Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”. Rubem Alves Quanto à origem da palavra, currículo vem do latim “currere”, que significa rota, caminho. Representa, então, a proposta de organização de uma trajetória de escolarização, envolvendo conteúdos estudados, atividades realizadas, competências desenvolvidas, com vistas ao desenvolvimento pleno do estudante. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade.
Tomaz Tadeu da Silva
Percebem que a educação está atrelada à preparação do currículo e a partir dele se definem os objetivos educacionais. Em outras palavras o currículo é o conjunto de ações pedagógicas!
Ele pertence a um determinado espaço e tempo
histórico. Cada currículo possui especificidades diferentes dependendo da época em que ele está inserido. Para Libâneo, é a concretização, a viabilização das intenções e orientações expressas no projeto pedagógico. De forma geral, o currículo compreende-se como um modo de seleção da cultura produzida pela sociedade, para a formação dos alunos. É tudo o que se espera que seja aprendido e ensinado na escola.
O currículo deve ser entendido como o elo entre a teoria
educacional e a prática pedagógica.
Fiquem atentos: Currículo é diferente de grade curricular.
O currículo é o conjunto de ações e experiências, é o coração da escola e nele se sistematizam nossos esforços pedagógicos e a grade curricular é a lista de disciplinas e conteúdos do currículo. Currículo Formal (prescrito): é aquele preestabelecido em todo um território, seja nacional ou estatal, que todos os professores devem seguir e executar. Ele atribui à escola o papel de reproduzir a cultura e é imposto por documentos oficiais como Lei de Diretrizes e Bases e Base Nacional Comum Curricular.
Currículo Real (em ação): é aquele que acontece dentro da
sala de aula entre educadores e seus alunos. Tendo caráter bem prático e flexível, ele diz respeito às atividades planejadas e desenvolvidas no Projeto Político‐Pedagógico da escola e os planos de aula realizados pelos professores. Currículo Oculto (implícito): são as influências externas e internas que afetam a aprendizagem dos alunos de alguma maneira, as manifestações e simbologias no ambiente escolar. Este tipo de currículo diz respeito aos conteúdos diários que os alunos aprendem durante as aulas, seus atos, comportamentos, gestos, percepções, mas que não são oficiais, ou seja, não se encontram documentados em papel. Currículo no contexto escolar O currículo é a organização do conhecimento escolar Essa organização do currículo se tornou necessária porque, com o surgimento da escolarização em massa, precisou-se de uma padronização do conhecimento a ser ensinado, ou seja, que as exigências do conteúdo fossem as mesmas. No entanto, o currículo não diz respeito apenas a uma relação de conteúdos, mas envolve também:
“questões de poder, tanto nas relações professor/aluno e
administrador/professor, quanto em todas as relações que permeiam o cotidiano da escola e fora dela, ou seja, envolve relações de classes sociais (classe dominante/classe dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero, não se restringindo a uma questão de conteúdos”. (HORNBURG e SILVA, 2007, p.1) “Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito.” (VEIGA, 2002, p.7) O currículo escolar é um dos mecanismos que compõem o caminho que nos torna o que somos. Desta forma, vale a pena ressaltar:
• O currículo escolar é um campo importante
da política cultural, porquanto, é um lugar de circulação das narrativas, além de lugar privilegiado dos processos de subjetivação e da socialização dirigida. • O currículo escolar é um instrumento que pode nos contar muitas histórias sobre indivíduos, grupos, sociedades, culturas, tradições, e histórias que relatam como as coisas são ou como deveriam ser. • O currículo e seus componentes constituem um conjunto articulado de saberes, regidos por uma determinada ordem, em que estão em luta diferentes visões de mundo. • O currículo não se esgota nos componentes curriculares e nas áreas de conhecimentos uma vez, que todas as vivências proporcionadas pela escola veiculam valores, atitudes, sensibilidades, orientações e conhecimentos.
Concepção de homem Aprendizagem Cultura Conhecimento
Assim, isso implica que essa organização – feita principalmente no projeto-político- pedagógico de cada escola – deve levar em conta alguns princípios básicos da sua construção. Entre eles o fato de, como já dito, o processo de desenvolvimento do currículo ter sido cultural e, portanto, não neutro. Sempre visa privilegiar determinada cultura e, por isso, há a necessidade de uma criteriosa análise e reflexão, por parte dos sujeitos em interação, no caso as autoridades escolares e os docentes com o mesmo objetivo, baseando- se em referenciais teóricos. O currículo não é estático, pelo contrário, ele foi e continua sendo construído. A reflexão sobre isso é importante, porque, conforme Veiga (2002, p. 7) afirma, “a análise e a compreensão do processo de produção do conhecimento escolar ampliam a compreensão sobre as questões curriculares”. Hoje em dia, a organização do currículo escolar se dá de forma fragmentada e hierárquica, ou seja, cada disciplina é ensinada separadamente e as que são consideradas de maior importância em detrimento de outras recebem mais tempo para serem explanadas no contexto escolar. Vários autores apontam para a possibilidade de o currículo não ser organizado baseando-se em conteúdos isolados, pois vivemos em um mundo complexo, que não pode ser completamente explicado por um único ângulo, mas a partir de uma visão multifacetada, construída pelas visões das diversas áreas do conhecimento. A organização do currículo deve procurar viabilizar uma maior interdisciplinaridade, contextualização; assegurando a livre comunicação entre todas as áreas. É no currículo que se sistematizam os esforços pedagógicos na escola. Ele é algo como o coração da escola, o espaço central da atuação pedagógica. É fundamental o papel do educador no processo curricular, o que implica a necessidade de discussões e reflexões sobre o currículo, seja aquele formalmente planejado e explicitado ou não. As reflexões e discussões sobre currículo não podem deixar de recorrer aos documentos oficiais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as diversas Diretrizes Curriculares Nacionais, os Parâmetros Curriculares Nacionais, BNCC, as Propostas Curriculares Estaduais e Municipais. É nesses documentos que se encontram os subsídios e sugestões sistematizadas para o trabalho pedagógico escolar. • SACRISTÁN – PROCESSO QUE ENVOLVE UMA MULTIPLICIDADE DE RELAÇÕES ABERTAS OU TÁCITAS, EM DIVERSOS AMBITOS, QUE VÃO DA PRESCRIÇÃO A AÇÃO, DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS AS PRÁTICAS PEDAGOGICAS. • CANDAU OU MOREIRA – CONJUNTO DE PRÁTICAS QUE PROPICIAM A PRODUÇÃO, A CIRCULAÇÃO E O CONSUMO DE SIGNIFICADOS NO ESPAÇO SOCIAL E QUE CONTRIBUEM, INTENSAMENTE PARA A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES SOCIAIS E CULTURAIS. • SILVA - DEFINE COMO LUGAR, ESPAÇO, TERRITÓRIO, RELAÇÃO DE PODER, É TRAJETÓRIA, VIAGEM, PERCURSO, TEXTO, DISCURSO, DOCUMENTO, IDENTIDADE. QUAL É A RELAÇÃO DE CURRICULO, CONHECIMENTO ESCOLAR E CULTURA?
• CONHECIMENTO ESCOLAR – PROVÉM DE SABERES
E CONHECIMENTOS SOCIALMENTE PRODUZIDOS. SUA APRENDIZAGEM CONSTITUI CONDIÇÃO INDISPENSÁVEL PARA QUE POSSAM SER APREENDIDOS CRITICADOS E RECONSTRUÍDOS.
• CULTURA – É UM CONJUNTO DE PRÁTICAS POR MEIO
DAS QUAIS SIGNIFICADOS SÃO PRODUZIDOS E COMPARTILHADOS EM UM GRUPO. EXISTEM TRÊS GRANDES TEORIAS SOBRE CURRÍCULO :TEORIAS TRADICIONAIS, TEORIAS CRÍTICAS E TEORIAS PÓS-CRÍTICAS.
• TRADICIONAIS: AS TEORIAS TRADICIONAIS SÃO
TEORIAS DE ADAPTAÇÃO E DE ACEITAÇÃO. PREOCUPA-SE COM O REPASSE DOS CONTEÚDOS. A CONCEPÇÃO TAYLORISTA FAZ PARTE DO CURRÍCULO TRADICIONAL, QUE VISA A ATUAÇÃO DO TRABALHADOR QUE DEVE AGIR SOZINHO SOB A DIREÇÃO DO SUPERVISOR. • CRÍTICAS: ESSAS TEORIAS FAZEM UMA CRÍTICA AOS PROCESSOS DE ACEITAÇÃO DA IDEOLOGIA DA CLASSE DOMINANTE. SÃO TEORIAS QUE BUSCAM UMA TRANSFORMAÇÃO RADICAL ATRAVÉS DE QUESTIONAMENTOS E DESCONFIANÇA. É FUNDAMENTAL NESSA TEORIA ENTENDER O QUE O CURRÍCULO FAZ.
• PÓS-CRÍTICAS: ESSAS TEORIAS ENVOLVEM
RELAÇÕES DE GÊNERO, MULTICULTURALISMO, CULTURA, SEXUALIDADE ENTRE OUTROS ASSUNTOS. ELAS CRITICAM A DESVALORIZAÇÃO DE ALGUNS GRUPOS ÉTNICOS DENTRO DA SOCIEDADE. É A TENTATIVA DE DAR VOZ AOS EXCLUÍDOS DE UM SISTEMA TOTALMENTE PADRONIZADO. É POR CONTA DESSAS DIFERENÇAS ENTRE AS TEORIAS CURRICULARES QUE A ESCOLA DEVE PROCURAR DISCUTIR QUAL CURRÍCULO QUE ELA QUER SEGUIR PARA SE CHEGAR AO OBJETIVO ESPERADO.
ESSA ESCOLHA DEVE SER REFLETIDA A PARTIR
DA CONCEPÇÃO DO SEU PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, QUE DEVE BASEAR A PRÁTICA TEÓRICA DA INSTITUIÇÃO JUNTO AOS INTERESSES DOS ALUNOS. Concepções de organização curricular • Currículo tradicional: A composição deste currículo é bastante conhecida em nossas escolas. Ele organiza as disciplinas e seus respectivos conteúdos de forma fragmentada, promovendo uma educação linear onde não há articulação de temas, os saberes são simplesmente transmitidos sem nenhuma preocupação com a contextualização. • Currículo racional tecnológico (tecnicista) É um currículo voltado para a difusão de conteúdos e desenvolvimento de habilidades a serviço do sistema de produção. O objetivo é gerar a eficiência na aprendizagem com menor custo, voltada para a obtenção de habilidades, técnicas, atitudes e conhecimentos específicos imprescindíveis para que o aluno se integre na máquina do sistema social. • Currículo Escola novista (ou progressista) A abordagem está na ideia de um currículo centrado no aluno e no provimento de experiências de aprendizagem sendo uma maneira de articular a escola com a vida, adaptando também os alunos ao meio. Destaca- se as necessidades e interesses dos alunos, na atividade, no ritmo de cada um. O educador assume a posição de facilitador da aprendizagem, os conteúdos surgem das experiências dos alunos. • Currículo Construtivista
O educador também assume a função de facilitador deste
processo garantindo a integração do aluno com os objetos de aprendizagem. Nesta percepção piagetiana aprecia-se mais a construção do conhecimento pelo próprio educando do que a influência da cultura e do professor. Conforme Luckesi 1990, a ideia principal está em prever atividades que correspondam ao nível de desenvolvimento intelectual dos alunos e instituir situações que estimulem suas capacidades cognitivas e sociais, de modo a possibilitar a construção pessoal do conhecimento através da participação ativa do sujeito. • Currículo Sociocrítica (ou histórico-social)
Abordam questões políticas do procedimento de formação
e questões pedagógicas como mediação da formação política. Conforme Libâneo, a educação desempenha a sua função de transmitir a cultura, ajudando simultaneamente o aluno no desenvolvimento de suas próprias capacidades de aprender e na inclusão critica e participativa dentro da sociedade em função da formação cidadão buscar pela transformação social. A intenção deste currículo é criar autonomia de pensamento, ressaltando a importância da responsabilidade social, com o intuito de compreender a realidade e transformá-la.
Racionalidade e Projeto Político-pedagógico: um olhar a partir do Currículo e do relato das Práticas Docentes de professores do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Ceará