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Valeria Radrigán
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Este texto foi publicado originariamente no livro Espesores Tisulares, de Daniel Cruz. Projeto
financiado pelo “Fondo de Fomento de las Artes”, Ministério da Cultura do Chile, 2018. ISBN:
978-956-041-632-0
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A exposição Espesores tisulares esteve patente de 3 de abril a 23 de junho de 2019 no
MAC Quinta Normal, Santiago de Chile.
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Daniel Cruz (1975) Artista, investigador e professor chileno. MFA (UCH), Certificado de
Harvestworks, Digital Media Art Center, Nova Iorque, EUA. Atualmente é Diretor do Museu de
Arte Contemporânea do Chile, foi coordenador do MAM | Master in Media Arts e Professor do
Departamento de Artes Visuais da Faculdade de Letras da Universidade do Chile. É coautor do
Concurso de Artes Digitais em homenagem a Matilde Pérez. É também diretor do SAM |
Seminário de Media Arts, um Simpósio Internacional que explora as relações entre a Arte, a
Ciência e a Comunidade Tecnológica com um enfoque latino-americano. O SAM inclui várias
conferências académicas, exposições, performances e workshops. Desde 2000, tem
participado em exposições individuais e coletivas em galerias, museus, instituições culturais e
espaços públicos no Chile e no estrangeiro. (https://www.masivo.cl/biografia/)
De certa forma, a proposta realiza uma espécie de aproximação a uma
zona do meta-tubérculo global, amplificando e tornando visíveis as diferentes
partes e níveis que o compõem. Se este exercício pudesse ser diagramado,
ocorre-me a imagem de um poliedro disposto em abertura, em cujo
desdobramento se podem observar conexiones inesperadas entre os seus
conteúdos.
AREIA
Grão de areia. Imagem obtida por microscópio SEM. Daniel Cruz, "Paisaje Intervenido", 2019.
A sua convivência com o oceano sublinha o seu caráter inacessível e
indeterminável: onde começa e termina a areia? onde surge e acaba o mar?
Como paisagem inefável de beira pura, limite puro, as fronteiras materiais e
espaciais de ambos elementos fundem-se, desvelando o absurdo de toda
demarcação. Não é em vão que a orla costeira é entendida – nas palavras do
próprio artista – como "uma zona em conflito e conquista, onde surgem
dimensões em diferentes escalas e magnitudes de ordem complexa". Assim, o
exercício de Daniel de recolher durante três anos um punhado de areia de
diferentes territórios para gerar uma amostragem territorial, revela a beleza de
uma poética de contenção ridícula, artística e científica ao mesmo tempo.
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Os silicatos fazem parte da maioria das rochas, areias e argilas. São todos compostos por
silício e oxigénio e coordenam-se numa estrutura tetraédrica.
“Paisaje Intervenido”. Daniel Cruz. Vista parcial da exposição. MAC Quinta Normal, Santiago de
Chile, 2019.
PRAIA
É nesta capa que emerge um problema complexo: será pois, dentro dos
espaços que reivindicamos nossos como públicos, que a nossa própria
intimidade vê-se violada por processos de observação, monitorização e
informatização. Neste sentido, a instalação de bunkers e redes em espaços
públicos e o nosso distanciamento ou desinteresse para com eles, geram um
paradoxo interessante.
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Embora no Chile, por lei, saibamos que não existem praias privadas, a propriedade privada
sim existe. Por conseguinte, as casas, por exemplo, que se encontram na orla costeira
determinam os seus limites patrimoniais nas zonas denominadas "Praia de mar". Conforme o
artigo 594 do Código Civil, "entende-se por praia de mar a extensão de terra que as ondas
banham e desocupam alternadamente até onde chegam as marés mais altas", uma fronteira
cuja delimitação é claramente complexa e difusa em ser delimitada.
Daniel deteta que é a cidade de Bahia - Brasil o lugar com a maior
quantidade de pontos de conexão na América Latina. Numa viagem de
investigação decide contatar pessoas comuns e especialistas com esta
informação, e também para localizar um grande bunker a partir do qual a rede
emerge. Através de uma série de casualidades consegue encontrar o sítio,
localizado num dos polos turísticos mais emblemáticos e belos da zona, Praia
do Flamengo. Neste lugar paradisíaco, emerge com dureza um bloque de
cimento sem janelas que, embora não esteja realmente escondido dos
transeuntes e moradores, não chega a suscitar maior atenção.
CORPO
Esta ação, que vem seguida pela explicação aos turistas do fenómeno
de localização humana por redes submarinhas e tecnologia de drones, é um
experimento de ocultação derivado do Drone Survival Guide. Como intervenção
poética no espaço e desde o corpo, dialoga com os polos de invisibilidade e
transparência. Daí surge a pergunta do artista “Vamos poder resistir à ideia de
desaparecimiento dentro da dimensão tecnológica na cual estamos imersos?”
AFETO- AFETAÇÃO
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LE BRETON, D., 2010, Cuerpo sensible, Ediciones Metales Pesados, Santiago de Chile, p.
21.
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Transformação-desintegração que é possível vincular fortemente com aquilo que Deleuze
chamaria de “linha de devir”.
..”Fotoperformance banhistas”, Daniel Cruz, 2019
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Tradução da palestra de Vilém Flusser, intitulada "Como Explicar a arte", originalmente
proferida em Português, na Galeria Paulo Figueiredo, em 1981, e que pode ser encontrada
aqui: http://flusserbrasil.com/art219.pdf
BIBLIOGRAFÍA E REFERÊNCIAS