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BARBOSA

PONTO DELMS
VISTA

A EPISTEMOLOGIA
DA PSICOPEDAGOGIA:
RECONHECENDO SEU FUNDAMENTO, SEU VALOR
SOCIAL E SEU CAMPO DE AÇÃO. COMEMORANDO
OS 15 ANOS DA ABPP – PARANÁ SUL, 2006

Laura Monte Serrat Barbosa

RESUMO – Este é um estudo que buscou reflexões a partir das produções


científicas divulgadas em alguns exemplares da Revista Psicopedagogia -
nos últimos seis anos - dos temas propostos nos últimos três congressos
brasileiros da ABPp, dos boletins informativos de algumas das Seções da
ABPp e da experiência psicopedagógica discutida por um grupo de
psicopedagogas de Curitiba, o qual se reuniu, em 2003, para pensar sobre o
tema Epistemologia da Psicopedagogia. Apesar da Psicopedagogia ainda
não possuir estatuto de ciência, pensar sobre a sua epistemologia é possível
se considerarmos que esta refere-se ao estudo dos fundamentos, do valor
social e do campo de ação de uma área do conhecimento. Os fundamentos
mostrados no texto propõem ao leitor uma reflexão sobre o paradigma de
conjunção que a filosofia atual coloca; sobre as pesquisas científicas que
mostram um caminho na direção da despatologização da aprendizagem; sobre
as práticas diferenciadas nas quais se busca a realização dos novos discursos.
Termina-se o texto com questionamentos importantes à classe profissional
dos psicopedagogos, no sentido de realizar uma crítica construtiva à práxis
psicopedagógica atual.

UNITERMOS: Epistemologia. Psicopedagogia.Conhecimento.

Laura Monte Serrat Barbosa - Pedagoga, Correspondência


psicopedagoga, especialista e mestre em Laura Monte Serrat Barbosa
educação. Membro do conselho da ABPp, Seção Av. Agostinho Leão Júnior, 37 – Curitiba – PR – 80030-110
Paraná Sul. Tel.: (41) 3015-4178
E-mail: lauraserrat@bol.com.br

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EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

INTRODUÇÃO chegando em uma família, a Psicopedagogia


Vivemos em uma época rica em numerosas passou a fazer suas inserções usando instru-
mudanças que marcam o fim de um período. mentos construídos por outras áreas do conheci-
Este fim desdobra-se em três componentes: mento, mas regidos pelo paradigma da disjunção,
o das certezas, o das ilusões e o aquele que deveria ser superado na história
dos determinismos (Raux) humana, no momento de seu surgimento.
Inicialmente, a Psicopedagogia teve como
Em tempos de grandes mudanças, precisa- objeto de estudo a Dificuldade de Aprendizagem,
mos, de quando em quando, revisitar nossa vista como doença do aprendiz; a seguir, seu
práxis na busca de esclarecimentos e aperfeiçoa- objeto passou a ser a Dificuldade de Aprendi-
mento acerca de sua função social. A reflexão zagem como parte do processo de aprender, cujas
sobre a epistemologia é uma das paradas que causas poderiam estar fora ou dentro do sujeito;
precisamos fazer para criticarmos a construção posteriormente, seu objeto começou a ficar mais
que estamos erigindo. A palavra “epistemologia” delineado e passou a ser caracterizado como a
está significada, no dicionário1, como sendo “a Aprendizagem e os Transtornos que podem
teoria das ciências”; o estudo crítico dos princí- ocorrer em seu processo. Somente na década de
pios, hipóteses e resultados das ciências. 1990, o objeto de estudo da Psicopedagogia
Rolando Garcia2 diz que foi esclarecido pelo começa a perder a doença, a dificuldade e os
dicionário que a palavra epistemologia vem do transtornos como foco principal, passando a ser
francês para designar o estudo crítico das ciên- caracterizado como o Sujeito capaz de conhecer
cias, dirigido a determinar seu valor na socie- e aprender, assim como seu processo de aprender.
dade, seu fundamento lógico e seu campo de Atualmente, o objeto de estudo da Psicopedagogia
ação, diferenciando-o do termo “teoria do conhe- é colocado como um sujeito, que Maria Cecília
cimento”, utilizado pela filosofia. Silva3 descreveu e chamou de Ser Cognoscente.
Embora a Psicopedagogia não tenha estatuto Portanto, a Psicopedagogia pode ser definida
de ciência, podemos arriscar e buscar seu funda- como a área do conhecimento que se propõe
mento, seu valor para a sociedade, e definir seu estudar o ser cognoscente e seu processo de
campo de ação, fazendo uma investigação crítica aprender, compreendendo-o como um ser consti-
dessa área de estudo e de ação. Para que isso tuído de três grandes dimensões: a Racional, a
seja possível, é necessário estabelecermos o que Relacional e a Desiderativa e do funcionamento
será entendido por Psicopedagogia, apontando decorrente das relações dessas três dimensões,
principalmente seu objeto de estudo, analisado que acontecem num corpo físico e biológico, bem
a partir de eixos temáticos escolhidos para como num contexto cultural próprio.
congressos nacionais e encontros regionais da
ABPp, de títulos de artigos publicados e da práxis PESQUISANDO A REALIDADE PARA
discutida por um grupo de psicopedagogas de ENCONTRAR O FUNDAMENTO
Curitiba. Pretendemos fazer um estudo crítico da
A Psicopedagogia nasceu como uma área que Psicopedagogia no Brasil, com atenção aos seus
possuía a missão de superar a “compartimen- fundamentos, ao valor que representa para a
talização” do aprendiz, da sua forma de lidar com sociedade e ao seu campo de intervenção. Para
as facilidades e dificuldades para aprender e do tal, escolhemos uma mostra da Psicopedagogia
conhecimento a ser aprendido. No seu trajeto, vivida no Brasil, nos últimos seis anos, por meio
no entanto, não conseguiu evitar a contaminação dos temas dos congressos da ABPp, dos
pelo que já estava posto, pelas ciências que já encontros regionais das Seções e das publicações
possuíam seu estatuto estabelecido como tal, como na Revista Psicopedagogia e nos Boletins de
a medicina, por exemplo. Como um irmão menor, algumas Seções.

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No que se refere aos congressos nacionais, Poder Desfrutar do Pensar, do Jogar, do Criar,
aconteceram três. Em 2000, Ampliando a do Escrever... Acervo Psicopedagógico; VIII
Psicopedagogia: Avanços Teóricos e Práticos. Encontro da ABPp Curitiba: Aprendendo a
Escola, Família, Aprendizagem, coordenado pela Incluir e Incluindo para Aprender;
presidente Nívea Maria de Carvalho Fabrício. Em • Em 2002 – XII Encontro Regional de Psicope-
2003, Psicopedagogia: O Portal para Inserção dagogia de Goiás: Escola: Desafio à Prática
Social – o Sujeito como Autor, o Social como Reflexiva; V Encontro Goiano de Psicope-
Contexto, o Aprendizado como Processo, dagogos: Fracasso Escolar: um Olhar
coordenado pela presidente Maria Cecília de Psicopedagógico; XI Encontro Estadual de
Castro Gasparian. Em 2006, Desafios da Psicopedagogos, RS: Família e Aprendi-
Psicopedagogia no Século XXI. Aprendizagem: zagem: Socializando Afeto e Conhecimento;
Tramas do Conhecimento, do Saber e da Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba:
Subjetividade, coordenado pela presidente Maria Contribuições da Neuropsicolingüística para
Irene Maluf. o Processo de Aprendizagem da Leitura e
Desde 2000, na ABPp, tem existido um esforço Escrita; Reunião Científica, Salvador:
para ampliar conceitos, agregar a diversidade, Conhecimento do EU: Ponto de Partida para
compreender a aprendizagem com um paradigma o Encontro do NÓS;
de conjunção, entendendo-a como algo complexo • Em 2003 – I Encontro Paranaense de
(trama), que envolve não somente o conheci- Psicopedagogia, Maringá: Trilhando Novos
mento a ser aprendido, mas o sujeito cognoscente Caminhos para a Inserção Social do Aprendiz
constituído pelas dimensões racional, relacional e do Profissional;
e desiderativa, ligada à subjetividade, e pelo • Em 2004 – XIV Encontro Regional de
contexto histórico e geográfico no qual se Psicopedagogia, Seção Goiás: Escola: Novos
encontra. Tempos, Muitos Desafios;
Aleatoriamente, em Boletins das várias Seções, • Em 2006 – II Encontro Sul-brasileiro de
buscamos perceber se os representantes regionais Psicopedagogia: Os Tempos de Aprender e o
seguem a tendência explicitada pela ABPp em Aprender Através dos Tempos; Pequenos
seus eixos temáticos. O que encontramos, como Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Educação
uma pequena mostra, foi o seguinte: de Crianças Pequenas; Pequenos Eventos,
• Em 2000 – VII Encontro de Psicopedagogia Grandes Idéias, Curitiba: Panlexia; Café da
da Seção Curitiba: Psicopedagogia - Lendo o Manhã com Psicopedagogia, Curitiba: A
Mundo e Reescrevendo Histórias. Um Estudo Sociedade da Informação e a Psicopedagogia
de Leitura e Escrita; (este encontro originou um texto produzido
• Em 2001 – I Seminário Mineiro da ABPp MG: em parceria pelos participantes, via Internet).
O Adolescente e a Psicopedagogia; Fórum Os temas regionais citados, exceto alguns
Psicopedagógico, São Paulo: Debate Nacional poucos, estão voltados para questões ligadas a
sobre Avaliação na Aprendizagem; Pequenos um paradigma de conjunção, buscando-se
Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: A Psicope- perceber questões mais amplas da aprendi-
dagogia Frente à Tecnologia; XI Encontro zagem, do aprendiz e do seu contexto, assim como
Regional de Psicopedagogia de Goiás: Escola: se caracteriza a tendência da ABPp, responsável
(por) uma Educação com Alma; Pequenos pela organização dos encontros nacionais.
Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Inter- Para completar e dar mais consistência ao
venção Psicopedagógica – O que Caracteriza trabalho de buscar a fundamentação da Psico-
esta Prática; I Encontro de Psicopedagogia pedagogia no Brasil, escolhemos três exemplares
do Maranhão: Aprendizagem e Prazer; I da Revista Psicopedagogia, dos anos em que os
Encontro Carioca de Psicopedagogia: Autoria: congressos citados ocorreram, para buscar a

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EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

coerência entre os temas propostos pelos congres- • A Aplicação de Teorias Psicológicas no Plane-
sos e as produções científicas selecionadas para jamento e na Avaliação do Processo de
publicação. Ensino-aprendizagem;
No número 524, 2000, podemos ver um enca- • Psicopedagogia e Eqüidade Social: o Contexto
minhamento para a ampliação de olhar e de como Protagonista, a Diversidade como Norma;
campo de ação, conforme proposto pelo congres- • Complexidade e Sistema na Psicopedagogia;
so, por meio dos artigos: • Aspectos da Formação de Leitores nas Quatro
• Facilitando a Experiência de Aprendizagem na Séries Iniciais do Primeiro Grau.
Internet – Esboço de uma Sala de Aula Virtual; Dentre os artigos escolhidos para publicação,
• Os 20 Anos da Associação Brasileira de parece que apenas dois estão relacionados à
Psicopedagogia; Psicopedagogia como um possível portal para a
• A Aprendizagem e sua Relação com a inserção social. Os títulos não citados são escritos
Organização do Real; por estrangeiros, dispensáveis para o objetivo
• Considerações sobre a Revisão Curricular no desse artigo.
Contexto da Sociedade Atual; O último exemplar analisado, número 696, foi
• Repensando o Educador à Luz do Modelo distribuído no início de 2006, embora tenha sido
Sistêmico; publicado em 2005. Os títulos das pesquisas e
• A Psicopedagogia Clínica como Instrumento artigos estão muito próximos ao eixo temático do
de Ação Social; congresso, até porque o tema é amplo e sugere
• O Processo de Socialização; uma fundamentação na complexidade, nas
• Transfer... o Processo de Transferência em tramas, na diversidade, nos estudos da subjeti-
Psicopedagogia; vidade do ser cognoscente:
• Estágio Supervisionado: uma Atividade na • Educação Sexual para Estudantes Surdos;
Preparação do Exercício na Escola; • Diagnóstico Inicial: Violência Doméstica,
• Para que Mundo Educa(r)mos? Motivo de Consulta e de Indicação de
Embora os textos abordem mais os avanços Tratamento Psicopedagógico;
práticos do que os teóricos, a teoria referenciada • Contextualizando a Vida: Estudo sob o
já aparece como um fundamento balizado por um Enfoque Psicopedagógico com Crianças e
paradigma ligado à complexidade, à visão Adolescentes Pacientes de Doenças Hemato-
sistêmica e à integração da realidade ao desejo, oncológicas;
assim como uma necessidade de possuir uma • O Brincar e a Aprendizagem: Concepções de
prática que tenha uma abrangência social, Professores da Educação Infantil e do Ensino
significativa. Fundamental;
No número 625, 2003, há relatos de pesquisa • Psicopedagogia e Transtornos Psiquiátricos;
e artigos. Nas pesquisas, principalmente, a rela- • Dificuldade de Aprendizagem: Dislexia e
ção com a inserção social ainda aparece limitada Disgrafia na Era da Informação;
às necessidades educativas especiais. Os artigos • Sobre a Possibilidade do Jogo como Mediador
produzidos no Brasil podem revelar uma contra- da Aprendizagem do Adulto.
dição entre o que o congresso buscava e o que se Os títulos revelam desafios para o novo século,
produzia, podendo justificar a escolha do tema como educação sexual, violência, crianças que
do congresso como uma necessidade de ampliar portam doenças, transtornos psiquiátricos e
a visão psicopedagógica em nosso país: dificuldades de aprendizagem na era da informa-
• Lingüística e Surdez: Compreendendo a ção; porém, ainda há a presença de termos liga-
Singularidade da Produção Escrita de Sujeitos; dos mais à doença e menos à aprendizagem:
• A Deficiência Redescoberta: a Orientação de tratamento, pacientes, transtornos, diagnóstico,
Pais de Crianças com Deficiência Visual; dislexia, disgrafia e outros.

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Partindo desse pequeno levantamento de sobre si e sobre o ambiente do qual é parte


temas que vêm sendo foco de discussão e de refle- constituinte. Para se conhecer este ser que conhece
xão, podemos dizer que a Psicopedagogia no e que produz conhecimento, foram definidos três
Brasil possui como fundamento filosófico um níveis de discussão: um filosófico ou metacien-
paradigma de conjunção, proposto por Edgar tífico, um científico e um técnico.
Morin7, quando discute os problemas de uma O primeiro plano, metacientífico, corresponde
epistemologia complexa, no livro O Problema ao campo da filosofia das ciências que, segundo
Epistemológico da Complexidade. Jorge Visca8, tem por objetivo analisar critica-
Os temas das conferências propostos no último mente o seu próprio objeto de estudo; neste caso,
congresso também apontam para a mesma dire- o objeto de estudo da Psicopedagogia. O segun-
ção. Das 36 conferências proferidas, apenas cinco do nível, científico, descreve e explica o objeto
trazem, em seus títulos, termos ligados a dificul- de estudo da Psicopedagogia à luz dos conheci-
dades, transtornos, distúrbios e apenas um título mentos científicos. O terceiro, técnico, é aquele
especifica o nome de uma doença. Todos os outros no qual se estudam as práticas, as várias abor-
apontam para a compreensão do processo de dagens deste ser que conhece e produz conhe-
aprender no momento histórico atual e para o cimento, ao qual Silva 3 chamou de “ser
aprendiz contextualizado. Nas mesas-redondas cognoscente”.
e cursos, percebemos que ainda existe uma Embora as psicopedagogas desse grupo
tendência da Psicopedagogia atual de prender- desenvolvam práticas distintas, apoiadas em
se às dificuldades e não às possibilidades do conhecimentos científicos ora semelhantes, ora
aprendiz. De 18 títulos, entre mesas-redondas, diferentes, sustentam sua ação psicopedagógica
oficinas e cursos, aparecem oito termos que numa concepção de ser humano, de sociedade,
remetem a dificuldades, transtornos e distúrbios, de mundo, de vida, de conhecimento que vê o
originados no nosso parentesco com a medicina. ser cognoscente como um sujeito inteiro e
dimensionado, integrado e transgressor, temporal,
A PROPOSTA DE UM GRUPO DE sistêmico, que é parte de um todo coeso, no qual
PSICOPEDAGOGAS DE CURITIBA habita a contradição.
Um grupo de psicopedagogas de Curi- Este ser cognoscente é capaz de aprender e,
tiba reuniu-se para discutir sobre a Epistemologia com sua aprendizagem, pode se tornar um conhe-
da Psicopedagogia, com o objetivo de contribuir cedor de si mesmo, da sociedade e das relações
com a Psicopedagogia brasileira. No VI Congres- que se dão no seu interior, da sua e de outras
so Brasileiro de Psicopedagogia, em julho de culturas, do ambiente no qual habita a biodiver-
2003, este tema foi discutido em um dos espaços sidade e do universo no qual este ambiente
científicos. (planeta) está mergulhado.
Após a especificação da tarefa, o grupo colocou O ser cognoscente, como sujeito inteiro, é
a necessidade de pensar em aspectos comuns às constituído por distintas dimensões: biológica,
práticas que remetessem a linhas gerais de afetiva, desiderativa, relacional e racional, que
reflexão. Antes, porém, decidiu discutir o objeto interagem entre si, com o ambiente natural e
de conhecimento da Psicopedagogia, tema sociocultural e possibilitam o advento do conhecer
considerado como base para a ampliação da e do conhecer-se. Como sujeito integrado, é parte
discussão. Segue, pois, a síntese dessa reflexão. e, ao mesmo tempo, todo, que integra suas dimen-
O objeto da Psicopedagogia vai muito além sões e as desintegra, que se integra ao ambiente
de um “processo de aprendizagem”; refere-se a e desintegra-se, que se integra à comunidade
um sujeito que aprende, sendo este muito mais humana e desintegra-se. Como sujeito temporal,
do que um aprendiz, um ser capaz de conhecer é histórico, vive em um tempo, carrega consigo o
A proposta de um grupo de psicopedagogas de Curitiba. Um grupo de psicopedagogas de Curitiba. O grupo de psicopedagogas foi formado
por: Ana Paula Morva, Angélica Auxiliadora Luiz, Arlete Zagonel Serafini, Beatrice Mora, Cíntia B. Marinoni Veiga, Cleonice de Sales Forastiero, Daisi
Maria Mora Ayoub, Eliane Mara Alves Chaves, Isabel Cristina Hierro Parolin, Jacqueline Andréa Glaser, Laura Monte Serrat Barbosa, Lígia Beatriz Ragnini
de Paula, Loriane de Fátima Ferreira, Luciana Sampaio Ferraz Coelho, Maria Luiza da Silva, Regina Bonat Pianovski, Rita de Cássia Uhle, Simone Carlberg,
Sonia Maria Gomes de Sá Küster. O pensamento organizado pelo grupo foi complementado com as reflexões de Laura Monte Serrat Barbosa.

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EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

conhecimento de outros tempos e projeta para o do ser cognoscente, pode estar na relação dos
futuro o que conheceu, o que conhece e o que opostos que compõem um todo coeso e que produ-
pode produzir de conhecimento a partir de sua zem, nesse todo, a contradição. O ser que conhece,
experiência e de todos que fazem parte do conhe- o conhecimento e a produção do conhecimento
cimento do qual conseguiu se apropriar. Como necessitam ser vistos com um olhar objetivo-
sujeito sistêmico, faz parte de uma teia de relações subjetivo, capaz de fazer comunicar instâncias
existente no universo. É subsistema de um siste- separadas, sem simplesmente justapor conhe-
ma maior, ao mesmo tempo em que se constitui cimentos, mas sim construir o que Morin7 chamou
como um sistema objetivo e subjetivo. de circuito e Visca8 chamou de convergência.
Este ser cognoscente é um ser que nasce A epistemologia contemporânea, segundo
incompleto, que não possui todos os seus compor- Morin7, reconhece que há “não-cientificidade”
tamentos determinados biologicamente. Para no seio das teorias científicas e que os elementos
sobreviver, necessita relacionar-se com sua cultu- constitutivos do conhecimento científico possuem
ra, apropriar-se das ferramentas sociais, desejar raízes na cultura produzida pela sociedade e
viver, conviver, aprender e conhecer, respeitando raízes no modo de organizar as idéias, no que
o ambiente do qual faz parte constitutiva, os ele chamou de “espírito-cérebro”. Essa caracte-
conhecimentos já produzidos ao longo da história, rística da epistemologia contemporânea do
nas diferentes culturas, a ética de ser humano e conhecimento exige o estudo da dimensão cogni-
sujeito universal. tiva e do ato subjetivo; portanto, o estudo do ser
A Psicopedagogia é uma área de estudos preo- que vai apreender este conhecimento também
cupada em conhecer o ser que conhece e que implica nesta compreensão.
produz conhecimento e, para tal, necessita supe- Visca8 foi um dos primeiros psicopedagogos
rar a visão clássica que, segundo Morin7, separa que se preocupou com a Epistemologia da Psico-
o objeto do seu meio, separa o físico do biológico, pedagogia e propôs estudos fundamentados no
separa o biológico do humano, separa as categorias, que chamou de Epistemologia Convergente, que
as disciplinas etc. Essa visão reduz o complexo ao é resultado da assimilação recíproca de conhe-
simples e não permite perceber a unidade na cimentos fundamentados no construtivismo, no
diversidade, nem a diversidade na unidade. estruturalismo construtivista e no interacionismo.
Nesse sentido, a Psicopedagogia, que possui Essas contribuições influenciaram a Psicope-
como objeto de conhecimento um ser cognos- dagogia brasileira, assim como outras que
cente, composto de várias dimensões, extrema- propõem o estudo do ser cognoscente à luz de
mente complexo, possui uma origem que é teorias que abordam desenvolvimento cognitivo,
determinada por um paradigma de conjunção afetivo, social, relacional e biológico, bem como
que admite e necessita de uma comunicação seu papel no ato de aprender e conhecer.
entre as teorias que explicam diferentes aspectos Essa influência diferencia-se dependendo da
deste ser. região e, atualmente, temos ainda questões: Qual
Tal conjunção de conhecimentos para explicar é a Epistemologia da Psicopedagogia brasileira?
um determinado objeto de conhecimento é que Quais os pontos comuns da prática, dos conheci-
está na origem da noção de interdisciplinaridade, mentos científicos que a embasam e da concepção
de transdisciplinaridade, de interciência, de nos planos filosófico, científico e técnico?
convergência, de holismo, de teia de relações de Percebe-se que os estudiosos que fundamen-
sistemas, cuja base filosófica iniciou-se com tam as práticas são vários, mas que é possível
Bachelard que, segundo Morin7, é o principal categorizá-los entre cientistas da Psicogenética,
precursor da teoria da complexidade. da Psicanálise, da Psicologia Social e da Neuro-
A Epistemologia da Psicopedagogia, conside- ciência. Existem áreas de estudo que podem
rando-se a complexidade da vida, do ambiente e explicar a aprendizagem nas várias dimensões

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do sujeito psicológico apresentado por Jean Marie rador, estimulação horizontal, caixa de areia e
Dolle9: dimensão afetiva, dimensão cognitiva, miniaturas, PEI, jogos, grupo operativo, oficinas,
dimensão social e biológica, caracterizando o além de práticas que se conjugam às práticas
plano científico. psicomotoras, psicodramáticas, artísticas e outras.
Nesse grupo, encontramos modelos de expli- Apesar da diferença na ação, apresenta-se como
cação do fenômeno do desenvolvimento e da ponto comum uma visão complexa de ser humano
aprendizagem humanos que revelam diferentes e de mundo, que necessita da assimilação recí-
circuitos: Psicanálise e Psicogenética; Psicologia proca de alguns conhecimentos que dêem conta
Analítica e Psicogenética; Psicanálise, Psicoge- desta complexidade.
nética e Psicologia Social; Psicanálise, Psicoge- Portanto, num primeiro momento, acredita-se
nética e Psicologia Sociohistórica; Psicodrama, que a Epistemologia da Psicopedagogia apóia-
Psicogenética e Psicologia Social. Além disso, se na complexidade. A discussão sobre a constru-
apresentam-se fundamentos da Arte-terapia, da ção desta Epistemologia, do corpo científico e da
Neurociência e da Psicomotricidade. organização da prática auxilia na compreensão
Os estudiosos citados como referência cientí- de que a Psicopedagogia é uma só e revela-se
fica e ou prática foram: Sigmund Freud, Jacques em diferentes âmbitos: do indivíduo, do grupo,
Lacan, Carl Jung, Arminda Aberastury, Enrique da instituição e da comunidade, como prevê
Pichon-Rivière, André Lapierre, Jean Piaget, Lev Visca10. Nesses âmbitos, a intervenção na reali-
Vygotsky, Reuven Feurstein, Simone Ramain, dade pode ser de caráter terapêutico e preventivo,
Jorge Visca, Sara Pain, Victor da Fonseca, Henry assim como de otimização do processo de ensinar/
Wallon, Jacob Moreno, Fritjof Capra, Donald aprender. Por isso, é preciso ter cuidado a respeito
Winnicott, Emília Ferreiro e Ana Teberosky. da divisão da Psicopedagogia em Clínica e
As práticas desenvolvidas, que podem aconte- Institucional, pois tal divisão pode enfraquecer o
cer nos diversos âmbitos da realidade, são: caixa núcleo de pontos comuns que caracterizam uma
de trabalho, projeto de trabalho, material dispa- Epistemologia da Psicopedagogia.

Quadro Síntese

PLANO FILOSÓFICO PLANO CIENTÍFICO


PLANO DA PRÁTICA
concepção de homem e explicação do ser
instrumentos utilizados
de mundo cognoscente

Paradigma de conjunção Caixa de trabalho /


Conhecimento / Projeto de trabalho /
Complexidade Aprendizagem / Material disparador /
Produção de Jogos / Oficinas /
Sujeito inteiro / Sujeito conhecimento Estimulação horizontal /
integrado / Caixa de areia e miniaturas /
Sujeito temporal / Sujeito Psicogenética / PEI / Grupo operativo /
sistêmico Psicanálise / Práticas conjugadas com
Psicologia Social / Psicodrama / com
Ser cognoscente Neurociência Psicomotricidade /
com Arte-terapia

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EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

A EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA remete-se à colheita de informações em fontes


Conhecendo um pouco do que aconteceu na diversas e que, combinadas, podem resultar na
Psicopedagogia no Brasil, nos últimos seis anos, constituição de um conhecimento diferente.
podemos fazer um estudo crítico, buscando seus Segundo Valle 12, embora uma disciplina,
fundamentos, seu valor social e seu campo de por exemplo, possa ser a mesma, dependendo da
ação. Percebemos que a Psicopedagogia está colheita de cada professor, o resultado a ser apren-
partindo, pelo menos no discurso, para uma visão dido pode se diferenciar. Para a autora, os projetos
complexa sobre o aprendiz e sua aprendizagem, desenvolvidos por meio da Internet apresentam
para discussões de como trabalhar com a apren- característica de granularidade: cada membro
dizagem em termos amplos, ligada ao aprender contribui com a sua habilidade, motivação e dispo-
de quem ensina, e não mais a técnicas de inter- nibilidade, e a combinação de um trabalho colabo-
venção para problemas específicos; estes estão rativo tem como resultado uma combinação de
sendo entendidos como decorrências de uma granularidades.
gama complexa de interações, e não mais como Essas bases estão relacionadas (não podemos
um mal instalado nos aprendizes. nos enganar) ao que Pierre Lévy13 chamou de
Completando o quadro construído pelo grupo paradigma informático: a cultura identifica-se
de psicopedagogas de Curitiba, podemos dizer com o tipo particular de processamento e trans-
que, em relação ao fundamento da Psicope- missão do conhecimento e da informação. Na
dagogia, num plano filosófico, o paradigma que época da transmissão oral, a escuta, a memória e
lhe dá sustentação é, de fato, o paradigma de a repetição moldaram o estilo específico das
conjunção; segundo Morin7, é aquele que faz produções culturais; com a chegada da escrita,
comunicar instâncias separadas e necessita de inaugurou-se um novo tempo, o tempo da autoria,
um esforço coletivo de todos aqueles que pesqui- da durabilidade, do registro histórico. Hoje, a
sam na área, para que possa existir a articulação informática recodifica os conteúdos culturais e
dos conhecimentos produzidos por nós, entre coloca-os em novos circuitos de processamento
nós e com outras áreas do conhecimento. Um de comunicação; ela é concebida em redes, possui
paradigma de disjunção levaria apenas à uma linguagem que é regida pelo cálculo, e não
possibilidade de redução, a uma unificação mais pela experiência vivida, e possibilita a modu-
abstrata que exclui a diversidade, procurando laridade. Na era da informática, um livro pode
organizar catálogos de exercícios não ligados ser a combinação de vários módulos, que podem
entre si e nem contextualizados com as ser combinados e recombinados por serem inde-
problemáticas específicas. pendentes, resultando em uma unidade consti-
Pelo que podemos compreender dos títulos de tuída por várias contribuições granulares, sem
artigos que apontam para a natureza da discussão necessitar de um proprietário, um autor ou um
dos psicopedagogos no Brasil, entendemos que registro que permaneça para sempre.
o desejo, ainda que a prática não o revele total- Ao mesmo tempo em que essa nova forma de
mente, é pelo paradigma de conjunção. produzir bens culturais parece ser mais demo-
A Complexidade, responsável pela organi- crática e igualitária, ela pode ameaçar a histori-
zação de um circuito no qual as diferentes contri- cidade do ser humano: recortes vão descarac-
buições vão se articular, está na base de nossos terizando o texto de origem e podem culminar
estudos e pesquisas. A ela, acrescento mais dois em algo que nada tem a ver com a idéia inicial.
conceitos: o de Modularidade, que concebe a Num dia, pode estar contido em um site; no outro,
capacidade de integrar contribuições diferentes, pode ser “deletado”, sem a menor preocupação e
fragmentadas em elementos menores (módulos), o menor sentimento de perda.
independentes, para serem agrupados posterior- A complexidade, a modularidade e a granu-
mente; o de Granularidade que, segundo Litto11, laridade possuem sua origem na capacidade de

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agrupar os diferentes; nas ciências humanas, isso disciplinas que tratam de suas dificuldades de
traz uma esperança em relação à igualdade das aprendizagem; se ela surgiu com um caráter inter-
pessoas como seres humanos, à possibilidade de disciplinar para conjugar a diferença e ter uma
acesso aos mesmos conhecimentos, ao mesmo visão mais ampla do que seja aprender e
tempo em que ameaça a diversidade cultural e a apresentar dificuldades; se ela considerou-se
nossa capacidade de sermos históricos, perten- transdisciplinar, como uma área de estudo e de
cermos e identificarmo-nos. ação que deveria transcender às disciplinas
Ainda complementando o estudo do grupo isoladas e olhar para o sujeito que aprende sem
curitibano, diríamos que, além dos conhecimentos focar no seu não saber; se ela critica as instituições
citados no plano científico, é necessário introduzir por classificarem seus alunos ao utilizarem provas
o estudo da visão holográfica, da linguagem da e notas; se ela critica a escola por dar aulas
informática e de seus avanços tecnológicos. No desconectadas umas das outras, sem articulá-las
plano da prática, precisamos rever nossas ações. em seminários ou outras possibilidades; se ela
Como a Epistemologia vai além da análise possui a semente do inteiro, e da incompletude,
crítica, preocupa-se com o valor social, pergun- perguntamos:
tamos: Qual o valor da Psicopedagogia para a • Por que insistimos em dividir a Psicopedagogia
sociedade? em clínica, institucional, empresarial,
Para que o paradigma informático não diga organizacional, hospitalar, confundindo a
respeito apenas a máquinas, é preciso que nos disciplina com o local que lhe acolhe e
preocupemos com o ser humano; uma das áreas reproduzindo o paradigma de disjunção que
a se preocupar com tal aspecto é, por certo, a deveria superar?
Psicopedagogia. Sua importância está em valori- • Por que, nas práticas que exercemos nas várias
zar o ser pensante, o ser que sente, que age e instâncias, insistimos em diagnosticar,
interage num contexto histórico e geográfico; um classificar, encaminhar, reproduzindo o
ser que pode ser autônomo, mas interdepen- paradigma médico existente na época do
dente; que pode ser indivíduo, mas parte de um nascimento da Psicopedagogia?
grupo; que pode reproduzir e criar, sem que isso • Por que continuamos escondendo aprendizes
o desestabilize; que pode usufruir a convergência atrás de rótulos como hiperatividade, TDAH,
dos conhecimentos, agrupados em módulos, Dislexia, Disgrafia, Dispraxia, Síndromes e
combinando experiências, vivências e saberes, ao outros?
mesmo tempo em que pode convergir como parte • Por que insistimos em utilizar termos médicos
de grupos humanos. e, inclusive, apoiamos a publicidade de
O valor da Psicopedagogia, portanto, está na medicamentos em nosso encontro científico
preocupação em trabalhar com o aprendiz huma- nacional?
no, com um sujeito que é movido pelo desejo e • Por que não vemos o aprendiz na relação com
pelo respeito. O campo de ação da Psicopeda- seu entorno e, por isso, continuamos focando
gogia encontra-se diante de si, onde se encon- nele a propriedade de todos os males que
tram os aprendizes: na escola, nas casas, nas possui?
empresas, nas organizações ou mesmo na rua. A Se a Psicopedagogia é a área do conhecimento
Psicopedagogia é substantiva e não precisa de que se propõe estudar o ser cognoscente e seu
um adjetivo para qualificá-la. processo de aprender, compreendendo-o como
um ser constituído de três grandes dimensões: a
POR TUDO ISSO, PERGUNTAMOS... Racional, a Relacional e a Desiderativa e do
Se a Psicopedagogia apresenta-se no funcionamento decorrente das relações dessas três
panorama da aprendizagem com a missão de dimensões, que acontecem num corpo físico e
superar a “compartimentalização” do sujeito pelas biológico, bem como num contexto cultural

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EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

próprio, perguntamos: Por que nós, psicope- precisam ser desculpabilizados diante do não-
dagogos, temos, por vezes, dificuldades para rea- saber. Os aprendizes precisam aprender, e nós,
lizar essa Psicopedagogia? da Psicopedagogia, somos especialistas em
Se fosse para classificar crianças, adolescentes aprendizes e aprendizagem. As organizações
e adultos aprendizes, aplicar testes, fazer treina- necessitam de parceiros e não de mágicos que
mentos descontextualizados, dar diagnósticos, a apontam o que é para ser feito. As organizações
Psicopedagogia não precisaria ser inventada, pois precisam aprender sobre sua aprendizagem, e
já existiam muitas disciplinas empenhadas em nós, da Psicopedagogia, somos especialistas em
criar testes e programas de treinamento para toda aprendizagem...
a sorte de dificuldades de aprendizagem. Diante de tudo isso, perguntamos:
Se fosse para criticar o desempenho da escola, • Por quê e para quê veio a Psicopedagogia?
para encontrar formas de classificar professores, • Como é a Psicopedagogia que você, psico-
direções e alunos, a Psicopedagogia não preci- pedagogo, realiza?
saria ser inventada, pois já existem muitos profis- • O que estamos propondo a fazer, juntos, no
sionais dando a sua opinião de como a escola espaço real e virtual?
deve fazer.
Os aprendizes precisam aprender, precisam Como já disse o poeta, “todos juntos somos
ser compreendidos no seu não-aprender e fortes!”

SUMMARY
The Epistemology of Psychopedagogy: acknowledging its fundaments,
social value and scope of action. Celebrating ABPp – Paraná Sul’s 15th
Anniversary, 2006

The purpose of this study was to find views in scientific texts that were
published in the Revista Psicopedagogia over the last six years of themes that
were introduced in the three last ABPp Brazilian congresses, bulletins of some
ABPp Chapters and the psychopedagogical experience discussed by a group
of psychopedagogues in Curitiba, who met in 2003 to review the Epistemology
of Psychopedagogy. Despite lacking the stature of an established science, it is
possible to ponder on the epistemology of Psychopedagogy as such, given
that epistemology is the study of fundaments, of the social value and scope of
action of a given area of knowledge. Fundaments presented in the text are
conducive for the reader to reflect on the model of understanding of the world,
by which many areas of knowledge must be embraced (referred to as the
paradigm of conjunction) in the light of present philosophy; on scientific research
which point towards approaching the difficulties inherent to the learning process
as a natural occurrence rather than a pathology; on differentiated practices in
which new discourses are sought. At the conclusion, important issues are raised
for psychopedagogues to consider when making a constructive critique of
current psychopedagogical praxis.

KEY WORDS: Epistemology. Psychopedagogy. Knowledge.

Rev. Psicopedagogia 2007; 24(73): 90-100

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BARBOSA LMS

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Esse trabalho é apoiado na experiência da autora, em Artigo recebido: 24/10/2006


Psicopedagogia clínica, supervisão e consultoria a Aprovado: 06/02/2007
instituições e indivíduos, realizada na Síntese – Centro
de Estudos, Aperfeiçoamento e Desenvolvimento da
Aprendizagem, em Curitiba, PR.

Rev. Psicopedagogia 2007; 24(73): 90-100



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