia compreender como ela mantinha certo controle mesmo
com minhas investidas sutis. Podia ouvir o som acelerado do seu coração e
sentia seu sangue ferver. Qualquer garota nessas mesmas condições, já teria se
lançado em meus braços. Mas ela não. Vacilava algumas vezes, mas em geral,
controlava-se.
Vê-la me recusar só me instigou ainda mais. Precisei cerrar os punhos até
quase sentir minhas unhas cortarem a carne, para conter o desejo de agarrar
aquele pescoço frágil. Só que, naquele momento, eu não estava com paciência
para tais joguinhos e precisava me alimentar com urgência, antes que eu a
sugasse.
Puxei o braço de uma loira gladiadora que passou ao meu lado e apertei sua
cintura.
— Você quer ser minha? — fui direto ao assunto.
— Eu? — A garota sorriu abertamente, quase desmaiando. Humanos...
Passei um braço pelos seus ombros e comecei a me afastar com ela,
procurando pela escada que dava para o segundo andar da casa.
Sentia o coração de Madison bater erraticamente conforme eu me afastava
com outra nos braços.
— Fique tranquila, vou avisar ao Peter sobre o seu interesse — alfinetei e,
em seguida, virei o rosto para piscar para ela.

¤¤¤

Estava com a loira há algum tempo num dos quartos da fraternidade, mas,
por alguma razão, os olhos brancos de Madison não saíam da minha mente. Não
entendia aquele meu fascínio pela garota. Qual era o meu problema?
— Vai levar a noite toda me olhando? — A mulher com voz lânguida me
afastou de meus pensamentos.
Minha intenção inicial era brincar bastante com ela antes de usá-la para me
alimentar, mas sentia que estava sem paciência e não conseguia me concentrar.
Eu a ergui pelo pescoço e suguei seu sangue, sem encostar em qualquer
outra parte do seu corpo.

"Christopher, venha já aqui" — ouvi Krisna me chamar.

Quando se é um vampiro que não gosta muito de se expor, você pode ter
sérias dores de cabeça. Nem todos os vampiros, necessariamente, são discretos.
Existem algumas gangues espalhadas pelo mundo, formadas por vampiros
arruaceiros, que geralmente praticam chacinas por onde passam.
É lógico que os vampiros mais sérios e mais velhos, como eu, sempre
conseguem encobrir determinadas coisas, mas ninguém gosta que invadam a sua
casa, certo? Eu, pelo menos, não gostava. E Green Bay definitivamente era a
minha casa.
Quando cheguei na sala, vi que estava praticamente vazia. Os curiosos
foram para a rua, ver o que estava acontecendo. Os humanos tapados não
imaginavam que um bando de vampiros sedentos por sangue estava para chegar.
Caminhei até meu clã, passando por uma multidão que ocupava a rua e a
calçada. Krisna e os outros havia se posicionado estrategicamente mais à frente
dos curiosos.
— Monccielos – ela me avisou quando cheguei.
— Quantos?
— São muitos — Brianna respondeu, com o olhar direcionado ao horizonte.
Todo vampiro conseguia sentir outro igual a quilômetros de distância, mas só
Brianna, com seu olfato mais apurado do que os nossos, conseguia passar uma
informação mais precisa. — É um bando com mais de sessenta Monccielos.
Significava que a coisa ia ficar feia se eu não conseguisse pará-los.
De repente, vi a dona dos olhos brancos. Do outro lado, junto de outras
garotas. Ela só notou minha aproximação quando eu já estava a centímetros do
seu nariz.
— Madison.
Ela levou alguns segundos para processar a informação de que eu chamara
seu nome. Por fim, franziu a sobrancelha.
— O que houve com suas lentes vermelhas?
Não era o melhor momento para conversarmos sobre a cor dos meus olhos.
Eu a toquei no ombro, tentando afastá-la um pouco das outras garotas que nos
rodearam como urubus sobre a carniça.
— Escute, acho melhor você ir embora daqui. — Ela estreitou os olhos para
mim. — Agora.
— Sério que você se acha tanto assim? Está me mandando embora?
— Não estou mandando, apenas aconselhando. O clima não ficará muito
bom por aqui nos próximos minutos — falei suavemente para não a deixar ainda
mais arredia. Garotinha difícil.
— Do que você está falando? Por acaso sabe o motivo de todo esse
barulho?
— Sim, por isso estou aconselhando que vá embora com suas amigas.
Ela não só recuou um passo para longe de mim como também levou as
mãos à cintura e me encarou com uma expressão pedante.
— Eu vou ficar bem, Christopher. Sempre soube me cuidar.
Bem, eu estava sendo até legal demais. Não tinha talento para ser babá de
ninguém. Tentei avisar, mas a criatura era orgulhosa demais para aceitar um
conselho meu.
Aproximei meu rosto e afastei o cabelo dela do pescoço, inalando um
pouco de seu perfume floral.
— Fique viva.
Voltei para o meio da rua, posicionando-se à frente do meu clã depois de
nos distanciarmos um pouco da multidão. Aqueles humanos tolos deveriam me
agradecer por suas vidas que eu salvaria em instantes. Jovens excitados e
curiosos que sempre atrapalhavam em momentos assim. Se eu não estivesse ali
para lançar mão da minha carta na manga, quando os Monccielos chegassem
seria um banho de sangue.
— CALEM-SE! — gritei, virando-me para trás. O silêncio tomou conta do
local. — As pessoas que estão se aproximando não são amigas. Pelo tempo que
for necessário, vocês ficarão calados e imóveis. — Apontei para meu clã. —
Quem ousar passar por qualquer um desses cinco aqui, se não morrer esta noite,
vai ter que se entender comigo depois — finalizei com um sorriso sombrio.
Vi que Ian e Peter prendiam uma risada. Está certo, eu peguei bem pesado
no discurso, mas de que outro jeito conseguiria fazer com que os tolos
entendessem? Se é que eles entenderam alguma coisa.
Ao longe, observei enquanto os primeiros Monccielos surgiram. Depois,
outros. Vários. Arruaceiros gritando, quebrando vidros dos carros pelos quais
passavam. Algumas motos carregavam dois indivíduos, mas a maioria vinha só.

“Demos sorte de pegarmos uma festinha?”

“Olha que lindo, estão esperando por nós, prontos para serem devorados!”

Eles estavam famintos e, pelo visto, queriam se divertir. Avancei alguns
passos para me afastar ainda mais da audição humana. As primeiras motos
pararam em linha reta e uma delas, à minha frente, quase me tocando. Eu fitei o
motoqueiro, evitando esboçar qualquer reação.
De duas coisas eu tinha total certeza. Primeiro, que os Monccielos não
possuíam um líder, alguém que os coordenasse, que nem eu fazia com meu clã.
Eles andavam sempre em bando e não obedeciam a ordens de ninguém. Segundo
que eles eram relativamente novos. A grande maioria era muito nova, porque
eles nunca duravam tanto tempo. Eram indesejáveis e não costumavam ser
tolerados por vampiros responsáveis e mais velhos.
— Monccielos não são bem-vindos aqui — avisei, expondo meus caninos.
— E quem falou isso? — O motoqueiro mais próximo riu.
Era incrível como todo Monccielo era feio.
— Eu — respondi friamente, sem desviar o olhar.
Gargalhadas vindas dos outros motoqueiros ecoaram pela rua inteira. Eles
estavam me irritando.
— Deixe-me ver... Você e aqueles cinco elegantes vampiros acham que
conseguem nos impedir? — ele apontou para os outros.
Suspirei, chateado por não estar aproveitando a festa como gostaria. Enfiei
a mão por dentro da gola da minha camisa e puxei meu medalhão, expondo o
artefato e deixando-o cair sobre meu peito. Odiava mostrá-lo por aí, mas era
preciso.
O motoqueiro débil engoliu em seco, enquanto os outros ao seu lado se
inclinavam para observar melhor.
— Isso é real? — um deles me perguntou, esticando a mão como se
quisesse tocar o medalhão, mesmo estando longe demais para isso.
— Eu preciso provar? — indaguei, num tom mais ameaçador.
— Então nos deixe passar.
— Se acontecer alguma coisa fora do esperado, eu vou atrás de vocês.
— Eu estou falando por mim e pelos meus parceiros aqui, que nós só
vamos passar. — Ele olhou rapidamente para trás, analisando o comboio. —
Mas você, por experiência própria, deve saber que cada Monccielo é dono do
seu próprio nariz.
— Passem — consenti.
Aos poucos, os motoqueiros foram passando pelo corredor que a própria
multidão abriu. Alguns, quando passavam por mim e viam o medalhão,
encaravam-me com respeito. Outros sequer conseguiam me olhar nos olhos,
apavorados.
Quando os últimos Monccielos passaram por mim, eu me virei para trás,
observando com atenção conforme eles se afastavam. Não queria que nada desse
errado.
Já colocava o medalhão de volta para dentro da camisa quando notei uma
movimentação estranha próxima à calçada.
Não! Um Monccielo infeliz puxou Madison pela cintura, jogando-a em
cima da moto.
Corri a tempo de arrancar um vampiro de cima de sua moto e acelerei. Ao
dobrar a esquina da rua principal do bairro, pude vê-los mais à frente. Madison
estava deitada de bruços sobre as pernas do infeliz. Ele a segurava com uma mão
só e era bom que não a deixasse cair.
Eu já estava quase emparelhando nossas motos, quando ela virou a cabeça e
me olhou petrificada.
— Madison, me dá sua mão. — Estiquei meu braço e ela começou a chorar.
— Agora!
— Não, eu vou cair. — Ela fechou os olhos com força.
— Madison! — gritei e ela resolveu me obedecer.
Peguei sua mão no mesmo instante em que ela a esticou e puxei-a para
mim. Apertei o máximo que pude o seu corpo frágil, evitando que ela
escorregasse. Coloquei-a de frente para mim, com as pernas envolvendo minha
cintura. Senti suas mãos trêmulas me abraçarem e apreciei a sensação.
— Não solte de mim por nada nesse mundo! — pedi.

























Eu podia dizer com toda certeza que nunca estive tão apavorada em toda
minha vida. Já estava aceitando minha morte precoce, quando vi um herói se
aproximar com sua moto. Era Christopher Colt.
Quando ele me puxou e me colou em seu corpo, eu o apertei com tanta
força que meus braços poderiam ter deixado marcas em sua pele. Porém, apesar
de todo o susto e tensão, eu tinha que dar o braço a torcer de que estava feliz por
ele ter vindo atrás de mim!
Levantei o rosto para olhá-lo, completamente concentrado em perseguir
meu sequestrador. Notei que seus olhos estavam novamente vermelhos e me
perguntei em que momento Christopher tivera tempo de recolocar as lentes. Eu
não tinha consumido álcool na festa, não era ilusão da minha cabeça.
Com o semblante carregado de ira e aqueles olhos, o Colt gostoso parecia
muito assustador. O que ele tinha na cabeça para ir atrás do motoqueiro? Eu
queria voltar o quanto antes e me afastar daquele sequestrador dos infernos.
Para piorar, eu nem sabia se o cara estava armado. E se ele atirasse na
gente? Eu não gostaria de ver meu cavaleiro reluzente levar um tiro por minha
causa! E por falar em reluzente, que diabos era aquele medalhão brilhando na
minha cara?
De repente, Christopher freou de forma tão brusca que a moto empinou
para frente e precisei agarrar a camisa dele para não cair.
Quando ele se aproximou novamente do motoqueiro, jogou a moto sobre a
dele e agarrou o homem pelo pescoço. Num piscar de olhos, vi Christopher jogar
o indivíduo a metros de distância e deixar a moto vazia bater contra uma árvore.


Eu precisava pensar rápido no que fazer com Madison, pois não podia
deixá-la testemunhar o que estava prestes a acontecer. Parei minha moto,
enquanto ela me encarava de olhos arregalados e respiração vacilante, morrendo
de medo.
— Um dia talvez você entenda... — impus uma falsa tranquilidade em
minha voz e apertei pontos estratégicos do seu pescoço até que ela perdesse a
consciência.
Eu a peguei no colo e a deitei sobre a calçada. Um barulho alto de motores
indicava que mais motos se aproximavam do local. Provavelmente, Monccielos
que voltavam atrás do companheiro perdido.
Eu caminhava até a árvore onde o vampiro tinha caído e antes que tocasse
nele, fui interceptado.
— Ele não viu o medalhão — disse o homem que havia sido o primeiro do
comboio a falar comigo. — O rapaz é novo entre nós, deixe-o ir.
— Seu amigo mexeu com a pessoa errada. — O infeliz tentou fugir, mas o
segurei novamente e olhei para o outro. — Ele é meu. Está disposto a brigar por
ele?
O homem lançou um olhar faminto para Madison.
— A humana vale à pena? — ele perguntou, desdenhando.
— Deixe-a fora disso. E se não quiser perder mais nenhum colega, é melhor
que vá embora. Meu clã está chegando.
Ainda permaneceram em dúvida por alguns segundos, talvez tentando
decidir se era válido ou não me enfrentar por causa de um vampiro estúpido. Por
fim, parece que tomaram a melhor decisão. As motos roncaram em alto e bom
som conforme se afastaram.
Encarei o vampiro preso entre meus dedos, que tinha começado a gaguejar
enquanto implorava por misericórdia. Pensei em torturá-lo, mas não era bom me
expor tanto no meio da rua, então resolvi ser rápido.
Para qualquer humano, o corpo de um vampiro era inquebrável,
impenetrável, mas não para outro vampiro. Brigas entre vampiros eram
complicadas, porque as duas partes tinham, teoricamente, a mesma força
sobrenatural e o escudo de nossa pele causava alguma resistência. Porém, eu não
era qualquer vampiro. Eu tinha uma vantagem a meu favor, um segredo que só
meu clã conhecia ou aqueles que viam meu medalhão. Mais uma vez então,
encarei o Monccielo burro.
— Com os cumprimentos de Vlad — sussurrei, rasgando lentamente a sua
garganta com minha unha.
Larguei-o no chão assim que o sangue começou a jorrar, para evitar sujar
minha roupa. Eu detestava quando a cabeça se soltava... Sempre dava mais
trabalho para limpar.
Depois de pegar Madison no colo, pensei o que faria com ela. Sequer sabia
onde a garota morava e talvez a melhor opção fosse levá-la de volta para a
fraternidade. Ela tinha amigas, afinal. Deviam estar preocupadas.
— Christopher, você enlouqueceu? — ouvi a voz histérica de Alexis.
— Não.
— No meio da rua, Chris? E se alguém mais tiver visto? E essa bagunça?
Eu não vou limpar nada porque não posso sujar essa roupa!
Alexis, na maioria das vezes, estressava-me. Se ela não tivesse sido
transformada por mim, eu juro que já estaria morta.
Peter olhou em volta, observou a bagunça que eu havia feito e encolheu os
ombros.
— Por que você me deixou de fora da melhor parte? — perguntou,
ressentido. Ele era aquele tipo de pessoa que pagaria para se meter em confusão.
— Posso contar com vocês para assumirem aqui? — perguntei, sentindo
todos os olhares sobre a garota em meus braços. — Preciso levá-la de volta.
— Tivemos que dar um jeitinho no pessoal da festa. — Brianna tocou meu
ombro, dando seu sorrisinho maroto. — Inventamos que aquilo tudo foi uma
encenação que nós preparamos para saudar o início do novo semestre. Para todos
os efeitos, os Monccielos eram atores contratados, ok? E a caloura raptada
também é atriz que cursa a universidade.
— Vocês não podiam inventar algo menos confuso?
— Droga, Christopher! — Ian cruzou os braços. — Você nos deixou para
trás e tivemos que pensar em tudo muito rápido! A galera queria chamar a
polícia.
Pensei na reação de Madison quando soubesse que tinha se tornado atriz.
Ela teria que sustentar aquela mentira.
Carreguei-a no colo de volta para a festa e alguns minutos depois, seus
braços envolveram levemente o meu pescoço.






























Era triste saber que eu havia morrido ainda tão nova, mas pelo menos eu
estava no céu, visto que era carregada por um anjo com a cara do Colt. Será que
anjos podiam beijar?
— Bom dia — o anjo falou comigo.
Ele falava? Ah não! Não era um anjo! Era Christopher mesmo e eu ainda
estava viva!
— Bom dia? — olhei em volta, tendo certeza que era de noite.
— Considerando o tanto que você dormiu... É quase de dia já. — Ele riu de
um jeitinho fofo. — Estou brincando. Você está bem?
— Acho que sim — respondi, mesmo sem ter certeza.
Logo as últimas imagens voltaram à minha mente. A moto, Christopher
arrancando o homem de cima dela, o mesmo Christopher com a mão no meu
pescoço e... Espera! Christopher com a mão no meu pescoço! Ele tinha me
sufocado de propósito!
Quando me dei conta de que estava sendo carregada pelo inimigo, comecei
a espernear e bater nele tentando me soltar.
— Me põe no chão, seu louco. Agora! Eu me lembro de tudo, lembro de
você querendo me matar!
— Matar você? — Ele riu, mas não me soltou. — Se eu realmente quisesse
matá-la não precisaria de toda essa parafernália. Madison, eu não posso te
explicar agora. Só posso dizer que eu a salvei, caso não lembre.
— E depois ficou tão entediado que resolveu me botar para dormir? — Eu
queria gritar, sair correndo dali. O que ele ainda queria comigo?
— Eu fiz o que fiz por não querer que você presenciasse minha conversa
com o indivíduo. Sempre soube que você ficaria bem. Foi tudo perfeitamente
calculado.
— O que vocês conversaram que eu não podia presenciar? — E então,
como uma bola batendo contra minha cabeça, eu tinha compreendido tudo. — O
que aconteceu lá, Christopher? Cadê o outro cara? Você está ferido? —
perguntei, apalpando seu peito à procura de algum ferimento.
Só me dei conta do que estava fazendo, quando senti Christopher
estremecer. Afastei minhas mãos daquele peitoral definido e tentei não corar.
— Achou o que procurava? — Ele me olhou de um jeito desafiador e
depois sorriu. — O outro cara não importa mais, porém, nós precisamos
conversar.
— Sobre?
— Vou tentar ser rápido e direto. Um cara daquela gangue pegou você, eu a
salvei e nós estamos voltando para a festa. Só que eu não gosto de exposição e
não quero ficar dando explicações por aí para nenhum dos curiosos que
testemunharam tudo. Então, só para constar, isso foi tudo uma encenação, ok?
Você tem que confirmar quando dissermos que aqueles homens eram atores
contratados e que você era a donzela em perigo — ele sorriu.
Ele só podia estar de sacanagem com a minha cara. Era sério? Quem cairia
naquela mentira esfarrapada? Minhas amigas, com certeza, não.
— Você quer que eu finja que sou atriz?
Ele balançou a cabeça e eu só consegui gargalhar.
— Você realmente não me conhece, senão saberia que eu odeio ser o centro
das atenções.
— Se você não ajudar, serei obrigado a dizer a todos que aquele era um ex-
namorado querendo reatar o namoro com você.
— O que você tem a esconder? — perguntei depois de ficar um tempo
observando o rosto dele. — E o que era aquele negócio que brilhava? — Olhei a
corrente de prata que entrava por dentro da sua camisa e tentei puxá-la. Seus
dedos apertaram minha mão e ele me olhou de cara feia.
— Aquele negócio é um medalhão. E não, você não vai vê-lo. — Ele soltou
minha mão.
— Volto a perguntar. O que você está escondendo?
— Não devo satisfações a você sobre isso.
O silêncio entre nós deixou bem claro que ele tinha encerrado o assunto de
uma vez por todas. Eu continuaria curiosa, mas sabia que não adiantava ficar
insistindo. Nós mal nos conhecíamos, por que eu achava que o cara começaria a
desabafar comigo?
— Tudo bem, Sr. Simpatia — suspirei. — Não está mais aqui quem
perguntou. Só tenho mais uma pergunta. Em que momento você teve tempo para
recolocar as lentes? Eu levo quase uma hora nesse processo.
— Você faz muitas perguntas — ele respondeu, revirando os olhos.
— E você não responde nenhuma delas.
O Colt não falou mais nada, apenas me olhou e deu um pequeno sorriso.
Continuamos calados pelo resto do caminho e minha mente manteve-se presa a
devaneios. O que havia por trás de todas aquelas questões em aberto, afinal? Eu
ainda não sabia o que tinha acontecido com o motoqueiro.
— Madison... — Christopher me arrancou de meus pensamentos. —
Vampiros atraem vampiros. Não use mais essa roupa, por favor.
Que diabos minha fantasia tinha a ver com toda a confusão?

















Era relaxante ficar a sós com ela, mesmo que eu não soubesse o motivo
para me sentir assim, pois não costumava ser desse jeito com as outras.
Minto, não era tão relaxante, considerando a vontade que eu sentia de
drenar seu sangue, já que por causa dela eu não me alimentara bem na minha
saída com Peter. Outra hipótese que passava pela minha cabeça era jogá-la na
cama e possuí-la, já que também por causa dela, eu não transei da outra vez.
Patético, não é? Eu sei.
Eu a flagrei me encarando como uma boba, de boca aberta e olhos
hipnotizados. Prendi a risada ao perceber como ela corava facilmente.
— Só por curiosidade, quantos anos você tem? — perguntei, antes de
colocá-la no chão.
— Dezoito e você?
Dezoito anos? Eu era mesmo masoquista!
— Sou um pouco mais velho — sorri, sem entrar em detalhes. Para que
assustá-la dizendo que eu sequer havia nascido no século passado? Não havia
necessidade.
Quando estávamos a alguns metros da fraternidade, garotas que imaginei
serem amigas de Madison correram assim que nos viram. Eu a coloquei no chão
e observei enquanto ela ajeitava o vestido horroroso.
— Madison! Você está bem?
Notei os curiosos que ainda estavam do lado de fora, aglomerando-se à
nossa volta.
— Christopher! — uma voz feminina me chamou e eu olhei.
Era uma pessoa estranha, vestida de... O que era exatamente aquilo? O
vestido era preto com grandes círculos verdes. A garota esticou a mão com papel
e caneta para mim. Ah! Devia achar que eu também era ator.
— Eu não dou autógrafos — respondi e entrei na Beta.
Encontrei Henry Bass sentado ao redor de uma mesa com sua fiel cúpula,
numa das salas privativas da fraternidade.
— Colt! — Ele se levantou e me encontrou no meio da sala. — Aquilo foi
incrível!
Henry pegou uma taça, enquanto tirava uma garrafa de bronze envelhecido
de dentro de um armário e, em seguida, serviu-me.
— Um brinde! Ao sangue mais nobre! — brindou.
Eu sorri sem vontade, pois não estava com saco para aquilo. Sentei-me para
relaxar um pouco, esquecer os problemas e tentar, porque até agora isso não
tinha dado certo, curtir a festa.
— Então, quem é a garota?
— Que garota, Henry?
— A que pegaram. — Ele sorriu maldoso.
— Ah sim! — Cocei a nuca, incomodado por ter que falar de Madison para
aquele pateta. — É uma caloura.
— É do nosso nível?
— Se você quer saber se ela é rica, eu não sei. Não a conheço direito —
respondi secamente.
Nunca tive muito saco para ficar jogando conversa fora com Henry. Ele era
apenas um riquinho mimado que só pensava em se dar bem na vida, não se
importando em passar por cima de outras pessoas.
— Ao menos para um pouco de diversão, ela deve servir — zombou, com
certa malícia na voz.
Dei um longo gole no líquido em minha taça e a depositei sobre uma mesa
ao lado da poltrona onde estava sentado. Por fim, inclinei-me um pouco para
frente, olhando-o com atenção.
— Henry, Henry... — Apoiei os cotovelos em meus joelhos. — A menos
que você seja muito tolerante a dor, é melhor deixar a garota em paz.
Henry me olhou incrédulo. Qual era o problema desses caras? Nunca viram
mulher na vida?
— Por quê? Você está interessado na pobre donzela? Christopher Colt? Só
para se alimentar, ou... para se aliviar também?
Eu apenas o olhei por um tempo.
— Henry, sua blusa está com sangue.
— Não está não. — Ele conferiu com rapidez antes de voltar a me olhar.
Então, eu dei um soco em seu rosto e, em seguida, levantei-me para ir
embora.
— Agora está. — Apontei para o local ensanguentado.
Passei rápido pela sala lotada de jovens bêbados dançando uma música que
nem letra tinha, possuía somente batidas. As pessoas não sabiam mais apreciar
realmente uma boa música. Sequer deviam entender o prazer de ouvir Mozart.
Caminhei com impaciência até meu carro, decidido a não esperar pelo meu
clã. Eles podiam voltar sem minha companhia. Sentia que estava sendo seguido
por Madison, por mais que ela tentasse passar despercebida. Quando abri a porta
do carro, sua mão tocou em meu braço.
— Você já vai? — Virei-me para olhá-la.
Os olhos brancos patéticos me encaravam, aguardando uma resposta.
— Não estou me divertindo aqui. — Girei a chave do carro no dedo e
estalei a língua. — Acho que vou lucrar mais se for embora.
Notei que Madison mexia impaciente as mãos, esfregando uma na outra
enquanto tentava me encarar.
— Fiquei tanto tempo discutindo com você, que esqueci de agradecer por
me salvar. — Madison mordeu o lábio inferior e eu achei o gesto uma graça. —
Então, obrigada.
— Fiz o que qualquer um faria.
— Bem, de qualquer forma, obrigada. De verdade. — Ela cruzou os braços,
completamente desconfortável. Eu não sabia se era por ter que me agradecer ou
por estar perto de mim.
Ela começou a olhar em volta como se procurasse por alguma coisa — ou
alguém — e parecia impaciente. Mexeu no celular duas vezes antes de soltar um
longo suspiro.
— Algum problema? — perguntei.
Fiquei em dúvida se devia me despedir e entrar no carro ou esticar aquela
conversa mais estranha de todas.
— Nenhum... — Ela pressionou os lábios. — Só estou um pouco cansada e
não posso ir embora.
— Por que não?
— Porque vim com minhas amigas e elas não parecem dispostas a irem
comigo.
Ponderei sobre a questão e supus que não faria mal se me desviasse um
pouco do caminho e desse uma carona para ela.
— Posso te levar em casa, se quiser.
Ela abriu e fechou a boca, provavelmente pensando num jeito de correr para
longe de mim.
— Eu vim com meu carro, mas se você puder esperar, deixo a chave com
minhas amigas e volto.
— Tenho toda a eternidade — respondi, gesticulando para que ela fosse
logo. Pela forma como me olhou, com certeza não havia entendido minha
piadinha.

¤¤¤

Madison estremeceu assim que fechou a porta do carro e eu lembrei que
deixava o ar sempre na temperatura mais baixa, já que o frio não me
incomodava. Erro meu. Notar o calafrio que percorria sua espinha me deixou
excitado e antes que eu perdesse a cabeça e agarrasse a garota, achei melhor
agasalhá-la.
— Está com frio, não é? — Tirei meu sobretudo e o passei sobre seus
ombros. — Não sou muito sensível ao frio, sinto muito.
Ela abraçou a peça de roupa e pelo canto do olho, percebi que inclinou um
pouco a cabeça para aspirar meu perfume. Esbocei um sorriso ao ver como a
roupa ficou enorme nela, com os braços perdidos dentro das mangas.
— Onde você mora? — perguntei.
— Na rua da faculdade... Em frente à livraria. Sabe onde é?
— Sei.
— E você? — ela perguntou, esforçando-se para fingir casualidade.
— Se você for boazinha, um dia eu mostro.
Dei uma piscadinha para ela, que eu sabia ser um gesto que derretia as
mulheres. A expressão de Madison se tornou um pouco estranha, meio travada,
meio boquiaberta e eu podia jurar que ela...
— Você está babando. — Sorri, apontando para sua boca.



Oh Deus! Eu estava babando! Como eu me odeio! Cogitei a hipótese de
abrir a porta do carro e me jogar no asfalto, seria menos humilhante.
— Você pode parar de rir agora.
Estava de cara fechada, quando Christopher parou na frente da minha casa,
tentando, sem muito sucesso, segurar o sorriso. Fui tirada dos meus devaneios
básicos quando a minha porta se abriu. Ah, fala sério! Além de tudo, ele ainda
abria a minha porta? Olhei para o céu, pois era tudo bom demais para ser
verdade, não existiam homens assim!
— Você está me zoando, certo? — perguntei ao cara lá de cima.
— Hein? — Christopher me olhou confuso.
— Nada não. Pensei alto.
E então, quando começamos a caminhar até a porta de casa, ele
simplesmente começou a gargalhar. Eu nem cogitei perguntar qual o motivo da
graça, pois já imaginava que fosse algo que me envolvesse.
—Madison, você precisa aprender a usar roupas do seu tamanho.
Ah sim, sabia que estava ridícula com o sobretudo dele. Além de
visivelmente largo em mim, minhas mãos sequer apareciam.
O melhor a fazer era ignorar, pois já tinha percebido que Christopher
adorava uma brincadeirinha com minha cara. Caminhei em silêncio até a porta
de casa e, antes de colocar a chave na fechadura, eu me virei para ele.
Por que tão lindo? Podia sentir meu coração bater acelerado dentro do peito
apenas por estar tão perto daqueles olhos vermelhos envolventes.
— Você está chorando? — ele perguntou, franzindo a testa.
— Não. — Pisquei, irritada. — É essa lente idiota que está fazendo meus
olhos arderem. Eu demorei quase meia hora para colocá-la e já sei que para tirar
vai ser pior.
Não estava mentindo. As lentes incomodavam horrores e o reflexo de coçar
não estava ajudando.
— Eu juro que ainda não entendi o porquê da lente branca. — Ele riu,
balançando a cabeça e fazendo aquele lindo cabelo negro se mover diante dos
meus olhos ardidos.
— Dããã! Eu estou fantasiada de vampira, hello!
Christopher me encarou como se eu fosse um alienígena e estalou a língua
ao enfiar as mãos dentro dos bolsos da calça.
— Um dia eu vou provar para você que vampiros não possuem olhos dessa
cor! — disse ele, apertando a ponta de seu nariz.
E então, sem explicar nada, ele se aproximou bruscamente de mim, quase
colando o rosto ao meu. Grudei as costas na porta de madeira atrás de mim e
prendi a respiração. Christopher pretendia me beijar?
— Posso tirar? — perguntou, com o rosto e a boca a milímetros de
distância.
— Hein?
— As lentes. — Sorriu. — Eu posso tirá-las por você?
— Você quer tirar minhas lentes? Eu não sei se é legal ter um estranho
enfiando o dedo no meu olho...
— Bem, não é um dedo estranho. É o meu dedo. E além do mais, acho que
sou um pouco mais habilidoso do que a senhorita. Por favor, não pisque.
O rosto dele perfeitamente esculpido lá no Olimpo estava tão, mas tão perto
da minha boca... Será que ele se incomodaria se fosse agarrado?
Sem que eu esperasse, Christopher abriu minha mão e colocou as duas
pequenas lentes em minha palma. Pisquei algumas vezes e já não sentia mais
nada. Como ele tinha feito aquilo?
— Como você fez isso tão rápido?
— Eu sou bom, não sou? — Sorriu convencido e passou a língua pelo lábio
inferior.
Ele, definitivamente, não poderia reclamar se eu o atacasse!
— Vo-você quer... — Respirei fundo para parar de gaguejar. — Entrar?




































Ela me convidou para entrar? Sério? Madison não assistia aos filmes?
Ninguém avisou que não se convida um vampiro para sua casa?
O convite era um prato cheio para mim... Controle-se Christopher!
Respirei fundo e avaliei o local, pesando os prós e os contras de aceitar. Se
eu não entrasse, voltaria para casa me contorcendo de fome e tesão. Se eu
entrasse, na melhor das hipóteses eu a levaria para a cama e a atacaria. Na pior
das hipóteses, ela acabaria morta.
Droga! De onde havia surgido essa minha consciência, de uma hora para
outra? Eu nunca me importei com sentimentos humanos!
— Acho melhor não — respondi rápido antes que mudasse de ideia.
— Oh, claro. Seria difícil de explicar para sua namorada... — ela balbuciou,
desviando os olhos dos meus.
— Para minha quem? — Eu ri.
— Sua n-a-m-o-r-a-d-a.
— Eu teria entendido sem você precisar soletrar. E não, eu não tenho nada
parecido com uma namorada, Madison.
— Por quê?
Como explicar para ela que as mulheres com quem eu me relacionava,
geralmente terminavam mortas?
— Não consigo ter uma relação duradoura. Vai entender... — Dei de
ombros.
Madison assentiu em silêncio, tirou o casaco e me devolveu. Quando voltei
a vesti-lo, senti seu perfume floral entranhado no couro.
— Provavelmente nos veremos amanhã — encerrei o assunto, ansioso para
sair logo dali e fugir da tentação.
— Provavelmente — respondeu ela, exibindo um bico nos lábios.
— Boa noite, Madison.
— É só Mad...
Eu quis beijar seu rosto antes de ir embora, para poder sentir o sabor da pele
dela. Quando encostei meus lábios em sua bochecha, seu coração pulou uma
batida e voltou a bater acelerado. Sorri, tentando acalmá-la e fui pego de
surpresa quando ela me agarrou, enlaçando meu pescoço com os braços e
jogando seu peso em cima de mim.
A mulher perdera a noção do perigo? Rosnei por reflexo, o que a fez me
soltar e me olhar assustada.
— Desculpe — Madison pediu, totalmente sem graça e corada.
— Não por isso — pigarreei, pois minha voz saiu mais rouca do que eu
esperava. — Está tudo bem.
— Verdade. — Ela baixou os olhos e alisou a saia do vestido cafona. —
Pensando bem, você já deve estar acostumado a ser agarrado por garotas
malucas.
Ao sentir que meu autocontrole já estava restabelecido, eu toquei o rosto
dela e o puxei para perto do meu. Senti um leve tremor passar por seu corpo
quando aproximei minha boca de seu ouvido.
— Realmente acontece o tempo todo, mas não é todo dia que eu sou
agarrado por alguém que desejo — sussurrei.
Ela permaneceu imóvel e seus lábios se abriram de forma delicada.
— Na hora certa, você será minha. Porém, quando isso acontecer, não terá
mais volta. — Beijei-a de leve na testa. — Bons sonhos, Maddie.
Afastei-me dela antes que a vontade de agarrá-la vencesse meu
autocontrole. Quando estava manobrando o carro, olhei novamente na direção da
porta e vi Madison na posição em que a deixei, com um sorriso idiota no rosto.
Eu sorri feliz. Ela era fofa.

¤¤¤

Dirigia empolgado pela estrada. Agora eu sabia que a queria. Queria e
muito! Porém, esse lance de sentimentos era novo para mim e não tinha certeza
de como agir.
Cheguei em casa e encontrei Krisna me esperando na escada, com um
sorriso no rosto.
— Você é uma criança grande, sabia Chris?
— Sou? — Franzi a testa, fingindo-me de desentendido.
— Bastante. — Seus olhos se estreitaram enquanto me avaliava. — Não vai
me deixar nessa curiosidade, não é? Eu sinto que você estava com a humana.
Eu sabia que se a ignorasse agora, ficaria ouvindo suas súplicas até o dia
seguinte, então simplesmente me deixei vencer e sentei ao seu lado.
— Estava com ela, fui deixá-la em casa.
— Viva?
— Mas é claro que sim! — Joguei minhas mãos para o alto, inconformado
com aquela pergunta. — Para que eu salvaria a garota se fosse matá-la em
seguida? Não sou tão babaca a esse ponto!
Pelo olhar que Krisna me lançou, ela deixou bem claro que me considerava
capaz de tudo e mais um pouco.
— Fico feliz que alguém tenha amolecido esse coração. Boa noite, Chris.
— Ela me beijou no rosto, conforme costumava fazer desde que a transformei.
— Vai dormir!
— Eu não durmo, Krisna! Nem você!
A vampira subiu as escadas correndo e me deixou falando sozinho.
Aproveitei o silêncio em casa e fui para meu quarto, relaxar um pouco.
Não lembro por quanto tempo fiquei com o corpo esticado na cama,
olhando para o teto e pensando na vida. Estava cheio de fome e tesão. Levantei,
passei a mão nas chaves do carro e fui procurar por uma presa fácil. Não estava
com paciência sequer para seduzir alguém.
Depois de dirigir por algumas milhas, avistei no meio da estrada uma
mulher andando sozinha no acostamento. Mais fácil impossível! Diminuí a
velocidade e encostei o carro. Quando ela viu os faróis, virou-se e parou.
— Está perdida? — Abaixei o vidro e sorri.
— Depende... Você vai me achar, se eu estiver? — ela respondeu,
mascando um chiclete.
Era realmente fácil demais!
— Entra. — Destravei a porta para ela.
A mulher se acomodou rapidamente no banco, cruzando as pernas de um
modo que me dava uma ótima visão de suas coxas. Quando ela estremeceu com
o frio no interior do carro, lembrei que Madison tivera a mesma reação, mas
aquela eu não me importava que sentisse frio. Até porque ela iria morrer, muito
provavelmente.
Olhei pelo retrovisor e vi que tinha passado por uma estrada de terra que
levava para dentro da floresta. Dei a ré e fiz a curva na entrada. Ela me olhava
satisfeita, achando que tinha tirado a sorte grande ao me encontrar.
— Carro incrível! — falou ela, com todo seu jeito de mulher vulgar,
fazendo barulho com a droga do chiclete.
Parei o carro e desci o banco dela, enquanto sentia suas mãos percorrerem
meu corpo. Ah, sim! Eu realmente precisava de sexo. Mais até do que de sangue.
A mulher abria minha camisa com tanto furor, que arrebentou um dos
botões. Que vadia! Eu amava aquela blusa!
Peguei-a pelo pescoço e cravei logo meus dentes em sua pele que fedia a
perfume barato. Senti o prazer tomar conta de mim e arranquei sua roupa
rapidamente, apalpando suas pernas na intenção de abri-las.
O único problema era que o mundo parecia estar conspirando contra mim,
pois quando eu estava prestes a possuí-la como fêmea, vi um objeto brilhando
atrás da bunda da mulher. Ao pegá-lo, arrependi-me amargamente. Maldita
curiosidade! Era uma pulseira, com um pingente de letra M. Lógico que a
estabanada da Madison deixaria a pulseira cair no meu carro. Lógico! Eu estava
sendo castigado!
Olhei minha presa perdendo sangue e já não tinha mais vontade de transar
com ela, sentia apenas fome. Eu já estava no inferno, certo? Por que não
continuar?
Suguei o resto do líquido espesso que seu corpo ainda possuía e quebrei seu
pescoço. Saltei do carro, carregando o corpo sem vida e coloquei-o entre alguns
arbustos. Depois, mandaria alguém do clã cuidar daquilo.
Voltei para a cidade dirigindo com tanta raiva, que se não amasse tanto meu
Aston Martin, seria capaz de bater de encontro a algum muro.
Quando me dei conta do que estava fazendo, notei que tinha estacionado de
frente para a casa de Madison. A luz da sala ainda estava acesa e as duas janelas
do andar de cima que davam para a rua, estavam apagadas. Provavelmente, ela
devia estar dormindo, mas de qualquer forma, eu entraria lá.
Avaliei o andar de cima, tentando descobrir qual o quarto dela, pois estava
com muita raiva e preguiça para ficar pulando de quarto em quarto.
Fechei os olhos e me concentrei. Era muito fácil distinguir seu cheiro. Seu
quarto, definitivamente, era o da esquerda. Dei impulso e pulei, dando sorte de
encontrar a janela aberta.
Ao entrar no quarto, encontrei-a deitada de costas para mim, com o cabelo
molhado espalhado pelo travesseiro, coberta com um lençol branco. Ela
sussurrava alguma coisa e eu precisei me aproximar para entender o que era.
Uma numeração? Eram... Bichos? Carneiros! Hein? Madison estava contando
carneirinhos? Inacreditável!
Quando me curvei para deitar ao seu lado, ela mexeu-se bruscamente,
puxando o lençol junto e me revelando suas costas nuas, além das suas covinhas
em cima da bunda. Desejei que ela fosse a vadia da floresta, para possuí-la ali
sem dó nem piedade. Porém, ela não era. Por que ela mexia tanto comigo, a
ponto de eu não querer lhe fazer mal?
Fui saindo de costas do quarto e voltei para o carro. Antes de dar a partida,
aproveitei para desabafar e bati com a cabeça no volante umas dez vezes. Eu
estava perdendo a minha moral.









O quarto estava quente, pegando fogo. Claro, porque ele estava ali, olhando
para mim. Aproximou-se devagar, tirou a roupa enquanto subia sobre meu corpo.
Senti sua língua macia percorrer minha barriga, descendo e traçando uma linha
reta até chegar ao local certo para me proporcionar o prazer desejado.
Christopher, definitivamente, era o homem mais perfeito do mundo. Então ele
me pegou e...
— Madison! Madison! — Abri os olhos lentamente, ao ouvir uma voz
irritada me chamar.
Havia uma pessoa me olhando com cara de poucos amigos. Era Louise.
Onde estava Christopher? Não creio que tenha sido tudo um sonho! E o
pior, na melhor parte do sonho, a insuportável me acordou!
— Não chegue perto de mim, Louise — praticamente rosnei, chutando o
lençol para longe e correndo para me vestir. — Estou falando sério! Ou não
respondo pelos meus atos!
— Que bicho te mordeu, Madison? — Jennifer apareceu para ver qual era o
motivo da gritaria.
— Essa é a questão! Ele não chegou a me morder, por causa da Louise! Se
é que você consegue entender...
As duas caíram na gargalhada e eu cruzei os braços, esperando que as
bonitas me deixassem a par da piada.
— Madison, você estava tendo algum sonho erótico? — Jennifer sentou na
minha cama e agarrou meu travesseiro enquanto fazia caras e bocas. — Aposto
que era com o gostoso do Colt! “Oh Colt, faça-me sua escrava sexual, Colt!”
Não era nada legal ver a imagem de Jennifer agarrando meu travesseiro e
tentando imitar minha voz. Eu não era manhosa daquele jeito. Não mesmo!
— Por isso ela acordou tão irritada comigo. Porque eu atrapalhei o sonho!
— Louise fez uma cara de nojo ao me olhar. — Ei, você não achou que eu fosse
o Colt não, né? Ew!
Enquanto a loira má saía do meu quarto com nojo, Jennifer sorria para mim.
— Não consigo lembrar o motivo pelo qual eu vim morar com vocês. Sério
mesmo! — falei entredentes e com os punhos cerrados.
Ignorei os outros comentários que surgiram e peguei uma muda de roupa.
Por fim, saí do quarto enquanto empurrava Jennifer para fora. Eu precisava de
um banho!
— Você estava sonhando e Louise te acordou na melhor hora, não é? Ela já
fez isso comigo também — Anna comentou ao sair do banheiro enquanto
escovava os dentes.
— Ah, certo. Que tal então vocês colocarem um luminoso na cabeça, para
me avisarem que estão sonhando? — a patricinha loira ouviu no corredor e
rebateu.
Eu não ia mais perder meu tempo. Entrei no banheiro batendo a porta com
força, enquanto Anna socava do lado de fora, querendo enxaguar a boca com
pasta de dente. Azar! Eu acordei excitada e na seca, ela que se virasse e cuspisse
em outro lugar.

¤¤¤

Cheguei na faculdade e tive que aturar as pessoas me olhando como se eu
fosse famosa. E aí lembrei que eu era. Em partes. Perfeito, para não dizer o
contrário! Ao menos eu podia me esconder atrás dos meus óculos escuros, que
eu usava para disfarçar as olheiras gigantes que nasceram no meu rosto.
Quando cheguei no segundo andar, os encontrei. Os seis imponentes e
perfeitos deuses do Olimpo. Como eles conseguiam ter aquela aparência de
quem acabara de sair de uma sessão do photoshop, enquanto eu parecia uma
bruxa? Não me sentia bem em saber que precisaria passar por eles para entrar em
minha sala.
Antes de passar pela porta, Christopher segurou minha mão, sorrindo com
seu jeito sexy.
— Quero vê-la mais tarde na lanchonete. — Apertou de leve meus dedos
antes de me soltar.
Ele queria me ver? Achei que a essa hora já teria se arrependido de ter
perdido seu tempo comigo na noite anterior.
Eu não consegui me concentrar em nenhuma aula porque fiquei o tempo
todo desenvolvendo teorias sobre o encontro na lanchonete.
— Como você conseguiu isso, hein? — uma voz fina interrompeu meus
devaneios.
Era Megan-patricinha-loira, sentada ao meu lado na terceira aula do dia.
Dessa vez ela me olhava diferente, como se fôssemos amigas.
— O que, exatamente, eu consegui?
— O papel para interpretar a mocinha de ontem. — A loira me olhava
interessada.
— Ah! Aquilo? Eu nem sei... — desdenhei, dando de ombros, como se não
tivesse sido nada demais. — Só fiz o teste de qualquer jeito, nem estava nos
meus melhores dias.
— Você tem noção de que todas as mulheres desse prédio matariam para
ocupar seu lugar, certo? Contracenar com o Colt! E eu nem sabia que ele era
ator...
Santa ignorância! Eles acreditaram mesmo nisso!
— Nem foi nada demais contracenar com ele. A cena em que ele me
carrega no colo também foi bem chata — suspirei, fingindo estar entediada. —
Mas por que você está tão surpresa? Vocês são amigos, não são?
— Amiga de um Colt? Essa é boa! — ela pareceu chocada. — Só se for nos
meus sonhos.
— Por que, então, você me expulsou da vaga dele?
— Eu fiz aquilo para o seu bem! — Ela parecia ter se ofendido com minha
pergunta. — Você nem imagina como sua vida se tornaria um inferno se parasse
naquela vaga. Uma vez, uma garota estava mascando chiclete em sala e começou
a rir tanto, que cuspiu sem querer o chiclete. Adivinha aonde ele foi parar? No
cabelo de Alexis Colt, que estava sentada na fileira da frente. — Megan
balançou a cabeça. — Alexis infernizou tanto a vida dela, que em uma semana a
pobre coitada da garota trancou a matrícula e se mandou da cidade. Dizem as
más línguas, que hoje ela frequenta até psiquiatra, porque jurava que Alexis
aparecia em seu quarto todas as noites, com a boca suja de sangue.
Mas que porra de história era aquela? Pisquei, encarando uma Megan de
olhos arregalados como quem acaba de contar uma história de terror.
— Sinceramente, eu não os vejo assim, tão assustadores como algumas
pessoas fazem parecer. Tudo bem que eles não são simpáticos, mas o
Christopher, pelo menos, não me parece ser vingativo como essa Alexis. Quem é
ela? A loira, a ruiva ou a morena?
— A loira. A morena é a Brianna e a ruiva é Krisna. O maior deles é o
Peter, o mais baixo é o Ian e o terceiro você já conhece.
— Certo... E eles moram juntos? São parentes distantes? Porque não são
muito parecidos.
— Eles são amigos. — Ela encolheu os ombros. — Ah, não sei, é
complicado demais até para mim, mas moram juntos sim. Só que ninguém sabe
onde.
Quando o professor encerrou a aula e eu comecei a guardar minhas coisas,
Megan parou de pé ao meu lado, abraçada a seus livros.
— Até que você não é nenhuma jeca como eu imaginei que fosse. — Ela
estalou a língua e jogou o cabelo para o lado. — Se quiser sair comigo e outras
garotas mais tarde, passe na minha casa.
Eu sabia que ela só estava falando direito comigo por causa dos Colts, mas
sinceramente, eu não ligava. Talvez fosse bom conhecer novas pessoas.
— E onde é sua casa?
— Ômega Pi! — a loira respondeu antes de descer o corredor entre as
fileiras para sair da sala.
Fraternidade. Ótimo! Era algum tipo de castigo?








Sentei-me com meu clã e os cinco me olhavam com expressões irritadas,
enquanto eu aguardava a chegada de Madison.
— O que foi? — perguntei. — Por que estão com essa cara?
— O que você realmente quer com a garota, Christopher? — Ian me
questionou.
— Eu nunca o vi tão fissurado por alguém, principalmente por uma humana
— Brianna sussurrou.
Contei até dez e esperei que a irritação deixasse meu corpo. Se tinha uma
coisa que eu detestava, era quando meu clã questionava meus comandos ou
atitudes. Insubordinados!
— Não devo satisfação a nenhum de vocês.
— Por acaso sua intenção é brincar antes de matar? — Krisna me lançou
um olhar enviesado.
— Não pretendo matá-la. Brincar, já é outra história... — sorri.
— E o que vai acontecer quando ela descobrir o que somos?
— Eu não tenho respostas para tudo, Peter. — Logo senti um cheiro
inconfundível no ar e soube que Madison havia chegado. — Procurem não
enlouquecer. Já volto.
— Você não é para o bico dela, Christopher! — Alexis rosnou quando eu
me levantei.
Olhei para a loira com fúria e dei um soco na mesa com as duas mãos,
inclinando-me em direção a ela.
— Eu, por acaso, preciso lembrá-la de sua posição aqui, Alexis?
— Não, eu...
— Então basta! Não quero ouvir mais a sua voz hoje.
— Chris... — Ian sussurrou para mim. — As pessoas estão olhando.
Olhei em volta e notei vários pares de olhos assustados em cima de mim.
Tomei uns segundos para me recompor, tirando lentamente as mãos de cima da
mesa e torcendo para que a rachadura que se formara de uma ponta à outra, não
abrisse totalmente.
Madison estava engraçada, parecia que tinha arrancado as suas roupas da
boca de um leão. Estavam um pouquinho amarrotadas. Não, minto. Muito
amarrotadas.
— Dormiu bem? — perguntei ao beijar-lhe o rosto.
— Demorei um pouco para pegar no sono. — Lembrei dos carneirinhos
quando ela disse isso. — Mas depois dormi muito bem. Por falar nisso, você
esteve no meu quarto ontem? — ela perguntou, franzindo a testa e depois
baixando a cabeça. — Não, né?
Mas como ela sabia disso? Quando entrei em seu quarto, eu jurava que
Madison estava dormindo. E não lembro de ter cometido nenhuma gafe.
— Eu? — Tentei ganhar tempo para responder.
— É... — Ela mordeu o lábio inferior, não parecia com coragem de
continuar a falar. — Usando as mãos? Ou a... boca?
Foi minha vez de arregalar os olhos e quase engasgar. Do que a louca
estava falando? Eu, com certeza, não usei minhas mãos nela. Muito menos a
boca.
— Eu acho que você sonhou. — Não consegui evitar meu sorriso vitorioso.
Senti uma vontade incontrolável de lamber aquelas bochechas rosadas de
vergonha, mas isso, provavelmente, assustaria a garota.
— Eu só estava me certificando. — Ela franziu a testa e balançou a cabeça.
Então, sem avisar, deu-me as costas e caminhou até uma das lanchonetes.
Tudo bem, aquilo já estava fugindo do meu controle. Como assim ela teve
coragem de me dar as costas e me deixar falando sozinho? Qual mulher já tinha
feito algo assim antes? Nenhuma!
— Certificando-se de que sonhou comigo? — Fui atrás de Madison. —
Usando as mãos? E a boca? Eu me pergunto onde... — sussurrei em seu ouvido
enquanto ela ainda estava de costas e pude ouvir seu coração disparar.
Cara! Eu adorava esses joguinhos!
— Jura que você não vai me apresentar seu amigo, Madison? — Fomos
interrompidos por uma loira alta que me engoliu com os olhos.
Lembrava dela na festa da noite anterior e a identifiquei como amiga de
Mad. Um pouco falsa e invejosa, diga-se de passagem.
— Louise, Christopher. — Madison fez o que a loira queria. — Christopher,
Louise.
— Muitíssimo prazer! — A loira esticou a mão, mas puxou-a em seguida e
resolveu mudar a forma de cumprimento, inclinando-se para beijar meu rosto.
Mais rápido do que ela podia piscar, eu me afastei e estiquei minha mão.
— Prazer.
A loira ficou surpresa, provavelmente porque se achava a última bolacha do
pacote. Deu um sorriso sem graça e saiu de fininho. Madison me olhava curiosa,
com uma boca rosada atraente demais.
— Isso foi estranho... — ela falou.
— O quê?
— Louise não costuma ser dispensada tão facilmente. Ela é exatamente
aquele tipo de garota do qual vocês correm atrás.
— Sim, ela pode ser, mas para mim estava fácil até demais. E eu não
costumo correr atrás de mulher.
Madison franziu os lábios, analisando meu rosto. Ela cruzou os braços e
esticou o corpo como se tentasse se igualar à minha altura. Nunca conseguiria.
— O que você quer comigo, exatamente? — perguntou.
“Bem Madison, eu quero seu sangue e seu corpo.” Não, pesado demais.
“Maddie, eu quero possui-la como minha fêmea.” Também não soaria legal...
— É melhor você não saber em detalhes. — Sorri ao me deliciar com as
opções em minha mente.
— Eu acho que tenho o direito de saber. — Ela parecia uma criança
mimada, batendo os pés.
— Direito você tem. — Cheguei mais perto e tirei seus óculos escuros. —
Preparação, é que eu acho que não.
Tinha um rosto naquelas olheiras e senti vontade de rir pela cara assustada
que fez. Achei melhor colocar os óculos de volta no lugar e dei uma piscadinha.
— Você é irritante, sabia? — Ela virou a cara.
— Sabia. Mas também sou irresistível.
Provoquei, cutucando a cintura dela com o dedo e senti seu corpo
cambalear.
— Talvez a gente se veja mais tarde. — Beijei a mão dela e me afastei em
direção ao prédio.
— Eu não faço seu tipo, Christopher... — ouvi Madison sussurrar.































Joguei-me numa cadeira e encostei a testa na mesa. Christopher Colt me
torturava cada vez mais. Isso estava se tornando traumatizante.
Levantei os olhos quando seus amigos passaram ao meu lado, sem nem me
notar. Bem, nem todos passaram. Um deles se sentou na cadeira ao meu lado.
— Madison, certo? — o loiro musculoso perguntou com um sorriso que me
deixava tonta. Como era possível que todos fossem tão lindos?
— Peter, certo?
— Na mosca! Você mexeu com Christopher... Nunca o vi tão alterado.
— Eu lamento se causei algum problema — respondi, sem nem saber
exatamente o tipo de problema que havia causado.
— Não para mim. — Ele riu. — Mas Alexis, Krisna e Brianna estão
odiando você.
Oh meu pai! Eu não queria sonhar com nenhuma loira ensanguentada no
meu quarto. Muito menos ser internada numa clínica psiquiátrica.
— Eu não quero causar nenhuma confusão — respondi, já começando a ter
calafrios.
Peter sorriu ao se levantar. Aliás, ele passou o tempo todo sorrindo. Era um
pouco medonho, mas pelo menos tentava parecer simpático.
— Se causar, a gente resolve depois! Bom falar com você, Madison. Se não
der certo com o Christopher, estou disponível! — ele falou bem alto enquanto
entrava no prédio, achando graça de si mesmo.

¤¤¤

O resto do dia passou voando e eu cheguei em casa sem nada para fazer.
Deitei na cama, pensando na minha vida patética. Meu mundo tinha virado de
cabeça para baixo em dois dias, por causa de um cara antipático e irritante.
Lembrei que Megan havia me chamado para sair. Não poderia ser tão ruim,
principalmente depois que ouvi Jen e Louise chegando em casa e planejando
uma tarde de meninas com direito a sessões de depilação. Passar umas horas
com Megan não poderia ser pior do que encarar a cera quente.
Arrumei-me um pouquinho melhor, com um jeans e um cardigã cinza antes
de sair.
Não foi uma tarefa difícil encontrar a fraternidade Ômega Pi enquanto
procurava pelas mansões do bairro. Ao bater na porta, fui atendida por uma
garota ainda mais patricinha que a Megan.
— Você é a Madison? — ela perguntou antes de me deixar abrir a boca.
— Sou...
— Pode entrar. — A loira escancarou a porta e me deu passagem.
Tinha sido mais indolor do que eu imaginei. Fui levada até uma sala
ricamente mobiliada com móveis brancos e em tons pastéis. Eu ri internamente,
imaginando a cara de Louise quando soubesse onde eu estava. Ela era daquelas
universitárias que sonhavam em fazer parte de uma fraternidade como a Ômega
Pi.
— Madison! Que bom que você veio! — Megan surgiu toda sorridente. —
Não tinha certeza se viria mesmo.
— Achei melhor me divertir um pouco. — Dei de ombros, sem ter certeza
se aquela tinha sido uma boa ideia. Pela primeira vez na vida, eu me senti
realmente desconfortável com as roupas que vestia. Perto delas e dentro daquela
casa, eu parecia uma mendiga.
— Bem, primeiro nós precisamos decidir. Você tinha que vir aqui, para as
outras poderem te conhecer — avisou Megan.
— Do que você está falando?
Ela abriu um sorriso enorme e estalou os dedos diante do meu rosto.
— De você se tornar uma Ômega Pi! — respondeu empolgada demais.
Quase caí para trás. Que ideia absurda era aquela? Fala sério! Eu lá tinha
cara de quem curtia essa coisa toda fresca de fraternidade? De patricinhas, ainda
por cima? Por um instante, suspeitei que aquele convite e toda a simpatia de
Megan podia se tratar de um trote.
— Eu acho que você se enganou... — Sorri, sem saber direito como recusar
a proposta e ser educada ao mesmo tempo. — Eu não pretendo entrar para
nenhuma fraternidade.
Louise me mataria se soubesse que estava recusando um convite como
aquele.
— Como assim? — Megan deixou o queixo cair e me fez sentar num sofá.
Ela se sentou ao meu lado, segurando minhas mãos. — Qualquer garota daria
tudo para entrar na Ômega Pi. E receber um convite meu, não é uma coisa
comum.
— Mas eu não quero. Agradeço o convite, mas não tenho interesse, ok? —
Quis correr em direção à porta antes que elas pintassem meu cabelo de loiro.
— É uma pena... — Megan alisou a saia do vestido, como se tivesse alguma
sujeira invisível precisando ser limpa. — Ele vai ficar triste em saber disso.
Uma mulher sabia mesmo como chamar a atenção de outra. Franzi meus
lábios, sem querer fazer a pergunta de um milhão de dólares. Mas, eu fiz.
— Ele quem?
— Christopher! Quem mais? — Megan sorriu de um jeito óbvio.
— E o que ele tem a ver com isso? — perguntei.
— Tudo!
Aquilo estava cada vez mais confuso. Por que todo mundo naquela cidade
era tão misterioso?
— Tudo... O quê? — perguntei, aumentando meu tom de voz, deixando
claro que estava impaciente.
— Ele pediu para que eu a convidasse — ela respondeu, sem olhar direto
em meus olhos. Isso me causava ainda mais estranheza.
— Mas você disse que não era amiga dele.
— E nem sou, mas ele não pediu para mim, diretamente. O pedido veio
através de Henry Bass. — Seus olhos brilhavam enquanto ela alisava uma mecha
de cabelo.
— Quem?
— O magnífico presidente da Beta. — Uma revirada de olhos. — Caso
você não saiba, eles são sempre vistos juntos. E os Colts estão sempre por
lá. Achei que você entendesse mais desses assuntos. A Ômega é como se fosse a
fêmea da Beta, sabe? — ela falava como se eu fosse uma criança que não
entendia as coisas. — Então, você entrando para a Ômega, estará sempre junto
com a Beta. E é muito mais fácil para os dois lados, se relacionarem com
pessoas dessa união.
Hum, agora eu realmente tinha entendido do que se tratava. Será que era
por isso que Christopher nem tentara me beijar? Será que a família dele tinha
alguma tradição besta que envolvia relações entre fraternidades?
A conclusão toda me deixou entristecida, porque eu não era o tipo de garota
que participava de fraternidades. Nunca tive essa vontade.
— Olha, para ser sincera, com ou sem Christopher na jogada, eu não me
vejo aceitando o convite.
— Por que você não tenta abrir a mente um pouco? — Megan abriu os
braços e exaltou toda a beleza daquele lugar, sorridente. — A vida como
membro de uma fraternidade pode ser muito diferente do que você imagina,
Madison. Eu ficaria feliz se você, pelo menos, fosse grata pelo convite e fizesse
o teste.
Abri a boca para responder, mas ela apoiou as mãos nas minhas pernas e eu
me calei.
— Sério, é só um teste — estalou a língua ao me olhar dos pés à cabeça. —
E eu confesso que, neste momento, já tenho dúvidas se você irá passar com
eficiência por ele.
Bom, se tinha uma coisa que eu não gostava, era que fizessem pouco caso
de mim. E o olhar que Megan lançou me causou muito incômodo. Eu faria a
droga do teste, apenas para ser aprovada e ter o gostinho de recusar.
— Você disse que as outras precisavam me conhecer? — perguntei,
fingindo interesse.
— Sim. — Ela levantou e me puxou pela mão. — Vem comigo!
Acompanhei-a até o andar de cima, entrando em uma sala de reuniões, onde
várias garotas loiras estavam reunidas. Chegava a ser patético.
Parecia brincadeira, mas eu tive mesmo que ficar sentada numa cadeira
enquanto todas me avaliavam, faziam perguntas e cochichavam. Mais de quinze
minutos se passaram, até que Megan levantou, batendo palmas.
— Você foi aceita com uma boa margem de votos! Agora pode fazer o
teste. E essa parte fica a cargo da Beta, para onde iremos agora.
O teste era realizado na outra fraternidade? Que preguiça de toda aquela
burocracia.

¤¤¤

— Madison Foster! Muito prazer, eu sou Henry Bass, presidente da Beta!
— Um garoto que não parecia ter mais de vinte anos esticou a mão ao sorrir para
mim.
Aquele era Henry Bass? Eu esperava por alguém com cara de mais velho e
mais antipático, devido a tudo que ouvi falar dos membros da fraternidade.
— Prazer — respondi ao cumprimento, apertando sua mão.
— Está pronta para o teste? — Ele arqueou uma das sobrancelhas. — Não é
nada fácil.
— Como, exatamente, é esse teste?
Ele sorriu, enquanto me conduzia pela casa, com uma mão em minhas
costas. Eu olhei para o salão onde as meninas da Ômega entraram para se
acomodarem em largos sofás.
— Consiste, praticamente, em testes de inteligência, agilidade e raciocínio
lógico. Por mais que Christopher seja nosso camarada, não podemos deixar uma
pessoa totalmente inapta, juntar-se a nós. — Henry fez uma pausa e sorriu
delicadamente. — Espero que me entenda.
— Sim, compreendo. Apesar de não ser muito ágil. —Quando criança, eu
tinha sido apelidada no colégio de “maçã podre”, justamente pela minha falta de
coordenação motora. — Tem que passar com mérito nos três testes?
— Nós veremos isso. — Ele riu, enquanto passava o braço por cima dos
meus ombros.
Descemos uma escada de pedra de quatro lances, chegando a um local meio
sinistro, escuro, iluminado apenas por algumas velas. Estremeci com o frio.
— As meninas não vão vir? — perguntei, estranhando o fato de estar sem
Megan ao meu lado, afinal, ela era a presidente da Ômega.
— Não. O teste é seu. Elas já tiveram o delas.
Por algum motivo, não senti muita confiança em Henry depois daquela
resposta. Estava tudo muito estranho e aquele lugar era medonho demais.
— Olha, não que eu esteja cuspindo para o alto, mas eu acho que vou
esperar mais um tempo até decidir fazer o teste. — Tentei recuar.
Mas então, antes que eu pudesse dar tchau e voltar pelas escadas, uma porta
no final do cômodo foi aberta e surgiram quatro rapazes vestidos com uma
túnica preta. Eles formaram uma fileira diante de nós. Eu já não me sentia mais à
vontade de jeito algum.
— Madison — Henry sussurrou e sua expressão tinha se tornada
horripilante. Ele me olhava com cara de lunático. — Nós não podemos abrir uma
exceção dessas para você. Senão teríamos que fazer com todos.
Eu dei as costas a ele e tentei sair correndo daquele calabouço, mas senti
mãos fortes segurarem meus braços. Dois rapazes me puxaram em direção a uma
mesa – ou algo do tipo – de pedra, que ficava no meio do salão.
— Ok, isso não tem graça nenhuma! Chega! — gritei. — Eu não serei
obrigada a fazer droga de teste nenhum! Soltem-me!
— Cale-se Madison! — Henry-filho-da-puta-Bass me deu um tapa no
rosto.
Que diabos estava acontecendo? Onde tinha se enfiado o rapaz tão cordial
de minutos atrás?
Senti um medo bem parecido com o de quando fui sequestrada, só que
daquela vez, não havia nenhum Christopher Colt para me salvar. Quais minhas
opções? Lutar com eles? Impossível! Tinham me deitado sobre uma mesa e
prenderam meus pulsos e pernas.
— Soltem-me! Vocês vão se arrepender! — Eu me debati sem sucesso,
sentindo que estava totalmente domada.
Henry tirou seu paletó e dobrou os punhos da camisa, enquanto um dos
caras passava uma fita adesiva na minha boca. Meus gritos se misturaram às
lágrimas quentes quando começaram a cortar as minhas roupas e me despir.
Como eu fui tão idiota em ter caído naquela armadilha? Será que
Christopher estava envolvido também? Eu prestes a morrer ou ser estuprada e só
conseguia pensar no envolvimento dele. Não poderia... Eu mal o conhecia, mas
não se parecia com algo que ele faria.
— Primeiro, eu vou me satisfazer. — O rosto de Henry apareceu sobre o
meu. — Preciso confessar que achei você bem deliciosa na festa. Depois que seu
corpo não me servir mais, — ele andou até outra mesa e pegou uma adaga afiada
— eu vou coletar seu sangue. Será um presente para um amigo especial.
Que droga de amigo era esse que queria meu sangue? Eu quis gritar que era
virgem, implorar para ele não me fazer mal, mas a fita em minha boca me
impedia e Henry já começava a subir sobre meu corpo e alisar a faca em minha
barriga. Fechei os olhos por um segundo e desejei acordar do pesadelo.


















— Não gosto dessa Madison!
Estava no quarto fazendo exercícios quando ouvi o nome de Madison sair
da boca de Alexis. Deixei a paz do meu quarto e me juntei à conversa que rolava
na sala.
Brianna, Alexis e Peter pareciam interessados demais na garota que nunca
fizera nada a nenhum deles.
— Deixem Madison em paz — ordenei, de mau humor.
— A Mad é gente boa, Chris! — o imbecil do Peter sorriu para mim.
Desde quando ele a chamava de Mad? Que porra estava acontecendo?
Diminuí a distância entre nós e o encarei.
— Eu vi que você a abordou na faculdade — falei, analisando a reação
dele. — Qual seu interesse nela?
— Nenhum. — Peter deu de ombros. — Mas como sei que você está
interessado, quis conhecer um pouco a garota.
Peter estava me irritando. Não só pelas piadinhas dele sobre Madison ontem
e hoje, mas por ter ousado chegar perto dela sem que eu estivesse junto.
— Deixe-me explicar direitinho. — Estalei os dedos e meu pescoço,
querendo mesmo era estalar ossos de terceiros. — Se qualquer um de vocês fizer
algo com ela, mesmo que seja sem querer, eu não responderei por mim. Por mais
que eu ame vocês. Fui claro?
— Transparente — ele respondeu. — Você anda bem irritado ultimamente.
Tem quanto tempo que você não...?
Resolvi sair dali antes que me estressasse mais.
— Christopher! — Estava voltando para meu quarto quando Krisna me
chamou, parada na escada.
— O que foi?
Ela se aproximou com seu jeito leve e delicado, mas com uma expressão
preocupada.
— Eu não tenho certeza se é realmente um problema, mas achei melhor
avisar. Vi uma coisa bem estranha agora pouco. Passei pela porta da Beta e
Madison estava lá, junto com aquela Megan da Ômega Pi.
Estranho. Madison não era do tipo que frequentaria a Beta. Ela se
enquadrava mais no tipo de garota que leva os piores trotes da vida e ainda passa
vergonha com vídeos na internet.
Dispensei Krisna e voltei para meu quarto, tentando entender aquele
quebra-cabeça. Henry não deixava que qualquer pessoa tivesse acesso à casa,
salvo em ocasiões festivas. Além do mais, ele não tinha demonstrado muita
simpatia por Madison.
Senti um calafrio. Meus instintos não falharam quando meus caninos
vieram à tona e o cheiro de sangue tomou conta de mim. Alguma coisa estava
muito errada naquele cenário. Inexplicavelmente, meu medalhão ardeu em meu
peito e eu soube que precisava agir. Passei a mão na chave do carro e saí de casa.

¤¤¤

Qualquer segundo perdido poderia fazer a diferença. O carro voava pela
estrada com meu pé colado no acelerador. Se algum infeliz desse o azar de
cruzar o asfalto naquela hora, provavelmente ficaria agarrado no chão, porque eu
não ia parar.
Que droga a Madison tinha na cabeça para ir até a Beta? Eu não conseguia
imaginar nenhum motivo que a fizesse ser próxima de Henry Bass. Porém,
conhecia muito bem o motivo dele. Sabia que ele seria capaz de qualquer coisa
para me agradar e ter sua imortalidade garantida.
O cara costumava atrair candidatos até a Beta e drenar o sangue deles,
engarrafando-o e me enviando de presente. Era esse um dos motivos que me
fazia desprezá-lo. Não que eu me importasse com quem ele matava, mas sim por
saber que ele era capaz de matar sua própria espécie, apenas para agradar outra.
Vampiros não agiam assim.
Lembrei-me de ter demonstrado na festa, o meu interesse por Madison. Ele,
provavelmente, deve ter achado uma ótima ideia me presentear com o sangue
dela porque me enxergava apenas com um predador, uma pessoa livre de
sentimentos.
Droga! Eu a coloquei naquela situação.
Não estava com paciência, nem tempo para estacionar, então entrei com o
carro pelo jardim da casa e não me dei ao trabalho de desligar o motor.
Abri a porta da Beta e vi as garotas da Ômega um pouco agitadas por me
verem ali.
— Saiam! Agora! — um único grito foi suficiente para que saíssem
correndo.
Olhei em volta, logo descobrindo para onde ir. Caminhei em direção à
escada quando um Beta tentou me bloquear.
— Colt! O que faz aqui? Você não pode descer agora! — O esperto abriu as
duas mãos em meu peito, como se fosse capaz de me parar.
Segurei-o pela gola da camisa engomadinha e joguei seu corpo para trás.
Desci os degraus até encontrar a porta que dava para o calabouço, fechada.
— HENRY! — Chutei a madeira antiga e ela se estilhaçou em alguns
pedaços.
O que eu vi, em seguida, chocou-me momentaneamente. Não estava
preparado para encontrar Madison naquela situação extrema. Embaixo de Henry,
nua, amarrada à mesa e chorando compulsivamente. Deixei que um rosnado
gutural escapasse, para esclarecer de uma vez por todas o quanto eu estava puto.
Henry pulou da mesa quando me viu com os caninos à mostra, pois nenhum
deles nunca tinha me visto ao natural, exceto nas festas.
— Christopher, é um presente! — ele falou, assustado.
Madison me olhou com os olhos inundados de medo. Ela também estava
vendo a mesma coisa que os outros. Meus olhos, minha expressão, meus
caninos.
Foquei em Henry, que saiu de cima dela, mas mantinha uma adaga
levemente pressionada contra o abdômen da garota. Dei um passo à frente,
temendo que ele a cortasse. Eu era um vampiro controlado e educado, convivia
em sociedade e aprendi, com o tempo, a não cruzar determinados limites.
Pessoas sangram o tempo todo. Porém, quando eu desejo muito alguém e meu
instinto selvagem aflora, fica mais difícil resistir ao sangue da pessoa em
questão.
— Bass, não seja estúpido. Eu não quero o sangue dela como presente.
Afaste-se de Madison.
— Mas eu achei... Você falou dela. Eu achei que quisesse saboreá-la. — Ele
a olhou apavorado, como se tivesse entendido tudo. — Eu não toquei nela,
Christopher. Eu juro!
A mão que segurava a adaga começou a tremer e um maníaco com medo
era muito pior que um maníaco com raiva.
— Ok, Bass. — Levantei minhas mãos e gesticulei para ele. — Afaste-se e
solte a faca.
Henry lançou um rápido olhar para os outros quatro indivíduos que estavam
um pouco mais afastados e observavam tudo aterrorizados.
— Não tentem me atacar — avisei. — Eu sou muito mais rápido que vocês
cinco juntos.
— Christopher... Eu me afasto e você me deixa ir. Sem rancores.
— Sem rancores — afirmei, tentando ganhar sua confiança. Não estava em
posição para barganhar.
Naquele exato momento, Madison gemeu e se debateu sobre a mesa,
fazendo com que meu instinto protetor aumentasse. O movimento brusco acabou
assustando Henry, que se virou para olhá-la e tentou fazer com que parasse de se
mexer. Então, ele achou que furar a pele dela com a ponta da adaga surtiria mais
efeito do que apenas liberá-la.
— Não! — gritei.
Avancei em Henry, levantando-o pelo pescoço e o jogando contra a parede.
Senti quando os outros quatro rapazes se lançaram na minha direção e segurei os
dois mais próximos de mim pelas costelas, quebrando alguns de seus ossos e
seus pescoços inúteis.
Os outros dois agacharam-se aos meus pés, com uma poça de mijo se
formando ao redor deles. Eu não teria piedade. Levantei um com cada mão,
cravando minhas unhas em suas jugulares e levando meus caninos até o sangue
que escorria de cada um.
Suguei os dois até a última gota, enquanto seus corpos tremiam por reflexo.
Depois de soltá-los no chão, limpei minha boca com os dedos e caminhei até
uma Madison que agora se debatia ainda mais.
Arranquei a fita que cobria a sua boca, enquanto me controlava com o
cheiro do sangue escorrendo pela ferida. Passei meu dedo pelo líquido vermelho,
imaginando que gosto teria.

Não, Christopher! Controle-se!

— Christopher — ela choramingou. — Não... Por favor...
— Eu não vou fazer nada a você.
Ela fechou os olhos, talvez esperando, como uma presa esperava ser
abatida. Tirei minha camisa, enquanto me curvava sobre seu corpo nu,
enxugando o sangue com o pano.
— Eu sou virgem!!! — Madison gritou para toda a cidade ouvir.
Aproximei-me de seu rosto e senti sua respiração desregulada. O medo que
exalava dela era tão intenso que chegava a pesar em meu peito.
— Poxa, obrigado pela informação! — Esbocei um sorriso para aliviar seu
pavor, mas ela não parava de chorar. — Porém, não vim aqui com essa intenção.
Vamos deixar o sexo para outro dia, querida.
Desamarrei seus pés, seus pulsos e ela na mesma hora pulou da mesa,
afastando-se de mim. Considerando a expressão em seu rosto, arrisco dizer que
ela estava mais apavorada comigo do que minutos antes, com Henry.
Andei devagar em sua direção, pois não precisava assustá-la ainda mais.
— Madison... — sussurrei. — Eu não sou o inimigo.
Não dei tempo para que pensasse, apenas diminuí rapidamente o espaço
entre nós e a puxei, envolvendo-a num abraço. Seu corpo fraco tremia de
encontro ao meu.
— Eu não vou lhe fazer mal. — Olhei em volta, procurando pela roupa
dela. — Confie em mim.
Avistei os farrapos no chão, do outro lado da mesa. Então, a soltei por
alguns segundos para pegar a túnica de um dos homens que matei. A garota
precisava vestir alguma coisa para sairmos dali.
Num piscar de olhos, Henry havia levantado e segurava a adaga contra a
garganta de Madison. Por mais rápido que eu fosse, um corte letal também
levava milésimos de segundos para ser feito.
Senti meu medalhão queimar.
— Ela é minha garantia para sair daqui, Colt! — ele vociferou.
— Ela não é nada sua. E acredite... Você não sairá daqui vivo. — Pavor e
arrependimento passaram pelos olhos dele.
Corri ao lado do caminho de velas, fazendo todas se apagarem. Com a
escuridão que caiu sobre nós, a vantagem era minha, o único dali que enxergava
perfeitamente num ambiente tão escuro.
Não dei tempo para que Henry pensasse. Eu realmente tinha cogitado não
matar o imbecil, mas ele ter cometido novamente o erro de tocar em Madison
acabou com todas as suas chances.
Dei a volta por trás deles, silenciosamente, e me aproximei de seu ouvido.
— Boo! — sussurrei e puxei a mão que segurava a adaga, quebrando-a ao
torcer para o lado.
Passei meu braço esquerdo em volta do corpo de Madison e rasguei a
garganta de Henry. Ele caiu ajoelhado, com as mãos tentando evitar que o
sangue jorrasse.
— Um brinde ao sangue nobre, Henry! — repeti a mesma frase que ele
cismava em falar para mim.
Peguei a túnica que tinha separado e subi as escadas com Madison no colo.
Lá em cima, na claridade, eu vi o medo novamente em seus olhos. Saí rápido da
casa antes que as coisas se complicassem mais.














Christopher dirigia em silêncio, com os dedos tensionados ao redor do
volante, visivelmente irritado. Estava sem camisa, pois a usara para limpar o
sangue em mim, e agora eu podia ver como ele era definido. Não sentia frio,
apesar da temperatura baixa dentro do automóvel.
Queria abraçá-lo e agradecer, afinal, ele me salvara de um destino cruel. No
entanto, seu corpo estava sujo de sangue de outras pessoas e as imagens tinham
entrado num loop infinito em minha mente. As imagens dele matando.
Eu faria mal se falasse com ele? Queria saber o que ele estava pensando. O
que ele tinha a ver com tudo aquilo... E o que ele era?
A julgar pelos dentes e pela forma como matou os outros, eu diria que era
um vampiro. Só que, até mesmo para minha mente fértil, aquilo era ridículo
demais. Eu não estava numa história de Bram Stoker.
— Christopher? — sussurrei.
Minha voz quase não saiu. Idiota, Madison! Não se demonstra que está com
medo, para alguém de quem você tem medo.
— Como você está? — Ele esticou a mão para tocar meu cabelo, mas eu
recuei por puro reflexo. Ele suspirou e baixou a mão. — Posso ao menos
conversar com você?
O que eu podia dizer ao cara que tinha matado cinco pessoas para me
salvar?
— Pode.
Então, gelei quando ele fez uma curva fechada e pegou um atalho para
dentro da floresta. Eu correria para onde? Claro, como se eu fosse capaz de ser
mais rápida que ele. Provavelmente, tropeçaria na primeira pedra em meu
caminho, igual acontecia nos filmes.
— É agora que você me mata? — perguntei e fechei meus olhos, sem
coragem para ver o que aconteceria em seguida.
— Eu teria feito isso por lá mesmo, não acha? — Ouvi a resposta dele e
voltei a olhá-lo. Christopher me encarava com uma expressão impaciente.
Mas ele tinha razão. Eu estava amarrada à mesa e ele podia ter feito
qualquer coisa, mas escolheu me salvar. Ele não se importou em deixar corpos
de universitários riquinhos para trás, por que se importaria em ocultar o meu
cadáver no meio de uma floresta?
— Como você soube o que estava acontecendo? — perguntei. — Ou
apareceu por lá por acaso? Henry deu a entender que eu era, ou melhor, meu
sangue era um tipo de oferenda para você...
Fiquei em dúvida se ele responderia, pois ficou alguns segundos apenas me
encarando, em completo silêncio.
— São muitas perguntas. Você faz uma, eu faço outra... O que estava
fazendo lá? — Seus olhos se estreitaram.
— Um teste. Disseram que eu entraria para a Ômega Pi. — Eu me sentia
tão estúpida dizendo aquilo em voz alta! — E como soube que eu estava lá?
— Viram quando você entrou na casa e vieram me avisar. Henry Bass
nunca foi conhecido por sua cordialidade. — Christopher encostou a cabeça no
banco e suspirou. Ele parecia cansado quando levou as mãos ao rosto e o
esfregou. — Eu falei de você para Henry e o idiota achou que eu quisesse seu
sangue.
Eu teria achado engraçada a última frase, mas quando os olhos de
Christopher focaram meu pescoço, eu não me senti muito confortável.
Pigarreei e me ajeitei no banco, para desviar a atenção dele do meu lindo
pescoço. Ainda tinha muita coisa para ser esclarecida.
— Por que você queria entrar para a Ômega Pi? — ele perguntou sem evitar
que uma careta se formasse em seu rosto. — Não achei que você tivesse
interesse por isso.
— Eu não tenho — respondi, procurando o primeiro buraco para enfiar
minha cara. Seria sincera com ele, afinal. — Disseram que foi você quem pediu
a minha entrada. Disseram que a Ômega e a Beta são como... pares. O que você
é? — Tentei segurar um pouco mais a pergunta, mas ela simplesmente saiu, curta
e direta.
Ele me olhou surpreso, arqueando uma sobrancelha e sorrindo daquele jeito
que fazia as pernas tremerem.
— Você resolveu juntar-se aos loucos, porque eu pedi? — O sorriso ficou
mais acentuado e eu podia jurar que havia uma pitada de orgulho ali. — Não era
mais prático você só me agarrar de novo?
— Você não respondeu minha pergunta — disse com seriedade, tentando
manter o pouco de dignidade que ainda me restava.
— O que eu sou? Você ainda não sabe? Vamos, não pode ser tão inocente
assim. Dentes, mordidas, sangue, pele pálida... — Seu sorriso crescia conforme
falava, quase num sussurro.
— Desculpe-me se eu cresci achando que vampiros eram seres fictícios.
— Então eu sou um vampiro? Foi a essa conclusão que chegou? — Prendi
o fôlego quando Christopher se aproximou tanto a ponto dos nossos narizes se
tocarem. Controlei-me para não começar a chorar.
— Talvez... — engoli em seco, sentindo a tensão dominar meu corpo. — E
se você for mesmo um... — passei a língua pelos meus lábios secos — eu
prometo que não contarei a ninguém.
Os dedos de Christopher se enroscaram em meu cabelo e ele aproximou a
mão do rosto, cheirando meus fios. Em seguida, levantou os olhos e me encarou
com tanta seriedade que eu já não sabia mais se estava tensa por medo ou
atração.
— Não estou muito preocupado com o que você vai contar por aí — disse
ele. — Quero mesmo é saber como as coisas ficarão entre nós.
Nós dois? Tipo eu e ele? Eu nem sabia que “nós” existíamos. Meu instinto
me dizia para abrir a porta e sair correndo, mas eu apenas devolvi o olhar e
apoiei minhas mãos nos ombros dele.
Senti a mão de Christopher em minha nuca, enquanto sua boca tomava
meus lábios ferozmente. Eu, definitivamente, estava morrendo. Juro ter visto
estrelas, quando senti sua língua invadir minha boca e brincar com a minha.
O beijo de Colt era urgente e esfomeado. Senti o calor subir pelas minhas
pernas e a vontade de conseguir um pouco mais dele me fez intensificar o beijo.
Só que eu nunca havia beijado ninguém com dentes afiados e acabei cortando
minha língua num dos caninos.
Antes que eu conseguisse me afastar e reclamar da dor, Christopher se
agigantou sobre mim e prendeu meu corpo entre ele e o banco. Eu podia sentir
cada músculo dele, enquanto sua boca sugava minha língua com fúria. Tentei
empurrá-lo em vão, mas ele finalmente me soltou e saiu do carro como um
foguete.
Que merda tinha acontecido? Por um instante, passei do nível de excitada
para aterrorizada por ter me tornado uma vítima em potencial. Sentia meu
coração disparado e minhas mãos tremiam.
























Eu tinha sido estúpido! Era cedo demais para reagir daquela forma, com
uma garota que acabara de saber mais sobre minha vida.
Foi difícil demais me controlar e sair do carro, porque o gosto do sangue
dela era espetacular. Além disso, não pude deixar de notar como nossas bocas se
encaixaram perfeitamente. Eu a queria. Fato.
— Não sou uma boa companhia agora — avisei, entrando de novo no carro
e segurando o volante. — É melhor levá-la para casa.
— Você está bem? — Ela estava preocupada comigo?
Virei o rosto e a encarei, surpreso. Por pouco eu não a possuí ali mesmo no
carro e era ela que se importava com o meu bem-estar? Madison era realmente
uma figura.
— Estou bem. — Sorri. — Só me descontrolei um pouco e espero que você
esteja bem.
Madison balançou a cabeça numa confirmação e me deixou mais tranquilo.
Dei a partida no carro, louco para sair daquela floresta com ela e voltar ao
mundo real onde ideias mirabolantes de arrancar-lhe a roupa não tomariam
minha mente.
Dirigi até a casa dela, pensando em tudo que tinha acontecido em poucos
dias. Fiquei imaginando como seria o resto do semestre.
— Obrigada — ela sussurrou e me tirou do transe.
Estávamos parados em sua rua e eu nem tinha me dado conta de que já
tínhamos chegado. Madison me fitava com um olhar receoso, enquanto abria a
porta do carro.
— Obrigada pelo o que você fez lá... — agradeceu, vestida com aquela
túnica ridícula.
— Descanse — respondi, sentindo que meu humor não estava dos
melhores.
Ela saiu, bateu a porta e depois colocou a cabeça para dentro da janela.
— Posso... pegar?
Eu olhei para o que ela apontava. Era a camisa com a qual eu limpara seu
sangue e que agora estava no chão do carro.
— Você a quer? — perguntei, confuso.
— Sim.
— Por quê?
— Não interessa. — Ela desviou os olhos dos meus.
Mulheres eram estranhas. Peguei a camisa, dei a ela e só liguei o carro
quando ela entrou em casa de uma vez por todas.

¤¤¤

Ao chegar em casa, encontrei Ian sozinho, vendo televisão. Sentei-me ao
seu lado e suspirei.
— Você não vai acreditar no que aconteceu.
— Krisna me contou rapidamente o que ela conversou com você. A sua
caloura estava na Beta, certo? — Ele não tirou os olhos da televisão.
Aquela atitude era uma coisa que eu apreciava muito em Ian. Ele estava
sempre tranquilo e não se metia em assuntos alheios, a não ser que fosse
solicitado.
— Ela não é minha caloura. E sim, ela estava lá. Henry a atraiu com falsas
promessas, com a intenção de drenar o sangue dela.
— Ele consegue ficar cada dia mais doente! — Ian parou de encarar a
televisão e me olhou, preocupado. De nós, ele era o que mais tinha afeto pelos
humanos. — Você conseguiu salvá-la?
— Claro. Cheguei bem na hora, mas Henry está morto.
— Você matou Henry Bass? — Ele arregalou os olhos e empalideceu ainda
mais.
Acho que nenhum dos Colts esperava que eu cometesse uma loucura como
aquela, pois Henry era filho do senador Lionel Bass.
— Não tive muitas opções, Ian. Era ele ou ela. Eu imagino que você não
tenha dúvidas sobre quem eu escolheria.
— Você fez a escolha certa. Mas e agora? Não é algo que dê para varrer
para debaixo do tapete, não é?
— Não... — respondi, pensativo. — Até porque ficou uma sujeira por lá,
que não dava para limpar. — Olhei em volta, incomodado com o silêncio na
casa. —Onde está todo mundo?
— Foram comer alguma coisa. — Ele deu de ombros.
O “comer alguma coisa” da minha família era um pouco mais complexo do
que só ir ao restaurante.
— E você não foi?
— Não. — O sorriso sombrio e satisfeito em seu rosto já dizia muita coisa.
— Encontrei um antigo desafeto pelo caminho e aproveitei para jantar.
Deixei Ian sozinho e fui para meu quarto, pensar no que faria em seguida.
As garotas da Ômega eram testemunhas, pois me viram entrar na casa, e havia o
rapaz que tentou me interceptar no corredor. Aquelas pessoas podiam complicar
a situação para todos nós.
Além disso, eu precisaria colocar um novo rosto na liderança da Beta de
Green Bay, então poderia descartar uma das testemunhas, colocando o rapaz que
me viu no corredor como o novo presidente. Isso o deixaria com rabo preso
enquanto fosse necessário. Faltavam as garotas.
Liguei para o celular que estava listado no livro de residentes da Beta.
— Alô — uma voz de nerd soou do outro lado da linha.
— Paul Finch?
— Isso. Quem é?
— Christopher Colt.
O outro lado permaneceu mudo.
— Paul, não vou machucá-lo. Só precisamos conversar. É um assunto do
interesse de ambos.
— Você pode me adiantar o assunto? — sua voz vacilava, demonstrando
medo. De mim.
— A presidência da Beta. Está interessado agora?
— Ah. Sim. — Ele fez uma pausa, mas eu podia ouvir sua respiração
acelerada. — Onde nos encontramos?
— Em trinta minutos, na lanchonete Sky, conhece?
— Aquela que está quase abandonada, no Km 31?
— Essa mesma.
— Você quer que eu vá sozinho, encontrá-lo num lugar deserto sem
nenhuma testemunha? É isso mesmo?
— Exato. Ou posso eu mesmo ir buscá-lo. E acredite Paul, você não vai
preferir essa opção.
— Encontro você na lanchonete — respondeu com um suspiro.
Meu problema com o Paul já estava praticamente resolvido. Faltava o outro
problema. Aquele que tinha mais hormônios envolvidos.
A casa da Ômega era uma construção tão branca, tão clara, com detalhes
tão delicados, que quem olhava por fora sequer imaginava que ali dentro só tinha
tubarão. Sim, porque aquelas meninas preconceituosas, de pele clara, cabelo
loiro e feições de boneca, podiam ser tudo, menos angelicais. Apertei a
campainha.
— Colt! — Uma das loiras abriu a porta com um sorriso de orelha a orelha.
— Quero falar com Megan.
Entrei sem esperar por uma resposta. Quando se é um vampiro, você
precisa ser convidado para entrar em locais privados, mas desde que receba o
primeiro convite, ele só se desfaz se a pessoa que o convidou, resolver retirá-lo.
Então, eu tinha livre acesso ali, já que a pessoa que me fez o convite morrera há
20 anos.
A loira me guiou ao andar de cima, parando de frente para uma das portas.
— Ela está aqui?
— Sim, mas deve estar dormindo e eu... — Levantei uma mão, fazendo-a
calar a boca.
E daí que ela estava dormindo? Abri a porta e encontrei Megan deitada em
sua cama rosa, abraçada a um urso de pelúcia rosa.
— Megan Walsh?
Ela acordou histérica e se sentou na cama quando me viu, fazendo um gesto
para a outra loira nos deixar a sós.
— Chr-Christopher Co-Colt?
— Sem tantas sílabas, mas sim, sou eu.
— Você sabe meu nome? — Nunca vi um sorriso tão grande. Era
assustador. — Eu nem achei que você soubesse que eu existia! — ela falou
enquanto ajeitava o cabelo.
— Tenho boa memória. — Sentei na beira da sua cama e mudei
drasticamente de assunto. Estava com pressa. — O que vocês foram fazer na
Beta hoje à tarde?
— Ah, isso! Nós fomos levar a caloura para um teste. — Ela animou-se.
— A caloura tem nome. Madison.
— Isso, eu sei.
— Por que vocês a queriam para a Ômega?
Megan me olhou de um jeito estranho, como se estivesse confusa ou como
se me achasse doido.
— Na verdade, eu achei que você soubesse... Já que o pedido foi seu. —
Ela revirou os olhos.
— O pedido não foi meu. Você sabia o que era o teste?
— O de sempre, não é?
Aquela garota era burra como uma porta. Ela estava falando a verdade, não
tinha a mínima noção das verdadeiras intenções de Henry. Aproximei-me dela,
ouvindo seu coração acelerar.
— Megan, o quanto suas pupilas são fiéis a você?
— Muito fiéis — ela respondeu, orgulhosa.
— E o quanto você poderia ser fiel a mim? — Sorri.
— O quanto você quiser... — Ela estava sorrindo.
— Então preciso de um favor. Nem você e nenhuma das outras garotas me
viram entrar hoje na Beta. Nem levaram Madison até lá — sussurrei em seu
ouvido, soltando meu hálito sobre ela e deixando-a inebriada.
— E o que eu ganho com isso? — Ela já ria, completamente tonta.
Eu subi em cima dela, abrindo o laço da sua camisola com os dedos.
— Bem... Eu a deixo viva.
— Ok — ela respondeu o suficiente para me fazer ir embora.
Eu tinha marcado com Paul na lanchonete Sky porque o lugar estava
praticamente abandonado e eu não gostaria que outras pessoas ouvissem nossa
conversa. Estaria negociando o silêncio dele, pela presidência da filial de uma
das maiores fraternidades do país. Quem não gostava de poder?
Paul estava uma hora atrasado. Liguei para seu celular e chamou até cair.
Tentei outras duas vezes e nada. O infeliz tinha fugido? De qualquer maneira, ele
não vinha mais, mas eu ia buscá-lo na marra.
Entrei no carro e fiz o caminho de volta, já que eu estava nos limites da
cidade. Não tinha me afastado nem 5 km da lanchonete, quando vi um Toyota
capotado no meio da rua. Parei o carro, óbvio. Se tivesse alguém muito ferido,
eu não desperdiçaria o sangue.
Quando me aproximei do carro virado e me agachei para olhar o motorista,
para minha surpresa, era nada mais nada menos, que Paul Finch. Ele estava
morrendo, não duraria mais que alguns segundos, pois eu ouvia seu coração
fraco e o sangue inundando seus órgãos.
— Colt... O desastre... não... foi... sem... querer.
Eu o encarei, pasmo. Não tive tempo de fazer nenhuma pergunta, pois Paul
dera seus últimos suspiros para falar comigo. Cerrei suas pálpebras e voltei para
meu carro, antes que as autoridades chegassem ao local.
Dirigi de volta para casa com a cabeça cheia. Paul deixou claro que tinha
sido assassinado, mas quem teria motivos para causar o acidente?
Cheguei em casa gritando para os Colts aparecerem. Quando todos se
reuniram, contei o que havia acontecido, desde o início daquele dia.
Houve uma comoção quando souberam o que tinha acontecido com Henry
Bass e Alexis tentou se revoltar ao saber que eu tinha me arriscado por causa de
Madison.
— Enfim, marquei um encontro com Paul Finch, um dos membros da Beta,
pois ele era uma das testemunhas de minha presença na fraternidade. Acontece
que agora ele está morto, não por minhas mãos, mas não sei quem foi — concluí.
— Alguém o matou? — Brianna me olhava confusa.
— Pelo visto, sim.
— Alguém não queria que ele se encontrasse com você — Ian falou,
pensativo.
— Então ele contou para alguém que ia encontrar com você? — Krisna
perguntou, sentando-se no sofá.
— Ele estava com medo, já tinha apanhado de mim. Quis se precaver e
talvez tenha avisado a alguém onde estaria. Eu só não consigo imaginar quem
faria isso. Paul Finch não era exatamente um cara que chamava atenção. —
Balancei a cabeça, sem conseguir entender a charada.
— Eu só consigo pensar em algum inimigo em comum — Alexis falou.
— Ou alguém que queira ferrar de vez com você — Brianna completou.
— Ei, alguém viu meu CD do Lionel Richie?
Eu olhei para o imbecil do Peter, que estava do outro lado da sala, olhando
sua pilha de CD´s. Era impressionante como ele conseguia ficar tão ausente dos
assuntos importantes.
— O que foi que você disse, Peter? — perguntei, sentindo a ficha cair.
— Meu CD. Do Lionel Richie.
Eu olhei para Ian, que sorriu para mim.
— Lionel Bass — falamos juntos.
— Não, idiotas!!!! Lionel RICHIE! O cantor! — Peter gritou, revirando os
olhos. Era mesmo um alienado.
— Peter, ainda bem que você é retardado o suficiente a ponto de pensar em
música numa hora dessas! — Fui até ele e dei um beijo em sua testa.
















Entrei em casa, recebendo os olhares das meninas que conversavam no
sofá. Eu sabia que não estava com uma aparência muito legal.
— Mad! Você foi para a guerra? — Anna saltou do sofá quando me viu.
— Madison, o que houve? — Jennifer me perguntou com olhos
arregalados.
Eu não queria falar com ninguém, não queria olhar para ninguém, não
queria ouvir ninguém. Só queria o meu quarto e a minha cama. Subi as escadas
sem responder nada, entrei no quarto e tranquei minha porta.
Tudo parecia girar e encolher, como se as paredes fossem me esmagar. O
que estava acontecendo com a minha vida? Por que diabos eu vim para essa
cidade? Para me apaixonar por um... Vampiro?
Fiquei em pé na frente do espelho e me vi naquela túnica que me causava
arrepios. Saí do quarto para o banheiro e esfreguei todo o meu corpo no
chuveiro, querendo tirar qualquer resíduo do dia. O corte ardia, não me deixando
esquecê-lo, expelindo um filete fino de sangue.
Voltei para o quarto, abri minha caixinha de remédios e fiz um pequeno
curativo sobre a ferida.
Vesti uma camisola leve e me joguei na cama, enquanto deixava as lágrimas
escorrerem pelo meu rosto. Eu só queria dormir e esquecer tudo.
Tudo, menos o beijo.

¤¤¤

Era noite fechada quando acordei. Eu vi dois olhos vermelhos, apenas isso,
encarando-me naquela escuridão do quarto e ouvi um rosnado baixo. Ele tinha
ido me matar, a única que sabia seu segredo e continuava viva.
Tentei levantar, mas meus braços e pernas estavam presos novamente e
minha voz, por mais que eu gritasse, não saía. Estava muda, enquanto ele
caminhava lentamente em minha direção. Quando se aproximou da cama, a luz
da lua que entrava pela janela iluminou seu rosto e eu pude ver seus dentes
afiados. Ele me olhou furiosamente, antes de pular em cima de mim.
Não, Christopher!
Acordei gritando e suando, sentando-me na cama. Era tudo um sonho, ou
melhor, um pesadelo. Aquilo estava me deixando abalada demais... Por mais
assustador que tudo tinha sido, eu não conseguia pensar em Christopher com
essa má índole. Eu fui salva por ele duas vezes! Não era possível que estivesse
errada.
Levantei, tropeçando pelo caminho com o quarto escuro e acendi o abajur.
Precisava saber que horas eram, quanto tempo eu tinha dormido e quanto tempo
eu ainda podia ficar vegetando na cama, mas quase sofri um ataque cardíaco
quando uma mão tocou meu ombro.
— Meu Deus! Você quer me matar? — Meu coração acelerou ao ver quem
era.
— Que duplo sentido horrível, Madison! — Ele riu.
Suspirei, enquanto esperava meu pobre coração voltar para o lugar. Ele não
podia simplesmente ter entrado pela porta como uma pessoa normal?
— Você por acaso pulou minha janela?
— Pular, é uma palavra complexa... Eu saltei. — Ele continuava sorrindo,
de um jeito cínico e ao mesmo tempo muito charmoso.
— Você não fez isso outras vezes... Fez?
— O que você chama de outras vezes?
— Meu Deus, Christopher! Não creio nisso! — Levantei minha mão para
socar a cara dele, mas ele segurou meu pulso e me puxou, colando-me em seu
corpo. Antipático!
— Foi uma vez só. E eu nem fiz nada. Infelizmente...
— Posso ao menos saber quando foi isso? — Segurava-me para não bater
nele.
— Depois da festa, quando a deixei em casa.
Depois da festa, lembro-me de ter tomado banho e deitado... pelada!
— O quê? Não acredito que você fez isso! Canalha!
— Calma, antes que você reclame, você estava coberta. Eu só vi um
pouquinho... — Ele franziu a testa e jogou a cabeça para trás, sorrindo.
Eu o soquei! Certo, para mim foi um soco que quase quebrou meus dedos.
Para ele foi como uma pluma que tocava seu peito. Virei-me de costas enquanto
chorava de dor, querendo explodir a sua cabeça.
— Madison, não exagera... Isso era só uma questão de tempo. — Senti suas
mãos segurarem em meu cabelo, como se ele quisesse me fazer um rabo-de-
cavalo. — Ou você acha que eu estava cego hoje cedo, lá na Beta?
A situação era humilhante e ele ainda zoava com a minha cara. Christopher
tinha uma quedinha por tortura, não é?
— Podemos conversar em paz? — sussurrou, perto do meu pescoço.
— Solte-me e, então, conversaremos.
— Como se você não estivesse gostando... — ele falou isso roçando os
lábios em meu pescoço enquanto borboletas percorriam meu estômago.
Cambaleei para trás, encostando-me em seu corpo e me sentindo tonta. — Faça
o que você tem que fazer... Só pare de me torturar.
Senti sua risada no meu pescoço. Se ele queria me morder, porque
simplesmente não o fazia logo?
— E o que exatamente eu tenho que fazer? — ele perguntou, divertindo-se
às minhas custas.
— Se você quiser me morder...
— Eu não quero mordê-la. — Sua mão fria tocou minha barriga. — Estou
bem alimentado. Porém, posso pensar em outras coisas interessantes.
Senti meu corpo ser puxado lentamente para trás e então ele me virou e
jogou-me de costas na cama. Christopher subiu em cima de mim, colocando uma
perna de cada lado do meu corpo e aproximou o rosto do meu.
— Eu só vim te avisar que não estarei na cidade amanhã. Você pode tentar
não ser sequestrada ou servir de oferenda para ninguém? — Seu sorriso era puro
sarcasmo.
— Não tem graça — respondi, enquanto esticava o braço tentando alcançar
sua camisa.
— Shhh! Que apressada! — Ele gargalhou, segurando minha mão. — Eu
sou tímido, ok? Hoje não!
Hein? Eu ouvi certo? De tímido ele não tinha nada! Gostava era de me
torturar, isso sim!
— Pare, Christopher!
— Eu estou parado. Se eu me mexesse você sentiria. Não tenho culpa se
você é assim tão atirada. Só vou deixar você me ver pelado, quando eu estiver
pronto! — Seu sorriso zombeteiro ainda estava lá.
— Ughh! Inferno! Vai embora, Colt! — Eu o empurrei com força e
finalmente ele saiu de cima de mim, enquanto pegava um sutiã meu que estava
em cima do móvel e saía pela janela.
— Volto depois de amanhã! E estou levando um souvenir!
























Minha mente agora estava focada em minha visita ao senador Lionel Bass.
Um cara para chegar a essa posição, precisa ser inteligente e de preferência, ter
jogo de cintura. Ótimo, eu adorava desafios... Lidar com gente burra não tinha a
mínima graça.
Cheguei em Washington, D.C. e parei o carro num local de onde pudesse
ter uma visão total do prédio. Sempre quis entrar no Capitólio! Até morto, Henry
Bass me presenteava. Irônico, não?
Peguei meu celular e disquei o número.
— R.E., boa tarde — uma voz feminina atendeu.
— Boa tarde, desejo falar com Lionel Bass.
— O senador não pode atender.
— Que tal você dizer a ele que Christopher Colt está na linha?
Houve um instante de silêncio e eu tinha certeza de que a mulher
reconhecia meu nome de algum lugar.
— Só um minuto, por favor.
Esperei, impaciente. Maldita tecnologia! Para que inventaram telefone, se
meu poder de sedução só funcionava pessoalmente?
— Colt — ouvi a voz do homem.
— Bass.
— Em que posso ajudá-lo?
— Acho que nós temos algo para resolver.
— Talvez — ele hesitou. — Mas não aqui. Em outro lugar, quando eu
combinar.
Eu ri. Esse senador era hilário.
— Bass, deixe eu explicar melhor. Primeiro, eu não estou pedindo.
Segundo, você não vai gostar se eu entrar aí sem ter sido convidado. Terceiro, eu
sempre sonhei em conhecer o Capitólio.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos e depois falou com a voz
vacilante.
— Você vai entrar, Colt.
E eu entrei, passando por dezenas de seguranças de quem eu poderia,
facilmente, quebrar o pescoço. Um deles passou um rádio para alguém, enquanto
me olhava, e esse alguém autorizou minha entrada.
Caminhei por onde mandavam, até chegar ao andar dele. Estalei os ossos
dos dedos e pescoço antes de entrar na sala.
— Christopher Colt, em carne e osso! É um prazer conhecer o chefão da
Beta. — O hipócrita me recebeu com um sorriso tão falso quanto os olhos
brancos de Madison.
— Lionel Bass. Você trabalha num lugar legal. — Devolvi meu sorriso e ele
sumiu com o dele.
— Nós dois sabemos que você não veio aqui para fazer turismo, Colt.
— Não mesmo. Na verdade, eu vim por achar que você tem algum
problema comigo. — Lionel tinha desviado o olhar, mas eu continuei encarando.
— Estou certo?
— Sente-se. — Ele apontou a cadeira à frente de sua mesa.
— Prefiro continuar em pé. Mas fique à vontade.
Ele sorriu e manteve-se em pé, lançando um olhar frio em minha direção.
— Henry falava muito de você. Ele o idolatrava, Christopher.
— Até demais, talvez.
Lionel pegou um objeto pontudo de metal e brincou com ele nas mãos. Era
prata, senti pelo cheiro.
— Sabe Christopher, não pense que eu e meu filho não conversávamos.
Nós trocávamos muitos segredos.
— Entendo. E vocês conversavam a meu respeito também? — Sorri para
ele, mas sem a intenção de deixá-lo confortável.
— De vez em quando. Ele me contou muitas coisas interessantes sobre
você.
— Mesmo? Ele contou que não sabia nem a metade a meu respeito?
Bass fechou a cara e seus batimentos cardíacos mudaram de ritmo.
— Como vai Paul Finch? Tem falado com ele? — o canalha perguntou,
sabendo muito bem o que estava fazendo.
— Paul Finch não é importante para mim — respondi, dando de ombros,
sem demonstrar interesse.
Na verdade, Paul Finch realmente não me importava. Eu não estava nem aí
para a morte dele, só queria saber o motivo.
— Soube que ele sofreu um acidente... Espero que esteja bem.
— Ele está morto, mas isso você já sabe. — Olhei fixamente para Lionel,
que agora parecia bem nervoso.
— Existem muitas versões sobre seu povo. Fico tentando descobrir o que é
verdade ou não.
— Meu povo? — Eu ri. Era só o que podia fazer. Ele ter a coragem de se
referir dessa forma a meu respeito. — Deixa eu atualizá-lo sobre meu povo: eu
posso sair durante o dia, prata e alho não nos matam nem fazem mal, crucifixo é
só tabu, somos mais rápidos que o seu pensamento, nossos caninos machucam
bastante, e bem... Daqui eu consigo sentir perfeitamente o cheiro cítrico do seu
sangue.
O senador já suava, quando resolveu devolver o objeto de prata à mesa.
— O que você quer, Colt? Já não me tomou o suficiente?
— Tomei? Veja bem, Lionel. Eu nunca tive nenhum problema com seu
filho, até ele tentar estuprar e matar uma garota de quem eu gosto muito. Eu ia
deixá-lo fora disso, mas no fim, ele não me deu muitas opções. — O ódio crescia
dentro dele. Talvez ele fosse o primeiro com sangue frio para me enfrentar por
tanto tempo. Eu realmente estava adorando nossa conversa. — Seu filho tinha
um futuro brilhante pela frente. Uma pena ter desperdiçado.
— Desperdiçado? Meu filho foi despedaçado por causa de uma mulher
qualquer e você me diz que ele desperdiçou o futuro? — Impressão minha ou
alguém estava aumentando o tom de voz e falando de Madison na minha frente?
— Lionel, Lionel... Cuidado com as palavras... — Voei no pescoço dele,
encostando-o contra a parede. — Ela não é uma mulher qualquer. Ela é a
MINHA garota.
Ela só não sabia disso, por enquanto. Faltava eu lhe dizer.
— Vai me matar dentro da minha sala, Colt?
Ele balançava as pernas no ar, enquanto eu o sufocava. Soltei o infeliz e o
joguei no chão.
— Não, mas eu quero que você entenda. Não gostei de saber que invadiu
meu território.
— Eu nem estive lá. Mandei alguém.
— Que seja. Fique longe de mim e da minha cidade, que então eu deixo
você e o resto de sua família em paz. Que tal?
— Ou? — Ele ainda tinha coragem de me perguntar isso?
— Ou eu venho atrás de você novamente. Nem que eu tenha que caçá-lo no
inferno. E Bass, você realmente não vai querer me ver irritado. Já disse que
estou de bom humor hoje? — Virei de costas e andei até a porta.
Enquanto caminhava, era óbvio que eu senti o infeliz levantar do chão e se
mexer. Segurei no ar o objeto de prata que voava em minha direção e o taquei de
volta para Lionel, que ficou imóvel, com o objeto cravado na parede, ao lado de
seu rosto.
— Lionel, eu errei de propósito! — Sorri.
Era hora de voltar para minha garota.

¤¤¤

A primeira coisa que fiz ao chegar na cidade foi ir à casa de Madison. Eu
estava viciado em ficar perto dela. Meu caso não tinha mais salvação.
Já era bem tarde e não pensei duas vezes antes de saltar a janela, como tinha
feito das outras vezes, mas me dei mal. Caí sobre uma mesinha pequena e não
pousei elegantemente em pé, mas sim rolei pelo piso de madeira do quarto dela.
Que porra!
Eu tinha acabado de ajeitar minha roupa e encarar a mesinha com ódio
quando a porta do quarto foi escancarada e Madison entrou gritando, segurando
um pano de prato como se fosse uma espingarda.
— Christopher! — Ela levou a mão ao peito.
— Por que você mudou os móveis de lugar?
Ela arregalou os olhos e encarou a maldita mesa que me atacou. Então,
Madison perdeu totalmente a noção do perigo e começou a gargalhar. Da minha
cara, obviamente.
— Eu não acredito que você caiu! — Ela parecia muito feliz. — Sempre
sou eu que passo vergonha, mas não dessa vez!
— Isso aí, continue rindo.
— Desculpe, vou parar. — Ela enxugou os olhos e sorriu. — Mas já que
você está aqui e é bem mais forte do que eu, que tal puxar meu armário?
— Eu voltei de viagem, deixei de ir para minha casa, para chegar aqui e
você me pedir para redecorar seu quarto?
Era sério que Madison pretendia me usar com segundas intenções? Eu a
encarei, tentando fechar meu semblante e fingir um pouquinho de raiva, mas ela
abriu um sorriso impressionante e me olhou de um jeito que me quebrava as
pernas.
— Onde você quer que eu coloque o maldito armário? — perguntei,
levantando o móvel. — E a propósito, para que o pano de prato?
— Eu peguei qualquer coisa para usar como arma, no caso de ser um
ladrão.
— E você pretendia matá-lo de cócegas?
Tentei entender a lógica, mas não consegui. Fiz a vontade dela e mudei a
droga do armário para o lugar que ela tinha apontado. Se eu não fizesse isso,
Madison tentaria fazer e se quebraria toda quando o móvel imenso caísse em
cima dela.
— O que foi? — perguntei a ela, que estava sentada na cama, olhando-me
de forma curiosa.
— Nada. — Deu de ombros. — É que eu achei que você tivesse que fazer
um mínimo de força, pelo menos. Não sabia que seria tão fácil.
— Eu fiz força. Quase rompi um nervo... — Fiz uma careta e levei uma
mão às costas. — Acho que vou precisar de massagem por uma semana.
Madison revirou os olhos e me devolveu a careta. Eu não conseguia
entender de onde estava vindo aquela minha veia cômica, já que nunca fui assim.
— Você voltou antes do esperado.
— Eu acabei resolvendo tudo mais rápido do que imaginei, só isso. — Ela
baixou os olhos e remexeu no lençol. — Algum problema?
— Problema nenhum — respondeu, voltando a me encarar. — Eu só queria
muito fazer umas perguntas.
Lógico que ela queria. Qualquer um que descobrisse a verdade me encheria
de perguntas. Eu sabia que era uma curiosidade totalmente normal.
Sentei ao seu lado na cama, encostando minhas costas na parede, enquanto
ela se virava para me olhar.
— Faça.
— E você vai responder? — Franziu a testa.
— As que eu quiser, sim.
— É fato então que você é um vampiro?
— Sim. Fato consumado.
— E os outros?
— Meu clã?
— É assim que se chama? Clã?
Assenti e ela deu um sorrisinho meigo demais. Quis lamber sua boca, mas
me segurei.
— E vocês vivem juntos?
— Todos foram transformados por mim e estão ao meu lado até hoje.
— Então você é tipo... o líder deles?
— Sim, eu sou. Apenas deles.
Ela se remexeu ao meu lado, parecendo um pouco desconfortável pela
forma como me olhou. Notei que tinha colocado sua mão bem próxima da
minha, como se tivesse receio de dar o primeiro passo e me tocar.
— Você já teve algum relacionamento mais sério com alguém do seu clã?
— Nunca — respondi, sorrindo. — Mas no início, eu sentia atração pela
Brianna. Até descobrir que nós dois gostamos exatamente da mesma coisa.
— Uma vampira homossexual? — Madison arqueou as sobrancelhas,
surpresa. — Ela deve fazer sucesso, pois é muito linda.
Fiquei sem saber o que dizer, pois era o tipo de armadilha que toda mulher
gostava de armar para o homem. O melhor a fazer, era não concordar nem
discordar. Mudar de assunto seria o ideal.
Pensando bem, não precisávamos mais conversar. Eu queria um pouco mais
de contato físico com Madison e não tinha momento mais perfeito do que
aquele, em sua cama.
Segurei o rosto dela entre as mãos e tomei sua boca, sentindo seu corpo
amolecer. Mas, ela recuou logo em seguida, com bochechas coradas.
— Minhas perguntas não terminaram — avisou e eu suspirei, evitando falar
um palavrão. — Como você consegue sair na rua durante o dia sem se queimar?
Ah, a pergunta de sempre. Por que todo mundo sempre insistia nesse
assunto? Tão corriqueiro!
— Aquele mito de que vampiro queima no sol não é totalmente verdade.
Digamos que seja um meio termo. Nós podemos ficar expostos à luz do sol, mas
não durante um longo período. Enfraquecemos com uma exposição prolongada.
— Como assim?
— Eu posso sair de dia, andar na rua e fazer coisas que humanos fazem,
mas depois de um determinado tempo, o meu corpo começa a empalidecer ainda
mais e minhas veias se destacam, negras como o carvão. — Ela arregalou os
olhos. — Quando um vampiro começa a notar que está fraco, ele sabe que se não
se recolher o quanto antes, irá morrer. O processo é muito rápido, capaz de
acontecer em poucas horas.
— Isso é bem confuso e eu não entendi direito. Como você sabe quanto
tempo tem?
— Certo, vou tentar de novo. Digamos que seja verão e o sol vai continuar
muito forte pelo resto da semana. Caso eu mantenha minha rotina diurna, em
dois ou três dias eu começarei a me sentir fraco e entenderei que é hora de me
recolher. Vou precisar passar uns dias recluso, saindo de casa apenas à noite, e
me alimentar bem até me sentir forte o bastante novamente.
— E se você não for inteligente e não se recolher?
— Vou ficando cada vez mais cadavérico até que, em algum momento,
começarei a queimar. — Madison parecia assustada e resolvi quebrar um pouco
a tensão. — Você, por acaso, não está coletando informações para usar contra
mim, certo?
Ela finalmente riu, ou melhor, gargalhou e me jogou um travesseiro. De
repente, ficou séria novamente e inclinou ligeiramente o corpo para frente.
— Posso ver seus olhos?
Eu passava tanto tempo de óculos que nem percebia quando estava ou não
com eles. Aceitei tirá-los e a deixei encarar meus olhos vermelhos.
— Vermelhos... — Madison parecia hipnotizada. — Você nunca esteve
usando lentes na festa.
— Não.
— Eles ficam sempre dessa cor?
— Apenas quando estamos com fome. — Eu sorri com malícia e ela se
endireitou na cama. — O que foi? Não acha que depois de salvar sua cabeça
duas vezes, eu atacaria você, né? Quando estou saciado, eles ficam da cor
natural. Verdes.
— Você é imortal mesmo?
Uau! Era um bombardeio! Uma pergunta atrás da outra e ela nem parecia
estar cansada! Eu nunca tinha contado tanto sobre minha vida para um humano,
antes dela.
— Se eu não tiver a cabeça decepada, sim. Nem se eu for destroçado,
claro. Ou queimar...
— Estaca?
— Mito. Culpa dos livros e filmes. — Dei um sorriso bobo e ela riu,
corando. Eu gostava do som da sua risada.
— Você... já matou muitas pessoas?
— Já. Faz parte da cadeia alimentar.
— E você se orgulha disso? — Ela era direta, olhava fundo em meus olhos.
Eu podia farejar o medo que sentiu ao fazer a pergunta, mesmo assim, ela
se esforçava para parecer confiante.
— Madison, eu não sou um bom rapaz. Não vou te dizer que sinto peso na
consciência, porque seria mentira. Eu gosto.
— E por que você não me matou?
Uma pergunta complicada que nem eu tinha a resposta exata ainda.
— Eu não quis.
— Essa é sua resposta? — Ela arqueou uma de suas sobrancelhas.
— É a que eu tenho para dar no momento.
— Idade?
— Verdadeira ou fictícia?
— As duas... — Revirou os olhos, divertindo-se às minhas custas.
— 347 e 25. Nasci em 1670, querida.
— Hum. — Madison engoliu em seco e tentou disfarçar sua surpresa
desviando os olhos para o lençol. Será que me achou velho demais?
— Prefere rapazes mais novos? — provoquei.
— Eu estava pensando em relacionamentos com homens de até, no
máximo, trinta anos.
Soltei uma gargalhada, que a fez rir também.
— Acho que você está com problemas então.
Madison sorriu com seu jeitinho tímido e eu podia jurar que ela estava
pouco se importando com minha idade real. Alonguei minhas pernas sobre a
cama dela e cogitei a hipótese de agarrá-la de uma vez por todas. Porém, eu não
resistiria se ela recuasse novamente.
— Eu sonhei com você — fui surpreendido pela confissão dela.
— Sonhou? — Sorri. — Eu costumo mesmo causar esse impacto com as
mulheres.
— Na verdade, foi um pesadelo. — Ela franziu os lábios e levantou os
olhos para me olhar. Deixei as piadas de lado e esperei que continuasse. Madison
puxou o ar e o soltou com força. — O quarto estava todo escuro e você me
atacava de repente. Eu cheguei a gritar e chamar pelo seu nome, mas isso não o
fez parar.
— Foi apenas um pesadelo. Não pretendo machucá-la de forma alguma.
— Devo ficar tranquila então?
Se eu fosse ela não teria feito aquela pergunta. Sorri, já tentando demonstrar
minhas intenções, mas acho que Madison não se tocou.
— Já que você perguntou, devo avisá-la que estou prestes a atacá-la.
Seus lábios se entreabriram e ela prendeu a respiração por um instante. Sem
dar tempo para que reagisse e se afastasse de mim, movi meu corpo para cima do
dela e a fiz deitar de costas na cama.
— Uau! — ironizei. — Que defesa extraordinária você tem, Madison
Foster! Estou chocado!
— Não tem graça. Você me pegou desprevenida — disse, com a voz
vacilante, deixando a cabeça cair para o lado.
Eu olhei aquele pescoço cheiroso, suculento e, por um momento, esqueci
tudo ao meu redor. Segurei suas mãos, enquanto aproximava lentamente meu
rosto daquele alvo. Inalei seu cheiro doce e rocei minha boca em sua pele tão
macia e quente.
— O que vo-você está faze-zendo? — ela perguntou, gaguejando.
Engoli em seco e recuperei meu raciocínio. O que eu estava fazendo,
afinal? Não podia mordê-la.
— Nada.






























Eu tive medo de respirar enquanto ele estava em cima de mim, encarando
meu pescoço. Christopher ia mesmo me atacar? Ou era só mais uma cena de
tortura que ele gostava de fazer comigo?
— Desculpe — ele pediu ao me soltar e se afastar bruscamente. — Nem
sempre consigo me controlar quando estamos tão próximos.
Eu é que não seria besta de discutir, né? Quando um vampiro nos pede
desculpas, nós devemos aceitar prontamente.
Levantei para me aproximar dele, mesmo sabendo que eu não devia fazer
isso depois da sua resposta tão sincera. Ele olhava para meu corpo, mais
precisamente, para minha barriga. Acompanhei seus olhos e vi que havia uma
pequena mancha de sangue na minha camisola, que provavelmente vinha do meu
curativo.
— A ferida melhorou? — perguntou, chegando mais perto e tocando o
local.
— Mais ou menos. Eu fiz um curativo e vou trocá-lo antes de dormir.
— E eu estou aqui atrapalhando. — Ele passou uma mão pelo cabelo
enquanto olhava fixamente para o local da ferida. — Está tarde, acho melhor
deixar que faça suas coisas para que possa dormir.
Eu me senti murchar com a simples ideia de deixá-lo ir embora, sem saber
em que momento nos encontraríamos novamente. De qualquer forma, mesmo
que nos víssemos pela faculdade, não seria igual a ficar sozinha com ele na
privacidade de meu quarto. Eu não queria que aquele momento acabasse.
— Que cara é essa? — perguntou ele.
— É só... — suspirei e cruzei os braços. — Não queria que fosse embora,
mas sei que precisa ir.
— Preciso mesmo. — Ele sorriu, com um certo pesar no semblante. — É
torturante demais ficar tanto tempo por aqui.
— Torturante? Por causa do sangue?
— Não só por causa do sangue. Esse é apenas um dos motivos. É por sua
causa também. Você toda me dá água na boca. — Ele beijou minha testa
enquanto eu engolia em seco.
Não soube o que responder, então fiquei apenas calada, vendo-o se afastar e
saltar a janela.
Eu era mesmo estranha, muito estranha. Tinha demorado anos para gostar
de alguém e quando isso acontece, ele é um vampiro.

¤¤¤

Uma canção aveludada brincava com meus sonhos e eu podia quase senti-la
em minha pele. Eu me espreguicei, acolhida pelo som dos anjos, mas senti uma
necessidade enorme de abrir os olhos.
— Madison...
— Christopher? — Pisquei, sem ter certeza se estava sonhando ou não.
— Posso ficar aqui? — ele perguntou, abrindo um sorriso irresistível e
juntou as mãos em súplica. — Não aguentei ficar em casa, no meu quarto,
pensando em você.
Eu tive que me sentar na cama e trazer meu cérebro de volta à realidade.
Sério que Christopher Colt estava pedindo para passar a noite comigo?
— Você quer ficar aqui? — Esfreguei meus olhos. — No meu quarto?
— Muito!
— Fazendo o que, exatamente?
Eu me arrependi da pergunta no instante em que ouvi minhas próprias
palavras. Era munição para as gracinhas de Christopher e, a julgar pelo sorriso
dele, o vampirinho não perderia tempo de responder alguma coisa pervertida.
— Posso enumerar as várias opções — respondeu. — A maioria é proibida
para menores de idade, mas visto que você já tem dezoito anos...
Eu me joguei de novo na cama e afundei minha cabeça no travesseiro.
— Sai daqui, Colt! — resmunguei, morta de vergonha.
Não ouvi nada em resposta e imaginei que Christopher estivesse pensando
em alguma outra piadinha para dizer. Mas quando senti o peso no colchão
diminuir, virei a cabeça de lado e abri os olhos. Ele estava se levantando.
— Vou embora então. Durma bem e sonhe comigo. — Piscou para mim.
Eu não tinha falado sério quando o mandei sair de perto de mim. Levantei
da cama e corri atrás dele antes que saltasse pela janela. Quando o alcancei,
minha reação mais rápida foi passar meus braços em volta da sua cintura e pedir
que ficasse, mas ele pulou no instante em que o toquei.
— Christopher!!!!!!!! — eu gritei e ele jogou os braços para trás, tentando
me segurar enquanto caíamos.
Eu achei que fosse morrer, mas não senti impacto nenhum. Abri os olhos e
vi que o Colt estava de pé no gramado, olhando-me horrorizado.
— Você é definitivamente louca!
— Eu... — suspirei. — Eu sei.
Meu Deus! Eu era louca!














Seu corpo todo tremia em meus braços. Quando eu tinha dado o impulso
para saltar, senti Madison me envolver a cintura e, por sorte, consegui segurá-la
antes que chegássemos ao chão.
— O que deu em você? — perguntei, tentando entender aquela mente. Sua
cabeça estava encostada em meu peito enquanto ela recuperava o fôlego.
— A culpa é sua que saiu andando!
— Você me mandou embora, lembra?
— Eu estava sendo irônica! — Ela parecia zangada. E eu estava certo, pois
Madison me acariciou com um soco. — Será que podemos voltar para o meu
quarto? — perguntou, esfregando a mão com a qual me bateu.
— Claro! — Dei impulso e saltei, sentindo seus braços apertarem meu
pescoço e ouvindo alguns xingamentos. — Você não queria que eu entrasse pela
porta, né?
Coloquei-a em pé no quarto, segurando-a pela cintura por estar um pouco
tonta e rindo da sua expressão. Só então, vi uma coisa interessante. Bem
interessante, na verdade. O que ela vestia não era a camisola que vi mais cedo.
Madison, agora, estava vestida com a minha camisa. E eu fiquei imediatamente
excitado.
— O que minha camisa está fazendo no seu corpo? — perguntei, enquanto
a despia com os olhos.
— Oh.
— “Oh” não é resposta. —Eu ri, deliciado com a imagem.
— Eu a lavei para devolver, mas quando troquei o curativo, descobri que
não tinha nenhum pijama limpo. — Ela pressionou os lábios e desviou os olhos.
— Então, vesti isso.
Coloquei um sorriso no rosto, aproximando-me dela, saboreando cada
centímetro de suas pernas expostas.
— Você sabe... Que a blusa sendo minha, eu posso pegá-la de volta, né?
— Você não faria isso. — Ela arregalou os olhos verdes, dando um sorriso
nervoso.
— Você não me conhece bem, Madison Foster. Eu faria muitas coisas que
você nem imagina. — Passei a língua pelo contorno da boca, enxugando minha
saliva, enquanto me aproximava lentamente.
— Não seja louco! Eu não estou usando nada por baixo!
Eu parti para cima dela, quase esmagando-a sem querer contra a parede,
sentindo seu coração acelerado e sua respiração fora de controle.
— Madison, não se deve dizer a um caçador, que a caça já está temperada,
pronta para ser saboreada. A não ser, claro, que você queira ser caçada —
sussurrei em seu ouvido, enquanto deslizava uma mão pela sua coxa, sentindo
seus músculos completamente rígidos.
— Não... — Ela afundou o rosto em meu peito, apertando minha blusa com
os dedos. — Por favor.
E lógico que eu não pude continuar. Não com ela me pedindo para parar.
Afastei-me um pouco, dando espaço para respirar melhor e fui me sentar na
cama.
— Você quer a camisa de volta? — ela perguntou, olhando-me sem jeito.
— Claro que não. Pode ficar. — Sorri, sabendo que tinha perdido minha
moral completamente. Eu não era bonzinho assim com mais ninguém.
Mad veio para a cama e se sentou ao meu lado, deitando a cabeça em meu
ombro. A descoberta daquela noite tinha sido uma surpresa para mim. Eu tinha
me apaixonado.
— Obrigada.
Beijei o cabelo dela e cheguei para trás, estendendo-me num lado de sua
cama e dando espaço para que ela também deitasse.
— Você vai dormir na cama? — ela perguntou, surpresa. — Reparou que é
uma cama de solteiro, certo?
— Tem espaço para os dois. — Eu me ajeitei e dei um tapinha sobre o
colchão. — Você não pode ser tão inocente a ponto de achar que não
dividiríamos a cama, Madison.
Ela passou os olhos pelo meu corpo, demonstrando receio de fazer o que eu
sabia que estava morrendo de vontade. Então, finalmente se deitou ao meu lado
e levantou os olhos para mim.
— Se eu acordar de madrugada com você me encarando com esses olhos
vermelhos, vou pensar que é um pesadelo.
— Não vai não — respondi, apoiando minha mão sobre a barriga dela.
Sua respiração acelerada fazia seu peito mover-se com rapidez. Eu
aproximei meu rosto e a beijei com delicadeza. Seus dentes mordiscaram meus
lábios e ela me deu espaço para que minha língua invadisse sua boca.
Não desgrudei de seus lábios até que Madison começasse a se aconchegar
melhor ao meu corpo e relaxar mais. Afastei o rosto enquanto mexia em seu
cabelo e observava o leve cerrar de seus olhos.





















Eu não acreditava que aquela noite tinha sido real mesmo. Porque tipo, eu
dormi com Christopher Colt! Chupa essa manga! Tudo bem, eu tinha só dormido
mesmo. Mas eu dormi com Christopher Colt! Nos braços de Christopher Colt,
colada em Christopher Colt. Ok, eu estava histérica!
Saí do banho e vi que Christopher vestira a camisa que eu tinha usado para
dormir. Um pouco amarrotada, mas quem se importa? Eu estava com ela há
poucos minutos.
— Eu daria a minha imortalidade para ser essa toalha — ele disse ao me ver
chegar no quarto e parecia faminto enquanto me olhava com seus olhos
vermelhos.
Sabia que tinha ficado roxa de vergonha, já que ele sorria satisfeito. O plano
dele era sempre me deixar sem graça. Sempre.
— Eu preciso me trocar — avisei. — Não quer dar uma voltinha pela
vizinhança?
— Não mesmo. — Ele sentou na minha cama, sorrindo.
— Dá para pelo menos ficar de costas enquanto me troco?
— Claro! Juro pela minha alma! — Ele levantou e piscou.
— Aquela que você provavelmente não tem?
Christopher ria feliz quando me puxou pelo braço e enfiou os dedos em
meu cabelo, segurando meu rosto.
— Não tenho culpa se não resisto a você. — Soltou um longo suspiro. —
Tudo bem, você venceu. Vou ficar de costas.
Suas mãos me soltaram e ele se virou. Acho que nunca troquei de roupa tão
rápido em toda minha vida. Mas como tudo que envolvia pressa dava errado, eu
não conseguia enfiar o pé na calça.
— Madison... — sua voz estava tranquila.
— Sim?
— Eu cheguei a contar que vampiros enxergam de costas?
Tropecei na calça e caí de joelhos no chão. Antes que ele viesse ajudar, eu
me levantei.
— Está tudo bem? — perguntou. — Eu só estava brincando. Vampiros não
enxergam de costas. Bem, pelo menos não eu. Eu só leio pensamentos.
— Christopher!!!!!
— Calma... Não os seus. Não leio humanos, apenas outros vampiros.
Terminei de vestir a roupa e já me sentia cansada, física e mentalmente.
Christopher Colt era irritante!
— Já acabei — resmunguei, calçando os tênis e tentando dar um jeito no
cabelo.
— Preferia você de toalha.
— Não acho que seja muito confortável assistir aula de toalha, sabe?
— E quem disse que você vai para a faculdade? — Christopher me puxou
pela mão e me colocou de frente para ele. Lá vinha o sorriso cínico e sexy de
novo. — Eu sou um ótimo professor, Maddie. Ensinaria qualquer coisa muito
melhor que os seus professores.
Senhor! Ele colocou minhas mãos por dentro de sua camisa e eu senti um
abdômen duro sob meus dedos. Engoli em seco, com o coração acelerado.
— Não acho que vo-você entenda de algumas matérias. — Eu ri,
extremamente nervosa, tentando respirar.
— Sou perito em educação sexual.
Apertei meus dedos naquela barriga e puxei minhas mãos de volta,
enroscando meus dedos em seu cabelo e trazendo sua boca até a minha.
Eu o beijei com tanta ferocidade que nem acreditava que aquela habilidade
toda era minha. Christopher andou de costas até deitar em minha cama e me
puxou pela cintura, colocando-me em cima do seu corpo.
Apoiei minhas mãos em seu abdômen, que a blusa levantada deixava
aparecer.
— Eu gosto da sua barriga... — falei sem me conter. Que droga de frase era
aquela?
— Só dela? — Ele arqueou uma sobrancelha. — O resto do corpo vai ficar
com ciúmes. Mas faça bom proveito. — Ele esticou os braços para os lados,
como se formasse uma cruz. — Meu corpo é todo seu!
O infeliz sorria maliciosamente enquanto passava a ponta da língua pela
boca. Conseguia me torturar até mesmo sem encostar a mão em mim.
Antipático! E irritante!
— Se não sairmos logo de casa, vamos nos atrasar, Colt. — Respirei fundo
e saí de cima dele, tentando não parecer nervosa, já que eu estava prestes a sofrer
um ataque cardíaco.
— Desprezado mais uma vez!
— Eu não desprezei ninguém!
— Como não? — Sua boca formou um “O”. — Você se aproveitou de mim.
Tirou minha inocência com essas mãos... — Percebi que ele estava se fazendo de
besta, quando riu e me puxou pelo pescoço, sussurrando. — Sabe por que eu
estou resistindo a tudo isso?
— Por quê?
— Porque quando eu decidir pegar você de jeito, Madison Foster, vou
descontar tudo que estou acumulando — sua voz soou rouca como nunca.


















Ela pegou minha mão e me rebocou pela escada.
— Bom dia meninas! — Maddie estava sorridente.
Ao contrário dela, suas amigas não estavam sorrindo. Elas tinham aquela
cara que as mulheres costumam fazer quando me olham e tal. Nada que eu já não
estivesse acostumado a ver.
— Ei gente! Estou falando com vocês! — Madison estalou os dedos. —
Estão me ouvindo?
— Elas estão flutuando... — sussurrei em seu ouvido e ela me olhou sem
entender. — É como eu costumo chamar o jeito que ficam perto de mim.
Era em momentos como aquele que eu gostaria de poder ler também os
pensamentos dos humanos. Sempre tinha vontade de saber o que se passava
dentro dessas cabecinhas quando elas ficavam assim, flutuantes.
— Olá moças. Bom dia para todas.
Foi só quando falei, que elas saíram do transe e abriram sorrisos
exagerados. Uma começou a querer falar mais alto que a outra para chamar
minha atenção. Madison não pareceu gostar muito do jeito que elas me olhavam,
então resolveu sair logo de casa.
— O que você vai fazer hoje? — Já estávamos dentro do carro quando ela
me perguntou, tentando parecer casual.
— Não tenho nada programado. Por quê?
— Nada não... É que... — Olhei-a pelo canto dos olhos e vi que mordia o
lábio. — Hoje é meu aniversário e...
— Madison, hoje é seu aniversário? Por que não disse antes?
— Porque não é muito legal ficar avisando aos outros para me darem
parabéns.
— Não, mas você fez bem em me dizer. Eu não teria como saber! — Puxei-
a pela nuca e beijei seu rosto. — Parabéns, anjo. Vai comemorar?
— Obrigada — ela sorriu com seu jeitinho tímido. — Era isso que eu ia
falar com você. As meninas insistiram para fazer uma festa lá em casa. Se você
quiser passar lá depois, está convidado.
Não pude evitar revirar os olhos, pois ela era cômica. “Se você quiser”. Ela
achava mesmo que eu não ia participar do aniversário dela?
— Como se eu fosse deixar de ir ao aniversário da minha... — Ela virou o
rosto para me olhar, com os olhos verdes atentos. — Namorada.
Terminei a frase sabendo exatamente a reação que causaria nela. Que
causaria em qualquer uma, para ser sincero. Qual mulher não ansiava ouvir essa
palavrinha mágica ser pronunciada pelos caras?
— Eu sou?
— Se você quiser, sim. Desde que você entenda que eu não sou igual aos
outros caras. Eu sou um predador. — Ela me olhou de cara feia e abriu a boca
para reclamar. — Posso terminar?
— Pode.
— Eu nunca estive assim com uma mulher.
— Nunca? — Ela franziu a testa. — Você é virgem? Porque eu não acredito
nisso.
Mas que droga de pergunta era aquela? Eu lá tinha cara de otário por acaso?
Parei para imaginar como seria passar mais de 300 anos sem sexo. Um absurdo!
— Eu não disse que nunca transei... — Sorri. — Disse que nunca estive
num relacionamento. Quer que eu entre em detalhes?
— Não.
— Certo. Esse é o meu instinto. Eu faço muito sexo e não me ligo
emocionalmente a ninguém. Mas não é apenas sexo que isso envolve. Nós
estamos namorando, se você quiser, mas eu não posso mudar o que sou.
— Não estou entendendo. Você está dizendo que não será fiel?
— Eu não disse isso. Eu serei fiel em não me relacionar com outras
mulheres. — Desliguei o carro quando chegamos no estacionamento da
faculdade e virei-me de frente para Madison. — Mas eu não vou deixar de me
alimentar delas.
Eu a vi engolir em seco. Aquilo me incomodava, mas o que eu podia fazer?
Não pretendia mudar a forma como me alimentava.
— O que você faz exatamente? Para morder a vítima?
— Eu as seduzo.
— Você seduz homens também?
Bizarro só em pensar. Tive calafrios só com a suposição.
— Não. Só mordo homens quando não tenho outra opção.
— E eu tenho que achar normal você seduzir mulheres? — Ela formou um
biquinho com os lábios.
Mulheres... Sempre fazem as mesmas coisas. Apertei sua cintura e a trouxe
para meu colo.
— Sim, você tem que achar normal, já que será a única que encostará em
mim.
Invadi sua boca, agarrando seu cabelo enquanto a deixava sem ar. A buzina
começou a tocar quando o braço de Madison esbarrou no volante e não me
importei. Precisava ter certeza de que ela entenderia o quanto era desejada por
mim.

¤¤¤

Depois de apresentar Madison formalmente para meu clã entre os intervalos
das aulas, tive a ideia de sair mais cedo da faculdade e ir procurar um presente
para ela. O único problema era que eu não presenteava uma mulher há mais de...
Não sei, talvez nunca.
Parei o carro numa rua comercial e fiquei pensando no que poderia
comprar. Se fosse uma das garotas da Beta, bastava eu comprar algum objeto
rosa que estaria agradando, mas se tratando de Madison, eu ficava meio em
dúvida.
O que justamente tinha me atraído era o fato dela ser tão diferente da
maioria das garotas. Saltei do carro e passei pelas lojas, olhando as vitrines na
esperança de bater o olho em alguma coisa e gostar.
Parei diante de uma livraria, achando graça do livro de vampiros exposto
diante de mim. Imaginei a cara de Madison ganhando algo como aquele livro e
decidi que este seria o presente.






































O fato de eu ter chegado correndo em casa não deveria ser motivo de
pânico. Claro que não.
— Christopher Colt vem na minha festa! — praticamente gritei para as
garotas, que tinham acabado de chegar também.
— Festa? Que festa? — Jennifer perguntou, com olhos arregalados.
— Exatamente! Eu sei que é muito difícil vocês lembrarem de certas coisas,
mas hoje é meu aniversário e eu o convidei para a festa que minhas amigas
estavam planejando! — Fiz uma cara de surpresa.
Elas ficaram imóveis, com os olhos parados em mim e eu rezei para que
aquela reação de gente anormal não demorasse muito. Nós tínhamos que correr
com os preparativos.
— Meu Deus, hoje é seu aniversário! — Anna me abraçou. — Credo, Mad,
desculpe-me por não saber.
— Que nada! Eu supero!
— Teremos uma festa? Que ótimo! Amo festas! — Louise provavelmente
apagou a parte em que eu disse ser meu aniversário, mas realmente não me
importava em receber os parabéns dela.
O que me deixava feliz era vê-la sair correndo para arrumar as coisas, já
que festa era quase o seu sobrenome. Jennifer me olhou com uma expressão
arrependida e sorriu.
— Eu também não sabia...
— Ei gente! Está tudo bem! Poupem suas desculpas e, por favor, ajudem-
me a programar uma festa, ok?
— Certo, mas por que você resolveu isso tão em cima da hora? — Anna me
perguntou e eu sorri.
— Eu queria que Christopher viesse de novo aqui em casa e inventei isso
— suspirei. — Só queria passar mais tempo com o meu... namorado.
Oh sim, a reação que eu esperava. Gritos e mais gritos. Delas e meus, claro!

¤¤¤

Eu estava muito concentrada numa conversa com Anna, mas quando senti
dedos tocando meus ombros, eu sabia exatamente quem era. Minha pele
respondeu automaticamente àquele contato, arrepiando-se rapidamente.
— É tão fácil encontrar você... — uma voz sussurrou em meu ouvido
enquanto os dedos desciam para minha cintura.
Por mais que eu gostasse daquela tortura, não aguentaria ficar sem olhá-lo
por mais nenhum segundo. Virei-me tão rápido que cheguei a ficar tonta com a
imagem perfeita de Christopher me olhando daquele jeito.
— Já vai desmaiar? — Ele me segurou mais forte. — Mas eu ainda nem
disse o quanto você está linda...
— Sei. Provavelmente por causa desse vestido idiota, certo?
Eu ainda estava irritada por ter que usar o vestido de Louise, já que não
tinha muitas roupas que pudessem ser usadas para seduzir meu novo namorado.
No entanto, o vestido era curto demais. Apertado demais. Eu sabia muito
bem que não era nenhum violão cheio de curvas, mas mesmo assim me sentia
como um pedaço de carne pendurado em açougue. Ele franziu a testa, parecendo
confuso e balançou a cabeça.
— Eu gosto do que vejo, mas não estou me referindo ao seu corpo. Estou
falando do modo como você exala um cheiro inebriante que me deixa louco. —
Beijou meu ombro e eu suspirei. — Eu seria capaz de achá-la em qualquer lugar.
Bem, eu estava quase formando uma poça no chão, de tão derretida que
tinha ficado. Senti que minha boca abriu, fechou, abriu e fechou novamente, sem
ter o que dizer. Christopher sorriu, convencido, e me beijou no canto da boca.
— Não era bem essa reação que eu estava esperando, mas serve também.
E então, ele me beijou decentemente, encontrando meus lábios à sua espera.
Passei meus braços ao redor da cintura dele e deslizei minhas mãos por suas
costas definidas. Era bom demais senti-lo tão perto de mim.
Eu podia dizer, com toda certeza, que havia muito espaço vazio em volta de
nós dois. Daria para passar duas pessoas de mãos dadas por trás de Christopher,
sem precisar um esbarrar no outro. Porém, a morena que praticamente se jogou
em cima dele, não parecia ter notado o espaço.
— Desculpe, Colt! — Ela abriu um sorriso de bêbada. — Que bom que
você me segurou!
— Não segurei — ele respondeu sem sequer olhá-la.
— Podemos ir para meu quarto? — perguntei, encostando meu queixo no
peito dele e olhando para cima. — Prefiro ter você só para mim.
— Vou ao carro buscar seu presente e a encontro lá em cima — ele
respondeu, beijando minha testa e se afastando.
Eu mal tinha entrado no quarto e ele já estava sentado na minha cama.
Quase caí para trás com o susto.
— Você tem que parar de pular minha janela. — Levei uma mão ao peito,
sentindo meu coração acelerado. — Um dia, vai me matar de susto.
— É uma mania feia, eu sei. — Ele encolheu os ombros e estendeu a mão
com o presente. — Espero que goste, foi difícil comprar algo para você. Não
conheço seus gostos.
— Não precisava comprar nada, Christopher. — Olhei o embrulho bonito e
inicialmente até fiquei com pena de rasgar o papel, mas em apenas um gesto,
desembrulhei-o. — Mas obrigada.
O que vi em seguida não era algo pelo qual esperava, vindo de Christopher
Colt. Um livro sobre vampiros.
Coloquei o livro sobre a cama e virei-me de lado, envolvendo seu pescoço
com meus braços e jogando meu peso todo para ele.
— Eu amei mesmo! Obrigada!
Beijei sua boca rapidamente, encontrando sua língua ávida pela minha.
Minha respiração mudou bruscamente e ele já estava quase me deitando na
cama, quando um barulho de algo caindo e quebrando lá embaixo nos assustou.
— Estão acabando com a casa — eu me queixei e ele riu.
— Quer que eu dê um jeito nisso?
— O seu jeito seria qual? Expulsar todo mundo?
— Provavelmente. — Christopher sorriu com uma carinha diabólica.
Joguei-me de costas na cama e peguei o livro para folhear. Ele veio para
meu lado e senti seus dedos alisando minha barriga sobre o vestido.
— Eu já tinha visto esse livro. Escutei falar muito dele e quase comprei.
— Só não se apaixone pelo vampiro fictício, ok?
— Ficou louco? Eu tenho um exemplar em tamanho real, para que vou
querer um que não existe?
— Eu não sei. — Ele beijou meu braço e foi subindo até o ombro. — Essas
escritoras possuem o dom de criar personagens perfeitos...
Novamente ouvimos um barulho que vinha da sala e daquela vez eu deixei
que Christopher resolvesse.























Crianças. Sempre conseguem acabar com qualquer festa, porque
aparentemente, acham que sabem beber. Quando cheguei na sala da casa de
Madison, fiquei um pouco preocupado. As coisas estavam muito piores do que
ela imaginava. Tinha vômito espalhado pelo chão, além de quase uma suruba
rolando no sofá. Desliguei o som e todo mundo me olhou sem entender.
— Muito bem, por hoje é só. Saiam antes que se machuquem. — Ou eu
machuque alguém, pensei.
Escutei várias reclamações, claro, mas ninguém veio tirar satisfações
comigo. O mais interessante foi não ter visto nenhuma das amigas de Madison
por ali. Não sabia se estavam dormindo, agarrando alguém ou bêbadas em algum
canto. Enfim, elas não eram responsabilidade minha.
— Boa noite e não voltem nunca mais!
Fechei a porta quando a última pessoa saiu e olhei em volta. Uau! Estava
uma bagunça e não seria eu a limpar.

¤¤¤

Madison estava de bruços na cama, lendo o livro, o que me deixou bastante
satisfeito. Ela não me viu entrar no quarto, então cheguei silenciosamente perto
dela e apertei sua coxa, fazendo com que quase caísse da cama.
— Christopher! Quer me matar no dia do meu aniversário? — ela brigou
comigo, mais pálida do que o habitual.
— Um susto é bom de vez em quando. — Deitei ao seu lado. — Faz a
adrenalina correr pelo organismo.
Aquela posição era muito tentadora, já que me dava uma visão
extraordinária de seu quadril. Brinquei de escorregar a mão por suas costas
enquanto ela se concentrava na leitura.
— Você demorou lá embaixo. Está tudo bem?
— Tudo perfeito! — Para que estragar o aniversário dela, né? Deixaria que
descobrisse no dia seguinte. — O livro é bom?
— Até agora sim, mas ainda estou no começo. A protagonista se interessa
por um vampiro, sendo que o sangue dela é irresistível para ele, sabe?
— Sei muito bem. Então ele a mata?
— Christopher! — ela ficou brava.
— Desculpe, continue...
— Não li o livro todo, mas a intenção é ele não matar a protagonista, né? E
além do mais, ele é vegetariano.
— Desculpe, o que você disse?
— Que ele é vegetariano — ela respondeu como se fosse a coisa mais óbvia
do mundo.
— Vegetariano? — Eu segurei o riso. — E você pode me dizer do que
vampiros vegetarianos se alimentam?
Madison franziu a testa, observando-me calada e depois balançou a cabeça,
surpresa.
— Você não sabe?
— Não, eu não sei. Desculpe-me se eu não costumo ver vampiros comendo
alface por aí... — Não consegui mais segurar a gargalhada e ela ficou aborrecida
com isso.
— Muito engraçado. Muito mesmo. Eles se alimentam de sangue animal,
ok?
Isso não significava que eram vegetarianos. É nojento, mas não deixa de ser
sangue. Porém, decidi que não queria discutir com Madison no aniversário dela,
então não levantei a questão.
— Isso me faz lembrar de Luc — falei, nostálgico.
— Quem?
— Luc Rousseau, um amigo muito antigo. Ele andou uma época tentando
mudar de dieta e passou a se alimentar do sangue de ratos. — Senti nojo ao
lembrar.
— Você por acaso, só por acaso mesmo, não está falando do famoso
vampiro Luc Rousseau, né? — Madison me olhava com uma cara de maníaca.
Era só o que me faltava, ela ser fã de Luc.
— Esse mesmo. Tinha esquecido que ele ficou famoso por causa de
Hollywood.
Aquilo era algo que me irritava! Saber que personagens de filmes que
fizeram sucesso no passado, realmente existiam e o pior, eram conhecidos meus.
Era tudo tão clichê!
— Ah claro! — Ela jogou os braços para o alto, com olhos vidrados. —
Daqui a pouco você vai dizer que também conhece Aaron.
Fiquei calado. Aaron era um dos vampiros mais amados do mundo. Tinha
medo de confirmar e ela sofrer um ataque histérico. Por que Aaron conseguia até
hoje causar aquele efeito nas mulheres?
— Christopher! — Madison pulou no meu pescoço. — Você conhece
Aaron Dubois?
— Sim. — Dei de ombros.
— Você precisa me apresentá-lo!
— Claro, se você quiser ficar sem a cabeça.
— Estamos falando de Aaron Dubois! O vampiro mais sexy do cinema! —
Estreitei meus olhos para ele, sem me deixar amedrontar. — Acho que vale o
risco.
Madison se levantou, abriu o guarda-roupas e pegou um pijama. O livro
tinha ficado aberto sobre a cama e eu já começava a me arrepender do presente.
Odiava comparações.
— Você nunca pensou nessa ideia de Luc, de se alimentar de animais? —
perguntou. — Não estou falando de ratos, mas há tantas opções por aí...
— Maddie, eu odeio que maltratem animais. Não consigo me imaginar
mordendo um boi. Quando ele me olhasse com aqueles olhos tristes, eu desistiria
na hora.
Ela me lançou um olhar enviesado e eu dei de ombros, sem saber o que
falar para agradá-la.
— Vou trocar de roupa, vire de costas, por favor.
— Não é vantajoso ter acesso ao seu quarto se não posso vê-la trocar de
roupa — falei, assobiando e fazendo o que ela pediu.
Senti seus dedos tocarem em minhas costas e me deixei ser empurrado na
direção da cama. Madison sentou em meu colo, já completamente vestida,
passando os braços pelo meu pescoço.
— Gostei muito mesmo do presente, obrigada por isso e por ter vindo hoje.
— Ganhei um beijo na boca e sorri. — Só que eu acho bom você se preparar,
porque antes mesmo de ganhar o livro, eu sabia que estavam fazendo o filme. E
agora, mais do que nunca, eu quero ir à estreia.
— Eu vou a qualquer lugar, se você esquecer o livro por hoje e deixar eu
beijá-la bastante.
Ela fingiu pensar e deu um sorrisinho faceiro. Belisquei sua coxa e
espalmei minha mão sobre o tecido grosso do moletom.
— Vai ser tão difícil largar o livro... — Ela franziu os lábios.
— Você é a única humana no mundo que namora um vampiro real e o troca
por um fictício.
Madison gargalhou.
— Eu não troquei você por ninguém! Quem eu amo é o Christopher Colt.
— O que você disse?
Ela arregalou os olhos, ciente do que tinha deixado escapar. Fui
surpreendido por aquela declaração, pois não esperava ouvir nada do tipo tão
cedo. Era cedo, não era?
— Acho que vou tomar um banho — Madison falou e tentou se levantar,
mas não deixei.
Passei minhas mãos sob o quadril dela e a peguei no colo, enroscando suas
pernas em minha cintura.
— Tarde demais para fugir. Só sai daqui quando repetir o que disse —
avisei.
— E você acha que eu estou desconfortável? Posso ficar eternamente aqui,
se for preciso — ela respondeu, apertando as pernas em volta de mim.
Aproximei minha boca da sua, sem beijar e passei a ponta da língua no
canto dos seus lábios. Madison tentou me beijar, claro. Eu me esquivei e rocei a
ponta do meu nariz pelo maxilar dela.
— Quer que eu pergunte de novo?
— Não vou dizer nada...
Beijei seu pescoço, dei algumas mordidas, outras lambidas. Ela ofegava.
— Pare... — pediu, gemendo.
Deitei-a na cama e ajoelhei-me em volta do seu corpo, tirando minha blusa.
O coração da humana acelerou e seus dedos tentaram alcançar meu abdômen.
— Quieta. — Segurei sua mão.
— Christopher...
— Vai falar?
— Você sabe que não... — Como ela era teimosa!
— Então, somente eu posso brincar aqui.
Ela se remexeu sob mim. Levantei sua blusa até expor o umbigo e deslizei
um dedo pelos pelinhos arrepiados.
— Solte as minhas mãos! — Madison resmungou.
— Não.
Passei um dedo pelo elástico da sua calça e acabei vendo um pedaço da
calcinha rosa. Eu realmente estava muito controlado.
— Christopher, você não é louco!
Curvei-me um pouco e beijei o corte em sua barriga, que começava a
cicatrizar. Depois, percorri aquela região com minha boca, dando leves beijos até
chegar na parte coberta pela blusa. Voltei lambendo o mesmo caminho, dessa
vez até encontrar o bendito elástico da calça, que peguei com os dentes e soltei
de novo.
— O que será que tem por baixo desse elástico? — provoquei.
— Eu disse que te amo!
— Ama quem? — perguntei, segurando o riso.
— Céus, Christopher! Que irritante! — Ela me bateu no peito, mas me
pareceu mais como um afago.
— Você ama o céu? — Comecei a levantar mais a sua blusa, não satisfeito
com aquela resposta. — Espero que você esteja usando sutiã...
— Eu amo você! — Ela fechou os olhos. — Melhorou? Satisfeito?
Sim, eu estava satisfeitíssimo. Beijei sua boca e a deixei brincar comigo.
Agora ela podia. Soltei suas mãos, que foram parar imediatamente nas minhas
costas, tentando me arranhar.
— Você é violenta, amor...
— Cala a boca, Colt!
A menina ficou raivosa. Puxou meu cabelo, quase arrancando os fios do
couro cabeludo e me deu um chupão no pescoço. Eu devia torturá-la mais vezes.
Por que não tinha pensado nisso antes?
Madison passou as pernas por cima do meu corpo e me puxou,
escorregando as mãos até minha bunda. Safada, ela me apertou! Até que enfim, a
gata tinha virado pantera. Puxei sua calça e ela segurou minha mão, acabando
com a minha graça.
— Não... — falou baixinho.
— Como não?
— Isso não... Não por enquanto.
Fechei os olhos, ciente de que estava voltando para o início do jogo. Sem
gol, sem nada.




























— Eu não vou mordê-la, Madison. — Ele sorria.
Piadinha sem graça, mas bem a cara dele. Como dizer a ele que aquilo era
tudo o que eu mais queria e também o que mais me dava medo? Ele me acharia
uma louca, no mínimo. Era mais fácil dizer apenas não, mesmo me cortando o
coração ver sua cara de desespero.
Christopher me encarou, incrédulo, por alguns segundos, porque eu
provavelmente devia ser a única criatura em todo o universo capaz de dizer não a
ele.
— Acho que vou me matar e depois volto. — Ele suspirou.
— Que eu saiba, você já está morto.
— Nem todos os órgãos, Madison... Nem todos. — Sua expressão era de
um sofrimento comovente. Ele saiu de cima de mim e se sentou na cama. —
Deus deve estar me castigando por ter desvirginado tantas mulheres durante os
últimos séculos.
— Você deve ter um vasto currículo.
— E aí ele me mandou um diabinho em forma de Madison para me torturar
eternamente.
Eu ri. Tadinho, quem ouvia até acreditava que era tão indefeso. O vampiro
troglodita se fazendo de pobre coitado. Hilário!
Sentei atrás dele e passei as mãos em volta de seu corpo. Christopher tinha
a barriga lisa e dura mais gostosa que eu já tinha visto!
— Você pode me torturar e seduzir o quanto quiser... — sussurrei no ouvido
dele. — Desde que pare quando eu pedir.
— O problema é justamente parar. — Ele pegou minhas mãos e as beijou,
virando-se de frente para mim. — Desculpe-me, anjo. Preciso ir.
Como assim, precisa ir? Ele ia embora do nada? O que ele tinha na cabeça?
Ou quem ele tinha na cabeça.
A quem eu queria enganar? Em cada esquina havia uma mulher sorrindo
para ele.
Levantei com pressa quando ele vestiu a camisa e saltou minha janela.
Nunca desci os degraus da escada com tanta rapidez e agradeci por não ter caído.
Christopher já estava no carro quando eu saí pela rua, gritando seu nome que
nem uma louca.
— O que foi? — Ele me olhou assustado e baixou o vidro.
— Como assim “o que foi”? — Coloquei as mãos na cintura, recuperando
meu fôlego. — Você não pode se despedir assim e sair que nem foguete. Volte,
Christopher.
— Hoje não. — Ele baixou os olhos para o volante. — Preciso de um
tempo a sós porque não estou em condições psicológicas.
— Então abra a porta para que eu possa me despedir direito.
Toquei a maçaneta, mas ela estava travada. Christopher estreitou os olhos e
mostrou os caninos para mim.
— Você não vai entrar. — Finalmente ele me encarou. — Quer morrer?
— Qual o seu problema? — senti minha voz embargada.
— Madison, não sei lidar com as vontades que estou sentindo e não posso
satisfazer. É complicado, você precisa entender.
Ele não fazia a menor ideia do tamanho da minha teimosia. Curvei meu
corpo e entrei pela janela mesmo. Quer dizer, entrei não, fiquei meio que
pendurada. Metade do corpo dentro do carro e metade fora. Pelo menos
Christopher me puxou para dentro.
— Você é louca!
Sentei em seu colo e tirei minha blusa, ficando só de sutiã. Ele subiu o
vidro tão rápido quanto um cometa.
— Que diabos você está fazendo, Madison? — Christopher olhou para os
lados, com medo de termos plateia, mas eu sabia que não tinha ninguém na rua.
— Eu não sei muito bem como é isso, então se você puder me ajudar... —
pedi a ele, que me olhava sem acreditar.
— O que você está fazendo?
Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava sem sucesso algum tirar meu
sutiã. Se eu tivesse a ajuda dele tudo seria bem mais fácil, mas ao invés disso,
ele tinha resolvido fazer perguntas. Ótimo.
— Aplacando sua vontade. — E então, um maldito sorriso cínico surgiu
em seu rosto e ele começou a gargalhar. Falei alguma coisa engraçada por
acaso? — Melhor eu do que outra, né?
— Outra?
— Outra mulher. — Desisti de tirar o sutiã e quis libertar minhas mãos para
tirar a camisa dele, mas Christopher não deixou.
— Pare — pediu. — Você não entende o que estou sentindo.
— Que seja... — Dei de ombros, para evitar pensar muito e mudar de
opinião. — Vai me ajudar com o sutiã ou não?




























Eu ouvi mesmo aquelas palavras saindo da boca de Madison? Ou eu já
estava tão ferrado que estava delirando?
— Você tem certeza absoluta disso? — perguntei, ainda sem acreditar.
— Não, mas você quer que eu pense melhor? — ela respondeu, atrevida.
Tirei minha blusa que ela ainda tentava tirar e a beijei, agarrando-a pelo
cabelo e trazendo para mim, enquanto eu chegava o banco para trás,
desgrudando suas costas do volante.
Contornei sua boca quente com minha língua, sugando seus lábios de vez
em quando. Ela agarrava meu cabelo, ofegante.
Coloquei-a no banco do carona e puxei as pernas da sua calça. Ô peça de
roupa mais infernal! Mulheres sempre deviam usar saias!
Com Madison corada, de calcinha e sutiã, tentei ignorar a estampa de
ursinhos e puxei-a de volta para meu colo. Seu corpo todo estremeceu contra o
meu e seu coração acelerou. Beijei seu pescoço, enquanto alisava sua cintura e
subia minhas mãos até seu sutiã de ursinhos. Demorei uma fração de segundo
para fazer o que ela tinha levado cinco minutos sem sucesso.
Quando tirei aquela peça de roupa, Mad se chocou contra meu peito,
cravando as unhas em meus ombros.
— Não tem graça eu tirar, se não posso ver — falei, sorrindo.
— A gente não pode fazer isso sem que você veja? — ela perguntou.
Madison era ingênua, porque a sensação dos seios excitados em minha pele
só me dava mais desejo ainda de possuí-la.
— Meu amor, dê espaço para que eu tire minha calça pelo menos... — eu
pedi, com carinho.
Eu podia desgrudá-la à força de mim, mas como ela já estava tensa, achei
melhor não piorar a situação. Tive que rir quando Madison afastou somente o
quadril, sem soltar os dedos dos meus ombros.
Desabotoei minha calça e os batimentos cardíacos dela aumentaram em
sincronia.
— Você sabe que não precisa fazer nada que não queira, certo? — sussurrei
em seu ouvido, enquanto suas mãos trêmulas apertavam meu braço. — Eu não
quero que você se arrependa depois.
— Eu não quero é me arrepender por ter sido traída.
— Esse é seu medo? — Larguei a bunda dela e segurei seu rosto. —
Madison, eu sou muito mais controlado do que você imagina.
Seus enormes olhos verdes me encararam, assustados. Eu respirei fundo,
alisando seus braços e me preparando para fazer o que era preciso. Não queria
transar com ela pelas razões erradas.
Fechei minha calça e devolvi seu sutiã.
— Vista-se.
— Por quê? — Madison arregalou os olhos.
— Não vamos transar hoje — falei com toda a clareza possível, segurando
seu rosto entre minhas mãos e ela franziu a testa, juntando as sobrancelhas.
— Mas eu quero...
— Não quer não.
— Você prefere outra?
Eu acabei rindo. Será que era tão difícil entender que eu queria apenas ela?
Que se eu quisesse outra, eu não precisaria ter aquela conversa?
— Não tem outra, Madison! Isso é coisa da sua cabeça.
— Não vai me trair? — perguntou, desconfiada.
— Lógico que não. — Esfreguei meu rosto, impaciente com aquela
conversa. — Eu nem sei de onde você tirou isso.
— Você saiu correndo... — Ela piscou algumas vezes. — Eu pensei que...
— Que eu estivesse indo atrás de alguém? — Revirei os olhos diante
daquela ideia. — Eu não estaria surtando há dias para chutar o balde logo agora.
Ela apertou meu pescoço e encheu meu rosto de beijos. Mulheres...
Ficamos abraçados por alguns segundos, enquanto eu sofria de desejo
incubado, para variar. Por fim, ela me soltou e eu ajudei a vestir a roupa.
Quando saímos do carro, Madison segurou minhas mãos e sorriu, o rosto
ainda corado.
— Você vai ficar?
— Claro que não! Não acha que é muito sofrimento para um dia só? —
respondi, dando-lhe um beijo no rosto e entrando no carro em seguida.
— Tudo bem... — Ela sorriu. — As vontades que você não pode satisfazer,
era sobre sexo que estava falando, certo?
Suspirei, passando meus braços ao redor dos ombros dela e a puxando para
mais perto. Encostei-me ao meu carro e sustentei o peso de Madison.
— A fome por sexo e a sede de sangue, para mim, andam sempre muito
conectadas. E eu sinto tanta atração por você, que tem sido muito difícil ficar
perto e resistir à vontade de possui-la por completo. — Tirei a franja que caía
sobre os olhos dela e fitei seu rosto com seriedade. — Não tenho certeza se vou
conseguir ser delicado quando estivermos na cama. Nunca fui delicado com
ninguém.
Madison deu um sorriso recatado, espalmando as mãos em meu peito.
— Parece estranho, mas eu não tenho medo que você seja rude ou
selvagem. — Ela encolheu os ombros. — Confio em você.
— Não deveria, você me conhece há poucos dias.
— Christopher, você mata pessoas! — Ela jogou a cabeça para trás e ergueu
os braços. — Mata sem o menor peso na consciência. O simples fato de você
sequer ter medo de me machucar, já diz muito a seu respeito. Você é uma pessoa
completamente diferente comigo.
Engoli em seco, ciente de que ela tinha razão. Meu medo era enorme e,
talvez, fosse por isso que eu fazia tantas brincadeiras. Tentava descontrair e
esquecer a grande diferença entre nós.
— Você é linda. — Sorri, passando meus dedos pelo rosto dela.
Madison me abraçou e enfiou o rosto na curva do meu pescoço. Inalei seu
perfume e fechei os olhos, com uma certeza que nunca tive, de estar com a
pessoa certa, uma vez na vida. Se era amor, eu teria muito tempo ao lado dela
para descobrir. Mas o que importava, era que estava aberto a tudo por Madison.




































continua no volume 2...


Fevereiro/2018

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