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pequenas escalas

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Ana Miguel
Anna Bella Geiger
Brígida Baltar
Cadu
Cildo Meireles
Gê Orthof
Luiz Zerbini
Márcia X
Nazareno
Regina de Paula

Curadoria Ivair Reinaldim

Galeria Fayga Ostrower


Complexo Cultural Funarte Brasília
25/10 a 16/12 de 2018

Centro de Artes Visuais Galeria do Largo


Manaus
24/01 a 28/04 de 2019

Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Funarte Conexão


Circulação Artes Visuais – Atos Visuais Funarte Brasília / AM -
Centro de Artes Galeria do Largo
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PEQUENAS ESCALAS

Seguindo Alice: uma introdução figurada às escalas entre uma representação e aquilo que é represen-
tado – um ponto de partida e outro de chegada, se
Alice persegue o coelho e adentra a toca. Sabemos quisermos pensar essa relação sob uma perspectiva
que assim têm início suas aventuras no País das temporal –, tomando-se o elemento de referência,
Maravilhas. Na sequência, após cair em um buraco o tamanho real da coisa ou pessoa (a “partida”),
profundo, a menina chega a uma sala com mui- como fixo, e o resultado presente na representação
tas portas e uma pequena chave dourada sobre a dessa coisa ou pessoa (a “chegada”) como dado
mesa, que só cabia na fechadura de uma portinha variável, podendo ser maior, menor ou até mesmo
com cerca de quarenta centímetros de altura. Ao igual àquilo que faz referência. Assim, a menina
abri-la, Alice vê, ao final de um corredor, um lindo Alice (mesmo que não saibamos a escala adotada
jardim: “Ah, como eu gostaria de poder encolher nos casos imaginados por Lewis Carroll) diminuiu e
como um telescópio”.1 A partir de então, o tama- aumentou de tamanho de um modo que conser-
nho de seu corpo passa por algumas transforma- vou a relação de proporções de suas partes corpo-
ções: ao beber o líquido de uma garrafa, diminuiu rais constituintes – diferentemente de quando uma
até chegar a vinte centímetros; inversamente, menina cresce e se torna adulta, processo em que
quando comeu uma fatia de bolo, começou a esti- as proporções do seu corpo sofrem alteração.
car, até que sua cabeça bateu no teto da sala, che- Em geral, sempre que precisamos evidenciar
gando a quase três metros de altura. Por fim, ao detalhes de algo com dimensões minúsculas – como
se abanar com um pequeno leque, voltou a enco- dispositivos de nanotecnologia, pequenos insetos
lher lentamente, a tal ponto que se pôs a nadar na ou seres microscópicos, por exemplo – aumenta-
lagoa de lágrimas que ela mesma havia chorado. mos seu tamanho na representação a partir de uma
A experiência extraordinária de Alice nos escala de ampliação, tornando os detalhes presen-
coloca em contato com a noção de escala. Se seu tes na fotografia, desenho, esquema ou maquete
corpo diminuiu ou aumentou de maneira fora do mais acessíveis ao olho humano. Quando algo
comum, só podemos constatar essas variações à muito grande precisa ser apreendido numa dimen-
medida que imaginamos a comparação entre esses são manipulável pelo ser humano, como a repre-
resultados e o tamanho do corpo “real” de Alice. sentação urbanística de uma cidade, contendo
Ou seja, escala é uma relação de proporção física suas ruas, avenidas, praças e bairros, diminuímos

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todas as medidas de modo a manter as proporções
reais, a partir de uma escala de redução. Ou seja,
no nosso dia a dia estamos imersos em relações Contradições da escultura modernista: o monumental
físicas de comparação, uma vez que continuamente e as pequenas escalas
criamos esquemas e objetos que fazem referência
a situações e coisas da realidade (edifícios, mobiliá- Escalas são uma constante nas representações
rio, animais, plantas, pessoas, lugares, etc.), porém artísticas, quase sempre evidentes em seus pro-
em tamanho maior ou menor que seus referentes. cedimentos técnicos e conceituais. A escultura,
A diminuição do tamanho real das coi- em particular, tende a ser uma linguagem cujas
sas e lugares nas representações cotidianas cos- condições de concepção e realização explicitam
tuma ser o tipo de experiência de escala a que escolhas e soluções decorrentes dos problemas de
estamos mais habituados, presente em carto- escala e, em muitos casos, sua instalação em um
grafias, maquetes, miniaturas e brinquedos. Seja local específico (site) poderá colocar em questão
nos mapas impressos ou nos aplicativos que uti- algumas características do espaço físico e simbó-
lizam sistemas de geolocalização, a cartografia é lico que ocupa. Rosalind Krauss elege a escultura
um desses usos recorrentes da escala reduzida, modernista como um de seus temas de investi-
mesmo que nem sempre estejamos atentos à gação. Apontando para uma espécie de fracasso
grandeza física daquilo que os dispositivos que dessa escultura frente à noção tradicional de monu-
utilizamos se referem. Embora tanto desenhos pro- mento e à problemática do “monumental”, Krauss
jetivos quanto artísticos lidem com escalas – com compreende essa situação como possibilidade de
maior ou menor rigor, dependendo das intenções construção de uma história “negativa” da arte, não
e usos dessas representações bidimensionais – é mediada pelo sentimento de progresso. Vamos
preciso destacar a presença das pequenas escalas procurar entender o raciocínio da autora.
também em objetos e representações tridimensio- Enquanto historicamente o monumento tem sua
nais, como maquetes arquitetônicas ou de plane- relação íntima com a noção de memória, o adje-
jamento urbanístico e topográfico, cenários para o tivo “monumental” acaba reforçando as grandes
cinema, objetos em miniatura colecionáveis, casas dimensões assumidas pela maior parte dos monu-
de boneca e brinquedos em geral. Nestes exem- mentos. Entendidas como proposições comemo-
plos, as pequenas escalas são úteis tanto do ponto rativas ou carregadas de significações históricas e
de vista estratégico, projetivo, reflexivo, quanto culturais, as esculturas concebidas sob essa condi-
lúdico, imaginativo, colecionista, estimulando ção procuram acionar uma experiência em que o
novas possibilidades de organização e concepção ser humano se relaciona com algo que é simbólica
do mundo e também experiências que, como as e literalmente maior que sua dimensão individual.
vividas por Alice, possam desafiar a realidade. Sobre o monumento, Krauss afirma:

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E como tudo, nesse domínio, é produtor de sentido, a ao monumento escultórico passa a ser substituída
grandeza da escala empregada, a monumentalidade, (ou convertida, como argumenta Krauss) na horizon-
faz parte do sistema simbólico: assenta sobre uma
talidade afirmada dos earthworks, intervenções dos
significação mais geral, mais global, como o caráter
artistas realizadas em paisagens distantes, como
público do contexto, a grandeza da ideia ou o porte
que a mensagem é destinada a revestir, todos os desertos, descampados, lagos e montanhas. Nessa
outros elementos lexicais da escultura.2 nova condição, a escultura (no campo ampliado)
pode alcançar vastas proporções, reforçando seu
Desse modo, para a autora, somente a caráter monumental, porém numa experiência de
monumentalidade, sem a presença de uma rela- pura horizontalidade, que a conduz a uma espé-
ção direta com sua localização, não é suficiente cie de dissolução do escultórico enquanto tal. Eis
para que a escultura possa ser compreendida aí um caminho que reforça a monumentalidade na
como monumento. Ou seja, para além de seu uso arte contemporânea, agora não mais atrelada à
público, sua forma precisa atestar relação íntima noção histórica de monumento. No entanto, inte-
entre aquilo que representa e o sítio no qual se ressa-nos aqui, em particular, outro processo anali-
localiza. No entanto, na maior parte das ocasiões sado pela autora.
em que a escultura modernista se submeteu à Uma vez que o monumental era uma das
lógica tradicional do monumento, “falhou” jus- condições necessárias para que a escultura adqui-
tamente por não constituir um vínculo conceitual risse dimensão pública, sempre que almejaram pro-
consistente com sua localização, reforçando, no duzir monumentos, artistas modernistas recorreram
final das contas, seu caráter desterritorializado. a maquetes para planejar e reforçar suas escolhas
Desse modo, Krauss chega à conclusão de que formais, conceituais e subjetivas. No entanto,
no modernismo a escultura apresentou uma “rela- Krauss argumenta que em muitos desses casos a
ção negativa” com a noção de monumento, não dimensão inventiva das maquetes e projetos aca-
deixando de explicitar uma existência autônoma, bou comprometida frente à rigidez das ampliações
mesmo quando sua presença se dá no espaço monumentais das obras propriamente ditas, execu-
público. O que caracteriza historicamente a escul- tadas em outra escala e a partir de outros materiais
tura modernista, então, é sua função, condição e e procedimentos. Por isso, as maquetes, mais que
sentido nômades, podendo circular por diferentes suas ampliações, contribuíram para a apreensão de
espaços e contextos sem necessariamente se com- novas possibilidades de investigação poética para
prometer com cada um deles. gerações futuras de artistas. Contrariando a lógica
A história “negativa” da escultura moder- da monumentalidade, essa condição criadora se
nista aponta, a partir do final dos anos 1960, para a notabiliza justamente no oposto dos earthworks, ou
emergência de uma espécie de “antimonumento”, seja, na dimensão daquilo que é apreensível pela
em que a ordem vertical tradicionalmente imposta mão e pelo olho. Nossa hipótese é que reside aí

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outro caminho percorrido pela dissolução da escul- para o contexto da produção artística (de sentidos).
tura na arte contemporânea, estimulando artistas Para Duchamp, o fazer manual do artista não era
a optarem e trabalharem com escalas reduzidas, a condição essencial para que o objeto passasse a
partir da adoção de outros procedimentos. ser compreendido como arte, uma vez que arte é
um valor atribuído simbolicamente a certas coisas
do mundo. Procedendo desse modo, Duchamp
evidenciou a dimensão discursiva implícita no
Pequenas escalas e arte contemporânea: os objetos gesto do artista, capaz de acionar esse processo
e a apropriação de “transmutação” simbólica de algo considerado
não-arte à categoria de arte. O filósofo Arthur C.
Nos anos 1960, o objeto ganha notoriedade como Danto, dedicando-se a refletir sobre certos objetos
opção conceitual para muitos artistas que traba- da arte pop cuja existência artística remetia a ima-
lhavam no campo da tridimensionalidade sem, no gens e objetos banais, a partir do cotidiano e do
entanto, submeter sua investigação à lógica con- consumo massificado, chamou esse processo de
vencional da escultura. O objeto na arte era con- “transfiguração do lugar-comum”.3
siderado, naquele momento, como um elemento Se já é um dado mais ou menos reconhe-
híbrido, nem escultura nem pintura, sem pedestal cido o uso e apropriação de objetos do cotidiano
e sem moldura, assentado e contaminado com o na arte contemporânea, não é nosso objetivo aqui
mundo, em diálogo com as vanguardas históricas aprofundar esse processo, reforçando diferenças
da primeira metade do século XX, sobretudo o temporais ou regionais. Interessa-nos, a partir de
dadaísmo e o surrealismo, e em fricção com a pro- um recorte metodológico, o uso e apropriação de
dução e oferta em larga escala de objetos produzi- certo tipo de objetos e situações: as miniaturas ou
dos em série para o consumo de massas. Essa nova maquetes. Em geral, pode-se produzir objetos e
categoria – “objeto” –, mais que uma presença cenas em escala reduzida, mas é comum que artis-
tridimensional no campo da arte, provocou deslo- tas se utilizem de material disponível no comércio
camentos técnicos e conceituais, desestabilizando popular ou especializado (seja brinquedos, minia-
concepções historicamente cristalizadas, a ponto turas para colecionismo, bibelôs ou mesmo itens
de colocar em questão os usos, funções e dimen- de maquetaria). Nesses casos, mais que “maque-
sões da própria arte. tes” ou “estudos” visando planejar obras que
A apropriação passa então a ser um proce- serão futuramente ampliadas, estamos diante da
dimento incorporado ao repertório dos artistas, presença de trabalhos propriamente ditos, obras
assim como havia proposto Marcel Duchamp com que recorrem às pequenas escalas como condição
seus ready-mades no início do século XX, ao des- e conceito, potencializando aspectos narrativos por
locar objetos industrializados, produzidos em série, meio desse recurso. Nesses casos, as pequenas

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estrutura metálica recoberta de açúcar,
fios de algodão e seda, bordado, lã,
plástico, papelão, madeira e talco
dimensões variáveis
Fig. 1 Ana Miguel
Sono, 2006

escalas físicas tornam-se grandes escalas discursi- poéticas presentes na trajetória e universo de
vas, acionando a memória do espectador a partir investigação de cada artista, ou mesmo por outras
de uma relação mais intimista com cada subjetivi- chaves conceituais e teóricas. Colocadas em con-
dade, mas capaz de ser acessada por um grande junto, entretanto, apontam para o uso e apropria-
número de pessoas por tratar-se de uma experiên- ção de elementos em escala reduzida na produção
cia intersubjetiva, passível de ser partilhada. de arte nas últimas décadas e permitem recolocar
A exposição Pequenas Escalas mostra um questões sobre a produção tridimensional na arte
breve recorte da redução de escala na arte con- contemporânea. Façamos, então, uma aproxima-
temporânea brasileira, procurando investigar as ção desses pequenos grandes mundos.
diversas motivações assumidas pelos artistas que
dela fazem uso. Muitas das obras selecionadas
não necessariamente foram concebidas a partir do
intuito único de evidenciar questões de escala. Em A experiência do extraordinário: aproximando-se
geral, quando expostas em contextos diferentes, das obras
outros aspectos discursivos, formais e simbólicos
dessas obras chamaram a atenção de seus analis- À medida em que percorre o País das Maravilhas,
tas e do público, uma vez que elas também podem Alice descobre outras possibilidades de elabo-
ser compreendidas a partir de outras questões ração daquilo que sabe e conhece da realidade.

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Rublev de Tarkovsky e cama de brinquedo
intervenção sobre trecho do filme Andrey
Hoje todos devem amar: um sonho

pau-brasil, esculturas em crochê,

antiga 250x270x71cm
Fig. 2 Ana Miguel

do Léry, 2012
Cada personagem e situação inusitada guarda O recurso às pequenas escalas na obra de
para a menina um misto de mistério, fantasia e Ana Miguel é uma evidência inegável. Nela, vemos
alguma familiaridade, uma vez que o contato a presença desses elementos em diálogo com cer-
a leva continuamente a acionar suas memórias tas ideias sobre o feminino, aspectos da infância
pessoais na tentativa de apreender e compreen- e o amplo repertório de narrativas, dos contos de
der aquele novo universo que se coloca diante fada à literatura em geral, passando pela história e
dela. Nossa experiência com a arte apresenta pela psicanálise. Muitos de seus trabalhos se rela-
similaridades em relação a esse processo des- cionam com a memória e se configuram a partir de
crito por Lewis Carroll: a dimensão do encontro um fazer manual. Esse processo de concepção, por
com o extraordinário, capaz de solicitar memórias meio do crochê e da costura, entre outras técni-
diversas e a proporcionar (novas ou velhas) expe- cas e procedimentos adotados pela artista, reitera
riências, estimula conexões entre o inesperado e o vínculo narrativo e a natureza erótica de muitas
o habitual, entre aquilo que encontramos diante obras, vide o caráter háptico que os materiais ofe-
de nós e aquilo que carregamos conosco como recem ao olhar. A aparente delicadeza e a dimen-
repertório prévio; nos permite pensar realidades são lúdica desses trabalhos, entretanto, quase
outras, acessar o terreno da imaginação – e com sempre são acompanhadas por doses de humor e
ela o poder e a liberdade (política) de imaginar. perversão, a partir de fricções da ordem do trauma,
Sigamos então por esse caminho. das pulsões, do confronto e da violência velada ou

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explícita. Ainda, a constante presença de palavras Entre Europa e América, a artista confronta dois
bordadas, em geral soltas e ligadas por meio de momentos a partir de uma dimensão aparente-
fios, informam, acrescentam camadas à teia de sig- mente lúdica, seja pela escala dos objetos ou pelo
nificados que constituem a experiência sensível do material do qual são feitos. Na obra, as pequenas
contato com a obra. partes de corpos dilacerados são dispostas sobre
Em Sono (fig. 1), Ana Miguel parece sugerir uma pequena cama e sobre uma grelha apoiada
essa dimensão de incerteza, quase um estado de em galhos de pau-brasil, ao modo das muitas
vigília, em que não sabemos exatamente os limites gravuras europeias que representaram a prática
entre o real e o onírico. A pequena cama, revestida da antropofagia, tais como as imagens presentes
com açúcar, acompanhada das diversas roupinhas no livro Duas viagens ao Brasil (1557), de Hans
em cabides e de uma maleta delicada carregam a Staden, e as produzidas por Theodor de Bry para o
atmosfera de um senso do feminino, lembrando as livro Americae, tertia pars: Memorabile provinciae
casas de bonecas e a ambiência da infância. No Brasiliae historiam (1592). Conjunto de resíduos
entanto, a natureza do sono é porosa, intercalando que, sem perder seu caráter fragmentário, procura
memórias vividas e inventadas, lembranças reco- desestabilizar códigos de representação e visões
nhecíveis e deformadas, que não necessariamente históricas construídas por meio de um olhar atra-
remetem a um momento preciso no tempo e no vessado pelas religiões e seus interditos, como em
espaço. Dados vermelhos sugerem o acaso e o um jogo onde as aparências são continuamente
jogo (de memórias), reforçando que nesse terreno questionadas e reelaboradas.
nada é o que parece. Palavras ligadas pela trama de A partir da multiplicidade de meios, técnicas
fios conectam esses elementos de modo sinuoso, e materiais identificáveis na trajetória de Anna Bella
ondulante, fornecendo indícios fragmentares sobre Geiger, é possível igualmente reconhecer diversos
a atmosfera que impregna todas as coisas. conjuntos de questões que habitam sua poética,
Já em Hoje todos devem amar: um sonho aproximando trabalhos produzidos em momentos
do Léry (fig. 2), a artista aproxima um dos primeiros diferentes e muitas vezes com visualidades distin-
relatos históricos sobre o Brasil, feito pelo missio- tas. Representações geográficas e seus códigos, a
nário francês Jean de Léry, em História de uma via- inerente dimensão política e seu estatuto histórico,
gem feita à terra do Brasil (1578) – e que registra, acumulativo e anacrônico, em alguns casos, consti-
entre outros aspectos, o ritual de antropofagia dos tuem um tema de interesse e uma de suas conste-
tupinambás – de um fragmento de Andrey Rublev lações de obras. A artista tem como referência as
(1966), de Tarkovsky – filme baseado na história muitas cartografias, do ponto de vista conceitual
do monge e pintor russo de ícones, homônimo e simbólico, reais e inventadas, provenientes de
ao título, que viveu no século XV – que representa diferentes épocas e matrizes culturais, lidando com
seu encontro com praticantes de um ritual pagão. a sobreposição de tempos, suas significações e a

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própria imprecisão como campo de possibilidades. água contribuem para moldar/simular um território
Ao tomar a linguagem cartográfica como matéria, ficcional, pela justaposição e concomitância de inú-
Anna Bella Geiger redimensiona separações entre meras camadas de resíduos e temporalidades. Circa
o científico e o mítico a partir do aspecto discursivo MMVI se constitui como uma espécie de grande
inerente a essas variadas narrativas, estabelecendo maquete, para usar um termo familiar, que ocupa o
situações ambivalentes mediante a perceptível chão do ambiente onde a instalação é construída.
porosidade dos elementos presentes nas obras e o Insinuando ruínas, escavações em andamento, des-
trânsito por fronteiras quase sempre móveis. cobertas arqueológicas – e até mesmo acidentes e
A intervenção Circa MMVI (fig. 3) surgiu em catástrofes, uma vez que em sua última montagem,
2006, a partir do projeto Respiração, e compreendia no Solar dos Abacaxis, também no Rio de Janeiro,
uma intervenção da artista na Sala da Renascença a artista incluiu referências ao desastre em Mariana
da Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Desde –, e aliada à projeção de um vídeo, a obra reforça
então, já assumiu formas e amplitudes variadas à a concepção de um tempo e de um espaço ficcio-
medida em que se desdobrou em novos contex- nais, imprecisos e ao mesmo tempo concretos.
tos temporais e se inseriu em diferentes espaços Ao trabalhar com aquilo que o termo latino
físicos. Tomando-se a noção de sítio arqueológico circa representa – cerca de –, Anna Bella Geiger opta
como parâmetro, a presença de elementos em pelo sentido de imprecisão contido nas tentativas
escala reduzida, relacionados a diferentes culturas de marcação objetiva do tempo. Dessa experiência
antigas, e o uso de matérias como terra, areia e decorre o trabalho Circa 1 (hum) (fig. 4), gaveta de

saibro, barro, cal, tijolos e azulejos antigos e em


vídeo em cores, som, 30min, areia de rio, terra,
vídeo/intervenção simulando sítio arqueológico

registro fotográfico: Romulo Fialdini


Fig. 3 Anna Bella Geiger

miniatura 400x400x70cm
Circa MMVI, 2006

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gaveta antiga de madeira, areia, terra, tijolos,

arquivo de ferro antigo, encáustica, metais e


azulejo e óleo sobre madeira 55x65x15cm
Circa 1 (hum), da série Fronteiriços, 2006

Orbis descriptio com um vento, da série

coluna de bronze 15x45x12cm


Fig. 4 Anna Bella Geiger

Fig. 5 Anna Bella Geiger

Fronteiriços, 2016

madeira contendo um pequeno sítio arqueológico,


delimitado pelas paredes do objeto-continente,
como um recorte do projeto de instalação realizado
no mesmo ano. Além da relação do título e do uso
de um vocabulário da arqueologia, a gaveta como
suporte insere esse trabalho em uma série maior da
artista, intitulada Fronteiriços, da qual também faz
parte Orbis descriptio com um vento (fig. 5), gaveta
de metal, proveniente de um antigo arquivo, con-
tendo parafina com uma gravação, índice de uma
presença, e elementos em metal que reproduzem
tridimensionalmente um esquema cartográfico.
Acompanham o conjunto, uma pequena coluna
dourada e uma pequena cabeça alada, de natu-
reza angelical, mas que verdadeiramente remete
às representações greco-romanas dos ventos, cuja
imagem é recorrente em muitos mapas históricos.
Tanto em uma obra quanto na outra, gavetas são
metáforas daquilo que se guarda e se organiza, um
conjunto de memórias fragmentadas, manipuláveis
e ao mesmo tempo movediças.

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tapete brocado e madeira 130x27,5x23,5cm
castiçal de alabastro, vidro, penas de aves,

mármore, resina, cerâmica e metal


Escultura alada IV, 2011
Escultura alada I, 2011
Fig. 6 Brígida Baltar

Fig. 7 Brígida Baltar

26x13x22cm
A poética de Brígida Baltar abrange desde com o tempo em estado de suspensão. Há no con-
trabalhos em que a presença do corpo da artista junto da obra da artista vários trabalhos em que a
é um dado imanente, cuja imagem é capturada presença de elementos em pequena escala se evi-
no registro da ação e persiste em vários suportes, dencia, desde os que utilizam pó de tijolo como
como a fotografia, o vídeo ou filme, até aqueles em matéria moldável até aqueles em que o recurso da
que seu gesto está implícito, reforçando um desejo apropriação possibilita a transformação do formato
de transformação das coisas e dos materiais – por do objeto mediante a soma, por meio de um pro-
meio de ressonâncias, vínculos entre os seres e os cesso de montagem, de diferentes elementos.
ambientes que ocupam – e a dialética decorrente No conjunto de trabalhos relacionados à
de certa dimensão impalpável, por vezes fantasmá- noção de voo e ao desejo humano de voar, Brígida
tica, frente à presença física das obras. A natureza Baltar, por vezes, se apropria de peças adquiridas
ficcional é comum aos trabalhos e aparece por em antiquários, brechós e feiras de antiguidades
meio do uso de elementos que remetem a narrati- e as modifica acrescentando novos materiais e
vas e histórias diversas, muitas vezes apresentando elementos diversos. Em outros casos, opta pelo
personagens híbridos e atmosferas misteriosas, recurso da maquetaria, de modo a criar pequenos

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Fig. 9 Brígida Baltar Fig. 8 Brígida Baltar
Sem título, 2011 A vertigem do pavão ou máquina
madeira balsa, abajur de para voar, 2011
bronze e lâmpada vermelha madeira, bronze e motor Ø50x165cm
40x35x40cm

Fig. 10 Brígida Baltar


Fig. 11 Brígida Baltar Teatro de sombras, 2011
Casa pássaro, 2012 madeira balsa e vídeo
madeira 28x55x80cm 173,5x36,5x50cm
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cenários e “máquinas” cujo movimento é um dado do palacete, a cantora lírica Gabriela Besanzoni, e
conceitual importante. Em Escultura Alada I (fig. 6) a seu canto, que impregnava o ambiente tal qual
e Escultura Alada IV (fig. 7), a montagem de ele- as aves que ali habitam. Juntos, esses trabalhos
mentos heterogêneos sugere a criação de formas evidenciam uma configuração espacial onde cada
híbridas – entre representações humanas, objetos um deles conecta-se aos demais e, assim, articulam
decorativos e seres alados – a partir do acréscimo uma atmosfera contemplativa, onírica, entre ilusão
de elementos simbólicos ligados diretamente a e devaneio, formada por fragmentos constelares
pássaros, como penas e plumas, ou que lembram de uma história do desejo humano de voar.
partes de seus corpos. A apropriação de objetos O interesse por inúmeras técnicas, materiais,
em miniatura também está presente em A vertigem procedimentos e narrativas contribui para que a
do pavão ou máquina para voar (fig. 8), concebida produção de Cadu seja multifacetada, mantendo
a partir de uma pequena escultura em bronze da em comum tanto o ponto de partida, localizado na
ave que dá título à obra, presa de ponta-cabeça curiosidade e no interesse investigativo do artista
numa haste, posta na condição de rodopiar lenta- – aquilo que o impele a experimentar e a desenvol-
mente em torno de um eixo fixo. Uma atmosfera ver um trabalho –, quanto sua concepção por meio
de devaneio, lúdica e ao mesmo tempo fantástica, da criação de sistemas e jogos. Os trabalhos quase
é inerente a essas obras. sempre explicitam suas regras e recorrem ao uso de
O aspecto construtivo, engenhoso, presente dispositivos tecnológicos, simples ou complexos,
na estrutura das “máquinas para voar” é reiterado por sua capacidade de produzir situações-regis-
em Sem título (fig. 9) e Teatro de sombras (fig. 10), tros que não necessariamente se limitam ao con-
objetos que remetem à dimensão cênica da escala trole prévio, mas admitem certa parcela de acaso
da maquete. Enquanto no primeiro caso temos e imprevisibilidade. Cadu flerta com a ciência, seus
uma referência ao teatro de arena, posto sobre meios técnicos e processos metodológicos, mas
a base alada de um abajur; no segundo, sobres- sem que isso condicione o trabalho a um fetiche da
sai uma “caixa” em formato de palco à italiana, tecnologia ou do ideário científico. Muitas vezes, o
cujo pequeno auditório enquadra uma projeção, desejo de concretização exige algum grau de abdi-
sequência fotográfica em movimento, apresen- cação e esforço físico ou mental para obtenção do
tando silhuetas em diferentes posições de uma resultado esperado. Na produção do artista, minia-
mulher-pássaro em sua tentativa de alçar voo. Por turas e pequenas escalas aparecem em diversos
fim, Casa pássaro (fig. 11) sugere uma ligação entre trabalhos, seja como elementos constituintes de
a maquete do palacete onde hoje funciona a Escola um sistema, partes integrantes de um todo, seja
de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, por representarem a dimensão de planejamento
e a estrutura das casas de pássaro, com suas caixas do trabalho nas suas variações projetivas. Nos dis-
com furos na entrada, remetendo à antiga moradora positivos e jogos desenvolvidos por Cadu persiste

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trem elétrico, vagões, trilhos, hastes,
garrafas, copos e madeira
Partitura, 2010/2011

dimensões variáveis
Fig. 12 Cadu

uma dimensão lúdica, proporcionando um vínculo capaz de introduzir pequenas variações em uma
entre a infância e a vida adulta – crescer não neces- melodia pelo modo como lê e interpreta certas
sariamente é abandonar esse estado, mudam-se informações contidas na partitura. O tamanho da
apenas os brinquedos e interesses imaginativos. malha a ser percorrida pelos trenzinhos, uma mais
Em Partitura (fig. 12), dois pequenos trens extensa que a outra, a velocidade que cada loco-
percorrem diferentes malhas ferroviárias, miniatu- motiva assume, uma delas geralmente mais lenta
ras provenientes de lojas especializadas, ora guar- que a outra, e, por fim, a disposição, formato e
dando a dimensão de brinquedo, ora de objeto propriedades dos vários frascos, garrafas, copos
produzido para suprir uma demanda colecionista. e vasos de vidro espalhados sobre a mesa defi-
Os diferentes percursos dos trens são responsáveis nem esse conjunto de variáveis no sistema. Ao
por acionar a partitura imaginária que compreende movimentar-se, os pequenos trens provocam sons
uma música aberta, modificando-se a partir de sequenciais por meio de esferas metálicas, presas
diversos fatores, assim como um instrumentista é em seus vagões por arames, que se chocam com

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duas secções transversais de pinho

madeira, mil alfinetes, mil barbatanas


e carvalho. O trabalho foi pensado

boneco de látex, dois tabuleiros de


para se constituir sozinho em uma
exposição ocupando a área de no
mínimo 200m2 0,90x0,90x0,90cm
cubo de madeira, composto por

registro fotográfico: Pat Kilgore

e motor dimensões variáveis


Cruzeiro do Sul, 1969/70
Fig. 13 Cildo Meireles

Fig. 14 Cildo Meireles


Camelô, 1998

os vidros no percurso como o martelo de uma em movimento, a visualidade do conjunto, pelas


tecla no piano. As sequências de som variam em diferentes formas e cores de seus elementos cons-
ritmo, intensidade, volume e textura a partir da tituintes, reforça o aspecto lúdico do trabalho e a
configuração visual desses elementos, como uma sonoridade por ele produzida.
partitura fixa, porém aberta, uma vez que esses A noção de escala por si só é um dado con-
elementos preveem uma variação mediante a não ceitual recorrente na trajetória de Cildo Meireles.
sincronização dos dois trens, dado inerente ao A série Arte física, do final dos anos 1960, já acio-
sistema criado por Cadu. Como em um desenho nava dispositivos de representação para ressaltar a
ideia de movimento em um contexto dificilmente
apreensível devido a sua ampla escala geográfica.
Para sua realização, o artista recorreria ao oposto
dessa escala, a partir da cartografia, uso de esque-
mas gráficos, caixas e pequenos objetos capazes
de conter resíduos do movimento, em referência à
dimensão conceitual dessas proposições. No que
se refere às pequenas escalas e a seu contraste
com relação ao entorno (o mundo), Cruzeiro do
Sul (fig. 13) talvez seja o trabalho mais conhecido
do artista, embora não seja em si uma miniatura. O
cubo de madeira com dimensões mínimas, quase
insignificantes, existe a partir de seu contrário, das
grandes proporções do local expositivo “vazio”
que o contém. E é feito a partir da justaposição de

20
encadernação, feltros, leds e acrílicos
miniaturas, fotografias, linha de

Dimensões variáveis
Fig. 15 Gê Orthof
Mar! armar, 2015

pinho e carvalho, duas madeiras sagradas para os por duas bancas em miniatura, uma com alfinetes
tupis que, juntas, são capazes de acionar o fogo e outra com barbatanas de colarinho de camisa,
e representam, segundo o artista, justamente a representando vendedores ambulantes tão comuns
simplificação que os missionários, sobretudo jesuí- nas cidades. Ao movimentar seus braços, ora apon-
tas, impuseram historicamente à cosmogonia das tando para um dos produtos, ora para outro, o tra-
populações indígenas no Brasil. Nesse sentido, o balho se refere a um conjunto de objetos ínfimos,
trabalho nos alerta para a dimensão simbólica da banais e imperceptíveis, mas que, quando serializa-
escala, que extrapola consideravelmente a dimen- dos e multiplicados, ampliam sua escala de visibi-
são física material do pequeno cubo. lidade e circulação. Pequenos sujeitos e pequenos
Camelô (fig. 14) é outro trabalho de Cildo objetos – alfinete e barbatanas de colarinhos –
Meireles que se caracteriza pela utilização da movimentam uma grande estrutura de produção
pequena escala. Feito em série, com edição de e circulação de coisas de mínimo valor e dimen-
1000 objetos, trata-se de uma silhueta humana são. Assim, além de lúdico, o trabalho possui uma
motorizada de látex e com traços bastante esque- dimensão política, porque coloca em contraste as
máticos, seja em relação a seu formato ou aos tra- consideráveis diferenças de escala, entre o micro
ços de sua fisionomia. A figura é acompanhada e o macro, o visível e o invisível, o que se dá a ver

21
e o que se esconde na periferia das cidades e dos obra por parte do espectador. Entre os elementos
espaços expositivos. recorrentes em seus trabalhos, vemos miniaturas
Gê Orthof é também um dos artistas mais próprias para maquetes, pequenos brinquedos,
conhecidos quando se trata do uso de peque- bibelôs, objetos minúsculos variados, caixinhas de
nas escalas na arte contemporânea. Após ler uma música, elementos diversos inseridos em situações
notícia no New York Times, onde se dizia que o construídas com materiais como o acrílico, o espe-
tempo médio que as pessoas passavam em frente lho, o feltro, a madeira balsa, luzes de LED e, em
a uma pintura no Metropolitan Museum of Art era geral, livros. Para além de certa curiosidade em rela-
de menos de cinco segundos, o artista começou a ção ao mundo e suas coisas, Gê Orthof é um leitor
utilizar miniaturas em seus trabalhos. Assim, cons- fascinado pelas histórias e pelos livros, elementos
tituía um conjunto de cenas com muitos detalhes, essenciais desde o início de uma ideia, um lampejo
de modo a estimular uma apreensão demorada da ainda pouco nítido do caminho a ser seguido, até a

22
elementos de contraposição transversal em uma
Os Himalaia: ele que não subia em árvores, 2015
paisagem marítima. Na base desses elementos

cartas de baralho [4 diferentes conjuntos]


madeira balsa, linhas e caixa de música verticais, nos dois lados da instalação, vemos atlas

Fig. 17-20 [p.22 e 23] Luiz Zerbini


Col. Museu Oscar Niemeyer – MON
abertos em páginas cujas imagens representam

Alice no País das Maravilhas, 2009


acrílico, livros raros, mesas de luz,

diferentes bacias hidrográficas. De um ponto a


outro, diversas pausas, situações que fazem apelo
a paradas para apreensão de cenas repletas de

dimensões variáveis
miniaturas – pessoas, animais, garrafinhas, peque-
Fig. 16 Gê Orthof

180x150x500cm

nos tijolos etc. –, situações autônomas e ao mesmo


tempo conectadas ao todo. Muitas dessas pausas
também são assinaladas pela presença de imagens
fotográficas de diferentes barcos, em azul, a nave-
gar simbolicamente de um lado a outro, como uma
metáfora para o olhar. Esses diversos fragmentos
obra pronta, como nos casos em que os livros que constituem uma narrativa em aberto, a ser apreen-
abrangem o universo conceitual e poético da insta- dida, completada e estruturada por cada especta-
lação estão materialmente na mesma. A delicadeza dor, não havendo início ou fim determinados.
das configurações planejadas pelo artista, sua fra- Por sua vez, a presença de uma torre de
gilidade inerente – uma vez que muitas de suas ins- acrílico transparente em Os Himalaia: ele que não
talações só existem a partir do momento em que subia em árvores (fig. 16) salienta metaforicamente
são montadas para exibição, podendo variar de a verticalidade de uma única montanha, o Himalaia.
montagem para montagem – e a curiosidade que Mas, na obra, para além de uma presença física,
despertam frente ao grande número de estímulos no singular, a cordilheira se multiplica nas muitas
contribuem para compor o conjunto de (novas) nar- imagens criadas por seus desbravadores (e narra-
rativas atreladas à orbita de cada trabalho. Um jogo dores), remetendo a diferentes possibilidades de
de memórias em uma trama cujas costuras são con- escaladas, algumas imaginárias, a partir do enfren-
tinuamente refeitas. tamento de uma montanha quase inacessível. Das
A horizontalidade da obra Mar! armar (fig. pontes suspensas à torre em acrílico, o trabalho
15), assentada sobre o piso da galeria, assim como aciona uma grande quantidade de miniaturas e
seu longo comprimento, evidenciam aspectos livros cujas narrativas remetem diretamente à mon-
importantes para estruturação do trabalho. Esse tanha ou a aspectos próximos a suas histórias. A
eixo horizontal possui em cada extremo uma base carta do artista para o alpinista venezuelano José
vertical em acrílico que marca certa orientação, Antonio Delgado Sucre, narrada em áudio, eviden-
como se sugerindo mastros de navios ou faróis, cia uma série de proximidades entre os elementos

23
contidos na instalação, acionando uma trama ima- certas experiências desenvolvidas por Picasso a
ginária que os conecta e constantemente os res- partir do cubismo sintético e algumas experimen-
significa. Desse modo, o texto-carta de Gê Orthof, tações da escultura modernista, não necessaria-
como grande narrador, orquestrador de narrativas, mente restringindo-se às figuras impressas nas
é a dimensão que conecta todos esses elementos. cartas, mas criando novas formas a partir da varia-
Luiz Zerbini é mais conhecido por sua pro- ção de planos e ângulos. O trabalho foi desenvol-
dução pictórica, mas seus trabalhos abrangem vido durante cerca de dois anos, o que resultou na
outros meios, como a escultura, a fotografia, o elaboração de grande quantidade de cenas e per-
vídeo e as instalações, além de obras que sur- sonagens. No final do processo, esses elementos
giram a partir da sua participação no coletivo tridimensionais foram fotografados e as imagens
multimídia Chelpa Ferro, desde 1995. Zerbini foi integraram o livro de Carroll. Desde então, esses
convidado por Charles Cosac para ilustrar o livro pequenos objetos feitos com cartas de baralho
Alice no País das Maravilhas traduzido por Nicolau nunca haviam sido expostos.
Sevcenko e publicado em 2009 pela Cosac Naify. Para a exposição, quatro conjuntos foram
Na ocasião, optou pelo uso de cartas de baralho selecionados do todo criado pelo artista: a torre
para conceber o universo elaborado por Lewis do castelo da rainha de copas, com sua passa-
Carroll, passou a colecionar uma grande quanti- rela extensa; um conjunto de soldados, enfilei-
dade de modelos e utilizou o processo de corte rados como em uma marcha, e que apresentam
e dobra como procedimento para fazer com que uma configuração próxima ao cubismo; cartas em
a superfície das cartas adquirisse tridimensionali- menor escala, manchadas com tinta vermelha, com
dade. Nesse processo, assumiu como referências pequenas cabeças destacadas e que, na horizontal,

24
representam o resultado da ordem obsessiva da articulando beleza, ironia e crítica, de modo a
rainha de copas: “Cortem as cabeças deles!”. E, desestabilizar crenças socialmente arraigadas.
por último, um conjunto que figura o encontro de Márcia X era uma artista de muitos interesses, que
Alice com a lagarta, assentada sobre um grande flertava com diferentes linguagens e procurava
cogumelo, em um jardim onde cada carta repre- relacionar intimamente objetos e intervenções,
senta um elemento em escala diferente da reali- materialidade e gestualidade, símbolos, fetiches e
dade, de flores, plantas a borboletas. O conjunto desejos. Tendo o humor como traço marcante, em
exposto permite acompanhar a inventividade e o muitas instalações a artista recorreu ao uso de brin-
processo de concepção de um mundo fantástico, quedos, de modo a reforçar a relação do erotismo,
dando visualidade a uma das histórias mais conhe- e mesmo da sexualidade, com a fantasia e a natu-
cidas da literatura e que ainda hoje guarda seu reza lúdica dos objetos – ambivalência nada para-
poder de encantar crianças e adultos. doxal. Essa subversão explícita, em si, nada mais
A partir de uma visão de conjunto da traje- é que a evidência de uma subversão anterior, não
tória de Márcia X, evidenciam-se, de um lado, suas aparente, existente nos vínculos que os objetos
ações e performances e, de outro, os objetos que a previamente assumem com discursos carregados
artista criou a partir da apropriação de produtos do de fetichização e controle (religião, comércio, con-
comércio popular. Entre estes, encontramos itens sumo). Performatividade, em suma, não era apenas
eróticos e artigos religiosos, que, em muitos casos, um conceito que a artista aplicava em suas ações,
se conectam intrinsecamente. Em comum, as obras mas algo imanente à sua existência, à sua prática
e proposições colocam em confronto o sagrado cotidiana, aos usos dos objetos, ao seu modo de
e o profano, o transcendente e a mundanidade, estar no mundo.

25
27
Col. Museu de Arte Contemporânea/ Niterói
metal e correntes dimensões variáveis
tamanhos, passarinhos com coroas de
158 caixas de diferentes
Reino dos céus, 2000
Fig. 21 Márcia X
Reino dos Céus (fig. 21) é uma instalação que detalhes, informações, os pequenos pássaros não só
compreende 158 caixas de diferentes tamanhos, for- aproximam esses diferentes fragmentos, mas intro-
matos, materiais, cada uma contendo uma grande duzem uma dupla camada de sentido ao termo que
variedade de objetos, desde miniaturas, brinque- dá título à instalação, uma vez que podem remeter
dos, aviamentos em geral, material de desenho e ao céu como ambiente aéreo, habitat comum de
pintura, bijuterias – um imenso conjunto de peças muitas aves, mas também à certa transcendência
compradas e acumuladas durante anos pela artista. religiosa, simbologia metafórica do paraíso celeste.
Cada caixa possui sobre sua tampa um pequeno A banalidade dos materiais e objetos acumulados
passarinho, com uma coroa prateada na cabeça, nas caixas, como um mundo inacessível – embora,
elemento comum em imagens de santos. Cada pas- originalmente, as caixas estivessem disponíveis para
sarinho, por sua vez, junto com sua respectiva caixa, manuseio do espectador –, apresenta e reforça a
conecta-se a outros por meio de uma grande trama, natureza mundana desses elementos, como um
composta por uma fina e delicada corrente pra- dado interior, íntimo, mas externamente recoberto
teada. Frente à grande quantidade de elementos, por certa idealização e curiosidade.

28
Nazareno é outro artista que se destaca
devido à recorrência de elementos em escala redu-
zida em seus trabalhos. Além de objetos e insta-
lações, o artista possui uma vasta produção em
desenho e, não raro, suas obras se relacionam com
escritos. Quando se refere a esses textos, chama-os
de “acidentes literários”, talvez pelo modo como
surgem e como provocam erupções e ressonâncias
em torno das coisas e imagens. Palavras presen-
tes nos trabalhos e seus títulos guardam relação
próxima com narrativas que o artista articula, cor-
roborando a dimensão lúdica inerente às obras.
Seu interesse por fábulas, histórias fantásticas e
contos infantis contribui para a presença constante
de metáforas, concebendo cenas em que peque-
nos animais ou pequenos objetos são postos em
evidência em um mundo que orienta sua própria
existência, como em uma fábula visual. Memórias e
certa banalidade dos fatos cotidianos, que não dei-
xam de carregar histórias extraordinárias, são dados
importantes na poética de Nazareno, apreensíveis
em uma relação mais intimista com a obra.
Em Como eu fiz para entender o teatro (fig.
22), o desenho se desdobra no espaço, a partir do
uso de diferentes camadas de planos espaçados
entre si e organizados ao modo de um pequeno
teatro, com suas coxias aparentes quando vemos
as laterais do trabalho. A partir da separação de
uma mesma cena, representada em diferentes
suportes de papel, cada camada com uma abertura
central diferente, alinhadas em ordem decrescente,
da frente para o fundo (como um semicone) – per-
mitindo a visualização total do desenho quando
o espectador se posiciona em frente à obra –,

29
papel e madeira 160x50x60cm 
Col. Fernando e Camila Abdalla

Col. Fernando e Camila Abdalla


teatro, 2010 nanquim sobre
Como eu fiz para entender o

madeira, lente e miniaturas


Fig. 22 [p.27] Nazareno

Abre-se a floresta, 2012


Fig. 23 Nazareno

40x121x110cm

constitui um modelo de projeto cênico, ao mesmo óptica. Assim, a noção de perspectiva presente na
tempo que permite constatar um senso de pers- caixa cênica agora é fortalecida por meio da profun-
pectiva construída em camadas. Ou seja, a dife- didade ótica, permitindo a apreensão da cena sob
rença entre o espaço representado no desenho e a certo ponto de vista, contra a luz que penetra no
constituição de um espaço tridimensional, a partir interior por meio da parede de fundo, fazendo com
da distribuição das camadas pela estruturação de que todos os elementos sejam apreendidos como
uma pequena caixa cênica, remete à sentença que figuras imersas em certa penumbra. Essa atmosfera
dá título à obra, guardando ao mesmo tempo um lúdica marca o momento em que esses pequenos
apelo didático – ao partilhar aquilo que se enten- animais ocupam o ambiente ausente de figuras
deu com outras pessoas. humanas, como se pudéssemos apreender algo que
O coelho e os pássaros presentes em Como ocorre quando não estamos efetivamente por perto.
eu fiz para entender o teatro reaparecem como per- Por fim, Nós, que de nada esquecemos! III (fig. 24),
sonagens de Abre-se a floresta (fig. 23), mas agora apresenta uma pequena cama repleta de dados,
em formato tridimensional, como miniaturas, junto amontoados de modo a ocupar todo o espaço onde
a outros elementos, como cadeiras, cama e piano. estaria o colchão. A espécie de tabuleiro que sus-
No entanto, a cena contida em uma caixa fechada tenta a cama apresenta-se como uma maquete de
só é acessível ao espectador por meio de uma lente um piso de pequenos tacos, seguindo um padrão
na lateral, como se fosse uma espécie de caixa gráfico bastante comum, cuja textura geométrica

30
Nós, que de nada esquecemos! III, 2015
assoalho, cama de madeira e dados

Col. Fernando e Camila Abdalla


Fig. 24 Nazareno

6x30x42cm

contrasta com os múltiplos pontos pretos da super- importante centro para diferentes religiões, que a
fície dos dados. O trabalho reforça a dimensão do artista realizou em 2013, despertou seu interesse
jogo da memória, literal e metaforicamente, daquilo também pela bíblia, por seu formato, materiali-
que se lembra e daquilo que se esquece (as faces dade, conteúdo e história, desde então passando
ocultas) – ou não se pretende esquecer. a utilizar o livro em performances e na concepção
Entre as várias linguagens recorrentes na de objetos. Outro aspecto importante na produ-
produção de Regina de Paula, o uso da areia mol- ção recente da artista é a relação histórica com os
dada tem sido frequente desde o final dos anos processos de colonização e evangelização, que
1990, presente em instalações, performances, submeteram e continuam submetendo popula-
fotografias, vídeos e objetos. Passando pelos cas- ções ameríndias à violência física e psicológica.
telos de areia nas praias à experiência do deserto Essas diferentes camadas de tempo e significa-
e das ruínas de antigas civilizações, repletas de dos se entrecruzam criticamente nos trabalhos de
blocos de pedra que se desfazem em areia, a Regina de Paula, como o ato de revolver a areia
artista tem investigado o uso do material nos seus para encontrar aquilo que a mesma esconde.
aspectos técnicos, construtivos, mas também sim- Templo de areia (fig. 25) e Templo negro
bólicos, remetendo à construção de paisagens, (fig. 26) reforçam a utilidade das pequenas formas
mas também à passagem do tempo, físico, histó- de plástico para moldagem de areia, presentes
rico, arqueológico, mítico. A viagem a Jerusalém, em kits infantis para brincar na praia, em formato

31
padronizado pela indústria. Neles, o formato do
templo é repetido em diferentes materiais – areia
e borracha –, singularizando sua existência a par-
tir de propriedades como cor, textura etc. A forma
para moldagem possibilita a construção de peque-
nas arquiteturas frágeis, que se contrastam com a
perenidade própria dos castelos, templos e cons-
truções funerárias, como as pirâmides, e evidencia
esse jogo de tempos e processos. Bíblia (templo
de areia) (fig. 27) também apresenta uma pirâ-
mide feita com areia a partir de um molde plás-
tico padronizado, mas, por sua vez, insere-se no
grupo de trabalhos em que Regina de Paula uti-
liza a materialidade da bíblia para constituição de
objetos. Nesse caso, a bíblia em língua espanhola
é marcada pela presença de um pequeno templo
de areia emergindo do centro de seu miolo, cujo
formato é facilmente reconhecível: trata-se de uma
pirâmide asteca. O trabalho confronta a história da
ocupação do continente americano por europeus, a
partir de um processo no qual a evangelização tor-
nou-se meio violento de eliminar as práticas cultu-
rais e a existência de inúmeras populações nativas.
Perenidade e destruição novamente andam juntas,
a partir das simbologias instituídas de poder.

O jardim de Alice: a liberdade (política) de imaginar

Poderíamos pensar metaforicamente os diversos


encontros que Alice teve no País das Maravilhas
como um grande jardim, no qual a singularidade de
cada planta, de cada inseto, de cada personagem,

32
areia e impermeabilizante
Fig. 25 Regina de Paula
Templo de areia, 2012

8x11x14cm

bíblia em espanhol com areia,

impermeabilizante 29x46cm
Bíblia (templo de areia), 2014
Fig. 26 Regina de Paula

Fig. 27 Regina de Paula


borracha 8x11x14cm
Templo negro, 2012

templo de areia e

constitui em si um pequeno mundo cultivado lado Essa natureza imaginativa, inerente aos
a lado. Cada um dos trabalhos expostos na mostra momentos de brincadeira, tão comuns na infância,
Pequenas Escalas coloca o espectador sob um novo nos acompanha em várias instâncias de nossa vida
prisma, sugerindo a mudança de ritmo, a observa- adulta, passando pela reflexão, planejamento, lazer
ção mais demorada e atenta aos diferentes estímu- e entretenimento. De diferentes modos, somos
los, à variedade de elementos, materiais e soluções seres imaginativos. Exercer essa capacidade com
presentes nas obras. A experiência do espectador liberdade, sem amarras, sem limitações, é em si um
apresenta uma dupla natureza: no que concerne a ato político. Reside aí, também, aquilo que o filó-
imaginação e ao caráter lúdico das obras, é uma sofo Jacques Rancière trata sob o termo “partilha
experiência particular, pessoal e intimista; por outro do sensível”, a natureza política daquilo que pode
lado, é potencialmente partilhada entre diferen- ser vivido e partilhado entre uma comunidade,
tes pessoas já que gera encantamento e desperta entre pessoas diversas que possuem o comum
curiosidade. Diferentes gerações, diferentes per- como laço e compromisso mútuo:
cepções, diferentes relatos – diálogos atravessados
por memórias, narrativas do ontem e do hoje, infor- Denomino partilha do sensível o sistema de evidên-
cias sensíveis que revela, ao mesmo tempo, a exis-
mações históricas e dados vivenciais que colocam
tência de um comum e dos recortes que nele definem
em evidência as múltiplas experiências suscitadas. lugares e partes respectivas. Uma partilha do sensível

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fixa portanto, ao mesmo tempo, um comum parti-
lhado e partes exclusivas. Essa repartição das partes
e dos lugares se funda numa partilha de espaços, tem-
pos, tipos de atividades que determina propriamente
a maneira como um comum se presta à participação e
como uns e outros tomam parte nessa partilha.4

Sempre que liberdades em geral são tolhi-


das, o ato de imaginar é aquilo que minimamente
guardamos de pessoal, íntimo, subjetivo e, por
que não, subversivo. Ao mesmo tempo, um bem
comum, laço que nos torna humanos e nos conecta
uns aos outros. É o que acontece quando Alice, já
no fim do livro, narra para sua irmã mais velha as
aventuras fantásticas que viveu. Foi então que a
ouvinte, mantendo os olhos fechados, “acreditou
um pouco no País das Maravilhas”.5

Notas 3 DANTO, Arthur C. A transfiguração do lugar-comum:


uma filosofia da arte. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
1 CAROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas.
Tradução de Nicolau Sevcenko. São Paulo: Cosac Naify, 4 RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética
2009, p. 16. e política. 2a ed. São Paulo: EXO experimental: Ed. 34,
2009, p. 15.
2 KRAUSS, Rosalind. “Échelle/monumentalité:
Modernisme/ postmodernisme: La ruse de Brancusi”. 5 CARROLL, Lewis. Op. cit., p. 147.
In: ______. Qu’est-ce que la sculpture moderne?. Paris:
Centre Georges Pompidou, 1986, p. 247. Trecho citado
a partir de tradução inédita de Cecilia Cotrim.

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PEQUENAS ESCALAS

Nossa relação cotidiana com escalas é frequente, sobre- nharam o ser humano em toda sua história, seja com o
tudo quando olhamos para projetos arquitetônicos ou objetivo de planejar, divertir-se ou mesmo carregar junto
urbanísticos e para mapas em geral, algo ainda mais cor- de si algo do mundo (edificações, meios de transporte,
riqueiro hoje em dia, devido ao convívio com aplicativos elementos de paisagem, animais, peças de mobiliário,
que utilizam sistemas de geolocalização. No entanto, as pessoas, etc.). É possível observar hoje como esse am-
escalas em si não constituem um aspecto que costuma- plo conjunto de objetos em miniatura tem sido utilizado
mos prestar muita atenção e nem sempre chegamos a por artistas na produção contemporânea, por meio da
compreender a relação implícita entre elas e os modos apropriação de elementos já pré-existentes, disponíveis
de representação desses dispositivos. Escala é uma razão no comércio popular e especializado, ou da criação de
física constante, por meio de comparação entre algo real novas peças miniaturizadas.
(um objeto, uma edificação, uma cidade, a geografia de A exposição Pequenas Escalas apresenta um re-
um país, etc.) e sua representação gráfica ou tridimensio- corte dessa presença e uso da redução de escala na arte
nal, definindo o tamanho e as proporções de todos os contemporânea brasileira – em contraposição a outra
elementos existentes nessa relação. Ou seja, as escalas tendência igualmente marcante, que é a da monumen-
estão presentes tanto nos desenhos técnicos projetivos talização –, procurando investigar as diversas motivações
e nos mapas, quanto naquilo que denominamos minia- assumidas pelos artistas nesses trabalhos. De modo
turas ou maquetes. Embora essa relação de equivalência geral, são proposições que nos colocam na condição
também possa ser de ampliação, o que todos os casos de “gigantes” frente a uma cena reduzida a ser explo-
explicitados acima têm em comum é a redução de pro- rada por meio da observação, mudando-se o ritmo de
porções da representação, se comparada ao tamanho apreensão do que é visto e exigindo maior atenção de
físico real do objeto ou do lugar a qual se refere. nossa parte aos detalhes de seus elementos constituin-
Desde os primórdios da humanidade, as repre- tes. Essas obras oferecem ao espectador uma vivência
sentações artísticas (como pinturas e desenhos) estabe- que une encantamento e curiosidade, despertando a
leceram relações de escala com seu objeto de referência, imaginação e o caráter lúdico da contemplação estética.
por meio da observação direta ou mesmo da imagina- Fica então o convite para pessoas de todas as idades
ção – quase sempre ampliando ou reduzindo as medi- explorarem os pequenos mundos que os trabalhos aqui
das e tamanhos das coisas, pessoas e lugares –, algo reunidos dão forma e vida. Como na primeira das via-
também perceptível nas esculturas e nas artes decora- gens de Gulliver, há algo de Lilliput nessa experiência.
tivas. Maquetes e miniaturas para diversos fins acompa-

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SMALL SCALES [BROCHURE 2]

Our daily relationship with scales is frequent, especially and specialized market, or through the creation of new
when we look at architectonic or urban projects and at miniaturized pieces.
maps in general, something even more common now- The exhibition Small Scales introduces a selection
adays due to the interaction with geolocation apps. of this presence and the reduction of scale in the Brazilian
However, scales are not an aspect we usually pay much contemporary art field - in opposition to another trend
attention to, and we don’t always deeply understand the that is equally remarkable, the process of monument-
implicit relationship that they have with these devices’ alizing-, aiming to investigate the several motivations
modes of representation. A scale is a constant physical undertaken by the artists in these works. In general, these
reason, through the comparison between something real propositions place us as “giants” set against a reduced
(an object, a building, a city, a country’s geography, etc.) scene to be explored through observation by changing
and its three-dimensional and graphic representation, the rhythm of the apprehension of what is seen, and
defines the size and proportions of all elements that exist requiring from us greater attention to the details of its
in this relationship. In other words, scales are present constituent elements. These artworks are able to offer
in both projective technical drawings and maps, and in the spectator an experience which combines enchant-
what we call miniatures or models. Although this relation- ment and curiosity, awakening imagination and the play-
ship of equivalence can also be part of expansion, what ful nature of aesthetic contemplation. Individuals of all
all the situations detailed above have in common is the ages are invited to explore the small worlds created by
reduction of proportions if compared to the physical and these artworks which gain life and form. As in the first
actual size of the object or the place referred to. of Gulliver’s voyages, there’s something of Lilliput in this
Since the early days of mankind, artistic rep- experience.
resentations (such as paintings and drawings) have
established relationships of scale with what used to be
its objects of reference, through direct observation or
even through imagination - almost always increasing or
reducing the measures and sizes of things, people and
places - something that was also noticeable in sculp-
ture and in the decorative arts. Models and miniatures
used for several purposes were not left behind and fol-
lowed the human being through all its history, whether
in order to plan, to have fun, or even to carry something
that belongs to the world (buildings, means of transpor-
tation, landscape elements, animals, pieces of furniture,
people, etc.). Today, it’s possible to observe how this
wide range of objects in miniature are being utilized in
the contemporary production, through the appropriation
of elements that already existed, available in the popular

49
SMALL SCALES [BROCHURE 1]

Following Alice: a figurative introduction to scales In general, whenever we have to emphasize the
details of something with tiny dimensions - such as nano-
Alice chases the rabbit and enters the cave. We know technology devices, small insects or microscopic crea-
that is how her adventures begin in Alice in Wonderland. tures -, we increase their represented size from a scale of
In the aftermath, upon falling into a deep hole, the girl amplification, making the details presented in the photo-
arrives in a room with several doors and a small golden graph, drawing, layout or model more accessible to the
key on a table, which only fits the lock of one little door human eye. When something huge has to be understood
measuring forty centimeters tall. Opening the door, Alice in a manipulable dimension by the human being, as, for
sees a beautiful garden at the end of a hallway: “Oh, how example, the urban representation of a city, containing its
I wish I could shut up like a telescope.”1 From then on, streets, avenues, parks, and neighborhoods, we reduce
the size of her body goes through some transformations: all measures from a scale of reduction, in order to main-
when drinking the liquid from a bottle, she shrinks to tain their real proportions. We are immersed in physic-
twenty centimeters; on the contrary, when eating a piece al relationships of comparison in our daily lives since
of cake she expands until her head knocks on the room’s we continuously create layouts and objects that make
ceiling, almost reaching three meters high. Finally, Alice reference to situations and things that belong to real-
shrinks slowly after fanning herself, to such an extent that ity (buildings, furniture, animals, plants, people, places,
she swims in her pool of tears. etc.), however, we create them to be larger or smaller
Alice’s extraordinary experience allows us to get than their actual size.
in touch with the notion of scale. If her body reduced or The reduction of objects and places real size in
increased unusually, we can only notice these variations daily representations are often the kind of scale experi-
as we imagine the comparison between these results and ence that is more recurrent, as they are present in
Alice’s actual body size. In other words, a scale is a rela- cartography, models, miniatures and toys. Whether in
tionship of physical proportion between a representation printed maps or in apps which use geolocalization sys-
and what is represented - a departure and arrival point. tems, cartography is continuously used in small scales,
If we want to think about this relationship from a time even though we are not always aware of the physical
perspective -, considering the element of reference as grandeur contained in the devices we use. Although pro-
the object or person’s real size (the “departure”) as fixed, jective and artistic drawings deal with scales, with further
and the presented outcome in the portrayal of this object or lesser rigor, depending on the intentions and uses of
or person (the “arrival”) as variable data, being bigger, these two-dimensional representations, it’s necessary
smaller or even the same as what is being referred to. to highlight the presence by small scales in objects and
Thus, even though we don’t know the scale used by three-dimensional representations, like architecture or
Lewis Carroll in his imagined subjects, Alice decreased urban and topographic planning models, movie sets,
and increased in size, in a way that the proportions of miniature collectible objects, doll houses and toys in
parts of her body were preserved - differently from when general. In these examples, small scales are useful from
a girl grows up and becomes an adult, a process which a strategic, projective, reflexive point of view, as they are
changes the body’s proportions. playful and imaginative, encouraging new possibilities

50
of organization and conceptions of the world, as well as Therefore, for the author, the monumentality
experiences that, like the ones lived by Alice, may chal- alone, without the presence of a direct relationship with
lenge reality. its location is not enough to comprehend sculpture as a
monument. In other words, in addition to its public use,
its form needs to assert an intimate relationship between
what it represents and where it is located. However, when
Contradictions of modernist sculpture: the monu- the modernist sculpture was submitted to the traditional
mental and the small scales logic of monument, it “failed” because it did not consti-
tute a conceptual and consistent bond with its localiza-
Scales are a recurring practice in artistic representa- tion, reinforcing, after all, its deterritorialized character.
tions, almost always evident in their technical and con- Thus, Krauss concludes that the modernist sculpture pre-
ceptual procedures. Sculpture, in particular, tends to be sented a “negative relation” with the notion of monu-
a language in which conditions of conception and real- ment and that it does have an independent existence,
ization delineate choices and solutions that are caused even when it is presented in the public space. Hence,
by problems of scale, and, in many cases, its installa- its nomad function, condition, and meaning are what
tion in a specific place (site) may call into question some historically characterizes the modernist sculpture, as it
characteristics about the physical and symbolic space can move around through different spaces and contexts,
which it occupies. Rosalind Krauss appoints modernist without necessarily committing to them.
sculpture as one of her research topics. Indicating a kind The “negative” history of the modernist sculpture
of failure by this sculpture in the face of the tradition- points to a kind of “anti-monument” emergence since
al notion of monument and the “monumental” issue, the late 60’s, when the vertical order that was traditionally
Krauss understands this situation as a possibility to imposed to the sculptural monument finds itself replaced
develop a “negative” art history, not mediated by the (or converted, as Krauss claims) by affirmed horizontality
feeling of progress. Let’s try to understand the author’s of the earthworks, which are interventions made in dis-
perspective. tant landscapes by artists, like deserts, flatlands, lakes,
While historically the monument has an intimate and mountains. In this new condition, the sculpture (in
relation to the notion of memory, the adjective “monu- the amplified field) may reach vast proportions, reinfor-
mental” ends up reinforcing the big dimensions under- cing its monumental character, but in an experience of
taken by most monuments. Regarded as celebratory pure horizontality - which conducts a type of sculptural
propositions or charged with historical and cultural mean- dissolution. This is a path which strengthens the presence
ings, sculptures conceived under these conditions acti- of monumentality in contemporary art, that is no longer
vate an experience where the human being engages with tied to the historical notion of monument. However, what
something that’s symbolic and bigger than its dimension. interests us in particular, is another process analyzed by
About the monument, Krauss states: the author.
Since the monumental was one of the required
And as everything, in this field, is a producer of meaning, conditions for the sculpture to acquire public dimension,
the employed magnitude of the scale, the monumentality, whenever people aimed to create monuments, mod-
is part of the symbolic system: it is based on a more gen-
ern artists resorted to scale models in order to plan and
eral meaning, more global, like the context’s public char-
acter, the grandness of the idea or the size in which the reinforce their formal, conceptual and subjective choices.
message is destined to cover all the other lexical elements However, Krauss states that in many of these cases, the
of sculpture.2 inventive dimension of scale models and projects was

51
compromised due to the stiffness of these art- an essential condition to comprehend the object as art,
work’s great ampliations, executed in another scale and given that art is a symbolic assigned value to certain
from other materials and procedures. For this reason, the things of the world. Therefore, Duchamp emphasized the
scale models, more than its ampliations, contributed to discursive and implicit dimension in the artist’s gestures,
the understanding of new possibilities of poetic investi- capable of triggering this process of symbolic “transmu-
gations for future generations of artists. Going against the tation” of something common to an art category. The
logic of monumentality, this creative condition is recog- philosopher Arthur C. Danto, committed to reflecting
nized in the exact opposite idea of the earthworks: in the about certain objects in pop art in which the artistic exist-
dimension of what is understandable through the hands ence reminds us of pictures or trivial objects, from daily
and the eyes. Our hypothesis is that there’s another path life and mass consumption, called this process as “the
to be taken through the dissolution of sculpture in con- transfiguration of the commonplace.”3
temporary art, stimulating artists to choose and work with If the use and appropriation of daily objects in
reduced scales through the adoption of other practices. contemporary art is a known fact, it is not our goal to
further this process, reinforcing time and regional differ-
ences. What interests us, through a methodology frame-
work, are the uses and appropriations of certain types
Small Scales and contemporary art: objects and of objects and situations: miniatures or scale models. In
appropriation general, objects and scenes in a reduced scale can be
produced, but it is common that artists often buy these
In the 60’s, the object gains notoriety as a conceptual materials in the popular and specialized markets (like
choice for many artists working in the three-dimensional toys, collectible miniatures, knick-knacks or even items
field, without, however, submitting their investigation to for mockups). In these cases, more than “models” or
the conventional logic of sculpture. At that moment, the “studies” in order to plan artworks which will be later
object in art was perceived as a hybrid element - not a amplified, we are in the presence of artworks that turn to
sculpture or a painting, without bases and canvases, that small scales as condition and concept, optimizing the his-
is laid out and contaminated by the world - in dialog with torical aspects through this feature. In this case, the small
the historical vanguards from the first half of the twen- physical scales become large discursive scales, activating
tieth century, especially dadaism and surrealism, and in the spectator’s memory through an intimate relationship
friction with the production and offer of objects produced with each subjectivity, but capable of being accessed by
in large scale for mass consumption. This new category a large number of people and prone to being shared.
- “object” -, more than a three-dimensional presence The exhibition Small Scales introduces a brief frag-
in the art field, caused technical and conceptual shifts, ment of the reduction of scale in the Brazilian contempor-
unsettling conceptions that were historically crystallized, ary art field, aiming to investigate the various motivations
to the point of putting into question the uses, functions, undertaken by these artists. Many of the selected art-
and dimensions of art itself. works were not developed with the purpose of empha-
Artists embraced appropriation as a process, as sizing the scale issue. In general, when exhibited in other
Marcel Duchamp proposed with his ready-mades, at contexts, other discursive, formal and symbolic aspects
the beginning of the 20th century, when he displaced of these artworks drew the attention of their analysts and
industrialized objects, that were mass-produced, in the the public, since they could also be understood through
context of artistic production (of meaning). According other poetic matters presented in the path and inves-
to Duchamp, the artist’s manual performance was not tigation universe of each artist, or even through other

52
conceptual and theoretical keys. Placed with each other, from the frictions of trauma, impulse, confrontation and
however, they indicate the use and appropriation of small veiled or explicit violence. Still, the constant presence of
scale elements in the art production in the last few dec- embroidered words in her works, mostly loosened and
ades, and allows us to ask questions about the three-di- connected through threads, are able to inform, confuse
mensional production in contemporary art. Therefore, and layer the web of meanings which constitute the art-
let’s make an approximation of these big little worlds. works’ sensitive experience.
In Sono (Sleep) (fig. 1), Ana Miguel seems to evoke
this dimension of uncertainty, in almost a standby mode,
where we don’t know exactly the limits between reality
The experience of the extraordinary: getting closer to and fantasy. The small bed, covered in sugar, accompan-
the artworks ied by the various clothes in hangers and a delicate suit-
case, are charged with a sense of femininity, reminding
As Alice strolls through Wonderland, she discovers other us of dollhouses and a childhood environment. However,
elaborate potential facets of her own reality. Each char- the nature of sleep is porous, alternating between mem-
acter and unusual situation offers the girl a mixture of ories that were lived and made-up, recollections and
mystery and fantasy, yet familiarity as her encounters deformations, that do not necessarily refer to a precise
continuously trigger her own memories, in an attempt moment in time and space. Red dices allude to luck and
to grasp and understand this new universe in front of gambling (of memories), reinforcing the notion that noth-
her. Our experience with art presents similarities with ing is what it seems in this field. Words connected by the
the process described by Lewis Carroll: the encounter of mesh of threads link these elements in a curved, waved
dimension with the extraordinary, capable of requesting way, providing fragmented evidence about the atmos-
various memories and providing (new or old) experien- phere that impregnates all things.
ces, encouraging connections between the unexpected In “Hoje todos devem amar: um sonho de Léry”
and the known self, amidst of what we meet before us and (Today everyone should love: a dream of Léry) (fig. 2), the
of what we carry with us, as a prior repository; allowing artist references one of the first historical accounts about
us to think about other realities, to access the grounds of Brazil, from French missionary Jean de Léry, in the book
imagination - and with this the power and freedom and “History of a voyage to the land of Brazil” (1578), refer-
will to imagine. Let’s follow through this path. encing, among other aspects, the Tupinambás’ ritual of
The small scales resource used in Ana Miguel’s art- cannibalism. She also presents a fragment of Tarkovsky’s
works represents a strong discourse in her work between movie, “Andrey Rublev” (1966), based on the story of the
feminism, childhood, and the narrative’s vast repository, fifteenth century monk and Russian painter, revealing his
of fairytales and literature in general, seen throughout encounter with practitioners of a pagan ritual. Between
history and psychoanalysis. A lot of her work is shaped Europe and America, the artist creates two moments,
manually, aptly for a craft engaging with memory. This from a seemingly ludic dimension through the objects’
process of conception, through crochet and sewing, scale or materials, in which the lacerated body parts are
among other techniques and procedures embraced by disposed of on a small bed and on a grid supported by
the artist, is able to reaffirm the narrative bond and the branches of Pau Brazil (redwood). These resemble many
erotic nature of many of her work, reflected in the tac- European illustrations that represent cannibalistic prac-
tile quality of these materials. The apparent delicacy and tices, as the pictures in Hans Staden’s book “True Story
the ludic dimension of these works are, however, almost and Description of a Country of Wild, Naked, Grim, Man-
always followed by doses of humor and perversion, eating People in the New World, America” (1557), and

53
the ones produced by Theodor de Bry for the ongoing excavations, archeological discoveries - even
book “The Discovery of America” (1592). A set of resi- accidents and disasters, as the artist included several ref-
dues that, without losing its fragmentary nature, aim to erences to the Mariana disaster in her last assembly at
destabilize codes of representation and historical visions Solar dos Abacaxis in Rio de Janeiro -, coupled with a
that were built through religion and its prohibitions, video projection in order to reinforce the concept of fic-
similar to a game where appearances are continuously tional time and space, which are inaccurate and concrete
questioned and reformulated. at the same time.
From a variety of means, techniques and recog- Working with the Latin term “circa” which rep-
nizable materials in Anna Bella Geiger’s trajectory, it’s resents the word “approximately”, Anna Bella Geiger
possible to recognize a number of points in her poetics, chooses imprecision to set the time in an objective way.
with works produced in different moments and with dis- The work Circa 1 (fig. 4) derives from this experience, a
tinct visuality. Geographic representations and its codes, wooden drawer containing a small archaeological site,
the underlying political dimension, and its historical, delimited by the walls of the object-continent, a snippet
cumulative and anachronistic statute, in some cases, con- of the installation presented in that same year. Beyond the
stitute an interesting theme and one of the plethoras of relationship between the title and the use of an archaeo-
her artworks. The artist uses cartography as a reference, logical terminology, the drawer used as a support inserts
from a conceptual and symbolic point of view, real and this work in a bigger series made by the artist, titled
invented, derived from different times and cultural arrays. “Fronteiriços” (Borderlines), in which the artwork “Orbis
Dealing with time overlaps, its meanings and the lack of Descriptio com um Vento” (Orbis Descriptio with one
precision as a field of possibilities. As Anna Bella Geiger wind) (fig. 5) is also part of. An iron drawer, derived from
applies cartography as a material, she resizes the sep- an old archive, containing paraffine with an engraving (an
arations between the scientific and the mythical, from a indication of a presence), and metallic elements repro-
discursive aspect that is inherent to these variable nar- ducing the tri-dimensionality of a cartographic scheme.
ratives, establishing ambivalent situations through the Accompanying this set, there is a golden column and a
perceptive porosity of elements in her artworks and the small winged head with a seemingly angelical nature, but
transit through borders that are almost always movable. that it truly refers to the Greco-Roman representation
“Circa MMVI” (fig. 3) is an intervention made of winds, whose image is recurring in a lot of historic-
in 2006, from the “Respiration” project, and it first al maps. In both works, the drawers are a metaphor for
happened at the Renascence Room at Eva Klabin something that we keep and organize, a set of memories
Foundation in Rio de Janeiro. Since then, the interven- that are fragmented, manipulable, and unstable at the
tion has assumed various forms and ranges, as it unfolds same time.
in new temporal contexts and as it’s inserted in different Brígida Baltar’s poetics embraces artworks in
physical spaces. Taking into account the notion of an which the presence of her body is an inherent fact, whose
archaeological site as a parameter, the presence of ele- image is captured in action, through several mediums,
ments in small scale, in relation to different ancient cul- like photography, video or film. Even those where her
tures, the use of materials such as soil, sand, and water gesture is implicit, reinforcing the desire to transform
are able to shape/emulate a fictional territory, through things and materials through resonances, ties between
the juxtaposition and concomitance of countless layers human beings and the environment they live in, and also
of residues and temporalities. “Circa MMVI” constitutes the dialectics caused by a certain intangible dimension,
as a type of large scale model which occupies the place’s sometimes phantasmatic, before the physical presence
floor where the installation is located, alluding to ruins, of the artworks. The works’ fictional nature is common,

54
through the use of elements that references narratives Visual Art School, in Rio de Janeiro, and the structure
and stories, many times presenting hybrid characters of birdhouses, with its boxes with entry-holes. The work
and mysterious atmospheres, with time in a state of sus- also refers to Parque Lage’s former resident, the classical
pension. The artist’s work highlights elements in small singer Gabriela Benzanzoni, and her singing, which used
scales, from using brick powder as a moldable material, to impregnate the place, like the birds who live there.
to resources of appropriation which allows the object’s Together, these works denote a special configuration
shape to transform with the addition of different ele- where they connect each other, in order to organize a
ments, through a process of assemblage. contemplative and fanciful atmosphere, between illusion
In the group of work related to the notion of flight and daydreaming, shaped by the human desire to fly.
and the human desire to fly, Brígida Baltar appropri- The interest in several materials, techniques,
ates pieces acquired at antique shops, thrift stores, and procedures, and narratives contributed to Cadu’s ver-
antique fairs that are modified by the addition of new satile production, having in common the starting point,
materials and varied elements, and resources scale mod- located in the artist’s curiosity and investigative interest
els, in order to create small scenarios and “machines” - what pushes him to experiment and develop an art-
in which the movement is an important conceptual fact. work -, and its conception through the creation of sys-
In Escultura Alada I (Winged Sculpture I) (fig. 6) and tems and games. His works almost always express his
Escultura Alada IV (Winged Sculpture IV) (fig. 7), the rules and resort to the use of simple or complex techno-
assembly of heterogeneous elements suggests the cre- logical devices, through producing situation-records that
ation of hybrid shapes, from the addition of symbolic ele- do not, necessarily, restrict themselves to prior control,
ments directly related to birds, like feathers and plumes, but accept some luck and unpredictability. Cadu flirts
that reminds us of their body parts. The appropriation with science, with its techniques and methodological
of objects in miniature is also present in A vertigem do processes, however, this does not restrict his artworks to
pavão ou máquina de voar (The peacock’s vertigo or fly- technological fetiches or scientific ideology. Quite often,
ing machine) (fig. 8), through a small bronze sculpture of the desired outcome demands a level of abdication
the bird that titles the artwork, fixed upside down in a and physical or mental effort. In the artist’s production,
shaft, slowly spinning around a fixed axis. An atmosphere miniatures and small scales are in several works, as con-
of daydreams and fantasy is inherent in these artworks. stituent parts of a system and integral parts of a whole,
The constructive and ingenious aspect present in whether by representing the preparation contained
the structure of “máquina para voar” (flying machine) is in the works and in its projective variations. There is a
reaffirmed in Sem título (Untitled) (fig. 9) and in Teatro ludic dimension in the games and devices developed by
de sombras (Shadow theatre) (fig. 10), where objects that Cadu, providing a bond between childhood and adult
refer to a scenic, theatrical dimension, are often present life - growing up does not necessarily imply the aban-
in scale models. While we have a reference to the open donment of this condition; all that changes are the toys
air theater in the first case, laid on top of a lampshade’s and imaginative interests.
winged base, on the second case what stands out is a In Partitura (Score) (fig. 12), two small trains scroll
“box”, shaped like an Italian stage, whose small audi- through different railroads, miniatures bought at special-
torium accommodates a projection, a series of photo- ized stores, sometimes maintaining the toy’s real size,
graphs in movement, presenting silhouettes in different and sometimes producing an object to meet a collector’s
positions undertaken by a bird-woman attempting to fly demands. The trains’ different routes are responsible for
off. Lastly, Casa pássaro (Birdhouse) (fig. 11) reaffirm the activating the imaginable score that produces an open
connection between the scale model of the Parque Lage music, modifying itself through various factors, like an

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instrumentalist capable of introducing small varia- alerts us to the symbolic dimension of scale, which con-
tions to the melody by the way the score is read and per- siderably extrapolates the small cube’s physical and
formed. What defines this system’s variable set are the material dimensions.
size of the railway network where the trains go through, Camelô (Street vendor) (fig. 14) is another work
one longer than the other, the trains’ speed, usually one by Cildo Meireles that’s characterized by small scale. Of
it’s slower than the other, and lastly, the arrangement, serialized nature, with an edition of 1000 objects, it is a
shapes, and attributes of each jar, bottles, glasses and motorized silhouette, made of latex and with schematic
vessels which are spread across the table. When the small features in its shape. The figure is accompanied by two
trains move, they make continuous sounds, since the miniature stands, one with pins and the other with collar
metallic rods attached to the trains hit the different glass- stiffeners, representing the street vendors we often see
es through the course, producing sounds caused by this in the cities. When the doll moves its arms pointing to
impact, like a piano hammer. The sound varies in rhythm, the products, the work refers to a set of negligible, trivial
intensity, volume, and texture, through the visual config- and imperceptible objects, however, these same objects
uration of these elements, like a fixed but open score, expand its scale of visibility and circulation as they are
given that these elements predict a variation through the serialized and multiplied. Small individuals and small
trains asynchronicity, an intrinsic fact in the system cre- objects - pins and collar stiffeners - are able to move a
ated by Cadu. The artwork’s ludic aspect and its sounds big structure of production and circulation of things that
are reinforced by the ensemble’s visuality and the differ- have minimum value and dimension. Thus, besides the
ent shapes and colors of its constituent elements, like a ludic aspect, the work also has a political dimension as
drawing in motion. it highlights the differences of scale in contrast, between
The notion of scale is, single-handedly, a con- the micro and macro, the visible and the invisible, what is
ceptual fact that is frequent in Cildo Meireles’ trajectory. seen and what is hidden, in the outskirts of the city or in
Since the late 60’s, the series “Arte física” (Physical art) the exhibition spaces.
activated devices of representation in order to empha- Gê Orthof is also one of the best-known art-
size the idea of action in a hardly apprehensible situation, ists when it comes to small scales in contemporary art.
due to its wide geographic scale. For its realization, the While reading an article in the New York Times that
artist would resort to the opposite of this scale, through the average time people spend looking at a paint-
the notion of cartography, the use of graphics schemes, ing in the Metropolitan Museum of Art is less than five
boxes and small objects that were capable of con- seconds, the artist started using miniature in his work, in
taining the action’s residues, in reference to these con- order to create a set of scenes with many details, stimu-
ceptual dimension and propositions. In relation to small lating a longer apprehension by the spectator. Amongst
scales and its contrast with the surroundings (the world), the recurring elements in his works, we see miniatures
Cruzeiro do Sul (Cruise of the South) (fig. 13) is maybe for scale models, small toys, knick-knacks, several tiny
the artist’s best known work, although is not a miniature objects, music boxes, and different elements inserted in
itself. The tiny wooden cube exists through its oppos- situations that were built through the presence of materi-
ition, from the big dimensions of the “empty” exhibition als such as the acrylic, the mirror, the felt, the balsa wood,
site. Made from the juxtaposition of pine and oak, two of led lights, and books in general. Besides the curiosity
the Tupi’s sacred woods which together are capable of about the world and its things, Gê Orthof is a fascinated
activating fire, they represent the simplification that the reader of stories and novels, essential elements since the
missionaries (especially the Jesuits) historically imposed beginning of an idea, an unclear glimpse of the path to
to native Brazilian’s cosmogony. In this sense, the work be followed, until the artwork is done, when the presence

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of books is part of the installation. The delicacy of the Antonio Delgado Sucre, narrated in sound, emphasizes
configurations planned by the artist, its intrinsic fragil- a series of proximities and connections between the sev-
ity - since his installations only exist from the moment eral elements in the installation, activating an imaginary
they are mounted for an exhibition and its set up is often plot which connects them and constantly gives them new
changeable -, and the curiosity provoked due to the dif- meanings. Therefore, Gê Orthof’s text-letter, as a great
ferent types of stimulations, are able to compose the set narrator and orchestrator of narratives, is the dimension
of (new) narratives which are linked to each of the works’ which connects all of these elements.
orbit. A game of memories, in a plot where the sewing is Luiz Zerbini is best known for his pictorial produc-
continuously remade. tion, but his works involve other means, such as sculp-
The horizontality and the long lengths of the ture, photography, video, and installations, in addition
artwork Mar!armar (fig. 15), which lays on the gallery’s to his participation in the multimedia collective Chelpa
floor, highlight important aspects for the structuring of Ferro, since 1995. Invited by Charles Cosac to illustrate
the work. This horizontal axis has a vertical acrylic base the book Alice in Wonderland, translated by Nicolau
in each end, which marks a certain direction as it sug- Sevcenko and published in 2009 by Cosac Naify, the
gests ships’ masts or headlights, elements of transversal artist used playing cards to conceive Lewis Carroll’s uni-
opposition in a marine landscape. On their bases and verse, collecting a large number of models and using the
on both sides of the installation, we see open atlases, cutting and bending process so that the cards would gain
in pages showing pictures of different river basins. From tri-dimensionality. In this process, the artist assumes cer-
one point to another, several pauses, situations in which tain experiences developed by Picasso, through synthet-
breaks are needed to apprehend the scenes in miniature ic cubism, and some experiences of modernist sculpture
- people, animals, small bottles, bricks, etc. - situations as references, not necessarily restraining himself to the
that are independent and connected at the same time. figures printed on these cards but creating new shapes
A lot of these pauses are also signaled by the presence from the variation of plans and angles. The work was
of pictures of different boats in blue, symbolically navi- developed for nearly two years, resulting in the elabor-
gating from one side to the other, as a metaphor for our ation of a large number of scenes and characters. At the
sight. These fragments constitute an open narrative, to end of the process, these tri-dimensional elements were
be understood, completed and structured by each spec- photographed and the book was composed of these pic-
tator, without a specific beginning or end. tures. Since then, these small objects made with playing
On the other hand, the presence of a transpar- cards were never exhibited to the public.
ent acrylic tower in Os Himalaia: ele que não subia em Four sets that were idealized by the artist are
árvores (The Himalayan: he who did not climb trees) (fig. included in the exhibition (fig. 17-20): the queen of
16), metaphorically points to the verticality of one single heart’s tower castle with its extensive walkway; a group
mountain - The Himalayas. But besides a physical pres- of soldiers lining up as if they were marching, which pre-
ence, in singular form, multiplies itself in the many images sents a configuration similar to cubism; the small cards,
created by its explorers (and narrators), referring to differ- in a lower scale and horizontally, stained with red paint
ent possibilities of escalation and climbing, some of them and detached heads that represents the queen of heart’s
imaginary, as they’ve faced an almost inaccessible moun- obsessive order: “Off with their heads!”. The last set rep-
tain. From the suspended bridges to the acrylic tower, the resents Alice’s encounter with the lizard, seated upon a
work uses a vast amount of miniatures and books refer- big mushroom, in a garden where each card represents
ring directly to the mountain or its historical aspects. The an element in scales that are different from reality, like
letter written by the artist to the Venezuelan climber José flowers, plants, and butterflies. The presented set allows

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us to follow the conception of a fantastic world With the vast amount of elements, details, and informa-
and its creative and ludic processes, giving visuality to tion, the little birds not only approximate these different
one of the most known stories of literature that is still able fragments but also introduce a double layer of meaning
to enchant children and adults. to the installation’s name, as it can refer to the sky as an
From an overall view of Márcia X’s trajectory, her aerial environment, common habitat to many birds, but
actions and performances are highlighted, as are the also to religious transcendence, metaphoric symbolism
objects the artist created through the appropriation of of heavenly paradise. The banality of the materials and
products from the popular market, erotic items, and reli- objects accumulated in the boxes, like an inaccessible
gious artifacts - although, in many cases, there’s a con- world - although, originally, the boxes were available to
nection between these two groups. In common, all the the public’s manipulation - presents and reinforces the
several artworks and propositions suggest a confronta- mundane nature of these elements, like an inner fact, but
tion between the sacred and the profane, the transcen- externally covered by some idealization and curiosity.
dental and the worldliness, articulating beauty, irony, and Nazareno is another artist who stands out due to
criticism, in order to destabilize beliefs that are deeply the consistent use of small scale elements in his works.
rooted in society. Márcia X was an artist of many inter- Besides objects and installations, the artist has a vast
ests, who used to flirt with different languages, relating production of drawings that it’s also articulated with writ-
objects, interventions, materiality, gesture, symbols, ing. He calls these texts “literary accidents”, maybe by
fetishes, and desire in an intimate way. Humor is a strik- the way they arise, provoking eruptions and resonances
ing feature in her artworks, as the artist used toys in a around things and images. The words featured in the
lot of installations, in order to reinforce the relationship works and its titles have a close relationship to the narra-
between erotism, and even sexuality, with fantasy and tives which the artist articulates and with the work’s intrin-
the object’s ludic nature, an ambivalence that is not at sic playful dimension. His interest in fables, fairy tales,
all paradoxical. This explicit subversion is the evidence and children’s stories contribute to the constant presence
of a previous one, that is not apparent, of the ties these of metaphors, developing scenes where small animals or
objects previously assume with discourses that are load- objects are highlighted, in a world that is guided through
ed with fetishization and control (religion, commerce, its own existence, like a visual tale. Memories and the
consumption). In sum, performativity was not merely a banality of daily events, which still carries extraordinary
concept used by the artist in her actions, but something stories, are important facts in Nazareno’s poetics, which
immanent to her existence, her daily practice, in the use are apprehensible in a more intimate relationship with
of objects and in her way of being in the world. the artwork.
Reino dos Céus (Kingdom of heaven) (fig. 21) is In Como eu fiz para entender o teatro (How I did
an installation with 158 boxes of different sizes, shapes, to understand theater) (fig. 22), the drawing unfolds in
and materials, each one containing a wide variety of the space through different layers of spaced out plans,
objects, from miniatures, toys, supplies, jewelry, draw- organized like a small theater, with its apparent aisles
ing and painting materials - an enormous set of pieces when we see both sides of the work. Through the separ-
that were bought and accumulated by the artist through ation of the same scene, represented in different types of
many years. There’s a small bird on top of each one of paper, each layer with a different central opening, lined
these boxes, and they wear silver crowns on their heads, in descending order, from the front to the back (like a
a common element in images of saints. Each bird, with semi-cone) - allowing the drawing’s full view when the
its respective box, is connected to others through a big spectator is placed ahead of the artwork -, it constitutes
mesh composed of a subtle and delicate silver chain. a theatrical project and, at the same time, allows us to

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observe a sense of perspective built in layers. Thus, the to the construction of landscapes and to the passage of
difference between the space represented in the drawing physical, historical, archeological and mythical time. The
and the constitution of the tri-dimensional space (through trip to Jerusalem made by the artist in 2013, an important
the layers’ distribution by the structure of a small theatric- place for different religions, also awakened her interest in
al box,) refers to the title of the artwork, having an edu- the Bible, for its shape, materiality, content, and history,
cational appeal as the artist shares with other people of using the book in performances and in the conception
what it was understood. of objects ever since. Another critical aspect in the art-
The rabbit and the bird present in the previous ist’s recent production is the historical relationship with
work reappear as characters in Abre-se a floresta (The the processes of colonization and evangelization, which
forest is opened) (fig. 23), but now in tri-dimensional committed and still commit physical and psychological
shape, as miniatures, next to other elements, like chairs, violence against the indigenous population. These differ-
a bed, and a piano. However, the scene is restrained to ent layers of time and meanings become critically inter-
a closed box and only accessible through a side lens, as twined in Regina de Paula’s work, like the act of moving
if it was an optic box. Therefore, the notion of perspec- the sand in order to find something that it’s hidden by it.
tive in the theatrical box is now strengthened through Templo de areia (Sand temple) (fig. 25) and
an optic depth, allowing the scene’s apprehension from Templo negro (Black temple) (fig. 26) reinforce the use
a point of view, against the light which penetrates the of plastic shapes for sand molding, present in children’s
interior through the back wall, allowing the elements to kits for playing at the beach, in a standardized format.
be understood as figures immersed in the shadows. This The temple’s shape is repeated in different materials -
playful atmosphere marks the moment when these small sand and rubber -, singling out its existence through
animals occupy the space without the presence of human properties such as color, texture, etc. The molding pro-
characters, as though we could capture something that cess allows the continuous construction of small and
occurs when we are not actually there. Lastly, Nós, que fragile architecture, in contrast to the idea of continuity
de nada esquecemos! III (We, who nothing forgets III) (fig. and permanence of castles, temples and funeral con-
24), introduces a small bed filled with dices, piled up in structions, like pyramids, emphasizing this game of
order to occupy the space where the mattress would be. temples and processes. In Bíblia (templo de areia) (Bible
The board supporting the bed presents itself as a scale [Sand temple]) (fig. 27), although there’s a sand pyramid
model of a parquet floor, following a common graphic also in a standardized format, it is part of Regina de
pattern, whose geometric texture contrast with the dice’s Paula’s works which uses the Bible’s materiality in order
multiple black dots. The work reinforces the dimension to constitute objects. In this case, the Spanish Bible is
of a memory game, literal and metaphorically, of what is marked by the presence of a small sand temple which
reminded and of what is forgotten (the hidden faces) - or emerges from the center of the book, whose shape is
of what is not meant to be forgotten. easily recognizable: it’s an Aztec pyramid. The work
Among the several recurrent languages in Regina confronts the history of European occupation in the
de Paula’s production, the use of molded sand is fre- American continent, through the violent means of evan-
quent since the late 90’s, present in installations, per- gelization which eliminates cultural practices and the
formances, photography, film, and objects. From sand existence of countless native populations. Permanence
castles on beaches to deserts and ancient ruins, filled and destruction go together once again through sym-
with blocks of stone slowly falling apart, transformed into bolisms constituted of power.
sand, the artist investigates the use of this material in its
technical, constructive but also symbolic aspect, referring

59
Alice’s garden: the (political) freedom to imagine Whenever freedom (in general) is diminished,
the act of imagining is something that we minimally carry
We could metaphorically think about Alice’s many encoun- of personal, intimate, subjective and, why not, subver-
ters in Wonderland as a big garden, where the singularity sive. At the same time, it is a common asset, a bond that
of each plant, of each bug and each character constitutes makes us human and connects to eachother. This is what
a small world that grew side by side. The Small Scales happens at the end of the book when Alice narrates her
exhibition puts the spectator in a different perspective, fantastic adventures to her older sister. It was then that
suggesting a change of rhythm, a more attentive and the listener, keeping her eyes closed, “half believed her-
extended look to the variety of elements, materials, and self in Wonderland”.4
solutions which are present in the artworks. Although the
nature of this experience is particular, personal, and intim-
ate, it can also be potentially shared with other people,
precisely for its playful and imaginative dimensions, due Notas
to the enchantment and curiosity these works are able to
1 CAROLL, Lewis. Alice in Wonderland. Translated by Nicolau
create. Different generations, different perceptions, and
Sevcenko. São Paulo: Cosac Naify, 2009, p. 16.
stories - dialogues crossed by memories, narratives of
yesterday and today, historical information and facts that 2 KRAUSS, Rosalind. “Échelle/monumentalité: Modernisme/
evidence these multiple experiences. postmodernisme: La ruse de Brancusi”. In: ______. Qu’est-ce
This imaginative nature, inherent in moments of que la sculpture moderne?. Paris: Centre Georges Pompidou,
fun that are so common in childhood, accompany us in 1986, p. 247. Excerpt from Cecilia Cotrim’s translation.
several stages of adult life, passing through reflexion,
3 DANTO, Arthur C. The Transfiguration of the Commonplace:
planning, recreation, and entertainment. We are imagin- A Philosophy of Art. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
ative beings in different ways. It’s a political act in itself
exercising this with freedom, without ties and limitations. 4 RANCIÈRE, Jacques. The Politics Of Aesthetics: The
The term “The distribution of the sensible”, created by Distribution of the Sensible. 2nd edition. São Paulo: EXO experi-
the philosopher Jacques Rancière, also resides in this mental: Ed. 34, 2009, p. 15.
issue, the political nature of what can be lived and shared
5 CAROLL, Lewis. Op. cit., p. 147.
in a community, between several people that have the
“common” as a bond and mutual commitment:

I call the distribution of the sensible the system of self-evi-


dent facts of sense perception that simultaneously discloses
the existence of something in common and the delimitations
that define the respective parts and positions within it. A
distribution of the sensible therefore establishes at one
and the same time something common that is shared and
exclusive parts. This apportionment of parts and positions is
based on a distribution of spaces, times, and forms of activ-
ity that deter mines the very manner in which something in
common lends itself to participation and in what way various
individuals have a part in this distribution.3

60
65

Sala do educativo
Fig. 1 Ana Miguel Fig. 9 Brígida Baltar Fig. 21 Márcia X
Sleep, 2006 Shadow Theater, 2011 Kingdom of heaven, 2000
Metallic structure covered in sugar, balsa wood and video 158 boxes of different sizes, birds with
cotton and silk threads, embroidery, 173,5x36,5x50cm metal crowns and chains
wool, plastic, cardboard, wood, and talc variable dimensions
variable dimensions Fig.10 Brígida Baltar Col. Museu de Arte Contemporânea/
Untitled, 2011 Niterói
Fig. 2 Ana Miguel balsa wood, bronze lampshade and red
Today everyone should love: a dream light Fig. 22 Nazareno
of Léry 40x35x40cm How I did to understand theater, 2010
Brazil-wood, knitted sculpture, extract ink on paper and wood
from Tarkovsky’s film Andrei Rublev Fig. 11 Brígida Baltar 160x50x60cm
250x270x71cm Birdhouse, 2012 Col. Fernando and Camila Abdalla
Wood 28x55x80cm
Fig. 3 Anna Bella Geiger Fig. 23 Nazareno
Circa MMVI, 2006 Fig. 12 Cadu The forest is opened, 2012
Video/intervention emulating an Score, 2010/2011 Wood, lens, and miniatures
archaeological site electric train, wagons, railway tracks, 40x121x110cm
Video in color, sound, 30min, river sand, rods, glasses, jars e wood Col. Fernando and Camila Abdalla
earth, gravel, clay, lime, bricks and old, variable dimensions
miniature tiles Fig. 24 Nazareno
400x400x70cm Fig. 13 Cildo Meireles We, who nothing forgets III, 2015
Picture by: Romulo Fialdini Cruise of the South, 1969/70 floorboard, wooden bed, and dice
wooden cube, pine, and oak 6x30x42cm
Fig. 4 Anna Bella Geiger the work was planned to be by itself Col. Fernando and Camila Abdalla
Circa 1 (one), from the Borderlines in an exhibition occupying a minimum
series, 2006 space of 200m2 Fig. 25 Regina de Paula
Old wooden drawer, sand, earth, bricks, 0,90x0,90x0,90cm Sand temple, 2012
tile, and oil on wood picture by: Pat Kilgore mixed media with sand
55x65x15cm 8x11x14cm
Fig. 14 Cildo Meireles
Fig. 5 Anna Bella Geiger Street Vendor, 1998 Fig. 26 Regina de Paula
Orbis Descriptio with one wind, from latex doll, wooden box, 1000 pins, 1000 Black temple, 2012
the Borderlines series, 2006 Old, iron collar stiffeners, motor rubber
archive, encaustic, metal, and bronze variable dimensions 8x11x14cm
column
15x45x12cm Fig. 15 Gê Orthof Fig. 27 Regina de Paula
Mar! amar, 2015 Bible (sand temple), 2014
Fig. 6 Brígida Baltar miniatures, photo, binding line, felt, Spanish Bible with sand and
Winged Sculpture I, 2011 leds, acrylics impermeable sand temple
alabaster candlestick, glass, plumes 90X50X500 cm 29x46cm
of birds, drilled carpet and wood
130x27,5x23,5cm Fig. 16 Gê Orthof
The Himalayan: he who did not climb
Fig. 7 Brígida Baltar trees, 2015
Winged Sculpture IV, 2011 acrylic, rare books, light box, and music
marble, resin, ceramic and metal boxes
26x13x22cm 180x150x500cm
Col. Museu Oscar Niemeyer – MON
Fig. 8 Brígida Baltar
The peacock’s vertigo or flying Fig. 17-20 Luiz Zerbini
machine, 2011 Alice in Wonderland, 2009
wood, bronze and engine playing cards
165xØ50cm variable dimensions
[4 different sets]
EXPOSIÇÃO | EXHIBITION CATÁLOGO | CATALOG CENTRO DE ARTES VISUAIS GALERIA
DO LARGO – MANAUS/AM

Curadoria | Curator Organização | Organization


Ivair Reinaldim Cláudio Rosado Torres Diretor | Director
Ivair Reinaldim Cristovão Coutinho Batista
Coordenação Geral | General Coordination Isabella Schmidt
Cláudio Rosado Torres Produção | Production
Textos | Texts Cristovão Coutinho
Produção | Production Ivair Reinaldim Gabriel Cavalcante
Isabella Schmidt José Marques
Editora | Publisher
Assistente de Produção | Production Coletivo Garupa Assessora de Comunicação |
Assistant Communication Advisor
Adriano Trindade Design Gráfico | Graphic Design Manuella Barros
Lucas Sargentelli
Produção Local | Local Production Central de Exposições | Exhibition Central
Raquel Fonseca Imagens | Images Aline Rosana
Thiago Sabino Alberto Moura
Expografia | Exhibition Design Geissyane Frazão
Rosado Torres Tradução | Translation Jandr Reis
Produções Culturais Isabella Schmidt Jorge Vieira

Acessibilidade | Accessibility Revisão de Texto | Text Revision Equipe Técnica Administrativa |


MS Acessibilidade & Comunicação Juliana Travassos Administration Staff
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Programação Visual | Design José Marques
Lucas Sargentelli Impressão | Printing Nazarene Maia
Athalaia
Assessoria de Imprensa | Press Liaison
Rodrigo Machado – Território Comunicação Agradecimentos |
Acknowledgements Pág. 2 detalhe da obra Alice no País das
Projeto Educativo | Educational Project Carolina Torres Maravilhas, de Luiz Zerbini / Pág. 10-11
Vanguarda Camila Assad Abdalla Hoje todos devem amar: um sonho do
Fernando Assad Abdalla Léry, de Ana Miguel / Pág. 24-25 Reino
Sinalização | Signposting Galeria Nara Roesler dos céus, de Márcia X / Pág. 40 detalhes
WL Plotagem Galeria Vermelho das obras Mar!armar e Os Himalaia: ele
MAC - Museu de Arte que não subia em árvores, de Gê Orthof
Museologia | Museology Contemporânea de Niterói / Pág. 41 detalhe da obra Sono, de Ana
Gilseane Chaves Miguel e detalhe da obra Camelô, de
Irismenia Cavalcanti Cildo Meireles / Pág. 44 detalhe da obra
Teatro de sombras, de Brígida Baltar
Iluminação | Lightning e detalhe da obra Como eu fiz para
Rosado Torres entender o teatro, de Nazareno / Pág
Produções Culturais 45 detalhe da obra Orbis descriptio com
um vento de Ana Bella Geiger e detalhe
Transporte | Transportation da obra Templo de areia, de Regina
Art Quality de Paula / Pág. 48 detalhes da obra
Partitura, de Cadu.
Seguro | Insurance
Affinité
Apoio
Presidente da República | President
Michel Temer

Ministro da Cultura | Minister of Culture


Sérgio Sá Leitão

FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES

Presidente | President
Stepan Nercessian

Diretor Executivo | Executive Director


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CENTRO DE ARTES VISUAIS

Diretor | Director
Francisco de Assis Chaves Bastos
(Xico Chaves)

Coordenadora | Coordinator
Andrea Luiza Paes

Coordenadora do Prêmio Funarte


Conexão Circulação Artes Visuais |
Conexão Circulação Artes Visuais
Award Coordinator
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Apoio Administrativo | Administrative


Support
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Rodrigo Braga Costa

Coordenadora de Comunicação |
Communication Coordinator
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Coordenadora de Difusão Cultural


da Funarte Brasília | Funarte Brasília
Cultural Difusion Coordinator
Geórgia Latife

Técnica em Artes Visuais | Visual Arts


Technician
Iara Martorelli
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Pequenas Escalas = Small Scales / curadoria e textos


de Ivair Reinaldim – Rio de Janeiro:
Edições Garupa, 2017
64 p. 21 x 21 cm. il.

Texto em português e inglês.


Catálogo da exposição coletiva Pequenas Escalas,
realizada de 25 de outubro a 16 de dezembro de
2018 na Galeria Fayga Ostrower, Complexo Cultural
FUNARTE, em Brasília; e de 24 de janeiro a 28 de
abril de 2019 no Centro de Artes Visuais Galeria do
Largo, em Manaus.

ISBN: 978-85-5986-016-0

1. Arte Contemporânea - Século XXI. 2. Objetos e


instalações de arte. 3. Arte Brasileira - Século XXI -
Exposições. I. Reinaldim, Ivair. II. Complexo Cultural
FUNARTE Brasília. III. Título.

CDD 701.1

Funarte Brasília
(61) 2099-3076 / 2099-3079
www.funarte.gov.br

Distribuição gratuita. Proibida a venda.

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Produção Parceria Realização

Rosado Torres
Produções Culturais

Este projeto foi contemplado pelo Prêmio Funarte


Conexão Circulação Artes Visuais – Atos Visuais Funarte
Brasília / AM - Centro de Artes Galeria do Largo

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