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LABORATÓRIO DE PRÁTICAS CULTURAIS:

TEORIAS DA LITERATURA E ENSINO


Nome: Mateus Mauri Venturini;
Período/Ano: 2º - 2021/2;
Professora: Cibele Verrangia Correa da Silva.

PRODUÇÃO AUTORAL: CARTA ABERTA

___________________,

Cartas sempre começam com saudações, mas fiquei aqui me perguntando em como iniciar
esta. Excelentíssimo? Caro? Querido? Sinceramente, dispenso cumprimentos formais para
com você. Também não quis usar “ex-presidente” por dois motivos. O primeiro, é que me dói
lembrar que um dia você já ocupou essa cadeira; o segundo, que jamais fora uma figura de
respeito que merecesse ser lembrado como Presidente do Brasil. Deixo então essa lacuna,
como símbolo do que você não foi - e que nunca acreditei que seria.

O Brasil é um país incrível, Jair (preferi chamá-lo apenas assim). Incrível por suas belezas
naturais, incrível pela sua força econômica, incrível pela gente ímpar que vive aqui, incrível
por sua cultura. Não posso negar que ficou bem menos incrível - para não dizer nada incrível -
do ano de 2016 para cá, mais especificamente de 2019 para cá. Reconhece as datas? Lhe
parecem familiares?

O Brasil, país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, está um caco e a culpa é
sua. Mas você não arruinou esse país sozinho; teve ajuda de um instrumento com alto poder
destrutivo: o berrante. Tocou e tocou esse berrante aos quatro cantos e reuniu em torno de si
muitas cabeças de gado, no ponto ideal do abatedouro. Ouviram do Ipiranga… mugidos.

Você tem a dicção péssima e mesmo assim insiste em falar. Fala demais inclusive. Quando
fala, já busco a sacola de lixo. Enchi containers ouvindo você falar. Sua voz me dá ânsia de
vômito. Talvez eu te odeie. Na verdade, muito mais do que odiar vossa figura patética e
asquerosa, eu detesto tudo que o senhor representa. Não lhe sobra uma migalhinha que eu
consiga dissertar positivamente.

A bananinha imbroxável broxou, Jair. De mito, caiu como “minto”. De salvador, saiu como
genocida. De Messias, saiu como conveniado aos círculos do inferno. Você é uma vergonha.
Desprezo-te. Rechaço-te. Antes meus olhos nunca houvessem visto sua cara ou meus ouvidos
escutado seu relincho.

Espero que saia pelos fundos do Planalto e da história e que não clamem o nome de nenhum
Ricardão, embora sua homenagem tenha sido a um torturador, naquele dia que mudaria para
sempre os rumos desse país. E a vida aqui mudou mesmo: os ricos cada vez mais milionários,
os pobres cada vez mais miseráveis. Os patriotas, cantando o hino nacional com a mão no
peito e a bíblia embaixo do braço, já pensando no próximo gay, negro, indígena, mulher,
comunista ou favelado que iriam xingar. Parabéns, Jair, você obteve êxito! Sejam todos muito
bem-vindos à pátria armada e desalmada do Brasil.

Tudo isso é reflexo seu, do seu desgoverno, do seu Brasil de faz de conta. Que tal fazermos de
conta que a inflação é só uma “instabilidadezinha”? Que tal fazermos de conta que comida,
gás, energia, gasolina e todo o resto com alta de preços é apenas um “descontrolezinho”
econômico? Que tal continuarmos fingindo que 614 mil vidas perdidas foram causadas por
uma “gripezinha”? Acho uma péssima ideia. Prefiro tratá-lo como um “ser humaninho”,
"presidentezinho".

Saúde, educação, cultura, segurança, economia. Você tem noção que um país sério precisa de
todas essas coisas e muito mais? Pois é, pasmem. Mas, atenção, não se faz saúde distribuindo
cloroquina e remédio de verme, muito menos desmerecendo a ciência e as vacinas ou pedindo
propina em dólar. Também não se faz educação com ministros mal educados, chamando
estudantes de vagabundos, acreditando que aula prática da faculdade é ensinar a enrolar
cigarro de maconha ou sucateando nossa educação pública. Não se faz cultura censurando
filmes, jantando com Amado Batista, nomeando um secretário que anda armado pelos
corredores do prédio ou dizendo que Lei Rouanet é para bancar produções de esquerdistas
globalistas marxistas-leninistas. Não se faz segurança armando a população, dizendo que o
pobre tem que comprar fuzil e não feijão ou deixando que os índios sofram genocídio. Não se
faz economia dando a Amazônia de bandeja para os latifundiários, nem dizendo que o
brasileiro é que come demais ou que faxineira indo pra Disney é “a maior festa”.

Desejo-te tudo em dobro, Jair. Acredite, você merece até o triplo.

Discorreria horas a fio vangloriando sua calamitosa estadia. Também poderia estar escrevendo
qualquer outra coisa, sobre como é bom poder abraçar as pessoas novamente ou não ter mais
de usar máscaras - mas essa parte não é graças a você. Você não merece mais o meu tempo,
nem as linhas desta carta. Você merece aquilo que lhe cabe e eu, sinceramente, não consigo
pensar que seja algo de bom. Antes de sair, ver meus amigos e viver este novo ano que se
inicia, creio que precisamos, de uma vez por todas, de um expurgo. Do senhor e do seu rastro.

Sem nenhuma cordialidade,

A você, Jair.

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