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Educando para a diversidade

sexual e de gênero
no Ensino de História:
encontros e desencontros
entre disciplinaridade
e transversalidade

Diego Gomes Souza


Mestrando em Ensino de História pelo ProfHistória/UFF.
diegohistuff@gmail.com

Tendo em vista a conjuntura de violência contra as minorias sexuais no


Brasil e a persistência de comportamentos LGBTfóbicos no ambiente escolar,
temos desenvolvido pesquisa em torno da diversidade sexual e de gênero nas
aulas de história na educação básica. Estabelecemos, como objetivo geral,
a inclusão dessa temática no currículo de história com vistas à promoção
da cidadania, da não discriminação e do direito à diferença. O trabalho com
o tema da diversidade sexual e de gênero pressupõe a busca de subsídios
teóricos e conceituais em diversas áreas de conhecimento. Dessa maneira,
nos alinhamos ao que vem sendo chamado, no campo das ciências humanas,
de construcionismo social: corrente teórica que tem sido responsável por
solapar as bases do monopólio da biologia sobre o domínio da sexualidade.
Ao integrar a sexualidade ao universo da cultura, como qualquer outro fe-
nômeno humano, os construcionistas sociais evidenciam as determinações
e os condicionamentos sociais pelos quais atos e identidades sexuais se
constituem, são socializados e assimilados pelos indivíduos. Já no campo
educacional, um dos grandes desafios da presente pesquisa é encontrar
interseções possíveis entre a área de ensino de História – especialmente
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no interior do campo que sustenta a especificidade epistemológica do co-


nhecimento histórico escolar – e o tema da diversidade sexual e de gênero,
equacionando as tensões entre disciplinaridade e transversalidade. Nesse
sentido, sempre é importante reafirmar que a abordagem transversal (dife-
rentemente de certas propostas transdisciplinares) não determina a extinção
ou a criação de disciplinas, nem mesmo o deslocamento das matérias cur-
riculares. Ao preconizar o trabalho com temas que ultrapassam as diversas
áreas disciplinares, a perspectiva transversal propõe uma nova concepção
da natureza das disciplinas escolares. Ao invés de perseguirem apenas os
seus objetivos específicos, as diferentes disciplinas assumiriam a qualidade
de meios de realização de objetivos expressos pelos temas transversais
selecionados para o trabalho pedagógico. Do ponto de vista metodológico,
pretendemos trabalhar na perspectiva daquilo que se convencionou chamar,
no campo educacional, de pesquisa-ação. Essa modalidade de pesquisa tem
como principal característica a intervenção junto ao objeto de pesquisa, com
vistas não só a sua compreensão, mas também a sua modificação. Conside-
rando que a transversalização da temática da diversidade sexual e de gênero
se realiza de maneira mais adequada quando associada à perspectiva dos
direitos humanos, reservamos a primeira etapa da intervenção escolar à
experiência com o ensino temático. Por meio da utilização de uma apostila
que já trazia o tema dos direitos humanos transversalizado no ensino de
História, foram realizadas aulas expositivas e atividades ao longo dos dois
primeiros bimestres do ano de 2019 relacionando, sempre que possível, os
temas da diversidade sexual e dos direitos humanos. Levando em conta, no
entanto, os limites e dificuldades em se transversalizar a temática em questão
dentro dos parâmetros disciplinares do ensino de História, avaliamos ser
necessário verticalizar ainda mais a pesquisa e o estudo do tema nas aulas.
Assim, uma segunda etapa da intervenção está atualmente sendo realizada
tendo por base a pedagogia de projetos. Foi feita a divisão das turmas em
Grupos de Trabalho (GTs) a partir da escolha de subtemas, previamente
selecionados pelo docente, relacionados à questão da diversidade sexual e de
gênero. O propósito é o de que, a partir dessa escolha, os grupos desenvolvam
uma pesquisa, orientada nas aulas seguintes pelo professor, a fim de que
os produtos desses trabalhos sejam expostos à comunidade escolar numa
culminância mais ampla de projetos temáticos desenvolvidos por outras

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turmas. A articulação entre direitos humanos e transversalidade no ensino


de História tem se apresentado, dessa forma, como uma alternativa viável
na efetivação de uma educação para a diversidade sexual e de gênero que
capacite as/os estudantes a reconhecerem a diversidade de identidades e
vivências relativas à sexualidade e à expressão de gênero, rechaçando qual-
quer tipo de comportamento LGBTfóbico e garantindo, assim, a dignidade
e a cidadania de todas e todos.
Palavras-chave: Ensino de História; LGBTfobia; Diversidade sexual e de gênero;
Disciplinaridade; Transversalidade.

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