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1. Definições
As seguintes definições adotadas são necessárias para a determinação dos ângulos da cunha
cortante de uma ferramenta de usinagem.
A superfície de saída (Ar ) é a superfície da cunha de corte sobre a qual o cavaco se move — e
por superfície de folga entende-se a superfície que determina a folga entre a ferramenta e a superfície
em usinagem. Distinguem-se a superfície principal de folga (Aa) e a superfície secundária de folga (Aa').
Por meio do movimento relativo entre a peça e a ferramenta, formam-se os cavacos pela ação da cunha
de corte, composta pelas superfícies de saída e de folga da ferramenta.
As arestas de corte são definidas pela interseção das superfícies de saída e de folga. Deve-se
distinguir a aresta principal de corte (S) da aresta secundária de corte (S'): a primeira é aquela cuja cunha
de corte, observada no plano de trabalho, e para um ângulo da direção de avanço (f) igual a 90°, indica
a direção de avanço; a segunda é aquela cuja cunha de corte, observada no plano de trabalho, e para
um ângulo da direção de avanço (f) igual a 90°, indica a direção contrária à direção de avanço
A ponta de corte é a interseção das arestas principal e secundária de corte, ao passo que o ponto
de corte escolhido serve como referência para a determinação das superfícies e dos ângulos da cunha
de corte, ou seja, as definições se referem a um ponto arbitrário da ferramenta: o "ponto de corte
escolhido" ou o "ponto de referência".
A Figura 2.1 representa os elementos de uma cunha cortante de uma ferramenta qualquer, enquanto a
Figura 2.2 trata de uma ferramenta de tornear. Já a Figura 2.3 representa uma fresa frontal, e a Figura
2.4, uma broca helicoidal.
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2. Sistemas de Referência
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planos aqui descritos passam pelo ponto de corte escolhido. A Figura 2.5 mostra duas vistas em
perspectiva dos planos localizados no sistema de referência da ferramenta.
O plano de referência da ferramenta (Pr) é perpendicular à direção admitida de corte, escolhida
de modo que esse plano seja o mais paralelo ou perpendicular possível à superfície ou eixo da
ferramenta. Nas ferramentas para torneamento, o plano de referência é paralelo à superfície de apoio
do cabo. Já nas ferramentas de fresamento ou furação, ele contém o eixo de rotação das ferramentas.
Existem dois planos de corte: o principal e o secundário. O plano de corte principal da ferramenta
(Ps) é tangente à aresta de corte e perpendicular ao plano de referência da ferramenta. Por sua vez, o
plano de corte secundário da ferramenta (Ps') é tangente à aresta secundária de corte e perpendicular
ao plano de referência da ferramenta, e ambos passam pelo ponto de referência
Como o próprio nome indica, o plano ortogonal da ferramenta (Po) é perpendicular aos planos
de referência e de corte da ferramenta. Esse plano também é conhecido como "plano de medida".
O plano admitido de trabalho (P) é perpendicular ao plano de referência e paralelo à direção
admitida de avanço. É escolhido de tal forma que fique o mais paralelo ou perpendicular possível a uma
superfície ou eixo da ferramenta.
Além desses planos, são definidos ainda no sistema de referência da ferramenta:
• Plano dorsal da ferramenta (Pp): perpendicular aos planos de referência da ferramenta e
admitido de trabalho.
• Plano normal à aresta de corte (Pn): perpendicular à aresta principal de corte.
• Plano ortogonal à superfície de saída (Pg): perpendicular à superfície de saída e ao plano de
referência da ferramenta.
• Plano ortogonal à superfície de folga (Pb): perpendicular à superfície de folga e ao plano de
referência da ferramenta.
As Figuras 2.6 a 2.8 mostram, respectivamente, os planos do sistema de referência da
ferramenta em ferramentas usadas nas operações de torneamento, fresamento e furação.
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2.2. Ângulos do Sistema de Referência da Ferramenta
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Os ângulos da cunha cortante destinam-se à determinação da posição e da forma da cunha de
uma ferramenta. São agrupados de acordo com o plano no qual estão localizados, ou seja, em ângulos
medidos no plano de referência, no plano de corte e no plano ortogonal.
No plano de referência estão localizados os seguintes ângulos: o ângulo de posição da
ferramenta, o ângulo de posição secundário da ferramenta e o ângulo de ponta da ferramenta. O ângulo
de posição da ferramenta (cr) é formado pelos planos de corte da ferramenta (PS) e admitido de
trabalho (Pf). É sempre positivo e situa-se sempre fora da cunha cortante, de forma que o seu vértice
indica a ponta de corte. Esse ângulo mostra a posição da aresta de corte.
O ângulo de posição secundário da ferramenta (cr') localiza-se entre o plano de corte secundário
da ferramenta (Ps') e o plano admitido de trabalho (Pf). É sempre positivo e situa-se sempre fora da
cunha cortante, de forma que o seu vértice indica a ponta de corte. Esse ângulo indica a posição da
aresta secundária de corte.
Por sua vez, o ângulo de ponta da ferramenta (er) é formado pelos planos principal de corte (Ps)
e secundário de corte (Ps'). Os ângulos medidos no plano de referência são suplementares, isto é, vale
a relação representada na Equação 2.1:
No plano de corte encontra-se apenas o ângulo de inclinação da ferramenta (ls), medido entre a aresta
de corte (S) e o plano de referência da ferramenta (Pr) . O ângulo de inclinação é sempre agudo, e seu
vértice indica a ponta de corte. Ele é positivo quando, observando-se a partir da ponta de corte, a aresta
de corte encontra-se na região posterior em relação ao plano de referência, orientando-se, para tanto,
segundo o sentido de corte.
Outros três ângulos são medidos no plano ortogonal: o ângulo de folga da ferramenta, o ângulo
de cunha da ferramenta e o ângulo de saída da ferramenta. O ângulo de folga da ferramenta ( ao) está
situado entre a superfície de folga (Aa) e o plano de corte da ferramenta (Ps). O ângulo de cunha da
ferramenta
(bo) é formado pelas superfícies de saída (Ag) e de folga (Aa). Finalmente, o ângulo de saída da
ferramenta (go) se localiza entre a superfície de saída (Ag) e o plano de referência da ferramenta (Pr).
De maneira análoga ao ângulo de inclinação, o ângulo de saída também é sempre agudo e positivo
quando a interseção entre a superfície de saída e o plano ortogonal encontra-se na região posterior em
relação ao plano de referência, orientando-se, para isso, segundo o sentido de corte.
Os ângulos medidos no plano ortogonal são complementares, portanto, vale a Equação 2.2:
𝛼𝑜 + 𝛽𝑜 + 𝛾𝑜 = 90° (2.2)
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2.3. Funções e Influências dos Principais Ângulos de Cunha Cortante
Cada um dos ângulos descritos anteriormente tem um papel a desempenhar durante o corte,
portanto seu valor deve ser cuidadosamente determinado.
O ângulo de posição (cr) geralmente varia de 45° a 95° e tem as seguintes funções:
• Distribuir as tensões de corte favoravelmente no início e no fim do corte.
• Influenciar na direção de saída do cavaco.
• Aumentar o ângulo de ponta er.
Esse ângulo também induz uma força passiva na ferramenta e, por conseguinte, na máquina-
ferramenta. Ele é o principal responsável pela flexão de peças muito esbeltas na operação de
torneamento cilíndrico externo.
O ângulo de ponta (er) é definido pelo formato da ferramenta, assumindo, por exemplo, 90° em
insertos quadrados e 60° em insertos triangulares. Ferramentas utilizadas em operações de
perfilamento apresentam ângulo de ponta (er) igual a 35°, o que pode fragilizar a ponta da ferramenta,
ao passo que insertos circulares têm o ângulo de ponta (er) definido em função da profundidade de
usinagem. Sua principal função é assegurar a resistência da ponta da ferramenta e sua capacidade de
dissipar calor.
O ângulo de inclinação (ls) normalmente varia de —11° a 11° e tem as seguintes funções:
• Controlar a direção de saída do cavaco.
• Proteger a aresta de corte (gume) da ferramenta contra impactos.
• Quando negativo, pode atenuar vibrações.
O ângulo de folga (ao) normalmente varia de 5° a 20° e sua principal função é evitar atrito entre
a peça e a superfície de folga da ferramenta. Se o valor do ângulo de folga ( ao) for muito baixo,
entretanto, a cunha não penetrará adequadamente na peça e, assim, a ferramenta perderá sua afiação
rapidamente, visto que há grande geração de calor. Além disso, o acabamento da peça será prejudicado.
Porém, se o ângulo de folga (ao) for muito elevado, a cunha da ferramenta perderá resistência, podendo
soltar pequenas lascas ou, até mesmo, se quebrar. O valor do ângulo de folga ( ao) depende
principalmente da resistência mecânica do material da ferramenta e da peça: quanto maior for a
resistência mecânica, menor será o ângulo.
Em geral, o ângulo de saída (go) varia de —8° a 20° e influencia decisivamente a força e a
potência necessárias ao corte, uma vez que, quanto maior o ângulo de saída (go), menores serão o
trabalho de dobramento e o encruamento do material do cavaco. Consequentemente, o acabamento
da peça e a temperatura de corte também serão afetados. O valor do ângulo de saída ( go) dependerá,
em especial, da resistência mecânica do material da ferramenta e da peça, bem como da quantidade de
calor gerado pelo corte e da velocidade de avanço. Valores negativos do ângulo de salda ( go) são
comumente empregados no corte de materiais de difícil usinabilidade e em cortes interrompidos, por
garantir maior resistência à cunha de corte (bo = 90°). Em contrapartida, a usinagem de materiais
dúcteis, como ligas de alumínio e de cobre, requer o emprego de ângulos de saída altamente positivos
para evitar extensas áreas de adesão do cavaco à superfície de saída da ferramenta, que resultam na
sua quebra.
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2.4. Outros Atributos da Cunha Cortante
Além das já descritas, outras características geométricas da cunha de corte que merecem
destaque são: o raio de ponta (re), o raio de cunha ou de aresta (rh) e o quebra-cavacos.
O raio de ponta (re) determina, com o ângulo de ponta, a resistência mecânica da ponta da
ferramenta de corte (Figura 2.12). Além disso, o raio de ponta tem grande influência sobre a rugosidade
da peça, como será visto mais tarde. Em geral, o raio de ponta (re) varia de 0,2 mm a 2,4 mm (valores
típicos de 0,4 mm a 0,8 mm e 1,2 mm). Valores elevados do raio de ponta (re) garantem maior resistência
à ponta da ferramenta, entretanto há um maior contato entre ferramenta e peça, o que provoca o
aumento da força passiva (perpendicular ao plano de trabalho) e vibrações.
Analogamente, o raio de cunha (rh) tem a finalidade de proteger a cunha cortante, que, em
hipótese alguma, deverá ser aguda, sob o risco de quebrar-se. Todavia, valores elevados do raio de
cunha (rh) tendem a provocar a elevação da força na direção de avanço. Por isso, as arestas passam por
um processo fino de arredondamento, conhecido como brunimento. Outras possibilidades de
preparação da cunha de corte são a inclusão de chanfros, simples ou duplos — especialmente em
ferramentas cerâmicas, de diamante (PCD) ou de nitreto cúbico de boro (PcBN) —, ou a combinação de
raio e chanfro. A Figura 2.12 apresenta essas alternativas.
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periódica do cavaco. Além disso, o uso de quebra-cavacos permite que uma ferramenta reversível
possua ângulo de saída positivo. A Figura 2.13 ilustra quebra-cavacos de acabamento e de desbaste
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