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CURRÍCULO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS –

2020.2

“Eu quero desaprender para aprender de novo.


Raspar as tintas com que me pintaram.
Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”.
Rubem Alves
Quanto à origem da palavra, currículo vem do
latim “currere”, que significa rota, caminho.
Representa, então, a proposta de organização
de uma trajetória de escolarização,
envolvendo conteúdos estudados, atividades
realizadas, competências desenvolvidas, com
vistas ao desenvolvimento pleno do
estudante.
O currículo é lugar, espaço, território.
O currículo é relação de poder.
O currículo é trajetória, viagem, percurso.
O currículo é autobiografia, nossa vida,
O currículo é texto, discurso, documento.
O currículo é documento de identidade.

Tomaz Tadeu da Silva


Percebem que a educação está atrelada à preparação do
currículo e a partir dele se definem os objetivos
educacionais.
Em outras palavras o currículo é o conjunto de ações
pedagógicas!

Ele pertence a um determinado espaço e tempo


histórico.
Cada currículo possui especificidades diferentes
dependendo da época em que ele está inserido.
Para Libâneo, é a concretização, a viabilização das intenções e
orientações expressas no projeto pedagógico.
De forma geral, o currículo compreende-se como um modo de
seleção da cultura produzida pela sociedade, para a formação
dos alunos. É tudo o que se espera que seja aprendido e
ensinado na escola.

O currículo deve ser entendido como o elo entre a teoria


educacional e a prática pedagógica.

Fiquem atentos: Currículo é diferente de grade curricular.


O currículo é o conjunto de ações e experiências, é o coração da
escola e nele se sistematizam nossos esforços pedagógicos e a
grade curricular é a lista de disciplinas e conteúdos do currículo.
Currículo Formal (prescrito): é aquele preestabelecido em
todo um território, seja nacional ou estatal, que todos os
professores devem seguir e executar. Ele atribui à escola o papel
de reproduzir a cultura e é imposto por documentos oficiais
como Lei de Diretrizes e Bases e Base Nacional Comum
Curricular.

Currículo Real (em ação): é aquele que acontece dentro da


sala de aula entre educadores e seus alunos. Tendo caráter bem
prático e flexível, ele diz respeito às atividades planejadas e
desenvolvidas no Projeto Político‐Pedagógico da escola e os
planos de aula realizados pelos professores.
Currículo Oculto (implícito): são as influências externas e
internas que afetam a aprendizagem dos alunos de alguma
maneira, as manifestações e simbologias no ambiente escolar.
Este tipo de currículo diz respeito aos conteúdos diários que os
alunos aprendem durante as aulas, seus atos, comportamentos,
gestos, percepções, mas que não são oficiais, ou seja, não se
encontram documentados em papel.
Currículo no contexto escolar
O currículo é a organização do conhecimento
escolar
Essa organização do currículo se tornou
necessária porque, com o surgimento da
escolarização em massa, precisou-se de uma
padronização do conhecimento a ser
ensinado, ou seja, que as exigências do
conteúdo fossem as mesmas.
No entanto, o currículo não diz respeito apenas a
uma relação de conteúdos, mas envolve também:

“questões de poder, tanto nas relações professor/aluno e


administrador/professor, quanto em todas as relações que
permeiam o cotidiano da escola e fora dela, ou seja, envolve
relações de classes sociais (classe dominante/classe dominada) e
questões raciais, étnicas e de gênero, não se restringindo a uma
questão de conteúdos”. (HORNBURG e SILVA, 2007, p.1)
“Currículo é uma construção social do
conhecimento, pressupondo a sistematização dos
meios para que esta construção se efetive; a
transmissão dos conhecimentos historicamente
produzidos e as formas de assimilá-los, portanto,
produção, transmissão e assimilação são processos
que compõem uma metodologia de construção
coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo
propriamente dito.” (VEIGA, 2002, p.7)
O currículo escolar é um dos mecanismos que
compõem o caminho que nos torna o que
somos. Desta forma, vale a pena ressaltar:

• O currículo escolar é um campo importante


da política cultural, porquanto, é um lugar de
circulação das narrativas, além de lugar
privilegiado dos processos de subjetivação e
da socialização dirigida.
• O currículo escolar é um instrumento que
pode nos contar muitas histórias sobre
indivíduos, grupos, sociedades, culturas,
tradições, e histórias que relatam como as
coisas são ou como deveriam ser.
• O currículo e seus componentes constituem
um conjunto articulado de saberes, regidos
por uma determinada ordem, em que estão
em luta diferentes visões de mundo.
• O currículo não se esgota nos componentes
curriculares e nas áreas de conhecimentos
uma vez, que todas as vivências
proporcionadas pela escola veiculam valores,
atitudes, sensibilidades, orientações e
conhecimentos.

Concepção de homem Aprendizagem Cultura Conhecimento


Assim, isso implica que essa organização –
feita principalmente no projeto-político-
pedagógico de cada escola – deve levar em
conta alguns princípios básicos da sua
construção. Entre eles o fato de, como já dito, o
processo de desenvolvimento do currículo ter
sido cultural e, portanto, não neutro.
Sempre visa privilegiar determinada cultura
e, por isso, há a necessidade de uma criteriosa
análise e reflexão, por parte dos sujeitos em
interação, no caso as autoridades escolares e
os docentes com o mesmo objetivo, baseando-
se em referenciais teóricos.
O currículo não é estático, pelo contrário,
ele foi e continua sendo construído. A reflexão
sobre isso é importante, porque, conforme
Veiga (2002, p. 7) afirma,
“a análise e a compreensão do processo de
produção do conhecimento escolar ampliam a
compreensão sobre as questões curriculares”.
Hoje em dia, a organização do currículo escolar se
dá de forma fragmentada e hierárquica, ou seja,
cada disciplina é ensinada separadamente e as
que são consideradas de maior importância em
detrimento de outras recebem mais tempo para
serem explanadas no contexto escolar.
Vários autores apontam para a possibilidade de
o currículo não ser organizado baseando-se em
conteúdos isolados, pois vivemos em um
mundo complexo, que não pode ser
completamente explicado por um único ângulo,
mas a partir de uma visão multifacetada,
construída pelas visões das diversas áreas do
conhecimento.
A organização do currículo deve procurar viabilizar
uma maior interdisciplinaridade, contextualização;
assegurando a livre comunicação entre todas as áreas.
É no currículo que se sistematizam os esforços
pedagógicos na escola. Ele é algo como o coração da
escola, o espaço central da atuação pedagógica. É
fundamental o papel do educador no processo
curricular, o que implica a necessidade de discussões e
reflexões sobre o currículo, seja aquele formalmente
planejado e explicitado ou não.
As reflexões e discussões sobre currículo não podem
deixar de recorrer aos documentos oficiais, como a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as
diversas Diretrizes Curriculares Nacionais, os
Parâmetros Curriculares Nacionais, BNCC, as
Propostas Curriculares Estaduais e Municipais. É
nesses documentos que se encontram os subsídios e
sugestões sistematizadas para o trabalho pedagógico
escolar.
• SACRISTÁN – PROCESSO QUE ENVOLVE UMA
MULTIPLICIDADE DE RELAÇÕES ABERTAS OU TÁCITAS, EM
DIVERSOS AMBITOS, QUE VÃO DA PRESCRIÇÃO A AÇÃO, DAS
DECISÕES ADMINISTRATIVAS AS PRÁTICAS PEDAGOGICAS.
• CANDAU OU MOREIRA – CONJUNTO DE PRÁTICAS QUE
PROPICIAM A PRODUÇÃO, A CIRCULAÇÃO E O CONSUMO DE
SIGNIFICADOS NO ESPAÇO SOCIAL E QUE CONTRIBUEM,
INTENSAMENTE PARA A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES
SOCIAIS E CULTURAIS.
• SILVA - DEFINE COMO LUGAR, ESPAÇO, TERRITÓRIO,
RELAÇÃO DE PODER, É TRAJETÓRIA, VIAGEM, PERCURSO,
TEXTO, DISCURSO, DOCUMENTO, IDENTIDADE.
QUAL É A RELAÇÃO DE CURRICULO, CONHECIMENTO
ESCOLAR E CULTURA?

• CONHECIMENTO ESCOLAR – PROVÉM DE SABERES


E CONHECIMENTOS SOCIALMENTE PRODUZIDOS.
SUA APRENDIZAGEM CONSTITUI CONDIÇÃO
INDISPENSÁVEL PARA QUE POSSAM SER
APREENDIDOS CRITICADOS E RECONSTRUÍDOS.

• CULTURA – É UM CONJUNTO DE PRÁTICAS POR MEIO


DAS QUAIS SIGNIFICADOS SÃO PRODUZIDOS E
COMPARTILHADOS EM UM GRUPO.
EXISTEM TRÊS GRANDES TEORIAS SOBRE
CURRÍCULO :TEORIAS TRADICIONAIS, TEORIAS
CRÍTICAS E TEORIAS PÓS-CRÍTICAS.

• TRADICIONAIS: AS TEORIAS TRADICIONAIS SÃO


TEORIAS DE ADAPTAÇÃO E DE ACEITAÇÃO.
PREOCUPA-SE COM O REPASSE DOS CONTEÚDOS. A
CONCEPÇÃO TAYLORISTA FAZ PARTE DO CURRÍCULO
TRADICIONAL, QUE VISA A ATUAÇÃO DO
TRABALHADOR QUE DEVE AGIR SOZINHO SOB A
DIREÇÃO DO SUPERVISOR.
• CRÍTICAS: ESSAS TEORIAS FAZEM UMA CRÍTICA AOS
PROCESSOS DE ACEITAÇÃO DA IDEOLOGIA DA
CLASSE DOMINANTE. SÃO TEORIAS QUE BUSCAM
UMA TRANSFORMAÇÃO RADICAL ATRAVÉS DE
QUESTIONAMENTOS E DESCONFIANÇA. É
FUNDAMENTAL NESSA TEORIA ENTENDER O QUE O
CURRÍCULO FAZ.

• PÓS-CRÍTICAS: ESSAS TEORIAS ENVOLVEM


RELAÇÕES DE GÊNERO, MULTICULTURALISMO,
CULTURA, SEXUALIDADE ENTRE OUTROS
ASSUNTOS. ELAS CRITICAM A DESVALORIZAÇÃO DE
ALGUNS GRUPOS ÉTNICOS DENTRO DA SOCIEDADE.
É A TENTATIVA DE DAR VOZ AOS EXCLUÍDOS DE UM
SISTEMA TOTALMENTE PADRONIZADO.
É POR CONTA DESSAS DIFERENÇAS ENTRE AS
TEORIAS CURRICULARES QUE A ESCOLA DEVE
PROCURAR DISCUTIR QUAL CURRÍCULO QUE
ELA QUER SEGUIR PARA SE CHEGAR AO
OBJETIVO ESPERADO.

ESSA ESCOLHA DEVE SER REFLETIDA A PARTIR


DA CONCEPÇÃO DO SEU PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO, QUE DEVE BASEAR A PRÁTICA
TEÓRICA DA INSTITUIÇÃO JUNTO AOS
INTERESSES DOS ALUNOS.
Concepções de organização curricular
• Currículo tradicional: A composição
deste currículo é bastante conhecida em
nossas escolas. Ele organiza as
disciplinas e seus respectivos conteúdos
de forma fragmentada, promovendo uma
educação linear onde não há articulação
de temas, os saberes são simplesmente
transmitidos sem nenhuma preocupação
com a contextualização.
• Currículo racional tecnológico (tecnicista)
É um currículo voltado para a difusão de conteúdos e
desenvolvimento de habilidades a serviço do sistema
de produção. O objetivo é gerar a eficiência na
aprendizagem com menor custo, voltada para a
obtenção de habilidades, técnicas, atitudes e
conhecimentos específicos imprescindíveis para que o
aluno se integre na máquina do sistema social.
• Currículo Escola novista (ou progressista)
A abordagem está na ideia de um currículo
centrado no aluno e no provimento de
experiências de aprendizagem sendo uma
maneira de articular a escola com a vida,
adaptando também os alunos ao meio. Destaca-
se as necessidades e interesses dos alunos, na
atividade, no ritmo de cada um. O educador
assume a posição de facilitador da aprendizagem,
os conteúdos surgem das experiências dos
alunos.
• Currículo Construtivista

O educador também assume a função de facilitador deste


processo garantindo a integração do aluno com os objetos
de aprendizagem. Nesta percepção piagetiana aprecia-se
mais a construção do conhecimento pelo próprio educando
do que a influência da cultura e do professor. Conforme
Luckesi 1990, a ideia principal está em prever atividades
que correspondam ao nível de desenvolvimento intelectual
dos alunos e instituir situações que estimulem suas
capacidades cognitivas e sociais, de modo a possibilitar a
construção pessoal do conhecimento através da
participação ativa do sujeito.
• Currículo Sociocrítica (ou histórico-social)

Abordam questões políticas do procedimento de formação


e questões pedagógicas como mediação da formação
política. Conforme Libâneo, a educação desempenha a
sua função de transmitir a cultura, ajudando
simultaneamente o aluno no desenvolvimento de suas
próprias capacidades de aprender e na inclusão critica e
participativa dentro da sociedade em função da formação
cidadão buscar pela transformação social. A intenção deste
currículo é criar autonomia de pensamento, ressaltando a
importância da responsabilidade social, com o intuito de
compreender a realidade e transformá-la.

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