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COMISSÃO CIENTÍFICA
Brunno V. G. Vieira
Organização
(Diretoria SBEC 2020-2021)
Os estudos clássicos na pandemia [recurso eletrônico] / Ana Maria César Pompeu et al. (Orgs.) -- Porto Alegre, RS: Editora
Fi, 2022.
132 p.
ISBN - 978-65-5917-432-4
DOI - 10.22350/9786559174324
1. Filosofia; 2. História clássica; 3. Pandemia; 4. Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos; 5. Brasil; I. Título.
CDD: 900
Índices para catálogo sistemático:
1. História 900
Sumário
Apresentação 11
As Organizadoras
1 14
Ensino de latim durante a pandemia? A extensão universitária e seus novos desafios
Fernanda Cunha Sousa
Diego Azevedo Lopes
Gabriel Ramos Sacramento
Ramon de Toledo Roldi
2 20
Dos Aedos ao Twitter: escola e divulgação científica em tempos de pandemia
Fernanda Cunha Sousa
Bárbara Gonçalves da Silva
Isadora de Souza Belli
Luiza Diniz Araújo
Pablo de Moraes Moreira da Silva
3 28
Entre Bits e Papel Machê: o Teatro de Bonecos em Tempos de Pandemia
Amanda Coelho Honório
Danielle Motta Araujo
Glaudiney Moreira Mendonça Junior
Paulo Roberto Barbosa Souza
4 36
COVID-19, Górgias e a comunicação científica
Vicente Brazil
5 42
Aesopica em tempos de pandemia: as fábulas de Esopo e o Ensino de Filosofia do
Ensino Médio
Gabriele Cornelli
Henrique Fróes
Euler Carvalho
6 50
LEC-UFF na quarentena: uma experiência de encontros virtuais
Beethoven Alvarez
Glória Braga Onelley
Greice Drumond
Renata Cazarini
7 59
Grupo de estudos, pathos e pandemia
Ana Lúcia Magalhães
8 65
A epidemia no mediterrâneo antigo: experiência entre os gregos e os romanos
Alair Figueiredo Duarte
José Roberto de Paiva Gomes
Maria Regina Candido
9 77
Podcast Archai
Beatriz de Paoli
Fernanda Israel Pio
Gabriele Cornelli
10 86
Ao Hades em busca da salvação: Rãs de Aristófanes e a humanidade ridícula e heroica
de Dioniso
Jane Kelly de Oliveira
11 91
Discurso político: reflexões sobre as estratégias argumentativas para incitação do
pathos em tempos de pandemia
Mariano Magri
12 97
Os Estudos Clássicos na Pandemia. Antígone 2020: diário de um ano pandêmico
Adriane da Silva Duarte
13 104
Teatro em pandemia
Tereza Virgínia R. Barbosa
Anita (Anna) Mosca
Truπersa
14 110
A “peste de Atenas” e o coronavírus: ensejo para reler Tucídides?
Bruno Amaro Lacerda
15 115
Estudando gênero na Antiguidade Oriental: reflexões de uma jovem pesquisadora
Caroline Schmidt Patricio
16 121
Coisas que uma tumba nos conta sobre a vida no Egito do Reino Antigo Tardio
Wellington Rafael Balém
17 127
Nem tão isolados assim: o estudo das relações diplomáticas no Oriente Antigo
Priscila Scoville
Apresentação
As Organizadoras
1
Doutora em Letras - Linguística e professora da área de Estudo Clássicos da Faculdade de Letras da UFJF,
coordenadora do projeto de extensão “BV - Latim” e líder do Grupo de pesquisa “CirceA”.
2
Licenciando em Letras - Latim e suas respectivas Literaturas pela UFJF, bolsista do projeto.
3
Licenciando em Letras – Português e suas respectivas Literaturas pela UFJF, bolsista do projeto.
4
Licenciando em Letras – Português, Latim e suas respectivas Literaturas pela UFJF, bolsista do projeto.
Fernanda C. Sousa; Diego A. Lopes; Gabriel R. Sacramento; Ramon de T. Roldi | 15
ainda mais lúdica e voltada ao quotidiano dos nossos alunos. Nossa orien-
tadora nos motivou, indicando-nos propostas de atividades, livros, artigos,
e agendamos os próximos encontros de orientação. Ficamos empolgados,
assumimos as responsabilidades e nos preparamos para receber os alunos.
Mas não houve semestre letivo, não houve aulas, não houve os encontros,
atividades lúdicas não houve.
Nossas expectativas pessoais e profissionais foram frustradas. Come-
çamos a nos perguntar se seria viável iniciar as aulas de modo remoto com
o recurso de videochamadas. Seria o caso de interromper o projeto por um
tempo? Muitas vidas estavam em risco e havia grande insegurança sobre
como proceder em relação às atividades mais corriqueiras.
Após a suspensão de todas as atividades presenciais da UFJF, fomos
chamados pela PROEX para uma reunião com os demais orientadores e
bolsistas do programa a fim de discutir possibilidades de continuidade do
trabalho. Por muitos dos bolsistas estarem vivenciando dificuldades com
falta de equipamento, internet e demais condições de estudo e, principal-
mente, em virtude do perfil do público do programa (que entendemos ser
muito afetado por toda a nova situação de insegurança e precarização das
condições de vida de modo geral), começar as aulas de forma remota se
mostrou inviável, nesse momento, de muitas e diferentes formas.
1. A produção do artigo
2. As atividades na escola
5
Artigo: “o ensino de latim no Brasil: um passado e várias perspectivas”. Publicado na revista Trem De Letras, Vol.
6, nº 2, dezembro de 2020, Disponível em: https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/
tremdeletras/article/view/1347.
6
Site da escola parceira: https://sites.google.com/view/escolamunicipaltancredonevesjf, onde todas as atividades
propostas podem ser consultadas.
18 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
usufruir, uma vez que conhecemos melhor alguns elementos dessa cul-
tura. O modelo foi o seguinte: imagens seguidas de pequenos textos, com
informações para que os alunos pudessem responder algumas breves per-
guntas ou fazer um jogo, como uma palavra cruzada, por exemplo.
Assim, temos proposto nossas atividades, sempre da maneira mais
otimista possível, pois é fato que levar o latim até as pessoas que estão fora
da realidade acadêmica é, em qualquer situação, algo desafiador, mas
nosso trabalho tem nos mostrado que há espaço para que os Estudos Clás-
sicos no Brasil transcendam os muros das universidades e cheguem até as
escolas, por exemplo.
Temos enfrentado alguns desafios, como a falta de resposta dos alu-
nos. Em uma atividade presencial, a sua reação poderia nos direcionar
para diferentes propostas pedagógicas e temas a serem trabalhados, con-
tudo, sem esse retorno, ainda não temos dados suficientes para avaliar
como nossa proposta foi recebida. Por outro lado, segundo relato dos pró-
prios professores da instituição, a falta de resposta não ocorre apenas
conosco e a escola tem enfrentado ainda uma forte evasão escolar, o que
parece ser um obstáculo à tarefa de todos nós. Começamos, então, orien-
tados pela equipe da escola, a imprimir as atividades como uma possível
forma de contornar o problema. Esses materiais têm ficado disponíveis
para a retirada na secretaria da escola, juntamente com os materiais das
disciplinas curriculares. Mesmo assim, os retornos ainda são poucos7.
Não negamos que isso seja frustrante, mas o que mais se ressalta em
meio a essas experiências junto à escola tem sido o fato de que conquista-
mos lá um espaço, mais um para as Letras Clássicas. Terminada a
pandemia, teremos ainda esse espaço? Haverá possibilidades de
7
Está em fase de elaboração pela PROEX uma página que reúna propostas de atividades de todos os projetos de
ensino de língua do programa. Esperamos que esta seja mais uma oportunidade para interagir com pessoas
interessadas pelo conteúdo clássico.
Fernanda C. Sousa; Diego A. Lopes; Gabriel R. Sacramento; Ramon de T. Roldi | 19
Referências
1
Doutora em Letras - Linguística e professora da área de Estudo Clássicos da Faculdade de Letras da UFJF,
coordenadora do projeto de extensão “Contos de mitologia” e líder do Grupo de pesquisa “CirceA”.
2
Licenciada em Letras - Português e suas respectivas Literaturas pela UFJF, voluntária do projeto.
3
Mestranda em Letras: Estudos Literários pela UFJF, voluntária do projeto.
4
Graduanda em Letras – Português, Latim e suas respectivas literaturas pela UFJF, bolsista do projeto.
5
Mestrando em Linguística pela UFJF, bolsista do projeto.
6
Informação disponível em: Coronavirus: What did China do about early outbreak?
<<https://www.bbc.com/news/world-52573137>> acesso em 23/02/2021
Fernanda C. Sousa; Bárbara G. da Silva; Isadora de S. Belli; Luiza D. Araújo; Pablo de M. M. da Silva | 21
7
Título: “Ovídio no Twitter: divulgação científica em tempos de pandemia”, ainda no prelo.
8
O Círculo de Estudos da Antiguidade (CirceA) é um grupo de pesquisa (cadastrado junto ao CNPq) e de estudos
(cadastrado junto à SBEC), ao qual o projeto de extensão “Contos de mitologia” está vinculado.
22 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
9
tweet: nome atribuído às publicações feitas na rede social Twitter.
Fernanda C. Sousa; Bárbara G. da Silva; Isadora de S. Belli; Luiza D. Araújo; Pablo de M. M. da Silva | 23
" "
(disponível em: https://twitter.com/contosmitologia/status/1315727890995085312)
24 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
" "
(disponível em: https://twitter.com/contosmitologia/status/1299057261600477184)
" "
10
Site onde esta e as demais atividades propostas podem ser consultadas:
https://sites.google.com/view/escolamunicipaltancredonevesjf.
26 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Referências
1
Mestra em Educação Profissional e Tecnológica, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
amandacoelhoh@gmail.com, http://lattes.cnpq.br/3166015909292513.
2
Mestra e doutoranda em Letras, Universidade Federal do Ceará, danimitologiagrega@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/5515386274033107.
3
Mestre em Ciência da Computação, Universidade Federal do Ceará, glaudiney@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/7706674770409286.
4
Graduado em História, Universidade Estadual do Ceará, e mestrando em Letras, Universidade Federal do Ceará,
paulo.souza0911@gmail.com, http://lattes.cnpq.br/9511482502763746.
Amanda C. Honório; Danielle M. Araujo; Glaudiney M. M. Junior; Paulo R. B. Souza | 29
"
Figura 1: Imagens de divulgação.
Fonte: autores.
" "
Figura 2: Participação de Psiquê no encontro da SBPC.
Fonte: autores.
Psiquê e Eros
5
https://streamyard.com/
6
https://www.youtube.com/watch?v=Kw2b3hrIwoI&t=3386s
Amanda C. Honório; Danielle M. Araujo; Glaudiney M. M. Junior; Paulo R. B. Souza | 33
" "
Figura 3: Live de Psiquê com as irmãs.
Fonte: autores.
A escolha de Páris
7
https://www.youtube.com/watch?v=q9rWftwN3_c
34 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
" "
Figura 4: Apresentador Bonner interagindo com as candidatas no debate.
Fonte: autores.
ensaio à apresentação. Mas algo no espetáculo foi imutável, estava lá, como
sempre esteve e sempre estará: a magia sempre viva dos bonecos.
Ficha técnica
Jingles: Amanda Coelho, Danielle Motta, Glaudiney Mendonça, Paulo Roberto Souza e Wa-
shington Forte
Vicente Brazil 1
1
Doutor em Filosofia, docente da Universidade Estadual do Ceará. Membro do NUCLAS-UFC.
Vicente Brazil | 37
2
O excelente artigo de Dinucci (2010) evidencia de modo bastante claro a empresa platônica retórica, através da qual
diz-se de Górgias aquilo que ele nunca defendeu para que Sócrates possa ser apresentado de modo triunfal na cena
dramática.
Vicente Brazil | 39
status de confiabilidade daquilo que o sofista faz e diz perante esta mesma
tradição.
A necessidade de superação desta dicotomia retórico-artificial, elabo-
rada com fins específicos no pensamento platônico, entre sofistas e
filósofos já é um consenso nos estudos filosófico-historiográficos contem-
porâneos sobre a Antiguidade (Cassin, 2005; Kerferd, 2003; Untersteiner,
2012).
Aquilo que se definirá no registro platônico como retórica – neolo-
gismo do séc. IV a.C. criado pelo próprio Platão para diferenciar Sócrates
dos seus interlocutores – poderia ter como sinônimo a própria dialética3.
Desta forma, argumentar retoricamente como um sofista, não significa
manipular falaciosamente os outros, e sim, fomentar uma forma de refle-
xão que envolva os indivíduos de uma maneira holística – racional e
emocionalmente.
Finalizada essa digressão – justificada por sua natureza reabilitante
da obra e tradição sofística – parece mais que evidente que em um tempo
obtuso como o nosso, em que somos acometidos de modo simultâneo
tanto por uma pandemia viral como por uma peste informacional, que a
atuação de um pensador capaz de transmitir aquilo que é útil para a lin-
guagem da população em geral faz-se extremamente necessária.
A atuação de nosso sofista contemporâneo aliado da ciência e da vida,
como bem se espera dele, não se dará por via de um discurso moralista –
até porque os adeptos deste tipo de modalidade discursiva em nossa soci-
edade são a parte mais aguerrida da horda negacionista4. Muito menos
3
O já clássico texto de Schiappa (1992) demonstra que as oposições sofistas-filósofos, retórica-dialética, são artificiais
e posteriores ao séc. V a.C., uma vez que toda a doxografia anterior ao séc. IV a.C. e a obra de Platão trata os termos
de modo naturalmente intercambiável. O que Schiappa conclui é que a tradição dos comentadores leu a produção
pré-platônica a partir da ótica que este estabeleceu, sem levar em consideração a perspectiva dos próprios pensadores
do séc.V a.C.
4
Um sofista riria da inutilidade a que se presta aquele que tenta ensinar virtudes morais aos outros (PLATÃO. Mênon,
93c), a areté que deve ser cultivada é a política, pois através dela a nossa sociabilidade terá alguma viabilidade.
40 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Referências
PLATÃO. Górgias. Daniel R. N. Lopes tradução, ensaio introdutório e notas. 2.ed. São
Paulo: Perspectiva, 2016.
5
Esta é uma compreensão bem diferente do legado sofístico em comparação àquela que se cristalizou em certa
herança manualística transmitida ao longo dos séculos.
Vicente Brazil | 41
______. Fedro. Edição bilíngue. Tradução e apresentação José Cavalcante de Souza. São
Paulo: Editora 34, 2016.
SCHIAPPA, E. Rhêtorikê: What's in a name? Toward a revised history of early Greek rhe-
torical theory. Quarterly Journal of Speech, 78:1, p. 1-15, 1992.
UNTERSTEINER, Mario. A Obra dos Sofistas: uma interpretação filosófica. São Paulo:
Paulus, 2012.
5
Gabriele Cornelli 1
Henrique Fróes 2
Euler Carvalho 3
Uma raposa faminta, como visse no buraco de uma árvore pão e carne, deixa-
dos por um pastor, entrou e comeu-os. Todavia, de barriga inchada e visto não
poder sair, pôs-se a chorar e a lamentar-se. Ao passar por ali outra raposa que
escutou os seus gemidos, aproximou-se e perguntou a causa. Quando perce-
beu o que havia acontecido, disse-lhe: ‘Pois tens que permanecer aqui até que
voltes ao que eras antes de entrar e dessa forma sairás facilmente.’ A fábula
mostra que as dificuldades das circunstâncias resolve-as o tempo.4
Eis que, como a raposa da fábula, fomos pegos de surpresa pelas cir-
cunstâncias, no caso, a irrupção da pandemia do Coronavírus no Brasil a
partir do mês de março de 2020. Nós, no caso, éramos um grupo de mem-
bros5 do Cátedra Unesco Archai e do Programa de Pós-Graduação em
1
Gabriele Cornelli é professor de Filosofia Antiga da Universidade de Brasília. Diretor da Cátedra UNESCO Archai
sobre as Origens Plurais do Pensamento Ocidental e docente do Programa de Pós-Graduação em Metafísica da UnB.
2
Henrique Fróes é professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal na área de Filosofia. Possui mestrado em
Metafísica e em Psicologia Clínica e Cultura e, atualmente, é doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Metafísica da Universidade de Brasília.
3
Euler Carvalho é professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Possui pós-graduação lato sensu na área
de Língua Portuguesa.
4
ESOPO. Aesopica, p. 117. Tradução de Nelson Henrique da Silva Ferreira. Coimbra: Imprensa da Universidade de
Coimbra
5
Fizeram parte do Projeto Aesopica: Gabriele Cornelli (coordenador), Arthur Sobreira, Erick Araujo, Erick D'Luca,
Fernanda Pio, Henrique Fróes, Henrique Modanez de Sant’Anna, Mariana Belchior e Rosane Maia.
Gabriele Cornelli; Henrique Fróes; Euler Carvalho | 43
6
Situado em área nobre do Plano Piloto de Brasília, o Centro Educacional (CED) Gisno foi fundado em 1971 e atende
atualmente aproximadamente 1.080 alunos, oriundos das mais diversas regiões do Distrito federal e do Entorno. A
instituição atende a estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Além disso, oferece à
comunidade a Educação de Jovens e Adultos, tanto no 2º como no 3º segmentos, bem como o Ensino Especial.
44 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
7
O conteúdo da disciplina PD é definido pelas próprias instituições escolares e integra a Parte Diversificada da Matriz
Curricular para o Ensino Médio regular - diurno da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, de acordo com o
CONSELHO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL, Parecer nº 88/2006.
8
Ver referência na nota de rodapé nº 4
Gabriele Cornelli; Henrique Fróes; Euler Carvalho | 45
9
ESOPO. Aesopica, p. 123. Tradução de Nelson Henrique da Silva Ferreira. Lisboa: Imprensa da Universidade de
Coimbra
46 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
10
ESOPO. Aesopica, p. 115. Tradução de Nelson Henrique da Silva Ferreira. Lisboa: Imprensa da Universidade de
Coimbra
11
Ibid., p. 109.
Gabriele Cornelli; Henrique Fróes; Euler Carvalho | 47
12
Ibid., p. 172.
13
Ibid., p. 111.
48 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Bibliografia
ANONIME. Vie d' Ésope. Introdução, tradução e notas de C. Jouanno. Paris: Les Belles
Lettres, 2006.
HOLZBERG, N. Fable: Aesop. Life of Aesop. in Schmeling, G. (ed.) The novel in the ancient
world. Boston: Brill Academic Publishers, 2003, pp. 633-9.
KURKE, L. Aesopic conversations. Popular tradition, cultural dialogue and the inven-
tion of Greek prose. Princeton: Princeton University Press, 2011.
MINOIS, G. A humanização do riso pelos filósofos gregos. In: História do riso e do escár-
nio. Tradução de Maria Elena O. O. Assumpção. São Paulo: Editora da UNESP, 2003,
p. 49-76.
Gabriele Cornelli; Henrique Fróes; Euler Carvalho | 49
PERRY, B. E. (ed.) Vita Aesopi Vulgaris Qualis Exstat Unice In Codice G; Vita Aesopi Wes-
termanniana. In: Aesopica. A series of texts relating to Aesop or ascribed to him.
Urbana: University of Illinois Press, 2007 (1a ed. 1952).
______ The text tradition of the Greek Life of Aesop. In: Transactions and Proceedings
of the American. Philological Association, v. 62, p. 198-244, 1933.
6
LEC-UFF na quarentena:
uma experiência de encontros virtuais
Beethoven Alvarez 1
Glória Braga Onelley 2
Greice Drumond 3
Renata Cazarini 4
1 Apresentação
1
Professor de Língua e Literatura Latina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e líder do Laboratório de Estudos
Clássicos (LEC-UFF)
2
Professora de Língua e Literatura Grega (UFF) e vice-líder do LEC-UFF
3
Professora de Língua e Literatura Grega (UFF)
4
Professora de Língua e Literatura Latina (UFF)
5
Espelho do grupo: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/366050.
Beethoven Alvarez; Glória Braga Onelley; Greice Drumond; Renata Cazarini | 51
2 Membros pesquisadores
3 Atividades do LEC-UFF
Desde 2016, o curso de latim e, desde 2018, o curso de grego são ofe-
recidos à comunidade como cursos de extensão pelo Programa de Línguas
Estrangeiras Modernas (PROLEM) do IL-UFF. São coordenadores pedagó-
gicos a professora Glória Onelley (grego) e o professor Beethoven Alvarez
(latim).
Além de atender interessados de forma geral no aprendizado de latim
e grego, o curso é uma excelente oportunidade de iniciação à docência para
Beethoven Alvarez; Glória Braga Onelley; Greice Drumond; Renata Cazarini | 53
6
Um histórico detalhado sobre a criação da SBEC encontra-se no texto SBEC 20 anos: uma história, da professora
Zélia de Almeida Cardoso, publicado no site da SBEC: https://www.classica.org.br/download/
download?ID_DOWNLOAD=5. Veja Cardoso (2005).
54 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
7
Com um pouco mais de informações, pode-se ler uma breve história do SEC-UFF em:
https://seminariodeclassicasuff.wordpress.com/historia/. Veja Alvarez (2017).
Beethoven Alvarez; Glória Braga Onelley; Greice Drumond; Renata Cazarini | 55
interesse dos estudantes ao que se pesquisa em nossa área. Isso pôde ser
constatado, por exemplo, em nosso retorno às atividades de ensino remoto
no que concerne às disciplinas da área de Estudos Clássicos: muitos alunos
já tinham algum conhecimento e até mesmo leitura dos assuntos aborda-
dos em aula, mesmo alunos “de primeira viagem”.
As falas semanais do LEC-UFF na Quarentena trataram de temas com
tamanha diversidade de abordagem que tornou possível apresentar pers-
pectivas bastante amplas sobre as múltiplas leituras e interpretações da
produção textual e imagética da Antiguidade que chegou até nós, desde as
investigações feitas em escavações de sítios arqueológicos na Grécia, pas-
sando pelo estudo da transmissão dos textos antigos à sua recepção e
releituras contemporâneas. Pesquisas que desenvolvem interpretações
dos textos da filosofia clássica, da patrística; estudos da retórica, da gra-
mática renascentista, do gênero dramático – comédia e tragédia –, da
poesia épica, da poesia lírica, de literatura helenística, mitografia, investi-
gações sobre dança e performance, e análises desenvolvidas pelos critical
studies de recepção clássica e pela área dos Estudos da Tradução em diá-
logo com os Estudos Clássicos foram apresentados e debatidos nos 30
encontros organizados pelo LEC-UFF em 2020.
Muitas dessas apresentações (25) foram gravadas e disponibilizadas
em nosso canal do YouTube e hoje constituem rica videoteca de conteúdo
sobre pesquisas do mundo antigo.
Referências
LEC-UFF. Site, 2018. Disponível em: <https://www.lec.uff.br>. Acesso em: 01 fev. 2021.
7
1
Publicação do Grupo ERA – Estudos Retóricos e Argumentativos, PUC-SP
2
Doutora em Língua Portuguesa (Rhetoric PhD), Professora Titular Faculdade de Tecnologia Cruzeiro (Full
Professor, Technological State of Sao Paulo College), Coordenadora do Curso Superior de Eventos - Cruzeiro/SP
(Events Management College Course, Coordinator).
60 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
que o orador transmite por meio do seu discurso, à imagem que o indiví-
duo permite que seja observada pelo outro; o pathos está ligado ao
componente emocional, passional, que o discurso desperta no auditório e
o logos refere-se também ao orador, porém associado à sua capacidade de
convencimento, ao seu conhecimento de mundo.
Aristóteles afirma que os desejos fazem parte da natureza humana
tanto quanto a razão e não vincula a virtude à falsa expectativa de uma
vida livre de emoções ou paixões3. No segundo livro da Arte Retórica con-
ceitua emoções ou paixões como: “todos aqueles sentimentos que,
causando mudança nas pessoas, fazem variar seus julgamentos, e são se-
guidos de tristeza e prazer, como a cólera, a piedade, o temor e todas as
outras paixões análogas, assim como seus contrários”. (ARISTÓTELES,
2000, p. 5).
3
As paixões, segundo Aristóteles, são em número de 14: 1) cólera, impulso de vingança,; 2) calma, o contrário da
cólera, um estado de paz;3) amor(amizade), desejo de bondade em relação ao outro; 4)ódio (inimizade), sentimento
de afastamento do outro, desejo do mal ao outro; 5) temor(medo), dor ou distúrbio decorrente da projeção de um
mal iminente, penoso; 6) confiança, contrário do medo, é a antecipação daquilo que conduz à segurança; 7) vergonha,
dor ou perturbação em relação ao presente, passado ou futuro; 8) impudência (desvergonha), ocorre de acordo com
a imagem estabelecida de nós, porém, não causa dor, promove indiferença 9) favor (amabilidade): bondade
desinteressada em fazer ou devolver o bem ao outro; 10) compaixão (piedade, misericórdia): sensação de dor,
considerada mal destrutivo ou doloroso; 11) indignação: pesar pelos que parecem felizes sem o merecer ou que gozam
de sucesso imerecidamente; 12) inveja, angústia perturbadora dirigida a um igual, dor sentida porque outros têm o
que é desejado; 13) emulação movimento de imitação do outro; 14) desprezo, contrário da emulação, ocorre com as
pessoas que estão em posição de serem imitadas e tendem a sentir desprezo por aqueles que estão sujeitos a
quaisquer males.
Ana Lúcia Magalhães | 63
Referências
ARISTÓTELES, Arte Retórica e Arte Poética. Trad. A. Lofgren. São Paulo: Edições de
Ouro, 1970. Data do trabalho original: 350 a.C.
HEGEL, G. W. F. Filosofia da História. Trad. Maria Rodrigues & Hans Harden. 2ª Edição.
Brasília: Editora UNB, 2008. Data da publicação original: 1892 (publicação póstuma
de notas de aula).
MAGALHÃES, A.L.; FERREIRA, L.A. A Retórica do Medo. Franca, SP: Cristal, 2012
PLATÃO. A República. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Clássicos Garnier. Difusão Europeia
do Livro, 1965. Data do trabalho original: ca. 375 a.C.
8
1
Doutor em História Antiga/PPGHC/UFRJ e PROATEC/UERJ
2
Doutor em História Antiga/PPGHC/UFRJ e Pós-Doc PPGH/UERJ
3
Prof.a Associada de História Antiga PPGH/UERJ e PPGHC/UFRJ, Coordenação do NEA/CEHAM/ UERJ/ Pesquisador
de Produtividade do CNPq.
4
A pandemia do coronavírus 2 relacionado à síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), causador da doença
do coronavírus 2019 (COVID-19), que emergiu no final de 2019 em Wuhan, Província de Hubei, China, rapidamente
se disseminou por todos os continentes, aumentando exponencialmente o número de infectados e ocasionando
milhares de mortes no mundo. Ver World Health Organization - WHO. Coronavirus disease (COVID-19) pandemic
[Internet]. Geneva: World Health Organization; 2019 [cited 2020 Apr 26]. Available from:
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
5
Entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS) não apoiam essas medidas, pois apontam que não há
comprovação científica para tal. Além disso, diversos testes com cloroquina e hidroxicloroquina foram suspensos,
após não apresentarem bons resultados no combate ao novo Coronavírus. Em 30 de junho, a Sociedade Brasileira
de Infectologia (SBI) divulgou uma nota para alertar sobre os riscos desses tratamentos precoces. "Nos últimos dias,
muito tem se divulgado nas redes sociais a respeito do uso de medicamentos para a covid-19. Várias destas
divulgações que circulam nas mídias sociais são inadequadas, sem evidência científica e desinformam o público", diz
o comunicado (LEMOS, 2020).
6
Ver edição 162, https://diplomatique.org.br/
66 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
7
A obra completa de Amiano abarcava um período de quase trezentos anos da história romana, narra sobre o reinado
de Constâncio II até a Batalha de Adrianópolis. O conteúdo relatado nos livros trata do período contemporâneo ao
autor no qual o próprio Amiano torna-se um dos personagens de sua obra ao narrar seus feitos como soldado do
exército de Juliano.
70 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
8
Na Ilíada, Apolo envia a peste ao acampamento do exército grego devido o chefe da aristocracia guerreira,
Agamemnon, ter ultrajado seu sacerdote Crises. Quando Calcas, o áugure do seu exército, adverte que a discórdia
entre Aquiles e Agamemnon, assim como a peste entre suas hostes, trata-se de uma maldição divina, os gregos
reúnem-se em assembleia mantendo o seguinte diálogo: “Que deus moveu a discórdia e a luta entre eles? Foi o filho
de Leto e Zeus. Contra o rei irritado, uma peste divina, as suas hostes, enviou, e seus guerreiros pereciam, porque o
Atrida ultrajou Crises, seu sacerdote” (HOM. Ili. I, v 10).
9
Quíron, nome grego que é, possivelmente, uma abreviatura de Keirourgós, "que trabalha ou age com as mãos",
cirurgião, pois que esse Centauro foi um grande médico, que sabia muito bem compreender seus pacientes, por ser
um médico ferido. Filho do deus Crono e de Fílira, pertencia à geração divina dos Olímpicos. Pelo fato de Crono ter-
se unido a Fílira sob a forma de um cavalo, o Centauro possuía dupla natureza: equina e humana. Vivia numa gruta,
no monte Pélion, e era um gênio benfazejo, amigo dos homens. Sábio, ensinava música, arte da guerra, da caça e
postura moral, mas, sobretudo, entre seus ensinamentos estava a medicina. Foi o grande educador de heróis: Jasão,
Peleu, Aquiles e Asclépio. Quando do massacre dos Centauros por Héracles, Quíron, que estava ao lado do herói e
era seu amigo, foi acidentalmente ferido por uma flecha envenenada do filho de Alcmena. O Centauro aplicou
unguentos sobre o ferimento, mas este era incurável. Recolhido à sua gruta, Quíron desejou morrer, mas nem isso
conseguiu, porque era imortal. Por fim, Prometeu, que nascera mortal, cedeu-lhe seu direito à morte e o Centauro
então pôde descansar. Conta-se que Quíron subiu ao céu sob a forma de constelação do Sagitário, uma vez que a
flecha, em latim sagitta a que se assimila o Sagitário, estabelece a síntese dinâmica do homem, voando através do
conhecimento para sua transformação, de ser animal em ser espiritual.
Alair Figueiredo Duarte; José Roberto de Paiva Gomes; Maria Regina Candido | 73
10
Define-se como uma cerimônia propiciatória que consistia em oferecer um banquete aos deuses. O termo lectum
sternere deriva da ideia de espalhar, pois as divindades eram representadas por estátuas e por representações em
madeiras, cera, bronze.
74 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Bibliografia
BOAK, A. E. R. Manpower Shortage and the Fall of the Roman Empire in the West.
Michigan: University of Michigan Press, 2019.
EUTROPIO. Aurelio Victor. Breviario. Livro Cesares. Madrid: Biblioteca Clasica Gredos
S.A., 2008.
Alair Figueiredo Duarte; José Roberto de Paiva Gomes; Maria Regina Candido | 75
GALEN. Methodus Medendi, vel, Morbis curadis. Trad. Didier Matheu. Paris: Lutetiae,
1900 (1a ed. 1519).
HANNA, E. The Route to crisis. Vanderbilt Undergraduate Research Journal (VURJ). Vol.
10, 2015, 1-10.
HOPKINS, R.D. The Greatest Killer: Smallpox in History. Chicago: University of Chicago
Press, 2002
JOUANNA, J.. Hippocratic Medicine and Greek Tragedy In: Greek Medicine from
Hippocrates to Galen: selected papers, translated Neil Allies, Leiden: Brill, 2012,
p.55-80.
LITTMAN RJ, LITTMAN ML. Galen and the Antonine Plague. American Journal of
Philology. Nº 94, 1973, p. 243–255. http://www.press.jhu.edu/journals/american_
journal_of_philology/index.htm. Acesso em 20/11/2020.
LITTMAN, Robert J. The Plague of Athens: Epidemiology and Paleopathology. Mount Sinai
Journal of Medicine nº 76, 2009, p. 456-467.
LONGRIGG, James. Death and Epidemic Disease in Classical Athens. In: Death and the
Disease in Ancient City. London: Routlegde, 2000.p.55 - 64.
LUCK, Georg. Arcana Mundi: Magia y Ciencias Ocultas em el Mundo Griego y Romano.
Madrid: Gredos, 1985.
MURPHY, V. Past Pandemics that Ravaged Europe. BBC News, 7th Nov. 2005.
76 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
SICKER, M. The Struggle over the Euphrates Frontier. The Pre-Islamic Middle East.
Wesport, Praeger Publishers, 2000, 161-172.
SAES, A. La peste Antonina: una peste global en el siglo II d.C. Revista Chilena de
Infectologia, vol. 33, n. 2, 2016, 218-221.
SMITH, Ch. A. Plague in ancient world. The Student Historical Journal. Luisiana:
University Loyola of New Orleans, 1996, 1-19.
Podcast Archai
Beatriz de Paoli 1
Fernanda Israel Pio 2
Gabriele Cornelli 3
1
Beatriz de Paoli é professora de Língua e Literatura Grega da UFRJ e editora associada da Archai: As Origens do
Pensamento Ocidental e da Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos.
2
Fernanda Israel Pio é advogada e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Metafísica da Universidade de
Brasília. Editora Assistente do Plato Journal.
3
Gabriele Cornelli é professor de Filosofia Antiga da Universidade de Brasília. Diretor da Cátedra UNESCO Archai
sobre as Origens Plurais do Pensamento Ocidental e docente do Programa de Pós-Graduação em Metafísica da UnB.
78 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Ep. 3 – Heráclito
Marcus Mota (UnB) conversa sobre Heráclito, sua música e Eudoro
de Sousa. Os retratos de Eudoro e de Heráclito acabam por se sobreporem
em algum momento. As palavras de Marcus Mota desenham um tecido
musical e filosófico inédito. Para quem quiser ouvir as ipsissima verba de
Eudoro sobre Heráclito, aconselhamos este video:
https://www.youtube.com/watch?v=bwKX4...
Ep. 4 – Horácio
Guilherme Gontijo Flores (UFPR) conta sobre sua formação literária
e sobre como a tradução é a ponte entre a academia e a poesia dele. O
episódio é dedicado ao poeta Horácio: Guilherme fala de sua amizade com
Mecenas, que colocava muito alho na comida, de sua proximidade com
Augusto, para o qual todavia recusou um poema épico, e da Vila Sabina.
No episódio falamos de um projeto muito legal de Guilherme Gontijo Flo-
res, o Coestelário:https://www.blogdacompanhia.com.br/co...
Ep. 5 – Augusto
Paulo Martins (USP) fala de como na fila do xerox foi convencido a
estudar latim, e de como sua carreira entrelaçou desde sempre poesia e
política. O episódio é dedicado ao imperador Augusto: se fala de suas pro-
fundas reformas religiosas e políticas e da impressionante máquina de
propaganda que sustentou um projeto de poder duradouro e que mudou
o rosto da República romana.
Ep. 6 – Alexandre, o Grande
Henrique Modanez de Sant’Anna (UnB) fala de Alexandre, o Grande.
A conversa encontra as encruzilhadas entre Oriente e Ocidente, a definição
do poder e os caminhos de uma das personagens mais incríveis da história
antiga.
Ep. 7 – Dionisio I, de Siracusa
82 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
pelo Elogio que Górgias fez a ela, bela metáfora para o poder persuasivo
do discurso.
Ep. 11 – Lucrécio
Rodrigo Gonçalves (UFPR) fala de Lucrécio e de seu poema subver-
sivo e terapêutico ao mesmo tempo, quase um livro de auto-ajuda. E de
prazer e epicurismo, de sua formação clássica, de como foi ser professor
de latim aos 23 anos, de quando surgiu a ideia do grupo Pecora Loca, de
poesia, tradução, greves estudantis e heavy metal.
Ep. 12 – Sólon
Delfim Ferreira Leão (Universidade de Coimbra) fala de seu trabalho
como pesquisador e docente de estudos clássicos de uma das Universida-
des mais antigas do mundo, de como quase foi matemático, de sua paixão
pela editoria científica aberta e de seu trabalho à frente da prestigiosa Im-
prensa da Universidade de Coimbra. E ainda da acusação injusta de
conservadorismo contra a área de estudos clássicos e das vantagens de ser
um classicista português e lusófono. E de Sólon, uma figura discreta mas
paradigmática, já clássico desde a Antiguidade. Sólon em sua poliedrici-
dade de sábio, legislador/estadista e poeta, homem de transição e
fronteiras, um aristocrata progressista nas encruzilhadas das origens do
mundo ocidental.
Ep. 13 – Eumáquia, de Pompéia
Marina Cavicchioli (UFBA) fala de sua trajetória como historiadora e
arqueóloga, de suas viagens com mochila nas costas pela Itália em busca
de seus antepassados, e nos introduz às escavações de Pompeia. Pelas vias
da cidade Marina nos apresenta a uma mulher de Pompeia: Eumáquia.
Uma businesswoman, uma mulher empreendedora, e claramente não a
única em Pompeia e no mundo antigo. Eumáquia sai de uma quase-ano-
nimidade direto para nosso Podcast Archai. Se fala em um certo momento
da “Casa di Venere in conchiglia” de Pompeia. Para quem tiver a
84 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
1
Professora Associada na Universidade Estadual de Ponta Grossa (Paraná). Grupo de Estudo da SBEC: LINCEU –
Visões da Antiguidade Clássica.
Jane Kelly de Oliveira | 87
2
DUVIVIER, Gregório. Greg News: Leveza. [S. l.]: HBO Brasil, 2020. Episódio 8. 4ª temporada. 1 vídeo (29min.27s.).
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vs-a4Rs2ygc. Acesso em: 09 dez. 2020.
Jane Kelly de Oliveira | 89
Referências
DUVIVIER, Gregório. Greg News: Leveza. [S. l.]: HBO Brasil, 2020. Episódio 8. 4ª
temporada. 1 vídeo (29min.27s.). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=Vs-a4Rs2ygc. Acesso em: 09 dez. 2020.
3
Verso de “Whisky à go go”, música composta por Michael Sullivan e Paulo Massadas, e um dos maiores sucessos
do grupo musical Roupa nova, cujo vocalista faleceu recentemente por covid -19.
11
Mariano Magri 2
Considerações Iniciais
1
Ensaio entregue à SBEC. Grupo ERA – Estudos Retóricos e Argumentativos – PUC/SP.
2
Doutorando no programa de Língua Portuguesa da PUC/SP.
92 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Para analisar como essas paixões são provocadas, toma-se fragmentos dos
discursos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dos presidenci-
áveis Ciro Gomes e Marina Silva acerca da necessidade de uma política
mais efetiva para minimizar os impactos da pandemia3.
Miriam Leitão: Presidente Fernando Henrique, a gente está diante
de uma situação tão sulrreal que é o Ministério da Saúde querendo escon-
der os números, né? A gente só viu isso na ditadura militar, quando
naquele surto da meningite [...] Como se faz para lutar contra uma coisa
como essa?
Fernando Henrique Cardoso: [...] a mim me chocou muito ver
aquela reunião ministerial. E o povo todo deve ter visto aquilo. Por que
viu o quê? Que não tem rumo. Não preciso repetir os problemas que fo-
ram levantados aqui. Diante desses problemas, o que foi dito? Nada. Nada,
realmente, nada. Tivemos palavrões em grande quantidade; tá bem, cada
um fala do jeito que sabe, mas uma demonstração pública de incapacidade
de dar rumo ao Brasil [...] mostrou que o Brasil está sem rumo; nós já
sabíamos, talvez, alguns já sabiam, porque essa falta de sensibilidade em
relação à pandemia é tremenda; mas imaginar que você, hoje, vai escon-
der dados é ridículo; simplesmente ridículo, porque os dados vão
aparecer; os mortos existem, não é uma invenção da mídia [...] então, é
dentro da cabeça das pessoas que estão mandando no Brasil que as teias
de aranha tão impedindo de ver a realidade. E não vendo a realidade como
que vai governar? Não tem como. Cabeça vai pra cá, cabeça vai pra lá.
Quem sofre? Nós todos. Então, acho que realmente o momento é de in-
dignação; não é simplesmente você registrar o que está acontecendo; é
com raiva. Não é possível! Nós temos um grande País, nós temos um fu-
turo possível. É necessário trabalhar para construir esse futuro e esse
3
Os discursos foram produzidos em uma entrevista produzida pela emissora Globo New, mediada pela jornalista
Miriam Leitão. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=01c35flu1G0. Acessado em julho de 2020.
94 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
isolamento social, os atos de higiene, álcool gel, lavar mão, manter distan-
ciamento, usar máscara, tudo essa ferramenta só chegará ao povo,
especialmente ao nosso povo mais sofrido, mais simples, se tiver uma pe-
dagogia e a informação nesse caso é essencial [...] Portanto, essa escalada
do Bolsonaro é crime, como a Marina já falou.
Considerações Finais
Referências
MEYER, Michel. Questões de retórica: linguagem, razão e sedução. São Paulo: Biblioteca
70. 2018.
10 de março
Aula sobre a Tebas de Sófocles no Instituto Moreira Sales dentro do
curso Cidades por Escrito. Falar sobre Tebas é tratar da peste e de cadáve-
res insepultos. A covid já está pegando forte na Europa e há um clima de
apreensão no ar – uns poucos casos já foram notificados em São Paulo.
Encontro amigos e é notável a hesitação: como cumprimentar, com um
toque de cotovelos como pede o novo protocolo? Vamos de beijo e abraço
mesmo e seja o que Deus quiser. Último café em mesa coletiva. As aulas
seguintes já seriam online.
11 de março
Conferência na VI Semana de Estudos sobre o Período Helenístico, na
USP. Último evento presencial do ano. Os convidados estrangeiros, da Itá-
lia e da Grécia, cancelaram a vinda na última hora dadas as restrições de
viagem e falaram por videoconferência. Por via das dúvidas, já trazia o
álcool gel na bolsa. Durante o dia, a confirmação do primeiro caso de
1
Professora Associada de Língua e Literatura Grega na Universidade de São Paulo, bolsista em Produtividade em
Pesquisa do CNPq e líder do Grupo de Pesquisa Estudos sobre o Teatro Antigo.
98 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
23 de março
Dia previsto para a primeira reunião no ano do Grupo de Pesquisa
Estudos sobre o Teatro Antigo. Na agenda, a discussão de texto sobre as
emoções trágicas, tema que investigaremos no biênio. Não imaginávamos
que experimentaríamos intensamente o binômio terror e piedade nos pró-
ximos meses. Com o avanço da epidemia (a quarentena começaria a valer
no dia seguinte), tivemos que cancelar o encontro. Nesse primeiro mo-
mento, ficou tudo em suspensão na incerteza de quanto tempo durariam
as medidas de isolamento; depois, veio o imobilismo dada a angústia de
viver na cidade que se tornou o epicentro da doença no país. Só retomarí-
amos as atividades em agosto, virtualmente.
30 de março
Primeira atividade à distância: uma banca de doutorado – em licença
prêmio, eu estava sem aulas no semestre. Hoje a vida na tela já está nor-
malizada, mas então foi tudo bem estranho e um pouco triste. Estranho,
porque começamos a desenvolver o dom da ubiquidade, do estar na sessão
de defesa de tese, na sala de casa e na casa dos outros ao mesmo tempo,
vivendo o lá, o aqui e o acolá. Triste, porque os candidatos foram privados
de ter ao lado, nesse momento de celebração, sua família e amigos. Mas é
vida que segue e todas as defesas agendadas para o ano aconteceram.
Adriane da Silva Duarte | 99
abril...maio...
Meses-reticências. Dificuldade em se concentrar, tentando dar conta
das tarefas entre um panelaço e outro: mais bancas, reuniões, pareceres,
artigos prometidos. Entre esses, uma comunicação comparando duas tra-
duções de Antígone, da Anne Carson para o VI Encontro Tradução dos
Clássicos no Brasil, inicialmente previsto para maio. Antígone ganha no-
vos contornos e se torna concreta durante a pandemia. Enquanto relia a
peça e suas traduções, covas rasas eram abertas nos cemitérios da cidade.
Em março, o prefeito, por ironia Covas no sobrenome, lançou um decreto
restringindo os ritos funerários:
5 de junho
Anunciada a suspensão dos concursos de ingresso, livre-docência e
titular. Tudo adiado para 2022 por determinação de lei federal. Passei os
primeiros meses do ano escrevendo o Memorial e preparando a documen-
tação para prestar o concurso de Titular. Já estava até inscrita. Frustração.
julho
A revisão da tradução de Quéreas e Calírroe vai de vento em popa. A
publicação do romance de Cáriton, parada na editora fazia tempo, desen-
cantou. Editor, revisora e tradutora trabalhando cada um em sua casa,
numa troca de mensagens constante e o livro ganhando corpo.
25 de julho
Em razão da pandemia, pela primeira vez uma transmissão direta do
teatro de Epidauro: Os Persas, de Ésquilo, em produção do Teatro Nacio-
nal da Grécia. Uma catarse para os classicistas. Belíssima montagem, mas
do que mais gostei foi daquela horinha, antes do espetáculo começar, em
que a câmera mostrava o teatro se enchendo lentamente, a tarde caindo...
Do meu sofá, tinha a impressão de estar lá, sentada nos últimos bancos da
arquibancada.
Adriane da Silva Duarte | 101
Agosto
Finalmente caiu a ficha do desafio que seria preparar as aulas para o
2º semestre. Na distribuição de aulas, couberam-me disciplinas novas ou
que não dava há muitos anos e teria que preparar os cursos do zero, só
com o que tinha à mão, nas estantes, ou que podia encontrar na internet
– a biblioteca seguia fechada e a importação de livros difícil pela restrição
do tráfego aéreo. Todo o material deveria ficar disponível para os alunos,
que enfrentavam dificuldades ainda maiores e as aulas, dadas de forma
síncrona, gravadas. Com a ajuda de colegas que tiveram que se adaptar às
novas plataformas no susto já no 1º semestre, aprendi a usar os recursos.
Alguns compartilharam comigo arquivos. Descobri muita coisa boa na
rede e consegui montar programas mais interessantes do que pensava ser
possível. A necessidade é a mãe da invenção.
10 de agosto
Retomada as reuniões do Grupo de Pesquisa. Muito bom rever todos,
mesmo que cada um em seu quadrado. Uma coisa boa foi poder ter de
volta os membros que moram fora de São Paulo e que só encontrávamos
esporadicamente. O vírus que distancia também aproxima.
12 de agosto
Chegaram os exemplares de Quéreas e Calírroe! Agora ele pertence
aos leitores.
Nesse ano de lives e podcasts gravei minha contribuição para o da
Archai-UNB, sobre Esopo – depois viriam outras. Importante tornar visí-
veis as nossas pesquisas e nisso esse ano foi muito produtivo. Demos a
cara e nos vimos muito também. Assisti várias, mas foram tantas as
102 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
iniciativas que ficou inviável acompanhar tudo, afinal muitas são as lives
para uma única vida.
20 de agosto
Participei do primeiro evento virtual, um debate sobre o filme de Li-
liana Cavani, Os Canibais, promovido pelo Cineclube Matrizes clássicas, da
UFF. O filme traz Antígone para o contexto das lutas políticas na Itália dos
anos setenta. De novo mergulhei na personagem. A abertura é marcante:
corpos espalhados pela cidade, os pedestres ignorando-os e desviando
como se fossem apenas obstáculos ao caminho. Tudo a ver.
18 de setembro
Início das aulas. Ensino remoto emergencial, o nome já prenuncia. Só
para emergências, que o bom mesmo é a sala de aula. Um propósito: tentar
tornar os alunos, cada um isolado em seu espaço privado, em uma turma.
Às vezes mais bem sucedido, outras vezes, menos. Ainda assim, bom voltar
a encontrar os estudantes.
16 de novembro
4ª Jornada do Romance Antigo: Eros e Afrodite, também no ciberes-
paço. Novo desafio. Em certo sentido, mais difícil de organizar do se fosse
presencial. Será que a internet vai segurar? O grande número de inscrições
(o triplo do usual) de todo o Brasil mostra que o sistema híbrido, na terra
e na nuvem, para os eventos veio para ficar.
17 de novembro
Entrevistas dos candidatos a ingresso no PPG Letras Clássicas – a se-
leção do primeiro semestre foi adiada por causa da covid. Tudo na
telinha... vamos nos adaptando.
Adriane da Silva Duarte | 103
20 de novembro
Dia da Consciência Negra. Revejo Antigone in Ferguson para debater
em aula. A ideia da Theater of War Productions é fazer a leitura dramática
das tragédias para promover o diálogo e superar traumas, no caso ligados
ao racismo estrutural. Esse ano, depois da morte de George Floyd (e, entre
nós, de João Alberto Freitas), voltou com tudo no formato virtual. Cada vez
mais importante conectar os clássicos com a agenda do nosso tempo, esse
“rumor do lado de fora da janela”, como quer Ítalo Calvino.
27 de novembro
Finalmente Antígone. O VI Encontro Tradução dos Clássicos no Brasil
acontece em formato digital. Anne Carson recria a heroína de Sófocles em
antigonick, mas ela ainda morre no final (minha tradução):
é sexta à tarde
lá vai Antígone ser sepultada viva
está lá
em todo caso
pode-se dizer
que é normal
racional
perdoável
ou mesmo na definição mais insana justo
só que não
13
Teatro em pandemia
1
UFMG – GTT/CNPq
2
(UFMG)
3
A Truπersa, na configuração pandêmica, constitui-se com os seguintes membros: Alice Mesquita, Anita (Anna)
Mosca, Anselmo Bandeira, Antonio Edson (Grupo Galpão), Daniel Grunmann, Elisa Almeida, Guilherme Mello, Julio
Guatimosim, Thaís (Lima e Sena) Ciccarini.
4
Rabinowitz, 2008, p. 21: “As performances começavam de madrugada; em algumas peças, como Agamêmnon de
Ésquilo, a aurora é mencionada e teria sido real; do mesmo modo, em Antígona e Ájax de Sófocles fala-se sobre o
que aconteceu na noite anterior. As pessoas teriam começado a chegar, se tivessem vindo de longe na Ática, durante
a noite. Podemos pensar em filas para adquirir bilhetes para um concerto de rock, ou para algum festival sem
assentos reservados. O festival durava cinco dias e cada um era uma imensa aventura de dia inteiro; as pessoas na
plateia comiam e bebiam normalmente durante as performances. Deste modo, não devemos imaginar um espaço
silencioso. O público era ativo participante, não passivo. As peças foram primeiramente realizadas ao ar livre, à luz
do dia, para uma grande audiência (as estimativas variam, entre 6.000 e 14.000). O pano de fundo era a cidade de
Atenas (...). Infelizmente, muita coisa não pode ser dita com segurança sobre o teatro físico do século V, por causa de
mudanças subsequentes (...); muitas das imagens que temos em nossas mentes vêm do teatro em Epidauro, que é a
partir do século IV.” Todas as traduções aqui apresentadas são de nossa responsabilidade.
Tereza Virgínia R. Barbosa; Anita (Anna) Mosca; Truπersa | 105
5
História da Guerra do Peloponeso, Livro II: 47-51.
106 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
6
Uma peste pode exterminar povos – e democracias.
Tereza Virgínia R. Barbosa; Anita (Anna) Mosca; Truπersa | 107
outros tudo aquilo o que podiam para sua própria preservação. Aqueles
que ainda não haviam se infectado começaram a ignorar, até mesmo zom-
bar das normas de comportamento de longa data. Alguns deles festejaram
como se não houvesse amanhã, mergulhando em todas as fontes possíveis
de prazer, sem parar, até que ficassem sem forças ou dinheiro. Outros es-
peravam que seus parentes morressem logo para que pudessem assumir
suas propriedades e, então, eles também poderiam participar de orgias
numa espécie de autocomplacência. (Martin, The Washington Post, April,
14th, 2020)
Como se vê, a situação se assemelha com o que vivemos hoje, nos
bastidores de nossa história nacional. E isso sem contar com o apagamento
das homenagens fúnebres, a ira contra os monumentos tradicionais de
cultura, a profanação dos templos etc. E foi assim lá como cá. E apesar da
aparente solidariedade geral e do medo preventivo, a coisa foi de mal a
pior.
Enfim, μεταβολή, a ἀναγκή cruel, a ὕβρις e o despreparo gerou uma
tragédia sem precedentes que durou dois anos. Martin, no artigo mencio-
nado, dá a seguinte recomendação: devíamos “deixar de lado o amargor
por nossos sofrimentos e parar de procurar bodes expiatórios”. Ainda que
haja consternação geral, se cuidarmos apenas de nossos próprios interes-
ses, a sociedade como um todo irá perecer.
Mas o que cabe a nós, pesquisadores, professores, estudiosos, atores
e artistas, de imediato fazer? Nada senão mostrar a cara e fazer ver que os
temas universais abordados nos clássicos, no cânone, testemunhos bani-
dos do mundo pós-moderno, têm máxima relevância. Afinal, aprendemos
muito sobre o presente ao visitar estes passados.
Na Truπersa, reunimo-nos virtualmente para a checagem cênica da
tradução direta do grego ao português da tragédia Hécuba de Eurípides.
Produzida em 2018-2019, a tradução carecia do teste de palco. Frustrados
108 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
7
Respectivamente Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal de Ouro Preto.
Tereza Virgínia R. Barbosa; Anita (Anna) Mosca; Truπersa | 109
Referências
MARTIN, Thomas R. A plague can wipe out peoples – and democracies. The
Washington Post. Apr. 14, 2020. Disponível em: https://www.washingtonpost.
com/outlook/2020/04/14/plague-can-wipe-out-peoples-democracies/
14
1
Professor Associado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Membro do Grupo de Tradução de Teatro
(UFMG/CNPq).
Bruno Amaro Lacerda | 111
[47.2] τοῦ δὲ θέρους εὐθὺς ἀρχομένου [47.2] Logo no começo do verão, os pelo-
Πελοποννήσιοι καὶ οἱ ξύμμαχοι τὰ δύο μέρη
ponésios e seus aliados, com dois terços de
ὥσπερ καὶ τὸ πρῶτον ἐσέβαλον ἐς τὴν
suas forças, invadiram, como antes, a Ática
Ἀττικήν (ἡγεῖτο δὲ Ἀρχίδαμος ὁ Ζευξιδάμου
Λακεδαιμονίων βασιλεύς), καὶ καθεζόμενοι (liderados por Arquídamo, filho de Zeuxí-
ἐδῄουν τὴν γῆν. damo, rei dos lacedemônios) e,
estabelecidos, devastavam o país.
[47.3] καὶ ὄντων αὐτῶν οὐ πολλάς πω ἡμέρας [47.3] Mas, estando não muitos dias na
ἐν τῇ Ἀττικῇ ἡ νόσος πρῶτον ἤρξατο γενέσθαι
Ática, a doença se manifestou primeiro en-
τοῖς Ἀθηναίοις, λεγόμενον μὲν καὶ πρότερον
tre os atenienses; conta-se que surgiu
πολλαχόσε ἐγκατασκῆψαι καὶ περὶ Λῆμνον
καὶ ἐν ἄλλοις χωρίοις, οὐ μέντοι τοσοῦτός γε antes alhures, caindo no entorno de Lem-
λοιμὸς οὐδὲ φθορὰ οὕτως ἀνθρώπων οὐδαμοῦ nos e de outras regiões, mas decerto não
ἐμνημονεύετο γενέσθαι. havia lembrança de uma praga ou destrui-
ção de homens como essa ter ocorrido em
parte alguma.
[47.4] οὔτε γὰρ ἰατροὶ ἤρκουν τὸ πρῶτον [47.4] Nem mesmo os médicos sabiam, de
θεραπεύοντες ἀγνοίᾳ, ἀλλ’ αὐτοὶ μάλιστα
início, como tratá-la, e, entre eles, a letali-
ἔθνῃσκον ὅσῳ καὶ μάλιστα προσῇσαν, οὔτε
dade era enorme, pois estavam mais perto
ἄλλη ἀνθρωπεία τέχνη οὐδεμία· ὅσα τε πρὸς
ἱεροῖς ἱκέτευσαν ἢ μαντείοις καὶ τοῖς τοιούτοις [dos doentes], tampouco alguma técnica
ἐχρήσαντο, πάντα ἀνωφελῆ ἦν, τελευτῶντές humana surtia efeito. Tudo quanto à frente
τε αὐτῶν ἀπέστησαν ὑπὸ τοῦ κακοῦ dos santuários suplicavam, os apelos aos
νικώμενοι.
oráculos e coisas desse tipo, tudo foi inútil,
até que, vencidas pelo mal, as pessoas de-
sistiram dessas medidas.
[48.1] ἤρξατο δὲ τὸ μὲν πρῶτον, ὡς λέγεται, [48.1] Começou primeiro, pelo que dizem,
ἐξ Αἰθιοπίας τῆς ὑπὲρ Αἰγύπτου, ἔπειτα δὲ καὶ
na Etiópia além do Egito, depois chegou no
ἐς Αἴγυπτον καὶ Λιβύην κατέβη καὶ ἐς τὴν
Egito, na Líbia e em muitos outros territó-
βασιλέως γῆν τὴν πολλήν.
rios do Rei.
[48.2] ἐς δὲ τὴν Ἀθηναίων πόλιν ἐξαπιναίως [48.2] Subitamente ela caiu sobre a cidade
ἐσέπεσε, καὶ τὸ πρῶτον ἐν τῷ Πειραιεῖ ἥψατο
dos atenienses, e atacou primeiro os mora-
τῶν ἀνθρώπων, ὥστε καὶ ἐλέχθη ὑπ’ αὐτῶν ὡς
dores do Pireu, de tal sorte que os
οἱ Πελοποννήσιοι φάρμακα ἐσβεβλήκοιεν ἐς
τὰ φρέατα· κρῆναι γὰρ οὔπω ἦσαν αὐτόθι. peloponésios foram por eles acusados de
ὕστερον δὲ καὶ ἐς τὴν ἄνω πόλιν ἀφίκετο, καὶ ter jogado veneno em seus poços. Pois
ἔθνῃσκον πολλῷ μᾶλλον ἤδη. ainda não havia fontes naquele lugar. De-
pois chegou até a cidade alta, e aí a
mortalidade aumentou muito.
112 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
[48.3] λεγέτω μὲν οὖν περὶ αὐτοῦ ὡς ἕκαστος [48.3] Diga, então, cada um, seja médico
γιγνώσκει καὶ ἰατρὸς καὶ ἰδιώτης, ἀφ’ ὅτου
ou leigo, algo sobre a sua origem provável
εἰκὸς ἦν γενέσθαι αὐτό, καὶ τὰς αἰτίας ἅστινας
e sugira as causas pelas quais foi possível
νομίζει τοσαύτης μεταβολῆς ἱκανὰς εἶναι
δύναμιν ἐς τὸ μεταστῆσαι σχεῖν· ἐγὼ δὲ οἷόν ocorrer uma reviravolta tão grande, capaz
τε ἐγίγνετο λέξω, καὶ ἀφ’ ὧν ἄν τις σκοπῶν, εἴ de alterar tanto a situação. Eu, se consigo,
ποτε καὶ αὖθις ἐπιπέσοι, μάλιστ’ ἂν ἔχοι τι direi como ela se apresentava, os sinais
προειδὼς μὴ ἀγνοεῖν, ταῦτα δηλώσω αὐτός τε
para poder se precaver, caso aconteça de
νοσήσας καὶ αὐτὸς ἰδὼν ἄλλους πάσχοντας.
novo; principalmente para que se saiba de
antemão e não se desconheça o que ela é,
exporei essas coisas, visto que eu mesmo
estive doente e vi outros sofrerem.
[49.1] Τὸ μὲν γὰρ ἔτος, ὡς ὡμολογεῖτο, ἐκ [49.1] Aquele ano, concordava-se, de todos
πάντων μάλιστα δὴ ἐκεῖνο ἄνοσον ἐς τὰς
os demais tinha sido o mais livre de doen-
ἄλλας ἀσθενείας ἐτύγχανεν ὄν· εἰ δέ τις καὶ
ças e de outras enfermidades. Mas se
προύκαμνέ τι, ἐς τοῦτο πάντα ἀπεκρίθη.
alguém estivesse previamente doente, to-
das [as doenças] se transformavam nessa.
[49.2] τοὺς δὲ ἄλλους ἀπ’ οὐδεμιᾶς [49.2] Em outras situações, sem motivo al-
προφάσεως, ἀλλ’ ἐξαίφνης ὑγιεῖς ὄντας
gum e sendo saudáveis, de repente
πρῶτον μὲν τῆς κεφαλῆς θέρμαι ἰσχυραὶ καὶ
ocorriam fortes calores na cabeça, verme-
τῶν ὀφθαλμῶν ἐρυθήματα καὶ φλόγωσις
ἐλάμβανε, καὶ τὰ ἐντός, ἥ τε φάρυγξ καὶ ἡ lhidão e queimação dos olhos, e as partes
γλῶσσα, εὐθὺς αἱματώδη ἦν καὶ πνεῦμα internas, tanto da faringe como da língua,
ἄτοπον καὶ δυσῶδες ἠφίει· imediatamente ficavam da cor de sangue e
exalavam um hálito atípico e fétido.
[49.3] ἔπειτα ἐξ αὐτῶν πταρμὸς καὶ βράγχος [49.3] Após essas coisas vinham os espir-
ἐπεγίγνετο, καὶ ἐν οὐ πολλῷ χρόνῳ
ros e a rouquidão, e não muito tempo
κατέβαινεν ἐς τὰ στήθη ὁ πόνος μετὰ βηχὸς
depois a doença descia para o peito, provo-
ἰσχυροῦ· καὶ ὁπότε ἐς τὴν καρδίαν στηρίξειεν,
ἀνέστρεφέ τε αὐτὴν καὶ ἀποκαθάρσεις χολῆς cando uma forte tosse. E quando se alojava
πᾶσαι ὅσαι ὑπὸ ἰατρῶν ὠνομασμέναι εἰσὶν no estômago, seguiam-se vômitos de bile
ἐπῇσαν, καὶ αὗται μετὰ ταλαιπωρίας μεγάλης. de todos os tipos mencionados pelos médi-
cos, seguidos de grande fadiga.
[49.4] λύγξ τε τοῖς πλέοσιν ἐνέπιπτε κενή, [49.4] Em muitos casos ocorriam soluços
σπασμὸν ἐνδιδοῦσα ἰσχυρόν, τοῖς μὲν μετὰ
secos, causando fortes espasmos, que às
ταῦτα λωφήσαντα, τοῖς δὲ καὶ πολλῷ ὕστερον.
vezes cessavam logo, mas outras vezes so-
mente muito tempo depois.
Bruno Amaro Lacerda | 113
[49.5] καὶ τὸ μὲν ἔξωθεν ἁπτομένῳ σῶμα οὔτ’ [49.5] No contato externo, o corpo não fi-
ἄγαν θερμὸν ἦν οὔτε χλωρόν, ἀλλ’
cava completamente quente, nem
ὑπέρυθρον, πελιτνόν, φλυκταίναις μικραῖς καὶ
amarelado, mas avermelhado, pálido e pe-
ἕλκεσιν ἐξηνθηκός· τὰ δὲ ἐντὸς οὕτως ἐκάετο
ὥστε μήτε τῶν πάνυ λεπτῶν ἱματίων καὶ quenas pústulas surgiam na pele.
σινδόνων τὰς ἐπιβολὰς μηδ’ ἄλλο τι ἢ γυμνοὶ Internamente, contudo, se aquecia de tal
ἀνέχεσθαι, ἥδιστά τε ἂν ἐς ὕδωρ ψυχρὸν σφᾶς modo que não se podia cobrir os doentes
αὐτοὺς ῥίπτειν. καὶ πολλοὶ τοῦτο τῶν
com vestimentas leves e tecidos finos, pois
ἠμελημένων ἀνθρώπων καὶ ἔδρασαν ἐς
φρέατα, τῇ δίψῃ ἀπαύστῳ ξυνεχόμενοι· καὶ ἐν eles preferiam ficar nus, desejosos que se
τῷ ὁμοίῳ καθειστήκει τό τε πλέον καὶ jogasse água fria neles. E muitos dos ho-
ἔλασσον ποτόν. mens que não foram tratados se lançaram
nos poços, atormentados pela sede que pa-
recia não ter fim. E era sempre assim,
tivessem bebido muita ou pouca.
[51.2] ἔθνῃσκον δὲ οἱ μὲν ἀμελείᾳ, οἱ δὲ καὶ [51.2] Uns morriam pela falta de cuidados,
πάνυ θεραπευόμενοι. ἕν τε οὐδὲ ἓν κατέστη
outros apesar dos muitos tratamentos. Não
ἴαμα ὡς εἰπεῖν ὅτι χρῆν προσφέροντας
foi encontrado remédio algum, pode-se di-
ὠφελεῖν· τὸ γάρ τῳ ξυνενεγκὸν ἄλλον τοῦτο
ἔβλαπτεν. zer, que fornecesse a ajuda necessária. O
adequado para um prejudicava o outro.
[51.3] σῶμά τε αὔταρκες ὂν οὐδὲν διεφάνη [51.3] Nenhum corpo, fosse resistente ou
πρὸς αὐτὸ ἰσχύος πέρι ἢ ἀσθενείας, ἀλλὰ
fraco, se mostrou forte o bastante para su-
πάντα ξυνῄρει καὶ τὰ πάσῃ διαίτῃ
portá-la, que a todos colhia, mesmo com
θεραπευόμενα.
toda a dieta prescrita.
[51.4] δεινότατον δὲ παντὸς ἦν τοῦ κακοῦ ἥ τε [51.4] Mas, de todas as coisas, o mais terrí-
ἀθυμία ὁπότε τις αἴσθοιτο κάμνων (πρὸς γὰρ
vel do mal era a apatia dos doentes por ele
τὸ ἀνέλπιστον εὐθὺς τραπόμενοι τῇ γνώμῃ
atingidos (a sua mente, imediatamente, se
πολλῷ μᾶλλον προΐεντο σφᾶς αὐτοὺς καὶ οὐκ
ἀντεῖχον), καὶ ὅτι ἕτερος ἀφ’ ἑτέρου entregava à desesperança, ficavam abati-
θεραπείας ἀναπιμπλάμενοι ὥσπερ τὰ πρόβατα dos no juízo, sem ter como suportá-la),
ἔθνῃσκον· καὶ τὸν πλεῖστον φθόρον τοῦτο bem como os cuidados de um em prol do
ἐνεποίει.
outro, que facilitavam a contaminação de
tal maneira que morriam como rebanho.
Isto foi o que causou a maior perda de vi-
das.
[51.6] ἐπὶ πλέον δ’ ὅμως οἱ διαπεφευγότες τόν [51.6] Aqueles que tinham sobrevivido
τε θνῄσκοντα καὶ τὸν πονούμενον ᾠκτίζοντο
mostravam, em relação aos mortos e doen-
διὰ τὸ προειδέναι τε καὶ αὐτοὶ ἤδη ἐν τῷ
tes, maior compaixão, porque conheciam
θαρσαλέῳ εἶναι· δὶς γὰρ τὸν αὐτόν, ὥστε καὶ
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Referências
THUCYDIDE. La Guerre du Péloponnèse. Livre II. Texte établi et traduit par Jacqueline
de Romilly. Paris: Belles Lettres, 1973.
1
Caroline Schmidt Patricio é estudante do curso de graduação em História da Arte da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e bolsista CNPq do Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental (LEAO) coordenado pela
professora Katia Pozzer.
116 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
2
Todos os textos traduzidos foram feitos de forma livre pela autora do ensaio.
Caroline Schmidt Patricio | 117
3
Educação aqui como um fazer autônomo, não uma sala de aula rígida aos moldes da educação atual que temos na
maioria das escolas espalhadas pelo nosso País. A educação que temos nos primeiros questionamentos sobre o mundo
quando ainda somos pequenos aprendizes curiosos.
118 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Referências
JUSTEL, Josué. Mujeres y género en la historiografía del Próximo Oriente Antiguo: pasado,
presente y futuro de la investigación. ARENAL, 18:2; julio-diciembre 2011, p. 371-
407.
1
Mestre e Doutorando em História (UFRGS), com bolsa CAPES. Pesquisador do Laboratório de Estudos da
Antiguidade Oriental (LEAO/UFRGS).
2
Chamada assim apenas por ter sido escrita em primeira pessoa e por estar em contexto funerário.
3
TPA é a abreviação de Texts from Pyramid Age (STRUDWICK, 2005).
122 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
por Mariette, o local só voltou a ser escavado no final dos anos 1990 e início
dos anos 2000 pela arqueóloga estadunidense Janet Richards (2002), que
revelou novas informações arqueológicas sobre esse sujeito e seu contexto.
Os Textos das Pirâmides mostram que a religião funerária do Reino
Antigo era centralizada na imortalidade do rei que, após a morte, se jun-
taria ao deus Rá em sua viagem cósmica. Conhecemos pouco sobre as
práticas de pessoas da não elite, mas os membros da família real e do res-
tante da Corte inicialmente construíam suas tumbas nas necrópoles régias,
como forma de expressar na morte a proximidade com o soberano que
tinham em vida, podendo, assim, tentar gozar da imortalidade também.
Mas, como explicou Allen (2006), gradualmente, indivíduos passaram a
buscar o acesso à imortalidade, não exatamente por intermédio do rei e de
sua proximidade com Rá, mas com o deus Osíris. Isso implicou em diver-
sas transformações nas práticas funerárias, dentre as quais uma maior
complexificação da expressão individual no equipamento funerário nas
províncias, tais como os cemitérios de particulares onde está a tumba de
Weni.
Muitas vezes, a História, pela sua tradição textual e arquivística, su-
bestima a cultura material, mas paga um severo preço por isso. Miller
(2013) argumenta que é preciso superar a divisão artificial entre material
e imaterial, entre natureza e cultura. Tilley (2006) explica que os objetos
são produzidos por meio de relações sociais, ao mesmo tempo produzem
relações sociais, em um processo relacional. Além disso, o objeto também
deve ser observado pela perspectiva biográfica de produção, circulação,
consumo, descarte e ressignificação. Tendo isto em mente, pode parecer
que objetos como aqueles oriundos da tumba de Weni não nos dão ele-
mentos muito precisos. Mas mas basta um olhar mais atento sobre eles
para fazer emergir aspectos valiosos da vida que nãos seriam possíveis de
se obter sem a materialidade.
124 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
Referências
ALLEN, J. Some aspects of the non-royal afterlife in the Old Kingdom. In: BÁRTA, M. (ed.).
The Old Kingdom Art and Archaeology. Praga: Academy of Science of the Czech
Republic, 2006.
RICHARDS, J. Text and Context in Late Old Kingdom Egypt: The Archaeology and
Historiography of Weni the Elder. JARCE, v. 39, 2002.
SIMPSON, W, K. (ed.). The Literature of Ancient Egypt. New Heaven: Yale University
Press, 2003.
STRUDWICK, N. Texts from The Pyramid Age. Atlanta: Society of Biblical Literature,
2005.
TILLEY. C. Objectification. In: TILLEY, C.; et al. (orgs.). The Handbook of Material
Culture. Londres: Sage, 2006.
17
Priscila Scoville 1
1
Doutoranda em História (UFRGS), membro do Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental (LEAO).
128 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
corresponde a 382 tabletes de argila, mas nem todos são usados por mim.
Restrinjo-me aos documentos referentes aos reinos independentes e he-
gemônicos, isto é: Alashia, Arzawa, Assíria, Babilônia, Egito, Hatti e Mitani
– que compreendem as cartas EA1-44. Por questões de espaço e otimiza-
ção, não entrarei em muitos detalhes sobre a particularidade das fontes,
para isso sugiro a leitura de outros dois artigos de minha autoria (2020 e
2015): um publicado na Revista AEDOS (para um caso mais aplicado ao
meu estudo atual) e outro na Revista Poder e Cultura (para uma base mais
contextual).
O anseio dessa pesquisa surgiu com a percepção de que, desde o en-
sino fundamental, a Antiguidade Oriental nos é apresentada de uma forma
superficial, fortemente carregada pela questão do orientalismo de Said
(2007). Filmes, séries e livros apenas reforçam a ideia do exótico e do bár-
baro. A Mesopotâmia quase deixa de ser uma designação geográfica para
se tornar um reino aos olhos leigos, nesse sentido, o “povo mesopotâmico”
é um só, ignorando-se a pluralidade étnica e cultural da região que resul-
tou em uma dinâmica muito grande. O Egito, por outro lado, é tido como
um lugar tão isolado que é quase um pecado representar estrangeiros no
Vale do Nilo antes do Período Helenístico. A Síria passou a ser resumida
aos fenícios e judeus, esquecendo-se das rotas de comércio e dos demais
povos que circulavam e habitavam a região. A imagem do homem pró-
ximo-oriental distanciou-se da realidade por não estar inclusa no padrão
ocidental – eles são os “outros” do nosso “eu”.
Homens e mulheres da antiguidade não pretendiam ser isolados, pelo
contrário, reconheciam as vantagens em se manter contato com o mundo
exterior. Desse reconhecimento começaram a surgir relações oficiais entre
130 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
2
A primeira correspondência diplomática de que temos registro foi trocada entre os reis Irkab-damu, de Ebla, e Zizi,
de Hamazi, em c. 2300 AEC. Contudo, pelo conteúdo, sabemos que ela não foi a primeira carta trocada (PODANY,
2010, p. 27).
3
Grau de centralidade (número de menções), centralidade de intermediação (caminhos e importância relativa) e
centralidade autovetora (proximidade com agentes influentes).
4
Esse estudo se refere a um trabalho em andamento, que realizo como parte de minha pesquisa de doutorado.
Priscila Scoville | 131
Referências
OTTE, Evelien; ROUSSEAU, Ronald. Social network analysis: a powerful strategy, also
forthe information sciences. Journal of Information Science, v. 28, n. 6, 2002.
5
Três pessoas que se conhecem mutuamente
132 | Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos: os estudos clássicos na pandemia
SCOVILLE, Priscila. Egito e Oriente Próximo: Quem é quem nas Cartas de Amarna. Poder
e Cultura, v. 2, n. 3, 2015, pp. 14-29. Disponível em: https://poderecultura.
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