Você está na página 1de 14

Domínio público/ Wikimedia Commons

A questão nacional no Centenário


da Independência: uma nação
em busca da modernidade
Marly Motta
resumo abstract

A proposta do artigo é analisar a The paper’s purpose is to analyze the


mobilização da intelectualidade brasileira mobilization of the Brazilian intellectuals
no intuito de construir um Brasil moderno to construct a modern Brazil at the Brazil
por ocasião da celebração dos cem anos Independence’s centenary (1922). Marked
da Independência (1922). Marcada pela by the proposal to “fertilize unique ideas”
missão de “fecundar ideias singulares”, the “generation of 22” did not shy away
nem por isso a “geração de 22” se furtou from seeking modernity from the critical
a buscar a modernidade através de and selective integration of ideas that
uma integração crítica e seletiva das were circulated in Europe. This integration
ideias que então circulavam na Europa. led to two streams of consciousness –
Essa integração desemboca em duas tradition, and vanguard – that dispute
correntes de pensamento – a tradição e the role of exclusive voices of what
a vanguarda –, que disputam o papel de should be modern Brazil. As a result of
porta-vozes exclusivos do que deveria ser this movement to search a new country,
o Brasil moderno. Como resultado dessa we examine the intellectual project that
busca por um “novo” país, examinamos aimed to disqualify Rio de Janeiro as the
o projeto intelectual que visou à “head of nation” in favor of São Paulo, the
Domínio público/ Wikimedia Commons

desqualificação do Rio de Janeiro como locus of the intellectual production of a


“cabeça da nação”, e sua substituição por new national identity.
São Paulo, lócus de produção de uma
nova identidade nacional. Keywords: modernity; generation of 22;
national question; memory.
Palavras-chave: modernidade; geração
de 22; questão nacional; memória.
O 7 DE SETEMBRO EM FOCO: duplo sentimento, por certo paradoxal, de
repúdio ao regime político então vigente e
O BRADO RETUMBANTE
de celebração à liberdade conquistada com
o “grito do Ipiranga”. Nada, no entanto,
“Em 1822, foi criado o próprio povo brasi- se equiparou ao 7 de setembro de 2021,
leiro [...]; a nossa personalidade histórica, o a um ano da celebração do Bicentenário.
alicerce de nosso futuro, tudo isso é obra Convocada pelo presidente Bolsonaro sob

Q
de uma data: o sete de setembro” (Correio o signo do “Dia da Pátria”, a multidão, que
da Manhã, 5/6/1920). se espremeu para gritar impropérios contra
o STF e o Congresso, instituições basilares
ue o 7 de setembro é um do Estado democrático, aproveitou a data
lugar de memória (Nora, magna que marcou a liberdade da nação
1984) da nação brasileira, para clamar pela liberdade de negar a demo-
sabemos todos. Afinal, cracia e de exaltar uma intervenção militar
não nos esquecemos dos no país. Estranha associação... Foi um tiro
desfiles embandeirados de n’água, felizmente.
verde-amarelo nas esco- Ao contrário do que parece hoje, a
las, das paradas militares elevação do 7 de setembro como “Dia
ao longo das principais da Pátria” resultou de um delicado pro-
avenidas das cidades, do cesso simbólico que envolveu disputas
feriado aproveitado para entre várias outras datas. A República,
passeios ou descanso. Cer-
tamente as comemorações
dos cem anos, em 1922,
na vigência de Estado de MARLY MOTTA é professora aposentada
da FGV/RJ e autora de, entre outros,
sítio, ou do Sesquicentenário, em 1972, em A nação faz cem anos: a questão nacional no
plena ditadura militar, foram marcadas pelo Centenário da Independência (Editora FGV).

Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022 65


dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

por exemplo, não viu com bons olhos o Por coincidência – ou não –, o primeiro
grito do Ipiranga proclamado pelo príncipe chamamento, em ambos os casos, veio
português. Afinal, o novo regime teria com uma antecedência de seis anos. Em
que lidar com a projeção de uma arquite- 2016, o então presidente Michel Temer
tura simbólica do nacional, que marcasse instituiu a Comissão Ministerial Brasil
a República como a verdadeira entidade 200 anos, sob a coordenação do hoje
representativa da sociedade como um todo. extinto Ministério da Cultura. Atualmente
Apesar de o calendário cívico de inspira- ela se encontra nas mãos da Secretaria
ção positivista guardar o 7 de setembro da Cultura, a qual tem sido cobrada por
como o dia da “Independência”, ao 15 de “não fazer nada”, ou, melhor dizendo,
novembro foi destinado o lugar especial por ainda não ter lançado “nenhum brado
de dia da “comemoração da pátria”. No retumbante para dar início aos festejos
entanto, o grito do Ipiranga acabou se do Bicentenário da Independência”. A
impondo como data maior da naciona- demanda comemorativa veio por meio
lidade por um conjunto de fatores: pela da imprensa, e partiu de setores que se
necessidade de conciliação com os monar- identificam como “nacionalistas” por
quistas, pela inviabilidade do 7 de abril aí perceberem uma excelente oportuni-
de 1831, que marcou a saída de d. Pedro dade para “valorizar os símbolos e as
I do Brasil, de se consolidar como marco datas nacionais”. O Senado, por sua vez,
da ruptura com a metrópole e, sobretudo, criou também uma comissão do Bicen-
pela maior habilidade da intelectualidade tenário, esta entregue a um senador de
monarquista de impor o “seu passado”. esquerda, Randolfe Rodrigues (Rede/AP),
De uma maneira ou de outra, o fato é que que adiantou: “O Bicentenário não pas-
o 7 de setembro ganhou agora um relevo sará em branco. Se [o governo federal]
excepcional, que cresce à medida que, não quiser comemorar, nós o faremos” 2 .
agora, em 2022, celebra-se os 200 anos O secretário nacional de Cultura passou
da Independência. Não por acaso, torna- recibo e, dias depois, anunciou o lança-
-se cada vez mais pertinente o interesse mento de um edital para projetos audio-
pelos festejos do primeiro centenário, em visuais com o objetivo de “resgatar a
1922. Em meu caso particular, há um memória de todos os grandes heróis da
interesse ainda maior, já que este foi o nossa Independência” 3.
tema de minha dissertação de mestrado, A primeira chamada para a comemora-
defendida em 1991 junto ao Programa de ção do Centenário ocorreu em janeiro de
Pós-Graduação em História da UFRJ1. 1916, quando a Revista do Brasil, em seu
Podemos começar comparando as res- primeiro número, anunciou a necessidade
pectivas convocações para os festejos de se celebrar festivamente esse “primeiro
comemorativos, os de 1922 e os de 2022.

2 “O silêncio retumbante”, O Globo, 7/8/2021, segundo


caderno, p. 1.
1 A dissertação foi publicada em: Motta (1992). 3 O Globo, 11/8/2021, segundo caderno, p. 5.

66 Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022


marco glorioso da existência nacional”. A duas correntes de pensamento – a tradição
“vigilância comemorativa” invadiu outros e a vanguarda –, as quais advogam para
órgãos da imprensa menos comprometi- si o papel de porta-vozes exclusivos da
dos com a fé nacionalista, mas que, não modernidade do pós-guerra. Finalmente,
obstante, nomeavam aqueles que deve- examino o projeto intelectual que visou à
riam necessariamente se “aparelhar para elevação da capital bandeirante à condi-
a grande data”: o Congresso, os institutos ção de matriz dessa sonhada “moderna”
sábios, os artistas e literatos. A revista nacionalidade brasileira dos anos 1920.
mensal de variedades Eu Sei Tudo, por
exemplo, em artigo intitulado “Noventa e TUDO POR UMA NAÇÃO MODERNA!
cinco anos de independência”, observava
que “[...] com a aproximação do Centená-
“Não era esta a República dos meus sonhos”
rio da nossa Independência parece que se
(Oliveira Vianna).
afervora o culto cívico, o ardor patriótico
pelo 7 de setembro ganhando intensidade
de ano para ano” (Motta, 1992, p. 17). Dos vários aspectos que têm marcado
O conteúdo de algumas das convoca- as novas abordagens sobre a década de
ções para a celebração da nação centenária 1920, pelo menos três devem ser especial-
conduz a um universo de questões que mente destacados. Em primeiro lugar, a
remete a uma comunhão entre os feitos percepção da especificidade do período,
do passado – “indagando as origens aqui em contraposição a uma tendência mar-
e ali” –, a situação presente – o Cente- cante na historiografia brasileira que via
nário como “um resumo da grande tra- os anos 20 apenas como “explicativos dos
gicomédia nacional” – e as perspectivas 30”. Abandonada essa incômoda posição de
do futuro, já que seria a oportunidade de “antecedente”, e iluminada por suas ques-
“grandes rompimentos, de tomar um bom tões, os 20 passaram a ocupar um lugar
lombrigueiro”. O tom das recomendações, e uma identidade próprios no panorama
às vezes resvalando para o deboche e o historiográfico. Ao mesmo tempo, não há
sarcasmo, revelava o grau de expectativa como negar a sedução que a inquietação
detonado pelo “faustoso” acontecimento. A dessa década naturalmente exerce sobre
um mês do 7 de setembro, veio a convo- a intelectualidade de um país sempre
cação geral: “Por mais que tapem os ouvi- às voltas com o dilema de estar entre a
dos [...], hão de ouvir o nosso zabumba catástrofe iminente e a esperança de algo
[...]. Acordem, homens. O Centenário está novo: menos preocupada com influências
chegando!” (Motta, 1992, pp. 16-7). ou heranças, a historiografia recente com-
Este texto se divide em quatro partes. partilha com a “geração de 22” a uto-
Na primeira, busco retratar a mobilização pia da inserção do país na modernidade.
da intelectualidade brasileira no intuito de Finalmente, é preciso destacar a abertura
construir um Brasil moderno por ocasião do leque de temas que particularmente
da celebração dos cem anos da Indepen- marcaram o período. Ou seja, além dos
dência. Nas partes subsequentes, apresento eventos tradicionais – a fundação do PCB,

Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022 67


dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

a Semana de Arte Moderna e a irrupção – são lugares de sacralização da nação e


do movimento tenentista –, cujo lugar na de identificação do nacional (Anderson,
memória e na historiografia nacionais foi 1979; Hobsbawm, 1991; Oliveira, 1990;
cuidadosamente construído ao longo do Skidmore, 1976; Carvalho, 1990).
tempo, verifica-se agora a introdução de Uma vasta documentação, especialmente
objetos antes relegados a segundo plano. representada por jornais, revistas, livros,
Refiro-me, por exemplo, à tensa sucessão congressos e palestras, indica efetivamente
presidencial de 1922, ou à organização de que a comemoração do Centenário mobili-
um centro do pensamento católico, como zou a intelectualidade dos dois principais
o Centro Dom Vital, ou ainda a propostas centros urbanos do país, Rio de Janeiro e
de reformas educacionais. São Paulo. Ao forçar a busca das origens
Em relação especificamente ao Cente- e a avaliação do papel das figuras histó-
nário da Independência, este costumava ricas, ao julgar o passado colonial e as
ser marcado pela suspeição que comemo- realizações republicanas, suscitou deba-
rações coletivas despertavam na comuni- tes sobre a formação e as perspectivas da
dade de historiadores. Tais celebrações, sociedade brasileira, recolocando de forma
que encarnariam o artificialismo e o eli- especialmente urgente o dilema da “tragi-
tismo da ideologia dominante, poderiam comédia nacional”. Parcelas dessa socie-
interessar, se tanto, à dita história oficial. dade, através de seus intelectuais, políti-
O estudo de Mona Ozouf sobre as festas cos e líderes, se viram diante do desafio
da Revolução Francesa pode ser conside- de responder: afinal, depois de cem anos,
rado um importante passo para a quebra que país era aquele? Foram então formu-
de tais preconceitos (Ozouf, 1976). Des- ladas novas interpretações e renovadas as
tacando o caráter institucional do evento anteriores. Umas e outras voltadas para o
comemorativo pela massa de relatórios, entendimento do presente, porém obriga-
discursos, projetos e propostas que lhe das a voltar ao passado – buscando “as
foram dedicados, a historiadora francesa origens aqui e ali” – e a projetar o futuro,
enfatiza sobretudo o aspecto pedagógico criando um país à altura do século XX.
da comemoração, chamada a se tornar a Em desacordo sobre os reais motivos
“professora da nação”. É, pois, no âmbito do descompasso do país com a moderni-
de uma corrente historiográfica preocupada dade, divergindo em torno dos caminhos
com o delicado processo de construção que a ela deveriam conduzir, a intelectu-
das nações que se desenvolveram estudos alidade brasileira convergia, no entanto,
sobre a constituição do universo nacional, na compreensão de que o Centenário seria
ou seja, símbolos, práticas, comportamen- o momento-chave em que tais questões
tos e valores que, ao definirem o que é deveriam ser discutidas. O grande desa-
comum a um grupo e o que o diferencia fio era, sem dúvida, romper com o pas-
de outros, tornam-se elementos básicos sado recente, encarnado, por um lado, em
da identidade nacional. “Datas magnas” – uma belle époque falida após a Primeira
como o 4 de julho nos EUA, o 14 de julho Guerra Mundial e, por outro, em uma
na França, ou o 7 de setembro no Brasil República que se revelou bem distante

68 Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022


dos sonhos dos primeiros republicanos. sindicatos e pela formação de uma ativa
Ou seja, de qualquer maneira era pre- liderança que “guiasse as massas”, apro-
ciso buscar novos parâmetros para definir ximava direita e esquerda, conquanto seus
uma nação moderna, já que o modelo objetivos finais fossem distintos. Desse
até então consagrado parecia esgotado. modo, o anti-intelectualismo, o antilibe-
Como veremos, essa preocupação estaria ralismo e o nacionalismo foram compo-
presente nas obras de Oliveira Vianna, nentes que alimentaram o chamado pen-
Licínio Cardoso, Manoel Bomfim, Mon- samento tradicionalista, mas que foram
teiro Lobato, Mário de Andrade, Alberto igualmente levantados pelas correntes de
Torres, entre outros. vanguarda para demolir o que chamavam
Marcada pela missão de “fecundar de “passadismo”. Abastecidas nas mesmas
idéias singulares” – “basta de fecunda- fontes, tradição e vanguarda reivindica-
ção artificial”, bradou Ronald de Car- ram para si o monopólio de portadoras
valho (Cardoso, 1924, p. 221) –, nem da modernidade pós-guerra.
por isso a “geração de 22” se furtou a Do mesmo modo, a intelectualidade
buscar a modernidade através de uma brasileira comprometida com a constru-
integração crítica e seletiva das ideias ção de um país moderno oscilou entre a
que então circulavam na Europa, e que vanguarda e a tradição. É marcante a
revelariam o desmoronar de valores – o diferença entre essas duas elites intelectu-
liberalismo, o racionalismo, o otimismo ais: a primeira, ligada às ideias vanguar-
cientificista – que até então haviam sus- distas europeias, propunha a ruptura com
tentado a belle époque. O desencanto com os valores ditos clássicos, e buscava sin-
os princípios racionais acentuou o papel tonizar a realidade nacional com o ritmo
do inconsciente, crescendo o interesse veloz e febril do novo mundo urbano e
pelas filosofias que pregavam o predo- industrial; a outra, igualmente filiada a
mínio dos sentimentos e emoções e ape- correntes internacionais, porém de cará-
lavam para a imaginação. Ir ao fundo ter conservador, se distinguia pelo apelo
de nós mesmos significava, dentro dessa aos valores da natureza e do campo, pelo
perspectiva, buscar as raízes, as forças repúdio ao industrialismo e à modalidade
primitivas e mitológicas que fundavam o da vida urbana, litoralista, cosmopolita e
nosso ser. Era fundamental fazer emer- liberal. Ambas se uniam pela oposição às
gir o “verdadeiro espírito nacional”, pretensões da razão universal derrotada
relegado a segundo plano pelo encanto na guerra e advogavam a originalidade de
que a mágica cosmopolita prometera em cada nação. É claro que, como em todas
grandiosas exposições universais. Em ter- as classificações excessivamente simples,
mos políticos, a decadência espreitaria o a dicotomia por vezes torna-se artificial,
Estado liberal construído pela “burguesia uma verdadeira camisa de força. Porém,
conquistadora” ao longo do século XIX. como todas as distinções encerram algum
A rejeição à “velha” política liberal de grau de verdade, a oposição tradiciona-
eleições e cadeiras no Parlamento, substi- lismo x vanguarda oferece um ponto de
tuída pela organização do proletariado em partida para a reflexão. Assim, não temos

Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022 69


dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

dúvida sobre a diferença entre Oliveira Marcada pelo retomar do pensamento


Vianna e Mário de Andrade. romântico, a corrente tradicionalista ten-
deu a privilegiar o espaço. A ideia da
O BRASIL ESTÁ NO INTERIOR: espacialização e da geografização do
Brasil como referenciais para exprimir
OS AMANTES DA TRADIÇÃO
a brasilidade foi desenvolvida pelo grupo
Verde-Amarelo, em especial por Plínio
“É preciso frisar que o Brasil está no inte- Salgado, cujos artigos escritos para o
rior [...], nos sertões onde o sertanejo vestido jornal Correio Paulistano foram poste-
de couro vaqueja [...] sem um escrúpulo de riormente reunidos no livro Geografia
francesismo a lhe aleijar a alma [...]. Romper sentimental. O espacial seria o elemento
com as ideias importadas significava dei- definidor do Brasil e garantidor de sua
xar de ser caranguejo a arranhar o litoral” originalidade no quadro internacional, e
(Monteiro Lobato). a geografia, por isso mesmo, o instru-
mento mais adequado para uma refle-
Elaborada em grande parte no âmbito xão sobre a nacionalidade brasileira. O
da Action Française, movimento naciona- mapa do Brasil devia se tornar objeto
lista francês fundado em 1889, a corrente de culto cívico, pois a contemplação dos
tradicionalista, como foi dito antes, pregava acidentes geográficos gerava o sentido
que, ao se afastar do mundo natural por profundo da unidade da pátria. Quem
meio da artificialidade do maquinismo e não se lembra do primeiro contato com
do meio urbano, o homem teria perdido o o Brasil, “fazendo rios com tinta azul e
contato com o que se considerava “reais montanhas com lápis marrom, traçando
virtudes da civilização”. A adesão aos valo- fronteiras com tinta vermelha...”?, con-
res “sólidos” da tradição rural, a filiação cluía Plínio Salgado (Velloso, 1987, s/p).
às correntes que pregavam um retorno à Afinal, se a avaliação dos cem anos de
natureza, a valorização da atividade agrária história parecia nos condenar, a geografia
frente à “ameaça industrialista” atraíam poderia nos redimir.
tanto os intelectuais da Reação Católica, De maneira enfática, os tradicionalistas
como Jackson de Figueiredo e Tristão de pregavam que, para enfrentar esse mundo
Ataíde, como os verde-amarelos, Plínio do pós-guerra que parecia se desmanchar
Salgado e Cassiano Ricardo à frente, ou no ar, o homem moderno precisava de
ainda Oliveira Vianna e Monteiro Lobato, raízes ancoradas na tradição nacional,
membros de uma elite agrária em crise. no “seio de um mundo harmonioso”, cal-
Apesar das diferenças entre eles, havia cado na ordem e na coesão social. Consi-
uma crença comum de que a identidade derado por parte da historiografia como
nacional teria que ser buscada longe dos apenas uma “manifestação ideológica dos
centros urbanos litorâneos corrompidos setores agrários conservadores” frente ao
pelo “vício da imitação”. Romper com as crescente espaço ocupado pelos interes-
ideias importadas significava deixar de ser ses industriais no panorama econômico
caranguejo a arranhar o litoral. e político, o chamado pensamento agra-

70 Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022


rista ou ruralista expunha um projeto de opção de enfrentamento da modernidade
identidade nacional, cuja matriz se inse- radicalmente oposta à dos tradicionalis-
riu no quadro de modelos interpretativos tas. O Manifesto futurista, de Marinetti
da nação brasileira (Gomes, 1980). Não (1909), marcado pela apologia da “destrui-
resta dúvida de que tal projeto se ligou ção dos museus, das bibliotecas, das aca-
à certeza amplamente difundida de que demias” e pelo elogio das “grandes mas-
a República litoralista e cosmopolita, nos sas agitadas pela sublevação”, indicava o
moldes do “afrancesado” Rio de Janeiro, a desejo, marcante na vanguarda europeia,
capital federal, não trouxera – nem traria de igualmente exaltar a vida moderna: só
– o tão esperado “progresso que sintoni- que não na natureza ou no sertão, e sim
zaria o país ao século XX”. no maquinismo e no universo urbano. Para
Seguindo essa linha de análise, pode- um expressivo grupo de intelectuais brasi-
-se concluir que a adesão a uma cultura leiros, especialmente aqueles que dentro do
artificial importada acriticamente teria Modernismo admiravam os cânones van-
impedido a intelectualidade de pensar a guardistas – Mário de Andrade, Oswald de
“nação real”. Preocupado com a tradução Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do
do especificamente nacional, buscando Amaral, Anita Malfatti, Villa-Lobos, para
a linguagem autêntica e autônoma que citar os principais –, era difícil acreditar
transcendesse a mera cópia de um ecle- que o Brasil estava representado em O cai-
tismo afrancesado, Monteiro Lobato, por pira picando fumo. Modernidade residia,
exemplo, reagiu violentamente à exposição sim, no cubismo, no impressionismo e tutti
de Anita Malfatti, em dezembro de 1917: quanti, em uma referência irônica a Mon-
“Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, teiro Lobato, que havia criticado duramente
impressionismo e tutti quanti não pas- a exposição de Anita Malfatti, em 1917.
sam de arte caricatural” (Monteiro Lobato Apesar de representar uma dentre as
apud Brito, 1971, pp. 53-4). Moderno seria diversas correntes intelectuais que busca-
o naturalismo, bem representado pelas vam a modernidade, a vanguarda conse-
obras de Almeida Junior, como O caipira guiu uma grande vitória ao se apossar dos
picando fumo, arte brasileira, sem dúvida. termos Modernismo para o seu movimento
e modernistas para os seus membros. A
“FUJAMOS DA NATUREZA” – oposição ao que chamavam de “passa-
dismo”, a busca de sintonia com as van-
OS AMANTES DA VANGUARDA
guardas europeias, a adesão ao dinamismo
da vida urbana e a seus novos valores
“Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, revelavam o desejo de “salvar a nação
reivindicações obreiras, motores, chaminés e inventar o mundo”, conforme Mário
de fábricas, sangue, velocidade” (Menotti de Andrade (1967). Foi a descoberta do
Del Picchia). poeta belga Verhaeren que o levou, ins-
pirado em Villes tentaculaires, a fazer
“Fujamos da natureza”, essa era a palavra um livro de poesias em verso livre sobre
de ordem da vanguarda, ao marcar uma São Paulo, Pauliceia desvairada. Del Pic-

Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022 71


dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

chia foi explícito: nesse novo cenário, não fazer frente à celebração do Centenário
haveria lugar para a “consciência ‘peri’, da Independência foi o da desqualifica-
a arte ‘peri’ [...] símbolos da superstição ção do Rio de Janeiro como “cabeça da
pelo passado, que não pode(ria) continuar nação” e sua substituição por São Paulo,
na era do automóvel e do aeroplano”. A lócus de produção de uma nova identidade
incorporação do país centenário à ordem nacional. Litoralista, desligada dos valo-
moderna, compreendida como urbana e res autenticamente nacionais, passadista,
industrial, precisava se afastar do “nacio- dependente do Estado, a capital federal
nalismo carro-de-boi, com Jeca, canto de estaria associada a uma República taxada
cambaxirra e regato sussurrante...” (Del como falida e corrupta. Já São Paulo seria
Picchia apud Motta, 1992, p. 39). As refe- o resultado de uma perfeita simbiose das
rências ao romantismo “peri” de José de qualidades da vida rural com as do pro-
Alencar e ao naturalismo do “Jeca” de gresso urbano, solução para conjugar a
Lobato eram claras. De Mário de Andrade vitória do industrialismo com os valores
partiu o brado “fujamos da natureza”, a “profundos e autênticos” da nação. No
alertar que não seria nas matas ou no ser- entanto, o sucesso desse empreendimento
tão que se encontraria o tipo representa- dependeria da elaboração de uma argu-
tivo da nacionalidade. O Parnasianismo, mentação sólida e abrangente, de caráter
taxado de ultrapassado por aprisionar a político, econômico, social e, sobretudo,
linguagem nos cânones rígidos da métrica cultural, capaz de garantir a São Paulo o
e da rima, era o alvo a ser atingido, liber- lugar privilegiado de formador do “espí-
tando a palavra das amarras estéticas e dei- rito nacional”. Que momento seria mais
xando que ela circulasse em um universo adequado para lançar esse projeto ambi-
de formas novas produzidas pela realidade cioso do que o da comemoração do Cen-
urbano-industrial, pontuada pela presença tenário da Independência?
do imigrante: “É o milagre do idioma e o Sendo assim, seria no terreno fluido
contágio das tradições nacionais de que se da memória do passado onde se trava-
impregnam as levas estrangeiras que aqui riam os mais duros combates em favor
aportam, que abrasileiram a nova raça” da “metrópole bandeirante”, justamente
(Del Picchia apud Motta, 1992, p. 40). quando, por força da celebração do cen-
tenário da nação, buscava-se uma nova
TRADIÇÃO E VANGUARDA, matriz capaz de conciliar os valores da
modernidade dos “arranha-céus, for-
TEU NOME É SÃO PAULO
des, viadutos” com os da brasilidade do
“cheiro do café”. Em artigo publicado
“Arranha-céus/Fordes/Viadutos/Um cheiro no Correio Paulistano de 8 de setembro
de café/No silêncio emoldurado” (Oswald de 1922, Júlio Prestes, futuro presidente
de Andrade). do estado de São Paulo, apresentava as
razões pelas quais a capital paulistana
Um dos movimentos que resultaram teria sido o centro das comemorações do
dessa busca de um Brasil moderno para Centenário da Independência:

72 Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022


“[...] por ela se fez a primeira conquista a capital federal – tradicional vitrine da
[...]; por ela penetrou na América a civi- nação –, onde se realizaria a “Exposição
lização latina [...]; por ela, os patriarcas Universal do Centenário da Independên-
da nossa emancipação política conduziram cia” (Motta, 1992, cap. 3). São Paulo, no
dom Pedro I ao grito de ‘Independência entanto, não ficaria para trás, e, como
ou morte’; por ela, a escravidão voltou revelou Mário de Andrade, a cidade “se
à liberdade; por ela, galvanizou o Brasil agitava com a aproximação do Centená-
com os clarões de sua fé republicana [...]” rio” (Andrade apud Amaral, 1979, p. 65).
(Júlio Prestes apud Motta, 1992, p. 106). Essa “agitação” refletia a compreensão de
que este seria um momento-chave para a
É fácil perceber que a construção dessa afirmação da capital paulista diante da
memória se assentou na confluência de “outra”, o Rio de Janeiro. Sugestivamente
elementos da geografia e da história, com- intitulado “A bandeira futurista”, o artigo
binados de uma maneira especial para de Del Picchia narrando a viagem de Mário
firmar a crença de que São Paulo era e Oswald de Andrade ao Rio de Janeiro
o “berço da nação”. Seguindo o roteiro é um primor para ilustrar que “a provín-
traçado por Júlio Prestes, a cidade bandei- cia se adiantara à metrópole”: “Os ‘ban-
rante foi apresentada como centro irradia- deirantes’ de hoje [...] seguem rumo da
dor da “primeira conquista” do território capital federal [...] para arrostar o perigo
da colônia (Vila de São Vicente) e eixo do parnasianismo ainda vitorioso na terra
de penetração da “civilização latina” no do defunto Estácio de Sá” (Del Picchia
interior (as bandeiras). Afastados do litoral apud Motta, 1992, p. 92, grifos nossos).
pela barreira da Serra do Mar, atraídos Não por acaso, a construção de um
pelos rios que corriam para o “sertão”, monumento dedicado aos bandeirantes foi
os bandeirantes de Piratininga, longe dos sugerida pelo então presidente do estado
olhos da Coroa, puderam desenvolver, de São Paulo, Washington Luís, para o
graças a essas peculiares circunstâncias que constituiu uma comissão composta
geográficas, um éthos próprio baseado em de Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia
valores como “amor ao trabalho, à ordem, e Oswald de Andrade. Garantia de pere-
à disciplina, à determinação, à ação e ao nidade, promessa de eternidade, o monu-
pragmatismo”. Importante seria atualizar mento histórico trabalha pela continuidade
a imagem do bandeirante – “pioneiro, des- de uma representação da história, bem
bravador e empreendedor” –, restaurando como define uma ordem simbólica do pas-
uma linha de continuidade entre passado, sado (Le Goff, 1990). Não foi diferente
presente e futuro. Herdeira desses valo- com o Monumento às Bandeiras. O escul-
res, a elite paulista estaria, mais do que tor Victor Brecheret, bastante admirado
qualquer outra, apta a guiar o país em pela vanguarda paulista, foi encarregado
busca de novos rumos que o conduzissem de apresentar um projeto. No memorial
ao mundo moderno. que acompanhou a maquete, bem como
Era sabido, no entanto, que o principal nos elogios que a ela foram dedicados, é
centro dos eventos comemorativos seria possível perceber que a força simbólica

Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022 73


dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

do monumento residia em dois aspectos: contribuiu para seu ingresso no panteão dos
forjava a imagem dos “bravos paulistas “pais da pátria”, é certo que a defesa que
como a expressão máxima do heroísmo fez da ordem e da centralização como ele-
e da glória da raça brasileira” e, acima mentos básicos da jovem nação, na direção
de tudo, reiterava o caráter da “arte pau- oposta ao “idealismo liberal” que acabara
lista”, a qual, ao conjugar brasilidade e vingando na Constituição republicana de
modernidade, se distanciava da “velharia 1891, agradava àqueles que, nos anos 1920,
e do arcaísmo que costumavam enfeitar foram responsáveis pela formação de um
os salões da capital federal”, aproveitou pensamento autoritário no país 4.
Del Picchia (apud Motta, 1992, p. 105) Mas os “moços de São Paulo” queriam
para espetar os cariocas. mais, muito mais, para este Centenário de
Os bandeirantes eram apenas um dos 22. Desde 1920, Tarsila, Mário, Menotti,
trunfos que São Paulo possuía para se Oswald, entre outros, pretendiam trans-
situar favoravelmente na disputa pela formar essa celebração em algo que fosse
memória da nação centenária. Desde a “expressão do Brasil inteligente”, em
1912, já estavam assegurados os recur- marco inaugural da hegemonia cultural
sos necessários à execução do Monumento de São Paulo. O desafio à supremacia
do Ipiranga, destinado a fixar no bronze até então irrefutável do Rio de Janeiro –
a lembrança do lugar onde o príncipe d. ironicamente chamada de Camelote, em
Pedro havia proferido o grito libertador, referência à corte do rei Arthur – seria
e outorgado ao país a sua maioridade o elo que uniria variadas vertentes do
política. Inaugurado em 7 de setembro, Modernismo paulista na montagem do
ainda que inacabado, o monumento teria evento conhecido como Semana de Arte
cumprido a sua missão, qual seja, a de Moderna, realizado no Theatro Municipal
recuperar a “verdade histórica”, colocando entre 13 e 17 de fevereiro de 1922. Coube
São Paulo no palco principal dos eventos a Mário de Andrade definir a “contri-
comemorativos de 1922. Afinal, para os buição” que São Paulo ofereceria a uma
paulistas a data tinha o duplo caráter de nação centenária que buscava se inserir
uma celebração local e nacional. na modernidade do pós-guerra:
Por meio dos fios da continuidade, São
Paulo tecia a sua tradição (Hobsbawn & “A hegemonia artística da corte não existe
Ranger, 1984). Inventou as bandeiras des- mais [...]. Quem primeiro manifestou a
bravadoras do território nacional, e os ban- desejo de construir sobre novas bases a
deirantes empreendedores e disciplinados,
elevando-os à condição de eventos e per-
sonagens fundadores da história nacional.
4 Sobre José Bonifácio como “patriarca da Indepen-
Transformou o Riacho do Ipiranga em solo dência”, ver: Motta (2011). Esse texto foi apresentado
sagrado da pátria livre, e José Bonifácio no no Colóquio Internacional “A experiência da Primeira
República: Portugal e Brasil”, organizado pelo CEIS-
“patriarca da Independência”: nascido em 20, da Universidade de Coimbra, e pelo CPDOC-FGV,
realizado na Faculdade de Letras da Universidade de
Santos, foi elevado à condição de “mentor” Coimbra e no Arquivo Distrital de Leiria, entre 5 e 7 de
do 7 de setembro. Se o fato de ser paulista maio de 2010.

74 Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022


pintura? São Paulo com Anita Malfatti. pretações que os pensadores de 22 deram
Quem apresenta ao mundo o maior e mais para o Brasil inauguraram novos estilos de
moderno escultor da América do Sul? São pensar o país, sua história, seus dilemas
Paulo com Brecheret. Onde primeiro a do presente e suas perspectivas do futuro.
poesia se tornou veículo da sensibilidade Institucionalizadas, tais ideias se tornaram
moderna livre da grisalhada da rima e referências constantes em programas de
das correias da métrica? Em São Paulo” governo. Formaram discípulos, seguidores e
(Andrade apud Motta, 1992, p. 108). dissidentes, e, principalmente, tornaram-se
marcos obrigatórios de reflexão e ação para
Com a Pauliceia desvairada, de Mário aqueles que insistiram e ainda insistem em
de Andrade, completo eu. “desvendar” a questão nacional.
Publiquei minha dissertação de mes-
*** trado no distante ano de 1992, quando se
comemorava os 170 anos do 7 de setembro,
Diante do desafio de comemorar o Cen- e me lembro de pensar, então, o que seria
tenário da Independência, a geração inte- do “amanhã” do Brasil, ou seja, que ques-
lectual de 1922 produziu novas e variadas tões estariam na mesa em 2022. Saídos
explicações do Brasil marcadas pelo desa- de uma ditadura havia poucos anos, tendo
fio de compreender o país, de repensá-lo eleito por voto direto um presidente da
e, principalmente, de salvá-lo. A própria República (1989) prestes a ser afastado por
dinâmica da celebração – o balanço obriga- um processo de impeachment, lutávamos
tório dos feitos do passado, a avaliação do pela consolidação do regime democrático
presente de realizações frustradas, a pers- tão duramente conquistado. Seduzida pelas
pectiva de um futuro incerto – estimulava a inquietações da geração de 1922 em relação
produção acelerada de significações do que a um país sempre às voltas com o desa-
fora essa nação, do que era àquela altura e lento diante da “tragicomédia nacional”
do que deveria ser no futuro. Essa produção e a catástrofe iminente, nunca imaginei
resultou na configuração de um imaginário que agora, às vésperas do Bicentenário,
nacional – firmado na invenção de novas estivéssemos, talvez mais do que nunca,
tradições e na construção de novos marcos em busca de respostas para a pergunta que
simbólicos – que teve uma permanência insiste em não se calar: afinal, que país
marcante na mentalidade coletiva. As inter- é este? Responda quem puder...

Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022 75


dossiê bicentenário da independência: cultura e sociedade

REFERÊNCIAS

ANDERSON, B. Nação e consciência nacional. Rio de Janeiro, Ática, 1979.


ANDRADE, M. de. “O movimento modernista”, in Aspectos da literatura brasileira.
São Paulo, Martins, 1967.
BRITO, M. da S. História do Modernismo brasileiro: antecedentes da Semana de Arte
Moderna. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.
CARVALHO, J. M. de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo,
Companhia das Letras, 1990.
CARVALHO, R. de. “Bases da nacionalidade brasileira”, in V. L. Cardoso (org.). À margem da
história da República. Rio de Janeiro, Edição do Annuario do Brasil, 1924.
GOMES, E. R. Campo contra cidade – a reação ruralista à crise oligárquica no pensamento
político-social brasileiro (1910-1935). Rio de Janeiro, Iuperj, 1980.
HOBSBAWN, E. Nações e nacionalismo desde 1780. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991.
HOBSBAWN, E. “Introdução: a invenção das tradições”, in E. Hobsbawn; T. Ranger (orgs.).
A invenção das tradições. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984.
LE GOFF, J. História e memória. Campinas, Editora da Unicamp, 1990.
MORAES, E. J. A brasilidade modernista. Rio de Janeiro, Graal, 1978.
MOTTA, M. S. da. A nação faz anos: a questão nacional no Centenário da Independência.
Rio de Janeiro, Editora FGV, 1992.
MOTTA, M. “1922, o Brasil faz cem anos: a herança portuguesa em questão”, in A.
Mourão; A. de C. Gomes (orgs.). A experiência da Primeira República no Brasil e em
Portugal. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2011, pp. 233-50.
NORA, P. (org.). Les lieux de mémoire (vol. I, La République). Paris, Gallimard, 1984.
OLIVEIRA, L. L. A questão nacional na Primeira República. São Paulo, Brasiliense, 1990.
OZOUF, M. La fête révolutionnaire; 1789-1799. Paris, Gallimard, 1976.
VELLOSO, M. P. A brasilidade verde-amarela; nacionalismo e regionalismo paulista.
Rio de Janeiro, CPDOC-FGV, 1987.

76 Revista USP • São Paulo • n. 133 • p. 63-76 • abril/maio/junho 2022

Você também pode gostar