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TERRITORIAL DO
ORÇAMENTO PÚBLICO:
orientações para regionalização
do gasto nas cidades brasileiras
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Apresentação
O quadro de persistência das desigualdades no
país e seus reflexos sobre as cidades brasileiras
tem estimulado a busca pela reflexão e pela
ação para uma distribuição mais justa dos
recursos e riquezas produzidos pela sociedade.
Em especial, a ação do Estado ganha relevância
pelo seu papel de arrecadar recursos e produzir
políticas públicas. Nesse campo, destaca-se
a atenção sobre os orçamentos públicos, que,
nas suas funções alocativa e distributiva,
podem produzir resultados diametralmente
opostos seja no sentido de mitigar as injustiças
sociais, seja no sentido de aprofundar uma
sociedade já historicamente desigual.
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REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
Por isso, a busca pela produção de informações de para a mobilização de organizações da sociedade civil
qualidade sobre o orçamento público emerge como e do poder público municipal para avançar na busca
uma agenda fundamental. Ela dá condições para por informação de qualidade sobre o gasto público
que, com mais transparência e com melhores dados, no território. Como resultado, a regionalização do
o conjunto da sociedade possa debater, monitorar e gasto público entrou como um dos eixos prioritários
avaliar o esforço dos governos em aplicar os recursos dos compromissos da Prefeitura de São Paulo de
públicos para assegurar condições de vida dignas para governo aberto, no seu segundo plano de ação
toda a população. É nessa direção, portanto, que a (2019-2020). Ao mesmo tempo, e por ocasião da
identificação sobre onde as administrações públicas apresentação do Projeto de Lei Orçamentária para
locais estão alocando os recursos públicos, o que 2019, a administração pública municipal apresentou
chamamos aqui de dimensão territorial do gasto, se uma nova classificação das dotações orçamentárias
constitui como uma medida objetiva do compromisso que permite avançar na identificação territorial do
dos governos urbanos com a redução das desigualdades orçamento (Secretaria Municipal da Fazenda, 2019).
socioespaciais. E, ao entendermos que o orçamento
público é um espaço em disputa, regionalizar o Da mesma forma, o tema despertou o interesse de
orçamento significa construir um instrumento para que organizações em outros municípios do país, dada a
governos e organizações da sociedade civil possam importância de espacializar os gastos como instrumento
incidir para a redução das desigualdades urbanas. de planejamento, controle social e de mobilização
para a redução das desigualdades nas cidades
Nesse sentido, e na busca do fortalecimento do brasileiras. Assim, somado à crescente demanda
orçamento público como instrumento de redistribuição de territorialização das políticas públicas (isto é, de
de riqueza, foi lançado, em agosto de 2018, o estudo considerar as dinâmicas locais na sua formulação,
“Gasto Público no Território e o Território do Gasto avaliação e implementação), o vínculo entre orçamento
nas Políticas Públicas”. Seu objetivo era identificar os e território passou a ser cada vez mais valorizado.
caminhos para saber onde os diferentes governos da
cidade de São Paulo estavam alocando os recursos No entanto, a articulação entre planejamento
públicos e, dessa forma, construir uma medida do urbano e instrumentos orçamentários ainda parece
compromisso dos governos urbanos com a redução distante. A mobilização para a regionalização
das desigualdades socioespaciais. A pesquisa do orçamento nas cidades brasileiras, por isso,
constatou, entre outros achados, que uma parcela parece apontar para um caminho profícuo. Dessa
muito diminuta gasta pelo Executivo municipal forma, o potencial para aplicação em outras
em São Paulo estava associada a suas estruturas cidades poderá ser explorado, de forma que exige
administrativo-territoriais, o que permitiria analisar um esforço continuado para que se atendam às
o perfil intraurbano do esforço orçamentário. demandas de planejamento e controle social.
Na medida em que a ausência dessa informação Com efeito, baseado na experiência desenvolvida na
compromete o planejamento governamental, a cidade de São Paulo, este guia tem como objetivo
descentralização do processo decisório e o controle instrumentalizar os interessados no tema para a
social sobre os recursos públicos, o estudo contribuiu coleta e análise de dados do orçamento público na sua
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Desigualdades,
cidades e medidas
do esforço
redistributivo
Reflexo das condições pelas quais se deu o processo
de modernização, industrialização e urbanização
no país, as cidades brasileiras mostram um quadro
crônico nas suas desigualdades. Por um lado,
expressam uma enorme concentração na produção
de riqueza. Por outro lado, apresentam condições
extremamente precárias não apenas em termos de
insuficiência de renda para fazer frente aos altos
custos de vida, mas também no acesso a insumos
elementares da urbanização, refletidas na falta de
acesso à moradia digna, incluindo saneamento
básico e transportes (Nadalin, Matlon, Krause &
Lima Neto, 2013). E um agravante: embora o quadro
de desigualdades urbanas tenha se configurado ao
longo do processo de formação territorial do Brasil
(Maricato, 1996), as condições de precariedade
não se alteraram estruturalmente nem no ciclo de
crescimento e inclusão recente (Rolnik & Klink, 2011).
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REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
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Regionalização
e governança
urbana
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planejamento territorial orçamento federal” (art. 4º, inciso IV). Mais explícito é o
Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001): “O plano diretor é
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Principais
conceitos sobre
a regionalização
do orçamento
A regionalização do orçamento, do ponto de
vista mais geral, pode ser vista como algo
muito simples: trata-se de vincular uma
base de dados sobre ações orçamentárias a
determinadas localizações no espaço urbano.
É isso que nos permite calcular o quanto
cada parcela da cidade contribui e o quanto
recebe do fundo público. Nesse percurso, no
entanto, uma série de decisões precisam ser
tomadas: qual campo ou atributo comum devo
utilizar para relacionar ambos? A qual etapa
do orçamento eu devo me deter para fazer
a leitura dos dados? Será que o benefício do
gasto coincide com o território do gasto?
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REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
Para isso, no caso brasileiro, o orçamento público é Natureza A natureza econômica, que inclui, na realidade,
regido e organizado pela própria Constituição Federal, toda a codificação decimal, mas que é predominantemente
bem como por uma série de leis, decretos e portarias. De definida pela categoria econômica das receitas, que são:
forma mais abrangente, podemos dizer que, para exercer (i) receitas correntes, definidas por serem arrecadadas
essas funções, o orçamento público está inserido em um dentro do exercício financeiro, com efeitos positivos sobre
sistema, o Sistema de Planejamento e Orçamento: o patrimônio líquido, e a disponibilidade financeira do
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(III) LIQUIDAÇÃO
Planejamento Configura o direito de receber por um
determinado serviço realizado e medido.
1 Nessa etapa, uma unidade central da estrutura
administrativa, responsável pela formulação da
peça orçamentária, recolhe as solicitações de
recursos previstos pelas unidades orçamentárias
para o ano seguinte. Ao mesmo tempo, as coteja
com outros instrumentos de planejamento, para
verificar os compromissos programáticos (PPA) Além disso, há a redistribuição dos recursos no tempo entre
e para respeitar as estimativas de arrecadação diferentes órgãos da administração pública. Ela será usada como
e as metas fiscais para o ano seguinte (LDO). base para as suas cotas orçamentárias e financeiras: parcelas
do valor total distribuídas por unidade, por fonte e por mês.
O marco de encerramento dessa etapa é o envio Ao mesmo tempo, estarão sujeitas a processos de adequação
do Projeto de Lei Orçamentária. Do ponto de vista da orçamentária, pela qual é admitido redistribuir valores entre
despesa, essa etapa é marcada pela sua fixação e, do
ações previstas no orçamento: (i) entre outras partes das
ponto de vista da receita, pela previsão da receita.
dotações; (ii) entre fontes de execução de uma determinada
despesa; (iii) alterando a dotação inicial por meio de créditos
adicionais (suplementares, especiais ou extraordinários),
sempre que atingirem as condições previstas em lei.
Aprovação
A aprovação do orçamento pode ser vista como
2 uma parte da etapa de planejamento, mas
possui uma natureza especial por envolver a A regulação dos mecanismos de transparência
interação com o Legislativo. Ele faz a análise A transparência é um dos princípios norteadores do orçamento
técnica, no âmbito das comissões legislativas, público. Ela está diretamente vinculada à capacidade de
e, no plenário, vota e aprova emendas. O marco a sociedade exercer controle na forma pela qual o Estado
de encerramento dessa etapa é o orçamento arrecada recursos das famílias e do setor privado e os
aprovado, publicado após a sanção do prefeito. utiliza para prover, em troca, bens e serviços públicos.
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Trata-se de um processo que contém, por um lado, elementos 3.1.2 Implicações para a
mínimos legais segundo os quais um conjunto de informações regionalização do orçamento
básicas e detalhadas deve ser provido ao cidadão por meios Até aqui, lidamos com características gerais do orçamento público.
efetivos, incluindo os meios digitais. Por outro, ele expressa um Elas foram trazidas de forma muito sumária com a finalidade de
conjunto crescente de demandas da sociedade civil, em busca do situar o leitor com pouca familiaridade ao tema e, principalmente,
contínuo aprimoramento e qualificação das informações públicas. com o objetivo de chamar atenção para um conjunto de
A referência central para a transparência do fundo público, no consequências para o trabalho de regionalização do orçamento.
caso dos orçamentos públicos, está determinada nos artigos Tais implicações consistem, sobretudo, no objetivo de informar
48 e 49 da Lei Complementar 101/ 2000, conhecida como Lei um conjunto de decisões que entendemos ser importantes para o
de Responsabilidade Fiscal (LRF). Esses artigos estabelecem desenvolvimento dos trabalhos relativos à produção e análise de
que os instrumentos de transparência serão aplicados a todas dados que dão conta da dimensão territorial do orçamento público.
as peças que os compõem, além de assegurar mecanismos de
participação social nas suas definições e acompanhamentos. Em A consequência mais imediata consiste na necessidade de
relação aos meios pelos quais os governos dispõem para promover delimitação do escopo de trabalho. Isso porque o que chamamos
os processos de abertura de informações e provisão dos dados, até aqui, genericamente, de regionalização do orçamento precisa,
a LRF prevê a coleta e envio para órgão federal de três tipos de diante do universo situado, do estabelecimento de alguns recortes:
relatórios: (i) Relatório Resumido da Execução Orçamentária (I) em relação aos instrumentos;
(RREO), de periodicidade bimestral; (ii) Relatório de Gestão Fiscal (II) em relação ao impacto direto e indireto sobre o
(RGF), quadrimestral ou semestralmente; e (iii) Balanço Anual. território (e ao trabalho com receitas e despesas);
A LRF também impõe prazos e sanções. Sobre os prazos, os (III) em relação ao tempo; (iv) em relação à transparência.
municípios devem submeter o seu Relatório Anual até março
do ano seguinte ao exercício, e a Secretaria do Tesouro tem até No que se refere aos instrumentos, o primeiro aspecto que chama
60 dias para disponibilizá-lo ao público. Em relação às sanções atenção diz respeito ao fato de que PPA e LOA têm repercussão
para o caso de não cumprimento, incluem impedimentos territorial, já a LDO, pelas suas características, muito pouco. Isso
para receber transferências voluntárias (aquelas que não não significa que a LDO não tenha aspectos centrais para a cidade
são constitucionais) e contratar operações de crédito. ou para as políticas de redução das desigualdades, apenas que
não acrescenta ganhos em relação à compreensão da dimensão
espacial do fundo público. O PPA, por sua vez, pode e deve ser
regionalizado. Diferencia-se, entretanto, por apresentar essa temática
numa dimensão mais estratégica, envolvendo uma articulação entre
um determinado diagnóstico territorial e os diferentes objetivos
programáticos. Entretanto, esse tema envolve um conjunto de
capacidades estatais de planejamento que foge do escopo do
presente trabalho e por isso não será tratado ao longo deste guia.
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REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
componentes do orçamento público: receita e despesa. Em termos da sua definição no tempo, é preciso destacar as
Procuramos destacar até aqui que o orçamento público contém diferenças entre trabalhar o planejado, o empenhado e o executado.
receitas e despesas, e ambas têm repercussão territorial. Um A princípio, por envolver os mesmos conjuntos de dados, não é
olhar mais atento, entretanto, é necessário para refletir sobre preciso fazer uma escolha a priori. A atenção a ser dada envolve
o escopo do trabalho com a regionalização do orçamento. perceber, a cada momento , os objetivos da análise de cada um:
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Para além da dimensão analítica, atentar para a dimensão amigáveis que leituras desses dados, como é o caso do
temporal do orçamento é importante por dois motivos. Portal Meu Município1 ou do Índice Firjan de Gestão Fiscal2.
Primeiro, porque do ponto de vista das possibilidades de
ação, seja por parte do poder público, seja por parte da Entretanto, é preciso considerar que os requisitos de
sociedade civil, cada etapa do orçamento servirá para transparência não são ainda suficientes para assegurar
um determinado tipo de incidência. Segundo, porque a o tratamento adequado com a dimensão territorial do
relação entre as diferentes etapas do gasto nos permite orçamento. Isso porque essa tarefa exige um nível de
compreender o sentido do jogo orçamentário. Os momentos desagregação da informação suficiente para que se associe
do orçamento (apresentação dos projetos de lei, negociação cada ação a uma determinada unidade espacial, o que não
das emendas, congelamentos) são de arbitragem de está previsto na LRF. Portanto, em termos de transparência,
conflitos políticos. Para o Executivo, o jogo é sempre adiar e tratar da dimensão territorial do gasto exige uma atuação
diluir esses conflitos. No planejamento, o orçamento tende em duas direções a partir da Lei de Acesso à Informação.
a ser o mais generoso possível (mesmo que isso implique Do ponto de vista do cidadão ou das organizações
superestimar as receitas) para não ter que assumir, em envolvidas com o trabalho, é preciso utilizar largamente
um único momento, o conflito de diminuir o orçamento os pedidos de acesso à informação. Já do ponto de
de determinadas áreas. No Legislativo, os vereadores vista dos governos, o esforço para a regionalização dos
apresentam suas emendas, de modo a atender aos pleitos gastos implica atuar na chave da transparência ativa,
de suas bases eleitorais. O Executivo, novamente, tende entendendo que fornecer os dados regionalizados do
a acomodar as demandas para assegurar sua aprovação. orçamento público implica a possibilidade de ampliação
Somente ao longo do ano, com os congelamentos, significativa que o cidadão terá sobre o gasto público.
créditos adicionais, empenhos e liquidações, é que
aparecerão, de fato, os ganhadores e perdedores.
educação ou não e se estão dentro dos limites nos gastos 2 O índice FIRJAN de Gestão Fiscal também consolida os principais indicadores de
com pessoal ou não. É esse tipo de informação, inclusive, gestão fiscal dos municípios brasileiros, mas utiliza uma metodologia de construção
de indicadores sintéticos ou que permite uma análise comparativa mais direta entre as
que permite o desenvolvimento de ferramentas mais cidades brasileiras. Ver www.firjan.com.br
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e escalas de análise
posiciona um determinado fenômeno no espaço
geográfico de forma relacional, isto é, de forma
a permitir sua localização diante de outros
fenômenos. Isso é feito na medida em que a
Até aqui, abordamos características, uma determinada forma (ponto, linha ou área)
especificidades e propriedades do orçamento são atribuídas coordenadas geográficas;
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REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
para comparar diferentes tipos de gastos. Embora essa A regionalização pode ter, ainda, o objetivo de estabelecer
seja uma discussão bastante técnica, o importante a reter unidades territoriais para divulgação estatística e, assim,
é: sempre que uma ação orçamentária estiver na máxima “(...) oferecer elementos para a compreensão atualizada da
desagregação possível (por exemplo, o endereço de um realidade territorial do país, analisada, estrategicamente,
hospital a ser construído), ela poderá ser agregada a uma em sua diversidade regional” (IBGE, 2017; p. 10). Nesse
unidade espacial maior (um distrito, por exemplo). Porém, caso, a busca será por unidades homogêneas, cujos
o inverso não é verdadeiro. Portanto, a escolha da escala de resultados expostos pelas informações produzidas reflitam,
agregação dos dados e de análise será um debate decisivo para da melhor forma possível, a realidade das regiões.
o trabalho. É isso que exploraremos nas próximas seções.
Da mesma forma, a compartimentação dos territórios em
3.2.2 Regionalização e escalas de análise unidades espaciais nas cidades é precedida pela decisão
Os processos de trabalho descritos anteriormente, de de suas finalidades. Por exemplo, se tiver, ainda, como
espacialização, georreferenciamento e geocodificação dos dados objetivo compatibilizar as estratégias de regulação da
orçamentários, constituem, do ponto de vista técnico, o trabalho produção privada do espaço urbano com o planejamento
de regionalização do orçamento. Porém, diferentemente das intervenções públicas, então teremos uma combinação
daquilo que situamos como processo ou como técnica, a entre características ambientais, morfológicas e sociais
regionalização remete a um sentido (ou objetivo) do trabalho para definir esses compartimentos, o que, no Plano Diretor
a ser executado. Isso significa que qualquer regionalização Estratégico de São Paulo, recebe o nome de Macrozonas.
não está dada e deverá ser adequadamente justificada. Afinal, Em suma, se, no nosso caso, o objetivo principal
a divisão de uma determinada porção do espaço terrestre está associado a uma medida de esforço sobre a
em diferentes compartimentos pede a definição prévia de redução das desigualdades sociais e territoriais e se
critérios, necessariamente definidos com base nos objetivos os benefícios da regionalização estão relacionados à
estabelecidos, e constitui uma ferramenta essencial para a melhoria da gestão governamental, então ela deve:
territorialização das políticas públicas (Balbim & Contel, 2013).
Permitir que se atrelem os dados orçamentários
Assim, se, por exemplo, os objetivos forem de compreender às medidas de desigualdade e, portanto, ser
a interação entre o meio físico (substrato geológico ou compatível com agregações espaciais que nos
geomorfológico) e o meio biótico (espécies de fauna e flora), fornecem dados socioeconômicos da população;
então o território nacional poderá ser dividido em biomas
(IBGE & MMA, 2004). Se for, em vez disso, o de promover a Ter um grau de desagregação necessária para
convergência de padrões de qualidade de vida entre diferentes capturar a dimensão intraurbana da desigualdade;
áreas do território, cumprindo os direitos constitucionais de
“redução das desigualdades regionais”, então será buscado Estar harmonizada com níveis de agregação
algum padrão de formação histórica, relação produtiva ou dos dados relacionados às divisões territoriais
econômica. Também podem ser definidas com base em administrativas e identificáveis pela população.
relações funcionais, isto é, fluxos de pessoas, serviços ou
mercadorias, como é o caso da Região de Influência das Isso nos leva a um segundo objetivo – precisamente
Cidades (IBGE, Coordenação de Geografia, 2008). o de articular a regionalização com instâncias de
participação local, isto é, que permitam a identificação
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e a apropriação pelas pessoas. Esse objetivo, por sua vez, realmente são estratégicas poderá fazer toda a diferença. A
está associado a uma importante decisão inerente ao debate todo tempo será necessário tomar esse tipo de decisão: qual
sobre a regionalização, que é a questão da escala. o grau de generalização aceitamos para os nossos objetivos.
Afinal, o mapa na escala 1:1 só existe na própria realidade.
Em relação às escalas, devemos considerar que o conceito de
região pode variar consideravelmente. Ele pode ser aplicado na Tal reflexão a respeito das escalas e das escolhas do trabalho nos
escala global, sendo uma região o equivalente a um continente, leva a uma última consideração que diz respeito à capacidade que a
subcontinente ou agregação de países com algum tipo de elo unidade espacial definida tem de permitir uma leitura multiescalar.
identitário ou histórico. Assim, podemos falar em América Latina, Esta pressupõe o reconhecimento de que as determinantes
África Subsaariana ou Leste Europeu como regiões. No âmbito atuantes sobre certas porções do espaço geográfico respondem a
nacional, as regiões podem ser entendidas como agregações de dinâmicas em variadas escalas (Egler, Bessa & Gonçalves, 2013).
unidades da federação, compartimentos que possuam algum nível
de homogeneidade (ambiental, social, cultural ou histórica). No Isso significa que, se temos como objetivo entender dinâmicas
âmbito dos estados da federação, regiões podem representar uma intraurbanas, devemos, por exemplo, admitir que elas sofrem
distinção entre tipos e padrões de ocupação, metropolitana ou interferências metropolitanas, situadas em determinada
não metropolitana, por exemplo, ou até mesmo sua localização unidade da federação brasileira. Para isso, deve-se considerar
(litoral, capital x interior). No âmbito intraurbano, poderá refletir, que a unidade espacial de análise deverá estar harmonizada
entre outros aspectos, posição geográfica (leste, oeste, norte às regionalizações em outras escalas, o que será possível
e sul) ou relação histórica de poder (centro x periferia). sempre que tivermos como base as definições do IBGE. Elas
serão exploradas a seguir, junto com a proposta de definição
Essa consideração é importante na medida em que a heterogeneidade de unidade espacial de coleta e análise dos dados.
da própria administração pública e dos dados produzidos por ela
pede a flexibilidade necessária para o trabalho de regionalização do O quadro geográfico de referência para produção, análise
orçamento público. Isso porque algumas contratações de serviços, e disseminação de estatísticas (IBGE, 2019) apresenta as
por exemplo, poderão ter como unidades de medida – nos conceitos definições oficiais de regionalização do espaço brasileiro,
e nas definições – quantitativos definidos a partir de unidades permitindo que, ao mesmo tempo, se situe o uso de agregações
administrativas. Um contrato de manutenção de praças e canteiros especiais oficiais e, assim o fazendo, se definam unidades
poderá especificar uma dada quantidade de metros quadrados espaciais harmônicas com as demais definições do Instituto. Em
de “corte de grama”, distribuída igualmente segundo os distritos suma, elas permitem tanto a comparabilidade entre diferentes
administrativos da cidade de São Paulo. Se esse valor for medido cidades como a abordagem multiescalar. Ao que nos interessa,
(aceito) pelo fiscal do contrato, não será necessário saber exatamente importam as desagregações de pesquisa e coleta dos dados
quanto foi gasto em cada canteiro ou em cada praça para ter uma (setores censitários, áreas de ponderação, para divulgação
aproximação bastante razoável da regionalização do gasto. Mas dos resultados da amostra) e os distritos administrativos. Isso
seria importante ter esse dado desagregado pelas suas unidades porque utilizar essas áreas permite um denominador comum
espaciais mínimas, isto é, saber o quanto foi gasto em cada praça? entre dados orçamentários e dados socioeconômicos. Portanto,
as considerações feitas até aqui nos ajudam a definir, para os
Talvez sim, mas, quando estamos tratando da produção da propósitos deste guia, uma unidade espacial de referência
informação, saber fazer as escolhas que impliquem o dispêndio para a análise intraurbana: os distritos municipais.
realista de tempo e de recursos para dispor das informações que
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No caso das cidades, o sentido imediato dessa característica Os distritos nos permitem que se trabalhe adequadamente com
é dado pela denominação dos bairros. No entanto, a ausência, as desigualdades socioespaciais no município. Se entendemos
na maior parte dos municípios, de aplicação de critérios que as cidades brasileiras são segregadas, então convém que se
unificados e homogêneos e a falta de limites definidos trabalhe com algum grau de desagregação interna. Ao mesmo
impedem a sua utilização de forma disseminada. tempo, ainda que os distritos não sejam unidades imediatamente
relacionada à escala de vida do cidadão (que, nesse caso,
Os distritos são unidades de referência constantes no quadro seria o bairro), eles permitem uma medida aproximada com
geográfico de referência do IBGE e considerados como unidades esse objetivo. Isso porque a administração municipal poderá
internas aos municípios, com previsão legal dada pela Constituição desenvolver ações que apontem na direção de fomentar uma
Federal, complementada por leis estaduais e municipais. Isso porque maior identificação do cidadão com os seus distritos.
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Coletando os
dados e definindo
o percentual
regionalizado
O processo de identificação da dimensão
territorial dos gastos com base nos sistemas
existentes de gestão orçamentária é desafiador.
Sendo essa demanda relativamente nova no
âmbito da produção de estatísticas públicas
e indiretamente referenciada no marco legal,
como vimos na seção 2.2 do presente guia, é
ainda muito raro encontrar rotinas e processos
de trabalho próprios que permitam realizar esse
esforço de forma sistêmica e automatizada. Em
última análise, são os redesenhos dos fluxos
das atividades relacionadas ao planejamento e
à execução da despesa os elementos estruturais
para sua regionalização. Entretanto, existem,
na maioria das vezes, informações produzidas
que nos permitem ao menos delimitar
melhor o escopo do esforço a ser realizado
por meio de processos mais artesanais.
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Uma forma rápida de fazer a primeira etapa da A identificação dos grandes conjuntos de despesa que
classificação é começar identificando grandes não são regionalizáveis facilitará enormemente o trabalho
conjuntos de despesa que não são regionalizáveis. de identificação, bem como delimitará o escopo de um
plano de ação que vise regionalizar as despesas que
são aplicáveis. Importante ressaltar, mais uma vez, que
quase toda e qualquer ação poderá ter algum impacto
No âmbito da classificação por
territorial indireto. Aposentados e pensionistas residem
1 natureza da despesa, é possível identificar
grandes grupos de despesa não regionalizáveis, por
em algum lugar da cidade, campanhas publicitárias podem
ter sua realização vinculada a alguma porção da cidade,
exemplo: (i) juros e encargos da dívida, da categoria
sistemas de informação podem ser implementados em
despesas correntes; (ii) amortização da dívida, da
determinados equipamentos. É possível aprofundar a
categoria despesas de capital; (iii) no grupo pessoal
e encargos sociais, da categoria despesas correntes, análise específica de alguns gastos se for do interesse
despesas relacionadas a Aposentadorias do RPPS, do governo ou das organizações sociais. Entretanto,
Reserva Remunerada e Reformas dos Militares. atentar a cada detalhe do impacto territorial indireto
das ações poderá tornar o trabalho de regionalização
do orçamento muito extenso, inviabilizando-o.
Pela classificação institucional, é Uma vez feita essa distinção, é importante somar o
2 possível identificar órgãos que, pela sua natureza,
em geral concentram despesas não regionalizáveis.
valor total das duas variáveis (não regionalizáveis e
regionalizáveis) e, se for do interesse, computá-lo para todas
Por exemplo: geralmente, quase todas as despesas
relacionadas a secretarias meio podem ser classificadas
as etapas do orçamento (planejado, atualizado, empenhado,
como não regionalizáveis. Ainda assim, é importante liquidado e pago). Esses valores serão importantes para a
trabalhar esse conjunto de órgãos com certo cuidado, sequência do trabalho e para compreender os percentuais
já que alguns gastos, como os relacionados à que indicam a qualidade da informação pública sobre a
desapropriações em geral, são de responsabilidade regionalização do orçamento. Assim, se o orçamento total
das secretarias meio, e, portanto, são regionalizáveis. da prefeitura for de R$ 1 milhão e, destes, R$ 500 mil forem
não regionalizáveis, o escopo de trabalho passará a ser os
R$ 500 mil regionalizáveis. É esse conjunto de despesas
que deverá ser analisado na sequência do trabalho.
Identifique tipos de projetos,
Em seguida, será possível passar para a segunda
3 ações ou contratos que não são
regionalizáveis. Por exemplo, em geral, etapa, que é a de identificar, no âmbito das ações
campanhas de educação de trânsito, regionalizáveis, as que possuem, em algum campo,
ações de apoio à elaboração de planos alguma referência explicitamente territorial que permita
da cidade, serviços de tecnologia da associar a despesa à unidade espacial de análise. Essa
informação não são regionalizáveis. referência poderá ser buscada de diferentes formas:
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informada, por exemplo, caso a sua prefeitura tenha pela perspectiva territorial. De qualquer forma, são as despesas
órgãos de administração e gestão descentralizados, como classificadas como “regionalizáveis com a localização não informada”
subprefeituras. A identificação de despesas relacionadas que consistirão o escopo de trabalho de regionalização do orçamento.
a equipamentos públicos específicos é possível, já
que há previsão legal para detalhar a classificação
funcional dessa forma, mas isso não é comum;
4.3 O índice de regionalização
2) Identificar referências territoriais em outros campos da
ação orçamentária, como na classificação programática. do orçamento
Isso também não é tão comum, mas um caminho
poderá ser buscar a referência na própria descrição da A classificação das despesas conforme a metodologia
ação, por exemplo: “requalificação do centro de bairro
anteriormente mencionada permitirá a construção de
do distrito de São Miguel”. Essa vinculação tende a ser
comum no âmbito das emendas parlamentares; três variáveis: (i) não regionalizáveis; (ii) regionalizáveis,
com localização informada; (iii) regionalizáveis, com
3) É possível, e muitas vezes poderá contribuir para localização não informada. Com isso, já será possível
encontrar uma referência territorial, pesquisar as
calcular o indicador de regionalização do orçamento.
prestações de contas de fundos vinculados. Tais fundos
estão relacionados à aplicação de receitas de fontes Trata-se de um cálculo simples, que consiste no
específicas, como transferências de outros entes, multas percentual do orçamento público que está efetivamente
de trânsito, contrapartidas de concessões de serviços regionalizado, isto é, que possui nas suas bases de dados
de saneamento ou aquisição da utilização do potencial
alguma identificação geográfica que permita atrelá-lo à
construtivo adicional, entre outros. Como, em geral, a
legislação requer a prestação de contas pormenorizada, elas unidade espacial de análise predefinida. A sua fórmula
tendem a trazer dados territorializados sobre a despesa. de cálculo pode ser expressa da seguinte forma:
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Identificando
barreiras e
oportunidades,
monitorando
progressos
e analisando
resultados parciais
A partir do desenvolvimento de um roteiro básico
de pré-análise, desenvolvida até aqui, este capítulo
tem como objetivo apresentar instrumentais que
permitam avançar na identificação dos problemas
e soluções para avançar na regionalização do
orçamento. Com isso, criam-se as bases para
a construção de um plano de ação, seja para
organizações da sociedade civil poderem incidir
no debate público e pressionar os governos
pela melhoria da qualidade das informações e/
ou da transparência, seja para orientar gestores
públicos para aprimorar sua informação.
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ficam registradas em sistemas próprios ou em papel. A oportunidade, Alguns tipos de investimento poderão ter uma
nesse caso, consiste na identificação de rotinas ou formas de: geometria, isto é, uma projeção espacial que não é compatível,
necessariamente com as unidades espaciais de análise (os
Assegurar que as medições dos distritos). Por exemplo, um assentamento precário a ser
contratos sejam regionalizadas; urbanizado ou um corredor de ônibus podem extrapolar os
seus limites. Aqui, trata-se de uma dificuldade menor. Caso
Prover uma forma sistêmica de inserção desses dados. exista um vínculo direto entre a área do investimento e o seu
custo orçamentário, a situação torna-se muito mais fácil e a
questão passa a ser apenas alguma metodologia para dividir
o gasto entre duas ou mais unidades administrativas.
3.
Investimentos
Para superar essas barreiras relacionadas à territorialização dos
Os investimentos são, a princípio, as despesas mais facilmente
investimentos, algumas oportunidades poderão ser exploradas.
territorializáveis, especialmente quando estão vinculados à
Um caminho a seguir está sendo desenvolvido pela Prefeitura
produção de bens públicos visíveis. Afinal, construção de escolas
de São Paulo por meio do acréscimo de um campo chamado
e unidades de saúde, de corredores de ônibus ou programas de
detalhamento da ação (Secretaria Municipal da Fazenda, 2019).
urbanização de favelas têm a sua localização bem definida. Ainda
Como o próprio nome indica, trata-se de uma pormenorização
assim, alguns problemas poderão ser encontrados, entre eles:
da ação orçamentária segundo a qual o órgão executor da
despesa informa a localização do investimento por meio de uma
A construção de um equipamento público poderá
codificação padronizada, conforme a Figura abaixo. Um outro
envolver diferentes elementos, que vão desde a obra da
caminho, complementar, consiste em formalizar procedimentos
edificação propriamente dita até a aquisição de materiais
relacionados à elaboração de termos de referência e
permanentes (computadores, projetores etc.) e materiais de
gestão de contratos que induzam ao referenciamento
consumo. Isso pode significar que os gastos estão atrelados
territorial nas prestações de contas de sua execução.
a diferentes dotações e diferentes contratos. Além disso,
algumas compras não serão isoláveis por unidade física do
equipamento: para uma aquisição de computadores, por
exemplo, as compras poderão ser feitas para vários deles, e a CÓDIGO SEQUENCIAL UTILIZADO PELA PREFEITURA
DE SÃO PAULO PARA DETALHAMENTO DA AÇÃO ORÇAMENTÁRIA
sua distribuição por unidade, ser extremamente complexa;
66 67
REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
3.
dos gastos. Longe de pretender constituir um
manual de pesquisa qualitativa, essa subseção
busca fornecer os elementos operacionais Análise dos resultados
mínimos para mapear barreiras e oportunidades. A etapa final da coleta dos dados deverá ser extensiva
em trabalho e consumir um tempo significativo. De início,
considere transcrever as entrevistas ou as atividades em
1. grupo realizadas. Essa é uma tarefa que consome tempo,
mas vai contribuir para uma análise mais precisa do trabalho,
Reconhecimento dos bem como para o registro adequado das atividades (e
atores relevantes poderá ser usado ao longo do processo de trabalho). Em
Identifique, dentro do processo de gestão seguida, utilize palavras-chave e códigos para classificar
orçamentária, postos-chave que representem as questões mais recorrentes e os temas de interesse
as diferentes etapas do orçamento da coleta. Depois organize os relatos de acordo com as
(planejamento, aprovação e execução) em palavras-chave e relacione os desafios e oportunidades
diferentes tipos de órgãos públicos (centrais e identificados na pré-análise com os relatos coletados.
regionais; secretarias meio e secretarias fim; Finalmente, é importante realizar atividades de validação
e pesquisadores do tema na sua cidade). dos resultados, que poderá ser coletiva ou individualizada.
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regionalizada sobre uma linha de base importante para esse trabalho. Ele
poderá também ser calculado por órgão, de forma que
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público, o esforço informação pode ser mais facilmente regionalizada. A partir delas,
diferentes leituras se apresentam, seja na direção de fornecer
benefício do gasto alguns exemplos do que pode ser mais facilmente obtido:
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1 https://www.qgis.org/pt_BR/site/
2 Ver: http://www.ipea.gov.br/ipeageo/arquivos/Tutorial_IpeaGEO_VF.pdf
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6
Recomendações
para a agenda da
regionalização do
orçamento público
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A partir dos elementos conceituais necessários interna e externa é fundamental. Algumas ações
para estruturar o trabalho, apresentamos as fomentam esse aspecto do trabalho, entre elas:
referências para a identificação das bases de dados
necessárias para a regionalização do orçamento Apresentação e sensibilização
e, mais importante, um roteiro para a pré-análise do diagnóstico realizado;
da qualidade das informações existentes. Esse
roteiro serve de base para a sequência do Sensibilização de gestores
trabalho que pode ser realizado, compreendendo públicos e tomadores de decisão;
a identificação das barreiras e oportunidades
e das possíveis análises a serem feitas. Realização de oficinas
técnicas com servidores.
Com isso, pretendemos estimular o trabalho no
âmbito dos governos locais para trazer à tona a
importância de produzir dados que deem conta
da dimensão territorial do gasto. É nesse sentido
que, na conclusão do guia, sugerimos uma 2.
agenda de ações que reforcem essa empreitada. Fortalecer a produção de dados
Ela se desdobra, como sugestão, em três públicos para georreferenciar o gasto
conjuntos de iniciativas, mostradas a seguir. Como todo processo de produção de dados e
informação, a regionalização do orçamento possui
uma dimensão eminentemente técnica, com um
78 79
REGIONALIZAÇÃO DO ORÇAMENTO O estado da arte
3.
Estimular as construções colaborativas
A regionalização do gasto público, isto é, a produção de informações
de qualidade sobre a dimensão territorial do gasto com a finalidade
de criar medidas que permitam monitorar o esforço dos governos
para a redução das desigualdades socioespaciais, é um trabalho de
grande monta. Sobretudo se considerarmos que os recursos humanos
são escassos e as urgências e os problemas urbanos existentes,
enormes. Por isso, é fundamental mobilizar parcerias: governos,
universidades, centros de pesquisa, organizações do terceiro setor,
escolas de governo, áreas técnicas do Legislativo e de órgãos de
controle, empresas de tecnologia e inovação governamental são
organizações que podem colaborar nos processos descritos a seguir:
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PRESIDENTE DO CONSELHO CURADOR
Regras_Gerais_e_Instrucoes_de_preenchimento_RGF_22_04_2019.pdf
Maria Alice Setubal
AUTOR DO ESTUDO
Tomás Wissenbach, geógrafo, mestre em Geografia
Humana, doutorando em Administração Pública e
Governo na Fundação Getulio Vargas (FGV-SP)
PROJETO GRÁFICO
Estudio Nono
REVISÃO
Lupa Texto
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