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All content following this page was uploaded by Maria Luiza de Ulhôa Carvalho on 08 February 2019.
Carvalho, Maria Luiza De Ulhôa1; Lima, Ana Carolina Correia2; Gomes, Daniel
Pires3; Silva, Lorena Passos4; Silva, Cleiro Divino Elias5; Costa, Frederico
Marques6; SANTANA, Laura Carvalho7
(1) Universidade Federal de Goiás, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia,
Goiânia/GO, luizaled@gmail.com.
(2) Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília/DF, anaclima.nina@gmail.com.
(3) UFG, Av. Universitária, 1488, Goiânia/GO, d_piresgomes@hotmail.com.
(4) UFG, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, Goiânia/GO, lorenapassossilva@gmail.com.
(5) UFG, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, Goiânia/GO, cleirofilho@gmail.com.
(6) UFG, Av. Universitária, 1488, Goiânia/GO, frederico_k9@hotmail.com.
(7) UFG, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, Goiânia/GO, lauracarvalhosantana@gmail.com.
RESUMO
O presente artigo é uma análise preliminar de dados qualitativos e quantitativos da paisagem sonora do
Parque de Diversões Municipal Mutirama em Goiânia, Goiás coletados no dia 21 de maio de 2016.
Foram aplicados 50 questionários à população com perguntas respaldadas em literatura internacional
sobre preferências na paisagem sonora. Três locais dentro do parque com ambientes sonoros diferentes
tiveram a coleta do nível de pressão sonora equivalente (LAeq) conforme a NBR 10.151, além de
gravações de áudio e vídeo. O LAeq do ponto mais elevado variou entre 72 e 73 dB(A) enquanto no de
menor nível a variação ficou entre 64 e 67 dB(A). Os sons considerados de maior incômodo foram o
ruído dos motores de brinquedos e o som da rádio local. Já entre os mais agradáveis destacam-se os
emitidos pelas crianças, pessoas e música dos brinquedos. Além disso, observou-se que o referido
parque indica a geração de memórias sonoras positivas, principalmente referentes à infância dos
moradores da cidade. Com os resultados obtidos, espera-se contribuir na identificação de ferramentas
sonoras para um planejamento urbano no qual se valorize espaços de diversão. Tal intenção se
fundamenta no fato de que o som, enquanto fenômeno espacial, é capaz de caracterizar e modificar as
dinâmicas de um ambiente, dessa forma, paisagens sonoras podem evocar emoções específicas. Ao final,
conclui-se que o ambiente sonoro é dinâmico e passível de ser aperfeiçoado, razões pelas quais ele é
capaz de propiciar à cidade vivências de conforto sonoro, bem como sentimentos de disposição e
energia.
Palavras-chave: paisagem sonora; preferências sonoras; nível de pressão sonora equivalente; parque
de diversões; planejamento urbano.
ABSTRACT
The present article is a preliminary analysis of qualitative and quantitative soundscape data of
the Mutirama Municipal Amusement Park in Goiânia, Goiás, Brazil, collected on May 21st
2016. Fifty questionnaires were applied to a local population with questions supported by
international literature on soundscape preferences. Three different sonic places within the park
were measured in their equivalent sound pressure level (LAeq) according to the NBR 10.151
Brazilian standard, in addition to audio and video recordings. The place with the highest LAeq
within the park varied between 72 and 73 dB(A) while the lowest varied between 64 and 67
dB(A). The sounds considered more annoying were the motor noise from toys and the local
radio sound. Among the most pleasant sounds were those from children, people and toy music.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
In addition, it was observed that the park can suggest positive sound memories, mainly referring
to urban childhood. We hope that these results will contribute to soundscape assessments that
can contribute to the valorisation of entertainment places as part of urban planning. This
perspective is based on the fact that sound, as a spatial phenomenon, is able to characterize and
modify the dynamics of an environment, so that soundscape can evoke specific emotions. In
the end, we concluded that this soundscape was dynamic and could improve the experiences of
acoustic comfort, as well as feelings of disposition and energy in the city.
Keywords: soundscape; sound preferences; equivalent sound pressure level; amusement park; urban
planning.
1. INTRODUÇÃO
Esse espaço urbano tomado pelo som estimula estudos da paisagem sonora. Nela, o ambiente
acústico é considerado um agregado de muitos sons que podem evocar emoções específicas.
Schafer [2] descreve a paisagem sonora como a análise de todos os tipos de sons de uma
determinada zona ou região, ressaltando a diversidade de sons que a compõem, não somente
aqueles considerados desagradáveis. Seus estudos ressaltam ainda, a imprescindibilidade desses
sons para a identidade de um local e que com o passar do tempo as paisagens sonoras naturais
foram gradativamente se transformando. Um exemplo seria a revolução industrial na Inglaterra,
quando os sons passaram a ser mecanizados e as paisagens sonoras naturais passaram a ser
“substituídas” pelas artificiais e tecnológicas, ou seja, pelos sons feitos por máquinas.
Nesse contexto, Daumal [3] ressalta a importância da mensagem sonora, capaz de estabelecer
referencias sonoras para os usuários do espaço. Estas referências servem como informação
adicional sobre os objetos e acontecimentos concretos. O autor ainda destaca que em muitos
casos, não se percebe a existência destas mensagens acústicas, pois elas permanecem
mascaradas entre outras informações, muitas vezes, visuais. Em ambientes sonoros como os
parques de diversões, a mensagem sonora se apresenta de diferentes formas na lembrança dos
usuários, entretanto, possuem uma característica em comum: constituem uma memória acústica
essencialmente relacionada aos sons da infância.
O objeto de estudo desta pesquisa, o parque Mutirama, foi inaugurado no final da década de
1960, e pode ser considerado o parque público temático mais representativo da cidade de
Goiânia-GO. O parque abriga, além dos brinquedos, o Parque dos Dinossauros e o Planetário
da Universidade Federal do Goiás (UFG). Importante ressaltar que o ambiente possui vegetação
abundante e densa, com árvores, principalmente nos limites do parque. Destaca-se por fim, a
identidade e o simbolismo que o ponto turístico agrega para a região.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
um método de coleta em campo, fornece elementos pedagógicos do ensino-aprendizado da
percepção do ambiente sonoro urbano [4]. Por outro lado, os parâmetros objetivos da paisagem
sonora, em sua maioria, são herdados das análises da poluição sonora e controle de ruído urbano
com medições físico-acústicas dos níveis sonoros e seus percentuais.
Assim, para a análise preliminar da paisagem sonora do Parque Mutirama em Goiânia, se fez
necessário detectar e descrever os protagonistas do ambiente acústico: o emissor, o canal de
transmissão e o receptor do som. Logo, o levantamento de dados se organizou em três etapas:
passeio sonoro (soundwalk), medições de nível sonoro e aplicação de questionários. Com os
dados coletados, pôde-se analisar como os sons do referido parque formam e representam uma
identidade sonora da cidade de Goiânia.
2. OBJETIVO
3. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
O mapa possui ícones com legendas dos lugares encontrados no percurso. Partindo da
entrada/início e seguindo as setas, os ícones representam os seguintes lugares: a bilheteria, a
casa mal-assombrada, a “Montanha-russa”, o brinquedo da barca, o “Parque dos Dinossauros”,
o ambiente fechado do cinema e planetário, uma ponte, banheiros públicos, a sorveteria, o
trenzinho, o brinquedo da xícara maluca, uma região com árvores, o brinquedo do bate-bate,
outra ponte, o brinquedo do aviãozinho, a “Roda Gigante” e o fim do percurso.
As medições dos níveis sonoros, assim como o passeio sonoro, foram realizadas com um
sonômetro (modelo TM-103 da marca Politerm), um gravador de áudio (modelo PCM - M10
da marca Sony) e filmadora (GoPro). Os aparelhos foram fixados em um tripé a 1,5 m de altura
do nível do solo. Em cada ponto realizou-se três medições de seis minutos cada.
As medições dos níveis sonoros foram analisadas num espectrograma com seus níveis
estatísticos (L10 e L90). Estes últimos são usuais na análise de ruído veicular. Eles consistem na
porcentagem com que os níveis sonoros excedem o tempo de medição caracterizando os
principais momentos de picos e o ruído residual ou de fundo, respectivamente para 10% do
tempo de medição para o L10, e 90% para o L90. A diferença entre esses indicadores pode
apontar incômodo da população quanto ao ruído em vista da variação de níveis [5]. Outro
indicador normativo é o cálculo do nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) realizado segundo
a norma brasileira NBR 10.151 [6] apresentadas na Equação 1 dada por
DOI: 10.17648/sobrac-87026
01
. /
𝐿%&' = 10𝑙𝑜𝑔 45. 10
23 , (1)
/
em que 𝑛 é o número total de medições e 𝐿4 é o nível de pressão sonora medido.
Figura 1: Mapa com percurso do passeio e pontos de coleta (autoria própria, 2018).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados dos cálculos do nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) nos três pontos estão
indicados na Tabela 1. O ponto 1, localizado próximo à “Montanha-russa”, apresentou o LAeq
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superior aos demais pontos com uma média de 73 dB (A). Seus níveis máximos e mínimos de
nível de pressão sonora (Li) ficaram entre 58,7 dB e 88,1 dB e a faixa de variação entre os níveis
sonoros estatísticos de 10% (L10) e 90% (L90) em 13 dB (Figura 2). Tais oscilações dos
indicadores foram devidas aos sons mecânicos de movimento dos brinquedos e de gritos das
pessoas intercalados com o cessar dos mesmos.
O distanciamento entre L10 e L90 caracteriza um ambiente sonoro dinâmico que se caso fossem
fontes ruidosas poderiam gerar incomodo a população. No entanto, aqui, em função das
atividades ocorrentes de um parque de diversão terem o destino de divertimento, a dinâmica do
espectro dos níveis sonoros cria um ambiente de excitação como se poderá validar com as
respostas dos participantes apresentados posteriormente neste artigo.
Ponto 1 – “Montanha-russa” 72 73 73
O ponto 2, localizado no “Parque dos Dinossauros”, é a região mais calma dentre os locais
analisados com o LAeq inferior aos demais pontos com uma média de 65 dB (A). Possivelmente
devido a maior distância dos brinquedos e menor quantidade de pessoas no local. Isto também
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é evidente por meio da análise dos indicadores estatísticos que demonstraram uma diferença de
5 dB entre os indicadores de L10 e L90 (Figura 3) evidenciando um ambiente menos dinâmico e
possivelmente monótono. Os níveis máximos e mínimos de Li variaram entre 57,4 dB e 84,1
dB sendo os picos devido a transeuntes conversando ao passar perto da medição. Como som de
fundo se encontra o ruído proveniente da avenida marginal Botafogo.
Figura 3: Espectrograma de Li com L10, L90 e LAeq do ponto 2 – “Parque dos Dinossauros”.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
L90 = 62 dB(A) L10 = 72 dB(A) LAeq = 68 dB(A)
Observando os três espectrogramas com seus indicadores de nível sonoro (LAeq, L10 e L90)
considerou-se que os pontos referentes à “Montanha-russa” (ponto 1) e à “Roda Gigante”
(ponto 3) possuem similaridades tanto espectrais como em suas fontes sonoras, pois ambos
tinham sons das máquinas e gritos de pessoas. Por outro lado, o “Parque dos Dinossauros”
representa o local estudado mais silencioso dentro do contexto do parque Mutirama.
Os questionários foram aplicados no Parque Mutirama no dia 21 de maio de 2016, dia típico de
final de semana (domingo), e divididos em duas partes: perfil dos participantes, e
sons/sensações dos mesmos ao redor dos pontos de análise. As questões qualitativas foram
tratadas de maneira dissertativa e as quantitativas foram de múltipla escolha.
O parque se encontra na região central da cidade e recebe de quinta a domingo cerca de 10 mil
pessoas [9]. No dia de estudo, a amostragem teve 40% dos usuários oriundos da região centro-
sul de Goiânia. Quanto a frequência e tempo de utilização do parque, 74% das pessoas vão ao
parque esporadicamente, permanecendo neste por um período de mais de 2 horas. Além disso,
84% indicaram que não utilizam dispositivos de som (como por exemplo, fones de ouvido),
quando estão no parque, ou seja, experienciam sonoramente o parque ao visita-lo.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
Ao perguntar sobre os sons e suas sensações, as questões qualitativas foram divididas em
dissertativas e múltipla escolha. Para análise desses dados confeccionou-se um gráfico de barras
com os resultados obtidos resultando na Figura 5.
Em relação à descrição dos sons identificados, as respostas variam com o uso de adjetivos como
ruidosos, alegres, invasivos e estridentes. Os sons do parque julgados como mais agradáveis
foram os sons da natureza (sons do vento, balançar das folhas das árvores e dos pássaros) com
42% das respostas. Sendo esses descritos como os quais propiciam disposição, energia e
animação e obtiveram nota 5 (de 0 a 5) por 40% dos participantes. No entanto, considera-se que
devido ao questionário não ter a categoria brinquedos e crianças como alternativa, a opção
‘natureza’ possivelmente surgiu como a mais coerente para os respondentes do questionário.
Os sons mais desagradáveis foram os sons mecânicos (movimentação dos brinquedos) com
58% das respostas. Os sons mecânicos propiciam agitação, estresse e falta de relaxamento,
obtendo nota 0 e 1 (de 0 a 5) por 26% dos participantes.
Já nas questões abertas acerca do significado dos sons e lembranças geradas por eles, 15% os
classificaram como sons que remetem à infância, sendo que 34% classificaram suas lembranças,
usando o mesmo substantivo. Os resultados destacaram as palavras diversão, infância e alegria
como as principais memórias sonoras geradas pelos sons do Parque Mutirama. No entanto, em
vista das perguntas serem de resposta aberta e dissertativa, acredita-se que tais respostas podem
ser agrupadas num sentido único, pois alegria e diversão são sinônimos e ambas são ligadas à
infância.
Além disso, é importante ressaltar a presença do som da rádio local durante o percurso estudado,
pois a música emitida se destacou nas respostas dos entrevistados. Evidência disto se encontrou
nas respostas das perguntas “ao fechar os olhos, quais sons do Mutirama você consegue
identificar e dentre eles quais você considera um marco sonoro?” Visto que 29% das respostas
(a maioria) foram referentes às músicas tocadas pela rádio local, deixando em segundo plano
os sons do trenzinho, e das crianças, ambos com 18% das respostas.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, ao que pôde-se considerar como marco sonoro negativo, observa-se que para
alguns, os sons podem ser desagradáveis devido aos ruídos dos motores de alguns brinquedos
e à rádio presente. Dessa forma, destaca-se que a percepção de certos sons individuais gerou
estresse, principalmente nos trabalhadores que frequentam o parque durante quase todo seu
funcionamento.
Dentre os locais analisados, pode-se observar que os pontos da “Roda Gigante” e a “Montanha-
russa” possuem fontes e níveis sonoros similares (sons dos brinquedos e gritos de pessoas)
enquanto que a região do “Parque dos Dinossauros” é a mais tranquila. Os dois primeiros estão
acima do recomendado pela norma brasileira NBR 10151 [6] de 65 dB (A) diurno para o nível
de pressão sonora equivalente - LAeq. Sugere-se o controle de ruído das maquinas por meio de
uma manutenção regular, amortecimento de impactos e atenuação sonora de sistemas de
ventilação. Já o local analisado mais silencioso do parque (Parque dos Dinossauros) atende a
referida norma para áreas mistas com vocação recreacional.
Por fim, ressalta-se a importância de futuros estudos que identifiquem as paisagens sonoras
urbanas. Com o conhecimento desses elementos sonoros positivos surge a possibilidade de
agregá-los ao planejamento urbano. Assim, espera-se que discussões e proposições referentes
à qualidade de vida, preservação ambiental e sociocultural dos sons possam acrescentar
identidade e valor ao espaço público.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
[1] Kohlsdorf, G. e Kohlsdorf, M. E. Ensaio sobre o desempenho morfológico dos lugares. Brasília: Ed. FRBH,
2017.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
[2] Schafer, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Ed. Unesp, 1977.
[3] Daumal, F. Arquitectura acústica Poética y diseño. Barcelona: Edicions UPC, 2002.
[4] Drever, John L. Soundwalking: Aural excursions into the everyday. In: The Ashgate Research Companion to
Experimental Music. Chapter Nine. Aldershot: Ashgate, p. 163-192, 2009.
[5] Bistafa, Silvio R. Acústica aplicada ao controle do ruído. São Paulo: Blucher, 2006.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151. Acústica – Avaliação de ruído em
áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.
[7] Davies, W. J.; Adams, M. D.; Bruce, N. S.; Cain, R.; Carlyle, A.; Cusak, P.; Hall, D. A.; Humef, K. I.; Irwin,
A.; Jennings, P.; Marselle, M.; Plack, C. J. Perception of soundscapes: An interdisciplinary approach. Applied
Acoustics, Vol. 74, Issue 2, p. 224–231, 2013.
[8] Cain, R.; Jennings, P.; Poxon, J. The development and application of the emotional dimensions of a soundscape.
Applied acoustics, Vol. 74, Issue 2, p. 232-239, 2013.
DOI: 10.17648/sobrac-87026
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