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Uma análise preliminar da Paisagem Sonora do Parque Mutirama, Goiânia-GO

Conference Paper · January 2018


DOI: 10.17648/sobrac-87026

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7 authors, including:

Maria Luiza de Ulhôa Carvalho


University of Salford
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UMA ANÁLISE PRELIMINAR DA PAISAGEM SONORA DO PARQUE
MUTIRAMA, GOIÂNIA-GO

Carvalho, Maria Luiza De Ulhôa1; Lima, Ana Carolina Correia2; Gomes, Daniel
Pires3; Silva, Lorena Passos4; Silva, Cleiro Divino Elias5; Costa, Frederico
Marques6; SANTANA, Laura Carvalho7
(1) Universidade Federal de Goiás, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia,
Goiânia/GO, luizaled@gmail.com.
(2) Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília/DF, anaclima.nina@gmail.com.
(3) UFG, Av. Universitária, 1488, Goiânia/GO, d_piresgomes@hotmail.com.
(4) UFG, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, Goiânia/GO, lorenapassossilva@gmail.com.
(5) UFG, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, Goiânia/GO, cleirofilho@gmail.com.
(6) UFG, Av. Universitária, 1488, Goiânia/GO, frederico_k9@hotmail.com.
(7) UFG, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, Goiânia/GO, lauracarvalhosantana@gmail.com.

RESUMO
O presente artigo é uma análise preliminar de dados qualitativos e quantitativos da paisagem sonora do
Parque de Diversões Municipal Mutirama em Goiânia, Goiás coletados no dia 21 de maio de 2016.
Foram aplicados 50 questionários à população com perguntas respaldadas em literatura internacional
sobre preferências na paisagem sonora. Três locais dentro do parque com ambientes sonoros diferentes
tiveram a coleta do nível de pressão sonora equivalente (LAeq) conforme a NBR 10.151, além de
gravações de áudio e vídeo. O LAeq do ponto mais elevado variou entre 72 e 73 dB(A) enquanto no de
menor nível a variação ficou entre 64 e 67 dB(A). Os sons considerados de maior incômodo foram o
ruído dos motores de brinquedos e o som da rádio local. Já entre os mais agradáveis destacam-se os
emitidos pelas crianças, pessoas e música dos brinquedos. Além disso, observou-se que o referido
parque indica a geração de memórias sonoras positivas, principalmente referentes à infância dos
moradores da cidade. Com os resultados obtidos, espera-se contribuir na identificação de ferramentas
sonoras para um planejamento urbano no qual se valorize espaços de diversão. Tal intenção se
fundamenta no fato de que o som, enquanto fenômeno espacial, é capaz de caracterizar e modificar as
dinâmicas de um ambiente, dessa forma, paisagens sonoras podem evocar emoções específicas. Ao final,
conclui-se que o ambiente sonoro é dinâmico e passível de ser aperfeiçoado, razões pelas quais ele é
capaz de propiciar à cidade vivências de conforto sonoro, bem como sentimentos de disposição e
energia.
Palavras-chave: paisagem sonora; preferências sonoras; nível de pressão sonora equivalente; parque
de diversões; planejamento urbano.

ABSTRACT
The present article is a preliminary analysis of qualitative and quantitative soundscape data of
the Mutirama Municipal Amusement Park in Goiânia, Goiás, Brazil, collected on May 21st
2016. Fifty questionnaires were applied to a local population with questions supported by
international literature on soundscape preferences. Three different sonic places within the park
were measured in their equivalent sound pressure level (LAeq) according to the NBR 10.151
Brazilian standard, in addition to audio and video recordings. The place with the highest LAeq
within the park varied between 72 and 73 dB(A) while the lowest varied between 64 and 67
dB(A). The sounds considered more annoying were the motor noise from toys and the local
radio sound. Among the most pleasant sounds were those from children, people and toy music.

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In addition, it was observed that the park can suggest positive sound memories, mainly referring
to urban childhood. We hope that these results will contribute to soundscape assessments that
can contribute to the valorisation of entertainment places as part of urban planning. This
perspective is based on the fact that sound, as a spatial phenomenon, is able to characterize and
modify the dynamics of an environment, so that soundscape can evoke specific emotions. In
the end, we concluded that this soundscape was dynamic and could improve the experiences of
acoustic comfort, as well as feelings of disposition and energy in the city.

Keywords: soundscape; sound preferences; equivalent sound pressure level; amusement park; urban
planning.

1. INTRODUÇÃO

O som, enquanto fenômeno espacial, é capaz de caracterizar e modificar as dinâmicas de um


lugar. Suas propriedades, quantificadas e qualificadas em natureza, timbre, intensidade,
frequência e duração, relacionam-se com a forma geométrica do espaço urbano. Kohlsdorf e
Kohlsdorf [1] ressaltam que os aspectos formais do som e a natureza de sua materialidade são
alterados a partir da interação do comprimento e amplitude das ondas sonoras com os elementos
de seu contexto urbano, o que torna cada ambiente sonoro único.

Esse espaço urbano tomado pelo som estimula estudos da paisagem sonora. Nela, o ambiente
acústico é considerado um agregado de muitos sons que podem evocar emoções específicas.
Schafer [2] descreve a paisagem sonora como a análise de todos os tipos de sons de uma
determinada zona ou região, ressaltando a diversidade de sons que a compõem, não somente
aqueles considerados desagradáveis. Seus estudos ressaltam ainda, a imprescindibilidade desses
sons para a identidade de um local e que com o passar do tempo as paisagens sonoras naturais
foram gradativamente se transformando. Um exemplo seria a revolução industrial na Inglaterra,
quando os sons passaram a ser mecanizados e as paisagens sonoras naturais passaram a ser
“substituídas” pelas artificiais e tecnológicas, ou seja, pelos sons feitos por máquinas.

Nesse contexto, Daumal [3] ressalta a importância da mensagem sonora, capaz de estabelecer
referencias sonoras para os usuários do espaço. Estas referências servem como informação
adicional sobre os objetos e acontecimentos concretos. O autor ainda destaca que em muitos
casos, não se percebe a existência destas mensagens acústicas, pois elas permanecem
mascaradas entre outras informações, muitas vezes, visuais. Em ambientes sonoros como os
parques de diversões, a mensagem sonora se apresenta de diferentes formas na lembrança dos
usuários, entretanto, possuem uma característica em comum: constituem uma memória acústica
essencialmente relacionada aos sons da infância.

O objeto de estudo desta pesquisa, o parque Mutirama, foi inaugurado no final da década de
1960, e pode ser considerado o parque público temático mais representativo da cidade de
Goiânia-GO. O parque abriga, além dos brinquedos, o Parque dos Dinossauros e o Planetário
da Universidade Federal do Goiás (UFG). Importante ressaltar que o ambiente possui vegetação
abundante e densa, com árvores, principalmente nos limites do parque. Destaca-se por fim, a
identidade e o simbolismo que o ponto turístico agrega para a região.

Dentre as ferramentas de avaliação qualitativa da paisagem sonora se encontra o passeio sonoro


(soundwalk). Ele é uma prática de mapeamento subjetivo da paisagem urbana que, além de ser

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um método de coleta em campo, fornece elementos pedagógicos do ensino-aprendizado da
percepção do ambiente sonoro urbano [4]. Por outro lado, os parâmetros objetivos da paisagem
sonora, em sua maioria, são herdados das análises da poluição sonora e controle de ruído urbano
com medições físico-acústicas dos níveis sonoros e seus percentuais.

Assim, para a análise preliminar da paisagem sonora do Parque Mutirama em Goiânia, se fez
necessário detectar e descrever os protagonistas do ambiente acústico: o emissor, o canal de
transmissão e o receptor do som. Logo, o levantamento de dados se organizou em três etapas:
passeio sonoro (soundwalk), medições de nível sonoro e aplicação de questionários. Com os
dados coletados, pôde-se analisar como os sons do referido parque formam e representam uma
identidade sonora da cidade de Goiânia.

2. OBJETIVO

O objetivo geral deste estudo é contribuir na identificação de ferramentas sonoras para um


planejamento urbano no qual se valorize espaços de diversão na cidade de Goiânia-GO.

3. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

Primeiramente, realizou-se o mapeamento da paisagem sonora no interior do Parque através do


passeio sonoro (soundwalk). O passeio sucedeu-se numa caminhada silenciosa num grupo de
cinco pessoas dentro do parque, com uma distância de aproximadamente 1,5 m entre os
pesquisadores. O percurso foi de 1,8 km com medições de nível sonoro, gravações em áudio e
vídeo. Após o mapeamento foram escolhidos três pontos, para medição mais detalhada acerca
das variações de níveis sonoros e fontes sonoras. O percurso do passeio e os pontos de medição
estão indicados na Figura 1.

O mapa possui ícones com legendas dos lugares encontrados no percurso. Partindo da
entrada/início e seguindo as setas, os ícones representam os seguintes lugares: a bilheteria, a
casa mal-assombrada, a “Montanha-russa”, o brinquedo da barca, o “Parque dos Dinossauros”,
o ambiente fechado do cinema e planetário, uma ponte, banheiros públicos, a sorveteria, o
trenzinho, o brinquedo da xícara maluca, uma região com árvores, o brinquedo do bate-bate,
outra ponte, o brinquedo do aviãozinho, a “Roda Gigante” e o fim do percurso.

As medições dos níveis sonoros, assim como o passeio sonoro, foram realizadas com um
sonômetro (modelo TM-103 da marca Politerm), um gravador de áudio (modelo PCM - M10
da marca Sony) e filmadora (GoPro). Os aparelhos foram fixados em um tripé a 1,5 m de altura
do nível do solo. Em cada ponto realizou-se três medições de seis minutos cada.

As medições dos níveis sonoros foram analisadas num espectrograma com seus níveis
estatísticos (L10 e L90). Estes últimos são usuais na análise de ruído veicular. Eles consistem na
porcentagem com que os níveis sonoros excedem o tempo de medição caracterizando os
principais momentos de picos e o ruído residual ou de fundo, respectivamente para 10% do
tempo de medição para o L10, e 90% para o L90. A diferença entre esses indicadores pode
apontar incômodo da população quanto ao ruído em vista da variação de níveis [5]. Outro
indicador normativo é o cálculo do nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) realizado segundo
a norma brasileira NBR 10.151 [6] apresentadas na Equação 1 dada por

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01
. /
𝐿%&' = 10𝑙𝑜𝑔 45. 10
23 , (1)
/
em que 𝑛 é o número total de medições e 𝐿4 é o nível de pressão sonora medido.

Figura 1: Mapa com percurso do passeio e pontos de coleta (autoria própria, 2018).

Os questionários foram constituídos de perguntas quantitativas para determinar o perfil do


público frequentador. Também houve perguntas qualitativas para identificar a opinião dos
mesmos quanto à qualidade, conforto, marco e memória sonora do parque, assim como os
sentimentos gerados por elas. O grupo de pesquisadores dividiu-se em duas partes, uma para
aplicação dos questionários, outra para o passeio sonoro e as medições. As perguntas do
questionário se referiram aos sons significativos, características dos sons, classe dos sons, e
classificação dos sons conforme literatura [7, 8].

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados apresentados a seguir são preliminares e foram divididos em quantitativos e


qualitativos. Cabe ressaltar que os picos presentes nos espectrogramas dos níveis sonoros são
referentes aos gritos de algumas pessoas que, apesar de inclusas na paisagem sonora de um
parque de diversões, se pronunciaram durante seu trânsito próximo ao sonômetro.

4.1 Dados quantitativos: Medições dos Níveis de Pressão Sonora

Os resultados dos cálculos do nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) nos três pontos estão
indicados na Tabela 1. O ponto 1, localizado próximo à “Montanha-russa”, apresentou o LAeq

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superior aos demais pontos com uma média de 73 dB (A). Seus níveis máximos e mínimos de
nível de pressão sonora (Li) ficaram entre 58,7 dB e 88,1 dB e a faixa de variação entre os níveis
sonoros estatísticos de 10% (L10) e 90% (L90) em 13 dB (Figura 2). Tais oscilações dos
indicadores foram devidas aos sons mecânicos de movimento dos brinquedos e de gritos das
pessoas intercalados com o cessar dos mesmos.

O distanciamento entre L10 e L90 caracteriza um ambiente sonoro dinâmico que se caso fossem
fontes ruidosas poderiam gerar incomodo a população. No entanto, aqui, em função das
atividades ocorrentes de um parque de diversão terem o destino de divertimento, a dinâmica do
espectro dos níveis sonoros cria um ambiente de excitação como se poderá validar com as
respostas dos participantes apresentados posteriormente neste artigo.

Tabela 1: Resultados do LAeq dos três ambientes sonoros analisados.

Pontos / Medições em dB(A) Medição 1 Medição 2 Medição 2

Ponto 1 – “Montanha-russa” 72 73 73

Ponto 2 – “Parque dos Dinossauros” 65 67 64

Ponto 3 – “Roda Gigante” 69 69 67

L90 = 63 dB(A) L10 = 76 dB(A) LAeq = 73 dB(A)

Figura 2: Espectrograma de Li com L10, L90 e LAeq do ponto 1 – “Montanha-russa”.

O ponto 2, localizado no “Parque dos Dinossauros”, é a região mais calma dentre os locais
analisados com o LAeq inferior aos demais pontos com uma média de 65 dB (A). Possivelmente
devido a maior distância dos brinquedos e menor quantidade de pessoas no local. Isto também

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é evidente por meio da análise dos indicadores estatísticos que demonstraram uma diferença de
5 dB entre os indicadores de L10 e L90 (Figura 3) evidenciando um ambiente menos dinâmico e
possivelmente monótono. Os níveis máximos e mínimos de Li variaram entre 57,4 dB e 84,1
dB sendo os picos devido a transeuntes conversando ao passar perto da medição. Como som de
fundo se encontra o ruído proveniente da avenida marginal Botafogo.

L90 = 62 dB(A) L10 = 67 dB(A) LAeq = 65 dB(A)

Figura 3: Espectrograma de Li com L10, L90 e LAeq do ponto 2 – “Parque dos Dinossauros”.

Já no ponto 3, localizado próximo à “Roda Gigante”, predominaram os sons mecânicos dos


brinquedos e gritos de crianças. A diferença entre os indicadores de nível sonoro estatístico foi
de 10 dB (Figura 4). O som de fundo era proveniente da rádio local. As variações máximas e
mínimas de Li foram de 58,2 dB e 79,7 dB.

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L90 = 62 dB(A) L10 = 72 dB(A) LAeq = 68 dB(A)

Figura 4: Espectrograma de Li com L10, L90 e LAeq do ponto 3 – “Roda Gigante”.

Observando os três espectrogramas com seus indicadores de nível sonoro (LAeq, L10 e L90)
considerou-se que os pontos referentes à “Montanha-russa” (ponto 1) e à “Roda Gigante”
(ponto 3) possuem similaridades tanto espectrais como em suas fontes sonoras, pois ambos
tinham sons das máquinas e gritos de pessoas. Por outro lado, o “Parque dos Dinossauros”
representa o local estudado mais silencioso dentro do contexto do parque Mutirama.

4.2 Dados qualitativos: Análise dos questionários

Os questionários foram aplicados no Parque Mutirama no dia 21 de maio de 2016, dia típico de
final de semana (domingo), e divididos em duas partes: perfil dos participantes, e
sons/sensações dos mesmos ao redor dos pontos de análise. As questões qualitativas foram
tratadas de maneira dissertativa e as quantitativas foram de múltipla escolha.

O estudo abrangeu 50 participantes com idade predominante de 36 a 45 anos assim como


escolaridade de ensino superior (completo ou incompleto). Dentre eles, 51% eram do gênero
feminino e 49% do masculino com renda familiar predominante de R$ 1.734,00 a R$ 7.475,00.

O parque se encontra na região central da cidade e recebe de quinta a domingo cerca de 10 mil
pessoas [9]. No dia de estudo, a amostragem teve 40% dos usuários oriundos da região centro-
sul de Goiânia. Quanto a frequência e tempo de utilização do parque, 74% das pessoas vão ao
parque esporadicamente, permanecendo neste por um período de mais de 2 horas. Além disso,
84% indicaram que não utilizam dispositivos de som (como por exemplo, fones de ouvido),
quando estão no parque, ou seja, experienciam sonoramente o parque ao visita-lo.

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Ao perguntar sobre os sons e suas sensações, as questões qualitativas foram divididas em
dissertativas e múltipla escolha. Para análise desses dados confeccionou-se um gráfico de barras
com os resultados obtidos resultando na Figura 5.

Respostas de questões de Respostas de questões


múltipla escolha abertas

Figura 5: Respostas de algumas questões dos questionários.

Em relação à descrição dos sons identificados, as respostas variam com o uso de adjetivos como
ruidosos, alegres, invasivos e estridentes. Os sons do parque julgados como mais agradáveis
foram os sons da natureza (sons do vento, balançar das folhas das árvores e dos pássaros) com
42% das respostas. Sendo esses descritos como os quais propiciam disposição, energia e
animação e obtiveram nota 5 (de 0 a 5) por 40% dos participantes. No entanto, considera-se que
devido ao questionário não ter a categoria brinquedos e crianças como alternativa, a opção
‘natureza’ possivelmente surgiu como a mais coerente para os respondentes do questionário.

Os sons mais desagradáveis foram os sons mecânicos (movimentação dos brinquedos) com
58% das respostas. Os sons mecânicos propiciam agitação, estresse e falta de relaxamento,
obtendo nota 0 e 1 (de 0 a 5) por 26% dos participantes.

Já nas questões abertas acerca do significado dos sons e lembranças geradas por eles, 15% os
classificaram como sons que remetem à infância, sendo que 34% classificaram suas lembranças,
usando o mesmo substantivo. Os resultados destacaram as palavras diversão, infância e alegria
como as principais memórias sonoras geradas pelos sons do Parque Mutirama. No entanto, em
vista das perguntas serem de resposta aberta e dissertativa, acredita-se que tais respostas podem
ser agrupadas num sentido único, pois alegria e diversão são sinônimos e ambas são ligadas à
infância.

Além disso, é importante ressaltar a presença do som da rádio local durante o percurso estudado,
pois a música emitida se destacou nas respostas dos entrevistados. Evidência disto se encontrou
nas respostas das perguntas “ao fechar os olhos, quais sons do Mutirama você consegue
identificar e dentre eles quais você considera um marco sonoro?” Visto que 29% das respostas
(a maioria) foram referentes às músicas tocadas pela rádio local, deixando em segundo plano
os sons do trenzinho, e das crianças, ambos com 18% das respostas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente levantamento da paisagem sonora do Parque Mutirama obteve indicadores


subjetivos do público frequentador, bem como medições acústicas esclarecedoras sobre o
conjunto de preferências sonoras. Dessa forma, ficou evidente que o parque de diversões, marco
simbólico local, consolida identidade sonora positiva relacionada à infância, alegria e
divertimento para a cidade de Goiânia.

Destaca-se a importância da pesquisa aplicada com métodos híbridos de análise da paisagem


sonora na escala local, a fim de auxiliar na gestão dos ambientes acústicos das cidades. Nesse
sentido, uma das diretrizes seria considerar sons ambientais como “recursos” do planejamento
urbano de qualidade. Assim, ao confrontar os dados quantitativos e qualitativos, mesmo com
níveis sonoros elevados, percebeu-se que o parque Mutirama gera uma memória sonora positiva
nas pessoas, essencialmente relacionada à infância.

Por outro lado, ao que pôde-se considerar como marco sonoro negativo, observa-se que para
alguns, os sons podem ser desagradáveis devido aos ruídos dos motores de alguns brinquedos
e à rádio presente. Dessa forma, destaca-se que a percepção de certos sons individuais gerou
estresse, principalmente nos trabalhadores que frequentam o parque durante quase todo seu
funcionamento.

Dentre os locais analisados, pode-se observar que os pontos da “Roda Gigante” e a “Montanha-
russa” possuem fontes e níveis sonoros similares (sons dos brinquedos e gritos de pessoas)
enquanto que a região do “Parque dos Dinossauros” é a mais tranquila. Os dois primeiros estão
acima do recomendado pela norma brasileira NBR 10151 [6] de 65 dB (A) diurno para o nível
de pressão sonora equivalente - LAeq. Sugere-se o controle de ruído das maquinas por meio de
uma manutenção regular, amortecimento de impactos e atenuação sonora de sistemas de
ventilação. Já o local analisado mais silencioso do parque (Parque dos Dinossauros) atende a
referida norma para áreas mistas com vocação recreacional.

Por fim, ressalta-se a importância de futuros estudos que identifiquem as paisagens sonoras
urbanas. Com o conhecimento desses elementos sonoros positivos surge a possibilidade de
agregá-los ao planejamento urbano. Assim, espera-se que discussões e proposições referentes
à qualidade de vida, preservação ambiental e sociocultural dos sons possam acrescentar
identidade e valor ao espaço público.

AGRADECIMENTOS

O grupo agradece à Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás através do


Laboratório de Conforto pelo empréstimo do sonômetro e ao estudante Guilherme Gomes na
etapa de coleta de dados. Agradece também pelo apoio recebido à bolsista da CAPES/3830 -
Programa de Doutorado Pleno no Exterior/Processo n◦ 88881.129506/2016-01.

REFERÊNCIAS

[1] Kohlsdorf, G. e Kohlsdorf, M. E. Ensaio sobre o desempenho morfológico dos lugares. Brasília: Ed. FRBH,
2017.

DOI: 10.17648/sobrac-87026
[2] Schafer, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: Ed. Unesp, 1977.

[3] Daumal, F. Arquitectura acústica Poética y diseño. Barcelona: Edicions UPC, 2002.

[4] Drever, John L. Soundwalking: Aural excursions into the everyday. In: The Ashgate Research Companion to
Experimental Music. Chapter Nine. Aldershot: Ashgate, p. 163-192, 2009.

[5] Bistafa, Silvio R. Acústica aplicada ao controle do ruído. São Paulo: Blucher, 2006.

[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151. Acústica – Avaliação de ruído em
áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.

[7] Davies, W. J.; Adams, M. D.; Bruce, N. S.; Cain, R.; Carlyle, A.; Cusak, P.; Hall, D. A.; Humef, K. I.; Irwin,
A.; Jennings, P.; Marselle, M.; Plack, C. J. Perception of soundscapes: An interdisciplinary approach. Applied
Acoustics, Vol. 74, Issue 2, p. 224–231, 2013.

[8] Cain, R.; Jennings, P.; Poxon, J. The development and application of the emotional dimensions of a soundscape.
Applied acoustics, Vol. 74, Issue 2, p. 232-239, 2013.

[9] Prefeitura de Goiânia. Parque Mutirama de Goiânia. Disponível em:


http://www4.goiania.go.gov.br/portal/home.asp?s=1&tt=con&cd=5382. Acessado em: 20/05/2018.

DOI: 10.17648/sobrac-87026
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