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Poliomielite oral e injetável

A poliomielite existe desde os tempos pré-históricos. Embora tenha afetado crianças


em todo o mundo por milênios, a primeira descrição clínica conhecida da
poliomielite, pelo médico britânico Michael Underwood, não foi até 1789, e foi
reconhecida como uma condição em 1840 pelo médico alemão Jakob Heine.
No final do século 19 e início do século 20, epidemias frequentes fizeram com que a
doença se tornasse a mais temida do mundo. Em meados do século 20, o poliovírus
podia ser encontrado em todo o mundo e matava ou paralisava mais de meio milhão
de pessoas em todo o mundo. Sem cura e com epidemia em ascensão, havia uma
necessidade urgente de uma vacina.
Em 1949, John Enders, Thomas Weller e Frederick Robbins conseguiram cultivar o
vírus em tecido humano com sucesso. Tal trabalho foi reconhecido com o Prêmio
Nobel em 1954.
No início dos anos 1950, houve a criação da primeira vacina bem sucedida, criada
pelo médico norte-americano Jonas Salk. Ele, em 1953, testou sua vacina
experimental do vírus morto em si mesmo e em sua família, e um ano depois em
mais de um milhão de crianças no Canadá, Finlândia e EUA. Quando os resultados
foram anunciados (1955), a vacina foi licenciada no mesmo dia e começou a
produção de milhões de doses de vacinas, porém apresentaram alguns problemas.
Algumas crianças desenvolvem paralisia logo após serem vacinadas dentro de um
intervalo de tempo que implicava que elas deveriam ter desenvolvido pólio por conta
da vacina. Após investigações, foi descoberto que duas das seis fabricantes de
vacina na época, a farmacêutica Cutter e a Wyeth, tinham um lotes produzidos com
o vírus ainda ativo. Na época, tal acontecimento gerou medo na população, o que
gerou queda das taxas de vacinação entre as crianças. Foi preciso muito
esclarecimento com os pais na época, para que as taxas de vacinação voltassem a
subir novamente.
Ainda na década de 50, o médico e microbiologista Albert Sabin desenvolveu outra
vacina para a doença, a vacina oral (OPV). Tal vacina é viva atenuada, ou seja,
contém uma combinação de três tipos de vírus da pólio que foram cultivados e
selecionados em laboratório para não causarem infecção pelo corpo, somente se
multiplicarem o suficiente no intestino para ativarem o sistema imune de forma mais
eficiente contra o vírus.
Como a vacina de Salk já estava sendo utilizada em grande demanda, os EUA não
demonstraram interesse em realizar testes, então, assim como Salk, Sabin testou
sua vacina experimental em si mesmo e em sua família.
Em 1956, Sabin viajou com virologistas russos para trabalhar em Leningrado e
Moscou. Ele realizou teste na União Soviética, em meio a Guerra Fria e forneceu os
vírus desenvolvidos para eles, então pesquisadores da US testaram a vacina em
colaboração com Sabin e distribuíram milhões de doses, que foram aplicadas em
1959 para vacinar crianças soviéticas com resultados positivos.
Por ser fácil de administrar, a OPV se tornou a mais utilizada em campanhas de
vacinação em massa. O sucesso da vacina se espalhou e muitos países adotaram a
OPV, inclusive o Brasil.
No Brasil, em 1961, o Ministério da Saúde começou oficialmente a vacinação contra
poliomielite com a vacina oral. Na época, eram feitas duas doses, o que causou
desencontros entre o governo federal e os governos estaduais (alguns recebiam
mais, outros menos).
Somente em 1971 que começou a ser desenvolvido o plano nacional de controle da
poliomielite, que pelos próximos anos, organizou a dinâmica de vacinação em
massa em dias específicos com organização por grupos etários. Já em 1973 a
vacinação contra pólio foi incorporada no programa nacional de imunizações, que
viabilizou a vacinação pelo país e segue em vigor até os dias atuais.
Em 1975 foi criado o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, que tem como
objetivo a notificação e investigação de casos de doenças transmissíveis, para
saber onde focar a vacinação. Tal sistema obteve inúmeros resultados positivos, e
então foi incorporado ao Sinan (Sistema de Informações de Agravos de Notificação).
Em 1979, Oscar Alves, secretário de saúde do Paraná na época, denunciou em rede nacional
que o sul do país enfrentava uma epidemia de pólio, fato que aconteceu em meio à censura
imposta pelos militares no poder na época da ditadura. Isso fez com que em 1981, o
Ministério da Saúde retomasse com sucesso a estratégia de vacinação massiva, o que gerou
uma diminuição brutal de casos na época. Porém a doença ainda persistia no Nordeste, onde
tinham predominância do vírus menos presente na vacina. Então a Fiocruz produz uma
formulação própria da vacina de gotinha feita especificamente para nossa necessidade,
quando mudaram a proporção de cada variedade do vírus para poder despertar uma resposta
imune mais imune mais produtiva para o Brasil → o que deu tão certo que o nosso modelo
serviu de modelo para vacinação de toda América Latina pela Organização Panamericana de
Saúde. Em 1986, para avançar a imunização e convencer os pais a vacinarem seus filhos,
houve a criação de um símbolo de confiança, o Zé Gotinha.
Observou-se que a OPV teve um benefício adicional que preparou o caminho para a
erradicação, embora a IPV tenha protegido a criança vacinada, ela não impediu que
o vírus se espalhasse entre as crianças, a OPV, por outro lado, interrompeu a
cadeia de transmissão, que foi imprescindível para a interrupção dos surtos de
poliomielite. Atualmente, em 2021, apenas 2 casos de poliovírus selvagem foram
registrados no mundo: Afeganistão e Paquistão.

obs: Mas junto com o sucesso da OPV vem uma desvantagem: o uso contínuo da
vacina representa um risco de erradicação da doença. Embora a OPV seja segura e
eficaz, em áreas onde a cobertura vacinal é baixa, o vírus da vacina enfraquecido
originalmente contido na OPV pode começar a circular em comunidades
subvacinadas. Quando isso acontece, se for permitido circular por tempo suficiente,
pode reverter geneticamente para um vírus 'forte', capaz de causar paralisia,
resultando no que é conhecido como poliovírus circulante derivado da vacina
(cVDPVs). Se uma população for adequadamente imunizada, ela estará protegida
contra poliovírus selvagens e derivados de vacinas.
Links utilizados:

History of polio vaccination:


https://www.who.int/news-room/spotlight/history-of-vaccination/history-of-polio-
vaccination?
topicsurvey=ht7j2q)&gclid=Cj0KCQiArsefBhCbARIsAP98hXQMknesks2aIFMJmyO_
8joJJqIbqQ4r7-4DaTXzIZinGRVbUAE9kmYaAu5dEALw_wcB

WHO: Vaccine-derived polioviruses

Como o zé gotinha deu uma surra na Pólio: ENTENDA


https://youtu.be/E-8gKW66hro

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