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Airton Aredes
Possui graduação em Licenciatura em Geografia pela Universidade Es-
tadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1992), mestrado em Geografia pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999) e doutorado
em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(2012), Presidente Prudente. Atualmente é professor adjunto da Universida-
de Estadual de Mato Grosso do Sul e membro do Grupo de Estudos em Fron-
teira, Turismo e Território (GEFRONTTER) vinculado à UEMS. Contato:
airton@uems.br
Este volume II do livro Mato Grosso do Sul no início do século XXI: in-
tegração e desenvolvimento urbano-regional, representa uma continuidade no
esforço acadêmico dos professores e pesquisadores Walter Guedes da Silva e
Paulo Fernando Jurado da Silva em unir estudos sobre o território sul-mato-
grossense.
Este volume traz uma coletânea de textos de pesquisadores e pesquisa-
doras que atuam no estado. Temas relacionados à dinâmica urbano-regional
adquirem maior destaque nos dez capítulos presentes no livro. Os textos refle-
tem discussões, principalmente, na escala local, cujas análises trazem questões
atuais de diferentes municípios do estado de Mato Grosso do Sul.
O primeiro capítulo apresenta uma análise na perspectiva do desenvol-
vimento urbano-regional a partir do mapeamento das condições de vida nas
cidades de Jateí, Antônio João, Anaurilândia e Glória de Dourados.
O segundo capítulo analisa o setor de transporte aéreo de passageiros
no estado e a valorização de novos territórios no estado, tendo como foco os
municípios de Dourados, Corumbá, Três Lagoas e Bonito.
O capítulo seguinte aborda as consequências dos projetos de integração
promovidos pelo Estado brasileiro sobre a população indígena no território
sul-mato-grossense, especialmente os povos Guarani e Kaiowá.
A questão fronteiriça é destaque no quarto capítulo, no qual a auto-
ra busca compreender a influência paraguaia nas representações culturais no
Mato Grosso do Sul, especialmente na gastronomia, nas crenças, nos costu-
mes e na música.
O capítulo seguinte analisa a influência indígena na construção da
identidade cultural em Campo Grande, a partir de traços que atingem tanto
aspectos culturais quanto físicos na paisagem urbana.
No sexto capítulo, as autoras apresentam elementos, desafios e perspec-
tivas para o desenvolvimento de atividades de Turismo Rural na sub-região
de Miranda, diante do contexto territorial no qual está inserida: o pantanal.
O sétimo capítulo traz um levantamento e análise da produção de resí-
duos sólidos em Campo Grande e a organização territorial das cooperativas
e associações de catadores de materiais recicláveis no perímetro urbano do
município.
Campo Grande também é o recorte territorial do oitavo capítulo. Ten-
do como referência a temática consumo, os autores realizam uma análise geral
do comércio eletrônico na capital sul-mato-grossense.
O nono capítulo analisa a reestruturação do espaço urbano de Três la-
goas diante do contexto de reestruturação produtiva e das novas lógicas de
produção de moradia. A lógica de ampliação do mercado imobiliário três-la-
goense deu origem à produção de espaços residenciais populares fechados.
Por fim, o último capítulo descreve e analisa os processos responsáveis
pelo crescimento urbano em Dourados, considerando as estratégias dos agen-
tes envolvidos e os impactos socioambientais decorrentes da forma como se
dá a expansão da cidade.
Assim, os textos refletem os mais variados temas na perspectiva do de-
senvolvimento urbano e regional no estado, no contexto socioeconômico e
territorial do início do século XXI. As discussões apresentadas neste livro
representam um aprofundamento acerca de questões importantes para o de-
senvolvimento e integração do estado, ao mesmo tempo em que é um convite
para a realização de novas pesquisas.
Boa leitura!
11 - Apresentação
17 - Desenvolvimento Urbano Regional como Ideário da Justiça Socioespacial
39 - Mato Grosso do Sul: O Setor de Transporte Aéreo e a Valorização de
Novos Territórios
63 - “O Projeto de Integração Matou a Alma do Índio”. As Consequências da
Integração Forçada dos Povos Guarani e Kaiowá em Mato Grosso do Sul
Realizada Pelo Estado Brasileiro
83 - Transgredindo Fronteiras: A Influência Paraguaia nas Representações
Culturais no Mato Grosso do Sul
101 - A Influência Indígena na Paisagem e Identidade Cultural Urbana de Campo
Grande-MS: Uma Análise sob o Viés da Geografia do Turismo
119 - Turismo Rural e Sub-Região de Miranda: Um Pantanal e seus Desafios
141 - Organização Territorial das Cooperativas e Associações de Catadores de
Materiais Recicláveis no Perímetro Urbano de Campo Grande/MS em 2016
163 - Comércio Eletrônico em Campo Grande, Mato Grosso do Sul
181 - Da Reestruturação do Espaço Urbano à Produção dos Espaços
Residenciais Populares Fechados em Três Lagoas – MS
201 - Dourados-MS: Expansão Urbana Extensiva e Impactos Socioambientais
DESENVOLVIMENTO URBANO-
REGIONAL COMO IDEÁRIO DA JUSTIÇA
SOCIOESPACIAL
Introdução
Podemos, por meio do mapeamento de indicadores de condições de
vida, analisar as dinâmicas e as relações intra e interurbanas, com vistas a pen-
sar a desigualdade socioespacial em múltiplas escalas. Nesse sentido, diante da
perspectiva de integração das diferentes escalas, refletir sobre um desenvolvi-
mento urbano-regional com diminuição da pobreza e da desigualdade para
a porção meridional de Mato Grosso do Sul é de fundamental importância.
Para isso elaboramos – com base nos dados do Censo Demográfico do IBGE
(2010) – e avaliamos os indicadores das cidades de Jateí, Douradina, Antô-
nio João, Anaurilândia e Glória de Dourados, que possuem, respectivamente,
4.017, 5.365, 8.2015, 8.494, 9.928 habitantes. Tais dados foram, ainda, corre-
lacionados com os indicadores da cidade de Dourados.
As cidades que contam com um contingente populacional pequeno,
na maioria das vezes, apresentam funções urbanas elementares e se situam no
limite inferior da complexidade urbana (ROMA, 2012). Desse modo, delimi-
tamos para análise as cidades com até 10 mil habitantes, pois elas desenvolvem
incipientes funções urbanas.
Contudo, destacamos que não é o contingente populacional que estru-
tura esses espaços – mesmo que ele seja um elemento pertinente – mas, sim,
as funções urbanas que se desenvolvem e a vida de relações que essas funções
propiciam. Imbricar as dimensões quantitativas e qualitativas nos permitirá
relacionar melhor o teórico e o empírico para a compreensão dessas realidades
urbanas.
Para isso foi fundamental o mapeamento realizado na escala regional,
pois permitiu entender o contexto socioespacial intra-urbano (no caso de cada
cidade) e correlacioná-lo com a escala interurbana (o conjunto das cidades).
Esse recurso metodológico nos propicia melhor entender a relação parte-todo,
Santos (1978, 2004 [1979]), Silveira (2007) e Roma (2013, 2016) en-
fatizam que o circuito inferior da economia urbana é formado pelas atividades
de pequena escala, produtos indiretos da modernização, e correlacionam cir-
cuito inferior da economia com pobreza urbana.
Deve-se ponderar que a
Considerações finais
Analisar o Desenvolvimento na perspectiva urbano-regional permite
que se compreendam as dinâmicas da divisão territorial do trabalho em seu
acúmulo desigual de tempos e espaços. No entanto, as questões postas neste
texto não significam apenas um dado da divisão territorial do trabalho e da
hierarquia urbana, mas reforçam desvantagens, limitações ou não acesso aos
recursos tecnológicos, um impacto na ocupação-renda, no acesso ao lazer e/
ou cultura por uma parcela da sociedade.
Para Ribeiro (2005, p. 12464), ao vivermos sob as regras da concepção
hegemônica de mercado, a fragmentação territorial impõe-se como espacia-
lidade difusa e hiperconcentrada. Tal processo não representa corporificação
dos direitos que significa “apropriação socialmente justa do espaço”.
Esta apropriação socialmente justa do território determina que os direi-
tos em saúde, educação e renda (mercado socialmente necessário) não sejam
apenas vistos como mercadoria nas políticas públicas de planejamento. Mas,
contrariamente, observa-se, no período atual, a maciça penetração das regras
empresarias e hegemônicas de mercado nas ações do Estado.
Referências Bibliográficas
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1980.
Introdução
No atual período ainda caracterizado pela convergência da técnica, da
ciência e da informação, a circulação se destaca como elemento intrínseco e in-
dissociável aos processos produtivos, pois constantemente se criam e ampliam
as possibilidades para especialização dos lugares o que contribui para o estabe-
lecimento de uma intensa divisão territorial do trabalho (SANTOS, 1996).
Nesse sentido observamos nas primeiras décadas do século XXI uma
forte expansão no fluxo de passageiros no setor aéreo brasileiro, inserido em
um cenário de crescimento econômico e a realização de vários investimentos
em setores considerados estratégicos para o desenvolvimento do país. Dentre
estes, logicamente o setor de transportes, através por exemplo das ações e dos
empreendimentos elencados nos últimos anos pelo Programa de Aceleração
do Crescimento, pelo Programa de Investimentos em Logística, pelo Progra-
ma de Aviação Regional, dentre outros.
Esse processo, que envolve várias ações institucionais e vultosos investi-
mentos estatais e privados, corrobora para uma intensificação dos fluxos ma-
teriais e imateriais que ocorrem em espaços cada vez mais amplos do mercado
mundializado, aumentando as possibilidades do espraiamento geográfico das
atividades econômico-produtivas que, por vezes, atingem áreas antes, até certa
medida, posicionadas às margens dos circuitos produtivos predominantes.
Cabe ressaltar que isso não ocorre, todavia, de forma idêntica em todos
os lugares, portanto é necessário compreendermos que a circulação atua como
uma das bases da diferenciação geográfica (ARROYO, 2006), de uma forma
consideravelmente intensa na atualidade.
É patente que diante da forte expansão do tráfego aéreo brasileiro, as
novas conjunturas e demandas corporativas induzem novos territórios de
desenvolvimento e um cenário de maior racionalidade na circulação, não
apenas através de avanços técnicos por meio da implantação de sistemas de
4. De acordo com a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. (Emplasa) o território macrometropo-
litano abrange as quatro regiões metropolitanas institucionalizadas do Estado de São Paulo, que inclui: a Região
Metropolitana de São Paulo, Região Metropolitana de Campinas, Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Li-
toral Norte, Região Metropolitana da Baixada Santista e Região Metropolitana de Sorocaba), duas aglomerações
urbanas (Aglomeração Urbana de Jundiaí e de Piracicaba) e duas microrregiões (Microrregião de Bragantina e São
Roque), totalizando 173 municípios, 20% do território paulista, mais de 30 milhões de pessoas, o que corresponde
a aproximadamente 73% da população do Estado. Compreende-se que a extensão territorial somada ao contingente
populacional constitui-se como um importante fator que induz uma intensa demanda que, por sua vez, amplia a
oferta de voos nessas regiões metropolitanas, daí o interesse das companhias na interligação aérea com os aeroportos
localizados na macrometrópole paulista, com destaque para os aeroportos de Guarulhos, Congonhas e Viracopos.
5. Hubs constituem os pontos de ligação do transporte aéreo, ou seja, são os aeroportos onde as empresas aéreas cen-
tralizam suas operações. Os hubs principais são aqueles em que há maior oferta e demanda de voos, daí se falar que um
hub é estratégico ou não, isto é, se ele possui capacidade de geração de tráfego, diz-se que este é estratégico do ponto de
vista das empresas aéreas centralizarem suas operações. Quanto mais ligações com diferentes pontos, mais estratégico
torna-se o hub e essas ligações são diretamente maiores se houver demanda e oferta nos itinerários.
Considerações Finais
As análises realizadas neste trabalho mostram indubitavelmente que
Mato Grosso do Sul se estabeleceu nos últimos anos como um novo território
de valorização ao setor aéreo brasileiro. Observa um nítido acompanhamento
deste Estado em relação ao crescimento do setor aéreo regional no país, tanto
na progressão do quantitativo de passageiros transportados, quanto na expan-
Referências Bibliográficas
BARAT, Josef. O plano de voo da aviação regional. In: Revista Custo Brasil.
Rio de Janeiro, Ano 3, n. 17, 2008.
Introdução
“O projeto de integração matou a alma do índio”. Essa foi a frase de
um professor indígena durante uma reunião sobre o Centenário da Reserva
Indígena de Dourados, em agosto de 2016, a ser “comemorado” em 03 de se-
tembro de 2017. A frase foi proferida em meio às discussões em torno de um
conjunto de problemas sociais existentes na Reserva e também de conquistas e
desafios dos povos indígenas ao longo desses 100 anos.
Em sua fala quieta, intensa e emocionada, relatou o (des)encontro en-
tre indígena e não indígena como parte integrante dos projetos colonialistas
do Estado brasileiro que, - através do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e
FUNAI (Fundação Nacional do Índio) -, promoveu a integração forçada aos
Guarani e Kaiowá. O objetivo era “matar o índio, tirar o índio do seu lugar
verdadeiro, transformar o índio em branco, que é uma coisa que índio não
pode ser, não pode ser branco”, ou, ao menos, os planos era fazer do indígena
“um índio mais civilizado”, como asseverou em sua fala.
A conduta civilizatória do Estado desdobrou-se em consequências gra-
ves para os indígenas na contemporaneidade, como, por exemplo, no modo
como eles são enxergados pela sociedade não indígena. A esse respeito, a se-
guinte afirmação da antropóloga Lucia Helena Rangel (2012, p.1): “Uma hora
ele é índio demais e atrapalha, outra hora outra hora ele é índio de menos,
e não tem direitos”; traz a ambiguidade do que é ser indígena na ótica dos
não indígenas. Essa ambivalência busca, notoriamente, suprimir os direitos
indígenas e não reconhecer sua presença atual na sociedade brasileira como
sujeitos de suas próprias histórias e trajetórias. Busca-se, nesse sentido, renovar
o imaginário do índio genérico, ou seja, o índio idealizado e naturalizado que
não reivindica direitos e é um sujeito folclórico na história brasileira, como de
20. No processo de aldeamento compulsório dos indígenas para as Reservas alastrou-se um conjunto de doenças
trazidas pelos não indígenas, como a tuberculose. A presença da Missão Caiuá foi importante nesse processo, prestou
serviços de auxílio aos indígenas que padeciam de diversas doenças. Segundo Barros e Lourenço (2015, p.512) “Os
serviços de assistência à saúde dos indígenas foram desenvolvidos desde os primeiros dias do contato entre índios
e missionários em Dourados. A oferta do saber médico foi entendida como elemento indispensável para a atuação
missionária, uma vez que funcionaria como elemento de aproximação entre os religiosos e os indígenas, bem como
poderia contribuir para que os métodos de cura praticados pelos próprios índios caíssem em descrédito”.
28. “Os acampamentos-tekoha muitas vezes são confundidos com acampamentos de movimentos sociais da Reforma
Agrária. A utilização de acampamentos-tekoha foi construída no sentido de demonstrar que ao mesmo tempo que é
acampamento, caracterizado como um território provisório, os mesmos encontram-se territorializados nos territórios
étnicos Guarani e Kaiowá” (MOTA, 2015).
29. I - Proposição de mudanças na constituição: Trata-se de Proposta de Emenda Constitucional de nº 215, de 2000,
apresentada por parlamentares, tendo à frente o Deputado Almir Sá, na qual sugere que: 1. Se acrescente ao art. 49 da
Constituição Federal, o inciso, renumerando-se os demais, com o seguinte teor: Art. 49 – É da competência exclusiva
do Congresso Nacional: (novo inciso) – aprovar a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e
ratificar as demarcações já homologadas; 2. Se altere a redação do § 4º do art. 231 da Constituição Federal e acrescenta
um oitavo parágrafo neste mesmo art. 231 da CF, de forma a passar a vigorar com as seguintes redações: “§ 4º As terras
de que trata este artigo, após a respectiva demarcação aprovada ou ratificada pelo Congresso Nacional, são inalienáveis
e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis”; “§ 8º Os critérios e procedimentos de demarcação das Áreas
indígenas deverão ser regulamentados por lei” (BRASIL/PEC 215).
30. A Portaria 303 da AGU afirma: 1 As terras indígenas podem ser ocupadas por unidades, postos e demais interven-
ções militares, malhas viárias, empreendimentos hidrelétricos e minerais de cunho estratégico, sem consulta aos povos
e comunidades indígenas; 2. Determina a revisão das demarcações em curso ou já demarcadas que não estiverem
de acordo com o que o STF decidiu para o caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol; 3. Ataca a autonomia dos
povos indígenas sobre os seus territórios. Limita o direito dos povos indígenas sobre o usufruto exclusivo das riquezas
naturais existentes nas terras indígenas; 4. Transfere para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-
dade (ICMBIO) o controle de terras indígenas, sobre as quais indevida e ilegalmente foram sobrepostas Unidades
de Conservação; 5.º Cria problemas para a revisão de limites de terras indígenas demarcadas que não observaram
integralmente o direito indígena sobre a ocupação tradicional. (APIB, CIMI, ANSEF, 2012).
Referências Bibliográficas
32. Narrativa do Kaiowá Jorge durante o I Colóquio de Geografias e Povos Indígenas realizado nos dias 11
e 12 de julho de 2016.
Ministério Público Federal. Cinco fazendeiros estão presos por ataque armado
contra índios em junho. Disponível em: <http://www.campograndenews.
com.br/cidades/interior/cinco-fazendeiros-estao-presos-por-ataque-armado-
contra-indios-em-junho>. Acesso em: 18 de agost. 2016.
RANGEL, Lucia Helena. ‘Uma hora ele é índio demais e atrapalha, outra
hora ele é índio de menos, e não tem direitos. Disponível em: <http://www.
ihu.unisinos.br/entrevistas/512776-uma-hora-ele-e-indio-demais-e-atrapalha-
outra-hora-ele-e-indio-de-menos-e-nao-tem-direitos-entrevista-com-lucia-
helena-rangel>. Acesso em: Agost.2012.
Introdução
Regiões de fronteiras apresentam características contraditórias, ambí-
guas e complementares, determinadas pelas complexas relações culturais, so-
ciais, econômicas, identitárias e linguísticas, que, paradoxalmente, separam,
ao mesmo tempo em que unem os povos, as comunidades e os grupos sociais
envolvidos.
Nos espaços (trans)fronteiriços entre nações, o local e o global, o eu e o
outro se articulam, estabelecendo dinâmicas e vínculos próprios. Na fronteira
entre o Brasil e o Paraguai, contexto desta pesquisa, as culturas transpassam as
barreiras internacionais e ressignificam as nacionais, em movimentos de ir e vir
permanentes, marcando a transculturalidade entre esses dois países.
Assim, sem qualquer intenção de defender a unilateralidade dos fluxos
transculturais, mas apenas fazendo um recorte de pesquisa, este artigo tem por
objetivo discorrer, brevemente, sobre a influência paraguaia nas representa-
ções culturais do Mato Grosso do Sul, mais especificamente, quanto à gastro-
nomia, às crenças, aos costumes e à música.
As perspectivas adotadas tomam por base, teorias pós-coloniais abor-
dadas por autores como Hall (2013); noções culturais, defendidas por Cox
e Assis-Peterson (2007), Assis-Peterson (2008), Pennycook (1994), Jordão
(2007), Bhabha (1998); e temas fronteiriços, estudados por Águas (2013),
Pratt (1999) e Oliveira (2010).
Esta é uma pesquisa qualitativa, de caráter transdisciplinar, por meio da
qual, procuro atravessar as fronteiras epistemológicas da Linguística Aplicada,
minha área original, dos Estudos Sociais, Culturais e Humanos Pós-Modernos
na intenção de investigar, de maneira interpretativa, intersubjetiva e situada,
os hábitos, os costumes e as manifestações culturais mato-grossenses-do-sul,
que foram reconstruídas nos e pelos fluxos transgressivos, próprios das regiões
Fronteiras
De acordo com Águas (2013), o termo fronteira apareceu no século
XIII, a partir da palavra front, que designava o limite transitório e inconstante
que separava os exércitos em luta. Oliveira, (2010), sugere que a palavra fron-
teira provém de fronte, ou seja, a parte frontal do rosto ou a posição de estar
de frente, portanto, está relacionada a uma superfície de contato de um com o
outro. Dessa maneira, embora o conceito do termo traga originalmente, uma
forte conotação bélica e conflituosa como o front de batalha, como vivenciado
pelo Brasil e pelo Paraguai na ocasião da guerra da Tríplice Aliança, ele tam-
bém pode aludir a um encontro do eu com o outro, essencial para a permanen-
te (re)construção das culturas (trans)relacionadas, temas centrais deste estudo.
Muitas vezes fronteira refere-se aos limites físicos e geográficos que deli-
mitam, segregam e separam um território do outro. Outras vezes, significa um
espaço poroso e fluido, onde acontecem as trocas. Assim, por ser um termo
polissêmico e ambíguo, pode adquirir significados contraditórios, como por
exemplo, o que junta e hibridiza, como também o que afasta e exclui. Outros-
sim, pode ser associado a metáforas com conceitos antagônicos, como barrei-
ra, borda e margem, além de, travessia, ponte e zona de contato, como se pode
observar na longa extensão de terra, onde o Brasil faz divisa com o seu vizinho
paraguaio.
O conceito de fronteira é tão relevante para esta pesquisa, quanto o de
Multiculturalidade(ismo), Interculturalidade(ismo),
Transculturalidade(ismo)
Multiculturalidade(ismo), interculturalidade(ismo) e transculturalidade(ismo)
são, muitas vezes, usados indiscriminadamente, porém, além do fato de não
serem conceitos sinônimos, esses termos ganham definições diferentes, a de-
pender das correntes ideológicas, dos momentos históricos, como também
dos contextos e sujeitos das pesquisas que abordam o tema.
Segundo Oliveira (2008), o multiculturalismo emergiu na Europa, na
ocasião da virada epistemológica de 1920, como uma nova consciência co-
letiva, contrária ao etnocentrismo, que defendia a cultura dominante como
superior e, portanto, um padrão a ser seguido pelas demais culturas. Surgiu
como um movimento social, que lutava contra as sociedades racistas, sexis-
tas e classistas. Tratava-se de uma nova orientação filosófica, teórica e política,
que se opunha ao positivismo e ao racionalismo modernos vigentes na época.
Os multiculturalistas afirmam que, na modernidade, as diferenças coe-
xistiram apenas, ao invés de se entrelaçarem de fato. Para eles, a visão essencia-
lista do monoculturalismo que defende a ideia de igualdade de raça e de uma
cultura universal abafa as diferenças entre os povos e legitima a exclusão das
minorias culturais.
O multiculturalismo, portanto, reconhece a diversidade nas culturas e
identidades sociais dos povos, “permitindo pensar em alternativas para os gru-
pos minoritários” (OLIVEIRA, 2008, p. 55)
A globalização e os recorrentes movimentos migratórios são, dentre ou-
tros, motivos significativos na formação de espaços cada vez mais multirraciais
e fronteiriços, onde o encontro com o “outro” e com o “novo” é intensificado.
Esses são os chamados de entre-lugares, por Bhabha (1998), um local onde
a emergência de outras posições discursivas, ideológicas, culturais e políticas,
bem como a resistência à normalização são possíveis.
De acordo com Bhabha (1998), os entre-lugares são marcados por
histórias de deslocamentos e reterritorializações, onde os sujeitos culturais
híbridos são constituídos.
Como afirma Oliveira (2008), o processo de hibridização para Bhabha é
mais que simples mistura. Trata-se de uma “pluralidade de significados que re-
Crenças e Costumes
A influência do Paraguai é tão significativa em Mato Grosso do Sul, que
em 2001 foi instituído no estado, o Dia do Povo Paraguaio, comemorado todo
14 de maio, quando o país vizinho proclamou a sua independência. Festas po-
pulares e religiosas paraguaias fazem parte do calendário sul-mato-grossense e
atraem moradores e visitantes dos municípios vizinhos. Um exemplo é a Festa
da Virgem de Caácupe, padroeira do Paraguai, comemorada em 8 de dezem-
bro. Os devotos paraguaios e brasileiros saem em novenas pelos bairros onde
residem as famílias e descendentes de paraguaios.
Segundo a crença, um índio convertido ao catolicismo se escondeu atrás
de um tronco, para escapar da perseguição dos seus inimigos. O índio prome-
teu que se sobrevivesse, faria uma imagem da santa com o tronco da árvore.
Após ser salvo, esculpiu duas imagens da Virgem Maria, ou seja, Virgem de
Caácupe, como ficou conhecida: uma para a igreja de Tabotí e outra para de-
voção pessoal.
Outro costume proveniente do Paraguai é o sapucai, que significa grito
em guarani. Sapucai são os gritos que as pessoas emitem, aos primeiros acordes
de uma música animada de origem paraguaia, como a polca, a guarânia ou o
chamamé (sendo esse último de origem controversa: uns acreditam que é ar-
gentina, outros paraguaia). Os paraguaios usavam o sapucai também na lida
do gado, mas no Paraguai, acredita-se que esse grito seja de origem guarani,
emitido pelos índios, quando partiam para as batalhas.
Gastronomia
A cultura do tereré, cuja tradição tem origem no Paraguai, está enrai-
zada no hábito sul-mato-grossense. O tereré é uma bebida feita com erva-
Música
A música paraguaia é, até hoje, uma tradição impregnada na vida das
pessoas do Mato Grosso do Sul. Dos anos 50 aos 80, a música paraguaia era a
mais tocada nas rádios de Campo Grande e nas cidades do interior do estado.
Nessa época, as duplas de paraguaios tocando harpa e violão eram comuns em
restaurantes, festas e eventos populares, em que as pessoas, bailavam ao som da
polca paraguaia, confirmando a ligação do sul-mato-grossense, aos costumes
paraguaios.
A música do Paraguai influenciou os compositores de estado vizinho
brasileiro. As composições de Paulo Simões, Geraldo Roca, Geraldo Espín-
dola e Almir Sater, famosos músicos do Mato Grosso do Sul, transitam pelas
guarânias, polcas e chamamés em suas harmonias, e pelo o guarani, o castelha-
no e português em suas letras, que muitas vezes recordam fatos históricos des-
ses dois países, como nas músicas Rio Paraguai e Polca Outra Vez, de Geraldo
Roca, e Sonhos Guaranis, de Almir e Paulo Simões.
Na música Rio Paraguai, Geraldo Roca fala que a tradição da região
fronteiriça, por onde passa o Rio Paraguai é tão forte que “não se desmancha
no ar”, não se desfaz facilmente, como podemos ver a seguir:
Rio Paraguai
Geraldo Roca
Trêbado no avião
Aqui vou eu Centro-Oeste
Eu fiz a conexão
Voltei de Punta Del Leste
Ninguém proibiu
E o avião não caiu
Aterrissamos de volta, velho matão
E tome polca!
É nesse compasso
O negócio aqui, ô guria
Só nesse compasso,
E nunca tem fim ô guria,
dim, dim, dim, dim, dim, dim
Roda em volta de mim
Polca paraguaia é assim
Ramon Martinez Ortega
Paraguaio de Asunción
Comanda o baile hoje à noite
O baile então será bom
Ramon conhece a receita
Que que interessa o tom
Conta um, dois, três
E mete bronca mais uma vez
Sonhos Guaranis
Almir Sater e Paulo Simões
Soy Surfista
Surfistas de Trem
Y si aciendo un cigarrilho
No és pra llamar su atencción
E tudo que eu faço já não parece ter razão
Considerações Finais
A região fronteiriça entre o Brasil e o Paraguai é um espaço de transcul-
turação, mestiço, de entrelaces culturais, misturas de crenças e valores, onde
Referências Bibliográficas
Introdução
Dos diferentes conceitos sobre território, o presente estudo buscou
elucidar as abordagens que melhor contribuem para a análise do território de
Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, na perspectiva da
identidade cultural, por entender que a análise territorial cotidiana do espa-
ço urbano torna-se instrumento para a compreensão da diversidade cultural e
identitária, sobretudo, nos aspectos relacionados aos traços indígenas tão mar-
cantes na Capital e em todo o Estado.
A priori, evidencia-se que a cultura a ser trabalhada, sendo ela a da popu-
lação de Campo Grande, caracteriza-se como cultura residual, por entender-se
que a cultura local constituída há décadas está se alterando, em detrimento de
uma cultura mais atual.
Assim, a paisagem pode contribuir por representar a cultura de uma
sociedade de forma dinâmica e contínua. Sendo a paisagem constituída pelo
homem historicamente, levanta-se aqui a questão sobre a paisagem da Capi-
tal sul-mato-grossense, que apresenta por meio dela a história que vem sendo
construída há mais de um século na cidade, e que constitui ou deveria consti-
tuir os interesses de seu povo, sejam eles de ordem política, econômica, social
ou somente pelo viés cultural.
Pondera-se ainda que para o estudo da identidade cultural local levar-
-se-á em conta a identidade coletiva de sua população. Entretanto, indaga-se
uma questão norteadora: seria a afirmação da identidade cultural a ser resolvi-
da sobre a cultura de Campo Grande ou seria a falta dessa identidade?
Nesse sentido, a presente pesquisa pretendeu elucidar alguns aconteci-
mentos que ao longo da história de Campo Grande contribuíram para o de-
senvolvimento político, econômico, social e cultural da cidade, bem como na
[...] no século passado essa terra de Vacaria já recebia reflexos das En-
tradas e Bandeiras que por aqui passaram e deixaram a semente da mú-
sica lusitana abrasileirada, ou seja, a música caipira trazida pelos ban-
deirantes. Na sequência, aconteceu a Guerra do Paraguai que foi uma
primeira tomada de consciência de que nós temos vizinhos próximos e
que, apesar do sofrimento, deixou caminho aberto para um país muito
próximo que se misturava totalmente conosco, como fala a música “So-
nhos Guaranis”, de Almir Sater e Paulo Simões. Depois chegaram os
mineiros que, à moda deles, reforçam a identidade caipira na época em
que Campo Grande começa a se colocar como núcleo social e, a partir
daí, se configura toda essa história. [...]. (grifos do autor).
Considerações Finais
As relações territoriais indígenas são expressões marcantes e complexas
ligadas diretamente à identidade cultural. O território incorpora as expressões
dos modos de vida tanto do passado, como do presente, contendo, ao mesmo
tempo, significados culturais residuais e emergentes. Todo território possui co-
nexões que promovem o movimento e a fluidez e, consequentemente, a (des)
territorialização (NETO DE JESUS, 2012).
Referências Bibliográficas
MACHADO, P.C. Pelas ruas de Campo Grande: A Rua Velha. Vol. I Campo
Grande: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1990.
Introdução
O Pantanal Mato-grossense na sub-região de Miranda (MS), desde a
década de 1980, oferece atividades de Turismo Rural, o que tem desafiado
estudiosos e pesquisadores regionais no tocante aos cuidados com a preser-
vação34 deste patrimônio mundial em duas perspectivas: o espaço geográfico
deste Pantanal - riquezas inestimáveis em relação ao seu ecossistema e o ho-
mem pantaneiro35 - histórico guardião deste habitat natural. Teme-se pela
fragilização de uma cultura tecida temporalmente no encontro entre o ser
humano e o contexto geográfico, narrada em verso e prosa na academia e rodas
pantaneiras, enquanto uma tecitura a conduzir a existência do e no território,
a partir e com as territorialidades de seus habitantes.
Este texto busca socializar alguns destes aportes a partir de diferentes
pesquisas realizadas na última década. Neste sentido, traz um breve recorte em
relação ao contexto e resultados oriundos de uma pesquisa social desenvolvida
com homens pantaneiros envolvidos com atividades de Turismo Rural (peões,
peões guias e proprietários de fazendas) na sub-região de Miranda - Pantanal
Mato-Grossense neste período.
34. [...] não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um miolo histórico de uma grande cidade velha.
Preservar também é gravar depoimentos, sons, músicas populares e eruditas. Preservar é manter vivo, mesmo que
alterados, os usos e costumes populares. [...] Devemos, então, de qualquer maneira, garantir a compreensão de nossa
memória social, preservando o que for significativo dentro de nosso vasto repertório de elementos componentes do
patrimônio cultural (LEMOS, 1981, p. 29).
35. Por homem pantaneiro, entenda-se neste trabalho, indivíduo natural do Pantanal ou aquele que, mesmo não
tendo nascido lá, assimilou a vivência daquele nativo, compartilhando dos hábitos e dos costumes típicos da região.
“Pantaneiro é o “elemento nativo do Pantanal ou aquele que nele vive há mais de vinte anos, compartilhando hábitos
e costumes da região” (NOGUEIRA, 1990, p. 13).
O elemento humano
Quando se discutem as questões relativas a presença ou entrada de ativi-
dades exógenas ao universo pantaneiro as incidências acabam recaindo para a
preocupação com o ambiente antropogeográfico e a cultura da região pantanei-
ra, que ali sinalizam para uma singularidade ímpar, uma simbiose elaborada
paulatinamente entre o Pantanal e o ser humano que o habita. Este ser hu-
mano habituado às agruras e artimanhas do Pantanal convive com a solidão,
entende a natureza, sabe ouvi-la e respeitá-la. Como um especialista na área, a
perscruta e desde cedo dela aprende a decorar o seu abecedário, do qual retira
suas lições de cotidiano (NOGUEIRA, 1990 p. 60).
Ser um pantaneiro é se confundir com esta realidade enfrentando-a no
Considerações Finais
A Sub-Região de Miranda no Pantanal Mato-grossense se constitui na
inserção da paisagem de uma demarcação humana, limites que pressupõem a
caracterização de um território. Esta região recebe visitantes de locais distantes
e próximos, escolas, grupos de pesquisadores, entre outros, que vão à busca do
contato direto com o meio natural, estudos e observação do lugar e modos de
sobrevivência.
O turismo rural tem as bases como uma atividade processual capaz de
gerar conhecimentos para turistas, visitantes e guias no contato direto com a
natureza, ampliando a capacidade de identificação ambiental. Tem como ati-
vidades passar informações, curiosidades relacionadas à natureza, costumes e
a história local, o que possibilita uma integração mais educativa e envolvente
com a região (BRITO, 2006).
Elaborar um trabalho conjunto entre comunidade, pesquisadores, em-
presários e governo municipal/estadual para a valorização e preservação da re-
gião do Pantanal, sua identidade, lida campeira, culturas, crenças, se apresenta
36. O Outro é aquele que difere do grupo, anda diferente, fala diferente, vê o mundo com outros olhos, tem
cor da pele diferente, crê de modo diferente, deseja e se identifica de outro modo - pertence a outra cultura,
geração ou grupo social (OLIVEIRA, 2003). O termo “Outro” para Lèvinas (2005) representa aquele que
não pode ser contido, que conduz para além de todo contexto e do ser. O Outro não pode ser reduzido a um
conceito; é rosto, presença viva que interpela, convoca, desafia e constrói.
Referências Bibliograficas
BARROS, Abílio de. Gente pantaneira: (crônicas de sua história). Rio de Janeiro:
Lacerda Editores, 1998.
Introdução
A evolução cientifica e tecnológica trouxe para nosso cotidiano, prin-
cipalmente o urbano, mais conforto e possibilitou experimentos e sensações
jamais sentidas em épocas anteriores. Mas, esse conforto trouxe também im-
plicações, tais como a degradação ambiental, escassez dos recursos naturais,
poluições diversas, excesso de resíduos produzidos e desigualdades sociais. De
acordo com Souza, Silva e Barbosa (2014),
O problema ambiental que o lixo causa, poluindo o solo, água e ar, não
é só uma preocupação local, mas de escala mundial. As indústrias que pro-
duzem embalagens, levadas junto com os produtos que se compra, também
já criaram formas de reciclar industrialmente. Porém, a cadeia produtiva da
reciclagem ainda sofre com pouca matéria prima, porque, ainda falta a parti-
cipação mais efetiva de um dos membros desta, o consumidor.
Essa “sociedade burocrática de consumo dirigido” (LEFÈBVRE,
1991) retrata o que se tornou a sociedade moderna no modo de produção
capitalista principalmente a que vive no meio urbano. Esta sociedade, bom-
37. Artigo defendido como Trabalho de Conclusão de Curso – TCC; e apresentado na II Jornada Brasileira de
Educação e Linguagem; XI Jornada de Educação de Mato Grosso do Sul; II Encontro dos Mestrados Profissionais
em Educação e Letras (2016)
Mas também são pessoas que possuem direitos garantidos por lei e com
profissão reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com o Código
Brasileiro de Ocupação (CBO), com o Código 5192 – 05 Catador de material
reciclável. Mas quantos existem no Brasil? No Caderno de Diagnóstico Cata-
dores (2011) é informado que:
Após esse marco legal, muito se tem avançado, pois, existem atualmente
em todo Brasil várias cooperativas e associações. Mas nem sempre foi assim.
Segundo o IPEA (2013),
Como em boa parte dos casos não acontece o diálogo do catador com
as pessoas que moram nas residências, quando procura os resíduos recicláveis
gerados, o catador “de rua” simplesmente rasga os sacos para retirar aquilo que
vai servir para ser vendido.
Talvez aí, na existência do diálogo, conversa com as pessoas sobre a im-
portância da separação dos resíduos sólidos, mostrando para onde vai, de que
forma vai, como pode ser acondicionado, quanto gera de renda, e a quantas
pessoas pode ajudar com essa ação, seria um caminho para que o cidadão não
ficasse bravo com o catador, e, ao invés disto, separasse os recicláveis e acordas-
se com o catador um dia para buscar.
Mas, serão as mudanças de atitudes do consumidor, no que diz respeito
à destinação correta dos resíduos sólidos gerados, que proporcionarão um au-
mento na renda dos catadores por meio da separação dos recicláveis e encami-
nhados para a coleta seletiva. Como é citado no Guia Pedagógico de Resíduos
Sólidos de Campo Grande (2012),
Considerações Finais
Apesar das organizações de catadores estarem em cooperativas e associa-
ção, em parte dispersa pelo perímetro urbano de Campo Grande, seu aumento
só poderá ser observado após garantias legais nos programas nacionais e mu-
nicipais de resíduos sólidos. Até o ano 2000 só havia uma cooperativa forma-
lizada em Campo Grande, e após a Política Nacional de Resíduos sólidos, em
2010, mais cinco cooperativas e uma associação se formalizou, para ter direitos
adquiridos na legislação.
Mesmo que a legislação conceda esses direitos, nem todas as coopera-
tivas se organizaram de forma a atrair novos cooperados. Pelo contrário, cada
dia que passa menos os catadores desejam estar em cooperativas, pois acredi-
tam ainda que sozinhos podem ganhar mais dinheiro. Ao que tudo indica, tão
logo a coleta seletiva se estenda para toda capital sul-mato-grossense, haverá
aumento de resíduos doados para cooperativas e com isso, o aumento de ga-
nho financeiro individual também se ampliará.
Com o trabalho de campo foi possível identificar as cooperativas e a
associação, e saber quanto ganham cada um dos seus cooperados. Mas, vale
ressaltar que as cooperativas e a associação de catadores de materiais recicláveis
Referências Bibliográficas
39
Introdução
O presente artigo tem como preocupação central compreender o co-
mércio eletrônico na cidade de Campo Grande, localizada no Estado de Mato
Grosso do Sul, tomando como referência a temática do consumo. A motivação
principal para a elaboração do artigo decorre da crescente importância que ad-
quire o setor com o passar do tempo no Brasil, nas grandes capitais e nos cen-
tros com relativa importância econômica, como é o caso de Campo Grande.
Tal capital manteve ao longo do tempo função nodal econômica na dinâmica
urbana estadual, tendo as atividades de serviço e comércio grande relevância
na composição econômica, o que justifica a eleição desse centro para compre-
ensão de temática tão relevante e cara aos estudos da Geografia.
Justificado e estabelecido o recorte espacial é preciso atentar também
para uma variável importantíssima nos estudos geográficos que é o tempo. As-
sim, essa pesquisa terá um caráter contemporâneo, ou seja, avaliará o comércio
eletrônico no dado presente. Os dados obtidos e os resultados apresentados,
portanto, serão os mais recentes, procurando demonstrar a atualidade da ques-
tão, embora o olhar histórico dos processos também não seja ignorado e acom-
panhe a argumentação de forma retrospectiva e dialética.
Já quanto ao recorte temático é preciso discutir teoricamente alguns
pontos. Nesse sentido, vale frisar que o termo comércio eletrônico é derivado
de um acrônimo oriundo da Língua Inglesa (E-Commerce) que tem por signi-
ficação equivalente na Língua Portuguesa ao comércio que é efetuado eletro-
nicamente. Assim, o termo, genericamente, pode ser utilizado para referir-se
aos negócios e transações realizados eletronicamente, isto é, especialmente
39. Pesquisa cadastrada na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul. O presente artigo também contém resultados parciais da obra “Geografia das Telecomunica-
ções no Brasil” da Editora Cultura Acadêmica do autor Paulo Fernando Jurado da Silva.
Considerações finais
Conforme exposto, fica nítido que a ação das grandes corporações no
segmento do comércio eletrônico tem sido cada vez mais importante no ce-
nário de acumulação do capital. Assim, como demonstrado ao longo do texto,
pôde-se observar que as companhias têm lucrado fortemente, mesmo em um
cenário de crise. As pessoas têm também dedicado uma parte de seu tempo e
de seus recursos ao consumo prático pela via eletrônica.
Com isso, o reflexo da transformação espacial oriundo dessa nova di-
nâmica pode ser observado em realidades não metropolitanas, como é o caso
Referências bibliográficas
E-BIT. Relatório WebShoppers 2014. 29. ed. Disponível em: < http://www.
ebit.com.br/webshoppers>. Acesso em: 25 mai. 2015.
Introdução
A ocupação do espaço urbano três-lagoense deu-se, historicamente, nas
proximidades da Lagoa Maior e da estação ferroviária. O primeiro assenta-
mento residencial a ser criado foi o Santa Luzia ou “Formigueiro”, como foi
chamado em épocas pretéritas, dado o grande número de pessoas que nele re-
sidiam. Constituído nas proximidades da estação ferroviária, ganhou sentido
e centralidade através do uso deste espaço por trabalhadores, comerciantes e
transeuntes que por ali passavam. O sistema ferroviário proporcionou grande
expressividade à área, delineando-o como fragmento territorial economica-
mente relevante.
A presença da estrada de ferro e sua contextualização no início do século
XX são importantes para compreendermos o processo de ocupação do espaço
urbano de Três Lagoas, marcado inicialmente pela concentração espacial. No
início do século XX, intensificou-se no Brasil a construção de linhas férreas,
cujo objetivo principal era escoar os produtos nacionais, além do transporte
de passageiros, promovendo a integração regional. Em meio às tramas políti-
cas e processos decisórios sobre o traçado da linha férrea no Estado de Mato
Grosso, “em 1907, o governo decidiu aprovar a execução de um novo traçado
da estrada de ferro de Bauru a Corumbá” (OLIVEIRA E ARANHA-SILVA,
2011, p. 141).
Sobre a cidade de Três Lagoas é possível afirmar que o povoamento des-
te pequeno vilarejo iniciou-se com a chegada das famílias de operários que
trabalhavam na construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, uma vez
que, “antes desse período, o território três-lagoense apenas servia de caminho
para a peonagem, cujas tropas eram provenientes, em sua maioria do interior
dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás” (OLIVEIRA, 2011, p. 127).
Conclusão
Neste artigo, buscamos compreender a relação entre o processo de re-
estruturação produtiva e o aparecimento de novas formas de moradia, tendo
como pano de fundo a contextualização histórica do processo de produção do
espaço urbano três-lagoense. Identificamos, portanto, três momento em que a
produção do espaço teve destaque.
O primeiro momento se iniciou com a ocupação da cidade através da
construção da estrada de ferro, atraindo trabalhadores que se fixaram no local.
Embora Oliveira (2011) tenha constatado processos de diferenciações espa-
ciais e segmentação por renda, a análise morfológica nos permite afirmar que
neste primeiro momento houve uma ocupação territorial coesa.
O segundo marco da ocupação territorial de Três Lagoas foi caracteri-
zado pela construção da usina hidroelétrica que mobilizou um grande con-
tingente de trabalhadores e por seguinte, de moradores. Houve neste período
um processo de expansão territorial implicando na aceleração da segregação
residencial.
O terceiro momento, que perdura até os dias de hoje, foi marcado
Referências Bibliográficas
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 2. São Paulo: Ed. Ática, 1993.
Introdução
Na primeira década e meia do século XXI, verificou-se no Município de
Dourados uma convergência de processos que ao estimular significativamente
as atividades do mercado imobiliário gerou simultaneamente um padrão de ex-
pansão urbana extensiva baseado, em boa medida, no crescimento horizontal
da cidade, responsável por uma contínua conversão de terra rural em urbana.
O objetivo que nos propomos nesse trabalho é, por um lado, identificar
e examinar os processos responsáveis pela promoção do crescimento urbano
extensivo, determinando os agentes envolvidos e as estratégias adotadas e, por
outro, investigar as repercussões sociais e ambientais produzidas por esse pa-
drão de crescimento urbano no contexto douradense.
O que aqui assumimos como expansão urbana extensiva corresponde
a um padrão de crescimento linear da cidade alicerçado na implantação de
novos empreendimentos residenciais unifamiliares e, em bem menor medida,
multifamiliares55 na forma de loteamentos, conjuntos habitacionais ou con-
domínios fechados horizontais que eventualmente, embora pouco frequente-
mente, podem também incluir usos comerciais e/ou de serviços.
Esse padrão de desenvolvimento urbano extensivo assume dois forma-
tos distintos: o crescimento contínuo e o crescimento descontínuo. O primei-
ro corresponde à adição de extensões ao espaço urbano já constituído, pro-
duzindo uma mancha urbana ininterrupta. O segundo toma a forma de uma
expansão fragmentada onde as novas ocupações apresentam-se desconectadas
espacialmente do corpo urbano principal (Panerai, 2014).
Aqui partimos do pressuposto de que não apenas os processos, mas tam-
bém as formas urbanas que eles geram, demandam atenção, já que diferentes
padrões de expansão apresentam balanços distinto de perdas e ganhos para a
comunidade. Como nos explica Ojima “o padrão de ocupação [...] deve ser
55. Corresponde a pequenas edificações de 2 a no máximo 4 andares, todas sem elevadores.
Por outro lado, os diferentes segmentos dentro dessas redes podem ado-
tar estratégias distintas e nem sempre compatíveis, o que pode gerar embates
contenciosos em seu interior. Tais conflitos eventualmente ocorrem também
entre os agentes integrantes das redes e as forças anti crescimento (movimen-
tos ambientalistas, por exemplo), embora com frequência essas redes operem
sem oposição externa.
A atuação dessas redes de crescimento encontra-se assim sujeita a confli-
tos e negociações entre os contendores internos e, também, destes com os ad-
versários externos. A composição e o peso dos diferentes agentes, assim como
68. Além dos três empreendimentos já mencionados anteriormente (lançados por grandes grupos imobiliários nacio-
nais), foram implantados também outros quatro através de parcerias entre construtoras regionais e incorporadoras
locais: Em 2008, o Golden Park com 225 lotes da Neopar Participações e Empreendimentos Ltda. (Campo Grande-
-MS) e Fábio Frantz Incorporadora (Dourados-MS); Em 2013, o Green Park com 420 lotes da São Bento Incorpo-
radora (Naviraí-MS); Em 2014, o Porto Madero com 541 lotes da Vectra Construtora Ltda. (Maringá-Pr) e Corpal
Incorporadora e Construtora (Dourados-MS). Em 2015, o Porto Seguro com 270 lotes da Vectra Construtora Ltda.
(Maringá-PR), Corpal Incorporadora e Construtora (Dourados-MS) e Protenge Urbanismo (Londrina-PR).
69. O Plano Diretor do Município exige para aprovação dos loteamentos que os mesmos sejam dotados das seguintes
infraestruturas: rede de água tratada, rede de energia elétrica, rede de esgoto, iluminação pública, pavimentação, guia
e sarjetas, rede de captação de agua pluvial e arborização
70. Em geral atendem as demandas do mercado de construções do Mato Grosso do Sul. Na atualidade, entre as mais
atuantes, em Dourados, destacam-se a L.C. Braga Consultoria e Engenharia Ltda., ENGEPAR Ltda., VBC Engenha-
ria Ltda., COPLAN – Construções e Planejamento, Indústria e Comércio Ltda.
Este modelo difere bastante dos modelos de expansão urbana até então
dominantes, centrando-se na densificação e na intensificação urbana,
na definição de limites ao crescimento urbano e incentivando o desen-
volvimento do uso misto da ocupação do solo e da utilização de trans-
portes públicos colectivos e formas de acessibilidade não motorizada
(ALVES, 2011, p. 19)
75. Embora Dourados conte no presente com 212.870 habitantes (IBGE, 2016), a estrutura de transporte coletivo
disponibiliza apenas 58 ônibus distribuídos entre 19 linha intraurbanas e 05 que servem os Distritos. Em geral, os
ônibus não adentram os novos loteamentos e os residentes têm que se deslocar até alguma via fora do loteamento para
acessar um ponto de ônibus.
Conclusão
Os integrantes da rede de crescimento em Dourados encontram-se en-
gajados na promoção da expansão imobiliária não por algum compromisso
atávico com o crescimento em si, mas porque é através dele que se torna pos-
sível acessar os ganhos decorrentes da reprodução do capital. E em Dourados,
dado circunstâncias locais específicas, o crescimento viabiliza-se, em grande
DOURADOS,PlanoLocaldeHabitaçãodeInteresseSocial–PLHIS.Dourados,
2012.ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_de_Populacao/Estimativas_2015/
estimativa_2015_TCU_20160211.pdf
A CIDADE É AZUL
Heron Zanatta